RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q....

37
LABORATÓRIO DA PAISAGEM RELATÓRIO: OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF) 26, 27 e 28 de Abril de 2009 PROJETO TEMÁTICO DE PESQUISA OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL Equipe QUAPÁ-SEL: Prof. Dr. Silvio Soares Macedo (FAUUSP) Profa. Dra. Vanderli Custódio (IEB-USP - Geografia) Dra. Ana Cecília Arruda Campos (FAUUSP) Pesquisador Alexander Villalón (FAUUSP) Coordenação Local: Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos (FAU-UnB) Profa. Maria da Assunção P. Rodrigues (MSc) Arq. Jorge Calderon (Mestrando) Arq. Giuliana Sousa (Mestranda)

Transcript of RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q....

Page 1: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

RELATÓRIO: OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF) 26, 27 e 28 de Abril de 2009

PROJETO TEMÁTICO DE PESQUISA

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL

Equipe QUAPÁ-SEL:

Prof. Dr. Silvio Soares Macedo (FAUUSP)

Profa. Dra. Vanderli Custódio (IEB-USP - Geografia)

Dra. Ana Cecília Arruda Campos (FAUUSP)

Pesquisador Alexander Villalón (FAUUSP)

Coordenação Local:

Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos (FAU-UnB)

Profa. Maria da Assunção P. Rodrigues (MSc)

Arq. Jorge Calderon (Mestrando)

Arq. Giuliana Sousa (Mestranda)

Page 2: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

2

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO......................................................................................................03

2. LEITURA DA ÁREA URBANA DE BRASÍLIA...........................................................04

3. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA QUAPÁ-SEL PARA OS AGENTES LOCAIS.06

4. APRESENTAÇÕES DOS AGENTES LOCAIS .......................................................10

5. DINÂMICA DA OFICINA ...........................................................................................22

6. RESULTADOS DA OFICINA ....................................................................................33

7. ANEXOS ...................................................................................................................37

Page 3: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

3

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

1. APRESENTAÇÃO

Ocupação de médio e alto padrão em Águas Claras (Brasília, Distrito Federal).

Nos dias 26, 27 e 28 de Abril de 2009 foi realizada a Oficina QUAPÁ-SEL em Brasília

(DF), no Estado de Goiás, onde estiveram presentes o Prof. Dr. Silvio Soares Macedo,

a Profa. Dra. Vanderli Custódio, a Dra. Ana Cecília de Arruda Campos e o bolsista

Alexander Villalón, todos de São Paulo (SP). A Oficina contou com a coordenação e

colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. Maria Assunção

P. Rodrigues (MSc), ambos do curso de Arquitetura da Universidade Nacional de

Brasília (UnB), onde ocorreram as atividades.

Com o objetivo de ampliar a compreensão da estrutura urbana de Brasília e entorno, foi

realizado um sobrevôo pelo Plano Piloto e principais “cidades satélites”, além de visita

terrestre a diferentes pontos da cidade de Brasília com o objetivo de promover um

melhor entendimento e análise das questões referentes ao Sistema de Espaços Livres.

Cabe lembrar que a Oficina, relatada neste documento, faz parte de um conjunto de

ações definido pelo projeto de pesquisa e reiterado, junto aos representantes dos

demais núcleos regionais do SEL, por ocasião do II e III Colóquios: Os sistemas de

espaços livres e a constituição da esfera pública contemporânea no Brasil – QUAPÁ-

SEL, realizados respectivamente, em 2007 em São Paulo e em 2008 em Curitiba.

Page 4: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

4

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

2. LEITURA DA ÁREA URBANA DE BRASÍLIA

Brasília (DF), capital do País, foi idealizada como centro político do Estado Brasileiro,

em meados do século XIX.

A construção foi levada a efeito a partir de 1957, com base no projeto urbanístico de

Lucio Costa e principais edificações projetadas por Oscar Niemeyer. O Plano Piloto,

onde estão localizadas as instalações dos poderes da União, possui a forma de um

avião, com destaque para as Asas Norte e Sul; quadras extensas e setores definidos

de ocupação do solo: setor hoteleiro, setor comercial, setor residencial, setor industrial

e outros.

Brasília é formada por mais de 30 administrações regionais. Possui aproximadamente

2.600.000 habitantes. No Plano Piloto são cerca de 250.000, ou seja, a maior

concentração está nas “cidades satélites1”, principalmente as de noroeste, como

Guará, Taguatinga, Samambaia e Ceilândia.

O sobrevôo realizado pela Companhia ESAT Aero Táxi, sob o comando do piloto

Montenegro, no dia 26 de abril, contou com a participação dos arquitetos Silvio Soares

Macedo, Ana Cecília de Arruda Campos, Vicente Barcellos e do pesquisador Alexander

Villalón. Com início às 11h:30m o vôo durou 1h:15m. O trajeto constituiu: Aeroporto (1),

Guará (2), Guará 2 (3), Guará 1 (4), Vicente Pires (5), Águas Claras (6), Samambaia

(7), Recanto das Emas (tangente) (8), Ceilândia (9), Taguatinga Norte (10), Vicente

Pires (11), Estrutural (12), Cruzeiro-Sudoeste (13), Asa Sul (14), Lago Sul (15),

Península dos Ministros (16), Jardim Botânico (17), Península do Lago Norte (18), Asa

Norte (19), cruzamento da Asa Sul (20), Aeroporto (1) 2. Foram tiradas mais de 2000

fotografias.

Com relação à parte terrestre, percorreu-se, entre 14h e 18h, debaixo de chuva, grande

parte das áreas observadas no sobrevôo, cabe destacar:

- as quadras residenciais de Guará 1 e as de edifícios do Guará 2;

- a linha de metrô de superfície;

- a feira ou mercado popular do Guará, com bancas variadas, de roupas a alimentos;

1 Em outras cidades do País seriam equivalentes a grandes bairros. Resultam da prática e cultura do

poder público do Distrito Federal (DF) em transferir “ocupações” (invasões) irregulares a áreas distantes do Plano Piloto. Possuem arruamento definido e o tamanho dos lotes é relativo à condição socioeconômica do conjunto populacional em remoção – lotes menores constituem “cidades satélites” mais empobrecidas. Inclusive, o nome Ceilândia advém de Comissão de Erradicação de Invasões.

2 Deixamos de anexar mapa com o traçado do roteiro do sobrevôo por indisponibilidade de recursos

técnicos locais.

Page 5: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

5

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

- a “cidade satélite” de Vicente Pires, ex-área rural, constituída por ocupações

(“invasões”), inclusive em áreas de proteção permanente (APPs), na forma de um

conjunto de lotes continuamente murados. Muitos, após sua implantação, passam a

exigir a implantação de serviços básicos pelo Poder Público;

- a Samambaia, área de chácaras concedidas pelo governo do DF para uso durante 30

anos, mas que se tornou a “cidade satélite” mais adensada e precária do Distrito.

