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RELATÓRIO FINALTEMA 2
INDÚSTRIAS CRIATIVAS E DE CONTEÚDOS DIGITAIS
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO: Os primeiros efeitos da digitalização nas indústrias criativas e de conteúdos digitais Coordenação: Prof. Dr. Alexandre S. Kieling O presente trabalho consiste no relatório de pesquisa do grupo que estuda as indústrias criativas e de conteúdos digitais no âmbito de um estudo maior proposto pelo IPEA – Instituto de Pesquisas Aplicadas – que busca desenvolver um panorama das telecomunicações e das comunicações no Brasil. A pesquisa abriga-se no grupo de investigação e desenvolvimento de conteúdos digitais transmidiáticos e interativos da UCB – Universidade Católica de Brasília sob a coordenação do prof. Dr. Alexandre S. Kieling. Nesse trabalho, especificamente desenvolvido para o IPEA, ocuparam-se, além do coordenador, os pesquisadores Prof. Ms. André Luis Carvalho, Ms Elias Suaidem. Colaboraram os bolsistas de IC Leonardo Coelho, Felipe Todeschini e Rafael Homero e os estudantes de jornalismo Bruna Caroli, Gabrielle Santelli Guilherme Carvalho e Mariana Cordeiro.
Os primeiros efeitos da digitalização nas indústrias criativas e de conteúdos digitais.1
1. Introdução: Contexto e considerações iniciais
No início do novo milênio, do novo século, há coisa de 10 anos, a banda larga não
fazia parte da vida do brasileiro. Pouco ou nada se sabia sobre tecnologias como 3G, Wi-
Fi. Nem pensar sobre dispositivos de recepção móvel tais como os smartphone, ainda mais
o iPhone, o iPad. Redes sociais e aplicativos de relacionamento, comunicação e publicação
(YouTube, Skype, MSN) soavam como ficção científica. O que dizer das TVs de tela
plana, da TV digital, da interatividade, da convergência, de um cotidiano de múltiplas
telas? No espaço de uma década o Brasil e os brasileiros passaram por uma avalanche de
transformações da tecnologia, dos serviços e das possibilidades de acesso aos conteúdos
midiáticos.
Como resultado, atualmente, vive-se, no país, um período de transição que vem
substituindo, de forma gradual, a produção e distribuição de conteúdos antes realizada por
meios analógicos pela agora desenvolvida em meios digitais. Um fenômeno que, por sua
vez, impacta nas lógicas de consumo e, naturalmente, na produção de sentido tanto na
dinâmica midiática quanto na social. Diante de uma perspectiva de convergência, desses
meios tecnológicos de comunicação, por meio da digitalização, principia-se um processo
que redimensiona as relações entre emissor e receptor. Trata-se de uma nova dinâmica
transversal às outras e que vem convidando aos pesquisadores e profissionais de mercado à
reflexão sobre os modelos comunicacionais e, sobretudo, sobre os sistemas de produção,
circulação e consumo, tais quais são compreendidos e ensinados ao longo do uso das
tecnologias analógicas.
A possibilidade de migrar da tinta e do papel, da película, das ondas hertzianas, do
fio de cobre para aparatos digitais móveis não redimensiona somente os sistemas de
1Alexandre Kieling – Doutor em Comunicação e professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Católica de Brasília, e-mail [email protected]; André Carvalho – Mestre em Comunicação e diretor do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília, e-mail [email protected] Elias Suaidem – Mestre em Comunicação e pesquisador , e-mail [email protected]. Colaboraram com a pesquisa os bolsistas de IC Leonardo Coelho, Felipe Todeschini e Rafael Homero e os estudantes de jornalismo da UCB Bruna Caroli, Gabrielle Santelli Guilherme Carvalho e Mariana Cordeiro. .
produção dos conteúdos e as formas de expressão cultural e criativa. Não se trata apenas de
novas maneiras de fazer, publicar, divulgar. Há movimentos mais agudos que aqueles que
se operam no âmbito da tecnologia, do suporte, ou das reconfigurações das dinâmicas e dos
processos no campo econômico. O que a sociedade está vivenciando, em diferentes níveis,
sinaliza importantes impactos que, embora incluam tensões nas lógicas de mercado, nas
hierarquias de controle e produção, igualmente desalojam paradigmas sociais, culturais,
econômicos, políticos e, inclusive, tecnológicos. Emergem novas definições de indústria,
de sociabilidades, de produção da cultura e atuação política.
Verificam-se assim novas articulações conceituais. A noção de consumidor ou
usuário e, até mesmo de audiência articulada a partir da ideia de massa, de passividade, de
manipulação, que começou a esmaecer com os primeiros resultados dos estudos culturais
(anos 80 e 90), cambaleou com a rápida evolução da Internet, agora incorpora nova
perspectiva. Com a digitalização do jornal, do cinema, da TV e do rádio, associada ao
surgimento de outras tecnologias, como os computadores, os celulares, os receptores
móveis e os videojogos em rede, todos com suportes de recepção multifuncionais,
multimídia, convergentes e interativos, a audiência deixa de somente receber ou comprar
conteúdos, deixa de ser apenas consumidora ou usuária, reestruturando a bi-
dimensionalidade do processo comunicativo (CASTRO, 2008). As audiências passam a
dispor de instrumentos de intervenção no processo de produção, distribuição e consumo
que vão bem além do feedback, das mediações em grupos sociais ou da manifestação nas
pesquisas quantitativas e qualitativas.
A formação das redes e comunidades na Internet, o e-mail, os sítios de
relacionamento, as alternativas de aparatos de recepção, a mobilidade, a convergência e os
mecanismos de interatividade e interação forjaram outras formas de atuação deste ator
econômico, social, cultural e político. Graças a esses meios ele pode escolher quando, onde
e como consumir, interpretar, interagir com os conteúdos. Ele pode redistribuir, expandir e
até alterar esses textos digitais. E mais, pode contestar e também produzir e publicar de
maneira independente, coletiva ou colaborativa. Tais processos podem acontecer dentro ou
fora dos sistemas formais.
Trata-se da constituição do perfil que Burns (2008) define como producers, o
consumidor e usuário que institui na cadeia de produção a produsage, ou o processo que
mistura, intercala ou simplesmente contempla a ideia de produção e uso a partir daquele
antes classificado apenas como consumidor. Essa autonomia dilui o consumo massivo e
estimula a formação de nichos, de grupos que na cadeia econômica permitem a
diversificação e promovem um efeito “cauda longa”, como qualifica Anderson (2007) ao
defender as características desta “nova economia”, assegurando comercialização continua e
lucros importantes, considerando que os produtos destinados a segmentos específicos são
mais caros.
Do ponto de vista cultural, esse momento de transformação do mundo analógico
para o digital anima a produção independente e diversifica as maneiras de divulgação e
acesso à essas formas de expressão, introduzindo novos atores que passam a conviver ao
lado dos chamados majors (grandes operadores do sistema). Burns (2008) destaca o
exemplo do You Tube, canal de publicação e exibição onde boa parte das produções
independentes convive com a produção das grandes produtoras. Na esfera política a
possibilidade de acesso e a inclusão digital conferem aos segmentos social e
economicamente marginalizados um estatuto de cidadania (CASTRO, 2008). Esse viés foi
que animou Castro a incorporar ao entendimento sobre Indústrias Criativas a noção de
Conteúdos Digitas, compreendendo que a perspectiva de transformação de conteúdos
culturais e de expressão em produtos e ativos econômicos, com a digitalização, incorpora a
ideia de promoção e de tangibilidade dos ativos sociais.
Não devem ser esquecidas as contribuições das pesquisas dos estudos culturais que,
a seu turno, já vem tensionando há tempos (ainda no âmbito das noções de indústria
cultural e em contraposição a escola crítica) o paradigma marxista da metáfora espacial no
qual a sociedade se divide entre a dinâmica econômica de produção e a dinâmica política
de dominação. A ideia de estrutura, como destaca Althusser (1991, p.60) em “níveis” ou
“instâncias” no qual a infraestrutura (base econômica) resulta da atuação de forças
produtivas e das duas relações de produção e a superestrutura que compreende a
instância institucional jurídico-política (que inclui o direito e o Estado) e a instância
ideológica (religiosa, moral, jurídica, política), resta insuficiente para dar conta das novas
dinâmicas e operações sociais mediadas pelos meios e tecnologias de comunicação.
Seguramente, a noção de recepção-consumo percebida como lugar de construção de
significado e não como submissão à lógica econômica é a principal delas. Canclini (1992)
na obra “Os estudos sobre comunicação e consumo” propõe modelos para análise do
consumo como espaço para contemplar as análises do ponto de vista do capital, do
indivíduo e da cultura. Na visão do autor (1992, p.9) o consumo pode ser lugar de
reprodução da força de trabalho e expansão do capital, mas também o lugar onde as classes
e os grupos competiriam pela apropriação da produção social, seria espaço de
diferenciação (social) e distinção (simbólica) entre os grupos, funcionaria como sistema de
integração e comunicação, seria cenário de objetivação de desejos e, por fim, configuraria
um processo ritual na medida em que ao selecionar, comprar e usar o consumidor estaria
contribuindo para constituir um universo inteligível com os bens que elege.
Como sabido, os Estudos Culturais apropriam-se do sentido de hegemonia de
Gramsci (1920) que seria um tipo de domínio exercido por grupo social (um sobre outro)
que não se impõe pela força, mas com base no consenso. Esse aporte dos estudos culturais
apresenta-se, sobretudo, como possibilidade de resistência do indivíduo diante do desejo de
dominação presente ou expresso nos conteúdos difundidos pelos meios de comunicação.
Acrescente-se também a dimensão do receptor-consumidor, como visto, no estatuto de
produtor no qual, além da sua ação de consumo, pode carregar seus valores simbólicos
individuais (sociais, culturais) e também interagir na ambiência mediática como autor.
Deste modo, não parece suficiente mapear esse segmento unicamente pelos vieses
tecnológicos e econômicos que dão conta das dinâmicas dos sistemas fechados de função
social que, por sua vez, regem as lógicas de operação do sistema o midiático, no sentido
atribuído por Luhmann (2006). É preciso compreendê-lo, mais do que antes, pelo conteúdo
que produz, por sua vez, regido também pelas lógicas de sistema aberto que contemplam
os processos de significação e interpretação, e permitem perceber apropriações e usos.
Nessa conjunção mostra-se pertinente observar o setor pelas novas dinâmicas que ele opera
nessas configurações de ambiências midiáticas, e que constituem uma midiosfera onde se
processam diferentes lógicas de produção, circulação, consumo e atuação (KIELING,
2009)2.
Torna-se primordial conhecer como os realizadores e as mídias, enquanto
organizações e seus processos produtivos estão conseguindo trabalhar esse conteúdo na
migração de um suporte de distribuição para outro, especialmente do ponto de vista das
construções narrativas, e quais estratégias têm mobilizado para administrar uma
independência, cada vez maior, por parte de quem consome esse conteúdo. Verifica-se
assim uma reconfiguração de toda a economia e das relações de produção, circulação e
consumo dessas indústrias.
Trata-se de um robusto desafio, de horizonte largo e complexidade extrema que
exige uma abordagem distinta, gradual e em etapas, de curto, médio e longo prazo.
2 Ver tese de doutorado onde foi descrita e analisada essa esfera de produção, publicação e consumo em que o produtor e receptor compartilham textos, constroem discursos, portanto geram sentidos que articulam bens simbólicos de maneira mais interativa e colaborativa. Nessa ambiência de convergência das mídias, chamada de Midiosfera, há uma circulação de conteúdo por meio da qual o consumidor é mais ativo. KIELING, A.S.. Televisão: a presença do telespectador na configuração discursiva da interatividade no programa “Fantástico”. São Leopoldo, tese de doutorado na Unisinos, 2009.
Inicialmente, e numa etapa de curto prazo, é preciso, por meio de indicadores de
performance, obedecendo a lógica do mapeamento possível, aproximar-se ao máximo do
desempenho econômico, de produção, distribuição e consumo. A partir dele, inferir quais
dinâmicas e operações se apresentam no âmbito dos sistemas fechados. Num segundo
momento, em médio prazo, é necessário dimensionar as reconfigurações de processos de
produção a partir dos conteúdos e das ações dos atores nele envolvidos na perspectiva dos
sistemas abertos3. Adiante, num acompanhamento de mais longo prazo, averiguar o
conjunto dessas dinâmicas, descrevendo e analisando seus deslocamentos e
reconfigurações.
É fato a impossibilidade de um corte absoluto que assegure uma visão total dessa
temática, mas como lembra Martino (2010) os estudos empíricos requerem uma
“materialização” do processo comunicacional. Nessa linha, a mudança do processo
analógico para o digital demanda uma abordagem mais complexa, com aportes da
economia política (que nos insere no recorte econômico do produtor-receptor entendidos
como uma relação produtor-consumidor ou no recorte político da relação governo-
cidadão), dos estudos culturais (o valor cultural e a visão do receptor com interagente) e
também semiótico-discursivos (não especificamente no conteúdo dos textos veiculados,
mas na produção de sentido que resulta das escolhas tecnológicas, dos processos
produtivos que implicam em estratégias e ações).
Sem a transversalidade de referências teóricas e metodológicas, a compreensão do
fenômeno da digitalização das mídias oferecerá uma importante redução de olhar. Assim, a
presente pesquisa deve ser percebida a partir dos seus limites. Todavia, embora busque dar
conta da primeira etapa, se esforça por contemplar, ao menos, uma primeira aproximação
entre a economia política e os estudos culturais.
O propósito da investigação patrocinada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) almeja uma leitura das tendências do novo século a partir do percurso
percorrido nesses primeiros 10 anos do século XXI (2000/2010). Propõe um esforço na
produção de “análise do desenvolvimento e perspectivas das Indústrias Criativas e de
Conteúdos Digitais, dos serviços ocupacionais e do terceiro setor no campo da
comunicação” 4 a partir da qual seja possível projetar as perspectivas para a próxima
3 A ideia de sistema aberto se abriga na ideia de estruturas dissipativas de Prigogine (1990), que são fenômenos de promoção da ordem longe do ambiente de equilíbrio do sistema, que se dão na presença de fluxos exteriores, portanto numa dinâmica que não obedece a uma determinação. É essa dinâmica que possibilita a ligação, a interação entre os sistemas sociais e, em consequência, sua permanente evolução. É o caso dos sistemas de significação. 4 Como determina a chamada pública Panorama da Comunicação no Brasil: PBC 2010 – A transição das Indústrias Criativas e dos Conteúdos eletrônicos dos modelos analógicos de produção para o modelo digital.
década, nos setores de mídia impressa e virtual (jornal, revista e livro), mídia sonora (rádio,
disco e telefone), mídia audiovisual (cinema, televisão e videojogos), multimídia (Internet,
e convergência de mídias)5.
Nesse sentido, recorre-se à ideia de panorama6, que demanda um mapeamento
capaz de assegurar uma visão geral e horizontal de determinado objeto, com o propósito de
oferecer um cenário ao observador a partir do qual seja possível a leitura global do
fenômeno. Trata-se, portanto, de uma pesquisa empírica de natureza exploratória que
apresenta aqui um relatório com base nos dados disponíveis de fontes primárias e,
sobretudo, secundárias que oferecem num recorte do desempenho dessa indústria com
vistas a um diagnóstico a partir de um levantamento de dados e uma coleta de leituras
disponíveis.
1.1. Referências conceituais
O atual curso da transição entre o sistema analógico e o digital, como dito, é apenas
uma parte de um processo de transformação que envolve muito mais que as escolhas
tecnológicas ou a constituição de novos modelos de negócios. Trata-se de um fenômeno
com repercussão equivalente ao que instituiu as sociedades industriais midiáticas, como
destaca o pensador latino americano Eliseo Verón (2004),7 observadas no século XIX, com
o progresso da imprensa escrita e o posterior surgimento do rádio e TV (século XX). Ou na
constituição da sociedade midiatizada, conforme Muniz Sodré,8 com a evolução das mídias
eletrônicas incrementadas no pós-guerra.
Sem esquecer que ao longo da consolidação da sociedade industrial, os veículos de
comunicação foram se transformando em empresas de comunicação: os jornais, por
exemplo, gradualmente abandonaram a forma de realização artesanal e adotaram sistemas
profissionais mais complexos de organização. O conteúdo, impressão e distribuição dos
impressos passaram a ser estruturados num sistema de produção. O que se convencionou
chamar de imprensa inicia este processo de transição ainda no século XIX com um
exponencial crescimento da comercialização que vem a se consolidar no século XX.
Seguindo o entendimento de Luhmann (2005), constitui-se fortemente aí uma dinâmica
5 O Cenário da digitalização ainda implica em outras mídias como aparatos móveis e novos suportes. 6 A palavra panorama, que vem do Grego e da combinação dos termos παν (pan), que significa "total", e ὅραµα (órama), que significa "vista", sugere o desenho de um quadro a partir do qual seja possivel ao observador ter uma vista geral. 7 VERÓN, Eliseo. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: Unisinos, 2004. 8SODRÉ, Muniz. Eticidade, campo comunicacional e midiatização. In: MORAES, Dênis de (Org.). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. p. 19-31. p. 20-21.
externa que vai incidindo sobre o sistema de comunicação uma lógica de sistema fechado
autorreferente e com dispositivos de autoproteção9.
Inicialmente, o sistema midiático apropriou-se da lógica iluminista de emancipação
pela razão, pela ciência, pelo conhecimento que, conduzida pelo viés tecnicista, disparou
um processo de descoberta tecnológica, passando a instrumentalizar a distribuição dos
conteúdos produzidos no âmbito dos veículos de comunicação. Mais adiante, justifica essa
escalada em nome de um ideal de liberdade e democracia que, a seu turno, vai subsidiar o
discurso de defesa da mídia não mais como meio de expressão do pensamento e de
transmissão de informação, mas como meio de promoção da informação à luz de um
pressuposto de objetividade (conceito que surge entre os anos 20 e 30 do século XX) e de
distanciamento crítico. Desta maneira, promoveu-se um esforço de separação entre fatos e
opiniões e de constituição do paradigma de notícia como informação (TRAQUINA, 2003).
Recorde-se que paralelamente a esse movimento (séculos XIX e XX) ocorre o
processo de comercialização da mídia e profissionalização dos seus agentes. Rapidamente,
esse sentido incorporou-se à produção de entretenimento, e a mídia de massa invocou a si o
status de promotora da cultura, configurando-se, assim, um sistema industrial. Um novo
paradigma, como pontuou Traquina (2003), que viria a substituir o conteúdo engajado,
ideologizado, por um conteúdo de ethos profissional, marchando na direção do conteúdo
como produto e, portanto, como resultado econômico.
Dominique Wolton (1990) entende que a mídia, sobretudo aquela massiva, como
instituições de responsabilidade democrática e de promoção da cultura de massa em
oposição às elites culturais. Todavia, para o sociólogo francês, essa dimensão da
comunicação não se ocuparia apenas da conciliação entre os indivíduos ou da promoção do
coletivo, mas, sobretudo, pela gestão das diferenças, da alteridade. O autor postula que a
comunicação não deve ser compreendida apenas a partir das lógicas da tecnologia
(performance), da economia (um mercado em plena expansão), mas também a partir do seu
valor no patrimônio cultural. Ou seja, seria indissociável pensar o normativo e o funcional
no âmbito de suas contradições e seu paradoxo. É a partir dessas perspectivas o presente
trabalho pretende se nortear.
9 Luhmann entende os meios de comunicação como um sistema fechado, autofortificados (que se protegem do ambiente externo), autorreferentes (autonomia e organização interna, uma autopoiésis interna) e heterorreferentes (sua relação com o ambiente externo se daria por um acoplamento estrutural).
1.2. O método de mapeamento e os indicadores
O percurso adotado com fins de alcançar os objetivos empíricos propostos nesta
investigação das “Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais”, com vistas à “análise do
desenvolvimento, na primeira década do novo século, e perspectivas para a próxima
década, nos setores de mídia impressa e virtual, mídia sonora, mídia audiovisual e
multimídia”, foi de construir um primeiro panorama a partir dos dados já disponíveis.
Acredita-se apropriado resgatar que a pesquisa exploratória “visa gerar informação sobre
certa realidade” (MARTINO, p.149, 2010) e por essa razão a perspectiva teórica tende a
ser mínima. Cumpre-se nessa natureza de investigação um esforço para oferecer elementos
a uma fase posterior de estudos de cunho mais teóricos, embora, como informado, parta de
algumas premissas teóricas que referenciam o olhar.
Ainda assim, como já destacado, arriscaremos um avanço na direção de uma fase
explicativa na qual, além de registrar e analisar os fenômenos ou variáveis apresentadas na
fase exploratória, buscam-se inferir, bem a priori, algumas causas e tendências.
Notadamente, é oportuno relembrar que essa etapa não contará com base qualitativa que
assegure uma interpretação em todos os níveis. Mesmo assim, articula-se uma proposta de
método experimental que contemple preceitos da Economia Política da Comunicação.
Caso das perspectivas da economia de produção, circulação e consumo percebendo a
dinâmica do negócio na relação produtor/consumidor. E, em parte, a busca por elementos
de uma visada política na relação governo/cidadão. Mas, acolhe-se também a perspectiva
dos Estudos Culturais que concebem uma atuação protagonista do receptor diante da
dinâmica de consumo dos Meios de Comunicação de Massa (MCM). Como mencionado,
dada a opção pelas informações documentais já existentes, não se pretendeu uma coleta
que resulte de um estudo de campo de recepção. O interesse é contemplar a presença do
leitor, do ouvinte, do espectador, do telespectador, do internauta na dimensão interagente
no espaço da midiosfera.
Desta maneira, partiu-se das informações coletadas pelas agências reguladoras,
pelas organizações de classe dos respectivos segmentos e por organizações de
monitoramento prestadoras de serviço ou independentes10. Todo esforço foi no sentido de
10 ANJ – Associação Nacional de Jornais - Link: http://www.anj.org.br/. ABRE – Associação Brasileira de Representantes de Veículos de Comunicação – Fonte: http://www.abre.inf.br/associacao.asp ADJORI/SC – Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina – Fonte: http://www.adjorisc.com.br/ ADJORI/RS – Associação dos jornais, profissionais e veículos de comunicação do Rio Grande do Sul - http://www.adjori-rs.com.br/site/
resgatar essa base documental em busca de dados que contemplassem as performances de
produção, circulação e consumo de 2000 a 2010, tendo como corpus analítico relatórios,
gráficos e rankings presentes nos levantamentos publicados ou fornecidos via e-mail pelos
setores de monitoramento das instituições referidas. Todavia, pelas características
conservadoras de gestão e, em razão do acompanhamento mais refinado do desempenho da
maioria dessas indústrias ser recente, nem todos os seguimentos estão com os dados
disponíveis de todo o período estudado. No que se refere à perspectiva de atuação e
interação do sujeito receptor haverá uma abordagem descritivo-analítica com base nos
mesmos indicadores de consumo tomando com referência na ideia de grupo (consenso) e
indivíduo (a escolha). Quantos aos efeitos da digitalização, recorre-se às estratégias,
experimentos, estudos de tendências adotados e/ou executados pela indústria midiática
nesse momento de transição e aos quais o acesso foi possível. A averiguação pautou seus
indicadores da seguinte maneira:
a) de produção, com base nos números de títulos, agentes ou estruturas produtoras;
b) de distribuição, com base na infraestrutura de entrega dos conteúdos em cada
segmento;
c) de consumo, com base na circulação, audiência e faturamento;
d) de atuação da instância de recepção, com descrição e análise à luz dos dados de
consumo e audiência disponíveis;
e) de efeitos da digitalização com base nos primeiros movimentos dos agentes
econômicos ou comunicacionais e do mercado (numa perspectiva geral) obtidos
mediante monitoramento de experiências on-line ou de acesso aos estudos e/ou
dados divulgados pelas organizações.
Desta maneira, os setores de mídia impressa e virtual, mídia sonora, mídia
audiovisual, multimídia, como já informado, serão observados tomando como base os
indicadores de quantidade e infraestrutura de produção, de circulação e das bases que
mensuram leitores, ouvintes, telespectadores e usuários.
Os dados foram confrontados e comparados, como poderá ser observado no
decorrer do texto. Em muitos casos, como já dito, as informações disponíveis são parciais.
Percebe-se que havia pouca preocupação por parte desses segmentos - como se pode
ADI/Brasil – Associação dos Diários do Interior – Fonte: http://www.adibr.com.br/ Mídia dados – Grupo de mídia São Paulo – Fonte: http://www.gm.org.br/ IVC – Índice Verificador de Circulação – Fonte: http://www.ivc.org.br/ Projeto Inter-Meios – Fonte: http://www.projetointermeios.com.br/ JOVE – Jovedata – preços de mídia – Fonte: http://www.jovedata.com.br/indexn.htm
observar, nitidamente, por exemplo, com os dados disponíveis sobre radiodifusão e
audiovisual no Brasil – com a cultura de socialização pública dos seus indicadores. Assim,
algumas referências se restringem aos últimos anos dessa década ou são dados dos dois
últimos anos. Já os segmentos emergentes, como os videojogos e conteúdo para celular,
ainda não dispõem de um acompanhamento sistemático de indicadores.
Inicialmente são confrontados dois quadros gerais de conhecimento público. O
primeiro é o quadro de penetrabilidade das tecnologias de informação e comunicação da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE de 2009. O segundo é o
quadro de desempenho das Indústrias Criativas do Programa Inter-meios, da publicação
especializada em mercado publicitário Meio & Mensagem de 2010. No momento seguinte
são reunidos e analisados os dados por segmento, disponíveis, especialmente, nas fontes
primárias como as Agências Reguladoras e as organizações de classe e/ou em fontes
secundárias e terciárias de grupos especializados que acompanham o setor. Vale ressaltar
que o presente documento trata-se de um relatório no qual se busca apontar alguns desafios
e tendência na passagem do mundo analógico para o digital.
1.3. Cenário geral das Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
O cenário de digitalização das mídias tende a diluir os sistemas e processos
hierarquizados e verticais, característico dos meios analógicos. A diversidade de suportes
de produção, distribuição e consumo digitais oferece uma autonomia de escolha para a
instância de recepção que tem provocado alvoroço em toda a cadeia das indústrias de
criativas e de conteúdos. A principal preocupação é com a acomodação dos atuais e dos
novos agentes especialmente diante da perspectiva de diluição das audiências e
fragmentação do consumo. Nesse sentido, o mercado ainda processa as leituras possíveis
de dois quadros de indicadores divulgados em 2010 e que servem de arrancada para o
confronto de dados sobre o desempenho da indústria na primeira década do século XXI.
Como antecipamos, o primeiro instrumento encontra-se no resultado do
levantamento da PNAD 2009 que se orientou por mensurar a curva de evolução de cada
mídia (2001 a 2009) no que se refere à penetrabilidade das tecnologias de informação e
comunicação junto à população brasileira. Os indicadores apresentados no gráfico e tabela
abaixo (desenvolvidos pela equipe da PNAD), a primeira vista, confirmam algumas
previsões dos “futurólogos” do setor, mas ao mesmo tempo desestabilizam outras certezas.
Inicialmente, é possível inferir que três das tecnologias digitais emergentes, o
computador, a Internet e o telefone (especialmente móvel), apresentam uma curva de
evolução a cada ano mais ascendente. A variação de domicílios com computador
(considerando um universo médio investigado de aproximadamente 50 milhões de
domicílios) saltou de 12,6% para 34,7%. Não menos impactante é a conectividade. O
número de lares conectados à Internet cresceu de 8,6%, em 2001, para 27,4% em 2009. A
maior ascensão foi do telefone (particularmente o móvel) presente em 84,3% das
residências consultadas. Vários fatores são arrolados para justificar esse movimento, tais
como redução de preço (simplificação e escala dos aparatos tecnológicos) e mobilidade
social (aumento do poder aquisitivo das classes D e E). O fato é que o brasileiro está, a
cada dia, naturalmente dependendo das bases de uma economia ativa, mais próximo dos
meios digitais.
