Relatório-Versão Preliminar
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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Relatrio Final 5
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(verso preliminar) 8
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16 de Abril de 2015 12
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Deputado Relator: Pedro Manuel Saraiva (PSD) 17
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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ndice 28
29
Glossrio 5
Nota de Abertura 7
1. Introduo e Enquadramento 10
2. Mandato e Trabalhos Desenvolvidos 15
2.1 Constituio e mbito 15
2.2 Composio e Durao dos Trabalhos 16
2.3 Reunies Efectuadas 17
2.4 Audies e Depoimentos por Escrito 18
2.5 Documentos Solicitados e Recebidos 21
3. Apuramento dos Factos 23
3.1 Comportamento do BES e GES 23
3.1.1 A Situao da ESI 23
3.1.1.1 As Contas da ESI 25
3.1.1.2 Ocultao do Passivo 28
3.1.1.3 Outras Entidades do GES 33
3.1.2 Medidas Impostas pelo Banco de Portugal 51
3.1.2.1 Medidas do Banco de Portugal 51
3.1.2.2 Sua Implementao 53
3.1.3 A Situao do GBES 59
3.1.3.1 Contas do Primeiro Semestre de 2014 60
3.1.3.2 Provises 67
3.1.3.3 Eurofin 68
3.1.3.4 Banco Esprito Santo Angola (BESA) 77
3.1.3.5 Gesto do BES 93
3.2 Interveno das Empresas de Auditoria 102
3.2.1 KPMG 102
3.2.2 PwC 111
3.3 O Papel Desempenhado pelas Entidades de Superviso 119
3.3.1 O Banco de Portugal 119
3.3.1.1 Permetro de Superviso 119
3.3.1.2 Reforo da Superviso 120
3.3.1.2.1 Primeiras Auditorias Transversais e ETRICC 121
3.3.1.2.2 ETRICC 2 122
3.3.1.2.3 Trabalhos de Reviso Limitada 124
3.3.1.3 Medidas Impostas pelo Banco de Portugal 131
3.3.1.4 As Denncias de Pedro Queiroz Pereira 144
3.3.1.5 Exposio de Jos Maria Ricciardi 145
3.3.1.6 Idoneidade 147
3.3.1.7 Resoluo do BES 151
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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3.3.1.7.1 A Medida de Resoluo 152
3.3.1.7.2 Razes Invocadas pelo Banco de Portugal 157
3.3.1.8 Papel Comercial 161
3.3.2 A Comisso do Mercado de Valores Mobilirios (CMVM) 169
3.3.2.1 ESAF e Esprito Santo Liquidez 169
3.3.2.2 Superviso da CMVM 172
3.3.2.3 Aumento de Capital do BES 175
3.3.2.4 Abuso de Informao Privilegiada 176
3.3.2.5 Averiguaes da CMVM Relacionadas com a PT 178
3.3.3 O Instituto de Seguros de Portugal (ISP) 180
3.4 Interveno do Governo 185
3.4.1 Das reunies com Ricardo Salgado e Vtor Bento 185
3.4.2 Do Comit Nacional para a Estabilidade Financeira 191
3.4.3 Aprovao dos Decreto-Lei 114-A e 114-B/2014 192
3.4.4 Outras Perspectivas 193
3.5 Impactos sobre Contas Pblicas e Economia 193
3.6 Enquadramento Legal e Regulamentar 195
3.7 Anlise das Opes Disponveis 205
3.7.1 Nacionalizao 205
3.7.2 Liquidao 206
3.7.3 Recapitalizao Privada 208
3.7.4 Recapitalizao Pblica 212
3.8 O Processo de Resoluo 216
3.9 Situao Actual 218
4. Concluses e Recomendaes 229
4.1 Concluses 234
C1) Comportamento do GBES e GES 236
C1.1 Da Exposio do GBES e Tranquilidade ao GES 241
C1.2 Das Contas e da Situao Patrimonial da ESI 256
C1.3 Do BESA 266
C1.4 Das Cartas de Conforto Emitidas em Junho de 2014 274
C1.5 Da Circularizao e Recompra de Obrigaes em Julho de 2014 275
C1.6 Do Aumento de Capital Social em 2014 277
C1.7 Da Exposio da Portugal Telecom ao BES e ao GES 278
C1.8 Do Segundo Trimestre de 2014 281
C1.9 Da Sobrevalorizao de Activos do BES 284
C1.10 Das Fragilidades de Estrutura e Modelo de Governao do GES e do BES 285
C1.11 De Algumas Aplicaes ou Operaes Financeira Atpicas do BES e do GES 290
C2) Interveno de Empresas de Auditoria 297
C3) O Papel Desempenhado pelas Entidades de Superviso 300
C3.1 Da Interveno do ISP 300
C3.2 Da Interveno da CMVM 300
C3.3 Da Interveno do Banco de Portugal 301
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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C3.3.1 Da Exposio dos Clientes do GBES ao GES 304
C3.3.2 Dos Conflitos e Interesses e Segregao de Funes 308
C3.3.3 Das Contas da ESI 310
C3.3.4 Do BESA 310
C3.3.5 Da Recompra de Obrigaes e Emisso de Cartas de Conforto 311
C3.3.6 Do Segundo Trimestre de 2014 313
C3.3.7 Das Fragilidades de Estrutura e Modelo de Governao do GES e do BES 317
C3.3.8 Da Liderana do GBES 319
C3.3.9 Sntese Final 324
C3.4 Da Articulao entre Entidades Supervisoras 325
C4) Interveno do Governo 327
C5) Impactos sobre Contas Pblicas e Economia 330
C6) Enquadramento Legal e Regulamentar 337
C7) Anlise das Opes Disponveis 340
C7.1 Da Nacionalizao 340
C7.2 Da Liquidao 340
C7.3 Da Recapitalizao Privada 341
C7.4 Da Recapitalizao Pblica 342
C7.5 Recapitalizao Pblica Forada versus Resoluo 342
C8) O Processo de Resoluo 344
C9) Situao Actual 348
C9.1 Do Novo Banco 349
C9.2 Do BES-BM 352
C9.3 Dos Clientes do BES 353
C9.3.1 Dos Detentores de Obrigaes do BES 353
C9.3.2 Dos Detentores de Aces Preferenciais do GBES 353
C9.3.3 Dos Detentores de Papel Comercial de Empresas do GES 354
C9.3.4 Litigncia e Apuramento de Responsabilidades 358
C10) Factos por Apurar 359
C11) Sntese Final 360
4.2 Recomendaes 363
R1) Criao de uma Cultura de Exigncia 368
R1.1 Sistema Bancrio 368
R1.2 Comportamento Individual e Envolvente Social 373
R2) Remoo de Conflitos de Interesses 374
R3) Acesso, Transparncia e Partilha de Informao 375
R4) Reforo da Articulao e Coordenao 377
R5) Sntese Final 379
Anexo 1 Listagem de Documentos Solicitados pela CPI
Anexo 2 Composio das Administraes e Comisses Executivas das Principais
Empresas do GES
Anexo 3 Fontes de Informao das Transcries Expurgadas da Verso Pblica
do Relatrio
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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Glossrio 31
Segue-se listagem das principais abreviaturas e acrnimos empregues ao longo do relatrio, de 32
modo a facilitar a correspondente leitura: 33
ALCO Comit de Gesto de Activos e Passivos do BES
AR Assembleia da Repblica
APB Associao Portuguesa de Bancos
ASF Autoridade de Superviso de Seguros e Fundos de Penses
AQR Asset Quality Review
BCP Banco Comercial Portugus
BCE Banco Central Europeu
BdP Banco de Portugal
BES Banco Esprito Santo
BESA Banco Esprito Santo Angola
BES-BM BES (Banco Mau), aps Medida de Resoluo
BESCL Banco Esprito Santo e Comercial de Lisboa
BESI Banco Esprito Santo de Investimento
BEST Banco Electrnico de Servio Total
BIC Banco Internacional de Crdito
BPI Banco BPI
BPN Banco Portugus de Negcios
BNA Banco Nacional de Angola
CA Conselho de Administrao
CE Comisso Executiva
CGD Caixa Geral de Depsitos
CMVM Comisso do Mercado de Valores Mobilirios
CNEF Comit Nacional para a Estabilidade Financeira
CNSF Conselho Nacional de Supervisores Financeiros
COFAP Comisso de Oramento e Finanas e Administrao Pblica
CPI Comisso Parlamentar de Inqurito
CRDIT SUISSE Crdit Suisse International
CRD Capital Requirements Directive
CRR Capital Requirements Regulation
CVM Cdigo dos Valores Mobilirios
DAI Departamento de Auditoria e Inspeco do BES
DFME Departamento Financeiro, de Mercados e Estudos do BES
DGTF Direo-Geral do Tesouro e Finanas
DL Decreto-Lei
DPC Departamento de Planeamento e Contabilidade do BES
DRG Departamento de Risco Global do BES
ELA Emergency Liquidity Assistance
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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EMTN Euro Medium Term Notes
ES Esprito Santo
ESAF Esprito Santo Activos Financeiros
ESAT Esprito Santo Antnio Totta
ESFG Esprito Santo Financial Group
ESFIL Esprito Santo Financire
ESI Esprito Santo International
ETRICC Exerccio Transversal de Reviso da Imparidade da Carteira de Crdito
FdR Fundo de Resoluo
FGD Fundo de Garantia de Depsitos
GBES Grupo Banco Esprito Santo
GES Grupo Esprito Santo
ISP Instituto de Seguros de Portugal
MEF Ministro/a de Estado e das Finanas
NB Novo Banco
OIP On Site Inspection
PAEF Programa de Assistncia Econmica e Financeira
PDVSA Petrleos de Venezuela
PGR Procuradoria-Geral da Repblica
PME Pequenas e Mdias Empresas
PT Portugal Portugal Telecom
PT SGPS Portugal Telecom, SGPS
PwC PricewaterhouseCoopers
RERT Regime Excepcional de Regularizao Tributria
RGICSF Regime Geral das Instituies de Crdito e Sociedades Financeiras
ROC Revisor Oficial de Contas
SIP Special Inspections Programme
TOC Tcnico Oficial de Contas
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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Nota de Abertura 35
O presente relatrio procura retratar fielmente os trabalhos e concluses da Comisso 36
Parlamentar de Inqurito gesto do BES e do Grupo Esprito Santo (CPI), criada atravs da 37
Resoluo da Assembleia da Repblica n 83/2014, de 19 de Setembro de 2014, cujos 38
trabalhos se desenvolveram entre 9 de Outubro de 2014 e 29 de Abril de 2015, a eles 39
correspondendo 292 horas de audies, repartidas pela recolha de 55 depoimentos, alm da 40
compilao de um vasto esplio documental, traduzido em largos milhares de pginas e cerca 41
de 50 Gigabytes de informao. 42
Tendo em considerao a complexidade, densidade e intensidade dos assuntos abordados, 43
bem assim como o vasto mbito dos objectivos assumidos pela resoluo que cria esta 44
Comisso Parlamentar de Inqurito, procurou-se elaborar um relatrio capaz de alcanar 45
compromissos, nem sempre fceis, no sentido em particular de: 46
47
Cobrir todos os temas que so objecto de anlise nos termos definidos aquando da 48
criao da CPI, ainda que sendo apresentados de acordo com uma organizao que se 49
entende ser mais fcil em termos de leitura e entendimento dos factos relevantes; 50
Garantir que se faz uma exposio que traduz para memria presente e futura tudo o 51
que de relevante foi possvel apurar, mas de forma to sinttica e resumida quanto 52
possvel; 53
Centrar os contedos em torno de uma transmisso objectiva e apartidria dos factos 54
apurados; 55
Ajudar a explicar o sucedido, mas igualmente apontar recomendaes concretas no 56
sentido de consolidar o sistema financeiro e reduzir as probabilidades de ocorrncia 57
no futuro de situaes semelhantes; 58
Manter o rigor de exposio ainda que dentro de uma linguagem que se procura que 59
seja acessvel e pouco hermtica; 60
Tentar permitir situar o leitor dentro do guio de uma cronologia que se vai 61