Possui arruamento definido, mas sem asfaltamento;

- Taguatinga, “cidade satélite” onde está em instalação o governo do DF. A

transferência do Plano Piloto para “Tagua” foi motivada pela concentração de

população nessa região (noroeste) do Distrito, cerca de 1 milhão de habitantes;

- a quase inexistência de arborização e tratamento paisagístico nas “cidades satélites”

e, ao contrário, tratamento ao longo das grandes vias de rodagem;

- a verticalização concentrada, sem arborização intralote ou viária, com calçadas e ruas

estreitas em Águas Claras;

- o “Setor das concessionárias” de veículos: Brasília possui cerca de 2.600.000

habitantes e cerca de 1 milhão de automóveis – quase 1 veículo para cada 2

habitantes;

- visita à Asa Sul: os diversos arranjos internos (edifícios e áreas livres de edificação)

na implantação das quadras e superquadras concebidas por Lucio Costa. São edifícios

com quatro ou seis andares, com área para instalação de escola, comércio,

arborização, estacionamento, centros comunitários, unidades de vizinhança;

- o Setor Sudoeste, com as superquadras de alto padrão ocupadas pela população

com a segunda maior renda per capita do DF. Entretanto, seu projeto de implantação

perde características das superquadras como a ventilação cruzada;

- setor residencial Octagonal, uma releitura da superquadra, com controle de acesso;

- a igreja triangular construída Oscar Niemeyer na Quadra 308. Quadra implantada por

Lucio Costa como exemplo para a construção das demais. Contudo, por vários

motivos, dentre eles, a crítica ao modernismo na Arquitetura e as diferentes

concepções artísticas dos escritórios e profissionais contratados para a implantação

das quadras, ao longo dos anos, houve descaracterização da proposta inicial;

- a existência de quadras ainda desocupadas no Plano Piloto, projetado para meio

milhão de pessoas, mas ainda com 250.000;

Page 6: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

6

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

- a Quadra “W3”, da Asa Sul, composta por residências, mas inicialmente projetada

para constituir o cinturão hortifrutigranjeiro do DF, e que em diversos pontos ocupam as

áreas livres comuns; e

- o Plano Piloto, a Esplanada dos Ministérios e o Setor de Hotéis.

Todo o material fotográfico, tanto da parte aérea como terrestre, foi disponibilizado aos

representantes da coordenação local da Oficina. Quando sistematizado, será também

disponibilizado na base iconográfica do QUAPÁ-SEL, com vistas ao acesso dos

pesquisadores dos núcleos SEL de todo o País.

3. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA QUAPÁ-SEL PARA OS AGENTES LOCAIS

No dia 27 de abril, a partir das 9h, realizou-se uma série de palestras com o objetivo de

expor e compartilhar questões referentes à gestão e às formas de ocupação de

Brasília.

Abertura com o Prof. Dr. Silvio Soares Macedo, FAUUSP, Coordenador geral do

projeto QUAPÁ-SEL

A primeira parte da apresentação tratou de conceitos que orientam o projeto temático

de pesquisa “Os Sistemas de Espaços Livres e a Constituição da Esfera Pública

Contemporânea no Brasil”. O Sistema foi apresentado enquanto dependência,

articulação e conjunto. Os sistemas de espaços livres urbanos constituem-se de todos

os espaços livres públicos e privados de circulação, lazer, recreação, acesso,

Page 7: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

7

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

conservação, preservação e produção. Os espaços livres são todos os não ocupados

por volumes edificados aos quais as pessoas têm acesso; podem ser espaço-solo,

espaço-água, espaço-luz. A vegetação não é definidora dos espaços livres, embora os

qualifique. Na cidade tradicional, as ruas proporcionam conexão e continuidade de

espaços livres, fragmentados no restante. Entre as funções dos espaços livres, foram

destacadas a função ambiental (recente enquanto preocupação, mas enquanto função

sempre existiu), estético-formal e funcional. Índices propagados como ideais como os

12/m2 por pessoa de áreas verdes não representam o real, precisam ser avaliados em

conjuntos com outras relações como as densidades populacionais, densidade

construída, dimensão dos lotes, etc. Culturalmente, também as necessidades são

diferentes: vegetar 12 m² por pessoa num ambiente desértico não faz o menor sentido,

pois o custo é altíssimo. Mesmo em Brasília, onde o verde permeia as edificações,

como as pessoas se comportam nos espaços livres públicos? As formas de utilização

dos espaços também precisam ser levadas em conta, dadas às suas particularidades

de uso. Além dos espaços livres, também se conceituou área verde, que é toda e

qualquer área que contenha vegetação situada em solo permeável; e espaço verde,

como aquele que é estruturado total e predominantemente por vegetação, e não

necessariamente têm solo permeável. O Prof. Silvio destacou também a relação entre

os espaços livres públicos e privados: áreas com grandes extensões de espaços livres

privados reduzem a demanda por espaços livres públicos, embora não a elimine.

Dentre os fatores condicionantes da apropriação dos espaços livres, a relação entre a

densidade construída do lote e os espaços livres evidencia, em muitas cidades, que

cada vez mais se dá a ocupação total do lote, em diversas faixas de renda. A demanda

por conservação e preservação de áreas naturais é recente, o que ainda gera conflitos,

por exemplo, a gestão dos estoques decorrentes das Áreas de Preservação

Permanentes (APPs Urbanas). Dentre os padrões de eficiência do sistema de espaços

livres, podem ser destacadas a acessibilidade pública, a condição da apropriação

pública, a qualificação paisagística (falta de projetos adequados) e a gestão –

problema comum a várias cidades. O “Piscinão” de Ramos é exemplo de péssima

gestão do espaço público. Em função da baía poluída, implantou-se o projeto que é de

boa qualidade e muito usado pela população. É um bom projeto, mas pelo motivo

errado: a poluição em si. Os sistemas podem ser totais (como Brasília), parciais (como

o projeto de áreas livres em Curitiba para conter enchentes), formal e informal.

A segunda parte da apresentação tratou do projeto temático de pesquisa, sua

organização, estruturação e conclusões preliminares. São muitas as discussões: o que

Page 8: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

8

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

é esfera pública para nós? Muitas vezes adotam-se conceitos europeus do pós-guerra

que não correspondem à nossa realidade. A Oficina é um momento de mútuo

aprendizado e troca de informações. A pesquisa acontece em rede, com graus

diferentes de envolvimento dos diversos núcleos locais. Vez por outra, o contato e a

viabilidade da Oficina se dão pela Prefeitura e não pela Universidade, como os casos

dos municípios de Rio Branco ou Suzano. Os resultados das Oficinas variam, por

vezes em função desse grau de envolvimento ou outras dificuldades, mas os

resultados têm sido muito satisfatórios. Além das Oficinas, são realizadas simulações

da legislação de uso e ocupação do solo das cidades estudadas, com a geração de

modelos gráficos. Por exemplo, em Belém a legislação permite a construção de prédios

muito próximos, inadequados às condições climáticas locais. Toda a legislação local é

avaliada em termos ambientais e confrontada com os projetos implantados. Por

exemplo, em Manaus são protegidas as margens de lagoas, mas não suas águas, que

poluídas, desestimulam a ocupação e uso do espaço. Outra realização é o

desenvolvimento de mapas temáticos com a observação das áreas livres privadas e da

verticalização dos imóveis. Como dito anteriormente, as Áreas de Preservação

Permanentes geraram estoques de áreas nas cidades, mas ainda não se têm projetos

claros para sua gestão. Há verbas disponíveis no país para a remoção de população

dessas áreas. Calçadas em geral não são tratadas e possuem dimensões inadequadas

aos usos da população. As Forças Armadas são proprietárias de vastas extensões de

terras passíveis de uso para preservação e conservação, ou mesmo convívio e lazer.

