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Relatório Final de Estágio Mestrado Integrado em Medicina Veterinária MEDICINA INTERNA, CLÍNICA AMBULATÓRIA E CIRURGIA DE EQUINOS TERIOGENOLOGIA DE EQUINOS Filipe Leal de Urbano Soares Orientador: Dr. Luís Athayde Co-orientadores: Dr. Robert E. Holland Prof. Dr. Marco Alvarenga PORTO 2009

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

MEDICINA INTERNA, CLÍNICA AMBULATÓRIA E CIRURGIA DE EQUINOS

TERIOGENOLOGIA DE EQUINOS

Filipe Leal de Urbano Soares

Orientador: Dr. Luís Athayde Co-orientadores: Dr. Robert E. Holland Prof. Dr. Marco Alvarenga

PORTO 2009

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

MEDICINA INTERNA, CLÍNICA AMBULATÓRIA E CIRURGIA DE EQUINOS

TERIOGENOLOGIA DE EQUINOS

Filipe Leal de Urbano Soares

Orientador: Dr. Luís Athayde Co-orientadores: Dr. Robert E. Holland Prof. Dr. Marco Alvarenga

PORTO 2009

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Resumo

O objectivo deste relatório de estágio é descrever as actividades realizadas durante o

período compreendido entre os meses de Outubro de 2008 a Fevereiro de 2009. Nos primeiros

três meses, frequentei as áreas de Medicina Interna, Cirurgia e Clínica Ambulatória de equinos

da Universidade do Tennessee, EUA. Nestes diferentes serviços, tive a oportunidade de

acompanhar diversos veterinários de renome mundial (Dr. Jim Schumacher, Dra. Carla

Sommardahl e Dr. Steve Adair) no diagnóstico e tratamento de inúmeros equinos, sendo

muitas das vezes responsável pelo tratamento médico dos animais que se encontravam

internados no Hospital de Grandes Animais desta Universidade. Nos demais meses (Janeiro e

Fevereiro de 2009), frequentei o Departamento de Reprodução Equina da Universidade

Estadual Paulista (Júlio Mesquita Filho), dentro da Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia, Campus de Botucatu, São Paulo, Brasil. Durante este período fui orientado pelo

Prof. Dr. Marco Alvarenga, uma referência a nível mundial na área de Reprodução Animal, que

me forneceu formação teórica e prática com especial ênfase sobre a espécie equina.

Senti que se tratou de um complemento prático exaustivo dos conhecimentos teóricos

adquiridos, na área de Equinos, ao longo dos cinco anos de Mestrado Integrado em Medicina

Veterinária. Neste período de estágio, pude inteirar-me da realidade actual da profissão de

Médico Veterinário de Equinos nas diferentes áreas de Clínica, Cirurgia, Ambulatório e

Reprodução. As realidades que presenciei, embora diferentes da Portuguesa, permitiram-me

estabelecer comparações sobre metodologias de trabalho e acima de tudo ficar a par dos

avanços tecnológicos e científicos que contribuíram para uma abordagem, cada vez mais, com

um âmbito preventivo da Medicina Veterinária de Equinos.

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Agradecimentos

Não poderia deixar de incluir neste relatório de estágio, as pessoas que o tornaram

possível. A toda a minha família em particular ao meu Pai, à minha Mãe e à minha Irmã muito

obrigado por todo o apoio nesta etapa da minha vida. À minha namorada, um agradecimento

igualmente especial por toda a compreensão, apoio incondicional, motivação e críticas

construtivas. Queria também agradecer ao meu futuro colega de profissão Pedro Carvalho, por

toda a amizade e por ter sido o meu fiel parceiro de estudo. Não posso deixar de mencionar os

meus professores, que para além de incutirem em mim o interesse crescente pela Medicina

Veterinária, me forneceram formação teórica e prática essencial para me tornar um excelente

Veterinário. Dentre os quais queria destacar o Dr. António Rocha, o Dr. Nuno Canada e o meu

orientador e professor Dr. Luís Athayde.

Durante o meu período de estágio na Universidade do Tennessee, tive o apoio e

disponibilidade constante do Dr. Alfred Legendre, Dr. Ricardo Videla e Dr. Eric Etheridge os

quais não queria deixar de referir. Já na minha estadia na Universidade de São Paulo o meu

orientador Dr. Marco Alvarenga foi muito importante para mim, pela simpatia, formação teórica

e prática que se prontificou a fornecer e pelos contactos que fez com um intuito de providenciar

continuidade à minha formação. Por fim queria também agradecer ao Dr. Ulisses Stelmann por

toda a amizade, conselhos de vida e críticas construtivas durante os dois meses finais do meu

estágio.

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Índice

Introdução111111111111111111111111111111..pág. 1

Parte I

Medicina Interna, Clínica Ambulatória e Cirurgia De Equinos

- Casuística111111111111111111111111111pág.2

- Mieloencefalite Protozoária Equina (EPM)

1. Introdução11111111111111111111111.pág.3

2. Revisão de Literatura

2.1 Histórico11111111111111111111.pág.3

2.2 Epidemiologia11111111111111111...pág.4

2.3 Ciclo de Vida111111111111111111.pág.5

2.4 Patogénese1111111111111111111pág.7

2.5 Sinais Clínicos11111111111111111..pág.8

2.6 Diagnóstico1111111111111111111pág.9

2.7 Diagnósticos Diferenciais11111111111...pág.12

2.8 Tratamento111111111111111111..pág.12

3. Considerações finais11111111111111111..pág.13

- Caso Clínico EPM

1. Histórico11111111111111111111111pág.15

2. Sinais clínicos11111111111111111111.pág.15

3. Exame clínico11111111111111111111..pág.15

4. Exames Complementares11111111111111....pág.16

5. Evolução Clínica1111111111111111111.pág.16

6. Resultados111111111111111111111...pág.18

7. Discussão1111111111111111111111.pág.19

8. Conclusão1111111111111111111111.pág.21

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Parte II

Teriogenologia de Equinos

- “Efeito da concentração espermática e da metodologia de inseminação artificial

com sémen equino congelado” (Mestrado)

1. Objectivo1111111111111111111111...pág.22

2. Revisão Bibliográfica11111111111111111pág.22

3. Métodos11111111111111111111111.pág.24

4. Resultados Provisórios1111111111111111pág.25

5. Conclusões Provisórias1111111111111111pág.25

- “Criopreservação e fertilidade de sémen de garanhões recuperados da cauda do

epidídimo.” (Mestrado)

1. Objectivo1111111111111111111111...pág.26

2. Revisão Bibliográfica11111111111111111pág.26

3. Métodos11111111111111111111111.pág.27

4. Resultados Provisórios1111111111111111pág.28

Bibliografia1111111111111111111111............................pág.29

Anexo I (Fotografias Caso Clínico EPM) 1111111111111111.pág.35

Anexo II (Relatório da Necrópsia) 1111111111111111111.pág.38

Anexo III (Fotografias da Técnica de Fluxo Retrógrada Modificada)111...pág.41

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Introdução

Este relatório está dividido em duas partes, sendo a primeira relacionada com as

actividades desenvolvidas durante o período de estágio no Hospital Veterinário de Grandes

Animais da Universidade do Tennessee (UTCVM), compreendendo um resumo dos casos

clínicos acompanhados através da realização de uma tabela em que agruparei por sistema

afectado as doenças que acometiam os animais internados durante o meu período de estágio.

Constará uma revisão bibliográfica sobre “Mieloencefalite Protozoária Equina” (EPM) e seus

respectivos agentes etiológicos, os protozoários Sarcocystis neurona, Neospora hughesi e

Neospora caninum. Esta revisão tem como objectivo possibilitar uma melhor compreensão do

caso clínico de um equino com “Mieloencefalite Protozoária Equina”, por ter observado a

evolução clínica da doença desde a fase inicial até o seu desfecho, o que por sua vez me

despertou interesse por diversos motivos, entre eles, a complexidade da doença, da

apresentação clínica e tratamento e o facto de não existir na Europa.

Na segunda parte, abordarei as actividades realizadas na Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia (FMVZ) de São Paulo. Durante este período acompanhei dois projectos

de mestrado e um de iniciação científica (que contribuía de forma directa para um projecto de

doutoramento), dos quais pude participar auxiliando na execução da parte prática dos mesmos.

Pude acompanhar quase na sua totalidade apenas um desses projectos (mestrado) o qual será

detalhado abaixo, onde constará o seu objectivo, uma breve revisão bibliográfica, métodos,

resultados provisórios e conclusões provisórias. Quanto aos demais projectos, apenas falarei

sobre um deles (por limitação de páginas), darei ênfase ao seu objectivo e detalharei a parte

prática executada, no entanto, os resultados provisórios não poderão ser apresentados pelo

facto do projecto ainda se encontrar em fase de execução.

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PARTE I

MEDICINA INTERNA, CLÍNICA AMBULATÓRIA E CIRURGIA DE EQUINOS - Casuística Decidi agrupar em forma de tabela os casos clínicos que acompanhei durante os dois meses que estive na Universidade do Tennessee.

