Remédio de veneno
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14 O Centro de Toxinologia
Aplicada, ligado ao Instituto Butantan, depositou
no INPI a patente do princípio ativo de um
protótipo molecular a ser usado na produção de um
fármaco com propriedades anti-hipertensivas
EDITORIAL ••• • •••••••••••••••••• • ••• 5
MEMÓRIA •••••••••••••••• • •••••••••• 6
OPINIÃO ••••••••••••••••••••• • •••••• 9
POLÍTICA CIENTÍFICA ETECNOLÓGICA .................... 10
ESTRATÉGIAS ...... .. ......•.. . .. . ..... 1 O
NOVA ARMA CONTRA A HIPERTENSÃO ARTERIAL . . .. • ..• . .. . . 14
DEMANDA EXPLOSIVA ................. 18
CONEXÃO EM ALTA VELOCIDADE ....... 20
PONTE DIGITAL .... . .. . ..... . ..... . .... 22
UMA AGENDA FEDERAL .... •. . •.. •..... 24
CIÊNCIA •• ••• • ••••••••• • ••••••••••• 26
LABORATÓRIO ........................ 26
BIG, A GRANDE CONFERÊNCIA .... . . .... 28
GESTAÇÃO ALTERNATIVA . . ...... . .. . ... 33
VEM AÍ A VACINA QUATRO EM UMA ..... 34
PROTEÇÃO PARA OS NEURÓNIOS ....... 37
OS CAMINHOS PARA SALVAR O CERRADO PAULISTA . . ... . .. . . 38
OS NOVOS FLASHES DO SOL . . ... . .. . .. 44
TECNOLOGIA ••••••••••••••• • ••• ••• 48
LINHA DE PRODUÇÃO . . . .. ...... . ..... 48
TRANSFORMAR É PRECISO . . ........... 50
SEMENTES DE AUTONOMIA . .... . .. . ... 57
OLHAR ELETRÔNICO .. . . .. . . . .. . ..... . . 60
FRANGO PESADO PELA IMAGEM ........ 62
HUMANIDADES •••••••••••••••••••• 64
BIBLIOTECA INTERATIVA, NOVA FORMA DO SABER . . ............. 64
IMAGEM FEITA DE TINTA E SANGUE ..... 67
UM CANTINHO E UM LAPTOP .. . .. . .... 70
LIVROS ••••• • •••• • ••••••• • •• • ••••• 72
LANÇAMENTOS ••• • •••• • •• • •••••••• 73
ARTE FINAL ••••• • •• •••• • •• • •• • •• • •• 74
Capa: Hélio de Almeida,
sobre foto de Miguel Boyayan
28 Conferência internacional sobre genoma reúne, em Angra dos Reis, cientistas de todo o mundo
50 Produtos retirados do lixo, como latas de alumínio, garrafas plásticas, pneus e pilhas podem ser reciclados, gerando tecnologia, empregos e benefícios sociais
64 Projeto do Programa de Melhoria do Ensino Público coloca em prática, em uma escola municipal da capital paulista, o conceito de biblioteca interativa
PESQUISA FAPESP • ABRIL DE 2001 • 3
)
Mulheres da cana
Na edição de janeiro/fevereiro da revista, a matéria sobre o projeto Mulheres da Cana: Memórias traz várias reproduções de fonte do livro Matarazzo 100 anos, mas, apesar da foto da autora do trabalho mostrar claramente o nome da nossa empresa, não há qualquer registro do mesmo na matéria. O livro, encomendado pela IRFM, como parte das comemorações dos cem anos, foi editado pela CL-A Comunicações em 1982, dentro do nosso trabalho de levantamento e edição da história empresarial brasileira, que já fizemos para várias empresas e setores. Lembramos que o F de IRFM não é de Francesco (Matarazzo ), pois a empresa se chamava Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo.
Revista
M ARIO ER ESTO HUMBERG
São Paulo, SP
Sou estudante de farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e trabalho com pesquisa no departamento de Biofísica da própria faculdade. Estava navegando na Internet, entrei na home page da FAPESP e me maravilhei com a revista Pesquisa FAPESP. Sei que posso ler os artigos via Internet, mas gostaria de saber se há meios de recebê-la em casa, fazendo a assinatura ou de alguma outra forma.
LARA PIAS
Porto Alegre, RS
Fui bolsista de doutorado da FAPESP até agosto de 2000, em projeto desenvolvido na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, e recentemente fui contratado como professor visitante na Universidade Federal do Maranhão em um programa vinculado à ANP para o desenvolvimento de pesquisa na área de petróleo. Enquanto bolsista da
4 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
CARTAS
FAPESP, gostava muito de me situar nos programas e informações atuais editados na revista da FAPESP. Portanto, gostaria de saber se é possível eu receber exemplares da revista aqui na UFMA.
A NTONIO CARLOS DA SILVA RAMOS
São Luís,MA
A equipe do Colégio Integrado Diadema esteve com a revista em mãos e devido à qualidade da revista e às abordagens mais aprofundadas dos artigos, solicitou para a coordenação a aquisição da revista, para aperfeiçoar a capacitação do professor e para possíveis atividades em sala de aula.
DAIA Y N. FAKIH/
ORIENTADORA EDUCACIONAL
Colégio Integrado Diadema Diadema, SP
Na sala de espera de um consultório médico tive acesso à revista Pesquisa FAPESP. Não a conhecia e achei uma publicação sensacional. Como posso fazer para recebê-la? Existe assinatura?
GILBERTO SILVA NUNES
São Paulo, SP
Tenho interesse em assinar o periódico Pesquisa FAPESP, da qual sou um admirador incondicional, pelo esmero da publicação.
L UIZ GONÇA LVES MENDES )R.
Campo Grande,MS
Correções
Existe algum equívoco na página 21 da revista Pesquisa FAPESP no 62. Trata-se da figura que traz a legenda "Anopheles gambiae: mais agressivo que o darlingi". Se não me engano, trata-se de flebótomo, que não tem nada a ver com o tema da matéria, subordinado ao título Consórcio contra a malária.
Ü SWALDO PAU LO FORATTI NI
Faculdade de Saúde Pública da USP São Paulo, SP
O inseto representado na foto não é um Anopheles gambiae, mas sim um Phlebotominae. Ambos são insetos da ordem Diptera, mas de famílias diferentes. Também discordo da afirmação feita sobre o parentesco próximo entre o Anopheles gambiae e o Anopheles darlingi. Parentesco implica relações filogenéticas. O Anopheles darlingi pertence ao subgênero Nyssorhynchus, que é grupo irmão do Kerteszia, ambos neotropicais. Anopheles gambiae é do subgênero Cellia.
MARIA A NICE M UREB SALLUM
Faculdade de Saúde Pública da USP São Paulo, SP
De fato, o inseto mostrado na foto publicada na edição no 62 é o Lutzomya longipalpis, transmissor da Leishmaniose. O Anopheles gambiae é o mostrado na foto abaixo.
ao• 70°
,o'
ARGENTINA
O~ km
BRASIL
~.,.
Mon!~ - Bacia do Prata • AqUífero Guarani Campo --SloCarlos Grande
A legenda do mapa da pág. 35 da revista Pesquisa FAPESP n° 62 saiu invertida: o Aqüífero Guarani é que corresponde à área azul e a Bacia do Paraná, à região delimitada pela linha azul, como indicado acima.
PESQUISA FAPESP E UMA PUBLICAÇÃO MENSAL
DA FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROF. OR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ PRESIDENTE
PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO VICE·PRESIDENTE
CONSELHO SUPERIOR ADILSON AVANSI DE ABREU ALAIN FLORENT STEMPFER
CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO
FLAVIO FAVA DE MORAES JOSE JOBSON DE ANDRADE ARRUDA MAURICIO PRATES DE CAMPOS FILHO
MOHAMED KHEDER ZEYN NILSON DIAS VIEIRA JUNIOR
PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO RICARDO RENZO BRENTANI
VAHAN AGOPYAN
CONSELHO TECNICO-ADMINISTRATIVO PROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI
DIRETOR PRESIDENTE
PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENG LER DIRETOR ADMINISTRATIVO
PROF. DR. JOSE FERNANDO PEREZ DIRETOR CIENTIFICO
EQUIPE RESPONSAVEL
CONSELHO EDITORIAL PROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDI
PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENG LER PROF. DR. JOSE FERNANDO PEREZ
EDITORA CHEFE MARILUCE MOURA
EDITORES ADJUNTOS MARIA DA GRAÇA MASCARENHAS
NELDSON MARCOLIN
EDITOR DE ARTE HELIO DE ALMEIDA
EDITORES CARLOS FIORAVANTIICIENCIA) CLAUDIA IZIQUE (POLITICA C&T)
MARCOS DE OLIVEIRA (TECNOLOGIA) MARIO LEITE FERNANDES (ENCARTES)
EDITOR-ASSISTENTE ADILSON AUGUSTO
REPÓRTER ESPECIAL MARCOS PIVffiA
ARTE JOSE ROBERTO MEDDA (DIAGRAMAÇÃO)
TÂNIA MARIA DOS SANTOS IDIAGRAMAÇAO E PRODUÇÃO GRAFICA)
COLABORADORES ANA MARIA FlORI
CLAUDIO EUGENIO CRISTINA DURAN ILANA REHAVIA
OTIO FILGUEIRAS ROBERTO TANAKA
SUZEL TUNES
FOTOLITOS GRAPHBOX-CARAN
IMPRESSÃO GRAFICA BANDEIRANTES
TIRAGEM: 24.000 EXEMPLARES
FAPESP RUA PIO XI, N' 1SOO,CEP OS468-901 ALTO DA LAPA- SÃO PAULO- SP
TEL. 10 - 11 I 3838-4000 - FAX: (O - 11 I 3838-4117
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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da FAPESP ! PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DE TEXTOS E FOTOS SEM PR!VIA AUTORIZAÇÃO
SECRETARIA DA CI~NCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONOMICO
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
EDITORIAL
Bons resultados em pouco tempo
E_,- da natureza da pesquisa cien
tífica séria o cuidado e o rigor na condução de todo o pro
cesso, desde a escolha do tema com o qual se vai trabalhar até a divulgação dos resultados. Normalmente, o caminho é longo e nem sempre é possível alcançar os objetivos propostos. Por isso, pode-se comemorar quando um programa dá frutos rapidamente, como o do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão ( Cepid), que tem menos de um ano. O Centro de Toxinologia Aplicada (CAT), do Instituto Butantan, um dos dez Cepids qualificados pela FAPESP, tem uma parceria com a indústria farmacêutica que deverá satisfazer a todos os integrantes. Liderados por Antonio Martins de Camargo, diretor do CAT, os pesquisadores isolaram um princípio ativo a partir do veneno da jararaca (Bothrops jararaca) que será utilizado na produção de um fármaco anti-hipertensivo, chamado genericamente de Evasins.
A patente do protótipo molecular foi depositada no Instituto Nacio11al de Propriedade Industrial (INPI). O mesmo deve ser feito nos Estados Unidos, União Européia e Japão. As patentes solicitadas em vários países são indispensáveis - o Captopril, anti-hipertensivo produzido pela Squibb, tem um faturamento anual estimado em US$ 5 bilhões, em todo o mundo. O Evasins só deverá estar no mercado em alguns poucos anos, mas terá a seu lado um consórcio de laboratórios que ajudará a levar o projeto adiante. A parceria com a indústria atende a um dos principais quesitos do Cepid: aproximar as atividades acadêmicas de pesquisa do mercado. Todos sairão lucrando porque o dinheiro da venda do produto será repartido entre os inventores, o Instituto Butantan, os pareei-
ros privados e a FAPESP. A editora de Política Científica e Tecnológica de Pesquisa FAPESP, Claudia Izique, conta como todo o trabalho foi feito a partir da página 14.
• Nos últimos anos, a FAPESP vem
concedendo bolsas num ritmo explosivo. O crescimento é, até certo ponto, natural porque indica quão fortes são os programas de pós-gradução do estado e o sistema paulista de pesquisa em geral. Ocorre que o desequilíbrio entre as concessões de auxílio a pesquisa e bolsas de mestrado e doutorado compromete o desenvolvimento saudável de todo o sistema. Para promover o equilíbrio nessa relação, a Fundação decidiu estabelecer um teto para o dispêndio de bolsas. Isso não significa que o enorme investimento em bolsas irá diminuir. A FAPESP apenas evitará que ele aumente para não prejudicar o financiamento do sistema. Conheça os detalhes das novas regras na página 18.
• Os números são assombrosos: o
Brasil consumiu, em 1999, 330 mil toneladas de garrafas PET (de plástico) e usa, por ano, 8 mil toneladas de zinco (matéria-prima de pilhas) e 20 milhões de pneus. Na página 50, Pesquisa FAPESP apresenta três projetos com novas tecnologias que podem servir à crescente indústria de reciclagem no país.
• Na página 64, o pesquisador Ed
mir Perrotti, da Universidade de São Paulo, ensina como tornar a biblioteca o centro e o orgulho da escola. A reportagem é indispensável para quem deseja ajudar a mudar o rumo da educação no Brasil.
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 5
O e-mail ficou balzaquiano Cheio de qualidades e com alguns poucos defeitos, o e-mail ganhou o planeta e tornou-se indispensável ferramenta de trabalho do mundo moderno. A bem da verdade, ele só começou a ser realmente usado em massa a partir de 1995, quando a Internet passou a ser vista como algo útil e fácil de ser utilizada por um grande número de pessoas.
Criador Tomlinson: "O primeiro uso do e-mail em rede anunciou sua existência"
1837
O norte-americano Samuel Morse exibe e testa o primeiro apa re lho telegráf ico com fios a uma distância de SOO met ros. Em 1840, cria um alfabeto telegráf ico e quatro anos depois envia a primei ra
6 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
mensagem à distância (64 quilômetros).
O escocês Alexander Graham Bel i, radicado nos Estados Unidos, inventa o telefone. A primeira frase dita foi para seu assistente, Tom Watson: "Watson, venha aqui, preciso de você".
Mas lá se vão 30 anos desde seu nascimento, no computador do engenheiro Ray Tomlinson, em 1971. Tomlinson trabalhava na BBN, uma empresa contratada em 1968 pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos para ajudar a construir a Arpanet, a precursora da Internet. Ele escreveu o primeiro programa de e-mail e o batizou de SNDMSG (send message, ou enviar mensagem, em inglês) e escolheu o sinal gráfico@ (arroba) para separar o nome do destinatário do lugar para onde vai a mensagem - na língua inglesa,@ significa at (em). "O símbolo era muito pouco usado e o achei perfeito para meu
programa", contou Tomlinson em numerosas
O alemão Heinrich Rudolf Hertz descobre as ondas eletromagnéticas, traba lho que permite o desenvolvimento do rádio, da televisão e do radar.
Mensagem de teste Uma seqüência de letras foi,
provavelmente, o primeiro recado enviado para um colega
entrevistas. A primeira mensagem, enviada para o colega que trabalhava ao seu lado, foi uma seqüência de letras ( qwertyuiop) ou de números (123456).
O padre gaúcho Roberto Landell de Moura faz a primeira transmissão por meio de rádio no mundo, da Avenida Paulista para o Alto de Santana, na capital paulista.
1894
"Não lembro mais qual das duas mandei." A segunda mensagem foi um aviso para os outros colegas da empresa ensinando a usar o programa. Trinta anos depois, a Electronic Messaging Association, baseada nos Estados Unidos, estima que o número de e-mails enviados em 2000 passou de 6 trilhões, alguns deles perigosos, portando vírus. Aos 63 anos, Tomlinson continua na BBN, comprada em 1997 pela GTE Internetworking, da qual é o principal engenheiro. Ele não ganhou dinheiro com sua invenção, mas não guarda ressentimento. "Na época, a noção de registro era contrastante com o espírito daquilo que viria a ser a Internet", disse. "Só muito tempo depois percebi que se tratava de algo realmente grande."
1957 Um ano depois, o italiano Guglielmo Marconi transmite um sinal
Abalados com o sucesso do lançamento do satélite Sputnfk 1,
para um receptor a 7 metros de distância do emissor-e fica com a fama de inventor do rádio.
1923 O russo naturalizado norte-americano Vladimir Zworykin inventa o iconoscópio, um precursor do tubo de imagem de TV. É o início da televisão eletrônica.
da União Soviética, os Estados Unidos fundam a Agência de Projetos Avançados de Pesquisa (Arpa).
1969 Criada a rede Arpa (Arpanet), que conecta quatro laboratórios de universidades americanas. No auge da Guerra Fria, a idéia era construir uma grande rede de comunicação em que todos os pontos se equivalessem, sem um comando central.
1971 O engenheiro norte-americano Ray Tomlinson inventa o primeiro programa de e-mail na empresa BBN,em Cambridge.
Tim Berners-Lee cria a linguagem World Wide Web (www) no Laboratório Europeu de Física de Partículas (Cern).
1996
A Microsoft, de Bill Gates, finalmente adere à web e lança no mercado o navegador Internet Explorer.
PESQUISA FAPESP · ABRil DE 2001 • 7
o www.scielo. br
As publicações científicas brasileiras estão ao alcance de suas mãos. Não importa
em que parte do mundo você esteja
SciELO- Scientific Electronic Library Online é uma biblioteca de revistas científicas disponível na Internet. Uma biblioteca virtual que reúne 55 publicações científicas brasileiras. Sua interface permite o acesso fácil aos textos completos de artigos científicos, por meio das tabelas de conteúdos dos números individuais das revistas ou da recuperação de textos por nome de autor, palavras-chaves, palavras do título ou do resumo.
A SciELO publica também relatórios atualizados do uso e do impacto da coleção e dos títulos individuais das revistas. Os artigos são enriquecidos com enlaces dinâmicos a bases de dados bibliográficas nacionais e internacionais e à Plataforma Lattes no CN Pq.
SciELO é produto do projeto cooperativo entre a FAPESP, a BIREME!OPAS/OMS e editores científicos brasileiros, iniciado em 1997, com o objetivo de tornar mais visível, mais acessível e incentivar a consulta das mais conceituadas revista;; científicas brasileiras. Em 1998, a coleção SciELO Brasil passa a operar normalmente na Internet e projeta-se rapidamente como modelo de publicação eletrônica de revistas científicas para países em desenvolvimento, em particular da América Latina e Caribe. Ainda em 1998, o modelo é adotado pelo Chile e em 1999 começa a operar a coleção SciELO Saúde Pública, com as melhores revistas científicas de saúde pública ibero-americanas. Outros países estão em processo de incorporar-se à rede de coleções SciELO.
O modelo SciELO destaca e valoriza a comunicação científica brasileira. Ao mesmo tempo, proporciona mecanismos inéditos de avaliação de uso e de impacto das nossas revistas científicas, em consonância com os principais índices internacionais de produção científica.
Adote a SciELO como sua biblioteca científica.
~ ~ ~ .. GOVERNO DO ESTADO DE
SÃO PAULO
Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico BIREME I OPAS I OMS www. fa pesp. br
OPINIÃO
RODOLFO RUMPF
Regulamentar é preciso, proibir jamais São necessários instrumentos legais e éticos que permitam o progresso científico
Aoferta suficiente de alimentos saudáveis, a prevenção e o controle de enfermidades e a sobrevivência harmoniosa do homem
nos diferentes ecossistemas é, sem dúvida, o maior desafio da ciência na atualidade. Partindose do princípio, portanto, de que todo o esforço da ciência está voltado para a melhoria de vida do ser humano, os limites da ciência estão muito mais voltados para questões do bom uso das tecnologias do que para o estabeleci-mento de um "teto" limite para o avanço científico. Nesse sentido, o
"cabe à sociedade esclarecida decidir as
jetos de lei proibindo a clonagem em geral. Somos favoráveis à regulamentação por parte da sociedade do acompanhamento do desenvolvimento científico e do bom uso das tecnologias.
A estratégia adotada pelo Brasil no que tange aos organismos geneticamente modificados (OGMs), com a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, é um bom exemplo, até porque as falhas identificadas na lei 8.974, de
5 de janeiro de 1995, poderão ser evitadas na edição de um novo instrumento legal. O importante, no entanto, é que nessa comissão estão representados os diferentes segmentos da sociedade e existe um espaço democrático para discutir as propostas de atividades com OGMs.
esforço científico do pesquisador deve se reunir à preocupação constante em demonstrar para a sociedade como a tecnologia está sendo desenvolvida e como será inserida no setor produtivo ou na clínica. E explicar quais os mecanismos, as técnicas, os parâmetros que estão sendo observados no monitoramento da tecnologia.
É fundamental o esclarecimento adequado da sociedade. A imprensa especializada pode contri-
prioridades e ao pesquisador a eleição dos métodos e de
Cabe à sociedade esclarecida decidir as prioridades e ao pesquisador a eleição dos métodos e de seus limites. Caso falte bom senso, a sociedade por si neutraliza iniciativas mercantilistas e antiéticas.
seus limites, . Como reflexão, é importante que
buir de maneira decisiva traduzin-do a linguagem da "bancada" para uma linguagem jornalística clara. Não adianta passar para a sociedade a atribuição de controlar o bom uso das tecnologias se as pessoas não estão informadas sobre o assunto. O novo desconhecido provoca medo e a atitude comum mais cômoda é proibir ou declarar moratória em vez de apoiar os pesquisadores e elevar a capacidade de interpretação da sociedade.
A cada novo evento científico divulgado é possível observar uma série de iniciativas de projetas de lei proibindo tudo antes mesmo de entender melhor o que se busca com tais pesquisas. Bastou a divulgação, em março, do nascimento da bezerra Vitória, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), primeiro animal oriundo da técnica de transferência nuclear em nosso laboratório, para que voltassem os pro-
- nos incluamos pessoalmente no contexto da problemática analisada, já que emitir opinião sobre o problema dos outros é mais fácil.
Por fim, devemos analisar o enorme progresso científico alcançado pelo Brasil nos últimos anos, fruto de várias iniciativas de apoio e fomento e da capacidade de inovação e articulação dos recursos humanos brasileiros. É apenas o começo e por isso é necessário discutir e definir instrumentos legais e éticos que permitam o progresso científico e o bem-estar do cidadão. Seria uma atitude medíocre "engessar" o progresso científico neste momento tão importante para a ciência brasileira.
R ODOLFO RUMPF é pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e coordenador do projeto que
permitiu a primeira clonagem de bezerro no Brasil (veja
reportagem na página 33)
PESQUISA FAPESP • ABRILDE2001 • 9
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
Ciclo de conferências discutirá o "homem máquina"
A ciência já conseguiu mapear o genoma humano e, cada vez mais, a tecnologia cria chips e próteses que substituem partes do corpo. Em breve, anunciam alguns cientistas polêmicos, seremos capazes de clonar um ser humano. Mas que tipo de criatura será essa e quais as conseqüências dessa invenção? Para discutir o novo homem, nem natural nem artificial, um grupo de 18 intelectuais brasileiros e estrangeiros, das áreas científica e filosófica, irá se reunir, até 11 de maio, no Rio e em Brasília, no ciclo de conferências O Homem Máquina, organizado por Adauto Novaes para o Centro Cultural Banco do Brasil. "O tema é imenso e pede conhecimen-
• Unesp reabre o Campus do Litoral
A Baixada Santista ganhou uma unidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp ). Instalado em São Vicente, o Campus do Litoral foi reaberto este ano e terá, já no mês de maio, o primeiro curso de extensão: Acidentes com Animais Peçonhentas, dirigido para policiais militares, florestais e bombeiros da região. O curso será ministrado pelo pessoal do Centro de Estudos de Venenos de Animais Peçonhentas (Cevap), unidade de Botucatu. Mas isso é só o começo. "Estamos estudando a possibilidade de instalar vários cursos de graduação no litoral", diz Carlos Alberto de Magalhães Lopes, diretor do
1 O • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
to de várias ordens. No nível do pensamento, as novas descobertas científicas apontam para uma desordem mental em estado quase perfeito. É preciso refletir sobre essa desordem", afirma Novaes. Ele lembra a observação feita pelo biólogo francês Jacques Testart, para quem, hoje, não se pode mais fazer ciência de forma independente. "Hoje não existe mais a ciência, mas a tecnociência. Não existe mais a vontade gratuita de obter conhecimento. Toda pesquisa tem finalidade, que é buscar inovações. É uma experimentação permanente, alimentada pelo mercado, em nome do progresso." O ciclo pretende exatamente colocar o dedo
Cevap e integrante da comissão que estuda a criação dos cursos. Dentro de Ciências Biológicas, Magalhães cogita ter as modalidades Biologia Marinha e Gerenciam ento Costeiro. "Estamos na fase de consulta aos professores da Unesp e também de fora dela
sobre essa ferida aberta e questionar as implicações éticas e religiosas da clonagem e do genoma, estabelecer os limites do biopoder, que pode criar tanto maravilhas quanto experimentos de
para escolher os melhores cursos para a região", explica. A universidade deverá trabalhar em convênio com outros centros, como o Instituto de Pesca, da Secretaria da Agricultura, que tem um barco de pesquisas. O Campus do Litoral tem um prédio com
São Vicente: cidade é a sede do novo Campus do Litoral
eugenia, e pedir para o mundo uma bioética. Entre os vários palestrantes estão: Marilena Chauí (Arte e Na tureza: Antecip ações do Futuro), Giovanni Berlinguer (Entre Ciência e Mercado), Axel Kahn (Clonagem: Fim da Sexualidade?), Jorge Coli (O Corpo Libertino), Sérgio Paulo Rouanet (HomemMáquina), Carlos Antonio Leite Brandão (O Corpo, Modelo das
Paixões, da Ética e da Política), Renato Janine Ribeiro (Natureza e Cultura: uma Guerra de Fronteiras), Davi Geiger (In teligência Artificial: Máquina pode pensar?), entre outros. •
cinco grandes salas de aula, laboratório de biologia, anfiteatro para 150 pessoas, cen tro de informática e alojamento para professores visitantes. Magalhães acha que em 2002 podem começar a funcionar os primeiros cursos de graduação. •
• Amazônia peruana pede ajuda ao Brasil
O enorme estrago ambiental provocado pela mineração de ouro na parte peruana da Amazônia começa a ser revertido com a aj uda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) . Os 80 km2 degradados comprometem o rio Huepetuhe, um dos rios que contribuem para a formação do Madei-
isso, é essencial que o governo peruano tenha vontade política para manter o trabalho." diz Campello. •
• Prêmio Finep de Inovação Tecnológica
Região do rio Huepetuhe: 80 km' de desolação na Amazônia
Foi dada a largada para o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2001. A terceira edição do evento traz uma novidade. Foram criadas mais duas categorias para premiar aquelas que investem na busca contínua da inovação e da liderança tecnológica: Grande Empresa e Pequena Empresa. Será realizada uma etapa preliminar em cada região brasileira,
ra no Brasil. O impacto ambiental já chegou à Bacia Amazônica. Pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, do Rio de Janeiro, estiveram por duas semanas na região, em março. Eles faziam parte da Missão Multidisciplinar ao Peru atendendo a um pedido do governo peruano à Agência Brasileira de Cooperação. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) está coordenando a parte administrativa do projeto e o Peru vai dar a contrapartida. "Estamos fazendo um projeto piloto para transferência de tecnologia de recuperação de solos degradados", diz o engenheiro florestal da Embrapa Eduardo Campello. Os pesquisadores plantaram alguns tipos de leguminosas que ocorrem na Amazônia e se associam a bactérias do gênero Rhizobium, que consomem o carboidrato da planta e dão em troca nitrogênio, um dos principais nutrientes utilizados para o crescimento de vegetais. ''Além de melhorar esse processo ao inocular a bactéria, usamos um fungo para colonizar as raízes e aumentar a eficiência das plantas em absorver água e fósforo, também escassos nos solos tropicais", explica Campello. O
processo de recuperação de toda a área, de modo a ficar pelo menos parecida com o que havia antes, deve levar de dez a 15 anos. "Mas, para
Mata Atlântica de São Paulo: estudo sobre o ambiente
Interior ganhará centro de estudos A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) firmou uma carta de intenções com o Ministério do Meio Ambiente para criar o Centro Nacional de Pesquisas para o Desenvolvimento Sustentável na Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó, interior de São Paulo. "Queremos um centro de conservação e pesquisa não só para a questão ambiental, mas também para tratar os aspectos culturais e históricos da re-
gião", explica o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFSCar, Pedro Galetti. Por exemplo: a região tem a primeira siderúrgica das Américas, na qual foram cunhadas as armas brancas usadas na Guerra do Paraguai. Também há uma forte agricultura familiar e muitos sem-terra no entorno da região. "Estamos trabalhando para criar um desenvolvimento que seja realmente sustentável e não destrutivo." •
das quais sairão quatro indicações de empresas para participar da final em Brasília, em novembro. A Financiadora de Estudos e Projetas (Finep) recebe as propostas até 30 de junho via internet pelo e-mail premio@finep.gov.br. Mais informações: www.finep. gov.br/premio!index.htm ou pelo telefone (Oxx21) 555-0555. •
• Krieger é reeleito pela quinta vez para a ABC
O médico, professor e pesquisador Eduardo Moacyr Krieger foi reeleito para a presidência da Academia Brasileira de Ciências (ABC) no dia 20 de março, para o período de 2001 a 2004. É o seu quinto mandato à frente da entidade. Ele concorreu em chapa única tendo como vice-presidente Carlos Eduardo Rocha Miranda. Gaúcho, de 78 anos, Krieger trabalhou em universidades de vários Estados brasileiros, além da Argentina (Buenos Aires) e dos Estados Unidos (Augusta, na Geórgia) . Publicou mais de 120 trabalhos em revistas internacionais e, desde 1985, após a aposentadoria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, de Ribeirão Preto, trabalha com hipertensão no Instituto do Coração (Incor) dirigindo uma equipe multidisciplinar de pesquisa. •
• 8 de julho, Dia Nacional da Ciência
Os parlamentares do Congresso Nacional instituíram 8 de julho como o Dia Nacional da Ciência. O mesmo decreto autoriza o Poder Público a incentivar a divulgação da data e promover atividades em estabelecimentos educacionais. •
PESQUISA FAPESP • ABRILDElOOI • 11
Bush aposta na área biomédica A primeira previsão orçamentária para 2002 do presidente George Bush enviada para o Congresso, em março, deixou felizes pesquisadores que lidam com saúde nos Estados Unidos. A Casa Branca propôs aos parlamentares aumentar em 13,8% as verbas para o Instituto Nacional de Saúde (NIH). Isso significa somar US$ 2,8 bilhões ao montante atual, deUS$ 20,3 bilhões. Embora haja motivos de
sobra para comemoração dentro do NIH, a iniciativa desagradou a boa parte da comunidade científica americana. A Fundação Nacional de Ciências (NSF) e a Nasa, a agência espacial, ainda tiveram um pequeno aumento de 1,3% e 2%, respectivamente. Mas minguaram os orçamentos do Departamento de Energia (DoE), em -3,6%, e da Agência de Proteção Ambiental (EPA), em -6,4%. A diretora da NSF, Rita Colwell, vinha pedindo, desde setembro de 2000, um aumento de 15% (cerca de US$ 4,4 bilhões) para 2002. A idéia era investir
12 · ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
Saúde é privilegiada Previsão de orçamento nos EUA para o próximo ano
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EPA Nas a NIH NSF
2002 Fonte: Nature (8/3/2001 )
George Bush: f ixação pela imagem de homem que faz o que promete
em pesquisas na áreas de nanotecnologia, computadores mais potentes e simulação de terremotos. O DoE pediu 15% a mais para aplicar em projeto de economia de energia nas resi
dências e incentivo no uso de combustíveis renováveis. O departamento contava, ainda, em aumentar a subvenção a pesquisas universitárias sobre uso de energia. Todos esses planos terão de ser adiados. Também a agência de estudos geológicos (USGS) deve perder 11% ou mais de seu orçamento. Segundo observadores da política americana, George Bush quer construir uma sólida imagem de homem que faz o que promete -mesmo que suas ações pareçam irracionais. Como falou durante a campanha presidencial em au-
mentar o investimento em saúde, ele decidiu colocar a maior parte do dinheiro disponível para pesquisa nesse setor, não importando se os outros programas científicos sejam prejudicados. De qualquer forma, o futuro não é totalmente desale~tador para os pesquisadores fora da área biomédica. O republicano Jim Walsh, de Nova York, acredita que há uma chance de a situação ser revertida. "É o Congresso que decidirá como gastar o orçamento de 2002 e não apenas o presidente, isoladamente", diz Walsh. Embora insatisfeitos com as prioridades de Bush, os cientistas evitam criticar abertamente sua proposta. Eles preferem fazer lobby com os congressistas para reverter a situação e tornar o orçamento de 2002 mais equilibrado. •
• Ciência russa nas mãos da filantropia
A situação de penúria da Rússia deixa a ciência cada vez mais dependente de filantropos. Dois jovens empresários criaram no ano passado a Fundação Beneficente Pública para o Apoio da Ciência Nacional. Seus fundadores, Oleg Deripaska, de 32 anos, da companhia Russian Aluminum, e Roman Abramovich, de 34 anos, executivo do setor de petróleo e governador da região de Chukotka, doaram US$ 1 milhão para repassar aos pesquisadores. Esse tipo de ajuda à ciência está se tornando uma tradição na Rússia. No começo da década de 1990, o especulador de origem húngara George Soros doou US$ 120 milhões para beneficiar mais de 30 mil cientistas da extinta União Soviética. Em 1995, um dos mais notórios oligarcas do país, Boris Berezovsky, deu US$ 1,5 milhão. Agora, o dinheiro de Deripaska e Abramovich irá para 200 pesquisadores, alguns dos quais ganharão US$ 1 O mil por ano - mais de dez vezes o que recebem hoje. A iniciativa tem sido elogiada com uma ressalva: os cientistas escolhidos foram selecionados secretamente pela fundação. •
Berezovsky: apoio
• Evolucionismo volta às escolas do Kansas
Evolução e formação geológica do Universo voltaram às salas de aula do Estado do Kansas, Estados Unidos. A decisão ocorreu depois de dois anos de debates com criacionistas, que acreditam na criação do mundo como obra de Deus e são contra o ensino do darwinismo. O Conselho de Educação estadual aprovou a inclusão no currículo escolar de temas como evolucionismo e a teoria do Big Bang, de acordo com a revista Nature (8 de março). A mudança - sete votos contra três - ocorreu em razão da eleição de novos integrantes no conselho, apoiados por grupos de cientistas. O Kansas é apenas um dos vários Estados americanos que têm revisto a política de excluir do sistema de educação teorias da evolução e sobre geologia moderna. •
• O boom da pesquisa em Portugal
Depois de décadas de total ostracismo científico por razões políticas, Portugal vislumbra, em curtos anos, a
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entrada triunfante no clube dos países que produzem a melhor ciência do mundo. O Instituto de Sistemas e Robótica (ISR), por exemplo, é líder na tecnologia de robôs subaquáticos. O último projeto do ISR - um catamarã que controla um veículo submarino de pesquisa (AUV) -vem recebendo elogios de especialistas no assunto de todo o planeta. O fenômeno português é recente. "Há 20 anos, não existia ciência em Portugal", diz Cecília Leão, vice-reitora da Universidade do Minho, em Braga. A queda do ditador Antônio Salazar, em 1974, injeção constante de dinheiro da União Européia, à qual Portugal aliou-se em 1986, e reformas iniciadas pelo ministro da
Ciência, o físico José Mariano Gago, deram um impulso sem igual à ciência portuguesa. O número de doutores subiu de 1,7 mil, em 1987, para 8 mil em 1999. O país gasta 0,63% do Produto Interno Bruto em ciência, mais do que Irlanda, Itália e Espanha. Nos próximos seis anos, o governo vai lançar projetos que devem consumir US$ 1,4 bilhão. É uma oportunidade sem igual na história de Portugal para a nova geração de cientistas. •
• Testes balizam ações de saúde ambiental
Um cuidadoso trabalho coordenado pelo Centro de Controle de D~enças (CDC) de Atlanta, Estados Unidos,
Ciência na web
i está servindo de base para aprimorar a política de saúde ambiental do país. O CDC mediu a contaminação por 24 tipos de substâncias químicas em 3,8 mil pessoas de 12 localidades dos Estados Unidos em 1999. Os testes envolveram exames físicos e de sangue e tiveram por objetivo um estudo seguro sobre a contaminação por pesticidas organoclorados, metais como mercúrio e substâncias tóxicas presentes em brinquedos, xampus e até material plástico usado na medicina, segundo o jornal The Wall Street ]ournal. De acordo com Richard Jackson, diretor do Centro Nacional para Saúde Ambiental, agora a investigação será feita anualmente e ampliada para incluir mais substâncias. Alguns resultados presentes no trabalho do CDC indicam o acerto de determi nadas medidas de saúde pública. A proibição de fumar em ambientes fechados, amplamente disseminada nos Estados Unidos, por exemplo, levou a uma queda nos níveis de cotinine entre os não-fumantes. A substância, nociva, é derivada da nicotina. •
Envie sua sugestão de site científico para [email protected]
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PESQUISA FAPESP · ABRil DE 2001 • 13
CAPA
INOVAÇÃO
Nova arma contra a CAT/Cepid, em parceria com indústrias farmacêuticas, deposita patente de anti-hipertensivo
C LAUD IA I ZIQUE
Centro de Toxinologia Aplicada (CAT), no Instituto Butantan, depositou no Instituto Nacional de Proprie
dade Industrial (INPI) a patente do princípio ativo de um protótipo molecular que será utilizado na produção de um fármaco com propriedades anti-hipertensivas. Batizado com o nome genérico de Evasin ( endogenous vasopeptidase inhibitor), o novo medicamento tem potencial para concorrer com o Captopril, anti-hipertensivo produzido pela Squibb, que garante a essa indústria farmacêutica multinacional um faturamento anual estimado em US$ 5 bilhões, em todo o mundo. A patente também será depositada nos Estados Unidos, Japão e na União Européia (UE). A expectativa é que o Evasin esteja disponível aos indivíduos hipertensos nos próximos anos. "Agora, é partir para os testes pré-clínicos e clínicos': anunciou Antonio Mar-
14 • ABIUE2001 • PESQUISA FAPESP
Desenvolvido a partir do veneno da jararaca,
o Evasins tem atividade seletiva no combate de
hipertensão arterial
MIGUEl BOYAYAN
hipertensão arterial
tins de Camargo, dire
tor do CAT. No desenvolvimento do
Evasin, o centro terá como parceiro o Consórcio Farmacêutico Nacional (Coinfar), formado pelos laboratórios Biolab-Sanus, Biosintética e União Química. "A iniciativa privada tem flexibilidade e agilidade necessárias para levar avante um projeto como esse, já que as instituições públicas não têm cultura de mercado': diz Camargo.
O CAT é um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão ( Cepids) qualificados pela FAPESP e a parceria com a indústria farmacêutica para o desenvolvimento do novo medicamento atende a um dos principais quesitos do programa que é o de aproximar as atividades acadêmicas de pesquisa com o mercado. Antes do registro no INPI, a FAPESP avaliou a patente do Evasin por meio do Programa de Apoio à Propriedade
Intelectual (PAPI!Nuplitec). "Nossa assessoria entendeu que esse fármaco tem grande potencial de mercado': disse José Fernando Perez, diretor-científico da Fundação. "A adesão dos três laboratórios mostra que a avaljação estava correta."
A FAPESP apóia as atividades de pesquisa do CAT desde setembro do ano passado, quando foi lançado o Programa Cepid. "As investigações tiveram início antes disso. Entretanto, mais de 90% dos investimentos na pesquisa do Evasin, tanto nos insumos, bolsas de pós doutoramento, de pós-graduação e os equipamentos, já tinham sido financiados pela FAPESP por meio de bolsas-auxílio", ressalva Camargo.
Titularidade- A titularidade da patente será da FAPESP e do consórcio parceiro (Coinfar), de acordo com os termos de outorga da Fundação. Os dividendos provenientes da venda do produto serão repartidos entre os in-
ventares, o Instituto Butantan, os parceiros privados e a FAPESP. Cabe ao consórcio de laboratórios arcar com as despesas da patente, no Brasil e no exterior, com os recursos para a administração do CAT/Cepid e com investimentos na infra-estrutura dos laboratórios de pesquisa do centro, que serão equipados com recursos da FAPESP. Também está previsto que os parceiros privados deverão financiar os testes clínicos necessários ao desenvolvimento do fármaco. A FAPESP se compromete a apoiar as atividades do centro, com R$ 3 milhões anuais, por um período de até 11 anos. E o Instituto Butantan, assim como as demais instituições que constituem a sede dos dez Cepids, fica com a responsabilidade de pagar os salários dos pesquisadores e do pessoal de apoio, além de ceder as instalações e equipamentos e outros materiais para o desenvolvimento das pesquisas.
Camargo acredita que o fármaco poderá chegar ao mercado dentro de dois anos, já que, tudo indica, o protótipo molecular, base do Evasin, parece fazer parte do sistema endógeno de regulação da pressão arterial dos seres humanos. Isso significa que o próprio Evasin poderá ser utilizado como medicamento. "A desvantagem é que, por tratar-se de um peptídeo, não poderá ser ministrado por via oral sob risco de ser destruído
PESQUISA FAPESP • ABRIL DE 2001 • 15
CAPA
pelo estômago, como é o caso da insulina ou dos hormônios de crescimento. Deverá, portanto, ser fornecido aos pacientes na forma injetável ou em spray", entre outros métodos que estão sendo desenvolvidos pela farmacotécnica moderna para o uso de peptídeos como medicamento, prevê Camargo.
Não está descartada a possibilidade de os testes clínicos indicarem outra alternativa para a administração oral do anti-hipertensivo, que poderá ser obtida por modelagem molecular e biologia molecular. "Neste caso, provavelmente teremos como parceiro o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas", diz Camargo. "Se adotarmos esse procedimento, o medicamento só chegará ao mercado em cinco ou seis anos", prevê.
Ação seletiva - Uma grande vantagem do Evasin, qualquer que seja a forma com que ele chegue aos pacientes, é que ele é um produto natural, com atividade seletiva, não é imunogênico e tem efeito prolongado. Essas características, aliás, foram o ponto de partida das pesquisas que levaram à descoberta do novo fármaco. "Buscamos encontrar esse anti-hipertensivo na natureza, procurando substâncias capazes de inibir a ação de enzimas que revestem os vasos sanguíneos (vasopeptidases) cujas disfunções podem levar à hipertensão arterial, como a enzima conversara da angiotensina, conhecida como ACE, e a endopeptidase neutra, conhecida como EP 24.11. Essas enzimas são fundamentais para manter nossa pressão arterial em valores normais, controlando a concentração sanguínea da angiotensina II e bradicinina, impedindo a hipertensão arterial", explica Carmargo. Já que essas duas substâncias são vitais para o organismo, com força para produzir um choque cardiocirculatório ou hipertensão arterial e levar à morte, a equipe do CAT apostou que a natureza, ao longo de milhões de anos de evolução, também teria selecionado inibidores endógenos des-
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Camargo: novo fármaco tem potencial para concorrer com o Captopril
sas enzimas capazes de mantê-las em níveis normais, numa espécie de ação em defesa dos seres vivos.
A fisiopatologia cardiovascular, nas últimas décadas, tem encontrado respostas positivas para problemas da pressão arterial, processos inflamatórios, mecanismos de dor, processos alérgicos e asma brônquica, entre tantos outros, nas pesquisas com os venenos animais. Já se sabia que, ao longo de um processo de mutação e seleção natural, as serpentes desenvolveram "armas", a partir de substâncias endógenas, capazes de amar sobre enzimas desorganizando o sistema cardiocirculatório de suas vítimas. Procurando explicar como oveneno de jararaca mata ou paralisa suas vítimas, em 1948, Gastão Rosenfeld, do Instituto Butantan, levou para o laboratório de Maurício Rocha e Silva uma amostra do veneno da Bothrops jararaca com o objetivo de estudar os efeitos em cães. Os pesquisadores incubaram o veneno com o plasma do cão e dessa reação formou-se uma substância que contraía fortemente os intestinos da cobaia e possuía intensa ação hipotensora. Essa substância não era a histamina, mas um polipetídeo que foi denominado bradicinina. Rocha e Silva descobriu que a jararaca, ao inocular o veneno em sua presa para alimentar-
se ou defender-se, injeta-lhe toxinas que desorganizam o sistema de coagulação e liberam a bradicinina, levando à hipotensão, ao desequilíbrio dos vários sistemas de células e líquidos do sangue, paralisando ou comprometendo a vida da sua presa. As toxinas das serpentes, portanto, colocam em evidência os mecanismos celulares e moleculares manifestos nas reações anafiláticas e alérgicas, entre outros efeitos reativos do organismo.
