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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PRODOUTOR, PIBIT E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período : 08/2014 a 07/2015 ( ) PARCIAL ( x ) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: As Redes Virtuais dos Programas de Pós-Graduação e suas Conexões Ciberespaciais como Estratégia de Sustentabilidade Epistêmica Nome do Orientador: Luiz Roberto Vieira de Jesus Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Comunicação Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação Título do Plano de Trabalho: O Papel da Cibercultura na Ampliação dos Meios de Produção Epistêmica nos Cursos de Pós-Graduação da Amazônia Nome do Bolsista: Tarcízio Pereira Macedo Tipo de Bolsa : ( x ) PIBIC/PRODOUTOR INTRODUÇÃO Esta pesquisa buscou compreender como os atores epistêmicos dos cursos de pós- graduação na Amazônia se apropriam da ciberrealidade para se relacionar virtualmente e produzir conhecimento explícito de forma mutuamente compartilhada. A proposição era a de que as relações cognitivas virtualizadas deveriam estar moldando os processos de geração de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA,

UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PRODOUTOR, PIBIT E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período : 08/2014 a 07/2015 ( ) PARCIAL ( x ) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: As Redes Virtuais dos Programas de Pós-Graduação e suas Conexões Ciberespaciais como Estratégia de Sustentabilidade Epistêmica Nome do Orientador: Luiz Roberto Vieira de Jesus Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Comunicação Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação Título do Plano de Trabalho: O Papel da Cibercultura na Ampliação dos Meios de Produção Epistêmica nos Cursos de Pós-Graduação da Amazônia Nome do Bolsista: Tarcízio Pereira Macedo Tipo de Bolsa : ( x ) PIBIC/PRODOUTOR INTRODUÇÃO

Esta pesquisa buscou compreender como os atores epistêmicos dos cursos de pós-

graduação na Amazônia se apropriam da ciberrealidade para se relacionar virtualmente e

produzir conhecimento explícito de forma mutuamente compartilhada. A proposição era a de

que as relações cognitivas virtualizadas deveriam estar moldando os processos de geração de

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epistemes nesta região, dada a sua posição periférica aos grandes centros de produção de

ciência e tecnologia, dentre outras motivações. A metodologia se constituiu de um processo

articulado por três eixos, o que permitiu a apropriação do objeto, da problemática e da

proposição em um conjunto de ações que tem no elemento “hiperlink” sua manifestação central

para a constituição da esfera empírica de investigação, e na Teoria das Redes e na Teoria da

Cibercultura seu instrumental de reflexão.

Depois de ter sido selecionado para integrar o projeto, o coordenador fez uma

apresentação geral de quais eram os objetivos da pesquisa e como suas etapas deveriam se

desenvolver para alcançá-los. A pesquisa seguiu o cronograma estabelecido no projeto.

Realizando reuniões periódicas semanais, vários textos foram repassados pelo

coordenador e, por meio deles, foram sendo introduzidas os principais conceitos relativos às

teoria de Rede e Teoria de Cibercultura. Dessa forma foi possível incorporá-los de acordo com

os objetivos da pesquisa e as metas para sua consecução. Foram realizados diversas reuniões

para discutir como essas teorias estão impactando os estudos contemporâneos sobre as redes

sociais e a comunicação em processo de virtualização.

Os resultados atuais da pesquisa revelam um inédito desconhecimento por parte dos

programas de pós-graduação – suas coordenações – das valiosas ferramentas disponibilizadas

pela cibercultura para a produção de conhecimento explícito. Ou seja, disponibilizá-las para

que seus pesquisadores possam estabelecer conexões em diversos ambiente e meios de

interação, produção e distribuição dos conhecimentos produzidos, de forma a permitir que o

seja de modo colaborativo e mutualístico, e em torno de interesses convergentes.

JUSTIFICATIVA

A sociedade em rede, agora moldada pela virtualidade do ciberespaço, avança com maior

abrangência nas dimensões da vida social contemporânea. A revolução digital é a última

revolução comunicativa que transformou a própria arquitetura do processo informativo, pela

primeira vez na história humana (DI FELICE, 2011, on-line). Passamos de um paradigma

frontal de mediação do fluxo informacional, estabelecido pelo teatro, livro, cinema, imprensa,

televisão, conforme Di Felice (2011, on-line), para um digital que se estabelece como “reticular,

interativo e colaborativo”.

Nesse contexto, que envolve os fenômenos sociais associados à internet e outras novas

formas de comunicação em rede, como as comunidades on-line, a ciberciência é apenas mais

um fenômeno que ocorre no ambiente do ciberespaço, o qual englobou diversas esferas da

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humanidade por meio dos seus cibermundos (JESUS, 2014). Esta característica deve-se ao

fato do computador (suporte do ciberespaço) começar a absorver a maioria das formas de

linguagens, verbais, visuais ou sonoras, fundindo em um único aparelho todas as formas de

comunicação humana anteriores (SANTAELLA, 2013, p. 237). Ao conjunto de atividades que a

esfera virtual engloba na contemporaneidade e que nasce a partir dessas transformações

tecnológicas é o que se vem chamando de cultura digital ou cibercultura (LEMOS, 2014, p. 412;

SANTAELLA, 2003, p. 60), proposto pelo filósofo francês da cultura virtual contemporânea,

Pierre Lévy (1999).

Trata-se de modificações na composição das linguagens humanas que o mundo digital

introduz e que são possíveis por meio do ato de “mastigação” e “devolução”, em forma original

ou modificada, de qualquer tipo de linguagem pelos bytes. Segundo Léyy, o neologismo

cibercultura especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes,

de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaço, da internet (LÉVY, 1999, p. 17). Para Lemos (2010, p. 101), o nascimento da

cibercultura está atrelado ao surgimento da microinformática, movimento social que lutava

contra a centralização e a posse das informações por determinados grupos sociais (científico,

econômico, industrial e militar) em meado dos anos 1970.

O termo ciberespaço especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação

digital (o hardware), mas também o “universo oceânico” de informação que ela abriga (o

software e as nuvens, por exemplo), como os seres humanos que navegam e alimentam esse

universo de forma colaborativa. É dessa forma que o conceito abrange muito mais do que a

parte física das novas mídias e da cultura de informação. O espaço em questão reúne a

tecnologia, o virtual e a cultura, incluindo todos os fenômenos associados às formas de

comunicação mediadas por computadores. Conforme Lemos (2003, p. 12), a cibercultura é a

“forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas

tecnologias de base micro-eletrônica que surgiram com a convergência das telecomunicações

com a informática”.

A geração de conhecimento epistêmico nesta era digital (NEGROPONTE, 1995) desafia as

reflexões sobre os meios de se articular ideias e pensamentos que repousam em plataformas

digitais e sua transformação em novas epistemes. Como uma das características deste

processo, a evolução dos atributos de ferramentas cognitivas nas plataformas digitais de

comunicação e informação evidencia a capacidade delas em agregar os sujeitos/atores em

círculos epistêmicos virtualizados, ao que muitos chamam de comunidades virtuais

(RHEINGOLD, 2005), de modo rizomático ou reticular, e que permitem um processo massivo

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de comunicação e de troca de informação, dentre outras possibilidades favorecidas pela

digitalização das TICs.

Neste sentido, é a partir do enquadramento da realidade a partir das redes, na qual

subredes articulam-se constantemente para constituir seus propósitos, que se orienta o

procedimento nesta pesquisa sobre a virtualização dos processos de produção de

conhecimento explícito na Amazônia brasileira, e seu vínculo com a composição de rizomas

epistêmicos na ciberrealidade.

Pretendeu-se avançar para a compreensão do atual estágio de transformações que

ocorrem nas redes de CTI na região amazônica e da forma como a ciberrealidade está

proporcionando a instauração de um novo modo de produção epistêmico, uma cibercultura,

para os programas dos cursos de pós-graduação dos institutos de pesquisa e das

universidades da Amazônia.

Um dos principais avanços que este projeto traz é a identificação do que denomina-se Rede

Epistêmica Virtual da Amazônia (REVAM), um sistema composto atualmente por 267 cursos de

pós-graduação, lócus original da formação cognitiva dos futuros profissionais de CTI desta

região (JESUS et al, 2015, p. 9), segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) para o ano de 20131. A partir dessa sistematização foi

possível verificar o estágio de desenvolvimento de incorporação da ciberrealidade pelos cursos

de pós-graduação na região, dentre outros objetivos colocados a seguir.

OBJETIVOS:

Esta pesquisa teve suas metas estabelecidas segundo os seus objetivos. Praticamente,

todos foram alcançados. Seu propósito geral era verificar se o mesmo cenário revelado pela

tese que ensejou este projeto, na qual se comprovou a inexistência da cibercultura nos

processos de produção de conhecimento explícitos, é reproduzido nos programas de pós-

graduação da Amazônia. Seria a ausência de uma cibercultura, dos conhecimentos,

habilidades e competências para agir na ciberrealidade, o obstáculo mais saliente a dificultar a

incorporação do ciberespaço por esses atores? Ou haveria outras razões para explicar esse

descompasso tecnossocial e sociocientífico? Foram estas algumas das questões que moveram

esta pesquisa.

