Relatório da participação na mesa-redonda - CEBRI - 26.03.2013
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RELATO SOBRE A MESA-REDONDA “A NOVA CONFIGURAÇÃO
INTERNACIONAL DOS BANCOS DE DESENVOLVIMENTO”
Ricardo Verdum,
Consultor
1. Introdução
A mesa-redonda foi uma realização pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais
(CEBRI). Aconteceu na manhã do dia 26 de março, no Auditório da ACRJ-Associação Comercial
do Rio de Janeiro, localizado próximo da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Centro da
cidade do Rio de Janeiro. Aproximadamente oitenta pessoas conformaram a plateia, entre elas
pessoas do BNDES, FGV, BID, estudantes e pesquisadores acadêmicos etc.
O evento tinha dois objetivos: o primeiro, lançar o artigo intitulado “Explaining the
BNDES: what it is, what it does and how it Works”, de autoria de Seth Colby, pesquisador
visitante do CEBRI1.
O segundo objetivo foi realizar dois painéis, que tinham em comum o objetivo específico
de estimular a reflexão acerca do processo de internacionalização dos chamados bancos de
desenvolvimento e suas implicações e oportunidades para o setor privado – empresarial e
financeiro2. Este era basicamente o foco e/ ou a perspectiva do evento. Quando do início da
organização da mesa-redonda, havia entre o pessoal do CEDRI a expectativa de contar com a
participação, como palestrante, de representante do Banco de Desenvolvimento da China
(China Development Bank Corporation - CDB); expectativa, ao final, frustrada3.
2. Abertura
Os trabalhos foram abertos pelo Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente
do Conselho Curador do CEBRI. Castro Neves buscou chamar atenção para as transformações
recentes no financiamento do desenvolvimento: na sua avaliação os bancos nacionais de
desenvolvimento (NDBs, sigla em inglês) estão assumindo o espaço e os papéis, até bem pouco
tempo atrás, ocupado pelos bancos multilaterais de desenvolvimento (MDBs, sigla em inglês);
de bancos nacionais, vários estão se tornando bancos internacionais. O BNDES, por exemplo,
tem atuação em outros países da América latina e no Continente Africano. O mesmo acontece
com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) e o Banco de Desenvolvimento Alemão
(Kreditanstalt für Wiederaufbau - KfW).
1 O artigo: http://www.cebri.org/midia/documentos/bndes.pdf. 2 A programação: http://www.cebri.org/midia/documentos/programa_atualizado_25.03.pdf. 3 Fundado em 1994, o CDB é especializado em empreendimentos que necessitam de financiamento de médio e de longo prazo; é o principal financiador das infraestruturas e das indústrias de base da China. No final de fevereiro deste ano (2013) o CDB inaugurou um escritório de representação no Rio de Janeiro. http://www.cdb.com.cn/english/
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3. Fases do financiamento ao desenvolvimento
Na condição de autor do paper e moderador do primeiro painel, Seth Colby iniciou
estabelecendo uma periodização na história do financiamento ao desenvolvimento. A primeira
fase iniciaria após o final da Segunda Guerra Mundial, com a criação de bancos como o Banco
Mundial (1945), o KfW em 1948, e o BNDE- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
(hoje BNDES) em 1952, esse último com o objetivo de formular e executar a política nacional
de desenvolvimento econômico brasileira.
Segundo Seth, o BNDE tinha entre suas principais atribuições na época a de internalizar
no país os recursos financeiros vindos especialmente dos Estados Unidos – na forma de
investimento direto externo, empréstimos e financiamentos - como parte da política de
cooperação financeira daquele país com o Brasil; vivia-se, então, no contexto da chamada
Guerra Fria4. Também tinha (e ainda tem) o papel de mobilizar a poupança pública, captar
recurso financeiro nos mercados interno e externo, e canalizar o recurso arrecadado para dar
corpo à política de fomento à industrialização do país.
Nos anos 1980 e 1990, a maior abertura e integração dos mercados financeiros significou
um novo momento para os bancos de desenvolvimento. Cresce o interesse e redefine-se o
papel desses bancos; estamos no contexto da liberalização das economias.
