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Instabilidades Acústicas e Combustão:
Estudo Numérico da Interação entre
Chamas e Ondas Acústicas
Relatório Anual de Iniciação Científica
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Julho de 2013
Instabilidades Acústicas e Combustão:
Estudo Numérico da Interação entre
Chamas e Ondas Acústicas
Relatório Anual de Iniciação Científica
Gabriel R. Azevedo
Orientador: Luís Fernando Figueira da Silva
Rio de Janeiro, Julho de 2013.
Resumo
Este documento constitui o relatório anual do projeto de iniciação cientifica
intitulado “Instabilidades Acústicas e Combustão: Estudo Numérico da Interação
entre Chamas e Ondas Acústicas”. Os principais objetivos deste projeto são (i)
derivar equações de onda acústica para escoamentos reativos e turbulentos; e (ii)
analisar esquemas numéricos utilizados nos processos de discretização deste tipo
de equações. Neste trabalho, portanto, as principais equações que governam ondas
acústicas em escoamentos turbulentos e reativos foram derivadas. A derivação
teve como ponto de partida as equações fundamentais de transporte de massa,
quantidade de movimento e energia. Inicialmente, por questões de familiarização
com o tema abordado, a forma indicial das equações fundamentais foi obtida a
partir da sua respectiva forma vetorial. Em seguida, através do uso de hipóteses
simplificadoras, derivou-se a equação geral de onda acústica para escoamentos
reativos e, particularmente, para escoamentos a baixo número de Mach.
Finalmente, diferentes métodos de discretização numérica baseadas em diferenças
finitas tradicionais e diferenças finitas compactas foram analisados e seus
resultados comparados graficamente.
Os principais resultados obtidos mostram que a escolha do método
numérico a ser utilizado para discretizar as equações de onda acústica deve ser
baseada tanto nas caraterísticas dispersivas como dissipativas do esquema. Isto é
devido a que erros dispersivos relativamente pequenos não implicam
necessariamente em erros dissipativos também desta natureza, e vice-versa.
Baseado nos resultados obtidos, tanto para diferenças finitas tradicionais quanto
para diferenças finitas compactas, conclui-se que este último é bem mais preciso,
pois seus resultados para diferentes ordens de precisão se aproximam mais da
solução exata do que o primeiro. Uma vez que as equações de onda acústica foram
satisfatoriamente deduzidas e diferentes métodos numéricos de discretização
foram analisados, concluiu-se que os objetivos inicialmente propostos foram
atingidos. Como trabalho futuro pode-se indicar a solução das equações de onda
derivadas e sua aplicação para a análise de instabilidades acústicas presentes em
escoamentos turbulentos e reativos.
Índice
1 Introdução 7
1.1 Objetivo do Projeto 8
1.2 Metodologia 8
1.3 Organização do Relatório 9
2 Equações de Transporte Fundamentais 11
2.1 Transporte de Massa 11
2.2 Transporte de Quantidade de Movimento 12
2.3 Transporte de Energia 15
3 Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 18
3.1 Principais Hipóteses 18
3.2 Equação Geral de Onda 18
4 Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 26
4.1 Principais Hipóteses 26
4.2 Equação de Onda 29
4.3 Pressão e Velocidade Acústicas 30
5 Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 35
5.1 Forma Geral 35
5.2 Análise de Fourier 44
6 Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 50
6.1 Formulação Interior 50
6.1.1 Forma Geral 50
6.1.2 Análise de Fourier 51
6.2 Formulação de Fronteira 54
6.2.1 Forma Geral 55
6.2.2 Análise de Fourier 56
7 Conclusões e Perspectivas 60
8 Referências Bibliográficas 61
Lista de Figuras
Figura 4-1. Ondas longitudinais para seção de dutos variáveis [1] 32
Figura 5-1. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças
finitas tradicionais de 2ª ordem 42
Figura 5-2. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças
finitas tradicionais de 4ª ordem 43
Figura 5-3. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças
finitas tradicionais de 6ª ordem 43
Figura 5-4. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças
finitas tradicionais de 8ª ordem 44
Figura 5-5. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças
finitas tradicionais de 10ª ordem 44
Figura 5-6. Espectro de Número de Ondas para esquemas de
diferenças finitas tradicionais 49
Figura 6-1. Gráfico de número de onda modificado vs número de onda
para aproximação da primeira derivada. 54
Figura 6-2. Parte real do número de onda modificado para
aproximação da primeira derivada nas fronteiras do
domínio (caraterísticas dispersivas) 59
Figura 6-3. Parte imaginária do número de onda modificado para
aproximação da primeira derivada nas fronteiras do
domínio (caraterísticas dissipativas) 59
1 Introdução
O processo de combustão é estratégico para a economia de todos os países
uma vez que este é responsável por mais de 85% da energia utilizada pelo homem.
Este fato evidencia o nível de importância da combustão nas atividades cotidianas
do ser humano. Os equipamentos industriais, tais como as turbinas a gás, que
utilizam combustão como fonte de energia são assim largamente utilizados no
mundo todo. Devido aos processos físico-químicos que ocorrem neste tipo de
equipamentos, eles podem apresentar um comportamento instável resultante de
um acoplamento indesejável entre a liberação de calor pelas reações químicas e a
propagação de ondas acústicas. Os avanços tecnológicos puxando até o limite o
desenvolvimento deste tipo de equipamentos e as regulações meio ambientais
cada vez mais restritivas contribuem também para a ocorrência do comportamento
instável acima mencionado. Em particular, determinados regimes de operação
destes equipamentos visando minimizar a emissão de poluentes gasosos, óxidos
de nitrogênio (NOx) por exemplo, podem fomentar a formação de ciclos instáveis
(amplificações de pressão e velocidade) com efeitos catastróficos.
Para evitar a ocorrência deste tipo de fenômenos é necessário entender os
mecanismos que o originam. Uma maneira de obter este entendimento é através
de análises numéricas, usando, por exemplo, técnicas de Dinâmica dos Fluidos
Computacional (CFD), as quais permitam modelar com um menor ou maior grau
de precisão os fenômenos termoacústicos que originam as referidas instabilidades.
Mais especificamente, neste trabalho ondas acústicas presentes em escoamentos
turbulentos e reativos são estudadas. As principais equações que governam ondas
acústicas neste tipo de escoamentos são assim derivadas e diferentes métodos de
discretização numérica baseadas em diferenças finitas tradicionais e diferenças
finitas compactas [2] são analisados e seus resultados comparados graficamente.
