Resenha Filmográfica Razão e Sensibilidade

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Resenha filmogrfica: Razo e Sensibilidade.

Uma produo cinematogrfica em longa metragem (136 minutos) da Columbia Pictures, de 1995 e estreada em maro de 1996, nacionalidade inglesa ou estadunidense. Roteiro baseado na obra literria homnima de Jane Austen, Razo e Sensibilidade, publicada pela primeira vez em 1811, o primeiro de uma obra de quatro ttulos que, seria aclamada e consagrada no sculo XIX e at os dias atuais. Obra dirigida por Ang Lee, ganhador de dois Oscar, O Segredo de Brokeback Mountain" (2005) e recentemente (2012) "As Aventuras de Pi". Estrelando o filme esto nomes como, Kate Winslet, Emma Thompson, Hugh Grant e Alan Rickman, e entre o elenco tantos outros bons atores e atrizes. A narrativa conta a histria das mulheres Dashwood, pertencentes a algum tipo de burguesia ou baixa nobreza, tendo como plano de fundo aos acontecimentos o sudoeste campestre da Inglaterra e as casas senhorias de Londres, temporalmente localizada entre o final dos setecentos e incio dos oitocentos. A histria inicia-se com a morte do senhor Dashwood, esse por ter constitudo duas famlias encontra-se na irremedivel situao, devido s leis do pas, da impossibilidade de dividir a sua herana entre seu varo, John Dashwood, pertecente a primeira famlia, e a sua viva e trs filhas da segunda famlia. Dessa forma o senhor morre e seu filho torna-se o novo senhor Dashwood, herdeiro de todos os bens, casa, terras, animais, mveis, pratarias e todo o restante, tocando as quatro mulheres uma renda anual de 500 libras. O que restou para as mulheres, como o moribundo patriarca deixa claro, apenas o essencial a sobrevivncia delas, sendo ainda mais agravante o fato dessa renda no possibilitar um dote para o casamento das irms. O Jovem senhor, comovido pelo pedido do pai em leito de morte, possui intenes de ajudar financeiramente a suas irms, todavia, rapidamente ele dissuadido pela sua ambiciosa esposa, senhora Funny Ferrars, essa exerce sobre ele notria influncia sobre suas aes. E no somente sobre o marido, mas tambm sobre o irmo dela, Edward Ferrars. Logo o novo senhor Dashwood est na propriedade que foi do seu pai, ocupando-a, por ser seu direito, e transformando a sua madrasta e irms, que tinham o local como seu nico lar, em hspedes dentro da casa que um dia foi tudo o que elas tinham. Nesse perodo em que, a viva Dashwood, Elinnor, Marianne e Margareth so hspedes em sua prpria casa, conhecem o jovem Edward Ferrars. No demora muito e Edward e Elinnor esto envolvidos emocionalmente, tal envolvimento comemorado e incentivado pela me e irms, porm no passa despercebido aos olhos de Funny, essa por sua vez impe-se radicalmente ao relacionamento e sua interferncia pressiona as desamparadas mulheres Dashwood a de uma vez por todas abandonarem seu antigo lar. O novo lar das mulheres um chal em Devonshire, possibilitado graas a um primo da me das garotas, Sir John. Recebidas muito bem e integradas ao ciclo de relacionamentos da localidade, logo inicia-se os arranjos para conseguir-se bons pretendentes e casamentos para as irms Elinnor e Marianne. O maior pretendente s graas de Marianne o experimentado Coronel Brandon, mas esse no o do seu agrado. Visceral, impulsiva, impetuosa e s vezes irracional, Marianne totalmente o contrrio da sua irm Elinnor, racional, comedida, pensativa, o pilar de sustentao da famlia de mulheres. Elinnor, profundamente apaixonada por Edward, entretanto pouca demonstrativa disso, no possua olhos para qualquer outro, mesmo estando ela longe do amado e havendo a possibilidade de nunca mais se verem, quem dir poderem se casar. Marianne, tal qual era, encontrou um pretendente de seu agrado, o jovem senhor Willoughby de Allenham, moo que iria herdar fortuna de uma tia. A relao entre os dois desenvolve-se, impulsiva e apaixonada, como era a personalidade dos dois. Contudo, quando se pensa que finalmente uma das Dashwood resolver sua vida, com um companheiro amado e garantia de boa vida, acontece o inesperado, Willoughby parte e deixa Marianne. Uma das parentas que as acolheram em Devonshire, para alavancar o relacionamento das irms, resolve convid-las para irem Londres. Para Marianne era a possibilidade de resolver a questes com seu amado e enfim poderem noivar ou casar-se, para Elinnor era a vaga possibilidade de rever Edward. Para nenhuma das duas a viagem a Londres to proveitosa, Marianne, para desespero dela, descobre que seu amado a rejeitou e est prestes a casar-se com outra. Elinnor v o amado Edward ser deserdado devido a um noivado que ele em sua mais remota mocidade havia contrado e honrosamente negava-se a desmanch-lo. Mesmo aps a rejeio de Marianne ao Coronel Brandon, este continua um fiel amigo das mulheres da famlia. com auxlio dele que as irms retornam para Devonshire, assim bem