Ao se referir a última década, lançando a pergunta sobre qual seria hoje o papel dessas
instituições político-financeiras, a resposta-hipótese de Seth não é nada inovadora, ao menos
no caso brasileiro, isto é, do BNDES visto do ponto de vista histórico. Ele vai dizer que entre os
papeis dos BDs na atualidade estaria incentivar as economias, disseminar conhecimentos,
atuar de maneira anticíclica e implementar as políticas industriais; e mais, que têm papeis
permanentes e papeis temporários.
4. Painel 1 - Os novos papeias dos BDs em uma economia globalizada
Moira Paz-Estenssora, diretora representante da CAF no Brasil foi a primeira
debatedora. Afirma que a pareceria da CAF com o CEBRI vem de muitos anos, especialmente
nos campos da geração de conhecimento e do intercâmbio de experiências.
4 O BNDE foi criado em 1952 com a principal incumbência de administrar os recursos do Fundo de Reaparelhamento Econômico (FRE) que surgiu de um acordo de cooperação firmado entre o governo brasileiro, o Banco Mundial (BIRD) e o Banco de Exportação e Importação (Ex-Im Bank) estadunidense, com a finalidade de financiar as importações de máquinas e equipamentos considerados necessários aos projetos de desenvolvimento sugeridos pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico (CMBEU). Como financiador de longo prazo, o BNDE ia ter um papel central no que se entendia então ser a estratégia adequada para modernizar e expandir o Setor Elétrico brasileiro, bem como os sistemas de transportes (na época, principalmente as ferrovias). Sobre a participação do BNDES no desenvolvimento do Setor Elétrico brasileiro conferir: www.bndes.gov.br/conhecimento/resposta.asp?setorTema=Energia+El%E9trica&offset=0 Em 2012, ano em que o BNDES completou 60 anos de existência, foram lançadas duas publicações institucionais, são elas: "BNDES 60 anos: perspectivas setoriais", disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Paginas/livro_bndes60anos_perspectivas_setoriais.html; e “BNDES: um banco de história e do futuro", disponível em http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro/livro_BNDES_um_banco_de_historia_e_do_futuro.pdf
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Para ela, afirma, um bom banco de desenvolvimento tem de ter capacidade de captar
recursos financeiros; tem de promover no país ou nos países em que atua uma agenda de
desenvolvimento integral, não somente de infraestrutura. Especialmente no caso da CAF, tem
de ser flexível o suficiente para cumpri sua missão em meio à diversidade de circunstâncias
políticas, econômicas, sociais, culturais e ideológicas efetivamente existentes na região latino-
americana. Não deve ter uma receita única, deve ser flexível ideologicamente, e isso é inerente
ai processo democrático vivido na região na atualidade.
Remetendo sua fala quase sempre a sua experiência na CAF, Moira irá afirmar que um
BD, para obter sucesso, deve ser inovador, prestar serviços, auxiliar na captação de recursos
financeiros nos momentos em que há uma retração ou mesmo, até, o fechamento dos
mercados financeiros, ser um instrumento catalizador, tanto do setor público quanto do
privado.
No caso específico da CAF, deve também auxiliar no fluxo do recurso financeiro para e
entre os diferentes países, o que exige adotar uma identidade regional. A CAF foi criada pelos e
para os países da Região Andina em 1970; nos anos 1990 Brasil e Argentina foram integrados,
juntamente com Portugal e Espanha, e a partir de 2008 todos os países do Mercosul, mais o
Panamá, passaram a ser sócios plenos.
Moira irá afirmar que pelos estatutos todos os países são proprietários e beneficiários
dos recursos financeiros alavancados; sendo a CAF na atualidade o único banco regional na
América Latina com grande capacidade de captação. Em 2012, cerca de 12 milhões de dólares
foram captados pelo Banco, dois quais 20% foram repassados aos setores públicos e privado
brasileiro, inclusive para bancos comerciais, para serem utilizados como crédito à exportação.
A CAF vem também “apoiando financeiramente” as exportações de matérias primas e as
estratégias dos países no campo da infraestrutura; não somente em obras de infraestrutura,
mas também em educação e capacitação, C&TI (ciência, tecnologia e inovação) etc.
