RELATO DE EXPERIÊNCIA-USO DE TECNOLOGIA … · saber, a descoberta do eu professor e do eu aluno e...

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RELATO DE EXPERIÊNCIA: USO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO RECURSO MEDIADOR PARA A ALFABETIZAÇÃO DE ALUNO COM BAIXA VISÃO E DÉFICIT COGNITIVO GARROLICI ALVARENGA [email protected] MESTRADO PROFISSIONAL EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO RAUL FERRAREZ [email protected] SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE MACAÉ THAYS MERÇON [email protected] MESTRADO PROFISSIONAL EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO LUIZ ANDRADE [email protected] MESTRADO PROFISSIONAL EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO RESUMO O presente trabalho apresenta, através de um relato de experiência, a utilização de tecnologias interativas e assistivas no atendimento educacional especializado em SRM – Sala de Recursos Multifuncional. Desafiados com o problema de um aluno do 5° ano, com 15 anos de idade, que apresentava diagnóstico de baixa visão, défict cognitivo, sem aquisição da leitura e escrita e defasagem de série/idade, utilizamos recursos tecnológicos do Dosvox, através de jogos, e também a mediação do professor que possibilitou a utilização destes recursos no processo ensino aprendizagem. O relato propõe uma reflexão nas possibilidades e caminhos do fazer e do saber, a descoberta do eu professor e do eu aluno e a dinâmica entre ambos para o avanço no desenvolvimento educacional. Como resultado desta experiência, ressaltamos o estabelecimento de uma relação de confiança e afetividade entre professor e aluno, uma maior aceitabilidade do aluno com a mediação tecnológica e ludicidade dos jogos e uma aprendizagem significativa mais efetiva. PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia assistiva – Mediação professor aluno – Avaliação.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA: USO DE TECNOLOGIA

ASSISTIVA COMO RECURSO MEDIADOR PARA

A ALFABETIZAÇÃO DE ALUNO COM BAIXA VISÃO

E DÉFICIT COGNITIVO

GARROLICI ALVARENGA [email protected] MESTRADO PROFISSIONAL EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO

RAUL FERRAREZ [email protected] SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE MACAÉ

THAYS MERÇON [email protected] MESTRADO PROFISSIONAL EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO

LUIZ ANDRADE [email protected]

MESTRADO PROFISSIONAL EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO

RESUMO

O presente trabalho apresenta, através de um relato de experiência, a utilização de tecnologias interativas e assistivas no atendimento educacional especializado em SRM – Sala de Recursos Multifuncional. Desafiados com o problema de um aluno do 5° ano, com 15 anos de idade, que apresentava diagnóstico de baixa visão, défict cognitivo, sem aquisição da leitura e escrita e defasagem de série/idade, utilizamos recursos tecnológicos do Dosvox, através de jogos, e também a mediação do professor que possibilitou a utilização destes recursos no processo ensino aprendizagem. O relato propõe uma reflexão nas possibilidades e caminhos do fazer e do saber, a descoberta do eu professor e do eu aluno e a dinâmica entre ambos para o avanço no desenvolvimento educacional. Como resultado desta experiência, ressaltamos o estabelecimento de uma relação de confiança e afetividade entre professor e aluno, uma maior aceitabilidade do aluno com a mediação tecnológica e ludicidade dos jogos e uma aprendizagem significativa mais efetiva.

PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia assistiva – Mediação professor aluno – Avaliação.

INTRODUÇÃO

Atualmente é possível encontrar vários alunos com deficiência visual,

principalmente aqueles com baixa visão, no sistema regular de ensino. Muitos destes

alunos, no entanto, acabam por não conseguir um bom desempenho escolar e este

problema é ainda mais agravado quando outras questões de natureza pedagógica,

social ou econômica se sobrepõem à deficiência visual.

Embora vários recursos tecnológicos estão hoje disponíveis como importantes

ferramentas pedagógicas assistivas, na maioria das vezes elas não são bem exploradas

no processo de ensino aprendizagem dos estudantes com deficiência visual, seja pela

simples ausência das mesmas no âmbito institucional, seja pela falta de conhecimento

dos profissionais da educação, que ainda não dominam estes recursos.

