Relatório de Estágio - Repositório Aberto da Universidade do … · 2011-08-11 · Tornou-se...
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Relatório de Estágio 6º Ano Mestrado Integrado em Medicina 09/10
EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR
Aires Paulo Gonçalves Martins
Dr. Humberto Machado
Dr. Luís Meira
Porto 2010
i
RESUMO
O presente relatório de estágio foi realizado no âmbito da tese de mestrado que
faz parte do 6º ano do Mestrado Integrado de Medicina. Teve como finalidade,
perceber o que é e como funciona a emergência pré-hospitalar em Portugal
Continental, mais concretamente, o modo como se processa na cidade do Porto.
Durante este estágio que teve uma duração total de 136 horas, realizado no
Instituto Nacional de Emergência Médica (Delegação Regional Norte), das quais 120
horas consistiram em estágio de Ambulância, 8 horas na Central 112 e, 8 horas no
Centro de Orientação de Doentes Urgentes, foi possível compreender o modo como
surgiu a emergência pré-hospitalar em Portugal e como evoluiu até aquilo que é hoje.
Tornou-se perceptível aquilo que são o Sistema Integrado de Emergência
Médica, o Instituto Nacional de Emergência Médica bem como os meios e organismos
que se encontram ao seu dispor e a forma como se articulam a partir do momento em
que o número europeu de socorro – 112 é accionado até que as vítimas são
transportadas ao hospital.
Da análise dos dados relativos a este período de estágio em Ambulância de
Suporte Básico de Vida na cidade do Porto é perceptível que o maior número de
activações correspondeu a situações que ocorreram no domicílio, na sua maioria
vítimas de doença súbita. Verificou-se que a grande maioria do socorro foi prestado a
pessoas numa faixa etária superior a 40 anos de idade e maioritariamente do sexo
masculino.
ii
AGRADECIMENTOS
Findo este período extremamente enriquecedor em que tive oportunidade de
passar pelo Instituto Nacional de Emergência Médica, cumpre-me agradecer às
pessoas que me acompanharam durante este estágio.
Quero agradecer ao Dr. Humberto Machado, meu orientador e Director do
Serviço de Urgência do Hospital de Santo António, por toda a disponibilidade e ajuda
que sempre demonstrou.
Agradeço igualmente ao Dr. Luís Meira, meu co-orientador e Delegado
Regional Norte do Instituto Nacional de Emergência Médica, pela amabilidade que
teve em disponibilizar toda a documentação e meios de que necessitei durante este
período.
Um agradecimento ao Dr. Taboas, Coordenador do Centro de Orientação de
Doentes Urgentes – Norte, pelos dados e por todo o material que amavelmente
forneceu.
Finalmente, um agradecimento à Enfermeira Isabel Costa, Enfermeira
Especialista da Delegação Regional Norte do Instituto Nacional de Emergência
Médica, por todo o apoio e colaboração na elaboração deste relatório.
iii
ÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO 01
2. DISCUSSÃO 02
2.1. História da Emergência Pré-Hospitalar 02
2.2. O Sistema Integrado de Emergência Médica 04
2.3. O Instituto Nacional de Emergência Médica 04
2.3.1. Meios INEM 05
2.3.1.1. Ambulâncias SBV 05
2.3.1.2. Ambulâncias SIV 06
2.3.1.3. Motociclos de Emergência 06
2.3.1.4. Viatura Médica de Emergência e Reanimação 06
2.3.1.5. Helicópteros de Emergência Médica 06
2.3.1.6. Viaturas de Intervenção em Catástrofe 07
2.3.2. Meios Reserva 07
2.3.3. Meios não INEM 07
2.3.4. Subsistemas do INEM 08
2.3.4.1. Centro de Informação Antivenenos 08
2.3.4.2. Transporte de Recem-Nascidos de Alto Risco 08
2.3.4.3. Centro de Orientação de Doentes Urgentes 08
2.3.4.4. Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar 09
2.3.4.5. Centro Apoio Psicológico e Intervenção em Crise 09
2.4. A Realidade na Cidade do Porto 09
2.4.1. Meios Disponíveis no Porto 09
2.4.2. O Socorro 11
2.4.2.1. Fases de Detecção e Alerta 11
2.4.2.2. Fase de Pré-Socorro 14
2.4.2.3. Fase de Socorro 14
2.4.2.4. Fase de Transporte 22
2.4.2.5. Fase de Tratamento em Unidade de Saúde 22
2.4.3. Dados Estatísticos 23
3. CONCLUSÃO 26
4. BIBLIOGRAFIA 27
1
1. INTRODUÇÃO
A realização de um estágio na área da emergência pré-hospitalar prendeu-se
com o facto de esta ser uma área que tem vindo, gradualmente, a adquirir uma
relevância cada vez maior no nosso país, aliada ao facto de cursar, inevitavelmente,
com a prática clínica intra-hospitalar em relação à qual é da maior importância que
todos os profissionais de saúde, nomeadamente a classe médica, tenham
conhecimento desta realidade. Paralelamente, esta é também uma área que me
fascina imenso e à qual me encontro ligado profissionalmente.
Este foi um estágio efectuado no âmbito da apresentação da tese de mestrado,
parte integrante do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina e que teve como
principal finalidade, perceber o que é e como funciona o Instituto Nacional de
Emergência Médica em Portugal, qual o papel que ocupa no Sistema Integrado de
Emergência Médica e perceber o modo como a emergência pré-hospitalar se efectua
no caso concreto da cidade do Porto.
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2. DISCUSSÃO
O estágio a que me propus foi realizado na Delegação Regional Norte do
Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Durante este período procurei por
um lado conhecer os vários subsistemas e organismos que constituem actualmente o
Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) e, por outro, acompanhar as
diversas equipas, actuando nas várias fases da emergência pré-hospitalar, no sentido
de perceber o modo como é prestado o socorro às vítimas na cidade do Porto.
Este estágio foi efectuado no período de 01/12/2009 a 30/04/2010 e teve a
duração de 136 horas que foram distribuídas pela Central 112 (8 horas), Centro de
Orientação de Doentes Urgentes do Porto (8 horas) e, Ambulância de Suporte Básico
de Vida (120 horas). Teve um carácter maioritariamente observacional, e foi realizado
por turnos que abrangeram períodos diurnos e nocturnos.
De modo a introduzir de uma forma mais perceptível a discussão do relatório
de estágio propriamente dita considerei pertinente, por um lado, fazer uma referência à
forma como surgiu a emergência médica pré-hospitalar e, por outro lado, fazer um
enquadramento daquilo que é actualmente o INEM, a sua constituição e organização,
os meios que gere, os subsistemas que o compõe e o seu papel no SIEM.