Prof. Dr. Vicente Barcellos e Profa. Maria Assunção P. Rodrigues (MSc), FAUUnB,

QUAPÁ-SEL Núcleo Brasília. Estudo de Impacto Ambiental da Região do

Paranoazinho, DF (Grande Colorado)

Page 9: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

9

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

A região de estudo está localizada ao lado da cidade satélite de Sobradinho, a

nordeste do Plano Piloto. O projeto tratou do parcelamento de terras privadas (ao

contrário de boa parte do Distrito Federal), terras da União e Terracap, de ocupação

irregular. A atual ocupação apresenta adensamento e consolidação da área por

atividades de comércio e serviços. Existem tentativas de controle do poder público

inclusive por prática de demolições. A população não é homogênea em termos

socioeconômicos: apresenta moradores de renda baixa, média e média alta. O

tratamento dos espaços livres coletivos no interior dos condomínios varia muito, por

vezes há apenas o arruamento, em outros existem projetos paisagísticos de fato. Com

relação aos espaços livres públicos, as ruas possuem larguras variáveis. As calçadas

em geral são estreitas, não tratadas, com trechos onde as edificações avançam por

sobre as mesmas. Constituem exceções os parcelamentos onde o empreendedor

verticalizou, deixando mais espaço para as calçadas e criando bolsões de

estacionamento para as atividades de comércio e serviços. O padrão de ocupação

mais comum é o loteamento de uma chácara, traçando apenas uma rua central e

definindo os lotes. Quanto aos parques públicos, existe o Parque Canela da Ema,

delimitado enquanto área, mas ainda não implantado paisagisticamente. Como as

áreas disponíveis às novas ocupações se encontram fragmentadas, o projeto teve

como ponto de partida a busca da conexão. Foram levados em conta projetos e planos

existentes como o “Projeto Anel de Atividades de Sobradinho”, da Secretaria de Estado

de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (SEDUMA) - Governo do Distrito Federal

(GDF), que distribuiu equipamentos ao longo da via de integração viária. Buscou-se

articular a área de estudo com a área mais estruturada, para que os equipamentos

pudessem atender à população como um todo. A avaliação da paisagem urbana

implantada mostrou que a atual ocupação é predominantemente horizontal e

fragmentada, dificultando a integração social. Essa ocupação gera inconvenientes

ambientais como a fragmentação das áreas florestadas, e o predomínio do transporte

individual. A proposta, em linhas gerais, é ocupar os vazios urbanos que não

apresentam inconvenientes ambientais, unindo fragmentos e proporcionando

integração social. Propusemos a criação de um pólo multifuncional (centro urbano)

verticalizado, em contraste com a horizontalidade existente, com grandes

equipamentos públicos e privados (estação de passageiros, supermercados,

shoppings, universidade, edifícios de uso misto). As calçadas terão 7 metros nas vias

principais e 5 metros nas vias secundárias, ambas com ciclovias ao lado. Julgamos

serem essas as dimensões necessárias para permitir arborização e implantação de

Mobiliário urbano. Os parques públicos estarão distribuídos na forma de faixas, ao

Page 10: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

10

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

longo das APPs, integrados com outras estruturas como avenidas-parque e núcleos de

equipamentos e lazer. São evitados parques sem acessibilidade e integração visual.

Quanto ao total de habitantes, os atuais 60.000 passariam a 186.000, segundo

previsão da capacidade do sistema pelas concessionárias de águas e esgotos.

Prevaleceu a proposta de 258.000 habitantes, ainda inferior ao indicado no Plano

Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT), mas que exigirá

investimentos na infra-estrutura de água e esgotos, com novas tecnologias. As

condicionantes e exigências para o adensamento prevêem contrapartida da iniciativa

privada na implantação de infra-estrutura urbana de responsabilidade do poder público:

estação de tratamento de esgoto; sistema de transporte coletivo (VLP) em via

exclusiva; estação de passageiros; nova via de acesso ao Plano Piloto; remanejamento

de linhas de alta tensão, etc.

4. APRESENTAÇÃO DOS AGENTES LOCAIS

1ª PALESTRA

Arq. Maurício Guimarães Goulart (MSc), SEDUMA – GDF (Projeto Orla)

O Projeto Orla abrange as áreas que separam o projeto de Lucio Costa do Lago de

Paranoá. O júri do Concurso de Brasília já criticava a demasiada quantidade de terras

entre o centro governamental e o lago. Os princípios idealizados por Lucio Costa (item

Page 11: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

11

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

(20 de seu relatório para o concurso) determinavam a implantação de clubes esportivos

nas suas margens, e não residências. O GDF criou, em 1992, um grupo de trabalho

específico para estudar a ocupação das margens do Paranoá, cujas diretrizes foram

publicadas em 1993. Foram listados 167 lotes na área, 64 margeando o lago. Destes

64, 40 eram clubes, 10 hotéis, 8 pertencentes a órgãos públicos como a UnB, 4

comerciais e 2 outros. A maior parte dos lotes apresentava taxa de ocupação de 30% e

coeficiente de aproveitamento de 60%. O gabarito máximo era de 9 metros. A intenção

era a de horizontalidade. As diretrizes propostas reafirmaram o caráter de um

complexo de atividades que atraíssem pessoas com atividades culturais, hotéis, bares,

restaurantes, museus, livrarias. Foram criados 11 pólos, sendo que um deles foi vetado

pelo IPHAN. Mesmo assim, apenas 2 foram parcialmente implantados, os pólos 3 e 11.

O Pólo 1: (Pontão Lago Norte), parte é ocupada pelo Congresso e parte é Unidade de

Conservação, mas seria para restaurantes e bares. Pólos 2 e 3: com características

hoteleiras, é a área pública com maior acesso ao lago atualmente. Previa-se um

calçadão ao longo do lago, mas não foi construído. Já existe o Museu de Arte e a

concha acústica. Sua ocupação pode comprometer o acesso público, alguns terrenos

são privados. Houve flexibilização de uso com flats e apart-hotéis. O uso residencial

contraria o projeto de Lucio Costa, mas é apoiado por alguns setores. Pólo 4: parque

em área de cerrado, mas não implantado. Pólo 5: destinado a fomentar atividades

hoteleiras, mas com taxas de ocupação menores, interligado por trilhas. Pólo 6: o

próprio GDF fez um projeto anterior, redimensionando lotes, liberando as margens.

Pólos 7 e 8: criados pelo Projeto Orla, não designados anteriormente. No Pólo 7,

previa-se um parque temático sobre ciências e tecnologia, semelhante ao La Villete, de

Paris. O governo quer instalar ali um pólo de TV digital para obtenção de recursos

necessários à implantação das áreas públicas. No Pólo 8, os lotes destinados às

instituições culturais e organismos internacionais foram transferidos para autarquias.

Pólo 9: seria um parque aquático. Pólo 10: seria o parque das Nações. Pólo 11 (Pontão

Lago Sul): já consagrado como área de lazer, mas apenas 20 a 30% implantados.

Page 12: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

12

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

2ª PALESTRA

Arq. Paulo Zimbres (MSc) – (Projeto Setor Noroeste)

Segundo o autor do projeto – o expositor –, os espaços públicos têm sido

negligenciados em projetos urbanos. É preciso cooptar a iniciativa privada para ajudar

nisso. O genoma rodoviário da cidade de Brasília afastou as pessoas de pensarem nas

ruas, calçadas, pátios. Esse repertório tradicional foi negligenciado, considerado

ultrapassado, mas há demanda e necessidade. Em 1995, o autor apresentou a

primeira proposta para o Setor Noroeste ao então governador Cristovam Buarque.

Entretanto, na época só se pensava no Projeto Orla. Em 2000, reapresentou o projeto

em segunda versão modificada a Joaquim Roriz. Já se delimitava um parque

ecológico, corredor de avifauna ligado, ao Parque Nacional. O trecho urbanizado seria

um bairro para 80.000 pessoas. O autor considera passível o adensamento do Plano

Piloto, e seu projeto contempla isso. Entretanto, a população foi reduzida para 40.000

pessoas, e mais uma área foi reservada para parque. No novo projeto, foi feito um

esforço para que as ruas tivessem calçadas niveladas, as lojas foram

redimensionadas, implantou-se estacionamento adequado nos 2 lados da via, buscou-

se adequar os edifícios à topografia local com bom uso dos pilotis, evitando a

“inacessibilidade universal”, reforçou-se o apreço ao pedestre. Basicamente, o projeto

Page 13: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

13

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Segue os princípios da estruturação das superquadras de Lucio Costa, mas agrupa as

mesmas de 4 em 4, ampliando o domínio do pedestre. O centro comercial entre

quadras é disposto separado das áreas habitacionais, com vias dos 2 lados,

diferentemente do modelo original, lindeiro as superquadras. Desenvolveu sistema

viário criando mais conexões com o restante, e na via de ligação com o Plano Piloto,

concentrou edifícios de comércio e serviços de âmbito regional. O parque retoma a

idéia de grupo vencedor de concurso realizado em 1989, mas não implantado, onde

um eixo orientativo organizaria os espaços e as atividades, ligando-se visualmente à

torre de TV.