desenvolvendo ao longo do tempo, de modo a que se possam melhor situar as 62
ocorrncias e decises tomadas luz do momento em que tal acontece e da 63
informao ento disponvel, por forma a tentar evitar potenciais enviesamentos 64
prprios de quem revisita um filme do qual agora j se conhece em larga medida o seu 65
desenlace, sendo por isso especialmente relevante posicionar os seus blocos de 66
construo no corresponde contexto temporal e de dados existentes em cada instante 67
do seu desenvolvimento; 68
Assegurar que a leitura do relatrio, ou isoladamente das suas concluses, pode ser 69
feita de modo autnomo, sem necessidade de consulta de outras seces ou 70
documentos adicionais, disponveis porm para quem pretenda aprofundar as suas 71
origens ou determinados aspectos em particular; 72
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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Privilegiar, sempre que adequado, uma apresentao esquemtica, organizada por 73
tpicos, contendo ilustraes grficas ou tabelas, pelo modo como ajudam a resumir 74
alguma da informao relevante; 75
Respeitar nomeadamente as orientaes do Conselho Consultivo da Procuradoria-76
Geral da Repblica, em termos de segredo de justia e no sentido de no prejudicar 77
quaisquer investigaes judiciais em curso, o que foi tido em considerao na redaco 78
deste relatrio, nomeadamente por omisso de eventuais actos processuais que 79
poderiam colocar em causa tal desiderato; 80
Sempre que houve necessidade de transcrever depoimentos ou documentos que se 81
encontram abrangidos pelo segredo de justia, e nessa qualidade partilhados com a 82
CPI, tais elementos so devidamente assinalados de forma sequencial, com indicao 83
do seu incio e fim ao longo do texto (de sj1 a sj7), tendo sido expurgadas da 84
verso do relatrio que ser tornada pblica, com indicao em anexo (Anexo 3) das 85
correspondentes fontes de informao; 86
Efectuar arredondamentos dos valores monetrios, adoptando taxas fixas de 87
converso cambial, de modo a facilitar a leitura e entendimento dos aspectos 88
essenciais, com quantificao em euros, ao longo de todo o captulo 4, mas mantendo 89
sempre adequadas aproximaes aos correspondentes valores exactos. 90
91
Os contedos deste relatrio so fruto de um esforo colectivo, sendo de elementar justia 92
sublinhar e agradecer os inmeros apoios recebidos e colaborao prestada, nomeadamente 93
no que se refere: 94
95
Ao modo construtivo, dedicao intensa e esprito de entreajuda assumido desde a 96
primeira hora e consolidado ao longo do tempo entre os deputados que integraram a 97
Comisso Parlamentar de Inqurito, bem como forma competente, sensata e eficaz 98
como o seu Presidente conduziu os trabalhos; 99
A todo o esforo desenvolvido pelos assessores dos diferentes grupos parlamentares e 100
pelos servios de apoio da Assembleia da Repblica, incansveis na transcrio de 101
depoimentos, gesto de aspectos logsticos e de segurana, digitalizao e lanamento 102
de informao no portal da Comisso Parlamentar de Inqurito, ou ainda no que se 103
refere transmisso televisiva dos trabalhos; 104
colaborao assegurada por todas as pessoas ou entidades que prestaram 105
depoimentos genunos e teis, em ntido contraste com outros casos em que por 106
incompetncia, ignorncia, amnsia selectiva ou aconselhamento jurdico se optou 107
por uma postura defensiva e no colaborante, refugiada num aparente 108
desconhecimento de factos da maior relevncia ou protegida por diferentes tipos de 109
segredos invocados (segredo de justia, segredo profissional, sigilo bancrio, sigilo 110
fiscal, reserva da vida privada ou direitos conexos); 111
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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A todas as pessoas e entidades que procederam ao envio de documentao ou outra 112
informao que alimentou um esplio muito valioso assim compilado, que contrasta 113
igualmente com situaes em que diferentes tipos de limitaes e segredos foram 114
empregues para resistir ao envio atempado de elementos solicitados, agravados 115
quando por vezes tal corresponde a entidades no nacionais, ou ainda com 116
determinados aparentes voluntarismos de contributo que depois se verificou no 117
terem qualquer substncia que os suportasse; 118
Ao trabalho da comunicao social, seja em termos de fornecimento de informao 119
relevante, seja atravs da ampla divulgao e anlise feita das sucessivas audies, 120
com isso ajudando a tornar pblico o progresso do trabalho realizado. 121
122
Este relatrio, enquanto corolrio de todo um esforo colectivo, denso e intenso, que se 123
espera que tenha sido e venha a ser til, esclarecedor e prestigiante tanto das Comisses 124
Parlamentares de Inqurito como da actividade parlamentar, no pode deixar de reflectir uma 125
palavra de solidariedade perante todos aqueles que foram lesados pelo colapso do GES e outra 126
de reconhecimento para os milhares de colaboradores do BES e do GES, sem qualquer tipo de 127
responsabilidade no ocorrido e que com a sua competncia e brio profissional deram e 128
porventura continuam a dar o seu melhor em prol das empresas que integravam o GES, 129
incluindo uma palavra final de apreo para aqueles que agora ao servio do Novo Banco esto 130
e vo decerto continuar a contribuir para a garantia e melhoria da qualidade dos servios 131
bancrios e o sucesso do sistema financeiro em Portugal. 132
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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1. Introduo e Enquadramento 140
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Na histria do sistema bancrio e da economia nacional, o ano de 2014 ficar decerto marcado 142
pelo colapso do Grupo Esprito Santo (GES), que arrastou consigo a aplicao, pela primeira vez 143
efectuada no contexto da Unio Europeia a esta escala, de uma medida de resoluo ao BES, o 144
terceiro maior banco nacional, com implantao especialmente forte na concesso de crdito 145
s PME (que tinha como clientes 89% das grandes empresas e 66% das PME nacionais), mais 146
de 145 anos de existncia, uma vasta presena nacional e internacional (traduzida em quase 147
800 balces), a que correspondem mais de 2 milhes de clientes, 20% de quota de mercado e 148
mais de 10 mil postos de trabalho, com presena, alm de Portugal, em mais de vinte pases 149
muito diversificados. A marca BES era assim uma marca conceituada, com um valor estimado, 150
enquanto tal, prximo de 1.000 milhes de euros, que assim desaparece, de modo inesperado, 151
ao longo de 2014. 152
Para um cabal entendimento dos factos, importa assim conhecer, em termos gerais, a 153
estrutura do GES, aqui resumida de forma simplificada, e o modo como o BES nela se 154
enquadra, at porque como se ver adiante, sobretudo a partir dos fortes problemas de 155
financiamento sentidos no GES que decorre uma contaminao que acabaria por condicionar e 156
penalizar fortemente o prprio BES, que era o corao, tanto afectivo como patrimonial, de 157
todo o GES. 158
O complexo universo GES, em termos de uma descrio simplificada que se considera 159
adequada para um entendimento dos contedos do presente relatrio (Figura 1.1), 160
compreende uma teia alargada de cerca de 300 empresas, com actividades em quase 50 161
pases, a que correspondeu a gerao de cerca de 30 mil postos de trabalho, podendo de 162
forma simplificada a sua arquitectura resumir-se em trs principais blocos: i) cpula do grupo, 163
atravs de empresas que so essencialmente holdings no operacionais, controladas pelos 164
cinco ramos da Famlia Esprito Santo (ES Control e ESI, com sede no Luxemburgo); ii) ramo no 165
financeiro, enquadrado at final de 2013 essencialmente numa outra holding (Rioforte, com 166
sede no Luxemburgo), mas onde se incluem ainda a Esprito Santo Resources (com sede nas 167
Bahamas), e suas participadas, bem como a OPWAY, atravs do qual so desenvolvidas 168
actividades em domnios to diversos como sade, turismo, promoo e gesto imobiliria, 169
construo, agricultura e pecuria, indstria, explorao mineira e energia; iii) ramo financeiro, 170
articulado tambm atravs de uma holding (ESFG, com sede no Luxemburgo), onde se 171
enquadram as actividades bancria, seguradora e financeira, englobando-se aqui o GBES e 172
dentro teste o prprio BES, sendo este ltimo o corao de todo o GES, onde representa a 173
parte predominante da ESFG, que por sua vez corresponde em termos de indicadores tambm 174
parte mais substancial do GES (em volumes de activos, no final de 2013, as contas 175
consolidadas do BES apresentavam um valor de 80.608 milhes de euros, que equivalem a 176
95% do valor consolidado dos activos da ESFG, cifrado em 84.850 milhes de euros mesma 177
data, face a um valor anlogo para a Rioforte de apenas 4.350 milhes de euros). 178
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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Figura 1.1 Estrutura Simplificada do Grupo Esprito Santo. 180 Fonte: ilustrao do deputado relator com base no esplio da CPI 181
182
Importa assim (Figura 1.1) ter em ateno que ao longo deste relatrio, por razes de maior 183
coerncia expositiva, a menos que algo seja dito em contrrio, se adopta como referncia a 184
arquitectura do GES em vigor at final de 2013, pelo que: i) quando se fala de GES, se faz 185
referncia totalidade do Grupo Esprito Santo; ii) quando se faz meno ao ramo no 186
financeiro, se est a incluir o conjunto de actividades desta ndole, essencialmente agrupadas 187
na Rioforte, Esprito Santo Resources e OPWAY; iii) quando se enuncia o ramo financeiro, tal 188
corresponde ao conjunto de empresas enquadradas na ESFG; iv) quando se enumera o GBES 189
est-se a incluir o conjunto de entidades financeiras que consolidam ao nvel do Banco Esprito 190
Santo; v) quando se escreve BES, faz-se referncia ao Banco Esprito Santo, em termos 191
individuais; vi) quando de fazem referncias s empresas de cpula do GES ou holdings do GES, 192
tal corresponde essencialmente ESI e Esprito Santo Control. 193
