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RELATÓRIO FINAL VIVÊNCIAS BRASIL: APRENDENDO COM O TURISMO NACIONAL 2008/2009 RIO DE JANEIRO – PARATY, SANTA TERESA E LAPA TURISMO CULTURAL SETEMBRO DE 2008

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RELATÓRIO FINAL

VIVÊNCIAS BRASIL:

APRENDENDO COM O TURISMO NACIONAL 2008/2009

RIO DE JANEIRO – PARATY, SANTA TERESA E LAPA

TURISMO CULTURAL

SETEMBRO DE 2008

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MINISTÉRIO DO TURISMO Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho, Ministro de Estado Secretaria Nacional de Políticas do Turismo Airton Pereira, Secretário Diretoria de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico Tânia Brizolla, Diretora Coordenação Geral de Segmentação

Rosiane Rockenbach, Coordenadora Fabiana Oliveira

Wilken Souto

SEBRAE NACIONAL – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Paulo Tarciso Okamotto, Presidente Diretoria de Administração e Finanças Carlos Alberto dos Santos, Diretor Diretoria Técnica Luiz Carlos Barboza, Diretor Gerência da Unidade de Atendimento Coletivo, Comércio e Serviços Ricardo Guedes, Gerente Aryanna Nery

Dival Schmidt Filho

Lara Franco Germana Magalhães Valéria Barros

BRAZTOA – Associação Brasileira das Operadoras de Turismo José Eduardo Barbosa – Presidente Monica Eliza Samia – Diretora Executiva Domenico Palma Neto – Coordenador Geral

Jaqueline Gil

Lilian La Luna Márcia Neves Rafael Frias Consultoria Técnica

Anete Ferreira

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SUMÁRIO

1. Apresentação do projeto Vivências Brasil ...................................................... 5

Público-alvo .................................................................................................. 6

Objetivo geral ............................................................................................... 6

2. Apresentação institucional........................................................................... 7

3. Participantes da viagem técnica ................................................................... 9

4. Metodologia de benchmarking utilizada ........................................................ 12

5. Boas e melhores práticas em Turismo Cultural observadas no Rio de Janeiro –

Paraty, Santa Teresa e Lapa ......................................................................... 18

5.1 Roteiro de viagem ................................................................................... 20

5.2 Práticas identificadas ............................................................................... 23

5.3 Experiências observadas no roteiro ........................................................... 28

Conclusão .................................................................................................... 73

Referência bibliográfica ................................................................................. 74

Este relatório é parte integrante dos resultados desta viagem técnica. Veja também o vídeo, a galeria de

imagens e depoimentos dos empresários participantes – www.excelenciaemturismo.gov.br.

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1. Apresentação do projeto Vivências Brasil

O Projeto VIVÊNCIAS BRASIL: Aprendendo com o Turismo Nacional foi idealizado em 2005, no âmbito do macro-projeto “Brasil, Brasil”, cujo objetivo é proporcionar a diversificação da oferta turística a partir dos segmentos turísticos. O projeto é uma iniciativa do Ministério do Turismo, por meio da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, em parceria com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo – Braztoa.

Dessa forma, os objetivos do Projeto Vivências Brasil estão contextualizados dentro das políticas públicas do Ministério do Turismo. Proporcionam aos destinos turísticos brasileiros possibilidades para o incremento na qualidade da oferta e a melhoria nas práticas da operação, por meio da realização de viagens técnicas para a observação da operação, da gestão empresarial e das estratégias de desenvolvimento de produtos turísticos segmentados, que são referência no país.

A realização de viagens técnicas para as observações de experiências que representam boas práticas, na operação da atividade turística com foco na oferta segmentada, é uma forma alternativa de encorajar os atores de destinos turísticos a implementar significativas inovações em sua maneira de atuar, visando elevar a qualidade dos serviços prestados.

A técnica utilizada para a observação e o aprendizado com o exemplo das boas e melhores práticas é a de benchmarking1, que permite a vivência in loco das práticas de referência almejadas. O ciclo do benchmarking perpassa essencialmente cinco etapas: observação, assimilação, comparação, adequação e implementação.

A partir do Projeto Excelência em Turismo: Aprendendo com as Melhores Experiências Internacionais iniciado em 2005, foram identificadas boas oportunidades de melhorias e inovações na gestão dos destinos que tiveram empresários turísticos participantes. Assim, com aprendizado adquirido por meio do Projeto Excelência em Turismo, foi possível verificar a eminente necessidade de se trabalhar processos similares para atender regiões turísticas do Brasil que ainda não estão em estágios avançados para implementação de melhores práticas, mas que já recebem números significativos de turistas do país e do mundo.

Nesse sentido, foi realizado em 2006, pela primeira vez, o Projeto Vivências Brasil, a partir de algumas regiões turísticas do país, que já trabalham o produto turístico de forma madura e satisfatória, o que pôde se constituir em exemplos de boas práticas que podem e devem ser assimiladas e replicadas nas regiões menos desenvolvidas nesse quesito.

Em 2006, os segmentos contemplados foram cultural, rural, ecoturismo, mergulho, aventura e sol e praia e os destinos referência que nortearam os trabalhos nessa 1ª edição foram Estrada Real (MG), Vale do Café (RJ), Bonito (MS), Fernando de Noronha (PE), Roteiro Integrado (CE, PI, MA) e Costa dos Corais (AL), respectivamente.

Cinqüenta e cinco empresários de turismo foram apoiados diretamente em 2006, favorecendo cerca de quatro mil atores da cadeia produtiva do turismo através da disseminação do aprendizado, numa previsão modesta de que cada empresário participante das viagens capacita outros trinta profissionais em 3 ações de multiplicação.

1 Benchmarking: trata-se de um processo dinâmico e contínuo de aprimoramento e melhoria em negócios/empresas ou instituições, com base na observação e análise de outras experiências de referência, adaptações, implementações e constante avaliação.

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A partir do sucesso do projeto Vivências Brasil 2006 e do Excelência em Turismo 2005 e 2006, foi lançada a 2ª edição do Vivências Brasil, considerando os ajustes necessários a partir do aprendizado obtido nas edições anteriores. Portanto, o alcance dos resultados efetivos para o aumento da qualidade dos produtos e serviços turísticos vem ao encontro da necessidade de atender às exigências de turistas nacionais e internacionais. O Projeto 2008/09 renova a parceria entre Ministério do Turismo, Sebrae e Braztoa, e tem como segmentos prioritários para visitas Ecoturismo em Unidades de Conservação, Turismo Cultural, Turismo Rural, Turismo de Sol e Praia e Turismo Social – Melhor Idade. Os destinos selecionados são, respectivamente: Foz do Iguaçu/PR, Rio de Janeiro e Paraty/RJ, Serra Gaúcha/RS, Acolhida na Colônia/SC, Costa dos Coqueiros/BA e Caldas Novas/GO.

Público-alvo

Prioritariamente pequenos e médios empresários, representantes ativos da cadeia produtiva do turismo, que focam sua atuação principalmente nos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional, identificados pelo MTur, e atendem especialmente ao turismo receptivo internacional, nos segmentos/temas de cada uma das viagens técnicas.

Objetivo geral

Identificar, observar e analisar, em destinos nacionalmente reconhecidos, boas e melhores práticas, possibilitando que outros destinos turísticos com vocações semelhantes tenham como referência as estratégias e os modelos levantados e possam adaptá-los a sua cultura e as suas peculiaridades, com vistas a uma mudança que leve o desenvolvimento da atividade turística no País a melhores resultados.

Por meio da organização de seis viagens técnicas, o projeto foca na observação da operação e da estratégia de desenvolvimento de produtos turísticos nos segmentos-tema.. Enfoca também o aprendizado e o fomento à implementação das boas práticas observadas, visando o aprendizado pelos participantes e o conseqüente aprimoramento dos serviços, da qualidade e da competitividade dos produtos turísticos brasileiros.

Este relatório apresenta a experiência vivenciada no Rio de Janeiro: Paraty, Santa Tereza e Lapa, com foco na observação do turismo cultural.

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2. Apresentação institucional

� Ministério do Turismo/EMBRATUR

Tem como missão desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social. O Ministério do Turismo inova na condução de políticas públicas com um modelo de gestão descentralizado, orientado pelo pensamento estratégico.

Papel no projeto – Instituição Realizadora

Propôs o projeto e acompanha os resultados

� Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE Nacional)

Trabalha pelo desenvolvimento sustentável das empresas de micro e pequeno porte, promovendo cursos de capacitação, facilitando o acesso a serviços financeiros, estimulando a cooperação entre as empresas, organizando feiras e rodadas de negócios e incentivando o desenvolvimento de atividades que contribuam para a geração de emprego e renda.

Papel no projeto – Instituição Realizadora

Propôs o projeto e acompanha os resultados

� Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA)

É uma sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1989. Sua finalidade é:

• Promover a valorização das atividades desenvolvidas por seus associados, no País e no exterior;

• Promover ações que aproximem seus associados das agências de viagens e dos demais segmentos do setor turístico;

• Promover o aperfeiçoamento das relações comerciais entre seus associados e empresas de transporte aéreo, hotéis e demais fornecedores;

• Aproximar os associados de entidades congêneres nacionais ou internacionais, podendo participar também de suas ações promocionais;

• Promover pesquisas, capacitação e ensino, visando o desenvolvimento institucional;

• Promover, por meio de projetos e parcerias, a divulgação de informações, atividades e outras demandas de interesse da entidade e de seus associados em

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qualquer meio falado, escrito, eletrônico ou virtual, procedendo-se os eventuais registros nos órgãos competentes, se necessário.

Papel no projeto – Executora

Executa as ações previstas no projeto

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3. Participantes da viagem técnica

O grupo da viagem técnica foi composto por:

EMPRESA PARTICIPANTE SEGMENTOS EM QUE OPERA DESTINO E TIPO

DE OPERAÇÃO CONTATO

Bonjour Bahia Bertrand Daniel Ferignac Sol e Praia, Ecoturismo, Cultura, Esporte

Cairu/BA – Receptivo local

[email protected]

Interturismo Adriana Alves Flexa Ribeiro Sol e Praia, Ecoturismo, Cultura, Esporte, Negócios e Eventos, Produtos Focados e Outros

São Luis/MA – Receptivo local

[email protected]

[email protected]

Ourotur Fábio Cabral Ribeiro Cultura Cidade de Goiás/GO – Receptivo local

[email protected]

Papagaios Restaurante Elizete Barbosa Cultura Sobradinho/DF - Restaurante

[email protected]

Pousada do Lajes Izabel Cristina V. Martinez Lieber Ecoturismo, Cultura Carolina/MA – Meio de hospedagem

[email protected]

Reality Tour Solange Cristina Virginio Barbosa Ecoturismo, Cultura Tremembé/SP – Receptivo local

[email protected]

Bistrô Alquimia dos Sabores

Luciana Marinho Cultura. Paraty/RJ - Restaurante

[email protected]

Taipu Turismo Claudia Maria de Oliveira Godinho Sol e Praia, Ecoturismo, Cultura, Esporte, Eventos de Incentivo,

Maraú/BA – Receptivo local

[email protected]

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Produtos Focados

INSTITUIÇÃO REPRESENTANTE ORIGEM CONTATO

Ministério do Turismo Maurício Santos Brasília/DF [email protected]

Sebrae Nacional Durcelice Cândida Nascene Brasília/DF [email protected]

Braztoa Alexandre Florio São Paulo/SP [email protected]

Roteirista Lincoln Sedd São Paulo/SP [email protected]

Cinegrafista Crysthean Nylsen Leão São Paulo/SP [email protected]

Consultora Anete Ferreira Rio de Janeiro/RJ [email protected]

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De forma ilustrativa, as seguintes Unidades da Federação tiverem representantes durante a viagem:

Participantes viagem técnica

Fonte: Arquivo participantes

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4. Metodologia de benchmarking utilizada

O benchmarking é um procedimento de comparação contínuo e sistemático que tem como objetivo principal verificar o estado de evolução de organizações, produtos, processos, estratégias ou atividades em relação a outras com características similares e/ou passíveis desta comparação. O benchmarking também tem como objetivo criar os padrões de referência para que as organizações e pessoas possam melhorar seu rendimento (desempenho) e, portanto, obter resultados mais adequados para a diferenciação competitiva no mercado.

Para o processo da aplicação de benchmarking se utilizam alguns procedimentos de pesquisa estruturados em uma metodologia adequada às necessidades do tipo de observação e análise que se está efetuando. No caso do Projeto VIVÊNCIAS BRASIL – Aprendendo com o turismo nacional, a metodologia foi estruturada considerando cinco etapas, subdivididas em ações específicas, conforme demonstra a figura 1, a seguir.

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Figura 1. Etapas da Pesquisa

2 - Pesquisa de Campo

3 - Avaliação

4 - Sistematização Final de

informações técnicas

1 - Pré-viagem

5 - Disseminação

- Identificação do destino e organização da metodologia; - Realização de treinamento online sobre benchmarking; - Reunião de Pactualização com empresários

- Observação das boas e melhores práticas; - Entrevistas e aplicação dos questionários. - Análise do observado, com foco nas possíveis implementações no Brasil; - Análise final;

- Tabulação dos dados coletados pelos empresários; - Análise dos dados;

- Organização das informações em relatório final, DVD e banco de boas práticas (website);

- Disseminação do conhecimento obtido, por meio de ações de multiplicação; - Aplicação do aprendizado em empresas e instituições – implementações;

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Na primeira etapa (chamada pré-viagem) foi identificado o destino mais adequado para observação de boas e melhores práticas para o segmento escolhido. Também foi capacitada a equipe técnica do projeto, de forma a compreender o processo de benchmarking e a aplicação das ferramentas metodológicas. Os empresários selecionados foram capacitados por meio de um treinamento online sobre o conceito do projeto e puderam se preparar para a viagem;

Também foi realizada a Reunião de Pactualização, com a liderança técnica, empresários e técnicos participantes da viagem, com o objetivo de informar detalhadamente a metodologia do projeto, alinhar os conhecimentos de benchmarking e explicar os principais aspectos a serem observados ao longo da viagem, na aplicação dos questionários e na realização das entrevistas.

Os principais temas selecionados para observação durante as visitas e entrevistas, estão divididos em nove temas, e são:

• Aspectos de Gestão – Este item é relativo ao processo de gestão dos negócios. A observação foi efetuada considerando quais os elementos do processo que apóiam ou contribuem para a boa gestão dos negócios de turismo e se tornaram boa ou melhor prática no empreendimento visitado.