3ª PALESTRA

Arq. Rejane Jung Vianna (MSc), Subsecretária de Planejamento Urbano do GDF

(Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF)

Contextualização da estratégia de integração ambiental urbana do DF: a) planejamento

do território; b) projeto do espaço urbano; c) gestão do território. No DF há

desintegração e desarticulação entre as manchas urbanas e entre as manchas de

áreas verdes. Como integrar as manchas verdes? Por intermédio: a) do

macrozoneamento; b) da articulação institucional; c) da configuração e implantação de

conectores ambientais e de corredores ecológicos. Conectores ambientais são

conjuntos de estruturas lineares de vegetação nativa e de outros espaços livres, tanto

de ambiência urbana quanto rural, e favorecem a interligação entre sistemas naturais;

Page 14: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

14

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

no urbano e no rural. No urbano: parques lineares, valorização e ampliação de

arborização em áreas urbanas, obras que minimizam os cortes feitos pelo sistema

viário. No rural: proteger, recuperar e manter as unidades de conservação e APPs,

demarcação de reservas legais, desenvolvimento de atividades compatíveis como

ecoturismo etc. Serão 11 conectores ambientais, utilizados como elementos de

estruturação do espaço urbano. Sobre os corredores não completou o pensamento.

QUESTÕES

Do público sobre o que foi aprovado, no último sábado, dia 25.04, do PDOT do DF. A

expositora respondeu que há conflitos com o Campus da UNB e que as APPs podem

ser loteadas, mas não podem ser ocupadas. Como a publicação é recente ela teria de

estudá-la para poder responder uma série de perguntas.

4ª PALESTRA

Sr. Maximiliano Magalhães, Prefeitura Comunitária da Quadra 110 de Samambaia.

O que é uma prefeitura comunitária? É uma associação de moradores que objetiva

melhorias para as quadras, tais como as que foram buscadas para a realização de

projeto em parceria com a FAU-UNB e o GDF. Os fundamentos do projeto são: a)

Page 15: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

15

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

acessibilidade (Decreto Federal n. 5296 de 2 dez. 2004), rampas para cadeirantes,

direito de ir e vir; b) arborização: há pouca em Samambaia e, quando há, são fícus

destruidores de calçadas. Optamos por plantar espécies do cerrado, como os ipês; c)

por implantar espaços de lazer: praças de esporte e; d) por aumentar o envolvimento

da comunidade: os técnicos apresentaram projetos e as comunidades (Quadras 110 e

112) escolheram uma das propostas para a implantação. Na Quadra 112, também foi

elaborado um projeto de intervenção em uma escola. No geral, a Samambaia só tem

arruamento e um amontoado de construções, mas inexiste arborização, é só um

“terrão”, sem asfalto e nenhum outro tratamento urbanístico. As soluções, como praças

com possibilidade de prática esportiva, praças e cruzamentos com rampeamento,

foram dadas por projetos desenvolvidos com os alunos de graduação do curso de

Arquitetura, da UnB, sob orientação docente.

DEBATE

- Questão de uma técnica do Departamento de Parques e Jardins: elogiou o trabalho

de Maximiliano, mas objetivou que as comunidades podem solicitar ao Departamento

mudas de árvores e assessoria no plantio.

- Maximiliano respondeu que há ofícios encaminhados ao Depto., mas sem resposta.

- Outra técnica da SEDUMA ofereceu parceria à Comunidade e atentou para o fato de

a arborização, nos projetos implantados, ser menor do que antes. Lembrou que as

escolas são reformadas, contudo a própria comunidade as depreda rapidamente.

- Maximiliano diz que os critérios de arborização e impermeabilidade foram

considerados pelos consultores dos projetos implantados. As imagens, de “antes e

depois”, apresentadas são antigas, atualmente as árvores já cresceram e a arborização

está maior.

- O Prof. Vicente Barcellos disse que parece que há menos arborização porque os fícus

foram retirados.

Page 16: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

16

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

5ª PALESTRA

Arq. Dra. Sandra Soares de Mello – As Áreas de Proteção Permanente (APPs)

O doutorado defendido pela expositora trata da ocupação urbana ao longo dos corpos

d’água. Identificou uma relação dicotômica: por um lado, água e cidade têm um vínculo

histórico; por outro lado, no Brasil, desde 1999, essas áreas são proibidas de serem

ocupadas – as APPs. Não é dicotômico? O mínimo é manter, para proteção, uma faixa

mínima de 30m ao longo dos rios, mas a lei não levou em consideração as realidades

(funções) locais, dessas faixas. A Resolução CONAMA no. 369/2006, trouxe nova

regulamentação sobre as águas em áreas urbanas: ambientais e de uso urbano. Há

duas vertentes básicas da relação cidade e água; numa delas, o corpo d’água é

valorizado; em outra: é desvalorizado, são depósitos de lixo, são fundos de casas.

Trata-se de uma visão ambiental (biofísica) x uma visão urbanística (sociocultural). Há

semelhanças e diferenças entre ambas. A autora relaciona todos os aspectos físico-

ambientais (hidrologia, pedologia, geomorfologia) com os tipos de funções das águas e

dos usos urbanos dados a elas. Verificam os aspectos urbanísticos, os planos urbanos

e a relação com as águas ao longo da história: ora de aproximação, ora de

distanciamento dos corpos d’água e das margens. A pesquisa de campo teve

realização em duas cidades semelhantes (cerrado, curso d’água pequeno, etc.), são

elas: Núcleo Bandeirante (Brasília) e Pirenópolis (Goiás). Na primeira as margens e o

rio não são vistos, são privatizados, fechados ao acesso de pedestre, há maior

artificialidade e baixo grau de urbanidade das áreas de beira rio; na segunda, são

Page 17: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

17

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

espaços públicos, mais visíveis, com menor artificialidade e alto grau de urbanidade na

beira rio. Aplicou seminários acerca da valorização das águas para as comunidades e

o resultado revelou maior conhecimento, pertença e desejo de proteger as águas em

Pirenópolis. Propõe que, na dimensão local, cada trecho de rio seja tratado de modo

diferenciado, sempre considerando os aspectos ambientais, os graus de centralidade

urbana e o tipo adequado de tratamento paisagístico, ou seja, as APPs não deveriam

ser consideradas genericamente, mas como situações diferenciadas.

6ª PALESTRA

Profa. Dra. Marta Romero, LaSUS-FAU-UNB (Projeto Campus da UnB)

Os aspectos condicionantes para o projeto foi o clima, ou seja, o “clima fechado”

específico de onde está o Plano Piloto, entre chapadas. Tal como Lucio Costa, pensa

que o sítio urbano é importante e deve ser considerado. Infelizmente, a construção do

Campus da UnB fez tábula rasa da topografia, como em outras partes de Brasília, e

retirou a vegetação nativa. No projeto de urbanismo da parte sul do Campus identificou

uma vegetação de cerrado e propôs quadras que a aproveitassem, inclusive com a

proposição do aumento da porcentagem de áreas permeáveis e canais de infiltração.

Incluiu lagoas de recolhimento de águas para reuso, caminhos para pedestres,

biovaletas, cisternas, ciclovias, tratamento de águas por intermédio de wetlands,

infraestrutura verde, verticalização de modo manter a vista do lago, conforto ambiental,

a criação do CRAD (Centro de Reabilitação de Ambientes Degradados) para estudo do

Bioma do Cerrado; a direção dos ventos; manutenção de umidade do lugar nos

Page 18: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

18

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

períodos de seca etc. Para o Campus da Ceilândia (400.000 hab.), foi proposto um

projeto de áreas administrativas (Centro Administrativo Metropolitano), sambódromo,

superquadras etc. Parte do intento em levar a UnB para Ceilândia é proporcionar

adensamento, porque, inclusive, a cidade satélite é servida por linha de metrô.