No centro de todo o GES, encontramos ento o GBES que desenvolve sobretudo actividades 194
dentro do sector financeiro (banca comercial, banca de investimento, capital de risco, gesto 195
de activos e de patrimnios, seguros, fundos de investimento). Alm do prprio BES, enquadra 196
o BESI, BES Vida, BESA, ESAF, BEST, BES frica, BES Finance, ES Tech Ventures e Esprito Santo 197
Ventures, BES Oriente, Aman Bank, BES Vntie, BESIL/BIC, ES PLC/ESIP, ES Bank, BES Cabo 198
Verde, IJAR Leasing, ES Investment Bank, Moza Banco, BESI Brasil ou BES GmbH. No seu 199
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COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO GESTO DO BES E DO GES
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conjunto, ao GBES correspondem mais de 10 mil postos de trabalho, dos quais perto de 7.400 200
em Portugal. 201
Ainda dentro do ramo financeiro, a ESFG, fundada em 1984, agrega, alm do GBES, a 202
Tranquilidade, Banque Prive, ES Bank Panam, ES Bankers e ESFIL. 203
Seja atravs do GBES ou da ESFG, o GES desenvolve assim actividades financeiras numa vasta 204
diversidades de geografias, que para alm de Portugal abarcam Espanha, Luxemburgo, Angola, 205
Sua, EUA, Brasil, Venezuela, Frana, Reino Unido, Irlanda, Macau, Moambique, Panam, 206
Alemanha, Arglia, China, ndia, Polnia, Cabo Verde, Lbia, Dubai, Bahamas e Ilhas Caimo. 207
J a rea no financeira desenvolve um vasto conjunto de actividades, acima resumidas, e 208
agregadas essencialmente atravs da Rioforte, criada em 2010, que aposta geograficamente 209
no tringulo do Atlntico Sul (com vrtices no Sudoeste Europeu, Amrica do Sul, com especial 210
incidncia no Brasil e Paraguai, e frica, com especial incidncia em Angola). 211
Entre as principais unidades da Rioforte, por reas de negcio, contam-se: i) no imobilirio, a 212
Esprito Santo Property; ii) na sade, a Esprito Santo Sade; iii) no turismo, Hotis Tivoli, 213
Esprito Santo Viagens e Herdade da Comporta; iv) na agricultura, a Herdade da Comporta, 214
Paraguay Agricultural Corporation, Companhia Agrcola Botucatu/Agriways, COBRAPE e 215
Mozambique Agricultural Corporation; v) na Energia, a Georadar, AssetGeo, Energias 216
Renovveis do Brasil e Luzboa. Noutras reas de actividade, situam-se a Monteiro Aranha e 217
Brazil Hospitality Group. 218
Ainda dentro do ramo no financeiro, mas enquadradas fora da Rioforte, de sublinhar a 219
existncia da ESCOM, centrada sobretudo em actividades de explorao mineira e gesto 220
imobiliria em Angola, bem assim como da OPWAY, na rea da construo. 221
Alm de Portugal, as actividades do ramo no financeiro desenvolvem-se sobretudo no Brasil, 222
Paraguai, Angola e Moambique. 223
No topo, encontramos ento as empresas ES Control e ESI, controladas pelos cinco ramos da 224
famlia Esprito Santo, sendo as opes estratgicas do GES definidas essencialmente ao nvel 225
do seu Conselho Superior, um rgo no estatutrio onde todos os ramos da famlia se fazem 226
representar. 227
Em termos de participaes accionistas, de referir em particular, ao nvel da cascata de 228
participaes que: i) a famlia Esprito Santo detm a totalidade do capital social da ES Control 229
e, por via desta e outras empresas por si detidas (Control Development e ESAT) a maioria do 230
capital social da ESI (57%); ii) por sua vez, a ESI detinha 100% da Rioforte e da Esprito Santo 231
Resources, e cerca de 49% da ESFG; iii) aps o aumento de capital social do BES, realizado em 232
2014, o GES passa a deter uma participao no GBES de cerca de 25%, atravs da ESFG, 233
seguindo-se enquanto accionista de referncia o Crdit Agricole, com 12%. 234
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Estamos portanto perante uma estrutura complexa, com teias e cascatas de relaes entre 235
empresas, dentro de um vasto conglomerado misto, onde se efectuam sofisticadas operaes 236
de engenharia financeira, em constante adaptao, com presena em diversos pases, 237
envolvidos por enquadramentos regulamentares diversos, diferentes entidades de superviso 238
e modos de concretizao das funes de auditoria, alm de nalguns casos existir particular 239
opacidade no acesso a informao. 240
Toda esta vasta realidade remonta, nas suas origens, a 1869, quando foi inaugurada uma casa 241
de cmbios, em Lisboa, por Jos Esprito Santo Silva, acompanhado de outros investidores, 242
dando origem mais tarde, em 1920, ao Banco Esprito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL). 243
Este viria a ser alvo de nacionalizao em 1975, para em 1986, atravs da fundao do Banco 244
Internacional de Crdito (BIC), se assistir ao regresso do GES a Portugal, consolidado em 245
1991/1992 atravs da privatizao do BESCL, que passa ento a adoptar a firma BES, ainda que 246
o GES tivesse reiniciado actividades em Portugal logo em 1977, atravs do Banque Prive (com 247
sede na Sua). 248
Face gravidade do sucedido, com o colapso de um grupo econmico desta dimenso, 249
relevncia e histria, e do que tal representa para toda a sociedade portuguesa, entendeu a 250
Assembleia da Repblica intervir, de forma necessariamente complementar face s iniciativas 251
desenvolvidas pelas entidades supervisoras, aos processos judiciais e de insolvncia em curso, 252
tanto em Portugal como noutras geografias, atravs da criao de uma Comisso Parlamentar 253
de Inqurito (CPI), conforme consta da correspondente Resoluo da Assembleia da Repblica 254
n 83/2014, de 19 de Setembro de 2014, publicada em Dirio da Repblica a 1 de Outubro de 255
2014. 256
De acordo com a metodologia de trabalho adoptada, atento o seu objecto, e traduzida num 257
conjunto de indicadores de sntese (Tabela 1.1), conseguiu assim a Comisso Parlamentar de 258
Inqurito chegar aos factos, constataes, concluses e recomendaes retratados no 259
presente relatrio. 260
Tabela 1.1 Alguns indicadores de sntese do trabalho desenvolvido. 261
Nmero de Audies 55
Horas de Audio 292
Nmero de Pginas Transcritas (estimativa) 8.400
Minutos de Gravaes de Audio 15.830
Horas de Emisso no Canal Parlamento (estimativa) 270
Dimenso da Documentao Compilada (Gigabytes) 50 Fonte: servios de apoio da AR 262
263
A ttulo comparativo, pode referir-se que o nmero total de horas de reunio e transcries 264
efectuadas no mbito da CPI equivalente em ordem de grandeza durao das sesses 265
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plenrias do Parlamento efectuadas ao longo de toda uma sesso legislativa (331 horas no ano 266
de 2014). 267
O vasto trabalho efectuado, que se concentrou entre Outubro de 2014 e Abril de 2015, 268
permitiu essencialmente: i) apurar e sistematizar factos relevantes, bem como as 269
correspondentes responsabilidades; ii) identificar um conjunto de recomendaes no sentido 270
de minimizar a probabilidade de ocorrncia de situaes semelhantes em instituies 271
bancrias em solo nacional, robustecendo a confiana no nosso sistema financeiro. 272
Em conformidade com o objecto da CPI, mas igualmente com os objectivos do presente 273
relatrio, ele encontra-se estruturado de acordo com o conjunto de captulos que se segue, e 274
que podem ser alvo de consulta autnoma, em funo dos interesses especficos de cada 275
leitor: 276
Descrio do Mandato e Trabalhos Desenvolvidos, onde se descreve em maior 277
detalhe a metodologia de trabalho adoptada, sua calendarizao, composio e 278
interveno da Comisso Parlamentar de Inqurito; 279
Apuramento dos Factos, onde se faz uma descrio com algum detalhe sobre os 280
factos que foi possvel apurar, com base nos depoimentos prestados ou informao 281
recolhida, e o que fundamenta objectivamente tal apuramento; 282
Concluses e Recomendaes, onde com base no trabalho desenvolvido e nos factos 283
apurados, se faz uma enumerao das ilaes que foi possvel retirar, no que se refere 284
ao ocorrido e correspondentes responsabilidades (Concluses), mas se apontam 285
igualmente sugestes concretas quanto a medidas a tomar de forma a evitar que 286
situaes semelhantes possam repetir-se, com reforo da confiana no funcionamento 287
do nosso sistema financeiro (Recomendaes). 288
289
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2. Mandato e Trabalhos Desenvolvidos 290
291
2.1 Constituio e mbito 292
A Comisso Parlamentar de Inqurito gesto do BES e do Grupo Esprito Santo, ao processo 293
que conduziu aplicao da medida de resoluo e s suas consequncias, nomeadamente 294
quanto aos desenvolvimentos e opes relativas ao GES, ao BES e ao Novo Banco, adiante 295
designada por CPI, foi constituda pela Resoluo da Assembleia da Repblica n. 83/2014, 296
publicada no Dirio da Repblica, I Srie, n. 189, de 1 de Outubro de 2014 e pode ser 297
consultada aqui. 298
A referida resoluo fixou o objecto da CPI nos seguintes termos: 299
1 - Apurar as prticas da anterior gesto do BES, o papel dos auditores externos, as 300
relaes entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo GES, designadamente 301
os mtodos e veculos utilizados pelo BES para financiar essas entidades, bem como outros 302
factos relevantes conducentes ao grave desequilbrio financeiro do BES e consequente 303
aplicao a esta instituio de crdito de uma medida de resoluo; 304
2 - Avaliar o quadro legislativo e regulamentar, nacional e comunitrio, aplicvel ao 305
sector financeiro e a sua adequao aos objectivos de prevenir, controlar, fiscalizar e combater 306
prticas e procedimentos detectados no BES e no GES, bem como outras aces no quadro do 307
Programa de Assistncia Econmica e Financeira; 308
3 - Avaliar a ligao entre o estatuto patrimonial e o funcionamento do sistema 309
financeiro e os problemas verificados no sistema financeiro nacional e respectivos impactos na 310
economia e contas pblicas; 311
4 - Avaliar as condies e o modo de exerccio das atribuies prprias das entidades 312
pblicas competentes nesta matria, desde 2008, e, em especial, a actuao do Governo e dos 313
supervisores financeiros, tendo em conta as especficas atribuies e competncias de cada 314
um dos intervenientes, no que respeita defesa do interesse dos contribuintes, da 315
estabilidade do sistema financeiro e dos interesses dos depositantes, demais credores e 316
