Relat rio PIBIC Simoni Mendes -...
Transcript of Relat rio PIBIC Simoni Mendes -...
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
RELATÓRIO FINAL
PIBIC 2006/2007
AFRICANOS ENTRE AÇORIANOS: ROTAS DO TRÁFICO ATLÂNTI CO E IDENTIDADE ÉTNICAAFRICANA NO LITORAL CATARINENSE (1750 – 1888)
BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICASIMONI MENDES
ORIENTADORABEATRIZ GALLOTTI MAMIGONIAN
Sub-projeto
FÉ E LIBERDADE NA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROS ÁRIO, DESTERRO 1799 – 1830.
FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 2007
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
RELATÓRIO FINAL
BOLSISTA: SIMONI MENDES
ORIENTADORA: BEATRIZ GALLOTTI MAMIGONIAN
FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 2007.
3
ÍNDICE
1. RESUMO.....................................................................................................................................................42. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................5
2.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................................62.2. JUSTIFICATIVA...............................................................................................................................152.3. OBJETIVOS......................................................................................................................................15
3. MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................................................164. RESULTADOS FINAIS...........................................................................................................................185. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................................216. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................227. ANEXOS...................................................................................................................................................24Grafico1.........................................................................................................................................................25Grafico2 ........................................................................................................................................................25Grafico 3 .......................................................................................................................................................26Tabela 1 ........................................................................................................................................................26Tabela 2 ........................................................................................................................................................26Tabela 3 ........................................................................................................................................................27Tabela 4 ........................................................................................................................................................27Tabela 5 ........................................................................................................................................................27Tabela 6 ........................................................................................................................................................27Tabela 7 ........................................................................................................................................................28Tabela 8 ........................................................................................................................................................28Tabela 9 ........................................................................................................................................................28Tabela 10 ......................................................................................................................................................29Tabela 11 ......................................................................................................................................................29Tabela 12 ......................................................................................................................................................29Tabela 13 ......................................................................................................................................................30
4
1. RESUMO
Este é o relatório final da pesquisa, que faz parte do projeto Africanos no Sul do Brasil: Rotas do Tráfico eIdentidade Étnica Africana no Litoral Catarinense (1750 – 1888), coordenado pela Profª Dra. Beatriz GallottiMamigonian. Este trabalho pretendeu adentrar em mais um ramo pouco explorado pela historiografia catarinense,que é a religiosidade dos escravos e libertos, através da participação na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, deDesterro. Visamos desmistificar a idéia de que a irmandade era um local no qual os escravos e libertos poderiamreviver sua cultura africana, e mostrar que a instituição era muito mais que isso, era um espaço de sociabilidade doescravo no novo mundo. Pretendemos entender como funciona a irmandade, qual a importância na vida social deseus membros, e sobretudo analisar a participação dos libertos dentro da Irmandade do Rosário de Desterro.
PALAVRAS CHAVE : Libertos, escravos, irmandade, religiosidade, Desterro.
Pesquisadora de Iniciação Científica: Simoni MendesRua Cristo Rei, 2645 -Barreiros, São José – SC. CEP: 88.113 –420.
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Gallotti Mamigonian.
5
2. INTRODUÇÃO
As irmandades surgiram no século XII, na Europa, eram grupos de pessoas que se
reuniam em nome de uma determinada santidade, e buscavam auxiliar os pobres e membros que
delas participavam. Tinham a intenção de se entregar às práticas e virtudes cristãs, com espírito
de responsabilidade coletiva pelo bem-estar do próximo. As irmandades formadas apenas por
negros surgiram na Península Ibérica, no século XV.1
Desde a formação da colônia portuguesa até os tempos de Império, o Brasil tem grande
número das chamadas confrarias e irmandades que visavam aglomerar, no âmbito religioso,
leigos interessados nesse envolvimento cristão, porém, sem ter que se dedicar exclusivamente a
Igreja. A irmandade muitas vezes cumpria seu papel em locais em que até mesmo a igreja não
chegava, mostrando-se como uma opção para a população que buscava um contato com a
religião. A participação nas irmandades era regida por normas descritas nos seus Compromissos,
que identificavam e limitavam o grupo que delas participavam, e expunham regras de seu
funcionamento.
No Brasil fundaram-se Irmandades para agregar os africanos e crioulos que eram
proibidos de freqüentar as igrejas ditas dos brancos, as irmandades negra de maior destaque se
organizavam em torno da devoção a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Além desta
devoção, tiveram destaque também aquelas a Santa Efigênia e a São Benedito, que geralmente
utilizavam o altar lateral da Igreja do Rosário e outras vezes se constituíram em irmandades
separadas. Foram inúmeras as irmandades do Rosário espalhadas pela colônia, com destaque para
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.
A Irmandade era sobretudo um local de auxílio mútuo, no qual era possível e preciso
praticar a caridade. De cada membro era cobrado uma taxa, pré-estabelecida no Compromisso da
Irmandade; essa taxa ficava a cargo do tesoureiro da Irmandade e desse cofre é que saía o
dinheiro para ajudar os necessitados, principalmente os membros da Irmandade, quando estes
passavam por alguma necessidade financeira. O auxílio ia desde socorrer algum membro como
também dar a eles a oportunidade de um enterro digno e pomposo, cheio de honrarias, prática
esta muito cobiçada na época. Além das importâncias já descritas acima, uma das principais delas
era sem dúvida dar a alguns membros a oportunidade de deixar a vida de cativeiro para trás e
ingressar na vida livre. Segundo Célia Borges, “as confrarias auxiliavam aos seus associados em
6
diversas circunstâncias: nas doenças, nos infortúnios cotidianos, na pobreza e na partida para as
peregrinações”.2
Na Vila de Nossa Senhora do Desterro, pode-se identificar a fundação de 11 irmandades,
sendo que a maioria delas proibia a participação de escravos e libertos. Dessa forma, a Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário, fundada em 1750, surgiu como o destino para esse grupo excluído,
firmando-se como uma irmandade exclusiva para africanos e crioulos. As questões defendidas e
praticadas na Irmandade podem ser conferidas nos compromissos da Irmandade, sendo o
primeiro deles, que se tem noticia, foi regulamentado em 1807 e o segundo em 1841.3
Neste projeto, o estudo se concentrou sobre a participação de libertos na Irmandade do
Rosário de Desterro. O estudo desse grupo oferece um novo ângulo de analise no papel das
Irmandades, principalmente no que diz respeito à composição social e relações internas dos
grupos integrantes.
