Reportagem da fr 1

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Araçatuba Talita Rustichelli [email protected] P arece que Dionísio (ou Ba- co) deu uma pausa nas be- bedeiras e festanças, para começar a ouvir as preces da clas- se artística e do público araçatuben- ses. Após quase duas décadas com suas atividades suspensas, o teatro Castro Alves (anexo à Casa da Cul- tura Adelino Brandão, no Centro da cidade) finalmente reabrirá suas portas para a sua finalidade real. O espaço, que já passou de palco de renomados artistas da mú- sica e das artes cênicas a "depósito de poeira" entre uma administra- ção e outra, será utilizado para apresentações do Festara (Festival de Teatro de Araçatuba), que acon- tece de 14 a 23 de outubro. Dez dos 26 espetáculos da programação do festival serão reali- zados no local. Mas não se trata de uma inauguração oficial. De acordo com o secretário de cultura do mu- nicípio, Hélio Consolaro, será uma "ocupação", já que as obras ainda não estarão completamente finaliza- das na data de início do Festara. A reinauguração estava previs- ta para este mês mas, segundo o se- cretário, atrasos decorrentes de bu- rocracias de processos licitatórios impediram que isso acontecesse. Até a última quinta-feira, ainda es- tavam sendo instalados os equipa- mentos de som, iluminação, e falta- va concluir a raspagem e imper- meabilização do palco, instalação de aparelhos de ar-condicionado, carpete, cabine de som, entre ou- tras coisas. Consolaro afirma que todas as empresas contratadas se comprometeram a entregar toda a parte interna pronta até dia 14. "A parte de fora ficou inclusa em outra licitação. A prefeitura li- berou R$ 500 mil para as obras, sendo que o preço médio dos con- correntes da licitação era de R$ 600 mil. No pregão, abaixou para R$ 400 mil, então ficaram R$ 100 mil para a parte externa, que in- clui coisas como a troca do toldo e a instalação do letreiro com o no- me do teatro na fachada", explica. LOCAL Quanto à escolha do Castro Alves para a realização do evento, o secretário de cultura afirma que antes procuraram pelo teatro da Unip (Universidade Paulista) e pe- lo Centro de Eventos do Thathi/ COC (onde foi realizada a maior parte da programação em 2010), mas ambos estavam indisponíveis. "Conversando com o prefeito, optamos por dar andamento à revitalização do teatro, já que a pro- fundidade do palco é maior que a do Teatro Paulo Alcides Jorge, que poderia ser uma opção, mas é inade- quado para determinados espetácu- los que virão", diz. O palco do "Cas- tro Alves" mede agora 8 metros de largura por 9 de profundidade, e o do Paulo Alcides, 10 por 6 m. Ainda em relação ao Paulo Al- cides Jorge, algumas das vantagens do "novo" teatro estão relacionadas às 220 cadeiras novas e mais con- fortáveis (inclusive espaços espe- ciais para cadeirantes), ao ar-condi- cionado silencioso, e aos camarins, um pouco mais amplos. MUDANÇAS Segundo o diretor de Cultura, Alexandre Melinsky, foram preser- vados apenas o espaço interno e os formatos originais de plateia e boca de cena. "Quase tudo foi transfor- mado. O palco foi ampliado e foi construída a caixa cênica para urdi- mento; dois camarins com banhei- ros foram feitos nas laterais; uma ca- bine técnica foi construída na pare- de do fundo, onde existia o painel do Franco da Sermide, que foi con- denado pelo tempo e sem condi- ções de restauração", diz. Também o forro, o telhado, a parte elétrica e a hidráulica foram refeitos, a fim de separá-los da estru- tura da Casa da Cultura, pois "era tudo interligado e velho", como afir- ma Melinsky. "Além disso, os equi- pamentos de som e luz são moder- nos; as mesas, por exemplo, são di- gitalizadas e programáveis. Todos de última geração", complementa. REABERTURA A data da reabertura oficial do espaço, o secretário preferiu não pre- ver. "Gostaríamos que fosse no ani- versário da cidade, mas corre-se o risco de o novo processo licitatório interferir novamente na data. Te- mos de esperar", diz. Ele afirma que a cerimônia deverá incluir apresen- tações especiais e homenagens a pessoas importantes para a história do teatro, como Franco Baruselli, responsável pela construção e admi- nistração inicial do teatro. HISTÓRIA Uma discussão que já foi le- vantada, de acordo com Consola- ro, é o gasto total com as obras. "A soma do que foi gasto nas adminis- trações anteriores e os gastos atuais com as reformas poderia ser direcionado à construção de um novo teatro, em outro lugar, e maior. Mas no Castro Alves existe uma questão histórica; muita gen- te que participou da vida cultural da cidade entre as décadas de 60 e 70 (auge do teatro) cobrava pela reabertura. Decidimos preservá-lo". Em 2009, quando a admi- nistração municipal atual assu- miu a prefeitura, não havia ne- nhum tipo de equipamento, apenas a alvenaria estava pron- ta. Segundo Consolaro, em 2010, a parte elétrica do teatro recebeu reparos. O transforma- dor, que não existia no local, foi instalado. Mas o projeto de revitalização do espaço foi inicia- do em 2000, segundo o diretor de cultura Alexandre Melinsky, pela diretoria da Fetara (Federa- ção de Teatro Amador da Região de Araçatuba). Eles foram res- ponsáveis por solicitar à arquite- ta Rosa Emília Marques Pavan a elaboração de um projeto arquitetônico, conforme Me- linsky. No início de 2001 o pro- jeto foi entregue à prefeitura, que realizou duas reformas que, segundo Melinsky, consumiram mais de R$ 300 mil, sem finali- zar o prédio. DEPÓSITO De acordo com informa- ções publicadas em matéria do jornal Folha da Região em 1999, naquele ano o teatro foi ocupado por enfeites de Natal, pedaços de madeira, caixas de papelão e vasos sanitários retira- dos do Centro Cultural Ferroviá- rio. O local foi desvirtuado de suas funções a partir de 1990, após a saída do colégio Anglo, que funcionou no espaço do In- tec a partir de 1982 e realizou ali espetáculos e ciclos de pales- tras. A instalação da Casa de Cultura, em dezembro de 1991, não foi estímulo para revitalizações e o espaço conti- nuou abandonado. Em junho daquele ano, a Fetara chegou a solicitar a con- cessão da administração do tea- tro, em comodato, por 10 anos, oferecendo-se para refor- mar o prédio com recursos da iniciativa privada e lei de incen- tivo à cultura. A prefeitura não concordou.TR TEATRO Local chegou a abrigar pedaços de madeira e vasos sanitários retirados do Centro Cultural Ferroviário Castro Alves reabre suas portas Palmas & Palmadas Embora as obras do espaço ainda não estejam concluídas, o velho Castro Alves será reaberto para o Festara, que acontece de 14 a 23 de outubro; dos 26 espetáculos do festival, 10 serão realizados no teatro Fotos: Valdivo Pereira/Folha da Região - 29/09/2011 IDEALIZADOR O italiano Franco Baru- selli, 81 anos, foi o responsável pela cons- trução e administração inicial do teatro A coluna Palmas & Palma- das conta a história de Ge- raldo Monteiro dos San- tos, um artista que passou 25 anos de sua vida em- baixo de uma lona de cir- co. Hoje, aos 88 anos, ain- da toca em seu violão anti- gas serestas.C4 Após duas décadas, Espaço terá equipamentos de alta tecnologia C1 Araçatuba, domingo, 2 de outubro de 2011

