Relatório Animais Decompositores Manguezal
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ANIMAIS DECOMPOSITORES DE MATÉRIA ORGÂNICA NO MANGUEZAL DO CABARAQUARA, GUARATUBA – PR, BRASIL
Aline Cardoso Hohenzollern da Rocha, Bianca Cristini da Silva, Talitha Pires Borges Leite,
Tathiane Alessandra Maciel, Thays Verônica Prestes
Resumo:
Os manguezais ocupam mais de 1 milhão de hectares do território brasileiro, são de suma
importância, tanto para a ecológica quanto para a econômica, pois servem como proteção da linha de
costa, e como área de reprodução, abrigo e alimentação para várias espécies animais. Possuem uma
grande riqueza biológica e de nutrientes, e devido a isto o objetivo deste estudo foi identificar e
quantificar as espécies animais decompositoras de matéria orgânica no manguezal de
Cabaraquara, no município de Guaratuba, em três diferentes zonas. Foram coletados troncos
em decomposição, buscando amostrar o zoneamento do manguezal em três classes: Zona
Superior, Zona Média e Zona Inferior, estes foram abertos manualmente para retirada dos
animais e então pesados. Em laboratório os indivíduos foram quantificados e classificados com
auxilio de manuais da fauna em questão. Destacamos neste estudo que o filo Arthropoda é o
que apresenta maior abundância e maior riqueza no número de famílias, e que a zona inferior
apresentou uma maior densidade e abundância de indivíduos quando comparada a zona
média e a zona superior. A riqueza das espécies não foi amplamente utilizada devido a forma
de amostragem, que inviabilizou a comparação entre as três zonas.
Palavras-chave: manguezal, decompositores, Cabaraquara
Introdução
Manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes terrestre e
marinho sujeitos ao regime de marés. Para o desenvolvimento e manutenção de um
manguezal são necessários cinco requisitos: (1) temperatura média do mês mais frio superior a
20 ºC com a amplitude térmica anual não excedendo 5ºC; (2) substratos lodosos com alto teor
de matéria orgânica; (3) áreas abrigadas, livres da ação de marés fortes; (4) presença de água
salgada; (5) elevada amplitude de marés (Walsh, 1974), por isso eles só são encontrados nas
regiões tropicais e subtropicais do globo.
No Brasil manguezais ocupam cerca de 1.225.444 hectares, desde o Oiapoque, no
Amapá, até Laguna, em Santa Catarina (MMA, 2009) estando associados às margens de
baías, enseadas e reentrâncias costeiras. Os manguezais desempenham diversas funções
naturais de grande importância ecológica e econômica ao longo da zona costeira, como
proteção da linha de costa, funcionando como barreira mecânica à ação erosiva das ondas e
marés; retenção de sedimentos carreados pelos rios; filtro biológico natural da matéria orgânica
e área de retenção de metais pesados; área de concentração de nutrientes; área de
reprodução, de abrigo e de alimentação de inúmeras espécies e área de renovação da
biomassa costeira e estabilizador climático.
Possuem uma grande riqueza biológica e de nutrientes, servindo como fonte de
alimentação e de abrigo para diversas espécies animais (Schaeffer-Novelli, 1995). A fauna
associada à vegetação do manguezal é diversa, constituída por animais residentes, como
crustáceos e moluscos e visitantes, como peixes, aves e mamíferos. Vários desses animais já
são estudados, mas poucos são os trabalhos publicados sobre a teia trófica (Odum&Heald,
1975; Robertson et al. 1992) e decomposição nos manguezais (Mfilinge et al. 2003;
Raghukumar et al. 1995), estes últimos sendo principalmente sobre fungos e bactérias
decompositoras.
O presente trabalho tem o objetivo de identificar e quantificar as espécies animais
decompositoras de matéria orgânica no manguezal em três diferentes zonas tendo como
hipóteses um número geral de indivíduos e número de formas jovens de insetos maior na zona
superior.
Materiais e métodos
O local de estudo foi um manguezal localizado na região do Cabaraquara no município de
Guaratuba, Paraná (Fig. 1). Esta região encontra-se dentro do Parque Nacional
Saint-Hilaire/Langue, que ocupa um trecho da Serra do Mar, conhecida como Serra da Prata,
um dos últimos refúgios naturais de Mata Atlântica (Fig. 2). O Cabaraquara também é
conhecido como Roteiro das Ostras o que faz do local um potencial turístico para a cidade.
Figura 1 – Baía de Guaratuba. Ponto em vermelho indicando o Morro do Cabaraquara. Fonte: Google maps.
Figura 2 – Vista da região a partir do mangue. Fonte: o autor.