2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para a compreensão da dinâmica da escravidão no Brasil, inicialmente partimos de
leituras de trabalhos da nova historiografia sobre a escravidão, como os de Barickman, com seu
estudo a respeito da diversidade das atividades econômicas e posse de escravos no Recôncavo
Baiano, Stuart Schwartz, que traz uma análise sobre a sociedade escravista e a hierarquia entre os
escravos, além de Manolo Florentino e João Fragoso, que analisaram o dinamismo da economia
colonial na virada do XVIII para o XIX. Para entrar mais no tema do projeto, consideramos
necessário ler um dos mais detalhados e ricos estudos publicado recentemente sobre a escravidão,
a obra de Mary Karasch4.
1 RUSSELL-WOOD, AJR. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilizações, 2005, p. 191.2 BORGES, Célia. Escravos e Libertos nas irmandades do Rosário, Devoção e Solidariedade em Minas Gerais –Século XVIII e XIX. Minas Gerais: Ed. UFJR, 2005, p. 45.3 MORTARI, Cláudia. Os Homens Pretos do Desterro. Um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora doRosário (1841-1860). Dissertação de Mestrado em História: Pontifícia Universidade Católica – RS, 2000, p., 30 e 33.4 KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850 São Paulo: Companhia das Letras,2000.
7
Nessa obra, a autora faz um amplo e diversificado estudo sobre a escravidão na cidade do
Rio de Janeiro, Karasch detalha a experiência escrava na cidade na metade do século XIX,
mostrando desde a comercialização de novos escravos, as ocupações e funções desenvolvidas, as
doenças que sofriam, os castigos e causas da morte, até as formas de alcançar a tão sonhada
alforria. Como fonte primária, Karasch utiliza um leque de documentos, como registros notariais,
registros eclesiásticos, censos, petições, casos jurídicos, correspondências oficiais, testamentos,
mais registros da Santa Casa de Misericórdia.
Em virtude da proposta dessa pesquisa, nos detemos mais nas observações de Karasch a
respeito da religiosidade e dos libertos, objetos centrais desse estudo. A autora coloca a devoção
religiosa como elemento importante para o status social, explicando que o status do escravo
estava diretamente ligado ao status social de seu senhor, e que o catolicismo era a norma, mostra
que crianças escravas de uma família de elite, por exemplo, possuíam uma maior mobilidade
social, em virtude da posição na hierarquia social que seu senhor ocupa. Para movimentar-se na
hierarquia social, o escravo poderia participar de duas instituições: as Forças Armadas e a Igreja
Católica. Ainda assim haviam limitações, como ela descreve “escravos negros e mulatos podiam
participar apenas como leigos e membros de irmandades religiosas; somente os nascidos livres e
legítimos podiam entrar para o sacerdócio.”5
Além dessa restrição dentro da Igreja Católica, as Irmandades de negros ainda tinham que
aceitar a hierarquia correspondente às irmandades, que eram divididas em grau de importância,
primeiro vinham as irmandades de brancos, seguidas pela de pardos e, por fim, a irmandade de
negros.
Quando adentramos no tema específico desse projeto, tivemos contato com a obra do
pesquisador Russell-Wood6, sem dúvidas, um estudo de muita importância sobre a escravidão, no
qual o autor faz uma grande síntese, incluindo no seu estudo diversos temas pertinentes à
escravidão no Brasil colonial, dispensando um capítulo para a abordagem do tema irmandade, e
um outro sobre os libertos, também utilizado para essa pesquisa.
No que concerne as irmandades, Russel-Wood prende-se mais a explicar o funcionamento
desta e o papel dela na sociedade, sempre se centrando nas Irmandades de negros e pardos. Sobre
esse funcionamento, vemos descrição de como eram organizadas e compostas as mesas que
5 Ibidem, p. 130.6 RUSSELL-WOOD, AJR. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilizações, 2005.
8
comandavam as irmandades. Essas mesas eram constituídas por membros eleitos anualmente, a
forma como esta eleição ocorria é que poderia mudar de acordo com o compromisso da
Irmandade, no entanto, o mais comum era que não havia reeleição, apenas o atual eleito poderia
indicar três candidatos para a próxima eleição, o que ocasionaria uma oligarquia. A mesa era
constituída pelo presidente, escrivão, tesoureiro e alguns irmãos, e o rei e rainha que eram
coroados na festa de reis do Rosário.
Sobre o papel social da irmandade, Russell-Wood chama atenção para o papel da mulher
dizendo que “as mulheres pertencentes à irmandade tinham um papel vital e essencial na
prestação de serviços sociais aos irmãos atingidos pela doença ou pela pobreza”7. É dessa forma
que a irmandade presta seu papel social, auxiliando seus membros em momentos de desespero,
por meio de empréstimos financeiros, comparados pelo autor como casas de câmbio, bem como
auxílio na pobreza, emprestando moradia e dando alimentos, cuidando da doença, e até mesmo
emprestando dinheiro para que esses membros pudessem se tornar livres, devolvendo a quantia
quando conseguissem ganhar dinheiro com o suor do seu trabalho livre.
O dinheiro fornecido para tais ajudas vinha do cofre da irmandade, no qual se armazenava
o dinheiro arrecadado de cada membro anualmente, e no momento da adesão à irmandade. Desta
forma, o auxílio que a irmandade era capaz de fornecer ocorria de acordo com o número de
membros que essa irmandade possuía. Para o autor, as irmandades de negros e mulatos eram
quase sempre as mais precárias, arrecadando sua renda através de contribuições, finanças e
donativos.
No estudo sobre a Irmandade do Rosário, um estudo bastante significativo devido a sua
riqueza de detalhes foi a obra de Célia Borges8. A autora busca discutir vários temas relativos as
irmandades do Rosário no Brasil, mostrando o histórico dessas irmandades, com esclarecimentos
sobre funcionamento, organização e a importância desta na vida de seus membros.
Célia Borges relata que a difusão da Irmandade do Rosário é atribuída a Ordem dos
Dominicanos, que em 1475, segundo registros, formou a primeira confraria do Rosário na cidade
de Colônia, na atual Alemanha. No Brasil, essa difusão foi realizada por conta dos jesuítas, que já
no inicio do século XVI, por iniciativa do padre José de Anchieta, fundou em São Paulo a
7 Ibidem, p. 208.8 BORGES, Célia. Escravos e Libertos nas irmandades do Rosário, Devoção e Solidariedade em Minas Gerais –Século XVIII e XIX. Minas Gerais: Ed. UFJR, 2005.
9
primeira irmandade dedicada ao culto de Nossa Senhora do Rosário no Brasil, para abrigar a
religiosidade dos negros, que como já foi mencionado, não podiam freqüentar as igrejas dos
brancos.