Se pensarmos nos períodos de cinco anos 2001-2005 e 2005-2009, o percentual de
crescimento do acesso ao “telefone” (fixo e móvel) manteve-se estável, 12,7% em cada um
deles. Já o “microcomputador” passou de 6% (de 2001 a 2005) para 16,1% (de 2005 a
2009), uma aceleração considerável. O “microcomputador” com acesso à Internet foi de
5,1% (de 2001 a 2005) para 13,7% (de 2005 a 2009).
No âmbito dos meios eletrônicos de massa, uma vez que a digitalização da TV está
em curso e do Rádio engatinha, os indicadores respondem ainda pelo legado analógico. E
nesse caso, não deixa de surpreender tanto a estabilidade do Rádio quanto o permanente
crescimento da TV. Por tudo que já se disse e prognosticou sobre a avalanche do
computador conectado à Internet como meio do futuro, a performance dos meios de
radiodifusão já deveria sinalizar uma desaceleração. Todavia os números, especialmente no
caso da TV (95,7%, em 2009), mostram que a radiodifusão permanece, ao menos, por
enquanto, como mídia de maior penetração entre as Tecnologias de Informação e
Comunicação.
Na evolução apurada pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio observa-se
que mesmo que a curva do rádio registre uma oscilação, manteve-se estável, presente em
cerca de 88% dos lares. Ou seja, apesar dos Podcasts, rádios web e outros formatos de som
digital, apesar da aceleração no acesso da população à Internet e ao telefone móvel, que
também oferecem conteúdo sonoro digital e segmentado, a manutenção da penetrabilidade
dessa mídia analógica, em parte, é uma singularidade. Sobretudo, quando se fala em
transição de plataformas tecnológicas. Os dados mostram um desejo de acesso ao mundo
digital paralelo à manutenção de seguras rotinas consolidadas no mundo analógico. Trata-
se de uma mudança que envolve hábitos culturais e domínio técnico dos novos suportes
por parte da instância de recepção. A migração para o digital, além da infraestrutura, da
capacidade de compra, exige aprendizado tecnológico.
Gráfico 1 – Levantamento da PNAD sobre penetração das TICs Domicílios Brasileiros (%) com Rádio, TV, Telefone, Microcomputador e Micro com Acesso à Internet
http://www.teleco.com.br/pnad.asp - acesso em 12/10/2010
Observe-se, por outro lado, que essa movimentação entre mídias analógicas e
digitais, considerando-se o processo de digitalização da radiodifusão, aponta na direção da
convergência de meios. O mundo da convergência parece sugerir a efetivação da teoria da
terceira onda, de Alvin Toffler (1981), de que os dispositivos tecnológicos midiáticos
promoveriam um movimento inverso à massificação e à padronização produzidas pela
revolução industrial (segunda onda). Na visão de Toffler, a portabilidade e o custo dos
novos dispositivos contribuíram para que cada um pudesse exprimir-se no espaço público
das mídias audiovisuais. Seria a desmassificação numa perspectiva de “selft média”, em
que se assistiria a uma maior participação do cidadão, graças à possibilidade de escolha e
de acesso aos meios de expressão criativa e cultural. Pensa-se numa ruptura com o
monopólio editorial dos meios de comunicação social.
Essa demanda de consumo da população brasileira pelas tecnologias de informação
e comunicação, por exemplo, vem ajudando a impulsionar um novo serviço chamado de
triple play, que reúne serviços de televisão, telefone e internet. Uma modalidade que está
ajudando a alavancar uma reação da TV por assinatura como veremos mais adiante. Se
verificarmos o universo monitorado pela PNAD, vamos perceber que ele abrange mais de
58 milhões de domicílios e, portanto, da conta de um espectro de mercado consumidor
significativo para qualquer indústria.
Observe-se, em uma primeira inferição que, em 2004, com a inclusão da área rural
de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá na PNAD, especificamente a
evolução do “microcomputador com acesso à Internet” apresenta o seu menor índice de
crescimento de um ano para outro em toda a tabela: 0,7% (de 2003 para 2004). Nos demais
períodos, o percentual é sempre superior a 1,2 %. O que pode nos sinalizar uma possível
dificuldade de acesso à Rede na referida região, à época, que por sua vez acaba impactando
sobre o avanço do índice nacional apresentado ao longo dos outros anos. Já em relação
apenas ao “microcomputador”, não se detecta uma queda significativa.
Tabela 1 – PNAD Domicílios
Nota: Até 2003, não inclui a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.12
O que naturalmente inquieta os agentes econômicos do setor, nesse período de
transição, é a acomodação do mercado e a curva de faturamento com publicidade (venda
de espaço comercial), principal fonte da sustentabilidade das mídias: ao longo dos últimos
cinco anos, conforme expõe a tabela (2005 a 2010), há uma movimentação, na maioria dos
meios, bastante semelhante àquela verificada na PNAD. Observe-se agora o segundo
quadro referência (tabela 2), que é o monitoramento do Projeto Inter-meios, do Jornal
Meio&Mensagem. O trabalho, que começou nos anos 90, tem a adesão de 350 fontes, entre
veículos e grupos de comunicação, que informam mês a mês seus resultados com
11 Projeção Grupo de Mídia 12 http://www.teleco.com.br/pnad.asp acesso em 12/10/2010 Atualização http://www.teleco.com.br/pnad.asp acesso em 05/05/2011
Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 201011
Rádio 88,0% 87,9% 87,8% 87,8% 88,0% 87,9% 88,1% 88,9% 87,9% 91,4%
Televisão 89,0% 90,0% 90,1% 90,3% 91,4% 93,0% 94,5% 95,1% 95,7% 94,7%
Telefone
(Fixo ou Celular) 58,9% 61,7% 62,0% 65,4% 71,6% 74,5% 77,0% 82,1% 84,30% -
Microcomputador 12,6% 14,2% 15,3% 16,3% 18,6% 22,1% 26,6% 31,2% 34,7% -
Microcomputador
com acesso à
Internet
8,60% 10,3% 11,5% 12,2% 13,7% 16,9% 20,2% 23,8% 27,4% -
Total de Domicílios
(milhares) 46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577 -
investimento publicitário. A tabulação compreende o total nacional, a distribuição regional
e por tipo de mídia. Os meios acompanhados são TV aberta e fechada, rádio, jornal,
revista, cinema, guias e listas, mídia exterior (outdoor, painel, mobiliário urbano, digital
out of home e móvel) e internet.
O trabalho do Inter-meios (tabela 2 e 3) confirma a curva promissora dos meios
digitais. A Internet mais que triplicou suas cifras (de 265,6 milhões em 2006, para mais de
950 milhões de reais em 2009) dobrou seu percentual de participação no mercado dos
investimentos publicitários (de 2,07% em 2006, para 4,27% em 2009) e se aproximou da
receita do rádio (986 milhões de reais). Entre 2009 e 2010, na comparação entre as duas
mídias, a Internet (1,2 bilhão de R$) já ultrapassa a receita do rádio em publicidade (1,0
bilhão de R$). Ou seja, a jovem mídia em rede, que existe há pouco mais de 20 anos,
chegou ao seu primeiro bilhão junto com o mesmo feito de arrecadação histórico do ancião
rádio que completa 90 anos em 2012.
Na TV por assinatura, com os pacotes digitais e o triple play, também cresceu e,
embora numa proporção menor que a Internet, de 3,04% em 2006, para 3,68% de
participação no faturamento em 2009. Em 2010 atingiu, igualmente, seu bilhão (22,95% de
crescimento em relação a 2009). O cinema oscilou. De 2006 a 2008 há crescimento,
porém, em 2009 observa-se uma pequena queda com uma nova recuperação em 2010.
Mídia exterior, guias e listas apresentaram uma variação negativa no período, com
uma leve recuperação em 2008, seguida de nova queda em 2009 e com recuperação em
2010. Nos impressos há uma pequena curva de crescimento no faturamento, mas em
participação no mercado há um recuo, especialmente em 2009, com retomada em 2010. No
caso específico da Revista (tabela 3), há uma estabilidade na faixa de 8% de participação
na receita publicitária, como uma ligeira oscilação. Um desempenho que vai se repetir no
faturamento dos jornais. O setor de revistas, no ano de 2006, registra seu melhor índice
(8,61 %), cai em 2007, recupera um pouco em 2008 e cai mais em 2009 (7,69%). Em 2010
volta a crescer em termos nominais, mas tem uma retração no percentual de participação
nos investimentos de anunciantes. De maneira geral o ano de 2008 representou um
pequeno fôlego para todas as mídias descritas nos quadros abaixo com exceção da Internet,
única cujo percentual de participação no mercado publicitário sofreu queda em relação ao
ano anterior, 2007.
No que se refere ao bolo publicitário, os recursos da econômica brasileira
destinados a compra de espaço em mídias, houve um significativo crescimento entre 2005
e 2010, mais de 10 bilhões de reais.
Tabela 2 – Faturamento dos meios com investimentos de publicidade (em bilhões de R$)
Fonte: projeto inter-meios13 *valores em milhões de R$ **rádio nos primeiros registros da tabela valores em milhões e em 2010 em bilhões de R$.
Por sua vez, a radiodifusão, tanto rádio quanto TV, computa uma curva de
crescimento ao longo do período (tabela 3). No caso da TV a participação nas receitas
publicitárias que em 2006 estava em 59,37%, em 2009 chegou a 60,92% (mais de 13
bilhões de reais) e em 2010 o percentual subiu para 63%. Essa performance revela uma
reserva de combustível da radiodifusão que, dependendo da acomodação dos agentes, pode
assegurar a manutenção da hegemonia por mais tempo que aquele imaginado pelos
entusiastas das mídias digitais. Observe-se, pontualmente o caso da TV, seguramente por
um tempo maior que a previsão de democratização dos meios pela tecnologia de Toffler. É
fato, de outra parte, que a emergência das novas mídias digitais também dá sinais de vigor,
mas as velhas mídias eletrônicas migram para esse mundo do código binário carregando
junto seu legado de domínio experimentado no universo analógico.
13 Atualização http://www.aner.org.br/Conteudo/1/artigo42423-1.asp Acesso em 05/05/2011
Meio 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Televisão 9.507.387.983 10.354.879.787 11.252.835.953 12.605.206.145 13.569.342.942
16.498.74.021
Jornal 2.601.648.435 2.696.059.582 3.106.311.340 3.411.681.801 3.134.937.206 3.241.545.135
Revista 1.403.780.941 1.502.111.173 1.609.907.900 1.824.640.757 1.711.960.708 1.967.311.069
Rádio** 668.279.990 726.590.791 767.249.908 902.452.967 986.876.313
1.094.506.885
TV por Assinatura* 374.236.084 529.977.896 639.400.833 802.711.026 823.000.026
1.011.756.783
Mídia Exterior* 680.666.597 640.412.182 535.822.847 759.342.247 658.886.222
765.516.425
Guias e Listas* 405.990.881 568.560.427 493.049.258 586.730.093 355.771.997
328.089.475
Internet* 265.650.458,00 361.311.795 526.665.026 463.027.455 950.367.727 1.059.754.463
Cinema* 53.238.434.00 61.031.179 75.147.576 88.334.654 81.644.904
92.234.187
Total 15.960.879.803 17.440.934.815 19.006.390.647 21.444.127.149 22.272.705.423
26.215.742.786
Tabela 3 - Participação no mercado publicitário por mídia
Meio 2006 2007 2008 2009 2010
Televisão 59,37 59,21 58,78 60,92 63,11
Jornal 15,46 16,38 15,96 14,08 12,48
Revista 8,61 8,47 8,51 7,69 7,37
Rádio 4,17 4,04 4,21 4,43 4,19
TV por Assinatura 3,04 3,36 3,74 3,68 3,83
Mídia Exterior 3,67 2,82 3,54 2,96 2,91
Guias e Listas 3,26 2,59 2,74 1,60 1,26
Internet 2,07 2,77 2,16 4,27 4,49
Cinema 0,35 0,40 0,41 0,37 0,35
Total dos Meios 100,0 100,0 100,00 100,00 100,00 Fonte: Projeto Inter-meios (última atualização e consulta em 05/05/2011)
Se observado o gráfico (gráfico 2) elaborado pelo projeto inter-meios, em formato
de uma esfera, com base na receita publicitária de dezembro de 2010 (há uma pequena
variação em relação ao acumulado do ano), fica mais evidente a hegemonia que ainda
persiste das mídias chamadas tradicionais, particularmente da TV, na divisão do
investimento dos anunciantes. Não é possível ignorar a curva apresentada no final de 2010
pela Internet (três vezes mais de participação em relação a 2006) e pela TV por assinatura
(4,15% de participação no mercado publicitário).
Gráfico 2 – Participação no mercado publicitário
TV por AssinaturaCinemaGuias e ListasInternetJornal
Mídia ExteriorRádioRevista
Televisão
Cinema 0,4%Guias e Listas 1,1%Internet 6,0%Jornal 11,3%Mídia Exterior 3,0%Rádio 4,0%Revista 8,8%Televisão 61,3%TV por Assinatura 4,1%
Total: 100,0%
Os indicadores da PNAD de penetrabilidade e os indicadores de receita e
participação no mercado publicitário do projeto Inter-meios, de antemão, indicam algumas
tendências de crescimento dos meios digitais e ciclos de retração, estagnação, mas também
de estabilidade, nas mídias analógicas. Questões que vamos averiguar a seguir, tomando
por base os indicadores dos principais meios.
2. Mídia Impressa: Jornal, Revista e Livro 2.2 Jornal
A suspensão da circulação impressa do Jornal do Brasil em 2010 e a migração para
Internet estimularam as previsões de que o destino da mídia mais tradicional era a versão
digital distribuída por meio de portal. As estratégias dos demais jornais brasileiros (Folha
de SP, Estadão, O Globo, Correio Brasiliense, ZH, etc.) foram em sentido contrário.
Criaram versões eletrônicas, portais de interação, serviços de notícias e informações de
serviço multimídia, mas mantiveram suas versões impressas, ainda que com uma
atualização estética na suas diagramações. Todavia o futuro dos impressos parece incerto.
Para entender o cenário do setor, resgatemos os indicadores de produção,
distribuição e consumo. A principal fonte que reúne os dados relativos aos jornais no
Brasil, como já informado, é a Associação Nacional de Jornais. Os dados apresentados pela
ANJ resultam de levantamentos primários feitos pelas associações regionais afiliadas à
instituição nacional, do monitoramento do Instituto de Verificação de Circulação, no que
se refere à venda de jornais, da revista Meio & Mensagem, que acompanha o faturamento
publicitário dos veículos de comunicação, do Anuário da Mídia e do rastreamento
realizado pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal.
2.2.1. Produção - número de títulos (número de jornais)
O número de jornais impressos no país (tabela 4) também apresenta crescimento.
Entre 2001 e 2009 o número de publicações jornalísticas mais que dobrou. No espaço de
oito anos o total de jornais sobe de 1980 para 4148.
Tabela 4 - Número de jornais brasileiros
Periodicidade 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Diário 491 523 529 532 535 532 555 675 682
Semanal 937 1.221 1.405 1399 1.533 1531 - - -
Quinzenal 249 377 395 397 445 420 - - -
Mensal 176 380 396 424 380 378 - - -
Bissemanal 93 113 125 131 139 145 - - -
Trissemanal 34 39 35 35 36 40 - - -
Outros 31 108 86 30 30 - - -
TOTAL 1.980 2.684 2.684 3.004 3.098 3.076 3.079 4.103 4.148
Fonte: ANJ, ABRE, ADJORI/SC, ADJORI/RS, ADI/Brasil e Mídia Dados – acesso em setembro de 2010-10-08 * os dados acima de 2007, 2008 e 2009 não foram especificados pela fonte
Com base num levantamento da Associação Nacional de Jornais (tabela 5), que
procurou mapear os títulos por região e por estado (com a ajuda das fontes primárias ANJ/
ABRE/ JOVE/ Anuário de Mídia/ ADI-Brasil/ ADJORI) é possível verificar um acréscimo
de 12 % (considerando de 2006 a 2009, de 3076 para 3446 títulos) no número de títulos em
todo o país nos últimos quatro anos, embora tenha havido uma pequena variação negativa
em 2007.
No caso do Sudeste e do Centro-Oeste observa-se uma progressão gradual sem
retrocesso. A maior concentração de títulos está no Sudeste onde se aglutinam quase 60%
das publicações. São ao todo 2.045 jornais (59,9%). Em segundo vem a região Sul com
911 títulos (26,6%), seguida do Centro-Oeste com 224 (6,5%) publicações, o Nordeste
com 176 (5,1%) e o Norte com 110 jornais (4,9%).
Tabela 5 - Evolução dos números de títulos por região
Fonte: ANJ, Mídia Dados
ANO 2006 2007 2009 Em %
Sudeste 1.832 1.836 2.045 59,9
Sul 801 800 911 26,6
Centro-Oeste 193 197 224 6,5
Nordeste 155 154 176 5,1
Norte 95 93 110 4,9
Total Brasil 3.076 3.079 3.446 100
Os registros da ANJ ainda apontam que a significativa maioria dos títulos (83,56%)
não tem periodicidade diária. Desse universo cerca de 42% são semanais, em torno de 17%
são quinzenais, 15% mensais e 8% correspondem a bimensais e trimestrais.
2.2.2. Distribuição
A maior concentração de jornais (tabela 6) por estado está em São Paulo com 1.126
títulos, seguido por Minas Gerais com 572, Rio Grande do Sul com 429, Santa Catarina
com 278 e Rio de Janeiro com 271 jornais. Com exceção do Espírito Santo, todos os
estados do Sul e Sudeste possuem um número superior a 200 jornais cada, ao passo que no
restante do País essa cifra sequer chega a 90 por estado. E no Norte e Nordeste, com
exceção da Bahia, a média não ultrapassa a casa dos 30 jornais por estado.
Tabela 6 – Distribuição dos jornais por região
----
Ano 2006 2007 2009 BRASIL 3.076 3.079 3.446
Norte 95 93 110 Rondônia 26 26 26 Acre 6 6 6 Amazonas 9 10 16 Roraima 4 4 4 Pará 24 22 29 Amapá 5 5 5 Tocantins 21 20 23 Nordeste 155 154 176 Maranhão 21 21 23 Piauí 8 8 11 Ceará 14 14 16 Rio Grande do Norte 17 16 20 Paraíba 7 7 8 Pernambuco 14 16 16 Alagoas 8 8 9 Sergipe 12 10 12 Bahia 54 54 61 Sudeste 1,832 1.836 2.045 Minas Gerais 506 504 572 Espírito Santo 52 51 76 Rio de Janeiro 251 254 271 São Paulo 1832 1.026 1.126 Sul 801 800 911 Paraná 183 183 204 Santa Catarina 219 219 278 Rio Grande do Sul 399 398 429 Centro-Oeste 193 197 224 Mato Grosso do Sul 77 78 86 Mato Grosso 50 50 54 Goiás 54 57 65 Distrito Federal 12 12 19
2.2.3. Consumo
O meio pelo qual os jornais medem seu indicador de consumo é pela quantidade de
exemplares que circula a cada edição. E o índice de circulação se subdivide entre
assinaturas (o exemplar que é entregue ao assinante) e venda avulsa (o exemplar que é
comercializado na banca). Os dados disponíveis são consolidados pela Associação
Nacional de Jornais.
Segundo os registros da ANJ (tabela 7) a década vem sendo marcada por uma forte
oscilação que chegou a representar um declínio superior a pouco mais de 20% na
circulação nacional entre os anos de 2000 a 2003. Mas a recuperação, ao longo do período
de 2003 a 2008, ultrapassa os 30% de crescimento, e assegura uma vantagem na taxa de
crescimento que gira em torno de 10%, se comparada ao maior percentual de queda da
década. Entre 2000 e 2003, o número de exemplares em circulação nacional caiu de 7
milhões e 883 mil para 6 milhões e 470 mil unidades. Verificou-se uma significativa
redução próxima de um milhão e meio de exemplares. Nos quatro meses subsequentes
(2005, 2006, 2007 e 2008), com a recuperação e a superação da perda (tabela 7),
circularam cerca de 2 milhões de unidades a mais que em 2003. Em 2008 a circulação de
jornais no Brasil atingia 8 milhões e 487 mil exemplares, mais de meio milhão de unidades
acima do maior volume de circulação registrado entre 2000 e 2003. Todavia em 2009
verificou-se um novo sinalizador de queda da ordem de 3,46%.
Tabela 7 – Circulação diária de jornais no Brasil em milhões de exemplares dia Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Circulação nacional*
7.883 7.670 6.972 6.470 6.522 6.789 7.230 8.083 8.487 8.193
Variação % 8,81 -2,7 -9,1 -7,2 0,8 4,1 6,5 11,8 5,0 -3,46
Afiliados ao IVC 3.980 3.877 3.553 3.315 3.343 3.480 3.706 4.144 4.351 4.200
Fonte: Associação Nacional de Jornais – ANJ Acesso: setembro de 2010.
Dados do Instituto Verificador de Circulação (tabela 8) mostram que durante o
período de retração (2000 a 2003) foram os assinantes, num primeiro momento, que
asseguraram a demanda pelos jornais. Enquanto as vendas avulsas recuaram na ordem de
335 mil exemplares, de 2002 para 2003, as assinaturas registraram uma diminuição menor.
A redução foi metade da avulsa: 167mil exemplares entre 2002 e 2003.
No ano seguinte, o percentual entre venda avulsa e assinatura se manteve estável.
De 2002 a 2008, as assinaturas representaram a maior fatia de comercialização. A partir de
2006 as vendas avulsas sinalizaram uma curva de recuperação que vai se consolidar em
2009, quando a circulação de jornais através das vendas avulsas passa a ser maior que das
assinaturas.
Tabela 8 – Perfil da venda e assinatura dos jornais diários por ano
Venda em % 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Venda Avulsa 41,3 39,1 39,1 41,3 44,8 48,5 49,4 50,82 Assinatura 58,7 60,9 60,9 58,7 55,2 51,5 50,6 49,18
Venda em
milhões 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Vendagem Avulsa
2.858 2.523 2.555 2.783 3.253 3.960 4.158 4.178
Assinantes 4.113 3.946 3.996 4.005 3.976 4.122 4.328 4.014
Fonte: IVC – Instituto Verificador de Circulação – acesso em setembro de 2010.
Desta vez a marca dos hábitos culturais, sobretudo das memórias afetivas, das
rotinas, parecem ter ajudado na fidelidade do leitor que, de maneira geral, contribuiu com a
resistência dessa mídia analógica diante da ebulição das ofertas no mundo digital que
supostamente induziriam à migração. Observa-se que as vendas avulsas passaram de 2.858
milhões, em 2002, para mais de 4 milhões em 2008. E em números absolutos só caíram de
2002 para 2003, em seguida, de ano para ano se mostraram sempre crescentes, com duas
grandes viradas, em 2006 e 2007, cujos acréscimos foram de 470 mil e 700 mil unidades
respectivamente. Ao contrário do que ocorre nas assinaturas, com pequenas oscilações
entre altas e quedas em seus valores absolutos de ano para ano.
2.2.3.1. Investimento publicitário – faturamento total
Outra maneira de se averiguar o desempenho de consumo é por meio dos
investimentos publicitários. Os índices de circulação e o nicho de público que compra
jornal ainda é percebido pelos anunciantes como uma fatia importante e/ou qualificada de
consumidores. De 2004 a 2008, o faturamento dos jornais com publicidade (tabela 9)
aumentou 47,35%, o que representa um acréscimo de quase 1,1 bilhão de reais. Entretanto,
de 2008 para 2009, os jornais sofreram um revés na curva de crescimento. A receita
publicitária bruta, no comparativo de janeiro a dezembro de cada ano, caiu 8,82%, recuou
de 3,4 bilhões de reais, em 2008, para 3,1 bilhões de reais. Uma perda que chegou a mais
de 270 milhões de reais. Um sinalizador que se somou a outro indicador negativo para o
segmento. No bolo publicitário, de 2004 a 2009, a participação dos jornais vem reduzindo
gradualmente, com uma rápida e pontual recuperação somente em 2007, e novo declínio
nos anos seguintes. Em 2001 o faturamento representava 16,38% dos investimentos no
mercado publicitário. Em 2009 a fatia que coube aos jornais recuou fortemente para
14,08%.
Tabela 9 – Faturamento bruto x participação na receita com publicidade Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Faturamento
Em bilhões
de R$
2,315 2,601 2,696 3,106 3,411 3,134 3,241
Participação
%
16,65 16,3 14,7 16,38 15,91 14,08 12,35
Fonte: projeto Inter-meios acesso em setembro de 2010.
Em 2010 até houve um crescimento nominal na receita em mais de 100 milhões de
reais, mas a participação no bolo das verbas publicitárias diminuiu (ficando em 12,35%).
Um detalhamento averiguado pelo projeto Inter-meios mostra que a captação de
anunciantes feita de forma direta pelas empresas, entre 2009 e 2010, subiu de 700 milhões
para 726 milhões e o faturamento por meio das agências de publicidade variou de 2, 4
bilhões para 2,5 bilhões de reais. A maior parte foi compra de coluna larga (2,2 bilhões) e
o restante foi aquisição de espaço nos chamados classificados ( 968 milhões) com maior
variação de preços e tamanhos de anúncio.
2.2.4 Atuação da instância de recepção – escolhas e preferências
Entre os dez jornais de maior circulação (tabela 10), também concentrados no Sul e
Sudeste, observa-se, claramente, o decréscimo na circulação de exemplares de 2007 a
2009. É verdade que em 2008 todos apresentam uma alta, seguida de uma queda, na
maioria deles, em 2009. Verifica-se também que “Folha de São Paulo” que manter-se na
liderança na maior parte da década, em 2010 foi superada pelo “Super Notícia”. Houve
troca de posições no ranking que sinaliza preferências de formato e conteúdo. O
movimento se deu entre os títulos “O Globo”, das Organizações Globo do Rio de Janeiro,
que em 2008 perdeu o segundo lugar para o “Sempre Notícia”, da Sempre Editora de Belo
Horizonte, e ficou em quarto, atrás inclusive do “Extra”, outra publicação das
Organizações Globo. Em 2009, “O Globo” supera o “Extra”, e sobe para o terceiro lugar.
O interessante na ascensão do “Sempre Notícias” é que o jornal é um tablóide que
privilegia um tratamento editorial mais popular (temas de violência e futebol), carrega no
uso de cores fortes na capa e, na hierarquia da distribuição de espaço na diagramação,
prioriza as fotos ao texto. O “Extra” segue a mesma linha embora seja um formato
Standard. Na lista dos 10 ainda aparecem o “Meia Hora”, editado no Rio e São Paulo (6ª
posição) e “Diário Gaúcho”, que são publicações com o mesmo perfil popular. Até mesmo
as publicações mais tradicionais como o “Estado de São Paulo” (seguindo a FSP, o Globo
e a ZH) deram uma guinada gráfica nas suas paginações e também passaram a valorizar o
uso de fotos e cores.
Tabela 10 – Índice de circulação dos maiores jornais de circulação paga
Título Editora 2007 2008 2009 2010 Formato
1- Folha de S.Paulo Empresa Folha da Manhã 302.595 311.287 295.558 294.498 Standard
2- Super Notícia Sempre Editora S/A 238.611 303.087 289.436 295.701 Tablóide
3- O Globo Infoglobo Comunicações AS 280.329 281.407 257.262 262.435 Standard
4- Extra Infoglobo Comunicações AS 273.560 287.382 248.119 242.306 Standard
5- O Estado de S.Paulo S/A O Estado de S.Paulo 241.126 245.966 212.844 236.369 Standard
6- Meia Hora Editora O Dia S/A 205.768 231.672 185.783 157.654 Tablóide
7- Zero Hora Zero Hora Editora Jornalística
S/A 176.412 179.934 183.521 184.663 Tablóide
8- Diário Gaúcho Zero Hora Editora Jornalística
S/A 155.328 166.886 155.131 150.744 Tablóide
9- Correio do Povo Empresa Jornalística Caldas
Júnior 154.188 155.569 146.885 157.409 Tablóide
10- Lance! Arete Editorial S/A 112.625 113.715 125.050 - Tablóide
11-Aqui (edições MG, MA, DF e PE)
Diários Associados - - - 125.676 Tablóide
Fonte: IVC – índice de verificador de circulação Acesso: setembro 2010.
