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REPRESENTAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE POLÍTICA E O ENSINO
DE HISTÓRIA NA ESCOLA PÚBLICA
RUTEMARA FLORENCIO
Governo do Estado de Roraima
RESUMO
A proposta deste trabalho é relacionar a disciplina de História e o ensino de História com o desenvolvimento da consciência política dos alunos do Ensino Médio da escola pública, especificamente de uma zona urbana, região periférica. As eleições do ano de 2014 colocaram à prova inúmeros candidatos que, nas manifestações de junho de 2013, não entenderam os motivos de uma grande massa popular sair as ruas. Considerando que muitos alunos que frequentam as aulas de história participaram tanto das manifestações de junho de 2013 como as que ocorrem atualmente e são eleitores, é importante que a disciplina de História na questão do ensino, faça a conexão entre política e vida cotidiana conferindo assim um significado à participação popular em reivindicações que buscam melhorias nos serviços públicos e observação do Estado aos direitos legalmente assegurados pelo coletivo. O estudo da História nas escolas públicas através dos materiais didáticos distribuídos pela PNLD 2010, enfatizam o aspecto político da vida social e privilegiam o estudo da História Política brasileira e mundial. Se por um lado a questão política é bastante presente nos livros didáticos, por outro observamos a falta de outros aspectos da vida cotidiana como a História Social, por exemplo. Em uma pesquisa de 2010 para dissertação de mestrado, Florencio observou que alunos do Ensino Médio consideravam que além do aspecto político, a disciplina de História deveria abordar aspectos mais específicos da vida dos personagens históricos como por exemplo, a vida privada dos políticos brasileiros que estampam os livros didáticos. Considerando a relação entre a história pública e a história privada, os indicativos das falas dos pesquisados mostraram uma concepção depreciativa da disciplina de História justamente por dar ênfase a temática política. Os resultados da pesquisa em 2014, mostraram que os alunos associam política a corrupção e que, tal representação é decisiva para o interesse pelo assunto em História e também em relação a aquisição de uma atitude mais crítica/participativa nos processos políticos. PALAVRAS-CHAVE: ensino de história, politica, representações sociais
INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho é relacionar a disciplina e ensino de História com a
formação de juízos de valor e representações dos alunos do Ensino Médio da escola
pública sobre o tema “política”. Desde que a História adquiriu status cientifico que a
questão “política” ou as relações políticas predominam na construção do fato e do
Professora de História da Rede Pública do Estado de Roraima desde 2002; Licenciada em História 2001; Mestre em Educação 2011. E-mail: [email protected]
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conhecimento histórico, principalmente nos materiais didáticos enviados as escolas
públicas pelo Estado.
A Escola dos Annales, movimento originado em Marc Bloch e Lucien Febvre
na primeira metade do século XX e que significou uma abertura temática na
construção do conhecimento histórico, trouxe para a área da História a inserção de
temas que antes não eram abordados pelos pesquisadores pois, nessa nova
perspectiva, a Sociologia teria uma relação interdisciplinar com a História,
favorecendo aos historiadores abordarem outras histórias que não apenas a história
ligada as relações de poder na sociedade. Entretanto, por mais que os Annales
tenham modificado (em partes) a estrutura conceitual e metodológica da abordagem
historiográfica, ainda assim o que mais observamos nos materiais enviados para
escola pública hoje, na segunda década do século XXI, é a abordagem política da
História.
O fato dos livros didáticos estarem relacionados preferencialmente com a
temática “política” é justificado pelo currículo que orienta a disciplina de História e sua
prática pedagógica justamente para esse aspecto da vida social. Pacheco (1996)
observa que o currículo não só orienta como é uma prática pedagógica cheia de
intencionalidades onde estão os fundamentos da estrutura econômica, política e
social. Assim, essa tendência é explicita na lei (LDB 9.394/96) nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Básica (2010) enfatizando para a educação que formem cidadãos ativos e
participativos, cientes de seus direitos e deveres.
