RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

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NÚCLEOS DIVISÃO DE HIGIENE E MEDICINA DO TRABALHO ÁREA DE SAÚDE SETOrt DE MEDICINA DAS RADIAÇÕES RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL ALEXANDRE RODRIGUES DE OLIVEIRA JULHO/8S

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Page 1: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

NÚCLEOS DIVISÃO DE HIGIENE E MEDICINA DO TRABALHO

ÁREA DE SAÚDE SETOrt DE MEDICINA DAS RADIAÇÕES

RELATÓRIO PRELIMINAR

SOBRE O

ACIDENTE DE CHERNOBYL

ALEXANDRE RODRIGUES DE OLIVEIRA

JULHO/8S

Page 2: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

z. a t-a

J I ' - t w ^ í j f * . - ^ 1 - • ' " / • • • • ' • •

Page 3: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

ERRATA

PAGINA II:

19 Parágrafo:

onde se lê

ticada

leia-se

PAGINA 3:

39 Parágrafo:

onde se lê

leia-se.

PAGINA 8:

Fase 4:

a mais segura, analisada, estudada e cri-

a mais analisada, estudada e criticada

O vapor movimenta dois turbo-alternadores

O vapor movimenta dois turbo-geradores

onde se lê

leia-se

. coeficiente de vácuo positivo

. coeficiente de "vazios" positivo

PAGINA 13:

19 Parágrafo:

onde se lê ... todo o material radioativo será completa

mente liberado

leia-se ... grande parte do material radioativo será

liberado

PAGINA 16:

49 Parágrafo:

ond» se lê ... níveis de ordem de 70 a lüOmR/h

leia-se - ... níveis entre 70 e lOOpR/h

onde se lê ... até 12 vezes superiores aos limites má-

ximo* admissíveis

leia-se ... até 12 vezes superiores ã radiação de

fundo

PAGINA 28:

39 Parágrafo:

onde se lê ... numa quantidade de até 10% daquele dos

iodos

leia-se ... numa quantidade bem superior aquela re-

lativa aos iodos

Page 4: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

NOTA INTRODUTÓRIA

Mais de 40 anos já foram decorridos desde que a primeira

reação em cadeia foi obtida em um laboratório da Universidade

de Chicago. A produção pioneira de energia elétrica de ori-

gem nuclear ocorreu há mais de 35 anos. 350 reatores nuclea

res de potência foram instalados no inundo, 150 unidades es-

tão atualmente era fase de construção e bilhões de pesuoas se

beneficiam desta formidável fonte de energia. Até recentemen-

te, não se conhecia ura único caso de acidente fatal envolven-

do trabalhadores de um reator industrial e nenhum indivíduo

do público havia sido tocado, mesmo levemente, pelos efeitos

prejudiciais desta energia quando utilizada para produção nú-

cleoelétrica.

Naturalmente, tal nível de segurança, recorde quando com

parado com outras atividades industriais, não é simplesmente

o resultado dos caprichos do acaso. Ele é fruto de uma filoso

fia de trabalho, de uma concepção industrial que favorece a

proteção dos trabalhadores, do público e do meio-arbiente, a

través da adoção de mecanismos de segurança cada vez mais efi

cazes, usualmente redundantes, em todas as instalações que m£

nipulam materiais radioativos, da execução de programas contí

nuos de pesquisas no campo da segurança e do elevado nível de

formação dos trabalhadores especializados cia indústria nucle-

ar.

Mo entanto,a despeito de todas as medidas preventivas a-

dotadas, os acidentes em instalações nucleares podem ocorrer.

Mas, paradoxalmente, por serem tão raros, apresentam uma cara

cterística muito peculiar. Eles não se reproduzem, isto i, um

acidente que ocorreu hoje e certamente diferente daquele que

foi descrito no passado, apesar das condições se aparentarem

similares. Tal fato, um complicador naturalmente, sempre colo

ca problemas, particularmente paro aqutílos que têm a difícil

tarefa de "gerenciá-los". Os "gerentes" se sentem diante de

uma situação inédita, diferente daquela que foi teoricamente

discutida, analisada, e mesmo objeto de cálculos ,e programas

complexos.

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Tomei conhecimento do acidente de Chernobyl na manhã áo

dia 29 de abril, quando me encaminhava, para uma visita técivi

ca, ã Central Nuclear de Creys - Malville, êu raats^segura, s.na

lisada, estudada e criticada central existente na França, vis

to tratar-se de um reator do tipo super-regenerador (fast -

breeder) , de 1200 MVie, ou seja, o reator operacional deste ti

po mais potente existente no mundo. O rádio da viatura da Ele

ctricité de France (EDF), trazia notícias oriundas da Suécia.

Um elevado nível de radioatividade havia sido detectado, no

dia 28 de abril, em vários pontos do território sueco, pa£

ticularmente, na região onde se localiza a central de Fors

mark, no mar Báltico, justificando, inclusive, a evacuação de

600 trabalhadores daquela instalação. 0 elevado nível de ra-

diação (foi detectada uma taxa de até 12 vezes os valores

normalmente existentes no ambiente), a presença de certos pro

dutos de fissão e transurân.ícos (Cs , Cs , l , Mo ,95 107 143 239Zr , Ru , Ce , Np ' ) e a inexistência de qualquer teste

atômico programado para aquela data, levavam a crer que aJrjo

importante havia ocorrido na União Soviética, e que provável

mente estaria ligado a uma das centrais soviéticas existentes

no outro lado do Báltico. Uma maior anal is • dos dados lt-van-

tados em todo o pais bem como a confirmação de que a Finlân-

dia havia detectado no dia anterior n mesma elevação, acabou

desencadeando uma reação das autoridades suecas junto ã

U.R.S.S. no sentido de confirmar a ocorrência de um acidente

em uma das instalações da região, tendo esta confirmado o e

vento no decorrer do dia 28.

Passados 100 dias do acidente, as inforr-ações oficiais

disponíveis, se referem ao pronunciamento do líder soviético

Mikhail Gorbatchev na televisão estatal russa, ãs notas ofici_

ais emitidas pelas autoridades soviéticas e ietransmitidas pe

Ia Agência Tass e a declaração do diretor-geral da AIEA, Hans

Blix, ao final de sua visita, após haver sobrevoado o reator

acidentado.

Page 6: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

Ill

Os dados que fazem parte do nosso relatório preliminar, :

se baseiam nas declarações de autoridades francesas emitidas

alguns dias após o acidente (Tanguy e Cogné), nos relatórios

1 e 2 do Institut de Protection et de Süreté Nucléaire, de

discussões que mantive com o representante francês na OMS

(Nénot) e do testemunho do Prof. Jaratnet, consultor do Coramis- •'•

sariat ã 1'Energie Atomique (CEA), que esteve na União Sovie-ts

tica após o acidente, onde manteve contatos com representan- i

tes dos Ministérios da Saúde e da Indústria. Outros documen-

tos consultados constam do item Referências Bibliográficas.

jAcho oportuno esclarecer que o presente documento foi o ;

riginalmenfce concebido para ser divulgado entre os integrar* '.

tes da Ãrea de Saúde da NUCLEBRÃS, razão pela qual alguns !

tópicos foram tratados genericamente. A própria formação pro ;

fissional do autor, um radiopatologista, o impediu de refle :

tir profundamente sobre os aspectos conceituais do reator e

outros pontos que exigem conhecimento e formação prévia na ma

teria. Não obstante, com vistas ã elaboração de um relatório

mais concludente sobre o acidente de Chernobyl, gostaríamos

de contar com a colaboração de colegas do setor nuclear vi-

sando corrigir as imperfeições e conhecer detalhes que nos

permitam analisar mais objetivamente os fenômenos que antece-

ceram e sucederam esse grave acidente.

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Í N D I C E

I - SlTIO DE CHERNOBYL

II - A CENTRAL NUCLEAR DE CHERNOBYL

III - O ACIDENTE

IV - EXTINÇÃO DO INCÊNDIO

V - MEDIDAS ADOTADAS PELOS SOVIÉTICOS NOTTC1VL DO ACIDENTE

VI - TERMO-PONTE - ESTIMATIVA DO REJEITO

VII - AS CONDIÇÕES METEREOLOGICAS NO DIA DO ACIDENTE

VIII - AS VÍTIMAS E O ATENDIMENTO MÉDICO

IX - ASPECTOS SANITÁRIOS E CONSEQÜÊNCIAS Ã MÉDIO E LONGO

PRAZO SOBRE A POPULAÇÃO ATINGIDA

X - AVALIAÇÃO DAS DOSES RECEBIDAS A CURTA E MÉDIA DISTÂNCIA

XI - POPULAÇÃO DA REGIÃO ATINGIDA

XII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

XIII - ANEXOS:

I - Comunicado oficial do Conselho de Ministros da URSS

II - Declaração do Diretor-Geral da Agencia Internacio-

nal de Energi s Atômica du • ate uma entrevista cole_

tiva em Moscou, no dia 09 de maio.

