Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira
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0440101 – SISTEMA TERRA
RELATÓRIO DE CAMPO PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO
RIBEIRA - PETAR
São PauloOutubro de 2013
Jacqueline de Cássia de Oliveira Mariana de Matheus Marques dos Santos
Mariana Maia Leite Ferreira
Sumário
1. INTRODUÇÃO 3
2. OBJETIVOS 4
3. CARACTERIZAÇÃO DO PETAR 4
4. GEOLOGIA DA ÁREA 8
5. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DO PETAR 12
6. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 15
7. ASPECTOS DO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
17
8. SUGESTÃO DE ATIVIDADE 18
9. CONCLUSÃO 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20
2
1. IntroduçãoAs unidades de conservação sob a administração da Fundação Florestal
protegem centenas de cavernas, especialmente as formadas em rochas
calcárias, a exemplo dos Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR),
localizado nas região do Vale do Ribeira ao sul do Estado de São Paulo.
As cavernas – cavidades naturais subterrâneas – são consideradas bens
da União de acordo a Constituição Federal (artigo 225) e áreas de proteção
permanente pela constituição paulista (artigo 197). Elas constituem um
ambiente único, o meio subterrâneo, formadas pelo resultado de processos de
intemperismo químico e físico de centenas de milhares de anos.
A gênese das cavernas calcárias está relacionada à dissolução química
do carbonato de cálcio pelas águas das chuvas, que são pouco ácidas e, ao
passarem pelos solos, ganham mais acidez. Esse processo possibilitou a
abertura de condutos e seu posterior alargamento, originando salões, galerias
e rios subterrâneos, acessíveis ou não ao ser humano.
O clima nas cavernas, na maioria das vezes, é estável, com pouca
variação de temperatura e alta umidade relativa do ar. Próximo às entradas a
influência do meio externo é maior, ao contrário dos trechos mais profundos,
onde ocorre total ausência de luz, impedindo a fotossíntese e limitando o fluxo
de energia e a vida. Os seres vivos encontrados nas cavernas são comumente
classificados como:
Troglóbios: organismos que vivem somente no interior das cavernas, tais
como o bagre-cego (peixe) e as aeglas albinas (crustáceos);
Troglófilos: organismos que podem completar parte do seu ciclo de vida
no interior das cavernas, como os opiliões e grilos;
Trogloxenos: organismos que podem utilizar as cavernas como abrigo,
especialmente os morcegos, ou visitá-las eventualmente, dentre eles o ser
humano.
As ornamentações das cavernas são conhecidas como espeleotemas,
que variam de tamanho, forma e coloração, dependo do padrão de
cristalização e de sua composição química. Dentre os espeleotemas mais
comuns estão as estalactites e as estalagmites, formadas por gotejamentos no
teto e chão das cavernas, respectivamente. As colunas formam-se pela junção
3
destas duas formações e as cortinas pela cristalização em tetos inclinados. Já
as represas de travertino constituem diques de tamanhos variados, com a
deposição de mineral nas bordas. Essas represas podem ou não estar cheias
de água saturada de sais, formando novos espeleotemas. As helictites
possuem cristais bastante delicados e de rara beleza, em geral situadas em
ambientes mais confinados.
As cavidades naturais subterrâneas constituem testemunhos de
processos de evolução geológica, dos relevos e da vida em uma determinada
região, com ocorrência de depósitos de fósseis de vertebrados como a
preguiça-gigante (ou megatério) e o toxodonte, o tigre-de-dente-de-sabre,
dentre outros.
Por essas e outras características, as cavernas constituem um vasto
campo de pesquisas científicas, com grande importância ecológica, turística,
educativa e econômica.
2. ObjetivosO objetivo desta atividade de campo é desenvolver o raciocínio
geológico de observação e de interpretação das formações do terreno e da
geologia local.