1 Disponível em: http://goo.gl/fhIu8T.

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As principais etapas executadas no período de fevereiro a julho de 2015, visando o

alcance dos objetivos, foram voltadas para criação e confecção de tabelas e de sociogramas,

por meio da ferramenta Gephi, sobre a produção epistêmica na Amazônia e, posteriormente, o

desenvolvimento de reflexões por meio da Sociologia das Redes e de algumas variáveis

selecionadas sobre o conjunto empírico de relações virtuais da produção de conhecimento

explícito na Amazônia.

Em suma, as etapas desta pesquisa constituíram-se em cinco objetivos: (i), identificar o

estágio de desenvolvimento de incorporação da ciberrealidade pelos cursos de pós-graduação

na Amazônia; (ii) gerar sociogramas no escopo de visualizar como os atores epistêmicos

desses programas se articulam em rede e se, de fato, suas relações fundamentam-se em um

conteúdo de sentido reciprocamente compartilhado; (iii) observar, por meio desses

sociogramas, quais são os atores que centralizam os fluxos epistêmicos no interior das redes,

procurando evidenciar quais são os mais influentes e os tipos de relações que estabelecem

entre si; (iv) criar sociogramas para os programas mais avançados (em termos de incorporação

do ambiente virtual) desenvolvendo hiperlinks que os façam se conectar automaticamente, sem

o auxílio de motores de busca, tipo Google, Ópera etc. e, assim, solidificando, de fato, um

ambiente multicognitivo onde os pesquisadores e aprendizes possam compartilhar

reciprocamente seus interesses epistêmicos; e, (v) buscar interpretações que pudessem

esclarecer as implicações da ciberrealidade no âmbito da produção epistêmica na Amazônia.

Até o atual momento, três dessas etapas (i, ii, iii e iv) já foram concluídas. Embora a

quarta etapa ainda esteja em fase de conclusão devido aos problemas encontrados com a

operação da ferramenta Gephi. Mas, foi possível a confecção dos principais sociogramas,

restando o que irá abarcar toda a rede epistêmica dos programas de pós-graduação da

Amazônia. Isso poderá ser feito em uma segunda fase do projeto desta pesquisa que

procurará, também, realizar um estudo comparativo com alguns dos principais centros,

institutos de pesquisas e universidades de outras regiões do Brasil, e, se possível do planeta, já

que essa é a ideia central deste estudo sociológico.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia se reportou à dimensão multiempírica do projeto. Iniciou-se a etapa de coleta

de dados sobre os Programas de Pós-Graduação (PPGs) da Amazônia brasileira, partindo do

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fichamento e catalogação de todos os PPGs por estado e instituição no programa Word2.

Depois, após a compilação das listas com os endereços (URLs) dos websites, iniciou-se o

processo de montagem e sistematização por meio da ferramenta Excel3 em formato de

planilhas para se identificar o estágio de desenvolvimento de incorporação da ciberrealidade

pelos cursos de pós-graduação na Amazônia. Durante os primeiros seis meses do projeto,

todos os links já estavam coletados e reservados em um banco de dados. Com eles, iniciou-se

a etapa de coleta de dados em cada hiperlink e a análise destes. Um conjunto de 261 cursos

de pós-graduação, entre mestrados (161), doutorado (66) e mestrado profissional (34),

segundo dados da CAPES para o ano de 2013. Para analisar esse corpus, o programa Excel

foi utilizado para a confecção das planilhas na qual as instituições de CTI foram organizadas

conforme algumas variáveis pré-estabelecidas, formada por seis colunas, respetivamente

Origem (source), Destino/Alvo (target), Type (tipo), ID (identificação), Label (rótulo) e, por fim,

Wight (peso), todas necessárias pelo software Gephi para a geração de grafos. Estando os

hiperlinks acessíveis na Interweb, o curso de pós-graduação passa a ser analisado de acordo

com estes critérios. Abaixo, uma visão de uma dessas planilhas usadas para a geração dos

dados.

Quadro 1: Planilha Excel de Inlinks para os atores (PPGs) de CTI na UFPA

Fonte: Autores, 2015.

2 O Word é um processador de texto produzido pela empresa Microsoft para o sistema operacional Microsoft

Windows e derivados, sendo parte do conjunto de aplicativos Microsoft Office, esta ferramenta possibilita a utilização de uma variedade de aplicações, como a inserção de hiperlinks, sobretudo, e criação de tabelas que nos parecerem ferramentas úteis para o desenvolvimento desta pesquisa. 3 O Excel é uma ferramenta popular desenvolvida pela empresa Microsoft para o sistema operacional Microsoft

Windows e seus derivados, sendo parte do conjunto de aplicativos Microsoft Office, esta ferramenta permite o emprego de um conjunto de recursos matemáticos de cálculos e de geração de gráficos, bem como de planilhas para uma diversidade de objetivos e tarefas, características que se demonstraram aplicáveis nesta pesquisa.

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“Origem” diz respeito ao curso que está sendo analisado; “Destino” refere-se a

existência de algum link na página do programa disponibilizado para que possa ser consultado

pelos usuários, formando a rede; “Type” é relacionado ao tipo de conexão existente, se ela é

direta (Direct) ou quebrada – está última é utilizada quando um link indicado no website não

está acessível; a coluna “ID” remete a identificação do curso de pós-graduação em análise;

“Label” é o rótulo, ou seja, o nome de “origem” é reproduzido; e o “Weight” é o peso, que será

coletado em outra etapa da pesquisa, quando serão utilizadas determinados instrumentos

virtuais selecionadas, particularmente, as ferramentas Open Site Explorer, SEMrush, Excel e

Gephi. Ainda durante os seis primeiros meses, o bolsista e colaboradores foram introduzidos

no manuseio de algumas destas ferramentas digitais para a geração de sociogramas4.

Dessa forma, foram usados softwares disponíveis gratuitamente na web e fez-se

usufruto da tecnologia como instrumento, promovendo a integração e interação entre

tecnologia, educação e humanismo, sem perder a ideia prioritária da tecnologia que nos aponta

Oliveira (2008, p. 11-12), enquanto um meio para alcançarmos um objetivo maior, e não como

um fim a ser alcançado.

Neste tópico, cabe estabelecer alguns elementos-chaves iniciais e fundamentais

aplicados nesta investigação: o de ator (es) e o de capital epistêmico. O primeiro é um conceito

central no âmbito da Teoria das Redes ou dos Grafos, um ator pode ser indivíduos, instituições

ou organizações formando uma rede social (FRAGOSO et al., 2013, p. 119). Nesta pesquisa

trabalhou-se com todo o universo dos programas de pós-graduação da Amazônia, logo, cada

um desses programas passaram a representar os atores epistêmicos desta região. Os atores

são representados pelas esferas nos grafos, que se conectaram com outros atores por meio

das arestas.

O segundo conceito diz respeito a um ativo que apenas ocorre pelo acúmulo de

conhecimento realizado pelas instituições fomentadoras de epistemes. A ideia de capital conta

com diversas concepções em diferentes áreas do conhecimento, isto porque o conceito

constitui-se como uma chave que procura estabelecer a estrutura, o funcionamento e

classificação do mundo social (NEVES; PRONKO; MENDONÇA, 2009, on-line). Entretanto,

4 Segundo Fragoso, Recuero e Amaral (2013, p. 121), sociogramas são formas para representação de uma rede

social, é uma forma de observar uma rede social de modo gráfico e introduzir os dados analisados. Comumente, tal representação é realizado por meio de um grafo, no qual as conexões são linhas, e os atores, pontos, de modo que cada linha que se estabelece constituem-se conexões entre indivíduos-atores.

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diferentemente do capital social5 revertido individualmente, o capital epistêmico é concedido

institucionalmente. Desta forma, segundo Jesus (2015, p. 2),

Os programas de pós-graduação podem ser considerados como incubadoras de mão de obra qualificada para o exercício profissional da pesquisa, lócus original onde são forjados os futuros cientistas e investigadores das diversas disciplinas que compõem o conjunto de conhecimento explícito gerado pelo homem contemporâneo.

Na esfera digital, a configuração ciberespacial é realizada por meio da coleção de links,

endereços URLs6, logo, os procedimentos empíricos constituem-se e configuram-se enquanto

um corpus digital, desta forma, sendo a principal interface entre o mundo real (material) e o

mundo virtual (imaterial).

Em linhas gerais, o espaço virtual da produção epistêmica na Amazônia é composto por

instituições que ancoram Programas de Pós-Gradução e estão visíveis na ciberrealidade por

meio de websites que podem ser acessados pelos seus respectivos endereços virtuais, os

URLs.