Introdução 8
1.1 Objetivo do Projeto
Os objetivos principais do presente projeto são:
Derivar equações de onda acústica para escoamentos reativos e
turbulentos de tal forma a permitir o estudo de instabilidades
termoacústicas causadas pela liberação de calor e a propagação destas
ondas.
Analisar esquemas numéricos utilizados em processos de discretização
de ondas acústicas as quais possibilitam a resolução destas em
ferramentas de dinâmica dos fluidos computacional (CFD).
1.2 Metodologia
A metodologia a seguir envolve as seguintes etapas:
Para poder dar início ao projeto, foi feita uma revisão bibliográfica [1,3]
para se familiarizar com os termos e vocabulário a serem utilizados
durante a pesquisa. Os temas particulares investigados estiveram
relacionados às interações entre combustão, turbulência e ondas
acústicas em aplicações práticas.
De modo a entender o que é uma onda acústica, foi preciso iniciar com
as equações fundamentais da mecânica dos fluidos, que são: transporte
de massa, de quantidade de movimento e energia. Para facilitar futuras
deduções de outras equações, a forma indicial destas equações
fundamentais foi obtida usando-se suas respectivas formas vetoriais.
Utilizando-se, inicialmente, algumas hipóteses simplificadoras e
posteriormente operações algébricas, a partir das equações
fundamentais, foi derivada a forma geral da equação de onda acústica na
sua forma indicial. Nesse caso, as derivações foram para escoamentos
reativos. Seguidamente, a equação de onda derivada foi particularizada
para escoamentos a baixo número de Mach. Adicionalmente as equações
correspondentes a escoamentos inertes também foram obtidas.
Introdução 9
Uma vez derivadas as equações de onda, estas precisam ser resolvidas.
O primeiro passo, neste processo, envolve a discretização destas. Logo,
métodos numéricos usados com esta finalidade foram estudados. Os
métodos analisados envolvem diferenças finitas tradicionais e diferenças
finitas compactas [2]. A forma geral das expressões correspondentes aos
métodos baseados em diferenças finitas tradicionais foi derivada usando
séries de Taylor.
Para analisar o erro associado com estes métodos de discretização, uma
técnica muito útil envolve o uso de transformadas de Fourier. Com ela,
podem-se obter expressões em função do número de onda (no espaço de
frequência) ilustrando assim as características principais do método
numérico de discretização sendo analisado.
Para o método de diferenças finitas compactas o processo foi
semelhante. Primeiramente, as expressões gerais disponíveis na
literatura [2] para pontos no interior do domínio foram analisadas
usando transformadas de Fourier. Posteriormente, foi feito a mesma
análise para pontos correspondentes à fronteira do domínio. Outros
esquemas aplicáveis a esta situação particular também foram analisados
[4]. Finalmente, os resultados obtidos usando os diferentes métodos
numéricos estudados foram analisados e comparados graficamente.
1.3 Organização do Relatório
O presente relatório é organizado em 7 capítulos adicionais ao presente
(Capítulo 1). No Capítulo 2 a forma indicial das equações fundamentais de
transporte de massa, de movimento e energia foram obtidas usando-se suas
respectivas formas vetoriais.
O Capítulo 3 retrata a derivação da equação geral de onda acústica para
escoamentos reativos a partir das equações de transporte fundamentais e a
utilização de hipóteses simplificadoras. A equação geral de onda acústica obtida
no capítulo anterior é particularizada no Capítulo 4 para escoamentos a baixo
número de Mach e adicionalmente para escoamentos inertes.
Introdução 10
Nos Capítulos 5 e 6 são estudados métodos de discretização espacial que
permitem a resolução das equações de onda encontradas. Os esquemas numéricos
utilizados para tal resolução foram os métodos de diferenças finitas centradas e
método de diferenças finitas compactas. As principais conclusões obtidas a partir
das análises feitas durante o desenvolvimento deste trabalho e as referências
consultadas são salientadas nos capítulos 7 e 8, respectivamente.
2 Equações de Transporte Fundamentais
Neste capítulo são introduzidas, primeiramente, as equações fundamentais
da mecânica dos fluidos, as quais são usadas como base para estudar ondas
acústicas em escoamentos reativos. Mais especificamente, a partir da forma
vetorial destas equações fundamentais, suas respectivas formas indiciais foram
obtidas.
2.1 Transporte de Massa
A equação de transporte de massa na forma vetorial é dada por [1]:
0 (2.1)
Para obter sua respectiva forma indicial, primeiramente expande-se o termo
com gradiente de velocidade:
0 (2.2)
Sabe-se que a derivada material da densidade é igual a:
. (2.3)
Substituindo (2.3) em (2.2):
. 0 (2.4)
Logo expande-se o gradiente e o vetor velocidade:
Equações de Transporte Fundamentais 12
, , . , ,
0
(2.5)
Resolve-se os termos escalar e de multiplicação da equação (2.5):
0 (2.6)
Arruma-se os termos de forma que os denominadores iguais fiquem juntos:
0(2.7)
Observa-se que nos termos entre parênteses pode ser aplicada a regra da
cadeia:
0 (2.8)
Por fim, foi usado a convenção de soma de Einstein para obter o somatório
de velocidade em um único índice:
0 (2.9)
2.2 Transporte de Quantidade de Movimento
A forma vetorial é dada por [1]:
. (2.10)
Inicialmente, usando a equação (2.3), o termo contendo a derivada material
da velocidade pode ser rescrito como:
. (2.11)
Equações de Transporte Fundamentais 13
O termo envolvendo o tensor de cisalhamento é uma matriz 3x3, com
coordenadas nos eixos x,y,z:
(2.12)
Expande-se os termos da equação (2.11) envolvendo gradientes e substitui-
se (2.12) em (2.11):
, , , ,
, ,
, , .
(2.13)
Resolve-se os termos escalares e as multiplicações:
, , , ,
, ,
(2.14)
Compara-se os termos do lado esquerdo com o lado direito e iguala-se
aqueles que têm os mesmos índices:
(2.15)
(2.16)
Equações de Transporte Fundamentais 14
(2.17)
Nesse caso considera-se a direção no eixo j, portanto a equação (2.16) foi
utilizada.
