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UNIVERSIDADE DE COIMBRA CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS OBSERVATÓRIO DO RISCO O Risco de Tsunami em Portugal Percepções e práticas Relatório elaborado para o Grupo de Trabalho de Investigação, Monitorização e Alerta Precoce de Tsunamis (GT –IMAT), Comité Português para a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (CP-COI). José Manuel Mendes Susana Freiria Coimbra, Setembro de 2012

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 UNIVERSIDADE  DE  COIMBRA  CENTRO  DE  ESTUDOS  SOCIAIS  OBSERVATÓRIO  DO  RISCO  

     

 

     

     

 O  Risco  de  Tsunami  em  Portugal    

Percepções  e  práticas  

Relatório  elaborado  para  o  Grupo  de  Trabalho  de  Investigação,  Monitorização  e  Alerta  

Precoce  de  Tsunamis  (GT  –IMAT),  Comité  Português  para  a  Comissão  Oceanográfica  

Intergovernamental (CP-COI).

José  Manuel  Mendes  Susana  Freiria  

Coimbra,  Setembro  de  2012  

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1 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

 Sumário  Executivo  

O  presente   relatório   tem   como  objectivo   analisar   qual   a   percepção   e   as   práticas   da  

população  portuguesa  em  relação  ao  risco  de  tsunami.  Os  resultados  obtidos  baseiam-­‐

se   na   aplicação,   em   Novembro   de   2008,   de   um   inquérito   a   uma   amostra  

representativa   da   população   residente   em   Portugal   continental   maior   de   17   anos  

sobre  a  percepção  e  as  práticas  quanto  aos  riscos  naturais  e  tecnológicos.  

O   relatório   estrutura-­‐se   da   seguinte   forma:   num   primeiro   ponto   é   analisada   a  

exposição  de  Portugal  a  tsunamis;  num  segundo  ponto  apresentam-­‐se  os  pressupostos  

metodológicos   subjacentes   à   elaboração   do   inquérito;   num   terceiro   ponto   são  

apresentados   os   resultados   obtidos.   O   relatório   termina   com   algumas   conclusões  

gerais.    

Alguns  dos  resultados  obtidos  que  são  relevantes  para  a  definição  de  uma  política  de  

comunicação  e  de  regulação  do  risco  de  tsunami  em  Portugal  são:  

-­‐  O  risco  de  tsunami  é  o  último  a  figurar  numa  escala  comparativa,  composta  por  um  

total  de  28  riscos,  de  percepção  da  possibilidade  do  país  ou  do  local  de  residência  dos  

inquiridos  serem  afectados  por  riscos  naturais  e  tecnológicos.  

-­‐  O  papel  da  escala  de  incidência  dos  riscos  é  crucial  na  percepção  dos  mesmos,  sendo  

que  quanto  maior  é  proximidade  da  zona  habitual  de  residência  menor  é  a  intensidade  

percebida   dos   perigos,   induzida   pela   noção   de   segurança   e   controlo   dos  

acontecimentos  e  das  suas  circunstâncias  envolventes.  

-­‐  Os  valores  mais  altos  em  termos  de  percepção  do   risco  de   tsunami   registam-­‐se  no  

Algarve,   na   Cidade   de   Lisboa   e   na  Área  Metropolitana   de   Lisboa,   ou   seja,   nas   áreas  

com   o   nível   de   perigosidade   mais   elevado   de   Portugal   Continental.   No   entanto,   os  

valores  da  intensidade  da  percepção  do  risco  de  tsunami  são  baixos,  não  chegando  a  

atingir  o  valor  3,  o  qual  representa  o  valor  neutro  da  escala  de  Likert  aplicada.  

-­‐   Na   análise   dos   dados   considera-­‐se   preocupante   as   respostas   dos   inquiridos  

residentes   na   Península   de   Setúbal,   uma   das   áreas   com   um   dos   níveis   de  

susceptibilidade  mais  elevados  do  país,  onde  a  percepção  do  risco  de  tsunami  é  quase  

insignificante.   Esta   situação   exigirá   no   futuro   um  plano   de   comunicação   do   risco   de  

tsunami  especificamente  orientado  para  esta  região.  

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2 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

-­‐   55%   dos   respondentes   afirmaram   que   têm   por   hábito   deslocar-­‐se   em   férias   para  

zonas  costeiras  em  Portugal  (no  caso  dos  que  residem  em  zonas  costeiras  perguntou-­‐

se  da  sua  deslocação  para  outras  zonas  costeiras  do  país),  e  14%  responderam  que  se  

deslocam   para   zonas   costeiras   no   estrangeiro.   Estas   práticas   de   lazer   aumentam   a  

consciência  e  a   receptividade  a   informação  sobre   tsunamis.   Isto  até  porque  82%  dos  

inquiridos  responderam  que  desconhecem  se  as  zonas  costeiras  que  frequentam  nas  

férias  podem  ou  não  ser  afectadas  pela  ocorrência  de  um  tsunami.  

-­‐  Os  resultados   indicam  que  a  percepção  do  risco  de  tsunami  está  mais  presente  nos  

grupos   etários   mais   jovens,   o   que   pode   potenciar   o   sucesso   de   campanhas  

especificamente   orientadas   para   estes   grupos   etários,   tomando   os   mesmos   como  

possíveis  multiplicadores  da  informação  veiculada  sobre  o  tema.  

-­‐   As   campanhas   de   informação   e   de   sensibilização   deverão   adequar   as   mensagens  

veiculadas   à   baixa   formação   académica   daqueles   que   demonstram   menor  

preocupação  e  atenção  ao  risco  de  tsunami.  

-­‐   Embora   a   percepção   global   sobre   o   risco   de   tsunami   seja   baixa,   relacionada   com  

factores   inerentes  a  um  risco  com  um  período  de  retorno  muito  elevado,  a  nível  das  

práticas  e  da   informação  a  veicular  aos  cidadãos  há  uma  consciência   clara  por  parte  

dos   inquiridos  da   importância  da   informação  orientadora  nos   locais  de  frequência  da  

população   susceptíveis   de   serem   atingidos   por   tsunamis   (zonas   balneares),  

consubstanciada   na   informação   visual   (40%   dos   inquiridos   consideram   importante   a  

existência   de   sinalização   específica   sobre   tsunamis   nas   zonas   balneares   e   28%  

consideram  a  mesma  muito  importante)  e  sonora  (41%  e  39%  consideram  importante  

e  muito  importante,  respectivamente,  a  existência  nas  praias  de  alertas  sonoros  para  o  

caso  de  ocorrência  de  tsunamis).  

-­‐  55%  dos  inquiridos  afirmam  que  gostariam  de  ter  mais  informações  sobre  tsunamis,  

o   que   comprova   que   existe   um   público   potencial   para   a   elaboração   de   acções   de  

sensibilização  e  de  divulgação  de  informação  sobre  este  tipo  de  risco.  

 

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3 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Introdução  

Portugal   Continental   agrega   na   faixa   litoral   a  maioria   da   sua   população   e   concentra  

nela   a   maioria   da   sua   actividade   económica,   pelo   que   é   um   país   onde   o   risco   de  

tsunami   tem   que   ser   equacionado   (Baptista,   2010).   O   presente   trabalho   tem   como  

objectivo  analisar  qual  a  percepção  e  as  práticas  da  população  em  relação  ao  risco  de  

tsunami,   tendo   em   atenção   os   factores   de   amplificação   e   de   atenuação   social   da  

percepção.  O  conhecimento  da  percepção  e  das  práticas  da  população  em  relação  aos  

riscos  naturais  e  tecnológicos  constitui  um  importante  contributo  para  a  definição  de  

estratégias  de  comunicação  e  a  definição  de  políticas  públicas  de  regulação  dos  riscos.  

