Resenha celebrações populares paulistas - do popular ao profano

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Resenha do capítulo Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano( no 3° Vol. Manifestações artísticas e celebrações populares no estado de São Pauloda coleção Terra Paulista) de Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho por Carlos Roberto Prestes Lopes PELLEGRINI FILHO, A. ; IKEDA, Alberto T. . Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano in Manifestações artísticas e celebrações populares no estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004. ( Vol 3, coleção Terra Paulista) acesse o site do Terra Paulista clicando aqui

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Resenha do capítulo

“Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano” ( no 3° Vol. “Manifestações artísticas e celebrações populares no estado de São Paulo” da coleção Terra Paulista)

de Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho

por Carlos Roberto Prestes Lopes

PELLEGRINI FILHO, A. ; IKEDA, Alberto T. . Celebrações populares paulistas: do sagrado ao profano in Manifestações artísticas e celebrações

populares no estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004. ( Vol 3, coleção Terra Paulista)

acesse o site do Terra Paulista clicando aqui

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Alberto T. Ikeda e Américo Pellegrini Filho

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O texto tem como objetivo apresentar algumas manifestações culturais significativas do estado de São Paulo, “sobretudo festas, danças, práticas

coreográfico-dramático-musicais e outras celebrações.”

Além da terminologia

Aqui o autor expõe alguns dilemas quanto à dificuldade de conceituar e delimitar a abrangência dos estudos de Folclore e Cultura Popular, já que

estes termos carregam consigo vários entendimentos divergentes e polêmicos.

Uma diferença marcante entre os dois entendimentos se dá pela diferença da forma de estudar e interpretar a manifestação cultural, assim

Folclore traz à memória um estudo que tem como objetivo registrar e catalogar as manifestações artísticas, os “costumes típicos” de tal

comunidade para preservá-los imutáveis, já Cultura Popular traz um conceito mais amplo, que considera as mudanças pela qual estas

manifestações passam, bem como a estreita ligação que suas origens e mutações tem com o povo e suas práticas mais corriqueiras, considerando

todas essas variáveis como parte da Cultura deste povo, e não somente suas festas e manifestações artísticas.

Expressões culturais paulistas em formação

Sobre a origem dos povos e consequentemente das suas manifestações culturais, São Paulo tem (assim como todo o Brasil) influências dos povos

Indígenas, Portugueses e Negros, o que complica este panorama é que estes “povos” por si só já tem várias divisões internas (vários grupos

indígenas e grupos negros diferentes, cada um com seus costumes e modo de vida), e que esta cultura ser o produto da interação entre estes

povos: pela guerra, escravidão, convívio pacífico, etc. Além é claro de outras migrações, tanto internas, quando a cultura da Paulistânia recebeu

influência de várias regiões do Brasil, quanto externas, resultado de outras imigrações que chegaram ao Brasil e de países vizinhos, incorporando

traços destas culturas.

Em meio ao texto, o autor faz indicações sobre várias manifestações e suas maiores influências, o que nos faz perceber a predominância da cultura

portuguesa, como grupo dominante entre essas três principais. Um quadro com as manifestações citadas e sua maior influência:

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No decorrer do séc. XX as influências externas se intensificaram por conta do poder da mídia de massa, que alcançava grande parte da população:

primeiramente através do rádio e posteriormente com a televisão. Esta presença trouxe com grande força o estilo “country” de música, bem como

seus trejeitos característicos (vestuário, festas de rodeio, etc.).

Como já dito no texto anterior, “as expressões culturais caipiras, além do estado de São Paulo, historicamente se alastram por uma ampla

região[...] alcançando principalmente os atuais estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e Go iás”, região chamada pelos estudiosos de

“Paulistânia”.

Os ciclos festivos, a organização e a circulação das manifestações expressivas

A grande maioria das celebrações tradicionais segue o calendário cristão e seus temas, porém algumas comemorações como a do Divino podem

ser realizadas fora de sua data normal, seguindo a tradição de cada localidade. Há também a dança-de-São-Gonçalo que pode ser realizada em

qualquer sábado do ano, com exceção ao período da quaresma.

Ibérica / Portuguesa

FESTA DO DIVINO

FOLIAS(grupos precatórios)

FESTAS JUNINASou Festas Caipiras , tem origem em

cerimônias pagãs pré-cristãs modificadas pela igreja para homenagear os santos

Africana

BATUQUE(de umbigada)

Região do Congo e Angola

JONGORegião do Congo e Angola

Indígena

CATIRA

CURURU

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As festividades são organizadas por líderes da comunidade, prefeituras, as igrejas, ou grupos “permanentes” de participantes, sendo a participação

dos órgãos distritais dirigida às festividades que mais atendem aos interesses comerciais/turísticos da cidade. O autor aponta o interesse por parte

de segmentos diferentes, que não participavam destas manifestações tradicionalmente, com um interesse na “atração artística” ou ”atração

folclórica”.

As celebrações

Nesta parte do texto são apresentadas várias celebrações paulistas com uma breve descrição sobre cada uma. Selecionei as informações principais

de cada, listando suas características mais marcantes explicadas melhor no texto:

FESTAS

Nomes Data Característica Cidades onde é encontrada

Festa de

Nossa Senhora aparecida

12 de Outubro Expressão religiosa e popular, com

participação de Folguedos de

Moçambique, Congadas e outros

Aparecida do Norte

Festa de São Benedito Datas diferentes em cada

local

Celebração a São Benedito que tem

manifestações diferentes em cada

local onde é praticada

Tietê, Itapira, Atibaia, Arujá,

Guaratinguetá e Aparecida do Norte

Festa do Bom Jesus 3 a 6 de Agosto Celebração religiosa com participação

de várias formas tradicionais de

Samba Paulista

Iguape, Tremenbé e Pirapora do

Bom Jesus

Festa de Carpição várias datas ligada à cura de doenças usando a

terra do entorno (carpido) da Igreja

beneficiada

São José dos Campos, Guarulhos

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Festa de São Cosme e Damião 27 de Setembro festa das crianças, festejada tanto por

grupos católicos como por religiões de

origem afro-brasileiras como

Umbanda e Candomblé

Espalhado pelo estado

Festa de Santa Cruz 2 a 4 de Maio Dança em frente à cruz, chamada

Sarabaquê

Carapicuíba, Embu e Itaquá

Festa do Divino 50 dias após a Páscoa Celebra a data do Pentecostes e é

uma das mais tradicionais do Brasil.