Diante dos desafios a serem superados, tanto pelos alunos com deficiência

visual, quanto pelos docentes que trabalham diretamente com estes alunos ao longo

do desenvolvimento educacional, a começar pela alfabetização, este trabalho busca

apresentar, com um relato de experiência, as dificuldades encontradas e as iniciativas

desenvolvidas por um professor que atua no AEE.

Para tanto, algumas questões são norteadoras de nosso Relato de Experiência.

Seria a avaliação interativa um método? Uma estratégia de intervenção? Há

diferenças nas palavras método e estratégia? Como podemos conceituar e utilizar

ambas para uma aprendizagem significativa, quando utilizada com os sujeitos que

apresentam uma limitação visual como a baixa visão associada a um déficit

cognitivo?

TECNOLOGIA, BARREIRAS E POSSIBILIDADES

De acordo com Crapes, M.A.Z. (2013) o método é um conjunto de técnicas de

ensino, cuidadosamente organizadas para se atingir um objetivo específico, no caso

específico da educação: os objetivos de aprendizagem. Assumindo que as pessoas que

apresentam algum tipo de deficiência podem desenvolver suas potencialidades, de

forma diferente, com tecnologias assistívas, apresentaremos nos parágrafos abaixo o

referencial teórico que sustenta nossa opção. Assim, para Giroto e colaboradores

(2012), as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) apresentam-se como promissoras

para a implementação e consolidação de um sistema educacional inclusivo, pelas suas

possibilidades inesgotáveis de construção de recursos que facilitam o acesso às informações,

conteúdos curriculares e conhecimentos em geral, por parte de toda a diversidade de pessoas

dentre elas as que apresentam necessidades especiais.

Para a inserção tecnológica de pessoas com deficiência visual, vários softwares

estão disponíveis no mercado brasileiro com soluções educacionais gratuitas. Cabe ao

professor, no entanto, observar as características de cada software para poder

selecionar e colocar à disposição dos alunos que necessitem destas ferramentas.

Infelizmente, o desconhecimento do manuseio destes recursos por parte dos

professores impede a utilização dos mesmos no processo educativo. Este

desconhecimento dificulta ainda mais o processo ensino aprendizagem dos alunos com

deficiência, diminuindo as chances dos mesmos de atingirem êxito educacional e

autonomia. É comum observar o uso pelos professores de estratégias ultrapassadas

que insistem numa aprendizagem mecânica, padronizada com a suposição de que

todos alunos devam aprender num mesmo tempo, da mesma forma e através dos

mesmos recursos didáticos. Neste cenário, os sujeitos com limitações ou deficiências

não se enquadram, ou até mesmo são segregados e deixados à margem do processo

de aprendizagem, tornando-os mais limitados, com baixa autoestima, que é pior do

que a própria deficiência primária. Além dos obstáculos inerentes à formação dos

professores no contexto da tecnologia e da dificuldade dos mesmos de se

relacionarem, tecnologicamente falando, com seus estudantes com deficiência visual,

também podemos encontramos as barreiras atitudinais dos próprios estudantes com

deficiência visual, o que dificulta ainda mais o processo. Paulo Freire nos ensina,

através de suas reflexões no campo educacional, que o processo ensino aprendizagem

exige pesquisa diária sobre a melhor forma de construir e socializar o conhecimento

com os estudantes. De acordo com este “ensinar exige segurança, competência

profissional e generosidade.” A segurança do saber pesquisador, a competência na

busca de objetivos e a generosidade em se permitir e permitir ao o outro a construção

do saber. Na relação dialógica entre educadores e educandos, é importante que os

estudantes possam ler o mundo, antes mesmo de ler a palavra. (Freire, 1996)

