Relatório de Estágio Supervisionado - Alisson de Oliveira Silva
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
ADMINISTRAÇÃO COM LINHA DE FORMAÇÃO EM COMÉRCIO EXTERIOR
ESTUDO DE ASPECTOS DA TEORIA DA BUROCRACIA APLICADOS
EM UM PROCESSO DE CONTRATAÇÃO REALIZADO EM UMA
EMPRESA DE ECONOMIA MISTA
Alisson de Oliveira Silva
BELO HORIZONTE
2012
2
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
ADMINISTRAÇÃO COM LINHA DE FORMAÇÃO EM COMÉRCIO EXTERIOR
Alisson de Oliveira Silva
ESTUDO DE ASPECTOS DA TEORIA DA BUROCRACIA APLICADOS
EM UM PROCESSO DE CONTRATAÇÃO REALIZADO EM UMA
EMPRESA DE ECONOMIA MISTA
Relatório de estágio apresentado como requisito de
avaliação do curso de Administração com Linha de
Formação em Comércio Exterior do Centro
Universitário UNA visando à aprovação na disciplina
Estágio Supervisionado.
Orientadora: Ana Maria Passos Collares.
BELO HORIZONTE
2012
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, primeiramente, pois todas as bênçãos recebidas foram as vossas bênçãos. A Jesus,
pois ele é o meu caminho. Aos meus pais, pois eles me ensinaram o caminho. A minha
namorada, pois ela esteve sempre comigo. Aos meus irmãos, pois eles tiveram paciência
durante essa caminhada. A todos professores, familiares, amigos, que me ajudaram muito
durante esse percurso. Muito Obrigado a todos!
4
RESUMO
O presente estudo levanta relevantes informações sobre a Teoria da Burocracia, bem
como apresenta o embasamento teórico para realização de um processo de contratação em
uma empresa de economia mista, por meio de normas legais e institucionais que derivam da
utilização da teoria burocrática. Além disso, mostram-se, neste trabalho, conceitos gerais
sobre os diversos tipos de estruturas organizacionais para melhor embasamento analítico
sobre o tema. Descreve-se, também, um processo de contratação de serviço executado e
realiza-se uma análise com base nas teorias que foram elucidadas.
Utiliza-se como método científico o relatório analítico de estágio que consiste em
compilar, confrontar e consolidar a teoria acadêmica junto à aplicação profissional visando
mostrar de forma ampla ao leitor o trabalho prático realizado, apresentar as vantagens e as
necessidades da aplicação de diversos aspectos da teoria burocrática nos processos de
contratação desse tipo de organização, além de identificar possíveis disfunções burocráticas
ocorridas na realização desse trabalho e vislumbrar possibilidades de mudanças/melhorias.
Palavras-chave: Teoria da Burocracia. Processo de Contratação. Empresa de Economia
Mista.
5
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 8
1.1 Breve Contexto ............................................................................................................ 8
1.2 Situação Problemática .................................................................................................. 8
1.3 Objetivos ...................................................................................................................... 9
1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 9
1.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 9
1.4 Justificativa .................................................................................................................. 9
2. APRESENTAÇÃO DA EMPRESA OBJETO DE ESTUDO .............................................. 10
2.1 Breve apresentação .................................................................................................... 10
3. REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................................... 11
3.1 Teoria da Burocracia .................................................................................................. 11
3.2 Normas relativas aos processos de contratação ......................................................... 15
3.2.1 Normativas Legais .............................................................................................. 15
3.2.2 Normativas institucionais ................................................................................... 17
3.2.2.1 Instruções pertinentes à realização de processos de contratação ........................ 17
3.2.2.2 Instruções sobre limites de competências para prática de atos relativos aos
processos de contratação ................................................................................................... 19
3.3 Teorias sobre estrutura organizacional ...................................................................... 20
3.4 Burocracia Automatizada em serviços....................................................................... 21
4. METODOLOGIA ....................................................................................................................... 22
5. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO PROCESSO DE CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS
FEITO POR DISPENSA DE LICITAÇÃO .................................................................................... 23
5.1 Pesquisa descritiva ..................................................................................................... 23
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 32
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 01. .................................................................................................................................. 11
Figura 02. .................................................................................................................................. 12
Figura 03. .................................................................................................................................. 14
Figura 04. .................................................................................................................................. 29
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 01. ............................................................................................................................................ 20
8
1. INTRODUÇÃO
1.1 Breve Contexto
O Modelo de Estrutura Funcional Burocrática Weberiano desenvolveu-se,
principalmente, ao longo dos dois últimos séculos e tornou-se padrão para o modo de ser e
agir do Estado Moderno, bem como a sociedade que nele se insere.
As diversas entidades públicas situadas em território brasileiro possuem estruturas
funcionais baseadas nesse modelo. Os procedimentos realizados por essas são norteados pelos
princípios da teoria burocrática como, por exemplo, de normas e regulamentos, princípio de
hierarquia explícita, entre outros.
O senso comum não “enxerga com bons olhos” o funcionamento dessas estruturas,
pois as culpam de gerar ineficiência e ineficácia na prestação de serviços do Estado à
sociedade. Na verdade, não se nota e não se sabe como é realmente o funcionamento da
Burocracia na prática e o que se vê são, muitas vezes, as disfunções geradas pela mau
aplicação do conhecimento derivado da teoria que resultam em serviços ruins e morosos.
Diante do exposto, o presente estudo descreverá um processo de contratação realizado
em uma empresa de economia mista (detentora de capital público) para elucidar a dinâmica de
trabalho realizado sob o molde estrutural burocrático, bem como sua importância e possíveis
vantagens e, também, desvantagens, além de verificar as disfunções derivadas de
determinados procedimentos realizados e propor possibilidades de mudanças.
1.2 Situação Problemática
Embasado no contexto apresentado no item acima se criou a situação problemática que
é indagar-se sobre a importância da aplicação de aspectos da Teoria da Burocracia em um
processo de contratação realizado em empresa de economia mista.
9
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Estudar e analisar a importância, vantagens, desvantagens e disfunções da aplicação de
aspectos da Teoria da Burocracia em um processo de contratação realizado em uma empresa
de economia mista, bem como vislumbrar possibilidades de mudanças.
1.3.2 Objetivos Específicos
Apresentar conceitos advindos da Teoria da Burocracia;
Apresentar o embasamento para realização de um processo de contratação e as
normas legais e institucionais pertinentes a esse e que se enquadram na
modalidade de Dispensa de Licitação;
Apresentar o processo de contratação realizado em uma empresa de economia
mista;
Apresentar a aplicação de aspectos da teoria da Burocracia na realização desse
processo, bem como explicitar as suas vantagens e desvantagens;
Identificar possíveis disfunções burocráticas que minimizam a eficiência do
processo de contratação;
Analisar a luz do que foi explicitado na pesquisa descritiva e com base na teoria
apresentada as possibilidades de mudança / melhoria do processo.