• Aspectos de Infra-estrutura – Este item é relativo à disponibilidade do equipamento em relação à estrutura/capacidade física e de adaptação para atendimento a diversificados públicos/tipos de clientes. Refere-se, também, à apresentação, estética, decoração, acessibilidade e funcionalidade da estrutura do negócio. A sinalização é um ponto igualmente observado.

• Aspectos do Negócio – Produtos e Serviços Ofertados – Este item é relativo ao negócio propriamente dito, considerando as características específicas de cada equipamento turístico. É relacionado com a definição e estratégias dos 4 Ps do marketing (produto, praça, promoção e preço), e, principalmente, atendimento.

• Aspectos de Certificação – Este item é relativo ao processo de padronização e validação de procedimentos para a devida certificação dos produtos e/ou serviços turísticos. Corresponde a avaliação da existência de normas, regulamentos/leis e padrões mínimos para o estabelecimento de procedimentos de estruturação, avaliação e certificação dos produtos turísticos locais e/ou regionais.

• Aspectos de Formação e Qualificação – Este item observa as ações relativas à formação de profissionais para executar os serviços turísticos, bem como as políticas de gestão de pessoas aplicadas. Também observa a relação da formação profissional com os aspectos culturais e suas especificidades. Identifica qual a infra-estrutura de instituições de formação e qualificação profissional existente e que contribui para o desenvolvimento do turismo.

• Aspectos de Segurança – Neste item é importante a observação dos aspectos relativos à segurança pessoal dos turistas/clientes, sua integridade física e moral durante o período de estada no destino. Observa a segurança de equipamentos utilizados no produto turístico, a gestão de riscos das atividades e as respectivas normas de conduta.

• Aspectos de Parcerias - Networking – Neste item são observados os aspectos relativos à parceria entre empresas, entre o setor público e privado e as entidades de classe e representação empresarial. Também investiga e identifica as melhores práticas de articulações interinstitucionais que promoveram o desenvolvimento dos negócios do turismo no destino.

• Aspectos de Envolvimento da Comunidade – Este item investiga como ocorre o envolvimento e a participação da comunidade local no negócio, considerando suas características e especificidades. Observa a existência de projetos de inclusão social e desenvolvimento da comunidade. Também verifica a integração e utilização dos aspectos

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culturais do local nos produtos turísticos, como artesanato, costumes e outros, sob o ponto de vista da sustentabilidade social/cultural. .

• Segmento específico - Neste item são observadas as características e detalhes específicos dos espaços e atividades relacionados ao segmento analisado, sua forma de constituição e a importância como negócio.

Na segunda etapa (pesquisa de campo – durante a viagem) foram realizados os levantamentos de informações, a aplicação dos questionários, a observação das boas e melhores práticas e as respectivas entrevistas nos destinos visitados. O elemento principal da pesquisa de campo foi a busca de informações, norteada pela visão dos empresários nas experiências práticas de cada viagem. Esta etapa compreendeu a observação e análise da realidade, registro das principais boas e melhores práticas e possibilidades de implementação das mesmas em seus negócios.

Na terceira etapa (chamada Avaliação) foram realizadas as respectivas tabulações e análises dos instrumentos de levantamento de informações utilizados. Nas análises quantitativas, os equipamentos foram agrupados de acordo com o tipo de atividade do negócio, sendo que as respostas foram transformadas em porcentagens. A análise das questões teve como objetivo principal validar as boas e melhores práticas identificadas no destino e nos equipamentos visitados.

Na quarta etapa (chamada Sistematização final de informações técnicas) foram efetuados os cruzamentos dos dados necessários e a identificação e respectivas conclusões de cada uma das boas e melhores práticas verificadas em cada destino. Como resultado desta etapa foram constituídos um relatório final, um DVD e demais informações apresentadas no website do projeto.

O presente relatório é resultado final desta quarta etapa, que descreve as boas e melhores práticas observadas em cada visita, e faz referência aos principais exemplos que caracterizam a aplicação prática da gestão no turismo, infra-estrutura, negócios e produtos turísticos, certificação e segurança nas operações de turismo, qualificação e formação de pessoas, parcerias empresariais e governamentais para desenvolver o turismo, envolvimento da comunidade no turismo e do segmento específico.

Para facilitar o entendimento do leitor, destacam-se as diferenças entre boas e melhores práticas.

• Boas práticas são aquelas que refletem a aplicação de técnicas e ações já amplamente conhecidas em outros negócios e setores, que proporcionam algum grau de diferenciação do negócio ou destino turístico, mas que, no setor do turismo, ainda não estão totalmente disseminadas. Também é importante ressaltar que um conjunto de boas práticas poderá ajudar a construir uma melhor prática, evidenciando o processo de melhoria contínua que os negócios podem obter com uma boa gestão.

• Melhores práticas são aquelas que refletem uma implementação de técnicas e ações com alto grau de excelência, resultando, portanto, em uma diferenciação significativa no negócio ou destino turístico. Importante ressaltar que a prática de excelência pode tornar o negócio ou destino turístico diferenciado entre seus concorrentes, proporcionando alta competitividade empresarial (negócio turístico) e regional (destino turístico).

A partir da análise das boas e melhores práticas, iniciam-se os procedimentos da última etapa (chamada Disseminação), que contempla a realização de reuniões, palestras e oficinas em várias regiões do Brasil para que os participantes (empresários, consultores e técnicos) das viagens possam disseminar os conhecimentos aprendidos e informações com o objetivo de promover novas práticas para o desenvolvimento do turismo.

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O grande resultado do projeto e de todas as etapas acontecem quando os empresários implementam em seus negócios as práticas de referência observadas e conseguem por meio dessas inovações, alcançar melhores resultados do ponto de vista da qualidade e da satisfação de seus clientes.

Esse relatório sistematiza os resultados e evidencia as boas e melhores práticas observadas durante a viagem técnica ao roteiro de turismo cultural no Rio de Janeiro – Paraty, Santa Teresa e Lapa, seguindo as etapas apresentadas acima.

Para ilustrar cada prática observada, foi adaptada a seguinte iconografia:

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Verde - BOA PRÁTICA Gestão

Infra-estrutura

Negócio

Certificação

Segurança

Qualificação e Formação

Azul - MELHOR PRÁTICA Parcerias

Envolvimento da Comunidade

Segmento Específico

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5. Boas e melhores práticas em Turismo Cultural observadas no Rio de Janeiro – Paraty, Santa Teresa e Lapa

O estado do Rio de Janeiro, sobretudo os destinos da região costeira, tem um posicionamento consolidado no segmento de Sol e Praia. Isso não é uma casualidade, mas sim uma conseqüência do peso que este segmento representa no mercado turístico mundial e das inúmeras possibilidades que os atrativos existentes suscitam e oferecem. A imagem turística das cidades do litoral fluminense mais presente ou mais recorrente está vinculada ao conjunto de atividades ao ar livre, de lazer, de entretenimento, de esportes e gastronomia, mas não se restringe apenas a esses temas.

Desta forma, o primeiro desafio colocado para a estruturação do roteiro de turismo cultural no Rio de Janeiro era o de mostrar outras perspectivas, não de iniciativas isoladas, mas um movimento consistente e coerente em torno deste segmento específico. A escolha dos destinos a serem visitados no estado nos permitiu inúmeras alternativas e recortes, com várias interseções.

De acordo com as pesquisas da Embratur, a cidade do Rio de Janeiro e Paraty estão entre os principais destinos do turista brasileiro que busca o próprio país como destino para suas viagens de lazer. A capital lidera o ranking e Paraty ocupa a 11ª posição. Essa é uma das muitas interfaces entre as duas cidades.

A atividade turística em Paraty ganhou força a partir da construção da BR 101 que tirou a cidade de um isolamento físico de mais de 100 anos. A combinação da arquitetura singela do Centro Histórico e o litoral paradisíaco foram a grande motivação dos primeiros tempos. No começo dos anos de 1990 começou um trabalho de especialização do setor, com a estruturação de produtos de ecoturismo e turismo de aventura baseados no imenso potencial da Mata Atlântica. Em 2002 foi criada a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) que é considerada um dos mais importantes eventos literários do país; o sucesso e a mídia espontânea gerada pelo evento trouxeram uma visibilidade extraordinária ao destino, contribuindo decisivamente para um reposicionamento no mercado e para uma reflexão aprofundada do potencial cultural existente no município. Candidata ao título de Patrimônio Mundial pela UNESCO, escolhida pela ONU para integrar o programa Passaporte Verde, a cidade foi eleita pelo Ministério do Turismo para ser uma referência no segmento de turismo cultural dentre os 65 destinos indutores.

O conjunto arquitetônico preservado, uma paisagem cultural singular, festas religiosas e populares, manifestações artísticas e saberes seculares, comunidades tradicionais e eventos culturais compõem a oferta do turismo cultural de Paraty. O desenvolvimento do setor no município tem hoje o protagonismo da sociedade civil organizada, por meio de inúmeras associações, instituições, ONGs e OSCIPs, que assumiram um papel determinante na gestão do Plano de Desenvolvimento do Turismo Cultural de Paraty.

O plano de marketing turístico do Rio de Janeiro, denominado Plano Maravilha, elaborado entre os anos de 1997 e 1998, buscou estabelecer um novo posicionamento para a cidade como um destino de natureza, mas com forte identidade cultural, e propôs a ampliação de roteiros, atividades e os usos turísticos no espaço urbano. Nessa época os bairros da Lapa e Santa Teresa passavam completamente despercebidos pelos turistas; eram lugares ignorados pelas ofertas estruturadas existentes. Atualmente a Lapa e Santa Teresa, duas opções eminentemente culturais, respondem pela renovação do turismo na cidade.

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A Lapa, considerada como o mais tradicional reduto da boemia carioca, recuperou seu antigo esplendor, é onde hoje estão concentradas as principais ofertas de entretenimento da cidade, sobretudo aquelas que combinam música, dança e gastronomia. O esforço para a revitalização desta região começou em meados dos anos de 1990, processo liderado pela Associação Comercial da Lapa, que se converteu em Associação do Pólo Novo Rio Antigo. A partir do trabalho de parceria entre o setor privado e o setor público a Rua do Lavradio passou por uma completa reestruturação, que proporcionou um movimento progressivo de profundas transformações no seu entorno, que hoje engloba toda a Lapa e se estende pela Praça Tiradentes, Cinelândia, Praça Quinze e Candelária. Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Data UFF na Lapa e arredores, indicava a existência de 116 empreendimentos de entretenimento, que atraia em média 110 mil pessoas por semana.

Santa Teresa, que nasceu como um bairro da elite carioca, conheceu a decadência completa exatamente em meados da década de 1990. A guerra do narcotráfico sacudiu seus mirantes e ladeiras históricas, isolou ruas, fez inúmeras vítimas. A resposta veio por meio da ação da sociedade civil organizada, que converteu Santa Teresa em um destino de turismo cultural autêntico e muito charmoso, que encanta os visitantes, principalmente o público estrangeiro. Restaurantes sofisticados, pousadas boutique se multiplicam em uma série de investimentos. São mais de 50 ateliês, 3 museus, inúmeros centros culturais com atividades permanentes. O destaque são os eventos, como o carnaval e a Arte de Portas Abertas, que atraem dezenas de milhares de pessoas.

Ainda que as premissas sejam diferentes, Paraty, Santa Teresa e Lapa têm em comum a experiência de reinvenção do seu potencial turístico, do aproveitamento de seus atrativos eminentemente culturais para induzir mudanças qualitativas de seu desenvolvimento sócio-econômico, orientadas pela busca de sustentabilidade e formas de inclusão.

Não existem dados ou pesquisas que mapeiem os percursos ou roteiros de viagem do turista dentro do Brasil, mas curiosamente verificamos no transcorrer deste projeto uma forte tendência de parte dos turistas, sobretudo estrangeiros, em integrar estes destinos. O visitante que combina as duas cidades, freqüentemente, passa pela Lapa e Santa Teresa e, quando está em Paraty demonstra interesse pelo conjunto das ofertas culturais que a cidade oferece.

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5.1 Roteiro de viagem

No período de 14 a 20 de setembro de 2008, o roteiro selecionado para as visitas dos participantes foi:

Data Hora Evento/atividade Objetivo/foco da visita

14/09

14:30 Reunião de pactualização

Primeiro encontro presencial do grupo. Apresentação dos participantes. Apresentação do projeto. Direitos e Deveres. Pactualização para resultados.

18:30 Jantar

20:00 Transfer Rio-Paraty

15/09

9:00 Apresentação Case Associação Casa Azul

A experiência de um evento cultural que contribuiu para o posicionamento da cidade como destino cultural, para a qualificação dos mercados e para o desenvolvimento sustentável do destino.

11:30 Visita Centro Histórico Conservação e gestão do patrimônio arquitetônico

12:30 Almoço

14:00 Visita Pousada Porto Imperial

Adaptação de imóvel histórico para uso como pousada, diversificação das atividades e a certificação para roteiro de charme

15:30 Visita a Casa de Cultura de Paraty Gestão e estrutura de um equipamento cultural

17:00 Visita ao Restaurante Margarida Café

Gestão de pessoal, infra-estrutura e promoção

18:30 Reunião de avaliação do dia

21:00 Visita e jantar no Restaurante Banana da Terra

Qualificação da infra-estrutura, valorização da gastronomia típica como produto turístico-cultural e o trabalho de desenvolvimento de outros produtos de interesse turístico em torno da culinária.

16/09

10:00 Visita ao Alambique da Cachaça Coqueiro

Associativismo e certificação

12:00 Visita ao Quilombo do Campinho da Independência

Associativismo, integração da comunidade, o turismo como alternativa para o desenvolvimento sustentável e o resgate das tradições culturais, parcerias e liderança junto às comunidades tradicionais

16:00 Visita a Pousada Arte Urquizo Adaptação do imóvel histórico,

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qualidade e conservação da infra-estrutura, atendimento personalizado.

17:00 Apresentação Case Interação Ambiental

Inclusão da comunidade, controles e procedimentos na operação e a formação como processo contínuo.