Para dar continuidade à resolução, pela equação (2.9) multiplica-se os
termos pela velocidade na direção escolhida:
0 (2.18)
Agora, soma-se as equações (2.16) e (2.18) e agrupa-se por denominadores
iguais:
(2.19)
Observa-se que os termos entre parênteses podem ser escritos como uma
regra do produto:
(2.20)
Os termos com os componentes do tensor de cisalhamento podem ser
escritos na forma de uma somatória. Assim usando-se a convenção da soma de
Einstein tem-se que:
(2.21)
Portanto, a forma final da equação de transporte de quantidade de
movimento é dada por:
(2.22)
Equações de Transporte Fundamentais 15
2.3 Transporte de Energia
A equação de transporte de energia na sua forma vetorial é dada por [1]:
: , . (2.23)
Primeiramente o termo a ser modificado é aquele com o tensor de
cisalhamento. Portanto, após sua expansão toma a forma:
: : (2.24)
A equação (2.24) pode ser escrita na forma de somatórios:
: (2.25)
Ainda pode ser escrita como:
: (2.26)
Utilizando a propriedade do produto duplo de Dyads, a equação (2.26) é
expressa por:
. : . (2.27)
Outra propriedade vista foi a de vetores unitários para Dyads:
(2.28)
Para finalizar a primeira parte, o método de substituição para Dyads foi
requerido e as etapas serão mostradas:
1ª etapa:
Equações de Transporte Fundamentais 16
(2.29)
2ª etapa:
(2.30)
3ª etapa:
(2.31)
4ª etapa:
(2.32)
O segundo termo da equação (2.23) a ser modificado é:
, . (2.33)
Expande-se o termo gradiente:
, , , , , , . , , (2.34)
Efetua-se, agora, o produto escalar:
, , , , (2.35)
Pela convenção de soma de Einstein pode-se reduzir os termos entre
colchetes para um único termo da forma:
, , (2.36)
Portanto, substituindo (2.32) e (2.36) em (2.23), a equação de transporte de
energia na forma indicial é dada por:
Equações de Transporte Fundamentais 17
, , (2.37)
As formas indiciais das equações de transporte de massa, transporte de
quantidade de movimento e transporte de energia foram minuciosamente
deduzidas. No capítulo seguinte, essas equações serão usadas como base para
encontrar as equações de onda acústica.
3 Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo
Este capítulo retrata a derivação da equação geral de onda acústica para
escoamentos reativos a partir das equações de transporte fundamentais e a
utilização de hipóteses simplificadoras.
3.1 Principais Hipóteses
Algumas hipóteses foram utilizadas de forma a desconsiderar as forças de
corpo (fk=0) e a existência de fontes ou sumidouros de energia 0 .
3.2 Equação Geral de Onda
Para começar, baseia-se na equação (2.23) e precisa-se da equação de estado
para dar sequência à dedução:
(3.1)
Substitui-se (3.1) em (2.23):
: , . (3.2)
Pode-se utilizar o recurso da regra da cadeia no termo modificado – segundo
termo do lado direito da equação (3.2):
:
, . (3.3)
Mais uma vez pela regra da cadeia:
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 19
:
, . (3.4)
Divide-se todos os termos por:
(3.5)
Então a equação é dada por:
1
1
: , .
(3.6)
Substituindo a equação (3.1) na parte esquerda da equação (3.6)
(temperatura), e após as respectivas simplificações, observa-se então a nova
equação:
1
1:
, .1
(3.7)
O logaritmo natural tem uma propriedade em que pode ser escrito como:
1(3.8)
Então pela propriedade do quociente do logaritmo e pela equação (3.8):
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 20
1:
, .1
(3.9)
Substituindo a equação (3.8) em (3.9) e trocando de lado o segundo termo
da esquerda com o último da direita da equação (3.9):
1 1
1:
, .1
(3.10)
Fazendo operações algébricas e usando a regra da cadeia no último termo da
direita:
11
1:
, .1
(3.11)
Simplificando termos na equação (3.11):
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 21
1
1:
, .1 1
(3.12)
Utilizando, agora a equação (2.1) e a dividindo por ρ:
1. 0 (3.13)
Outra equação que será necessária é a de gases ideais:
1(3.14)
Substituindo (3.13) e (3.14) em (3.12), a equação do logaritmo da pressão
toma a forma:
1.
1:
, .1
(3.15)
Para continuação da dedução, agora, será utilizada a equação (2.10) e dela
todos os termos são divididos por ρ:
1 1. (3.16)
Divide-se por p no denominador e no numerador no segundo termo e
utiliza-se a equação (3.8):
1. (3.17)
Definindo a equação para velocidade do som:
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 22
(3.18)
Substituindo (3.18) em (3.17):
1. (3.19)
Por fim, derivando-se materialmente a equação (3.15):
1.
1:
, .1
(3.20)
Multiplica-se, também, todos os termos da equação (3.19) pelo divergente:
. .1
. (3.21)
Assim subtraindo-se (3.20) de (3.21):
. .1
.
.1
.
1:
, .1
(3.22)
Rearranjando os termos:
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 23
.1
.1
.
1:
, .
. .
(3.23)
Os dois últimos termos desta equação precisam de tratamento adicional.
Então, para começar, expande-se os termos:
. .
, , . , ,
, , . , ,
(3.24)
Fazendo os produtos escalares:
(3.25)
Utilizando-se a equação (2.3) nos termos contendo derivadas materiais:
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 24
(3.26)
Anulam-se os termos envolvendo derivadas temporais considerando-se a
permutabilidade das derivadas temporal e espacial. Portanto a nova equação pode
ser expressa por:
(3.27)
Pela regra do produto entre termos de denominadores iguais tem-se:
(3.28)
Alguns termos, também, serão cancelados e resultará em:
Equação Geral de Onda Acústica em Escoamento Reativo 25
(3.29)
Podendo ser expresso em apenas um termo, o qual leva a seguinte forma
final:
. . (3.30)
Comparando o lado direito da equação (3.30) com (2.32), pode-se perceber
que ambos termos são iguais, porém este ultimo caso envolve o produto de dois
gradientes de velocidade. Isto implica que a equação (3.30) pode ser expressa
como:
. . : (3.31)
Logo, a equação (3.23), a qual representa a forma geral da equação de onda
acústica, toma a forma final indicada a seguir:
.1
.1
.
1:
, .
:
(3.32)
Neste capítulo a equação geral de onda acústica para escoamento reativos
foi encontrada. No seguinte capítulo, esta equação será particularizada para baixo
número de Mach e para escoamentos inertes com base em hipóteses
simplificadoras.
26
4 Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach
No presente capítulo, a equação geral de onda foi particularizada para
escoamentos a baixo número de Mach e, também, para escoamentos inertes.
4.1 Principais Hipóteses
As principais hipóteses consideradas para particularizar a equação de onda
para escoamentos a baixo Mach e escoamentos inertes são as seguintes:
Escoamento médio a baixa velocidade 0
Peso molecular igual para todas as espécies
Estas hipóteses levam a diversas simplificações tal como salientadas a
seguir:
Ordem de magnitude: A análise de ordem de magnitude realizada por
Kotake [5] mostra que os termos dominantes na equação geral de onda,
equação (3.32), são os associados com a liberação de calor químico e as
velocidades de perturbação.
