Renaturalização de Rios em Ambientes Urbanos

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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária PHD2537 Água em Ambientes Urbanos – Renaturalização de Rios em Ambientes Urbanos Professores Kamel Zahed Filho José Rodolfo Scarati Martins Monica Ferreira do Amaral Porto Rubem La Laina Porto Alunos Daniel Alarcon Douglas Kim Ito Frederico Abdo Vilhena Guilherme Palfi 16/11/2009 Av. Prof. Almeida Prado, 83, trav. 2 – Cidade Universitária – CEP 05508-900 – São Paulo/SP – BRASIL

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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária

PHD2537

Água em Ambientes Urbanos – Renaturalização de Rios em Ambientes

Urbanos

Professores

Kamel Zahed Filho 

José Rodolfo Scarati Martins 

Monica Ferreira do Amaral Porto 

Rubem La Laina Porto 

Alunos

Daniel Alarcon Douglas Kim Ito

Frederico Abdo Vilhena Guilherme Palfi

16/11/2009

Av. Prof. Almeida Prado, 83, trav. 2 – Cidade Universitária – CEP 05508-900 – São Paulo/SP – BRASIL

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Renaturalização de rios em ambientes urbanos 

Introdução 

A partir da Revolução Industrial ocorrida no século XVIII, as cidades do mundo  inteiro 

passaram  por  um  intenso  processo  de  urbanização,  provocando  um  crescimento 

desorganizado e predatório. A ocupação de áreas de várzea de rios, o desmatamento e 

a impermeabilização do solo são alguns dos resultados deste processo. 

A preocupação com os impactos no meio ambiente e no meio antrópico é recente. Até 

pouco tempo não se pensavam nas consequências desta interação entre o homem e a 

natureza. Em especial, no caso dos rios urbanos, estes foram planejados como meros 

canais desconsiderando‐se os aspectos físicos e ambientais envolvidos.  

Atualmente, com o conceito de desenvolvimento sustentável como  foco de qualquer 

interação com a natureza, a  sociedade vem  se conscientizando de que a água é um 

bem finito e sensível às ações antrópicas.  

Tendências até o momento  

Durante muito  tempo, os projetos de engenharia visavam  retificar o  leito dos  rios e 

córregos, de forma a aumentar a velocidade de escoamento e direcionar a vazão para 

jusante, a fim de se obter novas terras para a urbanização e diminuir os efeitos locais 

de cheias.  

Com  a  realização  de  obras  hidráulicas,  o  perfil  do  rio  é  diminuído  e  o  seu  leito 

aprofundado.  O  aumento  da  capacidade  de  vazão  reduz  a  freqüência  de 

transbordamento das cheias médias, porém permanecem as grandes enchentes.  

De modo geral, as obras planejadas até o final do século XIX não consideravam estudos 

de impactos ambientais e no meio antrópico. 

Nova abordagem 

A conscientização sobre os danos causados à natureza, frutos das  interações entre as 

atividades  antrópicas  e  o  meio  ambiente  permite  que  sejam  consideradas  novas 

estratégias  dirigidas  à  renaturalização  de  rios  e  córregos,  ou  seja,  o  retorno  das 

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condições  iniciais/naturais dos cursos hídricos. Evidentemente esta concepção possui 

limites  quando  se  trata  de  manter  a  proteção  das  zonas  urbanas  e  das  vias  de 

transporte. 

Segundo  Luiz  Tadeu Medeiros  “A  solução  para  os  rios  urbanos,  normalmente,  é  a 

renaturalização deles, ou seja, fazer com que a biodiversidade passe a acontecer com 

as matas ciliares, haja um desassoreamento dos rios e haja uma política de ocupação 

das  margens  mais  consentânea  com  a  natureza,  ou  seja,  que  o  rio  tenha  uma 

possibilidade  de  águas melhores,  águas  boas.  Isso  pela  existência  de  esgotamento 

sanitário e a retirada da pressão de populações nas áreas ribeirinhas”. 