3. Caracterização do PETARO Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira está situado no Vale do
Ribeira ao sul do estado de São Paulo entre as cidades de Iporanga e Apiaí,
contendo 35 mil hectares de área preservada de Mata Atlântica como mostra a
figura 1 indicada. Detentor de importantes formações geológicas por abrigar
uma das mais
importantes regiões
cársticas do país e
paisagens exuberantes
como cachoeiras, trilhas,
rios e muitas cavernas
tornam o parque um
ponto muito importante
para o ecoturismo.
4
Figura 1: Localização do PETAR no Estado de São Paulo. FONTE: Dísponivel em: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,desafio-com-agua-ate-o-pescoco,453371,0.htm. Acessado em 17 de outubro de 2013
.
A ocupação no Vale do Ribeira teve início no século XVI com a chegada
de portugueses e espanhóis. As cidades funcionavam como núcleo de apoio
aos colonizadores com seus portos, facilitando a entrada de intercâmbio e de
mercadorias que entravam através do rio Ribeira de Iguape e seus afluentes.
A economia da região dá um salto por conta da descoberta de ouro na
Serra de Paranapiacaba, atraindo garimpeiros para a região.
A mineração do ouro foi responsável pelo surgimento de várias cidades
no Vale do Ribeira, como Apiaí que surgiu pela migração de garimpeiros em
busca de ouro.
Devido a descoberta de outro em Minas Gerais, os garimpeiros
abandonaram a região. Com a escassez do ouro, a agricultura passou a ter
valor, tendo escravos com principal mão de obra.
Porém, com as oscilações do mercado combinados com a expansão de
lavouras de café e a abolição de tráfico de escravos, a economia da região
entrou em decadência.
Ocorre que, no início do século XX, a então abundância da espécie de
palmito Juçara na Mata Atlântica, a grande demanda, a simplicidade do
processamento e os bons preços do produto, incentivaram os produtores rurais
e moradores a explorar estoques naturais da espécie. Fomentada por um
mercado clandestino bastante lucrativo, a população passa a extrair
ilegalmente o palmito, tornando-o a sua principal fonte de renda.
Devido à importância ecológica a Bacia do Rio Ribeira de Iguape passou
a ser reconhecida e foram criadas diversas áreas de reserva e de proteção
ambiental, fundamentais na preservação da biodiversidade local.
Essas áreas de proteção acabaram afetando a população, que ficou
privada do uso da terra e daquilo que garantia seu trabalho e sua renda.
E é nesse contexto que a criação do PETAR se insere: uma região
economicamente pobre tendo a agricultura de subsistência e extração ilegal de
palmito como suas principais fontes de renda.
Com a criação do PETAR em 1958, a economia entra em crise
novamente, a população então começa a explorar o parque com o ecoturismo,
passando a viver (até hoje) basicamente do turismo, da prestação de serviços
5
e mão de obra a prefeitura e aos meios de hospedagens (pousadas e
campings).
A implantação do parque somente ocorreu entre os anos de 1987e 1988,
quando através do Instituto Florestal de São Paulo seus limites foram
demarcados em campo, juntamente com o início da fiscalização pela Polícia
Florestal do Estado (KARMANN & FERRARI, 2000). Em 1999, a Reserva de
Mata Atlântica do Sudeste, constituída por 17 municípios do Vale do Ribeira,
tornou-se uma das seis áreas que passaram a ser consideradas pela UNESCO
como Patrimônio Natural da Humanidade.
O parque conta hoje com quatro núcleos de visitação, todos com a
finalidade de facilitar o controle dos visitantes e de proteger de forma mais
organizada esse patrimônio.
- Núcleo Caboclos, situado na parte central do PETAR com uma altitude
média de 600 metros;
- Núcleo Ouro Grosso, localizado no bairro da Serra em Iporanga, tem
como principal atrativo a caverna do Ouro Grosso e a caverna Alambari de
Baixo;
- Núcleo Santana é o principal núcleo de visitação do PETAR com as
principais cavernas: caverna Santana, Morro Preto, caverna Água Suja e
caverna Couto;
- Núcleo Casa de Pedra, neste núcleo está localizada a caverna Casa de
Pedra com o maior pórtico do mundo, cerca de 215 metros de altura.