1.4 Justificativa
O fator principal que motiva a abordagem do tema é a importância e a grande
utilização da Teoria da Burocracia nas mais diversas organizações, inclusive públicas. Outro
ponto importante a ser considerado é o pouco conhecimento, da sociedade em geral, sobre os
diversos trabalhos realizados pelas entidades públicas e os procedimentos administrativos
utilizados por essas que, geralmente, são considerados ineficientes e ineficazes, além de serem
tratados de forma pejorativa. Em complemento a essas justificativas uni-se o fato de o autor
deste trabalho possuir experiência na área de Contratação de Materiais e Serviços.
10
Dessa forma o estudo se faz importante como meio de aumentar o conhecimento do
assunto pela sociedade, fomentar discussões e proposições entre as diversas pessoas
envolvidas nesse tipo de trabalho, além de estimular o interesse e a pesquisa da comunidade
acadêmica sobre a Teoria da Burocracia e seus desdobramentos.
2. APRESENTAÇÃO DA EMPRESA OBJETO DE ESTUDO
2.1 Breve apresentação
A Empresa X (não revelaremos o nome da mesma neste trabalho) é uma distribuidora
de gás natural canalizado que atende ao segmento industrial, uso geral, residencial, gás natural
comprimido, gás natural liquefeito, automotivo e termelétrico.
Essa organização é uma sociedade anônima, de economia mista, sob o controle
indireto de um Estado da República Federativa do Brasil, sendo seus acionistas a Empresa Y
(55,2%), a Empresa Z (40%), o Estado A (4,38%) e o Município B (0,43%). A Empresa X
fornece soluções a partir do Gás Natural a todos os segmentos do mercado buscando
contribuir para o bem estar e desenvolvimento do Estado A, de forma eficiente e sustentável.
A empresa dispõe, de acordo com o apresentado em seu Estatuto Social, de uma
Assembleia Geral que é convocada uma vez por ano, ou outras vezes para casos urgentes,
para tomar ciência das demonstrações financeiras apresentadas, deliberar sobre diversos
assuntos estratégicos, destinação dos lucros, autorização para emissão de debêntures,
alteração do próprio Estatuto, estabelecerem os limites de competência para o Conselho de
Administração e Diretoria, entre outros.
Dispõe, também, de um Conselho de Administração responsável pela convocação das
Assembleias Gerais, por estabelecer a política e a orientação dos negócios, por aprovar o
planejamento estratégico e o orçamento, por deliberar sobre a contratação cujos valores se
encontram entre 5 a 10 milhões de Reais, por eleger ou destituir Diretores, por fiscalizar a
gestão dos membros da Diretoria Executiva, entre outros.
Para finalizar esse breve contexto estrutural da Empresa X (ver Figura 01 -
Organograma da Empresa X) pode-se mencionar a existência de um Conselho Fiscal regido
pela Lei das Sociedades por Ações e de uma Diretoria Executiva constituída por 05 membros
11
(Diretor Presidente; Diretor Administrativo; Diretor Técnico; Diretor Comercial e Diretor
Financeiro) com suas respectivas gerências.
Figura 01 - Organograma da Empresa X.
Fonte: Intranet - Rede de Arquivos Digitais da Empresa X.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Teoria da Burocracia
Como cita Mota e Vasconcelos (2006), a burocracia é uma estrutura organizacional
que permite a coordenação da atividade humana para a realização de objetivos comuns dentro
de uma perspectiva de longo prazo.
Segundo Max Weber, os pressupostos sociais e econômicos do surgimento da
moderna burocracia são: o desenvolvimento da economia monetária na medida em que uma
compensação pecuniária se fez devida a funcionários de uma organização; a racionalização do
direito que passou a ser escrito e organizado de forma lógica e hierárquica; a centralização do
poder estatal crescente pela facilidade de conexão entre as diversas regiões antes isoladas; o
12
surgimento e consolidação da atividade industrial que trouxe o predomínio da racionalidade
técnica e; a consolidação da sociedade de massa.
Figura 02 - Elementos históricos que permitiram a consolidação da estrutura burocrática.
Fonte: Teoria Geral da Administração - Motta/Vasconcelos - Editora Thomson, 2006 - 3º edição.
Entretanto, a estrutura burocrática é um fenômeno antigo, pois ela já existia no antigo
Egito, em Roma, na China desde a época Shi-Hoang-Ti (Século XIV) e a Igreja Católica
Romana consolidou-se sob esse molde apesar de possuir traços de autoridade tradicional.
No artigo - Burocracia como organização, poder e controle (José Henrique de Faria e
Francis Kanashiro Meneghetti, 2010) define-se que Max Weber propôs a utilização dos tipos
ideais, metodologia sociológica indutiva que parte de princípios particulares e que
representam o primeiro nível de generalização de conceitos abstratos, e a partir disso Weber
analisou e explicou o fenômeno da burocracia. Segundo esses autores, Weber observou o
processo de racionalização da sociedade na passagem da Idade Média para a Idade Moderna e
a substituição da mediação das relações sociais antes baseadas na tradição e no carisma para
mediação racional e com embasamentos normativos e legais.
Verificou-se, também, que a vantagem técnica da organização burocrática no
capitalismo é a superioridade puramente técnica sobre qualquer outra forma de organização,
assim como uma máquina se torna superior a outros modos não mecânicos de produção (um
termo popularmente conhecido como “Máquina do Estado” pode ser definido como Estrutura
Funcional Burocrática do Estado). Precisão, velocidade, clareza e redução dos custos são
colocadas, por Weber, como atributos advindos da utilização desse molde estrutural.
13
Outras vantagens advindas da estrutura baseada na legitimidade do exercício de
autoridade racional-legal em relação aos outros tipos de autoridade (tradicional e carismática)
seriam, segundo Weber, a dificuldade destas últimas em aceitarem inovações sociais e a
incerteza da dependência das disposições afetivas e emocionais do indivíduo detentor do
poder.
A estrutura funcional burocrática baseia-se nos seguintes princípios específicos, de
acordo com o livro Ensaios de Sociologia, escrito por Max Weber, e o livro Administração,
Teoria, Processo e Prática, de Idalberto Chiavenato:
Reger o princípio estrutural de áreas de jurisdição fixas e oficiais, ordenadas por
leis e normas administrativas;
Ordenar de forma hierárquica o submetimento de cada funcionário às ordens
superiores e impessoais que guiam suas ações, de modo a assegurar a sua
obediência. Por isso o motivo da estrutura da Burocracia ser piramidal;
Segregar a atividade oficial (cargo) de um funcionário como algo distinto da
esfera de sua vida privada;
Dotar o funcionário de um treinamento especializado e completo que o permita
se profissionalizar;
Dar impessoalidade ao funcionário através dos cargos, pois ao passo que
pessoas entram e saem da organização, os cargos permanecem presentes;
Delimitar o trabalho dos funcionários de uma organização de acordo com o
cargo ou esfera específica de competência, delimitando suas atribuições;
Selecionar e escolher os participantes da organização com base na qualificação
profissional e competência técnica, ou seja, escolha por meritocracia. O plano de
carreira é feito, também, de acordo mérito funcional.
