Resenha Geopolitica Do Brasil Manoel Correia de Andrade

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RESENHA ANDRADE, M.C. Geopolítica do Brasil. São Paulo (SP): Ática,1989. CREDENCIAIS DO AUTOR Manoel Correia de Andrade é licenciado em Geografia e História pela Universidade Católica de Pernambuco (1947). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (1945). Concluiu o curso de Altos Estudos Geográficos na Universidade do Brasil (1956) e de Estudo Técnico do Meio Natural na Universidade de Paris (1965). Foi coordenador dos cursos de Mestrado em Economia e em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. Diretor do Centro de Estudos de História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Entre suas obras destacam-se "A terra e o homem no Nordeste", traduzida e editada nos Estados Unidos, "Paisagens e problemas do Brasil", "O planejamento regional e o problema agrário no Brasil", "Nordeste: espaço e tempo", "Latifúndio e reforma agrária no Brasil", "Tradição e mudança", "Poder político e produção do espaço", "Agricultura e classes sociais no Nordeste", "Geografia econômica do Nordeste" e "Geografia econômica". RESUMO DA OBRA O autor inicia a obra conceituando geopolítica, fazendo um breve histórico sobre a expressão geopolítica usada pela primeira vez por Kjllen na Suécia, mais esse conhecimento já vinha sendo desenvolvido desde a antiguidade. As bases modernas dos ensinamentos geopolíticos se firmam no pensamento do geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que procurava justificar sua expansão como necessidade de uma fatalidade histórica. Utilizando como entre as categorias de estudo a extensão territorial, a população, tanto do ponto de vista qualitativo quanto do quantitativo, e a posição geográfica, classificando os Estados, de acordo com esta, em centrais e marítimos. Já Kjllen procurava entrosar o conhecimento geográfico com a ciência política e com as relações internacionais e o do direito internacional, enquanto Mackinder formularia a teoria dos pontos nodais, onde se situariam os países com tendência à expansão.

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RESENHA

ANDRADE, M.C. Geopolítica do Brasil. São Paulo (SP): Ática,1989.

CREDENCIAIS DO AUTOR

Manoel Correia de Andrade é licenciado em Geografia e História pela

Universidade Católica de Pernambuco (1947). Bacharel em Direito pela

Universidade Federal de Pernambuco (1945). Concluiu o curso de Altos Estudos

Geográficos na Universidade do Brasil (1956) e de Estudo Técnico do Meio Natural

na Universidade de Paris (1965). Foi coordenador dos cursos de Mestrado em

Economia e em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. Diretor do

Centro de Estudos de História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco,

no Recife. Entre suas obras destacam-se "A terra e o homem no Nordeste",

traduzida e editada nos Estados Unidos, "Paisagens e problemas do Brasil", "O

planejamento regional e o problema agrário no Brasil", "Nordeste: espaço e tempo",

"Latifúndio e reforma agrária no Brasil", "Tradição e mudança", "Poder político e

produção do espaço", "Agricultura e classes sociais no Nordeste", "Geografia

econômica do Nordeste" e "Geografia econômica".

RESUMO DA OBRA

O autor inicia a obra conceituando geopolítica, fazendo um breve histórico

sobre a expressão geopolítica usada pela primeira vez por Kjllen na Suécia, mais

esse conhecimento já vinha sendo desenvolvido desde a antiguidade.

As bases modernas dos ensinamentos geopolíticos se firmam no pensamento

do geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que procurava justificar sua expansão como

necessidade de uma fatalidade histórica. Utilizando como entre as categorias de

estudo a extensão territorial, a população, tanto do ponto de vista qualitativo quanto

do quantitativo, e a posição geográfica, classificando os Estados, de acordo com

esta, em centrais e marítimos. Já Kjllen procurava entrosar o conhecimento

geográfico com a ciência política e com as relações internacionais e o do direito

internacional, enquanto Mackinder formularia a teoria dos pontos nodais, onde se

situariam os países com tendência à expansão.

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O autor procura fazer um paralelo entre geopolítica e geografia política as

diferenciando como: a geopolítica como um saber engajado, comprometido com o

pensamento e com objetivos políticos, embora analisando o estado como produtor

de um espaço, ela não tem um rigoroso critério cientifico. Ao contrario da geografia

política que é um dos enfoques da ciência geográfica na qual se estrutura a

distribuição dos Estados pela superfície da Terra, o problema do estabelecimento de

fronteiras e os tipos de organização do território a que eles dão origem.