Além   disso,   permite   aferir   as   experiências   pessoais   de   um   modo   que   outras  

metodologias   não   permitem,   possibilitando   também   a   identificação   das   maiores  

preocupações   da   população.   Note-­‐se   que   a   percepção   do   risco,   uma   temática   que  

tanto  pode  ser  abordada  numa  perspectiva  científica  como  também  numa  perspectiva  

política  ou  cultural,  desempenha,  muitas  vezes,  um  papel  fundamental  na  definição  de  

prioridades  das  políticas  públicas  relacionadas  com  os  riscos  naturais  e  tecnológicos.  

Em   Novembro   de   2008   foi   aplicado   um   inquérito   a   uma   amostra   representativa   da  

população  residente  em  Portugal  continental  maior  de  17  anos  sobre  a  percepção  aos  

riscos   naturais   e   tecnológicos,   no   âmbito   do   Projecto  Risco,   Vulnerabilidade   Social   e  

Estratégias   de   Planeamento   –   Uma   Abordagem   Integrada   (FCOMP-­‐01-­‐0124-­‐FEDER-­‐

007558),  financiado  pela  Fundação  para  a  Ciência  e  Tecnologia  e  sediado  no  Centro  de  

Estudos   Sociais   da   Universidade   de   Coimbra.   Do   mesmo   constava   um   módulo   a  

responder  por   todos  os   inquiridos   com  questões   relacionadas   com  a  percepção  e  as  

práticas  relacionadas  com  o  risco  de  tsunami,  complementado  com  outro  módulo  com  

perguntas  específicas  para  os  residentes  em  freguesias  do  Litoral  português  em  zonas  

de  estuário.  

O  presente  relatório  incide  sobre  as  questões  relacionadas  com  o  risco  de  tsunami  em  

Portugal  e  a  respectiva  análise  estatística.  

Numa   primeira   fase,   será   analisada   a   exposição   de   Portugal   a   tsunamis,   sendo   que  

nem  toda  a  costa  portuguesa  se  encontra  exposta  de  igual  modo.  Na  fase  subsequente  

serão   apresentados   os   pressupostos   metodológicos   subjacentes   à   elaboração   do  

inquérito   atrás   referido,   para   numa   terceira   fase   serem   apresentados   os   resultados  

obtidos.  A  última  parte  do   trabalho   focar-­‐se-­‐á  numa  reflexão  sobre  os   resultados  do  

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4 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

inquérito   e   as   políticas   públicas   desenvolvidas   no   âmbito   da   gestão   do   risco   de  

tsunami.  

 

Exposição  de  Portugal  a  tsunamis  

O  tsunami  é  uma  série  de  ondas  com  um  comprimento  muito   longo   (distância  entre  

duas   cristas   ou   dois   vales   seguidos),   chegando   a   atingir   os   100km,   habitualmente  

provocado  por  sismos  submarinos.  As  erupções  vulcânicas  e  os  deslizamentos  de  terra  

também   podem   gerar   tsunamis   (UNESCO,   2008).   À   medida   que   as   ondas   se   vão  

aproximando   da   costa,   o   comprimento   diminui   e   a   altura   aumenta.   Enquanto   em  

águas  profundas  a  altura  pode  ser  inferior  a  1  metro,  na  costa  a  altura  da  onda  pode  

chegar  aos  30  metros,  o  que  é  sinónimo  de  um  grande  potencial  destruidor  ao  atingir  a  

costa.  

Os   tsunamis   ocorridos   em   Portugal   são,   na   sua   maioria,   causados   por   sismos  

submarinos  gerados  na  complexa  fronteira  de  placas  tectónicas  que  vai  desde  as  ilhas  

dos  Açores  até  ao  estreito  de  Gibraltar.  A  velocidade  de  convergência  entre  as  placas  

Eurasiática  e  Núbia  (África)  é  de  4mm/ano  junto  da  Península  Ibérica.  Este  é  um  valor  

compatível  com  períodos  de  retorno  elevados  de  fortes  sismos  submarinos  (Baptista  et  

al.,  2011).    

Hoje  em  dia  estão  bem  identificadas  as  falhas  que  podem  gerar  grandes  tsunamis  em  

Portugal   e  no  Atlântico  Noroeste   (figura  1):   a   falha  do  Marquês  de  Pombal   (FMP),   a  

falha   da   Ferradura   (FF),   as   falhas   do   Banco   de   Portimão   (FBP),   a   falha   do   Banco   do  

Gorringe  (FBG)  e  a  falha  da  Planície  Abissal  do  Tejo  (FPAT).  Em  1531  Santarém  e  Lisboa  

foram   afectadas   por   um   grande   sismo   e   também   tsunami   que   se   crê   terem   sido  

gerados  numa  estrutura  ainda  mal  conhecida,  a  Falha  do  Vale  Inferior  do  Tejo  (FVIT).  

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5 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

 Figura 1: Imagem da batimetria ao largo de Portugal Continental identificando as principais falhas que podem causar tsunamis de grandes dimensões (Adaptado de Ribeiro, 2006).  

Olhando  para  a  figura  2  verifica-­‐se  que  as  áreas  que  estão  mais  expostas  a  um  tsunami  

gerado   nas   falhas   identificadas   ao   largo   de   Portugal   são   o   Algarve,   nomeadamente  

Sagres,  a  costa  Vicentina,  a  Área  Metropolitana  de  Lisboa  e  a  costa  Oeste  até  Peniche.  

A   investigação   dos   tsunamis   no   passado   (Baptista   e   Miranda,   2009)   confirma   estas  

áreas   como   aquelas   que   estão   mais   sujeitas   do   risco   de   tsunami   em   Portugal  

Continental.  

Na   última   década   tem-­‐se   vindo   a   observar   um   esforço   por   parte   dos   agentes   de  

planeamento   e   protecção   civil   no   sentido   de   prevenir   o   risco   de   tsunami.   Neste  

âmbito,   é   de   salientar   o   Estudo   do   Risco   Sísmico   e   de   Tsunamis   do   Algarve   (ANPC,  

2010),   o   PROTOVT1   (CCDRLVT,   2009)   e   o   PROTAML2   (CCRDRLVT,   2002).   Na   análise  

destes  documentos  verifica-­‐se  que  a  investigação  se  tem  concentrado  na  perigosidade  

e   nos   elementos   expostos,   deixando   para   segundo   plano   a   vulnerabilidade   da  

população,  a  percepção  e  as  práticas  em  relação  a  este  risco.  Embora  seja  importante  

a   identificação  das  áreas  mais  expostas  ao   risco  de   tsunami,   também  se   consideram  

1  Plano  Regional  de  Ordenamento  do  Território  de  Oeste  e  Vale  do  Tejo.  2  Plano  Regional  de  Ordenamento  do  Território  da  Área  Metropolitana  de  Lisboa.

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6 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

relevantes  aspectos  como  o  conhecimento  da  população  sobre  as   formas  adequadas  

para  agir  no  caso  do  seu  local  de  residência  ou  de  férias  seja  atingido  por  um  tsunami,  

sobretudo  também  em  zonas  turísticas  com  acolhimento  de  milhares  de  visitantes  em  

determinadas  épocas  do  ano.  