Provavelmente trazida pelos

portugueses

Mogi das Cruzes, Cunha, Lagoinha,

Salesópolis, São Luiz do Paraitinga, e

outras

Festa de São Gonçalo Sem data fixa (geralmente

aos Sábados)

Festa particular (feita em uma

residência somente para conhecidos)

com música e dança (sapateado +

palmeado)

Mogi das Cruzes, Atibaia, Nazaré

Paulista, Arujá, São Jose´dos

Campos, Santa Isabel

Festas Juninas Mês de Junho no interior mantém-se o caráter de

louvação enquanto na cidade é quase

só festa. Tradicionalmente tem

quadrilha com ou sem casamento

caipira

Espalhada por todo o país

Festa de Santos Reis 6 de Janeiro Folia de Reis apresenta instrumental

diferente em cada grupo

Várias regiões paulistas

Festa de Iemanjá 8 e 31 de Dezembro Celebração à divindade pelas religiões

afro-brasileiras (Candomblé,

Umbanda e outras)

Várias regiões do Brasil

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DANÇAS

Nomes Características Cidades onde é encontrada

Batuque Nome genérico para qualquer dança de origem Afro-brasileira com

acompanhamento de tambores, dança caracterizada pela umbigada

Piracicaba, Tietê e Capivari

Cana Verde

Danças de origem portuguesa e coreografia simples em roda ou em

alas (no caso da Ciranda, não confundir com as brincadeiras infantis)

Várias regiões

Dança do Caranguejo

Chimarrete

Ciranda

Catira / Cateretê Utiliza palmeado e sapateado. Pesquisas indicam ligação com práticas

de missões jesuíticas

Regiões de tradição boiadeira

Cururu Atualmente encontra-se somente o desafio cantado, porém em sua

origem tinha dança em roda

Regiões de Mato Grosso e Mato

grosso do Sul

Fandango Dança de sapateado, em formação de alas. Cada grupo tem variantes

na forma de dançar

Rio Grande, Capão Bonito, Capela do

Alto, Tatuí, Sorocaba

Dança de Fitas Movimentação em ziguezague em torno do mastro (mas também há

outras coreografias)

Taubaté, Cotia, Iguape, São Luiz do

Paraitinga

FOLGUEDOS

Caiapó Não tem a ver com a cultura do grupo indígena de mesmo nome.

Dança-cortejo com momentos de dramatização das disputas entre

bandeirantes e índios

São José do Rio Pardo, Piracaia e Ilha

Bela

Cabeções Práticas carnavalescas encontradas no interior, que utilizam alegorias Várias regiões

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Cordão de Bichos características e grupos instrumentais diferenciados (banda, bateria

de escola de samba ou instrumentos de percussão em formação livre)

Tatuí e Santana de Parnaíba

Boizinhos Ubatuba, Iguape

Cavalhada Teatro popular que retrata a luta entre cristãos e mouros São Luis do Paraitinga, Franca

Congada Dança-cortejo dramática com duas possíveis origens:

1.trazida da áfrica;

2.trazida de portugal, originária da celebração à n. Sra do rosário

Várias localidades

Jongo De origem afro-brasileira, tem na formação de Roda com casal ao

centro

Vale do Paraitinga

Moçambique Dança-cortejo com bastões, em alas segue os tocadores, a bandeira e

a imagem do santo

Vale do Paraíba

Quadrilha caipira Tem origem na quadrille francesa, foi trazida ao brasil na época da

vinda da família real portuguesa. É uma dança e também um folguedo

(pois tem personagens e encenação)

Todo o Brasil

Samba, Samba de Lenço, Samba

Caipira

Formas antigas de Samba praticados por comunidades negras Várias regiões

OUTRAS CELEBRAÇÕES

Tapetes de Corpus Christi Prática de adornar as ruas (com desenhos no chão) por onde irá

passar a procissão, utiliza diversos materiais reciclados

Várias regiões

Malhação de Judas Boneco representando o personagem bíblico que supostamente traiu

Jesus é espancado e/ou queimado

Várias regiões

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Recomenda de Almas No período da Quaresma, canto para as almas no purgatório,

instrumentos (matraca e berra-boi) exorcizam os espíritos.

Franca, Capela do Alto e Ribeirão

Grande

Romarias Cada região tem suas próprias formações (com os instrumentos que

os integrantes dispõe)

Várias regiões

A partir da observação destas tabelas, é possível constatar como várias manifestações tem ligação direta com a Igreja Católica e seu calendário.

A lembrança e a afirmação de um modo de ser

As festas representam grande importância social, onde a comunidade se reúne e várias manifestações culturais têm espaço.

“É no contexto social amplo, e não apenas no isolamento em si dos fatos, que elas podem revelar os seus significados mais profundos” (p.207),

pois as manifestações fazem parte da sociedade, organismo vivo, onde mesmo que as manifestações se mantenham semelhantes, seus

significados mudam com o passar do tempo. Nestes momentos de reunião, as práticas não são somente diversão, são essencialmente uma

manifestação, uma reafirmação da identidade do grupo.