2.1. História da Emergência Pré-Hospitalar
A época dos grandes conflitos militares, com a sua complexidade crescente e a
sua abrangência determinou o aparecimento do conceito de socorro às vítimas. Nesta
altura, o modelo de organização implementado para o socorro procurava proporcionar
às vítimas os cuidados adequados à sua sobrevivência, e, transporta-las para locais,
na retaguarda, onde lhe pudessem ser prestados os cuidados necessários. Estavam
assim lançadas as bases da Emergência Médica.
Em 1859, Henry Dunant, um banqueiro suíço, presenciou durante uma viagem
de negócios, um cenário de horror travado na Guerra de Itália, mais conhecida por
Batalha de Solferino (que opôs o exército francês e da Sardenha ao austríaco) e
depressa se apercebeu da necessidade de organizar os serviços de socorro. Em
1862, publicou o livro “Un Souvenir de Solferino” onde sugere a formação de
sociedades nacionais de ajuda, com carácter permanente, constituídas por voluntários
e com capacidade para socorrer os feridos de guerra.
. Surge então a ideia de um emblema, uma cruz vermelha num fundo branco
que viria a marcar as ambulâncias, hospitais e pessoal sanitário, para que, num
cenário de guerra pudessem facilmente ser identificados. Foi da adopção destes
3
princípios que nasceu a Cruz Vermelha, tendo-se tornado a maior organização
humanitária do mundo (Brown, 1988).
Todos os modelos desenvolvidos foram igualmente adaptados às emergências
civis, durante a segunda metade do século XIX.
O advento, em Portugal do que hoje é entendido como Emergência Médica,
deu-se em 1965, com a criação em Lisboa, de um serviço de prestação de primeiros
socorros. Este serviço ficou a cargo da Policia de segurança Pública (PSP). O sistema
era accionado através do número 115, activando-se uma ambulância tripulada por
elementos da PSP, que efectuava o levantamento das vítimas de acidente na via
pública e efectuava o transporte para o hospital. Em 1967, este serviço foi alargado às
cidades do Porto e Coimbra e em 1970, às cidades de Aveiro Setúbal e Faro (Silva et
al., 1987).
Em 1971, é criado o Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA), na dependência
do Ministério de Interior, cujo principal objectivo era “assegurar a orientação, a
coordenação e a eficiência das actividades respeitantes à prestação de primeiros
socorros a sinistrados e doentes e ao respectivo transporte” (Decreto-Lei n.º 511/71 de
22 de Novembro:1971).
Em 1975, o SNA passou a depender do ministério da Defesa Nacional, sendo-
lhe assegurado um estatuto, cujo objectivo prioritário era o preenchimento do vazio
existente no socorro entre o local do acidente e a unidade hospitalar. De facto a
característica predominante deste serviço de socorro pré-hospitalar foi a coordenação
das acções das várias entidades intervenientes no processo de socorro de emergência
às vítimas, de forma a todas exercerem a sua função, segundo um plano pré-definido
que permitisse uma maior eficiência com a economia de meios.
Entre 1975 e 1977, o SNA cuja ”…preocupação imediata foi assegurar os
socorros eficientes às vítimas de acidentes ocorridos na via pública e nos grandes
troços rodoviários…” (Silva et al., 1987) centrou a sua actividade no desenvolvimento
da intervenção em meios urbanos e sua extensão às capitais de distrito, às vias
rodoviárias do país com maior densidade de tráfego e aos principais troços de ligação
às fronteiras.
Criaram-se então diversos Postos de Ambulâncias SNA, dotados de
ambulâncias com equipamento sanitário e de telecomunicações, que inicialmente
foram entregues a corporações da PSP nas cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e
Setúbal, estendendo-se mais tarde através de um acordo com o Serviço Nacional de
Bombeiros (SNB), às corporações de bombeiros das restantes zonas.
Em 1978, no intuito de alargar a cobertura a novas zonas do país que
apresentavam uma densidade de tráfego considerável e um elevado índice de
4
sinistralidade, o SNA alargou o sistema constituindo uma rede de socorro a nível
nacional.
Em 1980, o Governo constata a necessidade de criar o Sistema Integrado de
Emergência Médica (SIEM), tendo criado para o efeito o Gabinete de Emergência
Médica. Um ano depois, em 1981, a partir do trabalho realizado por este Gabinete, é
criado o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), tutelado pelo Ministério da
Saúde e que sucede ao SNA, tendo como objectivo coordenar as actividades
desenvolvidas pelas várias instituições, no âmbito do Sistema Integrado de
Emergência Médica.
2.2. O Sistema Integrado de Emergência Médica
O SIEM é constituído por um conjunto de entidades que cooperam com o
objectivo de prestar assistência às vítimas de acidente ou doença súbita. Essas
entidades são a PSP, a Guarda Nacional Republicana (GNR), os Bombeiros, a Cruz
Vermelha Portuguesa, o INEM e, os Hospitais e Centros de Saúde. A activação deste
sistema tem início a partir do momento em que o Número Europeu de Socorro (112) é
accionado. O SIEM é deste modo um conjunto de meios e acções extra-hospitalares,
hospitalares e inter-hospitalares, com intervenção activa dos vários componentes de
uma comunidade (pluridisciplinar), programados de modo a possibilitar uma acção
rápida, eficaz e com economia de meios em situações de doença súbita, acidentes e
catástrofes.
Para que este objectivo possa ser atingido foram criadas um conjunto de
etapas, que englobam os procedimentos executados em emergência pré-hospitalar e
que são designadas por fases de, detecção, alerta, pré-socorro, socorro, transporte e
tratamento em unidade de saúde.
2.3. O Instituto Nacional de Emergência Médica
O INEM é o organismo, tutelado pelo Ministério da Saúde, ao qual compete
assegurar o funcionamento, em território continental, do Sistema Integrado de
Emergência Médica, de forma a garantir aos sinistrados ou vítimas de doença súbita
uma prestação de cuidados de saúde pronta e eficaz. Fazem parte das principais
tarefas deste instituto, a prestação de socorro no local da ocorrência, o transporte
assistido das vítimas para o hospital adequado e a articulação entre os vários
estabelecimentos hospitalares.
5
No intuito de uma uniformização a nível europeu, em 1998 os diferentes países
da União Europeia, passaram a possuir um número de socorro comum, facilitando
assim a chamada e o acesso ao socorro de emergência. Portugal alterou então o
Número Nacional de Socorro 115, para o Número Europeu de Socorro, 112.