Figura 2 - Altura máxima junto à costa causada pela conjugação de 5 cenários credíveis para a geração

de grandes tsunamis nas costas de Portugal Continental (adaptado de Omira, 2010).    

Passaremos   a   analisar   de   seguida   os   resultados   do   inquérito   à   percepção   aos   riscos  

naturais   e   tecnológicos   em   Portugal   Continental,   em   que   será   dado   particular  

destaque  às  questões  relacionadas  com  os  tsunamis.  

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7 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Inquérito  à  Percepção  do  Riscos  Naturais  e  Tecnológicos  em  Portugal  –  O  caso  dos  Tsunamis  

Dados metodológicos. A amostra O  inquérito  à  percepção  dos  riscos  naturais  e  tecnológicos  foi  feito  com  base  na  base  

da  aplicação  de  um  questionário  a  uma  amostra  representativa  da  população  maior  de  

17  anos  residente  em  Portugal  Continental.  

A  amostra  foi  elaborada  para  um  nível  de  confiança  de  95%,  com  uma  margem  de  erro  

de  4%  e  uma  proporção  real  na  população  calculada  para  50%  (1200  indivíduos).  

A   amostra   foi   estratificada   pelo   número   de   famílias   clássicas3   residentes   em   cada  

freguesia  do  país.  Numa  etapa  seguinte,  a  partir  da  selecção  aleatória  de  um  ponto  de  

amostragem,   foram  definidos  percursos  aleatórios  para  a  escolha  dos  agregados.  Na  

terceira  e  última  etapa,  os   indivíduos  do  agregado  foram  seleccionados  pelo  método  

aleatório   de   escolha   do   indivíduo   na   família   clássica   que   tenha   feito   anos   mais  

recentemente.   Assim,   a   unidade   de   amostragem   foi   o   agregado   (família   residente  

clássica)  e  a  unidade  de  inquirição  o  indivíduo.  

Dado   que   a   escolha   das   freguesias   foi   proporcional   ao   seu   peso   demográfico   real,  

houve   que   assegurar   que   cada   agregado   tinha   a   mesma   probabilidade   de   ser  

seleccionado.    

 

Caracterização dos inquiridos A  amostra,  após  ponderação,  é  constituída  por  49,8%  de  indivíduos  do  sexo  masculino  

e  50,2%  de  indivíduos  do  sexo  feminino  (tabela  1).  No  que  concerne  à  estrutura  etária,  

56,5%  dos   inquiridos  têm  menos  de  50  anos,  22,7%  têm  entre  50  e  64  anos  e  20,8%  

t~em  mais  de  60  anos.  Mais  de  metade  dos  inquiridos  possui  um  nível  de  escolaridade  

que  se  situa  entre  o  4º  e  o  9º  ano,  e  aproximadamente  53%  exerce  uma  profissão.    

 

3   Família   Clássica:   Conjunto   de   pessoas   que   residem   no   mesmo   alojamento   e   que   têm   relações   de  parentesco   (de   direito   ou   de   facto)   entre   si,   podendo   ocupar   a   totalidade   ou   parte   do   alojamento.  Considera-­‐se  também  como  família  clássica  qualquer  pessoa  independente  que  ocupe  uma  parte  ou  a  totalidade  de  uma  unidade  de  alojamento.    Fonte:  http://metaweb.ine.pt/sim/conceitos/Detalhe.aspx?ID=PT&cnc_cod=177&cnc_ini=24-­‐05-­‐1994  

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8 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Tabela  1:  Características  dos  inquiridos  

Idade          

18-­‐29   30-­‐49   50-­‐64   >  64    

   

22,2%   34,3%   22,7%   20,8%    

   

           

   

Nível  de  escolaridade                  

0  -­‐  3º  Ano   4º-­‐  9º  Ano   10º  -­‐  12º  Ano   Superior    

   

12,7%   53,6%   23,3%   10,4%      

           

   

Situação  perante  o  trabalho  

Exerce  profissão   Doméstico/a   Desempregado/a   Reformado/a   Estudante   Trabalhador  -­‐  estudante  

52,8   8,2   8,5   26,1   3,3   1,1   No   presente   contexto   é   importante   notar   que   74%   dos   inquiridos   viviam   numa  

freguesia  costeira.  Aliás,  como  se  pode  observar  na  figura  3,  a  maioria  das  freguesias  

onde   foi   realizado  o   inquérito   localizam-­‐se  no  Litoral,   reflexo  da  maior  concentração  

de  população  nesta  área,  entre  outras  variáveis.  

Figura  3:  Freguesias  incluídas  na  amostra  

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9 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Resultados  do  inquérito  

Ortwin  Renn   (1992)   aponta   três   factores  que   influenciam  a  percepção  da  população  

em   relação   aos   riscos:   o   potencial   catastrófico   –   riscos   com   baixa   probabilidade   de  

acontecer   e   graves   consequências   são   normalmente   percepcionados   como   mais  

ameaçadores   do   que   os   riscos   com   maior   probabilidade   de   acontecer   e   de  

consequências   com   pouca   gravidade;   a   característica   qualitativa   do   risco   –   entre   os  

factores   mais   influentes   encontra-­‐se   a   percepção   do   medo   em   relação   a   possíveis  

consequências,   o   nível   de   sensação   de   controlo   pessoal   sobre   a   magnitude   ou  

probabilidade   do   risco,   o   nível   de   familiaridade   com   o   risco,   a   percepção   de   uma  

proporção  equitativa  entre  os  riscos  e  os  benefícios  e  a  possibilidade  de  culpar  algum  

indivíduo  ou  instituição  responsável  pela  criação  de  uma  situação  de  risco;  as  crenças  

associadas   com  a   causa   do   risco-­‐   a   percepção  do   risco   é,  muitas   vezes,   influenciada  

pela  atitude  que  a  pessoa  adopta  perante  a  causa  do  risco,  que  varia  consoante  o  risco  

tenha  causas  naturais  ou  provocadas  pelo  ser  humano.  

Uma   das   questões   do   inquérito   aplicada   a   todos   os   inquiridos   incidia   sobre   a  

possibilidade,  numa  escala  de  Likert  que  varia  entre  1  e  5,  do  local  de  residência  ou  do  

país  serem  afectados  por  um  conjunto  de  28  riscos.  

5

Muito grande

4

Grande

3 Nem muita

nem pouca

2

Pequena

1

Nenhuma

     

           Figura  4:  Escala  de  possibilidade  do  local  de  residência  ou  do  país  ser  atingido  por  determinados  riscos   Na  análise  da  tabela  2  verifica-­‐se  que  os   inquiridos  consideram,  para  todos  os  riscos,  

haver  uma  maior  probabilidade  do  país  ser  atingido  pelos  riscos  elencados  do  que  os  

mesmos   afectarem   os   seus   locais   de   residência.   Observa-­‐se   um   grau   acentuado   de  

proporcionalidade  na  percepção  dos  riscos  quanto  à  sua  escala  de  incidência,  ou  seja,  

em   média,   os   inquiridos   não   consideraram   haver   maior   probabilidade   do   país   ser  

atingido  por  uma  seca  do  que  por  uma  tempestade  e  passar-­‐se  o  contrário  em  relação  

ao  local  de  residência.    

