RESENHA CRÍTICA - POR TRÁS DA MÁSCARA FAMILIAR: um novo enfoque em terapia da família.

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CEFI CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA SISTÊMICA TURMA 56 - SINOP DJANE SANTOS DE ALMEIDA RESENHA CRÍTICA

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POR TRÁS DA MÁSCARA FAMILIAR: um novo enfoque em terapia da família.

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CEFICURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA SISTÊMICA

TURMA 56 - SINOP

DJANE SANTOS DE ALMEIDA

RESENHA CRÍTICA

Sinop-MT2015

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RESENHA CRÍTICA DO LIVRO:

POR TRÁS DA MÁSCARA FAMILIAR: um novo enfoque em terapia da família.

Andolfi, Maurizio; Angelo, Claudio; Menghi, Paolo e Nicolo-Corigliano, Anna Maria. Por trás da máscara familiar; um novo enfoque em terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

INTRODUÇÃO

Maurizio Andolfi nasceu em Roma em 1942. Hoje está com 73 anos. Estudou

medicina e neuropsiquiatria da Universidade "La Sapienza", de Roma. Viveu durante vários

anos em Nova York, onde estudou nas instituições de terapia familiar mais prestigiada na

Costa Leste, sendo elas: o Albert Einstein College of Medicine com Israel Zwerling e Albert

Scheflen; para Nathan Ackerman Family Institute com Kitty Laperrière; o Philadelphia de

Orientação com Salvador Minuchin e Jay Haley; acima de tudo ele foi muito influenciado

pelos seus professores, Salvador Minuchin e Carl Whitaker, com quem participou de vários

seminários internacionais.

Andolfi é o fundador da Associação Europeia de Terapia Familiar do qual ele era

vice-presidente. Também é o diretor da Academia de Psicoterapia da Família.

A escola a qual pertence é a Escola de Roma. Que surgiu em 1989, sob sua

supervisão, e conjuntamente com toda sua equipe, desenvolveu no Instituto de Terapia

Familiar de Roma um sistema baseado nos ensinamentos de Salvador Minuchin (Escola

Estrutural) sobre a intervenção no sistema familiar.

Inicialmente Andolfi era psiquiatria infantil. Embora aos poucos começasse a reunir-

se com as famílias e sobreveio um melhor entendimendo da familia, através da relação entre

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mãe e filha, entre irmão e irmã, entre pai e filhos, como o sistema familiar interagia com seus

membros.

Trabalhou em Nova York, no Bronx, com crianças e adolescentes delinqüentes com

todos os professores de terapia familiar da costa leste, como Minuchin, Bowen, Ackerman e

Haley e Whitaker, em cidades como Filadélfia, Nova York ou Washington.

Nos últimos 40 anos, Andolfi deixou a psiquiatria infantil e passou a dedicar-se à

psicoterapia da família e à educação. É diretor da revista Terapia Familiar e é o autor, co-

autor e editor de várias obras, incluindo: Terapia com a família (1977); O trigenerazionale

família (1988); Família rígida (1982); Tempo e mito em psicoterapia familiar (1989); A

família de doença e desenvolvimento (1992); O relacional entrevista (1994); Aconselhamento

em terapia de família (1995); Sentimentos e sistemas (1996) A crise do casal (1999);

Encontrou seu pai (2000); Terapia narrado pela família (2001); Biologia e relações (2001); Os

pioneiros da terapia de família (2002); Psicologia relacional Manual (2003); A família de

origem (2003); Famílias de imigrantes e terapia transcultural (2004); Terapia de casais em

perspectiva trigenerazionale - seminários M. Andoh (2006); As perdas e os recursos da

família (2007); A criança como um recurso em terapia familiar - seminários M. Andoh

(2007); Histórias de adolescência. Experiências de terapia familiar (na imprensa)

DESENVOLVIMENTO

Serão descritos nesta parte do trabalho um apanhado geral de cada capítulo do livro apresentado.

Cap. 1- O indivíduo e a família: dois sistemas em evolução

O objetivo fundamental deste capítulo é fornecer uma visão dinâmica do individuo

no contexto familiar.

O indivíduo e a família são dois sistemas que atuam e se desenvolvem paralelamente,

sofrem mudanças até um determinado ponto. Esse ponto é o momento que o indivíduo se

diferencia do sistema familiar de origem, criando um novo sistema com funções diferentes,

suprindo as necessidades individuais e as exigências sociais.

O processo de diferenciação dentro do sistema familiar é a necessidade que cada

membro do sistema tem de se diferenciar-se dos demais progressivamente e individualmente,

adquirindo autonomia e segurança para suas próprias decisões fora do sistema de origem.

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Durante o processo de separação-individuação exige que a família passe um estágio

de desorganização marcando a passagem para outro estágio, do equilíbrio funcional. Porém,

cabe lembrar isso somente será possível se a família for capaz tolerar a diferenciação de seus

membros. Em alguns sistemas rígidos a individuação dos seus membros encontrará fortes

obstáculos.