ESPECIFICIDADE DA BAIXA VISÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera deficiente visual a pessoa

que é privada, em parte (segundo critérios preestabelecidos) ou totalmente, da

capacidade de ver. Baixa visão, ou visão subnormal, é o comprometimento do

funcionamento visual em ambos os olhos, mesmo após correção de erros de refração

comuns com uso de óculos, lentes de contato ou cirurgias oftalmológicas. Trata-se de

uma definição técnica e quantitativa. Baixa visão é para quem tem uma acuidade visual

menor que 0,3 (Snellen), até a percepção de luz ou, um campo visual menor que 10

graus do ponto de fixação. Quando o oftalmologista detecta deficiência visual numa

criança, deve encaminhá-la aos serviços especializados para ser submetida a uma

avaliação. Por meio de testes, serão analisadas todas as suas funções visuais a fim de

compreender como essa criança está enxergando. Saber isso é importante porque, no

processo de reabilitação visual, esse dado será transmitido aos profissionais da área de

educação que vão dar apoio à inclusão da criança com baixa visão na escola comum. O

professor precisa saber como a criança enxerga para fazer alterações no ambiente

escolar e no material didático a ser utilizado, de modo a favorecer o melhor

desempenho visual possível dos indivíduos com deficiência visual.

Em 29 de julho de 2008, foi sancionada a Lei n° 4.189/2008, tornando

obrigatória a realização do "Teste do Olhinho " no Distrito Federal. Este teste deve ser

realizado imediatamente após o nascimento e, ao ser detectado algum problema, a

criança deverá ser assistida por um oftalmologista. Nesta perspectiva, as crianças

deveriam ser acompanhadas por oftalmologistas desde o nascimento, especialmente

em crianças prematuras. O exame oftalmológico em relação a prevenção deveria ser

realizado uma vez por ano.

HISTÓRICO

Raul Ferraz, Professor, um dos autores deste trabalho.

Raul Ferraz ficou cego aos 23 anos de idade. Atualmente, com 46 anos de idade, ele é

formado em Pedagogia pela UNIRIO e é professor da rede Municipal da Prefeitura

Municipal de Macaé, desde o ano de 2005. Antes de atuar como professor no

município de Macaé, Raul Ferraz trabalhou na câmara escura de hospital na área da

Saúde, no município de Campos dos Goitacazes, no entanto, encontrou sua verdadeira

vocação, segundo ele mesmo diz, quando começou atuar como professor, nos dois

municípios anteriormente citados. Uma das falas do professor durante o trabalho que

será aqui relatado com o aluno Matheus.

“...é uma alegria participar desse momento tão legal na vida dele! São

experiências fantásticas a cada dia vivenciada. Aos poucos, estamos atingindo

objetivos aparentemente difíceis. Mas ele é quem é o grande responsável disso tudo.

Vamos seguir na caminhada!”

Raul Ferraz – Professor de SRM

Matheus, O Aluno.

Matheus, filho único de D. Zelia, nasceu em 27/09/1998, no Estado do Sergipe.

Ele veio para Macaé, RJ, acompanhado da sua mãe, quando tinha ainda 10 anos de

idade. Atualmente ele está matriculado no 5º ano de escolaridade, com histórico

escolar de repetência. Esta historia de insucesso escolar é acompanhada por diversos

laudos e exames provenientes de profissionais da área da saúde - oftalmologistas,

neurologistas e psicopedagogos. Tivemos acesso aos inúmeros relatórios destes

profissionais, alguns dos quais solicitando intervenção psicopedagógica. Em alguns

destes laudos, apareceu o termo “urgentemente”, com diagnóstico de baixa visão e

significativo atraso cognitivo e psicomotor. Matheus nasceu prematuro, mas não

temos registro da causa disto e nem a mãe soube nos informar. Ela se lembra do baixo

peso e da respiração irregular de Matheus após o nascimento, de suas crises

convulsivas e do uso da medicação controlada, que ele veio a utilizar, carbezepina e

gardenal, por recomendação médica. "Tem dia que Matheus se apresenta elétrico e

outros dias ele se apresenta apático", disse ela. Ele vive só com a mãe desde os anos

iniciais da sua vida. Não tendo contato com o pai, nunca pronuncia o seu nome ou faz

qualquer menção ao mesmo. A mãe demonstra muita preocupação com o

desenvolvimento escolar de Matheus, principalmente com relação à leitura e à escrita,

mas ainda tem grande dificuldade na questão de acompanhamentos terapêuticos.

Assim diz ela: “... não levo meu filho no médico, por que ele enche Matheus de

remédios e Matheus não é doido, não precisa de remédios...”.

Garrolici, uma das autoras deste trabalho.