A emergência dos jornais chamados populares pode estar associada ao desejo pelo
maior consumo de informação das classes que ascendem em poder aquisitivo e preferem
conteúdos visual e textos escritos sintéticos e/ou pelos códigos de linguagem que as
páginas de Web começam a popularizar nas suas ofertas fast look.
2.2.5 Digitalização
Em parte, essa tendência pelo conteúdo e consumo dos jornais impressos pode ser
compreendida por um fenômeno do mundo digital que ganhou força nesses primeiros 10
anos do século XXI. O ingresso, no campo das ofertas de informação jornalística, dos
blogs comandados por jornalistas experientes que assinavam ou ainda assinam colunas
tradicionais nas publicações em papel e que passaram a ser acompanhados nas versões
eletrônicas por leitores dos impressos. Percebendo esse movimento, há mais tempo, os
jornais da lista (tabela 10), a partir de 2007, criaram versões digitais abrigadas em portais
que também atualizam as notícias on-line. Paralelamente já ensaiam um processo de
convergência que inclui jornalismo colaborativo.
Os jornais O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, já tem suas
versões em tablets (receptores móveis nos quais há uma versão digital da edição impresso).
O Globo foi o primeiro jornal da América Latina a apresentar uma versão nesse formato.
O jornal carioca, por meio de uma parceira com o Kindle, passou a disponibilizar uma
versão para este dispositivo móvel em outubro de 2009. Em abril de 2011 o Globo, que
também já estava no iPhone desde de abril de 2010, lança sua versão para iPad 2.0 da
Apple. O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo seguiram esse caminho no primeiro
semestre de 2010.
O movimento mais radical foi feito pelo Jornal do Brasil (que teve sua primeira
edição impressa em de 1891) que em 2010 deixou de circular na forma de papel e somente
é oferecido aos leitores no formato on-line (abrigado no portal Terra). Além das versões
digitais todos os grandes jornais, ao ingressarem no ambiente da Internet, passaram a
trabalhar com conteúdos multiplataformas. Todos dispõem de janelas para publicação de
vídeos, fotos e podcast (som) e atualizações em tempo real de informações.
No caso da Folha de São Paulo houve uma integração maior entre o jornal e o UOL
(braço eletrônico e digital da empresa). No Estado de São Paulo, além da TV Estadão,
disponível na página principal do site da empresa, há um serviço de rádio ao qual os
internautas também podem acessar. O fato é que as empresas de mídia impressa (veremos
mais detalhes ao longo deste trabalho), em razão do aumento da penetração de banda larga,
do acesso à banda larga fixa, com o crescimento da penetração dos smartphones e das
redes sem fio, vêm focando fortemente nos receptores móveis.
Segundo a empresa de Consultoria PricewaterhouseCoopers esta será a forma de
recepção que vai presidir, junto com a televisão o consumo de conteúdo digital14. A mesma
empresa aponta que mídia social, notícias, jogos e televisão se realinham nesse cenário no
qual as plataformas de tecnologia móvel operam essa transformação. Nesse cenários os
Tablets se consolidariam como nova variável de negócio na medida em que a plataforma,
além das assinaturas, pode faturar com anúncios publicitários (50%) mais que na página da
rede (10%). Conjuntamente diminui os custos de distribuição e integra aplicações como
mídia social, vídeos e jogos.
2.3. Revista
No âmbito das revistas a evolução do número de títulos revela uma estabilidade e
mais, um crescimento no setor ao longo da década, especialmente no que se refere às
revistas que tem periodicidade regular.
2.3.1. Produção – com base no número de revistas publicadas
Os títulos regulares se multiplicaram em quase seis vezes, partindo de 556 opções
em 2000 para 3.285 em 2009. Os indicadores de desempenho das revistas, nos quais este
estudo se baseia, são mapeados pelo IVC – Instituto de Verificação de Circulação. Pelos
levantamentos do Instituto (tabela 11) a evolução das revistas sem periodicidade regular
oscilou bastante. Sobe em linha crescente até 2003 e depois cai da mesma forma até 2009.
Assim, entre um momento de crescimento contínuo de 2000 a 2003, e depois um
decréscimo anual de 2004 a 2009, termina a década com um número inferior ao ano 2000.
Tabela 11 – Evolução do número de títulos discriminados entre as publicações regulares e aquelas não regulares
ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Regulares 556 580 705 893 1333 1707 1762 2066 2255 3285
Não Regulares 1448 1663 1920 2366 2245 1944 1895 1767 1660 1147
Total 2034 2243 2625 3259 3578 3651 3657 3833 3915 4432
Fonte: IVC e Distribuidores15
14 ver How Effective Will iAd Be For Mobile Marketers?, eMarketer, 08.jun.2010 e Is Mobile the Next Newsstand?, eMarketer, 27.may.2010 e http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=23060&sid=15 15 IVC – Índice Verificador de Circulação – Fonte: http://www.ivc.org.br/ Acesso em 10 de outubro 2010
Diferentemente dos jornais que estimularam e exploraram o hábito e a fidelidade do
leitor, a estratégia do setor foi trabalhar a segmentação e a diversidade de temas ampliando
o número de títulos.
2.3.2. Distribuição – com base na circulação
Do ponto de vista da distribuição, as editoras seguem recorrendo à venda avulsa e à
assinatura. A performance desses indicadores (tabela 12) referenda uma medida do
resultado de consumo com base na circulação. Tomando como referência a evolução do
desempenho das revistas brasileiras entre 2000 e 2009, verifica-se uma oscilação
levemente negativa em relação ao início da década, quando a circulação chegava a 446
milhões de exemplares. O monitoramento do IVC mostra 2009 com 24 milhões de
exemplares a menos que no ano 2000, somando as vendas avulsas e assinaturas,
registrando um total de 422 milhões.
Tabela 12 - Evolução da circulação incluindo o total e discriminado as vendas avulsas e a distribuição para assinantes computando por milhões de exemplares que circularam a cada ano. ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Avulsas 277 287 267 244 236 223 239 229 242 249
Assinatura 170 167 168 164 163 164 161 161 168 173
Total 446 454 435 408 399 387 400 390 410 422
Fonte IVC
No geral, o período apresenta uma oscilação de alta e baixa que revela uma clara
estagnação na base de leitores das revistas impressas. No caso específico das assinaturas,
ocorre um pequeno aumento da ordem de 1,7% (3 milhões a mais de unidades), se
considerados apenas o início e o final da tabela em análise, ou de seja, 2000 e 2009
respectivamente. Já em relação às vendas avulsas, o caminho é inverso, há uma redução de
11,2% (28 milhões de unidades a menos).
2.3.3. Consumo – com base no faturamento das empresas
O cenário do setor desenha-se crítico quando observado o faturamento com base
nas receitas publicitárias. Se considerado o número de páginas com publicidade, houve um
aumento, mas, se observado o investimento publicitário, ocorreu uma redução de 6,18% na
comparação entre 2008 e 2009. O número de páginas com publicidade, monitorado pelo
IBOPE, mostra que, até então, havia uma projeção promissora. Em 2004, por exemplo, as
publicações (tabela 13) contavam com mais de 74 mil páginas com anúncios e, em 2008,
as revistas superaram as 100 mil páginas com investimento publicitário, um crescimento da
ordem de 42,68%.
Tabela 13 – Evolução do conteúdo produzido com base no número de páginas
Fonte IBOPE
Já o faturamento, acompanhado pelo jornal Meio&Mensagem (tabelas 14 e 15),
mostra também uma variação positiva. Se considerarmos a década, o faturamento saiu da
casa de 1.043 milhões, em 2000, para 1.712 milhões em 2009, o que representa um
aumento da ordem de 669 milhões, ou seja, 64% em dez anos. As únicas reduções sofridas
foram em 2001, 2002, e de 2008 para 2009, essa última da ordem de 112 milhões, ou seja,
6,15%.
Tabela 14 – Faturamento das revistas (em R$)
Revista
2008
2009
2010
Crescimento/Decréscimo
% de Participação
Direto
(em milhões de R$) 276.722. 208.489. 226.792. 19,28 8,35
Via Agência
(em bilhões de R$) 1.547.918. 1.503.471. 1.513.013. 14,29 7,27
Total 1.824.640. 1.711.960. 1.739.806. 14,92 7,37
Fonte: Projeto inter-meios. Acesso em 06/05/11
Se consideradas as cifras absolutas entre 2000 e 2009 (tabela 15), verifica-se um
aumento progressivo, mas num ritmo de baixa aceleração, especialmente se considerado o
número de títulos e a diversificação do mercado. Se observada a performance ao longo da
década, há duas quedas no início, entre 2000 e 2002, e depois somente no último exercício,
2009.
Tabela 15 – Evolução do faturamento na década
ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Faturamento (em bilhões de Reais
1.043 985*
937* 1.038 1.158 1.404 1.502 1.609 1.824 1.712
Fonte: Projeto inter-meios *Unidades em milhões de reais
Ano 2004 2005 2006 2007 2008
Total de páginas 74.084 76.118 81.718 97.958 105.704
2.3.4. Atuação da instância de recepção – com base nas escolhas e preferências
Os dados do IVC mostram que o maior consumo está nos grandes centros urbanos e
a maior preferência é por conteúdos jornalísticos. Dados de 2007 a 2009 (tabela 16)
indicam que as cinco revistas de maior circulação estão com suas sedes de produção
concentradas entre Rio e São Paulo e representam mais de 60% de participação no
mercado do setor com base na média de distribuição. Quase metade do mercado (48,95%,
somando Veja, Época e Istó É) está concentrado em três publicações de informação de
caráter jornalístico. Do ponto de vista do conteúdo, o indicador permite aferir que, apesar
da diversidade de opções, as revistas de informação, efetivamente, lideram a lista de
preferência do leitor. São seguidas pelos títulos com conteúdos de entretenimento.
O quadro de distribuição por região, como veremos adiante, vai reforçar a tendência
de concentração dos meios no Sudeste e Sul do país, embora no nordeste também esteja
uma parte importante do volume de consumo dos títulos.
Tabela 16 – Performance das principais revistas Título Editora Circulação 2007 2008 2009 Part. Mercado
Veja Abril 1.096.624 1.089.902 1.067.488 28,65%
Época Globo 417.798 420.477 413.286 11,05%
Isto é Três 344.273 353.135 344.029 9,28%
Caras Caras 279.458 278.394 293.386 7,32%
Viva Mais Abril 157. 733 202.793 227.515 5,33%
Fonte: Projeto Inter-Meios.
A variação de mercado das cinco revistas líderes se mantém igualmente estagnada
apresentando pequenas oscilações no caso das publicações jornalísticas (Veja, Época e Isto
É) e ligeiro crescimento para os títulos de entretenimento, dedicados a explorar a vida das
celebridades do show biss (Caras) e conteúdos de auto-ajuda e serviços (Viva Mais).
Os indicadores do IVC (tabela 17) ainda sinalizam que a distribuição de revistas
por região, em relação ao preço e população, apresenta maior equilíbrio entre oferta,
demanda e preço no Sudeste e Sul e menor equilíbrio das demais regiões.
Tabela 17 – Distribuição de Revistas por Região X IPC X População
Regiões / Estados
Distribuição de Revistas IPC População
Brasil 100,00 100,00 100,00 Norte 3,53 5,71 6,94
Rondônia 0,38 0,64 0,77 Acre 0,14 0,24 0,32
Amazonas 0,90 1,15 1,33 Roraima 0,15 0,18 0,20
Pará 1,42 2,69 3,38 Amapá 0,21 0,30 0,29
Tocantins 0,33 0,51 0,65 Nordeste 11,78 18,79 25,88 Maranhão 0,92 1,72 2,76
Piauí 0,55 0,96 1,50 Ceará 1,84 2,93 4,13
Rio Grande do N 0,89 1,23 1,53 Paraíba 0,78 1,44 1,86
Pernambuco 2,32 3,48 4,30 Alagoas 0,61 1,04 1,52 Sergipe 0,53 0,76 0,97 Bahia 3,33 5,23 7,31
Sudeste 62,32 51,41 44,21 Minas Gerais 7,99 10,47 10,51 Espírito Santo 1,32 1,87 1,84 Rio de Janeiro 11,76 11,10 9,23
São Paulo 41,25 27,96 22,54 Sul 15,54 16,32 15,57
Paraná 5,63 6,07 5,88 Santa Catarina 3,91 3,63 3,39
Rio Grande do Sul 6,01 6,61 6,30 Centro-Oeste 6,82 7,78 7,41
Mato Grosso do Sul 1,11 1,23 1,24 Mato Grosso 1,09 1,50 1,58
Goiás 1,92 3,17 3,24 Distrito Federal 2,69 1,88 1,34
Fontes: IVC – Índice Verificador de Circulação, IPC – Brasil em foco 2010 e População: Ibope pesquisa de Mídia
2.3.5. Efeitos da Digitalização –
No que se refere às revistas, a maioria adotou o uso de páginas na Internet e começa
a disponibilizar ferramentas de relacionamento com seus leitores. Algumas publicações
especializadas, o caso da Telaviva (especializada em telecomunicação e mídias), já
experimentam versões digitais das suas publicações a exemplo do que fazem os jornais. A
revista Veja 16, que, como visto, é a de maior circulação no país oferece um acervo digital,
fotos, vídeos, colunistas e blogs além de informações atualizadas em tempo real. No portal
é possível links por meio de todas as redes sociais, mas assinaturas são apenas para versão
impressa. As demais revistas de jornalismo, até mesmo a Época17, das Organizações
16 Acessível em http://veja.abril.com.br/ 17 Acessível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EIT0-16091,00.html
Globo, seguem mesma receita, embora ainda disponibilizem versões eletrônicas das
reportagens publicadas na edição da semana.
2.4. Livro
O desempenho do mercado editorial brasileiro vem sendo monitorado pelo
Sindicato Nacional de Editores (SNEL) graças ao exaustivo trabalho da FIPE - Fundação
de Pesquisas Econômicas. Alguns dos indicadores disponíveis e consolidados, que dão
conta dos resultados auferidos de 2004 a 2009, mostram uma curva variável (ligeiramente
sinuosa), mas com sinais positivos.
2.4.1. Produção – com base nos títulos editados
Em relação aos títulos editados (tabela 18), tanto em primeira edição como no caso
de reedições, registros observados entre 2008 e 2009 mostram um crescimento de
14,88%%. As novas publicações aumentaram de 19.174 livros, em 2008, para 22.027
títulos em 2009. No caso das reedições, houve um decréscimo de 4,61% de títulos, mas um
aumento de 10,34% no que diz respeito ao número de unidades reeditadas.
Tabela 18 – Títulos editados em primeira edição e com reedição
Títulos Exemplares
Produção 2008 2009 Variação % 2008 2009 Var.%
1ª edição 19.174 22.027 14,88 130.109.195 154.471.507 18,72
Reedição 31.955 30.483 - 461 210.165.000 231.895.629 10,34
TOTAL 51.129 52.509 2,70 340.274.195 386.367.136 13,55
FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
De acordo com a FIPE a queda em termos reais e o desempenho de produção
estiveram compatíveis com o desempenho da econômica brasileira no período em razão
dos reflexos da crise mundial e de um crescimento negativo de 01,19%. O impacto
subsetorial dos títulos no qual o crescimento entre 2008 e 2009 é verificável entre os
didáticos (participação na produção geral de títulos de 15,4%) e os CTP (participação de
8,97%)18. Entre as obras gerais (participação na produção geral de 19%) e religiosas
(participação na produção geral de 16,33%) há uma queda de 7%.
2.4.2. Distribuição – com base na cadeia do setor
O Sindicato Nacional de Editores19 informa que no Brasil há uma complexa rede de
distribuição que envolve editores, distribuidores, livrarias e bibliotecas. A organização
sindical, que procura acompanhar os movimentos do setor, contabiliza 661 editoras,
321 livrarias, 114 distribuidores e, pelo menos 83 bibliotecas cadastradas, a maioria em
instituições de ensino superior. No caso das editoras e distribuidores, a maior parte está
localizada do Sudeste e no Sul do país.
2.4.3. Consumo – com base no volume vendas
Embora se verifique um crescimento registrando pequenas taxas de variação, do
ano de 2008 para 2009, por exemplo, o índice geral de expansão chega a 14,88%, (tabela
19). Os registros, baseados em questionários respondidos por um grupo de empresas e
inferência estatística, dão conta de publicações produzidas e distribuídas pelo mercado
editorial incluindo obras gerais (ficção, não ficção), didáticos, religiosos, CTP (livros
Científicos, Técnicos e Profissionais). No levantamento (tabela 19) a venda está divida em
dois segmentos: a produção encomendada pelo governo e aquela comprada por
consumidores privados (no mercado).
Tabela 19 – Número de exemplares vendidos por milhão para o mercado e para o governo Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mercado Didáticos 56,55 69,86 66,75 75,32 73,54 84,33
Mercado Obras Gerais 51,50 57,22 59,90 59,32 63,55 62,78
Mercado Religiosos 28,65 35,35 36,90 43, 42 50,26 53,06
Mercado CTP 16,88 19,97 21,50 22,20 24,19 28,54
Total Mercado 153,58 182,59 185,05 200,26 211,54 288,71
Governo 135,10 87,80 125,31 128,72 121,72 142,23
TOTAL 288,68 270,39 310,36 329,20 333,26 370,94
Fonte FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
18 Segundo o estudo da FIPE o resultado é impulsionado pelos surgimentos de novas instituições de ensino e de novos cursos. 19 http://www.portaleditorial.com.br/default.asp. Acesso em 12/05/2011.
Percebe-se que a evolução das vendas é puxada, em volume, pelos livros didáticos.
De 2004 a 2009 representam um crescimento da ordem de 49,1%. Destaque-se ainda o
desempenho dos Religiosos que quase duplicam (crescimento das vendas de 85,2%), e os
CTPs que crescem 69%. Estes últimos não apresentam quedas no período, mantendo uma
curva positiva, havendo no setor, como um todo, pequenas oscilações (há quedas em 2006
e 2008). O fenômeno dos títulos religiosos aparece depois de 2007, no segmento, o
crescimento foi superior ao dos didáticos. Os CTPs tiveram um percentual de alta quase
semelhante nos períodos de 2004 a 2007 e de 2007 a 2009. Exceção para os livros CTP foi
o maior volume de vendas em 2008, especialmente nas compras efetuadas pelo governo
(uma variação atribuída pelos pesquisadores da FIPE ao incremento, no período, dos
programas de ensino fundamental).
No que se refere a faturamento (tabela 20), o resultado da venda ao comprador
privado mantém, ao longo dos últimos seis anos, uma proporção superior a 3 por 1 em
relação ao comprador governo, representando mais que 75% da receita do setor – exceção
apenas nos anos de 2006 e 2008, quando ocorre uma pequena diminuição dessa diferença.
Já no que diz respeito ao número de exemplares vendidos, os anos de 2009 e de 2005
registram uma proporção levemente superior a 2 para 1, do mercado em relação ao
governo, provável resultado da tendência observada de 2005 para cá, que destaca um
crescimento anual do número de exemplares vendidos para o mercado consideravelmente
superior ao vendido para o governo. Esse último registra inclusive oscilações negativas em
2005 e 2008. Voltando ao faturamento, em valores absolutos, o governo apresenta
decréscimos de 2004 para 2005, de 2006 para 2007 e de 2008 para 2009, enquanto que o
mercado só registra uma pequena queda em 2008.
Tabela 20 – Faturamento do setor incluindo vendas para o governo e para compradores privados Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mercado de Didáticos 822, 50 882,31 766,03 819,24 807,54 783,28
Mercado Obras Gerais 540,87 524,88 540,99 528,01 517,91 519,75
Mercado de Religiosos 238,08 215,82 212,68 230,32 259,03 242,97
Mercado CTP 346,48 358,97 367,63 350,52 380,63 385,25
Total Mercado 1.947,93 1.981,98 1.887,33 1.928,09 1.965,00 1.931,25
Governo 529,10 418,50 645,89 612,89 701,09 634,28
TOTAL 2.477,03 2.400,48 2.530,02 2.540, 98 2.666,09 2.565,63
Fonte: FIPE20
20 A FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – a tabela 19 contempla Títulos Editados e Exemplares. Fonte www.snel.org.br (Sindicato Nacional de Editores de Livro) e www.fipe.org.br Acesso: Outubro de 2010.
2.4.4. Atuação de consumo
Nem o SNEL, nem a Fipe tem uma aferição mais precisa das preferências do
público consumidor de livros no Brasil. A tabela abaixo (21), elaborada num estudo de
2009 da própria organização sindical, mostra que fora o consumo dos didáticos e os
religiosos, há uma procura por literatura infantil, juvenil e adulta. Dentro da realidade de
consumo brasileira são mais de 42 milhões de exemplares de textos literários, bem acima
da venda de títulos de auto-ajuda.
Tabela 21 – Lista de títulos e exemplares por gênero de texto.
Fonte: Fipe e SNEL
2.4.5. Digitalização
O processo de digitalização já chegou à indústria editorial há mais tempo. As
compras on-line tem gradualmente entrado na prática de aquisição por parte do leitor. As
primeiras experiências são com as compras através da Internet. Entre 2008 e 2009 esse
comércio aumentou de 1,8 milhões de exemplares para 3,2 milhões de exemplares. O
mesmo começa a ocorrer com as compras de textos digitais nas livrarias virtuais (tabela
22) que em 2009, quando essa modalidade de venda foi iniciada, envolveram 5, 1 milhão
de títulos. Juntas essas duas formas de aquisição de títulos já representam 3,6% do
mercado. Em contrapartida a participação das vendas em livrarias reduziu num percentual
equivalente.
Tabela 22 – Canais de comercialização.
Ainda é cedo para uma conclusão, mas é um primeiro indício que pode significar
que o consumidor está migrando, bem gradualmente, para o modelo de obras digitais.
3. Mídia Sonora: Rádio, Disco, Telefone e novos suportes
As rádios são classificadas pela ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicação
– com base no espectro de frequência no qual operam, distribuídas entre FMs (frequência
modulada), OM (ondas médias), OC (ondas curtas), OT (ondas tropicais)21 e Rádios
Comunitárias. Pelo registro da agência o número de emissoras em operação aumentou de
2001 a 2009 em torno de 44%. O maior crescimento aconteceu até meados da década
(tabela 23).
3.1. Produção – com base no sistema e no número de outorgas
No caso das OMs, frequência na qual operam as principais emissoras do país, em
razão da limitação do espectro, há muito ocupado, registra-se pequena variação positiva,
naturalmente sinalizando um quadro de estabilidade. O mesmo se repete com as OTs e as
OCs, sendo esta última uma banda comumente usada por muitas emissoras do interior do
Brasil e também adotada para reproduzir sinais das grandes emissoras dos centros urbanos.
Já as comunitárias experimentam um crescimento exponencial, o aumento foi de
aproximadamente quatro vezes entre o início e o fim desta década. Vale lembrar que o
serviço de Radiodifusão Sonora Comunitária opera em Freqüência Modulada (FM), tem
baixa potência e com cobertura restrita. Trata-se de uma outorga às fundações e
associações comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação do
serviço. Por esta razão, são operações de limitada cobertura em bairros e áreas densamente
ocupadas nas metrópoles. O canal 200 (87,8 a 88,0 MHz) foi designado para uso exclusivo
e em caráter secundário desse tipo serviço em nível nacional. Em alguns casos o canal 285
é também utilizado.
O serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada (FM), por seu turno, é
um sistema de transmissão iniciado nos Estados Unidos no início do século XX. A FM
(frequency modulation -, em inglês) é uma modalidade de radiodifusão que usa a faixa 87,5
Mhz a 108 Mhz . Essa modulação apresenta uma ótima qualidade sonora mas com
21 Ondas Curtas - 2.3 MHz–26.1 MHz, são divididas em quinze bandas e tem longo alcance, mas baixa qualidade de sinal. As mais usadas são de 49, 31, 25 e 19 metros. Ondas Médias - 520 kHz–1,610 kHz, comum nas Américas, possui médio alcance. Ondas Longas - 153 kHz–279 kHz, comum nas Europa, África, Oceania e parte da Ásia. Ondas Tropicais - 2300 kHz-5060 kHz de 120-90-60 metros, utilizada entre os Trópicos, longo alcance e qualidade de sinal aceitável.
limitado alcance, chegando em média a 100 quilômetros de raio de alcance. Entretanto, em
algumas condições de propagação, pode ser sintonizada a centenas de quilômetros. A FM
conta com um sistema de envio de informação digital, o RDS (Radio Data System) por
meio do qual é possível apresentar informações sobre a emissora além da boa qualidade de
som que fez com que também fosse adotada para a transmissão do áudio da TV Aberta
(canais 2 a 13). O serviço de FM foi inicialmente direcionado a empresários de pequeno,
médio e grande porte da área de comunicação.
Pelos registros da Anatel (tabela 23), observa-se que ao longo da década houve um
crescimento de outorgas de rádio FM, com uma desaceralação em 2010, enquanto que as
chamadas AM (OM, OC) estabiliziram.
Tabela 23 – A evolução do número de emissoras RÁDIOS 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 05/2010
FM 1.622 2.025 2.149 2.223 2.320 2.600 2.678 2.732 2.903 2.295
OM 1.632 1.682 1.697 1.707 1.708 1.711 1.718 1.749 1.773 1.708
OC 64 62 66 66 66 66 66 66 66 S/D
OT 78 76 75 75 75 75 75 74 74
Com 980 1.625 1.932 2.207 2.443 2.734 3.154 3.386 3.897
Fontes: Anatel e Grupos de Mídia (seção Rádio, pág. 369)22
O surpreendente é o aumento exponencial do número de rádios comunitárias que
saltam de 980 em 2001 para 3mil e oitocentas emissoras em 2009.
3.2. Distribuição – com base na cobertura geográfica
No que se refere à distribuição geográfica o rádio tem uma ampla penetrabilidade
nos lares brasileiros. Tanto na população rural quanto (82,3) quanto na urbana (88,8) a
presença dessa mídia se manteve relativamente estável ao longo da década, apresentando
pequenas oscilações (tabela 24). Destaque-se, porém, que se durante toda a década o
percentual de penetrabilidade foi relativamente o mesmo, permite-se inferir que o sistema
atingiu seu limite de alcance por meio da radiodifusão.
Tabela 24 - Penetração do rádio entre a população urbana e rural. % 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Urbana 89,0 88,8 88,7 89,0 89,2 88,9 89,0 89,9 88,8 Rural 82,4 82,2 82,8 81,2 81,6 82,1 82,8 83,5 82,3 Total 88,0 87,9 87,8 87,8 88,0 87,9 88,1 88,9 87,9
Fonte: PNAD (IBGE)
22 Disponível em: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do# http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx, acesso em 10/10/2010
A distribuição das emissoras por estado mostra (tabela 25), a exemplo dos meios
impressos, um maior número de canais operando no Sudeste, seguido pelo Sul e pelo
Nordeste. Todavia, se considerada a densidade populacional das cidades dessas regiões,
mostra-se, no caso do rádio, um maior equilíbrio na relação população e o número de
estações de rádio. Em alguns estados, como Goiás com 106 rádios FMs, verifica-se um
número bem maior de emissoras operando no serviço de frequência modulada.
