Resenha Do Filme

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Danilo D´Silva Duarte RESENHA DO FILME: AMISTAD Trabalho apresentado à disciplina História da África do Curso de História - Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná. Professora: Márcia Campos Graff 1

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Danilo D´Silva Duarte

RESENHA DO FILME: AMISTAD

Trabalho apresentado à disciplina História da África do Curso de História - Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná.

Professora: Márcia Campos Graff

CURITIBA2009

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RESENHA DO FILME “AMISTAD”

FICHA TÉCNICA

Título Original: “Amistad”Ano de produção: 1997Diretor: Steven SpielbergDuração: 2h34min

SINOPSE

O filme “Amistad”, dirigido por Steven Spielberg, reconta o verídico motim

acontecido em alto mar, no ano de 1839, a bordo do navio espanhol “La Amistad”,

quando um grupo de 53 escravos de diversas etnias, se rebelaram e tomaram o

controle do navio, trucidando a grande maioria da tripulação e obrigando os dois

sobreviventes a leva-los de volta para a África. No entanto, os líderes do motim

não conheciam os caminhos, que poderiam leva-los de volta ao continente

africano e por esta razão, acabaram traídos e o navio foi interceptado no litoral

norte dos Estados Unidos, na costa de Connecticut. Os insurgentes foram presos

e com isto, iniciou-se um intenso embate judicial entre a coroa espanhola,

traficantes de escravos e comerciantes estadunidenses, todos reclamando a

posse da “mercadoria humana”. Para sua defesa, o grupo de negros conta com a

apaixonante oratória do jovem advogado Roger Baldwin, os abolicionistas

Theodore Jodson e Lewis Tappian e a ajuda incidental do ex-presidente John

Quincy Adams.

CONTEXTO HISTÓRICO

No início do século XIX, os Estados Unidos passava por um processo de

intenso crescimento, tanto populacional, quanto em seus limites territoriais. A

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crescente imigração européia no país, levou ao desbravamento do Oeste,

motivado por razões religiosas, (as quais defendiam o expansionismo através da

predestinação divina dos colonos estadunidenses) e sobretudo, pela descoberta

de ouro na Califórnia, promovendo um verdadeiro genocídio físico e cultural, dos

nativos desta região.

O intenso crescimento do país, fortalecido pelas correntes de imigração

européia, tornou mais flagrante o antagonismo entre norte e sul. O norte,

favorecido pela abundância de energia hidráulica e as riquezas mineiras,

desenvolvia a passos largos o seu parque industrial, utilizando a mão-de-obra

assalariada e defendendo uma política econômica altamente protecionista. O sul

por sua vez, de clima seco e quente, permaneceu estagnado economicamente,

pautando sua produção no cultivo de exportação de algodão e tabaco, baseados

no latifúndio escravista. A forte dependência em relação as manufaturas, levava o

sul a defender o livre comércio, em contraponto ao norte protecionista.

Essas divergências se agravaram com a eleição do abolicionista

moderado Abrahm Lincoln, em 1860, resultando na separação entre os estados do

Norte e do Sul. Em 1861 esta situação acabou culminando na violenta Guerra

Civil, também conhecida como “Guerra da Secessão”, responsável pela morte de

aproximadamente 600 mil pessoas, em um período de 4 anos.

ANÁLISE DO FILME

É neste contexto, que o julgamento dos negros amotinados do navio

espanhol “La Amistad”, ganha contornos épicos, pois os rumos da decisão judicial,

afetarão o destino da florescente nação dos Estados Unidos. Isto se torna claro, a

partir do primeiro julgamento, quando o Secretário de Estado John Forsyt, a coroa

espanhola, a marinha dos Estados Unidos e o comandante do “La Amistad”, Jose

Ruiz, promovem um verdadeiro embate de “petições”, para reclamar a posse do

navio e de toda a sua “carga”.

A acusação de assassinato, pesou contra os negros e em sua defesa, o

advogado Roger Baldwin (especializado em propriedades) conseguiu provar que a

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condição de cativos não era legitima, pois a captura dos negros, aconteceu no

protetorado de Serra Leoa, o que descumpria os termos do acordo de supressão

do tráfico negreiro, em águas vigiadas pela coroa britânica. Durante o período, em

que se desenrolou o julgamento no Tribunal Distrital, Roger Baldwin e Theodore

Jodson (um ex-escravo dono de uma frota mercante), solicitaram o apoio do ex-

presidente John Quincy Adams, que os instigou a conhecer a história dos

africanos e saber quem eles realmente eram. Através disto, Baldwin conheceu

Cinqué, um negro de origem mênde, que demonstrou através de seus relatos,

todo o complexo sistema de funcionamento da escravidão.