Em 2000 a população residente no território de Portugal Continental, coberta
pelo serviço 112, era de apenas 45% da área total, valor esse ultrapassado em 2003
para 73%. O INEM continuou a desenvolver esforços de modo a conseguir uma
cobertura nacional completa, tendo atingido 87% de cobertura em 2005 e chegado aos
100% em Agosto de 2006.
Este instituto possui em todo o país, quatro delegações regionais distribuídas
da seguinte forma: Norte, sediada no Porto; Centro, sediada em Coimbra; Lisboa e
Vale do Tejo, sediada em Lisboa e Algarve, sediada em Faro.
O INEM tem à sua disposição um vasto conjunto de meios de actuação no
terreno, que se dividem em, meios INEM, meios reserva e meios não INEM.
2.3.1. Meios INEM
Estes dividem-se em meios não medicalizados e, medicalizados. Os primeiros
são constituídos por Ambulâncias de Suporte Básico de Vida (SBV), Ambulâncias de
Suporte Imediato de Vida (SIV) e Motociclos de Emergência Médica. Os meios
medicalizados, ou seja, aqueles que têm um médico na sua tripulação, são as Viaturas
Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) e os Helicópteros de Emergência
Médica.
2.3.1.1. Ambulâncias SBV
São meios destinados à estabilização e transporte de doentes que necessitem
de assistência no local e durante o transporte ao hospital, cuja tripulação e
equipamento permitem providenciar a abordagem inicial a emergências médicas,
situações de trauma e a aplicação de suporte básico de vida. Estas ambulâncias são
tripuladas no mínimo por dois elementos, sendo que obrigatoriamente um deles terá o
curso de técnico de ambulância de socorro (TAS) e encontram-se sediadas em vários
pontos do país, quer associadas às diversas delegações do INEM, quer baseadas em
Corporações de Bombeiros (anexo I).
As ambulâncias operadas directamente pelo INEM estão munidas com
Desfibrilhador Automático Externo (DAE) e tem a particularidade de contar com dois
tripulantes que obrigatoriamente tem de possuir o curso TAS, sendo que pelo menos
um terá que ser operacional de DAE.
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2.3.1.2. Ambulâncias SIV
As Ambulâncias de Suporte Imediato de Vida (anexo II) foram criadas para
garantir cuidados de saúde diferenciados até estar disponível uma equipa com
capacidade de prestação de Suporte Avançado de Vida. Fazem parte da sua
tripulação, um enfermeiro e um TAS.
Em relação aos recursos técnicos, a carga desta ambulância é bastante mais
sofisticada que a de uma ambulância de Suporte Básico de Vida, estando acrescida
de um conjunto de outros equipamentos diferenciados e diversos fármacos. O
equipamento das SIV permite adicionalmente, através da utilização de um sistema
informático, a transmissão electrónica de diversos dados tais como,
electrocardiograma e sinais vitais directamente para o CODU.
2.3.1.3. Motociclos de Emergência
É um meio de socorro criado recentemente (apenas em 2004), que pela sua
agilidade no trânsito citadino quando comparado à de uma ambulância, permite a
chegada mais rápida do socorro ao local de ocorrência. Reside aqui a sua principal
vantagem em relação aos meios “tradicionais”. Dispõe de uma carga que permite a
adopção das medidas iniciais necessárias à estabilização das vítimas até que estejam
reunidas as condições para o seu eventual transporte. (anexo III).
2.3.1.4. Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER)
A Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) é um veículo
destinado ao transporte rápido de uma equipa médica directamente ao local onde se
encontra a vítima. Esta equipa consta de dois elementos, um médico e um enfermeiro
que terão obrigatoriamente de ser detentores do Curso de Viatura Médica de
Emergência e Reanimação com duração de 112 horas, ministrado pelo INEM. Dispõe
de equipamento para o Suporte Avançado de Vida em situações do foro médico ou
traumatológico. As VMER são meios que têm base hospitalar, funcionando como uma
extensão do Serviço de Urgência à comunidade e que tem como principal objectivo a
estabilização pré-hospitalar e o acompanhamento médico (sempre que se justifique)
durante o transporte de vítimas de acidente ou doença súbita (anexo IV).
2.3.1.5. Helicópteros de Emergência Médica
Os Helicópteros de Emergência Médica são utilizados tanto no transporte de
doentes graves entre unidades de saúde (transporte secundário) como entre o local da
ocorrência e a unidade de saúde (transporte primário), permitindo ainda em caso de
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necessidade, nomeadamente em situações de excepção, o transporte rápido de
equipas medicalizadas para qualquer ponto do país.
É meio de emergência médica que permite uma intervenção em tempo útil,
mesmo em longas distâncias e está equipado com material de Suporte Avançado de
Vida, sendo a tripulação composta por um médico, um enfermeiro e dois pilotos
(anexo V).
2.3.1.6. Viaturas de Intervenção em Catástrofe (VIC)
São veículos que adquirem especial importância em situações de excepção,
destinando-se a dar apoio aos operacionais destacados. Permitem transportar e apoiar
o Posto Médico Avançado (PMA), garantindo também a iluminação do local, o
transporte de material específico e o estabelecimento de telecomunicações (anexo VI).
Mais recentemente foi criado um novo meio, designado por: Nuclear
Radiológico Biológico Químico (NRBQ), que em conjunto com o Hospital móvel de
Campanha, actuam no sentido de acompanhar a crescente ameaça mundial de
atentados, catástrofes, calamidades ou acidentes graves, como forma de precaução
para estas eventualidades.
2.3.2. Meios Reserva
São habitualmente denominados por Ambulâncias Reserva, possuem
equipamento semelhante às ambulâncias INEM e estão sediados em Postos de
Emergência Médica (PEM) ou em Corporações com protocolos específicos com o
INEM.
2.3.3. Meios não INEM
São um conjunto de meios que podem ser utilizados no socorro de vítimas e
que não pertencem ao INEM:
Ambulâncias não INEM: pertencem às Corporações que são Postos de
Emergência Médica (PEM) mas que, mediante critério médico poderão ser accionadas
sendo o valor deste acto da responsabilidade do INEM.
Helicópteros da Força Aérea Portuguesa.
Helicópteros do Serviço Nacional de Bombeiros.
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2.3.4. Subsistemas do INEM
No sentido de uma maior fluência na prestação de socorro o INEM foi, ao longo
do tempo, de uma forma gradual, criando determinados subsistemas que o integram e
que proporcionam na prática um desempenho mais eficaz.
