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REPRESENTAÇÕES DO COTIDIANO ESCOLAR: UMA LEITURA DA MEMÓRIA POR MEIO DA IMAGEM (1890/1940)
Maria de Fatima da Silva Costa Garcia de Mattos Centro Universitário Moura Lacerda/Ribeirão Preto (SP)
Palavras Chave: Cultura Material, Imagem e Representação
Nas últimas décadas do século XIX, as antigas cidades brasileiras,
principalmente, as que viviam em função da economia cafeeira, apontavam para o
estrangulamento da sua estrutura urbana, dadas as novas exigências econômicas do
momento. As cidades almejavam o crescimento, mesmo considerando, o medo pela
miserabilidade e o desmoronamento da ordem, que o fato traria. Contudo, foram os seus
marcos referenciais que ao mesmo tempo em que identificavam, estabeleciam também,
suas diferenças em relação às demais cidades.
Nesse contexto, a educação exerceu um papel fundamental no projeto de
modernidade republicana. A regeneração do indivíduo e da sociedade, que os colocaria
nos trilhos do progresso e da civilização, trazia em seu bojo o ensino como parte do
projeto da Nação, e a materialidade da sua identificação, o edifício escolar, era o lócus
do saber centrado na competência e respeito ao professor, cuja imagem era a
representação do importante papel de agente transformador da Nação.
A visibilidade desse projeto prospectava o imaginário fin-du-siécle. Edificar era
perpetuar a memória e o poder por meio da linguagem das pedras, no ideário
republicano. Os edifícios escolares abrigaram relações de espaço-tempo-lugar,
guardando ainda hoje, uma forma de representação permeada por lembranças, de grupos
que ali contidos, ao preencherem o vazio do espaço, permitem-nos, “identificar o modo
como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é
construída, pensada, dada a ler”, (CHARTIER, 2002, p.17).
Bencostta (2005, p.97) comenta que, a construção de edifícios específicos para
os grupos escolares foi uma preocupação das administrações de estado que tinham no
produto urbano o espaço privilegiado para a sua edificação, em especial, nas capitais e
cidades economicamente prósperas. A localização dos edifícios escolares deveria
funcionar como ponto de destaque da cena urbana, de modo a se tornar visível, como
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signo de um ideal republicano, uma gramática discursiva arquitetônica enaltecedora do
novo regime.
A escola assim se apresentava, como o lugar privilegiado para o entendimento
do esforço civilizador da sociedade brasileira, tornando-se também um espaço
fundamental para a compreensão dos sinais de competência que nele a sociedade
deveria reconhecer, a importância da instrução escolar e a outorga do diploma,
colocados num patamar de hierarquia social responsável pela construção da elite
educacional.
Essa produção de memória apresentada por meio do documento escrito, visual,
identificado ou vestido (uniformes), desenhado ou construído (mobiliário), constituem-
se em fonte de leitura para esta pesquisa. Tais fontes nos levam, ainda, a exercitar o
olhar e os sentidos para além do que se vê, lendo nas suas entrelinhas e ouvindo nos
relatos os chamados silenciosos dos espaços lacunares.
Especificamente, investigamos, dois projetos escolares: o primeiro, uma escola
confessional católica, de ordem feminina, modelo de costumes e formação educacional;
o segundo, uma escola pública tradicional, dentro do mesmo modelo e rigor de época,
cuja semelhança de projeto arquitetônico entre ambas, nos instigou a pesquisar seus
hábitos e mentalidades, no cotidiano da comunidade onde se encontram, apontando para
uma interessante cultura material escolar no interior do estado de São Paulo.
Metodologicamente, foram a leitura dos documentos escolares, plantas, livros de
registros, fotos de época e comemorações cívicas, sobretudo, o comportamento
feminino de época, que nos permitiu o esboço de um imaginário que viria a atender, à
guisa de conclusão, esta pesquisa. Ao tratar da questão espaço escolar, temos que nos haver com dois estados da história (ou do social): a história, no seu estado objetivado, quer dizer, a história que se acumulou ao longo do tempo nas coisas, máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias, costumes, direito, etc. e a história no seu estado incorporado, que se tornou habitus. (BOURDIEU, 1989, p.82)
A importância do ambiente escolar pode ser conferida numa experiência simples
e corriqueira: quando levamos uma criança pela primeira vez à escola, ela normalmente
reage de forma imediata, demonstrando o impacto agradável ou não, que o "espaço" lhe
causou, a estrutura, as cores, enfim, o conjunto físico do colégio.