Esse estudo quebra a teoria de que as irmandades eram locais em que africanos se reuniam
para cultuar seus deuses da religião africana, dita pagã, um local para esconder sua verdadeira
opção religiosa e reviver a terra-mãe. Pelo contrário, a autora coloca que a irmandade era um
local que possibilitava uma certa inserção social no mundo dos brancos, cultuando a mesma
religião, podendo participar de uma instituição comum à vida dos seus senhores. “[...] nenhuma
outra instituição terá talvez expressado tão nitidamente os contornos dessa sociedade local, seus
conflitos, articulações e solidariedade”9, ou seja, Dentro do âmbito das irmandade havia
distinções baseadas nos dos critérios de classificação da sociedade: cor, etnias, origem social;
todas essas questões colocadas pela sociedade, eram vividas dentro da instituição, mostrando que
a irmandade era muito mais do que uma entidade religiosa.
Apesar de apontar as irmandades como uma forma de participação social, a autora mostra
que a cultura trazida da África não foi totalmente abandonada, explicando que quase sempre
esses escravos se apropriaram da religiosidade católica como bem lhes conveio: “Os negros no
processo de interação com a cultura dos grupos dominantes tenderam a assimilar o cristianismo a
partir de suas necessidades, conservando-se fiéis às suas lógicas culturais”10. Assim, a irmandade
não era uma válvula de escape, mas também não era uma plena adesão da cultura branca, era sim
um local onde foi possível associar suas antigas crenças às novas, onde escravos enfrentavam os
traumas do cativeiro com algum conforto espiritual.
Apesar de trabalhar com as irmandades de Minas Gerais, sobre as quais descreve as
constantes interferências do alto clero, que ameaçados pelo crescimento dessas instituições de
leigos impuseram em alguns Concílios certa resistência, Célia Borges também apresenta um
estudo de muita utilidade para a compreensão do funcionamento dessa instituição, pois apesar de
haver diferenciação de uma para outra em virtude do compromisso adotado, todas tinham uma
espécie de estrutura comum.
Outro aspecto que buscamos abordar por meio de leituras, foi a das manifestações
culturais realizadas no âmbito das irmandades, na forma de festas organizadas por seus membros,
9 Ibidem,p. 59.10 Ibidem, p. 133.
10
que mais do que uma diversão, significavam uma maneira de “adorar” sua santa de proteção e
reforçar laços entre os membros. Para tanto, li o estudo etnográfico que Patrícia Brandão Couto
(2003)11, no qual a autora acompanha diariamente os quatro dias da Festa de Nossa Senhora do
Rosário na cidade mineira de Bom Despacho, uma festa contemporânea, mas que busca manter a
tradição da festa realizada pelos negros na Irmandade do Rosário.
Nesse estudo, Couto faz uma análise da simbologia desse rito organizado pelo congado,
grupo cultural responsável pela organização da festa, formado por membros da Irmandade do
Rosário, no qual destacam-se dois planos: as práticas coordenadas pela instituição religiosa, ou
seja, a Igreja Católica, e a importância pessoal dessa festa para cada um dos membros,
considerada por eles como uma expressão cultural, na qual é possível relembrar seus
antepassados e fundadores da irmandade, os escravos africanos.
O funcionamento dessas festas ocorre da seguinte forma: a escolha dos dias em que ocorre
a festa é feita por cada irmandade, sem haver um dia, ou período para as festas de Rei Congo. O
fato é que os ritos são comandados por membros da irmandade divididos em grupos chamados
ternos, como os congados, moçambiques, catopés, entre outros. Esses grupos são os responsáveis
pelo momento mais esperado da festa, que ocorre quando chamados um a um na Igreja, os grupos
carregando suas respectivas bandeiras, promovem a subida dos mastros, rito em que se pede a
benção do santo a ser festejado. Os grupos eram divididos em ternos, no qual os membros se
agrupavam de acordo com a etnia, os ternos mais conhecidos são o de congos e o de
moçambiques.
De acordo com Patrícia Couto essas festas foram muitas vezes, ao longo de sua história,
proibidas pela Igreja Católica, e apontadas como sendo uma manifestação da cultura africana
dentro dos limites da Igreja, até mesmo os congados foram vistos como feiticeiros e bêbados12.
Mesmo com essa recriminação, a festa sobreviveu, sendo ainda hoje realizada como meio de
relembrar e reviver o que seus antepassados escravos sofreram na dura vida de cativo, e continuar
ainda hoje, buscando a proteção de seus padroeiros.
O tema que associa irmandades à conquista da liberdade foi abordado tanto por Russell-
Wood quanto por Maria Inês Cortes de Oliveira13.
11 COUTO, Patrícia Brandão. Festa do Rosário: Iconografia e Poética de um Rito. Niterói: Ed. EdUFF, 2003.12 Ibidem, p. 59.13 OLIVEIRA, Maria Inês Cortes de. O Liberto: o seu mundo e os outros: Salvador 1790 / 1890. Salvador:Corrupio, 1988.
11
Os autores fazem análises parecidas sobre esse momento peculiar na vida de um escravo,
o momento em que o indivíduo passa da condição de propriedade de uma determinada pessoa,
para ser dono de si mesmo. Ambos buscam mostrar esse caminho percorrido até o momento em
que adquiriram a carta de alforria, mostrando os meios para que se chegue nela, e o que isso
influenciaria na sua vida após a liberdade.
Maria Inês de Oliveira nos faz concluir que a vida do escravo na condição de liberto
dependia diretamente da vida que tinha em cativeiro, uma vez que a atividade executada pelo
escravo lhe possibilitava ter uma vida boa ou ruim após a liberdade, chamando atenção para o
fato de que o liberto jamais chegaria à condição de livre.
A autora atribui importância à irmandade na vida desse liberto, principalmente no
momento da morte, já que era ela que oferecia um funeral decente para seus membros. A vontade
do morto quase sempre foi atendida graças à existência, em alguns casos, de testamentos; “[...] o
objetivo dos testamentos entre os libertos não era apenas o de organizar a herança de seus bens,
mas, sobretudo dar providências quanto à realização de seus funerais”14.