III - Pronunciamento do Secre?ário-Geral do Partido Co-

munista da URSS, Mikhail Gorbatchev, na Televi -

são Russa, em 14 de maio.

Page 8: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

StTIO DE CHERNOBYL

A central nuclear do Chernobyl so encontra no limite

norte da Ucrânia, uma das repúblicas mais importantes da

URSS, e sua dimensão pode ser comparada grosseiramente com

o estado de Minas Gerais, apresentando uma população de apro

ximadamente 50.000.000 de habitantes. A central acidentada,

localizada a 15 km da divisa com a Bielo Rússia, foi constru

Ida â margem direita do rio Pripyat, afluente do rio Dniepr.

A cidade de Chernobyl encontra-se a 14 km ã sudeste da cen

trai e a cidade de Kiev, ao sul, a cerca de 100 km de distãn

cia (Figura 1).

Todo o sitio se situa numa região denominada Polésia

(região de florestas), sendo entrecortada por uma rede de a

fluentes da margem direita do rio Pripyat, que se estende do

"oblasto" de Gomei até uma boa parte do "oblasbo" de Brest.

A região é considerada pobre em terras férteis, es tan

do distante dos campos de trigo existentes na maior parte da

superfície agricultavel da Ucrânia Central. A existência de

pântanos e de áreas de baixo valor comercial associada ã posi

ção relativamente próxima da cidade de Kiev, econômica e demo

graficamente a mais importante da região, parecem justificar

a escolha daquele local para sediar uma central nuclear. A re

gião é, portanto, mais agrícola que industrial.

Chernobyl é servida por uma estrada de ferro que faz

a ligação Tchernigov - Ovrutch, estando,entretanto, afastada

das principais rodovias.

II A CENTRAL NUCLEAR DE CHERNOBYL

A central nuclear de Chernobyl é composta de 4 reato-

res - Chernobyl 1, 2, 3, 4 - do tipo RBMK, iniciais das pala

vras russas que significam reator de grande potência a tubos

de pressão, que apresentam 1000 megawatts de potência cada um,

tendo sido comissionados respectivamente em 1977, 1978, 1981

Page 9: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

POPULAÇÃO VIZINHA AO REATOR ACIDENTADO

LITUÂNIA

RESERVATÓRIO KIEV

KIROVOSftAO

DNEPROPETROVSK

<S>

LEGENDA

POPULAÇÃO

> 1 MILHÃO

300.000 A t MILHÃO

100.000 A 300.000

30.000 A 100.000

< 30.000

M» í f lnl»f(»8fí»: Mt»A».t> THI6UNE, «AT 5, »»B* - f

Page 10: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

e 1983. Duas unidades suplementares estão sendo construídas

no raesmo sitio e estavam previstas para serem entregues em

1986 e 1988, respectivamente. A unidade acidentada, a de

número 4, ê geminada com a de numero 3, o mesmo ocorrendo

em relação ãs unidades 1 e 2.

O reator RBMK é arrefecido com água leve e moderado

com grafite. De concepção inteiramente soviética, só ê en

contrado na URSS, não tendo sido objeto de exportação nem

mesmo para os países do leste europeu. Ê considerado pelos

especialistas ocidentais como sendo um reator rústico e pou

co econômico. Apresenta algumas características similares

ao reator do tipo B1O (Figura 2) .

O núcleo do reator (180 toneladas de oxido _de urânio

pobremente enriquecido - 1,8% a 2%) é formado por um empi

lhamento de grafite, em forma de blocos de 25 cm de compri^

mento, de elementos combustíveis e dos chamaâos "tubos de

pressão" .Todo o conjunto mede 12 metros de diâmetro e 7 IP.ÇÍ

tros de altura. A massa total de grafite, 2500 blocos apro-

ximadamente, é atravessada verticalmente por 1883 canais,

sendo 1661 utilizados para acondicionar os elementos combu£

tlveis e os 222 restantes concebidos para receber as barras

de controle. A água que atravessa os canais é aquecida quan

do em contato com os elementos combustíveis até a produção

de vapor, ligeiramente radioativo como nos reatores do tipo'

BWR. o vapor movimenta dois turbo-alternadores de 500 mega

watts de potência cada um. A pressão da água que circula pe

los cubos de pressão é de 65 bars e a temperatura do siste

ma atinge normalmente 2309.

Iguais ao reator acidentado existem 12 unidades já

instaladas na URSS (Quadro I) as quais, na verdade, são des

cendentes diretas da primeira central nuclear russa -

Obninsk - cuja operação foi iniciada em 1954. Uma central

de 1500 megawatts está sendo construída em Drukshai, na Li-

tuânia (Ignalina I) e u;n projeto de uma superunidade d<j

2500 megawatts transitava até recentemente no terreno das

especulações.

Page 11: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

DIAGRAMA DO REATOR DO TIPO "RBMK"

I - REATOR

2 - PILHA DE GRAFITE

3 - PROTEÇÃO BIOLÓGICA

4 - CANAIS DE COMBUSTÍVEL

5 -TAMBOR SEPARADOR{rapar de água)

6 - TURBINA GERADORA

7 - EJETOR ( i ir bino )

0 - CONDENSADüR

9 - LIMPEZA DE RADIOATIVIDADE CONDENSADA E IMPUREZAS

10 -DESAREADOR

11 -BOMBA PARA FORNECIMENTO AUXILIAR DE ÁGUA

12 - REMOÇÃO DE IMPUREZAS POR TROCA IONICA

13 -BOMBA PRINCIPAL DE CIRCULAÇÃO

14 - CHAMINÉ' DE VENTILAÇÃO

15 - FILTRO DE AEROSOL

16 - TANQUE DE GAS (esfocagem para diminuição da radioatividade)

17 -ABSORVEDOR DE DIOXIDO DE CARBONO, MONo'xiDO DE CARBONO, NITROGÊNIO E AMONIA

IB - COMPRESSOR

19 - FILTROS DE AEROSOL E IODO ( fi'troi ohsolufos f

Page 12: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

QUADRO I

REATORES DO TIPO "RBMK11

EM FUNCIONAMENTO NA URSS

CENTRAL

AES-1 OBNINSKBELOYARSK-2CHERNOBYL-1CHERNOBYL-2CHERNOBYL-3CHERNOBYL-4DRUKSHAI IGNALINA-1KURSK-1KURSK-2KURSK-3KURSK-4LENINGRAD-1LENINGRAD-2LENINGRAD-3LENPIGRAD-4SMOLENSK-1SMOLLNSK-2

POTÊNCIA

6/ 5200/ 185

1000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501500/14501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 950

INICIODE OPERAÇÃO

05.195411.196708.197711.197806.198112.198310.198309.197612.197808.198311.198509.197315.197509.197912.198012.198204.1985

INTERLIGADAAO SISTEMA

27.06.195429.12.196729.09.197722.12.1978" 12.1981

21.12.198331.12.198320.12.197626.01.197919.10.198307.12.198521.12.1973

07.197507.12.197909.12.1981

12.198205.1985

EM CONSTRUÇÃO NA URSS

CENTRAL

CHERNOBYL-5DRUKSHAI-IGANALINA-2KOSTROMA-1 (JAROSLAV)SMOLENSK-3CHERNOÜYL-6KOSTROMA-2 (JAROSLAV)SM0LEN3K-4

POTÊNCIA

1000/ 9501500/14501500/14501000/ 9501000/ 9501500/14501000/ 950

INICIODA CONSTRUÇÃO

1981197819811981198219831982

* Reato mode rodo com grafite e arrefecido com oguo leve a tu boi de pressão.

Page 13: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

Ill O ACIDENTE

O acidente teve lugar na unidade número 4 da central nu

clear de Chernobyl, no dia 26 de abril, sábado, ã Ih23m (hora

local), guando o reator operava a 7% de sua potência. Explo-

sões provocaram um incêncio na casa de máquinas, produzindo

labaredas de até 30 metros de altura, descritas como semelhan

tes a uma chama de maçarico. Os eventos que redundaram na des

truição do reator foram relatados por Mikhail Gorbatchev, Se

cretãrio-Geral do Partido Comunista Soviético, em pronuncia

mento na televisão estatal russa, no dia 14 de maio. (Anexo

III). O trecho central do discurso, pouco elucidativo por

sinal, pode ser transcrito da seguinte forma:

"... O acidente teve início quando a potência do rea-

tor inesperadamente aumentou durante a paralização da quarta

unidade. A emissão de vapor e a subseqüente reação provocou a

liberação de hidrogênio, sua explosão, destruição do núcleo e

conseqüente liberação de materiais radioativos. A explosão a

lim de causar a destruição do núcleo do reator gerou um incêri

dio no teto da casa de máquinas onde se encontravam os meca-

nismos empregados para a recarga do combustível ..."