Nadai (2011) observa que o professor de História tem uma responsabilidade
política impregnada em suas práticas e que essas são contributos para exercício e
aprendizado da cidadania. O predomínio da História política nos livros escolhidos e
utilizados pelos alunos e professores de História na escola pública onde foi feita esta
pesquisa mostra que a disciplina de História é orientada tanto no ensino quanto na
aprendizagem a partir dessa temática. Nesse contexto, representações sobre a
disciplina são construídas e ao mesmo tempo, significados são dados aos processos
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políticos, resultando na formação de juízos de valor sobre os sujeitos da História e a
própria disciplina escolar.
Florencio (2011) observou em pesquisa com alunos do Ensino Médio que os
mesmos consideraram o tema “politica” adequado ao perfil da disciplina de História,
porém manifestaram a necessidade de que a História na escola abordasse aspectos
mais diversificados da vida dos personagens históricos tornando-os mais próximos
das pessoas comuns. Considerando a relação entre a História pública ou política e a
História privada, os indicativos das falas dos pesquisados mostraram uma concepção
um tanto depreciativa da disciplina de História uma vez que, para eles, nos livros só
existe a versão “certa” da História. Apesar das falas apresentarem reclamações sobre
a escrita dos livros didáticos de História e do próprio ensino de História devido a ênfase
no aspecto político da vida social, os alunos pesquisados consideraram que estudar
a História Política é importante para todos e necessária para se conhecer a trajetória
tanto do Brasil quanto das outras nações.
Mary Del Priore, no livro A Carne e o Sangue (2012), estabelece uma relação
entre público e privado ao mostrar que as relações pessoais da monarquia lusitana
eram totalmente atreladas a política: os casamentos entre as casas reais eram
motivados totalmente por ela. Além disso, a autora mostra que a mais famosa amante
de D. Pedro II, Domitila, usava sua influência junto ao príncipe para realizar arranjos
políticos a quem pagasse mais por isso. Tal circunstancia histórica exemplifica que
em História não há como tratar dos aspectos sociais da vida sem que a “política” esteja
presente. Mas será que os alunos da escola pública compreendem que o ser humano
é um ser político e que, na História, as relações de poder (mesmo as de âmbito
privado) também podem ser relações políticas?
Recentemente vivenciamos um processo eleitoral (2014) e a mídia, de forma
geral, foi o meio mais utilizado para se coletar informações a respeito da política
nacional, discutir ideias e propostas dos candidatos e promover campanha para o
candidato preferido por cada um. A força dos veículos de comunicação promove,
juntamente com os currículos escolares, a construção de representações sociais
sobre Estado e Política. O envolvimento da população (de forma mais intensa em
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período de eleições) com a política, intensificado pelo uso da internet, nos coloca uma
problemática: Qual a importância do tema “Politica” para os alunos do Ensino Médio?
De que forma o ensino de História interage com os conhecimentos sobre política já
adquiridos em outros grupos por esses alunos/cidadãos? Tais questionamentos são
importantes pois, como professores de História, somos responsáveis pela construção
dos saberes escolares e também pela forma como esses saberes são significados
pelos alunos. Além disso, o conhecimento da vida política não se faz apenas na escola
já que os meios de comunicação, famílias e igrejas também abordam o tema.
A interação de diversos elementos que compõem o universo da linguagem e
comunicação favorece a construção de representações sobre a temática “
política” uma vez que essas representações são meios pelos quais
interpretamos o mundo e o significamos sem que, necessariamente, essas
representações sejam construídas a partir do conhecimento cientifico. Serge
Moscovici, (2009, p. 169) autor da teoria das representações sociais, observa que que
as representações modelam comportamentos, juízos de valor e visão de mundo e que
isso tem consequências “(...) para as relações entre as pessoas, para as opções
políticas, para as atitudes com respeito a outros grupos e para a experiência do dia a
dia”.
Desse contexto, isolemos “opções políticas” para relacionar com a pesquisa
que aqui é discutida e observemos que as opiniões dos alunos sobre política e
políticos é fortemente influenciada pelas interações sociais externas aos muros da
escola. Moscovici (idem, p. 175) observa que “(...) quase tudo o que uma pessoa sabe,
ela o aprendeu de outra, seja através de suas narrativas, ou através da linguagem que
é adquirida, ou dos objetos que são empregados”. Assim, podemos inferir que, se o
aluno sofre influência decisiva do mundo externo à escola (lugar de difusão do
conhecimento cientifico por excelência), a disciplina de História passa a ter papel
fundamental tanto para cientificar o conceito “política” quanto para reflexão mais
aprofundada das relações de poder que interferem diretamente na vida de todos e
que, também constroem representações sobre os assuntos estudados como a História
do Brasil, por exemplo.