trabalhadores da instituio ou de outros interesses relevantes que tenham dever de 317
salvaguardar; 318
5 - Avaliar o processo e as condies de aplicao da medida de resoluo pelo Banco 319
de Portugal e suas consequncias, incluindo o conhecimento preciso da afectao de activos e 320
riscos pelas duas entidades criadas na sequncia das decises anunciadas pelo Banco de 321
Portugal no dia 3 de Agosto de 2014; 322
6 - Avaliar a interveno do Fundo de Resoluo e a eventual utilizao, directa ou 323
indirecta, imediata ou a prazo, de dinheiros pblicos. 324
325
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2.2 Composio e Durao dos Trabalhos 326
Na Conferncia de Lderes de 30 de Setembro de 2014 foi fixada a composio da CPI, nos 327
termos do artigo 6. do Regime Jurdico dos Inquritos Parlamentares (Tabela 2.1) e de acordo 328
com os diferentes Grupos Parlamentares (GP). 329
Tabela 2.1 Repartio de Deputados da CPI por Grupos Parlamentares (GP). 330
GP Efectivos Suplentes
PSD 7 2
PS 5 2
CDS/PP 2 1
PCP 2 1
BE 1 1
Fonte: servios de apoio da AR 331
332
Nessa Conferncia de Lderes, de 30 de Setembro de 2014, foi tambm determinado que a 333
Presidncia da CPI pertencia ao Grupo Parlamentar do PSD (Deputado Fernando Negro), a 1. 334
Vice-Presidncia ao Grupo Parlamentar do PS (Deputado Jos Magalhes) e a 2. Vice-335
Presidncia ao Grupo Parlamentar do BE (Deputada Mariana Mortgua). 336
No dia 9 de Outubro de 2014, s 12 horas, a Presidente da Assembleia da Repblica deu posse 337
CPI, que integra os seguintes Deputados (Tabela 2.2): 338
Tabela 2.2 Deputados que integraram a CPI, com indicao de Presidente (P), Vice-Presidentes 339
(VP), Coordenadores (C) dos Grupos Parlamentares e Relator (R). 340
Fernando Negro (P) PSD Efectivo
Jos Magalhes (VP) PS Efectivo
Mariana Mortgua (VP, C) BE Efectivo
Carlos Abreu Amorim (C) PSD Efectivo
Clara Marques Mendes PSD Efectivo
Duarte Marques PSD Efectivo
Duarte Pacheco PSD Efectivo
Jorge Paulo Oliveira PSD Efectivo
Pedro Saraiva (R) PSD Efectivo
Ana Paula Vitorino PS Efectivo
Filipe Neto Brando PS Efectivo
Joo Galamba PS Efectivo
Pedro Nuno Santos (C) PS Efectivo
Ceclia Meireles (C) CDS-PP Efectivo
Teresa Anjinho CDS-PP Efectivo
Miguel Tiago (C) PCP Efectivo
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Paulo S PCP Efectivo
Paulo Rios de Oliveira PSD Suplente
Pedro Alves PSD Suplente
Eurdice Pereira PS Suplente
Paulo Ribeiro de Campos PS Suplente
Telmo Correia CDS-PP Suplente
Bruno Dias PCP Suplente
Joo Semedo BE Suplente
Fonte: servios de apoio da AR 341
342
A composio da Mesa, bem como a indicao dos Coordenadores de cada Grupo 343
Parlamentar, foram publicadas no Dirio da Assembleia da Repblica II Srie B n. 6, de 15 de 344
Outubro de 2014. 345
O regulamento da CPI, com a grelha de tempos anexa, foi aprovado por unanimidade na 346
reunio de 29 de Outubro de 2014, enviado nessa mesma data Presidente da Assembleia da 347
Repblica e publicado no Dirio da Assembleia da Repblica n. 10, de 1 de Novembro de 348
2014. 349
Na reunio de 19 de Novembro de 2014 foi designado Relator da CPI o Deputado Pedro 350
Saraiva, do Grupo Parlamentar do PSD. 351
O prazo de 120 dias de funcionamento da CPI, fixado na Resoluo n. 83/2014, terminou a 9 352
de Fevereiro, j descontado o perodo de suspenso, que decorreu entre 23 de Dezembro de 353
2014 e 5 de Janeiro de 2015 (Dirio da Assembleia da Repblica, I Srie, n. 51, de 19 de 354
Dezembro de 2014), tendo sido prorrogado por mais 60 dias (Dirio da Repblica I Srie, n. 355
34, de 18 de Fevereiro de 2015). 356
Os trabalhos da CPI foram ainda suspensos entre 27 de Maro e 5 de Abril de 2015, com 357
fundamento no facto de a Comisso estar a aguardar documentao e informao de diversas 358
entidades, o envio de depoimentos escritos e a transcrio de algumas actas importantes para 359
a concluso dos trabalhos. A deliberao relativa suspenso dos trabalhos da Comisso 360
encontra-se publicada no Dirio da Assembleia da Repblica n. 103, de 30 de maro de 2015, 361
e pode ser consultada aqui. 362
363
2.3 Reunies Efectuadas 364
No total tiveram lugar 64 reunies de trabalho, com a durao global de quase 300 horas, 365
repartidas de acordo com as seguintes categorias: 366
61 reunies ordinrias da CPI, incluindo 55 audies*; 367
3 reunies de Mesa e Coordenadores, de natureza formal ou informal. 368
*As transcries das audies de Lus Mximo dos Santos, Eduardo Stock da Cunha, Henrique
Granadeiro, bem como as segundas audies de Ricardo Salgado, Carlos Costa e Maria Lus Albuquerque no foram, ainda revistas. No esto aqui includas as 9 reunies informais de Mesa e Coordenadores
-
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18
369
370
2.4 Audies e Depoimentos por escrito 371
Conforme acima indicado, tiveram lugar 55 audies presenciais, aqui ordenadas por 372
sequncia cronolgica (Tabela 2.3), com a durao total de 292 horas, cujos contedos podem 373
ser acedidos aqui. 374
Tabela 2.3 Lista nominal das audies presenciais, organizada cronologicamente, da ltima, 375
com a Ministra de Estado e das Finanas (25 de Maro de 2015) para a primeira, com o 376
Governador do Banco de Portugal (17 de Novembro de 2014). 377
Maria Lus Albuquerque - Ministra de Estado e das Finanas
Carlos Costa - Governador do Banco de Portugal
Carlos Tavares - Presidente da CMVM
Ricardo Salgado - GES
Paulo Portas - Vice-Primeiro-Ministro
Fernando Ulrich - Presidente da Comisso executiva do BPI
Miguel Frasquilho - ex-Director Coordenador de Research do BES
Fernando Faria de Oliveira - Presidente da APB
Luis Pacheco de Melo - CFO da PT SGPS
Henrique Granadeiro - ex-Presidente da PT
Zeinal Bava ex-Presidente da PT e Presidente da Oi
Jorge Martins - Administrador do BES; Joo Freixa - Administrador do BES
Gonalo Cadete, ex-CFO da Rioforte
Ricardo de Seabra ngelo - Presidente da Direco da Ass dos Clientes Lesados do Novo Banco
Lus Vieira - Presidente da Direco da ABESD
Joo Moita BES e BESA
Carlos Calvrio BES
Joo Filipe Martins Pereira, responsvel de compliance do BES e ESFG - Administrador ESFG
Pedro Brito e Cunha - Presidente da Comisso Executiva da Tranquilidade
Rui Guerra - Ex-Presidente do BESA
Eduardo Stock da Cunha - Presidente do Novo Banco
Lus Mximo dos Santos - Administrador do BES
Moreira Rato - ex-administrador do Novo Banco
Jos Honrio - ex-administrador do Novo Banco
Ins Viegas KPMG
Hlder Jos Bataglia dos Santos - Presidente da ESCOM
Rita Barosa - funes de Direco do BES
Jos Pereira Alves - Presidente da PricewaterhouseCoopers
Lus Horta e Costa - Administrador da ESCOM
Sikander Sattar na qualidade de Presidente da KPMG Angola
Antnio Jos Baptista do Souto, ex-Administrador Executivo do BES
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Isabel Almeida - funes de direco no BES
Machado da Cruz Commissaire aux Comptes do GES e quadro da ES Services
Jos Carlos Cardoso Castella - Controller financeiro do GES
Joo Rodrigues Pena - CEO da Rioforte
Jos Manuel Macedo Pereira - ROC e auditor do GES
Rui Silveira, ex-Administrador Executivo do BES
Joaquim Goes, ex-Administrador Executivo do BES
lvaro Sobrinho, ex-Presidente do BESA
Pedro Mosqueira do Amaral GES
Jos Manuel Esprito Santo Silva GES
Manuel Fernando Esprito Santo GES
Amlcar Morais Pires ex-Administrador Executivo do BES
Pedro Queiroz Pereira CIMIGEST
Jos Maria Ricciardi GES
Ricardo Salgado GES
Susana Conceio Caixinha - Tcnica do Banco de Portugal
Sikander Sattar na qualidade de Presidente da KPMG Portugal
Vtor Bento - ex-Presidente Executivo do BES e do Novo Banco
Jos Berberan S. Ramalho - Presidente da Comisso Directiva do Fundo de Resoluo
Maria Lus Albuquerque - Ministra de Estado e das Finanas
Teixeira dos Santos - Ex-Ministro das Finanas
Carlos Tavares - Presidente do Conselho Directivo da CMVM
Jos Figueiredo Almaa - Presidente do Instituto de Seguros de Portugal
Pedro Duarte Neves - Vice-Governador do Banco de Portugal
Carlos Costa - Governador do Banco de Portugal Fonte: servios de apoio da AR 378
379
Relativamente durao das diferentes audies (Figura 2.1), de natureza varivel, em funo 380
das temticas abordadas e das dinmicas de interaco geradas, possvel constatar que 381
conheceram uma durao mdia de 5,3 horas, com um desvio padro igual a 1,8 horas, tendo 382
ambas as audies a Ricardo Salgado sido as nicas a ultrapassar as 10 horas, seguindo-se 383
depois as de Francisco Machado da Cruz (8h45min), Sikander Sattar (8h10min) e Carlos Costa 384
(8h10min). 385
-
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20
386
Figura 2.1 Durao das diferentes audies, em nmero de horas, por ordem decrescente. 387 Fonte: clculos do deputado relator com base em informao dos servios de apoio da AR 388
389
As audies foram maioritariamente pblicas, tendo tido lugar porta fechada trs, relativas 390
a: i) Jos Castella (7 de Janeiro de 2015); ii) Francisco Machado da Cruz (8 de Janeiro de 2015); 391
iii) Sikander Sattar, na qualidade de Presidente da KPMG Angola (14 de Janeiro de 2015). 392
A deliberao sobre as audies no pblicas de Jos Castella e Francisco Machado da Cruz foi 393
tomada, por unanimidade, em reunio da CPI de 6 de Janeiro de 2015, porque ambos 394
invocaram segredo de justia por serem arguidos em processos de natureza criminal e 395
contraordenacional em Portugal e no estrangeiro e estarem tambm envolvidos em buscas 396
judiciais. 397
Por deciso unnime da CPI foi ainda deliberado realizar porta fechada a audio do 398
Presidente da KPMG Angola, Dr. Sikander Sattar, que invocou razes de proteco dos seus 399
direitos fundamentais e do sigilo bancrio angolano. A deliberao de realizar porta fechada 400
parte da audio de Sikander Sattar, na qualidade de Presidente da KPMG Portugal, foi tomada 401
por unanimidade durante a primeira parte dessa audio. 402
Foram solicitados depoimentos por escrito junto de 21 individualidades ou entidades (Tabela 403
2.4), das quais at ao momento apenas 6 forneceram as suas respostas, tendo duas 404
apresentado justificaes para o no envio de respostas. Duas das individualidades esto ainda 405
a preparar o envio das respostas. 406
Tabela 2.4 Individualidades ou entidades, por ordem alfabtica, a quem foram solicitados 407