Os  dados  apresentados  sobre  a  percepção  do  risco  em  Portugal  continental  permitem  

concluir  que  quanto  menos  local  é  a  escala  de  avaliação  activada  pelos  respondentes,  

mais  a  percepção  do  risco  depende  do  conhecimento  geral  e  da  capacidade  de  acesso  

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10 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

às  fontes  de  informação,  relacionadas  estas  últimas  com  o  nível  de  instrução,  a  classe  

social  e  a  o  local  habitação  (litoral  e  zonas  urbanas).    

A  proximidade  com  os  riscos  percepcionados  acentua  o  papel  das  condições  de  vida,  

enquanto   a   distância   desmaterializa   a   percepção   do   risco.  Mas,   mais   importante,   e  

contrariamente   à   tese   da   familiaridade,   os   resultados   do   nosso   projecto   de  

investigação  mostram  o  papel   crucial  da  diferenciação   territorial  e  da  consciência  da  

escala  na   intensidade  dos  riscos  percepcionados.  Ou  seja,  não  é  a   familiaridade  ou  a  

experiência  pessoal  com  os  tipos  de  perigos  apresentados  que  condicionam  o  processo  

de   percepção   da   intensidade   dos   mesmos,   mas   a   escala   a   que   essa   percepção   é  

projectada.   Quanto  maior   é   proximidade   da   zona   habitual   de   residência  menor   é   a  

intensidade  percebida  dos  perigos,   induzida  pela  noção  de   segurança  e  controlo  dos  

acontecimentos   e   das   suas   circunstâncias   envolventes.   A   distância   e   a   projecção  

escalar  implicam  menor  capacidade  de  controlo  pessoal,  menor  conhecimento  directo  

e  maior  dependência  das  instituições  oficiais  e  da  mobilização  de  recursos  a  um  nível  

superior.    

É   nossa   hipótese   que   a   proximidade   escalar   dos   possíveis   perigos   conduz   a   uma  

percepção  da  sua  menor  intensidade  porque  esses  perigos,  quando  transformados  em  

acontecimentos   extremos  ou   em  desastres,   não  necessitam   localmente,   pelo  menos  

numa   primeira   fase,   da   projecção   institucional,   compensando   com   as   fortes   redes  

familiares   locais   e   activando   uma   lógica   de   segurança   ontológica.   Interessante   é,  

contudo,   verificar   que   os   inquiridos   que   declararam   já   terem   sido   afectados   por  

acontecimentos   extremos,   activavam   menos   comportamentos   de   prevenção   (por  

exemplo,  ter  água  de  reserva),  o  que  está  associado  a  factores  como  a  negatividade  e  a  

uma  crença  fatalista  diante  de  situações  de  risco.  

Os  dados  apresentados  na  tabela  2  mostram  que  os  tsunamis  surgem  em  último  lugar  

na   lista   da   importância   dos   riscos   percebidos   pelos   portugueses,   atrás   de   eventos  

como   roturas   de   barragens.   A   nível   da   escala   de   percepção   verifica-­‐se   que   há   uma  

associação  estatística  clara  entre  os  que  consideram  elevada  a  probabilidade  de  o  país  

ser  atingido  por  um  tsunami  e  os  que  consideram  o  mesmo  para  a  área  de  residência  

(R  de  Pearson=  0,660;  p.<001).  

A   constatação   da   importância   da   escala   de   incidência   na   percepção   dos   riscos   em  

Portugal   leva-­‐nos  a  desenvolver  em  pormenor  a  relação  do  local  de  residência  com  a  

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11 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

intensidade   da   percepção   dos   riscos,   o   que   faremos   na   parte   seguinte   do   presente  

relatório.    

 Tabela  2  Possibilidade  do  país  e  do  local  de  residência  serem  atingidos  por  riscos  naturais  e  tecnológicos      

No  local  de  residência    

No  país  

Riscos   Média   Desvio  Padrão   Média   Desvio  

Padrão  

acidentes  de  viação   2,80   1,21   3,97   ,93  

ondas  de  calor   2,77   1,17   3,91   ,84  

vagas  de  frio   2,74   1,18   3,53   ,90  

tempestades   2,68   1,04   3,49   ,97  

incêndios  florestais   2,67   1,24   3,46   ,90  

seca   2,63   1,21   3,35   ,97  

contaminação  de  rios   2,14   1,26   3,30   1,05  

cheias  e  inundações   2,13   1,24   3,28   ,96  

queda  de  árvores   2,12   1,08   3,26   ,95  

afogamentos   1,98   1,14   3,05   ,92  

incêndios  urbanos   1,96   1,06   3,02   ,95  

contaminação  dos  solos   1,94   1,16   3,00   1,19  

contaminação  da  água  para  abastecimento   1,92   1,14   2,95   1,01  

sismos   1,85   1,13   2,93   ,99  

acidentes  em  fábricas   1,81   ,99   2,75   1,03  

contaminação  de  alimentos   1,79   1,11   2,72   1,20  

deslizamentos   1,79   1,02   2,69   1,17  

contaminação  do  mar   1,77   1,16   2,59   1,07  

derrocada  de  edifícios   1,77   1,05   2,57   1,24  

incêndios  locais  de  diversão   1,70   1,02   2,56   1,05  

incêndios  bombas  de  combustível   1,65   1,03   2,53   1,19  

acidentes  de  comboio   1,65   1,00   2,48   1,17  

incêndios  estabelecimentos  de  ensino  ou  saúde   1,64   1,00   2,36   1,24  

epidemias   1,64   ,98   2,30   1,24  

acidentes  com  embarcações   1,54   ,97   2,29   1,21  

acidentes  aéreos   1,51   ,94   2,25   1,14  

rotura  de  barragens   1,48   ,98   2,22   1,20  

tsunamis   1,45   ,96   2,03   1,21  

A   divisão   entre   litoral   e   interior   revela   diferenças   importantes   na   percepção   dos  

riscos4.  Embora  3  das  5  perigosidades  mais  referidas  pelos  inquiridos  sejam  as  mesmas  

(acidentes   de   viação,   ondas   de   calor,   vagas   de   frio   e   incêndios   florestais),   nota-­‐se  

divergência   no   que   diz   respeito   às   tempestades,   uma   das   que   mais   preocupam   os  

habitantes  do  litoral,  mas  não  do  interior,  e  à  seca,  que  apresenta  a  situação  inversa.  

4  A  categoria  “litoral”   foi   construída  a  partir  dos  concelhos  pertencentes  a  NUTS   III  que   têm  contacto  com  o  Atlântico  e  que,  portanto,  inclui  municípios  sem  frente  costeira.  

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12 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Mas  também  nesta  divisão  se  verifica  uma  diferença  de  grau  de  importância:  a  média  

das  percepções  no  litoral  é  de  2,12,  ao  passo  que  no  interior  é  de  apenas  1,70.  A  este  

facto   não   é   alheio   a   presença,   no   litoral,   dos   concelhos   que   constituem   a   Grande  

Lisboa,  que  apresentam  valores  de  percepção  do  risco  muito  mais  elevados  que  os  do  

resto  do  país.  

Contudo,   é   nos   valores   mais   baixos   que   se   revelam   as   maiores   e,   à   partida,   mais  

previsíveis  diferenças.  A  contaminação  do  mar,  por  exemplo,  é  uma  das  perigosidades  

que  menos   preocupam   os   inquiridos   nos   seus   concelhos   de   residência   (ainda   assim  

atingindo  1,23  de  média),   enquanto,   para  os   inquiridos  do   litoral,   a   possibilidade  de  

ocorrência   deste   evento   fica   a   meio   da   tabela,   com   2,03.   Os   tsunamis,   embora  

encarados  como  pouco  prováveis  pelos  inquiridos  de  ambas  as  zonas,  obtêm  um  valor  

de  1,54  no   litoral   e  de  apenas  1,06  no   interior.  Convém   relembrar  que  na  escala  de  

Likert  de  1  a  5,  o  valor  neutro  de  intensidade  se  situa  no  3.  