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Sabemos que existem mecanismos que tentam “medir” a aprendizagem, porém
tal é subjetiva e complexa (TARDIFF, 2002). No contexto da disciplina de História, as
significações dos conteúdos estudados são subjetivas pois não propomos aos alunos
que “decorem” os fatos históricos ou que “aprendam política” (HIPOLITO, 2005).
Consideramos o aprendizado em História como de longo prazo com as
representações e conhecimentos construídos coletivamente de acordo com o tempo
de escolarização, as práticas pedagógicas e o currículo organizado pelo Estado.
Desse modo, as relações de poder diretamente ligadas ao aspecto político da vida
social fazem parte do cotidiano da disciplina de História mesmo que essa não aborde
apenas fatos relacionados a construção de nações ou povos.
Neste trabalho, procuramos mostrar alguns dados sobre as relações entre
Política e História a partir da percepção de alunos do 2º e 3º ano do Ensino Médio de
uma escola pública da cidade de Boa Vista, Roraima. Para a coleta de dados desta
pesquisa, optamos pelo questionário com 06 perguntas abertas a respeito do estudo
da História, do interesse dos pesquisados pelo tema Política de modo geral e sobre a
relação entre a disciplina de História e Política no ensino e aprendizagem da disciplina.
As questões foram distribuídas a 100 alunos, entre 16 e 19 anos sendo 55 do sexo
feminino e 45 do sexo masculino. A técnica para análise dos dados é a da Análise do
Discurso onde as respostas dos pesquisados são analisadas a partir dos enunciados
presentes nas questões e dos argumentos que os mesmos estabelecem para justificar
suas respostas.
OBJETIVO
A abordagem do tema deste trabalho relacionando a temática política no ensino
de história de uma escola pública em Boa Vista, RR, teve como objetivo geral analisar
as representações dos alunos do Ensino Médio (3º ano) sobre o conceito de “politica”
e como os alunos veem a inserção dessa prática social relacionada ao ensino de
história.
RESULTADOS
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Segundo Schmidt & Cainelli (2010), ao se trabalhar com a construção de
conceitos no ensino de História, devemos nos preocupar com o conhecimento prévio
do aluno e com suas representações a respeito do que acontece em seu contexto.
Assim, aquilo que ele traz como conhecimento sobre temas cotidianos e que são
representações construídas a partir das interações sociais seja no mundo real ou no
mundo virtual, também colaboram para que tenham concepções a respeito do que lhe
é ensinado na escola.
Ao tratar dos dados, observamos que a primeira pergunta relacionada a gostar
ou não de política, foi respondida pelos 100 alunos que participaram da pesquisa da
seguinte forma: 48 disseram não se interessar por política sendo esses 35 do sexo
feminino e 13 do sexo masculino: “a maioria das pessoas envolvidas com a política
são corruptas”. Uma aluna, 17, 3º ano diz: “(...)não me atrai; rolam muitas mentiras,
falsidades, fuxicos, roubos aos cofres públicos que acabam descontados nos
impostos”. O maior motivo citado nas falas que justificam o não interesse pela Política
está na corrupção, como mostram essas duas falas e mais 28 citações sobre a relação
entre a política e corrupção.