21:00 Jantar no Restaurante Margarida Café

17/09

9:00 Reunião de avaliação do dia anterior

10:00 Encontro com o IPHAN Gestão e preservação do patrimônio arquitetônico e da paisagem cultural de Paraty

11:00 Encontro com a Paraty Tours Diversificação dos produtos e estratégia de mercado, parcerias para o desenvolvimento do destino

13:30 Almoço no Aconchego Grill

16:00 Transfer Paraty/Rio de Janeiro

21:00 Jantar

18/09

9:00 Passeio de bonde por Santa Teresa

10:00 Conversa com a agência Gaia Tour

A experiência de uma empresa de receptivo formada por jovens das favelas no entorno do bairro de Santa Teresa

11:00 Associação Chave Mestra

O evento Arte de Portas Abertas trouxe visibilidade a Santa Teresa e foi indutor do desenvolvimento turístico do bairro

12:00 Experiência Cama e Café

A experiência de turismo de habitação e o desenvolvimento sustentável do bairro; parcerias, planejamento e inclusão

14:00 Restaurante Aprazível (almoço e visita)

A qualidade e originalidade da infra-estrutura, foco no segmento de mercado, planejamento e gestão de pessoal

18:00 Reunião de avaliação

20:00 Jantar

19/09

9:30 Apresentação SEBRAE A experiência do Pólo Gastronômico e Cultural Novo Rio Antigo

11:00 Visita ao Bar Luiz

Gestão de um negócio familiar centenário: instrumentos de controle, profissionalização e expansão; parcerias para o desenvolvimento do destino; e participação na governança regional

13:30 Almoço no Santo Scenarium

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15:30 Visita ao Centro Cultural Carioca

A música tradicional carioca como atrativo e valor agregado do negócio; o envolvimento na gestão do destino e no processo de revitalização

17:30 Visita ao Rio Scenarium

Um produto turístico cultural singular: a infra-estrutura como elemento de atratividade; liderança empresarial e articulação de parcerias; políticas de inclusão social

20/09 9:00 Reunião final de avaliação

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5.2 Práticas identificadas

A partir de todo o aprendizado obtido nas visitas, foram selecionadas as boas e melhores de cada experiência, conforme tabela abaixo:

Nº Empreendimentos/Negócios visitados Ações

Práticas de Referência Gestã

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specífico

1 Associação Casa Azul

Planejamento e realização da FLIP na baixa temporada X X X X X

A mídia espontânea do evento e a consolidação da imagem de destino cultural de referência

X X X

2 Pousada Porto Imperial A adaptação arquitetônica e X X

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adequação da estrutura física ao contexto do destino e do perfil do público

3 Margarida Café

Eficiência nos procedimentos e qualidade nos serviços X X X

Versatilidade da estrutura e dos serviços

X X

Trabalha a promoção no próprio destino

X

4 Banana da Terra

Qualificação da estrutura física, dos serviços e afirmação da identidade na decoração

X X X X X

Valorização da gastronomia típica como produto turístico-cultural X X X

5 Cachaça Coqueiro

O associativismo como alternativa para viabilizar a qualificação do produto

X X X X X

Certificação como estratégia para o reconhecimento no mercado

X X X X

Resgate da cachaça como um produto cultural de Paraty

X X X X

6 Quilombo do Campinho da Independência

Associativismo, parcerias e liderança junto às comunidades tradicionais

X X X

O turismo como alternativa para o desenvolvimento sustentável e para o resgate das tradições culturais

X X X

Gestão comunitária do processo - X X

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liderança, envolvimento e integração da comunidade em todas as atividades

7 Pousada Arte Urquizo

Adequação do espaço físico, estilo próprio em harmonia com o ambiente histórico

X X X

Qualidade e conservação da estrutura física X X X

Serviços diferenciados e atendimento personalizado

X X X

8 Interação Ambiental

O turismo como vetor para o desenvolvimento sustentável, para a qualidade de vida da comunidade, promoção da auto-estima e proteção ambiental

X X X

A atividade turística integrada ao calendário produtivo da comunidade

X X X

Procedimentos e controles na operação e a formação como processo contínuo.

X X

9 Paraty Tours

Diversificação dos produtos e criatividade na estratégia de mercado

X X X

Parcerias focadas no melhor desempenho comercial e no desenvolvimento do destino

X X X X

10 Cama e Café Qualidade do atendimento e hospitalidade. X X X X X

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Planejamento como ferramenta de gestão para resultado. X X

Valorização do patrimônio cultural e manutenção da identidade local como indutor de fluxo turístico e recurso para o desenvolvimento sustentável do bairro

X X X X X

Rede de parcerias para a estruturação do negócio e o fortalecimento do destino turístico

X X X

Envolvimento responsável com a comunidade local, com ações de inclusão e de geração de renda

X X

11 Restaurante Aprazível

A qualidade e originalidade da infra-estrutura X X X

Foco no segmento de mercado, com a formatação do negócio adequada ao público alvo

X X X

Modelo de planejamento e gestão de pessoal eficiente X X X

12 Bar Luiz

Ferramentas de Gestão: instrumentos de controle, profissionalização e expansão dos negócios

X X

Política de parcerias para o desenvolvimento do destino/pólo: contribuir com outros bares para a qualificação dos serviços; participação efetiva na governança local

X X X

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Normas e procedimentos que garantem a qualidade dos produtos e serviços

X X X

13 Centro Cultural Carioca

A música como atrativo e valor agregado do negócio X X X

Fidelização do cliente e diversificação do produto

X

O envolvimento na gestão do destino e no processo de revitalização do Centro Histórico

X X X

14 Rio Scenarium

Criação de um produto turístico cultural singular - otimiza a identidade local e a diversidade musical do país, mantém autenticidade, utiliza a própria estrutura física do negócio como elemento de atratividade

X X X X X X

Liderança empresarial na articulação das parcerias para o desenvolvimento do destino/pólo

X X X

Ações de inclusão e responsabilidade social

X

Boa prática

Melhor prática

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5.3 Experiências observadas no roteiro

De acordo com o roteiro proposto para a viagem técnica, os primeiros encontros aconteceram em Paraty e tiveram o objetivo de apresentar o turismo cultural do ponto de vista conceitual e da operação em geral. A seguir, apresentam-se os resultados das reuniões acontecidas no local.

1 Associação Casa Azul (ACA)

A ACA nasceu de um projeto voltado para a revitalização da orla e bordas d’água, quando se identificou a necessidade de ações de desenvolvimento que promovessem a qualidade de vida da população e dessem suporte às melhorias urbanas.

A estrutura da tenda principal da FLIP montada às margens do rio Mateus Nunes (o ambiente interno e externo)

Fonte: wordpress.com

A FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) foi o instrumento encontrado, capaz de gerar visibilidade, induzir o desenvolvimento sustentável com inclusão social, impulsionar a educação patrimonial e estimular mecanismos de planejamento dos espaços públicos. O evento literário se transformou em uma das mais importantes iniciativas no campo de cultura, entrou para o calendário nacional, é um fenômeno em termos de mídia espontânea positiva e de atração turística, o que contribui efetivamente para o posicionamento da cidade como destino cultural e na qualificação do público. Para sua realização buscou-se um período de baixa ocupação que hoje representa o mais importante pico da alta temporada. As reservas para a próxima edição são feitas no encerramento de cada edição.

A experiência de sucesso com a FLIP fortaleceu a ACA junto ao trade turístico e no estabelecimento de parcerias para a consolidação de Paraty como uma referência para o desenvolvimento sustentável do turismo cultural.

Contato

www.casaazul.org.br

Tel: (24) 3371 7082

Mauro Munhoz

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A edição da FLIP 2008, o público nos espaços do evento e no Centro Histórico de Paraty

Fonte: Tuca Vieira - Relatório FLIP 2008

Práticas observadas:

O planejamento e a realização da FLIP

A Festa Literária Internacional de Paraty ou simplesmente FLIP começou a nascer muito antes da primeira edição do evento, em 2002. A missão que a ACA havia se colocado é imensa seja no sentido das intervenções urbanas, seja no volume de recursos que o projeto de revitalização e recuperação das bordas d’água demanda. Optou-se pela estratégia de construir progressivamente uma história de comprometimento com a cidade e de credibilidade institucional através do envolvimento efetivo com os diferentes setores da comunidade. A avaliação é que seriam necessárias ações de impacto, capazes de atrair o interesse e mobilizar o público da cidade e fora dela, mas dentro do escopo de atuação da ACA, de forma que a(s) iniciativa(s) pudesse(m) ser instrumento para gerar recursos econômicos

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e promover o desenvolvimento sustentável do município. Esse exercício de reflexão, análise e planejamento envolveu a participação de várias pessoas que tinham ou têm uma ligação afetiva com Paraty. Era importante conhecer as possibilidades e suas viabilidades, considerar a identidade do destino, o formato, a época de realização, a capacidade para estabelecer articulações institucionais, a formação de rede de parcerias e a implementação de iniciativas para o envolvimento da comunidade.

A escolha recaiu sobre um projeto de uma festa literária nos mesmos moldes dos eventos como Hay-on-Wye, Adelaide, Harbourfront de Toronto, Festival de Berlim, Edimburgo e Mântua. Com uma programação distinta de outros eventos literários realizados no Brasil, não deveria ser um evento de mercado ou para discussões acadêmicas, mas um verdadeiro encontro de autores, para conversar exclusivamente sobre as suas obras.

No planejamento do projeto definiu-se que um dos diferenciais da FLIP é que ela não seria simplesmente um evento literário. Seria uma ação permanente no município e a principal ênfase foi nos desdobramentos educativos, sobretudo com o público em idade escolar. O objetivo era propiciar às crianças e adolescentes o contato com o universo dos livros e dos autores, para formar leitores e gerar atitudes e práticas conservacionistas em relação ao patrimônio ambiental e cultural.

Outra preocupação importante foi o período para a realização do evento, deveria ser na baixíssima temporada do turismo, para utilizar adequadamente a estrutura da cidade, não gerar sobrecarga com impactos negativos, mas principalmente para atrair novos públicos e reduzir a sazonalidade. Como destino com ampla oferta de sol e praia, a alta temporada de Paraty estava concentrada no verão, com picos no réveillon e no carnaval, no período do inverno, entre os meses de maio a agosto, era a época de maior baixa. A opção recaiu então na primeira quinzena de julho, porque viabilizaria também a participação dos professores e alunos das universidades e a presença de autores do hemisfério norte. Já na primeira edição a escolha se mostrara acertada, a presença do público superou todas as expectativas e colocou em cena algo que a hotelaria de Paraty desconhecia: as reservas para edição seguinte foram feitas no check out, quem foi à primeira confirmou seu retorno mesmo ainda sem ter a data ou a programação definida. Isso se repetiu nas edições seguintes e sempre com uma demanda crescente.

Atualmente, todas as pousadas concentradas no perímetro urbano de Paraty atingem 100% de ocupação no período da FLIP, os equipamentos mais qualificados nem chegam a anunciar seus pacotes, porque as reservas foram garantidas pelos hóspedes no final da edição anterior. As tarifas dos pacotes também subiram progressivamente ao longo dos anos. Os dados começaram a ser organizados pela ACA a partir de 2004, naquele ano o valor médio de um pacote de hospedagem para os 4 dias da FLIP correspondia a aproximadamente 1/3 do valor cobrado para o réveillon e carnaval, em 2008 a diferença de valores não chegava a 15%. Mas os efeitos positivos em termos de redução da sazonalidade vão além do tarifário, a ocupação média em julho cresceu significativamente, atualmente é considerado como um mês de alta temporada.

A rede institucional que a ACA conseguiu montar para a realização do evento também é muito interessante, que evita a ocupação indevida do espaço público e a poluição visual e sonora que são comuns em situações de grande fluxo de público. Dois acordos foram estabelecidos entre a ACA, um com a Prefeitura e outro com o IPHAN, visando a gestão e o controle do espaço público durante a FLIP e nos dias que a antecedem, isso para evitar os excessos, o uso indevido, a sobrecarga e o comprometimento do patrimônio cultural e ambiental. É a produção da FLIP que autoriza o estabelecimento de infra-estrutura temporária, ou melhor, é quem não permite que essas instalações aconteçam e o mesmo ocorre com a publicidade, apenas as marcas dos patrocinadores em locais pré-determinados dos materiais confeccionados pela organização. A cidade fica cheia, decorada especialmente para

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o evento, mas sem excessos no campo visual e sem as indefectíveis barraquinhas que são comuns em situações de grande fluxo.

A FLIP se mostrou um verdadeiro fenômeno como evento cultural por excelência e sua própria experiência foi determinante para a implementação de ações de diversificação das atividades, eventos e produtos, tanto por parte da ACA como de outros produtores culturais.

Momentos da Flipinha em 2008, a tenda do evento, as atividades na praça da Matriz

Fonte: blog.cosacnaify.com.br (as duas da lateral esquerda), Sérgio Fonseca/Recorte.org (parte superior, à direita) e Luciana Gutierrez (parte inferior, à direita)

No braço educativo, além do programa permanente que acontece durante todo o ano, surgiu a Flipinha, o evento que mobiliza aproximadamente 6 mil crianças e, é atualmente, uma das ações mais interessantes na programação paralela da FLIP. A Flipinha funciona como o ápice do programa educativo que envolve toda a rede escolar de Paraty durante o ano. O objetivo é estimular a formação de novos leitores e a qualificação da educação no município. Na prática, essa iniciativa busca o envolvimento da comunidade com vistas ao desenvolvimento sustentável, funcionando também como um exercício de diversificação de atividades.

Na perspectiva cultural surgiu a OFF FLIP, que reúne artistas de Paraty em mostras, oficinas e ampla programação cultural no período da FLIP e que tem o apoio da ACA para sua realização. Mas a FLIP inspirou o surgimento de outras iniciativas, o melhor exemplo é o Paraty em Foco. Trata-se de um evento internacional de fotografia, que nasceu em 2005 e acontece no mês de setembro. Em 2009 será sua 5ª edição. Giancarlo Mecarellei foi a FLIP em 2004 e ali vislumbrou a situação adequada para o seu projeto, se mudou para Paraty, começou a produção do festival, que também tem um braço educativo e de inclusão social muito presente.

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Logomarcas de dois eventos que surgiram a partir da experiência da FLIP, o Paraty em Foco realizado anualmente no mês de setembro e o Off FLIP que é uma programação paralela à

FLIP.

Fonte: www.wordpress.com

O modelo de organização da FLIP foi uma referência importante no sistema de governança e gestão participativa para o destino turístico que foi adotado no projeto Paraty Destino Referência no Segmento de Turismo Cultural do Ministério do Turismo, que teve a ACA como instituição parceira para a execução.

A mídia espontânea do evento e a consolidação da imagem de destino cultural de referência

No planejamento da FLIP uma das experiências consideradas foi a do Teatro Espaço e do Grupo Contadores de Estórias. Presentes em Paraty há mais de 30 anos a história do grupo e de sua sede trouxe muitas referências importantes para a operacionalização da FLIP: a cidade tem uma tradição cultural forte e sua localização entre Rio e São Paulo facilita a presença do público, mas principalmente a visibilidade na imprensa. Na avaliação de Marcos Ribas do Teatro Espaço quando um evento acontece em São Paulo, a imprensa carioca ignora e o inverso também é verdadeiro, enquanto Paraty funciona como terreno neutro, capaz de atrair os mais importantes veículos de mídia do país.