2.3.4.1. Centro de Informação Antivenenos (CIAV)
Foi o primeiro subsistema a ser criado (em 1982). É um centro médico que
funciona permanentemente, durante 24 horas, e que responde a consultas de técnicos
de saúde e da população em geral, em todo o país, independentemente do tipo de
intoxicação e, quer se trate de exposição humana ou animal. Este centro actua ainda
nas áreas da tóxico-vigilância, prevenção e ensino, dando apoio e emitindo pareceres.
2.3.4.2. Transporte de Recém-Nascidos de Alto Risco
Este subsistema começou por ser implementado na zona sul do país em 1987.
Em 1988 iniciou-se na zona norte e em 1989 na zona centro. Actualmente existem três
ambulâncias no país, sediadas no Porto, Coimbra e Lisboa, que funcionam 24 horas
por dia. O objectivo é o transporte, com acompanhamento de equipas especializadas
de médicos e enfermeiros com competência em neonatologia, dos recém-nascidos
que requeiram tratamento em cuidados intensivos neonatais, provenientes de
hospitais onde este tipo de cuidados não estejam disponíveis (anexo VII).
2.3.4.3. Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)
Este subsistema foi criado em 1987 e tem como principal objectivo avaliar os
diferentes pedidos de socorro no menor espaço de tempo, determinando, através de
protocolos de actuação, os recursos humanos e materiais a enviar para o local. Este
centro gere uma vasta rede de meios de socorro, assegurando uma criteriosa
selecção e mobilização dos meios a enviar. Compete-lhe ainda definir as unidades
hospitalares de acolhimento, mediante critérios geográficos e de recursos existentes
na unidade de saúde necessários para fazer face à situação. Assegura ainda o
acompanhamento permanente das equipas a operar no terreno, efectuando sempre
que necessário, de acordo com as informações clínicas recebidas, o contacto prévio
com a unidade hospitalar que irá receber o doente.
O INEM dispõe de quatro CODU’s em funcionamento: Lisboa, Porto, Coimbra e
Faro. O seu funcionamento é assegurado ao longo das 24 horas do dia por equipas de
profissionais qualificados (médicos, enfermeiros, e operadores de central de
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emergência) com formação específica para efectuar o atendimento, triagem,
aconselhamento, selecção e envio de meios de socorro.
2.3.4.4. Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar (CODU-MAR)
Foi criado em 1989 dadas as características peculiares do nosso país, que
dispõe de uma vasta costa marítima e uma elevada taxa de população dedicada ao
sector primário das pescas. A este subsistema compete assegurar o atendimento,
orientação médica e encaminhamento dos pedidos de socorro provenientes de
embarcações ou navios, de acordo com as regras nacionais e internacionais em vigor
nesse domínio e independentemente do local em que ocorram ou da nacionalidade.
2.3.4.5. Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC)
Foi criado mais recentemente e compete-lhe apoiar a população e as equipas
de emergência com vista ao desenvolvimento de estratégias activas de adaptação a
situações de crise. Este centro é formado por psicólogos que, sempre que a situação o
justifique, se deslocam ao local da ocorrência em viatura de emergência – Unidade
Móvel de Intervenção Psicológica em Emergência.
2.4. A Realidade da Cidade do Porto
No Porto, o INEM conta com o apoio de vários organismos que actuam na
cidade e que se encontram também ao serviço da emergência pré-hospitalar. Estas
entidades: Cruz Vermelha Portuguesa, Bombeiros Voluntários do Porto, Bombeiros
Voluntários Portuenses e os Bombeiros Sapadores do Porto, encontram-se
apetrechados de um conjunto de meios que são utilizados pelo INEM ao serviço da
emergência pré-hospitalar. Para além destes meios o INEM dispõe ainda de um
conjunto de outros, directamente operados por si. É ainda responsável pela activação
de Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) através de protocolo com
os vários hospitais do Porto.
No estágio que realizei, pude integrar equipas de emergência em ambulâncias
operadas directamente pelo INEM.
2.4.1. Meios Disponíveis no Porto
Para além dos meios referidos pertencentes aos Bombeiros e Cruz Vermelha,
o INEM opera directamente seis ambulâncias de suporte básico de vida, distribuídas
pela cidade e um motociclo de emergência. Na área do Grande Porto operam ainda
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mais cinco ambulâncias nestes moldes, as quais, em caso de necessidade, podem ser
accionadas para a cidade do Porto. Duas encontram-se sediadas em Vila Nova de
Gaia, uma em Rio Tinto, outra em Matosinhos e outra ainda na Maia.
Os meios directamente ligados à Delegação Regional Norte do INEM
encontram-se distribuídos por quatro grupos:
Quadro I: Meios que integram o Grupo I
Ambulância Localização
Porto 1 Delegação Regional Norte
Porto 4 Delegação Regional Norte
Porto 5 Hospital Militar
Motociclo de Emergência Delegação Regional Norte
Quadro II: Meios que integram o Grupo 2
Ambulância Localização
Porto 2 Hospital S. Joao
Porto 6 Centro Saúde Covelo
Rio Tinto 1 Centro Saúde Rio Tinto
Quadro III: Meios que integram o Grupo 3
Ambulância Localização
Porto 3 Centro Saúde Aldoar
Matosinhos 1 PSP de Matosinhos
Maia 1 Centro Saúde Castelo da Maia
Quadro IV: Meios que integram o Grupo 4
Ambulância Localização
Gaia 1 Monte da Virgem
Gaia 2 Serra do Pilar
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Este conjunto de ambulâncias operam preferencialmente nas áreas onde se
encontram situadas, no entanto, a qualquer momento, podem dar apoio e prestar
socorro fora dessas áreas que lhe estão atribuídas.
As Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação são duas na cidade do
Porto, encontrando-se outras duas, estacionadas em Vila Nova de Gaia e Matosinhos.
No Porto elas localizam-se no Hospital de Santo António e no Hospital de São João.
Em Vila Nova de Gaia, no Hospital Santos Silva e em Matosinhos, no Hospital Pedro
Hispano. É da responsabilidade destes hospitais garantir os elementos que tripulam
estes veículos (médico e enfermeiro)
2.4.2. O Socorro
2.4.2.1. Fases de Detecção e Alerta
Correspondem às duas primeiras fases do SIEM e são no fundo o primeiro
passo no desencadear de todo o processo de socorro.