Eu, Garrolici Alvarenga, coordeno a área de deficiência visual no município de

Macaé desde 2010. Eu venho acompanhando o percurso educacional do Matheus,

particularmente no que tange a construção dos Planos de AEE das unidades escolares,

junto aos professores de SRM e equipe pedagógica das unidades escolares por onde

Matheus passou. Nestas oportunidades, sempre orientei o uso da tecnologia para

facilitar a alfabetização e o letramento do referido aluno. No entanto, vários fatores

dificultaram ou mesmo impediram o uso das tecnologias assistivas, dentre os quais eu

ressaltaria a insegurança do professor no manuseio dos recursos e ferramentas

tecnológicas. Entre as diversas “desculpas” registradas constam os relatos de

“culpabilidade do aluno", atribuindo-lhe a falta de interesse no que lhe era proposto.

ESCOLA E QUESTÕES DE APRENDIZAGEM

No final do ano de 2013, estivemos reunidos com a Equipe Pedagógica da U.E.,

onde Matheus estava cursando o 5º ano, para definir algumas questões em relação a

permanência dele na série ou no avanço para o 6º ano. Contatava-se que Matheus

ainda não havia alcançado a leitura e a escrita e, portanto, não poderia passar para o

6º ano? A preocupação era com ele ou por ele? Participei deste encontro e defendi a

permanência dele no 5º ano e também o seu remanejamento para outra U.E, onde

poderíamos contar com o apoio do Prof. Raul Ferraz. Advoguei que deveríamos

realizar um atendimento mais individualizado do Matheus na SRM, preparando-o para

o desafio de um 6º ano mais seguro. Ressalto que esta estratégia foi utilizada com o

objetivo de driblar as dificuldades encontradas para iniciar a inserção da tecnologia,

como gostaríamos desde o início de sua chegada ao sistema municipal de ensino. Este

parágrafo dá uma ideia das dificuldades encontradas para atender, de forma

individualizada, as especificidades dos alunos com deficiência visual. O sistema ainda é

vulnerável, não prevendo soluções para a diversidade dos problemas que se

apresentam no cotidiano escolar, particularmente quando estudantes com deficiência

visual estão envolvidos. Assim, diante de um relatório extenso, com a participação de

toda equipe pedagógica da escola, coordenação de educação especial e mãe, foi

estabelecido a permanência do aluno no 5º ano, com o objetivo de “garantir uma

melhor preparação e segurança” ao aluno para uma escolaridade mais avançada, que

certamente exigiria maiores desafios.

AVALIAÇÃO INTERATIVA OU ASSISTIVA: UM RECURSO DE AÇÃO

ENTRE PROFESSOR E ALUNO

A avaliação assistida ou interativa é definida como um procedimento de

avaliação do pensamento, percepção, aprendizagem e resolução de problemas,

mediante um processo de ensino que visa modificar o funcionamento cognitivo, sendo

uma abordagem ativa à deficiência e às dificuldades de aprendizagem (FONSECA,

1998; TZURIEL, 2001). Essa abordagem de avaliação tem como fundamentação teórica

o conceito amplamente discutido de Zona de Desenvolvimento Proximal - ZDP, de

Vygotsky (1991), e o conceito de Experiência de Aprendizagem Mediada - EAM, de

Feuerstein, ambos trazendo destaque para o papel das variáveis sócio-culturais no

desenvolvimento cognitivo (FEUERSTEIN et al., 1987; TZURIEL,2001).

No caso específico deste trabalho, Matheus iniciou o ano de 2014 na U.E. Jofre

Frossard, onde trabalhava o professor Raul Ferraz, responsável pelo AEE dos alunos

com deficiência visual. A pesquisa em ação, conforme os ensinamentos de Feuerstein,

se iniciaria com uma perspectiva básica, qual seja: descobrir a comunicação de

Matheus e o seu contexto e performance cognitivo. De acordo com Coelho (2011)

quando se utiliza estratégias didáticas, temporárias e ajustáveis ao desempenho do

aprendiz, o examinador na avaliação interativa ajuda a revelar o seu desempenho

potencial fazendo-o alcançar um grau crescente de autonomia em situação de solução

de problemas. Assim, algumas perguntas devem ser formuladas a todos os momentos

para descobrir os meios pelos quais a aprendizagem é construída pelo

aluno/professor. Como se deu o início do processo de construção da aprendizagem

pelo aluno? Quais são os caminhos percorridos na busca de alternativas pedagógicas

que favoreceram a descoberta de entenderem/compreenderem? Quais recursos o

aluno trouxe nesses poucos meses de trabalho, onde alguns avanços importantes

foram alcançados?