A ACA levou isso ao extremo. Conseguiu firmar parcerias com o principal sistema de mídia do Brasil, as organizações Globo, e com o mais respeitável jornal de São Paulo, a Folha de São Paulo. Neste sentido, foi determinante a qualidade da programação e do ambiente para a realização do evento, sem excessos de marcas e tranqüilidade para a circulação do público. Atitudes simples, que associadas à opção por não fazer um evento do mercado editorial trouxeram credibilidade, atraindo todo o universo brasileiro que se relaciona com os livros e a literatura. A FLIP é reconhecidamente o evento que tem a presença de autores, editores, da imprensa especializada, o maior ponto de encontro do setor.

Esses aspectos foram determinantes para o alcance que a FLIP conseguiu em termos de mídia espontânea. Ano a ano o volume de matérias positivas cresce, em veículos brasileiros e estrangeiros. Em 2005 a valoração totalizou mais de R$ 21 milhões e em 2008 ultrapassou R$ 71 milhões. Desde a primeira edição, em 2003, até a sua sétima, no ano passado, estima-se que a FLIP tenha gerado uma mídia espontânea superior ao R$ 220 milhões. São matérias veiculadas ao longo do ano, com uma concentração maior nos meses de junho e julho. No conteúdo o foco é o

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evento – programação e autores –, mas quase sempre se dá destaque ao lugar, a cidade de Paraty, ganha mais peso e credibilidade quando é um comentário elogioso de autores consagrados. Dificilmente um plano de marketing turístico teria recursos dessa ordem de grandeza para investir na promoção de um destino, nem mesmo um país.

A FLIP é a principal ação com a marca da ACA, que é atualmente a mais representativa oferta de turismo cultural de Paraty, um produto que exerce impacto sobre toda a cadeia produtiva, sua estruturação e desenvolvimento foram fundamentais para o posicionamento da cidade como destino cultural de referência e para a qualificação dos mercados específicos. A mídia espontânea positiva do evento proporciona visibilidade ao destino e credibilidade ao segmento de turismo cultural.

2 Pousada Porto Imperial

Localizado no Centro Histórico, esse é um dos primeiros meios de hospedagem de Paraty que soube adaptar a estrutura de um antigo sobrado para acolher a instalação de uma pousada, que é a única da rede Roteiros de Charme da cidade.

Com o processo para a certificação como pousada de charme buscou a qualificação da estrutura física, a diversificação dos serviços visando um modelo de eficiência, sustentabilidade e o posicionamento de mercado.

Contato

http://www.portotel.com.br/PortoImperial/paraty.asp

Tel: (24) 3371 2323

Diogo Dorneles

Práticas observadas:

A adaptação arquitetônica e a adequação da estrutura física ao contexto do destino e do perfil do público

Os salões de estar da Pousada Porto Imperial, aspectos da estrutura física do empreendimento: a adaptação, a decoração.

Fonte: Durcelice Nascene

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A Pousada Porto Imperial tem ações focadas no desenvolvimento do produto e serviços com um foco claro no posicionamento de mercado. É um equipamento de hospedagem que soube ter cuidados com a adaptação de um imóvel de valor histórico, que procura colocar em prática intervenções ajustadas ao contexto da edificação, que revelam suas características. A estrutura física, sobretudo nos ambientes de uso social, evidencia referências do passado com o uso de paredes rústicas de pedra, na decoração com peças antigas, na iluminação indireta.

Outro aspecto interessante na decoração é a combinação de peças antigas com o uso de materiais e objetos característicos de Paraty, frutos da produção artesanal e da identidade local, como são os barquinhos.

O artesanato mais representativo de Paraty está presente na decoração

Fonte: Durcelice Nascene

Paraty é uma cidade à beira mar, cercada pela exuberância da Mata Atlântica. A estrutura da pousada procura também mostrar esses aspectos da identidade paratiense: nos ambientes os espaços despojados valorizam a iluminação natural, a presença de flores e elementos tropicais.

Salas de estar do pátio interno e a piscina, a predominância do branco e áreas abertas ou envidraçadas.

Fonte: Adriana Nascene

E sem ignorar as necessidades de conforto da sociedade contemporânea, do perfil do turista que a cidade passou a receber, considerado um público mais experiente e habituado a viajar. No depoimento dos gerentes, que trabalham há mais de 5 anos na empresa, enfatizou-se que a FLIP foi um divisor no turismo de Paraty, que o turista da cidade mudou em termos de perfil sócio-econômico e cultural, falam de um “turista de mais qualidade” e também mais exigente; e isso foi decisivo para o processo de modernização da pousada, para adoção de procedimentos e cuidados na conservação e, também, para a decisão de entrar para a rede dos Roteiros de Charme.

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A área da piscina localizada no pátio interno da pousada.

Fonte: Alexandre Flório e Adriana Ribeiro

Solução criativa: A identificação dos quartos

Uma prática que chamou a atenção dos participantes foi a identificação dos quartos com o nome de personalidades femininas brasileiras, atrizes, artistas, escritoras. Placas iguais aquelas usadas tradicionalmente nas ruas foram adotadas para a sinalização interna, com a vantagem de que mantém o padrão de azul e branco utilizado na pintura das paredes e portas.

A identificação dos quartos e o modelo das placas utilizadas.

Fonte: Adriana Ribeiro

3 Restaurante Margarida Café

Um restaurante que se diferencia de outros de Paraty pela estrutura adequada, em termos de espaço e qualidade, para atender grupos maiores e pela versatilidade para abrigar eventos variados. Uma gestão eficiente nos procedimentos e nos mecanismos de controle de resultado, sensível às oportunidades do mercado, atenta para dar respostas rápidas e para aproveitar as possibilidades que são oferecidas.

A infra-estrutura é um destaque e um componente importante do próprio negócio. O espaço físico contempla o salão de mesas do atendimento, espaços para eventos, depósito, administração, cozinhas e pizzaria. Serviços de qualidade, cardápio internacional, ambiência e decoração com identidade própria, mas perfeitamente ajustada ao contexto do Centro Histórico.

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A entrada do restaurante Margarida Café, com destaque para a placa de identificação produzida em cerâmica e aplicada diretamente na parede.

Fonte: www.margaridacafe.com

Contato

www.margaridacafe.com.br

(24) 3371-2441

Paulo Renato

Práticas observadas:

Versatilidade da estrutura e qualidade nos serviços

Após a experiência de alguns anos no coração do Centro Histórico de Paraty, em uma casa pequena, o empresário percebeu que para o crescimento do negócio ele precisaria de mudanças significativas na proposta e no serviço. O ambiente era charmoso, quase um bistrô, mas a estrutura era incompatível, por exemplo, para o atendimento de grupos, que é uma demanda considerável em cidades turísticas. Como a oferta de imóveis em Paraty é limitada, passou a procurar um imóvel que fosse adequado ao conceito. Quando a possibilidade apareceu o projeto de ocupação estava pronto.

O salão de atendimento amplo, versátil e funcional, preparado para acomodar com conforto até 200 pessoas, em grupos ou serviço individual. Mas a decoração garantiu uma ambiência aconchegante, intimista, com iluminação, posicionamento dos móveis e peças decorativas que garantem privacidade. Visualmente, a decoração brinca com as cores e elementos rústicos, mas sem comprometer a identidade histórico-cultural no qual o empreendimento se insere.

A estrutura física para o atendimento era um dos diferenciais da nova fase do Margarida Café, mas a proposta vislumbrava uma versatilidade também nos serviços: a casa passou a funcionar também como pizzaria, com um forno em destaque à frente da cozinha, uma adega própria, um discreto palco com programação de MPB de qualidade é outro complemento importante. A organização e a captação de eventos foi outra novidade, a casa passou a atender a demanda da cidade e dos eventos que ela comporta, desde casamentos, comemorações e situações especiais.

Mas para dar consistência tanto às expectativas quanto à captação de eventos, o empreendedor investiu num cardápio diferenciado, em uma linha de pratos da

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gastronomia internacional, sem a filiação a uma escola ou tendência gastronômica específica. A proposta é oferecer ao público possibilidades que os demais restaurantes de Paraty não disponibilizam, para ser uma alternativa ao turista e uma opção para o paratiense, que é o mercado estratégico do empreendimento para os eventos e também para promoção do negócio.

O salão de atendimento do Margarida Café, a combinação de ambientes fechados e o uso da clarabóia para criar uma iluminação especial durante o dia.

Fonte: Márcia Neves

Trabalha a promoção no próprio destino

Uma das estratégias mais importantes Margarida Café é o trabalho de promoção no destino. A visão do empresário é que o negócio deve se vender no destino, criar mecanismos para captar o turista que já está em Paraty.

O trabalho de promoção é inteiramente voltado às pousadas, as agências de receptivo e ao morador de Paraty, que na prática são as pessoas que indicam o restaurante ao visitante. Definiu linhas de relacionamento com as pousadas e agências sem o pagamento de comissão. Para as agências criou menus degustação específicos, com preços entre 30/50% menores que o cliente encontra no cardápio permanente quando combina os pratos oferecidos, com liberdade para definição do valor a ser repassado ao grupo. Sobre clientes avulsos indicados seja por agência ou pousada não é feito nenhum comissionamento.

Para a aceitação desses procedimentos o relacionamento com esses setores deve ser excelente. Para tanto, oferece cortesias aos funcionários das agências e pousadas e a orientação para o atendimento é de um tratamento igual ou melhor ao oferecido aos clientes. Além de manter a qualidade da convivência, isso possibilita a consolidação de uma imagem positiva junto a este público específico, de confiança nos produtos e serviços, o que é fundamental para a estratégia de promoção adotada pelo empreendedor. Outra prática adotada no relacionamento é a realização de eventos específicos para esses setores. Na baixa temporada reserva um dia para oferecer um jantar especial, onde aproveita para lançar um novo prato ou promover algum produto, como vinhos, por exemplo; nestes casos sempre busca parcerias com fabricantes ou distribuidores.

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Na perspectiva do empreendedor a imagem que a população em geral e os profissionais do trade têm do empreendimento é fundamental para que essa estratégia promocional dê resultados. E o resultado é inquestionável. Se você pedir uma indicação de restaurante em Paraty inevitavelmente o Margarida Café é citado, seja por um recepcionista de pousada ou por um morador, essa é sempre uma opção sugerida.

Eficiência nos procedimentos e qualidade nos serviços

Ao definir o conceito para o novo Margarida Café, Paulo Renato compreendeu a necessidade de sua própria qualificação como empreendedor e decidiu fazer um curso universitário de gastronomia voltado aplicado à gestão do negócio. Para ele, essa formação foi fundamental para estabelecer novos parâmetros em termos de procedimentos e práticas, do foco na qualidade como princípio aplicado a todos os aspectos do restaurante: estrutura física, produtos, serviços, equipe, promoção, entre outros.

Na administração passou a estabelecer mecanismos de controle do estoque, do fluxo de caixa e até do desempenho do cardápio, onde monitora os pratos e produtos que têm maior saída e os que não têm boa resposta de público. Se algum item se desequilibra é a percepção é imediata.

A gestão de pessoal é outro diferencial do empreendimento, com investimento na formação e qualificação da equipe. Anualmente contrata cursos para a capacitação dos funcionários, porque no geral a mão de obra disponível no município é despreparada, uma decisão importante para atingir o padrão de serviços proposto. Mas também era preciso enfrentar outro problema a rotatividade dos funcionários. Para isso implementou um programa de incentivo, com remuneração acima da média do mercado, prêmios em dinheiro - por tempo de serviço, para funcionário do mês, para o garçom que efetiva a venda de vinhos e sobremesa, folgas e jantares com direito a acompanhante.

4 Restaurante Banana da Terra

Fachada do restaurante Banana da Terra e a chef Ana Bueno

Fonte: www.bananadaterra.com.br e www.revistahotelnews.com.br

O negócio começou em 1994 como um restaurante familiar e foco na gastronomia típica de Paraty, e atualmente é considerado, por revistas especializadas, como um dos melhores restaurantes do Brasil.

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O restaurante utiliza um casarão do século XVII, mas que foi completamente reformado em 2005, que respeitou as características histórico-culturais da construção, mas compatibilizou integralmente à sua função atual, em termos de estrutura física, dos utensílios, equipamentos e atendimento.

Contato

www.bananadaterra.com.br

Tel: (024) 3371-1725

Ana Bueno

Práticas observadas:

Qualificação da estrutura física, dos serviços e afirmação da identidade na decoração

A origem como negócio familiar, inspirado em uma cozinha doméstica, caseira passou por uma profunda transformação, que buscou a completa qualificação da estrutura física e dos serviços. Uma reforma nas instalações da cozinha e dos espaços de preparo foi o ponto de partida para uma reformulação da gestão, da visão do negócio e de seu posicionamento no mercado.

A decisão de realizar melhorias no empreendimento exigiu um esforço de planejamento por parte da empreendedora. Foi preciso estabelecer um plano completo para as obras, para o financiamento e para a gestão do negócio. O restaurante teria que ficar fechado por alguns meses durante a obra, o recurso viria de um empréstimo bancário com programação de pagamento pré-estabelecida e o funcionamento depois da reforma foram aspectos que a empreendedora precisou responder durante a preparação do projeto e que, na sua opinião, foram fundamentais para a mudança da rotina e dos procedimentos aos quais ela e toda a equipe estavam habituados.

A mudança se tangibilizou principalmente na profissionalização da estrutura física. A maior novidade foi a implantação de uma unidade de preparo da cozinha, com instalações específicas e separadas da cozinha de finalização, onde uma equipe própria recebe os materiais e produtos, faz a higienização, separa as porções para congelamento, organiza os ingredientes, fabrica molhos, faz os cozimentos prévios e todos os procedimentos para a finalização posterior. Foi introduzida também a área específica para o estoque e a unidade de câmera fria, com um sistema de controle próprio. A cozinha de finalização continuou na área contígua ao salão de atendimento, mas com instalações e equipamentos inteiramente novos, atendendo completamente às exigências de segurança, controle sanitário, funcionalidade e conforto da equipe.

Mas a equipe precisava se adequar ao novo contexto, com uma divisão clara de tarefas e o desenvolvimento de habilidades específicas. Antes não havia critérios claros para a contratação, a referência como uma boa cozinheira mesmo no âmbito doméstico era suficiente; isso não era suficiente e nem adequado ao modelo que estava sendo implementado. Capacitação e treinamento se mostraram uma necessidade. Uma prática adotada foi a formação dentro do empreendimento: a equipe da cozinha, por exemplo, começa pela área de preparo e os garçons, antes do atendimento, fazem a preparação das mesas, a organização do salão. Participação em cursos e oficinas fora da cidade também é uma prática adotada na

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formação dos funcionários da cozinha e sempre que a chef participa de algum evento alguém da sua equipe a acompanha; para o atendimento contrata cursos e consultorias para trabalhar a formação da equipe.