Também  os  incêndios  urbanos  são  motivo  de  maior  preocupação  para  os  inquiridos  do  

litoral  (2,18)  que  para  os  do  interior  (1,53),  um  resultado  previsível,  tendo  em  atenção  

a   maior   urbanização   do   litoral   português.   Verifica-­‐se   a   situação   inversa   com   a  

possibilidade  de  rotura  de  barragens,  que,  embora  obtendo  um  valor  mais  elevado  no  

litoral   que   no   interior   (1,54   contra   1,35),   encontra-­‐se   num   lugar   muito   superior   da  

tabela   relativa   aos   inquiridos   desta   última   zona,   porventura   devido   a   uma   maior  

proximidade  geográfica  que  estes  têm  em  relação  à  fonte  do  perigo.  

As   diferenças   nos   valores   explicam-­‐se   em   grande   medida,   como   nas   comparações  

anteriores,  pelas  já  referidas  diferenças  de  percepção  dos  inquiridos  de  acordo  com  a  

área  geográfica.  A   título  de  exemplo,  a   seca,  que  não  se  encontra   sequer  entre  as  5  

perigosidades  mais  valorizadas  pelos  inquiridos  das  zonas  urbanas,  obtém  ainda  assim  

um  valor  superior  ao  das  tempestades  nas  zonas  rurais,  onde  ocupa  o  quinto  lugar.  Já  

os   acidentes   de   viação,   a   perigosidade   com   valor  mais   alto   nos  meios   urbanos,   não  

aparece  entre  as  5  mais  valorizadas  pelos   inquiridos  de  meios   rurais.  Novamente,  os  

incêndios   em   estabelecimentos   de   ensino   e   saúde   aparecem   no   fundo   da   tabela  

quando   falamos   apenas   das   zonas   rurais,   ao   passo   que   nestas   mesmas   zonas   a  

preocupação   com   os   acidentes   em   fábricas   assumem   uma   expressão   muito   mais  

reduzida   que   em   qualquer   uma   das   duas   restantes   e,   em   particular,   com   as   zonas  

urbanas.  

 

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13 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

 

 Tabela  3:  Possibilidade  de  ser  afectado  no  concelho  de  residência  por  litoral  /  interior  

Perigosidades  no  concelho  de  residência  

Litoral   Interior  

Média   Desvio  Padrão   Média   Desvio  

Padrão  

acidentes  de  viação   2,95   1,25   2,50   1,07  

ondas  de  calor   2,80   1,20   2,72   1,11  

vagas  de  frio   2,71   1,20   2,81   1,13  

tempestades   2,82   1,09   2,41   ,88  

incêndios  florestais   2,64   1,30   2,71   1,11  

seca   2,58   1,23   2,73   1,17  

contaminação  de  rios   2,22   1,29   2,00   1,17  

cheias  e  inundações   2,34   1,28   1,71   1,05  

queda  de  árvores   2,25   1,16   1,85   ,85  

afogamentos   2,12   1,19   1,73   ,99  

incêndios  urbanos   2,18   1,15   1,53   ,70  

contaminação  dos  solos   2,11   1,24   1,61   ,88  

contaminação  da  água  para  abastecimento   2,08   1,21   1,60   ,89  

sismos   2,07   1,21   1,42   ,79  

acidentes  em  fábricas   1,98   1,07   1,48   ,68  

contaminação  de  alimentos   1,98   1,20   1,43   ,80  

deslizamentos   1,90   1,12   1,57   ,73  

contaminação  do  mar   2,03   1,26   1,23   ,60  

derrocada  de  edifícios   1,96   1,16   1,39   ,66  

incêndios  locais  de  diversão   1,89   1,12   1,34   ,66  

incêndios  bombas  de  combustível   1,84   1,14   1,27   ,61  

acidentes  de  comboio   1,84   1,12   1,28   ,59  

incêndios  estabelecimentos  ensino  saúde   1,84   1,11   1,27   ,57  

epidemias   1,79   1,08   1,32   ,64  

acidentes  com  embarcações   1,69   1,07   1,24   ,63  

acidentes  aéreos   1,69   1,07   1,17   ,43  

rotura  de  barragens   1,54   1,02   1,35   ,88  

tsunamis   1,64   1,10   1,06   ,32  

 

Percepção do risco de tsunami a nível regional

As  diferenças  no   âmbito   geográfico  dos  questionários   convocam-­‐nos,   portanto,   para  

uma   análise   do   questionário   nacional   a   vários   níveis.   Para   esse   efeito,   os   inquiridos  

foram  divididos  em  vários  grupos,  consoante  as  suas  regiões  de  residência.  

Na  análise  da  tabela  4  verifica-­‐se  que  os  valores  mais  altos  em  termos  de  percepção  do  

risco  de  tsunami  registam-­‐se  no  Algarve,  na  Cidade  de  Lisboa,  na  Área  Metropolitana  

de  Lisboa  e  na  Península  de  Setúbal,  ou   seja,  nas  áreas   com  o  nível  de  perigosidade  

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14 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

mais   elevado   de   Portugal   Continental.   No   entanto,   os   valores   da   intensidade   da  

percepção   do   risco   de   tsunami   são   baixos,   não   chegando   a   atingir   o   valor   3,   o   qual  

representa,   como   vimos   atrás,   o   valor   neutro   da   escala   de   Likert   de   1   (nenhuma  

possibilidade   ser   atingido)   a   5   (possibilidade  muito   grande   de   ser   atingido).   Note-­‐se  

que   estes   valores   foram   atribuídos   no   contexto   de   uma   lista   comparativa   da  

possibilidade  do  local  de  residência  ou  do  país  serem  atingidos  por  28  riscos.  Embora  a  

diferença  de  valores  não  seja  significativa,  é  interessante  verificar  que  os  inquiridos  na  

Região  do  Algarve  consideram  haver  maior  possibilidade  do  resto  do  país  ser  atingido  

por  um  tsunami  do  que  o  seu  local  de  residência.  

Tabela  4:  Percepção  da  possibilidade  de  acontecer  um  tsunami  por  país  e  local  de  residência  

Área  País   Local  de  residência  

Média   D.P.   Média   D.P.  

Algarve   2,97   1,39   2,11   1,311  

Cidade  de  Lisboa   2,94   1,24   2,51   1,378  

Área  Metropolitana  de  Lisboa   2,86   1,44   2,32   1,293  

Península  de  Setúbal   2,01   1,09   1,51   0,856  

Outras  regiões   1,9   1,08   1,19   0,679  

Centro  Litoral   1,9   1,01   1,09   0,335  

Norte  Litoral   1,43   0,74   1,07   0,322  

 

Aliás,   mais   de   10%   dos   inquiridos   consideraram   haver   uma   possibilidade   grande   a  

muito  grande  de  acontecer  um  tsunami  no  país,  uma  percentagem  que  desce  para  7%  

no  que  se  refere  à  possibilidade  do  local  de  residência  ser  atingido  por  este  risco.    