A mudança só será possível se houver uma medida de flexibilidade e rigidez

trabalhando em conjunto, ou seja, se o sistema tiver a capacidade de tolerar uma

desorganização temporária, mas com uma visão em direção à uma nova estabilidade.

Nas famílias em risco, a identificação de um “paciente” representa o foco da tensão

do sistema que encontra-se desequilibrado e é neste momento de transição que a terapia é

solicitada, e a intervenção terapêutica poderá facilitar uma redescoberta do potencial vital

dentro do grupo familiar enrijecido.

Em contrapartida nas famílias rígidas, a passagem de um estágio evolutivo para outro

pode ser percebida como catastrófica, pois a família está fechada para qualquer

experimentação e aprendizagem.

Cap. 2- O diagnóstico: hipóteses a serem testadas

A primeira parte do diagnóstico será dirigida para a avaliação de onde e como

concentrar a intervenção terapêutica e como ela será utilizada pela família, que poderá

reforçar a sua própria estrutura tornando mais rígida, ou poderá também utilizar a intervenção

como um “input” desestabilizador, perturbando a rigidez de seu sistema e provocando uma

redistribuição das funções e capacidades de cada membro.

Três problemas poderão ser encontrados pelo terapeuta:

1. A necessidade de isolar a função que a família deseja impor a ele;

2. A busca por definições e imagens relacionadas às funções de cada membro da

família;

3. A necessidade de avaliação da intensidade, do grau de força investido em seu

“input” desestabilizador que irá dissolver os padrões rígidos e ainda ser

aceitável à família.

A capacidade do terapeuta de poder trabalhar com a família e a quantidade de

energia depositada e envolvida nesse processo vai influenciar no diagnóstico. O terapeuta vai

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mostrar à família o caminho para a mudança. Os problemas que podem surgir são vários,

dependerá da forma como o terapeuta e a família lidará com eles.

Enfim, o sucesso ou não do terapeuta ao penetrar no sistema é determinado dentro

das primeiras sessões, ou mesmo no primeiro encontro. Ele pode não conseguir entrar em

contato com áreas importante da família, por estarem bem ocultas ou porque a família pode

precipitadamente terminar a terapia mesmo quando o terapeuta conseguiu tocar em conflitos

vitais e importantes contradições.

Cap. 3- A redefinição como matriz da mudança

A formação de um sistema terapêutico exige do terapeuta uma continua redefinição

ou reestruturação. Inicia o processo com a definição mais ou menos explicita e tenta modificar

isso ao longo do processo.

O objetivo principal é tumultuar os padrões de interação entre os vários subsistemas

a fim de torna-los insustentáveis e de criar as mudanças estáveis e valores de apoio no

esquema de relação. A família tentará impor suas próprias regras no sistema terapêutico,

buscando envolver o terapeuta no seu “jogo”.

Desde a primeira sessão, o terapeuta precisa reconhecer a necessidade de reestruturar

as relações dentro do subsistema familiar e o dele próprio. O terapeuta reorganiza o sistema,

fazendo uma leitura diferente do que é trazido, redefine o contexto e o problema. Nos

atendimentos familiares geralmente o problema vêm focado em um membro, e com a

redefinição este passa a ser de todos os membros da família, do seu sistema de funcionamento

familiar.

Cap. 4- A provocação como intervenção terapêutica

A tensão, o conflito, e a crise em um sistema, além de servir para manter a

homeostase serve também para a geração de mudanças e novos comportamentos precisam ser

aprendidos. Diante das provocações que o terapeuta realiza para que haja movimento, as

pessoas envolvidas tornam-se um pouco mais "dispostas" às mudanças. A provocação é um

instrumento para o início de mudanças.

A principal dificuldade será a de atingir cada membro individualmente e de ajuda-lo

a escolher entre aquilo que ele faz e aquilo que ele gostaria de fazer, entre aquilo que ele é e

aquilo que ele gostaria de tornar-se. E é esta pessoa que será responsável por suas próprias

escolhas.

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Cap. 5- Negação estratégica como reforço homeostático

Quando a família é envolvida no processo fazem parte da queixa principal, ela está

reorganizando-se ao seu novo sistema familiar e o terapeuta está fora do sistema. A família

cuida de seus problemas, sozinha e o terapeuta apenas a observa, assumindo a posição de

negação estratégica.

Negando estrategicamente a terapia porque ela está “repleta de perigos para o

equilíbrio de uma família que apresenta tal unidade”, o terapeuta pega a família desprevenida,

uma vez que eles esperam que o terapeuta faça todo o possível para conseguir o impossível.

Portanto, a negação estratégica também antecipa e neutraliza os padrões repetitivos

de interromper e invalidar cada experiência terapêutica.

Cap. 6- A metáfora e o objeto metafórico na terapia

A responsável pela elaboração deste capítulo foi Katia Giacometti, e nele são

descritos os pontos principais de um processo terapêutico coerente, demonstrando as

pressuposições conceptuais.