Tabela 25 – Distribuição das emissoras por estado Região Centro-Oeste 410 (171 OM / 239 FM) Região Norte 297 (1.708 OM / 2.295
FM) Distrito Federal 35 (9 OM / 26 FM) Acre 27 (11 OM / 16 FM)
Goiás 165 (59 OM/ 106 FM) Amapá 18 (5 OM / 13 FM) Mato Grosso 105 (52 OM/ 53 FM) Amazonas 60 (25 OM / 35 FM)
Mato Grosso do Sul 105 (51 OM / 54 FM) Pará 91 (34 OM/ 57 FM) Região Nordeste 949 (421 OM / 528 FM) Rondônia 57 (22 OM /35 FM)
Alagoas 58 (18 OM/ 40 FM) Roraima 13 ( 5 OM/ 18 FM) Bahia 224 (97 OM / 127 FM) Tocantins 31 (13 OM / 18 FM) Ceará 193 (93 OM / 100 FM) Região Sudeste 1.408 (538 OM / 870 FM)
Maranhão 85 (42 OM / 43 FM) Espírito Santo 77 (23 OM / 54 FM) Paraíba 84 (34 OM/ 43 FM) Minas Gerais 530 (183 OM / 347 FM)
Pernambuco 127 (41 FM / 86 FM) Rio de Janeiro 144 (59 OM / 85 FM) Piauí 82 (51 OM / 31 FM) São Paulo 657 (273 OM / 384 FM)
Rio Grande do Norte 61 (32 OM / 29 FM) Região Sul 939 (463 OM / 476 FM) Sergipe 35 (13 OM / 22 FM) Paraná 338 (176 OM / 162 FM)
Rio Grande do Sul 374 (181 OM / 193 FM) Santa Catarina 227 ( 106 FM / 121 FM)
Fonte: mídia dados23 Acesso: Maio/2010
3.3. Consumo – com base no investimento publicitário
A curva de faturamento publicitário das rádios (tabela 26), conforme
monitoramento do projeto Inter-meios, é ligeiramente ascendente de 2005 a 2009. Cresceu
em torno de 47% em cinco anos, mostrando uma performance inversa àquela imaginada no
início da década com a crescente evolução das mídias digitais. Todavia a receita da
Internet que já estava próxima daquela do Rádio em 2009, em 2010 supera a mídia sonora
em participação no mercado de anunciantes.
Tabela 26 – Evolução do faturamento com publicidade
Meio 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Rádio 668.279.990,00 726.590.791,65 767.249.908,95 902.452.967,32 986.876.313,54 1.094.506.885 Fonte: Projeto Inter-meios24
23 Disponível em: http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx - acesso em 20/11/2010 24 Idem
No caso do rádio, também no indicador de financiamento publicitário aparecem
sinais de limitação no modelo de negócio isolado por meio de radiodifusão, embora ainda
haja vigor. Não se pode não deixar de reforçar o registro histórico de que em 2010, enfim,
o rádio chegou ao seu primeiro bilhão de reais em faturamento.
3.4. Atuação da instância da recepção – com base no conteúdo e hábitos do ouvinte
De acordo com pesquisa do IBOPE, divulgada no site Mídias Digitais, e que em
2010 entrevistou 19.456 pessoas, entre agosto e julho, a concentração de audiência está nas
capitais do país, em praticamente todas as regiões. Verifica-se o hábito de escutar rádio em
Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro,
Salvador, São Paulo. Todavia, não podem ser desprezados os registros de audiência nas
cidades do interior, especialmente dos estados das regiões Sudeste e Sul.
A fonte indica que o perfil da audiência do rádio brasileiro. O ouvinte é de ambos
os sexos, das classes AB, C e DE e tem entre 12 e 64 anos. Portanto, o rádio é transversal a
toda a população, independente de classe social, nível cultural, sexo ou idade. E o mais
curioso, o ouvinte mantém o velho hábito de escutar rádio em casa (tabela 27), embora as
audiências no carro e no trabalho não possam ser desprezadas.
Tabela 27 – Locais de escuta do rádio
Fonte: IBOPE, Grupo de Mídia. 25
A mesma pesquisa indica que, entre as preferências de conteúdo (tabela 28), estão
os programas musicais e os informativos. Sendo que mais da metade dos entrevistados
afirmam que escutam diariamente os dois gêneros sem exclusão. Quase a totalidade dos
entrevistados (92,63%) ouve música no rádio e bem mais da metade da amostragem
(66,96%) acompanha os noticiários locais, além dos 30,84% que acompanham notícias
25 Disponível em: http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx - acesso em 20/11/2010
Local Percentual de ouvintes
Dia da semana Segunda a Sexta Sábado Domingo
Em Casa 53,34% 41,32% 34,04%
No Carro 10,34% 5,13% 3,75%
No Trabalho 10,53% 4,44% 1,82%
No Transporte Público 1,67% 0,43% 0,11%
nacionais. Outro dado relevante é a preferência por música nacional, em ordem decrescente
aparecem os estilos sertanejo (32,38%), MPB (28,16%), sucessos brasileiros (27,08%) e
samba/pagode (26,79%). As músicas internacionais, em inglês, aparecem somente em 5º
lugar na enquete (20,74%).
Tabela 28 – Preferência de gêneros
Fonte: IBOPE, Grupo de Mídia. 26
O rádio, paralelamente a este fôlego de resistência, mostra uma capacidade de
adaptação. Além do espectro eletromagnético, vem oferecendo seu sinal na Internet, no
telefone celular, em todo o tipo de aparatos móveis e, inclusive, na TV por assinatura.
3.5. Digitalização
A digitalização do Rádio no Brasil ainda depende de escolha e regulamentação do
sistema de transmissão que será adotado. Existem duas categorias de sistemas em estudo:
a. aqueles nos quais a transmissão do rádio digital é feita no mesmo canal de
frequência utilizado pela estação AM ou FM. São conhecidos com In-band on-
channel (IBOC) cujos sistemas principais são o HD Radio do consórcio iBiquity
(FM e AM), o FMeXtra da Digital Radio Express e o DRM de um consórcio
europeu. Sendo os dois primeiros de origem nos Estados Unidos;
b. e aqueles que utilizam um novo canal para transmissão do rádios digital, como o
Eureka 147, de origem européia, que utiliza um novo canal na faixa de FM ou na
Banda L (1.452 a 1.592 MHZ). Existe ainda o NISDB-T (Japão) que compartilha o
canal da TV Digital em UHF.
Os testes realizados até o momento mostram que os sistemas IBOC têm custo um
de implementação menor e o ouvinte pode sintonizá-lo no rádio nas mesmas frequências
26 Disponível em: http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx - acesso em 22/10/2010
Programas de Notícias Audiência Programas Musicais Audiência
Locais 66,96% Sertaneja 32,38%
Nacionais 30,84% MPB 28,16%
Trânsito 25,25% Sucesso / As Mais Pedidas (Nacional) 27,08%
Tempo 24,52% Samba/Pagode 26,79%
Policiais 22,75% Sucesso / As Mais Pedidas (Inglês) 20,74%
das estações AM e FM atuais. Todavia, nos testes, nenhum sistema apresenta robutez
suficiente para atender as necessidades de cobertura geográfica do país. Em qualquer
sistema será necessário adquirir um receptor de rádio digital. O fato é que os sinais de
áudio digitalizados têm uma melhor qualidade de som e permitem o aumento no número de
estações. Além disso, as emissoras que operam nas freqüências AM passariam a ter uma
qualidade de som semelhante à da rádio FM e as FM uma qualidade próxima dos CDs.
4. Indústria fonográfica: formatos (disco, CD, DVD, Digital)
O mercado fonográfico no país é acompanhado pela ABP – Associação Brasileira
de Produtores de Disco – que sinaliza uma forte mobilização com fins de adaptação ao
processo de digitalização das mídias e às novas formas de consumo da música, talvez mais
veloz que o do rádio. E as razões dessa busca pela agilidade podem ser comprovadas pela
performance de queda nos negócios analógicos do segmento e a consequente necessidade
de imediata reação.
4.1. Produção – com base no cenário de mercado
A crise que atinge o setor que faturava no mundo, na década de 80, em torno de 50
bilhões de dólares já foi sentida no início da década. O faturamento com da venda de CDs
que no Brasil, no final dos anos 90, chega próximo dos 3 bilhões de reais, desabou pela
metade ainda em 2002 ( dados da Associação Brasileira de Produtores de Disco de 2003).
Hoje a venda de CDs e DVDs não chega a 400 milhões de reais.
O golpe na indústria fonográfica começou com a digitalização do som e a
distribuição pela Internet, sobretudo, a partir do surgimento de aplicativos, como do
Napster, que permitem que as músicas sejam baixadas nos PCs, compartilhas e distribuídas
informalmente (em MP3) sem nenhum custo.
4.2. Distribuição – com base nas operadoras
A Indústria do setor fonográfico reúne organizações especializadas na gravação e
na distribuição da mídia sonora, para tanto tem recorrido aos mais diversos suportes, desde
o velho LP, vinil, fita cassete, CD, DVDs e os recentes formatos digitais como o MP3. As
principais gravadoras que atualmente operam no Brasil são transnacionais, atuam no
mundo todo. É o caso da EMI, SONY BMG Music, Universal Music e Warner Music que
juntamente com a Universal detinham, em 2002, 97,60% do mercado fonográfico do país.
Paralelamente pequenas gravadoras independentes tem se ocupado de algumas pequenas
fatias do mercado atuando em segmentos do mercado. A maioria destas empresas atua na
periferia.
4.3. Consumo – com base na comercialização
Os indicadores de comercialização de CD e DVD, entre 2002 e 2009 (tabela 29),
conforme dados da própria ABPD, apresentam uma significativa variação na receita, com
venda, primeiro positiva, depois bastante negativa. No início da década o setor apresentava
um relativo equilíbrio de vendas, na faixa entre 600 e 700 milhões de reais. A partir de
2005 a comercialização experimentou um processo de queda no faturamento que chegou a
31,2% de 2006 para 2007. No ano seguinte houve uma pequena recuperação que se repetiu
em 2009. No entanto, de 2002 a 2009, as vendas caíram para menos da metade do que se
registrava nos primeiros anos do século XX (50,6% de retração).
Tabela 29 – Evolução da Venda de CDs e DVDS
Fonte: ABPD (valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD).27
O número de unidades vendidas (tabela 30) naturalmente acompanhou a curva
instável e descendente registrada no faturamento do setor, apresentando uma redução
importante em torno de 20%, de 2002 para 2003 (25,33%), de 2004 para 2005 (19,84%).
Entre 2002 e 2007, a retração no número de unidades vendidas atingiu o índice negativo de
58.26%. Durante esse período, somente o ano de 2006 trouxe um pequeno fôlego ao setor,
a recuperação foi 28,7%.
Tabela 30 – Evolução de venda em unidades Unidades Totais (CD + DVD) em milhões
2002 2003 2004 2005 2006 2007
75 56 66 52,9 37.7 31.3
Fonte: ABPD (valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD).28
4.4. Atuação do consumidor – com base na migração para o digital e a pirataria
Diante do quadro adverso, a partir de 2006, a indústria fonográfica começou a
comercialização de músicas digitais por meio da Internet e da telefonia móvel. O mercado
digital não recuperou toda a perda do mercado analógico, mas aponta para um significativo
27 Disponível em: http://www.abpd.org.br/estatisticas_mercado_brasil.aspp - acesso em 12/10/2010 http://www.abpd.org.br/downloads/Final_Publicacao_09_2010_CB.pdf - acesso em 12/10/2010 28 Disponível em: http://www.abpd.org.br/estatisticas_mercado_brasil.aspp - acesso em 12/10/2010 http://www.abpd.org.br/downloads/Final_Publicacao_09_2010_CB.pdf - acesso em 12/10/2010
Vendas Totais R$ (CD + DVD) em milhões
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
R$ 726.0 R$ 601.0 R$ 706.0 R$ 615.2 R$ 454.2 R$ 312.5 R$355.771 R$358.432
crescimento (tabela 31). O principal comércio se dava pela telefonia móvel, mas em 2009 a
compra de música pela Internet assumiu a liderança do segmento digital.
Tabela 31 – Evolução da venda de músicas por meio digital em milhões de R$. Número de músicas digitais vendidas por ano 2006 2007 2008 2009 Internet R$ 334.055
(4% do mercado)
R$ 5.743.684
(24% do mercado)
R$ 9.683.197
(22% do mercado)
R$ 25.121.472
(58,7% do mercado)
Telefonia móvel R$ 8.113.115
(96% do mercado)
R$ 18.543.504
(76% do mercado)
R$ 33.820.343
(78% do mercado)
R$ 17.657.105
(41,3% do mercado)
Total Digital
R$ 8.517.170
(100%)
R$ 24.287.188
(100%)
43.503.539
(100%)
R$ 42.778.577
(100%)
Fonte: ABPD 29
Como se sabe a transição do analógico para o digital não é o único desafio de
acomodação da indústria fonográfica, o mercado paralelo das cópias piratas tem sido,
talvez, o maior problema do setor. As organizações setoriais (ABPD, Associação Anti-
pirataria, Associação Protetora dos Direitos Intelectuais) têm promovido intensa
articulação e pressão nos setores de segurança pública que resultaram na crescente
apreensão de material (tabela 32) usado para a produção e comercialização das cópias
piratas.
Em 2005, as forças de segurança pública recolheram 21 mil cópias piratas, em 2006
foram mais de 23 mil CDs virgens que supostamente seriam usados para pirataria. Em
2008, as apreensões diminuíram.
Tabela 32 – Número de CDs piratas apreendidos por ano CDs 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Gravados 3.223.295 2.976.217 3.783.535 5.686.253 3.473.371 21.392.694 6.179.865 6.251.137 4.089.079
Virgens 122.165 315.643 8.649.590 11.455.421 12.168.818 - 23.755.067 12.301.419 8.444.800
Drivers 280 691 847 4.883 8.238 21.092 43.981 18.115 -
Fontes: ABPD, APCM E APDIF30
Com os DVDs a quantidade apreendida aumenta consideravelmente. Em 2005 a
apreensão (tabela 33) chegou a mais de 9 mil cópias, e em 2008 foram 17 mil unidades
virgens que também supostamente seriam usadas para gravar cópias piratas.
29 ABPD - http://www.abpd.org.br/musicaInternet_numeros.asp - acesso em 12/10/2010 30 ABPD - http://www.abpd.org.br/pirataria_dados_anos_2000.asp - acesso 13/10/2010 APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) - http://www.apcm.org.br/ - acesso em 13/10/2010 APDIF (Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos) - http://www.apdif.org.br/estatisticas.php - acesso em 13/10/2010.
Tabela 33 – Apreensão de DVDs
Fontes 31
A repressão à cópia pirata também investigou um universo superior a mil pessoas
por ano, ao longo da década, chegando a mais de duas mil averiguações em 2007 (tabela
34). As ações policiais também resultaram na prisão de mais de mil pessoas. Entre 2006 e
2007 as condenações em processos de pirataria atingiram 361 pessoas.
Tabela 34 – Repressão à pirataria Pessoas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Averiguadas 1.348 1.213 1.264 1.060 1.064 1.638 1.517 2.160 s/registro s/registro
Presas s/registro 8 58 142 149 205 190 171 195 254
Fonte ABPD32
4.5. Digitalização – com base na aposta da indústria pelo novo mercdo.
Dados divulgados pela Sony Music (um principais players do segmento ou o
principal player), na revista especializada em mídias Telaviva33, revelam que o negócio de
músicas digitais cresceu sete vezes entre 2006 e 2010. A subsidiária digital da empresa
fonográfica, Day 1 Entertainment, registra que o mercado de músicas móveis já representa
22% de receitas da gravadora. O segmento digital da empresa vem trabalhando negócios na
Internet, com segmentos Premium e formatos especiais. Em contra partida, as receitas da
Sony com conteúdos embarcados – música é distribuída junto com os aparelhos – sofreu
uma queda importante. De acordo com a Sony as 10 músicas digitais mais baixadas
geraram 78 milhões de downloads no mundo e, em 2010, a empresa teria crescido 46% em
música digital na comparação com 2008.
31 Idem. 32 Idem. 33
http://www.telaviva.com.br/19/05/2011/mercado-mobile-representou-22-das-receitas-da-sony-music-com-midias-
digitais/tl/224998/news.aspx
DVDs 2005 2006 2007 2008
Musicais apreendidos 9.130.758 2.712.525 3.158.263 ND
Virgens - 14.719.750 8.932.535 17.769.474
5. Cinema
Os registros do cinema brasileiro, somente a partir de 2006, passaram a ser
acompanhados pela ANCINE – Agência Nacional do Cinema. Antes o monitoramento
acontecia por meio de uma organização privada (Filme B). Em razão disso, há uma
limitação na disponibilidade dos indicadores consolidados da indústria cinematográfica
brasileira ao longo dessa primeira década. Entre os dados da ANCINE e da Filme B há
divergências.
5.1. Produção – com base na evolução do número de obras realizadas
No Brasil, conforme registros da ANCINE, existem hoje 163 produtoras habilitadas
para a realização de projetos cinematográficos, a maioria localizada no eixo Rio – São
Paulo. Reconheça-se que, entre 2007 e 2009, estimulados pelas políticas de fomento do
setor de audiovisual do Ministério da Cultura, houve um crescimento significativo de
projetos e mesmo de produções no norte e nordeste (segundo levantamento da Associação
Brasileira de Produtores Independentes34).
Na mesma progressão, o número de realizações da indústria cinematográfica
também vem crescendo (tabela 35), entre 2001 (30 obras) e 2009 (84 obras) quase triplicou
a produção de filmes brasileiros. Seguramente ainda há uma diferença significativa entre
os lançamentos nacionais e estrangeiros, mas já foi bem maior.
Tabela 35 – Evolução do número de filmes lançados Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Nacionais 30 29 30 49 45 72 78 79 84 75
Estrangeiros 248 244 234 228
Fonte: ANCINE35
Os programas de incentivo do governo federal, especialmente através da Secretaria
de Audiovisual do Ministério da Cultura têm estimulado essa produção. Nos últimos três
anos foram mais de 60 milhões de reais que resultaram em 681 produtos (incluindo
programas de TV e plataformas digitais). Registre-se que, além das políticas de incentivo,
a digitalização e, em razão disso, a diversificação e barateamento dos meios de captação e
processamento de som e imagem, tem contribuído nesse aquecimento da realização
34 http://www.abpitv.com.br/mostra_noticias.php?codigo=270&btvoltar=index.php acesso em 20/10/2010 35 Idem
audiovisual. Inclua-se também o amadurecimento da cultura de produções BO (baixo
orçamento) entre cineastas emergentes.
5.2. Distribuição – com base no número de agentes, salas e assentos.
Se observarmos a infraestrutura de exibição, com base nos registros disponíveis de
2008 (tabela 36), observa-se uma concentração de assentos nas maiores metrópoles do
país, especialmente nas capitais, em razão, sobretudo, do fechamento das antigas salas e a
migração para shopping centers. A maioria dos espaços está nas cidades de São Paulo e
Rio de Janeiro que, juntas, somam quase 100 mil unidades, enquanto nas demais capitais
do quadro o número de assentos somados não chega 72 mil (71.996 assentos).
Tabela 36 – Cidades com maior número de assentos
Fonte: Acine36
O fato é que o mercado de cinema no Brasil mostra potencial de crescimento. Outro
referente dessa fatia de mercado é o número de distribuidores nacionais e internacionais
(Tabela 37 ) em operação no país. Entre 2000 e 2009 a curva de crescimento é impactante,
salta de quatro operadores o setor para quarenta.
Tabela 37 – Evolução do número de distribuidores Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Distribuidores
04 10 10 14 17 22 35 29 31 40 52
Fonte: ANCINE 37
36 http://www.ANCINE.gov.br/media/SAM/2008/LongasSalasExibicao/301.pdf - acesso em 12/10/2010 37 http://www.ANCINE.gov.br/media/SAM/2009/SerieHistorica/1115.pdf - acesso em 12/10/2010
Cidades com maior concentração de assentos 2008
Belo Horizonte 13107
Brasília 13997
Curitiba 13712
Porto Alegre 14375
Recife 6570
Rio de Janeiro 36354
Salvador 10235
São Paulo 61562
Embora a reação do cinema nacional nos últimos anos seja animadora, o quadro de
remessa de lucros da produção estrangeira ou de empresas internacionais, que exploram o
mercado brasileiro, mostra uma evolução. Os técnicos do Banco Central que executaram
um levantamento, exclusivamente para a presente pesquisa, alertam que não há no sistema
de monitoramento da instituição um código específico para gerar diretamente os dados de
remessas de lucros de filmes estrangeiros.
A tabela apresentada resultou de uma combinação de critérios. Os técnicos
esclarecem também que as distribuidoras de filmes estrangeiras contempladas são aquelas
que podem gerar receitas, no mercado brasileiro, que, por sua vez, podem ser remetidas
para o exterior como lucros (no caso de filiais brasileiras), royalties ou serviços
audiovisuais. Possibilidades que foram consideradas no relatório. Explicam que os dados
sobre o remetente e o favorecido no exterior, conforme a Lei Complementar 105/2001, não
podem ser divulgados pelo Banco Central. E quanto aos dados das empresas residentes,
eles foram agregados com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE).
O fato é que o relatório gerado mostra os valores que nos servem de parâmetro para
uma primeira análise. Dados consolidados pelo Banco Central (tabela 38) apontam para
um forte aquecimento nas atividades de exibição cinematográfica, sobretudo, entre 2008 e
2009, que se manteve ascendente em 2010. Quando esses resultados contemplam as
atividades de produção, as remessas de lucros e dividendos mostram uma estabilidade,
destacando um volume mais forte em 2009, mas um refluxo em 2010.
No que se refere a pagamento de royalties, verifica-se variações:
1) de mais de 900% de aumento, no caso da exibição, de 2009 para até out. de
2010;
2) de quase 100% de crescimento, de 2008 para 2009, em relação à distribuição;
3) de mais que duplicação da pós-produção de 2009 para até out. 2010.
Já no que diz respeito a serviços há uma tendência de queda em algumas áreas
conforme a performance anual de 2008 para 2010:
1) na exibição de 2009 para até out. de 2010, de US$ 172.000 para US$ 91.000;
2) na pós-produção de 2009 para até out. de 2010;
3) não há chance de queda na “distribuição” e “produção”.
Tabela 38 - Remessa de lucros valores em dólares (1.000 US) Conta do
Balanço de Pagamentos
Residente - CNAE Classe Nome
2008 2009 2010 (até out.)
Atividades de exibição cinematográfica 510 2.678 3.135
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
265 0 231
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
4.840 6.392 4.510
Lucros e dividendos distribuídos
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de televisão
0 214 0
Atividades de exibição cinematográfica 15 15 1.074
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
369 333 801
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
1.831 1.786 1.519
Royalties e direitos de
uso
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de televisão
25.832 50.559 48.350
Atividades de exibição cinematográfica 4 172 91
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
2 10 1
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
18 74 110
Serviços audiovisuais e relacionados
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de televisão
16.545 20.412 39.269
Fonte: Banco Central em levantamento exclusivo para a presente pesquisa
Esses dados ainda requerem uma investigação mais detalhada para que se possa
identificar os atores e suas atividades específicas (o que se pretende fazer no decorrer das
próximas etapas), mas já indicam que uma importante fatia do mercado audiovisual no
segmento é operado ou tem participação de organizações estrangeiras.
5.3. Consumo – com base no número de espectadores de filmes
A pujança do mercado local também pode ser avaliada pelos os números que
mostram uma estabilidade no número de espectadores durante a década, especialmente no
que se refere ao público dos filmes estrangeiros (na faixa dos 90 milhões espectadores). Na
filmografia nacional, embora se observe uma média em torno de 10 milhões de
espectadores, houve uma oscilação de bilheteria (tabela 39) atípica em 2003 (22 milhões de
espectadores) e 2004 (16 milhões de espectadores). Um fenômeno que tende a se repetir
em 2010 (dados da Filme B), quando apenas três filmes (Tropa de Elite 2, com mais de 11
milhões, Nosso Lar e Chico Xavier – O Filme) superam os 15 milhões espectadores.
No que se refere à arrecadação o cinema também fez seu primeiro bilhão. Em 2010,
as bilheterias das salas de todo o país somaram 1, 2 bilhões de reais conforme a Filme B
(tabela 39).
Tabela 39 – Evolução do número de espectadores em milhões X receita em milhões de R$
Fonte: ANCINE e Filme B38
Paralelamente à evolução da receita ainda o desafio: apesar da bilheteria nas salas
de todo o país ter ficado, ao longo da década, na faixa dos 700 milhões de reais, pouco
mais de 10% deste valor foi gerado a partir dos filmes nacionais. Também no que se refere
à arrecadação, os três filmes brasileiros, fenômenos de público em 2010, já captaram juntos
mais de 150 milhões de reais. Em 2009, “Se Eu Fosse Você 2” foi a segunda maior
bilheteria do ano, com mais de 50 milhões de reais, atrás apenas de “A Era do Gelo 3”, que
arrecadou 80 milhões de reais, menos que “Tropa de Elite 2” em 2010.
Na verificação por estados brasileiros (tabela 38) observa-se que há um público
cativo entre 3 e 5 milhões de espectadores que é recorrente em cada uma das áreas de
concentração urbana e em todas a regiões. Exceções para os estados do Rio e São Paulo,
que juntos se aproximam dos, quase 60 milhões, número superior inclusive à soma de
todos os demais estados brasileiros, que juntos chegam a um total de 53.770.709. Pode-se
aferir que no Brasil há um público fiel do cinema que assegura um mercado estável no
consumo geral da indústria cinematográfica e que é mostra-se cada vez mais sensível à
produção nacional. Os únicos estados com redução de público de 2008 para 2009 foram o
Acre e o Tocantins. Já entre todos os demais, que apresentaram, em sua grande maioria,
38 http://www.ANCINE.gov.br/media/SAM/20092/Programacao/505.pdf - acesso em 08/10/2010 http://www.ANCINE.gov.br/media/SAM/2008/Programacao/508.pdf\ - acesso em 08/10/2010 http://www.filmeb.com.br/portal - aceso em 08/11/2010
Ano
/Espectador
(ANCINE)
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Filme
Nacional 7,2 22,05
16,5
9,9 10,3 9,1
Filme
Estrangeiro 83,5 80,9
98,3
81,3 77,6 80,8
Total 90,8 102,9
114,7
93,6
91,2 87,9 89,9 112,6 134,9
Receita
ANCINE
(R$)
701,3 702,06 729,5
Receita
Filme B
(milhões
de R$)
529,7 660,6 784,5 672,0 695,1 712,7 727,1 970,4 1.261,3
taxas de crescimento bastante significativas no número de espectadores, os destaques ficam
com Roraima, mais que duplicou seu público (2,5 vezes), e Rondônia, mais que o triplicou
(3,7 vezes).