Informações adicionais dão conta de que parte do prédio

do reator ruiu junto com o sistema de recarga, o que teria

comprometido seriamente o núcleo do reator, havendo, inclusi

ve, destruição parcial cio sistema de arrefecimento da porção

superior do núcleo e perda de líquido refrigerante. Inúmeras

tentativas no sentido de se injetar liquido refrigerante no

segmento inferior do núcleo foram realizadas visando reduzir

a temperatura do sistema, mas foram frustradas devido ã iru

possibilidade de recirculação do mesmo. Deve-se acrescentar

que, concomitantemente, surgiram problemas incontornáveis no

sistema de alimentação elétrica.

A impossibilidade em se controlar a temperatura da reas_

sa de grafite acabou permitindo sua combustão, com posterior

fusão dos elementos combustíveis. O cõrio resultante, isto 5,

o núcleo e estruturas metálicas diversas fundidos, ameaçaram

destruir a base de concreto onde se assenta normalmente o nú-

Page 14: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

cleo do reator, o que certamente teria provocado uma importan

te e incontrolável dispersão de radioatividade no ambiente. A

combustão aparentemente só foi detectada 3 dias apôs o início

do acidente e o incêndio sõ pôde ser "estabilizado" ao final

de 5 dias.

A segurança da área pôde ser mantida graças ao ininter-

rupto trabalho realizado pelas equipes soviéticas encarrega-

das em esvaziar e posteriormente concretar a câmara de supres^

são de pressão que, no reator do tipo RBMK, se localiza s< b a

base de sustentação do núcleo do reator. Normalmente» aquela

câmara está repleta de água. Caso o cório tivesse caldo nessa

cavidade teria provocado aquilo que os especialistas chamam

de explcsão-vapor, interações extremamente violentas entre a

água e os materiais em fusão, que poderiam provocar a destrui^

ção de todo o prédio do reator e a dispersão do cório no ambi

ente, o que agravaria consideravelmente a magnitude da catás-

trofe.

A reação em cadeia que se desenvolvia no interior do re

ator foi automaticamente neutralizada e tal fato pôde ser po£

teriormente confirmado devido a inexistência de produtos de a~ 24

tivaçao neutronica, particularmente o Na , no organismo dasO A

vítimas do acidente. O Na é o resultado da ativação por neu23trons do Na , estável e normalmente encontrado nos líquidos

corporais. Sua presença pode ser detectada pelo raio y que

emite.

Qual teria sido a seqüência dos eventos que provocaram

a explosão inicial? Autoridades francesas, uma semana após a

catástrofe, apresentaram ã imprensa uma seqüência plausível

para o acidente, que aqui resumimos em dez fases:

Fase 1: Ruptura do circuito primário.

Fase 2: Parada da turbina e das turbo-bombas de circu-

lação.

Fase 3: Superaquecimento do combustível.

Fase 4: Vaporização da água nos tubos do pressão e, (;ven

tualmente, excursão crítica devido ao coefici-

Page 15: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

8

ente de gS?^» positivo.

Fase 5: Reação Zircônio - H20 a partir de 12009(H2).

Perda da estanqueidade do núcleo devido ã ru£

tura da laje de concreto que se situa imedia

tamente acima do reator.

Fase 6: Fusão parcial do combustível e liberação dos

primeiros rejeitos importantes, ocorridos ain

da no sábado, 26.04.

Fase 7: Aquecimento dos tubos de pressão.

Fase 8: Aumento da temperatura do empilhamento do gra_

fite a 12009.

Fase 9: Inicio de incêncio do grafite (entrada de ar

pelo coletor rompido).

Fase 10: Inicio das tentativas de se extinguir o incên

dio pelos bombeiros. Explosão vapor e/ou H?,

com vitimas e destruição.

Em relatório distribuído pelo Institut de Protection

et dí Stireté Nucléaire do Commissariat ã 1'Energie Atomique,

datado de 21.05.86, os especialistas do referido Instituto le

vantaram a possibilidade de ter ocorrido uma obstrução de ura

dos sub-coletores de entrada do núcleo, na madrugada do dia

25.04, que teria provocado uma importante redução na transfe

rência de calor de 25 ou 30 canais relacionados ao mesmo. Tal

obstrução teria ocasionado uma elevação anormal da temperatu-

ra daquele setor, que se estenderia ãs demais partes do rea

tor até ã ruptura dos encapsulamentos do? elementos combustí^

veis e, em seguida, dos tubos de pressão.

Uma quantidade significativa de vapor d'água, bem como

de H-, oriundo da reação Zr-H-0, foi liberada no interior do

envoltório do reator, usualmente estanque e repleto de uma

mistura de He e Ne, destinada a evitar toda e qualquer oxi_

dação. Esse envelope, não tenco sido concebido para suportar

pressões, se rorape imediatamente. 0 hidrogênio e o vapor à^_

água atingem locais onde normalmente são baixas as pressões,

Page 16: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

sendo que o primeiro se localiza preferencialmente nas partes

altas do sistema, particularmente sob a laje onde se proces

sam as recargas e nas porções elevadas do circuito ãgua-vapor.

Estas condições possibilitariam a explosão do prédio do

reator ainda no dia 25.04, às 21h23m, hora locai, comprometen

do o circuito primário e causando um incêndio, que por sua

vez atingiria todo o sistema de alimentação elétrica externa.

Tal comprometimento inviabilizou, segundo o mesmo relatório,

qualquer tentativa de refrigeração do núcleo do reator. Houve,

como era de se esperar, uma elevação da temperatura dos ele

mentos combustíveis até atingir o limiar de reação exotêrmica

entre o Zr e a água (1200 ). A ruptura generalizada dos enca£

sulamentos dos elementos combustíveis justificou,segundo as

mesmas fontes, o aumento significativo da atividade observada

entre 04 e 05 horas do dia 26.04, fato este que veio a ser

confirmado pelas autoridades soviéticas mais tarde. É quase

certo que esse aumento de atividade tenha provocado o alarme

no dia 28.04 na central nuclear sueca de Forsmark.

IV EXTINÇÃO DO INCÊNDIO

Dificuldades consideráveis para debelar o fogo foram en

frentadas pelos grupos de combate a incêndio, cujos membros

vieram a se constituir nas principais vitimas do acidente. A

impossibilidade na utilização de água e produtos químicos, o

risco devido ã intensa radioatividade existente na área do

reator, o caráter inédito do acidente, acrescido da fusão do

betume que recobria o piso de certas partes do prédio e que

dificultaram enormemente a locomoção dos bombeiros, retarda-

ram consideravelmente o controle da situação.

Face ãs condições tão desfavoráveis para o trabalho das

equipes de bombeiros, optou-se pela utilização de helicópte

ros militares especiais, que derramariam nos dias subseqüen-

tes pelo m<-ios 5000 toneladas de areia, chumbo, argila e boro

sobre o que restou do reator. Erros em tais lançamentos, rea-

lizados de uma altura considerável tendo em vista o risco de

Page 17: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

10

exposição de suas tripulações, puderam ser posteriormente ~ons

tatados através de fotografias aéreas, que evidenciavam a exis

tência de enormes buracos nos tetos do prédio onde se situavam

as turbinas e de edifícios vizinhos.

Autoridades soviéticas informaram que o incêndio só foi

estabilizado 5 dias após o seu início, mas informações poste

riores, inclusive fotos obtidas de satélites, nos pemitem di_

zer que o controle completo da situação só ocorreu 2 semanas

após.

Naquele período, autoridades suecas e alemãs foram con

sultadas a respeito da possibilidade de ajudarem no combate ao

incêndio. Possivelmente os ingleses também o foram, pois são

os únicos que detém experiência no combate a incêndio em cen

trais nucleares que utilizam grafite (o incêndio no reator de£

tinado â produção de plutônio militar de Sellafield, nome com

o qual foi rebatizado Windscale, foi combatido com relativo su

cesso em 1957 após 2 dias de trabalho).

A empresa alemã Atom Forum foi consultada se poderia par

ticipar do controle da massa em fusão no interior do reator.

Com objetivos aparentemente semelhantes, dois robots de origem

alemã foram adquiridos para atuarem em ãreas de grande radioa-

tividade. Teleguiados por meio de um rádio e com raio de ação

de 1 km, foram especialmente previstos para trabalharem em

centrais nucleares acidentaaas onde é impraticável o apoio

do homem devido aos índices elevados de radiação.