A detecção corresponde ao momento em que alguém se apercebe da
existência de uma ou mais vítimas. O alerta corresponde ao momento em que se
contactam os serviços de emergência, contacto este que é feito através do número
europeu de socorro 112.
A partir do momento que este número é accionado, vai ser encaminhado para
Centrais 112.
A Central 112
Em Portugal Continental existem actualmente 18 Centrais 112, uma em cada
capital de distrito. São operadas maioritariamente por elementos da PSP que efectuam
a triagem e encaminhamento das chamadas feitas através do número europeu de
socorro, direccionando para a entidade adequada todos os pedidos de socorro que
envolvem as mais variadas situações:
Segurança: geridas pela própria PSP ou encaminhadas para a GNR.
Incêndio: encaminhadas para o CDOS (Protecção Civil)
Saúde: encaminhadas para o CODU (INEM).
A central 112 do Porto é operada por 4 elementos da PSP com alguma
formação em atendimento, que dispõem de equipamento telefónico e informático
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através do qual, recebem as chamadas, identificam rapidamente o tipo de situação
(segurança, incêndio ou saúde) e fazem o respectivo encaminhamento (anexo VIII).
Durante o ano de 2009 esta central recebeu um total de 899.027 chamadas.
Destas, 56% foram consideradas chamadas indevidas, ou seja, chamadas para as
quais não foram accionados meios de emergência (gráfico I).
Gráfico I – Chamadas recebidas pela Central 112 em 2009.
Das 56% de chamadas indevidas, 57% corresponderam a chamadas em que
não se verificou qualquer comunicação, 23% foram brincadeira e 20% não foram
consideradas emergência (gráfico II).
Gráfico II – Chamadas consideradas indevidas em 2009.
Das chamadas que justificaram accionamento de meios e que corresponderam
a 44% do total, 47% foram encaminhadas para o CODU, 41% foram geridas
internamente pela PSP, 7% foram enviadas para a GNR e 5% para o CDOS (gráfico
III).
56%44%
Chamadas 2009
Indevidas
Encaminhamento
57%23%
20%
Chamadas Indevidas
Sem Comunicação
Brincadeira
Não Emergente
13
Gráfico III – Encaminhamento das chamadas recebidas em 2009.
CODU
O CODU Norte funciona na Delegação Regional Norte, sita na cidade do Porto
(anexo IX). Neste centro colaboram várias classes de profissionais que juntos
interagem em prol de uma maior eficiência na recepção do pedido de ajuda e no envio
dos meios disponíveis necessários.
Nele trabalham 22 médicos, 21 enfermeiros e 66 operadores de central de
emergência (OPCEM). O CODU funciona 24 horas por dia, que se dividem em três
turnos (manhã, tarde e noite) de oito horas. Em cada turno encontram-se ao serviço, 2
médicos e 1 enfermeiro. O número de OPCEM varia consoante o turno em questão:
15 de manhã, 14 à tarde e 9 à noite.
Cabe ao médico assumir a responsabilidade por tudo quanto se passe no
CODU, tendo papel fundamental na autorização dos meios a enviar ao local mediante
a situação em causa. Os enfermeiros desempenham a função de receber os dados
que são transmitidos pelas equipas que se encontram no local de ocorrência. Os
OPCEM desempenham as funções de atendimento das chamadas de socorro, auxilio
dos enfermeiros na recepção dos dados e accionamento de meios para o local.
Deste modo, as chamadas que chegam ao CODU, são recebidas pelos
OPCEM, que colhem os dados necessários para a prestação do socorro. Chamadas
essas que são supervisionadas pelos médicos reguladores, que adicionam a cada
chamada os meios de emergência que consideram adequados para enviar ao local.
Essa informação é enviada aos OPCEM responsáveis pelo accionamento que, através
de equipamento rádio ou via telefone, activam os respectivos meios. A informação
relativa a cada uma das situações de emergência para a qual foram enviados meios é
posteriormente transmitida ao CODU pelas equipas de emergência no local.
47%41%
7%5%
Accionamento
CODU
PSP
GNR
CDOS
14
Actualmente o CODU Norte abrange os distritos de Viana do Castelo, Braga,
Vila Real, Bragança, Porto e as zonas norte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda.
Durante o ano de 2009 este Centro de Orientação de Doentes Urgentes
recebeu um total de 560.579 chamadas, das quais, cerca de 54,5 % justificaram o
envio de meios ao local de ocorrência.
2.4.2.2. Fase de Pré-Socorro
Esta fase corresponde ao aconselhamento supervisionado pelo médico
regulador do CODU no momento do contacto. Consiste num conjunto de medidas
transmitidas à pessoa que contactou através da linha 112, no sentido de ajudar a
vítima até à chegada das equipas de emergência.
2.4.2.3. Fase de Socorro
Esta fase inicia-se a partir do momento em que o CODU acciona os meios
necessários para se dirigirem ao local da ocorrência. É desempenhada por médicos,
enfermeiros e tripulantes de ambulância de socorro (TAS).
Durante o estágio que realizei no terreno, integrei equipas de TAS, numa das
ambulâncias operadas directamente pelo INEM (Ambulância Porto 1), pelo que farei a
descrição do socorro prestado por estes profissionais.
As ambulâncias de socorro, que são operadas directamente pelo INEM,
possuem uma equipa que deve ser constituída pelo menos por dois elementos, tendo
ambos que ser obrigatoriamente detentores do curso de tripulante de ambulância de
socorro ministrado pelo INEM ou por organismos reconhecidos como idóneos. Pelo
menos um dos tripulantes deve ser operacional de condução, através da aprovação de
um curso de condução defensiva, e outro deve ser operacional de desfibrilhador
automático externo (DAE).
O curso TAS ministrado pelo INEM possui uma carga horária de 210 horas, das
quais 64 horas correspondem a sessões teóricas, 146 horas são sessões práticas e 8
horas correspondem a estágio em Ambulâncias INEM. O conteúdo programático deste
curso é da responsabilidade do INEM, assim como todo o processo de gestão e
acompanhamento da qualidade da formação prestada, quer pelos seus formadores
internos, quer pelas entidades externas acreditadas para o efeito (Portaria n.º
1147/2001 de 28 de Setembro).
15
Estes tripulantes de ambulância de socorro devem estar aptos a proceder à
avaliação das vítimas, identificar e aplicar as medidas de emergência de acordo com a
situação clínica das mesmas, executar manobras de reanimação cardio-respiratória,
proceder à remoção e imobilização das vítimas do foro traumatológico, tripular viaturas
de emergência médica pré-hospitalar, proceder à remoção e extracção de vítimas
encarceradas, colaborando nas técnicas de desencarceramento e desobstrução.