Já na alta Idade Média, quando surge a escola cenobial, ocorreram mudanças
importantes na área pedagógica: o aprimoramento de conteúdos como canto, música,
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cálculo e gramática. Manacorda descreve a experiência de um monge que relembra a
primeira impressão de quando chegou na escola de Walfried Strabo, abade de
Reichenau, no segundo decênio do século IX: “Eu era totalmente ignorante e fiquei
muito maravilhado quando vi os grandes edifícios do convento, nos quais deveria
morar daquele momento em diante...” (MANACORDA, 2000, p.134).
Foucault também se refere a isso:
[...] a arquitetura não é mais simplesmente para ser vista (fausto dos palácios), ou para vigiar o espaço exterior (geometria das fortalezas), mas para permitir um controle interior, articulado e detalhado — para tornar mais visíveis os que nela se encontram; mais geralmente, a de uma arquitetura que seria um operador para a transformação dos indivíduos: agir sobre aquele que se abriga, dar domínio sobre seu comportamento, reconduzir até eles os efeitos do poder, oferecê-losa um conhecimento, modificá-los. As pedras podem tornar dócil e conhecível. O velho esquema simples do encarceramento e do fechamento — do muro espesso, da porta sólida que impedem de entrar ou de sair — começa a ser substituído pelo cálculo das aberturas, dos cheios e dos vazios, das passagens e das transparências... (FOUCAULT, 1997, p.44)
O próprio edifício da escola devia ser um aparelho de vigiar, como compara o
autor em Vigiar e punir, entre escolas, hospitais e prisões. O quartos eram repartidos ao
longo de um corredor como uma série de pequenas celas; a intervalos regulares,
encontrava-se um alojamento oficial, de maneira que cada dezena de alunos tivesse um oficial à direita e à esquerda [os alunos aí ficavam trancados durante toda a noite; e Páris insistira para que fosse envidraçada] a parede de cada quarto do lado do corredor desde a altura de apoio até um ou dois pés do teto. Além disso a vista dessas vidraças só pode ser agradável, ousamos dizer que é útil sob vários pontos de vista, sem falar das razões de disciplinas que podem determinar essa disposição. (FOUCAULT, 1997, p.145)
A interferência do poder nas instituições educacionais aparece de modo mais
nítido, segundo os autores, quando surgem as escolas jesuítas, transformadoras no
processo de educação, principalmente ao separar os colégios de formação para médicos,
engenheiros, arquitetos e artes e os dos nobres. Varela e Úria comentam a
transformação da sociedade soberana para a disciplinar, quando novas instituições
foram montadas. Eles vão mais adiante: A formação das crianças para a qual contribuíram de forma especial os colégios, teria como contrapartida a submissão dos corpos e a educação das vontades em que tanto insistem os educadores religiosos. Com razão afirma Michael Foucault, que a cantilena humanista consiste em fazer-nos crer que somos mais livres quando submetidos estamos: de paixões à razão, submetimento do corpo ao espírito, submetimento da liberdade à obediência, submetimento da consciência ao confessor e
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diretor espiritual, dos filhos aos pais, da mulher ao marido, e dos súditos ao monarca. (VARELA E ÚRIA, 1992, p.85)
Com o passar dos anos, novos tipos de prédios foram construídos e ocorreram
outras transformações. A vigia se tornou mais difícil e admitia-se que talvez a escola
não devesse funcionar como maquinaria escolar. Foucault faz uma interessante
abordagem ao mostrar o novo olhar do arquiteto durante as mudanças havidas no
século XVIII por pressão não só do poder, mas da sociedade como um todo, que seria o
panóptico: O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada sela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções — trancar, privar de luz e esconder — só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha. (FOUCAULT, 1997, p.165)
Este conceito — ordem sem repressão — pode ser verificado nas construções
escolares atuais, mas o ser vigiado é um dos questionamentos frequentes dos alunos.