Casos Clínicos

Nº de Ocorrências

1. Neurológico Mieloencefalite Protozoária Equina (EPM) Traumatismo Craniano Tétano

2. Respiratório Pneumonia Bacteriana Hemiplegia laríngea Deslocamento dorsal do palato mole “Entrapment” da epiglote Hemorragia pulmonar induzida pelo exercício Gurma

3. Digestivo Grosagem dos dentes Cólicas: Enterites anteriores Impactação na flexura pélvica Encarceramento do Cólon Maior no Ligamento Nefroesplénico Impactação do Íleo Diarreia: Salmonella Erliquiose Colite Úlceras gástricas

4. Locomotor

Laminite: Aguda Crónica Luxação do Tendão Flexor Digital Superficial Luxação do Tendão Flexor Digital Profundo Luxação do Ligamento Suspensor Quisto ósseo no 3º Metacarpo Deformidades Flexoras Congénitas Abcesso sub-solar

5. Oftalmológico Opacificação da córnea Abcesso no estroma corneal Obstrução do canal nasolacrimal

6. Neoplasias Carcinoma da tiróide Sarcoma indiferenciado (zona da articulação coxo-femoral) Carcinoma de células escamosas (pénis)

7. Reprodutor Diagnóstico de gestação Metrite Mastite

1 2 1

4 7 2 1 3 2

25 5 6 4 3

4 3 5 3

4 2 2 4 2 1 2 2

2 1 2

1 1 1

5 2 1

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MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA (EPM)

1. Introdução

Dentro das doenças neurológicas que acometem os equinos, a Mieloencefalite Protozoária

Equina (EPM) encontra-se em posição de destaque. A EPM é causada pelos protozoários

Sarcocystis neurona, Neospora caninum e Neospora huguesi, sendo a doença neurológica,

causada pelo Sarcocystis neurona, a mais comummente diagnosticada em cavalos da América

do Norte e provavelmente do Brasil. Levando em consideração a importância da EPM no

contexto das doenças neurológicas em equinos, a alta prevalência de animais seropositivos em

diversos países do Continente Americano e a baixa prevalência no Continente Europeu, e

ainda o facto de que o Neospora spp. ainda não estar incluído no diagnóstico desta doença,

esta revisão aborda entre outros, os aspectos epidemiológicos, clínicos, diagnósticos e

terapêuticos da EPM, causadas tanto pelo Sarcocystis neurona quanto pelo Neospora caninum

e Neospora hughesi. O meu objectivo é contribuir para a actualização dos profissionais

envolvidos na área de Clínica médica de equinos e debater uma possível explicação para o

facto de a EPM ainda não se incluir na lista de doenças neurológicas que acometem os

equinos da Europa.

2. Revisão de Literatura

2.1. Histórico

Sarcocystis neurona

Em 1970, Rooney et al. descreveram pela primeira vez, baseado em 52 casos de

doença neurológica em equinos, uma síndrome inicialmente nomeada “Mielite segmental”. O

protozoário foi descrito, pela primeira vez, em 1974 por Cushick et al. que o identificaram como

sendo o Toxoplasma gondii. No mesmo ano, Beech (1974) denominou a doença de

“Encefalomielite Protozoária Equina”. Porém, a denominação foi modificada para

“Mieloencefalite Protozoária Equina” (EPM) em 1976 por Mayhew et al. Concluiu-se mais tarde

por Dubey et al. em 1991, que o parasita era provavelmente uma espécie de Sarcocystis,

assim a espécie Sarcocystis neurona foi proposta para o agente causador da EPM.

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Neospora spp.

Em 1990, Dubey e Porterfield relataram o primeiro caso de neosporose num feto equino

abortado em 1985. A partir de então, surgiram outros relatos de neosporose em fetos

prematuros, animais recém-nascidos e em animais adultos. Em 1996, Lindsay et al.

observaram neosporose neo-natal numa fêmea com um mês de idade que apresentava

cegueira bilateral. Na necrópsia não foram observadas alterações macroscópicas, porém, um

quisto de N.caninum ao redor da musculatura ocular durante o exame microscópico foi

encontrado. Este achado representa, o primeiro relato de um quisto tecidual do parasita fora do

sistema nervoso central (SNC). No mesmo ano, Gray et al. (1996) relataram numa égua com

10 anos de idade o primeiro caso de neosporose visceral. As lesões estavam restritas aos

gânglios linfáticos mesentéricos e intestino delgado, onde se observou a presença de

taquizoítos, enquanto Daft et al. (1996) diagnosticaram neosporose numa égua com 19 anos

de idade que apresentava como sinais clínicos, alteração de comportamento, paresia de

membros posteriores e disfagia. As lesões localizavam-se no SNC, nervos periféricos e

miocárdio. Taquizoítos de N.caninum e quistos teciduais foram visualizados por

imunoistoquímica (IHQ) no cérebro, medula espinal e nervos periféricos. Marsh et al. (1996)

isolaram em cultivo celular de cérebro e medula, organismos de N. caninum em um equino com

sinais neurológicos e em 1998, isolaram um protozoário com características diferentes do N.

caninum de tecido do SNC de um equino da Califórnia. Através da ultra-estrutura do parasita

isolado e da análise molecular de uma pequena subunidade do gene de RNA ribossomal (ITS-

1), encontraram sete nucleótidos de diferentes bases entre N. caninum e o novo isolado. A

partir dessas diferenças, os autores propuseram uma nova espécie para este parasita

denominando-a Neospora hughesi, parasita associado com mieloencefalites em equídeos

(Dubey & Lindsay, 1996).

2.2. Epidemiologia

Sarcocystis neurona

Estudos serológicos revelam, de acordo com a região geográfica, graus variáveis de

exposição dos equinos ao S. neurona (Saville et al. 1997, Tillotson et al. 1999). Apesar do

grande número de equinos seropositivos, apenas a minoria desenvolve sinais clínicos da

doença (Cohen & Mackay, 1997). Além disso, alguns cavalos portadores do S. neurona são

capazes de eliminar o parasita sem necessitar de tratamento (Rickard et al. 2001). No

Continente Americano são relatados, todos os anos, numerosos casos de EPM (Masri et al.

1992). Casos de EPM na Europa também foram descritos em equinos, todos importados do

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Continente Americano (Mayhew & Greiner, 1986). Apenas dois relatos de doença clínica foram

descritos acometendo um pónei e uma zebra, sugerindo uma maior resistência à infecção por

S. neurona (Dubey et al. 2001). A maior percentagem dos casos de EPM ocorrem em cavalos

com até quatro anos (Dubey et al. 2001) e não parece existir predilecção aparente por raça

(Fayer et al. 1990). Não há preferência quanto ao sexo (Fenger, 1997).

Os principais factores de risco associados à EPM estão relacionados com a idade,

proximidade geográfica com áreas de ocorrência do hospedeiro definitivo, stress, intensidade

de exercício e factores sazonais (Saville et al. 2000). Na América do Norte, o efeito da

sazonalidade pode ser observado durante o inverno, quando o número de animais

seropositivos diminui em função da redução de esporocistos viáveis no ambiente (Rickard et al.

2001).

Neospora spp.

O diagnóstico dos animais infectados por Neospora spp. é a chave para o entendimento

da epidemiologia da neosporose (Hemphill et al. 2000). Foi demonstrado recentemente na

América do Norte, o ciclo de N. caninum entre animais domésticos e silvestres com a

confirmação da transmissão do parasita entre cervídeos e cães, assim como entre coiotes e

bezerros. Com isso, a participação da fauna selvagem no ciclo de transmissão de N. caninum

determina maiores desafios para o controle da neosporose (Gondim, 2006).

As doenças neurológicas causadas por N. hughesi foram diagnosticadas em cavalos

adultos, nos Estados Unidos (Cheadle et al. 1999). Até o momento não se conhece a razão

para os diagnósticos de encefalite em equinos adultos ocorrer somente nos Estados Unidos

(Lindsay, 2001). Contudo, outros estudos demonstraram a presença de anticorpos anti-

Neospora spp. em equinos da Suécia, Itália e Coreia do Sul, encontrando 1%, 28% e 2% de

seroprevalência, respectivamente (Locatelli-Dittrich et al. 2006).

Os aspectos relacionados aos factores de risco à neosporose equina precisam ser

elucidados (Locatelli-Dittrich et al. 2006).

2.3. Ciclo de vida

Sarcocystis neurona

O S. neurona é um coccídeo do filo Apicomplexa, pertencente à família Sacocystidae,

possuindo como hospedeiro definitivo as espécies de gambá, Didelphis virginiana e Didelphis

albiventris, na América do Norte e do Sul respectivamente e uma variedade de outros

mamíferos como hospedeiros intermediários aberrantes (Dubey et al. 2001). Normalmente os

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parasitas do género Sacorcystis completam o seu ciclo de vida em dois hospedeiros, o

intermediário e o definitivo. No tracto intestinal do hospedeiro intermediário, os esporocistos

rompem-se e liberam esporozoítos infectantes. Estes penetram na mucosa intestinal, sendo

disseminados pelo sistema vascular. Eles desenvolvem-se intra-celularmente nas várias

células endoteliais dos capilares e em outros pequenos vasos. Os esporozoítos tornam-se

multinucleados, transformando-se em esquizontes, os quais produzem numerosos merozoítos.

A célula hospedeira rompe-se, liberando merozoítos no sistema vascular (Kisthardt & Lindasay,

1997). Outro ciclo de desenvolvimento ocorre normalmente nas células endoteliais, produzindo

uma segunda geração de merozoítos. A última geração de merozoítos penetra nas células

musculares cardíacas e esqueléticas e transformam-se em sarcocistos (quisto muscular) que

contêm bradizoítos. A infecção do hospedeiro definitivo ocorre pela ingestão de carne contendo

sarcocistos. Os bradizoítos provenientes do sarcocistos penetram na lâmina própria do trato

intestinal onde se desenvolvem os estágios sexuados, machos (micro gâmetas) e fêmeas

(macro gâmetas). O oocisto esporula no hospedeiro definitivo, produzindo dois esporocistos,

cada um contendo quatro esporozoítos. Estes esporocistos livres são normalmente observados

nas fezes do hospedeiro definitivo (Kisthardt & Lindasay, 1997).

Mullaney et al. (2005) demonstraram que os cavalos podem ser considerados

hospedeiros intermediários naturais da EPM, quando observaram a presença de sarcocistos de

S. neurona na musculatura e esquizontes no cérebro de um equino positivo para EPM que

havia sido eutanasiado. Até então, somente haviam sido encontradas no encéfalo e medula

espinal de cavalos com EPM, formas imaturas do parasita.

Neospora spp.