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Araçatuba

Talita Rustichelli

[email protected]

Parece que Dionísio (ou Ba-co) deu uma pausa nas be-bedeiras e festanças, para

começar a ouvir as preces da clas-se artística e do público araçatuben-ses. Após quase duas décadas comsuas atividades suspensas, o teatroCastro Alves (anexo à Casa da Cul-tura Adelino Brandão, no Centroda cidade) finalmente reabrirá suasportas para a sua finalidade real.

O espaço, que já passou depalco de renomados artistas da mú-sica e das artes cênicas a "depósitode poeira" entre uma administra-ção e outra, será utilizado paraapresentações do Festara (Festivalde Teatro de Araçatuba), que acon-tece de 14 a 23 de outubro.

Dez dos 26 espetáculos daprogramação do festival serão reali-zados no local. Mas não se trata deuma inauguração oficial. De acordocom o secretário de cultura do mu-nicípio, Hélio Consolaro, será uma"ocupação", já que as obras aindanão estarão completamente finaliza-das na data de início do Festara.

A reinauguração estava previs-ta para este mês mas, segundo o se-cretário, atrasos decorrentes de bu-rocracias de processos licitatóriosimpediram que isso acontecesse.Até a última quinta-feira, ainda es-tavam sendo instalados os equipa-mentos de som, iluminação, e falta-va concluir a raspagem e imper-meabilização do palco, instalaçãode aparelhos de ar-condicionado,carpete, cabine de som, entre ou-tras coisas. Consolaro afirma quetodas as empresas contratadas secomprometeram a entregar toda aparte interna pronta até dia 14.

"A parte de fora ficou inclusaem outra licitação. A prefeitura li-berou R$ 500 mil para as obras,sendo que o preço médio dos con-correntes da licitação era de R$600 mil. No pregão, abaixou paraR$ 400 mil, então ficaram R$ 100mil para a parte externa, que in-clui coisas como a troca do toldo ea instalação do letreiro com o no-me do teatro na fachada", explica.

LOCALQuanto à escolha do Castro

Alves para a realização do evento,o secretário de cultura afirma queantes procuraram pelo teatro daUnip (Universidade Paulista) e pe-lo Centro de Eventos do Thathi/COC (onde foi realizada a maiorparte da programação em 2010),mas ambos estavam indisponíveis.

"Conversando com o prefeito,optamos por dar andamento àrevitalização do teatro, já que a pro-

fundidade do palco é maior que ado Teatro Paulo Alcides Jorge, quepoderia ser uma opção, mas é inade-quado para determinados espetácu-los que virão", diz. O palco do "Cas-tro Alves" mede agora 8 metros delargura por 9 de profundidade, e odo Paulo Alcides, 10 por 6 m.