UMA ABORDAGEM PRÁTICA DO PROFESSOR

Neste Relato de experiência, verificamos a dificuldade de Matheus na

compreensão de informações básicas do seu próprio ser, tais como: data de

nascimento, idade biológica, domínio de escrita e leitura, etc. Nem mesmo a escrita

digital fazia parte de seu nível de conhecimento. Diante de tal constatação, o medo, a

angústia, a incerteza e dúvidas estiveram presentes no momento inicial do trabalho.

Mas, restava a última alternativa: a coragem para enfrentar mais um desafio tão

importante quanto a vontade de aprender do aluno. Em face de todas essas situações

contrárias às possibilidades sobre o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, a

única alternativa foi lançar mão dos recursos digitais para tentar uma outra forma de

construção da escrita e leitura. Até mesmo esse caminho, inicialmente, parecia

complicado. Porém, ao longo dos dias, o aluno foi surpreendendo e se desenvolvendo

a cada dia. Quando se iniciou o processo de uso das teclas, parecia que nada daria

certo. A coordenação motora de Matheus não favorecia um posicionamento dos dedos

sobre o teclado, e o mesmo se perdia na localização das teclas. Como conseguir

avançar então nesta atividade? Para resolver este problema, peguei uma folha de

papel e fui dobrando-a até conseguir deixá-la mais dura, com uma parte dobrada, de

forma que encaixasse nas lacunas entre as teclas. Percebi que estava dando certo. Fiz

outra folha e deixei apenas uma linha de teclas sob seu domínio manual. Depois que

ele trabalhou bastante na linha do "A ao Ç", trocamos a folha de linha e cobrimos

aquela já trabalhada. Nas outras linhas ele foi descobrindo os sons das letras e a

posição de cada uma delas no teclado. Com estas mudanças, Matheus começou a

dominar o teclado e, portanto, avançar no aprendizado.

Uma outra etapa importante foi a inserção do jogo letravox1 para que ele

1 LETRAVOX – um jogo do dosvox, que produz através da digitação o som das letras.

conseguisse fixar ainda mais os sons das letras e, assim, utilizá

facilidade. Numa busca incessante de recursos que pudess

aprendizagem, descobri um teclado com tamanho superior ao tradicional, com letras

maiores e em cores diferenciadas (vogais, consoantes, números). A escola adquiriu o

aparelho e, logo, percebemos que, com o mesmo, se tornou mais fácil a ide

das letras. Aos poucos, as atividades foram aplicadas, de forma que suas habilidades

na escrita digital foram gradativamente melhoradas. O jogo letravox

compreensão/fixação das letras em associação com o som. Outro importante jogo

utilizado foi o letrix (jogo das palavrinhas), ambos no

diretamente na escrita de palavras, tais como: seu nome (inicialmente), nome da

professora, da diretora e de outras pessoas que trabalharam com ele nesse processo

de construção do conhecimento.

Imagem: Matheus utilizando o teclado parcialmente tampado, utilizando os jogos

Com o passar dos dias, perceb

pequenos, visando provocar nele o interesse pelo trabalho de leitura digital. Pequenos

textos foram trabalhados, onde as atividades foram propostas contendo uma

alternativa certa e uma errada, uma vez que, inicia

alternativas, percebeu-se que estava mais difícil sua análise. Na interpretação oral, ele

foi, aos poucos, se atentando para o contexto apresentado e respondia várias

indagações orais. Sua capacidade de abstração foi aumentando gra

maioria das aulas, o trabalho com texto tem sido usado, tendo sempre como foco uma

letra do alfabeto.

