Resenha: Diferenças étnico-raciais e formação do professor.
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UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto ICHS - Instituto de Ciências Humanas e Sociais Docente: Dr. Erisvaldo Pereira dos Santos Disciplina: Relações Raciais e Educação – EDU-534 Discente: Waleska Medeiros de Souza
PINTO, Regina Pahim. Diferenças étnico-raciais e formação do professor. Cadernos de Pesquisa, n. 108, p. 199-231, 2013.
Preocupações em tornar a educação escolar um processo efetivo de reflexão,
valorização e respeito a essas diferenças, no quesito étnico-racial reportam sua origem
ao século passado, nos Estados Unidos. Professores negros começaram a abordar
assuntos de interesse para os afro-americanos. As primeiras intervenções foram
destinadas as escolas de população negra e gerativamente foi difundindo ao restante do
sistema de ensino, por pressão de jovens afro-americanos para que a educação
reconhecesse o patrimônio cultural de seus ancestrais. Com efeito, muitas universidades
criam programas e departamentos dedicados aos estudos negros, como os Black Studies.
Este movimento étnico-racial é ampliado com a perspectiva multiculturalista na
educação. Esta perspectiva nasce da ponderação de professores doutores afro-
americanos, da área de Estudos Sociais ao sugerirem novas metodologias para o ensino
dos estudos étnicos e uma reformulações dos currículos e dos ambientes escolares, em
que deveria ser articulada uma formação de professores para a diversidade cultural.
Atualmente com a globalização, a educação multicultural passou ter dimensões
ampliadas, nunca antes experimentadas.
No Brasil, na década de 30, inspirados pelo culturalismo, alguns educadores
propõem ações no sentido de anular a diversidade social. A articulação entre educação e
diversidade sempre preocupou os setores mais intelectualizados e politizados da
população negra.
Com o passar da década, a educação não valorizava as tradições culturais de
origem africana por não serem considerados elementos importantes no processo
educacional. Gradativamente este contexto começou a ser modificado, pois grupos
sociais passaram a reivindicar com mais vigor a necessidade do sistema educacional
enfrentar a diversidade étnico-racial do seu alunado, com mudanças em currículos. De
forma paralela, as associações negras começaram a desenvolver ações educacionais
promovendo a valorização das tradições africanas.
A partir da década de 1980, no âmbito acadêmico surgem pesquisas de cunho
étnico-raciais, emerge uma preocupação crescente com a diversidade cultural/racial.
Pesquisas que não tiveram grande impacto educacional devido ao uso das variáveis
estudadas. A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(ANPED) se destaca com políticas de incentivo ao debate sobre o tema o negro e a
educação, nos seus encontros anuais. Ocorre um crescente números de dissertações e
teses defendidas nas faculdades de educação articulando raça e educação.
Nos anos 1980, já eram percebidas algumas, poucas, mudanças nas propostas
curriculares, que traziam questões socioculturais e/ou étnicas. A partir da década de
1990, alguns municípios se destacam com propostas curriculares, como as
problemáticas da construção identitária, o respeito à diversidade das expressões
culturais e a condenação de quaisquer formas de discriminação. Com efeito, nos
Parâmetros Curriculares Nacionais este assunto com base étnico-racial é debatido de
forma curricular com base nos Temas Transversais.
A proposta dos Parâmetros Curriculares se efetiva em uma educação
comprometida com a cidadania, elencando princípios que devem orientar a vida escolar
como a igualdade de direitos e a dignidade da pessoa humana. A justificativa sugere que
os conteúdos dos Temas Transversais devem ser trabalhados por todas as áreas do
currículo, ou seja, de forma interdisciplinar. Outro tema é a abordagem Pluralidade
Cultural apresenta como objetivo colaborar para a edificação da cidadania na sociedade
pluriétnica e pluricultural, que aborda, dentre outros assuntos, a valorização das diversas
culturas presentes na constituição do Brasil como nação. Os Parâmetros educacionais
reforçam a necessidade de se ter professores capacitados para se posicionarem
criticamente perante a problemáticas apresentadas, assim como, compreender e
desenvolver os conteúdos propostos.
Para alcançar o objetivo de docentes mais capacitados é necessário que os cursos
de formação de professores adiram a mudanças curriculares, em que trabalhem os
conceitos étnicos-raciais. As metodologias pedagógicas também devem ser pensadas a
cada tipo de alunados, considerando sempre o contexto em que este se insere. Os
docentes ao abordarem questões étnico-raciais devem ter em mente aspectos sociais,
políticos que também entendam as relações de poder e hierarquizações que existem
nestes contextos.
Segundo uma pesquisa da autora em recursos didáticos usados por futuros
docentes nos materiais de História, não se pode apenas enfatizar as tragédias do racismo
e da discriminação, há que se resgatar e realçar também os acontecimentos positivos, as
personalidades negras que se destacaram, os ensinamentos não estereotipados sobre a
África, sobre as religiões africanas, a contribuição efetiva desse segmento para o nosso
país. Os livros de Biologia não exploram ou o fazem de modo superficial aspectos
importantes para um melhor entendimento do conceito de raça. Já os livros de
Sociologia da Educação e Psicologia da Educação trazem informações e discussões
superficiais, que são raramente articuladas com o contexto escolar, de alguns conceitos
como cultura, diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo cultural, estereótipo,
preconceito e discriminação.
Outra pesquisa feita pela autora foi a sondagem junto aos professores que
lecionavam as disciplinas História, Biologia, Sociologia e Psicologia da Educação, no
Curso de Formação de Magistério, no Estado de São Paulo, no ano de 1997, por meio
de dois instrumentos, um questionário e uma entrevista semiestruturada. A maioria dos
respondentes julgaram que as respectivas disciplinas pode contribuir para a reflexão
sobre as diferenças étnico-raciais e julgaram a temática importante. O estudo confirmou
o que a hipótese a respeito da dificuldade de tratar determinadas questões que dizem
respeito às diferenças étnico-raciais em abordagens formais. Outro achado da pesquisa
foi que a maioria dos docentes respondentes aprontaram que o curso não sensibiliza o
futuro professor para esta questão. A autora ainda reforça a importância de que os
futuros docentes no curso de formação obtivessem conhecimentos sólidos sobre as
discussões.
A autora realizou uma pesquisa em 93 exemplares da Revista Nova Escola, em
que observou se o tema étnico-racial estava presente na revista. Observou que a revista
possuía seções que discorriam sobre os problemas que afetam a população indígena e
negra. A conclusão da pesquisa foi que o assunto se encontra diluído no contexto de
outras informações e que para aprofundar sobre o tema é necessária a busca de artigos
mais aprofundados.
A autora conclui em seu artigo que não há respostas técnicas ou soluções
universalmente aceitas, daí a importância de se instaurar o debate. Ainda há um longo
caminho a percorrer no sentido de encontrar metodologias que auxiliem o professor a
tratar desse tema com os seus alunos, para isto é necessário que o docente tenha uma
bagagem de conhecimentos suficientemente ampla sobre esse assunto.