Milhões de dólares - Posteriormente, na década de 60, Sérgio Ferreira, exaluno de Rocha e Silva, constatou que a hipotensão provocada pela liberação da bradicinina no sangue da vítima é potencializada por ação de pequenas toxinas encontradas em grandes quantidades no veneno da jararaca. Essas pequenas toxinas, denominadas peptídeos potenciadores da bradicinina ou BPPs, foram isoladas por Ferreira e colaboradores e levadas por ele ao Imperial College de Londres, permitindo que o cientista inglês John Vane (ganhador do prêmio Nobel) chegasse ao protótipo molecular que daria origem ao bilionário captropil, da Squibb, o primeiro de uma série de anti-hipertensivos utilizados por milhões de pessoas. Desde então, indústrias farmacêuticas de todo o mundo passaram a in-
Usando biologia molecular, Alessandra Murbach avaliou a eficácia dos BPPs
vestir milhões de dólares no desenvolvimento de drogas anti-hipertensivas. "O mérito dessa descoberta, ficou quase todo com os ingleses e americanos", conta Camargo. "Todos sabem que a hipertensão é um mal que acomete grande parte da humanidade, sobretudo os mais velhos, mas poucos sabem que o medicamento anti-hipertensivo mais utilizado no mundo partiu de pesquisas iniciadas no Brasil 50 anos atrás.
A equipe de pesquisadores do CAT retomou o caminho trilhado por Rocha e Silva e Ferreira. Identificaram, por biologia molecular, uma proteína precursora dos BPPs na glândula onde se forma o veneno da Bothrops jararaca. "Encontramos sete BPPs e uma molécula do hormônio natriurético numa mesma proteína, como se fosse um rosário de moléculas anti-hipertensivas, capazes de causar um choque cardiovascular na vítima picada por essa serpente", descreve Camargo. Recentemente, a equipe constatou, também por biologia molecular, que esses BPPs não são apenas toxinas, mas fazem parte do sistema endógeno de regulação da pressão arterial. A eficácia desses peptídeos foi testada em ratos.
As pesquisas avançaram e, em parceria com o Dr. Vincent Dive, da CEA, na França, a equipe do CAT
conclui que a ação desses peptídeos sintéticos (BPPs), além de inibir as enzimas que revestem os vasos sanguíneos importantes por causar a hipertensão (ACE e EP 24.11), tem uma seletividade para uma das "cabeças" da enzima conversara da angiotensina (ACE).
Defesa imunológica - Essa enzima, ACE, presente nas paredes dos vasos sanguíneos, é fundamental para manter nossa pressão arterial. Ela possui duas "cabeças" ativas, identificadas como C e N. As duas "cabeç~s" podem gerar a angiotensina II e, conseqüentemente, produzir hipertensão. O quadro se agrava porque tanto a ACE como a EP 24.11 podem inativar a bradicinina, substância hipotensiva natural. As duas "cabeças': no entanto, não são iguais. A "cabeça" C é mais específica para formar a angiotensina II e inativar a bradicinina. A "cabeça" N faz a mesma coisa, mas com menor eficiência. Mas ela desempenha outra tarefa importante para o organismo, o de inativar um hormônio recentemente descoberto, o AcSDKP, que regula a proliferação de células do sangue responsáveis pela defesa imunológica. Nem o Captopril nem seus derivados modernos são capazes de distinguir entre as "cabeças" C e N, inibindo as duas cabe-
ças igualmente. Seu uso prolongado pode levar a alterações nas células sanguíneas. Acertar o alvo, ou seja, a "cabeça" C, com anti-hipertensivos seletivos, seguros e mais eficientes, tem sido um dos grandes desafios da indústria farmacêutica multinacional. O Evasin tem essa característica: é um medicamento seletivo para a "cabeça" C da ACE e, além disso, inativa a EP 24.11. A patente depositada também garante aos titulares o direito sobre os BPPs endógenos e seus derivados, denominados Evasins, que possuem maior seletividade para a "cabeça" C da enzima conversara da angiotensina (ACE).
Recriação da natureza - Além de Camargo, integram o grupo do CAT nesse projeto, entre outros pesquisadores, as pós-doutorandas Miriam Hayahi, Fernanda Portaro, a mestranda Danielle Yanzer e a aluna da iniciação científica Alessandra Murbach, todas bolsistas da FAPESP. "Encontramos na natureza a substância que possui as propriedades dos novos anti-hipertensivos que as multinacionais farmacêuticas procuram", explica Carmargo. "O caminho adotado pela equipe do CAT foi distinto daquele utilizado pela indústria norte-americana Millenium, que tenta chegar aos modernos anti-hipertensivos utilizando informações genômicas e química combinatória. Estamos utilizando, para essa mesma finalidade, não a recriação da natureza pelo homem, o que pode ser altamente frustrante, mas tentamos descobrir os caminhos que a própria natureza utilizou", afirma Camargo.
Para o diretor científico da FAPESP, as perspectivas que se abrem com o depósito da patente do Evasin "são um início auspicioso" para o Cepid. "Mostra que esse modelo de parceria é um forte estímulo à interação com o setor privado. O projeto CAT/Cepid terá especial sucesso nas relações entre o setor acadêmico e a indústria farmacêutica nacional, tradicionalmente desmobilizada para esse tipo de relação", diz Perez. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 17
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
FINANCIAMENTO
Demanda explosiva FAPESP altera critérios para concessão de bolsas de mestrado e doutorado
Onúmero de bolsas concedidas pela FAPESP triplicou nos últi
mos quatro anos. Saltou de 3.556, em 1996, para 9.754, no ano passado, devendo atingir um patamar de investimentos de mais de R$ 128 milhões anuais. Esse extraordinário volume de investimentos corre o risco de comprometer a proporção adequada entre os recursos destinados a bolsas e os reservados a auxílios, por meio do qual a Fundação financia os custos materiais, diretos ou indiretos, do desenvolvimento de projetos de pesquisas, e que se tem conseguido manter
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CAPES
Mestrado
CNPq
18 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
ao longo dos últimos anos. No ano passado, no entanto, com o aumento da demanda, os recursos para bolsas passaram a representar 37% do total de investimentos da Fundação. Os 63% restantes foram destinados a auxílios à pesquisa em suas diversas modalidades, financiando seus custos materiais, como equipamentos, material de consumo, entre outros. "A experiência nacional e internacional demonstra que o desequilíbrio na distribuição de recursos compromete o desenvolvimento saudável do sistema de pesquisa, a ponto de retirar-lhe as condições necessárias para a formação e absorção adequadas de novos pesquisadores", diz José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP.
Para restaurar o necessário equilíbrio, a FAPESP decidiu que não irá diminuir o enorme investimento em
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CAPES
bolsas que faz atualmente, mas também não poderá aumentá-lo sem prejudicar o financiamento do sistema de pesquisa como um todo. Portanto, somente serão aprovadas as solicitações consideradas excelentes nos quesitos: projeto de pesquisa; produtividade recente e competência do orientador na área em que se insere o projeto; e qualificações do candidato. As bolsas ligadas a projetos temáticos nada devem sofrer com esse procedimento e todos os auxílios a pesquisa continuam com seu fluxo normal. Já a linha de bolsas de aperfeiçoamento está formalmente desativada.
A Fundação já não vem concedendo prorrogações de bolsas de mestrado e doutorado, além do período regulamentar de 24 meses, para o caso de mestrado, e 48 meses, para doutorado. A extensão dos prazos acabaria por prejudicar o ingresso de novos bolsistas no sistema.
Sistema de pesquisa - O crescimento da demanda por bolsas registrado pela FAPESP decorre, principalmente, do crescimento do sistema de pesquisa no Estado de São Paulo e é um
Doutorado
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CNPq
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Evolução das bolsas no país- FAPESP
2000 2.238 1.585 1.344 1.198 2.289 546 436 113 9.749
1999 2.012 1.411 1.360 1.083 1.694 480 338 11 o 8.488
1998 1.867 1.483 998 981 1.071 423 257 94 7.174
1997 1.678 1.120 683 728 592 395 138 67 5.331
1996 1.369 773 396 474 293 144 36 35 3.520
IC (Iniciação Científica); MS-1 (Mestrado I); MS-11 (Mestrado 11); DR-I (Doutorado I); DR-11 (Doutorado-li); PD (Pós-Doutorado);
TT (Treinamento Técnico); JP (Jovem Pesquisador).
indicador da vitalidade dos Programas de Pós-Graduação. As bolsas concedidas pela FAPESP atraíram boa parte dessa demanda, em função do seu valor ser cerca de 40% superior ao das bolsas concedidas pelas instituições federais e também por contarem com recursos da reserva técnica. Há uma relação, portanto, entre a redução das cotas de bolsas concedidas pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ( CNPq) em São Paulo, e o aumento da demanda registrado pela Fundação.
Atualmente, o número de bolsas de pós-graduação da FAPESP, tanto para mestrado como para doutorado, é maior do que o financiado, por cada uma das agências federais. No ano passado, a FAPESP distribuiu um total de 6.049 bolsas para mestrado e doutorado. Em contrapartida, a Capes e o CNPq distribuíram, respectivamente, 4.302 e 4.075 bolsas, no mesmo período. Esses números de bolsas das agências federais foram obtidos por meio do sistema Prossiga/CNPq. Os últimos números oficiais do CNPq, entretanto, apontam um total de 4.324 bolsas distribuídas em São Paulo no ano passado, sendo 2.010 para mestrado e 2.314 para doutorado.
Segundo o chefe de Gabinete do CNPq, Lélio Fellows Filho, o Estado de São Paulo recebeu do órgão em 2000, R$ 130 milhões, sendo R$ 106
milhões para todas as modalidades de bolsas no país, R$ 2,1 milhões no exterior e R$ 21,3 milhões para fomento. "Essa distribuição representa uma alocação de 31 o/o dos recursos globais do CNPq", diz Fellows. "Somente a Universidade de São Paulo (USP) recebeu 10,7%, percentual maior que todas a dotação destinada à Região Norte e do que todos os estados do país, com exceção do Rio de Janeiro e de São Paulo."
A Capes repassa recursos para instituições que podem ser utilizados no financiamento de bolsas, por um período de 24 meses, no caso de mestrado, e de 48 meses, para o doutorado. De acordo com Luiz Valcov Loureiro, diretor de Programas da Capes, a redução dos recursos destinados às instituições de São Paulo é conseqüência da "política nacional que atrela a concessão de bolsas ao prazo de titulação". As universidades paulistas, ele continua, têm o maior tempo de titulação do Brasil, especialmente nos cursos de mestrado. Pelo critério de avaliação da Capes, tempo de titulação conta pontos, a favor ou contra, para o estabelecimento de cotas repassadas às instituições.
De qualquer forma, na opinião do diretor científico da FAPESP, as agências devem conversar e trabalhar em conjunto, sendo necessário um esforço concertado visando a uma redefinição das cotas federais para São Paulo, que permita atender ao crescimento da demanda qualificada. •
ASSESSORIA
Alternativas para uso de programas
Softwares de domínio público ou de acesso livre já podem ser utilizados
AFAPESP resolveu ampliar as alternativas disponíveis para
que seus assessores emitam por via eletrônica os pareceres iniciais ou de acompanhamento dos projetos de pesquisa sob sua avaliação, em qualquer das linhas de fomento da Fundação. Agora, programas que são de domínio público ou de acesso livre também podem ser utilizados, decisão que, aliás, atende a demandas originárias da comunidade científica paulista. Quem quiser continuar utilizando o Word pode fazê-lo porque a idéia por trás da inovação no sistema é justamente dar mais liberdade de escolha ao assessor.
Os novos formulários estão à disposição na página da FAPESP (saturno.fapesp.br) em três formatos: *.doe (documento do Microsoft Word), *.html (documento padrão Internet) e *.sdw (documento do Staroffice). A assessoria poderá optar pelo formato que considerar mais adequado. Os novos formulários *.doe, ao contrário dos antigos, permitem todo tipo de formatação de texto.
Embora seja muito conveniente para a FAPESP a recepção dos pareceres nesses formulários e em versão impressa, os assessores devem se sentir à vontade para imprimir os formulários e utilizá-los para uma versão manuscrita do parecer. Ou, até mesmo, fazer sua manifestação em estilo livre, sem utilização dos formulários, desde que contemplando todos os quesitos de avaliação que deles constam. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 19
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
INTERNET
Conexão em alta velocidade Programa vai estimular pesquisas ligadas à rede do futuro
A FAPESP está detalhando um .finovo programa de pesquisa
nas áreas de Tecnologia da Informação, telecomunicações e redes de computadores e softwares associados à Internet avançada . A idéia é mobilizar o ambiente acadêmico, empresas e governo em torno de projetas cooperativos visando formar recursos humanos e estimular o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnologia nesses setores atualmente considerados estratégicos para a economia, a ciência e a sociedade. O programa, batizado de Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada, já foi aprovado pelo Conselho Superior da Fundação e está sendo arquitetado por uma comissão formada por especialistas. Seu lançamento está previsto para o início do segundo semestre deste ano.
"As novas tecnologias envolverão negócios vultosos e o Brasil precisa participar desse mercado. Já temos uma Lei de Informática que permite que as empresas invistam em pesquisa em Tecnologia da Informação, softwares, entre outros, com vistas a esse mercado. Faltava uma agência de fomento para aproximar pesquisa e desenvolvimento, juntando universidade, empresas e o governo", justifica Fernando Paixão, do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele integra a comissão coordenadora do programa, da qual também fazem parte Carlos Antonio Ruggiero, do Instituto de Física de São Carlos,
20 · ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
Comissão de especia listas coordena elaboração do programa considerado estratégico
Luís Fernandes Lopez, do Departamento de Informática Médica da Faculdade de Medicina, Geraldo Lino de Campos, da Escola Pohtécnica, Imre Simon, do Instituto de Matemática e Estatística, todos da Universidade de São Paulo (USP), e Hugo Fragnito, do Instituto de Física da Unicamp.
Novas tecnologias- O programa quer incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, tanto em hardware como em software de redes de alta velocidade, estas, atualmente, na linha de frente da nova onda tecnológica. A comissão está trabalhando em um modelo de parceria entre instituições de pesquisa, empresas e governo, adequado à nossa realidade. Para tanto, está analisando vários modelos de associação que surgem, cada vez mais, em outros países. "O nosso objetivo é ter
um programa amplo de uso de Tecnologia da Informação para a Internet Avançada e manter a qualidade das pesquisas", afirma Imre Simon.
De acordo com o diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez, "com esse projeto, a FAPESP passa a um novo estágio em relação à Internet. A infra-estrutura da rede, da qual ela era provedora, passa a ser um grande laboratório de pesquisa': Ele destaca, ainda, a dimensão cooperativa do projeto. O governo, ressalva, será um parceiro importante. "Há possibilidade de contarmos com apoio governamental, entre outros, para utilizar a rede de fibra óptica que corre ao longo das estradas", adianta Perez.
Como sempre, a principal missão do programa é qualificar recursos humanos. Mas há outros grandes objetivos: trabalhar com problemas de relevância sócio-
econômica, recompor os quadros de empresas, além de incentivar a formação de pequenos empreendimentos. Na avaliação da comissão coordenadora, o número de especialistas atualmente disponível não é suficiente para enfrentar os desafios das novas tecnologias e promover o conhecimento e o domínio tecnológico acumulados ao longo das atividades de pesquisas. "Não dá para gerar competência Paixão: tecnologias e negócios vu ltosos em todas as áreas, mas é possível, por meio do programa, criar um efeito multiplicador desse conhecimento", ressalva Carlos Ruggiero.
Serão priorizados projetos de natureza cooperativa que permitam a integração de grupos de pesquisa das diversas áreas e instituições. Os temas dos projetas serão definidos pela comunidade de pesquisadores, cuja participação na construção do programa é considerada fundamental.
Pioneirismo - A comunidade acadêmica tem tido uma participação ativa na concepção de redes computacionais e na implementação da Internet, desde a década de 70. A FAPESP, por meio da Rede ANSP (Academic Network at São Paulo) e da implantação de redes locais, no âmbito do Programa de Infra-Estrutura, desempenha, desde
Simon: pesquisas com qualidade
ma deverá estar na origem de alguns processos de crescimento exponencial, típicos da Internet.
Um projeto de Laboratório Compartilhado, que está sendo elaborado por pesquisadores de diversos institutos de pesquisa e empresas da área de telecomunicações, pode ser considerado exemplo concreto dos objetivos que o programa pretende atingir. O projeto pressupõe a construção de uma rede de fibras óptiças ( testbed) de extensão estadual para ser utilizada tanto para fins experimentais, em pesquisa tecnológica, acadêmica ou empresarial, como para fins de comunicação acadêmica e institucional.
Essa infra-estrutura de fibra óptica poderá estar disponível para outros grupos de pesquisa e empresas interessados em desenvolver aplicações avançadas de rede de alto desempenho, tais como telemedicina, educação a distância, videoconferência em alta definição e controles de instrumentos na web. A mesma rede poderá tornar viável projetas de hardware para redes ópticas, tais como componentes ópticos, equipamentos, instrumentação, técnicas de medição e métodos de monitoramento de fibra óptica. E também poderá servir
de apoio para estudos sistêmicos, como arquitetura e segurança de rede, assim como para estudos fundamentais, como, por exemplo, os efeitos físicos que limitam a capacidade de transmissão de informação, criptografia quântica, entre outros.
Transmissão - Redes de alta velocidade como a Abilene ou a vBNS+, com extensão nacional, utilizam infra-estrutura de banda com capacidade de até 2,5 gigabites (Gb) por segundo. O testbed que está sendo projetado no Estado de São Paulo deverá adotar infra-estrutura de cabo óptico, com capacidade de transmissão de 400 Gb por segun-
do ou mais. Uma das 1989, papel fundamental para acelerar o acesso das universidades e institutos de pesquisa às novas tecnologias de informação e comunicação. O Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada pretende aprofundar e ievar adiante esse processo. Se bem-sucedido, o progra-
Características do projeto de rede de fibra óptica particularidades do cabo óptico é a capacidade de suportar diferentes redes operando simultaneamente, por trabalhar com múltiplas fibras interligando vários dos principais pontos. Em cada fibra, há a possibilidade de transmitir vários lasers em diferentes comprimentos de onda. •
Testbed Extensão Banda Max Infra-estrutura
Abi lene (USA) Nacional 2.5 Gb/s Banda
vBNS+ (USA) Nacional 2.5 Gb/s Banda
Canarie (Canadá) Nacional 320Gs/s Fibra Óptica
NTONC (USA) Interestadual 20 Gb/s Fibra Óptica
Testbed São Paulo Estadual 400Gb/sou Cabo Óptico Mais
Para maiores informações veja o si te: http://www.tidia.fm. usp.br
PESQUISA FAPESP · ABRILDE2001 • 21
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
DESENVOLVIMENTO
Ponte digital Bird reúne líderes do Brasil, da China e Índia para debater uso do conhecimento
insatisfatório, carência de incentivos à inovação tecnológica e poucos mecanismos de combate à corrupção. E reúnem 45% da população do planeta. Num cenário em que o Primeiro Mundo acelera a inovação tecnológica, essas deficiências estruturais podem aprofundar a distância entre o grau de desenvolvimento dos diversos países, levando ao que o Bird qualifica de "divisão digital".
ções, o banco adotou política de apoio aos países com o objetivo de estimulá-los a um uso mais efetivo do conhecimento para o desenvolvimento. O fórum é uma das estratégias do programa. Tem como meta chamar a atenção de seus participantes para a questão do conhecimento e municiá-los com metodologias que lhes permitam avaliar o grau de preparação de seus países para uma economia do conhecimento. Outra medida adotada pelo programa é desenvolver política de serviços que ajudem os países-clientes do Bird a criar estratégias concretas do uso do conhecimento na econom1a e nos demais setores da sociedade.
Membros do Brasil, da China e Índia reuniram-se na Ingla
terra para debater o futuro de seus países num cenário econômico m undial que privilegia o conhecimento e a inovação. O encontro, promovido pelo Instituto Banco Mundial (Bird), em Wiston House, no Wilton Park, uma propriedade do século 16 do governo britânico, na Inglaterra, entre os dias 19 e 25 de março, teve como tema o "Uso do Conhecimento para o Desenvolvimento". O objetivo da reunião foi debater com líderes de diversos setores estratégias para que, nos próximos anos, o conhecimento se torne um insumo mais efetivo para o desenvolvimento e a superação das desigualdades. "A capacidade de gerar e absorver conhecimento é determinante para o desenvolvimento. Para isto, a articulação entre Estado, empresa e universidade é essencial", disse Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da FAPESP, que participou do encontro na condição de membro da comunidade acadêmica b rasileira.
Brito Cruz, da FAPESP, no encontro de Wilton Park: Brasil vive momento favorável
Inovação- Apesar de diferentes, tanto do ponto de vista cultural como político, a partir de um conjunto de indicadores, o Bird classifica os três países como de renda média e em desenvolvimento. Esses países também têm em comum um conjunto de deficiências estruturais, como, por exemplo, baixo nível de educação superior, investimentos em pesquisa
22 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
Esta foi a terceira reunião do programa "Uso do Conhecimento para o Desenvolvimento". A primeira, na Finlândia, reuniu representantes dos países bálticos e da Polônia, em junho de 1999, e o segundo em Cingapura, com a participação de líderes da Coréia, Malásia, Tailândia e do Vietnã, em dezembro do mesmo ano. "O programa começou em 1998, logo depois que o Bird publicou o seu relatório sobre o gerenciamento do conhecimento", conta Antonio Magalhães, assessor principal da diretoria do Banco mundial no Brasil. A partir dessas informa-
Educação - Para que o conhecimento se torne ferramenta do desenvolvimento, na avaliação do Bird, é preciso que os países em desenvolvimento criem um sistema educacional abrangente e de boa qualidade, desde o ensino fundamental até a pós-graduação, especialmente agora, quando o processo tecnológico é mais sofisticado e a baixa qualidade da educação compromete o desempenho da força de trabalho. Para o banco, melhorar a qualidade e expandir o número de vagas no ensino superior são medidas estratégicas para qualquer país, já que é na uni-
Indicadores de C& T Tópicos
Gastos em P&D em relação ao PIB 0,81 o/o (96)
Gastos de empresas em P&D per capita (98) US$ 4,9
Participação de P&D no total de gastos das empresas 24,7% (97)
Desempenho de pessoal Cientistas/Engenheiros por milhão (87-97) 168
%de cientistas e engenheiros/total de estudantes universitários (87-97) 27%
Publicações científicas e técnicas (97) 3.908
Pedidos de patente (98) Residentes 2.535 Não-residentes 48.331
versidade que se educam os líderes da geração do conhecimento. E o percentual de jovens nas universidades, tanto no Brasil, como na Índia ou China, ainda é muito baixo.
"As estatísticas brasileiras nos colocam numa posição mais avançada entre países em desenvolvimento, mas ainda há um longo caminho a percorrer antes de considerá-lo efetivamente abrangente", afirma Brito Cruz. Além de ampliar o número de vagas, é fundamental que se implemente um novo sistema que seja formado tanto por universidades com excelência em ensino e pesquisa como por escolas de ensino superior, com cursos curtos mais eficientes para aumentar o nível educacional em massa. No ensino fundamental, o Brasil já conseguiu grandes avanços, atendendo 96% da população. Mas, no ensino secundário o percentual de matrículas é pouco superior a 30% da população entre 15 e 17 anos. A proporção de analfabetos na faixa dos 15 anos, embora em queda, ainda permanecia em 14,1 %, em 1996.
Nos três países, o papel das empresas ainda é muito pequeno, do ponto de vista da inovação tecnológica. "No Brasil, por exemplo, o sistema universitário tende a ser mais forte que o sistema empresarial", diz Brito Cruz. As empresas ainda usam pouco os especialistas formados nas
0,69% (98) 0,73% (94) renda média: 0,92% renda alta: 2,36%
US$ 2,4 US$ 0,5
42,9%(98) 15,2% (98)
454 149 renda baixa : 257 renda média: 668
43% 25% renda baixa: 28% renda média: 39%
9.081 8.439
14.004 2.111 Fonte:
68.285 7.997 Instituto Banco Mundial
universidades. No Brasil, o total de cientistas trabalhando nas empresas equivale a menos de 11 o/o dos pesquisadores do país. "Um sistema nacional de inovação deveria levar a que o desenvolvimento tecnológico fosse liderado pelas empresas."
Informação - Os debates em Wiston House concluíram que o Estado desempenha papel preponderante em um sistema nacional de inovação. Cabe ao Estado criar um ambiente adequado para que as empresas se preocupem com a inovação tecnológica, formulando, por exemplo, uma política de propriedade intelectu.al. A presença do Estado na vida nacional também deveria garantir patamares mínimos de planejamento.
Além da ampliação e melhora da educação e da implantação de um sistema nacional de inovação, outro aspecto discutido pelos representantes dos três países foi a capacidade de difusão das informações. "É preciso que as telecomunicações e a Internet se expandam para que a informação possa fluir e seja acessível para a maioria da população", detalha Brito Cruz.
Neste quesito, aliás, o Estado brasileiro está avançado. O secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Solon Lemos Pinto, também presente no fórum, apresentou os progra-
mas Governo Eletrônico e Telecomunidade, e surpreendeu os participantes do encontro. O Governo Eletrônico, em fase de implantação, vai conectar governo e cidadãos, permitindo, por exemplo, o acompanhamento de licitações, realizações de obras e de compras públicas. Por meio do Telecomunidade, o governo federal instalará terminais de computadores com acesso à Internet em escolas, hospitais e em todas as comunidades com menos de cem habitantes. O programa será financiado com verbas de um fundo formado por taxas pagas pelas empresas concessionárias de serviços de telecomunicações.
Ao reunir representantes e lideranças dos três países, a intenção do Bird foi "destacar e chamar a atenção dos formadores de opinião para esse quadro e alertar para o fato de que o avanço do conhecimento e da tecnologia poderá criar um fosso ainda maior entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento", explica Brito Cruz. A expectativa do banco é que esses "formadores de opinião" voltem a se reunir, por sua própria iniciativa, e criem um movimento em favor da inclusão digital de seus países. "O Brasil vive um momento favorável. O Ministério da Ciência e Tecnologia tem feito esforços importantes para colocar a ciência e tecnologia em destaque na agenda do governo. E a FAPESP tem dado uma boa contribuição com seus programas e resultados obtidos em São Paulo", diz Cruz. •
Relação de participantes brasileiros
José Paulo Silveira (Min. do Planejamento); Ca rl os
Américo Pacheco (Min. da Ciência e Tecnologia);
Edson Machado Souza (Min. da Educação); Ca rlos Henrique de Brito Cruz (FA PES P); Carlos
Frischtak (Worldinvest Emp. Consulta ria); Sergio Fausto (Min. da Fazenda) ; Mari a Clara do Prado
(Gazeta Mercantil); Soraia Thomaz Dias Victor
(Sec. Adm. do Ceará); Maurício de Almeida Abreu
(M in. da Cultura); Carl Dahlman (Bird ); An to nio
Magalhães (Bird ); Henry Uliano Q uaresma (M in.
da Cul tura); Alberto Po rtugal (Embrapa); Solon
Lemos Pinto (M in. do Planejamento); Anto nio
Barros de Castro ( U FRJ)
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 23
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
DESENVOLVIMENTO
Uma agenda federal Ministro de C& T vem a FAPESP apresentar as novas diretrizes do governo para o setor
AFAPESP recebeu em 13 de março passado a visita do ministro
da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg. Reunido com o presidente da Fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, e com seu diretor científico, José Fernando Perez, Sardenberg apresentou as novas diretrizes formuladas pelo governo federal para a política de ciência e tecnologia, dentro da chamada Agenda de Governo para o Biênio 2001-2002, divulgada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso cinco dias antes.
A execução das ações de C&T previstas na agenda será acompanhada de perto pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, órgão da Presidência da República integrado por oito ministros e oito representantes da comunidade científica nacional*, entre eles, o diretor científico da FAPESP. Esse Conselho, que em 22 de março passado realizou sua terceira reunião sob a presidência de FHC, tem justamente entre suas missões propor planos, metas e prioridades para o governo federal, efetuar avaliações relativas à execução da política nacional de ciência e tecnologia e opinar sobre propostas, programas e atos normativos de regulamentação dessa área.
aos recursos orçamentários do Ministério de Ciência e Tecnologia. Entre os planos do MCT estão também a elaboração de uma Lei do Conhecimento para o país, com o objetivo de eliminar obstáculos à aplicação do conhecimento por parte de pesquisadores e professores universitários, estimular sua capacidade empreendedora, e a revisão da lei de incentivos ao setor privado para investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), de modo a induzir uma maior participação das empresas brasileiras na atividade de geração do conhecimento no país.
Com o reforço dos fundos setariais, os investimentos nacionais em P&D deverão superar 1% do Produto Interno Bruto (PIB) . "A diretriz que temos para o decênio é aproximar o Brasil do padrão médio dos países que fazem parte da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujos investimentos em C&T estão na faixa
de 2,4% a 2,5% do PIB': disse o ministro Ronaldo Sardenberg.
Em sua visita à FAPESP, Sardenberg observou que "em São Paulo, qualquer esforço do governo federal para incrementar a atuação em ciência e tecnologia pressupõe trabalhar em conjunto com a FAPESP". E acrescentou que esse esforço deve envolver também a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. São Paulo, argumentou, "é objeto de 30% a 35% das ações do Ministério. Aqui, várias instituições, como o Instituto Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), são fortes. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por exemplo, consome mais da metade dos investimentos federais em institutos de pesquisas".
A FAPESP já desenvolve ações em conjunto com o ministério. "O Projeto Nacional de Biotecnologia, por exemplo, incorpora partes do Programa Genoma, da FAPESP, e tem o mesmo coordenador do Projeto Genoma da Xylella, Andrew Simpson. Esperamos aprofundar a interação de forma a ter uma colaboração mais orgânica incluindo ações em outras áreas do conhecimento", diz o presidente da Fundação, Brito Cruz.
As diretrizes da agenda federal trazem embutida a expectativa de que os 10 fundos setoriais de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, criados no ano passado, garantam para a área, ainda neste ano, mais R$ 800 milhões, que se somarão O ministro Sardenberg (2'?à esq.) apresentou a Agenda de Governo na FAPESP
24 · ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
Recursos para bolsas - Os planos do governo federal para C&T, nos próximos dois anos, incluem a expansão dos programas de bolsa de mestrado e doutorado; a ampliação para R$ 200 milhões dos investimentos em infra-estrutura do ensino superior, e a criação de novos fundos setoriais também nas áreas de biotecnologia, aeronáutica, saúde e agronegócios, além da implantação de uma rede de comunicações de dados - a RNP2 - capaz de dar suporte à pesquisa e reforçar a capacidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ( CNPq), entre outras.
Um dos pontos da agenda federal que já começou a ser implementado prevê a implantação de um Centro de Estudos e Gestão Estratégica, destinado a formular as diretrizes para a aplicação dos recursos dos 10 fundos setoriais. Ele terá que estabelecer prioridades para a aplicação desses recursos em colaboração com agências como a Financiadora de Estudos e Projetas (Finep) e o CNPq, além de acompanhar e avaliar as pesquisas realizadas no país. "Em todo o mundo, existe uma ênfase em ciência e tecnologia. O Brasil está participando desta competição mundial que leva à concentração do conhecimento. É preciso adotar medidas estratégicas para que o país se mantenha no páreo, se beneficie e melhore a sua posição relativa", afir-mou o ministro. •
* São membros permanentes do Conselho
Nacional de Ciência e Tecnologia o pres idente da
República, Fernando Henrique Cardoso (pres i
dente do conselho ) e os ministros da Ciência e
Tecnologia, Ronaldo Sardenberg (secretá rio exe
cutivo ); Defesa, Geraldo Quintão; Desenvo lvi
mento, Indústria e Comércio Exterior, Alcides
Tápias; Educação, Paulo Renato Souza; Fazenda,
Pedro Malan; Integração Nac io nal, Fernando Be
zerra; Planejamento, O rçamento e Gestão, Martus
Tavares; Relações Exterio res, Celso Lafer.
São membros titulares Carlos José Pereira de
Lucena (PUC-RJ); Eduardo Moacyr Krieger (Acade
mia Brasileira de Ciências); Fernando Galembeck
(Unicamp); Hermann Wever (Câmara de Comér
cio e Indúst ria Brasil/Alemanha); José Fernando Pe
rez (FAPES P); Ozires Silva (Va ri g); Paulo Haddad
(UFMG ); Roberto Santos (UFBA)
ConSITec
Você só ganha • o JOgo com uma
equipe entrosada No esporte ou na atividade empresarial, time vencedor é o que combina esforços. Por isso a FAPESP criou o ConSITec- Consórcios Setoriais para Inovação Tecnológica. Eles devem reunir no mínimo três empresas de um mesmo setor industrial e um ou mais pesquisadores paulistas para a realização de pesquisa tecnológica destinada ao desenvolvimento de produtos ou processos ou à solução de problemas do setor. A FAPESP entra com uma parte significativa dos recursos, cobrindo até 50% dos investimentos necessários por até seis anos, dentro de um limite anual de R$ 200 mi l por consórcio. Será financiado apenas um consórcio por setor e, quando formado por pequenas empresas, não há necessidade imediata de contrapartida. Os projetas podem ser apresentados em qualquer época do ano.
Monte o seu consórcio, o seu time. E ganhe o jogo.
Acesse www.fapesp.br e obtenha mais informações.
~~ ~ ~ GOVERN O DO ESTADO DE
SÃO PAULO
Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico www .fapesp .br
Um pequeno grupo de pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Londrina, conseguiu desenvolver uma variedade comercial de laranja com gene resistente a bactérias. O trabalho levou dois anos e teve baixo custo (entre R$ 8 mil e R$ 10 mil) porque foi feito um acordo com o Instituto Nacional de Recursos Agrobiológicos de Tsukuba, no Japão: os japoneses cederam o gene stx IA, que codifica um peptídeo (fragmento de proteína) antibacteriano
• Mamíferos reorganizados
Pode estar próxima, enfim, a conciliação entre duas abordagens distintas de classificação zoológica - uma com base em dados morfológicos (de estudos anatômicos e fósseis) e outra em evidências moleculares (resultantes de análises de DNA) . Biólogos da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, integraram 430 árvores ftlogenéticas com 315 artigos científicos publicados entre 1969 e 1999. Como resultado, criaram mais seis ordens de um grupo de mamíferos - os que têm placenta. Já havia 18 ordens esta
CIÊNCIA
LABORATÓRIO
Paraná cria laranja transgênica com alta atividade inibitória contra alguns tipos de bactérias, especialmente a Xanthomonas citri. Luiz Gonzaga Esteves Vieira e Luiz Filipe Pereira, do Iapar, João Bespalhok Filho e Adilson Kobayashi, bolsis-tas do CNPq, dizem que o trabalho ainda está no início e será preciso multiplicar
Muda de laranjeira
transgênica do lapar
do publicado na rev ista Science ( 2 de março), as baleias estão no grupo vizinho ao do hipopótamo e ambos na ordem Artiodactyla, por causa da forma dos ossos dos dedos (na baleia, escondidos nas nadadeiras); a toupeira,
e testar as mudas geneticamente modificadas até ter a certeza de que a planta é resistente ao cancro cítrico,
doença que atinge os laranjais e causa prejuízos de até R$ 300 milhões
por ano. "Só teremos respostas
seguras em pelo
com os elefantes e peiXesbois, em um conjunto de animais com ancestrais comuns, na ordem Afrotheria. Prossegue inabalável, porém, a idéia de que classificações moleculares podem servir como estrutura para estudos de relações evolutivas, enquanto as evidências m~rfológicas e fósseis ainda são usadas para registrar as mudanças ao longo das eras geológicas. •
• Muito além dos vermífugos
belecidas. No estu- Baleia: vizinha dos hipopótamos
Agora se sabe por que as cólicas, dores abdominais, vômitos, diarréias, fraqueza e palidez apareciam com freqüência entre os estudantes do Ciep Juscelino Kubitschek, no Rio de Ja neiro. Eram sinais de verminoses. Uma equipe da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou que 45% dos 800 estudantes - de 4 e
26 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
menos dez anos", estima Vieira, líder do grupo e coordenador do Laboratório de Biologia Molecular e Biologia Celular do instituto. Pode ser que o peptídeo escolhido não funcione a contento. "Mas aí testaremos outro até conseguirmos o resultado desejado." O pesquisador acredita que o trabalho poderá facilitar as aplicações práticas dos resultados obtidos no projeto de seqüenciamento da bactéria Xanthomonas, financiado pela FAPESP e concluído no ano passado. •
17 anos de idade, acompanhados desde 1997- carregavam os vermes que causavam ascaridíase, estrongiloidíase, ancilostomíase ( amarelão) ou tricuríase, além dos protozoários responsáveis pela amebíase e giardíase. Considera-se aceitável até 17%. Depois de tratar os doentes com vermífugos, os pesquisadores da ENSP, sob a coordenação da pediatra Maria de Fátima Lobato Tavares, querem agora debater com professo res e alunos questões como alimentação, higiene, saneamento, habitação, hábitos de vida e relações com o ambiente e com a fa mília. "Procuramos sempre atender as demandas que a escola apresenta", diz Maria de Fátima. O grupo da Fiocruz inicia agora o trabalho na segunda das quatro escolas que pretende . atender. Na região vivem cerca de 40 mil pessoas em nove favelas e três conjuntos habitacionais. •
• Traduzidos poemas mais antigos
O texto mais antigo cujo autor é conhecido ganhou uma tradução em inglês moderno, acessível aos leitores comuns. Há pelo menos 50 anos já se sabia que o primeiro autor conhecido da história era uma mulher. Ocorre que os textos eram guardados a sete chaves, disponíveis apenas para poucos estudiosos. Agora, uma analista junguiana aliou -se a especialistas na antiga civilização assíria, oriunda da Me-
sopotâmia, e traduziu pela primeira vez os escritos da sacerdotisa Enheduanna, filha do rei Sargon, que viveu há cerca de 4 mil anos na cidade de Ur, atual sudeste do Iraque. Enheduanna foi a mais alta autoridade religiosa na Mesopotâmia por volta de 2300 anos a.C.. Seus textos, escritos na linguagem cuneiforme (em forma de cunha, gravada em tábuas de barro), são poesias em homenagem a uma deusa chamada Inanna, adorada pela sacerdotisa. O material vem sendo estudado de modo esparso desde sua descoberta, no começo do século 20. Com a ajuda de especialistas na cultura e língua da Mesopotâmia da Universidade da Califórnia, em Berke-
ley, Estados Unidos, a psicóloga Betty DeShong Meador reconstruiu os poemas linha por linha. O resultado é uma poesia repleta de luta, agonia, êxtase e louvor. E o mais surpreendente: há mais de 4 mil anos, uma mulher já escrevia sobre uma representação feminina como poucos o fizeram depois. "Na concepção de Enheduanna, a deusa Inanna abria novos caminhos para diferentes visões da mulher", diz Betty, que publicou o livro Inanna, Lady of Largest Heart (University of Texas Press, Austin). Inanna é
mostrada de maneira profundamente humana,
como uma mulher feroz e cruel, mas
também amorosa e doce. "Ninguém na religião ocidental toca nesse ponto como ela." •
Representação de Enheduanna (3'!figura
à dir.) em pedra calcária
• Mal da vaca louca ataca felinos
Primeiro foi Major, um leão de 12 anos que vivia no zoológico de Newquay, na Inglaterra. Estava sofrendo tanto com a perda do movimento das pernas que os veterinários resolveram sacrificar o animal. A autópsia causou surpresa: Major tinha encefalopatia espongiforme felina (FSE), uma variação da doença da vaca louca, que infectou 180 mil animais do rebanho bovino britânico desde que surgiu, em 1986. Provavelmente, o leão pegou a doença por ter comido o cé-
Missão cumprida
Depois de 15 anos de serviços
prestados na órbita terrestre
(acima), a estação espacial Mir
entrou na atmosfera dia 23
de março. Foi sua última missão - e
bem-sucedida. Desmanchou -se
(à dir.) sem causar estrago na Terra.
rebro e a carne da coluna vertebral de gado, no qual é maior o risco de desenvolver a encefalopatia espongiforme bovina (BSE), conhecida como mal da vaca louca. A FSE foi verificada em três leopardos, três pumas, três onçaspintadas e dois tigres. Em 1990, o gato siamês Mad Max foi encaminhado à Escola de Veterinária de Bristol, na ln-
gando com a cabeça voltada para
Gato siamês: contaminação
a direita, tornou-se o primeiro caso de gato doméstico com FSE, que pode causar também desorientação espacial e tonturas. Acredita-se que a doença se espalhe por meio da ração com que osgatos se alimentam. Embora não haja registro de caso semelhante em felinos no Brasil, no mês passado, a Agência de Vigilância Sanitária brasileira proibiu a importação e distribuição de carne, miúdos, vísceras, sangue ou outros derivados - exceto leite e produtos lácteos - de boi, ovelha, cabra, búfalos e ruminantes silvestres, como o javali, de 13 países europeus. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 27
CIÊNCIA
John Quackenbush, da TIGR Charles Auffray, do CRNS Sergio Verjovski, da USP Tânia Beatriz, da UFSC
GENOMA
BIG, a grande conferência Relatos de personalidades e projetas de peso marcam evento internacional
C onvidados da Europa, dos Estados Unidos, África, América Latina e Austrália eram as grandes estrelas do
evento, mas foram os brasileiros que deram as boas notícias da BIG Conference, sigla de Brazilian International Genome Conference, reunida de 26 a 29 de março no balneário fluminense de Angra dos Reis.
Foi anunciado o projeto de seqüenciamento parcial do parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose, e apontada pela primeira vez a região genética onde se pode esconder o mecanismo biológico que permite o ataque aos laranjais por duas bactérias diferentes, Xylella fastidiosa e Xanthomonas citri. A BIG foi organizada pela FAPESP, o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio da revista britânica Nature.
28 • ABRil DE 2001 • PESQUISA FAPESP
Com mais de 500 inscritos e 50 palestrantes, a conferência serviu também para apresentar à elite da genômica a Rede Nacional de Se-
lnternational Conference
ta é produzir 120 mil ESTs (etiquetas de seqüências expressas) a partir do DNA do parasita. "Vamos estudar estágios do ciclo de vi-
qüenciamento do Pro-jeto Genoma Brasileiro. Lançada em dezembro pelo CNPq, a iniciativa abrange 25 laboratórios de biologia molecular do país, que seqüenciarão o genoma da Chromobacterium violaceum, bactéria importante para· as áreas ambiental, industrial e de saúde pública. Seu mapeamento genético foi proposto por Tânia Beatriz Creczynscki-Pasa, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Na abertura do evento, o diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez, anunciou o projeto do Schistosoma mansoni, que será tocado por laboratórios da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Ludwig, com apoio dos institutos Butantan e Adolfo Lutz. Orçado em US$ 850 mil e previsto para 12 meses, o projeto usará o método Orestes, desenvolvido na filial brasileira do Ludwig para gerar informações sobre as regiões codificadoras (que dão origem a proteínas) do genoma. A me-
da do parasita para tentar entender sua biologia. Nosso objetivo final é desenvolver novas formas de tratamento ou uma vacina contra a esquistossomose", disse Sergio Verjovski-Almeida, do Instituto de Química da USP, coordenador do projeto. A esquistossomose, que causa lesões no fígado, hemorragias e a chamada barriga d'água, afeta 10 milhões de brasileiros, sobretudo no Nordeste e Centro-Oeste, onde é endêmica, e mais de 200 milhões de habitantes de zonas tropicais do planeta.