Page 18: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

11

V MEDIDAS ADOTADAS PELOS SOVIÉTICOS NO LOCAL DO ACIDENTE

Além das providências destinadas a estabilizar e extin

guir o incêndio, outras ações, de grande envergadura, foram e

xecutadas pelos soviéticos visando impedir um maior impacto an

biental. Tudo indica que, passados alguns dias do evento, a

maior preocupação das autoridades soviéticas foi exatamente e

vitar uma progressão do côrio no solo e,com isso, impedir que

o mesmo atingisse lençóis d'água. Os riscos de tal progressão

eram por demais evidentes, particularmente pela possibilidade

da massa do núcleo em fusão atingir cursos d'água subterrâneos,

sabidamente interligados com extensa bacia fluvial e lacustre

existente na área. Aquelas ações visavam também preservar as

demais instalações nucleares existentes no sitio," ou seja, os

3 reatores remanescentes e as 2 unidades em construção.

Tais medidas, caracterizadas por empregarem um elevado

número da homens e inusitados equipamentos, começaram a ser

realizadas no início do mês de maio, quando o incêndio foi es-

tabilizado. As mais importantes e que se incluem no escopo do

presente relatório se destinavam a:

a) reforçar o confinamento dos produtos radioativos na

parte inferior do reator através da obturação das

tubulações.

b) esvaziar o conteúdo em água da câmara de supressão

de pressão existente sob o bloco do reator e, pos-

teriormente, concretã-la, evit?.ndo assim o desenca-

deamento da reação do cõrio com a água. Homens-rãs

e técnicos da própria central foram empregados na-

quela que veio a ser considerada uma ãas mais dif.£

ceis e arriscadas tarefas, caracterizada pela aber-

tura de válvulas destinadas ao esvaziamento da refe

rida câmara. O ''iquido, recuperado através do uso

de caminhõfíS-tanque, pôde ser posteriormente estoc^

do.

Page 19: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

12

c) abertura de galerias, de 6 metros de profundidade

e 160 metros de extensão, visando a pelo menos 2

objetivos:

1. reforçar o dispositivo já utilizado para con

ter a progressão do cõrio;

2. impermeabilizar o solo através da injeção de

concreto a partir desta galeria, com isto evi-

tando a fuga de radionuclídeos de roeia-vida lon

ga (Sr90, Ru 1 0 6, C s 1 3 7 , Cs 1 3 4) em direção aos

lençóis freáticos.

d) construção de uma profunda contenção em concreto,

daquelas empregadas em trabalhos geotêcnicos, de£

tinada a:

1. preparar um confinamento para a água contamina

da existente no interior da instalação e aju-

dar na contenção da progressão do cório;

2. barragem do lençol d'água para limitar uma

poluição já observada.

e) injeção de azoto líquido no solo destinada a "con

tjclnr" uma certa área cm tomo thi contrai, com

isso evitando a migração de produtos radioativos

em direção aos lençóis freáticos.

VI TERMO - FONTE-E5TIMATIVA DO REJEITO

A avaliação do termo-fonte foi obtida através da análi^

se das características do reator, do cenário plausível para

o acidente, das medições de radioatividade realizadas cm vá

rias regiões da Europa e considerando as condições mctereoló

giras cie toda a área afetada pela radiação.

1. Avaliação do termo-fonte baseada noa caracteristi

cas da instalação acidentada e no cenário do aci-

dente.

Page 20: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

13

Ao contrário da maioria dos reatores construídos no Oci-

dente, as centrais nucleares russas do tipo das existentes

em Chernobyl, não apresentam o envoltório de contenção, que

vem a ser a terceira e última barreira de proteção. Caso ha

ja a perda da estanquei da de das duas primeiras barreiras de

confinamento do núcleo do reator, isto é, dos encapsulamen

tos dos elementos combustíveis e dos tubos de pressão, toèo

ixa-Xt Jo material radioativo será completamente liberado para o ex

terior, visto que o teto do prédio não foi concebido para re

ter materiais radioativos que, eventualmente, escapem de um

reator danificado como foi o caso do acidente de Three Mile

Island.

Apesar de estarmos plenamente cientes que a maioria dos

aspectos concernentes à evolução dos eventos que- antecederam

e sucederam o acidente não são até hoje conhecidos, podemos,

para efeito de estimativa, considerar o quadro mais pessimii»

ta. Em outras palavras, que houve fusão total do núcleo ão

reator em um tempo muito curto, que as temperaturas alcança-

ram valores nuito elevados e que todo o confinamentio foi pe£

dido.

Tais considerações somadas ao conhecimento de que o rea

tor operava apenas a 7% de sua potência, fato que já foi ofi_

cialmente aceito, permitiram que especialistas franceses che

gassem às seguintes conclusões:

a) se fosse integrada toda a radiação ambiental exis_

tente, o rejeito liberado estaria situado em to£

no de 10% do inventário do núcleo.

b) após um pico inicial significativo, ocorreu uma

liberação de produtos de fissão durante alguns d_i

as.

c) produtos não voláteis, como o neptúnio, puderam

ser liberados em quantidade significativa.

Page 21: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

14

2. Avaliação do termo-fonte baseada nas medidas de ra

dioatividade efetuadas na Europa e levando em con

sideração as condições meteteológicas no dia do a

cidente e nos dias subseqüentes (ver item VII).

O levantamento dos níveis de contaminação ambiental

na maioria dos países europeus, incluindo Espanha e Pcrtu

gal, se concentraram nas taxas de iodo e césio presentes

no arf na água de chuva, na vegetação, no leite de vaca e

em certos vegetais (espinafre, alface, couve-flor, brócolis,

repolhos, e t c ) . Os pontos medidos se localizavam a uma di:s

tãncia do local do acidente que variava de 1000 a 4000 km a

proximadamente. Os valores podem ser analisados no Quadro

II, que apresenta os dados fornecidos pelos países .europeus

ã Comissão da? Comunidades Européias(CEE), até o dia 21 de

maio de 1986, após uma solicitação que a CEE fez aos países

membros, sob os termos do artigo 36 do tratado da Euratom

(2).

3. Avaliação do termo-fonte total.

Considerando todas as variáveis mencionadas anterior^

mente, inclusive as incluídas no item seguinte (VII), as au

toridades francesas estimaram, numa avaliação bem prelimi.

nar, que o rejeito liberado no ambiente foi de pelo menos

10% do inventário do núcleo em produtos físseis voláteis (I,

Cs, Te, etc.,)> 80% do inventário em gases nobres, havendo a

inda uma quantidade significativa de rejeitos sólidos, ôeii

tre eles o Np. Isto representa algo em torno de 130 milhões

de Curies de gases raros, 30 milhões de Curies de iodos e

telúrios e 1 milhão de Curies de césios.

Posteriormente, com um conhecimento mais detalhado

da duração das liberações e tendo era vista as trajetórias

assumidas pelas nuvens radioativas, o conteúdo do rejeito

em césios foi alterado para 20% do inventário do núcleo.Con

siderando-se ainda as medidas efetuadas na Europa, particu-

Page 22: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

ÇUADRO II

NÍVEIS OE CONTAMINAÇÃO NA EUROPA DECORRENTES DO ACIDENTE DE CHERNOBYL

^ A M O S T R A S

tís ^ ^ \EMANHA (RFA)

ÉCIA

ANCA

ILANOIA

ÍLATERRA

IAMARCA

L6ICA

ÀNDIA .

'UA

RTUGAL

3ANHA

XEM8URG0

FX1A

" AR (Bq/m*)

I1"

4303

18

10

5

0,26

9

20-40

55

Cs'"

2

1,7

fi total

130

A'GUA (Bq/ I )

I1"

200-7000*

5000*

2300** *

1-13

Cs1"

500

0.20**5

*300

*297

LEITE (Bq/I)

500-1000

60

60

40

400

18

300

2Q9(12-400^

55-95

0.1

65

132(91-250)230 (vaca)

Cs 1 "

200-350

6

400

17,3(11,8-21.7)

i

VERDURAS (Bq/kg)

I.'" n

10000

2750*

200

525

1800

38(15-79)

90

1290

Cs1"

3000

5 ^

100

52(14-95}

10

115

VEGETAÇÃO (Bq/rrv

10000-30000

680

1000'

3700*

8000

2800

>2000

2600-3700

4 1

Cs ' "

2000-500C

69Z

100'

780*

5000

290

: Apresentamos apenas alguns dados que consideramos relevantes e que,na verdade, correspondem ãs medidas efetuadas entre os dias 29/04e 11/05 nesses países. Para maiores informações consultar referencias

1, 2, 3 e 4.