O sintoma pode ser uma metáfora de que algo não está sendo funcional no sistema

familiar, tornando disfuncional. A metáfora e o objeto metafórico são instrumentos de

comunicação. Com a metáfora pode-se criar imagens, ter infinitas representações, diferentes

percepções e os objetos metafóricos servem para caracterizar as pessoas e indicar seu

funcionamento.

A Metáfora literária: “Dom Quixote” – a imagem usada define não apenas o membro

identificado da família, mas também as relações e interações que ele tem com os outros, todos

ocorrendo em uma atmosfera irreal e fantástica.

A metáfora relativa ao contexto: “a maldição” – o terapeuta investiga os padrões das

associações enquanto a família fornece o material.

Uma das características do uso de metáforas é que a mesma possibilita a criação de

uma imagem das emoções do comportamento de uma pessoa, de seu caráter, ou de suas

relações dentro do sistema.

O objeto metafórico: a “invenção” do terapeuta. “chaves” – o terapeuta pode utilizar

a imagem metafórica das chaves para o entendimento da situação familiar. “Em que fechadura

a chave serve? Que portas ela abre? Que portas ela mantém fechada? Se você pudesse falar de

si mesma, como você descreveria suas portas e suas chaves? Pode ser usada um molho de

chaves como figurativo. Ao fazer uso do objeto metafórico o terapeuta pode efetivamente

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retirar-se do centro da atenção, pois no momento o ponto focal torna-se o objeto, e o terapeuta

poderá “passar a bola” para a família e ficar observando.

Cap. 7- A família Fraioli: história de um caso

O último capítulo descreve o caso de uma família cujo paciente identificado era

esquizofrênico e ilustra os conceitos apresentados nos capítulos anteriores. Esta família foi

acompanhada durante 23 sessões quinzenais.

Logo na primeira sessão o terapeuta utiliza da negação estratégica para abalar e

perturbar o sistema, impedindo a tentativa de restauração de regras antigas do sistema.

O autor descreve os relatos de algumas sessões onde mostra o uso da redefinição, da

provocação e da negação estratégica, de forma estrutural para redefinir a estrutura familiar.

Durante todo o processo terapêutico, a família torna-se cada vez mais um grupo de

indivíduos, oposto ao sistema compacto e reativo inicial. Quando a relatividade da

interpretação da realidade é reconhecida torna-se possível a criação de uma nova estrutura.

Isso ocorre através do redescobrimento do espaço pessoal e subsistêmico e das limitações

reais que temperam essa nova situação. A escolha antiga de funcionamento rígido não é mais

preferível. Tornou-se uma realidade para todos os membros do sistema, mas particularmente

para o paciente identificado.

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CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O livro retrata como o terapeuta pode diagnosticar as crises no sistema familiar e

como realizar uma intervenção terapêutica. Assim, o livro traz o resultado desta experiência,

que surgiu a partir de um trabalho terapêutico realizado durante oito anos no Instituto de

Terapia Familiar de Roma, a terapia de Andolfi teve como base alguns princípios de

Minuchin.

O foco do trabalho do terapeuta encontra-se na família, facilitando a descoberta da

sua potencialidade para a mudança de forma criativa, porém respeitando as suas limitações. E

deixa de ser um sistema disfuncional e passa a ser com as novas aprendizagens realizadas no

processo terapêutico um sistema mais funcional e estimulando novas pesquisas sobre o

indivíduo, suas funções, interações de papéis de cada membro e seu desenvolvimento pessoal

dentro da família.

Os sistemas familiares rígidos foi o principal abordado no livro e a proposta foi a

redefinição da relação terapêutica do problema, encorajando seus membros a novas

experiências individuais e interpessoais. O terapeuta orienta-se a partir dos sinais de

perturbação da comunicação e promove ações desestruturantes e reestruturantes, paradoxais e

metafóricas, no setting terapêutico e por tarefas de casa. E salienta também, a necessidade de

diferenciação como processo de crescimento, sem perder o pertencimento.

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APRECIAÇÃO CRÍTICA

O livro é de fácil compreensão, compacto e de leitura agradável. Possui em cada

capítulo, um farto material clínico ilustrativo de casos, o que facilitou bastante o entendimento

dos conceitos ensinados e praticados nas intervenções terapêuticas, o que me remeteu às

noções básicas para o atendimento tanto individual quanto de famílias, mostrando

principalmente as variáveis de como se chegar para atingir o processo de mudança de um

sistema familiar.

O material teórico apresentado no livro é de grande relevância para os terapeutas

iniciante como eu, pois revelam particularidades do processo terapêutico e as intervenções

utilizadas, as dinâmicas e técnicas utilizadas, também, são fundamentais para o aprendizado

tanto do profissional iniciante quanto para o mais experiente.

Enfim, foi uma satisfação a realização deste trabalho e com certeza esse livro

continuará sendo lido sempre que eu precisar, e já faz parte da minha biblioteca de consulta

como auxilio para minhas intervenções terapêuticas.

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BIBLIOGRAFIA

ANDOLFI, Maurizio; ANGELO, Claudio; MENGHI, Paolo e NICOLO-CORIGLIANO, Anna Maria. Por trás da máscara familiar; um novo enfoque em terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.