Ainda em relação ao Paulo Al-cides Jorge, algumas das vantagensdo "novo" teatro estão relacionadasàs 220 cadeiras novas e mais con-fortáveis (inclusive espaços espe-ciais para cadeirantes), ao ar-condi-cionado silencioso, e aos camarins,um pouco mais amplos.

MUDANÇASSegundo o diretor de Cultura,

Alexandre Melinsky, foram preser-vados apenas o espaço interno e osformatos originais de plateia e bocade cena. "Quase tudo foi transfor-mado. O palco foi ampliado e foiconstruída a caixa cênica para urdi-mento; dois camarins com banhei-ros foram feitos nas laterais; uma ca-bine técnica foi construída na pare-de do fundo, onde existia o paineldo Franco da Sermide, que foi con-denado pelo tempo e sem condi-ções de restauração", diz.

Também o forro, o telhado, aparte elétrica e a hidráulica foramrefeitos, a fim de separá-los da estru-tura da Casa da Cultura, pois "eratudo interligado e velho", como afir-ma Melinsky. "Além disso, os equi-pamentos de som e luz são moder-nos; as mesas, por exemplo, são di-gitalizadas e programáveis. Todosde última geração", complementa.

REABERTURAA data da reabertura oficial do

espaço, o secretário preferiu não pre-ver. "Gostaríamos que fosse no ani-versário da cidade, mas corre-se orisco de o novo processo licitatóriointerferir novamente na data. Te-mos de esperar", diz. Ele afirma quea cerimônia deverá incluir apresen-tações especiais e homenagens apessoas importantes para a históriado teatro, como Franco Baruselli,responsável pela construção e admi-nistração inicial do teatro.

HISTÓRIAUma discussão que já foi le-

vantada, de acordo com Consola-ro, é o gasto total com as obras. "Asoma do que foi gasto nas adminis-trações anteriores e os gastosatuais com as reformas poderia serdirecionado à construção de umnovo teatro, em outro lugar, emaior. Mas no Castro Alves existeuma questão histórica; muita gen-te que participou da vida culturalda cidade entre as décadas de 60 e70 (auge do teatro) cobrava pelareabertura. Decidimos preservá-lo".

Em 2009, quando a admi-nistração municipal atual assu-miu a prefeitura, não havia ne-nhum tipo de equipamento,apenas a alvenaria estava pron-ta. Segundo Consolaro, em2010, a parte elétrica do teatrorecebeu reparos. O transforma-dor, que não existia no local,foi instalado.

M a s o p r o j e t o d erevitalização do espaço foi inicia-do em 2000, segundo o diretorde cultura Alexandre Melinsky,pela diretoria da Fetara (Federa-ção de Teatro Amador da Regiãode Araçatuba). Eles foram res-

ponsáveis por solicitar à arquite-ta Rosa Emília Marques Pavan aelaboração de um projetoarquitetônico, conforme Me-linsky. No início de 2001 o pro-jeto foi entregue à prefeitura,que realizou duas reformas que,segundo Melinsky, consumirammais de R$ 300 mil, sem finali-zar o prédio.

DEPÓSITODe acordo com informa-

ções publicadas em matéria dojornal Folha da Região em1999, naquele ano o teatro foiocupado por enfeites de Natal,

pedaços de madeira, caixas depapelão e vasos sanitários retira-dos do Centro Cultural Ferroviá-rio. O local foi desvirtuado desuas funções a partir de 1990,após a saída do colégio Anglo,

que funcionou no espaço do In-tec a partir de 1982 e realizouali espetáculos e ciclos de pales-tras. A instalação da Casa deCultura, em dezembro de1991, não foi estímulo pararevitalizações e o espaço conti-nuou abandonado.

Em junho daquele ano, aFetara chegou a solicitar a con-cessão da administração do tea-tro, em comodato, por 10anos, oferecendo-se para refor-mar o prédio com recursos dainiciativa privada e lei de incen-tivo à cultura. A prefeitura nãoconcordou.TR

TEATRO

Local chegou a

abrigarpedaços de madeira e

vasos sanitáriosretirados do CentroCultural Ferroviário

Castro Alves reabre suas portas

Palmas & Palmadas

Embora as obras do espaço ainda não estejam concluídas, o velho Castro Alvesserá reaberto para o Festara, que acontece de 14 a 23 de outubro; dos 26 espetáculos

do festival, 10 serão realizados no teatro

Fotos: Valdivo Pereira/Folha da Região - 29/09/2011

IDEALIZADORO italiano Franco Baru-

selli, 81 anos, foi oresponsável pela cons-trução e administração

inicial do teatro

A coluna Palmas & Palma-das conta a história de Ge-raldo Monteiro dos San-tos, um artista que passou25 anos de sua vida em-baixo de uma lona de cir-co. Hoje, aos 88 anos, ain-da toca em seu violão anti-gas serestas.C4

Após duas décadas,

Espaço terá equipamentos de alta tecnologia

C1 Araçatuba, domingo, 2 de outubro de 2011