como graas a ele que Edward Ferrars consegue entrar para o clero graas permisso do coronel para que ele atuasse em uma parquia nos seus domnios. No retorno ao lar, Marianne quase falece devido aos males emocionais que a acometeram depois do rompimento com o Willoughby. Nesse momento, Brandon, mais que nunca, de grande auxlio s irms, tambm apartir da que Marianne comea a repensar sua rejeio ao antigo pretendente. De volta ao lar, passado algum tempo dos acontecimentos em Londres, com Marianne j recuperada e em bom relacionamento com o coronel, a vez de Elinnor ter sua felicidade. A irm mais velha descobre que a noiva o jovem Ferrars o abandonou para casar-se com o irmo mais velho e herdeiro da fortuna Ferrars. Nesse momento Elinnor pode demonstrar o quanto ela de carne e osso e dotada se sentimentos como todos. Temos ento o final do drama com um final feliz para todos, para a racional irm Elinnor e para a sentimental Marianne. A narrativa do filme rica em muitos sentidos, sendo possvel observar uma pluralidade de aspectos referentes histria. Interessa-nos observar um elemento em especfico, a situao da mulher no perodo retratado. Obviamente devemos atentar para o fato que no estamos vendo a realidade tal qual era, um filme, fico, que tem como roteiro outra obra de fico, um livro. Nesse sentido preciso atentar que o que vemos so representaes da mulher entre fins do sculo XVIII e incio do XIX. Assim sendo percebamos os limites da obra para a anlise que nos propomos, reconhecendo que vemos a situao da mulher desse perodo mediada pelo que Jane Austen nos permite, e por ser um filme baseado no livro dela, temos ainda a mediao pelas concepes e interesses do diretor e roteiristas. E mesmo a nossa resenha est limitada pela percepo e mediao que fazemos de tudo isso que nos apresentado. No adentraremos na discusso conceitual de representaes, mas que saibamos que um conceito muito discutido e com diversas definies do que seria. Posto esses esclarecimentos, passemos ento as impresses sobre o aspecto que nos interessa do filme. A histria repleta de mulheres e a maioria delas nos permite entender melhor a situao feminina da Inglaterra durante o perodo a que nos referimos. Elinnor e Marianne, por serem as protagonistas e terem o foco da narrativa sobre elas, possibilitam obviamente uma srie de observaes sob a condio feminina, entretanto interessante observar como at mesmo personagens que se quer apareceram, foram apenas mencionadas, nos revelam sob o que estamos interessados. De uma maneira geral a impresso que temos, e resumindo em uma expresso genrica e simples, a da mulher que tem a sua importncia negada. Isso se evidencia pelo fato de que essas mulheres tem um papel muito ativo nessa sociedade da poca, todavia lhe negado por exemplo o direito da filha herdar do pai e da viva herdar do marido, o caso das Dashwood. So as mulheres que pelos sales conversam e tramam a respeito de casamentos, ou mesmo as informaes que elas obtm nesses sales de festas ou reunies particulares que lhe so teis para os maridos que esto, por exemplo, na poltica. Alm dessa importncia no trato do social com a aristocracia, temos a influencia que elas exercem sobre os maridos, irmos, genros, sobrinhos e pretendentes, que to bem podemos observar em muitas das relaes retratadas na narrativa flmica. Para elucidar isso observemos a relao de domnio que a senhora Funny Ferrars exerce sobre seu esposo John Dashwood, rapidamente ela consegue fazer aquele homem, tambm ambicioso, porm com peso na conscincia, esquecer a promessa que ele havia feito no leito de morte do pai de ajudar as irms. Ainda em Funny, percebe-se claramente a manipulao do irmo Edward, ela que ao perceber o relacionamento dele com Elinnor se impe entre os dois. A me Ferrars, ao que parece viva, ou se no com um marido invlido, sob ela esto todas as decises que o filho Edward deve tomar, um cargo no exrcito ou na poltica era tudo que queria, sem d a mnima para o desejo do filho de ter uma vida simples. Ela controlava as riquezas da famlia, decidia quem herdaria e o que herdaria. O amado de Elinnor no seguiu os desejos dela e acabou sofrendo com sua ira. Caso semelhante o de Willoughby de Allenham, tambm ele era um herdeiro de uma mulher, uma tia, essa ao ficar sabendo de suas impetuosas paixes que resultaram em um bastardo, o deserdou. Mas ainda h mais uma mulher importante para o bom vivant, a pretendente e futura esposa londrina, essa lhe tinha um bom dote a oferecer. As parentas das Dashwood por parte de Sir John, primo que as acolheu em Devonshire, tambm demonstram o papel ativo que exercem sobre os homens das suas vidas. A sogra de Sir John morando na casa dele, mesmo depois da morte da filha, vive em perfeita relao harmnica com ele, a impresso que nos d que o genro est submetido sogra, tanto que ele inclusive a trata como me. A cunhada de Sir John, mesmo