Desde janeiro de 2009, a Fundação Florestal está elaborando os Planos
de Manejo Espeleológico de 32 cavernas em quatro Parques Estaduais do Vale
do Ribeira, incluindo o PETAR. Os Planos de Manejo vão organizar o uso das
cavernas para o turismo e criar orientações para as intervenções futuras de
modo a reduzir ao mínimo os impactos do homem nas visitações às cavernas.
O parque apresenta grande biodiversidade, sendo possível observar
bromélias, orquídeas, samambaias e palmeiras. Ainda na região, podem ser
encontrados alguns animais como o macaco muriqui, jaguatirica, morcegos,
etc. Dentre os animais já encontrados, o de maior destaque é o bagre-cego,
espécie de peixe que sofreu modificações genéticas, como a regressão dos
olhos e ausência de pigmentos em sua coloração, tais modificações deve-se ao
ambiente sem luz das cavernas.
6
Conflitos socioambientaisOs moradores da região organizaram-se em núcleos frouxos de
povoamento fortemente ligados por laços de parentesco, chamados
posteriormente de bairros.
O modo de vida dos moradores pode ser definido como agroextrativista,
extremamente dependente da floresta. Era praticada a agricultura itinerante ou
roça de capuava (Petrone, 1961; Adams, 2000), que depende da abertura de
pequenas clareiras na mata para o plantio de uma rotação de culturas que
inclui principalmente o arroz, o feijão e o milho. Criavam-se de forma extensiva
porcos, galinhas e outros animais domésticos, alimentados pela roça e pela
floresta.
Outras formas de relação material com a floresta circundante eram a
retirada de madeira para uso doméstico (lenha, construções), caça, coleta de
frutos (muitas vezes plantados pelos antigos moradores) e de plantas úteis,
como as de uso medicinal. A paisagem da região constituía-se, portanto, em
um mosaico de áreas em uso, áreas de floresta em regeneração e áreas de
floresta pouco alterada.
Este cenário apontava para o desalojamento definitivo da floresta e
também para uma gradual expropriação das terras historicamente ocupadas
pelos habitantes locais, sujeitando-os à condição de mão de obra assalariada
ou à migração. Entretanto entram aí novos atores sociais para modificar a
história do local.
A região do Alto Ribeira onde se configuram os conflitos apresentados
aqui é a que contém a maior concentração de cavernas calcárias do estado e
que faz parte da maior área contínua de mata atlântica remanescente. Além de
alguns empreendimentos minerários, existia na região, na década de 1950,
uma sede do Instituto Geológico e Geográfico, órgão do Governo do Estado
encarregado de pesquisas sobre minerais. Tínhamos então em 1958 uma
arena de conflitos constituída pelos seguintes atores sociais:
a) Grandes empreendedores com interesses capitalistas que tentavam
com pouco sucesso explorar a região;
b) Pesquisadores da área geológica que militavam pela proteção das
inúmeras cavernas da região, com o apoio de atores da imprensa;
7
c) Atores do governo estadual, ligados ao então governador Jânio
Quadros com projetos de desenvolvimento turístico em um paraíso ecológico
e/ou com interesse de resguardar recursos florestais no modelo americano de
Parques Nacionais.