Além da questão funerária, as irmandades também tinham papel importante no momento
da conquista da carta de alforria, muito embora, em virtude de seu cofre empobrecido não fosse
possível auxiliar seus membros na conquista da liberdade tanto quanto ambicionavam. Russell-
Wood ainda coloca que a irmandade tinha o poder de interceder por seu membro quando o
proprietário deste se recusava a conceder a carta de alforria. Sobre a ajuda financeira, Russell-
Wood coloca o seguinte:
É impossível fazer qualquer avaliação, em termos de númerosconcretos, do impacto das irmandades de negros e mulatos napromoção da alforria de seus membros; mas, em vista dos recursosfinanceiros limitados destas organizações, é improvável que onumero de beneficiados excedesse dois ou três a cada ano. Em seusobjetivos, contudo, estas irmandades foram precursoras coloniaisdas sociedades de manumissão pós-independência.15
Sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da vila de Desterro, temos poucos
estudos, porém, tivemos a oportunidade de ler a tese de mestrado de Cláudia Mortari (2000)16.
Apesar de trabalhar com um período posterior ao período analisado nessa pesquisa, podemos usar
14 Ibidem, p. 88.15 Russel-wood, op Cit. p. 6816 MORTARI, Cláudia. Os Homens Pretos do Desterro. Um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora doRosário (1841-1860). Dissertação de Mestrado em História: Pontifícia Universidade Católica – RS, 2000.
12
seu estudo para entendermos o funcionamento dessa irmandade, quem dela fazia parte, suas
questões e crises interiores.
No decorrer da sua dissertação, Cláudia Mortari cita seu Trabalho de Conclusão de Curso,
no qual ela tenta questionar Oswaldo Cabral, que afirma ser a Irmandade do Rosário um espaço
de resistência das populações africanas de Desterro. Cláudia afirma que não, que a irmandade era
muito mais que uma válvula de escape, atribui a ela uma importância social, na qual era possível
estabelecer estratégias de solidariedade e assistência mútua, mostrando que a irmandade, como
toda instituição social, era um local que envolvia pessoas de várias procedências e condições
sociais, refletindo os conflitos existentes na sociedade.
É e sobre esses conflitos o argumento central da tese. Nela, a autora analisa um
documento encontrado no arquivo da irmandade, que retrata um conflito entres os membros
relatado pelo escrivão. O conflito em questão se deu entre “pretos” e “pardos”. Tudo começou
quando os pardos conseguiram autorização da Igreja Matriz para estabelecer sua imagem em um
altar lateral dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A partir de então, teve início uma série
de conflitos na mesa diretora da irmandade, uma vez que essa se encontrava dividida entre os
crioulos da Irmandade de Nossa Senhora do Parto dos Irmãos Crioulos, os pardos, e os pretos do
Rosário. Os irmãos pretos acreditavam que os crioulos e pardos estavam querendo “roubar” o
direito que os pretos tinham de dirigir a irmandade por já estarem lá há muito tempo.
O que chama a atenção nessa abordagem de Cláudia Mortari é tornar público um conflito
tão peculiar dentro da irmandade, mostrando que as relações dos pretos com os pardos nem
sempre eram pacíficas, que eles não eram um único grupo, e sim muitas vezes, opositores.
Um outro estudo de Cláudia Mortari17 foi utilizado nessa pesquisa parar a compreensão
das relações sociais definidas pelos libertos de Desterro, trata-se da tese de doutorado da autora.
Nesse estudo, Mortari aborda as vivencias de africanos escravos e libertos em Desterro, entre
1788 – 1850, apontando a existência de vínculos familiares que possibilitavam uma reinvenção
das identidades africanas.
O trabalho teve por objetivo pontuar, valorizar e analisar esses vínculos formados por
africanos, que serviam como elemento diferenciador entre os cativos, além de facilitar o caminho
na conquista pela liberdade. Para tanto, a autora utilizou-se de registros de batismos de Desterro,
17 MORTARI, Cláudia. Os africanos de uma vila portuária no sul do Brasil: criando vínculos parentais ereinventando identidades – Desterro, 1788 –1850. Tese de doutorado em História: Pontifícia Universidade Católica –RS, 2007.
13
do fim do século XVIII e início do XIX, além de documentos oficiais da Câmara Municipal de
Desterro, da Capitania e da Província, carta de alforria e relato de viajantes.
O casamento entre escravos era permitido pela Igreja, condicionado ao cumprimento das
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia de 1720, no qual se declarava que o
proprietário do escravo não poderia impedir a união deste com uma mulher de qualquer condição
jurídica. De acordo com os registros de batismos, nos quais é possível constatar a união e a
procedência dos pais da criança, os africanos forros tendem a relações endogâmicas, ou seja,
buscam unir-se a alguém que possua a mesma procedência que a sua, que pode ser visto como
um critério de escolha na hora de contrair matrimônio.18
É comum também, entre os libertos, encontrar-se membros de outras localidades
batizando filhos em Desterro, o que aponta, segundo a autora como uma forma de exercer essa
nova liberdade, procurando libertar-se de sua antiga condição, ou seja “a liberdade de escolha
estendida a todas as questões da vida”19.
No que diz respeito ao compadrio, criado a partir do batismo este, é visto por Mortari
como uma forma de se criar laços afetivos de proteção e de ajuda mútua, o que era visto pela
Igreja como firmação de laços espirituais. O apadrinhamento de adultos recém-chegados da
África é possivelmente realizado a partir de uma escolha do proprietário, já que o africano não
possuía ninguém com quem tivesse interesse de firmar vínculos afetivos, no entanto, essa escolha
que pode ser por antigos escravos da propriedade pode ser de grande ajuda parar esses recém-
chegados, uma vez que são esses padrinhos que vão lhes ensinar o trabalho, a nova língua, entre
outros.
Já entre as crianças, a escolha do padrinho cabia aos pais, era comum que os escravos
buscassem pessoas livres ou forras, alguém que pudesse lhes ajudar com algum auxílio
financeiro, ou até comprar a alforria da criança, como pode ser visto em alguns registros, o que se
chama de alforria na pia batismal.
Em uma das análises que a autora faz a partir de registros de batismo, conhecemos a vida
de Francisco de Quadros, um africano forro que batizou 27 crianças. O que mais nos interessa na
vida de Francisco, no entanto, é sua participação ativa na Irmandade do Rosário em Desterro: o
18 Ibidem, p. 118.19 Ibidem, p. 120.
14
liberto foi Juiz da Irmandade por três vezes, Irmão da Mesa por doze vezes, Procurador da
Irmandade e Procurador de Caridade por duas vezes.
Francisco participou ativamente da Irmandade de 1829 a 1850, tendo provavelmente
participado do conflito firmado por conta do Compromisso de 1842, no qual os africanos não
poderiam ser eleitos pra juízes. Francisco de Quadros faleceu em 1853, e na condição de membro
da Irmandade, recebeu pompas no enterro e inúmeras missas foram rezadas em seu nome, como
era de praxe acontecer quando um membro da Irmandade falecia.