Nos dois primeiros dias e parte do terceiro, as discussões giraram em torno do genoma humano. Houve apresentações de bioinformática - o aparato metodológico-computacional envolvido na montagem dos fragmentos seqüenciados de DNA e na procura, com softwares, de genes contido no código genético de qualquer organismo. Nessa área, destacou-se a palestra de Walter Gilbert, da Universidade de Harvard, que ganhou o Prêmio Nobel de Química de
Winston H ide, do Sanbi Kurt Wuthrich, do ETH Robert Strausberg, do NCI Gene Myers, da Celera
Platéia seleta: é grande a possibil idade de uma repetição do evento no próximo ano
1980 por desenvolver uma das primeiras técnicas de seqüenciamento rápido de nucleotídeos (pares de bases), o chamado método químico, usado entre meados das décadas de 70 e 80.
Atraiu grande interesse a fala de Gene Myers, da Celera, empresa norte-americana de biotecnologia que produziu uma versão privada do genoma humano e é a grande rival do seqüenciamento feito pelo consórcio público. Este, aliás, estava representado por Tim Hubbard, chefe do Grupo de Análise do Genoma Humano do Sanger Centre, o braço britânico da iniciativa. Já John Quackenbush, do The Institute for Genomic Research (TIGR), dos Estados Unidos, um pesquisador de estilo despojado, fez a platéia rir ao tratar de um tema árido, o uso de microarrays para analisar
áreas expressas de genoma em certas condições. E Winston Hide, do Soqth African National Bioinformatics Institute (Sanbi ), se disse "excitado por falar para uma platéia do Hemisfério Sul". Robert Strausberg, do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, comentou as pesquisas genômicas em sua área. O francês Charles Auffray, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), mostrou ostrabalhos de sua instituição com genes humanos expressos no cérebro e nos músculos. O suíço Kurt Wuthrich, do Instituto Tecnológico de Zurique (ETH), falou sobre o príon, forma de proteína que provoca no cérebro humano a doença de Creutzfeldt-Jakob, distúrbio degenerativo raro e fatal, semelhante à encefalopatia espongiforme bovina ou mal da vaca louca. "Estamos tentando entender a estru-
trura dessa proteína e ver o que ela faz': afirmou Wuthrich. A genética de plantas ocupou o fim do terceiro dia.
Nos genomas bacterianos, que ficaram para o final, a pesquisa nacional teve destaque. Além do fim do seqüenciamento da bactéria Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico, e da formação da rede nacional para decifrar o DNA da Chromobacterium, anunciou-se o estudo comparativo do material genético de seis bactérias, apresentado por MarieAnne van Sluys, do Instituto de Biociências da USP. De posse da configuração geral do genoma da Xylella fastidiosa que ataca videiras da Califórnia, cujo seqüenciamento por laboratórios paulistas está praticamente concluído, ela confrontou esses dados com os de três variantes da mesma bactéria - dos citros, da amendoeira e da espirradeira- e com os de duas cepas da Xanthomonas, a citri (dos laranjais) e a campestris (de outras culturas). Segundo as primeiras conclusões, há uma região de cerca de 25 mil pares de bases só presente nos genomas das bactérias especializadas em citros. "Essa região é candidata a um estudo mais detalhado: pode conter informações importantes para entendermos como ocorrem as infecções", afirmou a pesquisadora da USP. Encerrada nesse clima de boas perspectivas para a genômica nacional, a BIG Conference pode ser reeditada no próximo ano. "O evento foi um sucesso", resumiu Andrew Simpson, do Instituto Ludwig e idealizador da conferência. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 29
n lnternational PMII'V1ru:o Conference
I
ENTREVISTA
WALTER GILBERT
Opiniões de um Nobel Para ele, a era da genômica está perto do fim e, nos próximos anos, o grande esforço será no proteoma
I nventor de um dos primeiros métodos de seqüenciamento de DNA, o que lhe valeu o Nobel de Química de 1980, o norteamericano Walter Gilbert foi a
estrela da BIG Conference. Aos 69 anos, o biólogo de Harvard, onde comanda o laboratório de bioinformática que tem seu nome, é irrequieto e provocador. Diz que a genômica só tem mais cinco anos de vida e avalia mal o estágio da procura por genes do ser humano: "Nossas projeções ainda são muito ruins: deve haver mais de 30 mil genes humanos". Critica os países africanos que querem remédios baratos para a Aids. Fundador da Biogen, da qual se desligou, e atual diretor da Myriad Genomics, condena a forma como a Celera entrou na corrida do genoma. Suas opiniões estão nesta entrevista a Marcos Pivetta.
• Como o senhor compara o estágio da pesquisa genômica hoje com o estudo que se fazia quando começou na área? - Comecei há 40 anos e, no início dos anos 70, ainda era virtualmente impossível fazer seqüenciamento de genes. O trabalho de seqüenciar um fragmento de DNA, com 20 pares de bases, demorou praticamente dois anos. Em 1975, quase que por acidente, descobri um método rápido de seqüenciar fragmentos de DNA, mais ou menos no mesmo momento em que Frederick Sanger (britânico que dividiu o Nobel de 1980 com Gilbert) e seus colegas desenvolveram um método semelhante. Essas descobertas tornaram possível seqüenciar milhares de pares de bases de DNA
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' ' Fazemos coisas fantásticas com o
cérebro, mas não sabemos quais os genes e os
produtos desses genes - proteínas - envolvidos
na memória ''
num dia, numa tarde. Mas ninguém imaginava que se poderia obter toda a seqüência do DNA humano.
• Era um sonho impossível? - Trabalhávamos nos primeiros genes, que tinham milhares de pares de bases: dez mil pares de bases. Ninguém pensava em seqüenciar bilhões de pares. Mas, como os métodos de seqüenciamento rapidamente se espalharam pelo mundo, logo houve um acúmulo de informações genéticas. Lembro de, por volta de 1985, ter participado da primeira discussão sobre se era tecnicamente possível seqüenciar o genoma humano. Na época, achava-se que era uma idéia absurda, um projeto grande demais para ser tocado. Mas saí da discussão convencido de que seria possível e seria bom para a ciência.
• Havia muita resistência a isso? - Muita gente não via os benefícios que esse tipo de empreitada renderia, em termos de acelerar toda a pesquisa biológica e a busca por novas drogas. Só nos cinco anos seguintes ficou óbvio, depois de muitos encontros e
reuniões, que seqüenciar o genoma humano seria muito útil. E começaram a aparecer estimativas de quanto custaria. Em 1985, já se falava em US$ 3 bilhões, valor que, grosso modo, acabou sendo o custo total do projeto público, diluído ao longo de dez, 15 anos- oficialmente, o projeto Genoma Humano só começou em 1990, quando os governos dos Estados Unidos e da Europa decidiram apoiá-lo. A meta inicial era terminar o seqüenciamento em 2005.
• Em fevereiro, o consórcio público e a Celera publicaram versões quase finais do genoma humano. Quando teremos a versão definitiva? -Temos uma seqüência com 95% das informações: num ano será terminada. É preciso esclarecer uma coisa: de certo modo, depois que os métodos de seqüenciamento rápido foram descobertos, terminar o seqüenciamento é puramente um exercício técnico. Entender a seqüência é outra questão, totalmente diversa.
• É aí que começa a ciência propriamente dita? -Certamente. Entender a seqüência é entender toda a biologia. É o desafio dos próximos anos. Em princípio, a partir da seqüência completa, um computador deveria prever todos os genes e ver as regiões que codificam proteínas. Isso ainda não é possível, pois depende de termos um nível de compreensão das funções da seqüência que ainda não atingimos. A discussão sobre número de genes é divertida, mas vazia. O número não
importa muito: só dá uma fraca pista sobre a complexidade do organismo.
• O senhor disse que a genômica tem cinco anos de vida e depois será a vez do proteoma. O que se fará até lá? - O que já fazemos e faremos nos próximos cinco anos: comparar o genoma humano ao de outros organismos, como boi, camundongo, rato, chimpanzé, plantas e bactérias de todo tipo. Usaremos essas analogias para todos os genes humanos e faremos uma lista. A partir desses estudos, também conseguiremos conhecer a evolução de várias espécies, ver como os genes de um organismo se tornam genes de outro. Isso ajudará a dar pistas sobre as funções - dos genes humanos - e dará idéias muito profundas sobre a origem da vida, há 4 bilhões de anos. O grande problema será o que chamamos de proteoma: como identificar todas as proteínas de um organismo e ver suas interações. Teremos de entender como o organismo se desenvolve e funciona. Fazemos coisas fantásticas com o cérebro, mas não sabemos quais os genes e os produtos desses genes - proteínas - envolvidos na memória. Conhecemos uns pedaços do problema, outros não. Essas são as grandes questões da biologia.
• Os leigos esperam ansiosos pelos resultados práticos da pesquisa genômica. Quando as novas formas de diagnóstico e tratamento de doenças vão efetivamente chegar à sociedade? -Isso já acontece. Novas formas de diagnóstico surgiram do trabalho genômico. Essa área cresce rapidamente. Eu mesmo estou envolvido numa companhia que investe nisso, a Myriad Genomics, que já tem um teste para detectar mutações e predisposição para câncer de mama e ovário, outro para câncer de cólon e, no fim do ano, introduzirá um exame de predisposição a câncer de próstata. Nos próximos cinco ou dez anos, surgirão mais e mais testes que detectam na pessoa genes ou defeitos em
genes que causam doenças. Todas as companhias farmacêuticas usam esse tipo de abordagem. Nos próximos dois anos, o grande esforço dessas empresas será na área de proteoma: tentar entender as interações de proteínas que levam às doenças e desenvolver drogas. Todo esse esforço deve levar a novas drogas a curto prazo.
• Qual é o curto prazo? -Seis anos: é o necessário para fazer os testes clínicos, mostrar que a droga é eficiente e segura e ela ser aprovada para venda. É um processo lento, mas já é visível uma melhoria na qualidade dos tratamentos. Peguemos o caso da Aids. Foi descoberta no começo dos anos 80 e não havia tratamento: as primeiras drogas só surgiram no fim dessa década e início da de 90. Há . . cmco anos, surgm a se-gunda leva de medicamentos e hoje há um tra
pequeno, sejam mais caras. É melhor assim do que não ter drogas de forma alguma. Elas não se criam sozinhas, é preciso encorajar as pessoas e as empresas a arriscar dinheiro na tentativa de desenvolvê-las. Claro que há uma alternativa: o governo pode pagar pelas drogas, por seu desenvolvimento, mas, na minha opinião, é um jeito terrivelmente ineficiente de fazer a coisa. É difícil convencer
tamento bastante bom, Gilbert: melhor pagar por remédios que por aviões embora não haja a cura.
• Que acha de países questionarem o preço dos remédios contra a Aids? • - Não os vejo reclamarem do preço dos jatos lançadores de bombas que eles compram. É uma questão de estabelecer prioridades. A maioria dos países da África que reclamam gasta muito no setor militar.
• As drogas contra Aids não são caras? -São, mas e o preço de um jato que lança bombas? Não é muito alto? As drogas são caras, mas em cinco ou seis anos deverão ficar mais baratas. Você pode argumentar que já deveriam ser mais baratas. Elas são fruto de um processo social, uma escolha da sociedade: temos sistema de patentes porque a sociedade acha melhor ter as drogas disponíveis mais rapidamente, ainda que, por um período
um governo a investir na pesquisa de drogas, uma atividade de risco: afinal, a droga pode não funcionar.
• Voltando ao genoma, a entrada da Celera no seqüenciamento foi positiva? - Não acho que foi correto a Celera exagerar a eficiência de seu método de seqüenciamento. Erradamente, tentou acabar com o projeto público insinuando ser desperdício de dinheiro. Na verdade, fez um esforço para tentar estabelecer um monopólio sobre as informações do genoma humano e convencer o Congresso americano a não dar verba para o projeto público. Queria se tornar um espécie de Microsoft do setor. No fundo, o que estava dizendo era mais ou menos isso: 'A seqüência é tão valiosa que a quero só para mim'. Não acho que tenha obtido êxito nesse intento. •
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ENTREVISTA
TIM H U BB ARD
Uma posição aplaudida Inglês do consórcio do genoma defende pesquisa em países periféricos e opõe direitos humanos a patentes
Chefe do grupo do Sanger Centre, braço britânico do consórcio público para o genoma humano, Tim Hubbard
foi muito aplaudido por sua fala na BIG Conference. Com postura oposta à de quem o antecedeu - Gene Myers, à frente da bioinformática da empresa Celera -, Hubbard conquistou a audiência ao defender enfaticamente o acesso público aos dados do genoma humano e exortar países menos desenvolvidos a pesquisar e desenvolver seus próprios remédios.
•Para um país periférico como este, de que vale estar em projetas genômicos? -Bem, vocês entraram para o clube. Geraram informação reconhecida internacionalmente na forma de ESTs (etiquetas de seqüências expressas). Esta conferência, com tanta gente de fora, é uma forma de reconhecimento desse trabalho. Fazer genoma não foi algo trivial. Antes de tudo, foi preciso haver investimentos em infra-estrutura. Todo país deveria ter conhecimentos sobre genoma. É um capital intelectual fundamental para este século. Afinal, cada nação tem interesses particulares e necessidades específicas, como, por exemplo, pesquisar prioritariamente as doenças e pragas agrícolas que mais a assolam.
• Pelo dinheiro investido no seqüenciamento e estudo de genomas, pode-se dizer que o custo das drogas e tratamentos resultantes será alto? - Sim, mas há um jeito de driblar o problema. Vocês mesmos podem de-
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'' Fomos desafiados pela Celera, uma companhia agressiva. Eles tentaram parar o projeto público, dizendo que devíamos
trabalhar com o genoma
do camundongo ''
senvolver tratamentos. Os países devem fazer pesquisa, ter as capacidades e a infra-estrutura para isso. Muitas áreas, julgadas não atrativas comercialmente, podem ser atacadas. O ponto central das políticas públicas deve ser maximizar os benefícios dos investimentos em pesquisa. É preciso dar incentivos.
• É contra patentes na área médica? -Para mim, é um problema de direitos humanos. Analisemos a situação da Aids na África: ela devasta o continente. No Brasil, sua situação ainda deve ser preocupante. Mas temos drogas eficientes no controle da doença, sabemos como são feitas e seu processo não é caro. O único problema é a propriedade intelectual, que inflaciona o preço. Por trás disso estão as patentes, componente importante da estrutura econômica mundial. Mas não se pode esquecer que há áreas da atividade econômica reguladas de outras formas, sem o princípio da propriedade intelectual. Talvez devêssemos olhar a questão das drogas de outra maneira.
• Como viu a disputa entre a empresa Celera e o consórcio público, para ver quem terminava primeiro a versão inicial do genoma humano?
Hubbard: ações para maximizar os invest imentos
- Sabíamos que tínhamos uma missão. Num dado momento, fomos desafiados pela Celera, uma companhia agressiva. Eles tentaram parar o projeto público, dizendo que devíamos trabalhar com o genoma do camundongo. Nos preocupamos em não dormir no ponto. Se parássemos, no final da história não teríamos nenhum genoma humano pronto: a Celera precisou dos dados públicos para o seu modelo. Por sorte, continuamos.
• Já se diz que genoma humano é coisa do passado e que a nova ordem agora é o proteoma. Serão necessários softwares novos para estudar o proteoma? - Há muitas ferramentas à mão para proteínas, diria até mais avançadas que as da genômica. Mas teremos de comparar m uitos genomas para tentar entender a estrutura e o funcionamento das proteínas. Comparando, você pode transferir funções. Para compreender nosso corpo, como são as doenças, como tratá-las, teremos de ter um grande entendimento sobre como as células trabalham. Para chegar a esse nível, precisaremos de um sistema computacional que mostre como todos os componentes celulares interagem. É algo muito difícil de desenvolver. Mas, como sabemos de muitas similaridades de função entre organismos, se seqüenciarmos o DNA de várias espécies poderemos extrair evidência experimental de um e relacioná-la a outro. Muitas empresas pesquisam a estrutura das proteínas. A experiência delas mostra que, para cada organismo em particular, só é possível obter 40% das estruturas das proteínas. Mas, se você relaciona a informação de um organismo com a de outro, pode conseguir 80% das estruturas.
• Quais organismos deveriam ser mapeados para essas comparações? O chimpanzé, o camundongo? -O chimpanzé é muito próximo de nós e, por ora, não aprenderemos muito com ele. Já o camundongo, uma discussão em curso aponta a possibilidade de que seja ainda mais diferente de nós do que esperávamos. Então, agora há m uito interesse num intermediário: animais de fazenda, como a vaca e o porco. Seqüenciar organismos é muito fácil. O interessante é trabalhar com biologia em larga escala, fazer experiências com chips que mostram os genes expressos e quais proteínas são utilizadas por um organismo em determinada situação. Esse é um grande trabalho para a bioinformática. •
CIÊNCIA
Vitória, primeiro anima l clonado no Brasi l, e a "mãe de aluguel": interação de técnicas
ZOOTECNIA
Gestação alternativa Clonagem acelera as pesquisas de conservação de recursos genéticos
D e parto normal, pesando 50 kg, nasceu em 17 de março o
primeiro animal clonado no Brasil: a bezerra Vitória, que cresce sem problemas numa fazenda da Emp;esa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) próxima a Brasília. Pode ser o caso de se festejar também o domínio de uma técnica - a transferência nuclear- e o início de uma nova etapa nas pesquisas de melhoramento genético e de conservação de recursos genéticos em vias de extinção. Estima-se que a clonagem ajude a realizar em um ano o trabalho que hoje toma 12 anos.
O médico veterinário Rudolfo Rumpf, coordenador do projeto de biotecnologia de reprodução animal da Embrapa, examina a situação sob a perspectiva histórica. Para ele, Vitória ainda tem maior valor científico e biológico do que produtivo. "Ainda temos muito trabalho", diz.
Sua equipe produziu 24 embriões e transferiu 15 para "mães de aluguel" -e apenas uma gestação vingou.
Vitória provém do material genético de um embrião de cinco dias, coletado de uma doadora da raça simental. Em 1997, um caminho mais complexo levou à ovelha Dolly, concebida a partir de células de um animal adulto. "Após a fecundação in vitro, reconstruímos o embrião em laboratório", conta Rumpf. Reiterase assim, segundo ele, a importância da interação de técnicas: o embrião usado no experimento como fonte doadora de núcleo foi gerado pela transferência de embriões clássica.
O segundo - "Haverá um avanço notável nessa área no Brasil nos próximos anos", diz Rumpf, com base na soma de esforços com os laboratórios que trabalham com a transferência nuclear em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pará. O primeiro clone brasileiro obtido por uma técnica mais semelhante à de Dolly pode nascer em breve: na fazenda em que Vitória nasceu, está em gestação um bezerro clonado a partir de células da orelha de uma vaca. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 33
CIÊNCIA
BIOTECNOLOGIA
Vem aí a vacina quatro em uma Coquetel imuniza animais contra tuberculose, difteria, tétano e coqueluche
Pela primeira vez, em meio a tentativas em curso pelo mun
do, cientistas brasileiros fizeram com que proteínas fabricadas pelas bactérias que provocam difteria, tétano e coqueluche fossem expressas num microrganismo - a micobactéria BCG, usada como vaci-
por M. bovis como por M. tuberculosis, o BCG foi usado pela primeira vez como vacina em 1921. Em 1927, a Liga das Nações recomendava sua aplicação generalizada e, hoje, é a vacina mais usada no mundo.
BCG recombinante - Muito seguro -os poucos efeitos colaterais não põem em risco o paciente -, o BCG tem qualidades para servir de base a outra vacina: é uma micobactéria, cujas paredes têm componentes que lhe dão uma resistência muito gran-
BCG expressasse proteínas dos outros três agentes - os que provocam difteria, coqueluche e tétano - foi maior do que se estivesse sendo usado um microrganismo mais conhecido, como a Escherichia coZi. "O primeiro BCG recombinante foi feito em 1990, mas nos últimos anos se avançou bastante nessa área", diz a pesquisadora. Chamada de BCG recombinante-DPT, a vacina quádrupla é formada por micobactérias BCG contendo pedaços não-tóxicos de proteínas das bactérias que pro-
na contra a tuberculose Como funciona o BCG recombinante vocam as outras três doenças - difteria (o D
-, abrindo caminho para uma vacina contra essas quatro doenças.
O baci lo com proteínas de out ras bactérias est im ula da sigla), coqueluche ou pertussis (P) e tétano (T) . Para fazer o BCG produzir essas proteínas foi preciso usar vetares de expres-
a ação de cé lulas de defesa e a produção de anticorpos
1. Macrófagos, um tipo de células de defesa, engolfam o bacilo BCG.
4. Componentes
2. Parte dos bacilos morre
são - as tais ferramen
"Conseguimos produzir uma resposta imune nos camundongos que conferiu proteção aos animais vacinados", revela a química Luciana Cerqueira Leite, coordenadora do projeto desenvolvido no Instituto Butantan . Ela é pós-doutorada pelo Instituto Pasteur, da França, onde estudou a possibilidade de se ter uma vacina
do bacilo que chegam ao espaço intracelular também são levados à superfíc ie e podem ser reconhecidos pelos linfócitos
3. Suas proteínas digeridas se ligam a outras, são levadas
para a superfície da célula e apresentadas
aos I i nfócitos T
tas que Luciana trouxe do Pasteur de Paris.
Vetares de expressão são pedaços de DNA circular chamados plasmídeos e contêm tudo o que é preciso para fazer o BCG produzir proteínas de
do tipo B, que vão produzir anticorpos específicos contra o bacilo e as proteínas que transporta. Linfócito B Anticorpos Linfócito T
Fonte: L-UCiâriâ CeZàr de Cerqueira Leite/Instituto Butantari-
contra o HIV (vírus que provoca a Aids) baseada em BCG recombinante e de onde trouxe algumas das ferramentas usadas no desenvolvimento da vacina quádrupla.
O BCG (bacilo de Calmette-Guerin) resulta do trabalho de atenuação do Mycobacterium bovis, que Albert Calmette (1863-1933) e Camille Guerin (1872-1961) conduziram por 13 anos no Instituto Pasteur, no início do século 20. Depois de testes com animais e de ter comprovada a ação contra infecções posteriores, tanto
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de. A dose única dessa vacina viva, aplicada no recém-nascido, estimula o sistema imune em torno de 20 a 30 anos. Também é fácil de produzir e custa pouco: US$ 0,08 por unidade.
Contudo, quando Luciana e seus colaboradores - do Centro de Biotecnologia do Butantan, do Instituto Pasteur e do laboratório italiano Biocine - começaram o trabalho, em 1997, a biologia molecular do BCG ainda não era bem estabelecida. Por isso, o tempo para fazer o BCG recombinante, ou seja, conseguir que o
citotóxicos, que destroem células
infectadas por vírus, bactérias
e parasitas.
outros patógenos (agentes causadores de
doenças). Essas proteínas são os antígenos, que no corpo da pessoa vacinada induzem a resposta imune do organismo - por exemplo, a produção de anticorpos. "Os plasmídeos são construídos com pedaços de DNA de vários microrganismos, e a seleção desses pedaços de DNA é feita de acordo com a necessidade de cada experimento. Cada um constrói o plasmídeo como precisa", diz.
Então, as micobactérias BCG da vacina quádrupla receberam um pedaço não-tóxico da toxina tetânica,
se espera. Para isso já se fazem testes, juntamente com pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.
uma toxina diftérica -com uma mutação que a torna inativa- e dois antígenos da coqueluche ou tosse comprida. Um desses antígenos é a toxina pertussis, com mutação que a torna atóxica, e o outro é um fragmento não-tóxico da hemaglutinina, componente da bactéria que ajuda a provocar sua adesão ao organismo. Luciana explica que a bactéria tem de colonizar o organismo para começar a crescer e ser tóxica. Se na vacina é colocado
Lucia na: novos projetas enquanto testes da vacina prosseguem
Outra tarefa é eliminar do BCG recombinante os genes de resistência a antibióticos, que em vacina viva sempre trazem o perigo de um dia transferir essa resistência a outro microrganismo invasor. No laboratório montado para o projeto no Butantan, já se busca uma técnica para eliminar esses
um componente que ajuda na adesão, então o organismo vai produzir, em resposta, um anticorpo contra essa adesão, o que impede a bactéria de colonizar o corpo imunizado.
Genes patenteados- Dois genes usados na pesquisa, o antígeno da difteria e o da coqueluche, vieram do laboratório de pesquisas italiano Biocine, associado à empresa farmacêutica americana Chiron. Os genes são de propriedade dessa associação e, se a vacina comprovar sua eficácia e segurança em humanos, será necessário discutir patentes.
Para Luciana, isso não deve deter os estudos: "A discussão sobre patentes é mundial, muito controversa e não está fechada. Além disso, a filosofia do projeto é criar uma vacina que facilite o processo de imuniza-
O PROJETO
Desenvolvimento de Vacinas de BCG Recombinante- DPT
MODALIDADE
Linha regular de auxílio à pesquisa
COORDENADOR
LUCIANA (EZAR DE CERQUEIRA LEITE -
Instituto Butantan da Secretaria de Saúde do Estado
INVESTIMENTO
RS 124.000,00 e US$ 55.000,00
ção. Com apenas uma vacina, aplicada no recém-nascido num momento em que quase todas as mulheres - mesmo das regiões mais afastadas e rurais do país- têm acesso a um hospital ou posto de saúde, que é a hora do parto, imunizaríamos as crianças contra quatro doenças". A medida geraria economia no custo imenso de campanhas de vacinação e evitaria as doses de reforço, algo que pessoas do meio rural e com muitos filhos nem sempre conseguem cumpnr.
A pesquisadora resume seus propósitos numa frase: "A tentativa com BCG-DPT é fazer uma vac!na eficaz e barata, com menos efeitos colaterais, que alcance uma proporção maior da população". Ela explica que o componente contra a coqueluche é um pouco reatogênico (provoca uma reação local) e já existe em países desenvolvidos outro tipo de vacina contra a coqueluche, só que muito mais cara que a utilizada no Brasil. A vacina de BCG recombinante seria mais segura e sem custo adicional.
Eliminar resistência - Terminada com sucesso a primeira etapa, que expressou no BCG antígenos de outras bactérias e produziu resposta imune em camundongos, a próxima será verificar se a vacina continua eficiente contra a própria tuberculose, como
genes. O laboratório tem biossegurança de nível II, exigência da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para trabalho com esse tipo de bactéria, que tem grau de risco relativo. O risco da tuberculose, por exemplo, é maior. O Butantan bancou o prédio, enquanto a FAPESP pagou o sistema de arcondicionado e os equipamentos.
Novos projetos- Além de tentar eliminar os genes de resistência no próprio Butantan, com a colaboração de um pesquisador da Universidade de Pelotas (RS), Luciana mantém entendimentos com um laboratório de Nova York, onde funciona um sistema de BCG recombinante sem gene de resistência a antibiótico.
Vencidas essas etapas, haverá novos testes em camundongos ou cobaias, depois possivelmente em macacos, até se chegar aos humanos. Só então a vacina estará pronta para produção. O processo é longo e exige vários anos de pesquisa. Por isso, Luciana já toca dois novos projetos: um temático que inclui uma vacina de BCG recombinante contra pneumonia, também financiado pela FAPESP, e outro de uma vacina veterinária, que é um projeto para a União Européia. Ela acha que as ferramentas desenvolvidas nesses novos estudos poderão apressar a conclusão da vacina quádrupla. •
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Bolsas de pós-doutoramento da FAPESP. O sistema brasileiro de pesquisa se expande.
A FAPESP está revolucionando sua política de pós-doutoramento, ampliando o prazo de duração das bolsas e possibilitando estágios no exterior dentro de uma concepção que torne o intercâmbio com centros de pesquisa de outros países produt ivo para a ciência bras ileira. Os bolsistas devem vincular-se aos mais importantes programas de pesquisa financiados pela Fundação. São centenas de projetos, em todas as áreas do conhecimento, que permitem uma sólida formação aos jovens doutores integrados a grupos de excelência . Para mais informações, acesse www.fapesp.br ou ligue (11) 3838 4000.
Projetas Temáticos (150 projetas de pesquisa) Grandes equipes formadas por pesquisadores de diferentes instituições em busca de resu ltados científicos, tecnológicos e socioeconômicos de grande impacto.
Programa Genoma (60 laboratórios) Projetas com o objetivo de pesquisar genomas, identificar e analisar genes com impacto sobre o conhecimento genômico, a saúde humana e a produção agropecuária.
~ =a.:::; GOVERNO DO ESTADO DE
SÃO PAULO
Secreta ria da Ciência, Tecno logia e Dese nvolvimento Econôm ico
Programa CEPID (10 centros de pesquisa) Centros para desenvolver pesquisas inovadoras na fronteira do conhecimento, transferi r seus resultados para os setores público e privado e contribuir para a criação de novas tecnologias e empresas.
Programa Biota (25 projetos) Projetas que visam ao levantamento e novos conhecimentos sobre a biodiversidade do Estado de São Paulo e outras regiões do país.
Programas Jovens Pesquisadores (270 projetos) Programa que fomenta a formação de novos grupos de pesquisa em centros emergentes do Estado de São Paulo.
Rua Pio XI, 1500 - Alto da Lapa 05468-901 - São Paulo - SP
Tel.: (11) 3838 4000 - www.fapesp .com .br
CIÊNCIA
FÁRMACOS
Proteção para os neurônios Pesquisa da UFRJ indica estratégias terapêuticas para a doença de Alzheimer
As pesquisas do bioquímico Sérgio Teixeira Ferreira, da Uni
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estão abrindo caminho para o desenvolvimento de medicamentos contra a doença de Alzheimer, da qual, atualmente, só se podem combater os sintomas. Em um artigo da edição on line de março do The FASEB Journal, Ferreira descreve os resultados de experimentos feitos com dois compostos orgânicos- o 2,4-dinitrofenol ou DNP e o 3-nitrofenol ou NP. Ambos, em baixas concentrações, causaram a "completa desagregação das fibras de beta-amilóide", um peptídeo (fragmento de proteína) que exerce um papel central no avanço dessa doença: forma placas que intoxicam os neurônios do cérebro e levam à perda de memória e à demência.
A pesquisa foi feita inicialmente in vitro, com neurônios de ratos, e as duas substâncias conseguiram bloquear a morte celular induzida pelo beta-amilóide (74% e 65% de sobrevivência com DNP e NP, respectivamente). Em seguida, estudos in vivo
Neurônios normais de rato sofrem ...
Ferreira: bloqueio do beta-amilóide
atestaram: as duas substâncias podem inibir a formação de placas do peptídeo no cérebro de ratos adultos.
Não se pensa em usar diretamente o DNP e o NP, que poderiam servir, sim, como modelos químicos -ou, como se diz, compostos líderes -no desenvolvimento de drogas E;ficientes e seguras. "Essas substâncias estão se apresentando como uma espécie de antídoto contra o efeito tóxico do beta-amilóide sobre os neurônios", diz Ferreira, que já providenciou a patente do processo a que chegou, no Brasil e nos Estados Unidos. Dados preliminares indicam que
... degeneração com beta-ami lóide, que ...
os dois compostos estimulam a formação das ramificações dos neurônios (axônios e dentritos). Tornariam assim os neurônios mais robustos, mais conectados entre si e mais resistentes à ação do beta-amilóide.
Em outro artigo, publicado também em março na Neuroscience Letters, Ferreira e sua equipe mostram que o efeito tóxico do beta-amilóide pode ser detido pelos antagonistas (moléculas que anulam a ação de outras) de glutamato, um dos principais componentes de proteínas. No sistema nervoso, o glutamato atua como neurotransmissor, conduzindo informações de uma célula a outra.
"Bloqueando a ação do glutamato, bloqueamos também a ação do beta-amilóide", diz Ferreira. Os antagonistas utilizados (MK801, DNQX e AIDA) ligam-se aos receptores celulares específicos para o glutamato, que assim fica sem ação. Desse modo, indicam que o controle parcial dos receptores de glutamato poderia ser outro enfoque para o desenvolvimento de novos medicamentos.
O alcance da doença de Alzheimer acentua a importância desse trabalho. Marcada inicialmente por confusão mental e esquecimentos de episódios recentes, essa é a forma mais comum de demência entre idosos: atinge de 5 a 10% da população com mais de 65 anos. •
. .. não ocorre sob a ação de DNP ou NP
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CIÊNCIA
BIOTA
Os caminhos para salvar o Cerrado paulista Estudo atualiza inventário, indica estado de conservação dos trechos que restam e registra perda de 34% em menos de uma década
A NA MARIA FlORI
E C ARLOS fiORAVANTl
uem circula pelas estradas próximas a Araçatuba e Presidente Prudente, no noroeste do Estado de São Paulo, por
Botucatu, Marília e Bauru, já na região central, ou mesmo por Campinas, em direção à capital, costuma ver uma paisagem com árvores de troncos tortuosos e de folhas grossas, que lembram esculturas barrocas. Chamado injustamente de mato, esse é o Cerrado, vegetação associada ao Centro-Oeste brasileiro, mas que atravessa o território paulista e chega ao norte do Paraná.
Considerado ponto crítico para a preservação da biodiversidade, o Cerrado brasileiro encontra-se muito fragmentado e degradado pelo avanço das cidades, da agricultura e da pecuária. Em São Paulo, ocupa apenas 1% da área do Estado (248,8 mil km2
), da qual já cobriu 14%. E só 18% do que resta é protegido por
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32 unidades de conservação e de reserva legal. O problema é sério. Está ameaçada não apenas a biodiversidade, mas também os estoques do Aqüífero Guarani, uma das maiores reservas de água subterrânea do mundo (ver Pesquisa FAPESP 62). Com a substituição da vegetação nativa por agricultura, os agrotóxicos e adubos podem chegar ao solo profundo e contaminar o aqüífero.
Numa tentativa de reverter o atual quadro de destruição, começou em 1999 e deve prosseguir até 2003 o projeto temático Viabilidade de Conservação dos Remanescentes
Commelina nudiflora: em !ti rapina
de Cerrado do Estado de São Paulo, coordenado por Marisa Dantas Bitencourt, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), que se desenvolve no âmbito do Programa Biota-FAPESP. Os pesquisadores, trabalhando com imagens de satélites, detectaram uma perda de 34% das áreas estudadas até o momento, em relação ao inventário publicado em 1993 pelo Instituto Florestal de São Paulo, que listou 8.353 fragmentos de Cerrado no Estado.
Berçário de rios - Segundo ecossistema brasileiro mais extenso, depois da Amazônia, o Cerrado ocupa atualmente 2 milhões de km\ dos quais 700 mil estão sujeitos à ação antrópica (intervenções humanas intensivas), segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Total ou parcialmente, recobre 11 Estados e três capitais -
Brasília, Belo Horizonte e Goiânia. Era a vegetação original da cidade de São Paulo, mas, hoje, os remanescentes mais próximos estão em Juqueri, a cerca de 50 km da capital.
É no Cerrado - assim chamado por ser um emaranhado de arbustos, herbáceas e árvores muito difícil de ser atravessado- em que nascem as águas das principais bacias hidrográficas brasileiras, a Amazônica, a do Paraná-Paraguai e a do São Francisco. É também o ambiente próprio do buriti (Mauritia vinifera flexuosa), uma palmeira que cresce às margens de rios, e de espécies ameaçadas de ex-
Ormosia arborea: em Avanhandava
tinção, como o lobo-guará ( Chrysocyon brachyurus) e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Vivem ali 4.400 espécies endêmic.as de plantas, 800 de pássaros, 120 de répteis e 150 de anfíbios, de acordo com um levantamento recente da Conservation International, instituição não-governamental que no ano passado contribuiu para que o Cerrado brasileiro fosse incluído entre os hotspots (áreas críticas) do mundo.
Um dos objetivos principais do projeto, que faz parte do Programa Biota-FAPESP, de levantamento da flora, da fauna e da ocupação humana no Estado, é a interação com a comunidade que vive ao redor dos fragmentos de Cerrado ou em suas proximidades. A maioria dessas áreas encontra-se em propriedades particulares e é protegida pela legislação brasileira, na forma de reserva legal. "O proprietário é obrigado a
deixar 20% intactos, mas faz o que quiser com o restante da vegetação", diz Marisa.
Para ela, é necessário propor à população uma estratégia de conservação, porque só a lei não impede a destruição: "Fomos de uma ponta a outra da questão, desde a identificação do que resta do Cerrado, qual seu estado de conservação, quem são os proprietários, como as pessoas usam a área e como podem utilizá-la de modo sustentável e transformar-se em coadjuvantes da conservação". Uma das estratégias a serem adotadas, com essa finalidade,
Mandevilla velutina: em Caçapava
é incentivar o plantio de espécies nativas, de modo a juntar os fragmentos pequenos e próximos. "Com o uso sustentado de espécies com valor econômico, é possível recuperar a flora sem impedir o desenvolvimento social", comenta.
Nesse campo, a riqueza é imensa. Até agora, aproxima-se de 80 o número de espécies típicas do Cerrado com potencial econômico, enquanto outras 100 podem ter uso medicinal. Um estudo em andamento na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara indica que as plantas do Cerrado podem ser a fonte de medicamentos contra fungos, tumores e a doença de Chagas (ver Pesquisa FAPESP 51).
Em parceria - Para tocar o projeto, Marisa assinou um acordo de cooperação com a Agência Espacial Japonesa (Nasda), destinado a apoiar
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 39
pesquisas de alta tecnologia e estudos de vanguarda na área de meio ambiente. "Abrimos uma linha de pesquisa, com uma série de projetas de calibração de sensores orbitais com as fisionomias do Cerrado, nos quais trabalham dois doutorandos. A agência japonesa fornece as imagens de radar e nós calibramos essas informações com dados de campo, uma das tarefas mais difíceis em sensoriamento remoto", afirma.
O trabalho tem um caráter coleti-vo desde o início. Segundo Marisa, o projeto nasceu do interesse de um grupo de pesquisadores que participou de um workshop, em 1995, em que Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Biota, resolveu reunir todo o conhecimento acumulado sobre o Cerrado paulista. Esse encontro, que se baseou nos mapas do inventário de 1993 do Instituto Florestal, deu origem ao documento Bases para Conservação e Uso Sustentável das Áreas de Cerrado do Estado de São Paulo, publicado em 1997, que indica 23 áreas de prioridade máxima para conservação.
Até agora, dois dos quatro grupos de trabalho, o de geoprocessa-
Riqueza ameaçada O Cerrado tem várias fisiono
mias, que variam de campestre a florestal e dependem principalmente da disponibilidade de água e nutrientes. O cerrado propriamente dito (cerrado stricto sensu) tem vegetação herbácea e árvores esparsas. O chamado cerradão é a forma florestal, enquanto no campo sujo e no campo cerrado predomina a vegetação herbácea (rasteira) , com capim e outras plantas pequenas.
A situação desse ecossistema é peculiar: "Diferentemente da Amazônia, onde há um todo com buracos, o Cerrado está muito debilitado, é um nada com alguns pontos, algumas manchas de vegetação e
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mento e o de botânica, estudaram 17 zonas de prioridade de conservação indicadas nesse documento, sob vários aspectos. Nessas áreas é que já detectaram uma diminuição de 34% da área de Cerrado em relação aos dados do inventário de 1993. A avaliação dos fragmentos está adiantada e deverá ser concluída até meados de 2001. Por isso, em outubro de 2000 iniciou-se a fase de estudos socioeconômicos, que deverão ser intensificados e se estenderão pelo menos até o final deste ano.
Imagem de satélite- O grupo de geoprocessamento, também coordenado por Marisa, atualiza o mapa do Instituto Florestal por meio de ima-
com intenso uso e ocupação ao redor", explica Marisa Bitencourt. O problema é que, segundo a pesquisadora, um vazio com vegetação em volta pode se regenerar com rapidez, mas pequenas ilhas de vegetação isoladas são muito mais frágeis.
No Cerrado, a vegetação é adaptada a períodos secos, porque, embora chova razoavelmente, as chuvas se concentram em determinadas épocas. É algo sazonal, do tipo verão/inverno, e mesmo as áreas em que há maior disponibilidade de
gens de satélite recentes. Os pesquisadores verificaram que alguns fragmentos desapareceram e outros até cresceram, além de estabelecerem o estado de conservação da cada trecho estudado. Foi assim que desfizeram alguns equívocos, reclassificando como floresta estaciona! semidecidual (uma forma da Mata Atlântica do interior paulista) trechos antes catalogados como cerradão.
Outro ponto ajustado: alguns pontos antes classificados como cerrado agora aparecem como cerradão. Os levantamentos mais antigos mostravam mais cerrado do que cerradão, mas nos últimos anos, com a proteção contra incêndios, a fisionomia de cerrado muitas vezes
Três faces do mesmo tipo de vegetação: árvores de até 15 metros no cerradão (acima), em Campos Limpos Paulista,
e esparsas no cerrado strictu sensu, no Vale do Paraíba (ao lado). e plantas rasteiras no campo sujo, em ltirapina
água ficam sujeitas a longos períodos secos. As plantas crescem sobre solos pobres, porosos, arenosos, ácidos, antigos e profundos. Para a pesquisadora da USP, essa é mais uma razão para evitar a agricultura no Cerrado, na qual o uso intensivo de fertilizantes é comum. O custo para
transformou-se em cerradão. O método utilizado - índice de vegetação -indica a quantidade de folha verde por área. É uma forma de distinguir as fisionomias do Cerrado, que não é um só: varia de ambientes com vegetação rasteira e esparsa até uma formação florestal, com árvores de 8 a 15 metros de altura (ver quadro).
corrigir o solo é alto e também se destrói a vegetação nativa, além de contaminar os reservatórios subterrâneos de água. Essas ameaças, so-
Áreas de Prioridade para Conservação ~ Sinbiota, o banco de da~ dos da biodiversidade do
- Prioridade Máxima Prioridade Média
.,;
- Prioridade Baixa
;; Estado de São Paulo (ver ~ relato nas páginas 62 e 63) .
- Prioridade Baixíssima Como todas as informações devem ser georeferenciadas, a equipe de botânica vai a campo munida de um GPS ( Global Positioning System), aparelho que opera via satélite e fornece a posição geográfica exata de cada local estudado. Os pesquisadores avaliam no local o estado de conservação dos fragmentos e elaboram uma lista de espécies, com destaque para as de valor econômico,
Os pontinhos pretos indicam os fragmentos de cerrado, mapeados pelo Inventário Florestal do Instituto
Nos próximos três anos, o projeto deverá cobrir cerca de 200 fragmentos de Cerrado. O grupo de botânica, sob a coordenação da engenheira florestal Giselda Durigan, pesquisadora do Instituto Florestal de São Paulo e chefe da Estação Experimental de Assis, já visitou 121 fragmentos e estudou 70 deles em detalhe. Identificou 459 espécies de plantas, algumas delas exclusivas do Cerrado, e depositou 70 fichas no
madas às evidências do trabalho científico, reforçam a confiança de Marisa e de sua equipe no uso sustentado de algumas áreas do Cerra-
já com a idéia de um uso potencial que essas espécies possam ter.
A partir dessas informações, entra em ação o grupo de economia e biodinâmica, coordenado pelo biólogo Eduardo Mendoza, da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, e pela economista Maristela Simões do Carmo, da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O grupo de economia levanta aspectos de
do, além da preservação de outras, como a solução mais inteligente e viável para a conservação desse ecossistema, pelo menos em São Paulo.
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missão já se comprometeram a fazer um berçário de espécies nativas e compostagem de adubo natural.
Marisa: plano de interação com a comunidade do Cerrado
Articula -se outra colaboração com a Universidade do Vale do Paraíba (Univap ), que ajudará a incluir no levantamento o maior número possível de áreas de Cerrado da região. De acordo com Marisa, não existia nenhum mapeamento prévio do Vale do Paraíba, área que não havia sido contemplada no inventário florestal de 1993, embora a vegetação original da região tenha sido o Cerrado, de acordo com o Instituto Brasileiro de
política agrícola, o perfil dos proprietários, o uso da terra e organização social, para traçar um perfil socioeconômico das comunidades encontradas e procurar estabelecer uma ponte de cantata com elas.