No início da urbanização, as escolas estaduais paulistas eram na sua maioria
prédios de dois andares, aproveitando o máximo de espaço possível, com somente uma
sala para administração (posicionada estrategicamente), e ali ficavam os professores.
Outra curiosidade era a separação por sexo: de um lado, meninos; de outro, meninas.
Somente depois de 1900 é que surgem espaços para as bibliotecas.
Normalmente, o partido arquitetônico era caracterizado pela existência de um
pátio interno, em torno do qual se desenvolvia a circulação coberta que permite a
interligação com as salas. Com plantas simétricas, muitas vezes, assim reservava uma
das alas à seção masculina e outra à feminina. Bem no eixo simétrico está localizado o
acesso central ao prédio, que dá para um vestíbulo ou portaria, antes de se atingir a
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galeria de circulação. Escolano (apud Bencosta, 2005) mostrou bem como esta
espacialização disciplinar compõem a arquitetura escolar ao observar, dentre outros
detalhes como a divisão das salas de aula por idade e sexo e a disposição das carteiras
enquanto elementos da planificação panóptica do espaço. “ Tais dispositivos são além
do mais, coerentes com as teorias arquitetônicas modernas que sustentam, que as
pessoas e os objetos se relacionam precisamente através de sua separação no e pelo
espaço” (Escolano, 1993-4, p. 101, apud BENCOSTA, 2005, p. 112)
Assim, encontramos escolas desenhadas em formato retangular com pátios
centrais, fechados, com salas por todos os lados, ou em formato de U, destinando
espaços para a administração ou diretoria em locais estratégicos, “para vigiar”. Até
1920, com frequência, todas tinham portões altos, salas de aula com carteiras
enfileiradas, com pisos de madeira, cores pálidas, porém, com fachadas
arquitetonicamente elaboradas, razão da restauração de várias delas no final dos anos
noventa.
Essa elaboração, muitas vezes oriunda de determinações prescritas pela
legislação do estado, como encontramos em vários deles no país, eram sintomas da
construção de um espaço simbólico e funcional, que na Europa já não era nenhuma
novidade desde 1868, na França da Terceira República, pela ação de Jules Ferry, que
proclamava ser inadmissível uma sala de aula de uma instituição pública, sem material,
mobiliário e distribuição do espaço, de forma específica, atendendo à medidas entre
carteiras, circulação e piso paquet de madeira resistente.
As duas escolas que cotejamos neste artigo, possuem uma distribuição de
espaços semelhantes, em dois pavimentos, cuja distribuição funcional marcou o
imaginário dos estudantes que por lá passaram. Jaboticabalenses ilustres, hoje políticos,
literatos, professores eméritos, juristas, que o País conheceu e que nas primeiras décadas
do século XX, formavam uma elite educacional que experenciava esse espaço
disciplinador das escolas, difundindo práticas higienistas além de ensinamentos sobre a
moral e os bons costumes.
Na década de 1920, afirma Marques (1994, p.101), não só aperfeiçoavam o
espírito como também conformavam o corpo, faziam ver como indispensável a presença
dos novos saberes a compor o universo da escola.
Abaixo a fachada atual Colégio Santo André (Fig.1) e EEPSG Aurélio Arrôbas Martins (Fig.2)
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Na cidade de Jaboticabal (SP), pensar a história do Colégio Santo André é antes
lembrar a história das Irmãs de Santo André. Essa história hoje partilhada com todo que
por lá passaram ou se interessaram em conhecê-la, (conforme transcrevo do site da
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escola), nos dá numa rápida visão, um panorama da vinda dessas pioneiras religiosas à
serviço da educação, para a cidade de Jaboticabal(SP).
Sua origem, a cidade de Tournai, na França (hoje Bélgica), em 1231. Duas
jovens irmãs decidem consagrar-se a Deus colocando-se – em pessoa e bens - a serviço
dos necessitados; outras jovens juntaram-se a elas, e o bem foi se realizando em
diferentes e sucessivas atividades: acolhimento aos peregrinos, tratamento de enfermos,
ensino infantil, educação de jovens, tudo animado pela fé, esclarecido na oração,
buscando viver o Evangelho.