Teoricamente, nota-se que as redes virtuais resultam em novos modelos de produção,

divisão, comunicação e trânsito epistêmico e, para além, derivam novos métodos sobre a

realidade por meio de conceitos que descobrem cenários antes inéditos fora das trilhas

cognitivas clássicas na intuito de empreender instruir os encadeamentos da ciberrealidade para

a constituição de redes virtuais nos programas de pós-graduação na Amazônia.

Trata-se de conhecer como os Programas de Pós-Graduação estão incorporando e

mantendo um modelo de “relação epistêmica virtual” que constitui, assim, um capital epistêmico

que confere uma determinada identidade científica virtual a um ator e proporciona novos modos

de relação de produção cognitiva, formatando uma superação das barreiras não somente

geográficas e econômicas que separam este território particular do Brasil, como também

fronteiras ideológicas, no sentido de uma ciência amazônica pluralista e mutualística.

A quantidade de hiperlinks que um determinado ator possui no ciberespaço (sua

coleção) indica parte significativa do seu potencial epistêmico virtual, logo, seu capital

5 Segundo Fragoso, Recuero e Amaral (2013, p. 123), o capital social é um “conjunto de valores criado por um

grupo social [...] que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, ainda que individualmente, e que está baseado na reciprocidade”. 6 Do inglês Uniform Resource Locator, traduzido livremente como Localizador Padrão de Recursos. Ou seja, é o

endereço que representa um determinado ator disponível em uma rede, como a Interweb (JESUS, 2014). Uma URL fornece recursos, ou deveria, a um conjunto de forças epistêmicas ciberantropologizado em redes multicognitivas.

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epistêmico. Esse capital é passível de medição por ferramentas/plataformas digitais, como

equações de matemática, a estatística ou as tecnológicas como o PageRank7 do Google. Nos

estudos de redes de hiperlinks utiliza-se o pressuposto de que eles funcionam como válvulas

construídos pelos programadores para conectar internautas entre si na dimensão do

ciberespaço, bem como assumem papel de símbolos sociais8 ou sinais de hiperlinkagem de

interação e comunicação entre os internautas da rede. De forma geral, para além de um

utensílio tecnológico, cria-se um canal de comunicação social, informacional e um instrumento

interativo, um laço que interliga atores, sejam eles pessoas, organizações, países ou grupos,

por meio de hiperlinks que podem se relacionar sob distintos aspectos profissionais, sociais,

econômicos etc.

As váriáveis utilizadas para a aproximação cognitiva sobre o material empírico coletado

foram as seguintes: (1) tamanho da rede; (2) grau de centralidade; (3) grau de entrada

[InDegree]; (4) grau de saída [OutDegree]; (5) grau de proximidade; (6) grau de centralidade de

intermediação; (7) grau de autoridade e de hub; e (8) PageRank. Contudo, para

operacionalização da investigação, focamos em apenas duas, o grau de entrada (InDegree) e o

grau de saída (OutDegree).

Uma vez finalizadas as planilhas no programa Excel, prosseguiu-se à fase de

transposição delas para o software gerador de grafos e sociogramas: o Gephi9. Desenvolvido

por alunos e professores da University of Technology of Compiègne (UTC), na França, o Gephi

é uma prática ferramenta de código aberto disponibilizada na Interweb que permite a análise,

visualização e manipulação de redes digitais. Por meio dele é possível visualizar como as

redes se configuram, como os atores se relacionam e conectam em diferentes dimensões, e

realizar um conjunto de mensurações por meio dos algoritmos agregados à ferramenta. Alguns

deles são apresentados no tópico dos resultados desta pesquisa.

RESULTADOS

Como resultados preliminares, foi possível fazer uma primeira aproximação, por meio dos

sociogramas, do atual estágio de desenvolvimento e de incorporação da ciberrealidade pelos

cursos de pós-graduação da Amazônia. Entre os fatores positivos, podemos destacar esta

7 PageRank é um instrumento digital que propicia mensurar algumas variáveis consideradas importantes para

ranquear um website no ciberespaço. Dentre elas, uma das principais, os hiperlinks que constituem as relações entre os atores da Interweb. 8 Por símbolo social nos referimos ao prestígio gerado aos criadores, por exemplo, de um perfil em redes sociais

(Facebook, Instagram, etc.) que podem resultar em status associado às suas competências profissionais, culturais, artísticas etc. 9 Disponível em http://gephi.github.io/

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pesquisa como um dos primeiros trabalhos, senão o primeiro, de estudos na temática da

cibercultura com foco específico na Sociologia das Redes Epistêmicas da Amazônia; o contato

com os atores de produção de CTI na Amazônia e uma análise potencial do uso da cibercultura

para a produção colaborativa de conhecimento explícito, que por sua vez proporciona um novo

modo virtualizado de produção epistêmica; também é importante ressaltar o mapeamento que

se está realizando da produção de conhecimento em todos os estados da Amazônia, bem

como a possibilidade de conhecer e perceber como a ciberrealidade vem proporcionando o

nascimento de uma cibercultura na produção epistêmica para os programas dos cursos de pós-

graduação das universidades e institutos de pesquisa da Amazônia.

Os Principais Atores Epistêmicos da Amazônia

1 – Os PPGs do INPA na Dimensão Virtual

Na imagem abaixo, visualiza-se como os atores epistêmicos do Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia – INPA – estão conectados no ciberespaço com os demais atores, ou

seja, para quem eles estão apontando. É perceptível o baixo grau de incorporação da

ciberrealidade em suas atividades de produção de conhecimento explícito. Os seus PPGs

canalizam, prioritariamente, suas energias da dimensão física para as questões

biosocioantropológicas da região amazônica ocidental (grifo nosso). Contudo, elas reverberam

baixa repercussão na dimensão virtual, o que demonstra um elevado desconhecimento dos

seus atores das potencialidades da ciberciência e suas implicações para a sociobiodiversidade

amazônica contemporânea. Esse parâmetro – o grau – mede o nível de “atividade”, com base

na quantidade de conexões adjacentes – tanto de entrada (inlinks), como de saída (outlinks) –

de cada ator com o mundo virtual exógeno. Nesse grafo, mostram-se os outlinks, ou seja, quais

são as conexões que os PPGs do INPA estão disponibilizando para seus pesquisadores

acessarem os atores que produzem, processam e distribuem epistemes pertinentes aos seus

campos de investigação.

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Sociograma 01 – Representação Topológica da Rede Virtual de PPGs – INPA –

Grau de Saída – 2015.

Sociograma concebido pelo coordenador do projeto. 2015

No grafo acima percebe-se como é baixo o nível de atividade dos atores do INPA, com

pouquíssimas conexões no ciberespaço, particularmente nas ambiências da ciberciência. As

esferas maiores, nas cores verdes, representam os atores epistêmicos que estão sendo

apontados pelos PPGs do INPA. Esse grafo evidencia que os PPGs do INPA fornecem aos

seus pesquisadores e neófitos, pouquíssimas alternativas de relações virtuais com profissionais

da mesma área. E com outras ambiências virtuais, como repositórios especializados, outros

PPGs espalhados pelo planeta, ferramentas para produção de conhecimentos e comunicação

dos mesmos, e muitos outros atores digitais que moldam a ciberciência como uma dimensão

inovadora. A FAPEAM, a CAPES, o CNPQ e o PERIÓDICOS CAPES – representados no grafo

por meio das esferas maiores e na cor verde – são as conexões mais recorrentes oferecidas

por esses programas. Embora sejam instituições importantes para o campo de CTI, são

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apontadas de modo genérico e sem pertinência de direcionamento para temas, projetos, editais

etc. específicos de cada área.

2 – Os PPGs da UFPA na Dimensão Virtual

Sociograma 02 – Representação Topológica da Rede Epistêmica Virtual – UFPA –

Grau de Saída (Outlinks) – 2015.

Sociograma concebido pelo coordenador do projeto. 2015

Na grafo acima se visualiza como os atores epistêmicos da Universidade Federal do

Pará – UFPA – estão conectados no ciberespaço. É perceptível o baixo grau de incorporação

da ciberrealidade em suas atividades de produção de conhecimento explícito. Da mesma forma

que o INPA, os seus PPGs canalizam, prioritariamente, suas energias da dimensão física para

as questões biosocioantropológicas da região amazônica – agora oriental –, porém, sem a

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mínima repercussão na dimensão virtual, o que demonstra, igualmente, um extremo

desconhecimento da ciberciência e suas implicações para a sociobiodiversidade amazônica

contemporânea.

3 – Os PPGs do MPEG na Dimensão Virtual

Abaixo, apresenta-se o grafo do Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG, onde são

visualizados suas atividades nas dimensões ciberespaciais. No MPEG são desenvolvidos

quatro PPGs. Nessa imagem se percebe como os atores epistêmicos do MPEG estão

conectados no ciberespaço. Mais uma vez, é perceptível o baixo grau de incorporação da

ciberrealidade como ambiência relacional para atividades de produção, distribuição,

comunicação e interação entre seus atores para a geração de conhecimento explícito. Da

mesma forma que o INPA e UFPA, os seus PPGs não apresentam a mínima repercussão na

dimensão virtual, o que demonstra, igualmente, um atípico desconhecimento da ciberciência e

suas implicações para a sociobiodiversidade amazônica contemporânea.