O que é importante constatar com esse estudo de Cláudia Mortari é como esses africanos
criaram seus vínculos familiares e reinventaram suas identidades em um outro contexto, com uma
realidade tão contrária a que eles viviam na África. Fazendo escolhas, lidando com incertezas,
mas mais do que tudo, buscando um caminho para chegar a maior vitória de suas vidas: a
liberdade.
Por fim, vimos o estudo de Mariza Soares20 a respeito da organização dos grupos étnicos
de escravos e libertos, em uma terra totalmente diferente da sua terra-natal. Essa diferença étnica
por vezes envolve conflitos, no interior das Irmandades. Nesse trabalho especifico, Soares trata
do conflito ocorrido entre pretos minas na Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia, no Rio
de Janeiro do século XVIII.
De acordo com a autora, as Irmandades se organizam de forma que possam regulamentar
a entrada de seus membros segundo a cor e as nações africanas, o que ao longo do tempo acaba
criando nessas instituições grupos contrários, que leva muitas vezes ao processo de segmentação
dos membros, em novos grupos de novas devoções.
A Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia é constituída por africanos de língua gbe,
da Costa dos Escravos, o seu compromisso deixa claro que a Irmandade aceitava moçambiques,
minas e africanos da região de São Tomé, todos divididos por grupos étnicos e cada um no seu
devido lugar. Não era permitida a participação de Angolas ou crioulos. Devido ao número maior
de representantes, os minas controlavam a Irmandade.
O crescimento significativo da Irmandade, formada por diferentes grupos leva a
constantes desentendimentos; o mais grave conflito ocorreu entre os membros da Congregação
dos Minas, a maior de todas dentro da Irmandade, levando a cisão do grupo com a formação de
20 SOARES, Mariza. Devotos da Cor: Identidade étnica, religiosidade e escravidão. Rio de Janeiro, CivilizaçãoBrasileira, 2000.
15
dois novos grupos, os mahis e os dagomés. Cria-se assim dois grupos opostos que
constantemente entram em atrito nas questões de poder, já que ambos desejam esse poder visando
que um de seus representantes seja eleito rei.
A principal questão nesse estudo é sem dúvida a questão étnica que envolve o mundo do
africano, e de que forma ela se manifesta nessa nova vida, mostrando também que as irmandades
enquanto instituições que agregam esses diferentes grupos também acabam se constituindo como
local de negociações das identidades étnicas.
2.2 JUSTIFICATIVA
O estudo da religiosidade entre os escravos, mais precisamente nas irmandades, mostrou-
se como um novo caminho a ser trilhado na história social da escravidão em Santa Catarina. São
inúmeros os trabalhos realizados a respeito desse tema por todo o Brasil, no entanto, em Santa
Catarina, esse campo, bem como outros temas da história da escravidão, se mostra seriamente
defasado.
Segue-se a linha proposta pelo “Projeto Africanos entre açorianos”, que visa desmistificar
várias tradições apresentadas pelos antigos historiadores catarinenses, no que concerne a
participação do escravo, principalmente o africano na sociedade catarinense. Nessa pesquisa
especificamente buscamos analisar a participação dos libertos, principalmente africanos, nesse
âmbito religioso, buscar compreender as experiências vividas nesse tipo de instituição.
2.3. OBJETIVOS.
Neste trabalho visamos explorar um tema da história da escravidão de Santa Catarina, que
é o contraste no envolvimento religioso de libertos e escravos africanos em relação a crioulos.
Em virtude da leitura de diversas obras referentes ao tema nas grandes vilas do Brasil
colonial e imperial como no caso de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, podemos fazer uma
análise mais profunda no que concerne as razões para a existência dessas instituições. E
juntamente com essas informações, confrontá-las com a realidade da Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário, em Desterro.
16
Estudos sobre as demais regiões do Brasil são vastos, porém quando tratamos de Santa
Catarina mais uma vez nos confrontamos com escassos trabalhos, entre os trabalhos mais antigos
temos a obra de Oswaldo Cabral, porém com análise defasada. Novos historiadores têm iniciado
novos trabalhos sobre este tema, no entanto, quase todos se encontram em andamento ainda, essa
nova análise vem se formando na atual historiografia catarinense, bem como as amplas
discussões que vem ocorrendo no cenário catarinense no que concerne a um novo olhar sobre a
escravidão no sul do Brasil.
Além da falta de estudos sobre o tema, ainda é possível se deparar com um outro
problema, que é a fragmentação da documentação e suas lacunas. Esse estudo vem para ajudar a
contar a história os africanos do Rosário de Desterro através de documentos eclesiásticos, dessa
vez adentrando também no mundo dos libertos.
3. MATERIAIS E MÉTODOS.
No presente trabalho nos propomos a reconstruir a composição social dos integrantes da
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, na vila de Desterro, e parar isso utilizamo-nos de fontes
primárias e secundárias. Entre as fontes primárias utilizamos os livros de óbitos de livres e de
escravos, ambos disponíveis no Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina, além da
documentação transcrita da Irmandade, cedida por Cláudia Mortari Já para um auxílio teórico,
servimos-nos de fontes secundárias como livros publicados, teses e artigos.
Os livros de óbitos se dividiam em livros de escravos e livros de livres, e nos últimos foi
possível destacar os libertos falecidos nesse período. Para os libertos foram utilizados os
seguintes livros: Livro 2 (1799 – 1804), livro 3 (1805 – 1816) e livro 4 (1816 – 1830). Quanto
aos escravos, foi utilizado o livro 1 (1799 – 1834).
Além da documentação eclesiástica, tivemos contato também com os Mapas
Populacionais de Desterro para os anos de 1812, 1813 e 1814, do acervo da Biblioteca Nacional
nos possibilitando mostrar uma fotografia da população deste período.
Inicialmente foi feita uma pesquisa superficial nesses livros de óbitos de livres, que estão
disponibilizados no Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina, visando observar se seria
possível encontrar registros dos libertos dentro desses livros identificados como “livres”. Visto
17
que esses registros procurados de fato existiam naqueles volumes, foi iniciado o processo de
transcrição dos óbitos, e assim começou-se a fazer o levantamento dos óbitos a partir de 1794,
data do primeiro livro disponível para pesquisa. A busca pelos óbitos foi feita, pois uma vez que
os falecidos que integravam as irmandades em geral se faziam enterrar na igreja ou cemitério das
irmandades e este registro consta nos assentos de óbito. Sendo assim, os falecidos sepultados na
Igreja do Rosário tinham grande probabilidade de ser membro da Irmandade.