Diante desses princípios, a burocracia visa atingir a previsibilidade do
comportamento dos funcionários dentro uma organização a fim de se obter a
máxima eficiência. Contudo, as diferenças individuais das pessoas e a organização
informal dentro das empresas geram consequências imprevistas ou indesejadas que
levam à ineficiência e às imperfeições. A essas consequências deu-se o nome de
disfunções da burocracia para designar as anomalias de funcionamento responsáveis
pelo sentido pejorativo que o termo burocracia adquiriu entre os leigos no assunto
(Chiavenato, 2007, pag. 15).
São citadas como as principais disfunções da burocracia, segundo Chiavenato:
14
Despersonalização do relacionamento entre os participantes, pois os ocupantes
de cargos se tratam como tal e não como pessoas;
Internalização das diretrizes que passam a ser absolutas ao invés de meios para
se alcançar objetivos de forma eficiente;
Uso da categorização como técnica do processo decisório, o que resulta em uma
tomada advinda de um funcionário que pode não dispor de conhecimento
necessário sobre o assunto;
Excesso de formalismo e papelório que reduzem a eficiência de um processo;
Abuso de autoridade pelo fato de a burocracia enfatizar, enormemente, a
hierarquia como meio de controle de desempenho dos funcionários;
Superconformidade em relação às normas e regulamentos, ou seja, o funcionário
passa a ter verdadeira devoção e obsessão pelos regramentos;
Tendência à defesa de pressões externas, pois a segurança oferecida por um
sistema fechado dificulta a consideração ou adesão a fatores externos;
Resistência às mudanças que podem trazer novos desafios não desejáveis a
aqueles que estão acostumados a processos rotineiros.
Figura 03 - Disfunções da Burocracia.
Fonte: Administração: Teoria, Processo e Prática - Chiavenato - Campus, 2007 - 4º edição.
Em suma, a burocracia é uma solução organizacional que tenta evitar o confronto entre
indivíduos e grupos, a arbitrariedade, e abusos do poder (Mota e Vasconcelos, 2006),
15
entretanto, as características específicas dos indivíduos envolvidos, as organizações informais
existentes no meio e os diversos fatores macroambientais que pressionam a estrutura geram
disfunções que revertem o modus operandi da burocracia, o que resulta em ineficiência e
ineficácia na realização do trabalho da organização.
Chiavenato (2007) cita que apesar de as limitações e desvantagens, a burocracia parece
ser o modelo melhor para se lidar com grandes organizações e o modelo estrutural burocrático
tende, ainda, a prevalecer principalmente nas organizações estatais e nas repartições públicas.
3.2 Normas relativas aos processos de contratação
3.2.1 Normativas Legais
Primeiramente, vale ressaltar que todo e qualquer processo de contratação realizada
em uma entidade pública deriva de um desenho estrutural funcional baseado no modelo
burocrático. Como cita Guimarães (2011), em Licitações e Contratos Administrativos, a
Administração Pública tem como principal objetivo atender as necessidades da sociedade.
Para que isso ocorra é necessária à utilização de bens e serviços de terceiros.
Contudo, para que esse processo seja realizado, o Departamento de Compras do ente
público deverá seguir alguns preceitos legais (normas - princípio burocrático). No artigo 37,
inciso XXI da Constituição Federal de 1988 é expresso:
XXI – ressalvados os casos específicos na legislação, as obras, serviços, compras, e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da
lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
O dispositivo legal que trata o tema de licitações e contratos, de forma a nortear a
Administração Pública é a Lei Federal nº 8.666/93, conhecida como a Lei de Licitações. De
acordo com o parágrafo único do artigo 2º da referida lei (Guimarães, 2011):
Subordinam-se ao regime desta lei, além dos órgãos da administração direta, os
fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as
sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou
indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
16
1 A empresa objeto de estudo deste trabalho, como visto na apresentação, é uma
sociedade de economia mista, ou seja, essa organização é uma pessoa jurídica de Direito
Privado, não obstante a participação do Estado A na gestão e no capital, o que não lhe tira
aquele caráter (Cretella Junior, 1999). De acordo com o regime do Decreto-Lei nº200, de
1967, as sociedades de economia mista estavam dispensadas das licitações, porém se
resolvessem adotar o processo licitatório deveriam seguir a legislação vigente.
Só em 1986, através de o Decreto-Lei nº 2.300, artigo 86, estendeu-se o regime
obrigatório da licitação às sociedades de economia mista que estavam, até então, dispensadas
das licitações. Não obstante, com a emenda constitucional 19/98, as empresas de economia
mista que explorem atividade econômica podem ter regramento próprio, estabelecido em seu
estatuto jurídico e observando-se os princípios da Administração Pública (Guimarães, 2011).
A lei 8.666/93, em seu artigo 3º, dispõe sobre o objetivo da licitação:
Art.3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da
isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção
do desenvolvimento nacional, e será processada e julgada em estrita conformidade
com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da
igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao
instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.
A normativa legal tangível, mais específica, ao tipo de modalidade de licitação do
processo de contratação realizado objeto de pesquisa deste trabalho, se encontra no Capítulo
II, Seção I, Inciso I, Artigo 24, da Lei 8.666/93. Esse artigo cita que é dispensável a licitação:
I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do limite
previsto na alínea "a", do inciso I do artigo anterior1, desde que não se refiram a
parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma
natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente
(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998);
Nota-se que a redação dada pela Lei nº 9.648/98, também, dispõe sobre esse Artigo da
Lei: Parágrafo único. Os percentuais referidos nos incisos I e II deste artigo (24), serão
20% (vinte por cento) para compras, obras e serviços contratados por sociedade de
economia mista e empresa pública, bem assim por autarquia e fundação qualificadas,
na forma da lei, como Agências Executivas.
Diante desses fundamentos legais e de outros, a Empresa X elaborou Instruções
Normativas para nortearem todas as contratações de serviços e materiais. Ressalta-se que o
1I - para obras e serviços de engenharia: (Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais);
17
processo escolhido para fazer parte da pesquisa descritiva tem como objeto a contratação de
serviço de elaboração de projeto executivo para rede interna de gás natural.