Em seguida, é a vez do quarto grupo, de divulgação, que tem como responsável a bióloga Renata Ramos Mendonça, do Programa Estadual para Conservação da Biodiversidade (Probio). Seu trabalho é fazer a interação da comunidade com as autoridades estaduais, caso haja necessidade de alguma interferência do ponto de vista legal, além de sugerir políticas públicas para a região, se for o caso. No total, trabalham no projeto 34 pesquisadores, incluindo os colaboradores - biólogos, engenheiros florestais, agrônomos, economistas e um geógrafo.
Reforços à vista - Marisa busca parceiros em todas as áreas. Entendimentos com a Escola Agrícola de Pená polis (SP) devem tornar viável a assinatura de um acordo em que mulheres de dez famílias de assentados nos arredores da cidade de Pro-
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Geografia e Estatística (IBGE). "O Cerrado formava uma língua
entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira, ao longo do Rio Paraíba do Sul, que hoje está bastante fragmentada, por causa da presença humana", comenta a pesquisadora da USP. Cinco fragmentos já entraram no estudo - e prossegue a busca de outros para mapear. Com e~se trabalho todo, afirma Marisa, a intenção não é apenas transmitir conhecimento. O objetivo maior, ela reitera, é a interação entre os pesquisadores e os atuais habitantes do que resta do Cerrado paulista.
O PROJETO
Viabilidade de Conservação dos Remanescentes de Cerrado do Estado de São Paulo
MODALIDADE
Projeto temático - Programa Biota
COORDENADORA
MARISA O ANTAS BITENCOURT- Instituto de Biociências da USP
INVESTIMENTO
R$ 318.834,00
Cara a cara com a mata Entre os trabalhos do projeto
sobre o Cerrado, coube ao grupo de botânica o que a princípio pode parecer o mais penoso: conferir, no chão, o que o satélite sugere, descobrir se existem mesmo e em que estado se encontram as espécies de maior valor biológico ou com potencial de manejo sustentável. Sua-se muito, come-se pouco, convive-se com mosquitos, aranhas e carrapatos e é preciso perspicácia para encontrar atalhos e ânimo para fazer andar a expedição.
Mas é perda de tempo oferecer outro tipo de vida aos integrantes dessa equipe: a coordenadora Giselda Durigan, engenheira florestal; Marinez Ferreira de Siqueira, bióloga da Base de Dados Tropicais (BDT), em Campinas; Geraldo Correa Franco, biólogo do Instituto Florestal de São Paulo; e o auxiliar de campo Edivaldo Furlan. Desde outubro de 1999, o grupo visitou 70 áreas e percorreu 120 km de campos cerrados, cerrados e cerradões paulistas. A seguir, o relato de Giselda e Marinez:
''No campo, descobrimos o tesouro escondido em cada
uma das áreas que aparecem como pontos no mapa do Estado. Começamos pelo oeste, pelos municípios de Campos Novos Paulista e São Pedro do Turvo, na bacia do rio Paranapanema. Ali, o Cerrado tem quase sempre a fisionomia de cerradão. Parece uma floresta baixa e seca, mas lá estão o pau-terra ( Qualea grandiflora), os muricis (Byrsonima spp), o cinzeiro ( Vochysia tucanorum), o pequi ( Caryocar brasilien se), a copaíba ou pau-d'óleo (Capaifera langsdorffii), as canelinhas ( Ocotea spp) e canelões (Nectandra spp ), os angicos (Anadenanthera spp) e o limão-bravo (Siparuna guianensis).
No cerradão, as árvores são finas e próximas umas das outras. Sobre elas, crescem trepadeiras de flores como a Fridericia speciosa (vermelha), Odontadenia lutea (branca), Temnadenia violacea (magenta) e Pirostegia venusta (alaranjada), que quebram o verde-escuro da paisagem. Sem luz solar direta, o chão é coberto de folhas secas, ervas e arbustos que toleram a sombra.
Aparentemente monótona, a paisagem do cerradão reserva surpresas, com córregos de águas cristalinas e frutos saborosos como o do marmelo (Alibertia edulis), que provamos pela primeira vez em Agudos, ou o ananás (Ananas ananassoides), que ocorre em quase todo o Estado, Outra surpresa foi encontrar, nos cerradões de São Pedro do Turvo, uma vasta área com árvores de ervamate (Ilex paraguariensis). Deve ser, provavelmente, uma das últimas populações naturais da espécie no Estado de São Paulo.
Encontramos em Campos Novos uma das únicas áreas com fisionomia de Cerrado no oeste do Estado. Era novembro, o sol a pino, e toda aquela riqueza se exibindo para nós: saborosas gabirobas ( Campomanesia adamantium), arbustos como a carobinha (Jacaranda decurrens), com suas flores azuis rentes ao chão, a jalapa (Mandevilla velutina), sementes de paineirinha (Eriotheca gracilipes) e de algodãodo-campo ( Cochlospermum regi um), levadas pelo vento como plumas para germinar com as primeiras chuvas. No mesmo dia, deparamos com uma sucuri (Eunectes murinus) e uma coral (Micrurus spp), lembrando que a vida no Cerrado vai além das plantas.
No Cerrado as árvores são menores e mais tortuosas, com a casca geralmente suberosa (espessa). Predominam árvores como ipês amarelos ( Tabebuia spp ), perobinha-do-campo (Acosmium subelegans), estoraque (Styrax spp), brasa viva (Myrcia língua), jacarandá violeta (Dalbergia miscolobium) e paus-terra, além de arbustos de tamanhos diversos.
Mais para oeste, em Taciba e Martinópolis, predomina novamente o
Marinez: pausa para breve descanso, com
direito a gabirobas
cerradão, com algumas pequenas manchas de cerrado denso e árvores menores, mais espaçadas e tortuosas. Ao norte, encontramos raras manchas de cerradão e muitos fragmentos com a vegetação de transição entre o Cerrado e a Floresta Estacionai Semidecidual. Em Bauru, no coração do Estado, ainda há grandes remanescentes de cerradão, muito pressionados pela expansão urbana e incêndios freqüentes.
Embora não estivesse no nosso roteiro original, visitamos as ilhas de Cerrado do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, Caçapava e Taubaté. Lá, nos surpreendemos ao encontrar, encravadas em pleno domínio
da Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), áreas razoavelmente extensas de Cerrado com todas as fisionomias campestres: campo limpo, campo sujo, campo cerrado e cerrado stricto sensu, que não tínhamos visto nas outras regiões. Também nos decepcionamos: em razão provavelmente de incêndios, a flora do Cerrado no Vale do Paraíba é muito pobre.
De volta ao interior, encontramos novamente cerradão e áreas
ecotonais em Boa Esperança do Sul, Bocaina e Ribeirão Bonito, na bacia do rio JacaréPepira. As fisionomias campestres aparecem na região de Itirapina e São Carlos, com remanescentes não muito extensos de campo cerrado e cerrado stricto sensu. Nessas áreas, a abundância de plantas frutíferas impressiona: são gabirobas (Campomanesia spp), araçás
(Psidium spp) e uva ias ( Eugenia spp), em novembro, e pequis, munos e caqms (Diospyrus hispida) em janeiro.
Constatamos que não existe
uma cultura do Cerrado no Estado de São Paulo. Nem mesmo as pessoas que vivem ao lado dos remanescentes, com raras exceções, conhecem as plantas. Vimos pequis apodrecendo no pé, porque pouca gente sabe que se trata de um fruto comestível.
Nesses 18 meses de caminhada, além do aprendizado, contamos com um ganho adicional: um ditado japonês diz que a vida se alonga em 75 dias cada vez que experimentamos um sabor novo e gostamos. Se assim for, talvez ao término desta pesquisa tenhamos atingido a expectativa de vida de uns dois séculos, depois de provarmos tantos frutos diferentes e saborosos do Cerrado paulista. ' ' •
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Há cerca de 30 anos, com equipamentos adaptados, pesquisadores britânicos e norte-americanos acreditaram ter captado emissões submilimétricas. Mas, na época, sem a precisão dos instrumentos atuais, não conseguiram comprovar a existência da emissão, que a equipe de Kaufmann está examinando mais detalhadamente. Afinal, o momento para a observação de pulsos relacionados a explosões solares é ótimo.
Fraco e intenso -
Desde o século 19, sabe-se que a atividade solar obedece a um regime fixo, que muda de intensidade a cada 11 anos: alterna períodos de relativa calmaria (mínimo do ciclo solar, sem manchas nem explosões) e épocas de grande atividade (máximo do ciclo, com manchas e explosões fre-
1:
Mistérios estelares Esfera gasosa com núcleo bem
mais denso, formada há 5 bilhões de anos, quase tudo o que se refere ao Sol é grandioso. Dono de 99,8% da massa do sistema solar, pesa 330 mil vezes mais do que a Terra. Em seu diâmetro de 1,3 milhão de quilômetros quadrados caberiam cerca de 11 O planetas do tamanho do nosso.
Por que estudar a atividade do Sol? Além da importância dessa estrela que fornece calor e luz à Terra e deu as condições primárias para que a vida florescesse no planeta, há outros motivos. A ati-
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teira da ciência'; mas sem pessoal para o telescópio (acima)
qüentes). Agora, a estrela que nos ilumina está no auge de um ciclo intenso, marcado por grande formação de manchas, que criam pontos escuros na superfície, e constantes erupções e explosões, com liberação de enor
mes quantidades de energia. Os pesquisadores sabem que o atual ciclo acaba de entrar no ponto mais agudo (máximo solar). Isso quer dizer que os próximos anos serão, em teoria,
vidade desse corpo incandescente - uma série de eventos pontuais, como as explosões, e perenes, como o vento solar, que é um rio permanente de partículas carregadas eletronicamente deixando o astro em direção ao espaço- pode afetar o sistema de telecomunicações e a rede de energia da Terra, assim como derrubar satélites.
A conquista do Sol é claramente impossível. Sua distância, 150 milhões de quilômetros, é 400 vezes maior que a da Lua. A coroa solar - camada mais externa de sua atmosfera, espécie de manto gasoso que envolve a estrela- tem a temperatura média de 1,1 mi-
ótimos para observar fenômenos relacionados a explosões solares e comprovar de vez a nova forma de emissão detectada pelo SST.
Com aparelhagem moderna, bem localizado e anos de forte intensidade solar pela frente, o radiotelescópio terá, no entanto, de enfrentar um problema administrativo: falta gente para
operá-lo constantemente em El Leoncito, local de difícil acesso nos Andes, o que faz com que o equipamento permaneça parado a maior parte do tempo. Desde que foi inaugurado há quase dois anos, só funcionou por cerca de 80 dias, como resultado de missões de curta duração, de uma a duas semanas a cada dois meses. •
O PROJETO
Aplicações do Telescópio Solar para Ondas Submilimétricas (SST)
MODALIDADE
Projeto temático
COORDENADOR
PIERRE KAUFMANN- Universidade Presbiteriana Mackenzie
INVESTIMENTO
R$ 137.496,00 e US$ 83.061,06
lhão de graus Celsius (°C). Essa camada externa, ainda não se sabe muito bem por quê, é mais quente que a superfície propriamente dita, com temperaturas da ordem de 5000°C. No centro, o mistério é maior: ali há reações de fusão nuclear do hidrogênio- que corresponde a 75% da composição do astro- e a temperatura chega a 14 milhões de graus. E o Sol não é um corpo sólido: como a maior parte do Universo, é uma massa de plasma - gases aquecidos a tal ponto que suas partículas se tornam carregadas eletricamente, na forma de prótons (carga positiva) e elétrons (negativa).
GOVERNO DO ESTADO DE
SÃO PAULO
Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico
Rua Pio XI, 1500 - Alto da Lapa 05468-901 -São Paulo- SP Te I.: (11) 3838-4000 www.fapesp .br
• Árvores silvestres para microbacias
Um milhão de mudas de árvores silvestres serão plantadas em áreas de mata ciliar e em encostas de morros de 205 microbacias hidrográficas do Estado de São Paulo. O plantio começa em setembro e faz parte da fase inicial de um programa da Secretaria de Agricultura com aporte financeiro deUS$ 124 milhões do Banco Mundial. O objetivo desse programa é proporcionar desenvolvimento sustentável e melhorar a qualidade de vida do produtor agrícola. Serão introduzidas, ao longo dos próximos cinco anos, tecnologias para desassoreamento dos rios, controle de erosões e consorciação de plantações de grãos e de pasto. As mudas de cerca de 50 espécies nativas que estão sendo preparadas pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), ligada à Secretaria de Agricultura, vão permitir a recuperação florestal de áreas de preservação permanente, matas ciliares e o reflorestamento de áreas degradadas. No total, serão atendidas 1.500 microbacias em todo o Estado. •
• Avaliação maximiza tratamento de esgoto
O uso inédito de traçadores radioativos na inspeção de estações de tratamento de esgoto pela cidade alemã de Dresden, em 1996, permitiu aumentar em 48% a eficiência das unidades e cancelar a construção de outras. Inspirado no caso, o físico Luiz Eduardo Brandão, do Insti-
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TECNOLOGIA
LINHA DE PRODUÇÃO
Mudas da Cati: recuperação de encostas e de matas ciliares
tuto de Energia Nuclear (IEN) do Ministério da Ciência e Tecnologia, desenvolveu um método semelhante que resultou numa unidade de análise portátil e de fácil instalação. O sistema, que detecta problemas como obstruções e vazamentos, funciona com a estação de tratamento em operação e faz avaliação imediata- superando técnicas que também usam radiotraçadores para marcar sedimentos, mas exigem coleta de material para análise. No lugar
das grandes quantidades de corantes químicos poluentes e de vida longa aplicados nos métodos convencionais de avaliação, o Sistema de Avaliação por Radiotraçadores -a ser apresentado em maio como tese de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro- usa quantidades ínfimas de radioisótopos de manganês, bromo, lantânio e ouro, todos com tempo de atividade curta. Além de melhorar o dese.mpenho das centrais de esgoto, o sistema de Brandão permite cons-
Anticorrosivo ganha prêmio Petrobras
Pa ula Nogueira: dutos com cobertu ra de filmes tipo diamante
truir novas usinas com aproveitamento máximo: o protótipo de usina de decantação por gravidade que ele construiu, para obter dados experimentais, reteve 98,5% da matéria sólida dissolvida na água, entre poluentes biológicos e químicos. Isso significa que pequenas instalações podem operar em conjuntos residenciais e em indústrias, sem despesa com energia.
• Centro de referência para o hidrogênio
•
Os estudos para o aproveitamento energético do hidrogênio ganharam um centro especial que será instalado, inicialmente, no Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É o Centro Nacional de Referência em Energia de Hidrogênio, criado por meio de um convênio entre o Ministério da Ciência e da Tecnologia, Unicamp, Universidade de São Paulo (USP), Centrais Energéticas de Minas Gerais (Cemig) e a orga-
Um projeto para a produção de um filme fino de carbono tipo diam ante - material conhecido com o DLC - com propriedades de alta dureza, grande resistência a ataques químicos e excelentes propriedades ópticas garantiu o segundo lugar no 3° Prêmio Petrobras de Tecnologia de D utos à aluna Paula Maria Nogueira, da Engenharia Química da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). O primeiro lugar fico u com
nização não-governamental Vitae Civilis. Entre as pesquisas dessa área estão aquelas relacionadas a células de combustível, muito cotadas para substituir, no futuro, os motores a combustão. O novo centro terá o objetivo de integrar várias linhas de pesquisa e evitar trabalhos redundantes. •
• Supercondutor de plástico e barato
O primeiro material plástico dotado de propriedades supercondutoras - em que a resistência ao fluxo de eletricidade desaparece abaixo de determinada temperatura -foi desenvolvido nos Estados Unidos por cientistas da Bell Labs, subsidiária para pesquisas da Lucent Technologies. A descoberta, que resulta de um trabalho de duas décadas, em busca de um polímero orgânico supercondutor, foi anunciada na edição de 8 de março último da revista Nature. Assinam o trabalho os pesquisadores Ananth Dodabalapur, Christian Kloc e Zhenan Bao, entre outros. Chamado de polythiophene, o material é de baixo custo e abre cami-
Viktor Nigri Moskowicz, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com um projeto sobre monitoração de dutos com fibra óptica. O projeto paulista, que envolve pesquisadores da USP nas escolas Politécnica e de Engenharia de São Carlos, é oriundo de um trabalho de iniciação científica financiado pela FAPESP. Os filmes de DLC sobre amostras de silício, aço inoxidável e aço carbono foram subme-
Bao, Kloc e Dodabalapur: melhor ordenação das moléculas
nho para descobertas análogas. A existência de plásticos condutores era conhecida desde a década de 1970, mas eles mostravam certa resistência à passagem da eletricidade. A maior dificuldade era estrutural: a relativa desordem no alinhamento molecular, o que é inerente aos polímeros. A pesquisa consistiu em produzir uma solução com o polímero, que em seguida era depositado em finas camadas sobre um substrato, proporcionando uma ordenação melhor das moléculas. Contudo, a temperatura abaixo da qual ocorreu a supercondutividade foi extremamente fria -
tidos a testes de corrosão por soluções ácidas e básicas, solventes orgânicos e petróleo. Segundo o orientador do trabalho, professor Ronaldo Domingues Mansano, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli, são as impurezas ou aditivos contidos em compostos orgânicos, como o petróleo, que causam os maiores problemas de corrosão e limitam o uso de certos tipos de aço. Os filmes DLC são feitos
menos 235° Celsius, mas os pesquisadores esperam elevá-la intervindo na estrutura molecular do polímero. •
• Programa da UFSC em testes na ONU
Enquanto o Brasil briga por um assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), um programa de computador desenvolvido em Santa Catarina está em testes na sede do órgão em Genebra, na Suíça. A equipe formada por oito alunos do Programa de Pós-Gradua.ção em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal
por um processo de baixo custo, o que deverá permitir uma grande variedade de aplicações. O professor Luiz Gonçalves Neto, da Engenharia da USP de São Carlos, que faz parte da equipe, informa ainda que microelementos ópticos feitos com esse filme ganharam no ano passado dois prêmios da Optical Society of America. Com o apoio da FAPESP, estão sendo patenteados os elementos ópticos e o processo de fabricação. •
~ z u 3 de Santa Catarina (UFSC)
elaborou um sistema de inteligência artificial, chamado Olimpo, para armazenamento, organização e busca das resoluções do Conselho de Segurança. "Nosso grupo foi formado por advogados, sociólogos e psicólogos'; explica Hugo Cesar Hoeschl, advogado que apresentou tese de doutorado sobre o projeto Olimpo. O programa foi apresentado à ONU por Tarcísio Guida Della Senta, ex-reitor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, no Japão. O grupo, autodenominado Ijuris, já construiu dez sistemas voltados para a área jurídica. Desses programas, três, inclusive o Olimpo, foram registrados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Para Hoeschl, o importante para o grupo não é implementar o programa, mas ter um produto brasileiro na ONU. •
• Camisa pode fazer a diferença
A disputa por melhores tecnologias também ocorre dentro dos gramados dos estádios. Depois de outros fabricantes de material esportivo, agora é a vez de a Topper anunciar o mais avançado uniforme para futebol. É o Projeto Analysis, baseado no tecido Maxi Dry patenteado pelo fabricante. A camiseta do jogador tem um corte que funciona como "segunda pele", reduzindo o atrito com o ar e evitando que o atleta seja seguro por ele. Além disso, a camiseta pesa 20% menos que as similares e dispersa melhor a umidade do suor, ajudando na evaporação. O primeiro time a usar esse material é o Cruzeiro, de Belo Horizonte. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 49
Funcionário limpa reservatório de água das chuvas (piscinão) no Jabaquara em São Paulo: PETs e pneus são grande parte do lixo
Produtos retirados do lixo geram tecnologia, empregos e benefícios sociais
CLÁUDIO EUGÊNIO E
MARCOS DE OLIVEIRA
iclagem de produtos dustriais é uma ativiade simpática a todos os setores da sociedade. Não há quem dis
corde da necessidade de reciclar latas de cerveja, garrafas plásticas, pneus, papéis de escritório e potes de vidro. São produtos que materializam a noção de desperdício em jogar algo ainda aproveitável no lixo e reforçam a consciência ambiental de se reduzir a extração de produtos da natureza, como madeira, minérios e petróleo.
Fora a vontade geral dos cidadãos, a reciclagem no Brasil e em grande parte do mundo ainda engatinha. Uma situação resultante, principalmente, da falta de coleta seletiva de lixo nas cidades. Nesse sistema, os itens possíveis de serem reciclados são separados da porta do consumi-
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dor até a indústria recicladora. No Brasil, apenas 135 prefeituras, das mais de 5 mil existentes, adotam o sistema. Outro fator limitante para a reciclagem é a falta de tecnologia que efetue a transformação de muitos produtos. Nesse ponto, a pesquisa acadêmica tem muito a oferecer e traz inovações importantes como veremos nas páginas seguintes.
Produtos como latas de alumínio e objetos de vidro já possuem processos adequados de reciclagem que geram resíduos capazes de voltar como matéria-prima à linha de produção com o mesmo objetivo inicial. Mas outros, como pilhas e pneus, por
exemplo, ainda estão em estudos para a obtenção de tecnologias mais eficazes de reciclagem. Por isso, muitos pesquisadores se debruçam sobre um amplo leque de possibilidades, da descoberta de novas técnicas ao repasse de informações já existentes.
Aula no campo - Alguns professores deixam suas salas e laboratórios nas universidades e saem a campo para ensinar o ofício de reciclador. É o caso do professor Hélio Wiebeck, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Ele coordena um
Garimpo nas ruas de São Paulo
O paulistano Otávio Lemos, 45 anos, morador do bairro de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, perdeu há quatro anos o emprego em uma churrascaria, onde trabalhava como ajudante. Depois disso, não conseguiu mais voltar ao mercado formal. A idade, para ele, foi o seu maior obstáculo. Após muita
procura, descobriu com um amigo uma forma nova de ganhar dinheiro: recolher latinhas de alumínio pela rua. "Foi a minha salvação", conta. Atualmente, Lemos consegue recolher 32 quilos por semana. "Só nos finais de semana consigo recolher 22 quilos." Ele ganha R$ 250,00 em um bom mês. Para isso, passa as
Wiebeck: conhecimento técnico para os catadores de lixo de São Bernardo do Campo
projeto que pretende capacitar os catadores do lixão do Alvarenga, em São Bernardo do Campo, a participar do Programa de Coleta Seletiva de Lixo da prefeitura. "Esse projeto é um dos maiores desafios da minha vida, pois, além de envolver o conhecimento técnico do assunto, temos o envolvimento com pessoas muito sofridas", revela. O projeto faz parte do Programa de Pesquisas em Políticas Públicas da FAPESP e foi iniciado em janeiro deste ano.
"Fazemos a análise do mercado de material reciclável na região e orientamos qual a melhor maneira de beneficiamento (enfardamento,
madrugadas entre os bairros do Jardins e da Vila Madalena recolhendo o sustento.
Essa história tornou-se comum em várias cidades do Brasil e reflete, além do problema do desemprego, a descoberta do universo da reciclagem do alumínio como fonte de sobrevivência de um grande número de brasileiros. Segundo estimativas da Associação Brasileira do Alumínio (Aba!), cerca de 150 mil pessoas vi-
moagem, etc.) para os produtos retirados do lixo. A coleta é feita pela prefeitura, em pontos de entrega voluntária, nos quais a população deposita os materiais recicláveis", explica Wiebeck. Assim, os catadores não precisam procurar os produtos nos lixões. Do projeto também participam, além da prefeitura da cidade, a Escola Politécnica, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Instituto Polis,
Latinhas paulistanas: Um tonelada valia
RS 1,9 mil, em janeiro
vem da coleta e reciclagem do alumínio, recebendo de dois a quatro salários mínimos por mês. Em 2000, o Brasil reciclou 78% de todas as latas para bebidas consumidas durante o ano. No total, 102 mil toneladas retornaram ao processo de produção, com crescimento de 19% sobre 1999.
O PROJETO
Implantação de Unidades de Matérias-Primas Recicladas
MODALIDADE Programa de Pesquisas em Políticas Públicas
COORDENADOR H~uo WiEBECK - Poli-USP
INVESTIMENTO R$ 30.000,00, FAPESP, e R$ 1 5.000,00, Prefeitura de São Bernardo
integrante do Fórum Nacional de Lixo e Cidadania, a Plastivida, entidade ligada à Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), e o Programa Disque-Tecnologia da USP.
Oportuno e desejável - O professor Wiebeck também é o responsável pelo curso de reciclagem oferecido pela Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae) ligada à USP. Criado em 1994, o curso já formou mais de mil pessoas. "O público interessado é composto por profissionais de diversos setores", diz. Entre eles,
estão empresários, operários, estudantes, pesquisadores, líderes comunitários, médicos e engenheiros. A principal ênfase do programa é para a reciclagem de plástico. "É o setor que oferece as melhores oportunidades
para pequenos e médios em presár ios", completa.
O curso e o projeto de São Bernardo são exemplos de atividades que se expandem no país, embora num ritmo lento se comparado às possibilidades sociais e econômicas do setor de reciclagem. Oportunidades que, por um desses paradoxos da vida, estão no lixo. ...,.
PESQUISA FAPESP · ABRILDE2001 51
TECNOLOGIA
De volta de garrafas
Uma quantidade assustadora de garrafas plásticas de refrigerantes usadas boiando em rios e
córregos em algum ponto de uma cidade inundada. Essa cena já se tornou típica no verão, principalmente nos grandes centros urbanos, onde qualquer chuva mais forte evidencia o problema do descarte dessas garrafas fabricadas com Poli (tereftalato de etileno), mais conhecido como PET, do inglês Poly (Ethylene Terephtalate).
Se aproveitadas, em cidades onde existe coleta seletiva de lixo ou por meio de catadores que vasculham os lixões, as garrafas de PET seguem para indústrias fabricantes de cerdas para vassouras e escovas, fios de costura, cordas, carpetes, enchimentos de travesseiros, cobertores, animais de pelúcia, entre outros produtos. Mas, se depender da professora Maria Zanin, do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o PET recuperado pode ter um destino mais nobre: voltar à produção das próprias garrafas.
Maria coordena o projeto Desenvolvimento de Método de Reciclagem Química de PET Pós-Consumo por Hidrólise, que tem como proposta estabelecer um sistema de despolimerização da garrafa usada, permitindo ao produto final (a matériaprima original do PET, também chamada de monômero) voltar à linha de produção de novas garrafas. "Numa petroquímica, derivados do petróleo são transformados em plásticos. O processo elaborado pela nossa equipe faz o caminho inverso", afirma a professora Maria. Ela explica que foi desenvolvido
52 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
Maria: PET reciclado permite contato com alimento
consumiu, em 1999, quase 330 mil toneladas de PET, o que obrigou à importação de 146 mil toneladas do produto. Além do polímero pronto, naquele ano foram importadas mais 27 mil toneladas de monômeros. O gasto total chegou a quase US$ 140 milhões. Além da diminuição das importações, a utilização de processos de reciclagem garrafa-agarrafa tem outros benefícios importantes. Gera desenvolvimento de tecnologia própria, novos empregos, economia de recursos naturais (petróleo) e diminuição dos resíduos a serem efetivamente descartados. Tudo com
um método para transformar o PET em derivados do petróleo novamente, com grau de pureza suficiente para permitir o uso na fabricação do PET sem nenhum tipo de restrição mercadológica. "Durante o processo todas as impurezas ligadas química ou fisicamente ao polímero são separadas e, assim, o produto reciclado pode voltar a ter contato direto com alimentos", diz a pesquisadora.
Mudança de rota- "O processo convencional de reciclagem - moagem, lavagem, secagem e processamento - só permite a utilização de produtos que não tenham contato direto com alimentos", afirma. Dessa maneira, o produto reciclado sai do seu principal mercado, que são os frascos para refrigerantes, água, óleo de soja, vinagre, bebidas isotônicas, entre outros.
A reutilização do PET nessas embalagens traz também um benefício para a economia do país. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o país
a boa prática da reciclagem.
Primeiro mundo- Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens de PET (Abepet), foram recicladas, em 2000, 67 mil toneladas desse produto. Em relação ao ano anterior, o resultado registra crescimento de 34%. "Isso representa um índice de 24,6%, similar ao de países como Japão e Estados Unidos, onde a reciclagem de PET é feita há mais de 20 anos. Aqui, o processo de reciclagem tem pouco mais de sete anos", compara Alfredo Sette, presidente da Abepet. Ele afirma que o sistema de coleta seletiva e implantação de cooperativas de catadores são fatores primordiais para o incremento desses números.
O número de garrafas PET descartadas impressiona os menos avisados. A professora Maria realizou uma pesquisa com resíduos urbanos, de agosto de 1997 a janeiro de 1999, em Araraquara, cidade com 180 mil habitantes, na qual foi constatado o descarte de mais de 7 mil garrafas PET por dia.
Durante a. evolução dos trabalhos, que levou ao novo sistema de despolimeralização do PET, a equipe de Maria enfrentou várias dificuldades. Uma delas foi a ausência de informações, já que boa parte dos processos de reciclagem química está patenteada. A maior dificuldade nessa área é que os processos encontrados em artigos ou em patentes são normalmente incompletos, ao abranger o problema do começo até o meio ou do meio até o fim. Ainda segundo a professora, a ênfase nesses casos é dada Garrafas empacotadas: índice de 24% de reciclagem
à reciclagem de resíduos industriais, o que é uma realidade completamente diferente da reciclagem de resíduos pós-consumo, principalmente no Brasil. Aqui, fora as exceções, o lixo doméstico contém resíduos de todo tipo, dificultando a seleção e a limpeza dos produtos recicláveis.
Dessa maneira, Maria optou por um estudo abrangente, utilizando o PET em reação com a água. Na busca das melhores condições para essa reação foram utilizados vários parâmetros como temperatura da água, tamanho das partículas, catalisador (agente que acelera as reações químicas), pH, agitação, tratamento superficial e, posteriormente, pressão. A produção inicial, feita em vidraria comum de laboratório, atingiu 100% de monômeros após três horas. Posteriormente, foi construído um reatar em aço inoxidável que permitiu a pressurização do sistema e a obtenção de temperaturas maiores. "Com o reatar, foi possível atingir a totalidade da reação em cerca de 15 minutos com pressões 11 vezes maiores", conta o engenheiro Sandra Donnini Mancini, que prepara tese de doutorado sobre o assunto.
Pureza original - Além de produzir os monômeros com o novo proces-
so, os pesquisadores ainda buscam um nível de pureza semelhante aos produzidos em petroquímicas. O maior problema para o pleno desenvolvimento da hidrólise (quebra de ligações químicas pela água) como técnica de reciclagem química é a dificuldade em obter o ácido tereftálico puro, o principal monômero do PET. Para isso, um método de purificação também foi desenvolvido.
Foram realizados dez ensaios de caracterização do material purificado, cujos resultados foram comparados com os do ácido tereftálico produzido pelas petroquímicas. "Apesar de algumas diferenças, as muitas semelhanças entre eles permitem a utilização do ácido tereftálico, produzido a partir de PET
O PROJETO
Desenvolvimento de Método de Reciclagem Química de PET Pós-Consumo por Hidrólise
MODALIDADE
Linha regular de auxílio à pesquisa
COORDENADORA
MARIA ZANIN- Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar
INVESTIMENTO
R$ 9.741 ,25
pós-consumo, para a produção do polímero sem as restrições
de acondicionar alimentos", analisa Maria Zanin.
Existem outras formas de reciclagem garrafa-agarrafa diferentes da proposta pela professora Maria. Uma delas é a utilização de material reciclado como recheio num "sanduíche" multicamadas com material virgem que acondiciona o material reciclado convencionalmente (aplicação já aprovada
pelo Ministério da Saúde desde o final de 1998). Outra forma é o chamado "super-clean", um sistema de
lavagem muito eficiente, que assegura a inexistência de qualquer elemento nocivo à saúde ou ao alimento a ser acondicionado. Esse processo ainda não é utilizado no Brasil, embora já existam pesquisas nesse sentido.
Percentual maior- Empresas que utilizam algumas das técnicas de reciclagem garrafa-a-garrafa pelo mundo aplicam um percentual pequeno de material recuperado junto com material virgem na linha de produção. Mas a tendência é que, com o barateamento do uso do PET reciclado, puxado pelo alto consumo, esse percentual possa ser gradualmente aumentado
Para finalizar o seu projeto de reciclagem garrafa-a-garrafa, a pesquisadora Maria elabora um meio de recuperação do outro monômero do PET, o etilenoglicol. Segundo a professora, a passagem do método para uma escala industrial depende de ensaios em planta piloto e análises de custos. O pleno desenvolvimento da reciclagem garrafa-agarrafa depende certamente da finalização desse projeto que servirá como estímulo para a adoção de sistemas mais elaborados de coleta e reciclagem de produtos cujo desti-no é o lixo. ..,.
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 53
TECNOLOGIA
Pneus como fonte de energia industrial
Transformar pneus velhos e abandonados em fonte de energia. Essa é a proposta de um projeto desenvol-
vido por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil, com apoio da área de planejamento energético da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ). Eles montaram um equipamento que gera três subprodutos nobres- negro-de-fumo, matéria-prima usada na produção de pneu, gás metano e óleo combustível usado em caldeiras e fornos industriais. Assim, esperam contribuir para a solução de um dos grandes problemas ambientais da atualidade: o destino de pneus usados.
Quando não serve mais aos diversos tipos de veículos, grande parte dos pneus é jogada em lixões, em terrenos baldios e no fundo de rios e de córregos. Um pequeno número é queimado em caldeiras indus-
dos mais diversos nesse período. O principal também se referia a uma questão ambiental. "O processo resultava em uma cortina de fumaça negra na atmosfera sem nenhum tratamento", recorda. A escolha, na época, recaiu sobre o pneu porque ele é um produto energético alternativo com custo próximo do zero.
Cada pneu contém energia equivalente a 9,4 litros de petróleo, segundo o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), entidade mantida por 15 grandes empresas como Ambev, Coca-Cola, MercedesBem, Paraibuna Embalagens e Gessy Lever. Calcula-se que existam, no Brasil, cerca de 500 mil pneus, por mês, disponíveis para uso como combustível. Esse número seria equivalente à economia de 4, 7 milhões de litros de óleo cru.
O Brasil des-carta, por ano, cerca de 20
triais como fonte de energia. Além de serem poluidores de grande porte, pelo tamanho e pelo fato de não se degradarem - isso demoraria centenas de anos -, eles acumulam água e servem de nascedouro para mosquitos transmissores de doenças como a dengue.
Mariotoni: produção de óleo combustível
A idéia de transformar pneus em energ1a surgm onglnalmente na década de 70 com a primeira crise global de combustíveis. "Quando ocorreu o primeiro choque do petróleo, chegamos a testar a utilização da energia do pneu em uma pequena indústria que reciclava ferro", lembra o professor Carlos Alberto Mariotoni, coordenador do projeto. Ele conta que enfrentou problemas
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milhões de pneus. Cerca de 70%, principalmente na área de transporte de carga e passageiros, seguem para a recauchutagem. Nos Estados Unidos, são 242 milhões de pneus descartados por ano, 25 milhões no Reino Unido e 10 milhões na Austrália. Nesses países, grande parte dos pneus é fragmentada e colocada em aterros sanitários e o restante é misturado ao asfalto ou usado em fornos para a queima de cimento.
Destino obrigatório- Outro fator que evidencia maior importância e atualidade ao trabalho da equipe do professor Mariotoni é a entrada em vigor, em janeiro de 2002, da obrigatoriedade de os fabricantes, vendedores ou importadores de pneus recolherem as unidades usadas para reciclagem. No início, para cada quatro pneus novos fabricados aqui ou importados, a empresa deverá dar destinação a um pneu usado. A partir de 2003, para cada quatro pneus fabricados, dois usados serão recolhidos e, em 2005, para cada quatro fabricados, cinco serão recolhidos.
Hoje, existem poucas empresas que fazem a reciclagem de pneus. A tecnologia usada é a trituração e a desvulcanização com produtos químicos que resulta em uma pasta utilizada na fabricação de tapetes de automóvel, solado de sapato e pisos industriais. O objetivo de Mariotoni, que retomou a pesquisa em 1997,
mais de 20 anos após as primeiras iniciativas, foi recuperar matérias-primas para a fabricação de pneus novos e a obtenção de produtos mais nobres que tenham qualidade energética.
"Começamos a trabalhar em cima de um novo projeto e a montar um equipamento que fosse adequado à atual realidade ambiental", conta ele. Hoje, o projeto está pronto e passa por estudos de dimensionamento para ser usado em escala industrial. O aparelho possui um reator que recebe, antes dos fragmentos de bor-
Terreno na cidade de Mauá, na Grande São Paulo: área alugada para depósito de pneus e depois abandonada
racha, ar comprimido em alta pressão e uma camada de alumina, um inerte particulado ( trióxido de dialumínio), que serve como meio para o processo. O ar comprimido força a expansão da alumina de uma espessura de 40 centímetros para 1,5 metro e ela é revolvida enquanto a temperatura interna do reatar chega a 700°C. Depois injeta-se gás liquefeito de petróleo (GLP) e a temperatura atinge 1000°C. "O material se transforma numa grande massa incandescente", diz Mariotoni. Aí, é hora de introduzir no reatar os pneus fragmentados, que dessa forma absorvem mais rapidamente o calor.
Quando a borracha chega nesse ambiente entra em decomposição. Nessa fase, surgem várias moléculas originais da borracha e uma série de compostos. Esses compostos se dividem e formam partículas cada vez menores. No final, sobram componentes líquidos, gasosos e sólidos.
A separação do gás do líquido acontece no condensador. "Ele força o gás a passar por um conjunto de
O PROJETO
Reciclagem Energética de Pneus Descartados através de Reatar de Leito Fluidizado: uma Contribuição para a Questão Ambiental
MODALIDADE Linha regular de auxílio à pesquisa
COORDENADOR CARLOS ALBERTO MARIOTONI - Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp
INVESTIMENTO R$ 21.000,00
serpentinas (com várias camadas e água)", afirma Mariotoni. Esse gás passa de 350° para 32°. Nessa queda de temperatura, muito do que era vapor torna-se líquido novamente e é separado num recipiente. No final obtêm-se três subprodutos (em torno de 30% cada um): cinzas carbônicas conhecidas como negro-de-fumo, o óleo e o gás metano, sendo que os dois últimos apresentam qualidades energéticas. "Se um equipamento desse fosse instalado junto à planta de uma pequena ou média indústria,
seria possível usar na produção os combustíveis resultantes do processo", afirma Mariotoni.
O sistema desenvolvido pelos pesquisadores utiliza o método da pirólise. Ou seja, tudo é feito sem a presença de oxigênio. Assim, prioriza-se a formação da parte líquida (óleo). "Vários processos foram testados e nesse não existe a ocorrência de problemas como a fumaça", afirma Eduardo Antônio Goulart, que prepara tese de doutorado sobre o tema na Área de Planejamento de Sistemas Energéticos, na Unicamp.
Alternativa energética - "O problema dos pneus usados tem dimensões preocupantes, assim serão necessárias várias iniciativas para resolvê-lo", diz Goulart. Para ele, o projeto é uma das soluções, pois sozinho não resolve a questão. "Na década de 70, nosso principal objetivo era encontrar uma alternativa energética. Hoje não é possível falar de energia sem levar em consideração a questão do ambiente", afirma o professor Mariotoni. ~
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 55
TECNOLOGIA
Uma solução para as pilhas
N o laboratório no qual trabalha o professor Jorge Alberto Soares Tenório e sua equipe, no Departamen-
to de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (PoliUSP), reciclar virou palavra de ordem. Entre diversos projetos, o mais avançado é um que prevê a recuperação de metais de pilhas usadas. "Nosso trabalho abre caminhos para a obtenção de dois produtos extraídos das pilhas: zinco metálico e dióxido de manganês. Eles têm as mesmas características que as matérias-primas usadas originalmente nas pilhas comuns ou alcalinas utilizadas em diversos aparelhos eletrônicos, de walkmans, relógios e lanternas até câmaras fotográficas."
Pilhas e baterias usadas: objeto de estudo na USP
resolução, apenas as baterias de níquel-cádmio, usadas em telefones celulares, devem ser coletadas pelo fabricante ou importador. A lei diz também que as pilhas podem ser colocadas junto com os resíduos domiciliares em aterros sanitários e, no artigo 8°, proíbe a destinação final de pilhas usadas em terrenos a céu aberto. O problema é que 76% do lixo urbano é jogado nos lixões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) . Situação, portanto, imprópria para pilhas e baterias, que apresentam
"O zinco também é usado na proteção de chapas e tubos de ferro, ligas de cobre, ligas fundidas sob pressão (comercialmente conhecidas como zamac), entre outros produtos", afirma Tenório. Atualmente, cerca de 4% do zinco produzido no Brasil é utilizado pela indústria de pilhas, ou seja, 8 mil toneladas ao ano são usa-
das e depois descartadas, pelos consumidores, no lixo doméstico.
As pilhas ainda não estão entre aqueles produtos separados nas coletas seletivas de lixo ou apanhadas por catadores nos lixões. Não existem empresas recicladoras e o desinteresse aumentou com a publicação da resolução 257/99 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que delineou o destino de baterias e pilhas no país. O artigo 6° da lei determina que, a partir de 1 o de janeiro deste ano, a fabricação, importação e comercialização
de pilhas obedeceria os seguintes limites de metais ativos nas pilhas: 0,010% em peso de mercúrio, 0,015% de cádmio e 0,200% de chumbo.
Tenório: zinco e manganês reutilizados na indústria
No artigo 13° da mesma lei, os fabricantes ficam desobrigados de fazer a coleta do produto usado com as especificações do artigo 6°. É o caso das pilhas comercializadas no Brasil. Segundo a
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em sua composição metais perigosos à saúde humana e ao ambiente, como mercúrio, chumbo, cádmio e manganês.
Caminho certo - Preocupado com o problema e empenhado em propor uma solução, Tenório iniciou o projeto de reciclagem de pilhas utilizando a rota da hidrometalurgia. Esse processo se baseia na concentração de materiais e na dissolução sulfúrica da pilha seguida da extração dos componentes químicos por solventes orgânicos. Em fase de finalização da nova técnica, a equipe de Tenório prepara uma solução para as pilhas que promete resolver a questão ambiental e incluí-las na indústria bra-sileira de reciclagem.
O PROJETO
Processamento Hidrometalúrgico para a Recuperação de Metais de Pilhas Usadas
MODALIDADE
Linha regular de auxílio à pesquisa
COORDENADOR
JORGE A LBERTO SOARES TENÚ RIO - Poli-USP
IN VESTIMENTO
R$ 33.232,50
•
TECNOLOGIA
O fungo Scytalidium thermophilum, ampliado 37.500 vezes: alternativa para produção de fosfatases, ainda importadas
MICROBIOLOGIA
Sementes de autonomia Grupo de Ribeirão Preto cria alternativas à produção nacional de enzimas
N o momento em que as indústrias químicas brasileiras re
solverem tornar mais refinada a hoje modesta produção de enzimas - uma vasta classe de proteínas indispensáveis à produção de alimentos, bebidas e detergentes -, não terão de partir do zero. Nem buscar conhecimento muito longe. Em Ribeirão Preto, um grupo de biólogos produz pelo menos 30 enzimas de interesse industrial ou científico, muitas delas ainda importadas, a partir de cerca de 15 fungos que atuam em temperaturas relativamen-
te altas (acima de 37°C), uma pmpriedade rara que reduz o risco de contaminação por outros microrganismos. Outra inovação: a matériaprima empregada são resíduos de indústrias ou plantações - bagaço de cana-de-açúcar ou sabugo de milho, por exemplo. Em comparação com os métodos habituais de produção, que se baseiam em açúcares importados, o resultado é equivalente.