Uma vez transcritos, os assentos foram colocados em tabelas de excel para a preparação
do banco de dados que seriam comparados com os óbitos de escravos. Esses óbitos de escravos,
por sua vez, já haviam sido transcritos e colocados nas tabelas durante o trabalho coletivo na
disciplina Laboratorio de Pesquisa em História Social da Escravidão, e encontram-se disponíveis
no Laboratório de História Social do Trabalho e da Cultura, no Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, da UFSC.
A ida a campo, no caso o Arquivo Histórico Eclesiástico trouxe alguns percalços, sendo
que durante três meses o arquivo foi fechado para reforma, dificultando assim o andamento da
pesquisa. Os livros também em alguns momentos nos foram um problema, já que a péssima
conservação dos documentos nos obrigou a deixar alguns livros de lado, como no caso do livro
de livres referente aos anos de 1830 a 1850, uma vez que a proposta inicial era fazer um recorte
de 1799-1850, para que houvesse uma observação das mudanças no perfil dos libertos antes e
depois da proibição do tráfico em 1831.
No decorrer do relatório vão aparecer algumas observações necessárias para um melhor
entendimento do texto. Por exemplo, a denominação “crioulos presumíveis”, criada para
categorizar as crianças de até 10 anos de idade que não apresentavam em seu registro a
procedência, uma vez que pelas circunstâncias foi possível acreditar que elas não eram africanas
e sim, presumivelmente, crioulos.
O banco de dados dos assentos de libertos encontra-se em arquivo próprio e do orientador,
que poderão ser utilizados por futuros pesquisadores.
As fontes secundárias utilizadas foram estudos recentes a respeito de Irmandades, com
importantes obras sobre essa instituição em todo o Brasil mostrando o papel social, as realizações
e o significado delas na vida desses escravos e libertos. Além das irmandades, utilizamo-nos de
materiais sobre os libertos, sua integração social após a alforria e o meio com que esta foi
18
adquirida, para que no presente estudo fosse possível aliar esses fundamentos teóricos e entender
a participação do liberto dentro do funcionamento da irmandade.
4. RESULTADOS FINAIS
A partir dos dados levantados durante a pesquisa no Arquivo Eclesiástico de Santa
Catarina, foi possível reunir dados significativos acerca da população escrava e liberta de
Desterro nas primeiras décadas do século XIX. Os dados foram divididos em três momentos
(1799 - 1808 / 1809 – 1819 / 1820 – 1830) para facilitar a análise, comparar os resultados com o
passar dos anos e observar mudanças demográficas decorrentes de alterações no fluxo do tráfico
atlântico.
Em primeiro lugar, buscamos observar o percentual de libertos falecidos dentro da vila de
Desterro, e podemos acompanhar uma queda nesse percentual, já que entre 1799 – 1808, temos
um número de 6% de libertos dentre o total dos falecidos, na década seguinte esse percentual cai
para 4%, seguido de 2%, entre os anos de 1820 – 1830. Observando os gráficos 1, 2 e 3, vemos o
número anual de falecidos, no qual, é possível perceber uma queda bastante significativa do
número de registros de óbitos de libertos, mantendo-se os livres com um número de falecidos
quase que constante, e os escravos despontando para um crescimento gradativo.
Quando isolamos os óbitos de libertos e escravos adultos, e buscamos dividi-los de acordo
com a origem de seus membros, vemos um índice bastante significativo de crioulos libertos no
primeiro período analisado. Dos óbitos de libertos ou escravos, 16% eram libertos, e destes
61,7% crioulos e 3,2% africanos. Entre os adultos, dos libertos falecidos (de origem identificada),
29 ou 81% eram crioulos e 7 ou 19% eram africanos.
Nos dois períodos seguintes, no entanto, vemos uma queda significativa nos óbitos de
libertos, o que pode indicar uma diminuição na concessão de alforrias em virtude do crescimento
econômico pelo qual passava a cidade de Desterro na época, absorvendo cada vez mais a mão-de-
obra escrava. O que mais chama atenção, no entanto, é a diminuição da presença entre os
falecidos de libertos crioulos e libertos africanos. O crescimento do número de escravos, faz com
que a proporção dos libertos na população negra diminuísse para 10%
É interessante perceber a queda drástica sofrida nos óbitos de crioulos libertos na primeira
para a segunda década analisada, entre 1799 – 1808 o percentual desses óbitos era de 27%,
enquanto que na década seguinte, 1809 – 1819 esse percentual cai para 3,8% (ver tabela 2 e 3).
19
Esta queda aponta para um dado ainda inexplorado da escravidão em Desterro: ou os crioulos
escravos, uma vez libertos, migravam para outras localidades e lá morriam, ou caiu muito o
numero de alforrias entre o fim do século XVIII e as primeiras décadas do XIX, o que pode estar
associado à integração crescente da Ilha de Santa Catarina no mercado atlântico e intensificação
do uso de mão-de-obra escrava neste período estudado.
Para os anos de 1812, 1813 e 1814, temos o Mapa Populacional da vila de Desterro, no
qual podemos observar na tabela 4 uma constante na porcentagem de libertos na população,
mantendo-se nos três anos analisados com o percentual de 3%, equivalendo a 191 libertos em
1812, 149 em 1813 e 120 no ano de 1814. São dados que servem para dar uma fotografia geral da
vila de Desterro nesses anos.
Constatamos também um alto índice de sub-registro da origem desses libertos, o que torna
nossa pesquisa nesse ângulo um pouco deficitária, pois muitas informações são omitidas na hora
de registrar esses óbitos. Essa omissão no que se refere a origem só faz crescer ao longo dos anos:
entre 1799 – 1808 temos uma margem de 20% dos óbitos, na década seguinte esse numero
aumenta para 24,7%, e na última o percentual quase duplica, atingindo 40% dos óbitos.
Ao observarmos a idade desses libertos, vemos uma situação curiosa: a discrepância entre
o sexo masculino e feminino, especialmente entre as crianças. Na primeira amostra (tabela 5),
apesar de termos um percentual final de 50% e 50%, deparamos-nos com a diferença entre as
crianças de 40% (masculino) e 60% (feminino), mostrando assim que as meninas tinham mais
chances de receberem alforria, especialmente quando observamos que muitos dos pais dessas
meninas eram escravos, e depositavam nas meninas uma maior esperança de liberdade. Entre
1809 – 1819 (tabela 6), embora entre as crianças a participação mais freqüente das meninas ainda
persista, entre os adultos esse quadro se altera, resultado final passa a apontar mais mulheres
(62%) e homens (38%), além de que essa diferença ocorre tanto entre africanas e crioulas, ambas
se alforriam mais do que os homens, ao contrario do primeiro período, onde entre africanos os
homens eram quase que unânimes. Importante observar que entre escravos, há uma maior
porcentagem de homens (tabela 7).