A questão em jogo era transformar o local em área protegida voltada ao
turismo de habitantes da cidade, a princípio com uma base estatal de infra-
estrutura. O turismo incluiria caça e pesca, ou seja, uso direto da floresta
(Figueiredo, 2000; Silveira, 2001). Os moradores da região e o poder municipal
parecem ter tido pouco poder de participação nesta arena. A criação do
PETAR, na realidade, trouxe poucas modificações ao cotidiano dos moradores,
pois o parque permaneceu sem implantação por mais de 20 anos. No início dos
anos de 1980, uma nova arena de conflitos se configurou no Alto Ribeira. Ela
incluía novos atores sociais que se relacionavam com a região:
a) Espeleólogos (exploradores de cavernas), organizados em torno de
grupos espeleológicos e da Sociedade Brasileira de Espeleologia, SBE. Partiu
destes atores sociais a reivindicação de que o PETAR fosse de fato
implantado, e que as matas e as cavernas fossem resguardadas;
b) Funcionários da Superintendência de Desenvolvimento do Litoral
Paulista (SUDELPA), ligados ao então governador Franco Montoro, que tinham
como objetivo a implantação das diversas unidades de conservação ambiental
do Vale do Ribeira criadas ao longo do tempo, sendo o PETAR uma área-
piloto;
c) Novos empreendedores (madeireiras, mineradoras e outros)
instalados ou com objetivos de se instalarem na região;
d) O poder municipal, alinhado com os empreendedores e com atores
envolvidos com o corte de palmito;
e) Moradores, sentindo-se ameaçados ao mesmo tempo pelos
empreendimentos e pelo parque, mas de forma geral alinhando-se contra a
implantação do Parque.
O desfecho destes conflitos foi a implantação do PETAR, a paralisação
de todos os grandes empreendimentos e o estabelecimento do ecoturismo
como projeto de desenvolvimento para a região.
8
Com a implantação do PETAR, os moradores da região não foram
retirados, mas tiveram que readaptar seus projetos e organização social à nova
realidade que se apresentava.
4. Geologia da ÁreaA região do PETAR está sob domínio do Grupo Açungui, localizado
especificamente no bloco tectônico do Lajeado, na Faixa Dobrada do Apiaí e
com característica de blocos tectônicos dispostos da direção Nordeste –
Sudoeste (Campanha, 1991 e IG, 1999). Este grupo é composto por unidades
carbonáticas, psamíticas e pelíticas com uma unidade de gabro em sua
superfície. As rochas carbonáticas (que darão origem às cavernas) tem sua
origem em formações Bairro da Serra, Mina de Furnas e Passa Vinte.
(KARMAN e FERRARI, 2000) Conforme a figura 1, é possível observar a
diferença geológica da área do PETAR.
Figura 2: Jurássico – Cretáceo. Modificado de Instituto Geológico (1999).
Geologia das Cavernas
9
A região em que se encontra o PETAR tem uma importância ambiental
que está associada à mata tropical, que se encontra relativamente protegida,
dando aos sistemas de cavernas paisagens única, apresentando uma grande
variedade morfológica de espeleotemas e de sítios paleontológicos do
Quaternário. A região abriga cerca de 200 cavernas, sendo que a mais
destacada e extensa é a de Santana, localizada no núcleo dos Cablocos, com
6,5km de comprimento.
Quanto à geologia, pode-se dizer que os terrenos cársticos estão
localizados entre o Planalto Atlântico e a Baixada Costeira, com característica
pela variedade hidráulica, e entalhamentos subterrâneos, com canyons de até
60m, onde pode se encontrar a presença de cavernas verticais (abismos) e
salões de abatimento (caverna de morro preto).
Formação das CavernasConforme dito anteriormente, as cavernas da região do PETAR foram
formadas através das rochas calcárias. Estas, tem sua formação através da
calcita (carbonato de cálcio, CaCO3), que é dissolvida quando entra em contato
com a água – que é ligeiramente ácida. Esta acidez se dá por conta da chuva
ácida ou pela presença do dióxido de carbono - CO2 - presente na atmosfera e
na decomposição da matéria orgânica, que em contato com a água formam o
ácido carbônico, H2CO3.
Esta água ácida que percola as fendas do calcário agindo sobre a rocha,
produzindo o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2), que tem por característica ser
solúvel e ter facilidade no transporte pela água. Com a dissolução do
bicarbonato de cálcio, as fendas vão-se alargando lentamente e formando as
cavernas.