Deste modo os tripulantes de ambulância desempenham um conjunto de
procedimentos bem definidos e com metodologias padronizadas, que permitem
reconhecer as situações de perigo de vida eminente, saber como e quando pedir ajuda
e saber iniciar de imediato manobras que contribuam para a preservação da ventilação
e circulação de forma a manter a vítima viável até que possa ser instituído o
tratamento médico adequado e eventualmente se restabeleça o normal funcionamento
respiratório e cardíaco.
Os tripulantes de ambulância, através de conhecimentos adquiridos durante a
sua formação, auxiliam ainda a equipa médica nas manobras de Suporte Avançado de
Vida (SAV) que correspondem a um conjunto de medidas suplementares que
optimizam a função cardio-respiratória aumentando assim a possibilidade de
sobrevivência das vítimas.
A ambulância é um veículo com características e dimensões adaptadas às
funções a que se destina (estabilização e transporte de doentes) e que tal como a
carga que a compõe, se encontra definida por lei.
As ambulâncias dividem-se interiormente em dois sectores distintos: a célula
sanitária e a cabine de condução, que são separadas através de uma divisória rígida e
fixa.
A célula sanitária
A célula sanitária é a zona nobre de qualquer ambulância, uma vez que é
nessa área que são socorridos e transportadas as vítimas. Este compartimento deve
permanecer com as máximas condições de higiene e todo o equipamento e material
nela contido devem estar colocados nos respectivos locais que lhes são destinados.
O equipamento que faz parte destes veículos encontra-se regulamentado em
diário da república (anexo X). Este material encontra-se dividido em equipamento
para: transporte e mobilização, imobilização, diagnóstico, controlo de via aérea e
ventilação, controlo cardiovascular, desinfecção e penso, protecção pessoal, busca e
protecção, telecomunicações e algum material diverso.
16
A cabine de condução
Este compartimento, também conhecido por habitáculo do condutor, deve
possuir condições de segurança e conforto adequados. Alem do banco do condutor,
só deve existir um outro banco, que não pode ser utilizado para o transporte de
doentes.
O Accionamento
O accionamento das ambulâncias pode ser feito por duas vias. Através de um
equipamento rádio que deve munir todas as ambulâncias, ou, através de chamada
telefónica. A activação através de rádio encontra-se cada vez mais em desuso, dada a
maior facilidade e rapidez da utilização do telemóvel. No entanto, este equipamento
encontra-se disponível e pode ser utilizado a qualquer momento uma vez que todos os
tripulantes de ambulância estão habilitados a opera-lo. Ele revela-se de especial
importância em situações em que haja sobrecarga das linhas telefónicas que tornem
difícil o contacto por esta via.
No momento da activação, são transmitidos aos tripulantes os dados
essenciais acerca da situação de emergência em causa. Desses dados constam, sexo
da vítima, idade, resumo breve daquilo que motivou a chamada 112 e morada,
procurando-se que esta informação seja transmitida da forma mais célere possível.
Após a recepção destes dados, a ambulância dirige-se para o local da
ocorrência em marcha de emergência.
A partir do momento em que a ambulância é accionada e no decorrer de toda a
prestação de socorro, os tripulantes informam o CODU da situação operacional em
que se encontram, utilizando para isso um conjunto de códigos ou “status” que são
enviados via rádio, e que são interpretados no CODU, permitindo saber a todo o
momento qual a situação da ambulância.
No local
Uma vez no local, é fundamental e prioritário garantir as condições de
segurança, isto é, garantir que da prestação do socorro não resulta perigo, quer para a
vítima, quer para a equipa.
Apenas após esta garantia, se procede à avaliação da vítima, que se divide-se
em dois níveis, Exame Primário e Exame Secundário.
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Exame primário
Durante este exame é essencial que se identifiquem e corrijam as situações de
perigo imediato de vida. Este exame assenta uma nomenclatura internacional, A B C D
E que deriva da língua inglesa (A-airway, B-breathing, C-circulation, D-disability, E-
exposure) e que correspondem a um conjunto de passos a seguir pelos profissionais
de socorro.
A (Airway) – Permeabilização da via aérea
Corresponde ao primeiro passo e tem como objectivo garantir que a via aérea
da vítima se encontra desobstruída e se necessário, proceder à sua desobstrução.
É por isso fundamental verificar a cavidade oral, procurando a existência de
corpos estranhos, removendo-os. Se necessário com recurso a equipamento auxiliar.
B (Breathing) – Ventilação e C (Circulation) – Circulação
A pesquisa de sinais de ventilação e circulação efectua-se apenas após a
garantia de uma via aérea permeável. Reveste-se de especial importância em vítimas
inconscientes, uma vez que em vítimas conscientes estes sinais estão
automaticamente garantidos. Actualmente são pesquisados em simultâneo, durante 10
segundos, nos quais o TAS vê se o tórax expande, ouve a passagem de ar pelas vias
aéreas, sente a expiração na face e procura sentir pulso (VOSP).
Se após a pesquisa destes sinais verificamos que a vítima não tem sinais de
ventilação nem de circulação, ou se, tendo sinais de circulação não ventila, iniciamos
Suporte Básico de Vida. Em vítimas conscientes ou inconscientes mas que ventilam,
avaliamos a eficácia e qualidade da ventilação e avançamos para o passo seguinte.
D (Disability) – Disfunção neurológica
Avaliação do nível de consciência, estado das pupilas e resposta motora.
a) Nível de consciência
É avaliado através da utilização da escala AVDS, correspondendo o A ao
estado alerta, V – resposta a estímulos verbais, D – resposta a estímulos dolorosos e
S – ausência de resposta.
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b) Estado das Pupilas
Consiste na avaliação do tamanho (normais, midríase/dilatadas,
miose/contraídas), simetria (isocóricas/simétricas, anisocóricas/assimétricas) e,
reactividade à luz (foto-reactivas ou arreactivas), das pupilas (figura I).
Figura I: Estado das pupilas
c) Lateralização da resposta motora
Esta pesquisa tem por objectivo avaliar a sensibilidade, mobilidade e força dos
membros em ambos os hemi-corpos, comparando-as, pedindo à vítima que aperte em
simultâneo os membros de ambos os lados. Em vítimas inconscientes esta pesquisa
efectua-se através de estímulos dolorosos.