Aos olhos dos alunos pesquisados, a corrupção é elemento indissociável da
vida política. Ambas formam um elo, difícil de se romper e os indivíduos que participam
do processo político, no entender desses alunos, só querem “(...)se dar bem e desviar
dinheiro público” como mencionou um outro aluno, 18, sexo masculino, 3ºano. Outro
aluno, 17, 3º ano destaca que a política “(...) não tem políticos honestos; só tem
corrupto que não faz os deveres do cargo que ocupa”. Percebemos nessas falas, que
a corrupção afasta um número significativo de indivíduos jovens os quais desde muito
cedo perdem a confiança e o interesse pela vida pública: “(...)na minha opinião, a
política vai ser sempre a mesma. Sempre vai haver corrupção”, aluna, 17, 3º ano. “(...)
em época de eleições, os políticos aparecem e é só nessa época que mostram amor
pelo povo... eu odeio esses meios de conseguirem votos”; “(...) nos obrigam a votar,
mas não há um candidato que preste e por isso voto em qualquer um”. Ao analisarmos
esses discursos sobre corrupção na política podemos inferir que, o noticiário a
respeito dos políticos corruptos tem grande influência na opinião e juízo de valor
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desses alunos mostrando que, conforme observa Moscovici (2009, p.37), “Enquanto
essas representações, que são partilhadas por tantos, penetram e influenciam a
mente de cada um, elas são repensadas, recitadas e reapresentadas”. Ou seja, a
visão de que “político/política não tem valor” é compartilhada por um contingente
grande de alunos não se restringindo a uma fala de forma isolada.
Os discursos acima nos fazem perceber que as representações sobre política
orientadas a partir da “corrupção” redundam em atitudes que vinculadas a
desconfiança, mostram que os pesquisados sentem uma certa impotência em agir
para mudar o status quo político e que são indiferentes quanto ao voto. Observamos
aqui que as atitudes dos políticos relacionadas a práticas ilegais e imorais em relação
a coisa pública e constantemente sendo objeto do noticiário nacional e local ancoram
as representações sobre política desses alunos. Nesse sentido temos que fazer uma
reflexão: Essas representações podem influenciar no distanciamento dos alunos em
relação a disciplina de História? Até que ponto o fato do estudo da história na escola
pública trazer como ponto principal a temática política, favorece o desinteresse dos
alunos em relação a história?
Em relação as reflexões acima, podemos dizer que sim, cada aluno tem
interesses e percepções dos objetos que influenciam no gostar ou não gostar de
alguma coisa, em especial das disciplinas escolares. No entanto, para Schmidt e
Cainelli (2010, p. 84) “com base nas representações dos alunos, o trabalho com a
construção de conceitos constitui-se num processo de elaboração de uma grade de
conhecimentos necessários à compreensão mais orgânica da realidade social”.
Assim, entendemos que o fato de os alunos não se sentirem atraídos pela temática
política pode ser o ponto de partida para que, através do ensino da história, conheçam
melhor o conceito e façam a separação entre “atitude dos políticos” e “política”. A
disciplina de História, nesse caso, faria a diferença e contribuiria significativamente
para atingir o objetivo de formação cidadã para os alunos da escola básica.
Para 52 alunos pesquisados, a política é algo que interessa sim e que está
ligada à nossa vivencia cotidiana pois “(...) através dela que temos alguém para nos
representar, para mudar o que está prejudicando a sociedade”. Duas alunas, 17 e 18
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anos do 3º ano, manifestaram-se: “Questões políticas são sempre interessantes, pois
tem relação com interesses da sociedade”; “(...) politica, no meu entender, é essencial
para o desenvolvimento de uma sociedade tanto para o bem quanto para o mal”.
Outro aluno, 17, 3º ano diz “Na sociedade atual a pessoa que não tem uma base
política se torna ignorante”. Para esses pesquisados, a política é importante pois faz
parte da sobrevivência social, daquilo que mexe com a vida das pessoas.
A relação entre a temática política e disciplina de História foi abordada pelos
alunos da seguinte forma: “a matéria explica sobre as guerras e História dos países;
a política sempre faz parte e é muito influente nos temas abordados”. Uma aluna, 17,
3º ano diz que “É História, temos que estudar nossos antepassados, a política faz
parte da nossa vida e a História explica com mais clareza a política de hoje em dia”.