O processo de mudanças teve como objetivo colocar a culinária típica “caiçara” num patamar de qualidade que até então não existia. A estrutura e os procedimentos são outros, os elementos de identidade foram mantidos, a tradição gastronômica ganhou toques de criatividade, originalidade com excelência no preparo, que utiliza uma estrutura física e equipamentos adequados, que segue normas e procedimentos dos melhores restaurantes internacionais.

O salão de atendimento do Banana da Terra e detalhes do serviço de mesa.

Fonte: www.gula.com.br (foto maior) e Adriana Ribeiro (fotos menores, sequência na parte de baixo)

Atenção especial na decoração, na utilização da banana e a bananeira como elemento de identidade e marca, nas cores do ambiente, nas peças de serviço, nos uniformes. Tons de verde e branco, fibras naturais e da palha de banana, a folha da bananeira como marca presente nas toalhas, nas camisetas dos garçons.

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Valorização da gastronomia típica como produto turístico-cultural

O principal diferencial do empreendimento está na valorização da gastronomia típica como produto turístico-cultural, como elemento para o desenvolvimento de outros produtos e para a promoção do negócio. A chef Ana Bueno tem iniciativas que extrapolam o âmbito do restaurante. Ela idealizou e realiza o conceituado Folia Gastronômica, um festival que envolve os principais restaurantes da cidade, que leva chefs consagrados para oficinas e cursos, que estimula a qualificação da área de gastronomia no município. Isso exige ações fortes de parceria, de envolvimento efetivo com a comunidade, de fortalecimento do segmento e, por outro lado, funciona como uma vitrine promocional do seu trabalho e do seu restaurante.

Cartaz promocional do festival Folia Gastronômica e capa do livro Culinária Caiçara.

Fonte: www.foliagastronomica.com.br e www.abaga.com.br

Outra iniciativa importante foi a edição do livro “Culinária Caiçara”, publicado em parceria com o mais respeitado estudioso da cultura caiçara, o antropólogo da USP Carlos Diegues. A publicação é resultado de um consistente trabalho de pesquisa sobre as tradições da gastronomia típica das populações que vivem na faixa entre o mar e a montanha na região sudeste e sul do Brasil, com o mapeamento de receitas e dos ingredientes mais freqüentes nessa cozinha.

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5 Cachaça Coqueiro

O selo da Coqueiro, dois tipos diferentes de produtos com a marca e o galpão de produção

Fontes: www.cachacacoqueiro.com.br e Durcelice Nascene

A cachaça é um dos mais tradicionais produtos de Paraty, que no passado foi uma das mais importantes fontes de receita do município, que era conhecido pela excelência de sua produção. O processo de isolamento e a decadência econômica levaram à desativação da maioria dos alambiques e engenhos, que em meados do século XIX chegaram a algumas centenas.

A Coqueiro mantém sua produção ininterrupta desde a década de 1940, com todo o processo artesanal, do plantio ao engarrafamento. Mas pioneiramente percebeu a necessidade de procedimentos e normas para ter um produto diferenciado no mercado. Isso foi o passo para assumir a liderança no processo de qualificação e certificação da cachaça de Paraty, que garantiu o selo de denominação de procedência do INPI pelo Ministério da Agricultura, como região produtora e de excelência de qualidade para a Coqueiro.

Contato

www.cachacacoqueiro.com.br

Tel: (024) 3371 0016

Eduardo Mello

Práticas observadas:

O associativismo como alternativa para viabilizar a qualificação do produto

Com o espaço conquistado pela cachaça no mercado internacional e o prestígio no mercado brasileiro, a produção de Paraty não conseguia estabelecer nenhuma diferenciação, era pequena e inexpressiva se comparada a outras regiões e marcas. A possibilidade de diferenciação foi a percepção da qualidade como uma necessidade para o posicionamento e a certificação para o selo de denominação de procedência como o instrumento indutor de uma série de transformações no setor.

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Como mais antigo alambique em atividade em Paraty, o Coqueiro percebeu pioneiramente as possibilidades que a valorização da cachaça como produto brasileiro poderia trazer ao seu negócio e à região, que no passado era reconhecida pelo volume e qualidade do produto. O momento era oportuno para dar destaque à produção da cachaça de Paraty, no entanto, apesar de ter sido no passado um importante centro produtor, a quantidade de alambiques e volume atual de produção é pequena, se comparada a outras cidades e regiões. Por isso, em termos de preço, a cachaça de Paraty é proporcionalmente mais cara, o que torna o produto comercialmente menos atrativo. Era preciso desenvolver capacidade competitiva, ampliar mercado, porém o empreendedor compreendeu as dificuldades para fazer isso de forma isolada. Essa visão levou a articulação da Associação de Alambiques, que hoje reúne 7 produtores.

O Sebrae foi o grande parceiro da Associação, aportando ao setor as consultorias e orientações necessárias para a qualificação pretendida e o pleno desenvolvimento da atividade. Foram trabalhados todos os aspectos de melhoria do produto em si e de sua comercialização, cuidados rigorosos com o processo de produção e também com apresentação nos pontos. Um dos ganhos nesse sentido foi a diversificação da linha de produtos. Recuperou-se a tradição de cachaças aromatizadas existente em Paraty e foi desenvolvida uma linha para o mercado, como a “azuladinha” que inclui flores e folhas de laranja na fermentação ou a “Gabriela” envelhecida com cravo e canela; além dos diferentes formatos de embalagem.

A competitividade do produto foi garantida pela qualidade, pelo processo de produção artesanal e pela recuperação do valor cultural da cachaça na história de Paraty, que levou à conquista do selo de denominação de procedência do INPI como região produtora de cachaça. O processo de fabricação da cachaça sofreu transformações para a obtenção de um produto de qualidade, mas o sistema produtivo se manteve inalterado, da cana orgânica produzida em base familiar, aos funcionários da linha de produção.

E o empreendedor da Coqueiro foi a grande liderança por trás de todo o processo, uma experiência que mostra a visão do associativismo em sua essência mais pura, que evidencia a habilidade para envolver outros empreendedores, para buscar parcerias estratégicas.

Certificação como estratégia para o reconhecimento no mercado

O envolvimento e comprometimento com o trabalho da Associação não impediu a capacidade empresarial do proprietário da Coqueiro. Paralelamente a todos os esforços que estavam sendo realizados e implementados coletivamente, ele trabalhou um processo de certificação específico, conseguindo colocar em prática uma rotina de produção que lhe garantiu o Selo de Excelência concedido pelo Ministério da Agricultura. A Coqueiro foi a primeira cachaça brasileira a obter esse selo.

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Banner informa a certificação de excelência concedida à Coqueiro pelo Ministério da

Agricultura.

Fonte: Alexandre Flório

Todos os procedimentos para a obtenção da ISO 9000 foram feitos, porém o processo se esbarrou em uma exigência que é unificação dos lotes de plantio da cana, que tradicionalmente envolve inúmeros núcleos da agricultura familiar e isso, para o empreendedor, é aspecto que diferencia sua produção, que agrega valor, exatamente porque integra esses grupos.

Resgate da cachaça como um produto cultural de Paraty

Da experiência da Associação de Alambiques de Paraty e da Cachaça Coqueiro em especial, foram observadas práticas que se aplicam a todos os negócios e áreas que envolvem o turismo, como o associativismo e a busca sistemática da qualidade como fator de ampliação da capacidade competitiva. Porém, o resgate da cachaça como produto cultural por excelência assume um papel importante no contexto de nosso segmento específico, o turismo cultural.

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O processo produtivo da cachaça na Coqueiro, da cana ao espaço de armazenamento para

“repouso” ou envelhecimento do produto.

Fontes: Alexandre Flório, Durcelice Nascene e Adriana Ribeiro

A montagem do processo de certificação para o selo de denominação de procedência contribuiu para a recuperação da história da produção no município, do papel de relevância que o produto ocupou na sua economia e a identificação do prestígio que a cachaça de Paraty desenvolveu desde o período colonial. Os ganchos para o desenvolvimento como produto turístico foram estabelecidos com o envolvimento e parcerias de outros atores da cadeia do turismo, mas ainda falta otimizar o potencial de um atrativo singular.

6 Quilombo do Campinho da Independência

A placa de identificação da Comunidade e do projeto Ponto de Cultura do MINC, ao lado a representação das 3 mulheres fundadoras do Quilombo do Campinho da Independência

Fonte: Durcelice Nascene

Uma comunidade de negros isolada nas imediações da Serra da Bocaína viveu a ameaça da completa desintegração sócio-cultural motivada pela construção da BR 101, pelo avanço da especulação imobiliária e pela criação de uma unidade de conservação. A reação veio na luta pelo reconhecimento da propriedade da terra e por seus direitos como quilombolas. Em 1999 conquistaram a titulação, mas já haviam perdido inúmeras tradições e valores culturais.

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O que o Campinho tem a mostrar como prática é exatamente o espírito da vida comunitária, as formas de organização estabelecidas, a identificação do turismo como atividade econômica indutora do desenvolvimento social e do resgate do patrimônio cultural.

Contato

Tel: (24) 3371-4866

Érika

Práticas observadas:

O turismo como alternativa para o desenvolvimento sustentável e para o resgate das tradições culturais

Exemplos de práticas tradicionais que o quilombo vem recuperando, o viveiro de mudas para

a agrofloresta e as técnicas de construção, que estão sendo estruturadas como produtos turísticos

Fontes: Alexandre Flório e Durcelice Nascene

Uma das práticas mais interessantes observadas na visita técnica foi a identificação do turismo como alternativa para o desenvolvimento sustentável e para o resgate das tradições culturais. Após longos anos de incansável luta, que exigiu todas as atenções da comunidade, se deram conta de que muitas tradições e valores haviam se perdido ou ficaram adormecido na memória coletiva, inclusive porque várias foram se tornando incompatíveis com as transformações da sociedade contemporânea. E perceberam também que seria importante encontrar alternativas para a sobrevivência do grupo como uma comunidade. O turismo foi a opção, pois é uma atividade que envolve simultaneamente vários setores e principalmente porque valoriza experiências culturais que o grupo queria resgatar.

Esse processo exigiu um esforço de planejamento e gestão ímpar para a comunidade e suas lideranças, pois era imprescindível conhecer plenamente o potencial da comunidade e da própria atividade turística. Era necessário criar as

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condições necessárias, em termos de estrutura física e de profissionais, desenvolver produtos e simultaneamente decidir quais eram as iniciativas adequadas ao contexto da comunidade, que tradições e experiências culturais deveriam ou poderiam ser resgatadas. E fundamentalmente, era preciso encontrar os meios para viabilizar e concretizar as possibilidades que se apresentavam. A vontade de fazer acontecer, a certeza de que a estratégia era adequada, a crença de que isso poderia transformar a realidade do Quilombo e a capacidade de agir em um ambiente de adversidades foram determinantes para que o turismo se confirmasse como alternativa concreta.

Por outro lado foi determinante para a consolidação do segmento de mercado e a estruturação do negócio propriamente dito, que envolve efetivamente todos os moradores, seja na atividade específica, seja na produção associada.

O artesanato produzido na comunidade e a roda de jongo, atividades de recuperação das

tradições culturais que são estruturadas como produto turístico.

Fonte: Alexandre Flório e Durcelice Nascene

Associativismo, parcerias e liderança junto às comunidades tradicionais

As lideranças do Campinho têm uma atuação muito forte dentro do destino, tanto no sentido do fortalecimento das comunidades tradicionais, quanto na conscientização acerca da garantia dos direitos e dos benefícios que a atividade turística pode proporcionar a esses grupos sociais. O histórico de luta do Quilombo pela terra em base comunitária e a conquista da titulação é uma experiência rica e de muitos aprendizados.

A força do associativismo vivenciado no Quilombo permitiu a identificação de oportunidades e de soluções de desenvolvimento para a comunidade. A prática de partilhar, de vivência solidária, de trocar conhecimentos foi fundamental para a superação de dificuldades, e saber buscar apoio e ajuda, quando necessário, vêm garantindo resultados positivos. Durante o processo de titulação souberam buscar parceiros para a luta. Quando a titulação veio, conseguiram definir o caminho a seguir e foram buscar novos apoios para que essa alternativa se concretizasse.

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Para estruturar a atividade turística perceberam a importância da qualificação e capacitação, quadros para elaborar projetos e fazer a captação de recursos. E hoje funciona assim: todas as iniciativas implementadas na comunidade têm como pressuposto a elaboração de um projeto, ainda que não tenha o grau de formalidade acadêmica, as possibilidades são avaliadas e quando consideradas adequadas, definem as estratégias e as parcerias para torná-las uma realidade; as idéias são trabalhadas coletivamente e desenhadas os caminhos para sua efetivação, onde se busca sempre a valorização do bem comum e o trabalho em base comunitário. Foi assim com o restaurante, com o saneamento básico, com a casa de artesanato, com o viveiro de mudas e o sistema de agrofloresta, etc.

Hoje o Campinho transfere esse know how as outras comunidades quilombolas e populações tradicionais, inclusive com papel formal dentro da Associação das Comunidades Tradicionais de Paraty, onde já elaborou um projeto de turismo em base comunitária que foi aprovado em um edital do MTur em 2008.

Gestão comunitária do processo - liderança, envolvimento e integração da comunidade em todas as atividades

O restaurante comunitário do Campinho e o almoço dos participantes do Vivências Brasil

Fonte: Alexandre Flório e Durcelice Nascene

No Campinho todas as decisões importantes são objeto de reflexão pela Associação de Moradores do Campinho (AMOC), todas as iniciativas têm como princípio o interesse da coletividade e todas as ações têm gestão participativa. Isso não significa que as pessoas não possam ter iniciativas próprias, mas quando depende do aval da AMOC ou da chancela da comunidade, o processo passa a ser integralmente vivenciado coletivamente.

Considerado como uma alternativa indutora de mudanças no Quilombo, o restaurante comunitário é um bom exemplo. Durante as festas, as mulheres da comunidade se organizavam para preparar a comida, que sempre rendiam momentos de muito trabalho, mas também de muita alegria para os moradores e visitantes. Em pouco tempo ficou evidente que um espaço adequado com instalações compatíveis era uma necessidade, mas também uma possibilidade para a geração de trabalho e renda. O projeto foi elaborado, conseguiram recursos para a construção, que contou com o trabalho voluntário. As mulheres que estavam sempre à frente da cozinha nas festanças assumiram o comando do restaurante.