depoimentos por escrito, com indicao da existncia das correspondentes respostas (R), 408
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
-
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21
situaes de respostas ainda pendentes (RP) justificao para o no envio das mesmas (J) ou 409
simples ausncia de respostas (NR). 410
Abebe Selassie NR
Alexandre Cadosh J
Alexandre Italianer RP
Antnio Soares NR
Bruno Laage de Meux R
Carlos Moedas R
Jean Claude Juncker NR
Jean Luc Schneider NR
Joaquin Almunia NR
Jos Guilherme R
Jos Manuel Duro Barroso RP
Mario Draghi NR
Michel Creton J
Olli Rehn NR
Paul Thomsen NR
Pedro Passos Coelho R
Pierre Butty NR
Rita Amaral Cabral NR
Subir Lall NR
Vtor Constncio R
Vtor Gaspar R Fonte: servios de apoio da AR 411
412
2.5 Documentos Solicitados e Recebidos 413
A CPI solicitou documentos a um vasto conjunto de entidades (Anexo 1). Houve casos de 414
recusa de envio de alguns documentos tendo por base a invocao de segredo profissional, 415
segredo bancrio e sigilo fiscal, que constituem modalidades de segredo profissional, ou, 416
ainda, segredo de justia. 417
A CPI deliberou por unanimidade o levantamento de segredo profissional nas reunies da 418
Comisso que tiveram lugar a 18 de Novembro de 2014 e a 4 de Maro de 2015, mandatando 419
o seu Presidente para os devidos efeitos. 420
As deliberaes de levantamento de segredo profissional, com fundamentao diferenciada 421
em funo dos documentos que estavam em causa, do-se aqui por integralmente 422
reproduzidas, constam em anexo e podem ser consultadas em 423
http://arnet/sites/XIILeg/COM/CPIBES/ArquivoComissao/Forms/AllItems.aspx?RootFolder=%2424
Fsites%2FXIILeg%2FCOM%2FCPIBES%2FArquivoComissao%2FLevantamento%20Segredo%20Pr425
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ofissional&FolderCTID=0x01200092959129725D4ADEACE9DBB1A50729E900C3BE54E8F0F635426
4C8EA05D75175C623F. 427
Estas deliberaes tiveram por destinatrios o BES - Banco Esprito Santo (2), o ISP - o Instituto 428
de Seguros de Portugal e a ASF - Autoridade de Superviso de Seguros e Fundos de Penses (o 429
ISP foi assim redenominado a partir de Fevereiro de 2015), a CMVM Comisso do Mercado 430
de Valores Mobilirios (2), a CGD - Caixa Geral de Depsitos, o Novo Banco e a ESAF Esprito 431
Santo Ativos Financeiros, e foram acolhidas, excepto no que respeita s trs ltimas entidades 432
citadas. 433
434
435
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3. Apuramento dos Factos 436
3.1 Comportamento do BES e do GES 437
Durante os trabalhos da CPI foi dado particular relevo s instituies pertencentes ao ramo 438
no financeiro do Grupo Esprito Santo a Rioforte e as suas participadas, bem como do ramo 439
financeiro a ESFG, que inclui uma participao no BES, e suas participadas. 440
Dada a dimenso do GES, a rede de ligaes creditcias e outras entre as diversas sociedades e 441
holdings, bem como a cronologia dos eventos, a forma mais adequada para descrever a queda 442
do grupo consistir na descrio das mais relevantes instituies do grupo. A metodologia 443
seguida consiste, em primeiro lugar, na descrio sumria da sociedade, dando conta, sempre 444
que possvel, da sua situao financeira, dos principais actores intervenientes e as ligaes 445
com o BES e o GES. Para este efeito, basear-se- a exposio na documentao solicitada pela 446
CPI, sustentada por excertos de depoimentos verificadamente objectivos. Em segundo lugar, 447
apresentar-se-o descries das referidas instituies, provenientes dos diferentes depoentes. 448
Sempre que seja o caso, agrupar-se-o as diferentes verses obtidas, que podero assim ser 449
contrapostas. 450
Iniciar-se- ento a descrio j mencionada das instituies do GES, numa perspectiva top-451
down, comeando pela Esprito Santo International e uma breve meno ES Control. De 452
seguida, analisar-se-o as sociedades pertencentes ao ramo financeiro do GES, ou entidades 453
cuja relao com o GES merece destaque, designadamente a ESFG, a Eurofin, a ESFIL e ES Bank 454
Panam, o BESA e a seguradora Tranquilidade. Por ltimo, abordar-se-o a Rioforte, a ES 455
Tourism, ESCOM, Portugal Telecom, Akoya Asset Management e Esprito Santo Enterprises. 456
3.1.1 A situao da ESI 457
As principais questes que se levantam relativamente a esta holding de topo do Grupo Esprito 458
Santo prendem-se com o aumento inusitado do passivo da sociedade, descoberto em 459
Novembro de 2013, e sua caracterizao mais detalhada, obtida em Maio de 2014. 460
Assim, a prxima seco, dedicada Esprito Santo International (ESI), divide-se da seguinte 461
forma: como introduo, ser dada alguma informao geral sobre esta holding; de seguida, 462
aprofundar-se-o as contas da sociedade, designadamente atravs de uma anlise do seu 463
balano e da evoluo da sua dvida, sustentada pelos resultados dos trabalhos de reviso 464
limitada conduzidos pela KPMG; posteriormente, sero mencionadas as diferentes verses 465
quanto s operaes de ocultao do passivo que tiveram lugar; por ltimo, abordar-se-o as 466
outras entidades do GES. Num outro subcaptulo ser abordada a questo do papel comercial 467
da ESI, vendido, entre outros, a clientes de retalho do BES. 468
A ESI uma sociedade de direito luxemburgus, tambm conhecida por SOPARFI Sociedade 469
Annima sob o regime fiscal das sociedades de participaes financeiras. Tal como descrito na 470
introduo a este relatrio, a ESI considerada a holding de topo do Grupo Esprito Santo, 471
controlando o ramo financeiro e detendo a totalidade das holding do ramo no financeiro do 472
-
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24
GES. Esta situao evolui com as alteraes da estrutura do grupo, designadamente aquando 473
da compra da ES Irmos e da ESFG por parte da Rioforte, em que esta passa a deter tambm 474
ambos os braos, financeiro e no financeiro, do GES, no final de 2013. 475
A ESI detida em 54,55% pela ES Control, ainda que a participao da famlia Esprito Santo 476
nesta holding no se reduza s aces detidas pela ES Control, uma vez que a Control 477
Development e a ESAT tambm possuem participaes da ESI. 478
A composio dos rgos sociais da ESI encontra-se descrita em anexo (Anexo 2), tendo-se 479
registado alteraes da sua composio no primeiro semestre de 2014. 480
A ESI comea a ser um tema de destaque aquando da realizao do exerccio ETRICC2, pela 481
PwC, que permitiu identificar um inusitado aumento do passivo desta holding. No seu 482
seguimento, e ainda no decorrer desse exerccio, determinada pelo Banco de Portugal a 483
necessidade de elaborao de um balano pr-forma da sociedade, com referncia a 30 de 484
Setembro de 2013 e 31 de Dezembro do mesmo ano, levado a cabo pela KPMG. Ricardo 485
Salgado resume a situao ocorrida, na sua audio de 9 de Dezembro de 2014: 486
Esta auditoria envolveu uma interaco das equipas do GES e do Banco Esprito Santo, que 487
disponibilizaram toda a informao Pricewaterhouse. Fruto desta interaco, em finais de 488
Novembro de 2013, foi reportado que haveria um passivo no registado na ESI. Esta 489
circunstncia afectava, naturalmente, a dvida directa e indirecta do Grupo, em parte titulada 490
por papel comercial colocado no mercado nacional e internacional. 491
() 492
Ainda nesta altura foi tambm solicitada ESFG, a pedido do Banco de Portugal, que fossem 493
preparadas demonstraes financeiras consolidadas proforma da ESI, com referncia a 30 de 494
Setembro de 2013, e que as mesmas fossem objecto de anlise por auditor externo, a KPMG. 495
Ricardo Salgado afirma tambm, relativamente ao exerccio ETRICC2, que na base das suas 496
projeces, efectuadas com base em elementos definidos pelo grupo, o GES seria vivel, a 497
longo prazo: 498
No referido documento, a Pricewaterhouse conclui que o GES era econmica e 499
financeiramente vivel e a dvida sustentvel num prazo at 2023. 500
Com efeito, no relatrio do ETRICC, pgina 25, afirma-se, cito: mesmo considerando o cenrio 501
de desvio superior (pior cenrio), o equity da ESI, os capitais prprios da ESI em 502
2018 e 2023 continua a ser positivo, fundamentalmente devido valorizao da ESFG. Repito: 503
este relatrio foi elaborado a pedido do Banco de Portugal. E a Pricewaterhouse confirma, no 504
mesmo relatrio, que o valor da Rioforte era de 1,708 bilies de euros, mesmo com a proviso 505
dos 700 milhes de euros na ESFG, de que adiante se falar e que foi determinada pelo Banco 506
de Portugal. 507
Na fase 1 do trabalho de reviso limitada ESI, quantificada a ocultao do passivo com 508
referncia s contas do ano anterior a 2013. A fase 2 do trabalho de reviso limitada confirma 509
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esse valor, bem como a proviso a inscrever nas contas da ESFG com o objectivo de proteger o 510
Banco Esprito Santo face a incumprimentos da ESI perante clientes detentores de papel 511
comercial da Esprito Santo International. O valor da proviso foi de 700 milhes de euros, 512
valor assegurado pela ESFG ao BES mediante mandato irrevogvel de venda das aes da 513
seguradora Tranquilidade. 514
Aps a descoberta da ocultao de passivo, em Novembro de 2013, e aps a sua quantificao 515
mais detalhada, em Abril/Maio de 2014, ao Banco de Portugal remetida informao 516
apresentada por Jos Maria Ricciardi, alm do depoimento prestado pelo Comissaire aux 517
Comptes da ESI, Francisco Machado da Cruz, a um escritrio de advogados do Luxemburgo. 518
3.1.1.1 As contas da ESI 519
So mltiplas as fontes de informao relativas s contas da ESI, nem sempre comparveis 520
entre si. A primeira fonte aquela que consta do prospecto do papel comercial da ESI; a 521
segunda fonte corresponde a informao enviada CPI por Francisco Machado da Cruz, que 522
contm balanos pr-forma da holding de topo do Grupo Esprito Santo; a terceira e ltima 523
fonte decorre do trabalho de reviso limitada ESI conduzido pela KPMG. 524
De acordo com o prospecto do papel comercial da ESI, colocado em clientes de retalho do BES, 525
o balano individual da holding apresentava, em 2010, um activo de 3.542 milhes de euros, 526
que decresce para 3.390 milhes de euros em 2011 e aumenta para 4.265 milhes de euros 527