Tabela 40 – Relação bilheteria/ telespectador por estado
ANO 2008 2009
Estado ESPECTADOR RECEITA(R$) ESPECTADOR RECEITA (R$)
AC 67.687 316.037 54.870 404.731
AL 272.368 1.902.118,00 426.226 3.421.690,46
AM 1.321.686 10.027.887 1.874.560 16.008.366,49
AP 150.398 923.975 213.372 1.364.382
BA 2.579.006 19.024.142,00 4.322.029 32.776.328,43
CE 1.688.841 12.406.997,00 2.501.526 19.953.682,04
DF 3.105.705 27.233.760,00 4.269.045 41.596.291,64
ES 1.364.340 9.747.425,00 2.070.694 16.857.712,42
GO 1.903.081 12.351.638,00 3.191.686 21.301.823,35
MA 693.129 4.658.874,00 945.642 7.163.658,12
MG 5.649.426 38.035.455,00 8.533.756 63.181.260,31
MS 660.283 4.900.012,00 895.113 7.564.456,65
MT 862.147 5.967.253,00 1.221.303 9.506.588,64
PA 760.074 5.176.280 1.144.172 8.700.111
PB 724.347 4.117.657,00 926.314 5.707.085,75
PE 2.386.154 16.934.136,00 3.680.712 27.193.185,46
PI 247.274 1.676.275,00 385.970 2.785.811
PR 4.487.622 32.300.054,00 5.948.088 48.703.554,06
RJ 10.976.441 97.511.632,00 17.756.110 161.733.506,59
RN 774.091 5.640.070,00 1.055.027 8.045.248,50
RR 45.344 307.381 116.291 737.945,50
RS 4.000.117 30.708.450,00 5.318.660 45.733.179,69
RO 125.693 740.727 469.889 3.583.308,30
SC 2.231.661 16.473.475,00 3.276.413 27.857.704,81
SE 603.220 4.012.644,00 890.774 6.534.014,99
SP 28.494.319 #########
41.224.884 381.482.423,28
TO 70.942 366.217 38.577 273.724,00 Fonte: ANCINE39
5.4. Atuação da instância de recepção – com base preço do ingresso e no cineclube
O vínculo de parte do público brasileiro com o cinema, como vimos, vem
crescendo. Os levantamentos da Filme B, efetivamente, mostram que o número de
espectadores saltou de 112 milhões em 2009 para 137 milhões em 2010, um aumento
superior a 19%. Esse movimento também pode ser mensurado pelo número de cineclubes
por estado. Como atestam levantamentos do IBGE e os registros do Ministério da Cultura
(tabela 39), existem unidades em quase todo o país. E o dado mais significativo, em certo
39 http://www.ANCINE.gov.br - acesso em 10/11/2010
sentido natural, mas também curioso, é a localização da maior parte dos cineclubes. Estão
presentes nas regiões com menor infraestrutura de salas de exibição, como o caso do
Amapá, onde estão 18,75% dos cineclubes. O estado do norte perde apenas para o Rio de
Janeiro (27,17%). O Acre (9,09%) apresenta, praticamente, o mesmo percentual de São
Paulo (9,15%). Uma característica que se verifica em toda a região do norte e nordeste,
um movimento, sob certo aspecto, na contramão da centralização de produção e de
infraestrutura de exibição no sudeste e no sul.
Tabela 41 – distribuição dos cineclubes pelo país
Fonte: Ministério da Cultura40
Um limitador para o acesso desse público que gosta de filmes é o preço do ingresso
(tabela 44). A média nacional é superior hoje a R$ 9,00 (nove reais) reais. Segundo a Filme
B, que em 2001, era em torno de R$ 5,50, em 2005 já estava na faixa dos R$ 7, 00 (sete
reais). Três anos depois passou para R$ 8,16 (oito reais e dezesseis centavos) hoje o valor
médio do ingresso é de R$ 9,35 (nove reais e trinta e cinco centavos). De acordo com a
ANCINE (tabela 42), em 2009 esse valor já estava acima de oito reais (R$ 8,22), também
sinalizando uma alta na direção dos R$9,00 (nove reais).
40 http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2009/10/cultura_em_numeros_2009_final.pdf - acesso em 12/10/201
Cineclubes registrados em 2009 conforme distribuição em %
Rio de Janeiro 27,17 Bahia 3,36
Amapá 18,75 Minas Gerais 3,05
São Paulo 9,15 Mato Grosso 2,84
Acre 9,09 Sergipe 2,67
Espírito Santo 8,97 Goiás 2,44
Ceará 5,43 Santa Catarina 2,39 Amazonas 4,84 Maranhão 1,38
Pará 4,2 Paraíba 1,35
Alagoas 3,92 Rio Grande do Norte 1,2
Rondônia 3,85 Tocantins 0,72
Rio Grande do Sul 3,83 Piauí 0,45
Pernambuco 3,78 Roraima 0 0
Paraná 3,51 Mato Grosso do Sul 0
Tabela 42 – Preço do ingresso por estado Tabela 43 – Preço médio em Reais
UF 2008 2009 ANO PMI
DF 8,77 9,74 2008 R$8,11
ES 7,14 8,14 2009 R$8,22
MA 6,72 7,58 Fonte: ANCINE41
MG 6,73 7,4
MS 7,42 8,45
MT 6,92 7,78 PA 6,81 7,6 Tabela 44 - Média nacional em reais
PB 5,68 6,16
PE 7,1 7,39 ANO PMI – R$
PI 6,78 7,22 2001 5,50
PR 7,2 8,19 2002 5,83
RJ 8,88 9,11 2003 6,29
RN 7,29 7,63 2004 6,68
RR 6,78 6,35 2005 7,18
RS 7,68 8,6 2006 7,70
RO 5,89 7,63 2007 7,98
SC 7,38 8,5 2008 8,16
SE 6,65 7,34 2009 8,61
TO 5,16 7,1 2010 9,35
Fonte : ANCINE 42 Fonte: Filme B43
5.5. Os efeitos da digitalização – salas de exibição
O processo de digitalização das salas de exibição é veloz em todas as regiões
metropolitanas e em todas as regiões geográficas do país. O número de salas digitais e,
principalmente com infraestrutura para exibição em 3D se multiplica a cada ano. Conforme
o último levantamento da Filme B44, em 2010, já existem 259 complexos de salas digitais
equipados com projeções em 3D. Considerando a média de 5 salas por complexo, o Brasil
passa dos mil ambientes em condições de exibição da tecnologia digital.
41 http://www.ANCINE.gov.br/media/ - acesso em 12/10/2010 42 idem. 43 http://www.filmeb.com.br - acesso em 11/101/2010 44 http://www.filmeb.com.br/portal/html/graficosetabelas.php - acesso em 09/11/2010.
6. Televisão
A radiodifusão de sons e imagens, dentre os meios de comunicação de massa, desde
os anos 70 assumiu uma liderança hegemônica. Historicamente a TV se caracterizou como
um negócio típico do capitalismo monopolista (BOLAÑO, 2004), com baixo índice de
concorrência. Um estudo de César Bolaño acerca do mercado brasileiro de televisão, que
analisou o desempenho do segmento entre os anos de 80 e 90, registrou que as barreiras de
entrada no setor (na época, operado por quatro redes comerciais) asseguravam uma
estabilidade estrutural. Verificava-se, em princípio, uma baixa variação de estratégias
competitivas, inclusive por restrições financeiras (capacidade de investimento). Todavia, o
mesmo estudo já indicava para uma transformação que se iniciava a partir do
desenvolvimento tecnológico, da emergência da TV Segmentada (UHF) e da TV por
Assinatura (TVA), da disseminação do satélite (DTH).
O fato é que “o que pode alterar fundamentalmente os termos dessa questão é o
desenvolvimento de tecnologias que permitam uma maior segmentação do mercado
consumidor e uma comunicação mais dirigida e, no limite, interativa” indicava Bolaño
(2004, p.225).
6.1. TV Aberta 6.1.1. Produção – com base no modelo concentrado
Existem sete redes de emissoras de Televisão (tabela 44) que operam em VHF45, a
principal banda de canais analógicos, sendo duas com gestão pública e 5 com gestão
privada, conhecidas com TVs Comerciais. Entre as públicas, a TV Cultura, embora
vinculada a uma fundação estatutariamente autônoma, é financiada e controlada pelo
governo paulista, e a TV Brasil, apesar de subordinada a um conselho formado pela
sociedade civil é também financiada pelo Estado, no caso o governo federal. As redes
privadas são controladas por quatro grupos familiares (Globo – família Marinho, SBT –
família Abravanel, Band – família Saad e Rede TV – família Dallevo) e uma organização
45 VHF - origem no termo inglês Very High Frequency (Frequência Muito Alta) que corresponde a faixa de radiofrequências de 30 a 300 MHz. Essa faixa é geralmente utilizada para transmissão de rádio FM (88-108 MHz) e transmissões televisivas (em conjunto com a UHF). Também é usada para sistemas de navegação terrestre, comunicações aéreas e radioamadorismo. UHF - Ultra High Frequency (Frequência Ultra Alta) compreende a faixa de radiofrequências de 300 MHz até 3 GHz também usada para propagações de sinais de TV analógica e dos canais digitais em HDTV (Higth Definition, que vai do14 ao 83), rádio e transceptores . No Brasil, a faixa também é utilizada paara a telefonia celular (70 a 83) .
religiosa (Record - vinculada aos pastores da Igreja Universal, embora a instituição
religiosa venha se esforçando para descaracterizar qualquer ligação direta com a emissora).
Basicamente todas as cabeças de rede (emissora que coordena a grade de programação e
transmite o conteúdo âncora) estão localizadas no eixo Rio - São Paulo. No caso da TV
Brasil essa função operacional fica divida entre a principal emissora, que fica no Rio, e a
estrutura de Brasília, sede principal da rede.
Tabela 45 – Estruturas das redes que operam o sistema de TV Aberta Redes Próprias Afiliadas Total Globo 16 76 92
SBT 9 40 49
Record 5 25 30
Bandeirantes 8 19 27
Rede TV 5 8 13
TV Cultura 1 12 13
TV Brasil 4 37 41 FONTE: ANATEL e TV Brasil – estão incluídos os canais VHF e UHF46
A distribuição de afiliadas das redes VHF (tabela 46) apresenta uma concentração
também no Sul (particularmente no Paraná) e Sudeste (naturalmente com maior presença
em São Paulo), mas diferentemente das demais mídias também se expande pela região
norte do País. Pará (notadamente com 11 emissoras, o terceiro em maior quantidade do
país), Maranhão e Amazonas juntos, com 27 canais, superam os três estados do sul, com
25 emissoras. Esse fenômeno está ligado a uma redistribuição mais tardia do espectro
eletromagnético nessas regiões e também da forte influência de políticos locais. Em ordem
decrescente do número de emissoras por região brasileira estão: Sudeste, Norte, Nordeste,
Sul e Centro-Oeste.
46 http://www.anatel.gov.br/Portal acesso em 09/10/2010
Tabela 46 – Distribuição de emissoras por estado
Estado
Redes de TV
Estado
Redes de TV
AC 4 PA 11
AL 4 PB 2
AM 8 PE 6
AP 3 PI 3
BA 4 PR 13
CE 6 RJ 5
DF 4 RN 3
ES 4 RR 2
GO 3 RS 8
MA 8 RO 4
MG 10 SC 4
MS 5 SE 3
MT 7 SP 45
TO 4
Fonte: Anatel47
Além da frequência VHF há redes que operam na frequência UHF, como a Rede
Vida, Canção Nova (canais vinculados à Igreja Católica), TV SESC (do Serviço Social do
Comércio), a MTV (ligada ao grupo Abril), os canais chamados públicos da TV Justiça,
TV Senado, TV Câmara (dos poderes Judiciário e Legislativo), a NBR (canal de notícias
do governo federal), Canais Universitários (vinculados a instituições públicas e privadas) e
outras emissoras comerciais segmentadas.
6.1.2. Distribuição – com base na penetrabilidade da tecnologia
A televisão é a mídia com maior penetração nos lares brasileiros (tabela 47). Os
últimos levantamentos da PNAD do IBGE revelam que o veículo está presente em 95,7%
dos domicílios. Verificando a evolução dos dados registrados entre 2001 e 2009, a relação
entre o aumento no número de domicílios e de aparelhos de TV é diretamente
proporcional. Há até uma ligeira vantagem para a TV. Hoje existe um aparelho de televisão
em 56 milhões dos 58 milhões de domicílios brasileiros acompanhados pelo IBGE.
47 Idem
Tabela 47 – Número de aparelhos de televisão por região.
ANO DOMICÍLIOS COM TV (por milhares) DOMICÍLIOS CONSULTADOS
2001 41.391,00 46.507
2002 43.232,40 48.036
2003 44.790,50 49.712
2004 46.732,90 51.753
2005 48.490,40 53.053
2006 50.787,30 54.610
2007 53.245,00 56.344
2008 54.736,70 57.557
2009 56.058,10 58.577
Fonte: PNAB 2009
6.2. Consumo – com base na receita e na luta pela audiência
A TV Aberta, como destacado no presente relatório, também segue líder no
faturamento com verbas publicitárias (tabela 48), oscilando ao longo da década entre 59 e
60% de participação do mercado. A receita bruta do setor também acumula um
crescimento que varia entre sete e pouco mais de 10% ao ano.
Tabela 48 – Evolução da receita publicitária na TV Aberta
Receita TV Aberta 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Em bilhões de R$ 9,507 10, 354 11,252 12,605 13,569 16,498 Fonte: Inter-meios48
O mercado publicitário da TV aberta alcançou em 2010 seu maior faturamento
desde 1990, aponta pesquisa do Projeto Inter-meios. A participação do setor no total
investido em mídia foi de 62,9%, um crescimento de 21,6% em relação a 2009. Em valores
reais, o meio registrou uma receita de R$ 16,498 bilhões em 2010, contra R$ 13,569
bilhões em 2009.
A participação TV aberta brasileira fica atrás apenas dos Estados Unidos e do
Japão, no comparativo com o mercado internacional. A realização da Copa do Mundo foi
um dos motivos que resultou na alta histórica, de acordo com o presidente do Grupo M&M
que é responsável pelo monitoramento, José Carlos Salles Neto. “Mas não só pela Copa do
Mundo de 2010. ATV aberta foi privilegiada pelos anunciantes”, observou Salles Neto em
declaração que acompanhou a publicação dos resultados.
48 http://www.projetointermeios.com.br/ - acesso em 14/10/2010.
Apesar da manutenção da hegemonia da TV Aberta nessa transição do analógico
para o digital, os radiodifusores já perceberam que estão diante do gigantesco desafio de
reter audiência.
6.3. Atuação do consumidor – com base nos índices de audiência
A autonomia do telespectador, assegurada pelos diversos aparatos digitais, que,
atualmente, também podem exibir conteúdos de TV, antes uma exclusividade das
emissoras abertas e de suas grades de programação, já sinaliza um discreto movimento no
hábito de consumo. O telespectador começa a diluir suas preferências. Primeiro entre os
próprios canais abertos que (também graças à digitalização e barateamento dos
equipamentos de produção – captação, edição, finalização) hoje disputam a audiência em
igualdade de condições do ponto de vista dos padrões técnicos de realização e veiculação.
Depois, o telespectador experimenta novas possibilidades de suporte (computador,
gravador digital) para assistir ao programa preferido, com base na sua disponibilidade de
tempo e desejo, dissociando-se da grade de conteúdos e de horários das emissoras.
Se observarmos um quadro de desempenho (tabela 49) das principais redes, e
fizermos um cruzamento com os indicadores de audiência medidos pelo IBOPE49,
encontraremos indícios de diluição da audiência. O aumento de investimento em Internet,
TV por assinatura e na telefonia móvel também ajuda a encontrar rastros dessa infidelidade
da audiência. Embora a Rede Globo mantenha a liderança com folga, na média anual geral,
no início da década, o cenário já foi mais confortável. Em 2001 a concentração de
audiência na Rede Globo era superior a 50%, hoje a média é de 44,4% dos televisores
ligados.
No que se refere ao faturamento, os números indicam um maior equilíbrio. O maior
resultado ainda é da Globo, com 32%, seguida pela Record, com 21%, SBT, 19%, Band,
16%, ficando as demais com 12%.
49 Índices divulgados no jornal Folha de São Paulo, edição de 14/11/2010
Tabela 49 – Distribuição por rede: faturamento, participação e audiência média
Rede GLOBO RECORD SBT BAND Outras
Faturamento
em bilhões
de R$
4.342.189.741,67 2.849.562.017,97 2.578.175.159,1187 2.171.094.870,83 1.628.321.153,1276
Participação
% 32 21 19 16 12
Audiência 44,4 16,9 13,2% 4,7% 2,6% (REDE TV)
Fonte: Inter-meios e IBOPE
Mas o maior problema para as emissoras abertas está mesmo na fuga do
telespectador para outros suportes como videojogos, TV por assinatura e DVD. Conforme
o monitoramento do IBOPE/NETRATING50, de 2005 a 2009, o número de domicílios com
DVDs, games e outros dispositivos acoplados ao aparelho de TV cresceu 125%, saltando
de 1,6% para 3,6 %. Essa variação percentual equivale, segundo a pesquisa, a 1,92 milhões
de domicílios. Significa dizer que um universo de lares que representa um volume de
telespectadores superior à audiência diária na Grande São Paulo (dados do IBOPE) da
BAND (3,4) e REDE TV (2,1) abandonou a TV Aberta. A mesma pesquisa indica que o
número de aparelhos ligados nos últimos cinco anos diminuiu da média de 58,8% dos
domicílios monitorados para 57,7%.
Dados do IBOPE de 2009 ainda mostram que as TVs ligadas em DVS, games, TV
paga e pequenos canais, entre 2001 e 2009, cresceram 91%. Se for observada apenas a
variação entre 2005 e 2009, quando a economia registrou uma explosão de consumo de
eletrônicos juntamente com a adesão aos serviços de TV por assinatura, o crescimento
atingiu 125%. A mesma fonte mostra que o impacto dessa migração para outros aparatos
eletrônicos foi sentido claramente na audiência da TV (tabela 50). E as emissoras mais
atingidas foram aquelas que eram líderes em 2000 (Globo, com -8%, e SBT, com -53%).
Tabela 50 – Evolução da disputa em pontos entre as cinco redes Globo SBT Record BAND Rede TV
Variação de audiência - 8% -53% 102% 13% 5%
2001 32.3 13.3 4.7 3 3
2009 29,7 6.3 9.5 3.4 2.1
Diferença - 2.6% - 7 4,8 0,04 0.1
Fonte : IBOPE nacional das 18hs às 0h em 2009
50 Divulgado no jornal Folha de São Paulo de 28/02/10.
*cada ponto equivale a 533.840 domicílios 51
O principal instrumento tecnológico à disposição do segmento para administrar
uma reação é a digitalização dos sistemas de transmissão terrestre de vídeo, áudio e dados.
A tecnologia da TV Digital (sistema de transmissão nipo-brasileiro chamado de ISDB-
TB52) permite o recurso da imagem em alta definição, do som em estéreo, da recepção
móvel, multiprogramação e da interatividade. No Brasil, onde as transmissões digitais
começaram em São Paulo, em 2 de dezembro de 2007, já é realidade o “Ginga”, um
middleware (espécie de sistema operacional, na verdade uma camada de software
intermediária, que faz interface de aplicativos com o sistema de funcionamento do
aparelho de televisão), que permite o uso no aparato televisivo de aplicativos complexos
como aqueles comuns à Internet.
Embora o potencial do Ginga ainda seja muito pouco explorado, a maioria das
principais redes vem fazendo experimentos de interatividade em canal aberto desde 2009.
Em 2010 alguns protótipos com serviços como informações adicionais sobre a
programação, sinopses, perfil de personagens e enquetes de escolha simples foram testados
(veremos mais detalhes adiante) e gradualmente começam a fazer parte das operações de
rotina nas emissões digitais53. Quase todos dos estados já transmitem em sinal digital.
Dados divulgados pela ANATEL54 em maio de 2011 informam que o Brasil já
possui 102 emissoras com tecnologia digital em operação. Estas estações atenderiam 87,7
milhões de pessoas em 480 municípios, o que equivale a 45,98% da população do país. A
agencia reguladora estima que a cobertura da televisão digital terrestre já seja igual, talvez
até superior à cobertura analógica.
O otimismo em torno da performance da TV tem levado muitas empresas de
consultoria, especializadas em cenários de mercado, a afirmar que vai ser solidificado o
status de super mídia. Um estudo da Deloite55 2011 TMT Predictions, que apresenta
51 http://www.vooz.com.br/noticias/tvs-perdem-audiencia-para-games-e-dvds-diz-ibope-30365.htm (acesso em 9/11/2010) 52 O Brasil adotou um sistema híbrido com base da tecnologia de transmissão desenvolvida no Japão e incorporações desenvolvidas por universidades brasileiras. 53 Até 2016, data prevista para ser consumada a transição das transmissões analógicas para as digitais, as emissoras operam nos dois sistemas. Hoje a Rede Globo digital cobre 46,5% da população brasileira (com base nas áreas de maior concentração urbana), a Record cobre 22%, SBT e Rede TV! cobrem 19,4% da população e a Band, 15,7%. 54 Acessível em http://www.telaviva.com.br/20/05/2011/midia-digital-deve-receber-15-do-bolo-publicitario-mundial-em-2011/tl/225121/news.aspx. 55
Acessível em http://www.telaviva.com.br/10/02/2011/tv-deve-solidificar-seu-status-de-super-midia-em-2011-aponta-
deloitte/tl/213556/news.aspx
perspectivas para as indústrias de telecomunicações, tecnologia e mídia e destinadas aos
executivos das principais empresas midiáticas do mundo, a audiência de televisão deve
crescer com a adição de novos 40 milhões de espectadores em 2011, chegando a 3,7
bilhões de espectadores no planeta. O mesmo estudo também projeta que o tempo dedicado
pelas pessoas à TV deve crescer e chegar a 3 horas e 12 minutos, contra uma média de 15
minutos de tempo que será gasto com sites de redes sociais.
Na estimativa da Deloite, os programas de TV serão o tema mais recorrente nas
redes de todo o mundo enquanto que os investimentos publicitários no segmento vão saltar
para 191 bilhões de dólares.
6.4. Digitalização – com base nos experimentos digitais
Paralelamente ao desenvolvimento da TV Digital as emissoras enfrentam um
processo de substituição dos seus parques tecnológicos de transmissão e produção. A
renovação passa pelo treinamento das suas equipes e experimentos de conteúdos em alta
definição, conteúdos interativos, colaborativos e em processos de distribuição multimídia.
A maior parte da programação da TV Aberta ainda privilegia conteúdos que asseguram a
audiência que se mantém na TV Analógica. Como é caso dos filmes estrangeiros exibidos
em grande escala na comparação com os títulos nacionais (tabela 51).
Tabela 51 – Evolução da veiculação de filmes na TV Aberta Filmes longa-metragem 2007 2008 2009
Estrangeiros 1285 1662 1603
Exibições 1501 1944 2039
Nacionais 185 208 206
Exibições 267 336 324
Fonte: ANCINE56
De outra parte, a produção de conteúdo nacional na área de dramaturgia tem
aumentado significativamente. De acordo com o monitoramento do OBITEL –
Observatório Ibero Americano de Ficção Televisa, em 2009 foram 41 novos títulos, 2.307
capítulos e episódios que perfizeram mais de 1,6 mil horas de produção (OBITEL, 2010).
Entre novelas, minisséries, séries, sitcoms, docudramas e, inclusive, telefilmes (quatro
experiências realizadas pela TV Cultura, SP), estes os programas televisuais representaram
56 http://www.ANCINE.gov.br/media/SAM/2009/MonitoramentoObrasLongaMetragem/608.pdf - acesso em 12/10/2010
um aumento de 20% em relação a produção de 2008. Nessa linha surgiram trabalhos
gravados em HDTV e algumas experiências interativas e transmidiáticas57.
A TV Globo tem sinalizado que as produções em mais de uma plataforma estão
entre suas principais estratégias nesse período de transição do analógico para o digital. Em
2009, como registra o levantamento do OBITEL, pelo menos quatro produções foram
realizadas como transmidiáticas. Foram os casos de “[email protected]”, “Malhação”, “Norma”
e “Som e Fúria”.
A primeira trata-se de uma série de adolescentes que criou blogs para personagens,
conteúdos exclusivos para Internet e Celular, além de também ser distribuída por DVD. A
novela jovem “Malhação” ofereceu edições da trama apropriadas para Internet. “Som e
Fúria” teve uma versão para TV e outra para cinema. Mas, “Norma” foi a iniciativa mais
ousada. A história, temas e personagens foram discutidos pela equipe de produção (um
empresa Independente) com uma rede de internautas. O roteiro permitia atualizações de
rumos com a participação de pessoas num auditório no estúdio onde ficava o set de
filmagens. A experiência não atingiu a audiência esperada pela emissora e foi tirada do ar
após o terceiro episódio. Outra iniciativa recorrente (em 2010) foi o uso de personagens de
dramaturgia que tinham blog e interagiam com os telespectadores durante toda a exibição
das telenovelas.
O fato é que a maioria das redes segue optando por um modelo centralizado de
produção por meio do qual prioriza um controle do sistema de realização, seja de custo,
estético ou editorial. É verdade que, gradualmente, tem ganhado volume (especialmente)
nos últimos três anos o investimento dos radiodifusores em produtoras independentes
nacionais (notadamente o bem sucedido caso da BAND com o programa CQC e outros).
Uma experiência que tem se mostrado bem vantajosa na TV por assinatura e que, parece,
começa a sensibilizar a TV Aberta.
6.4.1. Uso do middleware Ginga
As principais redes, ainda que timidamente, já fazem testes de interatividade em
transmissões digitais com o uso do middleware Ginga. A TV Globo fez suas primeiras
experiências em 2008. No ano seguinte usou nas transmissões digitais da telenovela
57 Vale lembrar que a primeira produção brasileira planejada para ser produzida para mais de uma plataforma de exibição (TV e Cinema) foi “O Auto da Compadecida” (TV Globo, 1999). Em 1968 a experiência da TV Tupi com Beto Rockfeller (que foi realizado como filme e telenovela), não resultou de uma estratégia pensada previamente como uma ação multiplataforma (ORBITEL, 2010).
“Caminho das Índias”. O aplicativo ofereceu interatividade local, com informações sobre
os personagens, sobre capítulos passados, uma galeria de fotos dos cenários e de algumas
cenas. Um ícone de enquete convidava o telespectador a votar na escolha sobre um
possível desfecho de um obstáculo dramático ao longo da trama.
Foto 1 - Demonstração realizada no SET 2009 - evento da sociedade de engenharia de televisão.
(KIELING, 2009)
Por sua vez, o SBT tem optado por um conceito de “portal da interatividade” no
canal de transmissão da TV. O programa oferece notícias, divulgação das novidades da
programação, uma enquete e informações sobre promoções de outros negócios da empresa.
A proposta de portal permite que o telespectador reduza a janela do conteúdo da TV para
poder navegar exclusivamente no aplicativo de dados.
Foto 2 - Demonstração do Portal de Interatividade do SBT na SET 2009
Fonte: Idem.
A Rede Record faz experimentos nas transmissões do Reality Show “A
Fazenda”, programa que reúne famosos num espaço cenográfico que tenta imitar as
características vida rural. A exemplo da Globo, a emissora oferece conteúdo complementar
ao do programa usando expressões vinculadas à temática da atração televisiva. “Tá na
Roça” resgata detalhes dos processos de eliminação do jogo; “A Fazenda” dá informações
sobre o programa; “Peões” descreve o perfil dos participantes; “Notícias” comenta eventos
que aconteceram no programa; “Enquete” também apresenta questões de escolha simples
sobre episódios já apresentados.
Foto 3 - Protótipo da Record organiza os ícones de navegação do lado direito da tela.
As emissoras seguem fazendo testes com a ajuda de empresas especializadas em
desenvolvimento de aplicativos com uso do Ginga ou estruturando e/ou treinando suas
equipes próprias de engenharia de software. Uma das alternativas que tem sido trabalha
com apoio de consultoria externa é a interatividade local para jogos de futebol.
As empresas que desenvolveram a ferramenta oferecem às emissoras alguns
aplicativos com as informações sobre times e performances das equipes em transmissões
dos jogos. No exemplo abaixo (fotos 4 a 7), o conteúdo, como escalações, estatísticas de
desempenho na partida, que antes eram apresentados a critério do narrador, com o uso
deste software, pode ser acessados livremente de casa, pelo telespectador.
O mesmo software ainda disponibiliza o acesso às informações gerais e específicas
de cada time que disputa um campeonato. O telespectador/torcedor pode acompanhar os
detalhes a seu critério, tal como acontece nos grandes portais de informação da Web.