Ainda que em pequena escala, sujeita a ajustes para chegar a uma escala industrial, a produção do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) exibe até mesmo alternativas à produção de enzimas nobres como as fosfatases, ainda inteiramente importadas. São usadas em testes de
medicamentos e alimentos (diferenciam carne de porco ou de boi) e em biologia molecular (permitem o encaixe de seqüências genéticas em fragmentos de DNA). As fosfatases estão entre as mais caras: 100 miligramas de um dos tipos, a alcalina, custam US$ 300.
Na USP de Ribeirão Preto, duas equipes, coordenadas por João Atílio Jorge e por Maria de Lo urdes Teixeira de Moraes Polizeli, demonstraram que as fosfatases podem ser feitas- de modo bem mais econômico - a partir de fungos do gênero Aspergillus, que tomam a forma de grãos ocre depois de crescerem. Há pelo menos três alternativas: o Neurospora crassa, um bolor alaranjado, o Scytalidium thermophilum e o Humícola grisea variação thermoidea, ambos pretos. Quando os fungos se alimentam de bagaço de cana, na proporção de 1 grama de resíduo para 100 mililitros de meio de cultura, produzem enzimas que, estima-se, custam dezenas de vezes menos que o equivalente importado.
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 57
Mas não é apenas por aí que pode modificar-se a produção nacional, ainda pouco variada (ver quadro) . Mesmo a produção dos itens corriqueiros poderia ser otimizada. É o caso da amilase, de uso amplo na fabricação de doces, biscoitos, remédios e bebidas, e ali produzida com o Aspergillus, o Rhizopus, um dos causadores do bolor de pão, e o Neurospora crassa e seus m utantes, entre outros.
Bagaço e açúcares - Em um artigo publicado em fevereiro no ]ournal of Industrial Microbiology & Biotechnology, Maria de Lourdes demonstra como pode ser inovado o modo pelo qual o Aspergillus phoenicis libera Acervo de fungos: enzimas a custos menores
xilanases, enzimas que fragmentam um tipo de açúcar, a xilana, o principal componente da hemicelulose, que forma as paredes das células vegetais. Segundo ela, as xilanases podem reduzir o uso de cloro e de ácidos na produção de papel, em apenas uma das possibilidades de seu emprego industrial.
Normalmente, essa enzima é produzida a partir de xilana (US$ 1,50 o grama) . Crescendo em resíduos industriais, esse Aspergillus - isolado
- -- -
Do pão e vinho à I' máquina de lavar
r; Uma faz o pão crescer, outra o
deixa crocante. As enzimas são tão
li específicas quanto indispensáveis à produção de alimentos - uma
i' lista que inclui queijos, biscoitos, I' geléias, cerveja e vinho -, deter-
I ~ gentes e ração animal.
lt O Brasil ainda mantém uma posição discreta, próxima a 2%,
i ' no mercado mundial de enzi-mas, estimado em US$ 1,5 tri-lhão, segundo levantamentos do
li Instituto de Química da Univer-li sidade Federal do Rio de Janeiro
58 • ABRIL DE 2001 • PESQUISA FAPESP
do solo e de bagaço de cana dos arredores de Ribeirão Preto - produziu xilosidases em n íveis comparáveis: 278,3 unidades por miligramas em xilana e 219,9 em bagaço de cana. Outra comparação foi feita com xilose, outro açúcar importado (US$ 40,00 por 100 gramas), com resultados próximos: 146,7 un idades por mili.gramas em xilose e 112,3 em sabugo de milho. Houve também experiências bem-sucedidas com palha de ar-
(UFRJ) e da Business Communi-cations Company.
Até o momento, as empresas brasileiras concentram-se na pro-dução de enzimas mais simples e de mercado amplo, como o coa-lho, as amilases e celulases. Desde 1990, tem crescido o déficit da ba-lança comercial de enzimas, em decorrência do uso intensivo de reagentes para biologia molecular e de novas aplicações, como na fa-bricação de biodetergentes.
O estudo da UFRJ sobre essa área acentua: o Brasil é um gran-de produtor das matérias-primas das enzimas que acaba impor-tando, por não suprir a contento
roz, farinha de mandioca e farelo de trigo- até mesmo com papel de filtro. Dando-se materiais simples, mas em abundância, os fungos também respondem com fartura .
"Sabemos o que os fu ngos produzem e qual deles prod uz mais o que a gente quer", comenta Jorge, ao resumir o trabalho de pelo menos 20 anos de um grupo de trabalho que uniu a simplicidade nos métodos e nos materiais de trabalho, a autonom ia, a visão de conjunto e uma sólida perspectiva de aplicar os conhecim entos que nascem das pesquisas.
Jorge guarda uma coleção com cerca de 100 amostras de fungos, retirados de plantas, solos ou material em decomposição. Maria de Lourdes formou seu próprio acervo, já com 30 amostras. Nem são raros: podem ser obtidos em bancos de microrganismos até mesmo sem custos. Mais difícil, evidentemente, é descobrir o que podem fazer.
As d uas equipes trabalham com duas categorias de fungos: os termófilos, que se desenvolvem melhor em temperaturas acima de 37° C, como o Aspergillus phoenicis, e os mesófilos, cujas condições ótimas de crescimento encontram-se entre 20 e 37° C, caso do Neurospora. Com o tempo, comprovaram que as espécies termófilas de fun-
a demanda nacional, a exemplo da bromelina, obtida do abacaxi (Ananas sp), e a papaína, que provém do mamão ( Carica heterophylla) . Ambas são compradas principamente de empresas dos Estados Unidos e da Suíça para produção de medicamentos.
1
I
I :
i : I
Uma situação semelhante ' ocorre com a lisozima, extraída da , clara de ovo, matéria-prima rela- I tivamente de baixo custo, que in- 1
tegra o grupo de enzimas de alto 1 valor agregado, para uso médico, cujo preço varia ao redor deUS$ ' 62 por kg. Nesse caso, é a Irlanda : que atende quase a totalidade da ; demanda do país. :
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gos geralmente produzem enzimas em maior quantidade que as do outro grupo. Ponto a favor da simplicidade: as enzimas liberadas pelos aficionados pelo calor são também mais estáveis. Ana Carolina Segatto Rizzatti, uma das doutorandas do grupo, submeteu uma xilanase a um banho de 60° C durante quatro horas - e nada se modificou.
Tão resistentes, as enzimas dos fungos termofílicos podem ser armazenadas a temperatura ambiente e transportadas sem câmaras refrigeradas, ainda indispensáveis nessa área. Outra vantagem: a contaminação é baixa. "É
Jorge, tratando dos fungos, e Maria de Lourdes com o Aspergillus phoenicis: simplicidade nos métodos e nos materiais
difícil que as bactérias mais comuns sobrevivam na mesma temperatura dos fungos termofílicos", diz Maria de Lourdes.
O grupo de Ribeirão Preto coleciona também achados sobre a biologia dos fungos, como resultado de dois projetas que contam com o apoio da FAPESP. No ano passado, em um estudo com o Chaetomium thermophilum, Jorge provou que a enzima maltooligosil trealose sintase também é produzida por fungos. Pensava-se que as bactérias seriam os organismos mais simples capazes de sintetizar essa enzima, que quebra a trealose, um tipo de açúcar que existe também em algas, plantas e insetos.
Açúcar do futuro - Já se sabia que a trealose ameniza os efeitos do frio. A novidade é que pode poupar a planta também do calor excessivo, de acordo com os resultados do doutorado de Ana Carla Medeiros Morato de Aquino com o Rhizopus microsporus variedade rhizopodiformis. Jorge lembra que a trealose já é vista como o açúcar do futuro: poderia ser usada como um protetor de macromoléculas- para aumentar o tempo de validade das vacinas, por exemplo.
A equipe da USP conhece tanto o potencial quanto os próprios limites. "Temos competência na bancada do laboratório", assegura Jorge. Ele sabe:
OS PROJETOS
Bioquímica de Fungos: Estudos de Enzimas de Fungos Filamentosos
MODALIDADE
Linha reg ular de auxílio à pesquisa
COORDENADOR
JoÃo Ariuo JoRGE - USP de Ribeirão Preto
INVESTIMENTO
R$ 19.0 18,30 mais US$ 5.000,00
Atividades Enzimáticas com Potencial Biotecnológico Produzidas por Fungos Filamentosos de Hábitos Termo fí/icos
MODALIDADE
Linha regu lar de auxílio à pesquisa
COORDENADORA
MARIA DE LOURDES TEIXEIRA DE MORAES POLIZELI - USP de Ribeirão Preto
INVESTIMENTO
R$ 22.099,55 mais U$ 27,026,25
antes de viabilizar inteiramente as aplicações industriais, seria preciso cumprir algumas etapas. Uma delas é ampliar a escala de produção mantendo o rendimento: por vez, o laboratório produz em média um litro de enzimas, enquanto nas indústrias os tanques de produção têm, digamos, cem mil litros. "Temos um supermercado, mas faltam os compradores", compara.
Supermercado, aliás, que não pára de crescer. No ano passado, o doutorando Luis Henrique Souza Guimarães percorreu a região de Ilha Solteira em busca de fungos produtores de fosfatases. Voltou feliz: um dos achados foi um raro Rhizopus microsporus, que cresce acima de sooc. E é um respeitável produtor de
fosfatases, submetidas a altas temperaturas nos ensaios de biologia molecular.
Professor da USP há 23 anos, Jorge não vê por que interromper seu trabalho de identificação e entendimento dos fungos, mesmo que avancem os cantatas com empresas. Não lhe falta visão histórica. Nos anos 70, quando subiu o preço do petróleo, tornou-se prioritário aumentar a produção de álcool- e um dos caminhos cogitados seria com os fungos, lembra ele. A cotação do petróleo caiu, o interesse passou, mas as pesquisas prosseguiram. O que faria hoje, se o problema ressurgisse? Em resposta, o pesquisador de 51 anos retira de sua coleção os exemplares que conseguem extrair álcool de bagaço de cana ou, mais amplamente, de celulose (madeira ou mesmo papel velho). "Pode chegar um momento em que a única fonte de combustível possa ser essa", diz. "O importante é não perdermos o domínio desse conhecimento." •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 59
TECNOLOGIA
TRANSPORTE
Olhar eletrônico Empresa do Pipe desenvolve sistema inédito que monitora veículos a distância
Gerar mais segurança e melhorar o controle dos mais diver
sos setores de transporte é a proposta de um novo equipamento que vai ajudar a resolver os problemas dessa área como roubos, escolha de rotas e supervisão do transporte público. Fruto de um projeto do Programa de Inovação Tecnológica para Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, a Unidade Móvel de Registro de Rotas foi desenvolvido pela Compsis Computadores e Sistemas, de São José dos Campos.
Baseado nos tradicionais sistemas localizadores de veículos a distância, o equipamento agrega ao rastreamento usual uma série de opções oferecidas pela informática. Em fase de finalização, esse diminuto computador de bordo disponibiliza várias funções e informações que vão do mapeamento da rota percorrida até detalhados relatórios de cumprimento de horários em cada ponto do trajeto. A Unidade Móvel registra, se for desejado, atividades específicas do veículo, tais como o consumo de combustível, a velocidade em cada ponto do trajeto e até mesmo a temperatura de uma carga refrigerada.
Até os registros de abertura de portas e os tempos de parada podem ser computados. Registros eletrônicos em portarias de empresas, pagamento automático de pedágio e em postos de abastecimento também estão previstos nas configurações já disponíveis. Indo mais adiante, no caso particular e preocupante da segurança, se um
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veículo sair de uma rota pré-estipulada, o equipamento poderá providenciar o desligamento de certos sistemas, passando a controlar a ignição do motor, a abertura da porta baú, os faróis, as travas nas portas e o rádio, emitindo aviso à central ou então diretamente à segurança responsável.
Compacto e escondido -
O aparelho lembra a caixa-preta existente nas aeronaves. É composto de uma caixa metálica compacta do tamanho de um maço de cigarros e de uma antena igualmente pequena, ambas estrategicamente embutidas no veículo, em locais seguros e sem estar à vista, dificultando a pos-sibilidade de violação. Via Outra: sistema traz segurança às transportadoras
O sistema de comu-nicação entre o veículo e a sede da empresa é feito a partir de conexões com estações de rádio UHF ou sistema de telefonia celular. Os satélites de comunicação, como o Brasilsat, usados pelos concorrentes, estão descartados por apresentarem alto custo. No entanto, como alguns de seus congêneres, a Unidade Móvel utiliza-se da tecnologia Global Positioning System (GPS), baseada na constelação de satélites que informa a latitude e longitude de cada ponto do planeta. Com o GPS, o equipamento consegue registrar percursos dos veículos sobre mapas digitalizados exibindo as coordenadas e identificando o nome da rua.
O potencial do equipamento da Compsis tem despertado grande interesse em testes e exibições, mas um fato que chama a atenção e endossa ainda mais o projeto é o detalhe que ele foi todo desenvolvido no país. "Valorizamos bastante esse trunfo", exalta Ailton Queiroga, diretor-presidente da Compsis e coordenador do projeto.
Custo menor- Outro feito da Compsis é o equipamento ficar mais barato e ter prestações de serviços mais econômicas que as de seus concorrentes, também dependentes de tecnologia estrangeira. "Nós produzimos o equipamento, enquanto outras empresas trabalham com representantes", conta Queiroga.
Chapa: CFQ 3429 Motorista: N3247
- " .
CT A Velocidade : 80-100 lnic. 13h00
Queiroga: apare lho envia para a te la do computador dados do veículo como
trajeto e faixa de velocidade, visível pela variação de cor das bolinhas
A origem da Compsis data do ano de 1989, quando a empresa iniciou suas atividades como fornecedora do setor aeroespacial existente em São José dos Campos. Em anos mais recentes, a companhia passou a implantar pedágios eletrônicos e desenvolveu softwares e aparelhos eletrônicos para as linhas de montagem da indústria automobilística.
As qualidades do sistema de localização da Compsis já foram testadas pela maior seguradora de cargas do país, a Pamcary. Essa empresa endossou no final do ano passado a validade da instalação desse equipamento em caminhões. Concessionárias de diver-
O PROJETO
Sistema Automático para Monitoração de Rotas de Veículos
MODALIDADE Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE)
COORDENADOR AILTON DE ASSIS QUEIROGA- (ompsis
INVESTIMENTO R$ 44.193,80 e US$ 153.100,00
Data: 20112100
sos serviços públicos também já estudam a possibilidade de adotar o equipamento para fiscalizar as suas frotas. Na gestão de uma frota de ônibus, por exemplo, pode-se registrar cada parada e o tempo gasto nela, a velocidade desenvolvida e a quilometragem, além das rotas de cada veículo.
Outra área de grande potencial é a checagem da rota dos veículos que transportam lixo comum, hospitalar ou químico. Pode-se situar inclusive a tonelagem que o veículo carrega e, um dado importante do ponto de vista sanitário, o real local de descarga. Queiroga acredita que, com isso, a fiscalização desses serviços ficará facilitada e livre de fraudes. "O controle nem precisa ser imediato, por-
que pode ser feito ao final do dia, ou mesmo semanalmente", explica o engenheiro Leopoldo Yoshioka, da Compsis.
Muita informação - O equipamento pode ser configurado para várias capacidades de memória e, se houver necessidade, os dados promovidos pelo sistema podem ser criptografados (linguagem cifrada). O sistema produz relatórios, formaliza gráficos e também cruza informações a partir de arquivos gerados em formato compatível com o popular conjunto
de softwares MS-Office, da Microsoft. Aposta-se, assim, na utilidade desses dados
tanto para fins de auditoria quanto para otimizar o gerenciamento dos serviços prestados.
Nessa fase de lançamento, a Compsis pretende se dedicar a setores determinados como o de carga, incluindo as empresas que transportam seus próprios produtos e as transportadoras, além do segmento de passageiros. Num próximo passo, a empresa vai atender a outras frotas de veículos comerciais e militares,
sem deixar de lado as ambulâncias e os veículos particulares. Queiroga acredita também em boas possibilidades no mercado externo.
Num primeiro momento, cabe, ainda, uma decisão. Se a Compsis irá simplesmente ofertar o produto ou cuidar também da prestação de serviços. Essa resposta não é tão simples por se tratar de uma pequena empresa. Embora, nos últimos dois anos, tenham dobrado o seu número de funcionários - a companhia emprega 130 pessoas. Quanto ao incremento previsto no faturamento, a empresa afirma que isso ainda é impossível de calcular. Por enquanto, o objetivo é finalizar o produto e colocá-lo no mercado. •
PESQUISA FAPESP • ABRILDE2001 61
TECNOLOGI11.
AVICULTURA
Frango pesado pela imagem Cálculo do peso das carcaças por filmagem melhora a produção industrial avícola
Aindústria brasileira de frangos, cuja organização e tecnologia
em genética, nutrição e processamento já a credenciam como uma das maiores e mais avançadas do mundo, conta agora com um sistema de avaliação do peso por câmara de vídeo, o que antecipa em 1 hora a programação do fluxo de produção e organiza o processo. Criado pela pequena empresa Unisoma Matemática para Produtividade, como parte de um projeto de controle da produção de abatedouros, o sistema ajuda a programar todo o fluxo, desde a entrada dos frangos para abate até os procedimentos finais de em-balagem e distribuição.
A empresa, que opera em Campinas, tem entre os clientes a Companhia Vale do Rio Doce, fábricas de papel e celulose e agroindústrias. Seu presidente, o engenheiro Miguel Taube Netto, revela que o projeto de pesagem por visão computacional é um desdobramento do sistema Planejamento Integrado da Produção Avícola (Pipa), desenvolvido de 1989 a 1997 e implantado na cadeia produtiva do grupo Sadia.
O Pipa consiste de módulos que, apoiados em técnicas matemáticas e estatísticas, concatenam os processos ao longo da cadeia- que vai da produção de matrizes-avós e pintinhos de um dia a alojamento de pintos,
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nutrição, crescimento, sistema de coleta no avicultor, entrega no frigorífico, abate, classificação, embalagem e distribuição.
Ao longo de dez anos, a Unisoma implantou na Sadia vários módulos de planejamento e controle das atividades, envolvendo o abate de mais de 6 mil lotes, à base de 12 mil frangos por lote. Com isso, conseguiu-se o
resfriamento, câmara capta imagem de cada carcaça e computador avalia o peso pelo contorno do dorso: margem de erro é só 5%
abate médio diário de mais de 1 milhão de frangos, mais de 300 produtos diferenciados por faixa de peso e tipo de corte, a alocação da produção em sete abatedouros conforme a especialidade de cada um e a distribuição para várias zonas de comercialização no país e no exterior. Taube conta que, graças ao Pipa, de 1992 a
1994 a Sadia ganhou US$ 50 milhões, devido à melhor conversão alimentar e à escolha de produtos de maior margem de lucro.
Foco no dorso - A avaliação do peso na linha de produção funciona por meio de uma câmara de vídeo acoplada a uma placa de tratamento de imagem e a um computador com
software específico. A câmara capta a imagem em movimento- à velocidade de três aves por segundo - e o computador faz a estimativa do peso com base na área do dorso.
"Como nas aves há uma proporção relativamente constante entre tamanho e peso, o sistema captura a imagem de cada carcaça, extrai suas dimensões e, com base numa equação de regressão, estima o peso, fornecendo como resultado um histograma (gráfico de freqüências) da distribuição dos pesos das aves a cada instante", diz Taube.
Segundo o engenheiro elétrico Ricardo Mayer de Aquino, bolsista do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ( CNPq) e responsável pelo desenvolvimento e implantação do projeto, a margem de erro do sistema é de S%.
gia: "Como o peso dos frangos varia de 800 gramas a 3 quilogramas, o sistema permite uma programação mais precisa na sala de classificação e embalagem, já que nem sempre o avicultor manda o peso previsto':
O empresário Taube revela que, quando seu desenvolvimento terminar, o protótipo será instalado na unidade da Sadia em Toledo, Paraná, com três linhas de abate.
"Inicialmente, tentamos usar um contorno do frango na área da coxa e da asa, mas concluímos depois que a área que mais se relaciona com o peso do frango é o dorso", diz Roberto de Alencar Lo tufo, da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade de Cam
Taube: abrindo mercado amplo para pequena empresa Para Taube, engenheiro ae
pinas (Unicamp ), consultor do projeto e responsável pelo software. Ele explica: "O computador captura a imagem, identifica a área do dorso, faz o cálculo e converte para peso".
Decisões matemáticas- Usualmente, a pesagem é feita depois de resfriada a carcaça - porque depois do abate o frango vai para o resfriamento pendurado em ganchos que não permitem a pesagem. Abatidos, depenados e sem as vísceras, os frangos são inspecionados e caem no tanque de resfriamento, onde são lavados por 1 hora com água clorada e filtrada, a S0 C. Depois, seguem por trilho, pendurados por um pé, e são pesados por um processo eletromecânico: o peso é captado por um computador, que classifica as aves por categorias e as encaminha para o processamento.
Só então se define, por categoria de peso, a que faixa de produto efetivamente se destinarão as carcaças: frango inteiro, frango para corte e outras. O inteiro tem vários destinos: o ultraleve, de 9SO a l.OSO gramas, vai para países árabes, e o mais pesado é vendido inteiro no mercado interno ou exportado em partes.
Já o cálculo do peso por imagem, antes do resfriamento, permite programar essa classificação com 1 hora de antecedência, para o cumprimento do plano diário de produção. ''A pesagem antes do resfriamento permite ao programador que classifica os frangos no frigorífico tomar decisões matematicamente estruturadas
para os planejamentos do dia", diz Taube. Além disso, o método se mostrou mais econômico e com menor interferência no processo.
O cálculo é mais preciso que a primeira pesagem- que ocorre ainda no caminhão, com os frangos vivos, muitas vezes de penas encharcadas. O novo método contribui também para o acompanhamento do desempenho dos avicultores e o controle do perfil de peso de cada lote que chega ao matadouro. E poderá ainda auxiliar no controle da absorção de água durante o resfriamento.
Em fevereiro último, a equipe monitorou um protótipo no frigorífico Pena Branca em Amparo, região de Campinas, e testou mudanças na posição da câmara e na iluminação .. O frigorífico abate 130 frangos por minuto e 3 milhões por mês - metade para frango inteiro e metade para corte - e exporta cerca de SOO to neladas mensais para a Arábia Saudita. Responsável pela tecnologia do frigorífico, o engenheiro Luiz Bonetto elo-
O PROJETO
Controle da Produção Diária de A batedouro de Frangos
Programa de Inovação Tecnológica em Pequena Empresa (PIPE)
COORDENADOR MIGUEL TAUBE NEITO- Unisoma
ronáutico doutorado em engenharia industrial e titular de Matemática Aplicada na Unicamp, "a aprovação do protótipo demostra que há um grande mercado para o sistema': Ele estima esse mercado em 30 abatedouros no Brasil e outros 200 no exterior. Pretende vender o sistema de pesagem por US$ 2S mil. Já um sistema completo, como o Pipa, pode exceder US$ 1 milhão. É uma perspectiva ampla para a Unisoma, que tem 12 empregados, fatura U$ SOO mil por ano e trabalha com inovações desde que foi criada em 1984.
O melhor do setor- Taube ressalta que o Brasil é o segundo maior exportador de carne de frango, depois dos Estados Unidos: da produção de S,7 milhões de toneladas de carne, no ano passado, equivalente a 2,S bilhões de aves, 906 mil toneladas foram exportadas, segundo a Associação dos Produtores de Pinto de Corte (Apinco). Para Taube, se os Estados Unidos exportam mais, "a indústria brasileira é mais sofisticada, pois trabalha com centenas de produtos destinados aos mercados interno e externo, que compram frangos inteiros com vários pesos, divididos por categoria, cortados em partes, com osso, sem osso e em miúdos". Até os pés de frango são exportados para a Ásia. Contudo, um ponto crítico da cadeia produtiva é o controle da produção diária nos abatedouros, devido à grande variação de peso das aves e à diversidade de produtos - daí a relevância do projeto. •
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HUMANIDADES
EDUCAÇÃO
Biblioteca interativa, nova forma do saber Projeto coloca em prática um novo conceito para que essa instituição ganhe dinamismo
Biblioteca é o lugar onde ficam guardados livros e documen
tos, para estudo, leitura e consulta. Certo? Não necessariamente. A experiência da equipe coordenada pelo professor Edmir Perrotti mostra que há um ·potencial muito maior escondido naquelas prateleiras repletas de saber. Com o apoio da FAPESP, o projeto Serviços de Informação e Educação. Biblioteca e Escola: Novos Paradigmas colocou em prática um novo conceito de biblioteca, mais interativa e dinâmica, que já vem sendo desenvolvido com sucesso em outros países. Por meio do Programa de Serviços de Informação em Educação (Proesi), o Departamento de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (USP), já vinha pesquisando novos ambientes de informação, por meio de projetas como a Estação Memória, na Biblioteca Infanta-Juvenil Álvaro Guerra, em São Paulo. Mas faltava ainda estudar como a biblioteca interativa se desenvolveria em escolas, com alunos do ensino fundamental. O objetivo er-a perceber como o novo conceito poderia atuar na melhoria da relação da criança com o conhecimento escrito.
Enchentes - A oportunidade veio da necessidade da Escola Municipal de Primeiro Grau Professor Roberto
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Mange, localizada no Jardim Esther, um bairro carente da zona oeste da capital paulista. Após uma das muitas enchentes que atingem São Paulo, a escola viu sua sala de leitura submersa em 1,5 metro de água e pediu socorro à Universidade de São Paulo. "A escola oferecia as condi-
ções ideais para o projeto, pois tinha desde o ensino fundamental até supletivos, um enorme rodízio de alunos, na faixa etária entre os 7 e 70 anos, com índices muito altos de repetência e abandono", explica Perrotti. "Além disso, ficava em um meio social altamente problemático, em meio a três favelas", conta.
Aceito o desafio, escolhida a escola e aprovado o projeto- que teve como bolsistas cinco professores da própria Roberto Mange - veio a necessidade de preparar o ambiente para o conceito totalmente novo que estava por vir. A essência do modelo de biblioteca interativa é a circularidade da informação. "Com diálogo entre os repertórios cultu-
rais da biblioteca e das pessoas que se movem naquele meio você cria um espaço de trocas de experiências", diz Perrotti. E, assim, proporciona o surgimento de uma nova relação com a informação.
O professor lembra que este conceito não diminui a importância das bibliotecas tradicionais de conservação - que armazenam a informação e difusão -, que pregam a filosofia iluminista de levar cultura às massas. "É essencial, por exemplo, que a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, seja de conservação, mas esse não é o melhor modelo para uma escola, pois carece de dinamismo e circularidade", contemporiza Perrotti.
Longe de ser apenas um conceito abstrato, tal circularidade foi aplicada, desde o início, na concepção do espaço físico da biblioteca. Durante os seis meses iniciais, professores da USP e da escola buscaram o lugar ideal para a implantação do novo espaço e chegaram à conclusão de que seria a sala dos professores. "Depois que eles decidiram ceder a sala, fizemos uma série de atividades para que os professores fossem se apropriando do novo espaço", conta Perrotti. O mobiliário, por exemplo, foi constituído de uma forma que possibilitasse a composição dos ambientes conforme a necessidade. "Todas as peças eram intercambiáveis. Tudo
deve ser dinâmico, nunca estático", completa.
Enquanto o espaço era construído, os pais e alunos também participavam de atividades, começando a imaginar como seria a nova sala. Com a inauguração da biblioteca, em maio de 1997- um ano depois do início do projeto-, veio a certeza de que se tratava de um modelo vencedor. "A adesão dos alunos à proposta foi imediata", comemora Edmir Perrotti.
Novidades - A biblioteca trouxe novidades como a substituição das tradicionais horas do conto, em que os professores contam histórias para os alunos, por rodas de histónas, quando as crianças podem
contar episódios relativos às suas vidas, de seu repertório cultural. "Uma das coi-
o o o
sas que ma1s lmpresswna-ram os alunos foram o reconhecimento de sua voz e o respeito com que foram tratados", relata Perrotti.
Outra característica essencial da biblioteca é a multiplicidade de recursos, com os próprios livros - o acervo tem cerca de 5 mil, alguns escritos pelas próprias crianças -, computadores, música e televisão. Entretanto, mais do que apenas justapor diferentes meios, a idéia é oferecer o estímulo para que os alunos possam aprender a se relacionar com a informação nos mais diferentes suportes. Então, se o trabalho era sobre água, lá estava Luiz Gonzaga a cantar Asa Branca e as linhas de Graciliano Ramos mostrando como é triste a falta dela.
O retorno veio na mesma moeda: o respeito. Perrotti conta que, enquanto as
Biblioteca da Escola Roberto Mange: espaço conquistou alunos
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dependências da escola eram constantemente pichadas e depredadas, a sala da biblioteca não tinha nem mesmo uma mesa riscada. Quando o novo espaço fez um ano, os alunos decidiram pintar todos os corredores da escola para a festa de comemoração e escolheram para as portas das outras salas as mesmas cores usadas na da biblioteca. "Eles estavam dando indicações do que esperavam do ambiente escolar, algo semelhante ao que en
Professor Edmir Perrotti: união da universidade com a comunidade
sencial para a transformação na qualidade do ensino", comemora o pesquisador. A escola apareceu em programas na TV Futura, reportagens em jornais, revistas e TVs. O sucesso foi tamanho que o departamento de Perrotti na USP está inundado de pedidos de municípios que querem implantar bibliotecas semelhantes. Em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o conceito de biblioteca interativa já começou a ser implan
contravam na biblioteca", analisa. Outro indício apareceu quando os alunos pediram para usar o mesmo logotipo da biblioteca- escolhido em um concurso entre as próprias crianças, estimulando mais uma vez a interatividade - como o logotipo da escola. "Começaram a tomar a parte pelo todo': acrescenta Perrotti.
Não demorou para que outros resultados surpreendentes começassem a aparecer. Perrotti anima-se ao contar a história de um aluno, inicialmente tímido e pouco envolvido nas atividades escolares. A partir das aulas de educação artística e pesquisas na biblioteca, ele começou a pintar quadros com toques surrealistas. Especializou-se tanto que, hoje, vende sua produção em uma feira de arte em São Paulo e ganhou uma bolsa para estudar música. Recentemente, Perrotti foi convidado para vê-lo tocar em um bar paulistano.
Outra conquista aconteceu em uma classe, na qual os 37 alunos -com idades até 14 anos- não conseguiam aprender a ler e escrever. Em um ano, todos eles foram alfabetizados, com a ajuda da biblioteca. "É importante ressaltar que, além do espaço, é necessário ter a capacitação, pois o professor que trabalhou com essa turma fazia parte da pesquisa", acrescenta.
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Seminários - Além de Perrotti, trabalharam no projeto outros 18 professores da ECA, os cinco bolsistas da própria escola, professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP - que ajudaram na concepção arquitetônica do ambiente- e grupos de pesquisadores franceses. Formado por acadêmicos de várias instituições -como o Instituto de Pesquisas Pedagógicas da França (INRP) -, o grupo internacional discutiu com os brasileiros parte da experiência que vem dando certo na França. "Aproveitamos a vinda d~ alguns desses pesquisadores, organizada pela embaixada, e realizamos vá-. ·- . , . )) nas reumoes e semmanos.
"A maior conquista do projeto foi mostrar como a alteração no modo de produção entre universidade e escola pode ser a alavanca es-
O PROJETO
Serviços de Informação e Educação. Biblioteca e Escola: Novos Paradigmas
EDMIR PERROTTI - Escola de Comunicações e Artes da USP
INVESTIMENTO
R$ 149.000,00
tado. Outras cidades paulistas, como Santo André e Diadema, e até mesmo alguns municípios da Bahia, também já manifestaram interesse. Perrotti lembra, entretanto, que não adianta desenvolver as novas bibliotecas se não houver um bom acompanhamento do trabalho.
"Quando o projeto acaba, a USP precisa ir embora", lamenta. Por isso, o departamento está criando um núcleo, uma rede de apoio. "Ficou claro que, mais do que condições técnicas, falta o saber para que aconteça a apropriação do equipamento pela escola", afirma. Por meio dessa espécie de comunidade "informacional", a universidade pretende produzir conhecimentos que afetem diretamente o ensino e a cultura no país. "Não queremos fazer bibliotecas modelo, mas sim criar referências para que as cidades consigam mudar algo com os recursos de que dispõem", explica. A parte física das obras da biblioteca da escola Roberto Mange custou aproximadamente R$ 14 mil, mas Perrotti sabe que muitas instituições não dispõem de tal quantia para destinar ao mesmo fim. "Pode começar com uma estante de livros, mas que seja entendida numa perspectiva da interação, e não da difusão ou conservação", conclui o professor. •
HUMANIDADES
FOTOGRAFIA
Imagem feita de tinta e sangue Pesquisa conta a história da sociedade brasileira dos últimos 30 anos por meio das fotos de jornais
Em sua tese de doutorado, que acaba de defender no Depar
tamento de Ciências da Comunicação e Artes, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), a professora Francisca Eleodora Santos Severino analisa as transformações estruturais ligadas à modernização da sociedade brasileira durante os últimos 30 anos, por meio de fotos dos jornais do país.
No apartamento da pesquisadora, há milhares de fotos sobre a mesa de trabalho, em pastas ou dentro do computador. É material que ela vem coletando há cinco anos, utilizado na pesquisa para a sua tese de doutorado Fotos Jornalísticas: A Imagem da Violência como Espelhamento das Metamorfoses da Sociedade Brasileira em Processo de Globalização. O período abrangido pelo estudo vai de 1968 a 1998.
''A fotografia jornalística encontra-se no centro das transformações estruturais ligadas à modernização da sociedade brasileira durante os últimos 30 anos", observa Francisca Eleodora, explicando os motivos que a levaram a escolher esse período da história. "Sua presença silenciosa pode ser portadora de múlti-
plas vozes, sobretudo no período que vai do final dos 60 aos 80." Nesse período, em sua opinião, o jornalismo fotográfico surge como instrumento mediático e também condicionado pelas instituições. "E é um período que vem contribuindo para a construção de um imenso mosaico de nossa história, dinamizado pelo olhar do leitor, que atualiza, no presente, as relações sociais e políticas do passado", diz.
Estudo empírico - Sob a orientação do professor Waldenyr Caldas, o exaustivo trabalho da pesquisadora - que ela iniciou ainda como aluna da ECA/USP, há cinco anos, e vem
desenvolvendo nos últimos três anos com uma bolsa de auxílio-pesquisa concedida pela FAPESP- está condensado em 460 páginas.
A tese apresenta um estudo empírico e teórico sobre fotos jornalísticas que retratam a violência. Seu objetivo é evidenciar que essas imagens são, simultaneamente, formas de expressão cultural e de representação das relações sociais e políticas, características da sociedade brasileira em processo de mudança estrutural decorrente do fenômeno da globalização. ''As fotos têm múltiplas vozes e eu procurei desvelar pelo menos duas delas", explica Francisca. "Por um lado, os condicionamentos ideo-
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lógicos, por outro, as determinações históricas que confrontam essa direção", assinala a pesquisadora.
"O papel da fotografia no desvelamento da realidade falseada pela intervenção militar e institucional foi primordial", continua. "Mas não pela afirmação ou como documento fiel da realidade e sim pela contradição", diz Francisca.
Estando condicionada pela reprodutibilidade técnica, a fotografia responde à vocação de instrumentalização a serviço da sociedade moderna. "Ela expressa essa vocação pela alienação e pela massifica
Sem-terra e policia is se enfrentam em Jatobá: foto traz frag mentos da real idade implodida
ção popular", explica a pesquisadora. Por outro lado, em sua opinião, essa mesma reprodutibilidade técnica, ao enfatizar determinado ângulo do objeto fotografado, permite visualizar um fragmento histórico ou um detalhe do real que, de forma aleatória, também foi registrado pela câmera do fotógrafo.
Para Francisca, isso revela que, mesmo estando condicionada pelo ângulo do fotógrafo ou pela pauta dos jornais, a fotografia deixa-se impregnar por pequenos fragmentos da realidade implodida. "São esses fragmentos que devem ser selecionados e analisados", observa a pesquisadora. "Meu trabalho pretende fazer uma leitura e uma revisão desses fragmentos à luz da contribuição teórica de Walter Benjamin, Georg Lukàcs, Roland Barthes, Boris Kossoy, Olgária Matos, José Guilherme Merquior, entre outros", diz.
Para apoiar sua pesquisa, Francisca também trabalhou com referencial teórico de autores das ciências sociais - como Octavio Ianni, Florestan Fernandes, Emir Sader, David Harvey e Frederic Jameson, só para citar alguns- e com referências bibliográficas de historiadores e de antropólogos. "A partir de um caleidoscópio de fragmentos foto-
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gráficos, realizo uma leitura hermenêutica das mudanças estruturais da sociedade brasileira e o modo como o coletivo vivenciou a inserção do Brasil no mundo globalizado", explica Francisca.
"O importante na leitura hermenêutica é a busca da mensagem originária em elementos arcaicos e primitivos da abordagem", afirma Francisca. Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, hermenêutica é a interpretação do sentido das palavras, dos textos.sagrados e das leis. Francisca vai ainda mais longe. "Refere-se a uma experiência interpretativa empregada para a recuperação e tradução das representações simbólicas e alegóricas que são próprias de uma determinada cultura", diz. "De fato, ela perde um pouco de seu caráter de instrumento de exegese teológica, podendo, assim, ser aplicada a textos profanos."
Em seu estudo, a pesquisadora privilegia as fotos que inquietam o olhar do observador. "Aparentemente ingênuas, desprovidas de intencionalidade mais imediata, elas nos chocam por algum detalhe que pode até ser o olhar do sujeito fotografado", observa a professora.
Uma das fotos sobre a mesa de Francisca que mais chamam a aten-
ção foi publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 6 de novembro de 1969. A imagem retrata o ativista político de esquerda Marighella, morto - acabava de ser baleado por militares na Alameda Casa Branca, nos Jardins, em São Paulo. Apesar de o ativista ser ateu, sua imagem remete o observador a um fragmento da Pietá, de Michelângelo, em que Jesus Cristo acaba de ser retirado da cruz e repousa, morto, sobre o colo da Virgem Maria. Naquela visão alegórica de Marighella, publicada no jornal, porém, não há vestígios do colo da mãe, ele está completamente só. "E é, com certeza, uma foto montada", afirma Francisca. A pesquisadora lembra que Marighe-
O PROJETO
Fotos Jornalísticas: A Imagem da Violência como Espelhamento das Metamorfoses da Sociedade Brasileira em Processo de Globalização
MODALIDADE
Bolsa de doutorado
ORIENTADOR
WALDENYR CALDAS- Escola de Comunicações e Artes da USP
PESQUISADORA
FRANCISCA ELEODORA SANTOS SEVERINO -Escola de Sociologia e Política de São Paulo
Marighel la morto: foto montada para mostrar o ativista político como um sem-pátria
lia foi morto na rua- na foto, percebese que ele está dentro de um carro. "O importante é a maneira como o fotógrafo o enquadrou, a mensagem é mais rápida do que o texto, coloca o leitor em prontidão e vai buscar suas referências histórico-culturais': explica.
Filho do nada - "Ao remeter à ausência da mãe, nessa fotografia, o observador é levado a analisar o personagem como alguém que não tinha mãe e pátria, um filho do nada", avalia. Fotos desse gênero - alegóricas e metafóricas, também privilegiadas em seu trabalho -, em sua opinião, chocam o observador, mas também ativam a memória de quem as vê.
De fato, ela observou que, à medida que se intensificavam as rebeliões populares, no período analisado, tornavam-se recorrentes as alegorias bíblicas. "Essa é uma estratégia de manipulação das massas populares", analisa. ''A alegoria bíblica remete à memória de experiências arcaicas de enfrentamentos com a natureza", observa. Assim, para Francisca a história é reduzida apenas na sua dimensão natural, provocando a rememoração de medos já superados. "O medo do desaparecimento, da desagregação, da exclusão, torna o sujeito melancólico e desamparado."
Francisca: olhar entre o agora e o antes
"Considero ser preciso lançar um olhar entre o agora e o antes para que o passado não fique suspenso em um mal-acabado rito de passagem", avisa Francisca. Chegando mais perto da atualidade, outra foto também chama a atenção pela imagem impressionante de um evento ocorrido em 1997. Nela, pode-se ver um assaltante morto a tiros pelas costas, pelos seguranças de João Paulo Diniz, durante uma
tentativa de assalto (ver foto da página 67). O rapaz morto, que se fazia passar por florista, está deitado de bruços sobre as flores e um filete de sangue escorre de seu corpo. Ao fundo, botas de policiais militares anônimos. "São botas militares em plena democracia", observa a pesquisadora. "A imagem não pode ser vista fora do contexto, pois contém múltiplas determinações históricas", comenta a pesquisadora. "Mas o que vemos é o ideário da liberdade vigiada. É um sinal da degradação de uma sociedade."
Garimpo - ''A fotografia é um objeto em relação sbcial", observa Francisca. "Nessa condição é produto de planejamento e ato de vontades humanas", continua. "Forçosamente, na relação de sua produção e reprodução, ela se deixa impregnar por essa humanidade", conclui. Para fazer sua pesquisa, Francisca manuseou mais de 2 mil fotos- quase sempre originais -, garimpadas nos Arquivos do Estado, no seu arquivo pessoal, nos de amigos, intelectuais e jornalistas e, em especial, na Biblioteca Mário de Andrade, que abriga um bom acervo dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Todas as fotos foram digitalizadas pela Mavica, câmera fotográfica que grava fotos em disquete, e estão organizadas em fichas, por tema. Esse equipamento, bem como o computador Power 4 e o scanner, ela obteve com a ajuda da reserva técnica da FAPESP. "Devo agradecer, pois facilitou muito meu trabalho", enfatiza Francisca.
Além do texto da tese, ela produziu um anexo que traz um levantamento histórico, feito pela pesquisadora, contendo uma sinopse da história brasileira dos últimos 30 anos e que funciona como um roteiro. "Privilegiei os aspectos conceituais e interferi com minhas reflexões procurando mostrar as metamorfoses determinadas pela história", explica Francisca Eleodora sobre seu trabalho de doutorado. •
PESQUISA FAPESP · ABRIL DE 2001 • 69
HUMANIDADES
Si lvio Ferraz (à esq.) e Fernando lazzetta: un indo teoria e prática, pesquisadores tentam descobrir novas formas de tocar
MÚSICA
Um cantinho e um laptop Pesquisadores analisam como a tecnologia dos computadores afeta criação
U ma flauta de quatro furos e um laptop. É isso que o com
positor Silvio Ferraz leva para seus concertos. Seu colega de palco e pesquisa, o também compositor Fernando Iazzetta, chega munido de uma dupla não menos improvável: um berimbau e o computador portátil. Os concertos em questão fazem parte da pesquisa Ambiente de Composição e Performance Musical com Suporte Tecnológico, que os dois pesquisadores da Pontifícia Universida-
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de Católica de São Paulo (PUC-SP) realizam, com o apoio da bolsa recebida no âmbito do Programa de Apoio a Jovem Pesquisador, da FAPESP.
Mais do que simplesmente estudar a música feita com a ajuda do computador, os dois pesquisadores procuravam entender como a tecnologia interfere no processo de criação. A idéia inicial era bem mais ambiciosa: descobrir novas formas de compor e tocar. Outro diferencial da pesquisa é sair do campo só teórico, realizando verdadeiros laboratórios no local em que a música mais interessa: o palco. "Além de estudar como o processo de criação é alterado pelos equipamentos, tentamos desenvolver interfaces para novas maneiras de manipulação do som", ex-
plica Ferraz. As interfaces são dispositivos programados no computador que ou interagem com instrumentos, processando o som por eles emitidos, ou produzem certos resultados sonoros a partir de comandos digitados no próprio teclado, ou, ainda, disparam músicas pré-gravadas. Os concertos utilizam uma mistura dos três procedimentos.