Afirma ainda que a CAF está hoje no primeiro lugar entre as organizações internacionais
que financiam as infraestruturas na Região Andina e na América Latina; mais que o Banco
Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Além disso, segundo Moira, a CAF foi um dos principais impulsionadores do BNDES para
que passasse a atuar fora do país; a financiar bens e serviços em e para outros países na região
sul-americana; bem como financiar empréstimos aos demais países.
Para finalizar, faz uma sutil crítica a atuação do BNDES na região. Diz que o banco
necessita, ainda, adotar critérios menos rígidos, ser mais flexível, aprender a adaptar-se às
condições socioculturais e político-ideológicas dos demais países. Retoma, assim, o assunto
das características que deve ter um bom banco de desenvolvimento.
A segunda debatedora do primeiro painel foi a economista Ana Cláudia Além, assessora
da presidência do BNDES com 20 anos de atuação profissional na instituição; e editora das
publicações Revista do BNDES, Sinopse Internacional e Carta Semanal. 5
5 A debatedora organizou junto com Fabio Giambiagi a coletânea intitulada O BNDES em um Brasil em transição (BNDES, 2010), onde assina junto com Rodrigo Madeira o artigo “Internacionalização e competitividade: a importância da criação de empresas multinacionais brasileiras”. Cf. em: www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro_brasil_em_transicao/brasil_em_transicao_completo.pdf
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Segundo Ana Cláudia, o BNDES tem sido considerado um banco de desenvolvimento que
soube como agir e rapidamente diante da situação de crise do sistema financeiro
internacional. Ao contrário de outros, optou por adotar uma política anticíclica.
Durante sua exposição apontou, nas suas palavras, alguns mitos em relação aos bancos
de desenvolvimento que necessitam ser descontruídos. Um desses mitos é o de que banco de
desenvolvimento não é uma instituição viável em países subdesenvolvidos, só países como
Alemanha, França, Canadá e Japão, por exemplo, teriam condições disso.
Outro mito a ser desconstruído seria o que afirma que BDs são instituições de vida
temporária. Ao contrário, são instituições permanentes; são fundamentais para impor
dinâmicas anticíclicas e para catalisar processos quando o setor privado recua ou não quer
correr riscos. Como a economia é dinâmica, há sempre a novidades e nem sempre o setor
privado quer correr riscos, especialmente em situações em que se faz necessário investimento
de longo prazo ou a adoção de uma postura de enfrentamento do risco diante do desafio da
inovação. Então o BD pode e deve entrar para mostrar o caminho, a viabilidade. Sita como
exemplos os setores a “economia social e ambientalmente responsável", a “economia verde”,
as “energias renováveis”, a descoberta de “novos nichos”, as inovações tecnológicas etc. Sita
também as demandas de infraestrutura para o crescimento econômico como outra linha de
investimentos; algo permanente que necessita de bancos do tipo BDs.
Ana Cláudia vai mencionar ainda a criação do International Development Finance Club
(IDFC), que associa 19 bancos nacionais, sub-regionais e regionais de desenvolvimento da
África, Ásia, Europa e América Latina, entre eles o BNDES. Ana Cláudia coordena uma equipe
responsável por pesquisas e preparam um documento marcando a posição do BNDES no Club.
Atualmente, a presidência é ocupada pelo KfW, da Alemanha, e a vice-presidência é
compartilhada entre BNDES, CAF, DBSA, JICA, AFD e CDG.6
Por fim, destacaria da fala de Ana Cláudia a afirmação de que os BDs devem ter uma
ação complementar ao setor privado, devem buscar parcerias (Parcerias Público-Privadas).