Os protozoários do género Neospora também pertencem ao filo Apicomplexa e família

Sarcocystidae, assim como o S. neurona. No género Neospora são conhecidas duas espécies,

Neospora caninum e Neospora hughesi. Os estágios do ciclo de vida do N. caninum são

taquizoítos, quistos contendo bradizoítos e oocistos. As formas identificadas do ciclo de vida de

N. hughesi são taquizoítos e quistos teciduais com bradizoítos. Não foram até ao momento,

identificados oocistos deste parasita. Os taquizoítos são ovóides e multiplicam-se rapidamente

por endodiogenia, penetrando activamente nas células hospedeiras, localizando-se no

citoplasma ou dentro do vacúolo parasitóforo (Marsh et al.1998, Dubey et al. 2001, Locatelli-

Dittrich et al. 2006). Os hospedeiros definitivos, quando ingerem os quistos de N. caninum,

eliminam os oocistos não esporulados nas fezes. No meio ambiente ocorre a esporulação,

formando-se dois esporocistos, cada qual com quatro esporozoítos. Os cães e coiotes são os

únicos hospedeiros definitivos identificados até ao momento, mas suspeita-se que outros

canídeos silvestres possam também servir como hospedeiros definitivos e eliminar oocistos nas

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fezes (Gondim, 2006). O hospedeiro definitivo do N. hughesi ainda é desconhecido,

permanecendo incerta a forma de exposição dos cavalos a este parasita e se há outros

hospedeiros intermediários (Hoane et al. 2006).

2.4. Patogénese

Sarcocystis neurona

Os esquizontes do S. neurona e os merozoítos são encontrados em neurónios, células

mononucleares, células da glia e talvez em outras células neurais (Dubey et al. 2001). Os

esquizontes penetram nas células do SNC, como neurónios, células da glia e macrófagos intra-

tecais, multiplicando-se no seu interior. Essa multiplicação produz inflamação não-purulenta,

caracterizada por acúmulo de linfócitos, neutrófilos, eosinófilos. A associação da infecção à

reacção inflamatória provoca alteração na função neurológica normal, observando-se sinais de

fraqueza, atrofia muscular e défices proprioceptivos (Radostits et al. 2002). Estudos indicaram

que os parasitas se multiplicam inicialmente numa extensão limitada de tecidos viscerais,

sendo depois transportados para o SNC no interior dos leucócitos, escapando assim da acção

dos anticorpos (Lindsay et al. 2006). Três semanas após infecção os parasitas já se encontram

no SNC e os sinais clínicos da doença vão variar em função da área do SNC parasitada. Por

exemplo, o envolvimento do cérebro pode causar depressão, alterações comportamentais e

convulsões. Lesões no tronco encefálico e na medula espinal podem causar alterações

locomotoras, incoordenação causada pelo envolvimento dos tratos ascendentes e

descendentes, e uma variedade de sinais clínicos atribuídos ao dano causado nos núcleos dos

nervos cranianos (Divers et al. 2000).

Neospora spp.

Os quistos teciduais de N. hughesi são normalmente encontrados no SNC e retina, e

ocasionalmente nos nervos periféricos e músculos oculares de cavalos. Num potro infectado

congenitamente observou-se também quistos teciduais de Neospora spp. no tálamo e

hipotálamo (Lindsay et al. 1996). Nos poucos estudos com N. hughesi, os taquizoítos foram

observados principalmente no cérebro e medula espinal de animais infectados, enquanto os

bradizoítos localizam-se em grande número dentro do quisto tecidual (Dubey et al. 2001,

Locatelli-Dittrich et al. 2006). O tamanho e a espessura da parede dos quistos são

características que podem distinguir os parasitas N. caninum e N. hughesi (Marsh et al. 1998).

Provavelmente, com o início da resposta imune do hospedeiro e a presença de outros factores

fisiológicos, os taquizoítos entram nas células e diferenciam-se em bradizoítos, estabelecendo

a infecção pela presença dos quistos. Os bradizoítos representam o estágio de multiplicação

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lenta, no qual os parasitas formam quistos teciduais, principalmente no sistema nervoso central

e retina. Os quistos também foram observados no músculo esquelético de cães, bezerros, nos

nervos periféricos e músculo ocular de cavalos. Os quistos podem persistir no hospedeiro

infectado por vários anos, sem causar nenhuma manifestação clínica (Daft et al. 1996, Lindsay

et al. 1996).

Entretanto, em N. caninum são observados taquizoítos e quistos contendo bradizoítos e

oocistos (MCallister et al. 1998). Em equinos infectados, os taquizoítos foram encontrados em

diversos tecidos, entre eles, intestino delgado, cérebro, medula espinal, nervos periféricos e

fetos abortados (Lindsay et al. 1996). Não foram observados, entretanto, em fibroblastos,

células musculares, células endoteliais e lúmen de vasos sanguíneos (Dubey et al. 2001). Os

mecanismos de infecção do N. caninum são a transmissão vertical ou infecção congénita e a

transmissão horizontal ou infecção pós-natal, com a ingestão de oocistos esporulados. A

transmissão horizontal ocorre nos hospedeiros intermediários após a ingestão de oocistos

esporulados, e a transmissão vertical através da invasão do parasita nas células uterinas.

Porém, nos equinos, a patogénese do aborto não está elucidada (Anderson et al. 2000).

2.5. Sinais clínicos

Sarcocystis neurona

A evolução dos sinais clínicos varia de aguda a crónica, com aparecimento insidioso de

sinais focais ou multifocais de doença neurológica envolvendo o cérebro, tronco encefálico ou

medula espinal (Dubey et al. 2001). Os equinos acometidos normalmente apresentam

progressão gradual na gravidade e abrangência dos sinais clínicos, incluindo ataxia. Contudo,

em alguns casos, o aparecimento gradual pode dar lugar a uma exacerbação súbita na

severidade da doença clínica, resultando em decúbito (Mackay et al. 2000).

Os sinais clínicos variam em função da capacidade do parasita atacar aleatoriamente

as substâncias branca e cinzenta em múltiplos locais no SNC. Por este facto, os primeiros

sinais da doença podem ser facilmente confundidos com uma claudicação de origem músculo-

esquelética. Diversos segmentos da medula espinal e/ou do encéfalo podem estar envolvidos

simultaneamente, fazendo com que a localização das lesões seja um desafio (Fayer et al.

1990). Entre os sinais do comprometimento da substância cinzenta podemos destacar atrofia

muscular focal e severa fraqueza muscular, enquanto os danos causados à substância branca

frequentemente resultam em ataxia e paresia dos membros. Os sinais característicos de

envolvimento do cérebro e tronco encefálico incluem depressão, desvio de cabeça, paralisia

facial e dificuldades de deglutição. As anormalidades no padrão da marcha são normalmente

resultado de lesões na medula espinal e variam em gravidade conforme a localização e

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extensão da lesão tecidual (Mackay et al. 2000). O exame neurológico normalmente revela

ataxia assimétrica, fraqueza e espasticidade envolvendo os quatro membros. Áreas de

hiporeflexia, hipoalgesia ou completa perda sensorial estão frequentemente presentes (Mackay

et al. 2000).

Neospora spp.

Os sinais clínicos de neosporose em equinos são cegueira, paralisia dos membros

posteriores, comportamento bizarro, dificuldade de mastigação, incoordenação, ataxia,

doenças viscerais, doença neo-natal, aborto e perda de peso (Daft et al. 1996, Walsh et al.

2000). Existem relatos que indicam que o N. caninum pode estar relacionado à mieloencefalite

em equinos, sendo incerto até o momento se é causa frequente ou rara de EPM. Contudo, o N.

caninum é frequentemente associado a distúrbios reprodutivos (Hamir et al. 1998). O Neospora

hughesi, por outro lado, é comummente associado a distúrbios neurológicos e não a problemas

de esfera reprodutiva (Lindsay, 2001). Nos equinos infectados com N. hughesi os sinais

clínicos observados são ataxia dos membros posteriores e, ocasionalmente, dos quatro

membros e dificuldade de deambulação acentuada quando o animal caminha com a cabeça

erecta ou em círculos (Cheadle et al. 1999, Dubey et al. 2001). Não existem estudos que

avaliem a possibilidade de cavalos seropositivos para Neospora spp. e clinicamente sadios,

desenvolverem a doença. Dentro deste contexto, a possibilidade de uma infecção sub-clínica

por Neospora spp. deve também ser considerada (Locatelli-Dittrich et al. 2006).

2.6. Diagnóstico

Sarcocystis neurona

O diagnóstico da EPM deve ser baseado na história, nos sinais clínicos, localização

anatómica da lesão, métodos de imunodiagnóstico, resposta a terapia, na evolução do caso

clínico e exclusão de outras doenças (Mackay, 2000).

- Análises sanguíneas e do líquido cefalorraquidiano (LCR)

A EPM não causa alterações significativas no hemograma ou na bioquímica sérica,

porém estes exames podem auxiliar na exclusão de outros diagnósticos diferenciais. A análise

físico-química do LCR é muito importante na diferenciação de doenças neurológicas

infecciosas e não infecciosas (Granstrom, 1995).

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- Quociente de albumina (QA)

A albumina é uma proteína abundante no soro, mas não é produzida no LCR. A

presença de albumina no LCR ocorre devido ao escape da proteína da circulação geral. A

concentração total de albumina no LCR e o QA podem ser comparados, para avaliar a

integridade da barreira hematoencefálica. Existem parâmetros normais do QA encontrados no

LCR de cavalos, com isso, se a concentração total de albumina no LCR e/ou o QA estão

elevados, é sinal de aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica ou

contaminação sanguínea acidental da amostra (Dubey et al. 2001).

- Immunoblot (Western Blot)

O teste immunoblot detecta a presença de anticorpos específicos para S. neurona no

soro ou no LCR (Mackay et al. 2000), não apresentando reacção cruzada com outros tipos de

protozoários (Dubey et al. 2001). A especificidade e a sensibilidade do immunoblot são de

aproximadamente 89% (Dubey et al. 2001).