Foto 4 – Mostra a configuração de um padrão de uso do espaço da tela. Os ícones aparecem na parte superior do quadro. A janela de texto abre logo abaixo do ícone. Nesse registro se observa as janelas de conteúdo com as escalações dos times.
Foto 5 – Mostra a performance dos times como tempo de retenção da bola de cada equipe.
Foto 6– Mostra as estatísticas de cada time no jogo.
Foto 7– Mostra o exemplo da janela de texto que mostra a situação dos times na tabela de classificação.
A exemplo das TVs comerciais as TVs públicas também começam a trabalhar com
o Ginga. Tanto a EBC – Empresa Brasileira de comunicação – quanto a TV Câmara – que
tem uma rede de emissoras digitais disponível em todo o país – montaram seus grupos de
trabalho a partir de 2010 para o desenvolvimento de conteúdos.
Com vistas a acelerar esse processo de desenvolvimento o Fórum do SBTVD –
Sistema Brasileiro de TV Digital vem trabalhando na ideia de formalizar uma suíte de
testes para validação desses aplicativos. Trata-se de uma ferramenta de testes usando todo
o sistema de transmissão e recepção aberta na qual todos os desenvolvedores poderiam
validar seus aplicativos e assegurarem para que sejam compatíveis com as diversas
implementações do middleware Ginga hoje disponíveis no mercado. Até o momento,
como não há uma base testes única, nenhuma emissora ou desenvolver tem certeza que os
programas interativos já criados possam funcionar plenamente em todas as caixas
receptoras à venda.
Assim, o propósito do Fórum SBTVD é harmonizar as suítes das empresas que
desejam contribuir com uma suíte oficial. A previsão é que isso se efetive ainda em 2011.
Por seu lado, as empresas de software dedicadas ao desenvolvimento de aplicações Ginga
procuram atuar em outras áreas temendo que a adoção efetiva da interatividade na TV
digital brasileira ainda demore58.
Conforme dados apresentados pelo presidente do Fórum do SBTVD, Roberto
Franco, em abril de 2011 na feira internacional de telecomunicações (NAB, Las Vegas,
58 Com o objetivo de acelerar a aplicação do Ginga o Fórum do SBTVD fez uma parceria com o governo Federal com vistas à viabilizar o uso da norma japonesa EWS no sistema brasileiro de TV digital para fins de enviar alertas à população em risco em caso de catástrofes iminentes, como enchentes, deslizamentos de terra e ciclones.
EUA) 59entre 2008 e 2010, foram fabricados 6 milhões de televisores de tela fina com
recepção integrada de TV digital e a expectativa é que ainda em 2011 sejam fabricados 10
milhões de televisores com recepção integrada. No encontro, Franco também informou
que, até agora, existem 130 modelos de televisores com recepção digital no país, 12 deles
oferecem o recurso de interatividade e há no mercado ainda seis modelos de receptores set-
top boxes, um deles com interatividade. No caso da recepção móvel e portátil, existem
cinco receptores USB para uso em computadores, oito modelos de celulares, sendo dois
com interatividade, três laptops; seis televisores de mão; e três receptores para uso em
carros.
6.5. TV Por assinatura
Além da TV Aberta, a TVA – TV por assinatura ou TV paga – também apresentou
no final da década uma curva ascendente de resultados, depois de um longo período de
estagnação. Conforme o monitoramento da ANATEL, o número de domicílios que
recebem algum serviço de TV paga em abril de 2011 passou de dez milhões (10.419 de
acessos à TV por assinatura). O número de assinantes, pelos dados consolidados, já tinha
passado de nove milhões em 2010 (tabela 51). Considerando as referências do IBGE para o
número de pessoas por domicílio, a agência estima que atualmente próximo de 30 milhões
de brasileiros tenham acesso a TVA.
Tabela 52 – Evolução do número de assinantes ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Assinantes
por milhão
3,607 3,553 3,596 3,851 4,176 4,579 5,348 6,320 7,473 9,073
Fonte: Anatel60
O maior crescimento tem sido nos serviços prestados por satélite (média superior a
3%). Entre as regiões, o aumento mais expressivo da base de assinantes é no norte. De
acordo com a ANATEL entre 2009 e 2010 a variação positiva foi de 53,6% (a média no
país foi de 21,5%). O nordeste vem em segundo lugar, com 31,3%, depois o sudeste, com
um crescimento de 20,9%.
59 Informações acessíveis em http://www.telaviva.com.br/12/04/2011/forum-sbtvd-estima-que-11-milhoes-de-tvs-com-
recepcao-digital-cheguem-ao-mercado-em-2011/tl/220558/news.aspx 60 http://www.anatel.gov.br/Portal - acesso em 09/10/2010
6.5.1. Produção – com base no mapa de operadores e na inserção do conteúdo nacional
O sistema de TV por assinatura (ou paga) deve contemplar seu sistema de produção
a partir da sua infraestrutura, da malha de cabodifusão (TV a Cabo), da cobertura de
satélite (DTH) ou micro-ondas (MMDS) ou ainda do sinal de UFH (no caso da TVA que
usa uma frequência única, um canal de radiodifusão). Como o serviço não é também
produtor de programação (como ocorre na TV Aberta, ou na radiodifusão brasileira de
maneira geral), mas distribuidor de conteúdo, essa distinção é importante. Assim, as
empresas, na condição de operadores, dependem das programadoras as quais se associam
por contrato. A maioria das organizações programadoras tem estrutura transnacional,
particularmente, vinculada à indústria do entretenimento baseada nos EUA.
Considerado esse aspecto, vamos perceber que embora existiam (em 2010) 381
outorgas para exploração do serviço com contratados assinados apenas 355 estão
efetivamente em operação (tabela 53).
Tabela 53- Outorgas com contratos assinados e em operação. Fonte: Anatel 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
MMDS 59 63 67 75 75 77 78 78 TV a Cabo 199 212 218 232 237 238 240 242
TVA 24 25 25 25 25 25 25 25 DTH 8 9 9 9 10 10 9 10 Total 290 309 319 341 347 350 352 355
Fonte: Anatel
A distribuição do serviço a partir da tecnologia vem mudando nos últimos dois anos
se tomarmos com base o mapa de assinantes. A TV Cabo que detinha mais de 50% do
mercado até 2009, foi perdendo fatias de participação ao longo do processo de expansão.
Entre as causas estão a possibilidade de escolha por parte dos assinantes e a própria
infraestrutura necessária a cada sistema de distribuição. A maioria dos novos usuários
optou pelo serviço de satélite (DTH). Dados divulgados pela Anatel em abril de 2011
mostram que o DTH (49,2%) superou o Cabo (48,1%) no mercado de TV paga (tabela 54).
Tabela 54 - Market share de TV por assinatura
% 2009 2010 1T11 Abr/11 TV Cabo 57,7% 51,0% 49,0% 48,1% DTH 37,2% 45,8% 48,2% 49,2% MMDS 4,8% 3,2% 2,8% 2,7% TVA (UHF) 0,3% 0,006% 0,005% 0,005%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Anatel
Esse movimento na base de assinantes é acompanhando pelo movimento das
empresas prestadoras do serviço ao longo da década (tabela 55). Enquanto o Cabo mostra
uma redução no número de operadores (113 em 2003 contra 94 em 2010) no DTH
aumentou (10 em 2003 para 13 em 2010), como mostra a tabela 55. No geral, houve uma
diminuição em relação ao número de prestadoras (178 em 2003 para 161 em 2010, quando
houve a maior redução). Em alguns casos verificam-se processos de aquisição e
concentração.
Tabela 55 - Quantidade de empresas prestadoras.
Fonte: Anatel 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 MMDS 29 28 28 27 27 26 26 26 TV a Cabo 113 111 112 109 111 108 109 94 MMDS e TV a Cabo 4 4 4 4 3 3 3 3 DTH 10 10 10 10 10 14 13 13 TVA 21 21 21 21 22 22 22 22
MMDS e TVA 1 1 1 1 - - - - Total 178 175 176 172 173 173 173 161
Fonte: Anatel
O aumento no número de assinantes e de outorgas ainda não se reflete no valor do
pacote básico de assinatura. De acordo com a média de preço verificada pela Anatel (tabela
56), o pacote saltou de 47 reais em 2003 para 53 em 2010. Destaque-se, entretanto, que ao
longo da década esse valor já foi maior (54 reais em 2007 e 56 reais em 2008). Há uma
expectativa que essa tendência de queda de 2008 para 2009 se efetive com o aumento de
serviços combinados (TV, Telefone e Internet), ou com a entrada da empresas de telefonia
na oferta de serviços de TV paga por meio da tecnologia ADSL, como veremos mais
adiante.
Tabela 56 - Preços médios dos Pacotes Básicos de TV por Assinatura (R$) R$ 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 1º Sem. 10 Pacote básico 47 45 47 51 54 56 53 53
Fonte: Anatel
Do ponto de vista do conteúdo, cabe apontar que a expansão da TVA impulsionou
outras demandas da indústria criativa como os serviços de dublagem e novas produções
nacionais, boa parte realizadas graças à lei de incentivo aos programadores internacionais.
A evolução do número de exibições de filmes nos canais por assinatura tende a indicar
uma tendência, com um aumento total da ordem de 7,2 % em três anos. Entre 2007 e 2009
aumentou significativamente (8,48 vezes) o número de títulos nacionais na grade de
programação da TVA (tabela 57). Em revanche, de 2008 a 2009 a exibição de filmes
estrangeiros diminuiu (em torno de 28%).
Tabela 57 – Exibição de filmes na TVA Filmes 2007 2008 2009
Estrangeiros 8712 9.431 6.786
Nacionais 345 2.797 2.926
Fonte: TVA.
A expectativa otimista também se deve à fixação de cota de conteúdo nacional para
todas as programadoras que integram o line up (linha de canais) oferecido pelas
prestadoras do serviço de TV paga.
6.5.2. Distribuição – com base na evolução do segmento
A reação do mercado de TVA, estagnado até 2004, começou lentamente, mas em
2007 houve uma arrancada expressiva, registrando-se crescimento anual superior a 16%
ascendente de ano para ano, superando a casa de 21% de 2009 para 2010. Esse movimento
foi alavancado pelo sistema de cabodifusão, mas a partir de 2009 o DTH (distribuição de
sinal por satélite), como já observado, assumiu a dianteira da curva ascendente (tabela 58).
Estima-se que a performance se deve à criação de pacotes básicos mais acessíveis (na
comparação com 2008, como mostrado acima), associada à mobilidade econômica e social
verificada no período.
No caso da evolução do serviço de satélite, e sua penetrabilidade no norte e
nordeste, credite-se a facilidade de instalação deste sistema. Não exige nova infraestrutura,
como na rede de cabo, e também não demanda por grandes concentrações urbanas para
otimizar a exploração do serviço e oferecer ganho de escala.
Registre-se que em 2010, sensível ao apelo de audiência da Copa do Mundo, a
ANATEL forneceu novas licenças de operação para satélite que permitem uma cobertura
de serviço para todo o país. Apesar do maior avanço do serviço por satélite em relação ao
cabo, ambos apresentaram crescimentos significativos das ordens de 90,08%, no caso do
último, e 105,92%, no caso do primeiro, se considerados os números absolutos das
assinaturas em 2004 e em 2009.
Tabela 58 – Evolução das assinaturas de TVA por sistema de distribuição do sinal Milhares 2004 2005 2006 2007 2008 2009
TV a Cabo 2.270 2.511 2.842 3.228 3.811 4.315
DTH 1.350 1.438 1.479 1.762 2.091 2.780
MMDS 230 227 258 346 397 355
TVA (UHF) - - 3,7 12,3 22 24
Total 3.851 4.176 4.583 5.349 6.321 7.473
Densidade 2,11 2,26 2,45 2,84 3,32 3,90
Fonte: Anatel
O aumento da base de assinantes impactou diretamente na receita e no número de
postos de trabalho do segmento. A partir do serviço triple play as empresas ainda criaram
outra fonte de receita (tabela 58) por meio da oferta em separado da conexão banda larga.
O acesso à rede por meio da TVA também vem crescendo num ritmo forte nos últimos
quatro anos, praticamente dobrando ao longo do período. De 2004 para 2009, as taxas de
crescimento no setor de TV por assinatura, na verdade, mais que duplicaram no que diz
respeito ao faturamento (168,7%) e à criação de novos postos de trabalho (130%). Já em
relação à prestação de serviços de banda larga, atinge-se um percentual impactante da
ordem de 771% de ampliação.
Tabela 59 – Faturamento, Banda Larga e empregados Fonte: ABTA/Seta 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Faturamento
(R$ Milhões) 3.981 4.657 5.500 6.670 9.320 10.700
Assinantes Banda
Larga (milhares) 367 627 1.189 1.753 2.590 3.200
Empregados 8.128 9.571 10.952 13.675 16.882 18.751
* Banda larga representa 35% do faturamento das operadoras de Cabo/MMDS 61
A distribuição de assinantes pelas unidades federativas do país (estados) segue a
tendência de concentração econômica e de serviços nas regiões sudeste e sul (tabela 60).
Por outro aspecto, sinaliza um movimento de expansão nos estados do nordeste e do norte.
61 http://www.teleco.com.br/glossario.asp?termo=faturamento+da+TV+por+assinatura - acesso em 20/10/2010
Tabela 60 - Ranking de Acessos Totais por Unidade da Federação (TV a Cabo, DTH e MMDS) UF 2009 2010 Jan/11 Fev/11 Mar/11 ∆ Mês
São Paulo 3.158 3.928 4.021 4.110 4.211 2,5%
Rio de Janeiro 1.118 1.476 1.473 1.504 1.530 1,7%
Minas Gerais 635 860 853 887 910 2,6%
Rio Grande do Sul 539 674 d671 685 697 1,7%
Paraná 378 461 463 471 480 1,8%
Santa Catarina 273 357 363 371 374 0,8%
Bahia 159 271 285 300 317 5,5%
Distrito Federal 202 250 255 259 265 2,3%
Goiás 136 186 191 195 199 2,3%
Ceará 110 159 165 170 175 3,2%
Amazonas 98 153 155 157 158 1,1%
Pernambuco 98 140 147 152 158 4,2%
Espírito Santo 91 132 135 138 141 2,4%
Pará 56 95 100 105 110 5,2%
Rio Grande do Norte 74 99 101 103 106 2,5%
Mato Grosso do Sul 55 80 82 85 88 2,6%
Maranhão 44 77 80 84 87 4,0%
Paraíba 51 71 74 76 78 2,9%
Mato Grosso 46 66 66 72 75 3,6%
Alagoas 50 71 73 73 74 0,7%
Sergipe 31 43 44 46 47 3,3%
Rondônia 21 31 32 34 35 4,1%
Piauí 15 27 28 30 31 4,3%
Amapá 12 23 24 24 24 0,7%
Roraima 8 16 16 17 17 2,1%
Tocantins 8 14 15 16 17 5,5%
Acre 8 12 12 13 14 3,8%
BRASIL 7.473 9.769 9.924 10.176 10.419 2,4%
Fonte: Anatel
6.5.3. Consumo – com base em pesquisas de satisfação
O aumento na base de assinantes (mais de dez milhões) indica um movimento de
migração dos telespectadores da programação heterogênea da TV aberta para a
programação segmentada da TV paga. Como já visto, esse desejo se amplia não apenas na
classe A e B, mas já mobiliza a classe C e até a D, sem falar no efeito do acesso por
pirataria (a chamada “gatonet”). Esse movimento do telespectador vem sendo monitorado
por uma consultoria privada que atua associada com o IBOPE. A PTS – Pay-TV Survey –
que em recente consulta concluiu que, além da migração, a maioria dos assinantes
consultados está satisfeita com o serviço.
A cada início de ano, a empresa de pesquisa e consultoria, vem coletando e
consolidado dados obtidos por meio de entrevistas com mais de 17 mil pessoas sendo 14%
da amostra (2.353) efetivamente assinantes de TVA. A pesquisa ocorre nas principais
regiões metropolitanas do país atingindo as classes A, B, C e D/E representando
respectivamente 3%, 30%, 47% e 20% das entrevistas. O estudo, como base no nível de
instrução, procura respeitar a média da população brasileira, sendo 37% com nível
secundário ou superior. E quanto às faixas etárias, trabalha com 20% entre 10 e 19 anos,
22% entre 20 e 29, 18% entre 30 e 39, 16% entre 40 e 49 e 24% com mais de 50 anos. Na
questão gênero, 53% dos entrevistados são mulheres.
Na coleta de 2009 (feita por entrevistas estruturadas entre 19 de janeiro a 02 de
fevereiro) foram ouvidos 55% assinantes da NET, 26% da Sky, 7% para TVA, 4% para
Telefônica e 8% para outras. O resultado revelou que a maior parte dos assinantes (46%).
considera bom o serviço das prestadoras, enquanto que 19% consideram regular e 11%
ótimo. O mesmo aparece nas respostas por classe social: bom para 45% da classe A e 46%
das classes B e C. Na avaliação por operadora do serviço a consulta da PTS indica que
49% dos assinantes Sky (serviço de satélite) classificam o atendimento telefônico como
bom e 18% como regular. No caso da Net (Cabo), 47% define como bom e 19%, regular.
No que se refere a TVA e Telefônica (Cabo e MMDS) 40% e 39% bom e 20% e 23%
regular (respectivamente).
No item assistência técnica, o conceito bom corresponde à opinião de 49% dos
assinantes, ótimo para 14%, e regular para também 14%. Para entrevistados da classe A
49% acham o serviço bom, 16% regular e 11% ótimo. Para a classe B 49% definem com
bom,16% ótimo e 13% regular. No caso da classe C mantém-se o mesmo percentual de
satisfação.
Já nas estatísticas de reclamações, quanto à qualidade do serviço apresentadas à
ANATEL, a conta é diferente. O número de insatisfação com o sistema aumentou entre
2009 e 2010 de 57 mil reclamações para 75 mil reclamações. No topo do ranking está a
cobrança indevida (39%), seguida do item reparos (13%) e atendimento (11%). No que se
refere à programação os protestos representam 5%.
6.5.4. Atuação do consumidor – com base nas preferências
Na pesquisa divulgada pela edição de janeiro em fevereiro de 2011 a PTS revela
que há uma qualificação cada vez mais na preferência de conteúdo por parte dos assinantes
brasileiros. Inicialmente, a aferição apontou que 70% dos entrevistados pertencentes às
classes A/B, 27% à C e 3% às D/E. A consulta, que coletou entrevistas pessoais a partir de
questionários estruturados com perguntas abertas e fechadas, entre 18 a 31 de março de
2010, ouviu 17.203 indivíduos nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Fortaleza, Salvador, Distrito Federal,
Campinas e Florianópolis.
O resultado mostrou que os filmes, documentários, séries e esportes são as
preferências de programação do assinante de TV brasileiro. Embora os filmes apareçam
como mais citados nas respostas múltiplas, os documentários também ganham evidencia
no gosto brasileiro. O gênero baseado em narrativas não ficcionais é primeira opção, com
15%, entre o universo de assinantes consultado, esporte aparece em segundo, 14%, e
filmes em terceiro, 13%. Na caracterização por gênero, o estudo que as classes C e D/E
estão entre os que têm preferência pelo gênero infantil. São 41% os que citaram o esse
gênero em sua primeira programação predileta.
6.5.5. Efeitos da digitalização – com base na oferta de produtos
A maioria das operadoras já oferece serviço de conteúdo em alta definição (HD). O
resultado do sinal de vídeo e áudio é que não apresenta a mesma performance que aquela
disponível nas transmissões de TV aberta. Os decodificadores mais sofisticados oferecidos
pelas operadoras em alguns casos até apresentam uma boa resolução de imagem em razão
da compatibilidade com o sinal HD (embora não seja equivalente ao sinal aberto), recursos
de interatividade local e possibilidade de gravação dos programas no conversor além de
agendamento e pausa de um programa ao vivo. Entretanto, na maior parte dos casos, a
resolução está mais próxima das 720 linhas do que das 1080 linhas do HD. Outra barreira
tem sido a produção de conteúdo em alta definição ainda incipiente.
6.6. TV Universitária
A TV universitária configura um seguimento peculiar no espectro da TV brasileira
por reunir um conjunto diversificado de produção e de distribuição por meio das mais
diversas tecnologias. Por esse motivo, mostra-se pertinente um maior detalhamento ainda
que limitado. Um levantamento realizado pela União Brasileira de Televisão Universitária
entre agosto de 2008 e dezembro de 2009 62 mostra um primeiro recorte do segmento no
Brasil, uma peculiaridade no cenário latino-americano de produção de distribuição de
televisual.
6.6.1. Produção – com base no número de produtores
A pesquisa da ABTU consultou 1.662 Instituições de Ensino Superior e constatou
que 151 (9%)63 desenvolvem algum tipo de produção audiovisual destinada à veiculação
em alguma tecnologia de distribuição de sinal de TV. A pesquisa incluiu nessa situação
tanto a instituição que tem um espaço próprio de veiculação quanto a que produz para
exibir em outros canais (em rede aberta, por assinatura e até em circuito interno). A
produção de cada centro investigado chega a mais de uma hora de conteúdo inédito por
semana, como veremos a seguir.
6.6.2. Distribuição – com base na distribuição geográfica
De acordo com o mesmo estudo em 1995 o números de IES que detinham algum
tipo de produção para TV não passava de 20, em 2002 eram 30, em 2004 85 (TVs
distribuídas em 31 canais operando no cabo, 12 em TV aberta e 1 em circuito Interno) que
significaria um aumento na casa de 700% num período de 14 anos.
Tabela 61 - Distribuição das TVUs por regiões do país.
Região Sudeste Norte Nordeste Centro-oeste Sul IES com TV 53 9 34 34 38 Fonte: ABTU
O estudo também destaca que a maior parte das TVs universitárias foi instalada em
universidades (72%). Em seguida aparecem os centros universitários (14%), faculdades
(11%) e centros tecnológicos (3%).
A pesquisa da ABTU indica que os recursos necessários para se manter uma TVU
variam de R$ 30 mil até R$ 1,5 milhão anuais (levantamento de 2006 publicado no
FÓRUM NACIONAL DE TVS PÚBLICAS I, 2006, p. 71). O orçamento médio do
segmento seria de R$ 500 mil. A estrutura base por emissora seria de quatro ilhas de
62 O trabalho coordenado por professora Alzimar Ramalho também integra sua tese de doutoramento apresentada na USP em 2010. 63 Destaque-se que a pesquisa contabiliza apenas os 151 que responderam ao questionário proposto.
edição, um estúdio, seis câmeras para externa e estúdio, 15 funcionários (sem incluir
estágios remunerados e voluntários) e um veículo próprio.
6.6.3. Consumo – com base na relação endógena dos sujeitos produtores e receptores
O levantamento da ABTU encontrou dificuldade no retorno das respostas
qualificadas. Em muitos casos, como das emissoras da região Norte não obteve sucesso.
Assim, há lacunas no estudo, mas os dados de obtidos ajudam a mostrar que do ponto de
vista do consumo há uma tendência endógena. A produção de conteúdo tende a ser feita
pela e para a comunidade acadêmica de cada Instituição. Um exemplo verificável é o
vínculo institucional das emissoras (canais ou centros de produção) nas IES. Embora o
levantamento revele que a maioria da TVUs (67%) esteja subordinada diretamente à alta
administração das instituições (reitoria ou presidência da mantenedora) e enquanto um
percentual bem menor (19%) está ligada a cursos da área de Comunicação Social
(fenômeno verificado apenas no Sudeste e no Nordeste) ou às a pró-reitorias(11%),
observa-se um predomínio de conteúdos de viés acadêmico na produção.
Tabela 62 – Estrutura das equipe de produção na TVs Universitárias Natureza do produtor Sudeste Nordeste Centro-oeste Sul TOTAL Professor, estagiário e funcionário 8 4 3 15 (43%) Professor e estudante 5 1 1 2 9 (26%) Funcionário, técnico 4 1 3 8 (23%) Terceiros 1 2 3 (8%)
Fonte: ABTU
O estudo da ABTU também apurou que a produção de conteúdo é muito variável,
oscila entre 1 hora e 6 horas inéditas semanais (em dois casos pontuais, da Universidade
Rio Grande e de Caxias do Sul essa produção superaria 10 horas inéditas por semana),
havendo mais capacidade de produção no Sul e Sudeste. Essa realidade obriga as emissoras
universitárias a completar sua grade de programação com outros canais fora do segmento
como TV Brasil, TV Cultura, SESC TV e Canal Futura que por sua vez funcionam com
cabeça de rede. Essa situação tenderia a prejudicar a ideia de identidade da TVUs.
6.6.4. Atuação da instância de recepção e efeitos
As limitações com as quais trabalham e o efeito endógeno não têm permitido que as
emissoras e centros de produção façam um acompanhamento mais continuado das suas
ações junto às audiências. A ausência de uma visão estratégica e a prevalência de um
entendimento de perspectiva laboratorial dificultam um avanço na qualidade dos projetos e
nas relações entre sujeitos de produção e recepção. Uma das principais críticas da
academia para os modelos de produção comercial, que é o pressuposto de
unidirecionalidade e dominação, encontra sérios obstáculos para ser desconstruído na
prática televisiva das universidades brasileiras.
6.6.5. Implicação da digitalização
A ABTU em conjunto com a RNP desenvolveu um sistema de intercâmbio de
programas por meio da rede de larguíssima banda e altíssima velocidade que interliga as
universidades. A chamada Rede Giga permitiu a instalação da RITU – Rede de
Intercâmbio da TVs Universitárias. O aplicativo serviu para a troca de conteúdos que ficam
disponíveis em servidores com base regionais durante determinado período. Hoje a ABTU
procura refinar o sistema.
Outra iniciativa ocorre nas Instituições de Ensino que detém outorga de canais
abertos, a maior parte começa a se preparar para as primeiras experiências de transmissões
digitais. A TV Mackenzie, por exemplo, já está no ar em São Paulo e vem fazendo testes
desde 2009, o mesmo deve acontecer brevemente com a TV Unisinos, de São Leopoldo,
RS e a TV da Universidade Federal da Paraíba. Há um plano no governo de usar essas
emissoras para estações pilotos de testes com o Ginga. Das TVUs que atuam nos canais
universitários da cabodifusão, algumas já adquiriram equipamentos HD e começam a fazer
as primeiras produções, como acontece na TV São Judas, da Universidade São Judas
Tadeu de São Paulo.
6.7. Videojogos
Um segmento que vem crescendo na produção de conteúdo é o de videojogo que,
como ainda se trata de um processo emergente, não conta com um acompanhamento
regular. Por esse motivo, reúnem-se em uma única abordagem as informações de
produção, circulação e consumo disponíveis. Ainda não há dados consolidados sobre a
atuação da instância de recepção e as implicações da digitalização, de certa forma
implícitas na natureza dessa forma digital.
Uma pesquisa realizada em 2008, pela Associação Brasileira das Desenvolvedoras
de Jogos Eletrônicos, ABRAGAMES, já indicava uma curva promissora. De acordo com
o levantamento, o produto nacional bruto (PNB) do setor de jogos chegava a R$ 84
milhões e 43% da produção nacional de software para jogos se destinavam à exportação. O
número de empresas do setor já superava 40 organizações, que na época empregavam
cerca de 560 profissionais. A progressão entre 2005 e 2008 nos indicadores de faturamento
(tabela 63) mostra que o setor vem crescendo tanto no que diz respeito à produção de
software quanto de hardware.
Tabela 63 – Faturamento da indústria brasileira de jogos eletrônicos (R$ Milhões) ANO 2005 2006 2007 2008
Software 18 17 20 23 Hardware 59 52 59 61
Total 77 69 79 84 *Inclui apenas o que é produzido no Brasil. Não contempla os números do varejo.