Com a implantação do restaurante, vislumbraram outras possibilidades. Com o restaurante, as tradições gastronômicas do Campinho têm garantia de sobrevivência, é uma fonte importante de geração de renda e espaço onde todos vêm a valorização que o público dá à experiência de comer determinados pratos. Uma oficina de artesanato começava a ser oferecida no Ponto de Cultura do MINC. Decidiram que a cerâmica utilitária poderia fornecer a louça para o restaurante. A

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produção agrícola do sistema de agrofloresta poderia abastecer a dispensa, além da horta nas imediações do restaurante. Cada atividade é um grupo diferente à frente.

O mais importante é que as iniciativas da comunidade resultem em benefício da comunidade, tenham capacidade inclusiva e sejam fomentadoras de outras ações.

7 Pousada Arte Urquijo

Uma pequenina e charmosa pousada no Centro Histórico, que se destaca pelas soluções criativas e funcionais para otimização do espaço físico, pelo charme das instalações e pelo atendimento diferenciado. Tudo no empreendimento tem o gosto e a sensibilidade da artista que estabeleceu o conceito do negócio e esteve à frente do processo de restauração, no qual soube manter a identidade do imóvel histórico tombado.

Contato

www.arteurquizo.com.br

Tel: (24) 3371-2651

Silvana Urquijo

Práticas observadas:

Adequação do espaço físico, estilo próprio em harmonia com o ambiente histórico, qualidade e conservação da estrutura física

Os espaços de uso social, a recepção, sala de estar e a pequena piscina que fica no pátio

interno

Fonte: Durcelice Nascene, www.arteurquizo.com.br e Márcia Neves

A excelente adequação do espaço físico, com estilo próprio, mas em harmonia com os preceitos de preservação do patrimônio arquitetônico, e a utilização de obras de arte na decoração cria um clima de ateliê que é muito interessante no contexto do Centro Histórico de Paraty, região que concentra inúmeras oficinas de artistas plásticos. Conforto e cuidado nas instalações, na decoração, na roupa de cama, nos equipamentos modernos e conservação primorosa. Serviços diferenciados e atendimento personalizado, realizado através do contato direto com a equipe de funcionários, são elementos diferenciais de uma pousada que é puro charme e bom gosto. Em conjunto, esses aspectos garantem um conceito de hospedagem muito apropriado ao segmento de turismo cultural, com identidade, estilo e integração ao ambiente sócio-cultural de Paraty.

Seis suítes pequenas e muito charmosas aliadas a atmosfera romântica é um convite para casais. A opção de separar a área social no primeiro andar e reservar

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os dois outros pisos para os quartos garantiu a privacidade e tranquilidade na ala de dormitórios. Os espaços reduzidos são compensados com soluções criativas, como o uso de mesaninos e varandas, janelas emolduradas por jardins elevados, camas baixas e tatames.

A criatividade se faz presente também no uso de materiais rústicos no acabamento com a predominância de pedra e madeira, de fibras naturais na roupa de cama e banho que são de puro algodão branco, peças artesanais como as almofadas bordadas, amenities de lei de cabra. A instalação de televisões de tela plana na cor preta nos quartos foi uma alternativa para o problema de espaço, mas cria um contraste bonito com o branco impecável que predomina nas paredes e banheiros e com a proposta de rusticidade da estrutura física.

As soluções para otimização do espaço físico e a adequação dos materiais: a roupa de cama,

as janelas que revelam jardins e o horizonte, o quarto japonês.

Fonte: www.arteurquijo.com.br, Durcelice Nascene e Márcia Neves

Outra característica marcante no empreendimento é o uso de obras de arte na decoração, a casa funciona como uma espécie de galeria com os quadros da artista plástica que concebeu a pousada, Luz Urquijo. Em todos os espaços existem pinturas, pequenos objetos e peças de antiquários. Isso é muito interessante porque o Centro Histórico de Paraty concentra inúmeros ateliês e a cidade oferece inclusive roteiros de arte.

Serviços diferenciados e atendimento personalizado

O cuidado em todos os detalhes na estrutura e serviços personalizados fazem a diferença neste empreendimento. Atendem poucos, mas buscam excelência nesse atendimento. O objetivo é superar as expectativas do hóspede durante sua permanência, do drinque de boas vindas, do elaborado café da manhã, do clima de tranqüilidade à organização do espaço.

Mas isso exige um trabalho afinado junto à equipe, que é quem atua na linha de frente, no contato direto com o cliente, e de um foco afinado para o trabalho no segmento de mercado. O grupo de funcionários é pequeno, predominante mulheres, senhoras simpáticas que recebem o hóspede como um convidado. Com uma abordagem espontânea se conversa sobre a programação cultural de Paraty ou o cardápio do café da manhã: “você gosta de crepes de maçãs? Ah que ótimo, amanhã vamos lhe preparar umas deliciosas no café da manhã”.

Para a proprietária o importante na seleção e treinamento da equipe é exatamente a capacidade para cuidar da casa e a habilidade para receber o público. A rotatividade é baixíssima, o grupo de funcionários trabalha junto há vários anos e sempre que entra alguém na equipe, é orientado e supervisionado até que se

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considere sua total integração à rotina do empreendimento. A impressão que se tem durante a conversa com as funcionárias é de um sentimento de pertencimento, elas demonstram gosto em trabalhar, falam com um certo orgulho da pousada e do trabalho que fazem.

Solução criativa

Sapatos são proibidos no interior da pousada, cada hóspede é presenteado com um par de chinelinhos de palha confeccionados no Quilombo do Campinho. Além das energias negativas deixadas na porta, essa prática é eficiente na limpeza e conservação das dependências, também é uma atitude de envolvimento com a comunidade e de inclusão social.

O uso do chinelo de palha dentro da pousada

Fonte: Durcelice Nascene

8 Interação Ambiental

A agência de receptivo especializada em estudos do meio nasceu da experiência de um biólogo como pesquisador na região do Mamanguá, onde passou a atuar em 1992 quando foi criada a Reserva Ecológica da Juatinga, em uma área onde viviam 120 famílias distribuídas em 8 comunidades.

As atividades com escolas se tornaram regulares a partir de 1999, quando passaram a ser procurados para conduzir atividades de vivência cultural e educação ambiental, com atitudes de responsabilidade para com as comunidades e o meio ambiente. A experiência mostrou que era possível contribuir para o processo de aprendizado, conscientização sócio-ambiental e gerar alternativas para o desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais, com práticas preservacionistas.

Contato

www.sacodomamangua.com

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tel: (24) 3371-1951

Paulo Nogara

Práticas observadas:

O turismo como vetor para o desenvolvimento sustentável, para a qualidade de vida da comunidade, promoção da auto-estima e proteção ambiental.

A formação como biólogo, a luta em defesa do meio ambiente e o trabalho de conscientização das comunidades tradicionais para que eles se reconheçam como atores fundamentais no processo de conservação daquele santuário ecológico se fazem presentes no produto turístico que envolve o Saco do Mamanguá e em todo o negócio da Interação Ambiental; uma agência pequena, mas com um trabalho muito interessante.

Vista do Pico do Mamanguá ou Pão de Açúcar atrás da comunidade do Cruzeiro

Fonte: Anete Ferreira

Por suas características naturais e paisagísticas, o Saco do Mamanguá é um lugar especialmente interessante, aspectos que por si só poderiam estimular o desenvolvimento turístico, principalmente focado no sol e praia e nas atividades náuticas. No entanto, esse segmento é indutor de grandes fluxos e gerador de sérios impactos sobre os locais onde a atividade é mais intensa, comprometendo diretamente os recursos naturais e suas populações; essa sempre foi uma das grandes preocupações de Cristina e Paulo Nogara. Por outro lado, eles acreditam que o que existe hoje no Mamanguá, sua configuração atual e seu estado de conservação é, em boa parte, resultado da forma vida dessas comunidades. Desta

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forma, na visão deles, era importante e necessário garantir ali a permanência desses grupos sociais, resguardando seus princípios, valores e tradições ancestrais; bem como promover a qualidade de vida e elevar a auto-estima dessas pessoas.

A atividade turística integrada ao calendário produtivo da comunidade

O turismo foi identificado como opção para a valorização dessas comunidades, do seu modo de vida e, ao mesmo tempo, fonte para a geração de recursos financeiros e de incentivo ao desenvolvimento local. Era igualmente importante respeitar o ritmo de vida ancestral, e nesse sentido, a atividade turística deveria integrar o calendário produtivo da comunidade, como complemento nos períodos de entressafra.

O modelo e os conceitos adotados para o turismo no Saco do Mamanguá seguem os princípios de sustentabilidade, com a efetiva inclusão de suas populações tradicionais, que respeita seus hábitos e costumes, visando a preservação do patrimônio cultural e natural.

A circulação de caiaque pelo manque

Fonte: Interação Ambiental

Na formatação do produto turístico foram considerados elementos do cotidiano dessas populações como a pesca, as festas, a culinária e o artesanato, mas também a maneira como esses aspectos da rotina estavam integrados à natureza. Na impossibilidade do uso de barcos artesanais, restritos pela produção cada vez mais limitada e também porque são pesados demais para o manuseio pelo turista, optou-se por caiaques com remos curtos. O artesanato recebeu tratamento especial, com o fomento do trabalho de pintura e orientação para o manejo dos caixetais (árvore de madeira macia) que seriam impactados pelo aumento da demanda. Os barquinhos coloridos do Mamanguá, antes vendidos em lotes in natura, tornaram-se um dos produtos de maior valor agregado e seu processo de fabricação uma das atividades de maior interesse do visitante.

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O processo de produção dos barquinhos de caixeta e a vivência de pintura com um grupo de

visitantes

Fotos: Interação Ambiental

No trabalho desenvolvido pela Interação tudo gira em torno da comunidade, esse é o princípio básico da atividade e o foco central de todas as ações, o conhecimento tradicional foi sistematizado e organizado para a informação ao visitante. O principal atrativo a ser conhecido, observado e vivenciado, são os hábitos e práticas seculares desses grupos sociais. Existe um esforço para que o turismo envolva direta ou indiretamente todos os moradores, para que o desenvolvimento seja inclusivo, com distribuição de renda. Nas refeições procura-se valorizar a produção agrícola em base familiar. As famílias são estimuladas a receber visitantes organizados em grupos para vivências, a preparar o almoço ou a desenvolver atividades artesanais. Outro aspecto importante é que a operação de campo é liderada por um representante da comunidade.

E na outra ponta, a do público, também é desenvolvido um trabalho de conscientização dos grupos para o contato com as comunidades e os atrativos naturais e culturais se dê de forma respeitosa e harmoniosa. A identificação dos mercados para esse produto exigiu um exercício cuidadoso e paciente, incluindo a experimentação com diferentes grupos e parceiros comerciais. Hoje este mercado consiste no segmento do turismo pedagógico voltado a um seleto grupo de escolas e ao público estrangeiro, predominantemente europeus.

Procedimentos e controles na operação e a formação como processo contínuo

A filosofia de trabalho da Interação Ambiental estabelece rotinas e procedimentos para todo o processo, de forma a garantir qualidade, eficiência, segurança e minimizar os impactos. O tamanho dos grupos, na preparação para a visitação e para as atividades; o trabalho dos guias, no uso dos equipamentos de adequados, no conteúdo das informações, na divisão de tarefas dentro da comunidade; enfim tudo é pensado nos mínimos detalhes.

Chama a atenção a preocupação em preparar toda a comunidade, os núcleos familiares para a hospitalidade dos grupos de visitantes, valorizando o potencial de cada um. Isso é importante porque os protagonistas de toda a operação são os moradores. O trabalho de formação dessas pessoas não é simples, nem sempre é possível utilizar pacotes ou cursos pré-formatados, é um trabalho longo, que exige

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dedicação e sensibilidade; é preciso conquistar a confiança. Uma das barreiras é a dificuldade de leitura que maioria apresenta, mas isso não impediu o aprendizado de rudimentos de francês, língua importante para a condução de grupos dessa nacionalidade ou mesmo a formação como monitor ambiental, curso que é considerado imprescindível para os guias e condutores.

9 Paraty Tours

Empresa pioneira na atividade de receptivo em Paraty, que nasceu há 16 anos, época em que haviam poucos passeios estruturados. O primeiro passo foi a organização da cadeia turística, com adoção de uma política tarifária. Isso exigiu um grande esforço de convencimento, de mobilização, de consolidação de parcerias. Depois a participação nas feiras, a formatação de produtos e o desenvolvimento de ofertas diferenciadas por mercado.

O salto veio com a identificação dos problemas existentes no transfer, das dificuldades que encontram o turista para chegar a Paraty a partir do Rio de Janeiro e São Paulo. Há 8 anos passou a investir também na área do transporte turístico. Hoje a empresa tem 16 veículos próprios e mais 12 terceirizados e é a maior do interior do Estado do Rio de Janeiro.

A frota de veículos da Paraty Tours e alguns exemplos de uso nos roteiros

oferecidos no município.

Fonte: Paraty Tours

Contato

www.paratytours.com.br

Tel: 3371-2651

Sebastian Urquijo

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Práticas observadas:

Diversificação dos produtos, criatividade na estratégia de mercado e parcerias focadas no melhor desempenho comercial

O que mais se destacou neste empreendimento foi a capacidade empresarial do empreendedor. Chamou a atenção sua sensibilidade e atenção para perceber as novas tendências, para entender as transformações do mercado e responder rapidamente às demandas.

Quando o negócio começou em 1992, Paraty era um destino de sol e praia, mas o ecoturismo despontava como um segmento com crescente número de adeptos, então o primeiro produto que a empresa estruturou foi passeios de bicicleta pela Mata Atlântica em direção às cachoeiras e praias mais isoladas. Esse foi o passo inicial para um amplo portfólio de produtos relacionados à natureza, mas sem ignorar a importância da formação das redes locais e do fortalecimento da cadeia turística.

Uma das características mais marcantes deste empreendedor é a busca sistematicamente novos produtos, mantém o elo de articulador da cadeia produtiva, atua no fortalecimento de parcerias comerciais e no processo de qualificação dos produtos e serviços disponibilizados no destino.

A percepção aguçada para o universo comercial e a visão do mercado coloca a Paraty Tours na liderança do processo. Foi a primeira a compreender a importância de ser uma referência em turismo cultural, mesmo mantendo um cardápio diversificado de produtos e serviços, e atua decisivamente para consolidar uma oferta qualificada de produtos turísticos culturais.