- Reacção em cadeia da polimerase (PCR)

A técnica da reacção em cadeia da polimerase (PCR) é específica para o DNA do

parasita, confirmando a presença do S. neurona no SNC. Apesar disso, a sensibilidade da PCR

para a EPM é baixa devido ao facto de que, o DNA do parasita pode ser rapidamente destruído

pela acção das enzimas presentes no LCR ou devido à escassez de DNA no mesmo (Mackay

et al. 2000, Dubey et al. 2001).

- Imunohistoquímica (IHQ)

Os testes imunohistoquímicos podem distinguir o S. neurona de outros parasitas. Até o

momento, não existem anticorpos monoclonais específicos para o S. neurona úteis para

diagnóstico (Dubey et al. 2001).

- Biomarcadores genéticos

Em 2005, Eastman et al. estudaram biomarcadores genéticos em leucócitos no sangue

periférico de cavalos. Os genes que se mostraram estatisticamente diferentes nos animais com

e sem sintomas de EPM foram tabulados e formaram a base para um marcador genético da

doença. Este teste demonstrou possuir boa especificidade e sensibilidade nos estadios agudos

da doença, sendo que nos casos crónicos, os resultados não foram estudados. Estes

biomarcadores podem trazer informações a respeito do estadio da doença e prognóstico antes

dos sinais clínicos se tornarem evidentes. Os autores do referido estudo não especificaram

quais foram os biomarcadores identificados.

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Neospora spp.

Os estudos e os respectivos exames de diagnóstico em cavalos infectados por

Neospora spp. são escassos, além disso, o título para N. hughesi no LCR ainda deve ser

estabelecido. O diagnóstico clínico da doença é dificultado pelos sinais inespecíficos da

neosporose. Devido a este facto, o diagnóstico laboratorial deve ser realizado para confirmar a

infecção por Neospora spp. (Locatelli-Dittrich et al. 2006).

- Testes Serológicos

Os testes serológicos mais utilizados para Neospora sp. são: Indirect Fluorescent

Antibody Test (IFAT), Enzime Linked Immunosorbent Assay (ELISA), teste de aglutinacção

directa e Western Blot (Locatelli-Dittrich et al. 2006). A presença de anticorpos indica que

houve exposição ao parasita ou a um parasita estritamente relacionado passível de reacção

cruzada, não indicando necessariamente a existência de uma infecção activa (Vardeleon et al.

2001).

O primeiro método serológico aplicado em animais para o diagnóstico de N. caninum foi

IFAT, utilizando taquizoítos intactos como antigénios, sendo considerada um método de

referência (Hemphill et al. 2000). Segundo Vardeleon et al. (2001), a IFI identifica todas as

amostras reagentes, sendo portanto, altamente sensível. Sendo que, o Western Blot tem sido

muito utilizado como teste confirmatório para Neospora spp. em várias espécies animais, sendo

considerado altamente específico.

- Testes Parasitológicos

Os métodos parasitológicos utilizados no diagnóstico e pesquisa de Neospora spp. são:

exames histopatológicos, imunohistoquímicos, isolamento in vitro e in vivo e a detecção do

DNA do parasita pela PCR (Hemphill et al. 2000). No exame histopatológico, a lesão mais

característica pela infecção por Neospora spp. está no cérebro e consiste em encefalite focal

caracterizada por necrose e inflamação não-supurativa. As outras lesões são miocardite,

miosite focal e hepatite portal não supurativas (Anderson et al. 2000). Também são utilizadas

no diagnóstico da neosporose equina as técnicas imunoistoquímicas. O anti-soro policlonal de

N. caninum detectou parasitas nos pulmões de feto (Dubey & Porterfield, 1990), tálamo,

hipotálamo e músculo ocular de potro com cegueira congénita (Lindasy et al. 1996), no

cérebro, nervos periféricos e medula espinal de equinos adultos (Hamir et al. 1998).

O diagnóstico de aborto por neosporose pode ser também realizado pela PCR

(Locatelli-Dittrich, 2006).

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2.7. Diagnósticos diferenciais

A EPM pode ser confundida com outras doenças que causam distúrbios neurológicos.

Os principais diagnósticos diferencias da EPM são: a Mielopatia Estenótica Cervical,

Mieloencefalopatia Degenerativa Equina, Mieloencefalopatia com neurite/vasculite causada

pelo Herpesvírus equino do tipo 1 e trauma. Nos casos suspeitos de EPM que apresentam

somente défices de pares de nervos cranianos, deve-se realizar o diagnóstico diferencial de

síndrome da cauda equina, doença das bolsas guturais, otite média/interna e outras

neuropatias periféricas, como o traumatismo craniano com comprometimento somente de

nervos periféricos. Por outro lado, nos equinos que apresentam sinais cerebrais, défices dos

nervos cranianos e/ou ataxia, devemos considerar as encefalites virais, bacterianas,

leucoencefalomalácea, traumatismo craniano e encefalopatia hepática/urémica (Mackay et

al.2000, Dubey et al. 2001). Entre outras afecções que podem apresentar sintomatologia

semelhante à EPM podemos destacar: doença equina do motoneurónio, neoplasias da coluna

vertebral e/ou da medula espinal, abcessos epidurais, encefalite viral do Oeste do Nilo,

malformações vasculares, traumas, abcessos cerebrais, linfossarcomas, botulismo, entre

outras (Mackay et al.2000, Dubey et al. 2001).

2.8. Tratamento

- S. neurona

O tratamento dos equinos com suspeita de EPM, depois dos sinais clínicos reconhecidos,

deve ser feito o mais rápido possível (Dubey et al. 2001). O tratamento mais comum é ainda a

combinação de pirimetamina (1,0mg/kg/dia) com sulfadiazina (20mg/kg/dia) no mínimo por seis

meses, porém o S. neurona já tem mostrado resistência a pirimetamina na ausência de sulfas

(Fenger et al. 1997, Mackay et al. 2000). O tratamento deve ser realizado enquanto o LCR for

positivo e/ou os animais demonstrarem sinais clínicos (Dubey et al. 2001).

Outra alternativa terapêutica seria administrar toltrazuril (10mg/kg/dia) e diclazuril

(5.6mg/kg/dia) por noventa dias (Fenger et al. 1997). O diclazuril é um coccidiostático absorvido

rapidamente e pode ser encontrado no soro uma hora após o tratamento. Os resultados

indicam que o diclazuril consegue eliminar os estágios primários do S. neurona, podendo ser

útil na profilaxia da EPM. O toltrazuril também é um coccidiostático, sendo amplamente

utilizado em várias espécies. Outro fármaco anti-coccídeo utilizado para o tratamento da EPM e

bastante eficiente trata-se de uma pasta oral de ponazuril, cujo princípio activo actua em vários

estágios do ciclo de vida do parasita (Dubey et al. 2001).

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A terapia anti-inflamatória é indicada e pode-se usar Fenilbutazona ou Flunixin

meglumine (1,1mg/kg BID) por três a sete dias, assim como a adição de DMSO (1g/kg em 10%

de solução), administrado via intravenosa (IV) ou por sonda nasogástrica (Fenger et al. 1997,

Mackay et al. 2000). Recomenda-se como tratamento suplementar, vitamina E, ácido fólico e

tiamina. Porém, foi demonstrado que além do tratamento suplementar mencionado, a

sulfadiazina assim como a pirimetamina, não são aconselháveis no tratamento de fêmeas

prenhas, devido ao risco de deformidades congénitas (Fenger et al. 1997, Dubey et al. 2001).

Muitos equinos podem continuar com resultados positivos por vários meses após a morte do

protozoário (Fenger et al. 1997). Se os sinais clínicos persistirem, a terapia deve ser reavaliada

a cada trinta dias. Ainda não existe uma vacina eficiente contra a EPM (Dubey et al. 2001).

Além dos protocolos convencionais utilizados para o tratamento da EPM, a instituição

do tratamento Fisioterapêutico e da Acupunctura, tem mostrado ser benéfico no

restabelecimento dos equinos acometidos por esta doença. Uma vez que, se observa um

progresso muito mais rápido devido aos estímulos gerados e com isso a uma maior

neuroplasticidade, resultando na diminuição do grau de incoordenação desses animais, na

recuperação da propriocepção, da função motora normal e no desenvolvimento de músculos

atrofiados.

- Neospora spp.

Até o momento, em equinos as estratégias de controlo e tratamento eficazes para

neosporose, não foram estudadas. (Dubey, 2001). Vários fármacos, como decoquinato,

depudecina, toltrazuril, ponazuril, artemisinina e os extractos de ervas medicinais têm sido

utilizados in vitro (cultivo celular) e in vivo (cobaias), porém, sem comprovação da eficácia das

mesmas (Kwon et al. 2003).

3. Considerações finais

A maioria dos relatos sobre EPM demonstra que o principal agente etiológico envolvido,

é sem dúvida o S. neurona. P.H. Pitel et al. em 2003 testaram a reactividade do soro de 50

equinos, pesquisando anticorpos anti-Sarcocystis neurona e anti-Neospora em duas

coudelarias Francesas (Normandia) que historial de doença neurológica semelhante à EPM.