Se verificada a indicação do levantamento da ABRAGAMES no que se refere à
evolução, em percentual, da produção nacional de software de jogos (tabela 63) que são
exportados, a curva de crescimento se mostra promissora.
Tabela 64 - Evolução da exportação de produção nacional. 2005 2006 2007 2008
29.63% 22.91% 28.77% 43.31% Fonte: Abragames
Quando se observa o comportamento do mercado em relação aos sub-segmentos
específicos dos videojogos (tabela 65) é facilmente identificável uma tendência em favor
de aplicativos para celulares. De certa maneira, pode-se arriscar uma relação com o
aumento da penetrabilidade desses aparatos móveis, já indicado na pesquisa da PNAD. Há
uma considerável desaceleração da produção para PC e uma oscilação no desenvolvimento
destinado à Internet. Há um leve, mas quase constante decréscimo no decorrer de 2005
para 2008, com uma modestíssima recuperação em 2007, e nova queda em 2009. Em
quatro anos decresce mais de 10%.
Tabela 65 - Comportamento da Participação de Mercado dos Segmentos (em %).
ANO 2005 2006 2007 2008 Celular 8% 10% 13% 14%
PC 29% 30% 24% 9% 128 bit + next gen 10% 18% 10% 38% Consoles antigos 8% 2% 2% 0
Web 49% 40% 42% 38% Outros 0 0 8% 8%
Fonte : Abragames
O levantamento da ABRAGAMES, que também se ocupou em mapear a
distribuição de profissionais de desenvolvimento de software por área de atuação (tabela
66), ainda revela que há uma concentração na produção gráfica e na programação, que
juntas dominavam mais de dois terços do setor (68%) em 2008. O resultado indica que há
espaço e demanda para estimular a formação de competências nesse mercado emergente.
Tabela 66 – Distribuições dos profissionais de desenvolvimento de Software em % Ano 2005 2006 2007 2008
Arte gráfica 33% 40% 32% 34% Qualidade 7% 7% 11% 7% Produção 7% 6% 7% 7%
Administrativo 11% 10% 11% 9% Marketing 7% 6% 5% 5%
Programação 33% 28% 32% 34% Outros 2% 3% 2% 4%
Fonte: Abragames.
7. Multimídia: Internet, Outdoor, Telefonia, Aparatos móveis, investimento publicitário por cada um dos veículos
Como já vimos as tecnologias digitais de telefonia, internet e computadores
apresentam uma evolução expressiva. Ao longo da década o celular passou de 58,9% para
84,30% de penetração na população brasileira, o microcomputador, de 12,6% para 34%, o
acesso à internet passou de 8,60% para 27,40%. Considerado um universo de 58 milhões
de domicílios.
Pela característica dessas mídias serem consumidas, ou melhor, acessadas por um
universo de receptor (produtor) comum e que, em geral, é usuário dessas tecnologias todas
vamos apresentar seus indicadores de atuação da instância da recepção e os efeitos da
digitalização conjuntamente.
7.1. Internet:
No âmbito da Internet, como já observado, na primeira parte deste relatório, ocorre
um acelerado índice de ampliação da sua penetrabilidade junto à população brasileira.
7.1.1. Produção – com base nos provedores
Os principais provedores de conexão à Internet no Brasil, e, sobretudo, banda larga,
são as operadoras de TV por assinatura e de telefonia fixa (Net/Embratel, Oi,
Telefônica/TVA, GVT, como veremos adiante). Sendo que, conforme dados da PNAD de
2009, a quantidade de usuários atingiu 67 milhões de pessoas.
Além das majors há mais de mil e setecentos provedores de Internet espalhados
pelo país. Em 2008 a Teleco64, grupo de engenheiros que estuda a telecomunicação,
conseguiu fazer uma pesquisa com pelo menos 400 deles (a maioria micro-empresários
com uma clientela entre 200 e 400 mil usuários) que asseguram oferecer conexão em mais
de 70% das cidades brasileiras, especialmente onde as gigantes o setor não atuam.
64 Acessível em http://www.teleco.com.br/blarga_pprov.asp (consulta 14/04/2011).
Na pesquisa os engenheiros da Teleco apuraram que 90% dos clientes destas
empresas estão em áreas urbanas, são pessoas físicas, contratam banda entre 250 e 500
kbit.
7.1.2. Distribuição – com base na extensão da rede
Conforme os indicadores da PNAD, o computador com a conexão à Internet está
presente em mais de 16 milhões de domicílios (tabela 67). Isto significa que próximo de 50
milhões pessoas estariam conectadas à rede mundial de computadores a partir das suas
casas. No início da década era quatro vezes menos o número de habitantes conectados.
Inegavelmente, são números animadores, mas ao mesmo tempo revelam que mais de 70%
da população do país ainda segue, em princípio, fora desse universo digital.
Tabela 67 - A evolução da conectividade nos domicílios.
Fonte: PNAB
Quando o número procura dar conta do número de acesso à Internet como um todo,
há divergência. As referências da PNAD contemplam a população a partir de 10 anos ou
mais que acessou a Internet pelo menos no espaço de 90 dias que antecedem à pesquisa e
contabilizam 67,9 milhões de usuários em 2009. Pelo IBOPE, que considera pessoas com
mais de 16 anos, o número de pessoas que acessa a rede, de alguma maneira, atinge 63
milhões. Já a ComScore, empresa especializada em pesquisa de mercado digital, que
incluiu crianças a partir de seis anos de idade, o número sobe para 73 milhões de usuários,
sendo que mais da metade (56,1%) estão na faixa entre 15 e 34 anos.
7.1.3. Consumo – com base na participação nas verbas publicitárias
A curva de participação da Internet no mercado publicitário também se mostra
promissora para essa mídia (tabela 68). A progressão nos últimos cinco anos impressiona,
ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Domicílios com conexão Em milhões
3.999
4.947
5.716
6.313
7.268
9.229
11.381
13.698
16.050
Percentual de penetrabilidade
8,60% 10,3% 11,5% 12,2% 13,7% 16,9% 20,2% 23,8% 27,4%
Total de domicílios em milhões
46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577
ainda que tenha registrado uma pequena oscilação negativa entre 2007 e 2008. A receita
com publicidade já está equivalente a arrecadação do Rádio, superando-a em 2010 (1,05
bilhões de reais). É a mídia que mais cresceu em 2009 (em relação a 2008) no que se refere
à captação de anúncios e repetiu o feito em 2010.
Tabela 68 - Evolução do faturamento com receitas publicitárias.
Internet 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Faturamento 265.650.458,00 361.311.795,51 526.665.026,94 463.027.455,83 950.367.727,91 1.059.754.463
Participação 2,07 2,77 2,16 2,07 4,27 4,49
Fonte: Inter-meios
7.2. Internet Banda Larga no Brasil 7.2.1. Produção – com base na tecnologia
O serviço de conexão de Internet Banda Larga no país dispõe de quatro
tecnologias. A conta como maior número de usuários no Brasil é o ADSL (Speedy, Velox
e Turbo), oferecido pelas operadoras de telefonia fixa por meio do cabo de telefone. Em
segundo lugar vem a conexão via cable modem (oferecido pelas operadoras de TV a cabo)
ou wireless (oferecido pelas operadoras de TV por MMDS) da TV por assinatura. Em
terceiro vem as conexões de rádio direto com o usuário final ou condomínio com
distribuição local ou ainda a banda larga via satélite. As principais operadoras em atuação
são a Oi, Telefônica, GVT, NET, CTBC, Embratel e Sercomtel.
Conforme levantamento publicado em agosto deste ano no portal Teleco (tabela
69), que é organizado por engenheiros e técnicos do setor de telecomunicações, o número
de usuários do serviço, 12,2 milhões de domicílios, corresponde a menos de 7% da
população.
Tabela 69 - Total de conexões Banda Larga no Brasil.
Milhares 2009 2010* ADSL 7.678 8.338
TV Assinatura 3.132 3.350
Outros 570 580
Total 11.380 12.268
Acessos/100 hab. 5,92 6,36
Fonte: Operadoras e Teleco, * Estimativa preliminar do Teleco 65
O levantamento do portal Teleco ainda informa que também há conexões IP
dedicadas (mercado corporativo), acessos via satélite (21 mil conexões segundo dados de
2007) e acessos de banda larga móvel das operadoras de celular.
7.2.2. Distribuição – com base no mapa de operadoras
O Portal divulga ainda que a Oi é a operadora com maior participação de mercado
(tabelas 70 e 71), correspondendo a mais de 35% do segmento, seguida pela NET e pela
Telefônica. De 2008 para 2009, enquanto as demais se estagnaram ou tiveram uma leve
perda de participação no mercado, Telefônica (1% de aumento) e GVT (1,3% de aumento)
ampliaram suas participações no Brasil.
Tabela 70 - Participação no Mercado. Tabela 71 - Acesso por operadora.
7.2.3. Consumo – com base na conectividade
Além das conexões domésticas e no trabalho, a conectividade do brasileiro ainda
passa pelo fenômeno das LAN Houses, que segundo levantamento de 2008 do Comitê
Gestor de Internet chegam a mais de 90 mil unidades de acesso, especialmente nas regiões
de periferia das grandes metrópoles. Uma estimativa do CGI estima que 49,5 milhões de
pessoas acessam a rede por meio destes pontos.
Dados dos IBOPE/NetRatings66 o número de usuários domiciliares ativos em março
de 2011 foi de 35,1 milhões de pessoas sendo que destas 48% usavam uma velocidade de
conexão entre 512 Kbytes por segundo e 2 Megabytes, 21,9% entre 2 e 8 ou até acima de 8
Megabytes por segundo.
65 http://www.teleco.com.br/blarga.asp acesso 12/10/2010 66 Acessível em http://www.teleco.com.br/blarga_pprov.asp
Milhares 2009 2010
Oi 4.211 4.307
Net* 2.882 3.100
Telefonica
2.636 2.972
GVT 669 887
CTBC 203 216
Outras 779 786
Total 11.380 12.268
% 2009 2010
Oi 37,0% 35,1%
Net 25,3% 25,3%
Telefonica 23,2% 24,2%
GVT 5,9% 7,2%
CTBC 1,8% 1,8%
Outras 6,8% 6,4%
Total 100% 100,0%
7.3. Telefonia
Como observado, as chamadas Telecom passam a atuar como protagonistas no
processo de digitalização.
7.3.1. Produção – com base nos operadores
Hoje no Brasil há nove operadoras em cada segmento. Na Fixa atuam a Oi, BrT,
Telefônica, Embratel, GVT, CTBC, Sercomtel, Intelig e Transit. Na móvel operam as
companhias Vivo, Claro, Tim, Oi Móvel, BrT Móvel, CTBC, Sercomtel, Aeiou (Unicel) e
Nextel. Em agosto de 2010 o número de aparelhos comercializados chegava a 189,4
milhões de unidades67. Entretanto, seis configuram os principais grupos de atuação no
país: Telefonica/Vivo (grupo espanhol) que explora a telefonia fixa e banda larga com a
Telesp, a telefonia móvel com a Vivo, a TV por assinatura com a TVA; a Oi (com maior
capital nacional e parte português) que atua com bandeira única todos os segmentos,
telefonia fixa e móvel, banda larga e TV por assinatura; a Claro/Embratel/Net (liderada por
um grupo mexicano) que se distribuem na operação de telefonia fixa (Embratel), móvel
(Claro), banda larga e TV paga (Net e Embratel). Há ainda a Vivendi que atua na telefonia
com a bandeira GVT; a Tim e a Nextel que exploram telefonia móvel.
A questão é que a privatização das telecomunicações durante o governo Fernando
Henrique Cardoso tinha como principal objetivo aumentar a melhoria do serviço e a
concorrência. O que se viu ao longo da década foi um novo processo de concentração,
agora privado e predominantemente transnacional. Esses seis grupos são resultado de um
movimento de fusão e de aquisições (tabela 72) que se deu no setor no mercado global e
que refletiu no mercado local.
67 http://www.teleco.com.br/ncel.asp acess0 - acesso em 12/10/2010
Tabela 72 - Processo de fusões e aquisições no setor entre 2000 e 2011. Aquisição Anúncio Aprovação Anatel
Telesp S. A. Incorpora a Vivo Mar/11 Mar/11 Portugal Telecom entra na Oi Jul/10 Out/10
Telefonica compra parte da Portugal Telecom na Vivo Jul/10 Set/10 Tim compra a Intelig Mar/09 Mai/10 Vivendi compra a GVT Nov/09 Nov/09 Net compra a ESC 90 Set/08 Jun/09
Oi compra Brasil Telecom) Abr/08 Dez/08 Vivo compra a Telemig Celular Ago/07 Out/07 Oi compra Amazônia celular Dez/07 Mar/08
Net compra a BIGTV Dez/07 Dez/08
Net compra a Vivax Out/06 Mai/07 Oi compra Way TV Jul/06 Out/07
Telefonica compra TVA* Out/06 Out/07 Fusão da Sky com a DirecTv Out/04 Nov/05
Telmex adquiriu participação na Net incorporada em Set/05 na Embratel
Jun/04 Mar/06
Telmex compra Embratel Mar/04 Jun/04 Embratel compra a Vesper Ago/03 Nov/03
Portugal Telecom e Telefonica unificam suas operações de celular no Brasil formando a Vivo
2002 -
Claro foi formada pela aquisição de várias operadoras de celular entre 2000 e 2005.
- -
Fonte: Teleco68 *MMDS e participação na TV a Cabo
7.3.2. Distribuição – com base na penetrabilidade do serviço
Confrontando dados da ANATEL com aqueles apurados pelo PNAD 2009, vamos
constatar que existe infraestrutura de acesso fixo, mas a penetração do celular entre a
população brasileira é significativamente maior. Observando-se os dados consolidados pela
Agencia de Telecomunicações percebe-se que houve uma pequena variação de acessos de
telefonia fixa (linhas, como se definia no sistema analógico) instaladas ao longo da década
(tabela 73), da ordem de 24,7%, bem como de “linhas” em serviço, da ordem de 10,9%. O
que acaba por sinalizar um crescimento da oferta maior que a procura efetiva. É curioso
que o maior aumento dos “acessos instalados”, na década, ocorre de 2007 para 2008,
quando o crescimento dos “acessos em serviço” passava por uma modesta recuperação, em
relação à primeira retração ocorrida de um ano para outro (2005/2006). No entanto já havia
uma considerável diferença entre a evolução desses tipos de acessos desde 2005. Em 2009,
quando ocorre a segunda retração dos “acessos instalados” na década, dos 59,6 milhões de
acesso instalados no país 41,5 milhões estavam em serviço.
68 Acessível em http://www.teleco.com.br/operadoras/grupos.asp (acesso em 12/05/2011).
Tabela 73 - Evolução do número de acessos fixos instalados e em serviço.
Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Acessos
Instalados por milhões
47,8
49,2
49,8
50,0
50,5
51,2
52,7
57,9
59,6
Acessos em Serviço
por milhões
37,4
38,8
39,2
39,6
39,8
38,8
39,4
41,2
41,5
Acessos em Serviço/100
hab.
21,4
21,9
21,8
21,7
21,6
20,8
20,9
21,7
21,6
Fonte: Anatel
Comparando a telefonia fixa com a móvel, a partir do levantamento por domicilio
da PNAD (tabelas 73,74), constata-se que o telefone fixo chega a mais de 25 milhões de
casas, enquanto que o celular está presente em quase 46 milhões de lares. Confirma-se o
indicador de baixa conectividade por banda larga, em um mercado que, como já
demonstrado, privilegia o serviço por meio da infraestrutura da linha fixa.
7.3.3. Consumo – com base nos percentuais de escolha e uso
Outro aspecto importante de se observar é a parcela de lares brasileiros com
telefonia fixa que, de 2001 para 2009, caiu oito pontos percentuais. Enquanto que o celular
ampliou seu alcance em mais de 47 pontos percentuais, tornando-se o grande responsável
pelo acentuado crescimento da penetrabilidade do telefone no território nacional, que
cresceu, no mesmo período, pouco mais de 25 pontos percentuais.
Tabela 74 - do número de domicílio com telefonia móvel e fixa. ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Telefone (Fixo ou Celular) 58,9% 61,7% 62,0% 65,4% 71,6% 74,5% 77,0% 82,1% 84,3%
Celular 31,1% 34,7% 38,6% 47,8% 59,3% 63,6% 67,7% 75,5% 78,5%
Telefone Fixo 51,1% 52,9% 50,8% 48,9% 48,1% 46,8% 45,4% 44,4% 43,1%
Total de Domicílios (Milhares) 46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577
Fonte: IBGE - PNAD. Até 2003, exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.
O fato é que o setor de telecomunicação assume um protagonismo cada vez maior
na era digital. Um quadro de evolução desenvolvido pelo IBGE (tabela 74) mostra que em
sete anos as Telecoms ampliaram sua participação em todos os segmentos de conexões
digitais, seja na telefonia fixa ou móvel, na banda larga e na TVA, aumentando sua base de
assinantes e usuários.
Tabela 75 - Evolução do número de assinantes por serviço digital.
Serviço – unidades por milhões 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Telefones Fixos 39,2 39,6 39,8 38,8 39,4 41,3 41,5 (7)
Celulares 46,4 65,6 86,2 99,9 121,0 150,6 174,0
TV por Assinatura 3,6 3,9 4,2 4,6 5,3 6,3 7,5
Banda larga 1,2 2,3 3,9 5,7 7,7 10,0 11,4
Usuários de Internet - - 32,1 35,3 44,9 53,9 63
Fonte: IBGE69
O setor de telecomunicação, impulsionado pelo crescimento e pela transversalidade
dos seus serviços, vem exercendo a liderança no volume de receita. O resultado das
Telecoms (tabela 76), em termos de receitas operacionais líquidas (segundo a pesquisa
anual do IBGE) representa mais de 60% da arrecadação das empresas de serviço de
informação que superou 203 bilhões de reais em 2008. No entanto, se levarmos em conta o
período de 2004 a 2008, veremos que, embora com a menor participação em valores
absolutos da receita operacional líquida, foram as “Agências de notícias e serviços de
jornalismo” que apresentaram o maior índice de crescimento, 146,78%, seguidas pelo setor
de “Informática”, com 79,45%, “Telecomunicações”, com 53,09%, e por último
“Audiovisual”, 26,23%.
Tabela 76 - Evolução da receita operacional líquida das empresas de serviço de informação.
Receita Operacional Líquida Milhões R$
2004 2005 2006 2007 2008
Telecomunicações 79.851 87.131 88.781 100.849 122.244
Informática 24.443 28.182 34.569 38.548 43.865
Audiovisual 15.933 18.056 20.217 22.587 20.113
Edição e edição integrada à impressão - - - - 16.807
Agências de notícias e serviços de jornalismo 171 188 220 235 422
Total 120.398 133.557 143.787 162.220 203.452
Telecom – participação no mercado em % 66,3% 65,2% 61,7% 62,2% 60,1%
Fonte: IBGE (idem)
O plano do setor é investir fortemente no segmento dos provedores de conteúdo
aproveitando-se do índice de penetrabilidade. Além da participação no serviço de TV por
assinatura, em portais e telefonia móvel, as Telecoms se organizam (através de associação
69 http://www.teleco.com.br/estatis.asp - acesso em 09/11/2009
com operadores de conteúdo ou produtoras independentes) para ingressar na distribuição
de conteúdo audiovisual (TV por assinatura) por meio da telefonia fixa. Caso se confirme a
aprovação no Congresso Nacional a PLC 116/2010 (antiga PL 29/2007), que entre outras
providências regulatórias, autoriza o setor a operar esse serviço, efetivando-se assim como
um novo major que tende a produzir novos impactos na cadeia produtiva70.
Pesquisa da agência digital Pontomobi71, ligada ao Grupo RBS que atua jornal em
TV, Rádio e Internet, e da agência de publicidade W/McCann, indica que todas as classes
sociais têm usado o celular para baixar aplicativos: 67,4% na classe A, 61,9% na classe B e
65,5% na classe C. No universo pesquisado, 30% declararam ter um smartphone enquanto
que 40,5% pretendem adquirir um telefone novo. A pesquisa também mostrou que apenas
9,4% dos pesquisados tanto da classe C como da B utilizam comércio eletrônico no celular
e na classe A são 37,3%.
7.4. Atuação da instância de recepção – com base nas preferências e tendências
O dossiê MTV 2010, realizado pela emissora vinculada ao Grupo Abril, nas
operações locais, e sediada em São Paulo, revelou que os jovens brasileiros que
privilegiam a qualidade de vida, estão sempre conectados, não largam o aparelho celular,
mas seguem consumindo conteúdos audiovisuais. Entre a consulta quantitativa que
entrevistou 2 mil jovens e a qualitativa que ouviu 154, na faixa entre 12 e 30 anos das
classes A,B,C, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília,
Salvador, Recife, Porto Alegre e Interior de São Paulo, a atividade de lazer é assistir TV
(100%). Depois vem ouvir música (99%), escutar Rádio (98%), assistir DVDs (97%),
navegar na Internet (89%), Redes Sociais (89%) falar ao celular(88%), Cinema (83%),
embora também contemplem estar com amigos (99%), ir ao parque (89), viajar (87%) e até
dormir. Todavia a atividade que mais gostam é estar na Internet, ouvir música e assistir
70 Independente da decisão do Congresso Nacional, o conselho da ANATEL decidiu autorizar o serviço de TV paga para as Telecoms. O tema agora será submetido a consulta pública. 71 Os dados são uma amostra de uma pesquisa completa ser divulgada e na qual foram questionados, pela internet, mil usuários de celular das classes A, B e C que residem nos sete principais centros urbanos brasileiros. Os dados parciais foram divulgados num evento de telefonia móvel da revista Telaviva e estão acessíveis em
http://www.telaviva.com.br/19/05/2011/classe-c-baixa-tanto-aplicativo-quanto-a-classe-a-revela-pesquisa/tl/224858/news.aspx
TV. Na comparação com consulta semelhante em 2008 a atual pesquisa aponta um
crescimento mais significativo em relação às Redes Sociais que há dois anos era lazer para
41% da amostra e agora subiu para 89%. Em contrapartida, o estudo revela uma redução
na escolha por livros não didáticos. Em 2008 eram 79% dos jovens que cultivavam a
leitura com hábito de lazer na de 2010 são 72%.
Na mesma pesquisa, uma coleta qualitativa junto a profissionais de mídia
apresentou um quadro de hábitos de consumo das mídias que confirma as opções indicadas
pelos jovens. Televisão, Rádio, Internet e Telefone seguem em alta enquanto jornais,
revistas e livros perdem espaço na preferência.
Tabela 77 - Dossiê MTV: hábitos de consumo. ANO TV Radio Internet Cel Cinema jorn revista Games Livros 2008 98 98 86 74 83 85 85 60 79 2010 100 98 89 88 80 75 74 60 72
Fonte MTV
Essa tendência revelada pela pesquisa da MTV confirma uma percepção já
sinalizada pelas opções de investimento do mercado que mostram que vídeos on-line, na
linha da exploração do streaming, se apresentam como um segmento em rápida expansão.
O recurso, como já visto, tem sido uma recorrente ferramenta nas mídias e redes sociais.
Não é por nada que o vídeo on-line vem sendo usado por diversos setores de publicidade,
marketing, entretenimento, demonstração e fins de comunicação. Também não é
desprezível o sucesso do serviço do Google YouTube, com base em vídeos gerados por
usuários, tanto em termos de espectadores como de streaming. A ferramenta anunciou que
vai inaugurar em 2011 a disponibilização de filmes on-line com base em acordos com
provedores de conteúdo cinematográfico.
Nessa linha um modelo de negócio emergente e também em expansão é do vídeo
sob demanda, especialmente filme e programas de TV. Novas soluções e serviços como o
Hulu72 ou Netflix,73 têm mobilizado a atenção e a preferência dos jovens. As redes sociais
também começam a direcionar suas opções de serviço para a oferta on-line de vídeo sob
demanda (conhecida com VoD – vídeo-on-demand ) como o caso da parceria entre
Facebook e Warner Bros Whole.
No mesmo caminho Google, Microsoft, Amazon, Apple, Twitter, tem focado seus
investimentos para mobilidade, e-commerce, home media centers, mídia social, vídeo sob
72 Serviço em rede dos EUA especializado na disponibilização on-line de filmes e vídeos www.hulu.com 73 Idem www.netflix.com
demanda, videojogos e infraestrutura. Para as empresas de mídia social não há dúvidas de
que o entretenimento on-line é baseado em um ambiente virtual é o modelo de negócio
promissor. O desafio é superar o congestionamento provocado a explosão do tráfego de
dados e nos limites das infovias. A aposta do setor é que a tecnologia de computação em
nuvem seja uma solução útil da infraestrutura para o futuro.
7.5. Efeitos da digitalização
A maioria dos grandes veículos de comunicação do país, não apenas como
estratégia de mercado, mas como foco das ações produtivas destas organizações midiáticas
dedica seu olhar para o processo de produção e distribuição em multiplataforma. Em
alguns casos, as redações trabalham integradas como faz a Rede Bandeirantes (SP), que
estrutura desde o organograma operacional até o espaço de trabalho de maneira transversal.
As equipes da Rede BAND atuam numa redação compartilhada e em sinergia para a
realização de conteúdos com distribuição em jornal, rádio, TV, internet e móveis.
Por enquanto, o grande shopping de aquisição e oferta dessa variedade de textos e
formas de recepção tem sido as páginas de web de cada organização. Nelas é possível
observar que tanto o conceito ampliado de transmídia (JENKINS, 2009), deslocando-se
muitas vezes para uma ação multimídia, quanto à ideia de exploração da calda longa
(ANDERSON, 2004) e de produser (BURNS, 2008) se efetivam. Se a audiência está num
movimento de dispersão e fluidez, a distribuição de conteúdo segue atrás.
O percurso hipermídia (SCOLARI, 2008) tem sido tomado com muito fôlego e
bastante vigor pelas organizações que tradicionalmente se dedicavam a operação dos
jornais de maior circulação no país. É o caso da Folha de São Paulo e do Estado de São
Paulo que nos últimos anos da década adotaram produção de rádio e TV para distribuição
em ambientes digitais.
O Estadão74, como já dito na parte deste trabalho dedicada aos impressos, trabalha
com oferta de conteúdos em celulares e Tablets e desenvolveu o primeiro
aplicativo brasileiro de notícias para Iphone e Ipod Touch. A empresa jornalística tem
também uma versão WAP de notícias para celulares menores, antigos.
74 Acessível em http://www.estadao.com.br/, TV Estadão http://tv.estadao.com.br/, fotos Estadão http://fotos.estadao.com.br/, Radio Estadão http://radio.estadao.com.br/.
Há ainda serviço de notícias via SMS (o conhecido torpedo por aparelhos celulares). Nos
conteúdos no Tablet encontram-se ofertas de interatividade para colaboração do leitor na
condição de produser (produtor/usuário).
Foto 8 - Still da página do Estadão na Web no qual há link para serviços de rádio, TV e todas as opções de conteúdo digital.
Foto 9 - Still da versão do Estadão oferecida em Tablet
O Estadão também vem buscando parceiros nessas ações de mercado para as
ofertas multimídia. Em 2011 fechou um acordo com a ESPN, emissora de TV por
assinatura especializada em esportes, e agora oferece um link para o conteúdo deste canal.
No caso da Folha de São Paulo, o grupo midiático responsável pela publicação vem
trabalhando com um serviço de conteúdo por meio da web há muito tempo. O UOL, braço
digital da organização que explora o mercado de provedores e portais, já conta com opções
de textos de vídeo, áudio, fotos e produtos colaborativos desde que começou o uso do
streaming na Internet. A FSP também lançou seu aplicativo para iPhone (disponível para
download na App Store) em outubro de 2010 no qual disponibiliza as principais notícias da
Folha.com, os cinco canais da Rádio Folha (podcast – lançado também em outubro de
2010) com playlist de música e conteúdo jornalístico, fotos do dia, previsão do tempo,
jogos de futebol, horóscopo, indicadores financeiros e os resultados das loterias. No
mesmo serviço também permite compartilhar conteúdos no Twitter e no Facebook aos
conteúdos audiovisuais da programação da TV Folha.