3.2.2 Normativas institucionais
3.2.2.1 Instruções pertinentes à realização de processos de contratação
A instrução normativa pertinente aos processos de aquisição da coordenação de
contratação de Materiais e Serviços da Empresa X vem para tornar mais eficiente e eficaz os
procedimentos, além de se fazer justificar a melhor aplicação da Lei Federal de Licitações
(8.666/93) e outras disposições.
Inicialmente, segundo o regimento, a área demandante pela contratação da Empresa X
identifica uma necessidade a ser atendida, com base nas diretrizes estratégicas, e encaminha
uma Autorização (relação de documentos necessários para dar início ao processo) a área de
Contratação de Materiais e Serviços. Para se montar uma Autorização de Contratação
(Preparação para Contratação) deve-se caracterizar o objeto a ser contratado de forma precisa,
suficiente e clara, com base em critérios técnicos, de forma que não haja um
dimensionamento distante da real necessidade da empresa.
Após isso, a área demandante deverá elaborar o Escopo da Contratação contendo todas
as informações necessárias para a execução do processo de contratação como, por exemplo,
atividades a serem desenvolvidas, resultados esperados, forma de prestação dos serviços,
normas a serem seguidas, obrigações da Contratada, obrigações da Empresa X, equipe técnica
mínima, critérios para fiscalização dos serviços, exigência de qualificação técnica, indicação
de fornecedores, indicação do Gestor e Fiscal do Contrato, entre outros.
Passadas essas etapas começa-se a orçamentação com objetivo de estimar os custos da
contratação. Por meio de levantamento dos custos de mão de obra, além de outros custos
envolvidos, atualização de valores das contratações anteriores e consultas de mercado, a área
demandante em parceria com a área de Contratação realiza um planilhamento dos preços e
esse, por sua vez, serve de norte para o fechamento do preço final da Contratação. Esse preço
ideal é encontrado através da indicação do menor preço (Preço Estimado) e do preço de
Balizamento (menor preço - 10%) que é, teoricamente, o melhor preço para realização da
Contratação.
18
Por fim, a gerência demandante cadastra a necessidade de contratação (Requisição de
Compra) no sistema de gestão da Empresa X, bem como submete a aprovação da sua
Diretoria.
Passada essa etapa de preparação para a Contratação se inicia a análise da mesma com
uma avaliação criteriosa do Escopo atentando para uma análise das contratações anteriores,
análise do mercado (benchmarking, competitividade e prazos) e análise dos aspectos legais
(vícios, fracionamento, exigências exorbitantes). A área de Contratação poderá solicitar
estudos e pareceres de outros departamentos visando encontrar uma forma de contratar mais
vantajosa, bem como sugerir alterações no Escopo almejando garantir uma contratação bem
sucedida.
Depois de realizadas as análises, a coordenação de Contratação define e informa a área
demandante a modalidade de licitação que será adotada para Contratação. As modalidades
possíveis são: Convite, Tomada de Preços, Concorrência, Pregão e as cotações de preço
previstas no Artigo 24, incisos I e II, da Lei de Licitações 8.666/93 cujo processo objeto de
pesquisa deste trabalho se incluiu e, por isso, não se abordará a teoria das outras modalidades.
A partir dessa definição de modalidade de licitação, a área de Contratação assume a
responsabilidade pelo processo e dá prosseguimento ao mesmo. É elaborado, primeiramente,
uma Coleta de Preços com seus respectivos anexos (Termo de Referência, Minuta do
Contrato, Modelo de Carta Proposta) para ser enviada aos possíveis licitantes do certame.
Durante o prazo para recebimento das propostas decorrentes de determinada Coleta de Preços,
a Coordenação de Contratação pode fornecer, tempestivamente, esclarecimentos solicitados
pelos interessados (possíveis fornecedores).
Pode ocorrer ainda a emissão de adendos, observando a questão da prorrogação do
prazo para recebimento das propostas quando as alterações derivadas desses adendos afetarem
a formulação de tais propostas. Depois da análise das propostas e dos documentos de
habilitação elabora-se a ata de julgamento do resultado da licitação e divulga-se o resultado
do processo, com a ordem de classificação dos licitantes participantes.
Finalmente, após esse caminho, emiti-se duas vias de igual teor do contrato que são
logo enviadas ao licitante vencedor para que o mesmo providencie as assinaturas e envie de
volta a Empresa X. A área de Contratação, por sua vez, encerra o processo recolhendo as
assinaturas internas (a serem feitas pelo Gerente e Diretor da área demandante para todos os
casos de Dispensa de Licitação) e aprovações no sistema de gestão, além de promover, em
19
parceria com a Gerência de Comunicação Social, a publicação oficial e legal do termo
contratual.
3.2.2.2 Instruções sobre limites de competências para prática de atos relativos aos
processos de contratação
Essa instrução normativa visa apresentar e fixar os limites de competência para prática
de atos relativos aos processos de Contratação, ou seja, mostrar quais são as autoridades
responsáveis por assinarem a realização (abertura) ou o fechamento de diversos
procedimentos.
Existem quatro competências principais para as deliberações:
Competência para deliberar sobre a realização de possíveis contratações de
maior vulto mediante aprovação, do Conselho de Administração, de Proposta de
Resolução da Diretoria (não aplicável a Dispensa de Licitação);
Competência para autorizar o início do processo de Contratação que consiste,
basicamente, na liberação por meio de assinatura da Autorização para
Contratação de Materiais / Serviços e aprovação da mesma no sistema de gestão
pela autoridade competente (caso de Dispensa de Licitação);
Competência para prática de atos administrativos em processos de Contratação
que consiste em, no caso das Dispensas de Licitação, homologar julgamento das
propostas assim como habilitação jurídica do licitante vencedor;
Competência para assinar documentos que criem ou modifiquem obrigações
para Empresa X (contratos) por meio de intermédio de Gerente demandante,
devidamente constituído como procurador, juntamente com o seu Diretor, dentro
do limite de faixa (ver Tabela 01 - Limites de Competência para prática de atos
relativos ao processo de Contratação na modalidade de Dispensa de Licitação),
além das respectivas aprovações no sistema de gestão da empresa.
20
TABELA 01 - LIMITES DE COMPETÊNCIA PARA PRÁTICA DE ATOS RELATIVOS AO
PROCESSO DE CONTRATAÇÃO NA MODALIDADE DE DISPENSA DE LICITAÇÃO
AUTORIZAÇÃO PARA INÍCIO DO PROCESSO DE CONTRATAÇÃO
Compras cujos valores se insiram no disposto
do Artigo 24, incisos I e II, da Lei de
Licitações 8.666/93 cuja redação é dada pela
Lei 9.648/98.
Gerente Demandante - Diretor Demandante.