Derivada material: Uma vez que as derivadas convectivas são termos de
segunda ordem quando comparadas às derivadas temporais, para
escoamentos a baixo Mach, a derivada material é aproximada pela
derivada parcial temporal:
(4.1)
Taxa de reação: O calor específico (mássico) a pressão constante é dado
por:
, (4.2)
Considerando que Y1>>Y2,Y3,... é a espécie dominante, tem-se que:
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 27
, (4.3)
Adicionalmente a entalpia (estática) da mistura de gases é dada por:
(4.4)
Onde hk é a entalpia (estática) da espécie k e∆ , é a entalpia de formação:
, ∆ , (4.5)
A entalpia sensível da espécie k é dada por:
, , (4.6)
E da mesma forma:
, (4.7)
Para Y1 1
, (4.8)
Assim do termo de taxa de reação dado por:
(4.9)
Expandindo-o tem-se que:
, ∆ , (4.10)
Como a entalpia sensível é constante, equação (4.8), a taxa de reação
(mássica) é dada por:
∆ , (4.11)
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 28
Razão de calores específicos: Considerando-se Cp e Cv funções da
temperatura e baseado no conceito de espécie dominante (k1 e k2
constantes de proporcionalidade):
(4.12)
(4.13)
Assim dividindo-se Cp por Cv tem-se:
(4.14)
Outras relações – Gás ideal: Para o caso de gases ideais:
(4.15)
(4.16)
Unindo (4.15) e (4.16) tem-se:
(4.17)
Da equação de gases ideais:
(4.18)
Juntando (4.17) e (4.18):
1 (4.19)
Outras relações – Pressão acústica: Considerando-se a pressão como
sendo a soma de dois termos, um termo associado ao escoamento médio
(p0) e outro correspondente à perturbação acústica (p1), tem-se:
(4.20)
Portanto:
1 (4.21)
Assumindo-se que ≪ 1, tem-se que:
(4.22)
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 29
Para derivadas parciais, utiliza-se a equação (4.20) e obtêm-se:
(4.23)
As derivadas temporal e espacial da pressão, considerando-se que a pressão
do escoamento médio é praticamente constante, tomam a forma indicada a seguir:
(4.24)
(4.25)
4.2 Equação de Onda
Para início de dedução, foi utilizada a equação (3.32). Dela pode-se, através
das hipóteses mencionadas anteriormente, simplificar grandemente a equação de
onda acústica.
Da análise realizada por Kotake [5], admite-se somente termos relacionados
à transferência de calor e velocidade de perturbação, então a equação (3.32)
reduz-se a:
1 1: (4.26)
Outra simplificação vem da equação (4.11) – taxa de reação:
1 1: (4.27)
Pela hipótese vinda da equação (4.14), razão de calores específicos
constante, simplifica-se para:
: (4.28)
Usando a equação (4.16) e (4.1) nesta última equação:
1: (4.29)
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 30
Falta agora somente linearizar a expressão resultante. Assim usando as
equações (4.22) e (4.25) na (4.29):
: (4.30)
Finalmente, substituindo-se a equação (4.19) em (4.30), a forma final da
equação de onda para escoamento reativo a baixo Mach é a seguinte:
1 : (4.31)
E para o caso de escoamento não reativo, da equação (3.18) e sabendo-se
que γ, p0 e ρ0 são aproximadamente constantes e que não há taxa de reação
química, a equação de onda para escoamentos inertes a baixo Mach é dada por:
: (4.32)
4.3 Pressão e Velocidade Acústicas
Nesta seção a derivação da pressão e velocidade acústicas é detalhada.
Assim usando-se a equação (2.10), porém sem incluir os termos de viscosidade
tem-se que.
(4.33)
O primeiro passo envolve a linearização da pressão, da densidade e da
velocidade de escoamento. O procedimento seguido para a densidade é similar ao
demonstrado na equação (4.22) e para a pressão e velocidade, similares a (4.24) e
(4.25). Como resultado deste processo de linearização temos que:
(4.34)
(4.35)
(4.36)
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 31
Considerando a hipótese que se pode aproximar a derivada material
temporal para derivada parcial temporal – equação (4.1) – e o resultado da
linearização – equações (4.34)-(4.36), a equação (4.33) a qual corresponde à
velocidade acústica é expressa como:
1(4.37)
Para o caso da pressão acústica, parte-se da equação (3.15) correspondente
ao logaritmo natural da pressão. Nesta expressão, desprezam-se os termos de
viscosidade e variações de peso molecular, com o qual os termos associados à
velocidade de difusão e Dr/Dt desparecem. Mais especificamente, considera-se a
equação (4.11) e que Cp,k é constante (espécie dominante):
, . 0 (4.38)
Isto é devido a que por definição:
0 (4.39)
Então se fazendo tais considerações, a equação (3.15) a qual corresponde à
pressão acústica é expressa da forma:
1.
1(4.40)
Adicionalmente, linearizando a equação (4.40) para ordem zero, o termo
associado à derivada desaparece. Para linearizar a pressão e velocidade usa-se a
equação (4.24), e para a taxa de reação, o único termo que contém na ordem zero
é:
(4.41)
Logo a equação (4.40) em ordem zero é expressa como:
.1
(4.42)
Para o caso de ordem um, faz-se os mesmos procedimentos realizados para
a ordem zero. As equações de linearização para pressão estão em (4.22) e (4.25) e
para taxa de reação e velocidade são:
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 32
(4.43)
(4.44)
Logo substituindo-se as equações (4.22),(4.25),(4.43),(4.44) na (4.40):
1 1.
1(4.45)
Rearranjando os termos tem-se:
1 1 1 1(4.46)
Substituindo (4.42) em (4.46) nesta última expressão:
1 1 1(4.47)
Sabe-se adicionalmente que, das equações (4.16) e (4.19):
1 1(4.48)
Então substituindo-se (4.48) em (4.47) e novamente considerando a equação
(4.1), finalmente tem-se:
1 1 1(4.49)
No caso particular de uma onda longitudinal em um duto de seção variável,
Figura 4-1, expressões adicionais podem ser obtidas.