no sendo to manipuladora como Funny Ferrars, dita, com seu jeito espalhafatoso, o que o marido deve fazer, dando pouca importncia ao que o mesmo deseja. Antes de chegarmos s impresses sobre os comportamentos das irms protagonistas, vejamos ainda dois casos, de personagens que foram apenas citadas, igualmente ao caso da matriarca Ferrars e a tia de Willoughby. Tratemos essas mulheres como as mulheres da vida do Coronel Brandon. A primeira tratava-se da amada e pretendente da juventude do coronel, nas palavras do homem, assemelhava-se, em termos comportamentais, a impulsividade doce e jovial de Marianne. Podemos perceber pela histria triste do relacionamento, impossibilitado, entre os dois, o elemento da desigualdade social, a relao no foi adiante pelo fato da moa ser pobre. Ao amor da juventude de Brandon restou a prostituio ou o concubinato, anos mais tarde ao reencontrarem-se ela est morrendo e lhe pede para que cuide da filha dela. A filha da amada de Brandon o segundo caso que podemos analisar, esta foi amparada e criada s graas do coronel, porm parece ter herdado da me aquela doce e jovial impulsividade, ela a jovem em quem o galante Willoughby gera um bastardo. Em ambas podemos observar, mais do que o aspecto das diferenas econmicas e sociais, as consequncias daquelas que levam at o fim a impulsividade e os desejos apaixonados, que no s as mulheres, mas tambm os homens possuem. A impresso que nos d que Austen utiliza desses dois casos para advertir o que esperava para aquelas mulheres que levassem at ao fim as suas paixes. Aquilo poderia ter ocorrido a jovem Marianne, claro que ela quase morre devido decepo amorosa, o que tambm no est ali por acaso, acreditamos que faz parte da advertncia. O ttulo Razo e Sensibilidade no toa, toda a obra permeada por esse sentido, no nos aprofundaremos nisso aqui, pois no esse o nosso objetivo, mas ao assistir com ateno possvel perceber. Uma das formas pelo qual esse sentido explicita-se mais claramente no par entre as irms Elinnor, com a razo, e Marianne, com a sensibilidade. Obviamente as duas possuam tanto razo quanto sensibilidade, impossvel a qualquer ser humano em perfeito estado de faculdades mentais no possuir os dois. Mas cada uma utilizava-se mais de um que de outro. O que nos interessa perceber como, no que nos apresentado, a mulher racional e a mulher sensvel, ou impulsiva, retratada dentro da sociedade da poca. Ao nosso perceber o comportamento de Elinnor era mais aceito e louvvel do que o de Marianne, talvez fosse, at mesmo para o bem da mulher, mais aconselhvel seguir o exemplo da racionalidade que a senhorita Dashwood dava. Ns bem sabemos que ela sofreu, e muito, por no ter a possibilidade do relacionamento que desejava com Edward. E como desejava, uma das ltimas cenas dela deixa claro isso, o desmanchar-se em lgrimas e risos, um misto incontrolvel de emoes ao saber que Edward iria ser seu. Porm ao observarmos o comportamento de Marianne vimos o quanto ela se divertiu e sonhou, mas tambm observamos o quo grande foi o sofrimento dela, o quo maiores foram os riscos a que ela submeteu-se, at mesmo risco de morte. Vemos da mesma forma que no foi com seu amado, impetuoso e visceral, que ela teve seu final feliz, e sim com o experimentado e comedido Coronel Brandon. Para alm do que era melhor ou pior, aconselhvel ou desaconselhvel, percebamos que da forma que fosse, havia espao para aquilo naquela sociedade. Como j havamos dito antes, a obra riqussima para discusses, sendo impossvel fazer um trabalho esgotando todas as questes que nos so apresentadas, e tambm o trabalho que desempenhamos com o aspecto enfatizado, longe est de ter esgotado as possibilidades de discusses e reflexes sobre o tema. Conclumos atentando para o fato de que, mesmo hoje, sculo XXI, muitas mulheres, em muitas partes do mundo, no apenas no Brasil ou na Inglaterra, tem a sua importncia negada na sociedade. Em muitos lugares, em muitos lares brasileiros, para nos atermos ao local em que estamos inseridos, as mulheres so cuidam da casa, dos filhos, da sade da famlia, do sustento financeiro, desenvolvem todos os tipos de profisso. Entretanto, ainda est longe de terem o seu papel plenamente afirmado e aceito, evidencias disso so, por exemplo, os salrios mais baixos que em algumas reas as mulheres recebem, ou mesmo os casos de violncia familiar em que tantas mulheres so vtimas. Por mais que no vivamos mais em uma sociedade plenamente patriarcal e centrada na figura do homem, onde a soluo para vida da mulher ter um pai que viva muito, um irmo bondoso, ou o ideal, um bom marido, mas ainda temos resqucios disso.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTESDEPARTAMENTEO DE HISTRIAHISTRIA LICENCIATURA PLENAHISTRIA CONTEMPORNEA IDOCENTE: LEILANE ASSUNODISCENTE: DANILO NOGUEIRA DE MEDEIROS

RESENHA FILMOGRFICA: RAZO E SENSIBILIDADE

NATAL-RN 2014.1