em 2012. Segundo o mesmo documento, o passivo da holding atingia os 2.341 milhes de 528
euros em 2010, 2.489 milhes de euros em 2011 e 3.354 milhes de euros em 2012. O capital 529
prprio evolui de 1.173 milhes de euros em 2010 para 855 milhes de euros em 2012 (Tabela 530
3.1). 531
Tabela 3.1 Principais elementos do balano individual da ESI (valores em milhes de euros). 532
31.12.2010 31.12.2011 31.12.2012 30.06.2013 30.09.2013
Activo 3.542 3.390 4.265
Passivo 2.341 2.489 3.354 3.900 5.600
Capital Prprio 1.173 867 855 Fontes: prospecto do papel comercial da ESI; informao do BES ao BdP; ETRICC2. 533
De acordo com a informao disponibilizada pelo Grupo BES ao Banco de Portugal, o passivo 534
individual da ESI atingia, em 30 de Junho de 2013, o valor de 3.900 milhes de euros. At este 535
momento, designadamente at ao momento do apuramento do passivo no mbito do 536
ETRICC2, o supervisor afirma que no havia qualquer indicao ou suspeita de que pudesse 537
no ter sido registada a totalidade dos passivos financeiros nas contas da ESI. 538
sj1 539
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26
Durante os trabalhos da CPI, Francisco Machado da Cruz fez chegar um conjunto de 540
informao relevante, da qual constam balanos consolidados em forma simplificada da ESI, 541
entre os anos de 2009 e 2012. 542
De acordo com esta documentao, o balano consolidado de 2010 demonstrava um activo de 543
4.213 milhes de euros, que evolui para 4.428 milhes de euros em 2011 e 5.131 milhes de 544
euros em 2012. 545
Segundo o mesmo documento, o passivo da holding atingia os 5.107 milhes de euros em 546
2009, 5.627 milhes de euros em 2010, 6.113 milhes de euros em 2011 e 6.976 milhes de 547
euros em 2012. 548
O capital prprio, sempre negativo, evolui de -1.275 milhes de euros em 2009 para -1.845 549
milhes de euros em 2012 (Tabela 3.2). 550
Tabela 3.2 Alguns elementos consolidados do balano da ESI (valores em milhes de euros). 551
31.12.2009 31.12.2010 31.12.2011 31.12.2012 Ativo 3.832 4.213 4.428 5.131 Passivo 5.107 5.627 6.113 6.976 Capital Prprio -1.275 -1.413 -1.685 -1.845 Fonte: documentao entregue por Francisco Machado da Cruz. 552
fim de sj1 553
A fase 1 do trabalho de reviso limitada, elaborado pela KPMG, informa que o balano 554
contabilstico consolidado da ESI, com referncia a 30 de Setembro de 2013, apresentava um 555
activo no ajustado de 7.823 milhes de euros, sendo o seu total, aps os ajustamentos de 556
reviso (2.248 milhes de euros) e aps os ajustamentos fruto do Mtodo de Equivalncia 557
Patrimonial na avaliao da ESFG e da Rioforte (1.038 milhes de euros e 466 milhes de 558
euros, respectivamente), de cerca de 4.072 milhes de euros. A fase 2 do trabalho de reviso 559
limitada, confirmados alguns dos ajustamentos, informa que o balano contabilstico no 560
ajustado da ESI apresentava um activo, em 2013, de 6.509 milhes de euros, sofrendo um 561
ajustamento de reviso de 406 milhes de euros e ajustamentos decorrentes da avaliao da 562
ESFG pelo Mtodo de Equivalncia Patrimonial no valor de 1.171 milhes de euros, para um 563
total do activo de 4.932 milhes de euros. 564
O passivo, ajustado de acordo com as recomendaes da KPMG, evolui de 7.942 milhes de 565
euros para 9.165 milhes de euros entre Setembro e Dezembro de 2013. No mesmo perodo, o 566
capital prprio ajustado diminui de -3.870 milhes de euros para -4.378 milhes de euros 567
(Tabela 3.3). 568
569
Tabela 3.3 Indicadores do balano consolidado pr-forma da ESI 570
(valores em milhes de euros). 571
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30.09.2013 (contabilstico)
30.09.2013 (ajustado)
31.12.2013 (contabilstico)
31.12.2013 (ajustado)
Activo 7.823 4.072 6.509 4.932
Passivo 7.687 7.942 8.911 9.165
Capital Prprio 136 - 3.870 -2.548 - 4.378
Emprstimos obtidos 1.881 2.618
Responsabilidades representadas por ttulos
4.943 5.557
Fonte: Fase 1 e Fase 2 do trabalho de reviso limitada, KPMG 572
No que diz respeito aos emprstimos obtidos e responsabilidades representadas por ttulos, 573
importa retratar a situao consolidada da ESI a 31 de Dezembro de 2013, quando o total da 574
dvida do grupo ascendia a 8.088 milhes de euros. 575
Em Dezembro de 2013 o total de emprstimos obtidos pela ESI, de forma consolidada, 576
ascendia ento a cerca de 2.618 milhes de euros e decompunha-se da seguinte forma: 577
Emprstimos bancrios: 122 milhes de euros; 578
Emprstimos fiducirios: 569 milhes de euros; 579
Outros emprstimos: 1.927 milhes de euros, que correspondem a emprstimos ESI 580
na ordem dos 1.074 milhes de euros, Rioforte de cerca de 462 milhes de euros, 581
ES Resources Ltd na ordem dos 220 milhes de euros e ES Industrial (OPWAY) no 582
valor de 172 milhes de euros. Relativamente aos outros emprstimos ESI, estes 583
provinham do ES Bank Panam (472 milhes de euros) e da ESFIL (602 milhes de 584
euros). 585
586
As responsabilidades representadas por ttulos, excluindo os emprstimos fiducirios de 587
clientes do Banque Prive ES, acima mencionados, e no valor total de 5.471 milhes de euros, 588
decompunham-se da seguinte forma: 589
Clientes institucionais BES: 1.501 milhes de euros; 590
Clientes de retalho BES: 2.116 milhes de euros; 591
Clientes de retalho Banque Prive ES: 745 milhes de euros; 592
Clientes de retalho do BES Vntie: 354 milhes de euros; 593
Outros: 755 milhes de euros; 594
A este valor acresce um ajustamento na ordem dos 86 milhes de euros, para um total 595
de 5.557 milhes de euros em responsabilidades representadas por ttulos. 596
597
sj2 598
Segundo o depoimento de Francisco Machado da Cruz, entre 2004 e 2013, o aumento do 599
passivo da ESI, na ordem dos 4.600 a 4.700 milhes de euros, decorre de sadas de tesouraria 600
no valor de 5.700 milhes de euros e de entradas de tesouraria na ordem dos 1.100 milhes 601
de euros. 602
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Assim, no perodo de 10 anos, as sadas de tesouraria da ESI, numa ptica consolidada, tero 603
ocorrido da seguinte forma: 604
Juros: cerca de 2.100 milhes de euros; 605
Eurofin: cerca de 751 milhes de euros; 606
OPWAY: 414 milhes de euros; 607
ESAF: 251 milhes de euros; 608
Compra de aces da ESI: 208 milhes de euros; 609
Aumento de capital da ESFG: 200 milhes de euros; 610
Compra de aces da ESFG: 175 milhes de euros; 611
Aumento de capital da ES Sade: 104 milhes de euros; 612
Pagamentos ES Resources PT: 136 milhes de euros; 613
Houve ainda lugar a outras sadas no quantificadas. 614
615
Por sua vez, e no mesmo perodo, as entradas de tesouraria da ESI, numa ptica consolidada, 616
decompuseram-se da seguinte forma: 617
Venda da participao na Carrefour: valor no quantificado; 618
Venda da Herdade do Reguengo: 100 milhes de euros; 619
Bankest: 97 milhes de euros; 620
Miami: 40 milhes de euros; 621
Newbrook: 52 milhes de euros; 622
Aumento de capital da ES Control em 2011: 70 milhes de euros; 623
Aumento de capital da ESI em 2011: 240 milhes de euros; 624
Dividendos: 17 milhes de euros. 625
626
fim de sj2 627
628
Relativamente ao acrscimo do valor do passivo, h que considerar que nos ajustamentos j 629
referidos se insere o valor de 1.331 milhes de euros, valor ocultado no passivo das contas da 630
ESI referentes a 2012. 631
3.1.1.2 Ocultao do passivo 632
De acordo com a fase 1 do trabalho de reviso limitada com finalidade especial ESI, por parte 633
da KPMG, e com referncia a 30 de Setembro de 2013, foi identificada uma subavaliao do 634
passivo da ESI, reconfirmada em Abril de 2014. O valor da ocultao do passivo da ESI atingiu 635
assim os 1.331 milhes de euros, nas contas relativas a 2012. 636
Face a esta situao, foram efectuadas correces nas contas da ESI e ES Resources, o que 637
ocorreu atravs do lanamento de valor equivalente, com correces s contas de 2012, do 638
lado do activo da ESI, numa rubrica Avano Esprito Santo Resources Limited. Assim, na 639
Esprito Santo Resources Limited estava registada uma responsabilidade um passivo, 640
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Esprito Santo International, no mesmo montante. Para equilibrar o balano da ES Resources 641
Ltd foram ento inscritos no seu activo imveis e projectos de investimento no valor de 1.081 642
milhes de euros, aos quais acrescem 250 milhes de euros negativos no lado dos resultados, 643
correces apresentadas por Ricardo Salgado Comisso Executiva do BES em 4 de Dezembro 644
de 2013. 645
Em Maio de 2014 conhecido, pelo Banco de Portugal, o depoimento de Francisco Machado 646
da Cruz perante uma sociedade de advogados do Luxemburgo, em que este refere terem sido 647
sempre do conhecimento, pelo menos, de Jos Castella e Ricardo Salgado, alm de outros 648
membros da famlia Esprito Santo, as situaes de ocultao de passivo verificadas na ESI. 649
Importa assim referir a primeira identificao do passivo real da ESI, quantificado pela KPMG, 650
de acordo com a fase 1 do Trabalho de Reviso Limitada: 651
No terceiro trimestre de 2013, foi identificada uma subavaliao significativa do passivo 652
financeiro do Grupo com referncia a 31 de Dezembro de 2012 no montante de 1.331.042 653
milhares de euros, face ao valor das emisses da ESI colocadas em terceiros e custodiadas nas 654
entidades do Grupo quela data. 655
Na sequncia da regularizao contabilstica efectuada com referncia a 30 de Setembro de 656
2013 e que teve por objectivo a correco desta situao, foi contabilizado, na rubrica 657
Projectos de Investimento, um activo no montante de 1.136.974 milhares de euros. Ainda no 658
mbito desta regularizao, para alm de outros ajustamentos em diversas rubricas do 659
balano da ESI, foi registado como um activo, um valor de 250.000 milhares de euros na 660
rubrica Propriedades de Investimento (). 661
No obtivemos, durante o nosso trabalho, acesso a informao que permita justificar o 662
reconhecimento deste valor de 1.136.974 milhares de euros como um activo uma vez que no 663
nos foi disponibilizada (i) documentao que evidencie a efectiva ocorrncia de transaces de 664
compra de activos ou (ii) uma lista de activos justificativa do valor contabilizado bem como de 665
evidncia da sua existncia, respectiva titularidade e valorizao. Nessa base nosso 666