Neste estudo 18 dos 50 cavalos clinicamente estáveis analisados, exibiram títulos de

anticorpos relativamente altos num teste de aglutinação com merozoítos de S. neurona. O

estudo realizado apenas se focou em animais saudáveis com anteriores casos neurológicos

semelhantes a EPM para tentar perceber, o modo de transmissão do Sarcocystis spp. Os

anticorpos foram detectados usando o teste directo de aglutinação para S. neurona (SAT), que

também demonstrou uma ligeira reacção cruzada contra S. falcatula, S. muris, H. hammondi e

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Neospora caninum. Como tal, os resultados serológicos obtidos neste estudo podem ter sido

devidos à reacção cruzada entre os anticorpos anti-Sarcocystis neurona e anti-Neospora. Uma

das hipóteses descritas pelo autor para os títulos elevados de anticorpos anti-Sarcocystis

neurona seria a contaminação (ou exposição antigénica) da comida importada das Américas, o

que não foi verificado. Alternativamente, a contaminação ambiental por Sarcocystis spp. foi

proposta como uma das causas possíveis para explicar os resultados obtidos. Os parâmetros

como raça, sexo ou viagens anteriores na Europa não foram apontados como factores de risco

para os títulos elevados de anticorpos encontrados. A significância dos títulos elevados nos

cavalos que viajaram/ficaram nos EUA é limitada devido ao número reduzido de animais. O

acesso dos animais selvagens à comida dos cavalos estava controlado em ambas as

coudelarias, sendo este um dos factores de risco para a ocorrência de doença já comprovado

nos EUA. No entanto na Europa não existe o hospedeiro definitivo do S. neurona (Gambá),

colocando-se a hipótese de que os anticorpos anti-S. neurona nos equinos da Europa podem

ser secundários ao contacto com outra Sarcocystis spp., que pode ser única deste continente e

proveniente de outros cavalos afectados, explicando também a sintomatologia neurológica e

reacção cruzada com antigénios de S. neurona nos ensaios serológicos.

Em Portugal foi comprovada a existência de Neosporose em bovinos e uma

prevalência que aparenta ser elevada, levando a que sempre se inclua como diagnóstico

diferencial quando surgem abortos em vacarias (Canada et al., 2002). Nos equinos, são

limitadas as informações referentes às consequências da infecção pelo N. caninum e N.

hughesi., talvez devido a menor infecção por esses protozoários ou até mesmo pelo facto da

neosporose não ser incluída no diagnóstico de EPM. Se houvesse a inclusão de Neospora spp.

no diagnóstico de EPM, seria possível avaliar a real participação desses parasitas nas

doenças neurológicas em equinos, assim como acontece com a EPM causada pelo S.

neurona. Portanto, mais estudos referentes ao diagnóstico e diferenciação dos parasitas N.

caninum e N. hughesi são necessários. Com a descoberta de que o Neospora hughesi, assim

como o N. caninum, também causam EPM em equinos, um novo desafio surgiu quanto ao

diagnóstico, tratamento e controlo da doença. Sendo assim, esta patologia pode estar

imergente na Europa, tanto pelas descobertas recentes como pela globalização do tráfego de

equinos. A falta de informação pode levar à impossibilidade de diagnóstico desta patologia no

continente Europeu, salientando a necessidade de constante troca de informação entre

Veterinários de Equinos.

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CASO CLÍNICO EPM 1. Histórico

No dia 19 de Setembro de 2008, uma égua de 5 anos “Silver Dollar Beauty” da raça

“Tennessee Walking Horse”, deu entrada no UTCVM (Fig.1, Anexo I). Duas semanas antes da

sua chegada ao Hospital, começou a apresentar fraqueza muscular e ataxia nos seus

membros posteriores, resposta dolorosa à palpação na região lombar e os sinais clínicos

agravavam-se consideravelmente quando montada. No dia anterior à sua entrada os sinais

clínicos agravaram-se e a mesma foi encontrada em decúbito pelos proprietários, porém com

capacidade de se colocar em estação quando estimulada. Do histórico médico pregresso,

apenas se sabia de uma luxação de um tendão num dos membros posteriores, não havendo

informações sobre possíveis traumas. Anteriormente a entrada no Hospital Veterinário, a égua

tinha sido examinada, e devido a sintomatologia apresentada pela mesma, foi colhido sangue e

enviado ao laboratório para a pesquisa de anticorpos contra Sarcocystis neurona, protozoário

comummente associado a desordens neurológicas por causar mieloencefalite protozoária

equina, obtendo-se resultado positivo apenas no segundo exame de Western Blot.

2. Sinais clínicos

No momento da sua chegada à Universidade, a “Beauty” apresentava-se em decúbito

lateral direito, devido a fraqueza dos membros posteriores e sem capacidade de se colocar em

estação. Ela estava alerta e responsiva aos estímulos externos.

3. Exame clínico

Foi realizada uma sedação com Xilazina (1,0 mg/kg iv) e indução com Ketamina (2,0

mg/kg iv) de forma a conseguir retirá-la do atrelado e efectuar o exame clínico com segurança.

Ela foi levada para a “Rubber Room” (sala com o chão de borracha onde eram colocados os

pacientes neurológicos e as emergências) e colocada no “sling” (dispositivo usado para

suportar o peso dos animais que não se conseguiam ficar em estação, composto por diversas

fitas que se colocavam em torno da parte ventral do animal suspensas num guincho colocado

no tecto e regulado por um controlo remoto) (Fig.2, Anexo I). Durante o exame físico foi

observado um desvio da cauda para a esquerda, atrofia muscular moderada no lado direito da

raiz da cauda e ligeira perda de tónus anal no mesmo lado. O membro posterior direito

encontrava-se com a parte dorsal do casco e quartela apoiados no solo, também chamado de

“knuckling” revelando portanto, défices proprioceptivos. Apesar de a égua ter sido referida

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como um caso neurológico, não foi realizado um exame neurológico completo devido à sua

apresentação em decúbito lateral e por isso foi efectuada palpação rectal pois o decúbito

poderia ser devido ao abdómen agudo, não revelando nenhuma alteração relevante.

Aparentemente não demonstrava disúria ou disquezia. Contudo, levando em consideração o

histórico e exame clínico inicial, concluiu-se que a “Beauty” apresenta fraqueza primária

bilateral nos membros posteriores, sendo o posterior direito mais severamente afectado. No

exame clínico geral realizado no UTCVM, foram obtidos os seguintes valores: Temperatura (T)

= 37,2ºC, Pulso (P) = 44 bpm, Respiração = 12 rpm, Mucosas (M) = rosa e húmidas, Tempo de

repleção capilar (TRC) = <2seg, “Body Scoring Condition” (BSC) = 4/9, Peso = 431 kg, Pulso

digital (PD) = não avaliado, Sons Intestinais (SI) = ++/++ e apetite presente.

4. Exames Complementares

Foi colhido sangue no dia de entrada, para verificar o hematócrito (HT) e proteínas

totais (PPT), obtendo com resultados os valores 32%, e 7.0g/dl respectivamente. Assim como

para a realização do hemograma completo, que por sua vez não demonstrou nenhuma

alteração relevante, porém no perfil bioquímico a enzima creatina quinase(CK) apresentava um

aumento, sendo encontrado o valor de 711 u/L (Valores de referência: 141-406 u/L). No dia

23/09/08 foram realizadas radiografias cervicais e uma mioelografia para excluir potenciais

patologias compressivas como o Síndrome de “Wobbler” (Estenose do Canal Vertebral Cervical

ou Mielopatia Cervical Estenótica) (fig. 3 e 4, Anexo I). Além destes exames foi também

realizada um punção medular para recolha de líquido cefalorraquidiano (LCR) no espaço

lombossacral. Além da análise do LCR procedeu-se ao teste de Immunoblot (Western Blot)

para detecção de anticorpos anti-Sarcocystis neurona (principal agente implicado na EPM).

5. Evolução Clínica

No dia 23/09/08 após a realização do mielograma, os seus sinais clínicos agravaram-se

consideravelmente tendo sido considerada a hipótese de eutanásia. O resultado da recolha de

LCR foi positivo para EPM, como tal o tratamento com o anti-protozoário Ponazuril (Marquis®)

5 mg/kg po SID foi instituído (fig. 5, Anexo I). O paciente começou também a apresentar

dificuldades em defecar, por isso foi instituído no tratamento 30 ml de óleo mineral misturado

com cada dose da ração comercial fornecida.

No dia 27/09/2008 acrescentou-se a terapêutica mais comum para a EPM, 27ml po SID

de “EPM Suspension” que era a combinação de pirimetamina (1,0 mg/kg po SID) com

sulfadiazina (20 mg/kg po SID), sendo que a duração recomendada seria até ao

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desaparecimento dos sinais clínicos ou até o LCR ser negativo pelo PCR para anticorpos anti-

S. neurona (fig. 6, Anexo I).

No dia 3/10/08, a “Beauty” já apresentava força suficiente para se colocar em decúbito

esternal. Foram realizadas radiografias laterais da parte distal dos seus membros anteriores

(fig. 7 e 8, Anexo I), a pedido do ferrador, e removidas as suas ferraduras característicos para o

trabalho realizado pela raça Tennessee Walking Horse (fig. 9, Anexo I) com a finalidade de

poder dar inicio ao tratamento hidroterápico (fig.10, Anexo I). Nessa manhã a “Beauty” estava

demasiado cansada para dar início a sua hidroterapia, como tal foi alterado o seu horário de

repouso sendo que era colocada num colchão em decúbito lateral das 7 às 11h da manhã e

das 7 às 11h da noite, alterando o lado de decúbito (sendo que o lado esquerdo era o mais

severamente afectado) para não causar ainda mais danos musculares e agravar o estado das

já existentes feridas de decúbito (fig. 11 e 12, Anexo I). Os seus olhos eram também

analisados diariamente para pesquisar possíveis úlceras na córnea, pois como passava grande

parte do dia em decúbito lateral podia haver lesão por atrito com a serradura usada como

cama. A avaliação da integridade da córnea era realizada usando o teste da fluoresceína. A

“Beauty” começou também a desenvolver algum edema na linha média do seu pescoço devido

à pressão exercida pelas fitas do “sling” nesta área. Para melhorar a drenagem linfática,

decidiu-se aplicar localmente um saco de soro aquecido até a resolução do edema. O exame

físico geral não revelou nenhuma alteração digna de salientar.