No século XIX, sem deixar Tournai, vão atuar em outras regiões. No ano de
1913, na Bélgica, a Superiora Geral das Religiosas de Santo André e seu Conselho
cogitavam a fundação de uma ou duas casas em Bruxelas, Antuérpia ou em país de
Missão. Coincidentemente, no dia da reunião para a tomada de decisão, chega uma
carta da parte de D. José Marcondes Homem de Mello, bispo de São Carlos do Pinhal
(SP), solicitando a abertura de colégios em sua diocese. Era a resposta de Deus.
Cinco religiosas: Madre Lúcia Maria Doyle (Irlandesa) e as Irmãs Francisca
Peeters (Belga), Ana Schockaert (Belga), Alice Coradini (Belga) e Lucy Chopinet
(Francesa), no dia 23 de janeiro de 1914, deixam o porto de Southampton, a bordo do
navio "Araguaya" e chegam ao porto de Santos (SP) no dia 11 de fevereiro desse
mesmo ano.
No dia 16 de fevereiro de 1914, foram festivamente recebidas em Jaboticabal
(SP) por grande número de pessoas na estação da estrada de ferro. Meninas vestidas de
branco, seus pais, demais autoridades, o juiz de direito, Dr. Joaquim de Oliveira Neves e
sua esposa, Ernestina de Melo Cabral, hospedaram as recém-chegadas, que iniciaram
corajosamente seu trabalho de educadoras. No dia seguinte entram nas três casinhas da
rua Barão do Rio Branco onde acolherão as primeiras alunas no dia dois de março. E na
simplicidade, no acolhimento caloroso são lançadas as primeiras sementes do Colégio
Santo André, que no dinamismo da educação, foi sempre se atualizando.
Em 1920 iniciaram a construção de um prédio próprio (atual colégio) para onde
se mudaram em 1923, com grande número de alunas. Outras Irmãs chegam da Europa
no final do ano, e nos anos seguintes. Jovens brasileiras, descobrindo sua vocação
religiosa, pediram a sua admissão. Ir. Carolina Lacorte, Ir. Lavínia Camargo, Ir. Ondina
Bittencourt, Ir. Isabel de Melo foram as primeiras.
Como as primeiras Irmãs do século XIII na Europa, as missionárias do início do
século XX no Brasil, as atuais Irmãs de Santo André buscam viver e lançar sementes do
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Evangelho para a Maior Glória de Deus (AMDG), isto é, para que o ser humano
desenvolva todas as suas potencialidades e viva de maneira digna, livre, responsável,
colaborando na transformação que o mundo atual requer.
Hoje, no século XXI, as Irmãs de Santo André são todas brasileiras, mantendo
estreita união com as Irmãs na Europa e no Congo. Permanecem educadoras,
diversificando suas atividades nas escolas, nos retiros espirituais, no ministério da
escuta, na presença junto aos pobres, na busca pela unidade.
O edifício mantém a imponência dos colégios tradicionais e escolas
confessionais, sendo esta, a que educou a elite jaboticabalense e da região modelando
almas, costumes e hábitos, normas de moral e boa conduta, principalmente, preparando
moças de “boa família” para a exercerem o seu papel social de esposa, mãe, e quando
possível, professora. Para isso a matriz curricular que nessa época preocupava-se com
conhecimentos de puericultura, costura e bordado, até o início da década de 1960
manteve disciplinas de trabalhos manuais, canto orfeônico, ensino religioso, e uma
“gloriosa” fanfarra feminina, orgulho das “andrelinas”, visto que ainda era um colégio
feminino.
Seu edifício, dotado de entrada principal que o divide ao meio destinando as
salas de aula, diretoria e biblioteca para a direita, e capela para a esquerda, foi
construído em dois pavimentos com piso em largas tábuas de madeira cuidadosamente
enceradas, bem como, as escadas de acesso entre os pavimentos. Distribuído em amplas
salas de aula arejadas e ventiladas, com pelo menos três a quatro janelas por sala, que
eram abertas pelas religiosas logo na entrada pela manhã para o inicio das aulas. O
mobiliário era individual e em madeira, com mesinha (carteira) separada da cadeira, na
segunda metade do século. O amplo sanitários no pavimento térreo sempre chamava a
atenção pela higiene e limpeza, mas, também, pela vigilância, uma inspetora de aluno
que sempre estava presente nos horários de recreio, quando o acesso a ele era coletivo.