Seus vínculos virtuais com outros ambientes análogos praticamente inexistem. Ou seja,

quais são as conexões – pontes – que os PPGs do MPEG estão disponibilizando para seus

pesquisadores e neófitos acessarem, processarem e distribuírem epistemes pertinentes? Como

o INPA e UFPA, muito pouco, como pode ser observado. As mesmas instituições – CAPES,

CNPQ, PERIÓDICOS CAPES, FAPESPA – aparecem como as mais indicadas em seus

portais.

O Grau de Saída [Outlink] fornece a quantidade de „indicações‟ ou „apontamentos que

saem de cada ator para outros da rede. Revela o grau de relevância de comunicador e de

distribuidor de informações na rede; a capacidade do ator em articular, no seu conjunto, todos

os atores da rede. Não é o caso dos PPGs do MPEG.

Sociograma 03 – Representação Topológica da Rede Epistêmica Virtual – MPEG –

Grau de Saída (Outlinks) – 2015.

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Sociograma concebido pelo coordenador do projeto. 2015

Além desses , outros sociogramas e tabelas estão sendo gerados para se obter uma

visão mais ampla do ciberespaço epistêmico amazônico, e que deverão ser publicados com a

continuação desses estudos.

PUBLICAÇÕES: Publicação do artigo “As Redes Virtuais dos Programas de Pós-Graduação e suas

Conexões Ciberespaciais como Estratégia de Sustentabilidade Epistêmica” nos anais do XIV

Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte, 2015, Manaus (AM). Vide anexo I.

ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES

Em uma segunda etapa do projeto, a ideia é criar sociogramas mais complexos,

incorporando outras variáveis pertinentes a esses estudos da ciberrealidade, para os PPGs

mais avançados, em termos de incorporação e infraestrutura do ambiente virtual – expandindo

hiperlinks que os façam se conectar maquinalmente, sem o amparo de motores de busca,

como Google, Ópera etc. e, assim, consolidando um ambiente multicognitivo no qual os

pesquisadores e aprendizes possam partilhar colaborativamente seus interesses científicos.

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15

Nesta segunda etapa também pretende-se realizar um estudo comparativo do cenário

observado na região amazônica com outras regiões do Brasil e do mundo, propondo a criação

de um modelo virtual para os PPGs baseado na introdução da ciberrealidade e de suas

ferramentas epistêmicas, para que os seus neófitos possam incorporá-las já desde a tenra

formação como pesquisadores.

.

CONCLUSÃO:

Entender o funcionamento e impacto das TICs e, portanto, da cibercultura, no campo da

Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) é uma peça importante para que se possa mudar a

própria realidade que nos é imposta diariamente. Isto significa que inferir essa realidade

potencial do ciberespaço pode ser um componente fundamental para se alcançar modificações

na realidade cotidiana e “real” de forma significativa.

Conforme foi pontuado, o ciberespaço foi incorporado em diversas atividades da

realidade humana. Uma das principais consequências do impacto das TICs nos sistemas

epistêmicos é o surgimento da ciberciência: um modo totalmente inovador de geração de

conhecimento, de processamento da informação, de comunicação e interações entre seus

atores. Agora, produz-se conhecimento não apenas nos espaços circunscritos e instituídos

conhecidos como laboratórios físicos ou naturais, mas também em laboratórios digitais e

ambientes virtuais, desterritorializados e glocalizados. Entretanto, os centros de pesquisas na

Amazônia ainda precisam se apropriar da ciberrealidade como uma nova ferramenta

potencializadora para construção de uma nova realidade social.

Em outras palavras, há ainda uma enorme carência e abstinência da cibercultura,

comprovada no trabalho de Jesus (2014), nos processos institucionais de produção de

conhecimento na Amazônia. Percebe-se, portanto, nesta pesquisa que o mesmo cenário

revelado pela tese de Jesus (2014) é reproduzido nos Programas de Pós-Graduação da

Amazônia, ou seja, a cibercultura inexiste enquanto ferramenta nos processos de produção de

conhecimento explícito, e de modo mutuamente compartilhado.

As relações entre instituições e centros de pesquisa no ciberespaço ainda se

fundamentam em um conteúdo de sentido meramente informacional, muitas vezes até

desatualizado, funcionando apenas como uma página que presta algumas informações sobre o

curso sem, no entanto, utilizar da potencialidade proporcionada pelas novas tecnologias para

produção de um conhecimento sustentável com baixo custo. Observou-se que a parceria virtual

entre institutos de pesquisa na Amazônia restringe-se a mera menção por meio de links, sem a

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utilização das novas ferramentas digitais para a construção de um conhecimento

compartilhado, baseado em uma inteligência coletiva epistêmica de centros acadêmicos de

produção de ciência, atitude esta que poderia mudar a própria realidade que nos é imposta

cotidianamente enquanto periferia da produção de conhecimento, ajudando na suplantação

histórica de problemáticas ecossistêmicas não solucionadas, ou de uma ciência hipercapitalista

que tende a fornecer conhecimentos sobre delimitado espaço territorial aos grandes centros

reprodutores do capital econômico e do capital epistêmico.

Acredita-se, pois, que seja necessário partir da proposição de que a cibercultura precisa

surgir desde o primórdio da formação dos pesquisadores e incorporada como mais um novo e

potencial ambiente de trabalho. É preciso enquadrar as redes como um ferramenta

potencializadora na construção do conhecimento e da ciência, criando o entendimento de que,

após implantada, a cibercultura é rentável, econômica e capaz de ampliar a produção de

conhecimento a um grande nível, tendo em vista que rompe a barreira do espaço-tempo e

propicia uma maior expansão dos horizontes epistémicos e agregação de atores (instituições,

grupos de pesquisas, pesquisadores, projetos, etc.) com interesses recíprocos.

A cibercultura é uma área do conhecimento que têm se ramificado no tecido social

desde o surgimento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), sobretudo, e

intensificado com o aprimoramento das tecnologias virtuais telemáticas. Hoje, estamos cada

vez mais imersos nesse ambiente ciberespacial, território virtualizado em que se desdobra e

vivencia a cultura digital ou cibercultura. É nesse sentido, imensamente necessário de se

entender as práticas e processos virtuais que passam a existir em uma sociedade em rede e

virtual, que este projeto procura suprir uma carência na grade curricular do próprio curso de

Comunicação Social da Universidade Federal do Pará (UFPA), na qual, por vezes, a

cibercultura é pouco explorada em sua potencialidade.

O contato com novas ferramentas de software permite ainda ao bolsista dominar

ferramentas para futuras pesquisas a respeito da temática, ajudando e fomentando o processo

de aprendizagem, pesquisa e de inserção na ciberrealidade epistêmica. Como um dos

primeiros projetos de pesquisa atrelado ao tema na Faculdade de Comunicação (Facom), a

aproximação com autores clássicos da cibercultura permitiram ao bolsista benefícios ao realizar

algumas disciplinas teóricas e experimentais do curso de Comunicação Social, habilitação em

Jornalismo, como o Laboratório de Jornalismo Digital e Novas Mídias, Novas Tecnologias em

Comunicação e Estudos de Temas Contemporâneos.

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REFERÊNCIAS

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______. Tecnologia e Cibercultura. In: A. CITELLI et al. (org.), Dicionário de comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo, Contexto, 2014. p. 412-420.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: 34, 2000.

NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. Tradução: Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

NEVES, Lúcia M. W.; PRONKO, Marcela A.; MENDONÇA, Sônia R. Capital Social. In: Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Online. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/capsoc.html. Acesso em: 10 fev. 2015.

OLIVEIRA, Eva Aparecida. A técnica, a techné e a tecnologia. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus Jataí - UFG.: Itinerarius reflectionis, Jataí, v. 2, n. 5, p. 1-13, jul. 2008. Acesso em: 10 fev. 2015. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. (Coleção Cibercultura) RHEINGOLD, Howard. The Virtual Community: Homesteading on the Electronic Frontier. 2005. Disponível: http://www.well.com/~hlr/vcbook/index.html. Acesso em: 09 ago. 2015.

SANTAELLA, Lucia. Cultura e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

____. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013.

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DIFICULDADES Entre os fatores negativos, podemos listar: a carência de infraestrutura na sala do

projeto, como, por exemplo, o pequeno espaço dedicado à realização da pesquisa e a carência

de materiais, como computadores, para o trabalho de colaboradores; entretanto, o maior

obstáculo foi no que diz respeito ao acesso à Internet dentro da sala de pesquisa e na unidade

na qual ela é realizada, tendo em vista que a coleta de dados é necessária a partir da conexão

com a rede mundial de computadores. Infelizmente, tal infraestrutura está muito aquém do

necessário e apresenta frequentes quedas e instabilidade, o que findou por atrasar o

cronograma do Plano de Trabalho do projeto.