O terceiro debatedor foi o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, atual presidente
do Conselho Curador do CEBRI. Inicia sua exposição com uma breve contextualização da
criação dos chamados bancos de desenvolvimento no pós-Guerra (a Segunda); passa em
6 O IDFC foi fundado oficialmente em 26 de agosto de 2011, pelos presidentes e diretores das instituições membros, durante um encontro realizado na cidade estadunidense de Washington. O financiamento do clima, da infraestrutura ecológica e do desenvolvimento social são os três principais temas estratégicos da agenda do IDFC para o período 2011-2014. Estima-se que os ativos totais do Club sejam superiores a US$ 2,1 bilhões. Há uma entrevista do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, sobre o IDFC, disponível em: http://www.abde.org.br/uploads/26122012152764576%207%20e%208.pdf Fazem parte do Club as seguintes instituições: Agence Française de Développement (AFD), França; Banco Estado (BE), Chile; Bancoldex S.A., Colombia; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Brasil; Black Sea Trade and Development Bank (BSTDB), Grécia; Caisse de Dépôt et de Gestion (CDG), Marrocos; Central American Bank for Economic Integration (BCIE/CABEI), Honduras; China Development Bank (CDB), China; CAF – Development Bank of Latin America; Croatian Bank for Reconstruction and Development (HBOR), Croácia; Development Bank of Southern Africa (DBSA), África do Sul; Indonesia Exim Bank, Indonésia; Industrial Development Bank of Turkey (TSKB), Turquia; Japan International Cooperation Agency (JICA), Japão; KfW Bankengruppe, Alemanha; Korea Finance Corporation (KoFC), Coréia do Sul; Nacional Financiera (NAFIN), México; Small Industries Development Bank of India (SIDBI), Índia; e Vnesheconombank (VEB), Rússia. Documentos relevantes: o Relatório de Mapeamento de Finanças Verdes do IDFC e o Documento de Posição sobre Alavancagem de Fundos Privados e Públicos, disponíveis em http://www.idfc.org
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seguida a falar do BNDES, apresentando-o como um banco nacional e estatal, que surge no
contexto da Guerra Fria, vinculado a estratégia de “cooperação” norte americana ao
desenvolvimento do país; ao BNDE (sigla da época) é atribuído um papel central na estratégia
de industrialização implementada no país. O modelo de financiamento de então estava
assentado no tripé “subsídio”, “reserva de mercado/ protecionismo” e “empréstimos
subsidiados de longo prazo”. Com o advento da nova onda de internacionalização (a chamada
“globalização”) das cadeias produtivas a partir do final dos anos 1970, as políticas
protecionistas instaladas no período anterior passaram a ser vistas como um entrave ao
crescimento econômico, tanto interno aos países como para o funcionamento do sistema em
nível global. Verifica-se uma maior aproximação entre os bancos de desenvolvimento nacional
(BDN) ao mesmo tempo em que sua internacionalização. Nos últimos cinquenta ocorre uma
mudança de perspectiva, transita-se de um “modelo nacional desenvolvimentista autárquico”
para um “modelo integrador”. Também faz uma breve exposição a partir das noções de
“desenvolvido”, “subdesenvolvido” e “em desenvolvimento”, abordando algumas situações
em que foram e são aplicadas, e as implicações cognitivas, políticas e econômicas decorrentes.
Feito isso, entra finalmente no objeto de sua exposição: o lugar da China e do Banco de
Desenvolvimento da China (CDB, sigla em inglês) no contexto econômico-político mundial e
regional sul-americana atual. Toma como ponto de partida o ano de 1978, quando na China
sob o comando de Deng Xiaoping (conhecido domo o “arquiteto do milagre chinês”), são
desencadeadas e fortalecidas reformas econômicas que rompem com o modelo autárquico
implantado na Era Mao Tsé-Tung. A economia-política chinesa passou a orientar-se para a
integração na economia mundial, permitiu a entrada no seu território de capitais e empresas
de outros países; isso provoca uma acelerada urbanização do país, associada com a
implantação de uma forte e diversificada cadeia produtiva industrial. Passa também a
“cooperar” financeiramente com outros países, na implantação e modernização de sua
infraestrutura (energia, transporte etc.), o que tem viabilizado (entre outras coisas) a
continuidade do acesso às matérias primas necessária à continuidade do seu crescimento
econômico (baseado na exportação de bens). O CDB é hoje, provavelmente, o maior banco de
desenvolvimento do mundo.