7ª PALESTRA

Arq. Simone Cruz Lima (MSc), Departamento de Parques e Jardins – Arborização

Urbana de Brasília.

Em 1958 inexistia arborização em Brasília. Em 1967 havia um pouco mais e hoje mais

um tanto. O Departamento vem avançando no trabalho de plantio ao longo das

décadas. Há vários exemplos de maior arborização dentro das quadras, serpenteando

os blocos construídos; o mesmo ocorre ao longo das margens do Lago Paranoá e

também nos Parques Sarah Kubitschek e Olhos d’Água, bem como na Lagoa do Sapo.

Áreas bem utilizados pela população.

DEBATE

- A Profa. Vanderli elogia os trabalhos das professoras Marta Romero e Sandra Soares

e pergunta à Arq. Simone Cruz se haveria projetos de arborização para as cidades

satélites de Samambaia e Vicente Pires.

Page 19: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

19

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

- A Arq. Simone diz que há somente o de projeto de Taguá Parque, na região de

Taguatinga.

- O Prof. Sílvio pergunta sobre a implantação de outros parques.

- A Profa. Simone diz que não há nada projetado.

- Maximiliano perguntou sobre uma área específica, se seria ou não transformada em

parque.

- O Prof. Sílvio perguntou à Arq. Simone quem produz os projetos de arborização?

- A Arq. Simone respondeu que são as administrações regionais, elas têm autonomia

de proposição dos projetos.

- O Prof. Vicente dirigiu-se à Profa. Sandra comentando que as APPs são complicadas.

Que a situação ainda está confusa.

- A Profa. Sandra disse que a resolução CONAMA é confusa, tornando difícil o trabalho

das prefeituras.

- O Prof. Sílvio perguntou o que seja “sustentável”, pois para cada um de nós possui

um significado. Questão que incomoda o nosso grupo de pesquisa, parece que o

“sustentável” não inclui planejar para as pessoas.

- A Arq. Rejane Jung disse que mesmo com os corredores/conectores ambientais, os

pequenos animais morrerão, porque de um modo ou de outro, estão em proximidade

urbana.

- O Prof. Sílvio lembra que os discursos e práticas ambientais ignoram os urbanitas e

que há cidades onde inexistem ou são raros os espaços para pedestres. O Prof. Sílvio

lembrou que o índice de impermeabilidade de certas quadras seria baixo.

- A Profa. Marta Romero disse que nas superquadras a impermeabilização é de cerca

de 56%. É elevada.

- O Prof. Sílvio diz que não foi bem o que viu ontem. Há quadras muito diferenciadas.

Page 20: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

20

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Encerramento (Prof. Dr. Silvio Macedo)

Observei que em Brasília, as avenidas para os carros são arborizadas, mas nas

superquadras e, principalmente, nas cidades satélites, na escala do pedestre,

inexistem árvores. Estou fazendo uma provocação para avançarmos na discussão de

amanhã. Outra provocação: qual é o significado de uma praça em Brasília, onde elas

não foram pensadas no Plano Piloto? Outra ainda: onde temos terra seca, onde não

nasce mais árvore do cerrado, porque não manter o fícus e o eucalipto existentes?

Outra provocação ainda: estamos mesmo implantando parques ou bosques urbanos?

Page 21: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

21

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Lista dos presentes às Apresentações dos Agentes Locais – 26 de abril de 2009.

Nome completo

Instituição Função e-mail

Adriana de Vasconcellos Santos Salles

EMBRAPA Arquiteta e Mestre [email protected]

Adriana Marques Seixas

FAU – UnB Graduanda [email protected]

Alba Rodrigues Grilo FAU – UnB Graduanda [email protected]

Ana Cecília de Arruda Campos

FAU – USP Doutora [email protected]

Beanicy Ferreira Machado

FAU – UnB Arquiteta Urbanista [email protected]

Caio Frederico e Silva FAU – UnB Arquiteto Urbanista [email protected]

Catarina Tokatjian Extrema Construção Arquiteta e Urbanista [email protected]

Claudimar de Souza Miranda

NOVACAP Técnico em edificações

[email protected]

Delayse Maria Teles FAU – UnB Arquiteta Urbanista [email protected]

Diana Alejandra Muñoz Arboleda

FAU – UnB Arquiteta paisagista [email protected]

Elizabeth Machado DPJ – NOVACAP Arquiteta e urbanista [email protected]

Fernando de Oliveira Lopes

SEDUMA – GDF Arquiteto e Urbanista [email protected]

Flávio Rodrigues de Queiroz Macedo

GEO – UnB Graduando [email protected]

Francisco Ricardo Costa Pinto

FAU – UnB Arquiteto Urbanista [email protected]

Guilherme Machado de Oliveira

GEA – UnB Graduando [email protected]

Lorena M. Burgos Castelo Branco

FAU – UnB Graduanda [email protected]

Ludmila Dias Fernandes

FAU – UnB Arquiteta Urbanista [email protected]

Luiza Arman Jovita FAU – UnB Graduanda [email protected]

Luiza Campos Magalhães

FAU – UnB Estudante graduação [email protected]

Maria Del Consuelo Lemos

SEDUMA – GDF Arquiteta [email protected]

Marta Regina Soares Mondaini

SEDUMA – GDF Arquiteta [email protected]

Nataniel dos Santos Rocha Mota

FAU – UnB Graduando [email protected]

Raphael Gonçalves Vanderlei

FAU – UnB Graduando [email protected]

Ricardo Viena Anastácio

GEA – UnB Graduando [email protected]

Sérgio Ulisses Silva Jatobá

SEDUMA – GDF Arquiteto e Urbanista [email protected]

Silvia da Castro Brandão

FAU – UnB Graduanda brandã[email protected]

Simone Rose Malty SEDUMA – GDF Arquiteta Urbanista [email protected]

Vanderli Custódio IEB – USP (Geog.) Professora Doutora [email protected]

Page 22: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

22

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

5. DINÂMICA DA OFICINA

A Oficina QUAPA-SEL teve início às 9h e se estendeu até às 19h, do dia 27 de abril

de 2009. Contou com a participação de técnicos da Secretaria do Meio Ambiente

(SEDUMA) do Governo do Distrito Federal (GDF), da NOVACAP e, de acadêmicos e

estudantes de graduação de Arquitetura e Geografia da UnB.

Sobre cartografia, disponibilizada pelo Prof. Dr. Vicente Barcellos (FAU–UnB), os participantes foram divididos em 3 grupos temáticos de trabalho, a saber:

Grupo 1 – Espaços Livres Urbanos Privados

Grupo 2 – Espaços Livres Urbanos Públicos

Nome completo

Instituição Função E-mail

Alexander Villalón FAU – USP Pesquisador [email protected]

Ana Cecília de Arruda Campos

FAU – USP Doutora [email protected]

Diana Alejandra Muñoz Arboleda

FAU – UnB Arquiteta paisagista

[email protected]

Maria Del Consuelo Lemos

SEDUMA – GDF Arquiteta [email protected]

Raphael Gonçalves Vanderlei

FAU – UnB Graduando [email protected]

Nome completo

Instituição Função E-mail

Claudimar de Souza Miranda

NOVACAP Técnico em edificações

[email protected]

Delayse Maria Teles

FAU – UnB Arquiteta urbanista

[email protected]

Elizabeth Machado

DPJ – NOVACAP Arquiteta urbanista

[email protected]

Guilherme Machado de Oliveira

Geografia – UnB Graduando [email protected]

Jorge E. Calderon Minda

Arquitetura – UnB Graduando [email protected]

Marta Regina Soares Mondaini

SEDUMA – GDF Arquiteta [email protected]

Simone Cruz de Lima

DPJ – NOVACAP Arquiteta [email protected]

Vicente Barcellos

FAU – UnB Professor [email protected]

Page 23: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

23

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Grupo 3 – Espaços Livres de Preservação e Conservação / Águas Urbanas

Dinâmica de trabalho dos três grupos da Oficina QUAPÁ-SEL Brasília.