PRÁTICA DE ATOS ADMINISTRATIVOS DE CONTRATAÇÃO
Compras cujos valores se insiram no disposto
do Artigo 24, incisos I e II, da Lei de
Licitações 8.666/93 cuja redação é dada pela
Lei 9.648/98.
Gerente da Contratação ou Gerente Demandante.
ASSINATURA DE DOCUMENTOS QUE CRIEM OU MODIFIQUEM OBRIGAÇÕES
Compras cujos valores se insiram no disposto
do Artigo 24, incisos I e II, da Lei de
Licitações 8.666/93 cuja redação é dada pela
Lei 9.648/98.
Gerente Demandante - Diretor Demandante.
Fonte: Acervo documental da Empresa X.
3.3 Teorias sobre estrutura organizacional
Segundo Nélio Oliveira, professor do curso de Administração de Empresas da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a partir da definição da estrutura
organizacional voltada para as partes e suas interações, dois elementos básicos podem ser
destacados: a diferenciação (divisão do trabalho) e a integração (tipos de coordenação).
A divisão do trabalho intermedia o nível de diferenciação de uma organização, e isso
se materializa na especialização de indivíduos ou de áreas ou departamentos. Conforme dito
por Paul R. Lawrence e Jay W. Lorsch, quanto mais diferenciado o ambiente que a empresa
atua, mais diferenciada é a sua estrutura. A diferenciação se justifica, principalmente, pela
busca de maior eficiência organizacional e, também, pela manutenção de relações de poder
consideradas adequadas.
Com base no livro do professor citado acima - Organizações Automatizadas:
Desenvolvimento e Estrutura da Empresa Moderna - a divisão do trabalho regula interesses
individuais e os subordinam a interesses coletivos. A grande aplicação desses conceitos que
ocorreu nas grandes organizações ao longo do século XX retirou o conhecimento e autonomia
dos trabalhadores (alienação segundo Karl Marx).
21
Junto à divisão do trabalho existem, também, as formas de integração que são
necessárias para se unir os trabalhos que foram divididos com o fenômeno acima. Segundo
Henry Mintzberg seriam cinco:
1) Padronização dos processos, que coincide com a formalização da organização
burocrática e com as prescrições defendidas na organização racional do trabalho de Taylor; 2)
Padronização de resultados, que visa determinar certas metas específicas e apresentá-las aos
indivíduos ou grupo, passando a responsabilidade pelo alcance das mesmas; 3) Padronização
de habilidades, que consiste na coordenação baseada no conhecimento específico e complexo
de determinado indivíduo; 4) Supervisão direta, que visa a concentração centralizada das
decisões em um indivíduo (não se aplica a Empresa X); 5) Ajustamento mútuo, que se baseia
na total descentralização das decisões que devem ser tomadas em conjunto (ideal para grupos
ou empresas de elaboração de projetos).
Por fim, elucida-se que cada forma de coordenação tem suas aplicações, suas
vantagens e desvantagens em determinadas situações ou organizações. Por isso, é possível ter
a necessidade de utilização de mais de um tipo de coordenação em uma grande organização
que dispõe de uma estrutura complexa, como é o caso da Empresa X.
3.4 Burocracia Automatizada em serviços
As empresas em geral sofrem pressões advindas de novos ambientes, novas
tecnologias e novas estratégias que as obrigam a fazer alterações estruturais pelas quais se
pode citar a mudança da Burocracia Mecanizada (apresentada no início desse Referencial)
para Burocracia Automatizada. Será abordado apenas os conceitos da Burocracia
Automatizada em serviços, pois a Empresa X é, basicamente, uma prestadora de serviços de
distribuição de gás natural.
Afirma Nélio Oliveira, em 2007, que:
os motivos principais que levam a esse tipo de mudança são, a grande demanda, os
serviços padronizados, os ganhos em escala e escopo, a padronização nas operações,
entre outros. No núcleo operacional das empresas que apresentam esse formato
verifica-se a possibilidade de potencialização do trabalho, a automação do serviço e
a possibilidade de interligação simultânea entre as diversas áreas.
Nota-se que existe maior chance de automação as atividades desenvolvidas nas áreas
meio (retaguarda - sujeitas a rotinas e padrões), como é o caso da Coordenação de
Contratação de Materiais e Serviços da Empresa X, do que as áreas fim cujo envolvimento
22
com o ambiente externo é maior. Além da substituição de mão de obra e aparecimento de
atividades de monitoramento e intervenção podem se destacar, também, outras características
típicas das Burocracias Automatizadas como a flexibilidade produtiva, o aparecimento da
multifuncionalidade e as equipes voltadas para a melhoria contínua.
Diante desse embasamento verifica-se que as grandes empresas com operações de
maior volume e menor variedade estão sujeitas a adesão da Burocracia Automatizada. Vale
ressaltar que outras modificações aparecem nesse tipo de estrutura como a diminuição do
trabalho de assessorias, diversificação nas atividades essenciais administrativas e
concentração no negócio principal.
Em contrapartida, o autor menciona que nas Burocracias Automatizadas existem
vários problemas ligados à sobrecarga, ao estresse, às dificuldades de se obter
comprometimento e às práticas de auto-regulação.
4. METODOLOGIA
Este Relatório de Estágio Supervisionado é um procedimento reflexivo, de análise de
um caso prático sustentada em teorias que envolvam o tema, e crítico para busca de respostas
de possíveis problemas. O planejamento e a execução do mesmo fazem parte de um processo
sistematizado e dividido em diversas etapas.
A primeira envolve a escolha do tema e sua justificativa como, também, a formulação
do problema central e a determinação dos objetivos específicos e geral do trabalho.
A etapa intermediária consiste em apresentar as referências teóricas, por meio da
revisão da literatura, desenvolver uma metodologia apropriada, aqui exposta, para execução
do trabalho, além de apresentar os resultados referentes à pesquisa descritiva de um processo
de contratação de um serviço de elaboração de projeto executivo de uma rede interna de gás
natural, em uma empresa de economia mista.
A derradeira etapa, tão logo importante, apresenta a conclusão embasada na
compilação, confrontação e consolidação dos referenciais teóricos junto à prática, expondo a
importância, vantagens, disfunções e desvantagens da aplicação de aspectos da Teoria da
Burocracia, bem como levanta a discussão sobre possibilidades de melhoria das estruturas
organizacionais que derivam da mesma.
23
5. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO PROCESSO DE CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇOS FEITO POR DISPENSA DE LICITAÇÃO
5.1 Pesquisa descritiva
A presente pesquisa descreverá um processo de Contratação de Serviço de elaboração
de projeto executivo da rede interna de gás natural em um edifício comercial pelo qual a
Coordenação de Contratação de Materiais e Serviços da Empresa X foi responsável pela
realização decorrida através de Dispensa de Licitação prevista no Artigo 24, inciso I da Lei de
Licitações nº 8.666/93.