É  nesse  contexto  que  aparecem  estratégias  dirigidas  à  renaturalização  de  rios  e 

córregos. O consultor alemão Walter Binder, do Departamento Estadual de Recursos 

Hídricos  da  Baviera,  apresenta  essas  possibilidades  em  seu  estudo:  “O  desafio  é 

recuperar os cursos d'água que sofreram modificações profundas sem colocar em risco 

as zonas urbanas e vias de transporte, e sem causar desvantagem para a população. 

Para  isso, os engenheiros envolvidos devem elaborar um plano que  leve em conta as 

particularidades  de  cada  caso,  e  que  se  articule  aos  demais  planos  territoriais  e 

programas  regionais”.  Os  planos  de  renaturalização  de  rios  podem  ainda  ser 

implantados,  considerando‐se  os  planejamentos  de  urbanização  e  paisagismo,  os 

programas de proteção do ecossistema e o plano diretor de agricultura existente. 

Medidas gerais necessárias para uma revitalização são tais como: buscar a morfologia 

mais  natural  dos  rios,  restabelecer  a  continuidade  dos  cursos  d'água  para  fauna 

migratória,  arborizar  e/ou  estabelecer  a  vegetação  espontânea  marginal  dentre 

outras. 

Como  resultado da  cooperação mútua de  gestores urbanos, engenheiros,  sociedade 

civil  e  ambientalistas,  muitas  vezes  chegam‐se  a  soluções  como  a  valorização 

ecológica. 

Os aspectos a serem considerados nesta ação multidisciplinar são: 

• Facilidade de acesso à água 

• Ampliação/retificação do leito do rio  

• Recuperação do curso d’água original 

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Por  vezes,  o  processo  de  revitalização  dos  rios  poderá  criar  parques  municipais, 

integrando a sociedade ao meio ambiente com a criação de áreas de lazer e recreação. 

A  necessidade  de  soluções  técnicas  e  conceitos  inovadores  relacionados  à 

sustentabilidade estão contidos na tabela a seguir. 

 

Fonte: (Nascimento, Baptista e Von Sperling, 1999) 

Conceitos inovadoresHigienismo

Sistema de drenagem controlado, possibilidade de alteração na configuração da rede de drenagem 

em tempo real

Concepção e dimensionamento do sistema segundo um nível único de risco de inundação

Não analisa o sistema no contexto de eventos de tempo de retorno superiores aos de projeto

Objetivos de saúde pública e de conforto no meio urbano; preocupação com impactos da urbanização sobre meios receptores

Concepção e dimensionamento segundo diferentes níveis de risco de inundação, para 

atender a objetivos diferenciadosAvaliação da operação do sistema para eventos de 

tempo de retorno superiores aos de projeto, gestão do risco de inundação

Preocupação com a garantia de condiçõers adequadas de saúde pública e conforto no meio urbano e de redução dos impactos da urbanização 

sobre os meios receptores

Favorecimento à infiltração, ao armazenamento e ao aumento de percurso do escoamento

Valorização da presença da água na cidade, busca de menor interferência sobre o sistema natural de 

drenagem

Associação do sistema de drenagem ao sistema viário

Soluções técnicas multifuncionais: sistema de drenagem associado a áreas verdes, terrenos de 

esporte, parques lineares....

Drenagem rápida das águas pluviais, transferência para jusante

Redes subterrâneas, canalização de cursos d´água naturais

Sistema gravitacional, não controlado, configuração fixa de rede

 

 

Revitalização em meios urbanos 

 

Em áreas urbanas, a  tarefa de  recuperação dos  rios  torna‐se um pouco  complicada. 

Nestas  regiões,  frequentemente,  os  rios  possuem  inúmeros  trechos  retificados  com 

leito  e  margens  protegidas,  havendo  um  maior  comprometimento  das  relações 

biológicas. Nestes casos, as alternativas de uma revitalização ecológica são  limitadas, 

pois  o  controle  de  enchentes  e  a  necessidade  de  se  manter  os  níveis  de  água 

subterrânea são premissas de qualquer plano diretor de uma cidade. Com o intuito de 

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contornar esta  situação, a criação de parques municipais em áreas de várzea é uma 

alternativa a ser pensada. Esta vem sendo aplicada às margens do Rio Tietê na cidade 

de  São  Paulo.  Com  esta  medida,  a  prefeitura  impede  que  áreas  de  várzea  sejam 

ocupadas  indevidamente,  além  de  criar  espaços  recreativos  para  a  população.  