Mais adiante o autor destaca o pensamento geopolítico no Brasil: a

geopolítica do Estado e a geopolítica do povo, destacando a formação do país por

uma colonização externa a portuguesa e sua história durante três séculos de

dominação colonial, destacando figuras como Alexandre de Gusmão, Jose Bonifácio

Andrade e Silva.

Analisando a história do Brasil o autor afirma que a primeira fase baseada nos

interesses imperiais de Portugal, fez-se a delimitação de um espaço Tratado de

Tordesilhas e a ampliação do mesmo Tratado de Madri, deixando se no espaço

delimitado grandes porções de território ainda ocupa das por indígenas ou mesmo

desabitadas.

Em uma segunda fase, que se estenderia dos meados do século XVIII até o

início do século XX, o Brasil procuraria precisar melhor as suas fronteiras,

resolvendo, por arbitragem internacional ou por tratados diretos, questões de limites

com países vizinhos.

O autor faz um apanhado geral sobre a produção territorial do período colonial

a República, períodos Real e Imperial, e no período Colonial. Ele destaca sobre as

Tordesilhas um período de seis décadas onde os bandeirantes paulistas fizeram

grandes incursões ao interior à procura de escravos, índios, minas de ouro e prata,

pedras preciosas entre outros.

O Tratado de Madri para tornar mais fácil a delimitação da fronteira, os

portugueses cederiam a Colônia do Sacramento aos espanhóis e receberia como

compensação, o território das missões, situado ao leste do rio Uruguai. Outro fato

destacado pelo autor foi A guerra contra os Guaranis e o tratado de Santo Ildelfonso

destacando que muitos dos problemas enfrentados pelo Brasil, após a

Independência, em confronto com os países platinos, foram consequência dos

lucros territoriais que os espanhóis tiveram com o Tratado de Santo Ildefonso.

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Sobre o Prata (Argentina e Uruguai) o autor destaca que a independência do

Uruguai asseguraria também, ao Brasil, o direito à livre navegação na Bacia da

Platina, essencial ao império por serem rios platinos a via de comunicação com a

província de Mato Grosso. Além disso, aponta que a questão dos Chiquitos teve

menor importância mais está ligada também ao problema da delimitação de áreas

de influência e de domínio entre o Brasil e as republicas latino-americanas.

Sobre a Guerra do Paraguai pela disputa do controle da região Platina, o

autor procurou demonstrar um sentido para este fato que vem sendo estudado por

historiadores oficiais, do Brasil e da Argentina, que procuram demonstrar que estes

países não tinham pretensões territoriais sobre o Paraguai e que a guerra teria sido

provocada apenas pelas ambições do marechal Solano López, considerado um

tirando.

As pretensões estrangeiras na Amazônia são destacadas no livro com as

seguintes perguntas: Será que o destino da Amazônia é a desertificação? Uma

desertificação promovida a fim de atender aos grupos econômicos internacionais,

com o apoio ou o consentimento do próprio governo brasileiro?

Sobre a produção do território (República) foi destacado a questão da

independência das Guianas e a questão do Acre no qual Rio Branco procurou um

acordo direto com o governo boliviano, obtendo que este cedesse o Acre ao Brasil

mediante ao pagamento de dois milhões de esterlinos, a construção de uma ferrovia

que escoasse a produção da Amazônia boliviana para o atlântico e algumas

retificações fronteiriças. Ainda sobre o Brasil República foi destacado também a

questão de Palmas.

O autor faz um breve apanhado sobre o centralismo e federalismo, fazendo

um apanhado histórico do Brasil sobre a indecisão da forma de Estado, ou um

Estado unitário ou uma federação, esta questão vem desde o Brasil império e durou

até a proclamação da República em 1889, onde concedeu autonomia aos Estados e

eles passaram a eleger os presidentes ou governadores. Mais adiante com

constituição de 1946 restaurou formalmente a autonomia dos Estados, mas o

sistema tributário fazia com que estes, sobretudo os mais pobres, ficassem na

dependência econômica e financeira do Governo Federal, o que eliminava,

praticamente , a sua autonomia.