A partir de três perguntas vindas da plateia, os palestrantes concluíram sua
apresentação. Seth Colby irá reforçar sua tese de que os bancos de desenvolvimento são
atores de grande relevância na atualidade; não somente no momento atual, mas de forma
permanente; que passam por um processo de internacionalização; e que são hoje os principais
canalizadores de recursos financeiros ao crescimento econômico.
Moira Paz-Estenssora irá dizer que a CAF aprovou para o Brasil em 2012 cerca de 1,8
bilhões. Que observa estar havendo uma crescente presença da China na América Latina e que
a CAF criou no seu interior uma linha de crédito específica para acomodar o interesse de
financiamento chinês na região. Diz ainda que a “redução das desigualdades” é na atualidade o
principal objetivo orientador da atuação da CAF e das parcerias que tem buscado estabelecer,
na região e para viabilizar o desenvolvimento na região.
Ana Cláudia Além vai ressaltar a convergência atual entre o grande potencial de recursos
naturais existentes na América Latina e o interesse dos chineses nesse potencial; torce pela
continuidade do crescimento da economia chinesa, pois isso possibilitará a continuidade do
afluxo de investimentos e o crescimento econômico na região.
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Em relação à presença do BNDES na América latina (fora do território brasileiro), disse
que hoje o banco está com escritórios em Montevidéu e Londres; e que ele vem atuando no
sentido de facilitar a relação das empresas brasileiras com o mercado internacional, o que
inclui investir nas condições de possibilidade para competirem e acessarem bons negócios. Em
relação a fazer investimentos diretos fora do Brasil, disse que há hoje restrições institucionais.
A utilização dos recursos do FAT-Fundo de Amparo ao Trabalhador impõe a geração de
empregos NO país, e isso tem sido feito por meio dos contratos de exportação de produtos e
serviços brasileiros. Ao final, ressaltou que não há no horizonte qualquer movimentação visível
de mudança nesta situação.
Luiz Augusto de Castro Neves irá reafirmar sua tese e o pressuposto na qual ela se
assenta, que a globalização não é um valor, se fosse poderíamos ser contra ou a favor; ela é
um “fato da vida” e está relacionada com a integração das cadeias produtivas. Dessa forma, o
relevante a pensar é como se aproveitar disso da melhor forma possível.
5. Painel 2 – As contribuições dos BDs e os desafios a serem enfrentados
O painel foi moderado pelo economista e diretor executivo do CEBRI, Roberto Fendt. Disse
que passou os últimos dois anos em Angola, onde teve a oportunidade de ver de perto a força
da presença chinesa naquele país, financiando especialmente infraestruturas. A presença
chinesa é visível no dia a dia da rotina - nas ruas, nos supermercados, no aeroporto etc.
Como contribuição e desafio a serem enfrentado pelos BDs, especialmente o BNDES em
relação ao setor privado, apontou a necessidade do fortalecimento das cadeias produtivas no
país, o setor produtivo nacional, para melhor competir com as cadeias produtivas de outros
países; apontou também a função de facilitador do acesso das empresas nacionais aos
mercados internacionais e noutros países. Para isso, avalia, faz-se necessário haver uma maior
e melhor sinergia entre o BNDES e o setor privado.
O primeiro debatedor do painel foi o cientista social e professor da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE/FGV), Carlos
Pereira. Ele apresentou os resultados preliminares de uma investigação em curso que está
realizando sobre as conexões entre business e política e os riscos derivados dessa relação.
Segundo Carlos Pereira, o sistema político brasileiro facilita - para não dizer viabiliza – relações
de troca de favores e interesses entre políticos e empresários, nos diferentes níveis da política
institucional (estatal). Analisou o período que vai de 1998 (último ano do primeiro mandato do
presidente FHC) ao ano de 2006 (último ano do primeiro mandato do presidente Lula da Silva).