entendimento que o ajustamento com vista regularizao do valor do passivo financeiro do 667
Grupo deveria ter sido efectuado por contrapartida de resultados transitados. 668
O trabalho efectuado pela KPMG quantificou portanto o passivo que havia sido subavaliado 669
em cerca de 1.331 milhes de euros, ao qual corresponderiam activos lanados na ES 670
Resources, cuja propriedade no foi possvel reconhecer. 671
De acordo com o depoimento de Ricardo Salgado, a ocultao do passivo ocorria desde 2008: 672
S passmos a conhecer a situao que refere desde 2008, j depois de termos detectado este 673
problema, no final do ms de Novembro [de 2013]. Nessa altura, fez-se uma anlise para trs e 674
verificou-se que j havia diferenas que vinham desde 2008. 675
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Ricardo Salgado afirmou, na mesma audio, que no conhecia a ocultao do passivo antes 676
de Novembro de 2013: 677
No conhecia [a subavaliao do passivo]. 678
Afirmou, igualmente, nunca ter dado ordens no sentido de esconder a verdade das contas: 679
Cada um deve ser responsvel por aquilo que afirma, mas posso garantir aos Srs. Deputados 680
que nunca dei instrues a ningum para ocultar passivos do Grupo. Que fique bem claro! 681
Podero, agora, dizer o que entenderem, mas esta a realidade dos factos. Nem eu tinha 682
como misso estar a acompanhar as contas do Grupo. 683
O antigo presidente da comisso executiva do BES aponta Francisco Machado da Cruz, 684
Comissaire aux Comptes da ESI, como responsvel pela subavaliao do passivo, afirmando 685
que o prprio contabilista assim o admitiu comisso de auditoria da ESFG: 686
Alm disso, gostava de dizer que fiquei surpreendido, hoje, por ver notcias na imprensa sobre 687
uma entrevista que o Dr. Francisco Machado da Cruz, que era o responsvel pelas contas, e no 688
s j falaremos sobre isso , deu a uns advogados no Luxemburgo. Mas quem faz essa 689
apresentao esquece-se de referir que o Dr. Machado da Cruz foi objecto de duas intervenes 690
de uma comisso de auditoria da ESFG, imposta pela KPMG do Luxemburgo, onde teve de 691
responder e assumiu totalmente a responsabilidade dos seus actos. 692
De acordo com os depoimentos e com a informao que chegou CPI, Francisco Machado da 693
Cruz abordou a questo da ocultao do passivo em dois momentos principais. O primeiro 694
ocorre numa reunio com a sociedade de advogados Arendt & Medernach. Na reunio com os 695
advogados, o Comissaire aux Comptes assegura que a subavaliao do passivo ocorreu com 696
conhecimento, desde 2008, de Ricardo Salgado, Jos Castella e Manuel Fernado Moniz Galvo 697
Esprito Santo Silva. Posteriormente, ainda no mesmo testemunho, Francisco Machado da Cruz 698
afirma ainda que Jos Manuel Pinheiro Esprito Santo Silva sabia que uma parte do passivo no 699
se encontrava reflectida nas contas da sociedade. 700
Posteriormente a este depoimento, em sede de comisso de auditoria da ESFG, Francisco 701
Machado da Cruz afirmou que a ocultao do passivo havia sido um erro seu. 702
sj3 703
A este propsito, Francisco Machado da Cruz referiu o seguinte perante a CPI: 704
Portanto, a cronologia assim: tive a minha reunio com o Laurent, a 28 de Maro; no dia 31 705
de Maro, antes de ter voltado pela segunda vez ao Luxemburgo para falar com o meu 706
advogado pessoal, que o Max, fui chamado comisso de auditoria da Esprito Santo 707
Financial Group, um pouco antes da hora de almoo, para aparecer l tarde. Alis, eu nem 708
sabia a que ttulo que a comisso de auditoria da Esprito Santo Financial Group estava a 709
chamar-me, porque eu nunca tinha tido qualquer relao profissional com eles. Portanto, no 710
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percebia a que ttulo que me estavam a chamar agora. Perguntei ao Z, que me disse: 711
Aparentemente, porque o Banco de Portugal, ou algum pediu ou a KPMG. 712
Telefonei para o Dr. Ricardo e disse: Dr. Ricardo, agora que temos aqui a comisso de 713
auditoria?!. E ele disse-me: Voc j sabe o que que vai dizer!. Ao que respondi No! No 714
sei o que que vou dizer. Eu vou dizer exactamente aquilo que disse ao Laurent, que explicar 715
a verdade. Ele disse-me: Francisco, voc tem de dizer que foi um erro!. 716
As razes apresentadas por Francisco Machado da Cruz, relativamente assuno de culpas, 717
prendem-se com o desgnio de no deixar o grupo cair, afirmando que aceitou dizer que havia 718
sido um erro perante a Comisso de Auditoria da ESFG: 719
E eu aceitei dizer que foi um erro. Aceitei e vou explicar-lhe porqu. 720
Eu fui ao 8. andar do Banco Esprito Santo falar comisso de auditoria da Esprito Santo 721
Finantial Group, que, para mim, no tem qualquer independncia do Grupo Esprito Santo. No 722
estava a falar com autoridades. Certo? Estava a falar com colegas meus, embora tivesse pouca 723
relao com eles, estava a falar com colegas meus, que so pagos pelo Esprito Santo Finantial 724
Group e reportam ao presidente do conselho de administrao da Esprito Finantial Group, Dr. 725
Ricardo Salgado. 726
O que que o Sr. Deputado queria que eu dissesse no dia em que l fui? Queria que eu dissesse: 727
Olhe, a culpa do senhor que est l em cima, no 15. andar! O Grupo tinha cado 728
imediatamente, outra vez. 729
Portanto, eu no quero estar a dizer que era eu que aguentava o Grupo, mas, com as minhas 730
atitudes, tentei aguentar o Grupo, tentei ajudar o Grupo ao mximo, e disse na comisso de 731
auditoria que era um erro. 732
Segundo o depoimento de Francisco Machado da Cruz, a ocultao do passivo inicia-se em 733
2008, resultado da crise financeira: 734
Sr. Deputado, em 2008, a Esprito Santo International tinha obrigaes a muito longo prazo. 735
() 736
Havia obrigaes a longo prazo, se no estou em erro, com vencimento em 2026, mais 12 anos 737
a partir de hoje, digamos. Na altura, eu estava com o Dr. Ricardo no Banco Esprito Santo, no 738
15. andar, no gabinete onde o Dr. Ricardo recebia pessoas, e ele pediu a algum, no me 739
recordo, agora, quem, do Departamento Financeiro, Mercados e Estudos, do DFME do Banco, 740
para, a partir das obrigaes, como elas se venciam a muito longo prazo, calcular o seu valor 741
data de 31 de Dezembro de 2008. E isto foi feito, foi feito numa folha de Excel, lembro-me 742
perfeitamente no tenho a folha de Excel comigo, est no meu computador, que est na 743
Sua. Est no servidor da Sua, no tenho isso comigo, mas lembro-me perfeitamente de a ter 744
visto e de ter verificado se havia algum racional. 745
Na altura, tambm falei com um colega meu c, de Lisboa, que tinha acabado de fazer um 746
mestrado em Contabilidade, e perguntei-lhe o que ele achava, mas eu, daqueles documentos, 747
que eu tinha, de contabilidade, tambm achava de facto que sim, que havia um racional em 748
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que o valor justo, no caso do passivo, o valor pelo qual ele pode ser liquidado imediatamente. 749
Ou seja, se o Grupo Esprito Santo tivesse pago aquelas obrigaes no dia 1 de Janeiro de 2009, 750
tinha tido um ganho de 180 milhes de euros, porque as obrigaes agora estou a explicar 751
em relao a 2008, depois referirei 2009. Portanto, no foi pago no dia 1 de Janeiro de 2009. 752
De maneira que, no balano da ESI, j l tinha 180 milhes a menos no passivo. 753
Depois, chegmos a 2009 e temos mais um passivo na Esprito Santo International de menos 754
180 milhes. E a Esprito Santo International continuou com um buraco. Ento, ocultou-se mais 755
uma parcela do passivo, creio que foram 200 milhes. 756
Portanto, a 31 de Dezembro de 2009, j faltavam 380 milhes e, assim sucessivamente, at 757
31/12/2012. 758
759
Francisco Machado da Cruz afirmou ainda que a ocultao do passivo deixou de ter um 760
racional por detrs, passando a servir para cobrir prejuzos: o valor acumulado de 1.331 761
milhes de euros seria o reflexo de prejuzos acumulados, referindo, no entanto, que no 762
houve apropriao de fundos por ningum: 763
Era para cobrir prejuzos. 764
Contudo, h aqui uma coisa muito, muito importante, que fundamental para mim, para mim, 765
Francisco Machado da Cruz: ningum roubou 1 ! uma garantia que lhe dou! Podem mandar 766
um exrcito de advogados, um exrcito de accounters, um exrcito de contabilistas Esprito 767
Santo Services procura desse 1,3 porque ningum meteu 1 ao bolso! Esta uma garantia 768
que eu dou. 769
770
Em relao ao funcionamento da ESI e ao reporte de contas, Francisco Machado da Cruz fez 771
uma breve descrio do funcionamento da holding. A contabilidade era efectuada na ES 772
Services, empresa vocacionada para elaborao da contabilidade de parte da cpula do GES. 773
Mensalmente era elaborado, por um colaborador da ES Services chamado Pierre Butty, um 774
documento contendo o passivo correcto de todas as holdings, documento esse que era 775
enviado a Jos Castella. Juntamente com este relatrio mensal era enviado um documento 776
trimestral que reflectia os fluxos de tesouraria: 777
Relativamente s contas da Esprito Santo International, que um ponto quente, devo dizer 778
que a contabilidade da Esprito Santo International era feita na Esprito Santo Services, em 779
Lausanne. Eu sou responsvel pela contabilidade da Esprito Santo International. 780
() Contudo, Srs. Deputados, embora o passivo da Esprito Santo International tivesse sido 781
ocultado, sempre preparei as contas consolidadas da Esprito Santo International e sempre as 782
apresentei ao Dr. Ricardo Salgado. 783
() 784
Esse relatrio era enviado todos os meses, com o atraso de uma semana, digamos, mas 785
fechava-se a contabilidade a 31 de Janeiro e depois envia-se o relatrio nos primeiros 15 dias 786
do ms de Fevereiro, relativamente a 31 de Janeiro. Com esse relatrio, trimestralmente, era 787
enviado o cash-flow, a tal conta de mercearia, dinheiro que entra e dinheiro que sai. Ou seja, o 788
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dinheiro que saa era cada vez mais, o dinheiro que entrava era muito pouco. No havia 789
dinheiro que entrasse, s havia dinheiro que saa, e era tudo para juros. E isto era enviado 790