Em relação ao problema da capital o autor chama a atenção para o processo

histórico da criação da capital Brasília no Planalto Central em 21 de abril de 1960, as

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razões para essa transferênciafoi cumprida com dupla finalidade, atendeu aos

interesses dos grupos políticos conservadores e reacionários de colocar o governo

longe do povo e das pressões populares, e possibilitou grandes negócios às grandes

empreiteiras e as empresas industriais. Hoje está mais de um milhão de habitantes e

apresenta os mesmos problemas das grandes cidades não-planejadas.

O autor aborda a redivisão territorial do Brasil que também é um tema

preocupando estudiosos e políticos desde o Império. Destaca ainda que com a

criação dos territórios (Amapá, Guaporé, Ponta Porã, Iguaçu, Fernando de

Noronha), Getúlio Vargas atendia muito superficialmente, os princípios dos

geopolíticos mais exaltados, que defendiam a anulação das fronteiras estaduais

existentes e a redivisão do território nacional em unidades separadas por linhas

geométricas ou por fronteiras nacionais.

Ressalta-se o crescimento dos desníveis de desenvolvimento regional que

tem despertado rivalidades regionais e levado o governo federal a criar

superintendências de desenvolvimento sem atribuições político-administrativas mas

com grande influencia econômica. Contudo, a conquista e a ocupação do espaço

territorial necessitam, dentro dos preceitos geopolíticos, ser complementadas pela

formação de uma consciência nacional e de um nível de bem-estar que deem

unidade à comunidade nacional; que integrem, sem dominação e sem exploração,

as várias regiões e os vários setores e classes sociais.

O autor discute sobre o Brasil e a bipolarização mundial, aqui, apresenta-se a

abordagem de que a partir dos anos 50 o mundo foi bipolarizado pela Guerra Fria,

ficando vários países a girar na órbita dos Estados Unidos ou da União Soviética. A

principio o Brasil, procurando manter uma atitude de equilíbrio, alinhou-se depois ao

grupo norte americano, essa fase se caracterizou por um grande intercâmbio de

informações. Contudo, segundo o autor, a bipolarização atingiu o máximo de

intensidade na década de 60 o que levou o Brasil a alinhar-se com os demais países

latinos americanos. Já na década de 70 essa bipolarização passou a ser atenuada

face à desagregação dos blocos hegemônicos quando alguns governos passaram a

discordar do Estado líder de sua área.

Na sequencia, o autor possibilita uma discussão sobre os anos do famoso

“milagre econômico”, fazendo com que o Brasil se destaque e passe a exercer

influencia nos países vizinhos, baseado na crença de que caminhava para se tornar

uma grande potencia. Porem, o Brasil não estava se transforando numa potencia

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emergente que tratava de sua expansão e da imposição de seus interesses: ele

estava sendo um intermediário dos Estados Unidos em questões regionais.

A geopolítica da Amazônia é enfatizada a seguir, pois, a Amazônia, por sua

extensão territorial e pelas riquezas que possui, é uma área permanentemente na

mira dos grandes interesses internacionais. Destacam ainda, as grandes investidas

em nível de empresas que ocorrem também as tentativas de penetração no nível de

instituições, trazendo um grande beneficio para as empresas transnacionais que

controlam o setor, uma vez que, o controle econômico permite o controle do

território.

A seguir, apresenta o problema do Prata, pois a área platina tem tanto

interesse para o Brasil quanto a amazônica e nela o Brasil continua a disputar

influencia à Argentina, mesmo nos momentos em que se discutem problemas de

integração econômica. Segundo o autor, as disputas militares entre o Brasil e a

Argentina já foram ultrapassadas e substituídas por disputas que vem caminhando

para uma politica de colaboração e integração econômica.

Para finalizar, o autor discute a questão referente à África e o Atlântico Sul,

que para conquistar a confiança dos países africanos seria necessário o Brasil

tomar, no contexto internacional, posições terceiro-mundistas e contrariar os

processos neocolonialistas das grandes potencias. Porém, difícil se torna para o

Brasil exercer uma influencia maior sobre uma superfície marinha de grande

interesse econômico e politico, em face da impossibilidade de competir, no mar, com

a velha potencia imperialista inglesa, aliada dos Estados Unidos.

SARA IZABEL DO AMPARO é graduanda do 4ª ano do curso de Licenciatura

em Geografia, pela Unidade Universitária de Ciências Sócio Econômicas e

Humanas da Universidade Estadual de Goiás, no município de Anápolis / GO. –

[email protected]