A grande vantagem da renaturalização de rios urbanos é a economia. Comparando‐se 

os  custos  de  implantação  destas medidas  com  os  transtornos  físicos  e  financeiros 

gerados pelas enchentes, chega‐se a esta conclusão. A abertura de canais possui custo 

reduzido  quando  comparado  às  obras  de  detenção  e  retenção,  todas  elas  para 

diminuir a incidência de enchentes em regiões urbanas. 

Porém não basta apenas planejar medidas de revitalização das margens e das matas 

ciliares sem agir no sentido de recuperar a qualidade das águas e evitando os despejos 

ilegais de esgotos não tratados. 

A despoluição e  recuperação de  rios contaminados por esgotos nos grandes centros 

urbanos no mundo é hoje um dos principais desafios para sociedades e governos em 

diferentes países, frente às graves consequências ambientais geradas pela degradação 

dos recursos hídricos do planeta. 

É importante ressaltar que estas medidas estejam inseridas no plano diretor da bacia e 

no planejamento recursos hídricos no âmbito estadual e federal. 

Atualmente,  um  dos  objetivos  de  intervenções  em  rios  na  Europa,  para  evitar  tais 

problemas, é recuperar o ecossistema típico de águas correntes, através: 

• de projetos de obras hidráulicas adaptadas à natureza; e(1) 

• da conservação e recuperação das áreas de várzea dos rios, onde for possível.(1) 

Referência(1) ‐ Projeto PLANÁGUA SEMADS / GTZ de Cooperação Técnica Brasil 

– Alemanha 

 

Linhas básicas da renaturalização de rios 

Segundo  o  Projeto  PLANÁGUA  SEMADS  /  GTZ  de  Cooperação  Técnica  Brasil  – 

Alemanha, a renaturalização tem como objetivos: 

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• recuperar os  rios e  córregos de modo a  regenerar o mais próximo possível a 

biota natural, através de manejo regular ou de programas de renaturalização; 

• preservar  as  áreas  naturais  de  inundação  e  impedir  quaisquer  usos  que 

inviabilizem tal função. 

• demonstram as possibilidades de preservar, conservar e  renaturalizar o  leito 

dos  rios,  as  zonas  marginais  e  as  baixadas  inundáveis,  com  objetivos 

ambientais, sem colocar em risco as zonas urbanas e vias de transporte, e sem 

causar  desvantagens  para  a  população  e  para  os  proprietários  das  áreas 

vizinhas. 

O planejamento da renaturalização de rios: 

Etapas 

• Diagnóstico da situação atual 

Nesta etapa são documentados o uso e ocupação do solo próximos às áreas de várzea 

do rio.  

As comparações entre a situação atual e a  ideal apontam os problemas existentes e 

permitem  uma  avaliação  da  situação  do  rio.  Um  dos  fatores  importantes  para  o 

processo de renaturalização é a definição de metas e planos diretores sobre os novos 

usos e ocupação da bacia. No caso de águas correntes deve ser considerada a dinâmica 

do  seu  ecossistema,  levando‐se  em  consideração  as  mudanças  de  morfologia  e 

biótipos. 

• Definição dos Objetivos 

Com base no diagnóstico e na avaliação das suas necessidades, consideram‐se os usos 

existentes, definindo‐se o planejamento das medidas necessárias para a  implantação 

do projeto de revitalização do rio. 