E (Exposure) – Exposição com controlo de temperatura
Corresponde à ultima etapa do exame primário e consiste na exposição do
corpo da vítima, pesquisando sinais de gravidade, tendo o cuidado de expor apenas o
necessário e, tanto quanto possível, efectuando este procedimento já no interior da
ambulância de modo a respeitar a privacidade da vítima e procurando sempre manter
a temperatura corporal estabilizada com o recurso, se necessário, ao uso da manta
isotérmica ou aquecimento da célula sanitária.
Durante ou findo o exame primário é necessário decidir se existem critérios de
gravidade. Em caso afirmativo contacta-se de imediato o CODU, em caso negativo
avançamos para o exame secundário.
19
Exame Secundário
Tem por objectivo identificar situações que não colocam a vítima em perigo
imediato de vida, mas que se não forem corrigidas poderão agravar o seu estado
geral.
Deste exame constam: avaliação dos sinais vitais, avaliação da glicemia
capilar, recolha de informação e observação geral.
a) Sinais Vitais
Avaliação da Ventilação, Pulso, Tensão Arterial (TA) e Temperatura corporal.
A ventilação é avaliada quanto à sua frequência (n.º de ciclos por minuto),
amplitude (superficial, normal ou profunda) e ritmo (regular ou irregular), sendo que o
seu valor normal se situa entre os 12 e os 16 ciclos/minuto. Entende-se por bradipneia
uma frequência ventilatória menor que 12 ciclos/minuto e por taquipneia uma
frequência ventilatória maior que 20 ciclos/minuto.
O pulso é igualmente avaliado quanto à sua frequência (n.º batimentos por
minuto), amplitude (pulso cheio ou fino) e ritmo (regular ou irregular). Consideram-se
valores normais de frequência cardíaca, 60 a 90 batimentos/minuto, sendo
considerado bradicardia valores menores que 60 batimentos/minuto e taquicardia,
valores maiores que 90 batimentos/minuto.
A TA é avaliada através do uso do estetoscópio e esfigmomanómetro,
procurando, dentro do possível, colocar a vítima numa posição confortável e relaxada,
de forma a uma melhor aplicação da técnica.
A avaliação da temperatura é feita com recurso a um termómetro digital, sendo
normalmente medida a temperatura axilar, considerando-se como, hipotermia (<
35,0ºC), hipertermia (> 37,5ºC).
b) Glicemia Capilar
Sendo que o açúcar (glicose) existente no sangue é a principal fonte de energia
das células e que na ausência deste não é possível a sua sobrevivência, a avaliação
da concentração de glicose no sangue (glicemia) reveste-se de crucial importância.
20
Valores inferiores a 50 mg/dL correspondem a um estado de hipoglicemia e
valores acima de 200 mg/dL significam a existência de hiperglicemia.
A determinação do valor da glicemia é feita com o recurso a uma máquina de
glicemia capilar que lê uma tira de glicemia na qual é colocada uma gota de sangue
colhida frequentemente através de punção digital.
c) Recolha de Informação
Esta é uma etapa essencial e que poderá ser de extrema importância no
tratamento intra-hospitalar. Os TAS procuram recolher através da vítima, familiares,
testemunhas ou outros, algumas informações importantes que podem ser úteis no
socorro da vítima. Esta recolha é efectuada utilizando a referência CHAMU:
C – Circunstancias em que se deu a situação
H – História anterior de doenças da vítima
A – Alergias
M – Medicação habitual
U – Última refeição
Durante a actuação da equipa de emergência é necessário ressalvar situações
que possam envolver a necessidade de investigação policial, sendo deste modo
extremamente importante respeitar o local da ocorrência, mexendo apenas naquilo
que é estritamente necessário para se poderem prestar os cuidados adequados à
vítima.
d) Observação Geral
Esta observação consiste num exame sistematizado desde a cabeça até aos
pés da vítima, procurando identificar lesões que possam ter escapado à observação
no exame primário.
A este conjunto de procedimentos que constituem a coluna dorsal da actuação
da equipa de emergência no local, juntam-se um vasto leque de técnicas e acções que
são aplicadas, de forma particular, às variadas situações de emergência que podem
surgir.
De entre estas técnicas, destacam-se pela sua relevância em situações muitas
vezes fatais de paragem cardio-respiratória ou trauma grave, as manobras de Suporte
21
Básico de Vida e algumas Técnicas de Imobilização que foram aplicadas na prestação
de socorro às vítimas durante este estágio.
O Suporte Básico de Vida
O SBV é um conjunto de procedimentos com metodologias padronizadas que
tem como objectivo reconhecer as situações de perigo de vida iminente e saber iniciar
de imediato, manobras que contribuam para a preservação da ventilação e da
circulação, de modo a manter a vítima viável até que possa ser instituído o tratamento
médico adequado e, eventualmente, se restabeleça o normal funcionamento
respiratório e cardíaco. É importante realçar que as manobras de SBV não são, por si
só, suficientes para recuperar a maior parte das vítimas de paragem cardio-
respiratória. O seu principal papel destina-se a ganhar tempo, mantendo parte das
funções vitais até à chegada do Suporte Avançado de Vida (SAV) que é administrado
com a chegada da VMER ao local.
As manobras de SBV são efectuadas pelos TAS após a confirmação de que a
vítima se encontra em paragem ventilatória ou em paragem cardio-respiratória, sendo
efectuadas ventilações assistidas (no primeiro caso) ou ventilações assistidas
associadas a compressões torácicas (no segundo).
Técnicas de Imobilização
As técnicas de imobilização são utilizadas em vítimas em que haja suspeita de
lesão traumática e tem como propósito mover a vítima apenas o necessário para a sua
correcta remoção e imobilização.
Dependendo do mecanismo de trauma e das queixas da vítima, existe um
conjunto de técnicas que podem ser aplicadas tais como: estabilização cervical com
alinhamento manual, aplicação de colar cervical, rolamento, levantamento, aplicação
do colete de extracção e, remoção do capacete, que tem como objectivo manter a
região cervical alinhada numa posição neutra até que a vítima esteja completamente
imobilizada.
Após a aplicação do conjunto de medidas necessárias ao socorro das vítimas
efectua-se o preenchimento de um verbete (anexo XI) onde é documentada toda a
informação relevante relativa à situação da vítima. Esta informação é então transmitida
ao CODU, que regista os dados transmitidos e autoriza o transporte à Unidade
Hospitalar.
22
Em situações extremamente graves cabe ao CODU informar o Hospital de
destino que irá receber uma vítima grave no sentido de tornar o procedimento mais
célere, entrando a vítima nestas ocasiões directamente na sala de emergência do
Hospital.
