Resenha História Da Cultura1

6
Atividade 1 – Resenha dos textos: Festas, culturas e costumes nos primórdios da Era Moderna Os historiadores Peter Burke 1 e Roger Chartier 2 desenvolvem em seus escritos, análises sobre carnaval e festas tradicionais na Europa dos primeiros séculos da Era Moderna. Com argumentos pautados nos pressupostos da História Cultural, ambos trilham percursos em seus textos, que abordam temáticas voltadas para o caráter popular desses festejos, evidenciando nas muitas regiões desse continente, a diversidade de ritos que, mesmo em meio a uma gama de costumes religiosos, acabam desconstruindo, outrora subvertendo significados ainda explorados em um continente que se reconhece cristão. Segundo Burke “a vida cotidiana nos inícios da Europa moderna estava repleta de rituais religiosos e seculares” 3 . Burke constrói uma narrativa analisando basicamente o Carnaval e suas características diversas em grande parte do continente Europeu, enquanto Chartier se atém apenas a 1 Peter Burke se utiliza de relatos de turistas, viajantes e forasteiros que participavam dos festejos direta ou indiretamente da festa. 2 Roger Chartier utiliza como fonte relatos de viajantes da época, tratados e documentos produzidos pelo clero. 3 BURKE, Peter. “O mundo do carnaval”. In: Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp.245. BURKE, Peter. “O mundo do carnaval”. In: Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. CHARTIER, Roger. “Disciplina e invenção: a festa”. In: Leituras e leitores na França do Antigo Regime. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.

description

Textos de Burke e Chartier, pequeno resumo de capítulos

Transcript of Resenha História Da Cultura1

Atividade 1 Resenha dos textos:BURKE, Peter. O mundo do carnaval. In: Cultura popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 2010.

CHARTIER, Roger. Disciplina e inveno: a festa. In: Leituras e leitores na Frana do Antigo Regime. So Paulo: Editora da UNESP, 2004.

Festas, culturas e costumes nos primrdios da Era Moderna

Os historiadores Peter Burke[footnoteRef:1] e Roger Chartier[footnoteRef:2] desenvolvem em seus escritos, anlises sobre carnaval e festas tradicionais na Europa dos primeiros sculos da Era Moderna. Com argumentos pautados nos pressupostos da Histria Cultural, ambos trilham percursos em seus textos, que abordam temticas voltadas para o carter popular desses festejos, evidenciando nas muitas regies desse continente, a diversidade de ritos que, mesmo em meio a uma gama de costumes religiosos, acabam desconstruindo, outrora subvertendo significados ainda explorados em um continente que se reconhece cristo. Segundo Burke a vida cotidiana nos incios da Europa moderna estava repleta de rituais religiosos e seculares[footnoteRef:3]. [1: Peter Burke se utiliza de relatos de turistas, viajantes e forasteiros que participavam dos festejos direta ou indiretamente da festa.] [2: Roger Chartier utiliza como fonte relatos de viajantes da poca, tratados e documentos produzidos pelo clero.] [3: BURKE, Peter. O mundo do carnaval. In: Cultura popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp.245.]

Burke constri uma narrativa analisando basicamente o Carnaval e suas caractersticas diversas em grande parte do continente Europeu, enquanto Chartier se atm apenas a Frana, e aborda a festa como mecanismo necessrio para moldar os costumes polticos e sociais nos sculos pr-revoluo.Burke nos mostra em seu texto que a festa era o mecanismo que moldava a cultura popular tradicional na Europa ps-renascimento. Existiam ao longo do ano, festejos para todos os tipos de ocasio Casamentos, festas de Santo, Pscoa, Natal, Solstcio de Vero, festa de Reis, Carnaval, dentre outras. O pesquisador destaca esse ltimo, e ao longo de todo o captulo, enraizando no momento histrico ao qual pertence, analisa como em cada regio da Europa, seja ao norte, ou ao sul local que promovia o maior Carnaval da Europa , se caracterizava de maneira heterognea. Havia aspectos em comum que permaneciam nas diversas faces do Carnaval, independente do lugar em que era festejado. Os exageros que eram condenados pela Igreja e a liturgia crist ao longo de todo o ano, no perodo da festa, eram simplesmente ignorados. O povo comia, bebia, danava, cantava, festejava, e praticava sexo exageradamente, como se tais atos fossem prazeres permitidos apenas entre os meses de dezembro e fevereiro.Segundo Burke o Carnaval era uma festa que abrangia toda a Europa, porm era forte na rea mediterrnica, Itlia, Espanha e Frana, e nas regies central e norte a festa acontecia quase que discretamente, possivelmente em virtude do clima que desencorajava uma elaborada festa de rua nessa poca[footnoteRef:4]. [4: Ibidem. pp. 261.]