Figura 4-1. Ondas longitudinais para seção de dutos variáveis [1]
A equação usada como ponto de partida na primeira parte é a (4.37). Dela
expande-se os termos:
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 33
, , , , ,1
, , 0,0,0 (4.50)
Considera-se o fluxo somente em uma direção, ou seja, o escolhido foi no
sentido do eixo z:
,1
0 (4.51)
A segunda parte vem da equação (4.49). Considerando somente o eixo z
para sentido do fluxo, e integrando ambos os lados da equação, tem-se:
1 1 1(4.52)
Separa-se os termos dentro da integral em dois e considera-se a
permutabilidade das operações de integração e derivação:
1 1
1
(4.53)
Pode-se retirar de dentro da integral em todos os termos, caso haja, γ, p0, ρ,
Cp, T, p1, u1, , pois todos não variam em x ou y:
1 1
1
(4.54)
Sabe-se que (onde S é a área longitudinal variável do duto):
(4.55)
Substituindo (4.55) em (4.54):
1 1 1(4.56)
No primeiro termo da equação (4.56), a área não depende do tempo, mas
somente de z, portanto pode ser tirada da derivada:
Equação de Onda Acústica em Escoamento a Baixo Mach 34
1 1 1(4.57)
Dividindo-se todos os termos pela área, a equação de uma onda longitudinal
propagando-se em um duto de seção variável é dada por:
1 1 1 1(4.58)
Neste capítulo as equações de onda para baixo número de Mach e para
escoamentos inertes foram derivadas. No próximo capítulo alguns dos métodos de
discretização numérica usados para resolver essas equações de onda acústica serão
analisados. Métodos estudados incluem diferenças finitas centradas e diferenças
finitas compactas.
5 Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais
Neste capítulo os métodos de diferenças finitas centradas usados
tradicionalmente para discretizar as equações de onda acústica são estudados.
5.1 Forma Geral
Primeiramente considera-se uma malha onde se encontram pontos discretos
uniformemente distribuídos. Um ponto arbitrário é dado por xi, onde o ponto
seguinte é xi+1 e o anterior é xi-1:
.xi-2 .xi-1 .xi .xi+1 .xi+2
O espaçamento entre pontos é dado por Δxi=xi-1-xi. Então para obter as
expressões correspondentes às diferenças finitas centradas, foi preciso usar séries
de Taylor. Assim da sua forma geral tem-se que:
2!⋯
!
(5.1)
Onde Rn+1 corresponde ao termo de integração dado por:
…
Rescrevendo a equação (5.1) para ∆ obtém-se o método de
discretização conhecido como Forward Euler. Os detalhes a seguir:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 36
∆
∆
∆2!
⋯
∆!
(5.2)
Simplificando os termos:
∆
∆∆2!
⋯
∆!
(5.3)
Finalmente a equação correspondente a Forward Euler é dada por:
∆∆
∆2!
⋯∆
!
(5.4)
Para Backward Euler segue-se um procedimento similar (em ∆ :
∆
∆
∆2!
⋯
∆!
(5.5)
Simplificando os termos:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 37
∆
∆∆2!
⋯∆
!
(5.6)
A equação para Backward Euler é dada por:
∆∆
∆2!
⋯∆
!
(5.7)
As expressões de Euler obtidas são de ordem um. A seguir são feitas as
deduções usando séries de Taylor dos métodos de diferenças finitas centradas para
ordens superiores. No caso foram feitas para segunda, quarta e sexta ordens. Para
a oitava e décima ordens o procedimento é similar.
Segunda ordem
Multiplica-se (5.4) por Δxi-1 e (5.7) por Δxi:
∆ ∆∆
∆∆2!
⋯∆
!
(5.8)
∆ ∆∆
∆∆2!
⋯
∆!
(5.9)
Subtrai-se (5.8) de (5.9):
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 38
∆ ∆∆
∆ ∆∆
∆ ∆
∆ ∆3!
∆ ∆3!
⋯
(5.10)
Divide-se (5.10) por (Δxi-1 + Δxi):
1∆ ∆
∆ ∆∆
∆ ∆∆
1∆ ∆
∆ ∆3!
∆ ∆3!
⋯
(5.11)
Considerando-se que Δxi-1=Δxi =Δx, pode-se simplificar alguns termos:
12∆
∆ ∆
∆3!
∆5!
⋯(5.12)
Sabe-se que u(xi-Δxi)=u(xi-1)=ui-1, assim como u(xi+Δxi)=u(xi+1)=ui+1. Logo
a equação para segunda ordem:
12∆
∆3!
∆5!
⋯ (5.13)
Quarta ordem
Agora o termo Δx será igual a 2Δx, então a equação (5.13) é dada por:
14∆
2∆3!
2∆5!
⋯ (5.14)
Multiplica-se (5.13) por 4:
42∆
4∆3!
∆5!
⋯ (5.15)
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 39
Subtrai-se (5.15) de (5.14):
42∆ 4∆
3 12∆5!
60∆7!
⋯
(5.16)
Dividindo todos os termos por 3 e rearranjando eles tem-se que:
812∆
4∆5!
20∆7!
⋯
(5.17)
Multiplicando em cima e em baixo por 2 no termo da esquerda, a expressão
correspondente a quarta ordem é dada por:
16 224∆
4∆5!
20∆7!
⋯
(5.18)
Sexta ordem
Agora o termo Δx será igual a 3Δx, então a equação (5.13) pode ser
expressa como:
16∆
3∆3!
3∆5!
⋯ (5.19)
Multiplica-se (5.13) por 9:
92∆
9∆3!
∆5!
⋯ (5.20)
Subtrai-se (5.20) de (5.19):
92∆ 6∆
8 72∆5!
720∆7!
⋯
(5.21)
Dividindo-se todos os termos por 8:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 40
2748∆
9∆5!
90∆7!
⋯
(5.22)
Multiplica-se a equação (5.18) por 9 e (5.22) por 4:
144 1824∆
9 36∆5!
180∆7!
⋯
(5.23)
108 448∆
4 36∆5!
360∆7!
⋯
(5.24)
Subtrai-se (5.23) de (5.24):
144 1824∆
108 448∆
5 180∆7!
⋯
(5.25)
Dividindo tudo por 5 nesta última expressão a equação de sexta ordem é
dada pela seguinte forma:
36 7,2 0.848∆
36∆7!
⋯
(5.26)
A Tabela 5-1 sumariza os valores dos coeficientes encontrados para os
métodos de diferenças finitas centradas de segunda, quarta e sexta ordem. Os
correspondentes a oitava e décima ordem são incluídos também para referência.