Grupos da Paraty Tours em atividade nos arredores da cidade

Fonte: Paraty Tours

Em 2003 surgia a FLIP, evento que estabeleceu um novo posicionamento de mercado para o destino e a Paraty Tours foi um parceiro de primeiro momento, se mantendo como um importante articulador junto ao setor turístico local, desde então é a agência oficial do projeto. Durante a elaboração do Plano de Turismo Cultural de Paraty houve um acompanhamento de todo o processo. Ao final, quando foram apontadas as principais diretrizes para o segmento, a Paraty Tours já havia captado os produtos para oferecer ao mercado, através de parcerias estratégicas como as que foram estabelecidas com o Quilombo do Campinho, ou com a Interação Ambiental, por exemplo.

Mas não se tratava apenas de um senso de oportunidade, vimos a preocupação em a empresa contribuir na qualificação do produto, o cuidado em dar as orientações para a apresentação e atendimento adequados. Isso ocorre não apenas por compromisso com o destino e com as comunidades tradicionais, mas como valor agregado de imagem, em função dos segmentos de mercado que são mais

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sensíveis a essas propostas, que estão dispostos inclusive a pagar mais caro por produtos com esse perfil.

10 Cama e Café

A Rede Cama e Café é uma adaptação brasileira do sistema bed and breakfast, de origem irlandesa, em que o visitante se hospeda na casa de um morador local, possibilitando assim a convivência diária com o modo de vida, hábitos culturais do destino.

O empreendimento consiste em uma central de reservas que estrutura e agencia a rede de residências para hospedagem. A ligação entre hóspede e anfitrião é mediada pela Central, que disponibiliza informações sobre residências, do tarifário, é responsável das reservas, pelo encaminhamento dos hóspedes escolhidos de acordo com o perfil do anfitrião ou conforme suas necessidades em termos de localização e preço. Enfim, é a Central que faz toda a operação comercial da rede.

Algumas das casas que integram a rede do Cama e Café em Santa Teresa

Fonte: www.camaecafe.com.br

O projeto nasceu em 2002, a partir da identificação de uma oportunidade de negócio gerada com a realização do evento Arte de Portas Abertas. A atmosfera de convivência que se estabelecia durante os dias do evento foi o primeiro indicador que poderia ser interessante criar um produto onde essa vivência pudesse acontecer independentemente do calendário cultural de Santa Teresa.

A estruturação do negócio utilizou todas as ferramentas de planejamento, o conhecimento aprofundado de outras experiências similares, estudos de viabilidade econômica e de impacto da atividade no cotidiano da comunidade, os procedimentos legais necessários para a operação, etc.

Os procedimentos estabelecidos para a prática, o compromisso com o desenvolvimento sustentável, a capacidade de articulação junto às lideranças comunitárias e da rede empresarial, transformaram o Cama e Café em uma referência para o modelo de turismo de habitação no Brasil. No entanto, a experiência foi determinante para consolidar Santa Teresa como destino turístico, com o crescimento do mercado de hospedagem, que transformou o bairro em um lugar de pousadas de charme, com investimento direto de estrangeiros.

Com indicações em importantes guias internacionais, com destaque para o Lonely Planet, o Cama e Café se destacou como uma das melhores opções de hospedagem do Rio de Janeiro. Em apenas três anos de funcionamento, recebeu aproximadamente 5.000 hóspedes, alcançando 100% de ocupação no réveillon e carnaval dos anos de 2007 e 2008.

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Contato

www.camaecafe.com.br

Tel: (21) 2224-5689

João Vergara e Carlos Magno

Práticas observadas:

Planejamento como ferramenta de gestão para resultado

Uma das marcas mais importantes da experiência do Cama e Café é o processo de gestão do projeto. Todas as etapas foram cuidadosamente estudadas, planejadas, sustentadas por um criterioso plano de trabalho; da identificação da oportunidade de criar uma opção de hospedagem no bairro de Santa Teresa, a partir da observação e dos ensinamentos de outras experiências semelhantes no mundo, da preocupação com práticas de responsabilidade social e do compromisso com a sustentabilidade do projeto e do destino, seja no envolvimento da comunidade no processo, seja no fortalecimento do destino turístico.

Considerando o pioneirismo da iniciativa no país e os princípios orientadores da iniciativa, os empreendedores se viram diante de muitas perguntas que precisaram ser respondidas para que o negócio ganhasse corpo. Estudos de viabilidade e impactos sócio-econômicos, análise de capacidade de carga, clareza sobre os mercados prioritários, argumentos para articular e mobilizar a rede de anfitriões, entre outros, são alguns dos aspectos contemplados e que se transformaram em instrumentos permanentes de referência para as ações do negócio. Com essas ferramentas estabelecidas cada um dos sócios pode se dedicar a área com qual tem mais afinidade, incluindo a expansão da rede para a cidade de Olinda em Pernambuco.

Para o funcionamento do empreendimento foi necessário identificar brechas na legislação, estabelecer mecanismos para o reconhecimento regular da atividade que exigiu a formação de uma rede de parcerias.

A funcionalidade do serviço é um dos diferenciais do empreendimento, a proposta é disponibilizar antecipadamente todas as informações ao cliente. Isso é feito através da página web, que é também o principal meio de promoção do empreendimento. Pela página na internet o público tem acesso aos dados sobre cada casa conveniada, histórico, localização, sobre o(s) quarto(s), as características e hábitos do anfitrião, valor das diárias e imagens para ilustrar cada aspecto apresentado.

Em poucos anos a experiência do Cama e Café demonstrou não apenas a viabilidade econômica do projeto, mas foi o indutor do desenvolvimento turístico de Santa Teresa baseado na vivência cultural e na valorização do patrimônio material e imaterial como fator de posicionamento do destino, com o fortalecimento e a diversificação do segmento de hospedagem no bairro, que além de rede de turismo de habitação abriga atualmente charmosas pousadas boutique.

Rede de parcerias para a estruturação do negócio, envolvimento responsável com a comunidade local e o fortalecimento do destino turístico.

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Como o projeto do negócio impunha a formação de uma rede de anfitriões, tanto para o credenciamento e a qualificação das residências quanto para o atendimento do turista, isso se tornou uma prática regular de envolvimento efetivo da comunidade e de responsabilidade com o destino. O Cama e Café é um articulador importante na gestão do destino, na estruturação das parcerias, na liderança para o encaminhamento de demandas como o tema da segurança pública, por exemplo.

Posto de Informação Turística gerenciado pela Gaia Tour e o passeio pelo bairro que a

agência organizou para os participantes do Vivências.

Fonte: Márcia Neves e Durcelice Nascene

Envolvimento responsável com a comunidade local, com ações de inclusão e de geração de renda

O envolvimento conseqüente com a comunidade implica na implementação de projetos voltados para a inclusão social. Nesse sentido foi a realização do concurso de roteiros turísticos junto as escolas do bairro que resultou na criação da primeira agência de receptivo de Santa Teresa, a Gaia Tour, que reúne jovens das favelas da região. O incentivo a este projeto possibilitou o surgimento de um dos produtos turísticos mais inovadores do Rio de Janeiro, que é a visita ao Morrinho, uma maquete de favela produzida com material de sucata realizada por crianças e adolescentes do morro do Pereirão.

A maquete de sucata do Morrinho

Fonte:www.tvmorrinho.com

Além das parcerias orientadas para o desenvolvimento do destino, o empreendimento estabeleceu parcerias estratégicas formais para o crescimento dos negócios, com destaque para as instituições que trabalham com a promoção turística como a EMBRATUR, ABAV, o Rio Convention Bureau e a Prefeitura do Rio.

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Qualidade do atendimento e hospitalidade

Um dos diferenciais do negócio está na hospitalidade que apenas esse conceito de hospedagem possibilita. No produto oferecido a qualidade da hospitalidade, a experiência de convivência com a cultura local são fatores determinantes de imagem e posicionamento no mercado, valores presentes no trabalho promocional e de otimização da mídia espontânea.

O artista Favoretto e Ada, anfitriões do Cama e Café; recebem os participantes do projeto, ao lado a paisagem que se avista do ateliê; abaixo ambiente interno da residência e os espaços

destinos aos hóspedes.

Fonte: Alexandre Flório (fotos na parte superior) e www.camaecafe.com.br (fotos na parte inferior)

Na rede Cama e Café é o dono da casa quem recebe o hóspede e o objetivo é permitir a vivência do estilo de vida do destino. Isso não significa situações improvisadas, pelo contrário, a estrutura de recepção das casas é muito boa e os anfitriões são muito bem preparados para o contexto da hospedagem.

Como qualquer outro meio de hospedagem, na rede Cama e Café as casas são enquadradas por categoria, diferenciadas pelo espaço físico e equipamentos que disponibilizam para o hóspede, como televisão, ar condicionado, acesso a internet, etc.

Valorização do patrimônio cultural e manutenção da identidade local como indutor de fluxo turístico e recurso para o desenvolvimento sustentável do bairro

Por suas características histórico-culturais Santa Teresa sempre abrigou artistas e espaços dedicados às diferentes formas de expressão e linguagens artísticas, também foi a arte o instrumento para enfrentar a violência urbana que agitou o

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bairro nos anos de 1990. Mais que um evento, o Arte de Portas Abertas é um divisor na história de Santa Teresa. Para os empreendedores do Cama e Café ele suscitou a percepção de uma oportunidade de negócio em outra área, que é a da hospedagem. A cada edição do evento as ruas são invadidas por um público interessado e interessante, que visita os ateliês, mas que demonstra sensibilidade para se relacionar com o estilo de vida do bairro, freqüentando seus restaurantes e bares.

Ao formatar o projeto do Cama e Café essa compreensão do valor do patrimônio cultural e da identidade local foram determinantes para o estabelecimento do próprio conceito do negócio e é, certamente, seu diferencial como empreendimento e como meio de hospedagem. A formação da rede de casas anfitriãs, o relacionamento com os moradores, o espírito de parceria e cooperação com outros empreendimentos, a mobilização do entorno de projetos de inclusão social e de promoção da qualidade de vida demonstram o compromisso com o desenvolvimento sustentável de Santa Teresa como destino cultural por excelência.

É muito interessante observar que a partir do Cama e Café o setor de hospedagem no bairro é atualmente o local que concentra um crescente número de pousadas de charme e luxo, diferenciadas pelo conceito, pela estrutura física e de serviços, pelo foco no segmento de turismo cultural e em seus mercados específicos.

11 Aprazível Sabor

Adriana Ribeiro, participante do Vivências, na entrada do Restaurante Aprazível

Fonte: Alexandre Flório

Em 1996, durante a primeira edição do Arte de Portas Abertas, Ana Castilho abriu sua casa residência para servir os visitantes do evento seus deliciosos manjares, improvisando mesas pelo jardim e na pequena sala. O sucesso foi enorme e a casa foi aos poucos sendo adaptada para acomodar um dos mais conceituados redutos de gastronomia do Rio de Janeiro.

A cozinha brasileira original com toques de requinte, combinada a um ambiente bucólico, entre árvores frondosas, mesas cuidadosamente dispostas num jardim de arquitetura orgânica com uma vista espetacular da Baía da Guanabara, fazem do Aprazível um dos lugares mais charmosos da cidade.

O Aprazível desempenhou um papel importantíssimo no processo de revitalização de Santa Teresa, mas consolidou uma história própria, diferenciada, antecipou em mais de 10 anos o perfil dos investimentos mais sofisticados que agora estão sendo implantados no bairro.

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Contato

www.aprazivel.com.br

Tel: (21) 2508 9174

Pedro Hermeto

Práticas observadas:

Foco no segmento de mercado, com a formatação do negócio adequada ao público alvo

A espontaneidade com que o empreendimento nasceu não impediu o desenvolvimento de uma visão empresarial apurada. O sucesso do restaurante deve-se em parte a identificação da oportunidade existente no bairro para atender o público do Arte de Portas Abertas, com uma qualidade gastronômica compatível aos padrões mais exigentes. A manutenção da proposta exigiu dedicação e uma visão de mercado capaz de estabelecer o recorte da base de clientes, com serviços de qualidade e estrutura física compatível.

A valorização da culinária brasileira, da reinvenção criativa de pratos típicos da região central do país, mais interiorana, com uso de ingredientes nobres e de qualidade também são elementos importantes na estruturação do produto e do próprio negócio.

O marketing e a promoção usam perfeitamente os principais atributos do negócio, os valores culturais inerentes aos produtos oferecidos e recorrem a uma estética artesanal que combina de forma equilibrada as competências dos serviços, o charme do empreendimento e o lugar onde ele se encontra.

Comercialmente a casa tem uma estrutura de relacionamento com a rede de hospedagem, focada no mais sofisticados hotéis da cidade. É utilizado um sistema de comissionamento para as reservas confirmadas dos hóspedes desses lugares, e esse acompanhamento é monitorado diretamente pelo administrador e é ele quem efetua o pagamento das comissões.

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A qualidade e originalidade da infra-estrutura

Os diferentes ambientes do restaurante, com destaque para a combinação de elementos e o

uso do espaço

Fonte: participantes do roteiro

Outro diferencial importante do negócio é a infra-estrutura física do restaurante. Criatividade nas soluções de adaptação e ampliação progressiva, a integração ao ambiente natural e cultural, o charme das instalações que combina despojamento, rusticidade, sofisticação e qualidade. O uso do quintal e jardins, a adaptação desses ambientes ao espaço de serviços, o cuidado nos detalhes, a adoção de materiais orgânicos na decoração e no mobiliário.

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Modelo de planejamento e gestão de pessoal eficiente

Pedro Hermeto e Ana Castilho conversam com os participantes do Vivências Brasil.

Fonte: Alexandre Flório

Um negócio que nasceu de forma quase espontânea, mas com sensibilidade e tino comercial, que ao longo do tempo consolidou uma excelente prática de gestão do negócio e da equipe. Com a entrada de Pedro Hermeto, que é filho da proprietária e advogado de formação, para a gerência administrativa do Aprazível, o empreendimento passou a um plano de negócios consistente e um manual de procedimentos para todo o funcionamento do empreendimento, onde cada função dentro da equipe tem normas específicas para orientar as ações cotidianas.

12 Bar Luiz

Os participantes na porta e dentro do Bar Luiz durante a conversa com a proprietária Rosana

Santos

Fonte: Alexandre Flório

Um dos mais antigos estabelecimentos do setor de alimentos e bebidas do Brasil. Reconhecido pela excelência do seu chopp e pela tradição da salada de batata, o Bar Luiz é uma história singular de sobrevivência de um empreendimento de estrutura familiar, que soube se adaptar às diferentes conjunturas, modernizar a gestão e sem perder suas características essenciais.