Essa pesquisa foi realizada entre os dias 07 de Agosto a 01 de Outubro de 2012 e
durante esse período observou-se a realização do processo por meio de envio de informações
a respeito do mesmo e que foram, gentilmente, disponibilizadas pela Empresa X. Vale
ressaltar que qualquer cidadão pode fazer vistas a um processo de Contratação de empresas
detentoras de capital público, desde que tomando as devidas providências. Todas análises de
aplicação de aspectos da teoria burocrática pertinentes a esse determinado processo foram
embasadas nas teorias apresentadas no Item 3 deste trabalho (Referencial Teórico).
Primeiramente, o processo se iniciou com a necessidade da Gerência do Industrial,
Comercial e GNV (ver Figura 01 – Organograma da Empresa X) em se contratar o serviço de
elaboração de um projeto executivo para instalação de uma rede interna de gás natural em um
edifício comercial. A Lei 8.666/93 menciona a necessidade de elaboração de projetos
executivos para qualquer realização de serviços ou obras de engenharia na esfera pública.
Após essa identificação, a gerência demandante iniciou a preparação da contratação
por meio de levantamento de documentação solicitada pela instrução normativa pertinente às
contratações centralizadas que são realizadas pela Coordenação de Contratação de Materiais e
Serviços (Gerência de Infraestrutura Administrativa e Contratação de Materiais). Segundo
Check-List (Documento de liberação de entrada de Autorização para Contratação) emitido
pela área de Contratação, etapa do processo a ser mencionada posteriormente, foi constatada a
definição clara e objetiva do objeto e foi verificada a plena conformidade na elaboração do
Escopo de Contratação, que continha todas as informações técnicas pertinentes à realização de
uma bem sucedida Contratação.
24
Vale ressaltar que nessa etapa constatou-se uma pequena inconsistência entre o que
reza a instrução normativa para Contratação e o que estava no escopo, pois nesse não estava a
lista de possíveis fornecedores e os responsáveis pela Gestão e Fiscalização do Contrato e
estes se encontravam em outro documento (Autorização para Contratação). Foi verificado,
também, que esse procedimento é usual em todas as Contratações da Empresa X, pois os
documentos que servem de modelos para as gerências demandantes já estão dispostos dessa
forma e esse fato não afeta o pleno andamento do processo.
Depois disso, deu-se início ao procedimento de orçamentação da Contratação através
de envio de solicitação de cotação de preços, pela área demandante, para 04 (quatro) empresas
e dessas 03 (três) apresentaram propostas válidas, ou seja, propostas que atendiam ao escopo
da Contratação, e 01 (uma) não apresentou proposta. A Empresa Alfa (não citaremos os
nomes das empresas) apresentou uma proposta no valor de R$ 32.000,00, a Empresa Beta
enviou uma proposta no valor de R$ 16.014,97 e a Empresa Delta no valor de R$ 12.500,00.
Ressalta-se que a Empresa Alfa localiza-se em uma cidade distante da Sede da Empresa X.
O procedimento de orçamentação terminou com a emissão da planilha de estimativa
de preços que continha, além das informações já prestadas, o preço médio das propostas
obtidas, o preço de referência (preço estimado) para Contratação e o preço de balizamento
(menor valor - 10%), em plena conformidade com a instrução normativa. Nota-se nesse
momento do processo, claramente, as vantagens advindas da estrutura burocrática, pois
através de definição de normas, divisão do trabalho, entre outros princípios da teoria
vislumbra-se a possibilidade de maior eficiência na realização do mesmo.
Para fechamento da Autorização para Contratação Centralizada de Serviços a área
demandante solicitou à área de Controladoria a Análise Tributária que inclui informações
sobre a tributação incidente sobre o serviço a ser realizado, a classificação contábil do recurso
e o centro de custo, da Empresa X, responsável pela liberação dessa verba. Além disso, a área
demandante cadastrou uma Requisição de Compra no sistema de gestão da Empresa X, bem
como a submeteu para aprovação do Gerente da área e o seu Diretor (respeitando o princípio
burocrático da hierarquia previsto no Estatuto Social da Empresa X).
Diante de todos esses feitos, a Coordenação de Contratação de Materiais e Serviços
deu entrada a Autorização e emitiu sem ressalvas um documento denominado Check-List que
confirma o pleno atendimento da área demandante às normas que instruem a preparação de
uma Contratação. A partir daí, a Coordenação de Contratação definiu, mediante apresentação
25
do preço estimado de R$ 12.500,00, a modalidade de Dispensa de Licitação para ser utilizada
nesse processo, pois de acordo com a Lei de Licitações em seu Artigo 24, Inciso I, as obras e
serviços de engenharia de valores de até 20% (R$ 30.000,00) do limite previsto de R$
150.000,00 estão incluídas nessa modalidade.
Um dado importante a ser mencionado é que a coordenadora da área de Contratação
foi responsável pela emissão desse Check-List, ou seja, um cargo que se encontra em um nível
mais elevado dentro do departamento de Contratação e que detém um conhecimento mais
elevado sobre os assuntos pertinentes ao mesmo realizou esse determinado procedimento.
Por isso, verifica-se a importância dessa etapa em relação à realização do processo
com um todo. Não se discutirá a assertiva desse procedimento, pois apesar de o princípio da
delimitação do trabalho estar explícito na teoria burocrática esta pesquisa não o abordará por
ausência de referencial teórico a cerca desse assunto. O trabalho procura delimitar aspectos da
teoria, principalmente os princípios de normas e regulamentos e hierarquia explícita.
Depois de definida modalidade de licitação, o responsável pela Contratação do Serviço
criou, através de software de geração de números de documentos, um número para o processo
e elaborou a cotação de preços, com os seus respectivos anexos, que foi enviada aos licitantes.
Nessa cotação foram dispostas diversas informações tangentes a Contratação como o objeto, o
tipo de cotação (menor preço por empreitada global), o prazo para execução, as condições do
pagamento, o prazo para entrega das propostas (em até 03 dias úteis para os casos de Dispensa
de Licitação realizados na Empresa X), a lei de regência e a denominação dos documentos
anexos.
Nessa licitação foram, especificamente, incluídos 04 (quatro) documentos
complementares: Termo de Referência, contendo basicamente as mesmas informações do
escopo da Contratação; Desenhos (arquivos gravados em Compact Disc e enviados por
SEDEX com Aviso de Recebimento), por se tratar de um serviço de elaboração de projeto era
necessária apresentação de desenhos do edifício; Modelo de Carta Proposta, modelo de
cotação que continha as informações necessárias a serem enviadas para validação da proposta;
e Minuta do Contrato, que apresentou o modelo de contrato a ser fechado com o licitante
vencedor.