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 41
Tabela 5-1. Coeficientes dos esquemas de diferenças finitas tradicionais
Coeficientes do Esquema de Diferenças Finitas Tradicionais
Coeficiente 2ª ordem 4ª ordem 6ª ordem 8ª ordem 10ª ordem
a(1) 1/2 8/12 45/60 32256/40320 302400/362880
a(2) -1/12 -9/60 -8064/40320 -86400/362880
a(3) 1/60 1536/40320 21600/362880
a(4) -144/40320 -3600/362880
a(5) 288/362880
A equação usada como teste de verificação dos métodos de diferenças
finitas tradicionais é uma equação de transporte convectiva dada por:
0 (5.27)
Como condição inicial foi usada um pulso senoidal devido a que apresenta
características dispersivas e dissipativas em esquemas numéricos. O pulso
senoidal usado é da forma:
, 0.5 (5.28)
Nesta equação k é o número de onda,
(5.29)
ω é a frequência angular (igual 2π) e λ é o comprimento de onda, cujo valor
adotado é igual 30. Nesse projeto, para fins de cálculos foi considerado que o
espaçamento temporal e espacial é igual a um (∆t=∆x=1). Portanto a condição de
CFL (Courant–Friedrichs–Lewy) é também igual a um (velocidade de pulso
unitária).
A equação (5.27) possui derivadas espacial e temporal e para cada uma
destas foi utilizado um método numérico diferente. O método de Runge Kutta de
6 estágios e quinta ordem salientado em [6] foi usado para a integração temporal.
Os coeficientes associados a este método particular de integração estão
sumarizados na Tabela 5-2.
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 42
Tabela 5-2. Coeficientes do esquema de Runge Kutta utilizado [6]
RK 6ª ordem
α(1) 1/6
α(2) 1/5
α(3) 1/4
α(4) 1/3
α(5) 1/2
α(6) 1
Para a derivada espacial, o método de diferenças finitas centradas, cujas
expressões foram deduzidas nesta seção, foi utilizado. A resolução da equação de
teste usada para verificação destes métodos foi realizando usando um programa
computacional implementado. Os resultados das simulações aparecem mostrados
na Figura 5-1 a Figura 5-5.
Figura 5-1. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças finitas tradicionais de
2ª ordem
Observando-se estas figuras (Figura 5-1 a Figura 5-5) pode-se notar que
quando aumenta a ordem da aproximação, a solução numérica tende mais á
solução exata. Nota-se também que com o aumento da ordem do esquema
numérico o nível de dispersão da solução diminui. Ao utilizar ordens muito
grandes, como por exemplo oitava e décima ordem, o erro associado aos métodos
de diferenças finitas diminui, porém o custo computacional aumenta. Isto se deve
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 43
parcialmente ao aumento do tamanho do estêncil (em número de pontos)
requerido.
Figura 5-2. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças finitas tradicionais de
4ª ordem
Figura 5-3. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças finitas tradicionais de
6ª ordem
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 44
Figura 5-4. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças finitas tradicionais de
8ª ordem
Figura 5-5. Transporte de onda utilizando esquemas de diferenças finitas tradicionais de
10ª ordem
5.2 Análise de Fourier
Os resultados mostrados na seção anterior correspondem a um único
espaçamento de malha previamente definido. Seria importante, no entanto,
analisar como estes esquemas numéricos comportam-se com níveis de
refinamento de malha diferentes.
Para analisar o erro associado com esses métodos de discretização, uma
técnica utilizada envolve assim o uso de transformadas de Fourier. Com ela,
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 45
podem-se obter expressões em função do número de onda (no espaço de
frequência) e mostrar as principais características do método numérico analisado.
A transformada de Fourier é definida por:
(5.30)
Sendo i um número imaginário.
A transformada inversa de Fourier é dada por:
12
(5.31)
Para a análise de Fourier, o método de diferenças finitas tradicionais foi
rescrito de forma geral como:
≅1∆
∆ (5.32)
Assim incialmente aplica-se a transformada de Fourier em ambos os lados
da equação (5.32):
≅1∆
∆ (5.33)
Sabe-se também que:
(5.34)
∆ ∆ (5.35)
Substituindo (5.34) e (5.35) em (5.33):
1∆
∆ (5.36)
Igualando-se os termos da transformada de Fourier na equação (5.36)
obtém-se:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 46
1∆
∆ (5.37)
Para efeito de diferenciação, chama-se o ω da parte esquerda da equação
(5.37) de ω' devido ao fato de ω ser uma aproximação (somatória) e ser diferente
do encontrado na parte direita da equação. Logo:
1∆
∆ (5.38)
Sabe-se da propriedade dos números complexos que:
1 (5.39)
Multiplica-se ambos os lados da equação (5.38) por i:
∆∆ (5.40)
Em alguns livros é possível que se encontre a equação (5.40) na forma de
senos e cossenos, portanto o próximo passo envolve o uso fórmula de Euler para
números complexos:
∆ ∆ ∆ (5.41)
Substituindo (5.41) em (5.40):
∆ ∆ ∆ (5.42)
Será mostrado separadamente que o somatório de cossenos é igual a zero e o
somatório de senos é duas vezes o seno.
Cossenos
O primeiro termo do lado direito da equação (5.42) pode ser expresso como:
∆ ∆ ∆ (5.43)
Pensa-se em um domínio de valores em que o cosseno esteja entre [-a,-1] e
[1,a]. De acordo com esse domínio, pode-se fazer trocas de variáveis
considerando que:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 47
→ (5.44)
→ (5.45)
1 → 1 (5.46)
Logo substituindo (5.44), (5.45), (5.46) em (5.43):
∆
∆ ∆
(5.47)
Da definição, aj=-a-j e N=M então (5.47) toma a forma:
∆ ∆ ∆ (5.48)
Observa-se que os dois somatórios possuem o mesmo intervalo de cossenos
mas com variável diferente, portanto ao considerar k=j:
∆ ∆ ∆
0
(5.49)
Senos
No caso dos termos que contém senos.
∆ ∆ ∆ (5.50)
Utilizando as equações (5.44), (5.45), (5.46) em (5.50) para trocas de
variáveis:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 48
∆
∆ ∆
(5.51)
Da definição, aj=-a-j e N=M então (5.51) resume-se em:
∆
∆ ∆
(5.52)
Da mesma forma que para os cossenos, os intervalos são iguais mas com
variáveis diferentes, portanto se considerar k=j observa-se que:
∆ ∆ ∆
2 ∆
(5.53)
Logo ao substituir (5.49) e (5.53) em (5.42):
∆ 2 ∆ (5.54)
E utilizando a equação (5.39):
∆ 2 ∆ (5.55)
A seguir é mostrado graficamente (Figura 5-6) os resultados obtidos no
espaço de Fourier para diferenças finitas tradicionais de segunda, quarta, sexta,
oitava, e décima ordem – equação (5.55):
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Tradicionais 49
Figura 5-6. Espectro de Número de Ondas para esquemas de diferenças finitas
tradicionais
Na Figura 5-6 observa-se que quanto maior a ordem do método de
discretização, a aproximação tende à solução exata (linha reta na figura) numa
faixa maior de números de onda. Uma vez que o número de onda está diretamente
relacionado ao espaçamento da malha utilizado, isto implica que métodos de mais
alta ordem podem ser usados com malhas menos refinadas e ainda produzir
resultados aceitáveis.