Foi solicitado que cada grupo elaborasse um mapa temático e um quadro síntese

contendo: características, conflitos e potencialidades. No final da tarde os grupos

apresentaram os mapas e quadros desenvolvidos.

Nome completo

Instituição Função E-mail

Giuliana de Brito Sousa

FAU – UnB Pós-graduanda [email protected]

Maria da Assunção P. Rodrigues

FAU – UnB Professora [email protected]

Maurício G. Goulart SEDUMA – GDF Arquiteto [email protected]

Simone Rose Malty SEDUMA – GDF Arquiteta urbanista [email protected]

Vanderli Custódio IEB – USP (Geog.) Professora Doutora [email protected]

Page 24: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

24

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Grupo 1 – Espaços Livres Urbanos Privados: apresentação do mapa

Page 25: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

25

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Quadro Síntese do Grupo 1

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

1- Lago Norte Lago Sul

- Lotes unifamiliares residenciais, dimensão mínima 600m

2, máxima

1.300m2, maioria 800m

2;

- TO 50%, CA 1, max. 8,50mt. (Excluindo cx. d’água); - Muros não permitidos, só cerca viva; - População residente homogênea, alto poder aquisitivo; - Acesso único pela morfologia do lugar (Lago Norte); - Área verde pode ser cercada, mas não construída (sem piscina, piso etc.); - Áreas permeáveis, tratadas paisagisticamente.

- Ocupação privada das áreas públicas (com construção ou pisos), lindeiras aos lotes, seja entre conjuntos; seja à beira do lago; - Possíveis conexões viárias com área varjão (Lago Norte); - Fundiário: governo quer cobrar dos proprietários as áreas invadidas. Haveria perda real das áreas verdes públicas; - Isolamento, sem mobilidade para pedestre (grandes distâncias).

- Preservação de áreas verdes permeáveis.

- Garantia de visuais para o Lago.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

2 - Vicente Pires

- Chácaras transformadas em condomínios; - Lotes provenientes de loteamentos irregulares; - Presença de muitas chácaras ainda não loteadas; - presença de rios e córregos cotando o território; - Lotes grandes (aproximadamente 800m

2), com

bastante área livre; - Moradias unifamiliares; - Cada chácara com aprox. 30 lotes; - Sem infra-estrutura urbana; - Área residencial.

Pouca arborização; - Dentro dos condomínios não há áreas livres comuns, calçadas; - Sem infra-estrutura nem equipamentos, moradores usam os corredores (carros).

- Chácaras ainda não loteadas;

- Espaço livre intralote em abundância.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

3 - Águas Claras

- Verticalização; - Edifício residencial em lote privado; - Impermeabilização do solo; - Pouca área vegetada; - Proximidade entre os edifícios; - Não tem limite de gabarito, relação de dimensão do lote e com traçado a partir da rua.

- Permeabilidade do solo comprometida; - Praticamente sem arborização intralote; - Problemas de salubridade: sem sombra; proximidade dos edifícios pode comprometer a ventilação ao consolidar sua implantação; - Discussão para estabelecer limites de altura: cone definido erroneamente pode gerar prédios mais de 30 andares.

- Área passível de adensamento interessa ao mercado imobiliário.

Page 26: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

26

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

4 - Taguatinga

- Lotes 10 x 30; - Alta taxa de ocupação do lote, mas menos que cidades satélites próximas; - Alta impermeabilidade do solo; - Pouca arborização.

- Salubridade: ventilação / iluminação deficientes; - pouca permeabilidade do solo: mesmo quintais são cimentados.

- Verticalização para liberar área.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

5 - Guará 1 Guará 2

- Área predominantemente residencial, unifamiliar; - Alta ocupação dos lotes, mas casas com quintais; - Alta impermeabilização do solo; - Ocupação horizontal. - Área predominantemente residencial; - Alta ocupação do lote, praticamente total com poucas exceções; - Alta impermeabilização do solo; - Presença de prédios.

- Salubridade: ventilação / iluminação; - Ocupação das calçadas pelas casas; - Permeabilidade do solo comprometida. - Salubridade; - Permeabilidade do solo comprometida; - Prédios com pilotis ocupados e grades avançando na calçada.

- Estoques de espaços públicos a serem privatizados; - Áreas passíveis de verticalização e adensamento; - Possível liberação de espaço livre.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

6 - Samambaia e Recanto das Emas

- Padrão de ocupação horizontal; - Lote mínimo de 125m

2 (5m x

25m); - Repete um padrão de poucos acessos aos conjuntos da quadra. Não é o alinhamento tradicional; - 100% de ocupação do lote; - Verticalização do imóvel para expansão de área construída; - Ocupação da calçada pelos imóveis; - Desrespeito aos índices de ocupação previstos em lei.

- Salubridade: problemas de ventilação / iluminação; - Permeabilidade do solo comprometida; - Invasão das calçadas.

- Estoques de espaços públicos a serem privatizados; - Áreas passíveis de verticalização e adensamento possível liberação de espaço livre.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

7 - Ceilândia

- Características semelhantes à Samambaia e Recanto das Emas, mas com traçado diferente das quadras e sem ocupação das calçadas pelos imóveis; - Lotes 10m x 25m.

- Semelhante aos itens acima, mas sem invasão das calçadas.

Não indicadas.

Page 27: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

27

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

8 - Sudoeste

- Uso residencial e comercial; - Lotes homogêneos; - Espaços privativos com equipamento para lazer (piscina, playground – ginásio); - Fechamento do espaço privado interiorizado; - Separação entre área de comércio e área residencial; - Residencial multifamiliar; - TO 100%, CA-6; - Apesar do solo público a quadra é fechada como condomínio privado.

- Não relacionamento entre espaços públicos e privados; - Pouca arborização (conforto); - Áreas impermeáveis; - Isolamento dos espaços privados sem contato visual com os espaços públicos. - Lotes comerciais fora da lei.

Não indicadas.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

9 - Tele Brasília e Vila Planalto

- Antigos acampamentos da época da construção de Brasília; - Lotes com praticamente 100% de ocupação.

- Ausência de vegetação intralote; - Permeabilidade do solo; - Invasão de calçadas.

Não indicadas.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

10 - Cruzeiro Velho

- Uso residencial unifamiliar; - Fechamento de espaços privados; - Lotes pequenos – bem ocupados.

- Ausência de vegetação intralote; - Permeabilidade do solo.

Não indicadas.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

11- Cruzeiro Novo

- Residencial multifamiliar-unifamiliar; - Pilotis cercados (Área pública).

- Ausência de vegetação; - Permeabilidade do solo; - Ocupação de área pública.

- Abertura dos pilotis e integração com espaço público.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

12 - Plano Piloto: Quadras 900 - 600 Norte - Sul

- Uso institucional – serviços; - Lotes de 1.500m

2;

- TO 50%, CA 1; - Lotes privados – fechados; - Grandes áreas livres internas ao lote; - Tombamento; - Não há obrigatoriedade de criação de vagas de estacionamento.

- Problemas de estacionamento em universidades e hospitais; - Conflitos externos-internos.

- Como área já está consolidada. Não verificamos potencialidades.

Page 28: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

28

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

13 - Plano Piloto: Quadras 700

- Lotes pequenos aproximadamente 200m

2;

- Privatização de área pública nas entrequadras; - Tombamento.

- Uso comercial instalado em imóveis residenciais; - Ocupação máxima do lote.

Não indicadas.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

14 - Clubes

- Usos de lazer e recreação; - Espaços privativos.

- Descaracterização do Plano Piloto; - Privatização da orla do lago; - A cidade não tem acesso ao lago (visual); - Pressão do mercado imobiliário para troca de uso.