O mapeamento morfológico da bacia é extremamente  importante, pois é nesta  fase 

em  que  se  consideram  as  condições  ambientais  e  o  bioma  da  bacia.  Este 

mapeameamento é a base para o planejamento de manejo dos cursos d’água e para 

orientar a recuperação de rios conforme critérios ambientais. Todo esse aparato adota 

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como  premissa  o  desenvolvimento  sustentável  de  regiões  próximas  às  bacias 

hidrográficas. 

A  capacidade  funcional  do  rio  quando  este  não  está  poluído  e  sem  interferências 

antrópicas consiste, principalmente: 

• No  fluxo  contínuo  das  águas  e  do  material  transportado,  bem  como,  da 

mobilidade e condições naturais do fundo do leito (dinâmica do fundo)(2); 

• Na mobilidade e condições naturais das margens (dinâmica das margens) (2); 

• Nas  condições  naturais  para  inundação,  relacionada  ao  uso  adequado  das 

baixadas inundáveis (dinâmica das zonas inundáveis) (2). 

Referêcia  (2):  Projeto  PLANÁGUA  SEMADS  /  GTZ  de  Cooperação  Técnica  Brasil  – 

Alemanha 

Exemplos de renaturalização em rios no mundo. 

Segue abaixo alguns exemplos de renaturalização de rios no mundo. 

Sena 

A  recuperação  do  Sena,  o  rio  francês  que  corta  Paris,  é  um  dos  bons  exemplos  de 

ações que buscaram conciliar a  revitalização de cursos d’água com desenvolvimento 

econômico. Com extensão de 776 km, o a bacia hidrográfica do rio ocupa um quinto do 

território nacional,  abrangendo mais de 17 milhões de habitantes. Às  suas margens 

encontra‐se 40% dos empreendimentos industriais e a bacia representa 25% das terras 

férteis em  território  francês. As principais  causas da degradação  ambiental do  Sena 

eram a poluição industrial e esgotos domésticos. 

Com o processo de revitalização, que teve início em 1996, o Rio Sena, importante rota 

de  transporte  de  cargas  e  passageiros  do  continente  europeu,  hoje  proporciona 

atividades de lazer, como esportes naúticos, e atividades turísticas. O projeto prevê até 

2015  assegurar  água  limpa  e  ecossistemas  aquáticos  saudáveis.  Os  resultados  de 

melhoria da água são efetivos. Nos anos 60, apenas quatro espécies de peixes, as mais 

resistentes,  estavam  presentes  no  Sena;  hoje,  cerca  de  30  espécies  podem  ser 

encontradas.  Outro  reflexo  positivo  é  o  uso  das  margens  do  Sena,  como  praias 

artificiais por parisienses e turistas desde o verão de 2002. 

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Anacostia 

Localizado  na  capital  americana,  Washington,  o  Rio  Anacostia,  afluente  do  Rio 

Potomac, é considerado um dos rios mais poluídos dos Estados Unidos. As  fontes de 

degradação são o esgoto doméstico sem tratamento e disposição inadequada do lixo. 

O projeto de revitalização, assim como a experiência mineira desenvolvida no Rio das 

Velhas, definiu o ano de 2010 como prazo final para que se possa nadar e pescar no 

Anacostia. 

O primeiro passo foi identificar os pontos de contaminação e construir interceptores e 

estações de tratamento. Os resultados das ações já começaram a se manifestar, com o 

reaparecimento de dez espécies de peixes, em um dos afluentes. A região onde vive a 

população de renda mais baixa também abriga os distritos industriais e fica próxima ao 

Rio Anacostia. Nessa região se localiza o Kingman Park, construído pelo governo norte‐

americano por volta de 1930, para abrigar a população afro‐americana local.  

Tâmisa 

Outra  experiência  com  resultados positivos  é  a do Rio  Tâmisa,  em  Londres, que  foi 

restaurado depois de enfrentar anos de degradação. O movimento pela revitalização 

do rio começou no  final do século XIX e durou mais de cem anos. Hoje,  já é possível 

pescar em algumas partes do Tâmisa, apesar do rio ainda ser impróprio para banho. O 

rio possui 346 km de extensão, atravessando, além de Londres, as cidades de Oxford, 

Wallingfor, Reading, Henley‐on‐Thames, Marlow, Maidenhead, Eton e desaguando no 

Mar do Norte. 