Infinidade de fios - A pesquisa - que durou cerca de quatro anos e recebeu bolsa de aproximadamente R$ 60 mil - começou com a montagem de um "módulo móvel de performance", um conjunto de equipamentos que permitia a realização dos concertos onde as interfaces seriam testadas. O módulo é composto dos dois laptops, onde o som é processado, quatro caixas acústicas e uma infinidade de fios. De acordo com Ferraz, o módulo custou cerca de R$ 50 mil, mas o gasto compensa, já que a música eletroacústica brasileira ainda enfrenta o alto preço do
aluguel de equipamentos. O Laboratório de Linguagens Sonoras da PUC foi usado como sede do projeto.
No início da pesquisa, os compositores trabalharam algumas questões teóricas e o resultado foi a produção de 21 papers. Em seguida, construíram, no computador e usando um ambiente de programação chamado MAX/MSP, interfaces que permitissem o controle e processamento do som em apresentações ao vivo. Teoria e prática se uniram nos concertos. Foram dez, feitos em festivais de música eletroacústica e em parceria com artis-tas de outras áreas.
"Os concertos começaram 'fechados', com pouca interação", conta Iazzetta. "À medida que nosso domínio das ferramentas foi evoluindo, passamos a interagir em tempo real, além de usar outros recursos, como a dança e o vídeo", completa.
lnteração - "O que pudemos perceber ao longo da pesquisa foi como a divisão básica da música ocidental - entre fabricante do instrumento, compositor, instrumentista e ouvinte- não se aplica à música eletroacústica", explica Ferraz. "Todos se misturam em uma só pessoa", completa. De acordo com o pesquisador, esse "novo músico" é como uma criança, que resolve pegar um pedacinho de grama e o leva à boca para, assobiando, tentar extrair algum som. Ao mesmo tempo em que cria o novo instrumento, precisa
O PROJETO
Ambiente de Composição e Performance Musical com Suporte Tecnológico
MODALIDADE
Apoio a Jovem Pesquisador
COORDENADOR
SILVIO FERRAZ- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
INVESTIMENTO
RS 44.1 93,80 e 1 53.1 00,00
aprender a interagir com ele e deve ainda compor a música que mais se adapte às suas características.
Outra mudança que a pesquisa revelou foi na concepção de unidade composicional. "Na escola de composição, aprendemos como criar uma unidade, para que a pessoa perceba que os sons que ouve fazem parte da mesma música", diz Ferraz. "Com o computador, pude trabalhar com sons mais diversos ao mesmo tempo, sem me preocupar com essa unidade", afirma o pesquisador.
'' Eu criava, como
Mi ró fazia com a tinta
em seus quadros, um som
diferente a cada dia
e observava o resultado ''
Ao longo do estudo, os pesquisadores encontraram também outras questões que envolvem a nova forma de compor e tocar. Iazzetta, por exemplo, concentrou-se na perda do gestual. "Quando a música eletr-ônica surgiu, as performances se resumiam a apertar a tecla play."
Gesto musical -''A partir dos anos 80, quando os equipamentos ficam portáteis e mais rápidos, a tecnologia saiu do estúdio e foi para o palco", conta o pesquisador. Com as performances ao vivo, o gesto musical precisou ser reintroduzido. Entretanto, o ato de tocar instrumentos que têm o som processado ou em um teclado de computador não obedece simplesmente às leis da mecânica. Em um violino, por exemplo, o músico sabe que determinada corda invariavelmente produzirá certos sons. Já nas performances eletroacústicas, as regras não são mais tão claras. "Você cria artificialmente os gestos que
eram naturais, além de precisar criar novos gestos para novas sonoridades e interfaces", ressalta Iazzetta.
Outra constatação foi que os programas de composição para computador existentes no mercado utilizam um "pensamento composicional" limitado pelas concepções musicais das décadas de 50, 60 e 70. Os programas são restritos por procedimentos como a repetição - que entrou na moda a partir do minimalismo dos anos 70 -, a disposição de sons em dégradé- técnica usada pe-
los compositores de música eletrônica da década de 60 -, e a permutação de frases musicaisem voga na década de 50. ''Além disso, os compositores jovens estão limitados a trabalhar com uma concepção linear, em que uma idéia vem depois da outra, quando o pensamento na hora da composição não flui dessa forma", explica Ferraz.
Mi ró - Para lidar com esse problema, ele experimentou alguns procedimentos que permitissem
maior liberdade de atuação. Uma das idéias foi transpor a técnica do pintor espanhol Miró para a composição. A cada dia, Ferraz colocava sons aleatoriamente em um seqüenciador de som, "daqueles que qualquer garoto tem em casa': "Como Miró, que a cada dia jogava um bocado de tinta na tela, eu criava um som diferente a cada dia e depois observava o resultado, como um grafite", diz Ferraz, lembrando que apenas o computador - aquele mesmo que pode restringir- permite tais procedimentos.
Os pesquisadores já partem para a próxima empreitada: estudar os ambientes acústicos. "Durante essa pesquisa, esbarramos no problema da difusão de som", conta Ferraz. ''Agora queremos usar o espaço para descobrir como a escrita musical pode mudar a sensação de tamanho da sala ou localização dos instrumentos, por exemplo", completa. A música que enlouquece os clubes noturnos chegou à universidade. •
PESQUISA FAPESP • ABRIL DE 2001 • 71
LIVROS
MYRIAM KRASILCHIK
A educação entre o público e o privado Estudo traz subsídios para discussão do sistema de ensino superior
As .instituiçõe~ de ensmo supenor no mundo inteiro es
tão submetidas a fortes tensões como resultado do aumento da demanda por vagas, diminuição proporcional de recursos financeiros e humanos, necessidade de manutenção ou elevação da qualidade do trabalho acadêmico, desenvolvimento tecnológico e reconfiguração dos campos de conhecimento.
Ensino Superior no Brasil , de Helena Sampaio, "permite a definição dos contextos mais propícios para o desencadeamento de mudanças no âmbito dos estabelecimentos privados e aponta para a emergência de um novo agrupamento deles no Brasil. O aparecimento desse novo grupo, ao mesmo tempo que acentua a heterogeneidade do setor privado, contribui para matizar as tradicionais polarizações que permeiam grande parte das análises sobre o ensino superior no país".
Nesse período está resumida a essência das questões que hoje exigem estudos fundamentados em dados e informações para subsidiar decisões da comunidade acadêmica, dos responsáveis por políticas educacionais e da opinião pública. O livro cobre muitos aspectos do tema, iniciando-se por minuciosa descrição da trajetória do setor privado no ensino superior, desde a sua instalação até o período contemporâneo.
Apresenta informações abrangentes sobre a consolidação dos cursos tradicionais, origem de novas carreiras em função de demanda de profissionais, condições de funcionamento dos programas e possibilidade de atração da clientela de alunos. Os aspectos legais são tema dos capítulos que tratam da legislação e as conseqüências no campo político, expressas pelas associações dos diferentes grupos de instituições privadas no Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras ( Crub).
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Ensino Superior no Brasil
Helena Sampa io
Editora Hucitec/ FAPESP 416 pág inas R$ 49,00
Um segmento substantivo da publicação trata da distribuição dos cursos que indicam a preponderância no ensino privado das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Nessa análise, ocupam um es-paço importante o Exame Nacional de Cursos, o Provão, e a composição e as condições de trabalho do corpo docente. As relações deste e as mantenedoras no tocante às decisões
acadêmicas são incluídas apenas de forma difusa, sem aprofundar o seu significado educacional.
É significativo o capítulo que trata dos estudantes, das pressões para as escolhas de carreiras. É interessante um anexo inserido no texto com depoimentos que permitem uma rara visão qualitativa da identidade do universitário brasileiro.
Oportuno também é o estudo do que foi chamado da "imagem dos estabelecimentos do ensino privado". Quando se constata uma luta acirrada de prop~ganda com anúncios no rádio e televisão, jornais e revistas usando argumentos dos mais variados, desde a valorização do ambiente universitário como fonte de cultura e diversão representados em anúncios, enfatizando aspectos éticos da política da instituição ou outros invocando a tradição de escolas centenárias.
A obrigatória confrontação do ensino superior público e gratuito com o privado remete às recomendações de organismos internacionais, como o Banco Mundial, concluindo-se pela necessidade de medidas que não a cobrança de mensalidades nas universidades públicas para aumentar a oportunidade de estudantes cursarem o ensino superior.
Um livro de difícil leitura, mas que aporta uma contribuição a um tema de grande relevância na atual situação da educação brasileira.
MYRIAM KRASILCHIK é díretora da Faculdade de Educação da USP.
LANÇAMENTOS
A Bahia e a Carreira da Índia Editora Hucitecl Editora da Unicamp José Roberto do Amarai Lapa 380 páginas I R$ 40,00
Esta é uma preciosa e esperada reedição do estudo de Amaral Lapa, recentemente falecido, publicado pela
primeira vez há 30 anos e resultante de sua tese de doutorado, orientada pelo professor Sérgio Buarque de Holanda. A obra analisa em
profundidade as navegações e o intercâmbio comercial no mundo colonial lusitano, entre os séculos 16 e 18. O elo entre metrópole e colônia, então, era a cidade portuária de Salvador, na Bahia. A capital também servia como ponto de passagem entre os navegadores lusos e o sul da África e o litoral asiático. Apresentado em fac-símile.
Decifrando a Terra Oficina de Textos Wilson Teixeira et ali 557 páginas I R$ 75,00
Editado com cuidado, este livro é uma ferramenta fundamental para alunos e professores que desejam descobrir como é a dinâmica natural do planeta Terra, decifrando conceitos básicos das Ciências
Geológicas. A obra é um fascinante manual de investigação do nosso planeta, explicando didaticamente o seu surgimento e o seu funcionamento, a partir de análises de recursos energéticos, sempre enfatizando o papel do homem como agente modificador.
O Planeta Simbiótico R o eco Lynn Margulis 140 páginas I R$ 21,00
A professora Lynn Margulis, do Departamento de Geociências da Universidade de Massachusetts, nos EUA, vem provocando polêmicas na comunidade científica ao defender, com vigor, a simbiose como um novo conceito para se
estudar a Biologia. Segundo preconiza a autora, a simbiose, a convivência com contato físico de organismos de espécies diferentes, é uma idéia fundamental para que se possa entender como se dá a origem da inovação evolutiva. Neste livro, a professora faz um balanço de suas descobertas e, num estilo saboroso, desvenda os mistérios da vida, da célula aos ecossistemas, partindo das bactérias para chegar ao homem.
REVISTAS
Saúde Paulista 2001 -número 1- ano 1
A revista acaba de ser criada e visa a atender aos interessados no funcionamento do Complexo Unifesp/SPDM, fornecendo aos envolvidos em questões de saúde- médicos, enfermeiros, docentes e estudantes- artigos que divulguem as descobertas mais recentes de cada área
do conhecimento médico e científico. A periodicidade será trimestral e a revista pode ser obtida pelos telefones (Oxxll) 5579-1328. No número de estréia, o perfil da camisinha feminina, o novo centro de diagnóstico em câncer e a busca pelo envelhecimento saudável.
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i
Revista de Ciências Humanas 2000- número27
Editada pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas da · Universidade Federal de Santa Catarina, este número da revista discute as inquietações que afligem a todos sobre os caminhos que o mundo seguirá no futuro. Para tanto, há artigos do escritor português José Saramago
sobre a história como ficção e a ficção como história e de Luiz Bevilacqua sobre os rumos tomados pela ciência neste novo milênio. E também os artigos: Brasil e Argeptina em Perspectiva Comparada, de Vicente Palermo; Mudança Social no Brasil, de Maria José Rezende, entre outros.
MARGEM
Mitologias do presente
Margem Número 11
A nova edição da revista semestral do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo traz o dossiê Mitologias do Presente, uma ampla discussão da conflituosa relação entre as novas descobertas relacionadas ao progresso tecnológico e à inteligência coletiva e à informação.
Entre os artigos do dossiê: O Mito do Progresso, de John Gray; Infernos da Diferença, de Edgard de Assis Carvalho; Além da Revolução da Informação, de Peter Drucker; A Cibergeografia e os Continentes das Cidades Mundiais, de Elvio Rodrigues Martins; A Comunicação da Violência, de Rosamaria Luiza de Melo Rocha; entre outros.
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MARIZA
74 • ABRILDE2001 • PESQUISA FAPESP
E FINA LW ,
Não, não é uma cabeça encolhida;
trata-se de recurso neurocirúrgico à ablação
radical da massa encefálico.
ESPECIAL
INFRA-ESTRUTURA 1
Revolução silenciosa Programa especial da FAPESP reforça bases da pesquisa paulista
ilenciosa e discretamente, um programa da FAPESP provocou, a partir de 199S, uma mudança radical nas bases físicas da pesquisa científica e tecnológica em São Paulo. E produziu, em conseqüência, um impacto positivo de tal ordem em
seus resultados qualitativos e quantitativos que, embora ainda mal mensurado, pode-se apostar em suas repercussões a médio e longo prazos sobre a pesquisa paulista. O programa nasceu com um caráter emergencial que expressava a forte preocupação do Conselho Superior da FAPESP com o progressivo sucateamento dos laboratórios e outras instalações de pesquisa no Estado. Esse caráter foi explicitado no extenso nome com que foi batizado- Programa Emergencial de Apoio à Recuperação e Modernização da Infra-Estrutura de Pesquisa do Estado de São Paulo-, logo simplificado para Programa de Infra-Estrutura ou, melhor, Infra, como passaram a chamá-lo os pesquisadores (alguns milhares) que dele têm se beneficiado.
Em seis anos, investindo em equipamentos para a recuperação e a modernização de centros de pesquisa de universidades públicas e particulares por todo o estado, reformando laboratórios, biotérios, bibliotecas, arquivos
PESQUISA FAPESP
e museus e instalando redes de informática, o Infra aplicou R$ SOO milhões - boa parte deles investida quando real e dólar eram quase equivalentes. Assim, vale compará-lo, sem demérito para o programa paulista, com um programa similar nos laboratórios do Reino Unido, no qual foram investidos US$ 1,S bilhão- US$ 1 bilhão do governo britânico e US$ SOO milhões do Wellcome Trust -, de acordo com artigo do primeiro-ministro Tony Blair na revista Science de 21 de agosto de 1998.
Os importantes resultados do Infra já há algum tempo demandavam uma apresentação mais sistemática, proposta, aliás, pelo Conselho Superior da Fundação. E é isso que pretende a série de suplementos especiais sobre o programa que começa a ser publicada nesta edição de Pesquisa FAPESP. Com reportagens de Maria Aparecida Medeiros e edição de Mário Leite Fernandes, iniciamos a série por bibliotecas, arquivos e museus, essenciais não apenas para a preservação e a circulação da cultura, mas para o próprio desenvolvimento da pesquisa.
Quando o Programa de Infra-Estrutura foi lançado, em 1994, já era consenso que a situação do parque estadual de pesquisa impedia o avanço normal da atividade.
O sistema de financiamento da FAPESP sempre dera suporte aos custos diretos dos projetas de pesquisa, mas não havia mecanismos para garantir que os equipamentos fossem adequadamente instalados e mantidos. Tampouco as instituições dispunham de recursos para isso. "Deveríamos conseguir condições até ótimas, quando possível, para grupos de excelência", diz José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP, ao esclarecer que os recursos do Infra não
ma: 3.017 projetas inscritos, dos quais 1.261 foram aprovados. Os recursos liberados foram de R$ 146,5 milhões.
Para o Infra III, de 1997, a única alteração foi a exclusão do FAP-Livros, que se tornou autônomo. Inscreveram-se 1.825 projetas: 1.045 foram aprovados, totalizando investimentos de R$ 122,4 milhões. O Infra N, de 1998, teve novas mudanças: o financiamento de equipamentos multiusuários passou a integrar as linhas per-
manentes de fomento da FAPESP e cinco módulos foram se destinavam a grupos emergen
tes e sua concessão foi sempre precedida de criteriosa avaliação por especialistas de fora de São Paulo, para que se garantisse a total isenção no julgamento e a credibilidade do programa.
Programa já liberou cerca
definidos para os projetas inscritos no Programa de Infra-Estrutura: redes locais de informática, bibliotecas, infra-estrutura geral, museus e arquivos. Para essa fase, foram inscritos 1. 798 projetas, aprovados 1.054. Os aprovados somaram investimentos de R$ 136 milhões.
Também a compreensão do Conselho Superior sobre a necessidade de financiar a adequação de instalações de pesquisa terminou ganhando caráter perma-
de R$ 500 milhões para dar suporte
material à pesquisa em São Paulo
Ao final do Infra N, o Conselho Superior e o Conselho Técnico Administrativo da FAPESP
fizeram uma avaliação do programa e decidiram por uma nova fase, dividindo os projetas em dois grandes módulos: tratamento de resíduos químicos, destinado a investimentos na área de tratamento de resíduos de laboratórios, e centros depositários de informações e documentos- incluindo os módulos bibliotecas, museus e arquivos. As solicitações para essa fase do programa totalizaram 570 projetas, todos ainda em fase de avaliação.
nente. O mecanismo da reserva técnica para os projetas financiados - mais 25% do valor concedido aos ordinários e mais 40% aos temáticos -é resultado dessa evolução. Assim, a FAPESP procurou se antecipar a futuros problemas.
Alicerces- "Não investir no Infra teria sido como querer construir uma casa sem seus alicerces", compara Joaquim José de Camargo Engler, diretor administrativo da FAPESP, responsável pela administração do programa. De fato, com o Infra a Fundação consolidou os alicerces do sistema estadual de pesquisa, sem jamais dotá-lo de uma concepção estática. E foi justamente sua flexibilidade para atender a novas necessidades do sistema que garantiu o sucesso do programa.
No início, o Infra podia financiar obras civis em laboratórios para restauração, por exemplo, dos sistemas de eletricidade e de abastecimento de água; a recuperação de biotérios e estufas e a compra de equipamentos, inclusive de informática. Os primeiros projetas inscritos na chamada Fase I (ou Infra I), já em 1995, foram divididos em dois grandes módulos: infra-estrutura geral e biotérios. No total, havia 1.103 projetas inscritos, dos quais 849 foram aprovados, com investimentos de R$ 77,1 milhões.
O Infra II, de 1996, organizou-se em cinco módulos: equipamentos especiais multiusuários, redes locais de informática, infra-estrutura para biblioteca, FAP-Livros (destinado à aquisição de livros) e infra-estrutura geral. "Essa alteração no programa decorreu da experiência adquirida na primeira etapa, que demonstrou ser necessário separar as principais áreas de auxílio à infra-estrutura, de modo a permitir uma melhor avaliação das solicitações recebidas, por meio de comitês específicos': diz Engler. A demanda verificada naquele ano justificava mais uma vez o progra-
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PROGRAMA INFRA-ESTRUTURA (Situação em 31.03.01)
OS NÚMEROS DO INFRA
PROJETOS INFRA I INFRA 11 INFRA III INFRA IV FAP-LIVROS IV TOTAL
Recebidos 1.103 3.017 1.825 1.798 209 7.952
Denegados 247 1.745 750 734 16 3.492
Aprovados 849 1.261 1.045 1.054 193 4.402
Cancelados 7 11 30 10 58
Concluídos 847 1.243 998 892 3.980
O INVESTIMENTO NO PROGRAMA
PROJETOS APROVADOS VALORES RS
849 77.118.021,80
INFRA 11 1.261 146.471.035,30
INFRA III 1.045 122.407.125,53
INFRA IV 1.054 135.993.849,59
FAP-LIVROS IV 193 12.466.289,77
TOTAL 4.402 494.456.321,99
PESQUISA FAPESP
Sem memória não se constrói o futuro
Quando se transferiu para sua nova sede, no campus da Universidade de São Paulo (USP), o Museu de Arte Contemporânea (MAC) deixou para trás, em seu antigo prédio, no Parque do Ibirapue-
gero. Documentos, alguns deles com muitos séculos, foram restaurados e podem ser consultados pela Internet. Salas onde fios elétricos desencapados corriam entre livros valiosíssimos, com considerável risco de incêndio, foram restauradas. Áreas foram climatizadas, para proteção do material e maior conforto de funcionários e usuários. Portões eletrônicos ajudam a salvaguardar o acervo. No próprio MAC, onde obras preciosíssimas de
Modigliani e Picasso eram separa
ra, dezenas de pacotes e caixas, muitos deles nunca abertos. Era, basicamente, material doado por pintores e outras pessoas ligadas às artes plásticas. Esse material precisou esperar a chegada de uma verba de R$ 172,6 mil, um investimento do Programa de Infra-estrutura da FAPESP, para ser aberto. Simplesmente não havia dinheiro, antes, para tratar e conservar adequada-
Nas bibliotecas, museus e arquivos estão
das da rua apenas por uma parede de vidro, a segurança foi aumentada.
Essa revolução é ainda mais significativa porque coincidiu com uma enorme transformação nos próprios conceitos de biblioteca, museu e arquivo, trazida pela informatização e pela Internet. Uma biblioteca hoje não é mais um local onde ape-
os documentos e informações
indispensáveis à pesquisa de alto nível
mente o material. Valeu a pena. Documentos, cartazes, objetos pessoais e outros materiais de muitos artistas modernos brasileiros enriqueceram significativamente o acervo do museu.
Por todo o Estado de São Paulo, as verbas do Programa de Infra-estrutura da FAPESP estão provocando uma revolução em bibliotecas, museus e arquivos. Não é exa-
PROJETOS
INFRA-ESTRUTURA
BIBLIOTECAS, ARQUIVOS E MUSEUS A DEMANDA
INFRA 11 INFRA III INFRA IV BIBLIOTECA BIBLIOTECA BIBLIOTECA ARQUIVOS MUSEUS
Recebidos 199 243 263 112 57
Denegados 52 46 93 59 18
Aprovados 147 193 170 51 38
Cancelados 4 2 1
Concluídos 144 184 129 37 30
OS RECURSOS LIBERADOS
PROJETOS APROVADOS RS
INFRA 11 Biblioteca 147 17.763.655,05
INFRA III Biblioteca 193 22 .170.612,68
INFRA IV Biblioteca 170 24.750.203,60 Arquivos 51 10.973.774,59 Museus 38 8.261.577,53
TOTAL 599 83 .919.823,45
PESQUISA FAPESP
nas se guardam livros e outros documentos. Ela é uma porta de
acesso à informação e bibliotecários e outros funcionários fazem curso atrás de curso para se adaptar à nova situação. Pesquisadores agora podem fazer consultas pelas redes de suas universidades de suas salas ou laboratórios. Os bibliotecários, por sua vez, preparam-se para orientá-los na fartura de informações da Internet.
A origem de toda essa transformação está, sem sombra de dúvida, no Programa de Apoio à Infra-Estrutura, que já investiu R$ 84 milhões nas bibliotecas, arquivos e museus do Estado de São Paulo. O reconhecimento da necessidade de recuperação e modernização das bibliotecas surgiu com o Infra II, de 1996, que criou um módulo específicE) para projetas dessa natureza: recebeu 199 solicitações de auxílio, das quais 147 foram aprovadas, com investimentos de R$ 17,8 milhões. O Infra III recebeu, para esse módulo, 243 solicitações, aprovou 193 e liberou investimentos de R$ 22,2 milhões. O Infra IV, de 1998, finalmente incorporou os museus e os arquivos, pelo entendimento da FAPESP de que eles são fundamentais no seu papel de apoio à pesquisa, quando não realizam, eles mesmos, relevantes pesquisas. Nessa fase, o módulo bibliotecas recebeu 263 pedidos de investimentos, dos quais 170 foram aprovados, com recursos de R$ 24,8 milhões. O módulo referente a museus teve 57 pedidos, com 38 aprovados, totalizando investimentos de R$ 8,3 milhões. O módulo referente a arquivos recebeu 112 pedidos de auxílio, dos quais 51 foram aprovados, correspondendo a investimentos de R$ 11 milhões. O Infra V, cujas solicitações de auxílio ainda se encontram em avaliação, reuniu os três módulos em um: centros depositários de informações e documentações. Nas páginas seguintes, conheça um pedacinho da história que revolucionou a pesquisa paulista.
3
Programa de Infra-Estrutura da FAPESP fez muito mais do
Uma mudança de conceito com bases tecnológicas Programa modernizou as principais bibliotecas do Estado
que permitir a renovação das principais bibliotecas do Estado. Ele chegou num momento em que está ocorrendo uma verdadeira revolução no conceito de como deve funcionar uma biblioteca pública. "Está havendo uma mudança fundamental na filosofia de o que é uma biblioteca': diz Rosaly Favero Krzyzanowski, que, como coordenadora das bibliotecas da Universidade de São Paulo (USP), acompanhou boa parte dessas mudanças e hoje, aposentada, trabalha como coordenadora operacional do Programa Biblioteca Eletrônica (ProBE) da FA-
Bibliotecas: obras em papel agora convivem COfll as informações espalhadas pela Internet
PESP. Sem o apoio e os investimentos da Fundação, dificilmente as bibliotecas públicas do Estado teriam como acompanhar essas modificações.
Essa revolução, em grande parte, tem bases na tecnologia. Por exemplo, os arquivos deslizantes permitem que muito mais documentos sejam guardados num espaço muito menor. Houve avanços consideráveis nas técnicas e processos para a restauração e conservação de livros e outros documentos antigos. As redes de computadores, muitas vezes operando por meio de fibras ópticas, abriram novas perspectivas para as consultas. Hoje, o usuário pode entrar na rede de uma biblioteca de seu próprio laboratório ou mesmo de sua
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casa e obter a informação de que precisa de onde estiver. No caso de publicações e documentos antigos, isso diminui o manuseio e, conseqüentemente, ajuda a conservar a obra.
Há outras vantagens. Com a formação da rede e a padronização dos recursos, uma universidade pode agora centralizar a aquisição de livros e revistas. Ou seja, em vez de comprar um exemplar para cada uma de suas bibliotecas, pode obter um exemplar, colocar a publicação na rede e, assim, torná-la acessível a todos. A administração, incluindo aí os setores de empréstimo e circulação, também é facilitada. "Eliminamos muitas etapas de trabalho desnecessárias': conta a coordenadora
do sistema de bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ), Maria Alice Rebello Nascimento. Com um único sistema, ela registra a compra de um livro, faz a catalogação com os dados já digitalizados, quando ele chega, e, depois, controla os empréstimos em todas as 19 bibliotecas do sistema.
Extensão - Isso é extremamente útil para sistemas que funcionam em mais de uma cidade. A Unicamp, por exemplo, além de 17 bibliotecas em Campinas, tem mais duas unidades, em Limeira e em Piracicaba. Mas, em extensão, nada se compara ao sistema da Universidade Estadual Paulista (Unesp ), que cobre o Estado de
PESQUISA FAPESP
uma ponta à outra. A Unesp tem bibliotecas em nada menos de 16 cidades - Araçatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Botucatu, Franca, Guaratinguetá, Ilha Solteira, Jaboticabal, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro, São José dos Campos, São José do Rio Preto, São Paulo e São Vicente. O acervo sobe a mais de 800 mil itens.
Ou seja, o bibliotecário agora é um profissional que está disposto- e tem competência - para participar ativamente de uma pesquisa, indicando ao interessado os locais onde sua busca vai ser mais frutífera. Para isso, faz cursos constantes de atualização, algo que as reformas feitas com os investimentos da FAPESP
cia, as bibliotecárias de frente, que trabalham com o usuário", diz a professora. Elas organizam programas de treinamento dentro de suas unidades. Há casos em que são dados cursos também para os usuários. Esses cursos, quase sempre, servem para mostrar a melhor maneira de usar as bases de dados.
Bibliotecários e funcionários ganham nova função: trabalho, agora, inclui indicas:ão dos veios mais ricos aos pesquisadores
Estar longe, porém, não significa estar distante do conhecimento. Todas essas bibliotecas têm acesso a bases de dados eletrônicas, como a Athena, a
· ERL, o ProBE e a Web of Science. Surge, assim, um problema agra
dável, mas um problema. Há dados demais circulando pela rede e o usuário, nem sempre, tem tempo para caçar aquilo do que precisa em longas buscas na Internet. Surge, então, um dos novos papéis do bibliotecário, o de poupar etapas e indicar caminhos para os veios mais ricos de dados. "O perfil do bibliotecário mudou", afirma Rosaly. "Sua principal função, agora, é a de trabalhar com o pesquisador na busca da informação': diz.
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não esqueceram de criar. Um ponto positivo é que a esmagadora maioria dos funcionários das bibliotecas renovadas, mesmo os mais veteranos, aceitou e aderiu com entusiasmo à nova situação. Foram raros os casos de não adaptação.
Manual-padrão - "As próprias salas em que são dados os cursos se tornaram viáveis com os investimentos da FAPESP': lembra Rosaly. Não se trata de enormes instalações. Identificado o problema, são formados os chamados agentes multiplicadores, que fazem um curso e recebem um manual-padrão pronto a servir de base para a fase seguinte. "Esse é o treinamento das bibliotecárias de referên-
As necessidades de formação também não esquecem o pessoal auxiliar. A instalação dos portões de controle eletrônico de saída de material, por exemplo, levantou a necessidade de o pessoal do balcão aprender a trabalhar com as etiquetas de códigos de barra. Mesmo a técnica de pegar e recolocar os livros nas estantes é alvo de cursos para os funcionários. Eles precisam aprender a pegar um livro pelo meio da lombada, não pelo alto, para conservar melhor a encadernação; a deixar espaços entre os livros, para melhorar o arejamento e impedir que as capas colem; e a manejar a espátula, o pincel especial com o qual os documentos são limpos, para evitar que o pó fique preso nos livros e revistas.
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Esses cuidados simples convivem com equipamentos de alta tecnologia. A onda de renovação e os recursos tornados disponíveis pelo Programa de Infra-Estrutura levaram às principais bibliotecas de São Paulo máquinas que parecem ter saído de projetos espaciais. Numa delas, o livro é colocado numa mesa especial, com um armário transparente, e limpo com uma espécie de aspirador de pó, maneja-do por luvas que penetram no seu interior. Tem impacto importante também ensinar aos funcionários tarefas que antes eram feitas fora do local. Vários deles, por exemplo, fazem pequenos trabalhos de restauração em livros e outros documentos, o que poupa tempo e dinheiro para a biblioteca.
Informática - "Um bom bibliotecário tem que ser também um pesquisador", declara a coordenadora Maria Alice, da Unicamp. A adaptação às mudanças na rotina de trabalho exigiu e continua a exigir grande empenho dos profissionais. Na Unicamp, todos os funcionários das bibliotecas participam, com freqüência, de cursos e workshops. A universidade montou também programas de treinamento para os usuários e, com esse objetivo, criou um laboratório de informática especial. Não foi só isso. "O trabalho desenvolvido hoje pelo bibliotecário requer uma interação mais ativa", declara Maria Alice. "Antes, ele simplesmente preparava o material, colocava na estante e esperava o público aparecer. Hoje, ele tem que tomar decisões, muitas delas sobre assuntos complexos."
Ela cita um exemplo. Muitas vezes, cabe ao bibliotecário a palavra decisiva sobre a aquisição de um pacote de publicações. Não é uma escolha fácil. Ele deve levar em conta, por exemplo, se o material é importante para as linhas de pesquisa desenvolvidas pela universidade e pensar no seu custo/benefício, não só no
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Os recursos tornados disponíveis pelo
programa levaram também às bibliotecas modernas máquinas de conservação de I ivros
valor da aquisição. "Para realizar um bom trabalho, o bibliotecário hoje precisa saber como estão a ciência e a tecnologia no país", diz Maria Alice. "Ele precisa dominar a política, para estar em consonância com esse contexto': acrescenta.
Atualização - Nada mudou mais a biblioteca do que a automação, diz Maria Alice. Mas a mudança exigiu muito mais que o domínio das ferramentas da informática. "Além de conhecer e saber usar as ferramentas à sua disposição, o bibliotecário foi obrigado a ampliar sua visão", afirma a coordenadora. Ele não lida mais apenas com seu acervo, fisicamente disponível na biblioteca, mas com um universo muito mais amplo, o espalhado pela rede. O papel do bibliotecário inclui o de saber indicar o melhor para o usuário dentro desse universo. Isso não é possível sem uma constante atualização, sem saber o que há de novo na rede, o que, por sua vez, exige muita pesquisa.
As mudanças também trouxeram novas necessidades, entre elas a de melhorar a requalificação dos profissionais que já atuam na área e a formação de novos funcionários. "O mercado hoje carece de profissionais mais qualificados, especialmente dentro das universidades, que são o núcleo do desenvolvimento científico do país", diz Maria Alice. Isso não se aplica apenas a questões de curto prazo. "Estamos lidando com um universo novo e há dificuldades de várias ordens", ela prossegue. "Elas
vão desde as novas técnicas operacionais na área de informática até uma melhor compreensão da política tecnológica do país e como a biblioteca se insere nesse contexto."
A informatização também ampliou os contatos para a troca de documentos com bibliotecas do exterior. Maria Cristina Olaio Villela, diretora técnica da biblioteca da Escola Politécnica da USP, conta que seu or-
ganismo participa, por meio de um convênio com a Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, de um consórcio chamado Istec (Ibero-American Science & Technology Education Consortium). Outro convênio a liga à British Library, considerada um modelo de eficiência, pois atende qualquer pedido em menos de 24 horas.
Métodos diferentes - Formada na década de 1960, Maria Cristina confirma que houve uma revolução na sua área. "Quase tudo o que aprendi durante minha formação está ultrapassado': ela diz. "Os processos de catalogação e classificação de obras ainda são os mesmos, mas a forma de disponibilizar o acervo aos usuários é completamente diferente", acrescenta.
A assistente técnica da Coordenaria Geral de Bibliotecas da Universidade Estadual Paulista (Unesp ), Margarida Ferreira, formou-se em 1983 e aprendeu por iniciativa própria tudo o que sabe sobre informática. Mesmo assim, para ajudar os funcionários a trabalhar com os novos programas, traduziu para o português o manual de formato de registro eletrônico da Biblioteca do Congresso, o Marc 21. Esse formato, adotado pelas principais bibliotecas do mundo, padronizou a linguagem dos catálogos eletrônicos. A tradução foi publicada pela própria Unesp e está sendo adotada em outros lugares.
"O universo da biblioteca cresceu e isso exige uma mudança de postu-
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poníveis on-line e informações mais detalhadas, se necessário, poderiam ser obtidas na biblioteca. Haveria um cuidado especial para otimizar a participação dos orientadores.
ra", afirma Margarida. Seu trabalho a faz manter contato com os funcionários de todas as bibliotecas da Unesp, espalhadas pelo Estado. "O ritmo acelerado do desenvolvimento da informática faz com que todos os dias apareça uma novidade, algo a ser superado': ela conta. ''Alguns ainda não consegmram compreender que essa agitação faz parte da nova dinâmica da profissão. Às vezes, me perguntam: quando tudo vai voltar
Rosaly: as mudanças devem atingir as cabeças das pessoas
Padronização - A preocupação com as teses se explica. Elas estão colocadas entre os documentos mais importantes das bibliotecas universitárias e sua digitalização está entre
ao normal? Mas a profissão mudou, e isso não tem volta!'
Número limitado - O importante é que essas mudanças estão ao alcance de todos, pelo menos no Estado. Uma queixa freqüente, de pesquisadores de fora do Estado de São Paulo, é a de que muitas vezes são instalados em suas bibliotecas equipamentos monousuários, que funcionam com CD-ROMs, ou pequenas redes nas quais os CD-ROMs são instalados ou gravados num computador principal e seus dados ficam disponíveis apenas em um número limitado de micros. Isso, além de obrigar o pesquisador a ir à biblioteca para consultar as informações, cria outro problema: o usuário precisa agendar previamente sua visita, para ter certeza de que poderá acessar os dados no momento em que chegar ao local.
Nas reformas feitas em São Paulo, o material está disponível inclusive para os alunos de graduação. "O aluno, dentro da universidade, acessa tudo o que está disponível", diz a professora Rosaly. Há a firme intenção de acostumar o estudante desde o início a fazer pesquisas na Internet, inclusive para seus trabalhos de curso. "Nossa intenção é a de que o aluno se torne um pesquisador': ela diz. Rosaly afirma que, no início, havia uma preo-
PESQUISA FAPESP
cupação com a possibilidade de que os alunos de graduação usassem mal o acesso à Internet e, inclusive, foram tomadas medidas para controlar seus passeios pela rede.
Hoje, essa preocupação praticamente desapareceu. ''A conscientização dos alunos de graduação está muito boa", afirma a professora. "Sentimos que seu trabalho está cada vez mais consciente." Quanto à pós-graduação, nunca houve grandes problemas. ''A pós-graduação é um dos grandes drenadores de todos os produtos da nova biblioteca", ela diz. "O aluno precisa produzir sua'S monografias e, como futuro pesquisador, procura trabalhar de maneira eficiente em suas buscas e pesquisas", acrescenta. Quanto aos pesquisadores, há alguns que ainda preferem ir à biblioteca para trabalhar. Mas a maioria somou o acesso online ao seu dia-a-dia e busca informações dos micros instalados em seus próprios laboratórios.
Entre os projetos para o futuro, está a digitalização das teses diretamente na rede. O mestrando ou doutorando iria preparando seu material na rede e, no momento em que sua tese fosse aprovada pela banca examinadora, o texto ficaria imediatamente disponível na Internet. As indicações gerais para a realização do trabalho estariam dis-
as prioridades dos novos programas, agora que as necessidades mais urgentes foram atendidas. Esse trabalho envolve, também, uma nova filosofia. "Essa noção envolve uma padronização que é uma nova atitude das bibliotecas", explica Rosaly. Antes, uma revista era apenas um documento a mais, que podia ser consultado. Hoje, ela se transformou na origem de textos completos, que servem como fontes de informação e são colocados de maneira independente na rede.
Para chegar a isso, foi necessária uma mudança total nos métodos de trabalho e na cabeça das pessoas. "Passou-se de um mundo mais fechado, dentro da unidade, para a visualização de um contexto maior, de padrão internacional", diz Rosaly. O padrão internacional não é exagero. As reformas das bibliotecas, arquivos e museus de São Paulo estão inspirando não só outras instituições brasileiras, mas também organismos da Argentina, do Uruguai e da Venezuela. E são aprovadas mesmo nas altas esferas mundiais. O sistema de catalogação adotado pela USP, por exemplo, não é reconhecido só no Brasil. Ele é oficialmente aceito pela própria Biblioteca do Congresso de Washington, uma das mais importantes instituições da área no mundo.
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Preservada a mais antiga biblioteca pública paulista Faculdade de Direito trabalha sem risco de incêndio
Dona Giacomina confessa: tinha tanto medo que nem conseguia dormir direito. Entre as grandes prateleiras de
ferro e madeira maciça, que guarda-vam livros e documentos preciosos, alguns feitos há vários séculos, corriam fios elétricos instalados 70 anos antes, praticamente já sem nenhum isolamento. O risco de um incêndio, que fatalmente destruiria a maior parte do acervo, era constan-te. Não seria o primeiro. Em 1880, o fogo consumiu o an-tigo prédio do convento de São Francisco, onde funcionava a faculdade. A biblioteca escapou por pouco.
Dona Giacomina Faldini é diretora da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que funciona no largo de São Francisco, no centro de São Paulo. Trata-se da mais antiga biblioteca pública da capital
pilhavam pelos cantos. Cerca de 6.500 obras classificadas como raras, muito preciosas, não tinham nenhum cuidado especial de preservação.
Barulho do trânsito - Na parte reservada ao público, na sala de leitura da biblioteca central, a situação não era
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do Estado. Sob sua guarda e Obras raras: antes empilhadas, de sua equipe estão 320 mil agora guardadas em salas com ar .. . itens, alguns do século 16. Desde sua construção, na dé-cada de 1930, o prédio erguido no mesmo local em que estava o antigo convento destruído pelo fogo, onde funciona o Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Direito, nunca passara por uma reforma.
O perigo de incêndio era apenas um aspecto da questão. Nos bastidores da biblioteca, os locais onde normalmente entram apenas os funcionários, o cenário era trágico. A iluminação era precária, as estantes estavam abarrotadas, livros, jornais e revistas se em-
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muito melhor. Não havia espaço para os usuários, o barulho do trânsito intenso do largo de São Francisco dominava tudo. Os freqüentadores queixavam-se da falta de computadores para pesquisas. Nas dez bibliotecas departamentais, espalhadas pelos segundo e terceiro andares do prédio, a situação era semelhante.
Se alguém quisesse um livro que estivesse no alto das imensas estantes que cobriam todas as paredes, era preciso arrastar uma pesada escada de
aço, com mais de quatro metros de altura, e subir, sem nenhuma segurança. Na biblioteca circulante, que funcionava em duas salas no andar térreo, não era raro que usuários e funcionários, carregando pilhas de livros, escorregassem em escadas estreitas e íngremes.
BARTOLVS A SAXO FERRATO
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... condicionado e acesso restrito a visitantes com autorização especial
Não é de admirar o alívio com que Giacomina e os outros funcionários da biblioteca receberam o apoio e financiamento da FAPESP. Desde 1996, um investimento de R$ 800 mil da Fundação contribuiu para salvar um tesouro de valor incalculável. A primeira medida a ser tomada foi uma reforma completa nas instalações elétricas. Mas o trabalho não ficou nisso. Vieram outras reformas nas instalações, a higienização e reorganização do acervo, a
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restauração de obras raras e a informatização dos serviços.
Chapelaria - Apesar de tudo isso, a reforma não tirou o caráter do que é um dos pontos mais tradicionais de São Paulo. Por exemplo, todas as mesas compradas para a ampliação dos lugares dos usuários foram feitas sob encomenda, no mesmo estilo das já existentes. A velha cha-pelaria foi mantida na entrada da sala de leitura da biblioteca central. O salão mantém a imponência dos tempos em que a faculdade do largo de São Francisco já era um dos grandes centros culturais e intelectuais do país. O pé-direito tem quase 5 metros de altura. A luz que entra pelas grandes janelas envidraçadas bate na madeira escura de mesas e estantes.
Um velho carrinho sobre trilhos e o elevador usado para transportar os livros do depósito para o salão ainda funcionam. O ambiente é tradicional, mas os equipamentos de informática, colocados num dos cantos do salão, mostram que as coisas estão mudando. Perto de compêndios jurídicos editados em séculos passados, os computadores dão acesso a informações de bancos de dados brasileiros e estrangeiros, como Web of Science, Probe, Scielo e outras bibliotecas virtuais.
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interna dá acesso a bancos de dados da própria Faculdade de Direito, facilitando consultas a teses e artigos de periódicos e tornando mais fácil a busca a referências bibliográficas.
Primeiro dia - A biblioteca ganhou uma home page. Por meio dela, uma pessoa de qualquer parte do mundo pode consultar o acervo e fazer pedidos por telefone, fax ou e-mail. A supervisora do Serviço de Atendimento ao Usuário, Maria Lúcia Beffa, diz que ficou espantada com o aumento do número de pesquisas. Logo no primeiro dia em que o si te entrou no ar, chegaram dez pedidos por e-mail.
As bibliotecas departamentais foram agrupadas em seis salas num
Dos 25 microcomputadores comprados para a informatização dos sistemas, 13 ficaram para os usuários. Com eles, fazem-se consultas a revistas e publicações jurídicas em CD-ROM e são feitas conexões pela Internet a sites especializados. Uma rede
Revista de estudantes: muitas obras do século passado
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Poema de Anchieta: acervo pode ser consultado de qualquer parte do mundo
corredor do segundo andar. A entrada é protegida por um portão eletrônico. As salas ganharam novas mesas e
::: cadeiras, aumentando ~ ;;: o número de lugares ~ disponíveis para os ~ ~ usuários, além de com-§ - putadores e impresso-
ras. Não menos impor-tantes são as escadas
mais leves e seguras, destinadas a facilitar o acesso às prateleiras mais altas. Com o ar-condicionado, instalado em todas as salas, as ,janelas ficam fechadas, diminuindo o barulho da rua.
Obras raras - No segundo andar, está outro resultado dos investimentos da FAPESP: duas salas foram completamente reformadas e agora servem para abrigar obras raras e jornais antigos. A reforma incluiu a instalação de ar-condicionado e de estantes deslizantes. Lá estão, por exemplo, 6.500 volumes de obras editadas entre os séculos 16 e 18. O acesso, porém, é restrito. Para consultar essas obras, só com autorização especial e
na presença de um bibliotecário.