Além disso, durante a segundo período de execução o projeto enfrentou problemas

técnicos com a plataforma utilizada para geração de sociogramas, o Gephi. Não era possível

instalar a ferramenta em nenhum dos computadores, sejam os pertencentes ao bolsista,

colaboradores ou nos laboratórios da Faculdade de Comunicação. Ao tentarmos instalar a

plataforma, um erro impedia a execução do programa em todos os computadores. Em contato

com os desenvolvedores da ferramenta Gephi, o coordenador deste projeto obteve a resposta

de que o programa está passando por um problema que impede o funcionamento completo ou

a instalação dele em outros computadores. Embora o coordenador do projeto possua uma

versão da ferramenta, ela está limitada em aplicabilidade por conta de erros no aplicativo, que

foi utilizada para gerar alguns sociogramas.

PARECER DO ORIENTADOR:

O bolsista desempenhou suas atividades de forma dinâmica e focada – demonstrando

grande interesse – nos fenômenos emergentes no ciberespaço. Sempre presente, absorveu

um bom cabedal de conhecimentos da cibercultura – onde já possuía conhecimentos – mas,

particularmente, sobre a Teoria das Redes, pôde abrir novas janelas cognitivas que deverão

ampliar sua visão da realidade contemporânea, uma modernidade ancorada nas plataformas

digitais.

Justifica-se, pois, o pedido de renovação de sua bolsa, não apenas para evitar o

resfriamento de neurônios em ebulição cognitiva – por si só um grave transtorno na

qualificação profissional – mas, também, pela continuidade de um projeto que pode revelar

para os atores epistêmicos da Amazônia, um novo modus operandi de se produzir e distribuir

conhecimento sem a necessidade de grandes deslocamentos geográficos, de grandes

dispêndios econômicos, de publicação de trabalhos e compartilhamento deles de forma

mutualística e muitas outras facilidades que as TICs digitais vêm proporcionando com o

advento da Revolução Digital.

Aprovo seu trabalho e o recomendo para mais um período de bolsa.

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DATA : 10 / 08 / 2015

_________________________________________ Prof Dr. Luiz Roberto Vieira de Jesus

____________________________________________ Bolsista - Tarcízio Pereira Macedo

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: O aluno está finalizando sua graduação dentro de um ano. Suas pretensões são de dar seguimento aos estudos científicos sobre a Comunicação no programa de pós-graduação em Comunicação da UFBA, onde se encontra um dos principais centros de pesquisa sobre a cibercultura no Brasil.

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte – Manaus - AM – 28 a 30/05/2015

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As Redes Virtuais Dos Programas De Pós-Graduação

e Suas Conexões Ciberespaciais Como Estratégia

De Sustentabilidade Epistêmica1

Prof. Dr. Luiz Roberto Vieira de Jesus - ILC/FACOM

Tarcízio Pereira Macedo2

João de Jesus dos Santos Loureiro3

Amanda Lima da Paixão4

Resumo

Esta pesquisa busca compreender como os atores epistêmicos dos cursos de pós-

graduação na Amazônia, se apropriam da ciberrealidade para se relacionar virtualmente

e produzir conhecimento explícito de forma mutuamente compartilhada. A proposição é

a de que as relações cognitivas virtualizadas deveriam estar moldando os processos de

geração de epistemes nesta região, dada a sua posição periférica aos grandes centros de

produção de ciência e tecnologia, dentre outras motivações. A metodologia se constitui

de um processo articulado por três eixos, o que permite a apropriação do objeto, da

problemática e da proposição em um conjunto de ações que tem no elemento „hiperlink‟

sua manifestação central para a constituição da esfera empírica de investigação, e na

Teoria das Redes seu instrumental de reflexão. As conclusões são parciais.

Palavras-chave: Sociologia da Cibercultura; Sociologia das Redes; TICs.

I - INTRODUÇÃO

Uma mudança significativa está ocorrendo no mundo da descoberta científica:

são as novas e poderosas ferramentas cognitivas digitais, consentidas pela Interweb5,

que estão impulsionando e acelerando o processo da criação de conhecimento científico

e tecnológico. A sociedade em rede, agora moldada pela virtualidade do ciberespaço,

avança por todas as dimensões da vida social contemporânea, desafiando os mais

criativos intelectuais que investigam a realidade humana, a sacarem de seus coldres

epistêmicos novas interpretações que possam descerrar as alterações que as tecnologias

digitais de informação e comunicação estão promovendo no campo da Ciência,

Tecnologia e Inovação – CTI.

1 Trabalho apresentado no DT 5 – Multimídia do XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte

realizado de 28 a 30 de maio de 2015. 2 Estudante de Graduação 8º. semestre Curso de Jornalismo da FACOM-UFPA, email: [email protected] 3 Estudante de Graduação 6º. semestre Curso de Publicidade da FACOM-UFPA, email: [email protected] 4 Estudante de Graduação 6º. semestre de Publicidade da FACOM-UFPA, email: [email protected] 5 Interweb é uma hibridização semântica que designa a conjunção da Internet com a World Wild Web, e que é mais

bem delimitada na próxima sessão.

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Os programas de pós-graduação podem ser considerados como incubadoras de

mão de obra qualificada para o exercício profissional da pesquisa, lócus original onde

são forjados os futuros cientistas e investigadores das diversas disciplinas que compõem

o conjunto de conhecimento explícito gerado pelo homem contemporâneo. Importa,

portanto, aprofundar estudos que possam revelar o atual cenário virtual dos atores

epistêmicos desta região, perquirindo se a Interweb tem sido incorporada por esses

atores epistêmicos dos cursos de pós-graduação, ou não, se eles tratam o ciberespaço

mais como uma plataforma espelho da mídia impressa, que predominou na produção de

epistemes a partir do advento dos tipos móveis de Gutemberg.

Agora, parte-se da proposição de que a cibercultura deve emergir desde a tenra

formação dos pesquisadores. E são nos programas de pós-graduação que devem ser

buscadas novas trilhas que possam levar às raízes desses questionamentos, esmiuçando

seus rizomas ciberepistêmicos – se é que existem – que proporcionam (ou deveriam)

novos modos virtualizados de produção de conhecimento explícito. É o que se pretende

conhecer por meio desta pesquisa, que ora se apresenta em seus resultados parciais, mas

já significativos ao descerrar horizontes deslumbrados pelo excesso de desconhecimento

da cibercultura por esses atores.

II – Objeto e Contingências

A produção incremental de epistemes6 – conhecimento científico explícito

7 –,

aquela que se acumula historicamente, favorece a construção de novos saberes e tem se

expandido de forma geométrica, conforme as plataformas digitais de comunicação e

informação evoluem em seus atributos de ferramentas cognitivas (LEVY, 1993;

JOHNSON, 2003; LESSIG, 2005). Uma dessas características destaca a capacidade

que essas ferramentas têm de aglutinar cognoscentes8 em círculos epistêmicos

virtualizados, de forma rizomática ou reticular, e que propiciam um processo massivo

6 Episteme – é um termo grego que os latinos se apropriaram para designar „scientia‟. Esta é um tipo de conhecimento

gerado a partir de „critérios rigorosos, garantidores de validade‟, ou seja, critérios científicos. Portanto, este termo

será usado nesse sentido, de conhecimento produzido sob condições metodológicas validadas por um grupo de

especialistas sobre um dado tema, disciplina etc. 7 Conhecimento explícito – segundo Nonaka e Takeuchi (1997), “Toda a forma de conhecimento codificado,

facilmente estruturável e que tem possibilidades de ser comunicado por sistemas estruturados ou meios formais de

comunicação”. É aplicado como equivalente a episteme, uma vez que o conhecimento científico tem o seu

„momento‟ de sair da caverna platônica e estender sua luz sobre toda a humanidade, que vive fora dos laboratórios –

„cavernas epistêmicas‟. 8 Cognoscente – Designa o sujeito pensante, que tem a capacidade de refletir e, assim, conhecer o objeto cognoscível,

algo passivo de ser conhecido.

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de comunicação e de troca de informação, dentre outras possibilidades proporcionadas

pelas Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs.

De um paradigma frontal de mediação do fluxo informacional (teatro, livro,

imprensa, cinema, TV), segundo Di Felice9, para um digital, que é “reticular, interativo

e colaborativo”, a geração de conhecimento epistêmico nesta era digital

(NEGROPONTE, 1995) afronta as reflexões sobre os meios de se articular ideias e

pensamentos que repousam em plataformas digitais e sua transformação em novas

epistemes. Esse paradigma digital, que emergiu em meados da década de 60 do século

XX, na costa oeste dos Estados Unidos, nos laboratórios acadêmico-científicos da

Universidade da Califórnia de Los Angeles e no Instituto de Pesquisa de Stanford, em

parceria com os cientistas militares norte-americanos, vem se expandido, desde então,

de forma rizomática10

, no sentido que Deleuze e Gauttari (2000) conferiram ao termo, e

produzindo formas diferenciadas de subjetivação.