6 Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas
Neste capítulo, para o método de diferenças finitas compactas o processo foi
semelhante ao de diferenças finitas tradicionais. Primeiramente, as expressões
gerais disponíveis na literatura [2] para pontos no interior do domínio foram
analisadas usando transformadas de Fourier. Posteriormente, foi feito a mesma
análise para pontos correspondentes à fronteira do domínio. Outros esquemas
aplicáveis a esta situação particular também foram analisados [4].
6.1 Formulação Interior
Nesta primeira seção a formulação de diferenças finitas compactas,
correspondente aos pontos do interior do domínio, é analisada usando
transformadas de Fourier.
6.1.1 Forma Geral
Os esquemas de diferenças finitas compactas vistos em [2], os quais são
utilizados para a aproximação da primeira derivada de uma função, são
generalizações do esquema Padé, para os quais a aproximação da primeira
derivada é:
6∆ 4∆ 2∆,
(6.1)
onde os coeficientes α, β e a, b, c são obtidos a partir da expansão em série de
Taylor com diferentes ordens. As relações entre estes coeficientes, dependendo da
ordem, são:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 51
1 2 2 2 , (6.2)
2 3 23!2!
2 4 , (6.3)
2 3 25!4!
2 6 , (6.4)
2 3 27!6!
2 8 , (6.5)
2 3 29!8!
2 10 . (6.6)
Os esquemas particulares considerados para o interior do domínio são o
esquema de Padé e o esquema de sexta ordem tridiagonal. Para referência são
incluídos nos resultados os esquemas de segunda, quarta e sexta ordem de
diferenças centradas tradicionais. No caso do esquema de Padé os coeficientes
utilizados foram os seguintes:
14, 0,
32, 0, 0 . (6.7)
Para o esquema de sexta ordem tridiagonal seus respectivos coeficientes
usados são:
13, 0,
149,
19, 0 . (6.8)
6.1.2 Análise de Fourier
A fim de analisar as características de resolução dos diferentes esquemas
numéricos usados nas aproximações da primeira derivada, uma análise de Fourier
de erros foi realizada. A equação base utilizada é aquela dada pela equação (6.1).
Aplicando-se assim em todos os termos desta equação a transformada de Fourier:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 52
6∆ 4∆
2∆,
(6.9)
Sabe-se também que:
(6.10)
(6.11)
Substituindo (6.10) e (6.11) em (6.9):
∆ ∆ ∆
∆ ∆
∆
6∆
∆
6∆∆
4∆
∆
4∆∆
2∆
∆
2∆
(6.12)
Igualando os coeficientes de Fourier tem-se:
∆ ∆ ∆ ∆
∆
∆
6∆
∆
6∆
∆
4∆
∆
4∆∆
2∆
∆
2∆
(6.13)
Utilizando a equação (5.41), esta última equação pode ser expressa em
função de senos e cossenos:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 53
2 ∆ 2 ∆
2 ∆ 2 ∆
∆ ∆
∆ ∆
3 ∆ 3 ∆6∆
3 ∆ 3 ∆6∆
2 ∆ 2 ∆4∆
2 ∆ 2 ∆4∆
∆ ∆2∆
∆ ∆2∆
(6.14)
Ao por em evidência na parte esquerda iω e ∆
na parte direita da equação
(6.14), alguns termos se anulam:
2 ∆ 2 ∆ ∆
∆ 1
12∆ 3
3 ∆3
3 ∆
22 ∆
22 ∆
∆ ∆
(6.15)
Portanto, o ω da parte esquerda pode ser substituído por por ser uma
aproximação (somatório), e isolando-se obtém-se:
33 ∆ 2 2 ∆ ∆
∆ 1 2 2 ∆ 2 ∆(6.16)
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 54
Os resultados correspondentes à equação (6.16) são ilustrados na Figura 6-1,
a qual permite comparar as características de resolução dos diferentes esquemas
estudados. Nesta figura em geral o comportamento dos esquemas tradicionais
(segunda, quarta e sexta ordem) corresponde àquele observado na Figura 5-6. Os
esquemas compactos por sua vez apresentam melhores características dispersivas
quando comparados aos esquemas tradicionais. Isto certamente está em
concordância com os resultados disponíveis na literatura [2].
Figura 6-1. Gráfico de número de onda modificado vs número de onda para aproximação
da primeira derivada.
6.2 Formulação de Fronteira
Anteriormente foi falado sobre pontos no interior do domínio simulado.
Nesta seção será abordada a formulação correspondente a pontos na fronteira do
sistema. Cook e Riley [4] salientam que, na prática, aproximações de segunda
ordem explicitas, da forma,
3 42∆
, (6.17)
onde n é um índice da discretização temporal, são mais estáveis do que aquelas de
terceira ordem explícitas ou aproximações compactas. Estes autores sugerem que
a natureza dissipativa dos esquemas numéricos de ordem ímpar (primeira,
terceira, quinta, etc.) e a natureza predominantemente dispersiva dos esquemas de
ordem par (segunda, quarta, sexta, etc.) podem ser responsáveis por este
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 55
comportamento. Neste contexto, esquemas numéricos dissipativos (i.e., esquemas
com erro de truncamento do tipo dissipativo) são aqueles nos quais as variações
da solução são artificialmente reduzidas devido à aproximação numérica; e
esquemas dispersivos (i.e., esquemas com erro de truncamento do tipo dispersivo)
correspondem àqueles nos quais as relações de fase entre as várias ondas
(oriundas de uma análise de Fourier de erros, por exemplo) são distorcidas [7].
Uma vez que ele pode ser usado em formulações de fronteira, este esquema
salientado por Cook e Riley [4] também será estudado nesta seção.
6.2.1 Forma Geral
Em termos de diferenças finitas compactas, a primeira derivada na fronteira,
i = 1, tem a seguinte forma geral [2]:
1. (6.18)
Esta relação permite seu uso com um esquema interior tridiagonal sem a
necessidade de aumentar a largura de banda do sistema de equações resultante.