Para a coleta dos troncos em decomposição um trecho do manguezal foi dividido em
três zonas, de acordo com as espécies vegetais encontradas. Na Zona Inferior são
encontradas Rhizophoramangle; na Zona Média Avicenniaschaueriana; Zona Superior
Laguncularia racemosa.
Os troncos em decomposição foram escolhidos de acordo com o tamanho e estado de
decomposição, quanto maior e mais decomposto melhor para a análise. Estes troncos foram
coletados em cada zona e separados em baldes identificados. Após a coleta, os troncos foram
dispostos em grandes bandejas e abertos manualmente, a fim de retirar todos os organismos
decompositores possíveis. Para o auxílio desta atividade foram utilizadas machadinha na
abertura e secção dos troncos, e pinças para a retirada dos animais.
Os pedaços de madeira foram pesados com uma pesola com capacidade para 5kg. Já
os animais encontrados foram depositados em recipientes (um por zona) com água, que
posteriormente foram armazenados em freezer até o dia da classificação destes em
laboratório.
Depois do trabalho de coleta em campo, na semana seguinte houve uma etapa em
laboratório. Os animais foram colocados em placa de petri e observados em lupa, realizou-se a
contagem de indivíduos e a identificação. Para a classificação foram utilizados manuais e livros
da fauna em questão. Alguns animais foram depositados em álcool e destino para o acervo de
coleções, e os demais foram descartados.
Com os dados obtidos em laboratório realizou-se uma tabela para uma melhor
disposição dos resultados, e também cálculo da densidade de indivíduos nos troncos, ou seja,
o número de indivíduos dividido pelo peso dos troncos.
Resultados
No presente estudo foram encontrados representantes dos filos Annelida, Mollusca e
Arthropoda, conforme demonstrado na Tabela1 abaixo e fotos do anexo. Puderam ser
identificadas cinco espécies de caranguejos da ordem Decapoda, representantes das famílias
Sesarmidae, Ocypodidae, Panopeidae, Xanthidae, e Grapsidae, sendo que desta ultima não foi
possível chegar a nível de espécie. Ainda da classe Malacostraca identificamos uma família de
Amphipoda, Gammaridae. Junto com os representantes do filo Arthropoda duas ordens de
insetos, Coleoptera e Diptera, podendo considerar este filo o de maior abundância e também
com a maior riqueza no número de famílias deste estudo, sendo 51,3% e 77,8%
respectivamente. (Ver gráficos 1 e 2)
Tabela 1 - Lista de Famílias Encontradas
BivalviaMyoida Teredinidae
TeredoraDicyathiferTerodothyvaUperotus
PolycheataPhyllodocida Nereidae
InsectaColeoptera CupesidaeDiptera - Cyclorrhapha
MalacostracaDecapoda Sesarmidae
ArmasesrubripesArmasesbenedicti
OcypodidaeUca uruguayensis
PanopeidaeEurytiumlimosum
XanthidaeHexapanopeusangustifrons
GrapsidaeAmphipoda Gammaridae
Fonte: o autor
Ao total foram recolhidos 158 indivíduos, sendo que na zona superior o galho coletado
tinha 1.900 g e deste foram retirados 22 indivíduos, da zona média com 8.550 g e retirados 66
indivíduos e da zona inferior com 3.400 g e retirados 70 indivíduos. Levando em consideração
a diferença do esforço amostral por zonação, podemos indicar a zona inferior como a de maior
abundância, para este estudo com 10,3 indivíduos a cada ½ Kg de substrato (Ver gráfico 3),
sendo 5,8 e 3,8 indivíduos a cada ½ Kg de substrato para a zona superior e média
respectivamente, não sendo analisado a zona de maior riqueza devida esta diferença na
amostragem.
Gráfico 1 – Número de Indivíduos por Zona
0 2 4 6 8 10 12
InferiorMédioSuperior
Nº indivíduos / 500g
Zonas
Fonte: o autor
Tabela 2 – Número de Indivíduos por Família
Animais Superior Médio Inferior TotalBivalvia Teredinidae 6 38 18 62
Poliqueta Neveidae 10 0 5 15Insecta Cupesidae 3 0 25 28
Malacostraca
Sesarmidae 1 19 10 30Ocypodidae 1 3 2 6Panopeidae 0 4 0 4Gammaridae 1 0 4 5
Xanthidae 0 2 0 2Grapsidae 0 0 2 2
Fonte: Próprio autor
Além do destaca para a zona inferior do manguezal, também foi observado no estudo
uma maior participação de moluscos bivalves da família Teredinidae, sendo encontrados em
todas as zonações um alto número de indivíduos, supostamente com uma maior concentração
na zona média, desconsiderando a diferença da amostragem (Ver Tabela 2).