Esta solução de bicarbonato emerge no teto de uma caverna que já
existe, e vai acumulando até que atinja volume suficiente para cair, conforme
figura 3 abaixo tirada na
caverna da água suja, na
visita de campo.
10
Figura 3: Formação de uma Estalactite. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013.
Formam-se assim os primeiros cristais de carbonato de cálcio (CaCO3),
que vão dar origem à estalactite. A gota, ao cair, ainda carrega consigo
bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2) em solução, o qual vai sendo depositado no
piso logo abaixo, formando uma estalagmite. O crescimento oposto da
estalactite e da estalagmite faz com que essas peças muitas vezes se unam,
dando origem à colunas. É possível observar através da figura tirada abaixo,
também na visita de campo, na caverna de morro preto.
Figura 4: Estalactite e Estalagmite. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do
LiGEA 2013.
EspeleotemasOs espeleotemas são todas as formações rochosas existentes no
interior de uma caverna, sendo resultado da sedimentação e cristalização dos
minerais que foram dissolvidos pela água. No PETAR, a sua ocorrência é
devida às rochas carbonáticas (compostas de calcário, mármore e rochas
dolomíticas) destacando-se pela grande diversidade morfológica dos mesmos.
Em ordem decrescente de ocorrência foram identificados espeleotemas de
11
calcita, aragonita, hidromagnesita, gipsita, hidroxiapatita e leucofosfita (Barbieri
1993).
Figura 5: Formação das cavernas. Disponível em: http://portalsaofrancisco.com.br/alfa/cavernas - Acesso em 17/10/2013
5. Evolução Geológica do PETARHá 1 bilhão de anos, na Era Pré Cambriana, a área estudada era um
ambiente marinho, segundo o Professor Boggiani, durante sua explicação,
poderia ter sido um grande oceano, habitado basicamente por cianobactérias.
Em razão das mesmas, houve o surgimento de estromatólitos, que são rochas
fósseis formadas pela atividade de micro-organismos em ambientes aquáticos,
resultando em formações de recifes (ANELLI, 2010).
Além disso, houve deposição de carbonato de cálcio, argila, areia e
conglomerados, originando rochas calcárias e argilitos. Os grandes pacotes horizontais de sedimentos foram se tornando rochas. O material sedimentar sofreu uma deformação transformando o calcário em metacalcário e os argilitos em filitos.
600 milhões de anos atrás, houve o choque de placas associado à
formação do supercontinente Gondwana. Tal formação aglutinou vários
continentes e oceanos que estavam no meio, constituindo cadeias de
montanhas. Estas cadeias montanhosas com cerca de 15-20km de altura que
foram erodidas ao longo do tempo, tiveram deformações, o material estava
12
plástico, levando à formação de dobras: Deformações em que se verifica o
encurvamento de superfícies originalmente planas. Resultantes de rochas com
comportamento dúctil (TEIXEIRA, 2000).
Mais próximo da superfície, a rocha estava rígida, e com o esforço,
surgiram as rupturas e as falhas, que são descontinuidades formadas pela
fratura das rochas superficiais da Terra (até cerca de 200 km de profundidade)
quando as forças tectônicas superam a resistência das rochas. Geralmente, a
zona de ruptura tem uma superfície bem definida, denominada “plano de falha” e sua formação é acompanhada de um deslizamento de rochas
tangencial a este plano. (LEINZ, 1963).
Onde tinham fraturas, houve infiltração da água, sobretudo nas fendas
do calcário, atacando a rocha, produzindo o bicarbonato de cálcio
(Ca(HCO3)2), que é solúvel e facilmente transportado pela água. Com a
dissolução do bicarbonato de cálcio, houve alargamento das fendas e
consequentemente, a formação das cavernas.
Aos eventos que ocorreram na Era Cenozóica, destaca-se o processo
de entalhamento da drenagem dos rios. Como pudemos perceber na visitação
das cavernas, haviam vários níveis de conglomerados, isso deve-se ao fato de
que o rio se situava num nível mais alto, no entanto, ocorreu o entalhamento da
drenagem até que se formasse tal paisagem.
