Resenha do texto de A.Y. Gourevitch
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HISTÓRIA DA CULTURA I
Resenha
Nome: Marcos Freire Machado
Data: 21/04/2010
Professor: Sérgio Fiker
Resenha
Marcos Freire Machado
GOUREVITCH, A. Y. O tempo como problema da História Cultural. In: RICOEUR, P.
(Org.), As culturas e o tempo. Petrópolis: Vozes, p. 263-283, 1975.
O autor inicia seu artigo fazendo uma ligação da representação de tempo com a
consciência social do ser humano, revelando serem as representações de tempo componentes
essenciais de uma estrutura de vida em uma determinada sociedade. Gourevitch afirma que a
percepção ou apercepção de tempo revelam as características fundamentais de uma sociedade,
o seu desenvolvimento, as suas práticas e sua organização social.
Desde as épocas mais remotas as pessoas tentaram responder: há um tempo real
único que flui do passado em direção ao futuro e que de alguma forma rege os
fenômenos do universo ou esse tempo é apenas criação de nossa consciência que
projetamos sobre os fenômenos a fim de explicá-los?
Segundo Gourevitch nas sociedades primitivas o tempo era pensado como uma
influência mística e poderosa que regia a vida dos homens e dos Deuses a noção de tempo era
imóvel e cíclica, onde os eventos e as épocas se repetem assim como as estações climáticas o
que reflete a ligação do homem com a natureza mesmo que este ainda não pudesse
compreendê-la ou mesmo dominá-la. Dessa maneira o homem primitivo manteve a crença no
eterno retorno, a sua consciência não era orientada para a percepção das modificações, mas
sim para encontrar o antigo no novo.
Na antiguidade os modos de tempo, passado, presente e futuro estavam dispostos em
um único plano onde são simultâneos, o homem antigo vivia o passado e o presente ao mesmo
tempo, dessa maneira se explica o culto aos antepassados, mas também pensava o futuro
através das adivinhações e previsões proféticas, era a crença no destino. Acreditava-se numa
trajetória cíclica do tempo, marcados por períodos positivos, regulados e recuperados pelos
deuses, logo após um período de declínio.
Segundo Gourevitch a percepção de tempo pelos gregos, não era percebido segundo a
transformação e evolução como a cultura contemporânea vê hoje, mas sim como se o mundo
estivesse em repouso. Essa percepção mística, estática e cíclica do mundo peculiar aos gregos
transformou-se em Roma, onde os historiadores foram mais sensíveis a linearidade do tempo
e interpretação da história.
Para Gourevitch o homem antigo só começou a estabelecer uma distinção entre passado,
presente e futuro a partir do momento em que a percepção linear do tempo ligou se com a
idéia de sua irreversibilidade na consciência social.
Mas e a representação de tempo na idade média? Como foi possível a concepção de
tempo se tornar linear, vetorial e irreversível?
Para Gourevitch o tempo linear foi somente ser uma forma possível, de tempo social
depois de uma evolução longa onde o cristianismo na Europa rompeu com a concepção
cíclica de mundo dos pagãos, utilizando o Antigo Testamento como noção de tempo,
prevendo o grande evento que mudou a história, a vinda do messias. A partir desse evento o
Novo Testamento revolucionou o conceito de tempo.
Na concepção cristã de tempo a humanidade tem sua história relacionada com um
princípio e um fim que o levam a eternidade. O cristão passa o tempo neste mundo aspirando
chegar à eternidade, o seu tempo histórico é dramático, pois se fundamenta em uma visão
dualista do mundo, onde sua história se passa em uma arena onde se defrontam o bem e o
mal, e o cristão durante este tempo deve “decidir” em que lado quer ficar para a sua própria
salvação ou não, o indivíduo aspirava acima de tudo cumprir o seu dever com Deus.
Segundo Gourevitch a humanidade na idade média não vive mais um tempo único,
agora ao lado do natural há o sobrenatural, e a igreja comandava o tempo social, onde o tempo
do individuo não era seu, não lhe pertencia, mas dependia de uma força superior que o
dominava, era o tempo eclesiástico.
E a percepção de tempo contemporânea porque tem muito pouca relação com a de
outras épocas?
Para Gourevitch na idade média não havia necessidade de se valorizar e economizar o
tempo, pois vivia-se em uma sociedade feudal condicionada por uma natureza essencialmente
agrária. Mas aos poucos um novo foco da vida social foi tomando forma, a vida na cidade,
onde estavam os artesãos que não dependiam da alternância das estações climáticas para o seu
trabalho, desta forma os artesãos foram determinantes para o surgimento de uma civilização
urbana que conseguiu separar mais claramente o seu trabalho da natureza, tornando- se um
criador autônomo de seu próprio mundo. Nestas condições se torna necessário uma medida
mais exata e normalizada do espaço e do tempo, assim surge o tempo dos relógios, das horas,
minutos e segundos exatos. Um tempo inflável onde as transformações, numa movimentação
rápida e constante, mal permitem o processamento das mudanças, levando-nos aos cuidados e
temores em relação ao futuro. Segundo Gourevitch dispondo dos meios de medir o tempo
com exatidão os homens passam por uma transformação e evolução radical, incluindo o
conceito de sociedade e de cidade, dessa maneira o tempo se estendeu em linha reta, indo do
passado ao futuro passando por um ponto chamado presente. Dessa maneira a cidade torna-se
senhora do seu próprio tempo, fugindo ao controle da igreja, e mais tarde do próprio homem.
Não seria exagero afirmar que a sociedade, principalmente a sociedade urbana do século
XX tornou-se completamente escrava do relógio. Levantar-se, vestir-se alimentar-se, estudar,
trabalhar, divertir-se e dormir, tudo é determinado pelos relógios. Mas segundo Gourevitch
com a percepção atual de tempo o homem, pretende prever o futuro, para planejar suas
atividades, vivendo um tempo irreversível. A necessidade social de o homem organizar-se
para viver e poder agir coletivamente, coloca o tempo sociocultural como um fator primordial
de destaque neste processo de estabelecimento social, como coordenador, sincronizador e
padronizador das ações coletivas das atividades humanas. O tempo sócio-cultural exprime
complexidade histórica das relações sociais. O homem, ao perceber que além das
experiências vividas momentaneamente no presente, poderia transcendê-las no sentido por
meio tanto da reflexão acerca das experiências anteriores ligadas à memória do passado
quanto de projeções de experiências posteriores com expectativas de desejos vindouros
futuro, dessa maneira desenvolveu-se a sensação de duração.