A criação das novas salas ajudou a desafogar o grande depósito central, que agora tem uma organização bem melhor e já pode aceitar o crescimento do acervo, de 320 mil itens atualmente. Parte do acervo já foi submetido a um tratamento de limpeza e preservação. Além disso, foram restaurados 231 volumes dos séculos 16 e 17. Algumas dessas obras par-ticiparam, no ano pas-
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Novas instalações: tradição de uma faculdade que formou sete presidentes da República
Mas é nos periódicos acadêmicos, os jornais e revistas editados por alunos da própria faculdade, que parece existir o maior potencial para novas pesquisas. Durante muito tempo, a faculdade do largo de São Francisco oferecia um dos únicos dois cursos de Direito existentes no Brasil- o outro funcionava em Olinda, em Pernambuco. Pessoas de todo o país vinham a São Paulo em busca de um título que era uma escada firme para os mais altos postos no governo central, no Império e nos primeiros anos da República.
Não é exagero. No pri-
sado, de exposições relativas aos SOO anos do Descobrimento do Brasil.
A obra mais antiga da biblioteca é uma edição italiana de 1520 da Divina Comédia, de Dante Alighieri. Os lugares seguintes são ocupados por obras de caráter jurídico. As Anotações sobre os 20 Livros das Pandectas, um trabalho de Guillaume Budé que trata da legislação do Império Romano, é de 1534. Há ainda o Compêndio do Direito Processual, de Andrea Alciato, de 1537. Só existem mais dois exemplares desse livro no mundo. Um está em Paris, o outro, em Berlim.
Em português, a obra mais antiga é um exemplar de outro livro jurídico, as Ordenações Manuelinas, de 1539. Há também relíquias religiosas, como uma Bíblia de 1584, impressa em hebraico, e um curioso relato das riquezas do Brasil endereçado à Corte Portuguesa, o Cultura e Opulência do Brasil, escrito pelo padre João André Antonil e editado em Lisboa em 1711.
Por exemplo, ainda não começaram os trabalhos de preservação e restauração de mais de 700 livros do século 17. Há ainda a preciosa coleção de jornais e periódicos acadêmicos antigos. A biblioteca tem coleções completas de jornais antigos de São Paulo, como o Farol Paulistano, o primeiro jornal impresso em prelo de madeira da cidade, e o Observador Constitucional, criado por Líbero Badaró. Não faltam também coleções de jor-· nais mais modernos, como o Correio Paulistano, O Commercio e O Estado de S. Paulo.
Século 17 - Muito, ainda, porém, está por ser feito. A diretora Giacomina: medo dos fios desencapados
lO
meiro governo republicano, nada menos de cinco ministros, entre os quais Ruy Barbosa, eram formados no largo de São Francisco. Também passaram pelos seus bancos sete presidentes da República: Prudente de Moraes, Campos Salles, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Delfim Moreira, Wenceslau Brás, Artur Bernardes, Washington Luiz e Jânio Quadros. A eles se somam 12 governadores do Estado de São Paulo.
Folheando os periódicos acadêmicos, não é difícil encontrar artigos assinados por políticos famosos ou literatos, como Castro Alves, Álvares
de Azevedo, Fagundes Varella e José de Alencar. O curso de Direito podia ser sisudo e austero. Mas o diretório dos estudantes, o Centro Acadêmico XI de Agosto, era um centro de efervescência cultural. Provavelmente, muitas obras ainda desconhecidas de grandes escritores e pensadores estão nesses periódicos (o uso de pseudónimos era comum no século 19). Preservá-los, diz Giacomina, é o próximo passo da revitalização da biblioteca.
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Boa parte dos recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP está in
do para a restauração de obras raras e outras peças importantes para a memória do Estado e do país, como fotografias antigas. Não sem motivo. Esse patrimônio, muito rico em São Paulo, estava seriamente ameaçado. O problema não se encontrava apenas na ação do tempo. Faltavam políticas adequadas de preservação.
Não era difícil encontrar livros com mais de 300 anos empilhados de qualquer maneira, cobertos de poeira e sujeitos à ação de insetos e fungos. As marcas do descaso eram claras. As obras tinham capas soltas, costuras desfeitas, folhas ressecadas e quebradiças. Fotografias tinham marcas profundas, perdiam a nitidez e ficavam amarelecidas.
"A tarefa de restauro não é simples': diz a especialista Lucy Aparecida Luccas, que participou de vários projetos patrocinados pela FAPESP, inclusive o da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). "Exige pessoal especializado, material quase sempre importado e o trabalho é demorado", acrescenta.
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Contra os efeitos do tempo e o descaso com obras raras
Restaurar um livro antigo é caro e demorado
SUPPIJEMENT O AO
VOCABl JLARIO , PORTUGUEZ E Ll\.TINO,
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Livro raro: restauração pode custar R$ 4 mil
documentos: é preciso ter ordem na casa
Ordem na casa- É também um trabalho caro. Restaurar um livro antigo custa, em média, R$ 4 mil, dependendo do tamanho e do estado de conservação. Assim, só vale a pena se o material for mesmo raro e importante. Além disso, é um trabalho que só pode ser feito depois de se colocar ordem na casa. Se o livro restaurado não for guardado de forma adequada, o serviço é perdido.
Ao contrário do que parece, é bom que o livro seja constantemente manuseado. O virar das páginas oxigena o material, impede a acumulação de microrganismos que atacam o papel e colabora para que as folhas não fiquem ressecadas e que-
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bradiças. Um conselho prático: folheie rapidamente o livro sempre que for colocá-lo de volta na prateleira.
Há mais. Um tratamento anual contra insetos, por exemplo, é muito importante. Além disso, como isso faz com que os livros sejam pegos um por um, serve como uma revisão geral do seu estado de conservação.
Empurrar e puxar - Lucy dá outros conselhos. Não usar clipes como marcadores de páginas é um deles, pois o processo de oxidação do metal mancha e estraga o papel. Quando tirar um livro da prateleira, não o puxe pela parte superior da lombada, pois isso danifica a encadernação. O certo é empurrar os volumes
Obras: registres do crescimento do Estado
dos dois lados e puxar o volume desejado pelo meio da lombada.
"O problema mais comum é a perda de papel, provocada pela ação de insetos e mesmo pela mão do homem': diz a restauradora. Antigamente, era hábito comum guilhotinar as margens de páginas de livros e fotografias, especialmente na parte de cima. Com isso, perderam-se dados importantes, como números de página e mesmo títulos.
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Política: boa parte da memória do país está nos arquivos de São Paulo
Os restauradores tentam aproveitar ao máximo o material original. Mas nem sempre isso é possível. "Até hoje, nunca encontrei um livro antigo com a capa original", diz Lucy. O caminho dos restauradores é refazer a encadernação, seguindo os padrões da época em que o livro foi impresso.
Caixas especiais - O normal é dar ao livro uma capa nova, de pergaminho, com cordões amarrados, para protegê-los do calor. Os livros mais· raros ficam em caixas especiais, feitas de um papelão especial, de pH neutro. Vários materiais são usados. Para os livros impressos até o fim do século 18, é preciso buscar o papel usado na época, à base de linho.
pedido do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP, precisou viajar para a Itália a fim de especializar-se no assunto.
"É uma tarefa cansativa, mas muito delicada", ela diz. Na Faculdade de Direito, tratou livros que não desciam das prateleiras há mais de 200 anos. As páginas estavam coladas e foi preciso separá-las uma a uma. Havia muitos tipos de sujeira, de pó a fezes de pombo. "É preciso muito cuidado para não danificar ainda mais essas obras", afirma. "Mas, no final, o trabalho é recompensado. Parece que o livro olha para nós e agradece:'
A restauração de livros e outros documentos antigos é prática relativamente recente no Brasil. Seu desenvolvimento coincidiu com o início dos investimentos da FAPESP. Há cinco anos, afirma Lucy, quando aceitou a incumbência de restaurar os primeiros livros, a
Trabalho de restauração: papéis especiais
PESQUISA FAPESP
F oi preciso muito trabalho e muito dinheiro. Só a FAPESP investiu R$ 1,4 milhão e
US$ 26,2 mil. Mas, depois de cinco anos de reformas e informatização, as oito bibliotecas que compõem o complexo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) ganharam vida nova e elogios constantes de funcionários e usuários. "É o melhor espaço da escola para o estudo, individual ou em grupo", diz um aluno. "A biblioteca não é mais aquele monstro assustador': acrescenta uma aluna. Antes da reforma, ela entrara apenas três vezes no local. Agora, é visitante constante.
"Foi uma transformação total", afirma a diretora técnica Maria Cristina Olaio Villela, informando que a freqüência subiu de 300 mil alunos em 1996 para 458 mil em 1999, um aumento de 35%. Maria Cristina ocupa o cargo apenas há cerca de um ano, mas é funcionária desde 1989. Quando entrou para a Politécnica, o serviço de bibliotecas tinha passado por uma reestruturação, coordenada pela antiga diretora, Maria Alice Fernandes Carrera. Por ela, a biblioteca central manteve o acervo básico para os dois primeiros
PESQUISA FAPESP
Recursos para melhorar a pesquisa em todo o Estado Novos tempos nas universidades públicas
Maria Cristina: transformação total
Engenharia Mecânica: fim da idéia do monstro assustador
anos e as obras mais antigas. O restante foi distribuído por sete bibliotecas setoriais, que atendem aos 15 departamentos da escola.
Em todas elas, o panorama era o mesmo: móveis muito antigos, espaços mal distribuídos, organização deficiente do acervo, equipamentos em falta. "Felizmente, recebemos da FAPESP todo o apoio necessário para reverter essa situação", diz Maria Cristina. Houve bibliotecas, como a de Engenharia Mecânica, Naval e Oceânica e a de Engenharia Elétrica, em que toda a antiga estru-
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tura foi substituída. As instalações foram reformadas do teta ao piso. Ganharam móveis novos, computadores, ar-condicionado, portões eletrônicos e nova sinalização.
Saletas - Um dos pontos fortes da reforma é o melhor aproveitamento dos espaços. A biblioteca de Engenharia Mecânica, por exemplo, ganhou quase 500 metros quadrados com o aproveitamento de um porão que servia apenas como depósito de móveis quebrados. Foram criados ambientes para tipos de atividades diversas, como pesquisas on-line, salas de vídeo e locais para pequenas palestras. Várias
Novas instalações: trabalhos que duravam um mês são feitos hoje em três dias
saletas foram dedicadas a trabalhos em grupo. Isso solucionou o problema do barulho, que prejudicava a concentração, e aumentou a liberdade para a troca de informações e discussões em grupo.
Formada na década de 1960, Maria Cristina diz que assistiu a uma revolução nos serviços de biblioteca. "Quase tudo o que aprendi está hoje ultrapassado", afirma. Os novos métodos de trabalho chegaram a assustar alguns funcionários. Uma funcionária, responsável pelo serviço de troca de documentos entre bibliotecas, entrou em pânico quando os formulários preenchidos manualmente e enviados pelo correio foram substituídos por um processo informatizado. "Ela ficou desesperada, achando que não iria conseguir", lembra Maria Alice. Mas, afinal, conseguiu.
A biblioteca da Poli foi pioneira em vários métodos, inclusive o serviço Comut-on-line. Seu sucesso chamou a atenção de outras bibliotecas da USP e serviu de modelo ao programa de informatização desenvolvido pelo Serviço Integrado de Bibliotecas (SIBi). O programa baseia-se no uso do softwareAriel, com
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o qual artigos e capítulos de livros são copiados por um scanner e convertidos em arquivos. Podem, assim, ser transmitidos por correio eletrônico. Um processo que antes levava um mês dura hoje no máximo três dias.
Fundações - É mais um exemplo de pioneirismo na história da Poli, fundada em agosto de 1893. Ela foi a · terceira faculdade de engenharia do país, precedida apenas pela Politécnica do Rio de Janeiro, de 1810, e pela Escola de Minas de Ouro Preto, de 1875. Seus professores e alunos são responsáveis por muitas obras importantes da cidade de São Paulo. A Poli ajudou a verticalizar São Paulo de diversas maneiras. Foi em seus laboratórios que se solucionaram problemas de fundações surgidos durante a construção do edifício Martinelli, entre 1925 e 1930, por exemplo.
Durante esses anos, a escola acumulou um grande acervo, com livros, periódicos, mapas, plantas e fotografias antigas. Nem todos estão disponíveis. Cerca de 23 mil volumes antigos não podem sequer ser manuseados. Estão cobertos de po-
eira e muitos se esfacelando. Maria Cristina tenta conseguir, agora, verbas para higienizar esse acervo, de maneira que ele possa ser examinado. Assim, serão identificadas as obras mais indicadas para a restauração. Será solucionado também outro problema. Esse material provoca tosses e espirros constantes em quem trabalha no depósito de livros da biblioteca central.
Unicamp - Não foram só as grandes escolas da capital que tiveram problemas para adequar as reformas a um grande número de bibliotecas. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ), por exemplo, o movimento atingiu 19 bibliotecas, 17 das quais situadas em Campinas, uma em Piracicaba e outra em Limeira. Todas elas foram beneficiadas, em maior ou menor grau. Junto com as reformas, foi criada a infraestrutura para o desenvolvimento de um plano de automação, que cobriu desde a adaptação da rede elétrica para suportar a demanda maior de energia à instalação dos cabos para os sistemas de comunicação.
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Biblioteca da Unicamp: acervo de 500 mil livros cresce 10% ao ano
"Saímos da Idade Média para entrar na Modernidade': declara a coordenadora do sistema de bibliotecas da Unicamp, Maria Alice Rebello Nascimento. O número de microcomputadores saltou de 139 para 420. Um impacto enorme teve a aquisição de um software de última geração para o gerenciamento de bibliotecas. Com ele, todas as bibliotecas foram interligadas. Serviços que eram feitos em sistemas independentes foram integrados na nova plataforma. "Eliminamos muitas etapas de trabalho desnecessárias", destaca Maria Alice.
significa 50 mil livros a mais num período de 12 meses.
Área física - O que quase sempre acontece é que, com isso, o acervo vai invadindo as áreas destinadas aos usuários e diminui o espaço para as consultas. Na Unicamp, ocorreu o contrário. Com o melhor aproveitamento dos espaços e a adaptação d'e
Não foi só isso. As bibliotecas ganharam móveis mais adequados. Foi solucionado também, pelo menos temporariamente, o crônico problema da falta de espaço. "Tratase de um problema muito comum", afirma Maria Alice, "pois, afinal de contas, as bibliotecas crescem". O acervo da Unicamp aumenta, em média, 10% ao ano. Para quem tem SOO mil livros, isso
Maria Alice: saindo da Idade Média
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um anexo de 1.000 metros quadrados no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, a área física das bibliotecas cresceu de 19.308 para 21.488 metros quadrados. Um passo importante foi a adoção de estantes deslizantes, para a guarda de coleções especiais e obras raras. De acordo com Maria Alice, esse tipo de estante não pode ser usado para obras de grande circulação ou de livre acesso. Mas seu emprego, mesmo em áreas especiais, ajuda a ganhar espaço e conserva melhor o material.
Quanto às obras raras, elas agora estão mais bem tratadas, graças a uma leitora-copiadora, com a qual os documentos podem ser copiados em mi
crofilme ou em papel. Com isso, reduz-se sensivelmente o manuseio dos originais. O novo sistema de arcondicionado ajuda a preservar essas obras, muitas das quais vindas de coleções recebidas de intelectuais falecidos, como os historiadores Sérgio Buarque de Hollanda e Peter Isenberg. O trabalho deve aumentar com a criação de um laboratório de encadernação, restauro e higienização na própria universidade. Isso significará uma grande economia, já que esses trabalhos são hoje contratados a terceiros.
Uma das preocupações de Maria Alice é completar a digitalização do catálogo, pois cerca de metade das obras ainda não está disponível em meios eletrônicos. Outra é um upgrade no sistema de gerenciamento, instalado há quatro anos. Mas, enquanto isso, medidas aparentemente pequenas, mas de grande impacto, já estão em curso. Para este ano, está prevista a adequação das bibliotecas aos portadores de deficiências físicas, o que inclui desde a construção de rampas para cadeiras de rodas à aquisição de equipamentos de infor-
IS
Com sua ampla base geográfica, a Unesp tinha problemas próprios. Na biblioteca de Ilha Solteira, por exemplo, com clima tropical úmido, o calor que chega freqüentemente a 41 graus fazia com que usuários e funcionários mantivessem as janelas abertas, facilitando a entrada de poeira, fungos e isentos. "A climatização do local solucionou o problema", afirma Mariângela. A temperatura agora é mantida em 20 graus e a umidade do ar em 50%, o que é considerado ideal para a conservação do acervo.
Acervo resguardado: temperatura e umidade do ar ideais para a conservação das obras
De qualquer maneira, os planos futuros das bibliotecas da Unesp incluem um aperto na segurança.
mática destinados a deficientes visuais. "Muitas vezes, essas pessoas chegam a interromper seus cursos diante das dificuldades que encontram", afirma Maria Alice.
Unesp - Em matéria de número de bibliotecas, porém, é difícil que tantas tenham sido beneficiadas como as que fazem parte do sistema da Universidade Estadual Paulista (Unesp ). A verba de R$ 12,3 milhões investida pela FAPESP contribuiu para mudar a paisagem em nada menos de 23 bibliotecas, três na capital e o restante em outras cidades do Estado. "O aspecto geral era de abandono", diz, lembrando o período anterior, a coordenadora de bibliotecas da Unesp, Mariângela Spotti Lopes Fujita. Hoje, ela afirma, os visitantes ficam impressionados com a estrutura existente. "Principalmente os pesquisadores estrangeiros': destaca.
verbas recebidas da FAPESP foi a instalação de um sistema de pesquisa informatizado, comparável aos melhores do mundo. "Decididamente, o espaço da biblioteca é multidisciplinar e multimídia': diz Mariângela. O número de consultas, que podem ser feitas a distância por todos os alunos e professores da universidade, aumentou bastante. "Eles são atraídos pelo conforto · e pelos equipamentos muito rápidos': ela destaca. "Não encontram esses recursos em nenhum outro lugar."
"O furto de livros era uma prática que se tornava cada vez mais freqüente", lembra Mariângela. A instalação de portões eletrônicos e a magnetização do acervo parecem ter solucionado esse problema. A universidade quer, agora, espalhar câmeras de TV pela biblioteca, para diminuir os casos de pessoas que rabiscam livros ou arrancam páginas e fotografias.
"Isso é fruto de uma cultura que infelizmente ainda não aprendeu a respeitar os livros como parte do pa
trimônio cultural da huma-
Não é para menos. Um dos trabalhos feitos com as Mariângela: medidas contra livros rasgados e rabiscados
nidade': lamenta Mariângela. Mas, enquanto isso, a Unesp se preocupa em ajudar os usuários a aproveitar bem seu acervo, promovendo cursos para ensinálos a usar da melhor maneira os programas de busca. "A intenção da biblioteca é facilitar ao máximo o desenvolvimento científico", afirma. "Para isso, ela precisa dar aos pesquisadores condições de obter o máximo de informação com o mínimo de esforço."
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Não são só as instituições públicas que recebem o apoio do Programa de InfraEstrutura da FAPESP.
Muitas universidades e outros orga-nismos particulares estão recebendo investimentos para ampliar e melhorar seus serviços. Um dos maiores investimentos feitos pela Fundação na área das bibliotecas -cerca de R$ 1,8 milhão - foi para a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. A verba permitiu que fossem totalmente reformados, mobiliados e equipados os 4.350 metros quadrados da biblioteca e do Centro de Documentação e Informação Científica (Cedic) na rua Monte Alegre, no bairro de Perdizes, na capital.
"Para acompanhar o desenvolvimento tecnológico, foi necessário um grande investimento em reformas físicas", explica a bibliotecáriachefe, Ana Maria Rapassi, para explicar por que só agora, com verbas da FAPESP, está em curso a informatização da biblioteca. A primeira fase da reforma, terminada em setembro de 1999, já serviu para tornar mais confortáveis, seguras e eficientes as instalações. Foi criada, também, uma infra-estrutura tecnológica que vai permitir a implantação de sistemas mais modernos de suporte à pesquisa, como o acesso a bases de dados científicos e periódicos eletrônicos.
O primeiro obstáculo estava na rede elétrica precária. O sistema era tão ruim que não tinha condições de suportar um número razoável de computadores. Por isso, só parte dos serviços administrativos estava in-
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Investimento em instalações mais seguras e eficientes
PUC prepara a base para passos mais amplos
formatizada. Uma parte do acervo estava catalogada por meios eletrônicos, mas, como não havia meios para instalar um sistema de rede, as consultas ficavam limitadas ao espaço da biblioteca. Havia outros problemas sérios. As instalações hidráulicas, por exemplo, também estavam muito ruins. E o forte calor no interior do prédio exigia um sistema de ar-condicionado, para que os equi-
ça e preservação. Entre essas preciosidades está uma primeira edição de Os Sermões, do padre Antônio Vieira, de 1679.
O Cedic, atormentado pela falta de espaço, foi deslocado do térreo para o subsolo. Com isso, a biblioteca ganhou uma grande área livre na entrada, onde foi montado um pequeno auditório para exposições e lançamentos de livros. O auditório,
Ana Maria: preparada para instalar sistemas mais modernos de apoio à pesquisa
pamentos não fossem danificados pelas altas temperaturas.
Pri meira edição - Com os primeiros trabalhos, já foi possível unificar o acervo, que estava dividido em duas bibliotecas. "As duas já estavam com seus espaços saturados", conta Ana Maria. Também foi possível reunir o acervo de obras antigas e raras numa sala especial. Restringir o acesso a essas obras era um passo essencial para garantir sua seguran-
chamado Centro Cultural Monte Alegre, é um sucesso. Tem sempre agenda lotada para os seis meses seguintes. Quanto ao Cedic, tem agora 300 metros quadrados, em vez dos 100 metros anteriores. A ampliação do espaço permitiu a instalação de um laboratório de microfilmagem e outras instalações, como um laboratório de áudio que permite a reprodução de gravações com qualidade digital. Nada que lembre as antigas e apertadas instalações.
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O nde, no Brasil, é possível encontrar um exemplar da raríssima obra Metamorphosis des Insectes, editada na Fran
ça em 1705? Trata-se de um trabalho sobre a fauna do Suriname, ilustrado com muitas aquarelas, de tanto valor que é considerado patrimônio
da humanidade pela Unesco. Uma cópia está no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), ao lado de preciosidades como obras de Georges Cuvier (1769-1832), considerado o pai da paleontologia, todas elas ilustradas à mão. Com a ajuda da FAPESP, o museu, instalado num antigo edifício do bairro do Ipiranga, em São Paulo, está recuperando suas instalações e cumprindo com cada vez maior vigor sua função de ser um dos principais centros mundiais de ensino e pesquisa da fauna da região neotropical, que in-
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A renovação de um centro de referência em zoologia
Obras dão sobrevida a prédio do museu no Ipiranga
clui o Brasil e outras partes das Américas do Sul e Central.
''A verba da FAPESP serviu até para reformar as instalações do museu, todas em péssimo estado e algumas mesmo sem condições de uso", afirma o diretor, Miguel Trefaut Rodrigues. Trata-se de um enorme avanço com relação ao es-
tecer quando o museu mudar-se para um novo prédio, já em projeto, no próprio campus da USP. Mas não há dúvidas de que as condições melhoraram bastante. Por enquanto, o museu vai enfrentando uma situação peculiar: seu próprio sucesso como instituição de ensino e de pesquisa está aumentando em
Coleções: um dos maiores centros· de pesquisas sobre a zoologia neotropical do mundo
tado anterior das instalações que abrigam o museu desde sua fundação, em 1939, quando pertencia à Secretaria da Agricultura, e que continuaram após sua transferência para a USP, em 1969. Há alguns anos, até a biblioteca fora obrigada a mudar de lugar, pois a estrutura da parte do prédio onde ela funcionava começou a ceder e a situação das instalações elétricas e hidráulicas eram precárias.
Os problemas não estão todos resolvidos e, de acordo com o professor Rodrigues, isso só vai acon-
escala acelerada suas coleções. Isso faz com que o espaço dedicado às coleções avance cada vez mais sobre o reservado às exposições públicas. ''A exposição tinha originalmente 1.500 metros quadrados e foi reduzida a cerca de 700 metros quadrados", admite o professor Rodrigues. A solução, segundo ele, só virá quando for inaugurado o novo prédio.
Degeneração - "O museu vem apresentando uma produção científica cada vez mais intensiva': explica o
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diretor. "Os pesquisadores estão coletando mais e temos que armazenar esse material, diante da degeneração dos hábitats dos animais, tanto no Estado de São Paulo como no resto do Brasil", acrescenta. Exemplos não faltam. A coleção do museu inclui vários exemplares da borboleta Morpho menelaus, de cor azul, apanhados em Cubatão em 1966. Não se tratava de uma espécie rara. Podia, na época, ser encontrada em regiões de mata de todo o Brasil. Hoje, sumiu de São Paulo. Só existe na Amazônia. Espécies típicas da Mata Atlântica, como o mutum Mitu mitu, uma ave aparentada com as galinhas, não existem mais na natureza. Só é encontrada em cativeiro. E, com
incomparáveis a quaisquer outras no mundo e indispensáveis para fazer qualquer tipo de trabalho nas áreas de ecologia, evolução e sistemática no Brasil e para resolver problemas sobre grandes grupos em âmbito mundial", afirma o diretor.
Recursos humanos - Além do material recolhido por pesquisadores e estudantes de pós-graduação da USP, o museu também recebe animais coletados por pesquisadores de outras instituições brasileiras, material de permuta e doações, além de comprar coleções de particulares, quando surge uma boa oportunidade. "Este museu sempre teve um caráter de museu científico, com coleções
Mamíferos e insetos: borboletas encontradas com
facilidade em Cubatão hoje só sobrevivem na Amazônia
a progressiva destruição de seus hábitats naturais, dificilmente poderá voltar a desenvolver-se nas matas.
Isso torna o Museu de Zoologia um centro muito importante de pesquisas, não só para zoólogos, mas também para ecólogos e profissionais de outras áreas. Seu acervo, hoje com 7 milhões de exemplares, é o maior da região neotropical. Sua coleção de insetos neotropicais é a maior do mundo. O mesmo acontece com as de aves, répteis e anfíbios. Só a de mamíferos está em segundo lugar. "São coleções absolutamente
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científicas", explica Rodrigues. "Seu impacto na formação de recursos humanos qualificados, na pós-graduação do Brasil, vem sendo muito grande. Todos os grandes zoólogos brasileiros tiveram treinamento científico neste museu."
Quando houve o problema com a parte do prédio onde funcionava a biblioteca, aproveitou-se para mudar algumas coisas. O solo foi nivelado e no local construiu-se um mezanino, onde foram abrigadas mais coleções. A construção foi feita com verba da USP, mas o ar-condiciona-
do foi instalado com um investimento da FAPESP. Quanto à biblioteca, continua a ser a maior e mais completa do gênero no Brasil, com 89.573 volumes e com séries completas das revistas de zoologia mais usadas nos trabalhos· de pesquisa.
O fato de a biblioteca ser tão completa tem uma explicação. O museu edita anualmente duas revistas especializadas, Papéis Avulsos de Zoologia e Arquivos de Zoologia. Como há interesse nessas obras por parte de outras instituições, isso rende para o museu cerca de 700 acordos de permuta e significa, nos cálculos de Rodrigues, uma economia de cerca de R$ 200 mil por ano em assinaturas para a USP. Em compen-
sação, o espaço reservado às revistas cresce, em média, entre 20 e 25 centímetros por dia.
Deslizantes - As verbas da FAPESP foram empregadas, em grande parte, na compactação das coleções, a começar pela de invertebrados. Com a compactação, o acervo é colocado em armários deslizantes, o que significa uma enorme economia de espaço. ''A compactação de várias coleções nos deu um horizonte de crescimento de mais quatro anos", diz Rodrigues. "Sem isso,
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teríamos sido obrigados a fechar completamente a seção de visitação!' A reforma das instalações elétricas permitiu a aquisição de um microscópio eletrônico de varredura, também com o apoio da FAPESP. Com ele, o museu tem um dos laboratórios de microscopia eletrônica mais modernos da USP.
Parte dos animais é conservada a seco, parte em álcool. Cada qual tem
Armários deslizantes e o professor Rodrigues: cada animal tem
um tipo de conservação diferente
um método específico. Os morcegos, por exemplo, devem ser conservados em álcool. Se forem conservados a seco, ficam com o pêlo ressecado, prejudicando a aparência. Rodrigues explica que essas coleções têm uma importância enorme para diversos tipos de estudo, como os que procuram determinar a evolução das espécies.
Se um pesquisador quiser acompanhar a evolução dos sagüis, por exemplo, encontrará no museu exemplares de diversas regiões, como Mata Amazônica, Mata Atlântica, Cerrados, Caatinga e Mata de Araucária. Comparando características como a cor do pêlo, o tipo do
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pêlo, sua distribuição ao longo do corpo, dentes, ossos, crânio e características da anatomia interna e da biologia molecular, será possível responder a diversas perguntas sobre o animal e sua ecologia.
Relação - "O sistemata, o pesquisador que trabalha no museu, parte de características, morfológicas, ecológicas ou moleculares, para sistemati-
zar o conhecimento e responder a questões como quantas espécies existem num grupo e qual sua relação de parentesco': comenta Rodrigues. "Só quando essas perguntas são respondidas é possível seguir adiante e fazer indagações e procurar explicar fatos sobre por que um animal é arborícola ou não, ou se vive em terra ou na água."
Por enquanto, a visitação pública está suspensa, em conseqüência de
outro problema grave. O telhado estava danificado, houve uma infiltração de água da chuva e placas de estuque começaram a cair sobre os armários do acervo. O telhado e boa parte do forro foram trocados, com verba da USP, em paralelo aos projetas de infra-estrutura financiados pela FAPESP. Mas o perigo de que uma placa de estuque caísse sobre um visitante levou à interdição. O museu pretende reabrir as portas em meados do ano, com novas instalações, como catracas e melhor iluminação.
De qualquer maneira, o que está exposto representa menos de um milésimo das coleções do museu. As coleções têm ênfase na fauna brasileira, mas incluem animais de várias partes do mundo. O acervo do museu é considerado um dos mais completos da zoologia mundial. Mas é devido ao paciente trabalho de coleta realizado nas últimas décadas que muita coisa se sabe sobre a fauna brasileira e, especialmente, da Mata Atlântica. O que não livra os pesquisadores de algumas surpresas.
Julgava-se antes que o mutum desaparecido da Mata Atlântica era o mesmo encontrado na Amazônia. Não mais. Agora, sabe-se que o mutum amazônico é uma espécie diferente.
Enquanto houver devastação, o papel do museu continuará a crescer. Outra espécie de ave que só existe em cativeiro é a ararinhaazul ( Cyanopsita spixii). O último espécime solto na natureza estava sendo mo
nitorado por biólogos, no norte da Bahia. Mas desapareceu no ano passado. Outros animais, mesmo de grande porte, correm perigo. O exemplar existente no museu do macaco-danoite (Patos flavus), também conhecido como jupará, foi recolhido num pequeno trecho de Mata Atlântica no Estado de Alagoas. Hoje, essa região está completamente devastada. Não se sabe quando será possível dispor de outro macaco-da-noite para estudos.
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Estação de Boracéia: biólogos trabalham para preservar e para conhecer mais a fauna da Mata Atlântica
Aada de terra está relativaente livre de buracos. Mes
mo assim, é tão sinuosa que dificilmente o trajeto de cerca de 50 quilô
metros até a farmácia ou o pequeno supermercado mais próximos dura menos de uma hora. O acesso difícil é proposital. Desestimula os coletores clandestinos de palmito e de bromélias. Essa é a via de acesso à Estação Biológica de Boracéia, uma área de 96 hectares de Mata Atlântica, no litoral norte do Estado de São Paulo, pertencente ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).
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No meio da mata, um centro de pesquisas FAPESP ajuda a recuperar estação biológica
Não é uma simples área de preservação. É, também, um importante centro de pesquisas.
Ali, também, se vê a mão do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. Até há pouco, a estação estava seriamente comprometida pela falta de recursos. As instalações eram muito antigas e não recebiam manutenção. Mal podiam abrigar oito pesquisadores de cada vez. Não havia laboratórios, as salas de aula eram improvisadas. Hoje, os três prédios da estação foram reformados. Eles são modestos, mas confortáveis - algo importante
para quem fica até mais de uma semana no isolamento da estação -que nem tem telefone- para fazer uma pesquisa.
De certa maneira a estação é característica de uma nova filosofia de trabalho. Antes, os cientistas, em grande parte, procuravam conhecer para preservar. Hoje, infelizmente, é preciso preservar antes de conhecer. "Os biólogos trabalham contra o tempo, concorrendo com interesses econômicos da indústria madeireira e extrativista e com os interesses das comunidades locais, que, por necessidade e ignorância, contri-
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Prédio reformado: instalações agora podem receber até 25 pessoas
buem para a degradação ambiental", diz Sônia Casari, chefe da seção de Apoio à Estação Biológica de Boracéia.
Bromélias - A estação está situada numa área de mata primitiva, de 16.450 hectares, preservada pela Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp ), a Adutora do Rio Claro, situada no município de Salesópolis, cerca de 11 O quilômetros a leste da capital. Ao contrário do que ocorre em áreas mais freqüentadas, bromélias e orquídeas, muito procuradas pelos coletores clandestinos, são vistas com facilidade nas árvores. Há muitos pássaros e insetos. Marcas de pequenos animais aparecem no chão das picadas.
sem que seja preciso entrar nas picadas. À noite, basta acender uma lâmpada especial, instalada na frente de um dos alojamentos, para atrair uma multidão de insetos.
Só no ano 2000, pesquisadores da USP concluíram nove projetos com base em coletas feitas na esta-
Tanta vida selvagem chega a trazer desconforto para os pesquisadores. Apesar do forte calor, eles só entram na mata com roupas de mangas compridas e botas de borracha de cano longo. É uma forma de proteção contra os mosquitos e cobras. Mas muitas pesquisas podem ser feitas As professoras Sônia e lzaura: sem telefone
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ção, na maior parte sobre insetos ou anfíbios. Além disso, a estação recebeu 60 pesquisadores de outras instituições, 15 deles estrangeiros. Vários pesquisadores vêm de organismos particulares, como a professora Izaura Bezerra Francini, da Universidade Católica de Santos, participante do projeto Levantamento da Fauna de Coleópteros da EBB. "Seria difícil fazer um trabalho dessa envergadura em outro local", ela afirma.
Quinino - A estação foi criada em 1938, como um centro experimental para o estudo do cultivo da quina do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). A quina, um arbusto dos Andes, era a origem do quinino, um remédio muito usado na época para a malária. A partir de 1941, pesquisadores do então Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura, hoje o Museu de Zoologia da USP, passaram a organizar expedições à área para coletar material científico. Em 1952, o IAC encerrou os trabalhos com a quina e, em 1954, a estação foi oficialmente transformada em centro de estudos.
A estação não serve apenas para pesquisas. Também é importante ponto de apoio para a formação de mãode-obra qualificada para trabalhos de campo. No ano passado, 86 alunos e 11 professores participaram de seis cursos oferecidos pela EBB. Isso se tornou possível com a criação da nova sala de aula e do laboratório, com capacidade para receber 25 alunos.
Mesmo o laboratório não tem equipamentos sofisticados. Não há computadores na estação. Mas biólogos que trabalham no campo estão acostumados a longos períodos apenas com o básico. Há outra vantagem nessa maneira austera de pesquisar: ela diminui o lixo que cada um é obrigado a trazer de volta para a cidade. Uma das regras da estação é a de que cada um deve levar embora o lixo que produz. ''A estação deve permanecer intacta, para garantir a vida das plantas e animais e o futuro das pesquisas biológicas", sublinha Sônia.
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uando foi formado, em 1975, o Herbário da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) contava apenas
com dois armários, nos quais guardava algumas duplicatas doadas pelo Instituto de Botânica de São
Uma instituição que se tornou modelo
Reforma muda a face do Herbário da Unicamp
Hoje, o Herbário da Unicamp está entre os mais importantes do Brasil. Tem um acervo de 116 milespécies. Anualmente, recebe mais 7 mil, fruto de coletas feitas por equipes da própria Unicamp, de doações e de permutas com museus de várias partes do mundo. Não é só; ele é re-
Brasil uma organização tão bem estruturada e equipada': diz Luiza Sumiko Konoshita, professora-assistente do Departamento de Botânica da Unicamp.
Essa boa impressão não vem do nada. O Herbário da Unicamp é um exemplo de organização e eficiên-
Amostras conservadas no Herbário da Unicamp: ambiente era tão insalubre que pessoas pensavam em desistir da profissão
Paulo, com as quais começou sua coleção. Esse início modesto, hoje, é apenas uma distante recordação. O herbário ganhou impulso com a criação dos cursos de pós-graduação em Biologia Vegetal, em 1976, e com a necessidade, cada vez mais premente, de recolher e preservar amostras da flora do Estado, especialmente da Mata Atlântica, antes que seus hábitats fossem completamente destruídos.
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conhecido como uma das mais importantes instituições de pesquisa da sua área no mundo e ponto de parada freqüente para pesquisadores vindos de várias regiões do planeta. Sua estrutura, moderna e bem equipada, serviu de modelo para a reforma de outros herbários, inclusive o do respeitado Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
"Os pesquisadores estrangeiros ficam admirados ao encontrar no
cia. A coleção está toda compactada em armários deslizantes, que ficam em duas salas do andar térreo do Departamento de Botânica. Tem um bom sistema de ar-condicionado, fundamental para a preservação do material. Conta ainda com equipamentos para a observação do material, como lupas com capacidade de aumento de 40 vezes, e para o preparo das plantas, como estufas e freezers.
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Insalubre - Nem sempre, porém, foi assim. Há pouco tempo, nem havia uma bancada adequada para o trabalho de estudantes e pesquisadores. O velho aparelho de ar-condicionado funcionava precariamente e servia apenas uma das duas salas. Quando chovia, a água entrava pelo aparelho e escorria pelas paredes. Com o alto teor de umidade, os fungos proliferavam de tal maneira que o ambiente, além de representar um perigo para as coleções, se tornou insalubre até para as pessoas.
Lupas especiais permitem exames rápidos no material
a USP de Ribeirão Preto, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) de Piracicaba e mesmo instituições de fora do Estado, como a Universidade Federal de Londrina, no Paraná.
Novas iniciativas foramtomadas.Porexemplo, o museu passou a patrocinar um projeto de educação ambiental, dirigido por Luiza, do qual participam alunos do primeiro e segundo graus não só de Campinas, mas também de São Paulo, Santos e São Carlos. Nesse programa, uma equipe da Unicamp visita escolas públicas e promove atividades em sala de aula e passeios no campo. "A comunidade é um agente fundamental da preservação': diz a professora. "O resultado é muito gratificante, pois os estudantes começam a respeitar mais as plantas': acrescenta.
"Ninguém suportava ficar mais de uma hora lá dentro e não era raro um estudante ou professor sofrer uma crise de asma", lembra Luiza. "Alguns professores e alunos chegaram a pensar em desistir da carreira, para não agravar seus problemas de saúde", acrescenta. Os fungos não eram o único problema. Duas detetizações por ano A professora Luiza: projeto de formação nas escolas primárias
A reforma veio em boa hora. O projeto Flora, que está mapeando
não conseguiam mais resolver o caso dos insetos, que encontravam ambiente propício no calor e umidade.
A isso, se somavam outras questões. Os armários não eram suficientes. Materiais preciosos se empilhavam pelo chão. Chegou-se a um ponto em que nem mesmo no chão havia espaço para o material que chegava. "Isso dava uma impressão tão grande de desorganização que ficávamos envergonhados quando recebíamos pesquisadores estrangeiros", diz a professora Luiza.
Pisos e paredes - Ou seja: havia a necessidade de uma reforma completa.
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Ela veio com um investimento de R$ 416,9 mil do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. O dinheiro deu para reformar pisos e paredes, instalar um novo sistema de ar-condicionado, comprar armários deslizantes adequados para a guarda de espécies vegetais e até obter duas lupas especiais para exames rápidos do material.
Os armários antigos, substituídos pelos deslizantes, ainda estavam em bom estado. Mais de 200, com valor estimado em R$ 600 cada um, foram doados a instituições como o Herbário do Instituto de Botânica, o Herbário da Unesp em Rio Claro, o Instituto Agronômico de Campinas,
todos os vegetais existentes no Estado de São Paulo, tem participação ativa dos pesquisadores da Unicamp e o herbário recebe amostras de praticamente todas as coletas feitas dentro do projeto. "Com isso, o acervo ainda vai crescer muito", diz o curador do Herbário, Washington Marcondes Ferreira Neto". Hoje, o museu abriga 140 tipos nomenclaturais, ou seja, espécies novas, descobertas por pesquisadores paulistas, cujas amostras-tipo estão guardadas no local. Poucos herbários, mesmo os mais tradicionais, chegam a tanto. Nada mau para um organismo com pouco mais de um quarto de século de existência.
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H ouve um tempo em que o terceiro museu em importância da América Latina primava pela segurança ze
ro. Apenas uma porta de vidro sepa-rava o ambiente externo, a rua, da área da exposição, onde se encontram obras de autores valorizadíssimos, como Picasso, Modigliani e Matisse. "O risco de ocorrer um roubo era grande", admite o diretor da instituição, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo (USP), José Teixeira Coelho Netto.
Mais problemas? O prédio fora projetado para ter um sistema de ar-condicionado, mas ele nunca fora instalado. Assim, o edifício não tinha nem mesmo ventilação natural, por mais precária que fosse. "O calor era insuportável, o prédio era uma verdadeira estufa, as pessoas não conseguiam ficar meia hora no museu': diz Coelho Netto. O problema não ficava nisso. O forte calor ameaçava a própria integridade das obras.
Um acervo muito valioso agora protegido MAC ganha mais segurança e conforto para os visitantes
com luminárias comuns, as mesmas usadas em fábricas e escritórios, francamente desaconselháveis para um ambiente de exposições.
Umidade - Felizmente, as mudanças começaram. Em boa parte, com o uso de uma verba de R$ 2,6 milhões do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. Mais da metade dessa verba foi aplicada na instalação de um sistema de ar-condicionado que não se limita a tornar mais confortável a
vida de visitantes e funcionários. Tecnologicamente bastante avançado, ele controla eletronicamente não só a temperatura, mas também a umidade relativa do ar, algo importantíssimo para a preservação das obras.
Não foi um trabalho fácil pôr esse ar-condicionado em funcionamento. A infra-estrutura para a instalação dos equipamentos já existia. Mas as tubulações eram imensas e, em certos casos, chegavam a cobrir metade de uma parede. A solução foi
instalar paredes falsas de placas de gesso, correndo ao longo das paredes de alvenaria. Com isso, ficaram cobertas as imensas bocas de ar. Ganhou o museu. O equipamento ficou totalmente embutido e as novas paredes estão livres para a colocação de quadros, sem poluição visual.
A lista continua. O sistema de proteção contra incêndios era pouco mais do que alguns extintores espalhados pelo edifício, nada adequado para um museu desse porte. O mínimo que se podia dizer para a distribuição de espaços era que se tratava de algo muito ruim. A iluminação, precária, era feita
Fachada do MAC: maior coleção de arte moderna do Brasil
Para melhorar a segurança, a área de exposições foi recuada e agora fica isolada do saguão de entrada, protegida por portas mais resistentes. O MAC ganhou, também, um sistema de combate a incêndios muito eficiente, semelhante ao instalado no Museu do Louvre, em Paris. Se um sensor detecta um foco de incêndio, o sistema lança automaticamente na área afetada um gás inerte pressurizado, o FM-200, que apaga as chamas sem causar danos a pessoas ou às obras. A liberação do gás só se limita à área identificada pelos microprocessa-
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A Negra, de Tarsila do Amarai: pintado em 1923, é considerado por muitos críticos o quadro mais representativo do Modernismo brasileiro
dores do sistema como a do foco de fogo. Não chega a outros lugares.