Ressaltando que Conglomerado é uma rocha sedimentar com diferentes
tamanhos de cascalhos, predominantemente maiores do que a areia que
também compõe a rocha. A sua matriz tem os grãos muito menores, de areia
ou até mesmo de argila. O cimento pode ser óxido de ferro, sílica ou calcita.
(HAMBLIN, 1992)
Observamos que nas entradas das cavernas, há muito menos
estalactites e estalagmites, mas ao subirmos nas galerias superiores, haviam
muito mais espeleotemas. Segundo relatos do grupo que foi acompanhado
pela professora Veridiana na Caverna Santana, haviam lugares onde estavam
tudo fechados pelas precipitações de estalagmites e estalactites.
13
Observação do afloramento do Basalto e Intrusão do Dique de Diabásio
Observamos o afloramento de um Basalto intemperizado, o que refutou
nossa primeira ideia, antes da observação, de que o Basalto era extremamente
resistente ao intemperismo. O processo que levou à degradação do Basalto é a
esfoliação esferoidal, popularmente conhecida como ''Acebolamento'', já que a
estética da rocha é semelhante à uma cebola.
14
Figura 6: Formação de estalactite. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013.
O professor Boggiani nos explicou que a região que visitamos está
associada à abertura do Oceano Atlântico e à separação da Gondwana e que o
Rio Bethary está depositado sobre um dique de Diabásio. O diabásio se forma
quando um magma de composição basáltica é injetado em fraturas e diacláses
nas rochas encaixantes. Ocorre geralmente em corpos rochosos consolidados
ao longo do caminho do magma que, vindo de grandes profundidades, busca
alcançar a superfície da Terra. Formam-se assim principalmente os Diques,
que são corpos tabulares verticalizados ao longo das fraturas. Tendo em vista
que um dique atravessa camadas ou corpos rochosos pré-existentes, pode-se
afirmar que ele é sempre mais recente que a rocha em que está contido.
(LEINZ, 1963).
6. Atividades DesenvolvidasAs atividades se desenvolveram
ao decorrer de 3 dias. Com início em
13 de setembro de 2013 e término em
15 de setembro de 2013 com o
acompanhamento e supervisionamento
do Professor Paulo César Boggiani e
da Professora Doutora Veridiana
Teixeira de Souza Martins.
15
Figura 7: Processo de esfoliação esferoidal no Basalto. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013
Figura 8: Rio Bethary. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013.
13 de setembro de 2013No dia 13 de setembro às 14 horas saímos do Instituto de Geociências
da USP-SP em direção à rodovia Raposo Tavares percorrendo 16,8 km até a
rodovia Régis Bittencourt. Seguimos em direção a Iporanga, mais precisamente
à Pousada da Diva, percorrendo 301,9 km.
De São Paulo à Pousada da Diva foram 322 km.
Com saída às 14 horas do dia 13, chegamos por volta das 20h30 do
mesmo dia.
14 de setembro de 2013No dia 14 as atividades se iniciaram com um café da manhã às 7 horas.
Às 8 horas partimos em um micro ônibus fornecido pela empresa
contratada (Parque Aventuras) de monitores em direção ao parque.
No parque fomos divididos em dois grupos de aproximadamente 15
pessoas, um grupo se dirigiu à caverna Santana com a Profa. Veridiana
Martins e alguns monitores e o outro grupo em direção à caverna Água Suja
com o Prof. Paulo Boggiani e os monitores Kissuco e Ditinho.
Seguimos por uma trilha de 8 km próxima às margens do rio Betari
observando a vegetação, a fauna, a flora, afloramento de alguns tipos de
rocha, e a sucessão de eventos que formaram aquela região.
Em alguns trechos tornou-se necessário prosseguirmos pelo rio Betari.
Na chegada a caverna Água Suja recebemos instruções. Durante o
percurso dentro da caverna observamos as feições do terreno e das rochas,
espeleotemas, salões e origem das estruturas geológicas ali encontradas.