Foi observado que, durante o prazo para recebimentos das propostas, não houve
nenhuma solicitação de esclarecimento dos licitantes referente à Contratação. Após a
finalização do prazo o responsável pela Contratação recebeu duas propostas válidas e dois
26
declínios sendo um deles da Empresa Alfa, que havia dado um preço de R$ 32.000,00 na fase
de balizamento. A Empresa Delta apresentou uma proposta mantendo o mesmo valor de R$
12.500,00 e a Empresa Beta ajustou o seu preço ao valor de R$ 16.000,00.
Poderia-se questionar o motivo de realização de uma nova cotação, de acordo com
análise feita da instrução normativa da Empresa X, porém dois fatos justificam essa
necessidade. O primeiro foi a desatualização das propostas, sendo que as mesmas possuíam
validade, e o segundo fato foi a intenção de inclusão de mais participantes na cotação já que
na primeira foram convidados 04 (quatro) e na segunda cotação foram convidadas a participar
07 (sete) empresas e isso aumenta a competitividade do certame, elevando as chances de se
fechar a Contratação a um preço mais vantajoso para a Empresa X.
Respeitando as orientações da Lei de Licitações e os dispositivos internos da Empresa
X o responsável pela Contratação analisou as propostas e convocou o licitante que cotou o
menor preço para apresentar a documentação de habilitação jurídica à Empresa X, em pleno
cumprimento a Lei de Licitações. A relação de documentos apresentados foi: Cópia do
Contrato Social com a última alteração; Cópia do Cadastro da Empresa junto à Receita
Federal, Cópia de Cadastro de Fornecedores impedidos de licitar perante a Administração
Pública do Estado; Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas; Certidão Negativa de Débitos
Relativos às Contribuições Previdenciárias; e Certidão de Regularidade perante o Fundo
Garantidor por Tempo de Serviço (FGTS).
O senso comum acredita que essas exigências causam, geralmente, transtornos e
dificuldades para realização dos processos de Contratação públicos, entretanto, o que se viu
durante a observação da Contratação foi a importância dessa solicitação, pois através dela
constata-se a consciência da empresa contratada em se manter em dia os seus compromissos
perante o Estado, os seus funcionários, a sociedade e, também, a Empresa X.
Confirmada a habilitação jurídica da Empresa Delta, o responsável pela Contratação
solicitou a mesma o envio de uma nova proposta com revisão de alguns pequenos detalhes
técnicos, bem como a postergação da validade da proposta e até mesmo uma possível redução
do valor final. Com isso, a Empresa X conseguiu a renovação da validade da proposta da
Empresa Delta, conseguiu, também, a redução do preço ao valor de R$ 11.000,00, além do
realinhamento de atendimentos técnicos necessários à plena execução do serviço contratado.
27
Finalizada essa etapa, iniciou-se a parte final da Contratação com a emissão da Ata de
Julgamento do processo que relatou a realização da cotação aqui exposta, a economicidade
dela gerada e de tudo isso surgiu a recomendação da Contratação com a Empresa Delta.
Em pleno acordo com o Estatuto Social da Empresa X e instruções sobre os limites de
competências, o responsável pela Contratação emitiu e assinou a Ata de Julgamento como
solicitou, também, a assinatura do Gerente da Contratação (Competência para prática de Atos
Administrativos em processos de Contratação). Além disso, o mesmo anunciou o Resultado
de Análise e Julgamento das Propostas (enviado por e-mail) com a listagem dos licitantes
participantes e com a colocação determinada de acordo com os menores preços apresentados.
A partir daí elaborou-se o Contrato e enviou-se o mesmo ao licitante vencedor. Vale
ressaltar que o número desse Contrato é gerado da criação de um Pedido de Compra (baseado
na Requisição de Compra já criada) originado no sistema de gestão da Empresa X.
Como a licitante já conhecia o modelo de Contrato, pois durante a coleta de preços o
mesmo recebeu uma minuta, a mesma providenciou as assinaturas de duas vias prontamente e
as remeteu a Empresa X para que essa providenciasse as assinaturas e as aprovações no
sistema de gestão, em atendimento ao regramento sobre competências já mencionado.
Nessa etapa se nota a presença sutil de uma disfunção burocrática
(Superconformidade), pois o Gerente e o Diretor que autorizam a Requisição de Compra no
sistema de gestão da Empresa X, também precisam aprovar o Pedido de Compra e isso
poderia ser evitado se o sistema dispusesse de ferramenta que possibilitasse a criação do
Pedido de Compra importando as informações da Requisição de Compra sem a modificação
de informações que poderiam divergir das aprovadas na Requisição e, consequentemente,
gerando um Pedido de Compra já aprovado automaticamente. Isso poderia trazer outros
benefícios que, infelizmente, não poderão ser tratados neste trabalho.
Outra disfunção burocrática identificada que pode advir dessas etapas do processo é o
uso da Categorização como técnica do fato decisório, que pode resultar em uma tomada de
decisão vinda de um funcionário que não dispõe de conhecimento necessário sobre o assunto.
Por outro lado, o fato de mais etapas estarem atreladas a aceitação e lastro de
funcionários de nível mais elevado possibilita a maior supervisão e verificação de gargalos
que dificultem o melhor andamento da realização do processo.
Para sacramentar a Contratação de empresa responsável pela elaboração do projeto da
rede interna de gás natural a Coordenação de Contratação em parceria com a Gerência de
28
Comunicação Social solicitou a publicação oficial e legal, no Diário Oficial do Estado, do
termo contratual celebrado entre as partes: Empresa X e Empresa Delta.
Vale mencionar, como adendo, a possibilidade de existência de uma disfunção
burocrática no processo até então não falada que é a de Excesso de formalismo, muito
difundido no senso comum como um dos principais problemas da Burocracia. Realmente é
observado e constatado a exigência em demasia de papelório que comprove a plena execução
das etapas do processo, entretanto, o que se pode também analisar é a necessidade ou não de
aplicação desse procedimento.
A Teoria da Burocracia dada por Max Weber não indica essa utilização, mas esse
“excesso” é, geralmente, visto como consequência dos princípios fundamentais que regem
uma estrutura que se embasa nessa metodologia. Contudo, o senso comum não vislumbra as
possibilidades que podem advir de um número maior de detalhes e registros a cerca da
realização do processo.
Fazendo uma analogia grosseira, pode se comparar, benignamente, o aumento de
registros possíveis em um processo a um desenvolvimento, melhoria e renovação de
programação de um software qualquer, pois esse último apresenta, a cada nova atualização
que recebe, uma absorção de informações advindas de suas versões anteriores e isso gera o
seu aperfeiçoamento, ou seja, o aproveitamento das informações registradas de processos
anteriores.