O sanitário era próximo ao pátio interno com bebedouros e lavabos externos a ele, que
permitiam que os alunos ao final da recreação por ali passassem para se higienizarem e
tomar água, antes de retornarem apara a sala de aula.
Esse pátio interno, característico nas escolas ainda na primeira metade do século
XX, por terem as mesmas dois pavimentos, dava margem a uma liberdade vigiada,
“acompanhada”, possuía no formato da em L (letra) uma passagem coberta que levava a
todos para o portão de entrada/saída dos alunos, e entrada para o Salão Nobre, palco das
festas e apresentações juvenis.
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A capela por sua vez, situava-se no outro extremo, mas, com entrada também
pela rua além da entrada pela porta principal, dobrando-se à esquerda e seguindo um
expressivo corredor que conduzia até ela, passando por uma cobertura na área externa.
Foi também usada, com regular frequência, para casamentos e celebrações especiais.
Com amplos vitrais góticos, coloridos, vindos da França, as religiosas ali também
faziam sala de aula para os ensinamentos da doutrina e da fé por meio das pinturas dos
vitrais e das imagens (esculturas) dos santos.
Atualmente, mesmo com as salas e laboratórios ampliados e reformados para
atendimento das necessidades e exigências da educação na contemporaneidade, o
edifício e seu interior não perderam a beleza do tempo de memórias sempre lembradas.
(Fig.3). Este mesmo pátio, em foto recente, atualmente não atende mais a função de
“recreio” (fig.4) e ao lado, na lateral e continuidade da área, o pátio onde ficam os
alunos nos intervalos de recreio e ao fundo vemos a passagem coberta que o contorna
( Fig.5).
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A EEPSG “Aurélio Arrobas Martins” carinhosamente chamado de “Estadão”
foi oficialmente fundado em 21/06/ 1917, pelo Prof. Aurélio Arrobas Martins ,
português de Cabo Verde, sob o nome de Gymnasio São Luiz, sendo seus estatutos
levados no mesmo dia ao conhecimento publico. “Deverá ele funcionar, brevemente, em
prédio localizado Rua Juca Quito n 47, até a edificação de prédio próprio. A base de
educação desse Colégio será a moral cristã.” No dia 30 de junho foi divulgado o nome
dos professores que comporiam o quadro docente e no dia 06 de julho tiveram início as
aulas (CAPALBO, 1993, p.120). recebeu a visita do Arcebispo e Bispo de Vila Real,
Portugal, D. João Evangelista de Lima Vidal, em 1926. (Fig.6)
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PATIO INTERNO ATUAL (1 e 2) Colégio Santo André
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PATEO
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Contudo, no dia 26 de agosto de 1933 o Prof. Aurélio Arrobas Martins afasta-se
da direção por motivo de mudança para São Paulo, pois fora convidado para dirigir o
Liceu Franco-Brasileiro. Assume então a direção Gymnasio, Dr. Olavo Lima
Guimarães.
O Ginásio São Luiz, teve vida efêmera, em fevereiro de 1934 a Prefeitura
Municipal assumiu a responsabilidade pela sua direção, nomeando o Prof. Celino
Pimentel para conduzir, quando em 12 de agosto, chega a notícia, em nossa cidade, que
através do decreto n 6.601 de 11/8/1934 o Ginásio São Luiz passava oficialmente a
pertencer ao (governo do) Estado. Durante o ano em curso e em 1935, a direção ficará a cargo do município que atenderá a linha traçada pelo Estado, com recursos da municipalidade. Nos anos de 1936 e 1937, proverá o estado as necessidades do Instituto, pagando, no entanto o corpo docente e funcionários com relativo abatimento. De 1938 em diante, o Ginásio entrará no regime de completa estadualização” (CAPALBO, 1993, p.200).