Bq/Kg.RinghalsSac layCadarachcHelsinkiKajaani

LEGENDA:água de chuva»

ãgua de torneira,

Page 23: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

16

larroente em relação aos iodos, verificou-se que estes foram

liberados em uma quantidade pelo menos 5 vezes menor que a

anteriormente estimada. Os especialistas franceses não de:L

xarara de estranhar a diferença de liberação existente entre

o I e o Cs, usualmente emitidos em proporções iguais. Ten

tam explicar tal fenômeno arguindo que erros nas medições

desses radionuclídeos pudessem ter ocorridos e que diferen

ças nos deslocamentos atmosféricos da pluiaa fossem também

responsáveis por tal diferença. Finalmente, não afastaram a

possibilidade de que os iodos tenham sido seqüestrados nas

partes superiores da instalação.

VII AS CONDIÇÕES METBREOLÕGICAS SO DIA DO ACIDENTE

As condições atmosféricas no dia do acidente e que

constavam da maioria das cartas metereológicas da Europa,as.

sinalavam a presença na região de Chernobyl (coordenadas

519 17' latitude Norte e 309 06' longitude Este), de zonas

de alta pressão bem como uma zona de baixa pressão entre a

Islândia e o noroeste da Europa e uma segunda zona sobre a

Escandinávia.

Ainda na região de Chernobyl predominou uma situação

anticiclone, caracterizada por ventos de baixa altitude mui.

to fracos, sem direção definida e nevoeiro noturno. A 1500

metros aproximadamente, os ventos sopravam de SSE a uma ve-

locidade de 8-10 m/s . As condições no solo não eram favo

rãveis ã elevação de rejeitos.

A Finlândia, decorridas 24 horas do acidente, detec-

tou na estação de Kajaani níveis da ordem de 70 a 100 mR/h

e a Suécia pôde detectar 48 horas põs-acidente, valores de

até 12 vezes superiores aos limites mãxinos admissíveis, em

uma região situada a 200 km ao norte da central nuclear de

Forsmark. Tais fatos permitem validar a velocidade dos ven

tos estimada pela metereologia bem como o fato de que a nu

vem ascendeu a uma altitude seguramente superior a 1000 rn£

tros.

Page 24: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

17

No decorrer do dia 26.04, sábado, os ventos de alta alti.

tude mudaram de direção, passando a soprar de leste, o que

levou a nuvem a se deslocar em direção ã região ocidental da

Europa. No domingo, 27.04, os rejeitos liberados se desloca-

ram primeiro na direção oeste e então para o sul, atingindo

a República Democrática da Alemanha, Polônia, Tchecoslová

guia, Hungria, Áustria, a região sul da Alemanha OcidentaL

Suíça e norte da Itália.

Simplificadamente, podemos dizer que a nuvem radioativa

pode ser classificada, segundo a direção tcmaáa, em 5 grupos

(ver também figuras 3 a 10) (*)

1. Regiões atingidas: Escandinávia, Finlândia,.Mar Bã_l

tico.

Emissão do rejeito: 26 de abril.

Chegada da nuvem: 27 - 30 de abril.

2. Regiões atingidas: Europa Central, Sul da Alemanha,

Itália e Iugoslávia.

Emissão do rejeito: 27 de abril.

Chegada da nuvem: 2 ti de abril - 2 de maio.

3. Regiões atingidas: Ucrânia e regiões situadas ã les-

te.

Emissão do rejeito: 28 - 29 de abril.

Chegada da nuvem: 28 de abril - 2 de maio.

4. Regiões atingidas: Balcans, Romênia e Bulgária.

Emissão do rejeito: 29 - 30 de abril.

Chegada da nuvem: 4 de maio.

5. Regiões atingidas: Mar Negro, Turquia, Grécia e Is-rael.

Emissão do rejeito: 1 - 4 de maio.

Chegada da nuvem: de 2 de maio em diante.

(.*) As cartas metereologicas foram baseadas en informações do

The Swedish Metereological and Hydrolocjical institute(SMHl)

Page 25: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

3a

IfDCSLOCâMtNTO O* M.U1U A:Z> TEMPO DC DESIOCAUCMTO M M O Hl'vtL ISOO»31 INCCKTlTUOf EM *£LAÇr.O AO NIVtL 1500»

DDCSLOCAMCHTO 3* PLUM* A:

2) TCH»O Ot Dt*L0C»«l1T0 PA*» 0 Nlvfl3) IXCtlmruDI t » fCLIÇÃO »O Xi'vtV

ífVtOO A VC1T0Í r»*C05 f Miia' /£H

16

F i g u r a 3 i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y l nosp r i m e i r o s d i a s p ó s - a c i d e n t e .

3 a ) s á b a d o , 2 6 d e a b r i l , 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .

3 b ) s á b a d o , 2 6 d e a b r i l , 1 2 : 0 0 b ( h o r a l o c a l ) .

Page 26: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

IIDCSIOCAVFNIO D» PIUWA «:

2) TEUPO DE DESLOCAMENTO PAH» O Nl 'vl l 1100m31 IHCtHtltUOE CM HClAÇÃO «O WlWl. 1 5 0 0 -

Cf.VIDO A WfHft'S FDACOS E VARtV

F i g o r a ') i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t t rr a d i o a t i v o l i b e r a d o d o r e a t o r d e C h e r n o b y l e n t r e o s á b a d od e a b r i l e t e r ç a - f e i r a , 23 d e a o r i l .

ba) d o m i n g o , 2 7 d e a b r i l , I 2 : 0 0 h ( h n r a l o c a l )

** b ) s e g u n d a - f e i r a , 2 8 d e a b r i l , 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l .

27

Page 27: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

5a

I) DESLOCAMENTO 0* «.UMA A:

2ITEMP0 DE DCSLOCAMEnrO « < * O NÍVEL. 19005) iHcenriTuoE EM RELAÇÃO AO NI'VSL U O O »

DEVIDO A VÍNTO5 FRACOS E VARIÁVEIS

5b

DDfSLOCAUINTO

2) TEMPO OE BCSLOOUlsrO P»»» O Nl'vEL 1500»»)INCEHTITUDE EM KfLAçio AO H'VCL I1CO«

CEViBO A VIHTOS fí»«CCrt E v»»>.VvilS

20

Figura 5 il u s t r a o m o v i m e n t o na atmosfera de q u a l q u e r materialr a d i o a t i v o que tenha sido l i b e r a d o pelo reator de Chernobyl nosp r i m e i r o s d i a s p õ s - a c i d e n t e .

5 a ) s á b a d o , 26 de a b r i l , entre 12 e 24h (hora l o c a l ) .

5 b ) d o m i n g o , 27 de a b r i l , 0:00h (hora l o c a l ) .

Page 28: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

6a

6b

DntSl.0Ci-H.NTO DA PLUM» A: ~SZ7ZZ S "

I ) TCUMO 0E Df'.iClCAMtHfO PAHA C Nl* • i. 1500 m • 24 h>ilmc-Kiirvoc rv "ti*;Ão JO »i'y:t i » .

OílVIüO A V£ST95 FR4C0S C VAWt.vj(-:"i

21

i ( TEUPO or tirSLOCflnewro I-AO* p m'vti.iiiHCEnnrudc t« RCLAÇÍO to I Í V . >ÍOO

II»I;H> A VLNH"; tnArns c vi»

F i g u r a 6 i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y l e n t r e a s e g u n d a -- f e i r a , 2 8 d e a b r i l e a t e r ç a - f e i r a , 2 9 d e a b r i l .

6 a ) s e g u n d a - f e i r a , 2 8 d e a b r i l , à s 1 2 : O O h ( h o r a l o c a l )

6 b ) t e r ç a - f e i r a , 2 9 d e a b r i l , a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .

Page 29: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

7b

22

— rtOm2)TC«PO P£ DÍW.OCA-EKTO P4KA0 NWCL I5O0P< — — • « h»S) IMf ATITUDE CM aClAÇtO AQ h'vU. I M O »

DCVtDQ A VKMT05 FRACOS E MAAIAVEIS •

HIVll.i)l«Ci'»T|TUOt f « HflíÇÃÍ. «3 Nl'vtr.

Dtvix) A vimos mico* C v*«i«Vtis

Figura 7 i l u s t r a o movimento na atmosfera de qualquer ma te r ia lr a d i o a t i v o que tenha s ido l i b e r a d o pe lo r e a t o r de Chernobyl e£t r e t e r ç a - f e i r a , 29 de a b r i l . e a q u a r t a - f e i r a , 3 0 de a b r i l . ~

7a) t e r ç a - f e i r a , 29 de a b r i l , ãs 12:00n (hora l o c a l ) .

7b) q u a r t a - f e i r a , 30 de a b r i l , a 0:00h (hora l o c a l ) .