De um modo geral, é notório que a disposição funcional da estrutura burocrática traz
vantagens e benefícios à realização do processo de Contratação e, consequentemente, à
organização, pois foi visto e analisado que a aplicação de dois princípios (normas e hierarquia
explícita) ajudam no melhor funcionamento dos procedimentos que compõem o processo.
Contudo, como tudo possui um viés, constatou-se que a aplicação desses e, também, de outros
aspectos da Burocracia não esmiuçados podem trazer desvantagens ao processo.
Dentre as desvantagens a serem citadas pode-se mencionar, a falta de autoridade
individual do responsável por determinada etapa que sempre estará subordinado a uma
autoridade maior e a alienação desse funcionário perante o processo como um todo, pois a
divisão do trabalho absorvida pela Burocracia diminui a capacidade dos indivíduos em
pensarem e agirem por si próprios e isso acontece porque os interesses individuais não podem
sobrepor ao objetivo maior da organização a quem estão submetidos.
29
Para encerrar a análise pode-se mencionar, embasando-se na Teoria apresentada,
possibilidades de mudança e melhoria da estrutura organizacional burocrática da Empresa X,
ressaltando-se que de forma primária, pois esse assunto envolveria o desenvolvimento de
outra pesquisa.
Uma primeira possibilidade envolveria o mix de desenvolvimento de uma estrutura de
padronização por processos (Burocracia) com padronização de resultados, pois a área de
Contratação da Empresa X dispõe de procedimentos que precisam ser bem definidos e mais
eficientes como, também, possui processos que precisam ser mais abertos e a padronização de
resultados aplicaria-se melhor nesse ponto estrutural. A Empresa X, de acordo com o
estudado, já apresenta em seu desenvolvimento estratégico uma visão voltada para esse tipo
de adaptação.
Outra possibilidade envolveria aplicação de uma Burocracia mais Automatizada ao
invés da utilização da tradicional Burocracia Mecanizada. A Burocracia Automatizada oferece
dispositivos que tornam os procedimentos mais eficientes, principalmente os realizados nas
áreas meio, como é o caso da Coordenação de Contratação.
Entretanto, ressalva-se que foi identificado o uso de ferramentas que automatizam os
processos como, por exemplo, o sistema de gestão que faz o controle de todo volume
transacionado pela área de Contratação e a disponibilização de arquivos digitais dos processos
de Contratação na rede interna de arquivos da Empresa X.
FIGURA 04 - FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE CONTRATAÇÃO
Fonte: Empresa X - Elaborado pelo Autor do Trabalho
30
CONCLUSÃO
Ao longo de a realização deste trabalho pôde-se observar que a Teoria da Burocracia
vai muito além de um modelo estrutural utilizado para o pleno funcionamento dos diversos
processos existentes dentro de uma organização. Como tudo na vida e até a própria vida, as
organizações, as instituições públicas, o Estado, as coisas, o subjetivo, as pessoas derivam de
estruturas concebidas em algum momento, em algum lugar. Além disso, foi visto que a
própria estrutura burocrática adveio de uma mudança da sociedade que passou a dar crédito
maior ao tipo de autoridade racional-legal, apesar de sua existência ser constatada de longa
data, ou de tempos que ainda predominavam as autoridades carismáticas e tradicionais.
Talvez se tenha abstraído demasiadamente ao se afirmar o que está dito acima, mas
esse assunto pode fascinar na mesma intensidade que para muitos aterroriza. Entretanto, o que
não se pode negar é a importância e a necessidade da aplicação dos diversos aspectos da
Teoria da Burocracia em um processo de contratação realizado em uma empresa de economia
mista como em qualquer outro processo de qualquer outra organização.
A complexidade de procedimentos, o desdobramento das possibilidades, o alcance
técnico e científico que o Homem vem atingido ao longo dos últimos tempos não teria sido
alcançado sem ajuda dos princípios fundamentais contidos na Teoria da Burocracia, e que
foram sistematicamente apresentados por Max Weber. A divisão do trabalho, o uso de normas
legais e regulamentos, a hierarquia, aspectos que foram abordados durante a pesquisa se
apresentaram e se mostraram importantes e necessários para a realização do trabalho de
contratação na Empresa X.
Foi visto que a aplicação desses aspectos viabilizou a realização da contratação,
organizou e tornou transparente o processo como um todo, além de torná-lo eficaz, pois a
contratação foi efetivamente bem sucedida. A eficiência pode até ser discutida, contudo, para
que se tenha uma análise apropriada sobre essa variável é necessário ser comparada a
realização do processo sob esse molde com outras formas de aplicação estruturais, o que não é
o foco deste trabalho.
Todavia, foi vislumbrado que a aplicação da Teoria, também, traz desvantagens e gera
disfunções ao longo do exercício da contratação. A alienação dos indivíduos participantes, a
falta de autonomia desses, os excessos de formalização, a chance de uma decisão ser tomada
31
por um ente não interado completamente dos fatos decorrentes do processo, todos esses fatos
podem ser considerados integrantes dessa ressalva.
No balanço geral, constatou-se que as vantagens superaram os desacertos e que esses
últimos podem ser minimizados se o processo for mais bem estudado e estruturado.
Comprovou-se que o senso comum, realmente, não tem ideia da dimensão e importância da
aplicação da Teoria tanto nesse processo de contratação como nos demais processos
existentes nas mais diversas estruturas modernas, ou seja, deve-se incluir mais nos debates
acadêmicos, profissionais, entre outros, os assuntos relacionados à Burocracia e a aplicação
desse tipo de estrutura.
Como todo trabalho tem por direito tentar transcender o seu objetivo, pode-se afirmar
que, diante do pesquisado, a visão advinda, do senso comum, de culpa dos burocratas pela
ineficiência dos processos é, também, equivocada, pois foi constatado que os indivíduos
participantes do processo são meras “partes integrantes de uma máquina” chamada Empresa
X, ou seja, se existe ineficiência esta deriva do desenho de funcionamento da estrutura
burocrática como um todo.
Por fim, deve-se retratar que a análise da pesquisa constatou possibilidades de
melhoria do processo de contratação da Empresa X que envolveriam o mix de aplicação de
diversos tipos de coordenação ou até mesmo o aprimoramento da Burocracia tornando-a
menos mecânica e mais automatizada.
Esse fato vem para corroborar que apesar de as pesadas críticas do senso comum, as
desvantagens e disfunções, a Teoria da Burocracia, que se consolidou com o surgimento da
Idade Moderna, mesmo que necessitando de intensas mudanças continuará sendo muito
utilizada e seu embasamento sobre estruturas seguirá como um dos mais importantes para a
sociedade contemporânea.
32
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