Um edifício construído sob as normas do gosto eclético da época, dois
pavimentos mais porão, contudo, dotado da majestosa imponência Neoclássica dos
grandes liceus. Possuía amplas salas arejadas e ventiladas, com grandes janelões que
abriam para a rua como se pode observar na sua lateral, repetindo-se do outro lado. Os
espaços destinados à diretoria e biblioteca eram centralizados no corredor do segundo
piso. Em piso de ladrilho hidráulico, sempre limpo e rigorosamente cuidado nos dois
pavimentos, a escola exibia (e ainda o faz) um pátio interno destinado a atividades de
convivência social e diversão nos horários do “recreio”, severamente controlado através
das sacadas do pavimento superior que para ele davam acesso visual. Durante algum
tempo, houveram salas de aula no chamado “porão”, que apesar de tudo, foi um decente
pavimento térreo que abrigou classes de alfabetização, classes especiais, dentre outras.
Atualmente, a Escola de Primeiro e Segundo Graus (EEPSG) Prof. Aurélio
Arrobas Martins, em Jaboticabal (SP), conhecida carinhosamente por “estadão” ,
continua a cumprir o seu importante papel formador de cidadãos críticos e reflexivos na
cidade de Jaboticabal.
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Seu espaço central, hoje, ladeado por iluminação moderna (Fig.7), foi destinado
à quadra de esportes simulando um ginásio de esportes, onde nas suas arquibancadas
(escadas na lateral da quadra) reuniu a juventude da cidade nos anos de 1950 a 1970
para grandes torneios de futebol, basquetebol e voleibol, pontos fortes dos “rapazes do
estadão”. Da mesma forma, exibiu até uma década atrás, sua não menos gloriosa
fanfarra para deleite da comunidade local.
Ambos os edifícios construídos no início do século passado assemelham-se na
sua distribuição espacial e funcional marcam uma época da sociedade jaboticabalense,
na qual formaram uma elite profissional e intelectual da cidade. As normalistas do
“estadão” sempre foram o orgulho da cidade e região, e assim, devotadas professoras
que foram são lembradas nominalmente até hoje. Eram escolas grandes para a época,
segundo os dados locais, no ano de 1928 data do centenário da cidade o Ginásio São
Luiz possui 510 alunos, mais 148 da Escola Normal Anexa e, o Colégio Santo André
470 alunas mais 48 da Escola Normal Anexa, dentre os vinte um estabelecimentos de
ensino regulares e livres( como escola de caligrafia, datilografia, corte e costura..) que a
cidade possuía.
Contudo, é bom ressaltar, que eram ambos distinguiam-se por gênero, o São
Luiz abrigava o sexo masculino e o Santo André, somente elementos femininos, que
também, nessa época poderiam membros do internato, um dos melhores do interior do
estado. Porém, na escola normal anexa, no Santo André obedeciam a regra geral, mas,
no São Luiz a escola era mista.(CAPALBO, 1993)
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O rigor dos uniformes, mesmo que diferenciados pela própria orientação
primeira, religiosa ou laica, até os anos de 1950 foram a representação da sociedade que
se valorizava, elegância no traje, “bons modos” e cortesia no tratamento pessoal, pudor
e recato na vestimenta feminina, que reunidos eram exemplo do modelo da figura
ilibada, intelectual e profissional que o(a) professor(a), o(a) Médico(a) ou o bacharel em
Direito, deveriam ser.
No depoimento do Sr. Euclides Ferreira Guarita, jaboticabalense nato e ex-aluno
do Ginásio São Luiz, ele ilustra essa época, em grande parte a documentação levantada
para este artigo com as palavras de Casemiro de Abreu: “Oh! Que saudades que tenho,
da aurora da minha vida, daminha infância querida, que os anos não trazem mais!”
FIGURAS:
1)http://www.csajaboticabal.org.br/oColegio/10/7-Maravilhas-do-Colegio-Santo-
Andre.html.
2) http://www.panoramio.com/photo/2560325
3) http://www.csajaboticabal.org.br/oColegio/2/Historia.html
4)http://www.csajaboticabal.org.br/oColegio/10/7-Maravilhas-do-Colegio-Santo-
Andre.html
5)http://www.csajaboticabal.org.br/oColegio/10/7-Maravilhas-do-Colegio-Santo-
Andre.html
6) CAPALBO.C. Memoria Fotográfica. 1890-1978, p. 33.
7 http://eeaurelioarrobas.blogspot.com.br/
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