Ainda no século XVII ficou conhecido como o  ‘’Grande Fedor’’ pelo forte mau cheiro, 

que  chegou  inclusive  a  suspender  as  sessões  do  Parlamento  em  1858.  A morte  do 

príncipe Alberto, marido da  rainha Vitória, por  febre  tifóide,  também marcou a vida 

dos  ingleses  e  levantou  a  preocupação  com  a  insalubridade  das  águas  do  rio.  

 

A  Thames  Water,  empresa  de  saneamento  londrina,  manteve  um  investimento 

cerrado no tratamento da água e no sistema de esgotos e o rio tornou‐se um exemplo 

de sucesso no programa de despoluição das águas. 

Isar 

A Alemanha também é referencial em revitalização de rios. Com 295 km de extensão, 

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o Rio  Isar, um dos afluentes do Rio Danúbio,  começou a  ser  revitalizado em 2000 a 

partir da demanda da população de Munique por melhor proteção contra inundações 

e por paisagens naturais para lazer e recreação. O projeto se estendeu para o restante 

da  bacia  com  o  objetivo  de  restaurar  habitats  valiosos  para  a  fauna  e  a  flora.  

A partir da Idade Média, os rios alemães começaram a ser modificados com objetivos 

de facilitar a navegação, gerar energia e ganhar terras para a agricultura. Essas obras 

se  intensificaram  com o aprimoramento de  técnicas de engenharia  fluvial no  século 

XIX.  Apesar  disso,  somente  nas  décadas  de  60  e  70  as  conseqüências  ambientais 

entraram na discussão. 

Experiência de recuperação do Rio Rhône (França) 

Em 1993, uma experiência foi desenvolvida em uma planície do Rio Rhône na França, 

onde  foi  realizado  um monitoramento  em  dois  canais  (canal  de  referência  e  canal 

restaurado) durante um período de 17 anos, que entre outras atividades, acompanhou  

o  comportamento  da  vegetação  ripária  as  margens  desses  canais;  a  descarga 

diária(vazão) e  inundações nos dois  canais; afim de observar as mudanças no  corpo 

d’água de um estado eutrofizado para um estado mesotrófico, entre outras coisas. 

Na sequência, estão descritas algumas particularidades desse estudo, principalmente 

no que se refere aos resultados no Canal Restaurado (Figura 1). 

 A  necessidade  de  recuperar  se  deu  em  função  das  alterações  ocorridas  no  fluxo 

natural  do  canal,  que  se  sucedeu  a  partir  de  1982,  com  o  início  da  construção  de 

sistema hidrelétrico que se estendeu até a conclusão de uma represa em outubro de 

1985. 

Inicialmente  foram  realizados estudos detalhados do ecossistema no ano de 1992. A 

seguir, em 1993, iniciaram as operações de recuperação, observando algumas técnicas 

como:  

(1) preservar as margens do rio e sua heterogeneidade;  

(2) dar especial atenção a preservação ou recuperação da floresta ripária;  

(3) preservar o tampão aluvial de montante (retenção de sedimentos); 

(4) não danificar as margens internas do canal, visando a recolonização. 

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Sem  desconsiderar  essa  última  recomendação,  no  processo  de  recuperação 

apresentado, foi dragada uma fina camada de sedimento orgânico do fundo do canal 

para expor os materiais mais graúdos. 

Tanto o canal recuperado como o de referência, foram divididos (o recuperado em 3 

zonas  e  o  de  referência  em  4  zonas)  através  de  represas  temporárias  para  o 

acompanhamento de seus comportamentos durante o experimento. 

