Resenha celebrações populares paulistas - do popular ao profano
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Resenha do capítulo
“Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano” ( no 3° Vol. “Manifestações artísticas e celebrações populares no estado de São Paulo” da coleção Terra Paulista)
de Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho
por Carlos Roberto Prestes Lopes
PELLEGRINI FILHO, A. ; IKEDA, Alberto T. . Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano in Manifestações artísticas e celebrações
populares no estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004. ( Vol 3, coleção Terra Paulista)
acesse o site do Terra Paulista clicando aqui
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- Resenha - 2 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
O texto tem como objetivo apresentar algumas manifestações culturais significativas do estado de São Paulo, “sobretudo festas, danças, práticas
coreográfico-dramático-musicais e outras celebrações.”
Além da terminologia
Aqui o autor expõe alguns dilemas quanto à dificuldade de conceituar e delimitar a abrangência dos estudos de Folclore e Cultura Popular, já que
estes termos carregam consigo vários entendimentos divergentes e polêmicos.
Uma diferença marcante entre os dois entendimentos se dá pela diferença da forma de estudar e interpretar a manifestação cultural, assim
Folclore traz à memória um estudo que tem como objetivo registrar e catalogar as manifestações artísticas, os “costumes típicos” de tal
comunidade para preservá-los imutáveis, já Cultura Popular traz um conceito mais amplo, que considera as mudanças pela qual estas
manifestações passam, bem como a estreita ligação que suas origens e mutações tem com o povo e suas práticas mais corriqueiras, considerando
todas essas variáveis como parte da Cultura deste povo, e não somente suas festas e manifestações artísticas.
Expressões culturais paulistas em formação
Sobre a origem dos povos e consequentemente das suas manifestações culturais, São Paulo tem (assim como todo o Brasil) influências dos povos
Indígenas, Portugueses e Negros, o que complica este panorama é que estes “povos” por si só já tem várias divisões internas (vários grupos
indígenas e grupos negros diferentes, cada um com seus costumes e modo de vida), e que esta cultura ser o produto da interação entre estes
povos: pela guerra, escravidão, convívio pacífico, etc. Além é claro de outras migrações, tanto internas, quando a cultura da Paulistânia recebeu
influência de várias regiões do Brasil, quanto externas, resultado de outras imigrações que chegaram ao Brasil e de países vizinhos, incorporando
traços destas culturas.
Em meio ao texto, o autor faz indicações sobre várias manifestações e suas maiores influências, o que nos faz perceber a predominância da cultura
portuguesa, como grupo dominante entre essas três principais. Um quadro com as manifestações citadas e sua maior influência:
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- Resenha - 3 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
No decorrer do séc. XX as influências externas se intensificaram por conta do poder da mídia de massa, que alcançava grande parte da população:
primeiramente através do rádio e posteriormente com a televisão. Esta presença trouxe com grande força o estilo “country” de música, bem como
seus trejeitos característicos (vestuário, festas de rodeio, etc.).
Como já dito no texto anterior, “as expressões culturais caipiras, além do estado de São Paulo, historicamente se alastram por uma ampla
região[...] alcançando principalmente os atuais estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e Go iás”, região chamada pelos estudiosos de
“Paulistânia”.
Os ciclos festivos, a organização e a circulação das manifestações expressivas
A grande maioria das celebrações tradicionais segue o calendário cristão e seus temas, porém algumas comemorações como a do Divino podem
ser realizadas fora de sua data normal, seguindo a tradição de cada localidade. Há também a dança-de-São-Gonçalo que pode ser realizada em
qualquer sábado do ano, com exceção ao período da quaresma.
Ibérica / Portuguesa
FESTA DO DIVINO
FOLIAS(grupos precatórios)
FESTAS JUNINASou Festas Caipiras , tem origem em
cerimônias pagãs pré-cristãs modificadas pela igreja para homenagear os santos
Africana
BATUQUE(de umbigada)
Região do Congo e Angola
JONGORegião do Congo e Angola
Indígena
CATIRA
CURURU
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- Resenha - 4 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
As festividades são organizadas por líderes da comunidade, prefeituras, as igrejas, ou grupos “permanentes” de participantes, sendo a participação
dos órgãos distritais dirigida às festividades que mais atendem aos interesses comerciais/turísticos da cidade. O autor aponta o interesse por parte
de segmentos diferentes, que não participavam destas manifestações tradicionalmente, com um interesse na “atração artística” ou ”atração
folclórica”.
As celebrações
Nesta parte do texto são apresentadas várias celebrações paulistas com uma breve descrição sobre cada uma. Selecionei as informações principais
de cada, listando suas características mais marcantes explicadas melhor no texto:
FESTAS
Nomes Data Característica Cidades onde é encontrada
Festa de
Nossa Senhora aparecida
12 de Outubro Expressão religiosa e popular, com
participação de Folguedos de
Moçambique, Congadas e outros
Aparecida do Norte
Festa de São Benedito Datas diferentes em cada
local
Celebração a São Benedito que tem
manifestações diferentes em cada
local onde é praticada
Tietê, Itapira, Atibaia, Arujá,
Guaratinguetá e Aparecida do Norte
Festa do Bom Jesus 3 a 6 de Agosto Celebração religiosa com participação
de várias formas tradicionais de
Samba Paulista
Iguape, Tremenbé e Pirapora do
Bom Jesus
Festa de Carpição várias datas ligada à cura de doenças usando a
terra do entorno (carpido) da Igreja
beneficiada
São José dos Campos, Guarulhos
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- Resenha - 5 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
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Festa de São Cosme e Damião 27 de Setembro festa das crianças, festejada tanto por
grupos católicos como por religiões de
origem afro-brasileiras como
Umbanda e Candomblé
Espalhado pelo estado
Festa de Santa Cruz 2 a 4 de Maio Dança em frente à cruz, chamada
Sarabaquê
Carapicuíba, Embu e Itaquá
Festa do Divino 50 dias após a Páscoa Celebra a data do Pentecostes e é
uma das mais tradicionais do Brasil.