No dia 07/10/08 foi iniciada a hidroterapia, usando uma passadeira submersa em água

com a finalidade de aumentar a possibilidade de restabelecimento das vias neuronais

lesionadas pelo parasita. A primeira sessão foi de 15min e os seus movimentos melhoraram

consideravelmente com a ajuda da água no suporte do seu peso. O seu membro posterior

direito, que era o mais afectado, já não estava a ser arrastado durante o movimento e

conseguiu caminhar em linha recta durante o tempo todo. O objectivo futuro será aumentar

diariamente 5min ao tempo da sessão anterior, tentando desta forma melhorar a motricidade

(Fig.12, Anexo I). Devido à severidade da flebite desenvolvida na sua veia jugular direita,

passou-se a aplicar Surpass® a cada 6h juntamente com a aplicação local de um saco de soro

aquecido durante 15min. As úlceras cutâneas de decúbito estavam a ser tratadas diariamente

com Desitin®, uma pomada à base de óxido de zinco (40%), óleo de fígado de bacalhau (rico

em Vitaminas A e D), lanolina e petróleo.

Sendo assim a terapêutica diária da “Beauty” era: Exame físico geral BID, HT/PT BID,

uma dose diária de Marquis® para 454,5kg (1000lbs) 2h antes de uma dose de 113,6kg

(250lbs) de Gastroguard® (Omeprazole), 27ml po SID de “EPM suspension” que era a

combinação de pirimetamina (1,0 mg/kg po SID) com sulfadiazina (20 mg/kg po SID),

Surpass® e Desitin® TID, feno e água ad libitum com uma medida diária de ração Equine

Senior® à qual se adicionava 30mL de óleo mineral.

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Durante mais uma semana foram instituídas todas estas terapias acima referidas,

incluindo o aumento diário de 5min ao exercício realizado observando melhoras muito

discretas. No dia 14/10/08, falamos com o proprietário do animal explicando que não se

previam melhoras significativas da “Beauty”. Foi então decidida a eutanásia com subsequente

necrópsia, autorizada pelo proprietário, para obter a confirmação histopatológica de EPM

(Fig.13, Anexo I).

6. Resultados

O único parâmetro aumentado na bioquímica sanguínea foi o aumento de CK para 711

u/L, quando comparado ao valor de referência do laboratório da universidade que era de 141-

406 u/L, mas não se tratava de um aumento muito significativo, visto que nos casos mais

severos a CK pode chegar a atingir 10.000 u/L. Tendo em conta que a “Beauty” se encontrava

em decúbito lateral à chegada e, muito provavelmente, durante o transporte sofreu algumas

quedas na tentativa de se colocar em estação, todos estes eventos contribuíram para o

aumento observado. A enzima CK tem origem muscular e se encontra aumentada quando

existe dano/trauma muscular ou miopatias e uma semi-vida muito curta (aproximadamente 2h).

Analisadas todas as radiografias cervicais realizadas, concluiu-se não haver qualquer patologia

cervical nem medular compressiva, tanto a dinâmica, quanto a estática. Na análise de LCR

estava presente uma hiperproteinorraquia (61 mg/dl sendo que os valores de referência eram

5-35 mg/dl), que pode ser explicada pela colheita de LCR ter sido realizada na fase inicial e

aguda da doença. Na avaliação citológica do LCR, foi encontrada uma pleocitose mista

moderada característica de processos inflamatórios ou infecciosos do sistema nervoso central

(SNC). O Western Blot realizado ao LCR revelou-se positivo. O resultado foi considerado válido

pois o valor obtido foi de 2 eritrócitos / µl, sendo que para descartar falsos-positivos devido a

contaminação com sangue periférico deve ser menor que 50 eritrócitos / µl.

O relatório da necrópsia foi extenso e conclusivo (Anexo II). Nos diagnósticos

preliminares foram incluídas as ulcerações de decúbito multifocais associadas com celulite,

fibrose sub-endocardial focal e moderada pneumonia por aspiração necrosante sub-aguda

cranioventral. As alterações microscópicas observadas foram: broncopneumonia

necrosupurativa severa multifocal difusa, fibrose endocardial crónica focal, hiperplasia da pars

intermédia da glândula pituitária e microadenomas, severa mielite linfoplasmocitária crónica

extensiva regionalmente com raros eosinófilos e por fim necrose e degeneração axonal. Nos

comentários estava saliente que, apesar de terem sido examinados diversos segmentos da

medula espinal, não foram encontrados organismos protozoários. Sendo que isto não é

surpreendente visto que os esquizontes são normalmente poucos e difíceis de detectar,

especialmente após tratamento prolongado. Contudo, havia uma extensiva inflamação residual

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e malácia na medula espinal. As lesões histológicas, combinadas com o Western Blot positivo

no soro e LCR são consistentes com EPM. As úlceras de decúbito são consistentes com o

historial de decúbito lateral, assim como a pneumonia por aspiração.

7. Discussão

A EPM pode ser confundida com outras doenças que causam distúrbios neurológicos,

entre elas: a mal formação das vértebras cervicais causando estenose do canal vertebral

acompanhado de instabilidade intervertebral (Mackay et al. 2000, (Dubey et al. 2001), além de

traumas na coluna espinal que podem causar distúrbios neurológicos e incoordenação dos

membros (Mackay et al. 2000, Mansfield et al. 2001). Como diagnósticos diferenciais adicionais

são incluídas as seguintes doenças: mieloencefalite causada por herpesvírus equino tipo–1

(EHV-1), doença equina do motoneurónio, neoplasias na medula espinal, abcessos epidurais,

encefalite viral do Oeste do Nilo (WNV), encefalomielites virais de Este e Oeste (EEE e WEE),

osteoartropatia temporo-hióide, mieloencefalite degenerativa equina, mal formações

vasculares, traumas, abcessos cerebrais, migracção de parasitas, encefalopatia hepática,

leucoencefalomalácia, epilepsia, síndrome da cauda equina, linfossarcomas, botulismo, micose

das bolsas guturais, etc (Mackay et al.2000, Mansfield et al, 2001, Dubey et al. 2001).

Vou passar a descrever brevemente os dois principais diagnósticos diferenciais para os

casos de EPM, quais os testes que deveriam ser realizados para descartar todos os

diagnósticos diferenciais e por fim aferir sobre o que os permitiu excluir.

A mal formação das vértebras cervicais (Síndrome de Wobbler) é uma patologia

frequente, que resulta em compressão da medula espinal a nível cervical. Os sinais clínicos

apresentados pelos animais são causados por estenose do canal vertebral cervical e muitas

vezes é acompanhada de instabilidade intervertebral. Os sintomas são simétricos e os

membros pélvicos são mais afectados que os torácicos. A atrofia muscular focal não é

observada nesta patologia. Danos na medula espinal a qualquer nível podem ser causados por

trauma, levando a défices neurológicos que afectar de um a todos os membros (MacKay et al.

2000). Este diagnóstico foi excluído logo à partida pelas radiografias cervicais e mieolograma.

A mieloencefalite causada pelo EHV-1 pode afectar qualquer raça e idade. Um historial

de doença respiratória ou um surto de abortos estão normalmente presentes aquando da

ocorrência desta doença, sendo que podem ocorrer casos isolados ou surtos. Os cavalos

afectados apresentar febre no início dos sinais neurológicos. Os sinais clínicos geralmente têm

um início rápido. Estes sinais são assimétricos com fraqueza primária nos membros

posteriores, ataxia, distensão da bexiga (geralmente sem incontinência) e menos comummente

hipoalgesia perineal, paralisia da cauda e retenção fecal. Os sinais de envolvimento do cérebro

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são raros. Os cavalos afectados podem tornar-se paraplégicos ou tetraplégicos, em decúbito

permanente e incapazes de se colocarem em estação (MacKay et al. 2000)

Em suma, a ataxia observada pressupõe que existe envolvimento dos pedúnculos

cerebrais ou do núcleo vestibular. A hipometria e fraqueza nos membros pélvicos indica-nos

que poderá existir lesão na substância branca da medula espinal ou no tronco cerebral. Para

descartar os possíveis processos etiológicos que podem causar esta sintomatologia, podemos

através da análise do LCR fazer uma citologia para pesquisar neoplasias, formação de

abcessos, encefalomielites virais ou verminosas e o teste de Western Blot para pesquisar IgG

contra Sarcocystis neurona. A ressonância magnética da região do tronco cerebral, poderia

demonstrar eventuais danos estruturais para os poder caracterizar. As radiografias ou

tomografia axial computorizada (TAC), ao nível do crânio, poderiam aferir sobre potenciais

eventos traumáticos, osteoartropatia temporohioide ou outras patologias localizadas nesta

região. A endoscopia das bolsas guturais é outro meio de diagnóstico da osteoartropatia

temporohioide, permitindo avaliar proliferação óssea proximal estilohióide, assimetria ou

inflamação. A colheita de uma amostra sanguínea permite também investigar os títulos

serológicos para EEE/WEE e WNV, pelo teste ELISA de captura de IgM. Por último a

anamnese/história clínica são peças fundamentais para servir de guia de diagnóstico, excluindo

à partida diversas patologias.

No caso particular da “Beauty”, as radiografias cervicais e o mielograma excluíram todos

os diagnósticos diferenciais que causam compressão medular (“Wobbler”, Neoplasias e

Abcessos medulares). Os sinais clínicos exibidos também põem de parte diagnósticos como o

EHV-1, Doença do Motoneurónio Equino (a suplementação com vitamina E não melhorou os

sinais clínicos apresentados), Encefalopatia Hepática (painel bioquímico normal). A

Osteoartropatia Temporo-hióide e a Micose das Bolsas Guturais, ficam também de lado pela

sintomatologia apresentada em particular pela ausência de défices nos pares cranianos. O

teste Western Blot positivo obtido através de uma amostra sanguínea para pesquisa de

anticorpos anti-Sarcocystis neurona, não é indicativo de infecção mas sim de exposição ao

agente. A avaliação citológica do LCR, apenas confirmou que se tratava de um processo

inflamatório ou infeccioso do sistema nervoso central (SNC). Por outro lado, o teste Western

Blot positivo do LCR para anticorpos anti-Sarcocystis neurona, confirma o diagnóstico de EPM

e exclui da lista de diagnósticos todas as encefalomielites virais (EEE, WEE, VEE, WNV e

EHV-1). Estes dados em conjunto com a confirmação histopatológica, através da necrópsia, da

EPM não deixam dúvida quanto ao diagnóstico definitivo.