Durante o estágio, sempre que uma vítima recusou o transporte ao Hospital,
esta facultou a sua identificação de acordo com o Bilhete de Identidade e assinou o
referido verbete atestando a recusa em ser transportada pela equipa de emergência e,
que lhe foram transmitidos os riscos decorrentes dessa decisão.
2.4.2.4. Fase de Transporte
Nesta fase, após a estabilização da vítima, o médico responsável (do CODU ou
no local) toma a decisão do transporte. Sob a filosofia “o doente certo no sítio certo”, o
doente é encaminhado para a unidade de saúde que mais se adequa à sua situação
clínica, sendo normalmente encaminhado para os Serviços de Urgência Hospitalares.
O transporte é feito levando em linha de conta o local de ocorrência da situação
de emergência. Na cidade do Porto ele é feito maioritariamente para o Hospital de São
João ou para o Hospital de Santo António (Centro Hospitalar do Porto), de acordo com
a freguesia de ocorrência.
Deste modo, por regra, as emergências ocorridas nas freguesias de Paranhos,
Campanhã e Bonfim, drenam para o Hospital de São João. As situações ocorridas nas
freguesias de Aldoar, Ramalde, Cedofeita, Foz do Douro, Lordelo do Ouro,
Massarelos, Miragaia, Nevogilde, São Nicolau, Santo Ildefonso, Sé e, Vitória, drenam
para o Hospital de Santo António.
São excepções a esta regra, as situações do foro psiquiátrico ou pediátrico,
que são encaminhadas para o Hospital de São João e, as situações do foro obstétrico
que são encaminhadas para qualquer destes hospitais ou para a Maternidade Júlio
Dinis (Centro Hospitalar do Porto), de acordo com o local onde a grávida tem sido
acompanhada.
2.4.2.5. Fase de Tratamento em Unidade de Saúde
Uma vez na unidade de saúde o procedimento da equipa de emergência é abrir
a ficha do doente e posteriormente efectuar a passagem do mesmo na triagem da
urgência, transmitindo ao enfermeiro(a) os dados relevantes acerca da vítima e
entregando-lhe o duplicado do verbete.
23
2.4.3. Dados Estatísticos
Durante este estágio, no qual 120 horas foram realizadas com os tripulantes de
ambulância, no terreno integrei a equipa de emergência em 54 activações.
Destas, 26,0% corresponderam a situações de trauma (gráfico IV), 72,2% a
situações de doença súbita (gráfico V) e 1,8% a chamadas falsas.
Gráfico IV: Distribuição das Situações de Trauma.
Gráfico V: Distribuição das Situações de Doença Súbita.
Queda (etilismo)
36%
Agressão (etilismo)
14%
Agressão14%
Queda22%
Ataque animal7%
Acidente Viação
7%
Trauma
28,2%
15,4%
10,3%7,7%
5,1% 5,1% 5,1%2,6% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6%
Doença Súbita
24
Das situações de emergência ocorridas, 43,4% corresponderam a socorro de
vítimas no domicílio, 32,1% na via pública, 11,3% em espaços públicos, 11,3% em
lares de acolhimento e 1,9% em esquadras da PSP.
60,4% das activações foram para vítimas do sexo masculino e 39,6% para
vítimas do sexo feminino. As idades das vítimas às quais foram prestados cuidados
durante este período variaram entre os 13 anos e os 89 anos (gráfico VI).
Gráfico VI: Distribuição de Socorro por idades.
A partir do momento de recepção da chamada, a equipa demorou um tempo
médio de 00:05:46 minutos a chegar ao local. O tempo médio de permanência no local
de ocorrência foi de 00:17:23 minutos, o tempo médio de chegada ao hospital a partir
do local de ocorrência situou-se nos 00:06:49 minutos e o tempo médio de
permanência no hospital foi de 00:11:55 minutos.
A ambulância na qual tive a oportunidade de estagiar “Ambulância Porto 1”,
encontra-se estacionada na Delegação Regional Norte, na zona centro da cidade. A
distribuição por freguesias para as quais este meio foi accionado encontra-se no
gráfico VII.
6%
17%
23%
28%
26%
Faixa etária (anos)
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
25
Gráfico VII: Distribuição do Socorro por freguesias.
Durante este período em 81,1% das situações houve transporte das vítimas. O
encaminhamento das vítimas transportadas encontra-se no gráfico VIII. No que se
refere às vítimas não transportadas (18,9%), em 55,6% da situações deveu-se a
recusa da vítima, em 33,3% a morte no local e em 11,1% a decisão médica.
Gráfico VIII: Encaminhamento das vítimas transportadas.
Esta ambulância, durante este período cooperou com a PSP em 1,9% das
situações e em 9,4% das operações, com as VMER de Santo António ou São João.
26,4%
20,7%
13,2% 13,2%
9,4%
3,8% 3,8% 3,8%1,9% 1,9% 1,9%
Freguesias
Hospital de Santo António
70%
Hospital São João30%
Vitimas transportadas
26
3. CONCLUSÃO
O estágio que tive oportunidade de realizar permitiu-me compreender aquilo
que é actualmente a Emergência Pré-Hospitalar no nosso país, e de um modo
particular na cidade do Porto. Ao longo do período que tive oportunidade de passar
pelo INEM foi-me possível entender a forma de funcionamento do SIEM, bem como
dos organismos que o constituem, mormente do INEM, o organismo motor de todo o
SIEM.
Neste espaço de tempo em que pude aceder a variada documentação, foi
igualmente possível perceber quais os meios existentes ao serviço da emergência no
nosso país nomeadamente na cidade do Porto, e o modo como operam no terreno.
Ficou claro também a forma como se processa toda emergência a partir do momento
em que o número europeu de socorro é accionado até ao momento em que a vítima é
transportada ao hospital.
Durante o período que passei pela Ambulância Porto 1, na qual participei em
54 activações, pude ainda constatar que a maioria corresponderam a vítimas de
doença súbita, essencialmente dispneia ou dor torácica que pertenciam a uma faixa
etária acima dos 40 anos e eram maioritariamente do sexo masculino.
Finalmente foi também perceptível que quase metade do socorro prestado por
esta ambulância ocorreu nas freguesias de Santo Ildefonso e Bonfim, sendo que a
grande maioria das vítimas socorridas foram transportadas ao hospital.
27
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Assistência. DR I Série n.º 274 de 22 de Novembro de 1971.
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Committee of the Red Cross, 1995.
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