Retornamos a recepção do parque por volta das 11h30 para comer e
partir para a próxima atividade.
Alguns imprevistos ocorreram na atividade seguinte: estava programado
para visitarmos a caverna Santana (Grupo do Prof. Boggiani) no período da
tarde e o grupo da Profa. Veridiana visitar a caverna Água Suja, porém devido
aos Planos de Manejo do parque não podemos visitar a Santana e o outro
grupo não pode ir para a caverna Água Suja. Devido a este imprevisto, os
planos foram mudados e seguimos para a caverna do Morro Preto e o outro
grupo para a caverna Couto.
16
Caminhamos em uma trilha íngreme por 70 metros até a entrada da
caverna do Morro Preto observando as estruturas geológicas presentes no
trajeto.
Dentro da caverna podemos observar as marcas e as evidências
geológicas que o rio deixou, as formações geológicas, os rastros deixados por
possíveis habitantes primitivos, espeleotemas, grandes desmoronamentos e
salões.
No caminho de volta nos encontramos com o outro grupo e retornamos à
recepção do parque para retornamos a pousada. No trajeto paramos no
mirante para observar a orientação das cavernas e do vale, o relevo, a
vegetação e a evolução geológica do parque.
15 de setembro de 2013Tomamos um café e às 8 horas saímos em caminhada por uma estrada
de terra em direção à caverna Alambari de Baixo, que fica localizada no Núcleo
Ouro Grosso do PETAR. Caminhamos por volta de uns 20 minutos até a trilha
que dá acesso a caverna.
Por 1,5 km percorremos a trilha até chegarmos a caverna Alambari de
Baixo onde pudemos encontrar vestígios claros da passagem do riacho
Alambari, espeleotemas e estruturas geológicas. Retornamos para a pousada,
almoçamos ao meio dia e às 14 horas voltamos para São Paulo.
Cavernas Visitadas Caverna Água Suja: está localizada no Núcleo Santana do
PETAR.
É composta essencialmente de um rio subterrâneo. É uma caverna
gigantesca com 1800 metros de desenvolvimento, mas apenas 800 metros são
turísticos. Possui uma cachoeira interna. Alguns trechos se faz necessário
prosseguir pela água.
Caverna do Morro Preto: também localizada no Núcleo Santana
do PETAR. Com uma belíssima entrada de 25 metros possui amplas galerias e
17
salões. Em dois locais apresenta desníveis superados por escadas de madeira.
Foram encontrados vestígios de que essa caverna servia de abrigo para
habitantes primitivos.
Caverna Alambari de Baixo: localizada no Núcleo Ouro Grosso,
tem esse nome por conta do rio que entra no seu interior, o rio Alambari. De
Baixo porque existem duas cavernas nesta região, a outra tem o nome de
Alambari de Cima.Na entrada da caverna existem evidências geológicas que
indicam a passagem das águas do rio Alambari em um passado muito distante.
Hoje o nível do rio baixou e a água entra por uma outra fenda à direita da
entrada da caverna.
7. Aspectos de Ensino de Geociências e Educação AmbientalO conhecimento geológico tem sido utilizado fundamentalmente pela
sociedade ao longo da história de maneira a prover as necessidades básicas
em termos de recursos minerais, exploração de materiais energéticos, na
construção de obras civis e na descoberta de novos bens minerais. O papel
das Geociências visa atender às demandas por soluções aos problemas
ambientais, voltado às áreas de risco, desertificação e mudanças globais.
Esses aspectos relacionam-se à Educação Ambiental a medida em que se faz
necessária a compreensão do papel do indivíduo perante as mudanças que
estão ocorrendo hoje no planeta e da responsabilidade diante dessas
transformações. A compreensão geológica da natureza, ainda pouco divulgada
e mantida no espaço dos especialistas, cede lugar, na sociedade, às leituras
fragmentárias e não-históricas da natureza.