Page 30: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

8a

8b

D DESLOCAMENTO DA PtUUA A:

Í ) IIM»I> IE DESLOCAMENTO PA»A ;0 fclVfl I W O » — • 24 I»MlNCtlHlfUOE EM Rtl 4IJÂ0 fíi NIVEL I W O »

OCVfüO A VChTOS FR.tCCS V. VADIAVEIS

• **r>>M-.utaO/>«B«

23

F i g u r a R i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y l e nt r e a q u a r t a - f e i r a , 3 0 d e a b r i l e a q u i n t : - f e i r a , 1 Ç d e m a i o .

8 a ) q u a r t a - f e i r a , 3 0 d e a b r i l , S s 1 2 : 0 0 h ( h o r a l o c a l )8 b ) q u i n t a - f e i r a , 1 9 d e m a i o , a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .

Page 31: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

9a

9b

I ) DESLOCAMENTO D* *. UMA A:

Z) TEMPO DE DESLOCAMENTO PARA O Nt*VEL ISOOm3> INCERTITUDE CM RELAÇÀ» AO Ml'vEL l»OOw

DtVtOO A VENTOS FRACO'* f VAKIAVglS

24

3 DA FLU»» »'

2> TEN»O OE OlJlOCANtNTO P4*» O Xl 'v l t 1500*3)IMCt*rirKí>t £« «tlAÇÃO »0 K I V ' L 1500 •«

Dtvioo * vexto» rpucfrt e V*»>»'VEII • <#Tl|r«- ^tfO/tTl!

F i g u r a 9 i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y le n t r e a s e x t a - f e i r a , 2 d e m a i o e o s á b a d o , 3 d e m a i o .

9 a ) s e x t a - f e i r a , 0 2 d e m a i o , a 0 ; 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .

9 b ) s á b a d o , 0 3 d e m a i o , a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .

Page 32: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

10a

10b

C EM BtlAÇÃO «O N-VíLDCVIDO * VENTO? FRACOS t WWMVfl*

JMNCfRTlTuC! t » flFLA."T «9 NIW'l PSMln

3

ir

F i g u r a 1 0 i l u s t r a o m o v i m e n t o na a t m o s f e r a d o q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o d o r e a t o r d e C h e r n o h y i e n -t r e o d o m i n g o , 1 d e m a i o e a s e g u n d a - f e i r a , 5 d e m a i o .

1 0 ) d o m i n g o , 0 4 d e m a i o a 0 ; 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .

1 0 b ) s e g u n d a - f e i r a , 0 5 d e m a i o a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l )

Page 33: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

26

VIII AS VITIMAS E O ATENDIMEKTO MÉDICO

Oficialmente foram declaradas 304 vitimas, referidas

genericamente como "feridas" e "irradiadas". Destas, se con-

siderarmos a última informação oficial soviética (19.07.86),

28 já faleceram e 200 permaneciam hospitalizadas devido à ir_

radiação. Tal estatística inclui, naturalmente, o técnico da

central que faleceu em decorrência do desabamento de estrutu

ras de sustentação do reator e um bombeiro, vítima de queima

duras térmicas múltiplas. Estas 2 mortes, reconhecidas publi

camente pelas autoridades russas como decorrentes de efeitos

não radiológicos, ocorreram nas primeiras 48 horas do acideri

te. 204 vítimas foram hospitalizadas imediatamente após o e-

vento e, na verdade, faziam parte das equipes que haviam lu

tado para debelar o incêndio no prédio do reator. As doses

de radiação recebidas variaram, segundo depoimentos de espe-

cialistas russos ã AIEA, de lSv (100 Rem) a mais de 7,5 Sv

(750 Rem). Pelo menos 20 pessoas receberam doses da ordem de

lOSv (1000 Rem) e puderam ser consideradas como sem possibi-

lidade de recuperação (elas viriam a apresentar algum tempo

mais tarde um complexo quadro clínico, dominado pela chamada

síndrome do sistema nervoso central). No decorrer do mês de

maio mais 100 pessoas vieram a ser hospitalizadas.

Face ao elevado número de vítimas e a complexidade e

gravidade dos quadros clínicos apresentados pelas mesmas, de

cidiu-se pela centralização do atendimento médico em uma üni

ca cidade, no caso Moscou, escolhida por dispor de recursos

humanos e materiais compatíveis com a situação. Informes pes_

soais dão conta de que um único hospital foi selecionado pci

ra receber todas as vítimas, o Hospital n9 6. As equipes me

dicas - falam em 3 centenas de profissionais convocados para

acompanhar os pacientes - foram coordenadas pela Dra. A. K.

Guskova, a mais alt.i autoridade soviética em Radiopatologia

e pelo Prof. Voroliev, membro da Academia de Ciências da

U.R.S.S.

Page 34: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

27

Tendo em vista o quadro henatologico dramático apresentado

por pelo menos 35 pessoas, decidiu-se pel i realização de uma

terapêutica compensatória, capaz de estimular o sistema san

gfiineo remanescente. Conhecido como transplante de medula õs

sear tal procedimento, apesar de tecnicamente simples, pode

apresentar complicações importantes, do tipo reação imunitã

ria, onde o transplante reage contra os tecidos da pessoa

que o recebeu, causando a morte de um elevado nvunero de paci

entes transplantados.

No acidente de Chernobyl tal terapêutica foi realizai

da por uma equipe da Universidade da Califórnia, coordenada

pelo Dr. Robert Gale, presidente do International Bone

Marrow Transplant Registry, organismo que reüne aproximada-

mente 130 centros de transplantes dt; medula óssea em todo o

mundo.

IX ASPECTOS SANITÁRIOS E CONSEQÜÊNCIAS A MÉDIO E LONGO

PRAZO SOBRE A POPULAÇÃO ATINGIDA

Se levarmos em consideração que uma grande área situ

ada em torno da central foi atingida, principalmente aquela

que correspondia ã trajetória observada pela nuvem radioati

va nos dias seguintes ao acidente, e que elevadas concentra-

ções de radionuclldeos foram detectadas no ar, na água, nos

produtos agrícolas e na vegetação, mormente os iodos a cési

os, podemos antecipar que : repercussões de natureza mêdico-sa-

nitíiria deverão ser objeto de análise e reflexão por parta

dan autoridades locais da Ucrânia e, mesmo, da União Soviéti

c. .

A evacuação rápida e precoce da população de Pripyat

e a extensão desta medida, nos dias subseqfie; :.e&, a outras

regiões circunvizinhas, reflete a preocupação dos soviéticos

em evitar uma contaminação maciça da população existente em

torno da central e o claro conhecimento de que os benefíci-

Page 35: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

28

decorrentes de uma operação desta magnitude c complexidade se

riam bem superiores aos riscos potenciais de uma contaminação

interna, via inalação e ingestão de materiais radioativos,par

ticularmente de crianças e gestantes, e de eventuais exposji

ções externas devido ã presença de radionuclldeos no solo e

em outras superfícies.

A curto prazo, os efeitos decorrentes da exposição

aos isótopos do iodo, especialmente o i , são os que geram

maior preocupação. A principal via de contaminação é repre-

sentada pela cadeia alimentar e o leite é, sem dúvida, o

principal alimento envolvido. 0 iodo ê captado pela glândula

tireôide e quando se trata de crianças, que consomem geral

mente leite fresco, o problema é mais grave. A carga de expo

sição é mais elevada do que em relação aos adultos principal-

mente porque o radionuclídeo é absorvido por uma tireõide

proporcionalmente menor, que recebe, entretanto, a mesma ex-

posição que receberia um adulto se a mesma quantidade de io-

do tivesse sido absorvida. Ê oportuno lembrar que a meia-vida

do I i curta (8 dias) e que decorridos algumas semanas de

sua liberação, a quantidade existente no ambiente é quase

nula.

à longo termo os efeitos ficarão por conta do césio

137, liberado nos primeiros dias põs-acidente numa quantiôa©e/w. ,>* W C \çSjZÍli?Q

de de—até^lô* áaquela/íêíiodos. Esse radionuclídeo apresen

ta uma meia-vida de cerca de 30 anos. Por ser capaz de se

fixar sobre produtos agrícolas, bem como de provocar uma ra

diação externa a partir do solo, o césio se configura atua_l

mente num importante problema de ordem médico-sanitária, pois

índices elevados foram detectados em algumas regiões da Uni-

ão Soviética e mesmo em regiões fronteiriças.

De qualquer forma, ainda é muito cedo para se

ar quantitativamente as conseqüências epidemiológicas, ã me

dio c longo prazo, para um importante contigente populacio-

nal afetado. Qualitativamente elas serão, certamente, de ca-

Page 36: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

29

ráter carcinogênico e teratogênico.

X AVALIAÇÃO DAS DOSES RECEBIDAS Ã CURTA E MÉDIA DISTANCIA

a - Devido a passagem da nuvem radioativa.