A   desagregação   das   respostas   ao   nível   da   região   sobre   a   análise   da   percepção   da  

possibilidade   do   país   e   do   local   de   residência   serem   atingidos   por   um   tsunami  

mostram   grandes   discrepâncias   nas   mesmas.   Assim,   na   tabela   5   encontram-­‐se   a  

percentagem   de   inquiridos   que   responderam   existir   uma   possibilidade   grande   ou  

muito  grande  do  local  de  residência  ser  atingido  por  um  tsunami.  Claramente  acima  da  

média   nacional   situam-­‐se   os   inquiridos   residentes   na   cidade   de   Lisboa   e   na   Área  

Metropolitana   de   Lisboa   (com   exclusão   da   cidade   de   Lisboa).   Embora   com   menor  

intensidade,   os   habitantes   do   Algarve   percepcionam   o   risco   de   tsunami   acima   da  

média  nacional,  embora  com  valores  muito  baixos  para  uma  região  tão  susceptível  a  

este  tipo  de  risco.    

 

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15 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Tabela  5:  Percepção  da  possibilidade  do  local  de  residência  ser  atingido  por  um  tsunami    

Regiões  

   Possibilidade  de  local  de  

residência  ser  atingido  por  um  tsunami  

Grande  (%)  

Muito  Grande  (%)  

AML   21,9   3,8  

Outras  regiões   0,5   2,0  Cidade  de  Lisboa   22,1   7,4  Algarve   13,8   6,9  

Península  de  Setúbal   1,9   1,9  Centro  Litoral   0,0   0,0  Norte  Litoral   0,6   0,0  

Média  nacional   5,3   2,1  

 

Na  análise  dos  dados  considera-­‐se  preocupante  as  respostas  dos  inquiridos  residentes  

na  Península  de  Setúbal,  uma  das  áreas   com  um  dos  níveis  de   susceptibilidade  mais  

elevados  do  país,   onde  a  percepção  do   risco  de   tsunami  é  quase   insignificante.   Esta  

situação   exigirá   no   futuro   um   plano   de   comunicação   do   risco   de   tsunami  

especificamente  orientado  para  esta  região  e  também  para  o  Algarve.    

O  local  de  residência  não  é  a  única  variável  relevante  na  análise  da  percepção  do  risco  

de   tsunami,   pois   o   inquirido   pode   viver   no   Interior   e   deslocar-­‐se   em   férias   para   o  

Litoral.  Assim,  foi  perguntado  se  os  inquiridos  costumavam  visitar  ou  passar  férias  em  

zonas  costeiras  em  Portugal  ou  no  estrangeiro.  55%  dos  respondentes  afirmaram  que  

têm  por  hábito  deslocar-­‐se  para  zonas  costeiras  em  Portugal  (no  caso  dos  que  residem  

em   zonas   costeiras   perguntou-­‐se   da   sua   deslocação   para   outras   zonas   costeiras   do  

país),  e  14%  responderam  que  se  deslocam  a  zonas  costeiras  no  estrangeiro.    

Do  conjunto  de  inquiridos  que  têm  por  hábito  deslocar-­‐se  em  férias  a  zonas  costeiras,  

quer  seja  em  Portugal  quer  seja  no  estrangeiro,  mais  de  um  terço  pertence  à  Pequena  

Burguesia   de   Execução   (PBE),   seguida   da   Pequena   Burguesia   Técnica   e   de  

Enquadramento  (PBTE),  que  na  sua  totalidade  constituirão  a  chamada  “classe  média”.5  

5 A   tipologia   de   classes   aplicada   no   presente   projecto   baseia-­‐se   na   que   foi   proposta   pela   equipa   do   ISCTE-­‐IUL  liderada   por   João   Ferreira   de   Almeida.   Aqui   recorre-­‐se   à   versão   simplificada   que   é   composta   pelas   seguintes  categorias:  Burguesia  (B)  (todos  os  detentores  de  meios  de  produção  com  assalariados);  Pequena  Burguesia  Técnica  de   Enquadramento   (PBTE)   (indivíduos   altamente   qualificados   que   exercem   trabalho   assalariado);   Pequena  Burguesia   de   Execução   (PBE)   (todos   os   assalariados   com   qualificações   intermédias   e   que   exercem   funções  administrativas);  Pequena  Burguesia  Proprietária  (PBPR)  (todos  os  que  trabalham  por  conta  própria  sem  recurso  a  assalariados);  Operariado  (OP)  (todos  os  que  detêm  baixos  recursos  escolares  e  são  assalariados  maioritariamente  na  indústria  e  na  agricultura).  

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16 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Tabela  6:  Hábitos  de  deslocação  em  férias  segundo  a  classe  social  

Questão  

Burguesia  (%)  

PBTE  (%)  

PBE  (%)   PBPR  (%)  

Operariado  (%)  

Sim  

Costuma  visitar  zonas  costeiras  no  estrangeiro?   14,4   28,7   31,1   11,4   14,4  

Costuma  visitar  (outras)  zonas  costeiras  em  Portugal?   9,7   20,5   34,5   8,2   27,1  

 

No  que  concerne  aos  grupos  etários,  verifica-­‐se  que  a  maioria  dos  inquiridos  que  nas  

suas  férias  se  deslocam  a  zonas  costeiras,  quer  em  Portugal  quer  no  estrangeiro,  têm  

idades   compreendidas   entre   os   30   e   os   49   anos,   figurando   em   segundo   lugar   os  

inquiridos  com  idades  compreendidas  entre  os  18  e  os  29  anos.  Tal  significa  que  numa  

eventual   realização  de  uma  campanha  de   sensibilização  e  prevenção  para  o   risco  de  

tsunami,  não  só  na  zona  costeira  portuguesa  como  também  no  estrangeiro,  o  material  

de   divulgação   deve   ter   em   conta   um   público-­‐alvo   com   idade   inferior   a   49   anos   e  

pertencente   à   chamada   “classe   média”,   com   recursos   escolares   bastante  

heterogéneos.  

Tabela  7:  Hábitos  de  deslocações  segundo  os  grupos  etários  

Questão  

Grupos  etários  

18-­‐29   30-­‐49   50-­‐64   65  ou  +  

Sim  

Costuma  visitar  zonas  costeiras  no  estrangeiro?   26   44,5   23,7   5,8  

Costuma  visitar  zonas  costeiras  em  Portugal?   29   41   20,4   9,2  

 

A   pergunta   seguinte   questionava   sobre   o   conhecimento   dos   inquiridos   sobre   a  

possibilidade  de  alguma  zona  costeira  que  frequentam  ser  atingida  por  um  tsunami.  A  

esta  questão,  82%  dos  inquiridos  responderam  negativamente,  ou  seja,  na  sua  maioria  

aqueles   que   têm   por   hábito   frequentar   nas   férias   zonas   costeiras   em   Portugal   e   no  

estrangeiro   responderam   que   não   têm   conhecimento   das   mesmas   poderem   ser  

afectadas  pela  ocorrência  de  um  tsunami.    

Aos  indivíduos  que  responderam  afirmativamente  à  questão  acima  referida,  num  total  

de   122   inquiridos,   foi   perguntado   quando   é   que   tomaram   conhecimento   dessa  

possibilidade,  sendo  interessante  notar  que  mais  de  50%  respondeu  ter  sido  depois  de  

2004,   ano   em   que   ocorreu   um   tsunami   no   Oceano   Índico   com   consequências  

devastadoras.   Embora   com  uma   incidência   baixa   no   total   de   inquiridos,   cabe   referir  

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17 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

que  um  acontecimento  mediático  e  de  grande  impacto  internacional  como  o  tsunami  

de  2004  actuou  como  um  amplificador  do  conhecimento  e  da  consciência  do  risco  de  

tsunami.  