A captura, a comercialização e o transporte sob condições degradantes,

são apresentados por Cinqué, de modo impactante e constituem uma nova fase

para a escravidão, quando a sociedade começava a despertar, para a realidade

cruel que se impunha a uma grande parcela da humanidade. Nos Estados Unidos,

a questão da escravidão estava ainda mais acentuada, pois demonstrava o nível

de separação em que se encontravam o norte e o sul, cada vez mais propensos a

se enfrentar nos campo de batalhas.

O grande receio de uma absolvição, fez com que o então presidente Martin

Van Buren, substituisse o juiz que iniciou o processo, colocando em seu lugar, o

relutante e católico, juiz Colin. Pressionado pela coroa espanhola, pela elite

escravista do sul e almejando a reeleição, Van Buren acabou vítima do “próprio

veneno”, pois o advogado Roger Baldwin conseguiu provar a irregularidade do

julgamento dos insurgentes e com isto, a absolvição dos africanos.

O medo de uma iminente guerra civil provocada pela repercussão desta

absolvição, fez com que o executivo dos Estados Unidos, apelasse para as

instâncias do Tribunal de Circuito e posteriormente, na mais alta representação

judicial dos Estados Unidos, a Suprema Corte.

Esta reviravolta, obrigou Baldwin a solicitar a ajuda de John Quincy Adams,

na defesa dos africanos. Durante o julgamento, Adams calcou sua oratória nos

princípios proclamados pelos país fundadores do país, evocando constantemente,

o direito natural a liberdade, afirmando que aqueles negros não eram propriedade

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de ninguém, nem de Cuba, nem da Espanha, mas provinham da Costa do Marfim,

onde haviam sido injustamente capturados.

A postura de John Quincy Adams era firme, em relação a eminência de

uma guerra civil, e em suas palavras “(...) se a guerra precisar acontecer, que

aconteça(...) pois somente assim, poderemos efetuar o trabalho iniciado pelos pais

fundadores desta nação (...)”

Sua postura demonstra claramente a condição em que se encontrava o

país naquele momento. A independência trouxe autonomia, mas também a divisão

e as profundas desigualdades e a soberania plena, somente seria alcançada, com

a unificação, mesmo que sob condições traumáticas.

Ao evocar o direito natural, John. Q. Adams conseguiu dissuadir o júri sobre

a verdadeira noção de justiça. Segundo Adams, os negros tinham pleno direito a

vida e a liberdade e desconhece-las era renegar o passado, romper a tradição e

sobretudo, fragilizar os preceitos defendidos pelos pais fundadores da nação.

Cinquê já havia demonstrando, em conversa com Adams, que segundo a tradição

mendê, todos somos o resultado da soma de nossos ancestrais e a justiça,

deveria estar presente no sangue de cada um, negro ou branco, pesando sobre os

valores humanos.

CONCLUSÃO

O júri acabou favorável a libertação de Cinquê e os demais negros e

mesmo que o filme, supervalorize os acontecimentos reais que envolveram o

motim do navio “La Amistad”, é importante constatar alguns elementos cruciais a

questão da escravidão e do tráfico negreiro, sobretudo nos Estados Unidos:

a revolta do Amistad, foi o resultado das cruéis condições impostas aos

negros, no tocante a escravização forçada;

a escravidão sob o pretexto da “raça” não discrimina etnias. Por esta

razão, é possível identificar vários agrupamentos de cativos, que se

amotinaram no Amistad, entre eles alguns muçulmanos. Outra cena

que exemplifica esta colocação, é o momento em que um negro morre

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na prisão e os membros de sua etnia, querem enterrá-lo, conforme os

rituais da sua cultura;

A “coisificação” tende a considerar o escravo uma mera propriedade,

passível de venda, sem qualquer preocupação com laços de

parentesco;

Mesmo com a proibição do tráfico em águas controladas pelo império

britânico, muitos navios se utilizavam de subterfúgios como a utilização

de bandeiras de países “neutros”, como foi o caso do navio mercante

português “Tecora”;

Theodore Jodson, o ex-escravo que conseguiu comprar sua alforria,

nasceu no estado sulista da Geórgia, mas conseguiu prosperar em

Connecticut (norte dos EUA), como dono de uma frota mercante. Esta é

uma clara alusão, à respeito das oportunidades e da prosperidade,

existentes nos estados do norte.

O tráfico de escravos era extremamente rentável, mesmo com as

mortes de grande número de cativos, durante as travessias marítimas;

A abolição da escravidão, possuía como objetivo principal, devolver ao

cativo, a sua condição natural de liberdade, exatamente como

argumentou John Quincy Adams.

John Quincy Adams acreditava que o direito a liberdade, nos Estados

Unidos, não discernia raça, etnia ou cultura. Ela estava pautada no

desejo daqueles que fundaram o país.

A presença de um sistema econômico ainda rudimentar e a

dependência da mão-de-obra escrava, foram fatores que contribuíram

para o atraso da economia do sul.

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