- Potencial paisagístico se a Orla for liberada;

- Liberação de áreas privadas para o público;

- Troca de usos previstos para maiores adensamentos.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

15 - Planaltina (cidade tradicional)

- Cidade colonial: a primeira do DF – imóveis tombados; - Ruas de pedra; - Edificação no alinhamento dos lotes; - Padrão de ocupações com residência unifamiliar; - Quintais permeáveis.

- Invasão das margens do córrego.

- Turismo; - Transformação do privado em turístico.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

16 - Planaltina

- Bairros planejados pelo governo; - Desrespeito dos índices de ocupação previstos em norma (ocupação de 100%); - Ocupação das calçadas com postes de iluminação; - Padrão de ocupação residencial.

- Ausência de mata. - Problemas de ventilação; - Permeabilidade do solo comprometida.

- Lotes em estoque para geração de emprego e renda.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

17 - Sobradinho II

- Projetos feitos de acordo com as normas, mas todas as áreas públicas foram ocupadas por moradia; - Lotes com 150m

2;

- Sem permeabilidade.

- Permeabilidade do solo comprometida; - Problemas de ventilação.

- Área consolidada com pouca alternativa de transformação.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

18 - Sobradinho

- Área planejada para classe média; - Taxa de 20% de permeabilidade; - Permanência do jardim central; - Residência unifamiliar.

- Falta ocupação de muitos espaços.

- Áreas possíveis de verticalização e adensamento;

- Transformação do padrão estabelecido com verticalização e liberação de espaços livres;

- Requalificação dos espaços públicos.

Page 29: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

29

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Grupo 2 – Espaços Livres Urbanos Públicos: apresentação do mapa

Page 30: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

30

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Quadro Síntese do Grupo 2

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

1A - Superquadra

- Residencial com acesso de veículo único; - Pilotis; - Comercial; Equipamentos; - Ausência do sistema do lote; - Rua independente dos edifícios; - Caminhos de pedestres independente das vias; - Equipamentos de lazer coletivo.

- Barulho; - Vagas.

- Criação de ciclovias;

- Pedestres: melhorar conexões;

- Qualidade dos materiais;

- Acessibilidade.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

2A - Lago Sul

- Residencial unifamiliar; - Grandes áreas verdes tratadas.

- Invasões de áreas públicas junto ao lago; - Área verde; - Pedestre.

- Faltam ciclovias;

- Acesso para prática de lazer ao lago.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

3A - Taguatinga Cruzeiro

- Residencial unifamiliar; - Multifamiliar; - Áreas muito impermeáveis; - Ocupação total do lote; - Arborização de rua quase inexistente; - Poucas praças.

- Grandes distâncias dos espaços livres públicos, tanto aos parques quanto às praças.

- Grandes estoques de áreas para parques.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

3B - Ceilândia, Samambaia, Riacho Fundo, Recanto das Emas

- Residencial unifamiliar; - Lote comum, rua corredor; - Pouca arborização; - Extensas áreas impermeabilizadas intercaladas com grandes espaços livres sem tratamento. - Situação dos pedestres: 1ª: junto às vias calçadas, estreitas; 2ª: entre quadras desvinculadas das ruas.

- Ausência de tratamento dos espaços livres.

- Estoque de áreas para tratamento;

- Ciclovias;

- Arborização;

- Lazer.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

3C - Águas Claras

- Habitação coletiva em altura; - Lazer no próprio prédio; - Calçadas estreitas, alta densidade.

- Ruas estreitas; - Pedestres x auto x ciclistas.

- Conectividade com o parque.

Page 31: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

31

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

4 - Casas em fitas geminadas

- Rua seca, alternada com área parque.

- Não indicados.

- Não indicadas.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

5 - Invasões Vicente Pires

- Residencial unifamiliar; - Predomínio de condomínios privados irregulares oriundos de chácaras parceladas (concessão); - Espaços permeáveis dentro do lote.

- Falta de espaços livres públicos; - Falta de calçadas, circulação de pedestres.

- Estoques de estreitas áreas junto a córregos.

Grupo 3 – Espaços Livres de Preservação e Conservação / Águas Urbanas: apresentação do mapa

Page 32: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

32

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Quadro Síntese do Grupo 3

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

1. Lago Norte (SHIN) Lago Sul (SHIS) Parkway (SMPW)

- Lotes de 1.500m

2 a 20.000 m

2;

- Antigas chácaras não parceladas; - Poder aquisitivo alto; - Densidade baixa; - Casas isoladas no meio do lote; Lotes de 800 m

2 (SHIN/SHIS) a

2.000m2 (SHPW);

- Quase totalmente residencial; - Sistema viário com hierarquia clara (espinha dorsal); - Alto valor dos imóveis.

- Baixo interesse coletivo; - Muitos conflitos entre os moradores; - Muitas invasões de áreas verdes públicas; - Apropriação indevida dos espaços contíguos à água.

- O parcelamento respeita as premissas ambientais: fundos de vales, topografia...;

- Baixo lançamento de efluentes;

- Maior esclarecimento da população, p. ex., coleta seletiva de lixo.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

2. Plano Piloto: (Asa Norte – SQN) (Asa Sul – SQS)

- Plano de Lucio Costa: superquadras, unidades de vizinhança; - Área mais antiga; - Alto poder aquisitivo; - Baixa densidade; - Blocos de apartamentos e casas geminadas (Quadra 700); - Alto valor dos imóveis: aproximadamente R$4.000,00 a R$8.000,00 m

2.

- Elevada especulação imobiliária; - Alto tráfego: congestionamento e falta de estacionamentos.

- Alto interesse na manutenção da qualidade de vida;

- Alta mobilidade da população, geralmente mais idosa

- Muitas amenidades: proximidade do comércio, atendimento à saúde, atividades culturais e de lazer;

- Interesse da população na preservação ambiental.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

3. Guará I e II, Sobradinho I e II, Planaltina

- Classe média; - Lotes entre 200m

2 e 800m

2;

densidade média; - Elevado esclarecimento da população.

- Ocupação ordenada; - Margens dos cursos d’água desprezadas, desvalorizadas.

- Possibilidade de criação de muitos parques: de uso múltiplo > recuperação de áreas degradadas > áreas de lazer.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

4. Mansões Sobradinho Grande Colorado Vicente Pires: antiga colônia agrícola

- Classe média expulsa do Plano Piloto devido à especulação imobiliária; - Condomínios fechados; - Lotes entre 500m

2 e 1.000m

2;

- Densidade média; - Áreas decorrentes de invasões e ocupação irregulares.

- Baixa qualidade técnica dos projetos de ocupação; - Muitos lotes residenciais; - Poucos lotes institucionais e de comércio; - Ocupação de encostas e áreas ambientalmente frágeis.

- População com maior senso de mobilização / união;

- Maior disposição para acordos de regularização da situação fundiária;

- Tentativa de adequação à legislação ambiental.

Page 33: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

33

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

5. Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e II, Vila Estrutural, Águas Claras Sul, (*) Santa Maria, (*) Brazlândia, (*) Gama. Obs. (*) fora do mapa.

- Cidades planejadas, destinadas a abrigar população recém-chegada e proveniente de invasões; - Baixa renda, originalmente; - Corredores de transportes (saída sul)

- Baixa infra-estrutura; - Muitos avanços sobre os cursos d’água; - Uso dos rios para diluição de efluentes; - Elevados lançamentos de esgoto e muitas captações; - Pouco esclarecimento e interesse da população sobre conceitos de preservação ambiental.

- Grande participação popular (associações e cooperativas) > mobilização e ações coletivas;

- Áreas de interesse político, devido à alta densidade habitacional.

TIPOS CARACTERÍSTICAS CONFLITOS POTENCIALIDADES

6. Águas Claras Norte - Verticalização acentuada; - Elevadíssima densidade.

- Inexistem galerias de águas pluviais; - Sistema viário comprometido.

Não indicadas.