Observou uma correlação entre as doações de empresas para políticos durante processos
eleitorais com o acesso aos recursos do BNDES. É certo que não se pode fazer uma relação
direta, pois muitas variáveis devem ainda ser analisadas; além disso, o banco de fato tem
regras e procedimentos claros. Entretanto, observa que os dados levantados até o momento
dão margem para estabelecer esta correlação; e que isso fica mais evidente nos anos mais
recentes. Como era de se esperar, a apresentação do debatedor gerou uma série de
questionamentos e críticas de funcionários do BNDES presentes ao evento.
Albert Zoffmann é engenheiro sanitário e responsável por todas as operações do Itaú
BBA Project Finance na América Latina. Em relação ao Itaú, Alberto afirma que seu banco tem
interesse de participar de investimentos de longo prazo (acima de dez anos). Disse que estão
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envolvidos com vários tipos de projetos, entre eles sita: energéticos; concessões rodoviárias,
de aeroportos e exploração de gás e petróleo; mineração; ferrovias; saneamento, operações
de risco etc.
Afirma que a relação do Itaú com o BNDES é íntima e vem de longa data. Menciona o
setor de gás e óleo no Brasil (Pré-Sal) como o grande filão de investimento atual e futuro, pois
o BNDES conta hoje com pouco mais do que 50% do recurso estimado como necessário para
viabilizar o setor. Ou seja, que será exigido do BNDES estabelecer uma boa parceria com
bancos privados para captar no mercado financeiro internacional os recursos necessários, por
exemplo, junto aos bancos multilaterais ou os bancos de fomento internacionais etc. Além
disto, alguns itens não são financiáveis pelo BNDES; isso faz com que ele tenha de estabelecer
parceria com outros agentes financeiros. Esse é um dos desafios, o outro é a criação de um
fundo de longo prazo destinado ao setor privado. 7
Sobre a internacionalização do grupo Itaú/BBV, informa que ele está hoje na Argentina,
Paraguai, Colômbia, Peru e (por intermédio do Banco de Boston) no Chile e Uruguai.
Informa ainda que para o período 2013-2015 estão com um investimento programado de
R$ 50 bilhões, especialmente para a área de infraestrutura.
Por fim ouvimos a exposição de Peter Seiffert, chefe de projetos estratégicos
corporativos da EMBRAER S.A. A empresa é considerada um caso de sucesso da atuação do
BNDES para fortalecer e internacionalizar empresas brasileiras. Fundada em 1969 como
empresa estatal, e privatizada em 1994, exporta aeronaves para 81 países; mais de 60% da
receita da empresa é da venda de aeronaves comerciais. Entre os apoios e incentivos
recebidos do BNDES está o financiamento de clientes internacionais na compra de aviões; isso
é feito por uma agência de crédito à exportação, conhecida universalmente pela sigla ECA (de
Export Credit Agency), cujo papel no Brasil está a cargo do BNDES Exim8.
Por fim, destaco três informações que vieram da plateia, antes do encerramento do
evento. A primeira é a existência de estudos realizados e divulgados pelo Banco Mundial em
2012 sobre os BDs, e onde é demostrado que na atualidade esses bancos são mais eficientes e
lucrativos que a média dos bancos. Outra é que a Caixa Econômica Federal (CEF) havia
anunciado na véspera da mesa-redonda que vai entrar com mais força no financiamento de
obras de infraestrutura, em todas as linhas, incluindo empréstimo comercial, debêntures de
infraestrutura e outros. Por fim, que o BNDES havia criado recentemente um Serviço de
Informação ao Cidadão (SIC), facilitando o acesso à informação sobre a atuação do banco9.
28 de março de 2013.
7 Durante a preparação deste relato tomei conhecimento de uma publicação do BID, lançada em março
deste ano (versão em espanhol), com o objetivo de identificar que papel pode ser desempenhado pelos bancos nacionais de desenvolvimento (BND) para aumentar o financiamento para projetos mitigação das mudanças climáticas para o sector privado, atuando como intermediários entre o sistema de financiamento climático internacional e os seus respectivos mercados de crédito locais. Cf. http://www.iadb.org/intal/intalcdi/PE/2013/11623es.pdf 8 As ECAS no mercado aeronáutico internacional e o BNDES e o setor aeronáutico nacional, cf. http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set32103.pdf 9 Cf. http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/acesso_a_informacao/SIC/