Esses dois alunos mostram que compreendem a inserção da temática política na
disciplina de História considerando a necessidade e importância da existência das
relações de poder nos acontecimentos históricos. Schmidt (2013, p. 60) observa que
“Na prática da sala de aula, a problemática acerca de um objeto de estudo pode ser
construída a partir de questões colocadas pelos historiadores ou das que fazem parte
das representações dos alunos (...)” Assim, conforme observa a autora, os alunos
acima percebem a referência conceitual “política” nos fatos históricos (construídos
pelos historiadores) e em suas existências cotidianas. Tal concepção permite observar
uma conexão do presente-passado no aprendizado oportunizando aqui a construção
da consciência histórica.
Mesmo para aqueles que não gostam de falar sobre política, a disciplina de
História é um importante meio de se conhecer as relações de poder existentes na
sociedade conforme observou um aluno: “através desses aspectos podemos saber e
entender as mudanças que ocorreram na política e diferenciar a política de antes com
a de hoje”. Um aluno de 17 anos, do 3º ano menciona que a disciplina de História
“amplia a visão política pois envolve acontecimentos que até hoje existem e isso é
bom para os alunos: fugir da alienação política que os meios de comunicação
oferecem”. Esse aluno compara os saberes construídos sobre política na disciplina
com a política que a televisão e os jornais oferecem no noticiário: para ele, a História
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funciona como um meio aprofundado de conhecimento sobre a vida política,
favorecendo a criticidade das pessoas. O discurso desse aluno é diferente dos demais
por caracterizar e diferenciar o conhecimento cientifico que a disciplina de História
oferece daquele produzido pelos meios de comunicação. Nesse sentido, ele considera
“confiar” mais nos conteúdos escolares do que nos conteúdos televisivos.
Dos 100 alunos pesquisados, 62 não conseguiram esclarecer se entendem as
relações de poder inseridas no conteúdo da disciplina dando respostas como essa: “a
História deveria favorecer, ser útil na discussão de política pois iriamos entender a
política, saber como é que funciona, pois o que eu vejo em sala de aula não é muito
ligado a isso. ” Ao falar que a “História deveria favorecer (...) a política” esse aluno
mostra que não faz relação entre a disciplina e o caráter político que a mesma assume
na sala de aula. Para ele, a História é um apanhado de fatos sem relações de poder
que os justifiquem. Um aluno, ao responder sobre o favorecimento dos aspectos
políticos da História da humanidade na disciplina de História relata: “(...) uma
professora já colocou política para nós estudarmos e não deu certo; o assunto é muito
chato.” Em sua fala, esse pesquisado mostra que não compreende o estudo da
História na escola como algo que aborde as relações de poder: pode ser que, para
ele, as revoluções, guerras e outros fatos decisivos para a sociedade não se
constituem como algo “político”. Essa diferença que ele faz da política e da História
fica clara quando diz que: “(...) política se torna desinteressante a partir do momento
em que os candidatos se preocupam em só ganhar votos e fazer promessas que não
vão cumprir.” Para ele, política é só em tempo de eleição. Em outro ponto, ele diz:
“Acredito que a História já é uma disciplina completa; não precisa de mais temas; não
precisa de nada”. Essa resposta não mostra se esse aluno entende o sentido de
estudar História; ao dizer que a disciplina não precisa de temas, ele mostra que o
estudo da História para ele está desconectado da realidade: ele não associa os fatos
passados com os acontecimentos presentes. Uma percepção diferente dessa é
manifestada por outro pesquisado quando diz que: (...) a partir dos Gregos, a
sociedade passou a escolher representantes ou líderes que governaram; a História é
fundamental para compreendermos a evolução política da sociedade”. Esse aluno
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mostra em sua fala que percebe a História como política e que, estuda-la é importante
para compreensão das relações de poder estabelecidas ao longo dos tempos. Para
uma aluna, 17, 3º ano, é essencial que a disciplina de História favoreça o estudo
político pois “nos mostra como a política de antigamente não valorizava a participação
das mulheres já que a mulher não tinha direito ao voto; esse conhecimento faz com
que comparemos com os direitos das mulheres atualmente e vejamos a mudança que
houve”. Aqui nessa fala, não apenas sobressai a importância do conceito de política
atrelado ao estudo da história, como a aluna mostra a importância, para ela, da
abordagem da história das mulheres e a conquista de direitos antes restritos aos
homens. Nessa dimensão, o ensino de história adquire significado identitário e
formador da consciência política conforme observa Bittencourt (2004, p. 186) “O
objetivo da História escolar tem sido o de entender as organizações das sociedades
em seus processos de mudanças e permanências ao longo do tempo e, nesse
processo, emerge o homem político(...)”. Sem querer alterar o gênero original do
discurso, podemos dizer que “emerge a mulher política” ou seja, o ensino de história
colabora para a formação da consciência política do sujeito tanto no aspecto individual
quanto coletivo.