A ideia de rede, na qual as ideias de rizoma e de retícula se apoiam, e que

emergiu com a teoria dos grafos em períodos pré-modernos (EULER, 1736), também

foi apropriada pelos criadores da Internet desde que Bush11

lançou a ideia de se criar

máquinas que pudessem auxiliar o homem no arquivamento e manipulação de

informações. Assim, rede, grafo, rizoma e retícula são conceitos que guardam analogias

de conteúdo e de forma ao representarem conjuntos de „coisas‟12

(DURKEIM, 2007)

que se unem entre si por relações de congruência epistêmica, sob a ótica da produção

científica. Essa noção de „coisas unidas por relações‟ sempre esteve presente nos

processos de transformação social e sempre foi adaptada aos interesses de quem dela se

socorreu para compreender melhor um dado fato ou fenômeno social.

Em Ciências Sociais, as relações sociais formam a base da estrutura da

sociedade e é o seu objeto básico de análise social. Segundo Weber,

A relação social diz respeito à conduta de múltiplos agentes que se

orientam reciprocamente em conformidade com um conteúdo específico

do próprio sentido das suas ações. Na ação social, a conduta do agente

9 DI FELICE – Cf. “As redes digitais vistas a partir de uma perspectiva reticular”. (online, URL mencionada na

bibliografia). 10 DEULEZE E GUATTARI (2000) – Para esses filósofos, rizoma expressa uma estrutura reticular indefinida, em

constante reconfiguração, e se sustenta, teoricamente, em seis princípios, que devem ser consultados na obra Mil

Platôs, indicada na bibliografia. 11 BUSH, Vannevar (1945) – foi quem primeiro fez referência a uma forma mecânica de aprimorar a memória

humana por meio de uma máquina que ele denominou de „memex‟, que permitiria arquivar e recuperar documentos

por meio de associações por links – conexões de palavras análogas ou contíguas. 12 DURKEIM, Emile (2007) – Os fatos sociais devem ser observados como „coisas‟, ou seja, objetivamente,

independente da intervenção subjetiva preconcebida.

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está orientada significativamente pela conduta de outro ou outros, ao

passo que na relação social a conduta de cada qual entre múltiplos

agentes envolvidos (que tanto podem ser apenas dois e em presença

direta quanto um grande número e sem contato direto entre si no

momento da ação) orienta-se por um conteúdo de sentido

reciprocamente compartilhado. (In: COHN, 1997, p. 30)

Portanto, para Weber, a relação social diz respeito à conduta dos indivíduos,

grupos e organizações, orientada por um conteúdo de sentido reciprocamente

compartilhado (grifo nosso); na dimensão da produção epistêmica, um paradigma13

que

orienta as cognições14

da hora. Investigar objetivamente as relações desses atores15

sociais torna-se capítulo central de qualquer empreitada cognitiva que objetiva uma

melhor compreensão dos diversos fatores que englobam a sociedade humana. Nesta

perspectiva, são vários os modos de se apropriar cientificamente de um objeto e dele

buscar extrair o sumo epistêmico16

que desvela as aparências e desnuda as essências de

uma realidade social pouco conhecida e compreendida. Como é o escopo desta

pesquisa, que busca conhecer para compreender – e se possível explicar – como as

relações institucionais de programas de pós-graduação se interconectam por meio da

ciberrealidade, propiciada pelas interfaces virtuais de tecnologias de informação e

comunicação, de forma a gerar o capital epistêmico, aquele que vem girando,

historicamente, as diversas civilizações humanas sobre os seios de Gaia, tendo como

laço estruturante um conteúdo de sentido reciprocamente compartilhado.

Um deles é a abordagem que se ancora nos conceitos da Teoria das Redes, ou

dos Grafos, um instrumental cognitivo que tem sido aplicado multidisciplinarmente de

modo incremental, principalmente, a partir da digitalização das atividades humanas. É

sobre esse modo de se aproximar e se apropriar das coisas, de enfocar a realidade como

se ela fosse uma grande rede, onde subredes se articulam recursivamente para realizar

seus propósitos, e que tem atraído grupos cada vez maiores de pensadores,

pesquisadores, cientistas e engenheiros, que se propõe avançar nessa pesquisa sobre a

13 Paradigma no sentido conferido por Kuhn, T. (2003). 14 Cognição designa o processo de aquisição de conhecimento, envolvendo aspectos como linguagem, percepção,

memória, raciocínio etc., relacionados com o desenvolvimento intelectual. 15 Ator (es) – é um conceito central na teoria das redes ou dos grafos, e será aplicado recorrentemente, já que é

„elemento-chave‟ dos recursos teóricos aplicados nesta investigação. Daí usá-lo ao invés do agente weberiano. Ele

representa indivíduos, grupos ou organizações. Neste caso, representa os cursos de pós-graduação – as instituições –

que produzem epistemes e pode, em alguns casos, representar o sujeito epistêmico, no sentido piagetiano14a, que elas

constituem. 16 Sumo epistêmico entendido como o resultado de uma pesquisa.

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virtualização dos processos de produção de conhecimento explícito na Amazônia, e sua

relação com a formação de rizomas epistêmicos na ciberrealidade17

.

Esse campo18

de atividades de geração de epistemes foi destacado por constituir-

se em um núcleo central das atividades que alavancam as redes de CTI na sociedade

hodierna. De fato, este setor se constitui de um conjunto de forças epistêmicas19

responsável pela geração de conhecimento em CTI, e tornou-se fator-chave de produção

do sistema socioeconômico capitalista contemporâneo, conforme este foi impondo

novos modos de relações de produção, principalmente, por meio da maquinaria

industrial cada vez mais sofisticada e que foi afastando o trabalho braçal, que era central

na composição do capital industrial20

, para a periferia do conjunto de elementos que

compõe os fatores de produção de uma sociedade, enfim, mundialmente capitalizada.

A questão que se coloca sobre a virtualização dos processos de produção de CTI,

em uma região periférica como a da Amazônia, assume proporções mais significativas,

não apenas porque a CTI seja a principal fonte de ascensão socioeconômica de nações,

até bem pouco tempo pobres ou remediadas, ou devido às maiores economias mundiais

se enraizarem em seus pressupostos, como, também, pela localização geográfica e pelas

características do seu ecossistema que envolve um meio ambiente onde a

sociobiodiversidade é [ou deveria ser] fator determinante da intervenção epistêmica.

Constatou-se, durante o processo doutoral, que os estudiosos21

que se

debruçaram sobre os elementos que compõem esse campo de atividades cognitivas, em

sua maioria, identificaram problemáticas congruentes que entravam o desenvolvimento

da CTI na Amazônia, principalmente, aquelas relacionadas com os processos de

comunicação e de produção em rede. Embora esses estudos sejam proporcionais ao

volume de conhecimento gerado nesta região, pouco em relação às regiões mais

desenvolvidas, eles são contundentes em suas avaliações e não podem ser descartados

sob o prisma da historicidade, das repercussões históricas de ações e práticas políticas

subservientes à exploração, exclusivamente, econômica.

17 Ciberrealidade é um conceito que se refere ao espaço virtual gerado pela Interweb. 18 Campo aqui é empregado no sentido conferido por Bourdieu, – um conjunto de profissionais que dividem os

mesmos valores e participam da mesma realidade produtiva. 14a Sujeito epistêmico piagetiano (Piaget, J. – 1973) é o sujeito capaz de construir conhecimento, ou seja, a habilidade

intelectual de estabelecer relações cognitivas por meio de uma gama de operações. 19 Esse conceito será apresentado, em detalhes, no corpo da pesquisa. 20 Capital industrial segundo a perspectiva desenvolvida por Karl Marx e Frederick Engels em sua colossal obra O

Capital. 21 JESUS, Luiz – Cf. tese de doutorado referenciada na bibliografia.

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Não se trata de voltar todas as atenções para a economia política desta região,

embora seja impossível não correlacionar os seus efeitos sobre a produção epistêmica.

Trata-se de procurar compreender e, se possível, encontrar explicações para o

adensamento – ou não – da virtualização das relações sociais de produção no campo de

produção epistêmica, induzido pelas tecnologias digitais de informação e comunicação

nesta região, da mesma forma como ocorreu em outras plagas periféricas, como a

Coréia do Sul e Cingapura, cujos minúsculos territórios geográficos não impediram sua

ascensão tecnocientífica e socioeconômica. O advento da digitalização dos processos

produtivos, em todas as esferas da sociedade, alcançou o ambiente epistêmico de forma

singular, já que foi nele que se originou, e dele se propagou para os demais setores

produtivos.