No  que  se  refere  aos  resultados,  o  estudo  pode  afirmar  que  não  houve mudanças 

significativas entre 1981 e 1997, na composição da vegetação nas 4 zonas do canal de 

referência.  Porém,  no  canal  recuperado,  dentro  do  mesmo  período,  ocorreram 

mudanças marcantes em todas as 3 zonas. Com destaque para a composição bastante 

estável na zona à montante do canal a partir de 1994. Quanto ao aumento do número 

de  espécies,  pode‐se  verificar  que  enquanto  houve  redução  na  quantidade  em 

algumas  espécies  no  canal  de  referência,  ocorreu  aumento  significativo  no  canal 

recuperado,  inclusive com o surgimento de espécies que sequer eram observadas ali 

antes da recuperação. 

Um  outro  aspecto  positivo  da  recuperação  foi  a  melhora  no  desempenho  de 

indicadores e variáveis, como, a redução da espessura da camada de sedimentos finos, 

também  a  redução  das  concentrações  de  amônia  e  fosfato  na  água,  o 

desaparecimento de plantas eutróficas e o surgimento de mesotróficas, além de várias 

espécies de peixes, antes ausentes nos canais (Figura 2). 

Vale ressaltar que este estudo  foi realizado em uma porção não urbanizada do rio, a 

aplicabilidade  das  técnicas  desenvolvidas  durante  o  experimento  em  um  trecho 

urbano  é  inviável,  devido  à  demanda  de  área  necessitada  para  a  renaturalização,  e 

também,  aos  grandes  impactos  sócio‐ambientais  gerados,  como  por  exemplo,  a 

retirada  de  vias marginais.  Porém,  estas  técnicas  servem  como  referência  para  rios 

urbanos, não com o objetivo final de uma renaturalização do rio, mas como uma base 

para uma  revitalização, buscando uma melhor  integração dos meios naturais  com  a 

área urbana. 

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Figura 1 

 

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Figura 2 

 

Cheonggyecheon 

É  o  rio  que  corta  a  cidade  de  Seul  na  Coréia  do  Sul,  este  é  um  dos  exemplos  de 

revitalização de  córregos em  áreas urbanas mais  referenciados  atualmente, no qual 

foram removidas as pistas elevadas do sistema viário que cobriam o córrego. 

Histórico: a  cidade de Seul  se desenvolveu em  torno do  rio, assim  como ocorre nas 

principais  cidades  do  mundo.  Este  apresentava  23  afluentes  que  vinham  das 

montanhas próximas à região e que no verão  frequentemente causavam  inundações 

dentro da cidade. Deste modo o rio passou a ser modificado pelas ações humanas que 

visavam atenuar problemas com enchentes através de alargamento e aprofundamento 

do leito e da construção de diques de controle, além disso, era por onde todo o esgoto 

da cidade era despejado. Estas  intervenções foram adotadas como solução por todos 

os reis desde o século XIV até o início do século XX quando o país passou a ser colônia 

japonesa.  

Sob o domínio  japonês, em1925, passou‐se a cobrir os afluentes do Cheonggyecheon 

como  parte  de  um  projeto  de  transformar  os  cursos  hídricos  em  um  sistema  de 

coletores de esgoto subterrâneo. O próprio rio também  foi objeto de vários projetos 

que visavam  sua  cobertura, porém pela  falta de  recursos devido às guerras em que 

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tanto o Japão quanto a Coréia se envolveram, durante a primeira metade do século XX, 

estes projetos não foram concretizados. 

No  mesmo  período  as  margens 

do  rio  foram  ocupadas  por 

refugiados  da  guerra  coreana,  o 

que  agravou  ainda  mais  a 

situação do rio, que na década de 

50  foi  considerado  como  um 

símbolo de pobreza resultante da 

colonização e da guerra. 

Neste panorama a única solução encontrada para a retomada do desenvolvimento da 

cidade foi o encobrimento do rio. Esta se deu através do projeto de um elevado com 

5864 m de comprimento, sobre o rio, para  tráfego de veículos. As obras começaram 

em  1955  e  terminaram  em  1977.  No  entorno  à  obra  desenvolveu‐se  um  centro 

industrial  e  a  região  passou  a  ser  considerada  um  símbolo  de  modernização  e 

industrialização do pós‐guerra. 