Provavelmente trazida pelos
portugueses
Mogi das Cruzes, Cunha, Lagoinha,
Salesópolis, São Luiz do Paraitinga, e
outras
Festa de São Gonçalo Sem data fixa (geralmente
aos Sábados)
Festa particular (feita em uma
residência somente para conhecidos)
com música e dança (sapateado +
palmeado)
Mogi das Cruzes, Atibaia, Nazaré
Paulista, Arujá, São Jose´dos
Campos, Santa Isabel
Festas Juninas Mês de Junho no interior mantém-se o caráter de
louvação enquanto na cidade é quase
só festa. Tradicionalmente tem
quadrilha com ou sem casamento
caipira
Espalhada por todo o país
Festa de Santos Reis 6 de Janeiro Folia de Reis apresenta instrumental
diferente em cada grupo
Várias regiões paulistas
Festa de Iemanjá 8 e 31 de Dezembro Celebração à divindade pelas religiões
afro-brasileiras (Candomblé,
Umbanda e outras)
Várias regiões do Brasil
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- Resenha - 6 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
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DANÇAS
Nomes Características Cidades onde é encontrada
Batuque Nome genérico para qualquer dança de origem Afro-brasileira com
acompanhamento de tambores, dança caracterizada pela umbigada
Piracicaba, Tietê e Capivari
Cana Verde
Danças de origem portuguesa e coreografia simples em roda ou em
alas (no caso da Ciranda, não confundir com as brincadeiras infantis)
Várias regiões
Dança do Caranguejo
Chimarrete
Ciranda
Catira / Cateretê Utiliza palmeado e sapateado. Pesquisas indicam ligação com práticas
de missões jesuíticas
Regiões de tradição boiadeira
Cururu Atualmente encontra-se somente o desafio cantado, porém em sua
origem tinha dança em roda
Regiões de Mato Grosso e Mato
grosso do Sul
Fandango Dança de sapateado, em formação de alas. Cada grupo tem variantes
na forma de dançar
Rio Grande, Capão Bonito, Capela do
Alto, Tatuí, Sorocaba
Dança de Fitas Movimentação em ziguezague em torno do mastro (mas também há
outras coreografias)
Taubaté, Cotia, Iguape, São Luiz do
Paraitinga
FOLGUEDOS
Caiapó Não tem a ver com a cultura do grupo indígena de mesmo nome.
Dança-cortejo com momentos de dramatização das disputas entre
bandeirantes e índios
São José do Rio Pardo, Piracaia e Ilha
Bela
Cabeções Práticas carnavalescas encontradas no interior, que utilizam alegorias Várias regiões
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- Resenha - 7 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho
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Cordão de Bichos características e grupos instrumentais diferenciados (banda, bateria
de escola de samba ou instrumentos de percussão em formação livre)
Tatuí e Santana de Parnaíba
Boizinhos Ubatuba, Iguape
Cavalhada Teatro popular que retrata a luta entre cristãos e mouros São Luis do Paraitinga, Franca
Congada Dança-cortejo dramática com duas possíveis origens:
1.trazida da áfrica;
2.trazida de portugal, originária da celebração à n. Sra do rosário
Várias localidades
Jongo De origem afro-brasileira, tem na formação de Roda com casal ao
centro
Vale do Paraitinga
Moçambique Dança-cortejo com bastões, em alas segue os tocadores, a bandeira e
a imagem do santo
Vale do Paraíba
Quadrilha caipira Tem origem na quadrille francesa, foi trazida ao brasil na época da
vinda da família real portuguesa. É uma dança e também um folguedo
(pois tem personagens e encenação)
Todo o Brasil
Samba, Samba de Lenço, Samba
Caipira
Formas antigas de Samba praticados por comunidades negras Várias regiões
OUTRAS CELEBRAÇÕES
Tapetes de Corpus Christi Prática de adornar as ruas (com desenhos no chão) por onde irá
passar a procissão, utiliza diversos materiais reciclados
Várias regiões
Malhação de Judas Boneco representando o personagem bíblico que supostamente traiu
Jesus é espancado e/ou queimado
Várias regiões
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- Resenha - 8 Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano
Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
Recomenda de Almas No período da Quaresma, canto para as almas no purgatório,
instrumentos (matraca e berra-boi) exorcizam os espíritos.
Franca, Capela do Alto e Ribeirão
Grande
Romarias Cada região tem suas próprias formações (com os instrumentos que
os integrantes dispõe)
Várias regiões
A partir da observação destas tabelas, é possível constatar como várias manifestações tem ligação direta com a Igreja Católica e seu calendário.
A lembrança e a afirmação de um modo de ser
As festas representam grande importância social, onde a comunidade se reúne e várias manifestações culturais têm espaço.
“É no contexto social amplo, e não apenas no isolamento em si dos fatos, que elas podem revelar os seus significados mais profundos” (p.207),
pois as manifestações fazem parte da sociedade, organismo vivo, onde mesmo que as manifestações se mantenham semelhantes, seus
significados mudam com o passar do tempo. Nestes momentos de reunião, as práticas não são somente diversão, são essencialmente uma
manifestação, uma reafirmação da identidade do grupo.