Uma   outra   questão   colocada   aos   inquiridos   prendia-­‐se   com   a   adopção   ou   a  

implementação  de  medidas  preventivas  quanto  à  possibilidade  de  ser  afectado  por  um  

tsunami.   Considera-­‐se   um   dado   preocupante   verificar   que   95%   dos   respondentes  

afirmou   não   adoptar   tal   tipo   de   medidas.   Este   perfil   de   resposta   era   expectável  

atendendo  à  baixa  percepção  do  risco  de  tsunami  em  Portugal.  Dos  poucos  inquiridos  

que  adoptam  medidas  preventivas,  são  referidas  as  seguintes:  não  ir  à  praia,  deixar  o  

carro   a   uma   distância   de   segurança   da   praia   e   não   fazer   turismo   balnear   em   locais  

onde  possam  ocorrer  tsunamis.  

São  vários  os   factores  que   influenciam  a  percepção  em   relação  ao   risco  de   tsunami,  

entre  os  quais  destacamos  a   idade  e   as  qualificações  académicas,   aspectos  bastante  

relevantes  em  matérias  como  a  elaboração  de  campanhas  de  sensibilização.  Na  análise  

da  tabela  8,  baseada  na  aplicação  de  uma  análise  ANOVA  à  escala  Likert  de  percepção  

do  risco  de  tsunami,  as  diferenças  são  estaticamente  significativas  tanto  a  nível  do  país  

(F=13,225;  gl=3;p<.001)  como  do  local  de  residência  (F=13,225;  gl=3;p<.001).    

 

Tabela  8:  Possibilidade  do  país/local  de  residência  ser  atingido  por  um  tsunami  segundo  a  idade  

Escalões  etários  Portugal   Local  de  residência  

Média   Desvio  Padrão   Média   Desvio  Padrão  

18-­‐29   2,28   1,243   1,70   1,163  

30-­‐49   2,07   1,205   1,51   ,987  

50-­‐64   1,86   1,186   1,31   ,840  

65  ou  +   1,86   1,145   1,22   ,666  

 

No  que  concerne  à  percepção  da  possibilidade  do  país  ou  do  local  de  residência  serem  

atingidos   por   um   tsunami   verifica-­‐se   que,   embora   os   valores   sejam   baixos,   os  

inquiridos   com   idade   igual   ou   inferior   a   49   anos   apresentam   níveis   de   percepção  

superiores   em   relação   aos   de   faixas   etárias   mais   avançadas.   Contudo,   o   índice   de  

correlação  de  Pearson  com  a  escala  de  percepção  do  risco  de  tsunami  é  significativo  só  

para  o  nível  do  local  de  residência,  apresentando  um  valor  baixo  (-­‐0,120;  p<.001).  Os  

resultados  indicam  que  a  percepção  do  risco  de  tsunami  está  mais  presente  nos  grupos  

etários  mais   jovens,  o  que  pode  potenciar  o   sucesso  de   campanhas  especificamente  

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18 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

orientadas   para   estes   grupos   etários,   tomando   estes   como  possíveis  multiplicadores  

da   informação   veiculada   sobre   o   tema.Estando   os   níveis   de   qualificação   estejam  

associados  à  idade  dos  inquiridos  (R  de  Pearson  =  -­‐0,333;  p<.001),  não  causa  surpresa  

que   existam   diferenças   significativas   na   percepção   em   relação   ao   risco   de   tsunami  

pelos   diferentes   grupos   de   escolaridade   (tabela   9).  Os  modelos   de   variância   ANOVA  

são  significativos  tanto  para  o  nível  do  país  (F=20,808;  gl=3;p<.001)  como  para  o  local  

de  residência  (F=23,956;  gl=3;p<.001).  Os  dados  mostram  que  a  percepção  do  risco  de  

tsunami   é   maior   nos   inquiridos   com   nível   de   instrução   superior   ao   9º   ano   de  

escolaridade,  tanto  para  o  espaço  local  como  para  o  todo  do  país.    

Tabela  9:  Possibilidade  do  país/local  de  residência  ser  atingido  por  um  tsunami  segundo  as  qualificações  

Qualificações  

Portugal   Local  de  residência  

Média   Desvio  Padrão   Média   Desvio  Padrão  

0-­‐3º   1,66   1,037   1,12   ,390  

4º-­‐9º   1,88   1,120   1,33   ,850  

10º-­‐12º   2,45   1,337   1,77   1,193  

Superior   2,27   1,225   1,72   1,087  

 

As   campanhas   de   informação   e   de   sensibilização   deverão   adequar   as   mensagens  

veiculadas   à   baixa   formação   académica   daqueles   que   demonstram   menor  

preocupação  e  atenção  ao  risco  de  tsunami.  

Procurando  aprofundar  um  conjunto  de  factores  relacionados  com  a  informação  sobre  

tsunamis   para   o   público   em   geral,   indagámos   sobre   a   importância   da   colocação   de  

sinalização   específica   para   tsunamis   nas   zonas   balneares.   Ora,   40%   dos   inquiridos  

consideraram   importante   a   existência   dessa   sinalização,   e   28%   consideraram  muito  

importante,  sendo  que  apenas  6%  dos  inquiridos  consideraram  nada  importante  e  7%  

pouco  importante  (Gráfico  1).    

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19 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

 Gráfico  1:  Percepção  da  relevância  da  sinalização  específica  para  tsunamis  (%)  

 No  que  concerne  à  importância  da  existência  nas  praias  de  alertas  sonoros  para  o  caso  

de   ocorrência   de   tsunamis,   41%   e   39%   consideram   importante   e  muito   importante,  

respectivamente.  Apenas  3%  e  4%  consideram  nada  importante  ou  pouco  importante,  

respectivamente  (gráfico  2).  

As  respostas  a  estas  duas  questões  mostram  algo  muito  importante  para  a  elaboração  

de  um  plano  de  informação  e  de  sensibilização  sobre  os  tsunamis  em  Portugal.  Embora  

a   percepção   global   sobre   o   risco   de   tsunami   seja   baixa,   relacionada   com   factores  

inerentes  a  um  risco  com  um  período  de  retorno  muito  elevado,  a  nível  das  práticas  e  

da   informação   a   veicular   aos   cidadãos   há   uma   consciência   clara   da   importância   da  

informação  orientadora  nos   locais  de  frequência  da  população  susceptíveis  de  serem  

atingidos   por   tsunamis   (zonas   balneares),   consubstanciada   na   informação   visual   e  

sonora.   Caberá   às   autoridades   competentes   a   concretização   destas   práticas  

mitigadoras,   facilitadas  pela   clara   adesão  dos   respondentes  do  nosso   inquérito.   Esta  

adesão  fica  clara  nas  respostas  obtidas  à  pergunta  sobre  se  os  inquiridos  gostariam  de  

ter   mais   informações   sobre   tsunamis,   em   que   55%   dos   mesmos   responderam  

afirmativamente.    

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20 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

 Gráfico  2:  Percepção  da  relevância  da  sinalização  sonora  para  tsunamis  (%)  

 Uma   outra   parte   do   questionário   procurava   indagar   se   havia   a   ideia   junto   dos  

inquiridos,  sobretudo  por  um  efeito  provável  de  amplificação  do  risco  de  tsunami  após  

os  acontecimentos  no  Índico  em  2004,  de  uma  maior  preocupação  com  os  tsunamis  a  

três  níveis:  nas  pessoas  em  geral,  nas  entidades  oficiais  e  na  comunicação  social.  Em  

todos  os  itens  mais  de  50%  dos  inquiridos  responderam  que  não  notavam  uma  maior  

preocupação  com  os  tsunamis  (Gráfico  3).  