As estimativas de dose ã curta e ã média distância fo

ram baseadas em hipóteses e suposições e por isto devem ser

consideradas com a devida reserva.

Supondo que:

1) o rejeito apresentava 25% de gases raros e 5% de io-

dos e césios de todo o inventário do núcleo, valores que re-

presentam, na verdade, 1/4 do rejeito total estimado, sem in

cluir, naturalmente, o Neptúnio.

2) esta fração do rejeito total não ascendeu a elevadas

altitudes, atingindo somente 100 metros.

3) o tempo de resfriamento do núcleo não ultrapassou a

5 horas (hipótese pessimista).

4) as condições de difusão dos rejeitos eram normais e

que os ventos eram de 5 m/s.

5) haveria um fator redutor de dose equivalente a 5 de

vido a própria dinâmica dos ventos durante a fase mais impor-

tante da liberação de rejeitos.

Em tais condições hipotéticas as doses devido ã irra-

diação externa, do eixo do vento, quando da passagem da nu-

ven radioativa seriam as seguintes:

Page 37: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

30

Distâncias (Km)

1

2

5

10

30

50

iOO

Doses (Rad )

112

30

14

5

0,8

0,4

0,12

b - Devido ao depósito no solo â media distância.

Considerando as mesmas hipóteses mencionadas no

item anterior e ainda que os iodos e césios foram os produ-

tos de fissão mais importantes presentes no solo, chegaría-

mos aos seguintes débitos de doses:

Distancias(km)

1

2

5

10

30

100

Taxas de Dose(rad/h)

na 1. hora

2,8

7

3,3

1,2

0,2

0,03

19 dia

20,6

51

24

8,8

1,5

0,2

Taxas de Dose(rad/dia)

29 dia

7

17

8

3

0,5

0,08

Diárias

39 dia

5,6

14

6,6

2,4

0,4

0,06

49 dia

3,9

10

4,6

1,7

0,3

0,04

Page 38: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

31

XI POPULAÇÃO DA REGIÃO ATINGIDA

A população existente na área afetada é pouco conhe-

cida. Dados obtidos de diferentes origens, particularmente de

cartas de densidade rural, não indicaram a existência de agio

me rações populacionais num raio de 3 Km em torno da central. A

aglomeração mais próxima ê a cidade nova de Pripyat, locali-

zada ã Noroeste, um pouco além daquele limite. Ela abrigaria

segundo fontes diversas entre 5.000 a 20.000 pessoas.

Se levarmos em consideração as densidades populacio-, 2

nais médias no interior do "oblasto" de Kiev (65 hab/Km ) , po

demos inferir que a população, num raio de 5 a 10 Km em torno

da central, se situa entre 20 a 25.000 habitantes..

Entre 10 e 50 Km, as estimativas ocidentais se base:L

am nas densidades populacionais médias nos "oblastos" de Kiev2 2

(os 3a mencionados 65 hab/Km ), de Tchernigov (47,5 hab/Km )et 2

da Bielo Russia (42 hab/Km ), distribuidos em aproximadamente30 vilarejos com menos de 5.000 habitantes.

Tais dados nos permitem estimar que num raio de 50Km

em torno da central devem haver de 400.000 a 600.000 habitan-

tes, sem nenhuma concentração urbana expressiva.

Além de 50 Km, as cidades mais importantes parecera

ser Chojniki, ã 55 Km ao Norte, na Bielo Rússia, Ovrutch, 100

Km ã Oeste e, principalmente, Tchernigov, com 150.000 habitan

tes, localizada a 80 Km ã Leste da central. A cidade de Kiev,

com 2.500.000 habitantes, se localiza a 100 Km em direção sul.

(Figura 1).

Page 39: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

32/33XII REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - World Health Organisation: Chernobyl

Reactor Accident: Report of a Consultation. 6 May 19 86

(Provisional).

2 - Commission of the European Communities.

Contamination levels in member states resulting from

the Chernobyl reactor accident. 21 May 1986.

3 - Commissariat ã l'Energie Atomique.

Institut de Protection et de Stiretê Nucléaire. L'Acci-

dent de Tchernobyl. Rapport IPSN N9 2 - Revision 1,21

mai 1986 e Revision 2, juin 1986.

4 - Finnish Centre for Radiation and Nuclear Safety.

2^ Interim Report on Radiation Situation in Finland

from 5 to 16 May 1986. May 1986.

5 - Nuclear News: Special Report: The Chernobyl accident.

June 19 86.

6 - Petersson, B. Swedish Nuclear Safety Institute (SKI).

Comunicação ã imprensa(28.04).

7 - Kulikov. State of the art and development prospects for

nuclear power stations containing RBMK reactors. Atoronaya

Energiya vol 56, n9 6 June 1984.

Page 40: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

34

ANEXO I

COMUNICADO OFICIAL DO CONSELHO DE MINISTROS DA URSS.

VINTE E QUATRO HORAS APÔS TER ANUNCIADO O ACIDENTE OCOR-

RIDO NA CENTRAL NUCLEAR DE CHERNOBYL, 0 CONSELHO DE MINISTROS EXPE

DIU UM COMUNICADO, RETRANSMITIDO PELA AGÊNCIA DE NOTICIAS TASS E

LIDO NA TELEVISÃO SOVIÉTICA.

"Conforme já foi anunciado na imprensa, ocorreu um aci-

dente na Central Eletronuclear de Chernobyl, a 130Km ao norte da

cidade de Kiev. Uma comissão governamental está trabalhando no Io

cal do acidente, sob a direção do Vice-Presidente do Conselho de

Ministros Boris Chtcherbina. A comissão é formada por delegados de

vários ministérios e departamentos, cientistas e especialistas emi

nentes.

De acordo com dados preliminares, o acidente ocorreu em

um local da quarta unidade e causou a destruição parcial dos ele-

mentos estruturais do edifício do reator e algum vazamento de subs

tâncias radioativas. As outras três usinas nucleares foram para-

lisadas. Elas se encontram em bom estado e constituem uma reserva

operacional.

Foram adotadas medidas, de caráter prioritário, para eLL

minar as conseqüências do acidente. Neste momento, o nível de ra-

diação na central eletronuclear e nos arredores encontra-se estabi

lizado e vem sendo prestada assistência médica adequada às pessoas

atingidas. Os trabalhadores do complexo da central eletronuclear

Page 41: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

bem como os habitantes de três localidades próximas foram evacua-

dos.

0 nível de radiação na Central de Chernobyl e nos locais

vizinhos esta sendo monitorado ininterruptamente."

Page 42: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

ANEXO II

DECLARAÇÃO DO PRESIDENTE DA AGÊNCIA INTERNACIONAL DE

ENERGIA ATÔMICA DURANTE UMA ENTREVISTA COLETIVA EM MOSCOU, NO DIA

9 DE MAIO:

"Uma descrição completa e atualizada do acidente, de

suas causas e efeitos deverá partir, tão somente, das autoridades

soviéticas após serem concluídas as análises que se impõem.

No entanto, preparamos uma breve descrição com base em

informações recebidas no decorrer de algumas entrevistas com mi-

nistros, funcionários qualificados e peritos soviéticos e, até cer

to ponto, levando em consideração nossas próprias observações vi-

suais feitas durante um sobrevôo, em helicóptero, da central de

Chernobyl.

No dia 26 de abril, c. lh 23 m(hcra local), ocorreram ex

plosões na quarta unidade da central nuclear de Chernobyl.

O reator funcionava a 7% de sua potência. Até este momento, exis-

tem apenas hipóteses sobre as causas reais específicas do acidente.

As explosões provocaram um incêndio. 0 edifício do rea-

tor, os equipamentos que se encontravam no mesmo e o próprio rea-

tor sofreram graves danos acarretando vazamentos de substâncias ra

dioativas que se propagaram além da área onde se situa a central

nuclear.

A reação em cadeia foi interrompida automaticamente no

unomento do acidente. Isto é confirmado pelo fato de que os exames

Page 43: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

médicos aos quais foram submetidas as pessoas atingidas não •mostra

van» nenhum sinal de irradiação por neutrons em dose elevada.

Uma parcela substancial dos vazamentos radioativos se

compunha de radionuclxdeos de meia-vida curta. As providências a-

dotadas revelaram que até 50% das emissões produzidas foram de

iodo-131.

Brigadas contra incêncio foram rapidamente deslocadas pai

ra o local do reator. Os trabalhos se tornaram difíceis pela im-

possibilidade no emprego de água ou produtos químicos. Os bombei-

ros e alguns membros da central figuram entre as pessoas atingidas

pela irradiação.

A grande maioria dos moradores das zonas próximas se en-

contrava no interior de suas casas na hora do acidente, reduzindo-

se, por conseguinte, sua exposição às radiações.