Porém,  após  quatro  décadas  do 

cobrimento  do  rio  a  região,  que  antes, 

era  vista  com  orgulho  tornou‐se  uma 

área  industrial  e  comercial  degradada, 

além  de  ser  a  região mais  populosa  e 

barulhenta da cidade. 

A  revitalização  do  rio:  com  a  insustentabilidade  da  situação  da  região,  em  2001, 

quando Lee Myung‐bak se lançou para a candidatura à prefeitura de Seul uma das suas 

principais propostas de campanha que o elegeu foi a revitalização econômica da região 

central  da  cidade,  tendo  como  ponto  chave  a  remoção  do  elevado  sobre  o  Rio 

Cheonggyecheon  e  a  renaturalização  do mesmo,  e  assim,  tornar  a  cidade  um  dos 

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centros  de  turismo  e  de  captação  de  recursos  de  investimentos  de  companhias 

estrangeiras no nordeste da Ásia. 

Apesar  do  choque  de  interesses  econômicos  na  região  o  projeto  foi  levado  adiante 

sendo amparado pelo apoio da população  local, onde quase 80% destes apoiavam a 

proposta. 

O  desenvolvimento  tanto  do  projeto  como  da  realização  da  obra  tomou  todo  o 

período do mandato do prefeito e  as principais  características e  resultados da obra 

foram: 

‐  saneamento  e microdrenagem:  o  sistema  de  coleta  existente  na  cidade  é  do  tipo 

combinado no qual compartilham a tubulação tanto efluentes provenientes de esgoto 

doméstico  como de  águas pluviais. A  solução para  a despoluição do  rio  veio  com  a 

construção de um  interceptor paralelo ao rio que coleta o esgoto e o  leva para uma 

estação  de  tratamento  e,  posteriormente,  é  introduzido  à  jusante  do  rio.  Por  essa 

solução surgiu um problema proveniente do período de estiagem, de modo que toda 

água captada pelo sistema de microdrenagem seria conduzida para estação, e assim 

neste trecho o rio tenderia a secar o que  impossibilitaria a existência permanente de 

vida  aquática  e  lazer  à  população.  Para  impedir  esse  processo,  foi  utilizada  a  água 

bombeada do metro que era de boa qualidade, e assim o rio permaneceu perene. 

‐ qualidade da água: passou de um DBO superior a 150mg/l para 2 a 3mg/l e o fósforo 

e o nitrogênio para cerca de 1mg/l, embora altos, ainda aceitáveis. 

‐ com relação à fauna hoje existem cerca de 25 espécies de peixes. 

‐  conjuntamente  com  esta medida  outro  item  importante  foi  a  construção  de  uma 

linha de BRT (Bus Rapid Transit) que propiciou uma alternativa de transporte àqueles 

que  utilizavam  a  via  removida,  este  sistema  foi  integrado  ao  sistema  de  metro 

existente na cidade. Esta alternativa promoveu uma redução do modo de transporte 

particular  favorecendo o  transporte público  (o  transporte por  automóvel passou de 

24% para 12%).  

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Bibliografia 

BROCANELI, Pérola F., STUERMER Monica M.  ‐ RIOS E CÓRREGOS – RJ – Preservar – 

Conservar  –  Renaturalizar,  SECRETARIA  DE  ESTADO  DE  MEIO  AMBIENTE  E 

DESENVOLVIMENTO. Renaturalização de rios e córregos no município de São Paulo,  

Da Negação à Reafirmação da Natureza na Cidade: o conceito de 

CARVALHO, Pompeu  F., BRAGA Roberto.  “Renaturalização”  como  suporte à política 

urbana. 

MORETTI,  Ricardo  S.  ‐  Recuperação  de  cursos  d´água  e  terrenos  de  fundo  de  vale 

urbanos: a necessidade de uma ação integrada.  

I Seminário de Hidrologia Florestal, Zonas Ripárias – 10/2003 

http://www.labhidro.ufsc.br/Eventos/I%20SHF/ZONAS%20RIPARIAS‐versao%20final‐

revisao2.pdf#page=129