No  que  concerne  aos  inquiridos  que  afirmaram  que  havia  uma  maior  preocupação  com  

os   tsunamis,   mais   de   30%   dos   inquiridos   consideravam   que   tal   se   devia   a  

acontecimentos   recentes   como   o   tsunami   do   Oceano   Índico   em   2004,   20%  

consideravam   que   tal   se   devia   ao   facto   da   comunicação   social   dar  maior   ênfase   ao  

tema,  e  11%  imputavam  tal  tendência  à  existência  de  um  melhor  nível  de  informação  

junto   das   pessoas.   Embora   as   respostas   dadas   sejam   algo   díspares,   podem   ser  

agrupadas  em  duas  vertentes:  acontecimentos  recentes  e  maior  ênfase  na  questão  dos  

tsunamis  por  parte  da  comunicação  social.  

 

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21 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

0" 10" 20" 30" 40" 50" 60"

Comunicação social

Entidades oficiais

Pessoas em geral

Sim

Não

NS/NR

 Gráfico  3:  Avaliação  sobre  se  se  verifica  uma  maior  preocupação  com  os  tsunamis  

 

A percepção do risco de tsunami dos residentes nas freguesias do Litoral

No   inquérito  à  percepção  dos   riscos  naturais  e   tecnológicos  em  Portugal  Continental  

havia  um  módulo  de  questões  que   foi  aplicado  apenas  aos   residentes  nas   freguesias  

costeiras   ou   situadas   em   zonas   de   estuário.   A   primeira   questão   incidia   sobre   a  

distância  da  residência  habitual  dos   inquiridos  ao  mar.  10%  dos   inquiridos  afirmaram  

viver   a   menos   de   1km   do  mar,   36%   entre   1   a   5km   e   17%   entre   5   a   10km   do  mar  

(Gráfico   4).   Assim,   63%   dos   inquiridos   que   responderam   à   secção   em   análise  

afirmaram  viver  a  menos  de  10km  do  mar.    

É  interessante  notar  que  à  questão  se  o  inquirido  tinha  conhecimento  da  possibilidade  

da  sua  zona/freguesia  ser  atingida  por  um  tsunami,  89%  dos   inquiridos  responderam  

negativamente  à  questão.  E  quanto  maior  é  a  distância  ao  mar  menor  é  a  percepção  

de  que   se  pode   ser   atingido  por  um   tsunami,   aumentando  a   sensação  de   segurança  

pessoal  e  ontológica  dos  inquiridos  (R  de  Pearson  entre  distância  ao  mar  e  a  percepção  

do  risco  de  tsunami  =  -­‐0,128;  p.<0.01).  Como  verificámos  anteriormente,  a  percepção  

do  risco  de  tsunami  em  Portugal  é  muito  baixa,  mesmo  para  as  pessoas  que  habitam  

nas   zonas   costeiras   ou   em   estuários.   Contudo,   a   nível   das   práticas,   é   interessante  

verificar   que   53%   afirmaram   conhecer   quais   eram   as   zonas   inundáveis   em   caso   de  

tsunami.   Perante   a   questão   se   os   inquiridos   tinham   conhecimento   da   existência   de  

algum   sistema   de   aviso   ao   público   em   caso   de   ocorrência   de   um   tsunami,   a  

esmagadora  maioria,  89%,  respondeu  pela  negativa.  

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Gráfico  4:  Distância  ao  mar  da  residência  dos  habitantes  em  zonas  costeiras    

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23 O risco de tsunami em Portugal: percepções e práticas

Considerações finais Após   esta   breve   análise   é   evidente   um   conjunto   de   aspectos   que   demonstram   a  

importância  da  avaliação  da  percepção  e  das  práticas  da  população  sobre  o   risco  de  

tsunami.    

No  presente  trabalho  verificou-­‐se  que  na  avaliação  da  possibilidade  de  um  conjunto  de  

riscos   atingirem  o  país   na   sua   globalidade  ou  o   local   de   residência   dos   inquiridos,   o  

risco  de  tsunami   figura  em  último  lugar  numa  lista  de  28  riscos.  Note-­‐se  que  se  trata  

de  um  risco  com  um  período  de  retorno  elevado,  o  que,  como  foi  possível  constatar  ao  

longo  deste   relatório,   condiciona   a  percepção  da  população  em   relação   ao   risco   em  

análise.  Por  exemplo,  95%  dos   inquiridos  afirmam  que  nunca  tomaram  medidas  para  

evitar   ser   atingido   por   um   tsunami.   No   entanto,   a   possibilidade   de   acontecer   um  

tsunami   é   real.   A   costa   portuguesa,   nomeadamente   no   Algarve   e   na   Área  

Metropolitana  de  Lisboa,  reúne  as  condições  físicas  para  a  ocorrência  deste  fenómeno.  

Considera-­‐se   premente   alertar   a   população   para   esta   realidade.   Embora   os   valores  

médios,  em  termos  de  possibilidade  do  país  e  do   local  de  residência  serem  atingidos  

por  um  tsunami,  sejam  baixos,  os  inquiridos  residentes  no  Algarve,  na  cidade  de  Lisboa  

e  na  Área  Metropolitana  de  Lisboa  apresentam  valores  mais  elevados  que  as  restantes  

regiões.  A  Península  de  Setúbal  evidencia-­‐se  como  uma  área  preocupante,  na  medida  

em   que   apesar   de   ser   uma   área   com   uma   elevada   perigosidade,   uma   baixa  

percentagem  de  inquiridos  afirmaram  existir  a  possibilidade  de  ocorrer  um  tsunami  no  

seu  local  de  residência.    

No   entanto,   o   público-­‐alvo   de   eventuais   campanhas   de   sensibilização   não   deve   ser  

somente   aquele   residente   em   áreas   de   elevada   susceptibilidade,   pois   55%   dos  

inquiridos  afirmaram  ter  por  hábito  deslocar-­‐se  a  zonas  costeiras  em  Portugal,  e  14%  

afirmou  ter  por  hábito  deslocar-­‐se  a  zonas  costeiras  no  estrangeiro.  

É   de   assinalar   que   80%   dos   inquiridos   consideraram   importante   e,   nalguns   casos,  

muito  importante  a  existência,  nas  praias,  de  alertas  sonoros  para  o  caso  de  ocorrência  

de  tsunamis.  A  possibilidade  de  colocação  de  sinalização  específica  para  tsunamis  teve  

menor  receptividade,  apesar  disso,  mais  de  metade  dos  inquiridos,  68%,  consideraram  

importante  e,  nalguns  casos,  muito  importante  a  existência  deste  tipo  de  sinalização.  

O  tsunami  é  um  acontecimento  com  causas  naturais,  mas  as  suas  consequências  são  

humanas   e   no   presente   trabalho   verifica-­‐se   que   a   população   portuguesa   não   se  

encontra  consciente  do  risco  real  que  corre,  embora  mostre  disponibilidade  para  obter  

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mais  informação  sobre  o  tema  e  apoie  medidas  de  sinalização  visual  e  aviso  sonoro  nas  

zonas  mais  susceptíveis  de  serem  afectadas  por  tsunamis.  

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