trimestralmente para o Jos Castella. Eu perguntei ao Z: Z, mas tu no entregas isso no 791
conselho superior?, a resposta foi No sou eu que fao a agenda, Francisco, e eu disse-lhe: 792
Mas, Z, por amor de Deus, isso fundamental!. 793
794
fim de sj3 795
796
3.1.1.3 Outras entidades do GES 797
798
ES Control 799
A Esprito Santo Control a holding me do grupo que representa os cinco ramos da famlia 800
Esprito Santo. A documentao e depoimentos so parcos em informao relativamente a 801
esta holding. Sabe-se, no entanto, que cerca de 54,55% da Esprito Santo International 802
pertencem ES Control. 803
Segundo o esplio da CPI, a denominao social desta sociedade Esprito Santo Control, SA, 804
tendo sido constituda em 20 de Fevereiro de 1976. A mesma sociedade assume a forma 805
jurdica de SOPARFI Sociedade Annima sob o regime fiscal das sociedades de participaes 806
financeiras e est sedeada no Luxemburgo. O capital social atingia o valor de 130 milhes de 807
euros, havendo 16.250.000 aces ao portador com o valor nominal de 8 euros. 808
A composio do Conselho de Administrao, nomeado por seis anos a 3 de Junho de 2011, 809
encontra-se retratada em anexo (Anexo 2). 810
Alm da ES Control, haver, desde h cerca de 10 ou 15 anos, outra holding paralela, 811
designadamente a ES Control (BVI). A ES Control (BVI) teria um prejuzo acumulado de cerca de 812
50 milhes de euros e faria parte da ES Control. Por volta dessa altura, a ES Control (BVI) 813
deixar de ser uma participada da ES Control, passando a ser detida directamente pelos 814
mesmos accionistas, sob o nome de Control Development. Esta redenominada instituio 815
deter uma outra sociedade designada por ESAT, cujo activo consistia numa participao na 816
ESI e cujo passivo correspondia a um financiamento no Banco Totta. Esse financiamento ter 817
servido para adquirir aces da ESI detidas outrora por Antnio Champallimaud cerca de 818
7,83%. 819
De acordo com a fase 2 do trabalho de reviso limitada ESI, elaborado pela KPMG, o saldo a 820
receber de accionistas pela ESI dividia-se da seguinte forma, em 31 de Maro de 2014: 821
ES Control SA: cerca de 292 milhes de euros; 822
Control Development Ltd.: cerca de 54 milhes de euros; 823
ESAT SA: cerca de 122 milhes de euros. 824
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825
Em suma, no final do ms de Maro de 2014, estas trs entidades deviam Esprito Santo 826
International perto de 468 milhes de euros. 827
Da interpretao dos dados da fase 2 do trabalho de reviso limitada ESI depreende-se que 828
parte da holding detida pela ES Control (54,55%), mas, na medida em que se considera haver 829
saldos de accionistas devidos, por parte da Control Development e da ESAT, possvel afirmar 830
que estas duas ltimas sociedades detm participaes directas da ESI no caso da Control 831
Development haver uma participao directa e outra indirecta (via ESAT). 832
De acordo com alguns depoimentos, prestados designadamente por Ricardo Salgado e Jos 833
Maria Ricciardi, o financiamento da ES Control ocorria atravs de depsitos fiducirios por 834
parte de clientes do Banque Prive Esprito Santo. Surgiram entretanto dvidas colocadas pela 835
KPMG relativamente continuidade desta forma de financiamento, pois a captao de 836
recursos atravs de depsitos fiducirios poderia constituir, luz da lei sua, uma forma de 837
captao de depsitos, vedada a sociedades no financeiras. Desta forma deu-se uma 838
transio do financiamento da ES Control, que passa a ser feito via Esprito Santo International. 839
Segundo o depoimento de 9 de Dezembro de 2014, de Ricardo Salgado: 840
Tradicionalmente, na ES Control 50% dos seus capitais eram financiados pelos accionistas e 841
50% de capitais por emprstimo. Esses capitais de emprstimo eram, inicialmente, de 842
operaes fiducirias realizadas pelo Banque Prive, na Sua. Depois, no Luxemburgo, 843
comeou a haver dvidas sobre a natureza das operaes fiducirias e, infelizmente, o que foi 844
feito foi pedir ESI que desse uma ajuda para cobrir essa diferena, uma vez que as operaes 845
fiducirias tinham de ser reembolsadas. Mas eram operaes transitrias e deveriam ser 846
substitudas to rapidamente quanto possvel. 847
A 31 de Maro de 2014, a ESI tinha portanto 468 milhes de euros a receber das referidas trs 848
sociedades. 849
850
ES Resources 851
Dentro da orgnica do Grupo Esprito Santo, h duas sociedades denominadas ES Resources, 852
sendo uma a ES Resources Ltd. (Bahamas) e a outra a ES Resources Portugal, menos relevante 853
de um ponto de vista global da estrutura do GES. 854
A ES Resources Ltd. (Bahamas) era a holding, detida a 100% pela ESI, que detinha a rea no 855
financeira do grupo. Com a criao, em 2009, da Rioforte, os activos da holding comeam a ser 856
transferidos para a recm-criada sociedade. O argumento para esta operao jaz na vontade 857
em sair de uma offshore, que se revelava complicada, de acordo com o depoimento de Ricardo 858
Salgado, em audio do dia 9 de Dezembro de 2014: 859
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O objectivo era sair dos offshore mais complicados, e as Bahamas era um deles com certeza, e 860
passar para o Luxemburgo, onde j estvamos instalados com outras holdings, e termos, o 861
mais possvel, uma centralizao das holdings no Luxemburgo. Foi por isso que comemos a 862
transferir activos para a Rioforte, mas no chegmos a conseguir fazer a transferncia de tudo. 863
Por exemplo, em relao a tudo o que est na Amrica Latina, h uma boa parte dos 864
investimentos que esto na Rioforte, sim, mas os investimentos imobilirios na Flrida ainda 865
esto na Resources, que eu saiba. Portanto, h alguns investimentos que ainda esto na 866
Resources e que ficaram para trs, mas a Resources ia sendo progressivamente desactivada. 867
De acordo com o esplio de documentao que chegou CPI, nas contas relativas a 2012, a ES 868
Resources espelhava um activo na ordem dos 2.408 milhes de euros, um passivo de 2.347 869
milhes de euros e um capital prprio de 61 milhes de euros valores que so depois alvo de 870
correco, por forma a compensar a ocultao do passivo nas contas da ESI (Tabela 3.4). 871
Tabela 3.4 Indicadores do balano da ES Resources a 31.12.2012 e 30.09.2013. 872
31.12.2012 (Valores iniciais)
31.12.2012 (Valores alterados)
30.09.2013
Activo 2.408 3.489 4.199
Passivo 2.347 3.677 3818
Capitais prprios 61 -189 381 Fonte: Acta de Comisso Executiva do BES de 4 de Dezembro de 2013 873
De acordo com a fase 2 do trabalho de reviso limitada ESI, elaborado pela KPMG e com 874
referncia a 31.12.2013, a ES Resources Ltd tinha cedido emprstimos no valor de 227 milhes 875
de euros. 876
No perodo anterior a 31 de Dezembro de 2013, a ES Resources Ltd. detinha uma participao 877
de 8,3% na ES Irmos, que por sua vez detinha participaes na ESFG (10,03%), e na ES 878
Resources PT (99,7%), entre outras. 879
No dia 31 de Dezembro de 2013 a ES Resources Ltd vende a participao de 8,3% que detinha 880
na ES Irmos Rioforte, por um total de 101 milhes de euros 25 milhes de euros 881
referentes s 250.295 aces da ES Irmos e 76 milhes de euros relativos a prestaes 882
acessrias. 883
ESFG 884
A presente seco relativa ao ramo financeiro do GES tem como objectivo dar uma perspectiva 885
histrica da holding como nota introdutria e descrever a sua situao financeira no final de 886
2013. De seguida, e porque a ESFG era uma entidade supervisionada pelo Banco de Portugal, 887
pretende dar-se nota da implementao das medidas impostas pelo supervisor ao Conselho de 888
Administrao da ESFG e da perspectiva dos principais intervenientes por um lado na ptica 889
da gesto da holding, e, por outro lado, do Banco de Portugal. 890
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De acordo com Ricardo Salgado, a ESFG foi fundada em 1984 e tinha como objetivo a 891
integrao de toda a rea financeira do grupo. Em audio do dia 9 de Dezembro de 2014, o 892
Presidente do Conselho de Administrao da sociedade resume o percurso histrico da 893
empresa: 894
Emitiu, com sucesso, em Londres, 40 milhes de dlares, em 1986, e 100 milhes de dlares 895
entre 1988-1989, sendo admitida na Bolsa do Luxemburgo em 1986 e na de Londres em 1989. 896
() 897
Em 1989-1990, a ESFG readquiriu o controlo da Companhia de Seguros Tranquilidade e, em 898
1991-1992, o do BESCL, em ambos os casos em associao com o Crdit Agricole, numa 899
parceria exemplar, que se iniciara no Brasil e que se manteria por trs dcadas, at Agosto de 900
2014. 901
A Tranquilidade, avaliada, ento, por 20 milhes de contos, seria vendida pelo Estado por 52,6 902
milhes de contos e o BESCL atingiu 150 milhes de contos, ou seja, 50% de todas as 903
privatizaes at final de Fevereiro de 1992. 904
() 905
esta preocupao de solidez financeira da ESFG que leva: em 1993, admisso Bolsa de 906
Nova lorque; em 1994, ao aumento de capital, de 222 milhes de dlares para 309 milhes de 907
dlares; em 2001, admisso Bolsa de Lisboa e emisso de obrigaes convertveis de 200 908
milhes de euros; em 2005, ao aumento de capital para 550 milhes de euros; em 2007, 909
emisso de aces preferenciais de 300 milhes de euros; e, em 2012, ao aumento de capital, 910
em 500 milhes de euros, para o efeito de subscrever o aumento de capital do Banco Esprito 911
Santo. 912
Em 2011, a ESI aumentara o capital, em 240 milhes de euros, e a Esprito Santo Control, em 70 913
milhes de euros. 914
No final de 2013, a ESFG tinha capital e reservas no total de 1,513 bilies de euros, aps 915
deduo dos 700 milhes de euros da proviso imposta pelo Banco de Portugal, que veremos 916
frente. 917
Estes so alguns dos inmeros dados comprovativos da solidez financeira e do empenho 918
constante do Grupo, durante dezenas de anos, no seu reforo para permitir canalizar 919
investimentos externos e fomentar investimentos internos em Portugal. 920
921
A 31 de Dezembro de 2012, um tero da holding financeira pertencia Esprito Santo 922
International, cerca de 10% estavam colocados na Esprito Santo Irmos, sendo os restantes 923
57% dispersos em bolsa. 924
A 31 de Dezembro de 2013, a ES Irmos passa a deter 49,26% das aes da ESFG, sendo que a 925
participao