Na década seguinte esse quadro sofre nova alteração com a inversão do percentual entre
homens e mulheres africanas, que dessa vez seguem a tendência dos escravos, no qual 71% são
homens e 29% são mulheres, entre os libertos 67% são homens e 33% são mulheres (tabela 8).
20
Por fim, analisamos também o local de sepultamento, no qual buscamos procurar a
relação dos libertos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, por ser um indício de que
estes pudessem ser possíveis membros da Irmandade do Rosário de Desterro.
Observando os três períodos analisados, vemos de antemão que a Igreja do Rosário é a
mais procurada nos três momentos, a Igreja Matriz de Desterro também é bastante procurada,
uma vez que esses óbitos utilizados são frutos dessa igreja, ainda assim a Igreja do Rosário é a
mais procurada. Essa grande procura se traduz claramente, por ser a Igreja do Rosário sede da
irmandade, mostrando que há uma grande procura, no entanto, é importante ressaltar que de
acordo com o compromisso da Irmandade emitido em 1841, artigo 12, para ser enterrado no
cemitério da Irmandade do Rosário não é obrigado a ser membro desta:
Quando alguma pessoa falecer, não sendo Irmão destairmandade, e queira ser acompanhado dela ou servir-se doEsquife, para ir nele, poderá a dita Irmandade ir acompanha-locom o Esquife ou sem ele, pagando a Irmandade três mil, eduzentos reis, como se tem praticado.21
Tratando-se do percentual, entre 1799 –1808, 36% dos falecidos eram sepultados no
cemitério da Igreja do Rosário, na década seguinte, temos um aumento de 10%, passando a
contar com 46% dos sepultamentos, e por fim, na última década esse percentual se concentra em
43%. (Tabelas 9, 10 e 11). Dentre escravos também a uma procura significativa pela Igreja do
Rosário (Tabela 12), embora seja menor que o numero de sepultados na Igreja Matriz.
De acordo com a tabela 13 na qual temos o percentual de falecidos enterrados na Igreja do
Rosário nas três décadas divididos de acordo com a procedência, vemos que 11% desses óbitos
são de africanos, e 20% de crioulos e 69% são de crioulos presumíveis ou pessoas sem origem
identificada.
21 Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Florianópolis). Pasta “Documentos”. Requerimento à
Câmara dos Negócios Eclesiásticos e Constituição da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, 10/3/1842. A grafia
dos documentos foi atualizada.
21
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
No decorrer da pesquisa, participamos de um evento muito importante relacionado a ela,
que foi o IIIº Encontro de Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, realizado entre os dias 2
e 4 de maio de 2007, na Universidade Federal de Santa Catarina, no qual foi possível expor a
pesquisa, embora ainda se encontrasse em andamento.
Essa participação ocorreu através da exposição de um banner e um resumo, publicado nos
anais do evento. Sem dúvidas, a participação foi muito produtiva, uma vez que foi possível trocar
informações com os demais pesquisadores da área, informações estas, que foram incluídas nesse
relatório final.
Além dessa participação, ainda teremos a exposição e apresentação desse estudo na
Semana de Iniciação Cientifica, da Universidade Federal de Santa Catarina.
22
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARICKMAN, B.J. Um contraponto baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780 – 1860.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
BORGES, Célia. Escravos e Libertos nas irmandades do Rosário, Devoção e Solidariedade em Minas Gerais –Século XVIII e XIX. Minas Gerais: Ed. UFJR, 2005.
CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Das cores do silêncio: os significados da liberdade do sudeste escravista – Brasil,século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993.
COUTO, Patrícia Brandão. Festa do Rosário: Iconografia e Poética de um Rito. Niterói: Ed. EdUFF, 2003.
FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1998.
FRAGOSO, João L. R., FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como Projeto: Mercado Atlântico, SociedadeAgrária e Elite Mercantil no Rio de Janeiro, c. 1790 – c. 1840. Rio de Janeiro: Diadorim, 1993.
KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850 São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
MORTARI, Cláudia. Os Homens Pretos do Desterro. Um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário(1841-1860). Dissertação de Mestrado em História: Pontifícia Universidade Católica – RS, 2000.
MORTARI, Cláudia. Os africanos de uma vila portuária no sul do Brasil: criando vínculos parentais ereinventando identidades – Desterro, 1788 –1850. Tese de doutorado em História: Pontifícia Universidade Católica –RS, 2007.
OLIVEIRA, Maria Inês Cortes de. O Liberto: o seu mundo e os outros: Salvador 1790 / 1890. Salvador: Corrupio,1988.
REGINALDO, Lucilene. Os Rosários dos Angolas: irmandade negras, experiências escravas e identidades na Bahiasetecentista. Dissertação de doutorado em Historia: Universidade Estadual de Campinas, 2005.
REIS, João José. A Morte é uma Festa: Ritos Fúnebres e Revolta Popular no Brasil do Século XIX., SãoPaulo:Companhia das letras, 357 p. 1992.
RUSSELL-WOOD, AJR. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilizações, 2005.
SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e sociedade no Brasil Colonial, 1550 – 1835. São Paulo: Perspectiva, 1979.
SOARES, Mariza. Devotos da Cor: Identidade étnica, religiosidade e escravidão. Rio de Janeiro, CivilizaçãoBrasileira, 2000.
6.1 Fontes Primárias
23
Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora de Desterro. Livros 1, 2 e 3. Disponível no Arquivo Eclesiásticode Santa Catarina.
Livro de óbitos de Escravos, Matriz de Nossa Senhora de Desterro. Livros 1 e 2. Disponível no Arquivo Eclesiásticode Santa Catarina.
Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Florianópolis). Pasta “Documentos”. Requerimento à Câmara
dos Negócios Eclesiásticos e Constituição da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, 10/3/1842. A grafia dos
documentos foi atualizada.
Mapa Populacional de Desterro, L. 31, 29, 18, n. 4, 5 e 6. Anos de 1812, 1813 e 1814. BN.
24
7. ANEXOS
Gráfico 1: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1799 – 1808).
Gráfico 2: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1809 – 1819).
Gráfico 3: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1820 – 1830).
Tabela 1: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1799 – 1808).
Tabela2: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1809 – 1819).
Tabela 3: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1820 – 1830).
Tabela 4: Mapa Populacional de N. S. do Desterro (1812 1813 e 1814).