Na madrugada de 26 de abril, as equipes de monitoração

registraram um aumento da radioatividade. A evacuação foi inicia-

da no dia 27 de abril, com a remoção de mulheres e crianças. Um nu

mero total de 48.000 pessoas foram evacuadas de Chernobyl e de ou-

tros locais num raio de 30Km.

Como medida de prevenção foram distribuídos comprimidos

de iodeto de potássio tanto na região compreendida num raio de

30Km quanto em áreas circundantes.

20 3 pessoas, dentre as quais trabalhadores dn central nu

clear e bombeiros, tinham recebido doses de irradiação de primei-

Page 44: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

ro a quarto grau, sendo que 18 pessoas daquele total foram submeti

das a transplantes de medula óssea.

A fuga de material radioativo da unidade danificada foi

reduzida de maneira considerável mediante a instalação de uma blin

dagem composta de materiais absorvedores de neutrons-areia, boro,

argila, dolomita e estanho - jogados por helicópteros que sobrevoe»

vam o reator, o que fez baixar os níveis de radioatividade na zona

equivalente a ura raio de 30Km.

Algumas seções de grafite do reate danificado incendia-

ram-se. Estes incêndios foram apagados, porém as temperaturas con

tinuam elevadas. A recriticalidade não é considerada, no momento,

um problema. O objetivo visado é isolar o conjunto da quarta uni-

dade em concreto, já tendo sido iniciados os trabalhos de constru-

ção de fundações de concreto sob o reator.

Muito embora não tenha sido fornecido nenhum d ido siste-

mático sobre os níveis de radiação, foram obtidas algumas indica-

ções a esse respeito.

O nível máximo de irradiação dentro da zona de raio igual

a 30Km era de 1015 milUrems/hora. A partir de 5 de maio, esse ní-

vel reduziu-se para cerca de 2 a 3 millirems/hora. No dia 8 de

maio registrou-se uma queda a um valor equivalente a 0,15 milirems/

hora nos limites da referida zona.

O nível de radioatividade do reservatório de Kiev perma-

neceu sempre dentro dos limites da normalidade.

Page 45: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

ANEXO III

PRONUNCIAMENTO DO SECRETARIO-GERAL DO PARTIDO COMUNISTA

DA URSS, MIKHAIL GORBATCHEV, NA TELEVISÃO RUSSA, EM 14 DE MAIO.

"Ê a primeira vez que nós entramos em choque com esta

força terrível que ê a energia nuclear fora de controle.

Consciente das características extraordinárias e perigosas do aci-

dente de Chernobyl, o Politburo tomou a si a responsabilidade por

toda a organização dos trabalhos visando a absorver o mais rapida-

mente possível o acidente e circunscrever suas conseqüências.

Foi instituída uma comissão governamental, que se deslocou imedia-

tamente para o local do acidente. Um grupo de trabalho, sob a pre

sidência de Nikolai Richkov, foi criado junto ao Politburo no in-

tuito de estudar os problemas mais urgentes."

"Então, o que ocorreu? Segundo os relatórios dos técni-

cos especializados, houve um repentino aumento da potência do rea

tor durante a paralização da operação da quarta unidade. A libera

ção de considerável quantidade de vapor e a subseqüente reação a-

carretaram a formação de hidrogênio, sua explosão, a destruição do

reator e emissões radioativas."

"Aindc» é cedo para uma conclusão definitiva sobre as cau

sas do acidente. Todos os aspectos do problema - o desenvolvimen-

to do projeto, o projeto propriamente dito, a tecnologia, seu apro

veitamento - são objeto de análise minudente por parte da comissão

governamental. É óbvio que todas an conclusões requeridas serão ti

Page 46: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

40

radas depois q: é as causas do acidente forem esclarecidas. Serão

tomadas providências para impedir a repetição de ocorrências desse

gênero."

"Tão logo consigamos as primeiras informações concretas,

transmitiremos as mesmas aos governos estrangeiros através dos ca-

nais diplomáticos. Ê com base nessas informações que foram inicia

dos os trabalhos visando a dominar o acidente e minorar suas nefas

tas conseqüências. Os habitantes das cidades próximas â central nu

clear foram evacuados em apenas poucas horas. Posteriormente, ao

tornar-se claro que a saúde das pessoas que viviam na zona limítro

fe poderia correr um grave risco, foi decidida a sua remoção para

regiões seguras."

"Não obstante, muitas pessoas deixariam de ser salvas pe

Ias medidas adotadas. Dois homens - Vladimir Chachenok, especia-

lista em regulagem de sistemas automáticos, e Valeri Khodemtchouk,

operador da central nuclear - morreram no acidente. 299 pessoas

atingidas pela irradiação, em maior ou menor grau, foram hospitali

zadas. Deste número, sete vieram a falecer.

Toda a assistência possível está sendo prestada às demais."

"Simultaneamente, estão sendo desenvolvidas atividades

em ritmo acelerado na própria central e em seus arredores com o

objetivo de limitar as proporções do acidente.

Conseguiu-se, em condições extremamente difíceis, apagar o incên-

dio e a impedir que o mesmo se propagasse dos demais reatores. Os

funcionários da central providenciaram a paralizaçao dos outros três

Page 47: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

reatores e a colocação dos mesmos em condições de segurança. Es-

tes se encontram sob controle permanente."

"Hoje podemos afirmar: o pior já passou. Conseguiu-se

evitar as mais graves conseqüências. £ certo, ainda é cedo para

considerarmos o acidente como encerrado.

Não podemos voltar à tranqüilidade. Deve ser empreendido um traba

lho de grande envergadura e de longo prazo.

O nível de radioatividade na zona da central e nas áreas adjacen-

tes continua oferecendo perigo a saúde."

"Eis porque os trabalhos visando a eliminar as conseqüêri

cias do acidente constituem, presentemente, nossa tarefa primor-

dial. Fox elaborado e está sendo executado um intenso programa de

desativação da área da central e da cidade, dos prédios e das ins-

talações. Ê perfeitamente óbvio que todo este trabalho levará mui

to tempo e exigirá esforços importantes. Esta área deve se tornar

inteiramente inócua ã saúde e ã vida nonrtal dos seus ocupantes."

Depois de ter agradecido aos países socialistas e aos pro

fessores norte-americanos Gale e Terasaki sua valiosa colaboração

e saudado a "atitude objetiva" da Agyncia Internacional de Energia

Atômica (AIEA), Gorbatchev criticou duramente a atitude tomada pe_

Ias nações na reunião de cúpula de Tóquio, acrescentando:

"Os círculos governamentais dos Estados Unidos e de seus

aliados mais zelosos, dentre os quais desfcacarc-i a República Fede-

ral da Alemanha, viram neste acidente apenas uma nova possibilida-

de para colocar obstáculos adicionais no caminho do desenvolvimen-

to e intensificação do diálogo Leste-Oeste - já bastante difícil

Page 48: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

sem estes entraves - a fim de justificar a corrida ãs armas nuclea

res."

O Secretário geral do Partido Comunista da União Soviéti

ca classificou, em seguida, de "invenção" a campanha conduzida con

tra seu pais no tocante à falta de informações e passou a expor um

programa de quatro pontos visando a "um aprofundamento sério da co

operação" no âmbito da AIEA.

1) Estabelecer um regime internacional de segurança do

desenvolvimento do setor eletronuclear, baseado em uma estreita co

operação entre todas as nações produtoras de energia elétrica de o

rigem nuclear. No âmbito desse regime, deverá ser criado um siste

ma de contatos urgentes e de informação em casos de acidentes e

defeitos nas centrais nucleares, mormente quando tais ocorrências

forem acompanhadas de emissões radioativas. Simultaneamente, urge

dinamizar um mecanismo internacional com bases bilateral e multi-

lateral para prestar socorros de emergência quando surg.írem situa-

ções perigosas.

2) Convocar uma conferência internacional de peritos em

Viena, sob a égide da AIEA, para debater o conjunto destes proble-

mas.

3) Tendo em vista que a AIEA foi criada no ano de 1957

e que seus recursos e efetivos não correspondem ao estagio atual do

desenvolvimento do setor eletronuclear, reforçar o papel desse ór-

gão internacional, único no gênero e ampliar suas possibilidades.

Page 49: RELATÓRIO PRELIMINAR SOBRE O ACIDENTE DE CHERNOBYL

A União Soviética é favorável a uma campanha nesse sentido.

4) Associar mais ativamente a Organização das Nações ti-

nidas e seus órgãos especializíiclos, tais como a Organização .Mun--

dial de Saúde (O.M.S.) e o Programa do Meio Ambiente da ONU, ãs

medidas que visem a dotar de toda a segurança as atividades de cu-

nho pacifico na área nuclear."