Observamos que entre os pesquisados do sexo feminino, 39 disseram que a
política não interessa. Já entre os do sexo masculino, apenas 13 não se interessam
pelo tema. Acreditamos que esses dados mostram aquilo que na prática se cristaliza
no Brasil: uma participação massiva dos homens nos partidos e decisões políticas
nacionais contra uma pequena participação feminina, mesmo com leis que tentam
reverter esse quadro. Essa diferenciação de opiniões a respeito de política organizada
por gênero é algo importante a ser observado em nosso país num momento em que,
politicamente, as mulheres requerem tratamento e representação política em pé de
igualdade com os homens. Tal contexto justifica trabalhos que abordem a relação
entre mulheres e política de forma mais profunda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A análise das respostas dos cem alunos pesquisados pertencentes ao Ensino
Médio de escola pública revelou que o estudo da História na escola favorece o
conhecimento das relações de poder na formação da nação brasileira mas ao mesmo
tempo contribui para construir representações como a de a corrupção faz parte dessa
formação como também da prática política que está ligada a formação do Estado
nacional. Podemos inferir que essa percepção ou representação interfere na atitude
que esses alunos manifestam em relação ao Estado e seus dirigentes ou
representantes: uma indiferença quanto ao voto ou em quem se vota. Por outro lado,
os alunos consideram importante o estudo da História política e, de forma implícita
nos discursos, colocam na disciplina a responsabilidade pelo aprofundamento das
questões que envolvem a construção da política nacional em contraposição ao que é
veiculado pelos meios de comunicação.
Fidelis (2011), ao tratar da relação entre história política e ensino de história,
observa que tradicionalmente a disciplina de história trabalha com o aspecto político
da vida social e, tal questão ainda é referendada pela legislação que prevê que a
educação escolar forme cidadãos aptos a participação política no país. No entanto, o
autor observa que existe um conflito entre política e história que permeia a produção
historiográfica pois,
A representação de que o conhecimento histórico presente nos livros didáticos
escolares detêm “verdade” foi manifestado na pesquisa de Florencio (2011) com um
grupo de alunos do ensino médio: nesse caso houve uma comparação com o
conhecimento histórico veiculado pelas minisséries televisivas. Assim, ao
manifestarem a importância da disciplina de História na construção de saberes sobre
a política nacional, os alunos novamente invocam uma certa confiabilidade nos
conteúdos estudados pela disciplina em comparação com os dos meios de
comunicação, especialmente a televisão e internet. Segundo Fonseca (2003), os livros
didáticos são fundamentais na construção de discursos e visões de mundo
relacionados a construção da identidade nacional e, obviamente, do aspecto político
dessa construção.
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Considerando que atualmente não apenas os livros didáticos estão presentes
na sala de aula, mas também outros modelos de tecnologia, várias fontes de consulta
podem ser utilizadas para compor o ensino e aprendizagem dos temas da História,
porém, é no conteúdo e na forma como ele será abordado juntamente com os saberes
já construídos pelos agentes escolares que esse aprendizado vai adquirir significado
e relevância para a vida além dos muros da escola. Segundo Fronza e Ribeiro (2014,
p. 307) “O ponto de partida do ensino deve estar sustentado nas carências de
orientação contemporânea dos jovens, que devem ser compreendidas tomando como
recurso as experiências do passado”. Tal indicativo nos leva a refletir sobre a
necessidade de, através do ensino de história, discutir a importância da ação política
na vida dos indivíduos e sociedades através dos tempos mostrando que, em uma
democracia, a participação e interesse pelos processos políticos fortalece o coletivo e
força os agentes públicos a mudarem suas práticas em relação ao que faz parte do
poder público.
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