O Carnaval acontecia ao ar livre, geralmente no centro das cidades, regado aos exageros de comida e bebida. Segundo Burke o povo cantava e danava nas ruas e utilizavam no festejo instrumentos musicais, alm de mscaras, algumas com nariges, ou fantasias completas de animais selvagens, bobo, diabo, alm de modelos que representam os personagens da commedia dellarte. Em meio a essa euforia insistente destacavam-se desfiles com carros alegricos com representaes satricas e religiosas, competies, corridas, encenaes diversas farsas, peas formais, brincadeiras informais, sermes. Os festeiros materializavam o Carnaval em um homem gordo, corado, muitas vezes enfeitado com comidas e a Quaresma[footnoteRef:5] em forma de uma velhinha magra, vestida de preto e enfeitada com peixes. Ao final da festa ocorria, segundo Burke, uma espcie de encenao, em que o Carnaval em batalha com a Quaresma, acabava morto. Outra caracterstica do Carnaval era a hostilidade dos participantes. Burke afirma que as pessoas atiravam farinhas [mas, laranjas, pedras, ovos, gua] umas nas outras, alm de trocar insultos e cantar versos satricos [footnoteRef:6]. [5: A Quaresma era um momento de jejum e abstinncia que vinha em contraposio ao Carnaval. Os excessos que eram permitidos no Carnaval eram proibidos na Quaresma. Por isso as representaes de Carnaval e Quaresma eram to contrastantes. ] [6: BURKE, Peter. O mundo do carnaval. In: Cultura popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 249-251.]

Segundo Burke o Carnaval era uma ocasio de xtase e liberao, e tambm uma festa de agresso, destruio e profanao, era a representao do mundo virado de cabea para baixo [footnoteRef:7] , basicamente uma inverso continua de papeis ocorria em todo o perodo do Carnaval. Para Peter Burke o Carnaval era polissmico, significando coisas diferentes para diferentes pessoas [footnoteRef:8]. [7: Ibidem. Pp.256.] [8: Ibidem. pp.260.]

Burke afirma que os carnavalescos praticava intensamente na poca do carnaval os rituais de justia popular, sendo o mais famoso o charivari [footnoteRef:9] ritual de difamao pblica, praticado por um aglomerado de pessoas com instrumentos e objetos barulhentos. O autor ainda pontua que esse ritual podia ser visto como uma forma de controle social, pois era muito utilizado por uma comunidade, aldeia ou parquia urbana para expressar sua hostilidade a indivduos que saiam da linha, e dessa forma desencorajar outras possveis transgresses aos costumes [footnoteRef:10], em muitos casos eram aplicados pelas classes dominantes objetivando o controle das pessoas comuns. Para alm dos charivari temos um ritual inverso, as pessoas comuns em motins expressavam tamanha hostilidade contra as autoridades ou indivduos particulares [footnoteRef:11], Burke considera esse levante um ritual popular de protesto. [9: Ibidem. pp.269.] [10: Ibidem. pp.271.] [11: Ibidem. pp.275.]

Enquanto Burke em seu captulo se atm a diversidade de festejos, explanando com grande maestria sobre as inmeras faces e significados do Carnaval aps o sc. XVI, Roger Chartier problematiza o objeto histrico festa e o enxerga como um momento particular em que se pode aprender mesmo se mascaradas ou invertidas as regras de um funcionamento social[footnoteRef:12]. Um raciocnio que Burke explana no ltimo tpico de seu texto, quando afirma que os rituais charivari funcionavam como formas de controle e disciplina social. Chartier afirma que a festa uma das formas sociais em que possvel observar tanto a resistncia popular s injunes normativas quanto a remodelagem segundo os modelos culturais dominantes[footnoteRef:13]. [12: CHARTIER, Roger. Disciplina e inveno: a festa. In: Leituras e leitores na Frana do Antigo Regime. So Paulo: Editora da Unesp, 2004. Pp.22-23.] [13: Ibidem. pp.23.]

Chartier cita um exemplo de festa de religiosa que no passou pela censura da Igreja, pois em meio s homenagens ao Santo e a ritualstica religiosa, estavam presentes danas, festins, superstio e costumes proibidos considerados excessivos tradio crist. Por isso, em vrios momentos a Igreja tenta acabar com os festejos populares, outrora, disciplin-los e cristianiz-los, visando separar o ncleo lcito da festa as prticas supersticiosas sedimentadas em torno dele[footnoteRef:14]. O autor mostra a diversidade de significados que as festas que os sculos da Era Moderna produziram, e defende a ideia que essas festas propiciavam momentos de contato entre elite e povo, como tambm a construo de mecanismos de controle das camadas populares. A festa, com efeito, sempre foi vista, contraditoriamente, como instrumento de uma pedagogia e como perigo em potencial[footnoteRef:15]. [14: Ibidem. pp.29.] [15: Ibidem. pp.43.]

Referncias Bibliogrficas:

BURKE, Peter. O mundo do carnaval. In: Cultura popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 2010.

CHARTIER, Roger. Disciplina e inveno: a festa. In: Leituras e leitores na Frana do Antigo Regime. So Paulo: Editora da Unesp, 2004.