Analisando por zonas separadamente observamos um maior número de indivíduos da
família Neveidae na zona superior, e ausência de indivíduos das famílias Panopeidae,
Xanthidae encontradas somente na zona média e Grapsidae encontrada somente na zona
inferior (Ver gráfico 4). A família Teredinidae se destaca na zona média, não sendo
encontrados indivíduos das famílias Nereidae, Cupesidae, Gammaridae, comuns na zona
superior e inferior, e da família Grapsidae (Ver gráfico 5). Já na zona inferior foi encontrado
maior número de indivíduos da família Cupesidae, que também foi encontrado na zona superior
com menor representatividade, e ausência de indivíduos das famílias presentes somente na
zona média, Panopeidae e Xanthidae (Ver gráfico 6). As famílias Teredinidae, Sesamidae e
Ocypodidae são encontradas em todas as zonações.
Gráfico 2 - Famílias Zona Superior
Tered
inidae
Neveid
ae
Cupesidae
Sesar
midae
Ocypodidae
Panopeid
ae
Gammari
dae
Xanthidae
Grapsid
ae0
10
20
30
Superior
Superior
Famílias
N° d
e In
diví
duos
Fonte: o autor
Gráfico 3 - Famílias Zona Média
Tered
inidae
Neveid
ae
Cupesidae
Sesar
midae
Ocypodidae
Panopeid
ae
Gammari
dae
Xanthidae
Grapsid
ae0
10
20
30
Médio
Médio
Famílias
N° d
e In
diví
duos
Fonte: o autor
Gráfico 4 - Famílias Zona Inferior
Tered
inidae
Neveid
ae
Cupesidae
Sesar
midae
Ocypodidae
Panopeid
ae
Gammari
dae
Xanthidae
Grapsid
ae0
10
20
30
Inferior
Inferior
Famílias
N° d
e In
diví
duos
Fonte: o autor
Discussão
Nas três zonas estudadas no Manguezal da baía de Cabaraquara, é possível perceber
diferentes perfis para a distribuição dos animais encontrados nos troncos em decomposição
(Gráfico 4, 5 e 6). Para tornar viável a comparação entre as zonas foi realizada a análise da
densidade demográfica, medida esta que expressa a relação entre o número de indivíduos e
um determinado espaço, resultando em 10,3 indivíduos a cada ½ Kg para a Zona inferior, 3,8
para a Zona Média e 5,8 indivíduos a cada ½ Kg para a Zona Superior. Através do cálculo da
densidade demográfica é possível inferir a abundância, sendo a zona inferior a mais abundante
quando comparado as três zonas.
O estudo também avaliou a riqueza, ou diversidade, de espécies em cada uma das
Zonas. A zona Inferior apresentou um total de 70 animais coletados distribuídos em 9
diferentes táxons, desconsiderando a influência do método de amostragem, esta seria a zona
com maior riqueza de espécies. A zona Média apresentou 66 animais coletados distribuídos
em 8 táxons e zona Superior, 22 animais distribuídos em 7 táxons.
A zona Média, mesmo apresentando um esforço amostral maior, tendo sido coletados
8550g de madeira em decomposição, obteve a menor densidade demográfica observada e
uma riqueza de espécies menor.
Anteriormente a realização das análises, foram formuladas duas hipóteses, a primeira
prevê que na zona Superior seria realizado uma amostragem maior de indivíduos, devido ao
fato de ser uma área mais estável comparada à zona Inferior que por conta da maré apresenta-
se alagada em certos períodos.
A segunda hipótese prevê que na zona Superior seria coletado mais formas juvenis de
insetos por ser uma zona que não sofre inundações e esses organismos serem terrestres.
A primeira previsão se mostrou incorreta a partir dos dados obtidos. A zona Superior
apresentou poucos troncos em decomposição, refletindo o menor peso total dos galhos, 1900g,
entre as três zonas e apresentando também a segunda menor densidade.
A segunda previsão também não se confirmou, pois a zona Inferior foi a que apresentou
o maior número de formas juvenis de Diptera e Coleoptera coletados.
Uma possível explicação para esse resultado seria a que a abundância desses insetos
apresenta uma correlação com a precipitação e com a temperatura no manguezal (Gonçalvez,
2011), considerando o atual inverno na região, a zona Superior poderia apresentar-se mais
seca e assim os insetos ocuparam mais os troncos da zona Inferior.
Referência bibliográficas
Cabaraquara. Disponível em: <https://parnasainthilairelange.wordpress.com/cabaraquara/>.
Acesso em: 27/08/2015.
Almeida FS, Dias A, Espindola CB, Gonçalves L 2011 Inventário de Calliphoridae (Diptera) em
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Mfilinge PL, Meziane T, Bachok Z, Tsuchiya M (2003) Fattyacids in decomposing mangrove
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