conseguisse fixar ainda mais os sons das letras e, assim, utilizá-

facilidade. Numa busca incessante de recursos que pudessem facilitar sua

aprendizagem, descobri um teclado com tamanho superior ao tradicional, com letras

maiores e em cores diferenciadas (vogais, consoantes, números). A escola adquiriu o

aparelho e, logo, percebemos que, com o mesmo, se tornou mais fácil a ide

das letras. Aos poucos, as atividades foram aplicadas, de forma que suas habilidades

na escrita digital foram gradativamente melhoradas. O jogo letravox

compreensão/fixação das letras em associação com o som. Outro importante jogo

(jogo das palavrinhas), ambos no dosvox, o qual influenciou

diretamente na escrita de palavras, tais como: seu nome (inicialmente), nome da

professora, da diretora e de outras pessoas que trabalharam com ele nesse processo

ecimento.

Matheus utilizando o teclado parcialmente tampado, utilizando os jogos do Dosvox.

Com o passar dos dias, percebemos que já seria possível trabalhar com textos

pequenos, visando provocar nele o interesse pelo trabalho de leitura digital. Pequenos

textos foram trabalhados, onde as atividades foram propostas contendo uma

alternativa certa e uma errada, uma vez que, inicialmente, com mais de três

se que estava mais difícil sua análise. Na interpretação oral, ele

foi, aos poucos, se atentando para o contexto apresentado e respondia várias

indagações orais. Sua capacidade de abstração foi aumentando gradativamente. Na

maioria das aulas, o trabalho com texto tem sido usado, tendo sempre como foco uma

-las com maior

em facilitar sua

aprendizagem, descobri um teclado com tamanho superior ao tradicional, com letras

maiores e em cores diferenciadas (vogais, consoantes, números). A escola adquiriu o

aparelho e, logo, percebemos que, com o mesmo, se tornou mais fácil a identificação

das letras. Aos poucos, as atividades foram aplicadas, de forma que suas habilidades

na escrita digital foram gradativamente melhoradas. O jogo letravox¹ melhorou a

compreensão/fixação das letras em associação com o som. Outro importante jogo

, o qual influenciou

diretamente na escrita de palavras, tais como: seu nome (inicialmente), nome da

professora, da diretora e de outras pessoas que trabalharam com ele nesse processo

do Dosvox.

que já seria possível trabalhar com textos

pequenos, visando provocar nele o interesse pelo trabalho de leitura digital. Pequenos

textos foram trabalhados, onde as atividades foram propostas contendo uma

lmente, com mais de três

se que estava mais difícil sua análise. Na interpretação oral, ele

foi, aos poucos, se atentando para o contexto apresentado e respondia várias

dativamente. Na

maioria das aulas, o trabalho com texto tem sido usado, tendo sempre como foco uma

Atualmente, Matheus já identifica as letras através do som de cada uma delas,

bem como as sílabas que são formadas com suas respectivas vogais. É um trabalho

árduo, mas vem sendo efetivado pela vontade do Matheus de aprender. Ele frequenta

as aulas diariamente, corresponde ao trabalho sempre com muito entusiasmo, dizendo

que precisa terminar a atividade da aula anterior. Sempre é questionado sobre o

assunto da aula anterior e diz tudo o que ele fez.

A PARCERIA E O DESEJO DA EQUIPE

A Escola é muito importante para desenvolver um trabalho como este e,

portanto, gostaríamos de ressaltar a parceria e o desejo de toda a equipe pedagógica

da Escola Municipal Jofre Frossard para facilitar o nosso trabalho com o Matheus.

Todas às vezes que solicitamos da unidade algum material para trabalhar com o aluno,

há um pronto atendimento da direção e da equipe técnico/pedagógica. A professora

regente e sua auxiliar dão total atenção ao aluno e busca recursos pedagógicos que

são favoráveis ao seu desenvolvimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a nossa vivência e o desenvolvimento desse trabalho, observamos que

a aquisição da escrita e da leitura digital pode facilitar o aprendizado de crianças com

deficiência visual, mesmo aquelas diagnosticadas com déficit de atenção ou problemas

cognitivos. Ao aluno cabe a tarefa de querer aprender. Ao professor cabe a tarefa de

aprender a ensinar em diferentes circunstâncias e adequar a melhor estratégia para

cada aluno, ou grupo de alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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