Similarmente ao caso dos nós interiores, dependendo da ordem requerida,
diferentes relações entre os coeficientes da Eq. (6.18) são obtidas:
3 22
, 2 3 ,
1 62
2 ,(6.19)
11 26
,62
,2 32
,
26
3 ,(6.20)
3,176,
32,
32,
16
4 .(6.21)
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 56
Neste trabalho, foram estudados esquemas compactos de segunda, terceira e
quarta ordem. Os coeficientes utilizados para o esquema de segunda ordem foram
os seguintes, equação (6.19):
4, 0, 3,12,
3,12.
(6.22)
Os próximos esquemas são de terceira ordem. Seus respectivos coeficientes
são – equação (6.20):
2, 0,156
, 2,
12, 0.
(6.23)
5, 0,216
,12,
72,
12.
(6.24)
E finalmente para o esquema de quarta ordem, os coeficientes utilizados são
indicados a segui, equação (6.21):
4, 0,176
,32,
32,
16.
(6.25)
6.2.2 Análise de Fourier
Para ilustrar o procedimento a ser seguido para a análise no espaço de
Fourier dos esquemas compactos correspondente a formulações de fronteira, o
esquema de Cook & Rilley [4] será utilizado.
Em termos indiciais a equação (6.17) é dada por:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 57
3 42∆
(6.26)
Aplicando-se a transformada de Fourier em todos os termos da equação
(6.26):
3 42∆
(6.27)
Substituindo (6.10) e (6.11) em (6.27):
∆ 3 ∆ 4 ∆ ∆
2∆(6.28)
Igualando os coeficientes de Fourier:
3 4 ∆ ∆
2∆(6.29)
Utilizando a equação (5.41) em (6.29):
12∆
3 4 ∆ ∆
2 ∆ 2 ∆(6.30)
Juntando as partes reais e imaginárias:
12∆
3 4 ∆ 2 ∆
4 ∆ 2 ∆(6.31)
Multiplicando-se todos os termos por i e considerando ω= :
2∆3 4 ∆ 2 ∆
12∆
4 ∆ 2 ∆(6.32)
A parte imaginária da equação (6.32) é dada por:
2∆3 4 ∆ 2 ∆ (6.33)
e a parte real por:
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 58
12∆
4 ∆ 2 ∆ (6.34)
Note que diferente do que acontece nos métodos de diferenças finitas
centradas (usadas em formulações interiores), neste caso as expressões resultantes
contêm duas partes, real e imaginária. Isto implica que elas apresentam
características não somente dispersivas, porém também dissipativas. Esquemas
centrados, por conter somente a parte real, são essencialmente dispersivos.
Os esquemas compactos associados à formulação para fronteiras do Lele [2]
apresentam também uma parte real e outra imaginária. A parte real é dada por:
1∆ 1 2 ∆
∆ 2 ∆
3 ∆
(6.35)
enquanto que a imaginária toma a forma:
1∆ 1 2 ∆
∆
2 ∆ 3 ∆
(6.36)
Os resultados ilustrando o comportamento dos esquemas compactos para
formulação de fronteira estudados, incluindo o esquema salientado por Cook &
Rilley [4], são mostrados na Figura 6-2 e Figura 6-3. Sabe-se que a parte real das
equações são associadas com o erro dispersivo e as partes imaginárias estão
associadas com o erro dissipativo. A Figura 6-2 mostra a parte real e a Figura 6-3
mostra a parte imaginária do número de onda modificado para os diferentes
esquemas numéricos usados para aproximar a primeira derivada nas fronteiras do
domínio.
Nestas figuras quanto mais a curva se aproxima da reta exata, menor será o
erro dispersivo ou dissipativo. Assim pode ser observado que um erro dispersivo
relativamente pequeno (por exemplo, esquema compacto de terceira ordem,
Figura 6-2) não implica necessariamente que o correspondente erro dissipativo
seja também pequeno, e vice-versa. Portanto um trade-off entre erros dispersivos e
dissipativos precisa ser feito quando da seleção do método de discretização a ser
Esquemas Numéricos: Método de Diferenças Finitas Compactas 59
utilizado. Observa-se também nestas figuras que o método discutido por Cook &
Rilley [4] apresenta caraterísticas inferiores quando comparado aos esquemas
compactos. Dos resultados obtidos neste capítulo fica evidente que a análise no
espaço de Fourier permite uma escolha mais adequada, tanto em termos
dispersivos como dissipativos, dos esquemas de diferenças finitas a serem
utilizados.
Figura 6-2. Parte real do número de onda modificado para aproximação da primeira
derivada nas fronteiras do domínio (características dispersivas)
Figura 6-3. Parte imaginária do número de onda modificado para aproximação da
primeira derivada nas fronteiras do domínio (características dissipativas)
7 Conclusões e Perspectivas
Neste trabalho as principais equações que governam ondas acústicas em
escoamentos turbulentos e reativos foram derivadas. A referida derivação foi
baseada nas equações fundamentais de transporte de massa, quantidade de
movimento e energia. Após a respectiva familiarização com estas equações, a
forma geral da equação de onda acústica para escoamentos turbulentos e reativos
foi derivada. A seguir através do uso de hipóteses simplificadoras esta equação foi
particularizada para escoamentos a baixo número de Mach e escoamentos inertes.
Na parte final do trabalho diferentes métodos de discretização numérica baseadas
em diferenças finitas tradicionais e diferenças finitas compactas foram analisados
e seus resultados comparados graficamente.
Os resultados obtidos mostram que a seleção do método numérico a ser
utilizado para discretizar as equações de onda acústica deve ser baseada tanto nas
caraterísticas dispersivas como dissipativas do esquema. Isso é devido a que erros
dispersivos relativamente pequenos não implicam necessariamente em erros
dissipativos também desta natureza, e vice-versa. Baseado nos resultados obtidos,
tanto para diferenças finitas tradicionais quanto para diferenças finitas compactas,
conclui-se que este último é bem mais preciso, pois seus resultados para diferentes
ordens de precisão se aproximam mais da solução exata do que o primeiro. Uma
vez que as equações de onda acústica foram satisfatoriamente deduzidas e
diferentes métodos numéricos de discretização foram analisados, concluiu-se que
os objetivos inicialmente propostos foram atingidos. Como trabalho futuro pode-
se indicar a solução das equações de onda derivadas e sua aplicação para a análise
de instabilidades acústicas presentes em escoamentos turbulentos e reativos.
8 Referências Bibliográficas
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2nd Ed., R.T. Edwards Inc., Philadelphia, USA.
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4. Cook, A., and Riley, J., 1996, Direct Numerical Simulation of a Turbulent
Reactive Plume on a Parallel Computer, Journal of Computational Physics,
Vol. 129.
5. Kotake, S., 1975, On Combustion Noise Related to Chemical Reactions,
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6. De Rocck, W., Desmet, W., and Sas, P., An overiew of high-order finite
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