Por outro lado, as TICs têm sido protagonistas centrais na geração de novas

tecnologias que propiciam novos processos de produção, distribuição e comunicação,

dentre os quais, destacam-se aqueles que são considerados os principais dos últimos

tempos: a Internet e a Web. Como um novelo de lã que vai aumentando na medida em

que o tear vai acelerando a produção de fios, as tecnologias digitais epistêmicas22

vão

crescendo conforme as TICs vão aumentando os seus recursos de interface entre a

cognição humana e a mente cibernética23

.

A coalescência entre a Internet e a Web – a Interweb24

– criou uma nova

dimensão relacional, denominada de ciberrealidade, em que os atores sociais, e tudo o

mais, se complementam de forma, recorrentemente, inovadora e fornecem modos

alternativos de produção, distribuição, comunicação e interação em todos os níveis –

individuais, grupais, organizacionais – e esferas sociais – econômicas, políticas,

culturais, científicas e tecnológicas.

O sociólogo Di Felice, ao ser indagado sobre essas evoluções tecnológicas

propiciadas pelas TICs, lembrou que, “O advento de uma nova tecnologia comunicativa

gera transformações qualitativas em todos os setores da sociedade” (Ibid.). Outro

importante especialista da matéria, McLuhan (1969, p.29), também fez a mesma

referência às tecnologias de informação e comunicação, ao dizer, “As sociedades

sempre foram influenciadas mais pela natureza dos media, através dos quais os homens

22 Tecnologia epistêmica no sentido que Pierre Lévy concebeu em sua obra „As Tecnologias da Inteligência‟

(LÉVY,1993). 23 Mente cibernética é aquela constituída de programas, memórias e algoritmos que dão „vida‟ às máquinas

computacionais e aos processos informáticos. 24 Interweb – este termo será adotado no transcurso desta pesquisa, por que expressa melhor a junção dos fatores

materiais e imateriais da cibercultura, e que são elementos centrais deste trabalho.

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comunicam, do que pelo conteúdo da comunicação”. Ou seja, são as interfaces – as

inovações tecnológicas – que introduzem novas percepções e subjetivações, ao

ampliarem os limitados recursos sensitivos e cognitivos do homem, conforme suas

criações científicas e tecnológicas estão aumentando sua intervenção na natureza e na

sociedade.

Se as novas arquiteturas tecnológicas do processo comunicativo geram

transformações qualitativas em todos os setores da sociedade, ou por elas são ensejadas,

então elas são passíveis de serem identificadas, mensuradas e interpretadas nos

ambientes virtualizados da produção epistêmica na Amazônia.

III - Dimensão Metodológica

A relevância da Interweb para as redes de produção epistêmica tem sido

destacada por diversos cientistas, como Barabasi (2002), que disse, “A comunidade

científica apoia e depende de muitos aspectos da ciência na Web, como redes de

computadores por meio de cabos, nós, hiperlinks, redes de pessoas e organizações”

(Online – Royal Society Web Science Meeting). Contudo, alguns requisitos são

necessários para atrair cognições convergentes, tendo Eco25

destacado que, em uma

floresta como a Web, o que determina a convergência de fluxos de relações entre os

internautas são as atrações que o ciberespaço apresenta: os portais, ou megasites, que

possuem mais conexões porque são mais acessados pelas pessoas. Chayes26

·, cientista e

matemática da Microsoft, comentou, “As redes podem ser modeladas na forma de

grandes gráficos, que podem ser muito úteis nos estudos dos fenômenos sociais”, e que

os motores de busca também usam esses gráficos em conjunto com o dispositivo ”Page

Rank” 27

, para revelar a estrutura e o nível de relevância dos atores na rede.

Apesar da simplicidade de alguns desses conceitos e ideias sobre a topologia das

redes, eles têm consequências intensas para a compreensão das relações sociais na

dimensão virtual. Uma questão central são as conexões. Enquanto alguns atores

constituem muitas conexões, outros realizam poucas. Da mesma forma, algumas redes

estão bem-conectadas ou “coesivas”, e outras não. Segundo os sociólogos Hanneman e

25 ECO, Humberto. Cf. em http://www.umbertoeco.com/en/ 26 CHAYES, Jennifer T. – Cf. em http://research.microsoft.com/en-us/um/people/jchayes/ 27 Page Rank – Uma ferramenta do Google para calcular o nível de importância de uma página Web. Cf. em

www.google.com.br/why_use.html

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Riddle28

, as maneiras como os indivíduos se articulam em rede, como se conectam,

pode ser de extrema importância para se compreender seus atributos e comportamentos.

Eles dizem, “Quanto mais conectados estão os indivíduos, significa que eles estão

expostos a mais, e mais diversificadas informações”. Em consequência do alto nível de

conexões, esses atores são mais influentes e influenciados em suas redes. Da mesma

forma, o conjunto do sistema de redes epistêmicas pode estar mais ou menos conectado

e, assim, estar mais bem ou mal informado sobre uma série de questões que lhe diz

respeito. E isso pode acarretar em múltiplas consequências para os seus atores.

As conexões, juntamente com os atores, são as propriedades elementares dos

sistemas de rede. Examinando as redes in totum, pode-se identificar o número de atores,

as quantidades de laços que poderiam ser estabelecidos, e os que de fato ocorrem.

Diferenças sobre o tamanho das redes, e como os atores estão conectados podem revelar

pontos críticos sobre os agrupamentos humanos, já que os pequenos grupos se diferem

de várias formas importantes, e mesmo, o tamanho de seus conjuntos é uma das

variáveis principais nos estudos sociológicos. Como colocam Hanneman e Riddle 29

,

“Diferenças em como os atores estão conectados em uma população podem ser

indicadores-chave da „coesão‟, da „solidariedade‟, da „densidade moral‟ e da

„complexidade‟ da organização social de uma população”.

Além do que, os modos como os atores se arquitetam no ciberespaço pode ser

crucial para se compreender como eles observam o mundo, e como o mundo os vê. O

número e o tipo de laços que os atores mantêm na rede são uma base para indicar

semelhanças e dessemelhanças entre eles, também para determinar o quanto a sua

inserção na rede restringe o seu comportamento, a sua gama de oportunidades, a sua

influência e o seu poder na rede. Em outras palavras, como os atores se posicionam na

rede, no centro ou na periferia virtual.

Nessa perspectiva, buscou-se a obtenção das informações aqui apresentadas por

meio de um levantamento de dados primários realizado com duas ferramentas

especializadas em coleta e tratamento de hiperlinks – o OPEN SITE EXPLORE e o

SEMRUSH. Posteriormente, esses dados foram refinados com a ferramenta EXCEL,

onde foram produzidas as planilhas básicas e, em seguida, exportadas para o software

GEPHI, ferramenta especializada na confecção de grafos e matrizes de rede.

28HANNEMAN, Robert A. e RIDDLE, Mark. – Cf. em faculty.ucr.edu/~hanneman/.../C10_Centrality.html 29HANNEMAN, R. A.; RIDDLE, M. Introduction to social network methods.Cf. em

http://faculty.ucr.edu/~hanneman/

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3.1 - A Rede Epistêmica Virtual da Amazônia

A Rede Epistêmica Virtual da Amazônia - REVAM, a nível de produção

acadêmica, é um sistema composto por mais de 240 cursos de pós-graduação, lócus da

amamentação cognitiva dos futuros profissionais de CTI desta região. Apenas nas

universidades públicas federais, atualmente, segundo dados da CAPES30

, são 65 mil

pesquisadores docentes com doutorado, sendo que desses, 2.696 estão lotados nas

universidades federais da região Norte. Além do que, foram formados no Brasil, pelo

Sistema Nacional de Pós-Graduação, em torno de 13 mil doutores no ano de 2011,

segundo a mesma fonte, sendo 214 deles pelos programas de doutorado da região Norte.

É sobre essa rede em expansão, que já conta com mais de quatro mil

pesquisadores nas instituições de pesquisa na Amazônia-Norte31

, segundo dados do

CNPq32

, e de sua relação com a emergência de um novo paradigma epistemológico, ou

seja, o de geração e produção de conhecimento baseado nas tecnologias da Interweb,

por meio de redes epistêmicas, que se pretende comprovar as proposições colocadas e

responder aos questionamentos formulados por esta pesquisa, no sentido de melhor

compreender como os atores epistêmicos na Amazônia estão, ou não, se apropriando

desse aparato tecnológico digital em suas relações profissionais, para moldá-lo segundo

suas necessidades e interesses, bem como da sociedade que os financia.

O campo da produção epistêmica tem a sua principal „fonte de recursos‟

ancorada nos cursos de pós-graduação, responsáveis pela formação profissional de

pesquisadores e pela produção de dissertações e teses que compõem o maior banco de

pesquisas produzidas na região Norte. No quadro abaixo uma visão geral da distribuição

desses cursos por Estado desta região.