Movimentos - Exagero? Provavelmente, não, se for considerado ovalor do acervo do MAC. "O museu tem a maior e mais importante coleção de arte moderna e contemporânea do Brasil", declara o diretor Coelho Netto. Entre óleos, gravuras e esculturas, o MAC tem cerca de 8 mil obras, mais, por exemplo, do que o Museu de Arte Moderna de São Paulo (Masp). O acervo fixo representa praticamente todos os principais movimentos artísticos do século 20, tanto os aparecidos no exterior como no Brasil.
Entre os artistas estrangeiros com obras no MAC estão, por exemplo, Picasso, Modigliani, De Chirico, Léger, Matisse, Kandinsky, Max Ernst, Morandi, Appel, Albers, Vasarely, Fontana, Calder, Rauschenberg e Wasselman. Entre os brasileiros, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Portinari, Goeldi, Flávio de Carvalho, Waldemar Cordeiro, Lygia Clark, Hélio Oi-
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Bandeirinha,
Auto-retrato de Modigliani: obra do museu mais requisitada para exposições no exterior
de Alfredo Volpi : tela de 1958
ticica, Volpi, Mario Zanini, Bonadei, Gomide, Antônio Henrique Amaral, Nelson Leirner, Tomie Ohtake, Manabu Mabe, Aguilar, Paulo Pasta, Evandro Jardim e Regina Silveira.
Quando aparece uma oportunidade de um acesso mais fácil, mesmo em condições menos ideais, · esse acervo é bastante apreciado pelo público. Uma exposição realizada pelo MAC na Galeria da Fiesp, em São Paulo, entre abril e agosto de 1999, atraiu nada menos de 90 mil pessoas, recorde para exposições de um acervo nacional. Outra medida do valor do acervo do MAC é a freqüência com a qual suas obras são solicitadas para exposições em grandes museus internacionais. Já foram formalizados empréstimos, por exemplo, para instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova York (Morna), o Museu Nacional da Alemanha, de Berlim, e a Fundação Antoni Tapies, de Barcelona.
Modigliani - Uma das obras mais requisitadas pelos museus estrangeiros
é um dos destaques do museu, o único auto-retrato pintado pelo pintor e escultor italiano Amedeo Modigliani. "Trata-se de uma obra fundamental para qualquer exposição desse artista': diz Coelho Netto. Outra obra muito requisitada é A Negra, de Tarsila do Amaral, considerado o quadro mais representativo do Modernismo brasileiro. Mas o acervo tem outras preciosidades, como algumas dezenas de obras deDiCavalcanti, 21 telas de Volpi e mais de 100 gravuras de Renina Katz. Na última Bienal de São Paulo, em 1998, havia nada menos do que 40 obras do MAC nas paredes de exposição.
Mas algumas das preciosidades existentes no museu ainda estão sendo descobertas. O MAC tem um arquivo permanente. Parte do seu conteúdo ficou guardada em pacotes, ignorada, quando o acervo foi transferido do prédio antigo, no Parque do Ibirapuera, para o edifício novo, no campus da USP. Para organizar e tornar esse material acessível, composto principalmente por cartazes e
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Figuras, de Pablo Picasso: obra de 1945, valorizada pelo novo sistema de iluminação
objetos doados por artistas, era preciso especialmente verba - e, mais uma vez, ela foi conseguida com a ajuda do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP.
"O que tínhamos antes, guardado na USP ou no Ibirapuera, era um arquivo morto, empilhado em condições inadequadas, dentro de caixas ou pacotes, como veio quando foi doado pelos artistas': diz a especialistá em documentação Silvana Karpinski, uma das responsáveis pelo trabalho, em conjunto com a diretora da Biblioteca do MAC, Dina Elizabeth Uliana. "Agora, temos um arquivo vivo, em condições de receber pesquisadores, com fácil acesso ao que quiserem consultar", prossegue Silvana.
Armários especiais - O trabalho de abertura do arquivo revelou muitas surpresas, como, por exemplo, os documentos pessoais do artista Ernesto de Fiori, espalhados entre o material. Todos os documentos foram tratados e a maioria está guar-
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O Implacável, bronze de Maria Martins: esculturas também ganharam espaço
dada em arquivos deslizantes de aço. Alguns cartazes e outros documentos de manuseio difícil foram para armários especiais. O acervo foi digitalizado e gravado em CD-ROM. "Não há mais o risco de parte se perder ou se deteriorar': afirma Silvana.
A reforma feita no prédio do campus da USP também melhorou o arranjo das áreas de exposição. Antes, o museu funcionava num único salão. Agora, está dividido em oito seções. Com isso, ganhou -se fie-
Nu, de Ismael Nery: destaque para obras contemporâneas brasileiras
xibilidade na hora de distribuir as obras a serem expostas. A iluminação também mudou. Todas as antigas luminárias foram substituídas. As novas foram especialmente projetadas para o museu. É possível, com elas, direcionar e controlar a quantidade de luz em cada uma das seções do MAC.
A readequação de espaços permitiu a duplicação da reserva técnica, os locais onde ficam as obras que não estão em exposição naquele momento. Com isso, foi possível trazer parte do material que continuava no prédio do Ibirapuera - cerca de metade do acervo-, onde as condições de segurança continuam a ser ruins. "Ainda faltou espaço para acomodar todo o acervo no prédio da USP, mas agora o museu está muito mais tranqüilo com relação à segurança': declara Coelho Netto. As principais obras estão todas no MAC.
Grande Galeria - Das oito galerias em que está agora dividido o prédio novo, quatro ficam na Ala Oeste do
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edifício e duas, gêmeas, no centro. O grupo se completa com uma Alta Galeria, para peças de parede de maior porte, e uma Grande Galeria, preparada como um espaço especialmente adequado para a apresentação de obras contemporâneas.
As mudanças parecem estar agradando. O museu que reabriu as portas em dezembro do ano passado, depois de sete meses de reforma, decididamente não é o mesmo. A média de visitantes, que era de 30 pessoas por dia antes da reforma, passou para 80. No primeiro dia de reinauguração, recebeu 2 mil pessoas, número nunca antes atingido na sua história.
A entrada envidraçada permanece, chamando a atenção entre os outros prédios da rua da Reitoria, no campus da USP. O concreto aparente tratado e a instalação de painéis de vidro fumê e de uma marquise de proteção da entrada principal deram uma nova aparência à fachada. O saguão de entrada ganhou uma pequena loja para a venda de lem-
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Obras de Henri Matisse, Fernand Léger, Cândido Portinari, Nelson Leirner, Hélio Oiticica e
Emil iano Di Cavalcanti: museu mais avançado do Brasil
branças, a exemplo de outros grandes museus do mundo. Em breve, estarão funcionando também locais para a venda de café e lanches. Os domos de fibra de vidro da cobertura foram substituídos por lajes de concreto, aumentando a segurança e a resistência à água da chuva.
Obra Nova - Coelho Netto conta que as reformas tiveram grande repercussão também no meio artístico. Dos cem artistas convidados para a inauguração da Obra Nova, a mostra que marcou a reabertura do museu depois da reforma, 97 confirmaram imediatamente a presença e os outros justificaram a ausência, com problemas pessoais ou viagens ao exterior. "Os artistas também têm comparecido mais ao museu", afirma o diretor. "Muitos chegaram a ficar impressionados com o aspecto moderno e agradável do prédio", acrescenta.
Houve casos em que esse reconhecimento teve caráter mais prático. Vários artistas ficaram tão mo ti-
vados com a renovação do MAC que decidiram contribuir para o acervo do museu. Em poucas semanas, foram feitas mais de 20 doações, inclusive por parte de artistas tão conhecidos como Cláudio Tozzi, Ubirajara Ribeiro, Maria Bonomi, Archangelo Ianelli e Renina Katz.
Obras em papel - Depois da iniciativa da FAPESP, outras doações importantes começaram a chegar ao museu. Por exemplo, a Vitae, uma associação que apóia projetas nas áreas da cultura e da educação, encaminhou R$ 98 mil para o organismo da USP. A verba foi usada para pagar parte das despesas de instalação de uma sala especial para a preservação de obras em papel. A empresa de marketing Thompson está preparando gratuitamente um projeto de divulgação do museu. E uma empresa de transportes, a Alves Tegan, leva gratuitamente as obras do MAC para exposições em outros locais.
A sala das obras em papel, o Gabinete de Papel, levou especialmente em
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Interior do MAC: museu mantém laboratórios e estrutura de apoio a pesquisadores
conta as necessidades dos pesquisadores, além do interesse do público. As obras não ficam propriamente expostas, mas guardadas em gavetas especiais. Assim, cabem no local 400 obras, quando, numa exposição comum, não seria possível guardar a décima parte desse total. O museu coloca o Gabinete de Papel num conceito que chama de atendimento variado, atendendo simultaneamente pesquisadores, artistas, educadores e o público em geral.
Além de suas obras e de uma estrutura de apoio a pesquisadores, o MAC mantém, também, um conjunto de laboratórios de conservação e restauro. Também nessa área a
Estrutura de apoio - "Tecnologicamente, o MAC é hoje o museu mais avançado doBrasil': afirma Coelho Netto, "e, em termos de agradabilidade e de adequação de espaço, está entre os melhores da América do Sul". O diretor lembra que essas qualidades são fundamentais para um organismo criado não só para apresentar belas exposições, mas também para dar apoio à pesquisa.
O diretor Coelho Netto: estrutura pode ser comparada à dos maiores museus estrangeiros
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FAPESP esteve presente, com investimentos em projetas de caráter científico.
Também é importante lembrar que o MAC tem uma divisão de ensino e de ação cul-tural, que atua junto com as escolas públicas de São Paulo. São freqüentes, por exemplo, as visitas monitoradas de alunos de escolas primárias às suas instalações. O MAC organi-za, no momento, um manual para os professores, destinado a ajudá-los a preparar seus alunos para visitas desse tipo. Há também programas orientados para crianças com deficiências físicas e mentais, contando inclusive com materiais e
atividades dirigidos para esse público especial.
Doação - Coelho Netto afirma que a participação da FAPESP vem sendo decisiva para a vida do museu. Ele declara que o primeiro grande momento do MAC ocorreu em 1963, quando o casal Francisco Matarazzo Sobrinho e Yolanda Penteado doou as obras de arte de suas coleções particulares e as que constituíam o então Museu de Arte Moderna (MAM) à USP. A universidade, em troca, se comprometeu a criar o MAC e a construir um prédio para abrigar esse acervo. Esse prédio é o atual, na rua da Reitoria, inaugurado em outubro de 1992.
O segundo grande momento da instituição, na opinião do diretor, foi quando o MAC, com o apoio da FAPESP, pôde montar uma infra-estrutura comparável à dos grandes museus internacionais. "Sem dúvida, trata-se do segundo acontecimento mais marcante da vida do museu", declarou.
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O segundo maior acervo de documentos históricos do Brasil, superado apenas pelo Arquivo Nacional, fica em São
Paulo. É o Arquivo do Estado (AE), que existe desde 1721, quando o secretário do Governo da então capitania de São Paulo, Gervásio Leite Rabelo, começou a organizar os documentos oficiais. Os recursos nunca foram muitos. Ao longo de 280 anos, o arqmvo passou por seis sedes diferentes. Mesmo assim, seus documentos sempre serviram de base para importantes pesquisas sobre São Paulo.
Um mergulho em 280 anos de história paulista
Arquivo do Estado guarda documentos desde 1721
o material que começou a ser organizado por Leite Rabelo. Ganhou então o nome de Repartição de Estatística e do Arquivo do Estado da Secretaria do Interior. Foi o bastante para que começasse a chegar, e a ser empilhado, material de todos os tipos.
trabalharam de modo improvisado e enfrentando as novas situações conforme iam aparecendo. Com isso, foram criados até alguns mistérios, como o caso das latas. Até o começo da década de 1950, os documentos eram arquivados na forma de maços de papel. Foi então que al-
~------, z guém teve a idéia de ~ guardar os documentos
em latas fechadas, =: ~ achando que eles assim
ficariam mais bem protegidos.
A situação começou a melhorar em 1997, quando o Arquivo do Estado recebeu uma nova sede, na rua Voluntários da Pátria, em Santana, na zona Norte da capital. Pela primei-
Documentos: acervo aumentado por doações de diversos tipos
O mistério está num pó que foi colocado nas latas, junto com os papéis. A princípio, pensava-se que se tratava de um veneno para combater traças, brocas e fungos. Mas, antes de começar a trabalhar com esse material, o arquivo pediu ao Instituto Adolfo Lutz que analisasse o pó, para ter certeza de que não faria
ra vez na história, o arquivo deixou de ocupar instalações improvisadas e passou para um prédio apropriado, planejado para suas necessidades. No ano seguinte, ele começou a receber verbas do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. Um investimento de R$ 565 mil está ajudando o AE a recuperar e tornar acessível seu acervo com mais tecnologia e menos precariedade.
O trabalho está apenas começando, mas dá sinais de imensa riqueza. Oficialmente, o arquivo foi formado em 1891, no prédio da Secretaria do Governo, tendo como núcleo inicial
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Império - Encontram-se no arquivo, por exemplo, papéis das secretarias do governo estadual, do Poder Judiciário, de cartórios e de governos municipais. Não faltam, também, documentos de origem particular. Ao longo do tempo, o arquivo foi recebendo doações, inclusive de material referente ao período colonial e ao Império. Isso pode ser uma mina de ouro para os pesquisadores, que consideram o arquivo uma referência na historiografia de São Paulo e do Brasil. Mas é um pesadelo para os arquivistas.
Durante praticamente toda a história do arquivo, seus funcionários
mal aos funcionários. O resultado foi que o pó era completamente inócuo, nada tendo de veneno. "Depois de tanto tempo, não conseguimos mais saber o que era o tal pó", conta o coordenador-geral das Áreas Técnicas do Arquivo, Laura Ávila Pereira.
Manutenção - Um dos pontos principais da reforma é a informatização. Do total investido pela FAPESP, cerca de um terço, aproximadamente R$ 200 mil, destina-se a essa área. Só com a criação de um sistema confiável e a digitalização dos documentos será possível servir bem os pes-
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quisadores e o restante do público. Já houve uma iniciativa, em 1994, que se mostrou desastrosa, de acordo com Pereira. Uma empresa contratada montou uma rede interna, com 16 pontos. Mas os programas escolhidos não eram adequados e a manutenção dos equipamentos não se mostrou à altura das necessidades.
termediários, ou seja, que podem ser descartados depois de certo tempo.
Imagens - Como parte do programa de informatização, informa Pereira, o arquivo está criando no momento três segmentos de fundos fechados, ou seja, a digitalização de documentos dentro de estruturas que não vão
Material que nunca será descartado cobre quatro quilômetros
Com a verba da FAPESP, foi criado um sistema de digitalização. O arquivo ganhou também mais computadores, inclusive para consultas do público, e um servidor de rede. Os pontos da rede aumentaram de 12 para 62. O objetivo agora é microfilmar e digitalizar todo o acervo. Não é pouca coisa. Somente no prédio de Santana, são 4 mil metros lineares de documentação permanente, ou seja, que nunca será descartada.
A eles se somam outros materiais, como os vindos do Departamento de Ordem Política e Social (Deops), classificados como documentos in-
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crescer. O primeiro é constituído por imagens vindas do antigo jornal última Hora. São cerca de 2 mil imagens, de entre 1951 e 1971, com destaque para caricaturas dos cartunistas Nássara, Jaguar e Lan.
Esse material vem do acervo do fundador do jornal, Samuel Wainer, comprado de sua filha, Pinky Wainer, pela Secretaria da Cultura do Estado, em 1989, e entregue à guarda do Arquivo do Estado. São 170 mil cópias de fotografias, 800 mil negativos e 2 mil caricaturas, além de 246 volumes encadernados, com as edições paulista e carioca do jornal. Esse ma-
terial também está sendo publicado em papel, com quatro volumes já prontos da série Arquivo em Imagens - série última Hora.
O segundo segmento é constituído por cartas, mapas e plantas, com destaque para cerca de mil fotografias que documentam, passo a passo, a construção do prédio do Museu do
Ipiranga. O terceiro reúne material de revistas ilustradas do começo do século 20, como A Cigarra, Revista Feminina e A Lua, com cerca de 40 mil imagens.
Liquidificador - Os investimentos da FAPESP, no entanto, não se limitam à área da informática. Uma boa parte foi aplicada na reforma do laboratório de conservação do arquivo. "Sinto como se estivesse saindo de um barraco para um belo apartamento", afirma a conservadora do arquivo, Maria Amélia Arraes de Alencar Pinheiro de Castro. Para
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Documentos antigos: de acordo com os conservadores, qualidade do papel sofreu uma grande piora a partir de 1928
tratar os documentos do AE, muitos dos quais tão deteriorados que se esfarelam a um simples toque, Maria Amélia tinha apenas luvas, máscara, mesa, estilete e cola. A cola de metilcelulose, usada na restauração de documentos, era preparada num liquidificador comum, de cozinha.
Agora, o arquivo conta com equipamentos como a Máquina Obturadora de Papel, usada para restaurar as fibras do papel. O papel é feito de fibras, que se rompem quando ele é atacado por uma broca ou outro tipo de inseto, por exemplo. A Máquina Obturadora recompõe as fibras e tampa com celulose os buracos feitos pelos insetos.
Outro exemplo é a cabine de segurança biológica, usada para evitar que o restaurador
Preparando a restauração: laboratório respeitado
tenha contato com produtos tóxicos, os usados para remover resíduos de cola e fita adesiva ou os venenos colocados antigamente nos papéis para combater insetos ou microrganismos. Uma novidade é a cabine de sucção, usada na limpeza dos documentos. ''Antes da chegada dessa cabine, trabalhávamos com capelas improvisadas em papelão, que nós mesmos fazíamos", conta Maria Amélia.
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Celulose - A conservadora comenta que a qualidade do papel usada hoje é muito inferior à dos documentos mais antigos. No século 19 e começo do século 20, usava-se principalmente papel feito de trapos, com destaque para o linho. "De 1928 em diante, começou-se a usar polpa de madeira e a qualidade piorou': ela comenta. De qualquer maneira, os conservadores pensam no futuro. A cola de metilcelulose, por exemplo,
preparada no próprio laboratório, é feita de forma a poder ser retirada com facilidade em restaurações futuras.
O laboratório do AE é tão respeitado que costuma ser procurado por organismos públicos ou particulares em busca de conselhos sobre como preservar documentos antigos. O Esporte Clube Pinheiros, por exemplo, foi recentemente ao laboratório, para saber como conservar sua coleção de fotografias, algumas com mais de cem anos. "Conservar significa prevenir a deterioração e prolongar a vida do documento", ensina Maria Amélia. "É necessário intervir o mínimo possível no documento e as intervenções inevitáveis devem ser aparen-tes. Já a restauração usa técnicas que reparam o material
danificado': completa.
Inventário - Ao todo, o Arquivo do Estado guarda mais de SOO toneladas de documentos. Eles incluem 50 mil livros, 12 mil exemplares de jornais, 1 milhão de imagens e centenas de milhares de outros papéis, oficiais e particulares. O mais antigo documento existente no arquivo é o inventário do sapateiro Damião Simões, de 1578. Ele faz parte de um
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Material pronto: de inventários e testamentos do tempo colonial a registras da vida cultural de São Paulo
fundo, ou setor, chamado Inventários e Testamentos, que vai de 1578 a 1801 e é muito importante para o estudo de São Paulo no período colonial.
Sobre o período do Império, guardou-se toda a correspondência emitida e recebida pelos governadores da província, além de registras de atos do governo. Uma leitura interessante é a da correspondência entre o chefe de polícia e o governador e o registro dos atos policiais, tratando, por exemplo, de escravos fugidos. O material não se limi-
Mapa: documento mais antigo é de sapateiro morto em 1578
Graças a uma parceria com a Imprensa Oficial do Estado, o trabalho do AE não se limita à guarda de documentos. Ele já editou vários estudos sobre a história do Estado e guias sobre seu acervo. Uma série semelhante à feita com o arquivo da última Hora está sendo preparada com o material dos Diários Associados, também incorporado ao AE. Ele edita também uma revista, chamada Histórica, com artigos de pesquisadores, e tem uma série, Como Fa-
ta, porém, a atos oficiais. Pessoas importantes na política deixaram seus documentos pessoais para o AE. Entre eles estão Washington Luís, Júlio Prestes e Armando Salles Oliveira.
Dossiês - Nos últimos tempos, porém, o que mais vem atraindo a atenção de visitantes e pesquisadores é o fundo do Deops. Ele cobre o período de 1924 a 1983, mas a época que tem o maior número de consultas é a referente à última fase do período militar. Ao todo, explica o coordenador Pereira, o fundo Deops tem 1,1 milhão de fichas nominais e 9 mil pastas com dossiês. Os dossiês são temáticos e às vezes um documento de
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apenas uma página remete para mais de 150 fichas. Por exemplo, o documento sobre o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna leva a fichas da maioria dos estudantes presos no local.
As buscas nesse fundo não são realizadas apenas por interesse histórico. "Parentes de pessoas mortas durante a repressão política ou atingidas de outra forma pelo regime, ou que precisam de documentos para a aposentadoria, fazem pesquisas no nosso Arquivo': comenta o coordenador. Uma certidão emitida pelo Arquivo do Estado é reconhecida como prova em casos de pedidos de indenização ou de justificativa de inatividade forçada.
zer, que trata de trabalhos de conservação preventiva em arquivos e bibliotecas.
Outra atividade do AE é a preparação de kits com material didático para professores de história e visitas monitoradas de estudantes de primeiro e segundo graus para conhecer o acervo. Recentemente, foi feito um acordo com o campus da Unesp de Assis para que estudantes da universidade façam estágios nas instalações de São Paulo. O Arquivo do Estado não se limita a cumprir com competência a tarefa de guardar grande parte da memória de São Paulo. Permite, também, que o conhecimento chegue com maior facilidade aos interessados.
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Espaço para a política em arquivo
Na Unicamp e na Unesp, a história das esquerdas
Ãa de formar um arquivo bre assuntos políticos braileiros surgiu no início da década de 1970. Um grupo de professores do Ins
tituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) decidiu criar um centro de documentação adequado para as pesquisas
Araújo, do Departamento de Ciência Política do IFCH. Ângela Maria era diretora do arquivo em 1998, quando começaram a chegar os investimentos do Programa de InfraEstrutura da FAPESP. O financiamento recebido pelo AEL, de R$ 619 mil, foi um dos maiores do progra-
que começavam a ser feitas nos programas de pós-gradu MAICIIÂ~ ação. O ponto de partida foi a aquisição do material acumulado ao longo da vida pelo
FRENTE POPULAR
líder anarquista Edgar Leuenroth (1881-1968).A Unicamp comprou a coleção de jornais, revistas, panfletos, cartas e outros documentos. O arquivo, que recebeu o nome de Leuenroth, surgiu em 197 4.
Foi o ponto de partida de um dos maiores conjuntos de documentos existentes sobre os movimentos operários e a esquerda em geral no Brasil. O material de Leuenroth logo ganhou a companhia de outros documentos, adquiridos
Jornais esquerdistas: material brasileiro ganhou ...
por permuta, doações ou compras. Do exterior, veio material do Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis, de Amsterdã, do Archivio Storico del Movimento Operaio Brasiliano, de Milão, do Ministerio degli Affari Ersteri, de Roma, e do National Archives, de Washington. No Brasil, deu-se atenção especial à repressão política no regime militar.
"O AEL cresceu muito e o espaço original ficou de tal maneira reduzido que era difícil trabalhar", conta a professora Ângela Maria Carneiro
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ma. Com ele, o material recebeu acomodação adequada, o prédio do arquivo foi recuperado e equipamentos necessários para a manutenção do acervo foram instalados.
Mesas corretas - O trabalho começou com a informatização do acervo e a recuperação da rede de computadores. "Fomos equipando o local com o que era necessário", lembra a professora. Por exemplo, a mesa de higienização, onde os documentos
são limpos, com a eliminação de pó e insetos, era improvisada. "Com o dinheiro do Infra, compramos as mesas corretas, atualizamos a rede de informática, trocamos as estantes fixas por deslizantes, climatizamos o prédio inteiro e estabelecemos um sistema de segurança': lembra Ângela Maria.
... companhia de documentos vindos da Holanda, Itália e Estados Unidos
Uma parte importante da reforma do arquivo foi o cuidado extremo do pessoal da Unicamp com o dinheiro recebido. A conservadora e restauradora Maria Aparecida Remédio, por exemplo, foi uma das encarregadas de esticar ao máximo a verba. Ela mesma mediu os espaços, desenhou estantes e prateleiras e negociou com fornecedores.
Maria Aparecida chegou a acompanhar a fabricação de peças feitas por encomenda. Isso teve enorme
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utilidade. No meio do caminho, descobriu que algumas prateleiras iriam vergar sob o peso de livros e documentos. "Como conhecia bem as normas técnicas, convenci o fabricante a refazer tudo, dentro das especificações, para que o dinheiro não fosse perdido': recorda.
Nitrogênio - Maria Aparecida também criou um sistema de desinfestação de insetos, para o qual pediu patente, para evitar que a Unicamp venha a pagar royalties por um trabalho desenvolvido lá mesmo. O processo consiste, basicamente, em colocar documentos em sacos plásticos, nos quais ficam em gás carbôni-
Material recuperado: Unicamp desenvolveu método simples e barato ...
co por cinco dias e em nitrogênio por dez dias. "Isso é suficiente para matar piolhos de livros, brocas e cupins': afirma. O processo, além de simples, é barato e não deixa resíduos que possam prejudicar funcionários ou usuários.
O processo é aplicado também nos chamados "documentos bastardos': aqueles deixados em caixas, na porta do prédio do arquivo, por pessoas que não querem se identificar. Eles se juntam a preciosidades
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como partes dos arquivos do líder comunista Luiz Carlos Prestes e do jornal Voz da Unidade, do PCB; as pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública (Ibope), entre 1942 e 1987; e a coleção Brasil Nunca Mais, com mais de 700 processos de presos políticos.
Memória da Unesp - Não se trata, porém, do único arquivo dedicado a temas políticos que teve o apoio decisivo da FAPESP. Quando foi criado, em 1987, o Centro de Documentação e Memória (Cedem) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) tinha como objetivo preservar a memória da universidade.
ANISTIA
atual PPS. Ao mesmo tempo, o Cedem recebeu o Archivio del Movimento Operaio Brasiliano, que estava sob custódia da Fundação Feltrinelli, em Milão, na Itália.
A eles se juntaram os arquivos do Centro de Documentação Mário Pedrosa (Cemap), sob custódia da Universidade de São Paulo (USP), e o Centro de Documentação da Cidade de São Paulo (Cedesp), com documentos relativos ao período em que Luiza Erundina foi prefeita, de 1989 a 1992. O Cedem via-se, assim, diante de dois desafios: organizar toda essa documentação e cumprir a tarefa original, de registrar a história da Unesp.
PaPtldu Comunista do Bmll
Site na Internet - O investimento feito pela FAPESP no Cedem foi de R$ 413,6 mil. "Solicitamos recursos para organizar documentos e para comprar móveis, arquivos deslizantes, leitora de microfilmes e copiadoras", lembra a
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• P.C. L
coordenadora Anna Maria Martinez Correia. Antes, a documentação não era aberta ao público. Hoje, qualquer pessoa pode obter informações a distância, no site cedem. unesp.br .
- -- O arquivo tem informações extremamente valiosas sobre as origens do Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo. Há outros docu-... para eliminar insetos que
atacam documentos das bibliotecas
Hoje, ele se transformou num dos mais importantes centros de documentação sobre a história das esquerdas no Brasil.
O momento decisivo veio em 1994, quando o Instituto Astrogildo Pereira transferiu para o Cedem, em regime de custódia, parte do arquivo do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O material continha a maior parte da documentação relativa às décadas de 1980 e 1990, mostrando, assim, a transição do PCB para o
mentos de valor, como a ata, redigida em russo, da reunião da Internacional Co-
munista que aprovou o levante de 1935 no Brasil.
Agora, os pesquisadores do Cedem se dedicam a organizar um acervo referente ao Movimento dos Sem-Terra (MST), com mais de 50 mil fotografias e outros documentos, e a reunir a memória dos 31 institutos e centros de estudo, espalhados por 15 cidades do Estado, que compõem a universidade. Para isso, além do material escrito, já foram gravadas 165 entrevistas.
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D urante muito tempo, ele ficou praticamente esquecido. Mas poucos arquivos têm material tão interessante como
o Wanda Svevo, da Fundação Bienal de São Paulo. Onde encontrar, por exemplo, um registro das complicadas negociações que permitiram a vinda, para o Brasil, do quadro Guernica, de Pablo Picasso, em 1953? Com uma verba de R$ 130 mil do Programa de InfraEstrutura da FAPESP, o arquivo da Bienal está organizando seu acervo e preparando o lançamento de novas iniciativas.
Obras das bienais terão acesso eletrônico
O arquivo reúne 50 anos da mostra paulista de arte
dia do Museu de Arte Moderna de Nova York (Morna). Picasso não permitia sua entrega à Espanha enquanto o país fosse governado pela ditadura do general Francisco Franco. Só depois da morte de Franco, em 1975, o quadro pôde ir para Madri.
"Já começamos um projeto para criar um site na Internet com o acervo do arquivo", informa o presidente da Fundação Bienal, Carlos Bratke. Sílvia, por sua vez, considera as obras já feitas apenas a primeira parte de um processo de reestruturação. "Vamos dar continuidade", promete.
"Todo o acervo já está acondicionado em caixas de arquivos apropriados e desacidificados, armazenados em armários deslizantes, que ganham muito espaço", diz a coordenadora da instituição, Sílvia Castelo Branco. Os recursos da FAPESP permitiram ainda a contratação como estagiários de estudantes de
O acervo foi reestruturado, ganhou armários deslizantes e criou-se um banco de dados
História, que estão organizando os documentos, e a aquisição de equipamentos de informática, a partir do qual foi criado um banco de dados.
O arquivo foi criado em 1955, como Arquivo de Arte Contemporânea do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Recebeu, então, documentos relativos às bienais que eram realizadas em São Paulo desde 1951, livros de arte e dossiês de artistas.
As negociações sobre a vinda do Guernica foram difíceis pelo fato de o quadro, na época, estar sob custó-
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A bienal foi realizada no Museu de Arte Moderna até 1993. Nesse ano, o conde Francisco Matarazzo Sobrinho extinguiu o MAM, doou seus quadros para o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo (USP) e criou a Fundação Bienal. Os documentos passaram para o acervo da fundação. O nome de Wanda Svevo vem de uma secretária-geral da fundação que morreu em 1962, num desastre de avião, quando ia ao Peru, para tratar de uma exposição de arte pré-colombiana.
A professora Ana Maria de Almeida Camargo, do Departamento de História da USP, responsável pelo projeto de reforma do arquivo, acha que um ponto fundamental é chamar a atenção do público e dos pesquisadores para o potencial informativo do acervo da instituição. "Seria interessante ter um guia ou catálogo que desse visibilidade a esses documentos", sugere.
O acervo do arquivo, de qualquer maneira, será a base de uma exposição que vai comemorar, este
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ano, os 50 anos da Bienal. Bratke informa que será editado um livro, a partir desse acervo, para contar a história das bienais e mostrar a personalidade do conde Matarazzo, responsável por várias outras iniciativas culturais em São Paulo, como a criação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).
revelações sobre as complicadas negociações que permitiram a vinda para
o Brasil do quadro Guernica, de Picasso
Há muitas outras preciosidades espalhadas pelos arquivos do Estado de São Paulo. A FAPESP está contribuindo para aproximá-las de pesquisadores e outros interessados. Na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp ), por exemplo, um dos problemas era alterar a forma de arquivar desenhos, guardados em enormes mapotecas de aço, que demandam muito espaço e não conservam adequadamente os originais. Além disso, conta o responsável pelo arquivo, o professor Milton Tomoyuki Tsutiya, da USP, o simples manuseio já representava um risco para o material.
A solução encontrada foi informatizar o controle da documentação, com um software específico para as necessidades da própria Sabesp. Os recursos para a compra dos equipamentos necessários apenas numa primeira etapa, abrangendo 300 mil de um total de 1 mi-
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lhão de desenhos, foram fornecidos pela FAPESP.
Verificou-se, então, um problema. O investimento prometido, de R$ 300 mil, mostrou-se inadequado diante da mudança do câmbio, ocorrida justamente no processo de liberação. Uma suplementação acabou saindo -fato não muito raro, pois normal
mente uma mudança de patamar gera novas demandas. De qualquer maneira, era um trabalho importante. "Trata-se de preservar a memória técnica do saneamento ambiental do Estado de São Paulo, um patrimônio da nação brasileira", diz o professor Tsutiya.
Em Campinas, uma ação iniciada em 1983, por professores da Unicamp, transformou-se numa referência para os moradores de toda a região, o Centro de Memória da Unicamp (CMU). Um contato entre professores e dirigentes dos tribunais de Justiça de Campinas e Jundiaí, apoiado pela reitoria da universidade, chegou a um acordo pelo qual o acervo das instituições passou para a Unicamp. Vieram logo depois os arquivos do Corpo de Bombeiros local e várias doações de particulares. O centro transformou-se em realidade em 1985.
"O espaço físico foi conquistado gradualmente", conta o coordenador do centro, Paulo Miceli, lem-
brando que sua sede funciona onde era antes a da Faculdade de Educação da Unicamp e que, além dos três andares do local, tem instalações espalhadas por vários pontos da universidade. O apoio da FAPESP, obtido em 1998, foi fundamental para que esse espaço fosse mais bem aproveitado.
Só a instalação de estantes deslizantes significou uma economia de 70o/o de espaço. Aproximadamente 60o/o dos livros da biblioteca estão digitalizados e à disposição do público na Internet. Dos 50 mil artigos da coleção de jornais e outros periódicos, que começa em 1920, 20 mil estão na mesma situação. A maior parte do investimento de R$ 475 mil, porém, foi para os arquivos históricos. Com a instalação de um ele
vador de carga, todo o acervo passou para a parte inferior do prédio. A parte de catalogação ganhou assim 80 metros quadrados.
O acervo do centro tem materiais importantes, como os mapas, desenhos e diários das viagens do naturalista Langsdorff ao Brasil entre 1824 e 1829 e a correspondência pessoal do abolicionista Francisco
Glicério. Mas entre os mais procurados estão os registras de 1882 a 1922 da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo. "As pessoas querem documentos que permitam requerer a dupla cidadania", conta Miceli.
Enquanto isso, o centro vai desenvolvendo um trabalho especial com várias cidades, para resgatar sua memória. O trabalho, normalmente, dura dois anos e envolve principalmente professores, que divulgam suas descobertas em programas de rádio e artigos de jornal. Em Jarinu, o trabalho levou a uma exposição pública, a pedido dos próprios moradores. No dia da inauguração, estavam presentes nada menos do que 5 mil dos 12 mil habitantes da cidade.
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Dificilmente alguém poderá fazer uma pesquisa de peso sobre a
política brasileira no Im-
Registro de transformações históricas
Arquivo da Assembléia mostra como Estado evoluiu
pério e nas primeiras décadas da República sem consultar o Arquivo Histórico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. É uma das melhores fontes de documentos sobre o período que vai de 1824, pouco depois da Independência, até 9 de julho de 1947, quando a Assembléia retomou suas atividades, depois de um fechamento de dez anos, em conseqüência do Estado Novo. A Assembléia tam- São Paulo antigo: governadores nomeados pelas autoridades do Rio de Janeiro
bém tem um riquíssimo material sobre o período a partir de 1947. Mas ele fica no arquivo normal, não no Arquivo Histórico.
O material, só no Arquivo Histórico, soma 480 mil páginas de documentos, 90 mil negativos de fotografias, 25 mil livros e 1 O mil textos de emendas parlamentares, explica o diretor da Divisão do Acervo Histórico da Assembléia, Dainis Karepous. O investimento feito pela FAPESP no arquivo foi muito importante para preservar tudo isso. Ele ajudou, por exemplo, a digitalizar 150 mil páginas de documentos e fotografias e, ainda, a restaurar 5.020 livros.
Os documentos originais, agora, estão em arquivos deslizantes, o que facilita seu manuseio e economiza espaço. O apoio da Fundação permitiu, ainda, a instalação de uma rede de computadores, com um ser-
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vidor, quatro estações de trabalho, um scanner e três impressoras. Ou-' tra iniciativa tomada com a verba da FAPESP foi a organização de pequenas exposições, especialmente destinadas a visitas de grupos de alunos de escolas públicas.
Prado Júnior- Essas exposições se centralizam num tema, geralmente um período da história de São Paulo ou em um parlamentar específico. Não há problemas para que sejam incluídos, na mesma exposição, materiais do Arquivo Histórico e do arquivo normal. Nos próximos meses, será realizada, por exemplo, uma exposição sobre o escritor Caio Prado Júnior, deputado estadual em 1947 e 1948.
"Estamos agora pleiteando novos recursos, para concluir a digitalização dos documentos': diz Karepous.
Ele explica que a digitalização é muito importante por dois motivos: torna as consultas mais ágeis e, como não há mais contato físico com os documentos, prolonga sua duração. Numa etapa posterior, ele pretende colocar todo o material digitalizado na Internet, permitindo assim a realização de consultas a distância.
Se isso acontecer, será possível acessar documentos anteriores, inclusive, à constituição da Assembléia Legislativa, em 1835. O Arquivo Histórico tem documentos que remontam a 1824, quando foi organizado o Conselho Geral da província de São Paulo. Naquele período, os presidentes, ou governadores, da província eram nomeados pelo governo central. Os conselhos eram órgãos consultivos, compostos por 21 membros. Os conselheiros podiam elaborar leis, que
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eram encaminhadas ao presidente, mas não tinham poderes exatamente legislativos. Esses pertenciam aos membros de outro organismo, a Câmara Geral.
~ aumentado para 50. ~ Os senadores passa~ ram a ser 24, com ~ mandatos de nove ~ anos.
Todo esse movi-~ :J
~ mento se reflete nos o ~ documentos do Ar-~ quivo Histórico. "Até ~ 1935, o Executivo :J
g era proibido de S. apresentar projetos
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Paraná - As Assembléias Legislativas das províncias, com poderes legislativos, só seriam criadas na Regência, com o Ato Adicional de 1834. Na época, São Paulo era bem maior que hoje. Seu território abrangia todo o Estado do Paraná e partes de Santa Catarina. A separação do Paraná só viria em 1853.AAssembléia Legislativa de São
São Paulo em 1836: Paraná e partes de Santa Catarina
Assembléia", lembra Karepous. A atividade parlamentar reflete, também, as mudanças na eco-
Paulo foi instalada oficialmente no dia 2 de fevereiro de 1835. Funcionava num prédio vizinho ao do palácio do governador, no Pátio do Colégio, no centro de São Paulo.
Os deputados passavam mais tempo em suas casas e fazendas do que no plenário. Os trabalhos legislativos ocupavam apenas entre três e quatro meses por ano, geralmente no princípio do ano. O Arquivo Histórico mantém os registras da atividade parlamentar até 1889, quando ela foi interrompida, com o fim do Império. Os trabalhos recomeçariam em 1891, já na República.
de 1 milhão de habitantes, no início da década de 1890, para 5 milhões, em 1930, dos quais 1 milhão na capital.
Mudança ainda mais profunda, São Paulo transformou-se no Estado mais importante do país. A República eliminou as exigências de renda para quem quisesse ser eleitor. Mas continuaram outras restrições: analfabetos, mendigos e parte dos militares e dos padres não podia votar. No começo, a Assembléia tinha 40 deputados, com mandatos de três anos, e 20 senadores, com mandatos de seis anos. Isso logo mudou. Em 1906, o número de deputados foi
nomia. "Temos documentados, por exemplo, os contratos de imigração, realizados por iniciativa do senador Nicolau Vergueiro': afirma o diretor. Por outro lado, surgem constantemente projetas de emergência, preparados à última hora, para contornar crises em torno do preço do café no mercado internacional.
Modernidade- O voto não era obrigatório e não faltavam campanhas de incentivo ao alistamento, com cartazes, por exemplo, que misturavam as tradições paulistas, como o bandeirante, com toques de modernida-
Transformações -Em 1891, a Assembléia Constituinte determinou que o Legislativo de São Paulo seria bicameral, com Assembléia e Senado estadual. Cada Estado, na ocasião, pôde escolher como seria seu parlamento. Ao contrário da administração muito centralizada do Império, a nova República queria aumentar a autonomia dos Estados. A República Velha foi cenário de enormes transformações. Nesse período, a população do Estado saltou de pouco mais
Covas, Quércia, Montoro, Fernando Henrique: fotografias também estão preservadas
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de, como os arranha-céus que começavam a surgir na capital e outras cidades importantes. O interessado, de qualquer maneira, tinha muito o que apresentar: prova de ter mais de 21 anos, atestados mostrando que morava há mais de dois meses (mais tarde, quatro) no município e uma prova de que tinha meios de subsistência. Para demonstrar que sabia ler e escrever, escrevia seu nome e dados pessoais num livro especial.
~oo::::::--.::::::::""':::::--o::::oo::::"""~~='f7777="'7"~,..::;..;;.;:::;,...J i tentativas de mobilização po. pular. Os moradores de uma ::! ----_-_-_-_-"11., g localidade, quando queriam a ~ instalação de uma escola pú-
----• ~ blica na área, se organizavam § para preparar um abaixo-as~ sinado, que era então enviado ~ ~ à Assembléia com o pedido. g
Os dados do Arquivo Histórico permitem acompanhar características do processo eleitoral que hoje soam estranhas. Por exem
Charge: caça ao eleitor valoriza o pobre
~ Corporativismo - A Assemg bléia voltou a suspender seus
trabalhos em 1930, com a vitória da revolução liderada por Getúlio Vargas. O Legislativo só foi reaberto em 1935, para ser novamente fechado em 1937, com a chegada do Estado Novo. Karepous acha a
plo, o voto era s.ecreto, mas não obrigatoriamente secreto - quem quisesse (ou fosse pressionado a tal) podia votar a descoberto. Havia umas tão estreitas que os votos se empilhavam um sobre o outro, permitindo que, pela ordem de votação, fosse descoberto quem votava em quem. E, especialmente, havia a chama Época de eleições: críticas dos jornais também são preservadas
documentação sobre esses dois anos extremamente significativa. De um lado, alguns deputados já começam a apresentar projetas de iniciativa popular, rompendo o domínio quase absoluto das elites sobre o plenário. De outro, aparecem propostas claramente inspiradas no corporativismo e no regime fascista de Benito Mussolini na Itália.
Seja como for, o Arquivo Histórico, mesmo sem fazer concor-
da "degola". Por uma lei vinda do Império, mas que foi usada especialmente na Primeira República, os resultados das eleições deviam ser confirmados pela própria Assembléia. Não é necessário dizer que muitos eleitos indesejáveis para o partido dominante viam sua carreira interrompida antes até de assumir o cargo.
Mas o acervo do arquivo da Assembléia não se limita a dar informações sobre a política. O exame dos trabalhos legislativos dá importantes informações sobre a educação, a saúde e sobre as grandes questões sociais. Por exemplo, durante o Império, a Assembléia era a responsável pelo trato dos índios, que ainda dominavam grandes trechos do Estado. E há sinais das primeiras
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CEIHR.O DE ALISTAHEWTO ELE I TOlA L- R. DO THESOUl0.2.
Alistamento: toques de modernidade
rência ao arquivo normal, é um campo de estudos que ultrapassa o ano de 1947, quando foram reiniciadas as sessões depois do Estado Novo. Tem, por exemplo, uma coleção de negativos de fotografias sobre os trabalhos da Assembléia, no período de 1950 a 1992, e cópias de pronunciamentos feitos de 1948 a 1996. Isso cobre um período importante da história brasileira, inclusive a redemocratização depois do regime militar. A isso se somam 25 volumes, que guardam os trabalhos do Congresso Legislativo, e toda a biblioteca de José Carlos Macedo Soares, ministro das Relações Exteriores e da Justiça de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, recebida em 1965.
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