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Contato

www.barluiz.com.br

Tel: 21 2262-6900

Rosana Santos

Práticas observadas:

Ferramentas de Gestão: instrumentos de controle, profissionalização e expansão dos negócios

Uma das práticas que mais se destacou para o grupo é da experiência de negócio familiar centenário que vem passando por um “choque de gestão”, com instrumentos claros de controle e monitoramento, que garantem a qualidade dos produtos e serviços, a profissionalização da administração e um plano consistente para expansão dos negócios. O tradicional Bar Luiz está abrindo novos pontos e contratou uma conceituada consultoria para se transformar em uma rede de franchising.

O quiosque do Bar Luiz na Praia de Copacabana

Fonte: http://farm1.static.flickr.com/11/88999181_cef6dbf4c7.jpg?v=0

Normas e procedimentos que garantem a qualidade dos produtos e serviços

A prática de gestão se estende aos procedimentos estabelecidos para a formação e qualificação da equipe. A casa tem uma política consolidada para a capacitação dos garçons e “chopeiros”, observando as melhores habilidades e incentivando a participação em cursos regulares.

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Os garçons do Bar Luiz e o mais tradicional chopp da cidade

Fonte: http://veja.abril.com.br/vejarj/051005/imagens/bares4.jpg e http://1.bp.blogspot.com/_

Mas a principal referência do trabalho de qualificação vem da própria história da casa, dos requisitos que conquistaram o público e fizeram do Bar Luiz um dos patrimônios da cidade: a comida, o jeito de servir e o chopp. Então, buscou-se nos processos consolidados ao longo de anos os aspectos mais relevantes e que fazem a diferença como a qualidade dos ingredientes, o manuseio do chopp desde que ele chega na casa ou mesmo a formação de um garçom, que em alguns casos, pode levar anos, até que ele esteja totalmente familiarizado com a rotina e preparado para o contato permanente com o público.

Política de parcerias para o desenvolvimento do destino/pólo: contribuir com outros bares para a qualificação dos serviços; participação efetiva na governança local

Outra prática determinante é a política de parcerias para o desenvolvimento do destino/pólo. O Bar Luiz exerce uma liderança importante na região como um todo e assumiu ações que contribuem para a qualificação dos serviços de todo o segmento de bares, com participação efetiva na governança local, envolvimento em todas as atividades voltadas para a qualificação do destino e do segmento específico.

No salão de atendimento destaque para o cartaz do Pólo Novo Rio Antigo

Fonte: Alexandre Flório

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13 Centro Cultural Carioca

Uma casa dedicada à música carioca e, em especial, ao samba. O ambiente de bar garante a descontração e instiga o público a um envolvimento com as atrações musicais: cantam, dançam, fazem comemorações.

O CCC ocupa um espaço importante no processo de revitalização do Centro Histórico do Rio de Janeiro, que além da programação de shows regulares, realiza produções de espetáculos e cursos de dança.

Contato

www.centroculturalcarioca.com.br

Tel: 21 2252-6468

Isnard Manso

Fachada do Centro Cultural Carioca e área interna durante a conversa de Isnard Manso com

os participantes do Vivências Brasil

Fonte: Alexandre Flório

Práticas observadas:

A música brasileira, em especial a carioca, como atrativo e valor agregado do negócio

O CCC desempenha um papel importante para o recorte da música carioca com um atrativo cultural diferenciado e valor agregado ao negócio. Ao definir o samba carioca como uma vocação, isso se transformou ao longo do tempo em fator de atração de público, contribuiu para a valorização do gênero e para a revelação de novos talentos artísticos. Até a consolidação da Lapa como destino turístico, o samba era um atrativo vinculado ao carnaval. Casas como o CCC propiciaram sua divulgação, mostraram que ele tem características e diversidade que extrapolam em muito a situação do evento, permitiu um envolvimento efetivo com os artistas, com os núcleos de produção musical e estimularam o desenvolvimento do gênero. O samba se mostrou um bom negócio e o negócio fortaleceu o samba como uma expressão musical e cultural tipicamente carioca.

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Alguns exemplos da programação musical do Centro Cultural Carioca com fotos de

apresentações no palco da casa

Fonte: www.centroculturalcarioca.com.br

O CCC nasceu de um trabalho de Isnard Manso no mundo da dança, que levou à formação de uma Cia de Dança. Hoje o CCC é o palco para as apresentações deste grupo, abriga uma escola de dança e um famoso baile na hora do almoço, freqüentado pelas pessoas que trabalham no centro da cidade. O gosto pela dança é certamente um dos aspectos que mobiliza o público da casa.

Fidelização do cliente e diversificação do produto

Algumas iniciativas de fidelização do cliente chamaram a atenção dos participantes. O tratamento concedido aos aniversariantes foi uma delas. Diariamente comemora-se o aniversário com direito ao parabéns cantado pela atração musical, chuva de balões e bolo. Outra iniciativa destacada foi o cartão de ponto, que controla a freqüência do público e garante descontos aos mais assíduos.

Os dois espetáculos do grupo: Bota Abaixo (1ª foto) e Dancing Eldorado (sequência das 3

fotos da direita)

Fonte: www.centroculturalcarioca.com.br

O envolvimento na gestão do destino e no processo de revitalização do Centro Histórico

O trabalho de envolvimento com a comunidade se dá também pelo comprometimento do CCC com o processo de revitalização do centro histórico da cidade. A percepção do valor do patrimônio arquitetônico e cultural é um diferencial importante da região, que é um valor agregado do negócio; portanto, o trabalho

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que está sendo realizado pela governança regional é para a integração total do destino, o esforço para restaurar casarões e sobrados, estabelecer usos, ampliar as possibilidades e condições para a freqüência do público.

O CCC atua fortemente para transformar a Praça Tiradentes em um pólo dinâmico de cultura e turismo, investe na conservação do Largo em frente à entrada da casa e utiliza esse espaço para programações culturais, incluindo espetáculos do grupo de dança e o carnaval.

Carnaval de 2005 com o Cordão do Boitatá (1ª foto da esquerda) e momentos do espetáculo

de dança Bota Abaixo (2 fotos da direita)

Fonte: www.centroculturalcarioca.com.br

14 Rio Scenarium

O Rio Scenarium originalmente era uma casa que alugava objetos de época (móveis, peças de decoração) para filmes, novelas e mini-séries. Com o final da obra de revitalização da rua do Lavradio começou a funcionar como um bar com música ao vivo para dançar, aproveitando o ambiente cenográfico de um antiquário, mas mantendo o negócio de locação. O sucesso foi enorme e hoje o empreendimento se estende por 4 casarões geminados, além de 2 restaurantes na vizinhança.

O Rio Scenarium mostrou que a decoração, o espaço físico pode ser um atrativo turístico de forte apelo e que combinado com a função de bar, com programação musical, com espaço para dançar, com qualidade nos serviços se transforma em um grande espetáculo e um produto de excelência; características que já mereceram do inglês The Guardian a menção da casa como um dos 10 melhores bares do mundo.

Contato

www.rioscenarium.com.br

Tel: (021) 3147-9000

Plinio Fróes

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Práticas observadas:

Um negócio que se caracteriza pela identidade local e pela diversidade musical do país, onde própria estrutura física é um elemento de grande atratividade

Os diferentes ambientes do Rio Scenarium e os muitos detalhes da decoração

Fonte: Durcelice Nascene e Alexandre Flório

A criação de um produto turístico cultural singular que soube aproveitar a identidade local e a diversidade musical brasileira, que se transformou em um dos maiores atrativos da cidade e em um sucesso empresarial. A experiência deste empreendimento mostra que é possível a consolidação de um negócio de sucesso, original, singular, criativo, em que a visão empresarial, a capacidade de vislumbrar oportunidades é determinante.

O êxito ao longo do tempo exige habilidade administrativa, com ferramentas de gestão, mesmo que sejam específicas e não sigam os padrões convencionais.

E na condução do negócio algumas das práticas de referências da casa fizeram a diferença: a aposta na qualidade dos produtos e serviços oferecidos; a utilização da estrutura física como elemento de atratividade; e a capacidade de articulação e inserção na comunidade, onde propicia ações inclusivas e de responsabilidade social.

Liderança empresarial na articulação das parcerias para o desenvolvimento do destino/pólo

Existe uma compreensão de que o sucesso do negócio está relacionado ao processo de revitalização de toda a região e nisso as ações da governança regional são determinantes. O trabalho das associações empresariais foi vital para que a Lapa e

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o Rio Antigo entrassem em um processo virtuoso de recuperação e a rua do Lavradio foi o grande indutor.

Conjunto de mesa e cadeiras do concurso Rio de Bar em Bar e banner informativo, realizado

nos empreendimentos do Pólo Novo Antigo e que os participantes do Vivências Brasil puderam observar durante as visitas.

Fonte: Durcelice Nascene

A liderança empresarial que existe por trás do Rio Scenarium é um fator determinante para a região. Ela se estabelece de forma articulada com os demais empresários, na forma de associações e redes, com capacidade de mobilização, com representatividade junto ao poder público, com reconhecimento perante a comunidade. A experiência da associação empresarial do Pólo Novo Rio Antigo, mostra que a força da iniciativa privada pode fazer toda a diferença na gestão do destino.

Ações de inclusão e responsabilidade social

O Rio Scenarium realiza oficinas de restauração de móveis e objetos, oficinas de iniciação musical de crianças e jovens. Ações de inclusão social e os projetos de responsabilidade social que são implementados na perspectiva de respeito à própria comunidade onde o empreendimento está inserido, mas também para que essa comunidade seja integrada ao processo, pelo que ela representa em termos da identidade local. E que por outro lado, são iniciativas que têm um peso determinante no processo de revitalização da própria região.

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Oficinas de instrumentos musicais oferecidas dentro do espaço do Rio Scenarium e a

apresentações do grupo durante a Feira de Antiguidades da Rua do Lavradio

Fonte: www.rioscenarium.com.br e Anete Ferreira

Os projetos nessa área começaram em 1997, quando se iniciou deu a Oficina de Artífices, através de uma Oficina-Escola de Recuperação do Mobiliário Antigo. Nesta oficina-escola, os jovens e adolescentes de eram capacitados na arte da marcenaria, restauração, decapagem e lustro de mobiliário, estofamento e empalhamento. A formação do primeiro grupo, constituído de jovens com deficiência neurológica, foi viabilizado por convênios com o Museu da República, Museu Histórico Nacional e Instituto Consuelo Pinheiro, especializado na educação de deficientes neurológicos. O desenvolvimento desses jovens foi tão positivo que alguns já estão trabalhando no próprio Rio Scenarium em diversas atividades.

Outro momento importante aconteceu no ano 2006, marcando o começo de um novo projeto, desta vez envolvendo música e denominado então de Scenarium Musical. Em uma oficina-escola, crianças e adolescentes têm aulas de música ministradas por professores que se destacaram como músicos e que se apresentam no Rio Scenarium. Durante toda a semana, dois turnos de aulas concentram cerca de 30 meninos e meninas que aprendem a tocar instrumentos como violão, cavaquinho e outros de percussão, além de técnicas de canto. Este trabalho conta com a parceria do Projeto Monumenta e com o patrocínio da UNESCO, BID, IPHAN e Ministério da Cultura.

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Conclusão

O roteiro proposto buscou combinar as inúmeras variáveis do turismo cultural nesses destinos, trabalhar os muitos conceitos que envolvem a oferta neste segmento, na perspectiva dos bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis: o patrimônio histórico e arquitetônico, as manifestações culturais, os eventos, os equipamentos e a produção cultural, as vivências, as comunidades tradicionais, a produção associada, o entretenimento, os serviços específicos, etc. E também mostrar como os diferentes setores da cadeia operam para estes mercados, como se estruturam e funcionam (práticas, rotinas e diferenciais) as agências, os restaurantes, os meios de hospedagem, os equipamentos culturais, a produção de eventos, entre outros. O objetivo era mostrar ofertas turísticas de qualidade em todos os contextos e para todos os públicos.

Na seleção dos empreendimentos consideramos o histórico das empresas, experiências consolidadas ao longo do tempo, que começaram pequenas e se transformaram em sucesso empresarial, iniciativas transformadoras com impacto positivo em outras áreas ou setores, com capacidade de inovação e criatividade, mas comprometidas e integradas com a identidade do lugar onde atuam. E optamos por experiências que pudessem trazer referências para todos os participantes da viagem, independentemente da área de atuação, lugar de origem, experiência empresarial ou realidade social.

Como tínhamos um grupo heterogêneo, era importante conduzir as atividades de forma a despertar o interesse de todos e promover trocas que são muito interessantes nestes contextos. A viagem foi instigante e desafiadora. As discussões durante as visitas, nas conversas com empresários que nos receberam e nas reuniões de avaliação foram participativas, entusiasmadas. No depoimento final dos participantes foi recorrente a idéia de que a viagem havia provocado a mudança de parâmetros, de paradigmas, ampliando a própria concepção de turismo cultural, evidenciando a importância deste segmento para o desenvolvimento sustentável e a sua viabilidade para quaisquer destinos.

O roteiro de turismo cultural no Rio de Janeiro nos permitiu a observação de boas e melhores práticas do segmento, identificamos a qualidade com que os empreendimentos vêm desenvolvendo os instrumentos de gestão, a infra-estrutura, o negócio, as parcerias, a formação e qualificação dos profissionais e como vêm promovendo o envolvimento da comunidade. Verificamos a fragilidade dos empreendimentos do setor no encaminhamento das questões relacionadas à segurança e a certificação, são aspectos aparentemente ainda ignorados pelo segmento.

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Referência bibliográfica

Estudos de Competitividade do Turismo Brasileiro – O Turismo Cultural no Brasil, Unicamp/Ministério do Turismo, 2006.

Plano de Desenvolvimento do Turismo Cultural de Paraty. Associação Casa Azul/Ministério do Turismo, 2008.

Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico do Município de Paraty. Secretaria de Turismo e Cultura/Prefeitura Municipal de Paraty, 2003.

Plano de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro (Plano Maravilha). Riotur/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1997.

DE PAZ, Esther Fernández. De tesoro ilustrado a recurso turístico: el cambiante significado del patrimonio cultural. PASOS/Revista de turismo y patrimonio cultural. Vol 4, no 1, págs 1-12, 2006. (www.pasosonline.org)

Turismo Cultural: orientações básicas. Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. 2008

El Turismo Cultural en México – Resumen Ejecutivo del Estudio Estratégico de Viabilidad del Turismo Cultural en México. Centro de Estudios Superiores en Turismo/Secretaría de Turismo (S/D)

City Tourism & Culture. The European Experience. Word Turism Organization & Research Group of the European Travel Commission, 2005.

Endereços eletrônicos:

www.turismo.gov.br/dadosefatos

www.rio.rj.gov.br/riotur

www.unesco.org.br

http://portal.iphan.gov.br