Nesse sentido, foram selecionados todos os programas de pós-graduação

instalados na Amazônia. O critério foi o de eles terem representação científica virtual33

na ciberrealidade epistêmica amazônica. Ou seja, websites ou páginas no interior dos

mesmos, que apresentam suas produções de conhecimento explícito e podem ser

30 Dados coligidos pelo autor. Cf. em http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#. 31 Amazônia-Norte: toda vez que se referir à Amazônia, fica subentendido que se fala em Amazônia da região Norte,

e não da Amazônia Legal, aquela que abarca além dos Estados da região Norte, que são sete, mais os estados do

Maranhão e Mato Grosso. 32 Cf. em http://www.cnpq.br/web/guest/indicadores1. 33 Representação científica virtual designa a presença de uma conexão (hiperlink) nos websites dos atores epistêmicos

da Amazônia.

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acessados por meio de hiperlinks. E mais, que apontam outros atores diretamente

envolvidos com suas disciplinas e são cruciais para acompanhar o seu estado da arte.

Todos os Programas de Pós-Graduação – PPGs – são arrolados na tabela abaixo

e estão presentes no ciberespaço por meio de seus websites, e podem ser acessados a

partir de uma URL – o endereço virtual desses atores epistêmicos na Amazônia.

TABELA 01 – Distribuição quantitativa dos Programas de Mestrado e Doutorado

Reconhecidos pela CAPES, na região Norte, por Estado – 2013.

UF IES Programas e Cursos de pós-graduação

Totais de Cursos de pós-

graduação

Total M D F M/D Total M D F

AC UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC 7 6 0 1 0 7 6 0 1

AM CENTRO UNIVERSITÁRIO NILTON LINS -

UNINILTON

3 0 0 1 2 5 2 2 1

AM INSTITUTO FEDERAL DE EDUC., CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO AMAZONAS - IFAM

1 0 0 1 0 1 0 0 1

AM INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA

AMAZÔNIA - INPA

9 1 0 1 7 16 8 7 1

AM UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS -

UEA

7 4 0 2 1 8 5 1 2

AM UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS -

UFAM

35 22 1 2 10 45 32 11 2

AP UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ - UNIFAP 5 4 0 0 1 6 5 1 0

PA ASSOCIAÇÃO INSTITUTO TECNOLÓGICO VALE

- ITV

1 0 0 1 0 1 0 0 1

PA CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ

- CESUPA

1 1 0 0 0 1 1 0 0

PA FUNDAÇAO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA

DO PARÁ - FSCMPA

1 0 0 1 0 1 0 0 1

PA INSTITUTO EVANDRO CHAGAS - IEC 1 0 0 0 1 2 1 1 0

PA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA

E TECNOLOGIA DO PARÁ - IFPA

1 0 0 1 0 1 0 0 1

PA UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA 3 3 0 0 0 3 3 0 0

PA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ - UEPA 6 5 0 1 0 6 5 0 1

PA UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ -

UFOPA

4 3 1 0 0 4 3 1 0

PA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA 60 23 2 10 25 85 48 27 10

PA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA

AMAZÔNIA - UFRA

6 4 0 0 2 8 6 2 0

RO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA -

UNIR

14 9 0 3 2 16 11 2 3

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UF IES Programas e Cursos de pós-graduação

Totais de Cursos de pós-

graduação

Total M D F M/D Total M D F

RR FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE

RORAIMA - UFRR

9 8 0 1 0 9 8 0 1

RR UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORAIMA -

UERR

1 0 0 1 0 1 0 0 1

TO FUNDACAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO

TOCANTINS - UFT

17 9 0 5 3 20 12 3 5

Norte 192 102 4 32 54 246 156 58 32

Fonte: CAPES M - Mestrado Acadêmico F - Mestrado Profissional D - Doutorado M/D - Mestrado Acadêmico/Doutorado

Neste artigo são apresentados resultados parciais desta pesquisa, uma vez

que ela está em desenvolvimento e seu término está previsto para o início de 2016.

Nesse sentido, apresentam-se algumas implicações relativas aos dados já compilados,

todavia, em processo incipiente de tabulação. Mas, já descortinando horizontes pouco

instigantes sobre a incorporação da cibercultura pelos atores epistêmicos desta região.

Sociograma 01 – Representação Topológica da Rede Epistêmica Virtual – INPA –

Grau de Saída - 2015.

Na imagem abaixo pode-se visualizar como os atores epistêmicos do Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA – estão conectados no ciberespaço. É

perceptivel o baixo grau de incorporação da ciberrealidade em suas atividades de

produção de conhecimento explícito. Os seus PPGs canalizam suas energias da

dimensão física para as questões biosocioantropológicas da região amazônica ocidental,

porém, sem a mínina repercussão na dimensão virtual, o que demonstra um extremo

desconhecimento da cibercultura e suas implicações para a sociobiodiversidade

amazônica contemporânea.

Esse parâmetro mede o nível de „atividade‟, com base na quantidade de

conexões adjacentes de cada ator com o mundo virtual exógeno. Ou seja, quais são as

„pontes‟ que os PPGs estão disponibilizando para seus pesquisadores acessarem

ambientes que produzem, processam e distribuem epistemes pertinentes? Quase nada.

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Sociograma acima concebido por meio da ferramenta Gephi. 2015

Sociograma 02 – Representação Topológica da Rede Epistêmica Virtual – ITEC –

Grau de Saída - 2015.

Da mesma forma, o Instituto de Tecnologia – ITEC – da UFPA, um dos

principais centros de produção epistêmica da região norte do país, onde se concentram

os PPGs das engenharias – civil, elétrica, mecânica, computação etc. – não reconhece a

significação da dimensão virtual criada por meio das tecnologias telemáticas e que são,

hodiernamente, o cerne das sociedades contemporâneas desenvolvidas. Seus PPGs

tratam a ciberrealidade como se ela não passasse de um simples instrumento – folder

eletrônico – de divulgação de suas atividades, ou seja, totalmente descolados da

cibercultura.

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Sociograma concebidopor meio da ferramenta Gephi. 2015

Sociograma 03 – Representação Topológica da Rede Epistêmica Virtual – ITEC –

Grau de Saída - 2015.

No sociograma abaixo visualizam-se os mesmos PPGs do Instituto de

Tecnologia da UFPA, mas, agora com a indicação dos graus de entrada – os Inlinks – e

de saída – os Outlinks. Os números à esquerda se referem aos apontamentos que cada

ator recebe no âmbito de sua rede epistêmica, enquanto os da direita se reportam às

indicações que os mesmos atores fazem sobre os outros atores epistêmicos para que

sejam visitados por seus pesquisadores e neófitos no escopo de acessar material

cognitivo disponibilizado na rede, bem como estabelecer relações comunicacionais,

interações produtivas, banco de dados, de teses etc.

Ou seja, nessa imagem é perceptível o grau de centralidade que cada ator

incorpora no interior da rede, e o seu nível de atividade na dimensão virtual. Os atores

que têm mais laços podem tirar vantagem dessa posição, porque têm mais alternativas

para satisfazer suas necessidades e interesses. Essa posição lhes permite ter acesso a

mais recursos da rede como um todo. Da mesma forma, eles são capazes de conceder

mais benefícios a outros atores da rede.

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Sociograma concebido pelo autor por meio da ferramenta Gephi.

Considerações Finais

Considerando-se uma abordagem rizomática sobre esses atores e sua produção

epistêmica na Amazônia, e que fazem da descoberta e da invenção científica e

tecnológica seu modus vivendi profissional, pode-se perceber nesta breve apresentação

pictórica, que tipo de imaginário perpassa as suas cognições com relação à realidade

virtual. Evidentemente, nem todos os profissionais da produção epistêmica têm

formação ou qualificação profissional para refletir sobre as repercussões da dimensão

virtual em seus ambientes produtivos. Portanto, faz sentido é perquirir se essa

parafernália de recursos tecnológicos está sendo usada e usufruída de modo a contribuir

para a expansão do conhecimento explícito em uma região naturalmente afastada dos

grandes centros mundiais da produção epistêmica. Ao contrário das regiões centrais

dessa produção, cada vez mais articuladas em redes virtuais multidisciplinares e

multinacionais, a glocalização passa a ser uma dimensão inovadora para a concatenação

de ideias e ações em prol de suas populações.

Busca-se, assim, no transcorrer dessa investigação, identificar se os territórios

virtuais estão sendo constituídos pelos atores epistêmicos amazônicos, ou se aguardam a

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chegada do colonizador para orientá-los a como desbravar essa imensidão de

ciberespaço inexplorado. Os dados e as informações elaboradas até este momento

indicam que esses atores não estão se articulando em relação mutualística, ou seja,

dando destaque nas ações epistêmicas de seus grupos produtivos a sua inserção no

coletivo universal, ou, conforme Weber (COHN, 1997), orientadas por um conteúdo de

sentido reciprocamente compartilhado. E compartilhado não apenas endogenamente,

mas também com toda a sociedade.

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