Como oferta de interatividade o aplicativo da folha propõe aos usuários do serviço
que, na condição de leitores, avaliem as reportagens publicadas, mas a finalidade
anunciada pela empresa é gerar um ranking dos textos mais lidos no celular. Uma galeria
completa mostra as fotos que foram destaque nas últimas horas. Há por fim a possibilidade
acesso aos últimos posts da Folha no Facebook e de todas as editorias no Twitter. O
aplicativo, criado em uma parceria com a Aorta Mobile, também permite o
compartilhamento da música que estiver ouvindo nos programas de rede social (Facebook,
Twitter e Orkut) e a escolha da programação por gênero de música (MPB, Pop Rock, Jazz
& Blus, Música Clássica ou Tendências).
Foto 10 - Todos os aplicativos oferecidos pela FSP75 podem ser contratados por meio da página do jornal na web.
Na ação de mercado da Folha ainda é possível ler o jornal na versão para internet
móvel no iPhone, por meio do browser Safari do celular e em sua edição digital para iPpad
(desde maio de 2010).
Foto 11 - No alto da página há ícones que indicam as opções para iPads, iPhone e rede sociais.
O jornal O Globo tem liderado a multiplicidade de distribuição e ofertas de
conteúdo. O princípio adotado pela empresa (as Organizações Globo) e que se reflete em
75 Acessível em http://www.folha.uol.com.br/. http://edicaodigital.folha.com.br/home.aspx?edicao=20110518 (Edição Digital, apenas versões antigas gratuitas) e www.facebook.com/folhadesp
todas as mídias (jornal, rádio, TV, computação/web) é disponibilizar aos “usuários” o
conteúdo onde este “consumidor” estiver, como quiser e quando desejar. Nesse sentido há
na página do jornal acesso gratuito para celulares Iphone, Black berry e
dispositivos móveis que usam o sistema operacional Android, de qualquer operadora. A
interface é mínima e simplificada, se ajusta ao tamanho da tela e aos modelos
convencionais e aos modelos com touch. Além da leveza, rapidez, a empresa76 promete
que o único custo seria do provedor de acesso a rede ou custo zero via rede Wi-fi.
O acesso normal é livre, mas para os canais de interatividade há necessidade de cadastro.
Entre os serviços de conteúdos para dispositivos móveis esta o “Rio Show” no qual
o leitor pode encontrar informações sobre a programação cultural da cidade. Há detalhes de
preços, horários de filmes, peças de teatro, shows, concertos, exposições e, inclusive, festas
e restaurantes. O conteúdo é preparado com a participação de críticos e especialistas que
visitam os locais indicados.
Foto 12 - Aplicativos para receptores móveis.
Nas funcionalidades interativas há uma oferta de mensagem com 138 caracteres,
por meio de celular, pela qual é possível fixar notas de 0 a 10 tanto aos conteúdos do jornal 76 Acessível em http://oglobo.mobi, http://oglobo.globo.com/, http://oglobo.globo.com/multimidia/
quanto aos locais sugeridos. Os usuários do serviço também podem emitir juízo sobre a
programação da TV. As opiniões consideradas “melhores” são publicadas na página e até
no jornal. Cada torpedo custa 30 centavos. Outro produto é o Gol no Celular. Pagando 10
centavos, mais impostos, o usuário recebe uma alerta de SMS com tempo, placar e a
autoria do gol, se for o caso.
Foto 13 - O ponto de acesso a todas as ofertas de aplicativos e conteúdos digitais é a página na web.
O pacote pode incluir o recebimento de notícias, posts de colunistas,
entretenimento, blogs, informações sobre esportes, concursos e vestibular. A cesta pode
ser escolhida conforme o aparelho de telefone, e os conteúdos desejados. Destaque-se que
entre as possibilidades interativas do aplicativo estão atualizações diárias, 24 horas, o
acesso aos posts de blogueiros e colunistas, fotos e vídeos.
Há ainda um recurso para a montagem de página customizada e uma convocação
para a contribuição do usuário na condição de repórter colaborador enviando fotos e
informações sobre fatos que testemunhe pelas ruas. O material enviado, que for
selecionado, é publicado nos espaços digitais dos jornais “O Globo” e “ Extra”, ambos da
mesma organização.
O jornal “Zero Hora”77, do Rio Grande do Sul, segue a mesma linha do “O Globo”
já tem uma versão digital e aplicativos para o telefone. A ZH também tem um aplicativo
para envio de conteúdo colaborativo por parte dos leitores.
Foto 14 - A ZH também tem espaço para envio de fotos e vídeos.
Um recurso com fins de atração de um consumo cada vez mais focado e com
menos tempo são as abas de busca (com palavra-chave). Graças a esse recurso é possível ir
direto para o caderno ou áreas de interesse.
O fato é que todos esses exemplos (há outros no Sudeste e no Centro-Oeste) são
apenas uma amostra da busca dessas organizações por novos nichos de mercado e novas
formas de negócio. O Globo e o Estadão já estão cobrando pelo acesso à versão digital. A
Folha de São Paulo e a Zero Hora estão com as versões digitais liberadas provisoriamente,
mas em breve passarão a cobrar.
77 Acessível em http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=capa_online
7.5.1. Conteúdos Digitais e transmidiáticos
As emissoras de televisão também buscam articulações multiplataforma e
experiências transmidiáticas e interativas por meio da Internet. Têm recorrido às páginas e
portais acessíveis na rede de computadores e dispositivos móveis para gerar um espaço de
distribuição, consumo, interação e produção com seus telespectadores. Assim como os
jornais, a integração com as redes sociais é a estratégia recorrente.
Entre as TVs segmentadas o canal jovem MTV78, por exemplo, explora o Twitter.
No caso do programa “Adnet”, as equipes da emissora pedem através do microblog para os
telespectadores fazerem imitações ou construir situações para serem exploradas na TV.
Pedem opinião e usam as contribuições no ar. No programa “Batalha de clipes”, o público
escolhe por SMS qual o próximo clipe que será exibido. O portal da MTV ainda oferece a
exibição de vídeos sob demanda, games e uma rádio on-line sempre com links para acesso.
Durante a campanha eleitoral de 2010 a emissora mobilizou toda sua rede para ofertar e
produzir conteúdo nessa ambiência midiática79.
Como contrapartida para os anunciantes o canal monitora os anúncios mais vistos
pelos usuários das redes sociais. Foi com essa finalidade que a MTV Internacional assinou
em 2011 um contrato com a Visible Measures, empresa de medição de audiência dos
vídeos do canal na Internet e nas mídias sociais. Bastante direcionada para as dinâmicas
desse mundo virtual a empresa transnacional vem fazendo aquisições de marcas digitais
nos segmentos de música, programação, mundo virtual e games, como foi o caso da Atom
Films, empresa de Salmi, foi comprada em 2006, ou a empresa de mídias Social Project em
2011. Na própria página a MTV anuncia que “está construindo comunidades que abrangem
centenas de seus sites, como VH-1, i Pimp My Ride e Jackass, através de um serviço
chamado Flux”. Quando um internauta está “logado” na rede Flux, pode migrar para outros
sites da MTV sem precisar fazer novo login de ingresso na página.
No caso das emissoras públicas, a EBC – Empresa Brasileira de Comunicação80 –
tem se dedicado a renovação do seu parque tecnológico e da implantação do operador de
rede que vai abrigar a distribuição de sinal de todas as TVs do segmento. Mesmo assim, no
espaço virtual, a EBC tem experimentado algumas incursões de interatividade. É o caso do
Repórter Brasil On-line. Trata-se de um Telejornal que, na internet, trabalha com a
78Acessível em www.mtv.com.br. 79Acessível em http://mtv.uol.com.br/noticiasmtv/naintegra/noticias-mtv-160610-campanhas-eleitorais-nas-redes-sociais-direitos-autorais-e-novas-regras-para-os-planos 80 Acessível em www.ebc.com.br
interatividade. O usuário participa do informativo num quadro chamado “outro olhar”.
Para esse programa é possível produzir conteúdo colaborativo mostrando a realidade do
local onde se mora. O colaborador envia o conteúdo preenchendo um cadastro com e-mail,
título da sua matéria, ano da produção, a sinopse e o nome dos realizadores e diretores. Em
seguida, o colaborador – internauta pode fazer um upload do vídeo.
Entre as TVs comerciais esse tipo de espaço colaborativo existe em todas. Na
página do SBT, além de vídeos e programação para visualização, há uma oferta de jogos
on-line dos programas apresentados pela emissora. Num caso especifico o jogador tem que
adivinhar de qual programa se trata com base nas logomarcas mostradas na página. Trata-
se de uma pesquisa de identificação de marca gratuita e baseada num game. Há uma
central de cadastros, os links para todos os "twitters" da empresa, divididos entre a conta
geral, a das séries, a das novelas, a do jornalismo, alguns perfis oficiais de alguns
programas, da loja on-line e um espaço de interação chamado de "@SBTinterativo",
lançado em 2011, por meio do qual é possível enviar conteúdos para a emissora.
Na Rede Bandeirantes as ofertas de interatividade foram incrementadas na
cobertura do Carnaval de 2011. A emissoras por meio do eBand, na Internet, criou uma
integração com as redes sociais (como o twitter bandfolia) nas quais trocava informações
em tempo real. Por meio de um link chamado “envie sua foto”, mediante o preenchimento
de um cadastro, era possível postar fotos de carnaval ou exibir vídeos que podiam ser
vistos mesmo com alto número de acessos na Internet.
Foi a TV Globo, porém, que recorreu a todas as possibilidades de associar
plataformas, promover interfaces com as redes sociais e criar espaços de interação na
cobertura do Carnaval de 2011. A emissora disponibilizou sua programação no portal81 e
criou sinergias com a rede social Twitter 82para interagir com o seu público. Em uma
página especial83 apresentou a cobertura completa do carnaval das principais cidades do
país, especialmente Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife.
No portal G1 era possível postar vídeos do evento que eram incluídos em uma
galeria juntamente com vídeos da cobertura profissional.
81 Acessível em http://g1.globo.com/ 82 Acessível em @G1_Carnaval 83 http://g1.globo.com/carnaval/2011
Foto 15 - Espaço com vídeos exibidos durante a programação, como entrevistas e reportagens e os vídeos enviados pelos internautas.
No espaço destinado a postagem de vídeos chamado de “VC no Carnaval” (um
recurso que a Rede Globo tem usado para toda a sua programação) a emissora abriu espaço
para contribuições de brasileiros que, fora do país, assistiam à transmissão por meio da
Globo Internacional. Nessa sessão era possível enviar fotos e vídeos colaborativos de
relatos pessoais, com depoimentos, sobre os momentos do carnaval. Os
telespectadores/internautas podiam mandar vídeos e fotos pela Internet ou celular iPhone.
As imagens eram selecionadas e exibidas na televisão durante os intervalos e no
próprio site. Para enviar as fotos era necessário fazer um cadastro na Globo.com e aceitar
os termos de uso. Era possível mandar, por vez, de 1 até 6 fotos.
O sistema aceitava arquivos de vídeo de no máximo 50MB e nos formatos
estipulados (3g2, 3gp, 3gp2, 3gpp, asf, avi, divx, dv, dvx, f4v, flv, h263, m4e, m4v, wmv,
mov, movie, mp4, mpg, mpeg, qt e rm). As fotos deveriam ter formatos jpg, bmp, png ou
gif e ter até 3MB. Todos os arquivos precisavam ser identificados com nome, local e data.
Outro momento de interação foi durante os desfiles, transmitidos à noite, quando os
telespectadores puderam votar avaliando o desempenho das Escolas de Samba. O
internauta definia as notas, entre 5 e 10, conforme o desempenho nos seis principais
quesitos do concurso - samba-enredo, bateria, comissão de frente, alegoria e adereço,
fantasia e mestre-sala e porta-bandeira. Após cada desfile os apresentadores mostravam o
resultado que também era comunicavam às escolas de samba a votação do público. Nessa
dinâmica as estratégias de distribuição e produção do conteúdo determinavam que o sujeito
da recepção estivesse vendo TV ao vivo e ao mesmo tempo conectado no G1. Desta
maneira a equipe de produção simulava um espaço virtual de interação, quase em tempo
real, auxiliada pela mobilização de mais de uma mídia.
Outras ações multiplataforma que contribuíram para gerar uma grande ambiência
midiática durante os desfiles foram as interfaces com SMS e Twitter. Os telespectadores
eram convidados a enviar por SMS comentários, opiniões e fazer perguntas aos
comentaristas que estavam em um estúdio no sambódromo com telas touch screen
interativas.
As SMS tinham o custo de R$ 0,31 + impostos. No twitter, todos os usuários que
utilizaram as tags #g1carnaval #globeleza apareciam na barra lateral.
Foto 16 – Página da cobertura do Carnaval no Twitter.
A Rede Globo ainda aproveitou a cobertura, articulada numa dimensão de
midiosfera na qual reuniu todas as tecnologias de produção, circulação e consumo, para
realizar uma transmissão em 3D dos desfiles das escolas do Rio de Janeiro. Os clientes da
operadora de cabo NET com televisores específicos e plano HD tiveram a oportunidade de
ver as escolas do grupo especial em imagens tridimensionais no canal 701 sem custos
adicionais.
8. Conclusões
O cenário construído nesses dez anos evidencia um processo mais complexo, na
transição do analógico para o digital, daquele presente no prognóstico dos “futurólogos”
das novas mídias e anunciado no primeiro período da década. Imaginava-se que o
fenômeno on-line da Internet, juntamente com toda a oferta de aplicativos oferecida pela
rede de computadores, dominaria o espaço midiático relegando rapidamente a um segundo
plano os meios que passaram a ser classificados pejorativamente como mídias tradicionais.
O movimento da sociedade de rede efetivamente aconteceu, sobretudo graças ao
sucesso das redes sociais, e que gerou a sociedade virtualizada. A velocidade do
crescimento da penetrabilidade do computador e do acesso à internet comparado com o
percurso históricos das outras mídias, efetivamente, mostra-se promissor (se pensar no
telefone celular então...). Os veículos tradicionais sentiram o impacto da diluição dos seus
públicos. Mas, a desaceleração acentuada e a atuação coadjuvante no cenário midiático
ainda não se configuram de modo tão imperativo. Os dados do PNAB e do programa Inter-
meios, confrontados com os demais indicadores de monitoramento, mostram, ao contrário,
vários movimentos de acomodação e relativa resistência num cenário de ebulição digital. O
acesso ao telefone móvel, por exemplo, superou o computador. A TV segue forte na
liderança tanto da penetrabilidade quanto da arrecadação. É verdade que também há sinais
de muita incerteza. O cenário de convergência de mídias e conteúdos, talvez, seja a
evidência mais forte.
Diante desse quadro e considerando que os dados ainda dão conta de um primeiro
estágio de uma pesquisa baseada numa coletânea de dados e análise, mostra-se temerário
qualquer projeção mais imperativa. O cenário possível de desenhar ou de ver é de
movimento e acomodação na direção da convergência. Por outro lado, constitui pertinência
alertar para o bom proveito que se pode tirar da ausência de uma clarividência segura.
Significa que há um largo espaço de construção possível. O processo ainda está num
período de maturação, no qual políticas de comum acordo podem contemplar ações para
um horizonte mais harmônico e produtivo do ponto de vista tecnológico, econômico, social
e cultural.
Mostram-se sinais animadores no desenvolvimento de hardware, software, e,
sobretudo, de conteúdos transmidiáticos e interativos. Indícios que exigem um plano
estratégico de curto, médio e, principalmente, de longo prazo com vistas à articulação de
uma política para o desenvolvimento das indústrias criativas e de conteúdos digitais que
integre o setor público e privado. Portanto, verifica-se como imprescindível uma atuação
do estado e de todos os atores sociais e econômicos no desenho, na arquitetura desse futuro
a partir de premissas que contemplem o desenvolvimento de toda a cadeia e do país como
um todo, não apenas de determinadas regiões.
O Brasil, na sua história recente, tem experimentado importantes esforços de
políticas públicas voltadas para incrementar esses processos. Como se deu no programa de
implantação da TV Digital Terrestre. Não obstante, a articulação dos arranjos e a possível
cadeia de valor, que desses processos poderia resultar, até o momento não evoluiu para
uma ação de cluster, num nível de entendimento e estrutura produtiva mais consistente. Há
uma desacelaração dos agentes envolvidos e avista-se, tão somente, uma expectativa de
futuro promissor.
Os dados apresentados no presente relatório mostram a robustez da infraestrutura
que vai se constituindo com vistas a sustentar todos os meios digitais. E, notadamente,
persiste um foco unicamente na perspectiva tecnológica. É uma visão a partir da lógica de
sistema fechado. Trata, exclusivamente, do sistema midiático que se limita a reproduzir as
lógicas de centralização e controle verificados no analógico.
Por outro lado, os indicadores de comercialização, de audiência, de penetrabilidade,
revelam tendências de apropriação que a população brasileira está fazendo dessas ofertas.
Há sinalização do desejo de autonomia de consumo, de escolha. Essa apropriação funciona
como um sistema aberto que se dissipa segundo preferências distintas. A perspectiva desta
midiosfera que contempla a dimensão dos sistemas fechados de produção e distribuição
(estrutura, produção e infraestrutura de circulação) em operação harmônica com os
sistemas abertos de produção de sentido (construção simbólica e o imaginário) no
desenvolvimento (processo de criação de produto ou obra) e, principalmente consumo
(acesso e interpretação) dos conteúdos demanda uma visão que contemple seus aspectos
econômicos, tecnológicos, claro, mas também os sociais e culturais.
O olhar sobre o segmento tem ocupado economia política, dedicando-se com maior
intensidade à dimensão regulação e fomento para o desenvolvimento tecnológico. Pouca
atenção tem se dado à dimensão cultural, aos processos criativos e principalmente aos
processos de consumo que estão imbricados nos sistemas de significação e produção que
resultam em produção de sentido (KIELING, 2009). É também fundamental preocupar-se
com os modos de conceber, fazer e apreender os conteúdos produzidos pela indústria
criativa e de conteúdos digitais.
Retomemos a perspectiva da midiosfera (KIELING 2009, 2010). Observemos a partir
de um esquema de elipses (figura abaixo) no qual percebemos dois sistemas (o SPD,
sistema de produção e distribuição e o SSI, sistema de significação, incluindo consumo e
interpretação). Na dinâmica imaginada das elipses, um sistema permeia o outro num
processo de interação por meio do qual se constitui um lugar, um espaço, um terreno
virtual de confronto e acomodação entre as lógicas de cada sistema. Mas, ao mesmo
tempo, configura-se um espaço de realização, de consumação.
“Considerando que os dois sistemas têm capacidade autopoiética é nesse
lugar que se reorganizam suas operações mutuamente em busca do
equilíbrio e da continuidade. Imagina-se este lugar como uma ambiência
midiática de produção de sentido um lugar onde o real e o imaginário, o
material e o virtual, o editorial e o colaborativo convivem” (KIELING,
2009, p. 45).
Se tomarmos o exemplo a televisão e as experiências realizadas no Carnaval de 2011,
todo o sistema produtivo de uma emissora (o sistema fechado), suas estruturas
organizacional-administrativa, de engenharia, de produção e distribuição dos sinais de
vídeo, áudio e dados foram mobilizadas para executar e disponibilizar aquela cobertura em
todas as mídias e com todas as tecnologias. Nada aconteceria se as pessoas não ligassem a
TV, o computador, os receptores móveis, o telefone móvel e começassem a interagir.
Escolhendo, promovendo suas leituras, fazendo suas escolhas que nem sempre atendiam
aquelas idealizadas pela emissora. O jeito de ler, interpretar, selecionar, esta faculdade da
instância de recepção é que vai dando significado (sistema aberto) a tudo que se passa. O
espaço de troca, de construção de sentido que se deu durante a transmissão resultou do
encontro desses dois sistemas que juntos e com a atuação dos sujeitos produtores e
receptores viabilizou a midiosfera.
SPD SSi
ambiência
Não se ignore que um sistema fechado vai se proteger do ambiente externo (sistema
econômico – financiadores, anunciantes, concorrentes, o mercado – e sistema político –
concessões públicas, leis protecionistas, impostos) e com ele interagir, considerando os
níveis de interdependência, e se relacionar por acoplamento estrutural, autofortificado
como pensa Luhmann. Seria o SPD – sistema de produção e distribuição.
Por sua vez, o sistema de significação, o SSI, que vai depender de variáveis externas,
sociais, culturais que podem dissipar interpretações e escolhas, como pensaria Prigogine
(1990), para fora da proposta original dos textos midiáticos, as suas estruturas
modelizantes do script, do roteiro, do estúdio, dos esquemas da multicâmera, das normas
de estilo, de redação, dos manuais.
O fato é que a cada nova desordem, perturbação do equilíbrio provocado pelos
agentes, os sistemas vão rapidamente se reorganizar, se adaptar, serem permeáveis. Em
certo grau, a medição de audiência, ou de consumo, funciona com um dispositivo de leitura
dos níveis de perturbação. Ou seja, a produção de sentido para se realizar depende do
telespectador, do ouvinte, do leitor, do é externa à mídia.
O resultado da produção dos sistemas de televisão (SPD e SSI), a seu turno, precisa
do lugar onde tudo que foi produzido e que é exibido, seja assistido. Só então ganharia a
dimensão de produção de sentido. Essa produção simbólica vai se construir e, a partir daí,
ganhar as ruas, vai estar nas relações mediadas de cada grupo, cada rede social. No caso da
midiosfera, reenviando de uma mídia a outra, constituindo uma outra esfera de
sociabilidade, que é virtual.
Assim, as novas condições técnicas de recepção vão deixando mais evidente a
necessidade de serem pensadas numa dinâmica que transcende a tecnologia e incorpora
aspectos sociais e culturais. A própria TV, enquanto mídia no processo de digitalização, ao
ganhar outras funcionalidades com o Ginga ainda carece de compreender a
horizontalização de processos de produção, distribuição e consumo antes vertical e peculiar
a cada veículo de comunicação.
Acredita-se que, na perspectiva da midiosfera, se torna possível melhor perceber esse
mundo midiático multiplataforma e convergente que, presentemente, emerge. Um mundo
no qual se criariam referências próprias junto aos seus públicos. Como é possível perceber
nas estratégias e ações que os grandes grupos de mídia brasileiros (caso dos jornais e das
TVs que já exploram as mídias sociais e a recepção móvel de maneira transmidiática e
interativa) ou da empresas de telecomunicações com suas ofertas triple play.
Trata-se, portanto, de um estágio mais agudo do fenômeno que, de certo modo, está
na origem das relações de interdependência entre os jornais e seus leitores, a rádio e seus
ouvintes, a televisão e seus telespectadores e, recentemente, entre a internet e os
internautas. Acredita-se que agora nesse lugar de interpenetração dos sistemas de
comunicação produtores (empresas de comunicação, os veículos) e receptores (leitores,
ouvintes, telespectadores, espectadores, internautas) se encontram para não apenas
consumir conteúdo e promover suas leituras possíveis. No âmbito da midiosfera, na qual os
suportes e textos são digitais e, como já mencionado, os processos podem ser horizontais e
as instâncias de produção e recepção podem compartilhar e trocar conteúdos, o editorial já
incorpora o colaborativo. Dito de outra forma, a instância de recepção pode produzir
conteúdo para a grande mídia. No caso da comunicação audiovisual, há possibilidades
infinitas.
É nesse sentido de midiosfera que haveria abrigo para o fenômeno da constituição
e interação com as comunidades de recepção, especialmente as comunidades virtuais
geradas a partir das mídias sociais, ou da Internet84 como canal de retorno configurando a
interatividade e a convergência de suportes. O dossiê da MTV, a adoção dos aparatos
móveis, o sucesso do You Tube, a busca pela TV segmentada já são indícios que para a
instância da recepção que as possibilidades da midiosfera estão muito bem compreendidas.
Mártin-Barbero (referindo-se à TV) diz que há quatro traços que fazem a diferença
de um veículo cultural. O primeiro seria trabalhar na criação de cultura. O segundo,
explorar a fragmentação de imagens do cotidiano num fluxo de traços da época na busca
pelo registro da expressividade, das marcas deste contemporâneo, numa permanente
provocação à reflexão destes tempos. Em terceiro, assumir como uma nova experiência
cultural e trabalhá-la como alfabetizadora da sociedade nas novas linguagens, sejam
escritas, audiovisuais ou informáticas. E por fim, a questão mais complexa: a qualidade.
Essa visão do teórico destinada às mídias analógicas serve melhor às digitais.
Pensando como Mártin-Barbero, naturalmente, todos precisam assumir que os espaços
midiáticos configuram um lugar de competitividade, “profissionalismo, inovação e
relevância social de sua produção” (2002, pg. 74). Mas, ao mesmo tempo, devem “abrigar
a diversidade social, cultural e ideológica”. Como da mesma forma trabalhar uma
“identidade comum” (ibidem).
84 Fenômeno que poderá ser potencializado pela popularização do middleware Ginga nas transmissões de TV Aberta que permitirá a interatividade por meio da própria TV.
Dizendo de outra forma, a ideia de qualidade e diversidade exige um conteúdo
múltiplo que inclua o divertimento, o acesso aos bens culturais, à informação, o
conhecimento e o estímulo à capacidade crítica. No âmbito da convergência, da
interatividade, a produção de conteúdo digital deve se adequar às condições de recepção de
cada mídia e às formas de consumo do público.
Tudo isso, de alguma maneira, aparece num horizonte, nada específico, seja no
decreto da TV Digital, seja nos movimentos empreendidos até aqui pelo Fórum das
Públicas e, mesmo, pelas diretrizes da TV Brasil. Entretanto, a regulação efetiva está por
vir, passará pelo Congresso (onde se discute a cota de produção de conteúdo nacional para
as empresas de serviços pagos de conteúdo – a maioria de capital transnacional). Mas,
ainda é necessário pensar numa política de produção descentralizada, articulada com
formas de financiamento que não se restrinjam apenas à publicidade e à renúncia fiscal das
Leis Rouanet e do Audiovisual.
A dinâmica dos arranjos locais, das cadeias produtivas regionais e nacionais, do
trabalho associativo, das redes de cooperação físicas ou virtuais, numa articulação
descentralizada, envolvendo o audiovisual como uma nova economia articulada (reunindo
empresas privadas, públicas, independentes, universidades), é que pode gerar novos
produtos, gêneros e formatos que rendam resultados através do licenciamento para uso ou
veiculação no mercado internacional. Obedecendo à lógica do equilíbrio entre as
motivações do público e do privado.
A meta da qualidade, que nos demanda Mártin-Barbero, precisa ocupar a todos. É
possível sim produzir entretenimento sem culpa, mas se faz necessário também promover a
formação cultural, a educação, a capacitação e a cidadania. Não parece recomendável
perder a dimensão da diversidade cobrada pelo pensador latino-americano, dado que
somente na conjunção dessas premissas torna-se possível a noção de democracia e de
gestão da alteridade pensadas por Wolton.
Acredita-se prudente lembrar que essas articulações passam por toda sociedade,
pelos demais atores e que precisam se efetivar para evitar o risco da digitalização seguir
um curso próprio que, talvez, não seja tão civilizatório. Mostra-se apropriado reiterar a
compreensão dessa dinâmica à luz da ambiência midiosfera na qual todos os sujeitos
sociais, políticos e econômicos atuam como sujeitos da comunicação na produção,
circulação, consumo, interpretação e, mais que tudo, na construção de sentido.
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Missão do IpeaProduzir, articular e disseminar conhecimento paraaperfeiçoar as políticas públicas e contribuir para o planejamento do desenvolvimento brasileiro.