6. RESULTADOS DA OFICINA3

Mapa síntese explicado pelo Prof. Dr. Silvio Soares Macedo

3 Colaboração do Arq. Sidney Vieira Carvalho (Ministério das Cidades) nas anotações do item.

Page 34: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

34

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

Brasília nunca foi voltada para suas águas (rios ou lagos), é construída no altiplano.

Não aproveita esse elemento como uma forma de composição espacial e cênica.

Esses espaços livres foram os que restaram dos planos de ocupação, mesmo no Plano

Piloto.

Por que os parques não se consolidam em Brasília? Porque inexiste demanda para

todos eles. Nesse sentido, o parque mais utilizado, o Parque da Cidade Dona Sarah

Kubitschek, é aquele onde há maior densidade habitacional no entorno.

As vias, em geral, são pensadas como vias-parque (parkways), que carecem de

tratamento, mas que, por isso mesmo, revelam potencial paisagístico. As pessoas

praticam caminhada e corrida ao longo delas.

Verifica-se, no Plano Piloto, uma baixa densidade habitacional, com muito espaço livre

intra-quadra, o que acaba por constituir uma cidade-bosque. E não podemos falar em

cidade-parque, pois o Plano carece de conexões e estruturação em seus espaços

livres. As superquadras, também nesse sentido, foram desenhadas como unidades

autônomas, mesmo nos lugares onde uma maior conexão seria possível.

Em áreas de ocupação recente de classes médias, como Vicente Pires e Águas

Claras, a qualidade urbana é pior até mesmo que em ocupações mais antigas de

populações de baixa renda, como Taguatinga. Interessante pois, mesmo havendo uma

fuga das classes médias desses locais de população caracteristicamente mais pobre,

essa fuga se dá em direção a locais de piores qualidades urbanas, tanto de desenho

viário (Vicente Pires é uma invasão de classe média em áreas de chácaras loteadas,

sem qualquer espaço livre público ou equipamento comunitário), quanto de volumetrias

construídas (Águas Claras é um bairro de edifícios habitacionais verticalizados, sem

muito distanciamento entre os blocos, reproduzindo o que há de pior nas densas áreas

habitacionais paulistanas).

Há um divisor de águas que é também um divisor socioeconômico: maior número de

pobres e maior densidade nas quadras leste da Bacia do Córrego Descoberto

(esquerda de Goiás, em direção à Corumbá), e menos denso para a direita em direção

ao Lago Paranoá.

O arruamento planejado em todas as quadras de Brasília é uma vantagem a ser

aproveitada.

Page 35: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

35

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

O modelo da cidade contemporânea é de difusão e dispersão: Brasília já foi criada com

esse formato.

As áreas de vivência não são tratadas em Samambaia, Ceilândia, etc, ou seja, nas

cidades satélites faltam espaços de vizinhança e de encontro; faltam praças.

O estoque de áreas de preservação permanente junto a cursos d’água é grande, mas a

visibilidade para o rio e para as áreas de fundo de vale é pequena, o que dificultará o

uso e a apropriação desses espaços. Há necessidade de ampliação da acessibilidade.

A arborização urbana só existe na proteção dos corpos d’água e no Plano Piloto,

sendo o restante da cidade desprovida desse cuidado.

O restante da cidade, ou seja, fora do Plano, é marcado por uma alta densidade

construída, mesmo nas áreas de ocupação de população mais rica.

Um fato interessante é que, dadas as condições de acessibilidade através de

automóveis, Brasília parece ter antecipado uma tendência que vem se verificar em

diferentes cidades brasileiras em processo de crescimento na atualidade: a dispersão

da urbanização. Antes, era um fator de diferenciação, mas hoje pode ser vista como

profética de uma tendência geral. E nesse sentido é privilegiada, pois dispõe de

grandes espaços livres para resolução de problemas de ocupação, circulação, etc.

Assim, pode crescer e acomodar melhor a população, o que é facilitado por ter o

controle das terras do distrito e executar os projetos de loteamento das áreas de

expansão.

De uma maneira geral, falta projeto de paisagismo em toda a cidade, com exceção da

Super Quadra Sul 308, projetada pro Roberto Burle Marx, o que é de se estranhar em

se tratando de uma cidade cujo “casco histórico” foi majoritariamente projetado. Por

outro lado, a discussão de desenho urbano concentra-se no Plano Piloto, e nas

maneiras de manter a sua qualidade nas mais recentes ampliações (Noroeste e

Sudoeste). As áreas de expansão ficam a reboque, com pouca atenção.

O grande parque, tanto no sentido simbólico, quanto no sentido espacial, seria o Eixo

Monumental. A necessidade de novos espaços livres é pequena.

Problemas graves que podem ser encontrados na cidade é a privatização dos espaços

livres públicos, a falta de conexão e caminhos para pedestres e a baixa qualidade do

transporte público.

Page 36: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

36

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

A cidade permite, pela quantidade de espaços livres, uma quantidade enorme de

espaços usados de forma inusitada. São diversos espaços informais que acabam

sendo usados para recreação e lazer (cachoeiras, curvas de rio, baixios de pontes,

etc.). Fica a sugestão para que os pesquisadores locais escrevam sobre esses

espaços, identificando e caracterizando conceitualmente essas áreas de tamanho

interesse para a população.

Isso porque a questão do lazer ao ar livre ganha outros ares na fase pós-televisão, pois

mudam as formas de ocupação nos períodos livres. Os parques, nesse sentido,

dependem muito mais das possibilidades de acesso, da densidade da demanda

próxima e o tempo de ócio reservado para a população ao tipo de recreação que pode

ser exercido em parques.

Cabe lembrar que os problemas de desatenção ao pedestre, dificuldade de circulação

e apropriação são mais graves nas cidades satélites.

No geral, há muito estoque de áreas livres em Brasília, mas faltam projetos e

tratamento paisagístico.

DISCUSSÃO FINAL

Alguns técnicos questionaram a fala do Prof. Sílvio quanto ao pouco uso dos parques:

segundo eles são muito utilizados e há demanda sim;

Simone Rose Malty, arquiteta paisagista da SEDUMA-GDF, do Grupo 3, informou que

em Brasília o arruamento é sempre elaborado, mesmo nas “cidades satélites” mais

pobres. Informou também, que na cidade existem alguns lotes padrão: 8mx20m,

10mx30m, 16mx30m, 20mx40m e 16mx50m. São definidos coeficiente de ocupação e

área permeável dos lotes. Quando das remoções são oferecidas algumas plantas-

padrão para que o futuro morador escolha, se assim o desejar, facilitando o trâmite de

regularização junto ao poder público.

A Profa. Vanderli perguntou de onde vem a água que abastece Brasília. Disse que a

expulsão/remoção dos pobres do Plano Piloto para as cidades satélites, concentradas

a noroeste e oeste de Brasília, transfere os problemas ambientais, principalmente os

hídricos para a bacia do Descoberto, ou seja, para as bacias vizinhas.

Um técnico informou que a água que abastece Brasília vem de fora da cidade.

Page 37: RELATÓRIO · 3 OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA ... colaboração local do Prof. Dr. Vicente de P. Q. Barcellos e da Profa. ... com base no projeto urbanístico de

LABORATÓRIO DA PAISAGEM

37

OFICINA QUAPÁ-SEL BRASÍLIA (DF)

OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES E A CONSTITUIÇÃO DA ESFERA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL.

A Profa. Vanderli lembrou que seria importante considerar o princípio de que as águas

de uma bacia hidrográfica devem ser utilizadas pela população que nela está

localizada, evitando o uso dos recursos de bacias vizinhas. Anotou que a verticalização

de Águas Claras comprometerá o albedo, a circulação do vento, a permeabilidade do

solo, e criará uma bolha climática urbana, com potencialidade de gerar “situações de

desastre” do tipo inundações. Anotou também, que os hábitos e costumes das formas

de apropriação urbanas se repetem em Brasília: a ascensão social urbana passa pelo

tamanho dos lotes: do menor ao maior.

7. ANEXOS - Programação