No caminho para o parque, pode-se perceber mudança no relevo e nas
paisagens ocasionadas por ações antrópicas (escorregamentos e erosões
continentais), em virtude de diversas ações, como o desmatamento e a
monocultura de eucalipto e bananas.
Ainda que certas práticas possam causar impactos ambientais à região,
a proibição de tais ações é algo que deve ser tratado com cautela, pois não se
deve considerar somente o fator ambiental, mas também, levar em conta a
situação dos habitantes. Por esta razão, é importante efetuar um levantamento
sociocultural que inclua as necessidades (infraestrutura) da população da
18
cidade, bem como sua posição em relação ao PETAR. Com isso, o parque
obtêm maiores informações e consequentemente pode desenvolver, junto à
comunidade local, programas voltados à Educação Ambiental.
Deve-se, portanto, educar a comunidade, apresentando a importância de
práticas sustentáveis, bem como, os benefícios que a conservação desta área
pode trazer aos habitantes, pois estes, em boa parte, acreditam que o parque
tem como finalidade, apenas, tirar suas terras e impedir seus meios de
sobrevivência, quando, na realidade, é possível integrar sua cultura e seus
hábitos ao parque, de maneira sustentável.
8. Sugestão de AtividadeCom o advento da tecnologia e a proliferação do consumo, muitas
vezes, as noções de ética e cidadania são deixadas para trás. Tendo em vista
que as crianças são os principais agentes transformadores do que está por vir,
cabe a nós, futuros educadores, incentivá-las e dá-las artifícios para que o
comportamento e a mentalidade sejam modificadas.
O Ecoturismo é uma forma de abrir os olhos da sociedade para o
patrimônio natural, e desencadear novas reflexões acerca da preservação,
tendo em vista que as paisagens causam um enorme encantamento por forma
de seus visitantes, e isso não ocorre somente no Petar, mas em diversos
outros pontos de preservação visitados por pessoas diariamente.
Tendo em vista que muitos locais explorados pelo ecoturismo não são
de fácil acesso à estudantes do Ensino Fundamental, seja por questões
financeiras ou por qualquer outra impossibilidade, nosso grupo projetou uma
atividade de pesquisa para estudantes do Ensino Fundamental 2,
precisamente, alunos de quinto ao nono ano.
O projeto consiste na pesquisa dos alunos (por meio de vídeos, sites e
livros) de lugares explorados pelo ecoturismo, como é o caso do PETAR. Para
representar tais descobertas, os alunos poderão montar cartazes e
apresentações no Power Point, que poderão ser exibidas em sala de aula e até
mesmo em feiras culturais, com ilustrações e informações sobre os locais
descobertos, atentando-se principalmente à sua preservação ambiental.
Tal projeto objetiva incentivar os alunos à pesquisarem mais sobre os
patrimônios da natureza, divulgando-os em casa e com os conhecidos. Assim,
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é gerada uma maior comoção e conscientização, e até mesmo um interesse
por parte dos que participam do projeto.
9. ConclusãoConsideramos que se faz muito importante a complementação da
formação com aulas de campo, pois essa metodologia proporciona uma
experiência relacionada à observação, indagação, reflexão e investigação do
contexto histórico, geológico e dinâmico. Com a visita ao PETAR podemos
desenvolver a visão sistêmica, integrando os conteúdos de forma
interdisciplinar.
Essa saída de campo nos leva a uma observação do meio físico, como
tipos de rocha, escorregamentos, relevos cársticos, espeleologia, dentre outros
abordados, junto com os aspectos biológicos, relacionado à Mata Atlântica,
área de mananciais, fauna e os aspectos históricos, como a ocupação do Vale
do Ribeira.
Essa atividade nos leva a pensar em muitos aspectos: ambientais,
geológicos, históricos, sociais, políticos e econômicos, os quais podem ser e
são abordados nas diversas disciplinas durante a graduação em Geociências e
Educação Ambiental.
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