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8. Conclusão

A EPM deve ser sempre considerada em qualquer cavalo que exiba sinais de afecção

do Sistema Nervoso Central (SNC). Os animais que apresentem tais sinais devem ser

submetidos a um rigoroso exame neurológico, e aos testes laboratoriais indicados para que

possam ser excluídos outros diagnósticos com sintomatologia semelhante. O diagnóstico

laboratorial é fundamental, mas não retira a importância de um exame clínico exaustivo. Na

maioria dos casos de EPM, existe uma ataxia assimétrica e atrofia muscular localizada,

afectando mais comummente os membros posteriores. Esta combinação de sintomas tem

provado ser a característica mais distintiva desta doença, ajudando na exclusão de outras

patologias nervosas semelhantes que afectam os cavalos. O diagnóstico ante mortem de casos

atípicos ou ligeiros de EPM pode ser impossível de realizar pelo clínico.

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PARTE II

TERIOGENOLOGIA DE EQUINOS

“Efeito da concentração espermática e da metodologia de inseminação artificial com

sémen equino congelado” (Mestrado)

1. Objectivo

A primeira parte deste estudo consistiu em avaliar a influência da concentração

espermática na congelação de sémen equino, todavia como esta fase do estudo já tinha sido

terminada antes do início do meu estágio não irei falar sobre a mesma. O objectivo da segunda

parte deste estudo, a qual acompanhei durante o meu período de estágio, consistiu em

realizar, um estudo comparativo entre o método de inseminação “convencional”, que consiste

numa única inseminação com 800 milhões de espermatozóides num período até 6h pós-

ovulação, e o método actualmente proposto denominado de “programado” que utiliza duas

inseminações, a primeira 24 horas após a indução da ovulação e a segunda 40 horas após a

indução da ovulação, cada uma com 400 milhões de espermatozóides. Com os resultados

obtidos poderíamos aferir sobre o desempenho destas metodologias distintas de inseminação

artificial e avaliar também a influência da utilização de animais com padrões diferentes de

congelabilidade de sémen.

2. Revisão bibliográfica

O intervalo máximo que a inseminação pode distar da ovulação, com vista a obter o

máximo de fertilidade, é determinado pelo tempo necessário para que os espermatozóides

realizem a sua capacitação no oviducto e para que os oócitos maturem no mesmo local. Os

espermatozóides, ao chegar ao útero, iniciam a sua migração e estabelecem uma ligação com

as paredes do oviducto. Estas formam uma espécie de reservatório de espermatozóides, e o

local onde os mesmos vão realizar a sua capacitação em 12 horas (Daels et al. 2003). A

capacitação consiste numa série de processos que vão ser determinantes para a fertilização do

oócito, estando completa 18-20 horas após a chegada dos espermatozóides ao oviducto. Só

após estes processos é que o oócito e os espermatozóides estão preparados para a

fertilização (Graham et al, 1992).

O período de viabilidade reduzido para o sémen equino congelado combinado com o

sistema de comercialização “por dose, sem garantia” tem levado à prática de examinar as

éguas 3-4 vezes por dia durante o período peri-ovulatório de modo a que se utilize uma única

dose de sémen. Para isso, as éguas têm de ser levadas para um Centro de Reprodução ou os

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veterinários têm de fazer muitas vezes plantões nocturnos nas coudelarias, para garantir que a

inseminação pós-ovulação seja realizada dentro do intervalo de 6 horas após a ovulação

através de exames ultra-sonográficos de 6 em 6 horas, pois o sémen congelado tem uma

viabilidade de 12 horas no tracto reprodutivo da égua, necessitando ainda de 12 horas para

completar a sua capacitação, e o oócito uma viabilidade de 18 horas (Loomis & Squires 2005).

Actualmente recomenda-se o uso de um protocolo de inseminação “programada” que

pressuponha menor maneio das éguas a serem inseminadas com sémen congelado. Este

protocolo envolve exames ultra-sonográficos diários durante o estro, indução da ovulação

usando agentes indutores como o hCG (Gonadotrofina Coriónica Humana), Deslorelina (GnRH)

ou EPE (Extracto de Pituitária Equina) após a detecção de um folículo> 35mm de diâmetro e

inseminações 24 e 40 horas pós-indução. Utilizando este esquema de inseminação, as éguas

que ovularem 18-52 horas após administração do agente indutor de ovulação possuirão

espermatozóides depositados no tracto reprodutivo dentro de 12 horas antes ou 6 horas após a

ovulação, ou ambos (Loomis & Squires, 2005).

Num estudo utilizando este esquema, 26 de 34 éguas (76%) ficaram prenhas após duas

inseminações “programadas” contra 15 de 21 (71%) que ficaram prenhas após uma única

inseminação dentro de 6 horas pós-ovulação (Loomis & Squires, 2005).

Um dos maiores argumentos contra a inseminação das éguas mais que uma vez por ciclo é

o uso de maior quantidade de sémen (Squires et al. 2003), pois com o desenvolvimento do

comércio internacional de sémen congelado, diminuição da disponibilidade de doses de

garanhões de alta performance e o sistema de comercialização “por dose, sem garantia”,

muitas pessoas têm procurado métodos que reduzam a dose inseminante (Daels et al. 2003,

Loomis et al. 2001).

Além disso, mesmo em situações nas quais há disponibilidade de múltiplas doses por ciclo,

muitos profissionais acreditam que somente poderão alcançar taxas de prenhez aceitáveis com

sémen congelado se as éguas forem examinadas várias vezes ao dia (Loomis & Squires,

2005).

Outro argumento contra a inseminação “programada”, deve-se à possibilidade de duas

inseminações provocarem uma reacção inflamatória uterina mais intensa. Porém nos estudos

comparativos entre uma ou múltiplas inseminações, alguns utilizando a metodologia

“programada”, não se observou diferenças na incidência de acúmulo de fluído uterino (Metacalf

et al. 2000, Squires et al. 2003, Loomis & Squires, 2005).

O propósito da recomendação de um protocolo de inseminação “programada” empregando

duas inseminações por ciclo é fornecer uma maneira simples e efectiva no maneio das éguas

(Loomis & Squires, 2005). Além da escassez de estudos controlados que avaliem a eficiência

da inseminação “programada”, estes não ressaltam a qualidade do sémen utilizado, havendo

uma carência de informação sobre o seu desempenho em comparação com o método

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“convencional” (inseminação dentro de 6 horas pós-ovulação), quando utilizadas amostras de

sémen com uma variação consistente na qualidade pós-descongelacção. Consequentemente,

uma das propostas deste estudo que acompanhei durante o meu período de estágio enquadra-

se nesse propósito, pois dependendo dos resultados obtidos, esta metodologia traria grandes

benefícios para a expansão da utilização de sémen criopreservado.

- Métodos

Neste estudo foram utilizadas 20 éguas (idealmente 4 ciclos reprodutivos por égua) e 2

garanhões (Garanhão 1 de alta fertilidade e Garanhão 2 de baixa fertilidade) que se

encontravam no Centro de Reprodução e Biotecnologia Equina da UNESP (Posto de Monta),

utilizando ambos os protocolos de inseminação “convencional” (uma única inseminação com

800 milhões de espermatozóides num período até 6h pós-ovulação) e “programada” (duas

inseminações, a primeira 24 horas após a indução da ovulação e a segunda 40 horas após a

indução da ovulação, cada uma com 400 milhões de espermatozóides). O acompanhamento

da dinâmica folicular era realizado através da palpação rectal e ultra-sonografia (cérvix, útero e

ovários) para determinar com exactidão a fase do ciclo éstrico em que se encontravam as

éguas. Considerávamos que estavam em diestro (fase lútea) se apresentassem, à palpação

rectal e ecografia, cérvix e útero tónico, ausência de folículos com mais de 20mm de diâmetro e

com presença de um ou mais corpos lúteos nos ovários e a ausência de edema uterino. Por

outro lado considerávamos que estavam em estro (fase folicular), se à palpação rectal e

ecografia apresentassem pouca tonicidade no cérvix e útero, folículos com mais de 20mm de

diâmetro nos ovários e edema uterino. Às éguas que estivessem em diestro era administrado

5mg (1ml im) de Dinoprost Trometamina (Lutalyse®), uma prostaglandina que iria induzir a

luteólise e retorno ao cio mais rapidamente, sendo o exame ultra-sonográfico trans-rectal

realizado três dias mais tarde. As éguas que se apresentassem folículos com mais de 25mm de

diâmetro eram submetidas à ecografia do aparelho reprodutor 2 vezes ao dia (07h00 e 19h00),

para acompanhamento da dinâmica folicular. Quando os folículos ováricos atingissem um

diâmetro de 33-35mm, a ovulação era induzida utilizando 1mg de Deslorelina (análogo da

GnRH) i.m. em metade das éguas e uma combinação de 1mg de Deslorelina i.m. e 1700 U.I.

de hCG (Gonodotrofina Coriónica Humana) iv, na outra metade. As éguas nas quais se tinha

induzido a ovulação eram examinadas ecográficamente com intervalos de 4-6 horas, até ao

momento da ovulação. No Grupo 1 a dose inseminante era dividida em duas e realizavam-se

duas inseminações, com 400 milhões cada, a primeira 24 horas pós-indução da ovulação e a

segunda 40 horas após indução da ovulação. No Grupo 2 utilizava-se uma só inseminação

com 800 milhões, num período máximo de até 6 horas pós-ovulação. A técnica usada era a

Inseminação Artificial Profunda e o material utilizado eram varetas de inseminação maleáveis

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Minitub®, que eram introduzidas no útero via transcervical e por palpação rectal auxiliava-se a

sua colocação na ponta do corno uterino ipsilateral ao ovário que continha o folículo dominante.

Quando a vareta estivesse no local certo, eram inseridas as palhetas de sémen (previamente

descongeladas a 46ºC por 20 segundos) e empurradas com o auxílio de um mandril metálico

maleável. As éguas inseminadas eram avaliadas ecográficamente no dia seguinte para aferir

sobre a presença de líquido inflamatório uterino. As lavagens uterinas (3 litros de Lactato de

Ringer) pós-inseminação dependiam sempre da imagem ecográfica. Além deste procedimento,

era administrada Ocitocina sintética (Orastina® 10 U.I./ml) 2ml bid i.m. durante 4 dias a todas

as éguas que apresentassem líquido inflamatório uterino.

- Resultados provisórios

Os resultados obtidos, até ao término do meu estágio, foram de uma fertilidade de 65%

para o garanhão 1 (13/20) sendo que 54% das prenhezes foram com o método das duas doses

de 400 milhões 24 e 40 horas pós-indução, e os restantes 46% com a dose única de 800

milhões no período compreendido até 6 horas pós-ovulação. O garanhão 2, para os mesmos

parâmetros, apresentou 30% de fertilidade total (6/20), sendo que 33% das prenhezes foram

utilizando o primeiro método e no segundo 67%.

- Conclusões provisórias

Num estudo, muito semelhante, realizado no Colorado, foi demonstrado não haver

diferenças nas taxas de recuperação embrionária para éguas inseminadas uma vez dentro de

6 horas pós-ovulação com 800x106 de espermatozóides totais congelados (60%) contra éguas

inseminadas duas vezes a 24 e 40 horas pós-indução com 400x106 de espermatozóides totais

por inseminação (55%) (Squires et al. 2003).

Os dados estatísticos deste estudo não estão completos, mas considerando que a

viabilidade do oócito pós-ovulação é de 18 horas e do sémen congelado de 12 horas,

necessitando ainda o sémen congelado de 12 horas para capacitar e tendo em conta que as

éguas ovulam num intervalo de 18 a 52h pós-indução com os agentes referidos (Neste estudo:

Deslorelina em média 40h e Deslorelina + hCG em média 34h), se as taxas de fertilidade forem

iguais utilizando os dois métodos de inseminação descritos seria muito mais prático inseminar

as éguas com sémen congelado utilizando a técnica “programada” pois evita-se o esquema de

palpar de 6 em 6 horas para inseminar até 6 horas pós-ovulação.

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“Criopreservação e fertilidade de sémen de garanhões recuperados da cauda do

epidídimo.” (Mestrado)

1. Objectivo

O objectivo deste trabalho era provar a eficácia (taxa de fertilidade) das inseminações

artificiais com sémen congelado, obtido a partir da cauda do epidídimo de garanhões pós-

orquiectomia, comparando os resultados com inseminações artificiais usando sémen

congelado obtido a partir de ejaculado.

2. Revisão bibliográfica

Com o incremento da inseminação artificial, criopreservação e descongelação do sémen

equino, é possível minimizar perdas do material genético de garanhões de alto valor que

morram, através da recuperação e criopreservação de espermatozóides da cauda do epidídimo

(Granemann, 2006).

No final da espermatogénese os espermatozóides são liberados no lúmen dos túbulos

seminíferos (Johnson et al. 1997, Johnson et al. 2000), nesta fase estes possuem flagelo,

porém estas células ainda são imóveis e inférteis (Barth & Oko, 1989). À medida que os

espermatozóides passam pelo epidídimo eles sofrem importantes alterações morfológicas e

funcionais. Além do desenvolvimento da motilidade também sofrem estabilização da peça

intermediária e acrossoma (Barth & Oko, 1989, Hafez & Hafez, 2004). As principais alterações

ocorridas durante o trânsito no epidídimo estão associadas a modificações na cromatina do

núcleo espermático (Hingst et al. 1995), migracção da gota citoplasmática da região do colo

para uma região próxima ao annulus e mudança no tamanho do acrossoma (Hafez & Hafez,

2004).

Tem sido demonstrado que espermatozóides colhidos do epidídimo de garanhões

apresentam motilidade progressiva igual ou melhor que espermatozóides colhidos com vagina

artificial, embora após a congelação e descongelação estes espermatozóides apresentam

fertilidade muito inferiores quando comparado com o sémen do ejaculado (Tiplady et al. 2002).

Muitos métodos de recuperação de sémen da cauda do epidídimo estão descritos

incluindo: aspiração (Sharma et al. 1997), flutuação, que consiste em repouso do epidídimo em

meio gelatinoso após ter sido fatiado (Hewitt et al. 2001), ou fluxo retrógrado na cauda do

epidídimo, em que uma pressão é gerada com uma seringa nos vasos deferentes até que os

espermatozóides epidídimários empurrados pelo diluente extravasem pelo corte realizado na

junção entre a cauda e o corpo epididimal (Garde et al. 1994). A técnica de fluxo retrógrado

modificada, relatada por Granemann (2006), permitiu recuperar um número muito superior de

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espermatozóides da cauda do epidídimo, quando comparada o número de espermatozóides

colhidos através de vagina artificial. A colheita de sémen da cauda do epidídimo em garanhões

mostrou-se eficiente em recuperar células espermáticas (Tiplady et al. 2002, James et al. 2002,

Muradás et al. 2006) e estes espermatozóides foram considerados viáveis por até 24 horas

após orquiectomia (Granemann, 2006). Os parâmetros utilizados como indicativo de fertilidade

são morfologia e motilidade espermática, assim como a integridade de compartimentos

celulares dos espermatozóides (Blottner et al. 2001).

Estudos realizados com sémen epididimal em felinos, caninos, caprinos, suínos,

equinos e bovinos, demonstraram que a maioria destas espécies possui melhor viabilidade

seminal quando os testículos são armazenados entre 4 e 5°C, comparados com os mantidos à

temperatura ambiente (James, 2004). À temperatura ambiente, observou-se um declínio da

qualidade espermática com o aumento do tempo, tendo como limite de viabilidade próximo das

24 horas pós-orquiectomia. Este decréscimo pode não somente ser explicado devido ao

envelhecimento e esgotamento metabólico dos espermatozóides, mas também inerente ao

processo de degeneração tecidual pós-morte. Temperaturas mais baixas retardam o processo

de degeneração e diminui o metabolismo dos espermatozóides, mantendo-os vivos por mais

tempo (Granemann, 2006).

Os métodos de inseminação na extremidade do corno uterino e por histeroscopia têm a

capacidade de melhorar as taxas de concepção quando utilizado sémen congelado (Morris,

2004) e epididimal (Morris et al. 2002).

3. Métodos

Neste estudo usaram-se 20 éguas e 3 ciclos reprodutivos de cada uma, para além de 8

garanhões com histórico reprodutivo conhecido. Acompanhei actividades como dinâmica

folicular, colheita e congelação de sémen e os parâmetros de fertilidade avaliados foram iguais

às descritas no projecto anterior. A indução da ovulação das éguas era realizada quando se

observavam folículos ováricos com 33-35mm de diâmetro e acentuado edema uterino, e como

agente indutor utilizava-se a combinação de 1mg de Deslorelina im e 1700 U.I. de hCG iv.

Foram feitos três grupos de éguas (3 ciclos de cada), o primeiro era inseminado com

sémen de ejaculado (colhido com vagina artificial Biotech®) que era congelado após a colheita

e descongelado no momento da inseminação artificial profunda. O segundo grupo era

inseminado com sémen colhido da cauda de epidídimo, logo após a orquiectomia, pela técnica

de fluxo retrógrado modificada que consiste na separação do complexo testículo-epididimo

(Anexo III, Figura 1), remoção dos tecidos que envolvem o epidídimo a partir da dissecação do

tecido conjuntivo que recobre a cauda do epidídimo (Anexo III, Figura 2), após desfazer os

contornos do ducto epididimário (Anexo III, Figura 3), este foi seccionado em três partes para

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facilitar a lavagem para isso o segmento do epidídimo foi estendido na posição vertical e o

diluente injectado no lúmen até que os espermatozóides fossem transportados pelo diluente e

recuperados na outra extremidade (Anexo III, Figura 4). Por fim o terceiro grupo era inseminado

com sémen colhido da cauda de epidídimo, usando a técnica de castração acima referida,

sendo que antes efectuar a recuperação dos espermatozóides da cauda do epidídimo pela

técnica de fluxo retrógrado modificada os testículos eram armazenados por um período de 24

horas num Botutainer® (15ºC). Todas as inseminações foram realizadas pós-ovulação, o que

implicou o acompanhamento ultra-sonográfico do aparelho reprodutor das éguas de 6 em 6

horas pós-indução da ovulação. Para cada dose inseminante foi feita uma “pool” do sémen dos

8 garanhões, retirando desta forma a variável “garanhão” dos testes de fertilidade que se

visavam realizar.

4. Resultados provisórios

Infelizmente, não pude presenciar o término deste projecto de mestrado e como tal não

possuo resultados estatísticos para apresentar.

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Bibliografia

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ANEXO I

Fig.1 – “Beauty” dia 6/10/08

Fig.2 – “Sling” usado para os casos neurológicos

Fig.3 e 4 – Radiografias cervicais e mielograma

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Fig.5 - Marquis® Fig.6 – Pirimetamina/Sulfadiazina

Fig.7 e 8 – Radiografias laterais da parte distal dos membros anteriores esquerdo e direito,

respectivamente

Fig.9 – Ferraduras dos Tennesse Walking Horses

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Fig.10 - Hidroterapia

Fig.11 e 12 – Úlceras cutâneas de decúbito no flanco esquerdo e direito, respectivamente.

Fig.13 – Transporte para a sala de necrópsia pós-eutanásia

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ANEXO II

Relatório da Necrópsia da “Beauty”

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ANEXO III (Técnica de Fluxo Retrógrado Modificada)

Figura 1 - Complexo testículo-cauda do epidídimo.

Figura 2 – Dissecação do tecido conjuntivo que recobre a cauda do epidídimo

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Figura 3 – Ductos da cauda do epidídimo

Figura 4 – Lavagem de um segmento da cauda do epididímo