Tabela 5: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1799 – 1808).
Tabela 6: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 – 1819).
Tabela 7: Escravos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 - 1819).
Tabela 8: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1820 – 830).
Tabela 9: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1799 – 1808).
Tabela 10: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1809 – 1819).
Tabela 11: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1820 – 1830).
Tabela 12: Escravos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. de Desterro (1799 – 1808 /1809 – 1819 / 1820 - 1830).
Tabela 13: Origem dos Libertos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. Desterro (1799 –1830)
25
Gráfico 1: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1799 – 1808).
131157
44
120 121
67
118
233
82101
8 185 6 0 3 13 23
9 193152 50 46 46 52
67
95
3551
0
50
100
150
200
250
1799 1800 1801 1802 1803 1804 1805 1806 1807 1808
Livre
Libertos
Escravo
Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. AHESC.
Gráfico 2: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1809 – 1819).
187
132108 111
252
142 135
193
155142
194
19 18 9 7 5 10 9 10 4 4 14
87 83 74 67
132
89 87 9460
78 83
0
50
100
150
200
250
300
1809 1810 1811 1812 1813 1814 1815 1816 1817 1818 1819
Livre
Liberto
Escravo
Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. AHESC.
26
Gráfico 3: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1820 – 1830)
133 125148 150
169
118
414
162
72
134106
2 4 0 2 4 1 15 0 1 7 11
68 59 5178 72
102
185
70 85 8368
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1820 1821 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830
Livre
Lberto
Escravo
Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. AHESC.
Tabela 1: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1799 – 1808).
Origem Escravos % Libertos % Total %
Africanos 214 96,8 7 3,2 221 100
Crioulos 18 38,3 29 61,7 47 100
Crioulospresumíveis
215 82,1 47 17,9 262 100
Origem nãoinformada
78 78,8 21 21,2 99 100
Total 525 83,5 104 16,5 629 100Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. Livro de óbitos de escravos,Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.
Tabela2: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1809 – 1819).
Origem Escravos % Libertos % Total %Africanos 367 95% 20 5% 387 100%Crioulos 55 73% 20 27% 75 100%Crioulospresumíveis
347 89% 42 11% 389 100%
Origem nãoinformada
165 86% 27 14% 192 100%
Total 934 90% 109 10% 1043 100%Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. Livro de óbitos de escravos,Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.
27
Tabela 3: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1820 – 1830).
Origem Escravos % Libertos % Total %Africanos 252 98,8% 3 1,2% 255 100%Crioulos 224 96,1% 9 3,8% 233 100%Crioulospresumíveis
215 93,1% 16 6,9% 231 100%
Origem nãoinformada
230 92,3% 19 7,7% 249 100%
Total 921 95,1% 47 4,9% 968 100%
Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. Livro de óbitos de escravos, Matrizde Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.
Tabela 4: Mapa Populacional de N. S. do Desterro (1812 1813 e 1814).Anos População
TotalLivres % Libertos % Escravos %
1812 5903 4022 68% 191 3% 1690 29%1813 4962 3124 63% 149 3% 1689 34%1814 4721 3134 66% 120 3% 1467 31%Fonte:....
Tabela 5: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1799 – 1808).
Homens % Mulheres % Total %
Africanos 6 86% 1 14% 7 100Crioulos 15 52% 14 48% 29 100CrioulosPresumíveis
19 40% 28 60% 47 100
Origem nãoinformada
12 57% 9 43% 21 100
Total 52 50% 52 50% 104 100Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. AHESC.
Tabela 6: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 – 1819).
Homens % Mulheres % TotalAfricanos 8 40% 12 60% 20Crioulos 6 30% 14 70% 20CrioulosPresumíveis
18 43% 24 57% 42
Origem nãoinformada
10 37% 17 63% 27
Total 42 38% 67 62% 109Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. AHESC.
28
Tabela 7: Escravos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 - 1819).
Homens % Mulheres % TotalAfricanos 253 69% 114 31% 367crioulos 24 44% 30 56% 55Crioulos
presumíveis168 48% 178 52% 347
Origem nãoinformada
82 50% 81 50% 165
Total 527 56% 403 44% 934
Fonte: Livro de óbitos de escravos, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.
Tabela 8: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1820 – 1830).
Homens % Mulheres % TotalAfricanos 2 67% 1 33% 3Crioulos 2 22% 7 78% 9CrioulosPresumíveis
7 44% 9 56% 16
Origem nãoinformada
3 16% 16 84% 19
Total 14 30% 33 70% 47Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. AHESC.
Tabela 9: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1799 – 1808).
SepultamentosAfricanos % Crioulos % Origem não
informada% Total %
Cemitério daMatriz
3 43% 11 14% 6 29% 20 19%
Cemitério daCaridade
0 0% 5 7% 1 5% 6 6%
Cova deFabrica
1 14% 24 32% 3 14% 28 27%
Cova deAlmas
0 0% 7 9% 3 14% 10 9%
Rosário 2 29% 28 37% 7 33% 37 36%Capela daLagoinha
0 0% 1 1% 0 0% 1 1%
Local nãoinformado
1 14% 0 0% 1 5% 2 2%
Total 7 100% 76 100% 21 100% 104 100%
29
Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. AHESC.Tabela 10: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1809 – 1819).
SepultamentosAfricanos % Crioulos % Origem não
informada% Total %
Cemitério daMatriz
7 35% 19 31% 6 22% 32 29%
Cemitério daCaridade
1 5% 2 3% 1 4% 4 4%
Cova deFabrica
1 5% 13 21% 1 4% 15 14%
Cova deAlmas
0 0% 2 3% 1 4% 3 3%
Rosário 9 45% 25 40% 17 62% 51 46%Cova de
Espírito Santo0 0% 0 0% 1 4% 1 1%
Misericórdia 2 10% 1 2% 0 0% 3 3%Total 20 100% 62 100% 27 100% 109 100%
Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. AHESC.
Tabela 11: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1820 – 1830).
SepultamentosAfricanos % Crioulos % Origem não
informada% Total %
Cemitério daMatriz
2 67% 8 32% 4 21% 14 30%
Cova deFabrica
0 0% 5 20% 7 37% 12 25%
Rosário 1 33% 12 48% 7 37% 20 43%Local nãoinformado
0 0% 0 0% 1 5% 1 2%
Total 3 100% 25 100% 19 100% 47 100%Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. AHESC.
Tabela 12: Escravos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. de Desterro (1799 – 1808 /1809 – 1819 / 1820 - 1830).
Período 1 % Período 2 % Período 3 % TotalRosário 68 13 114 12 92 10 274
OutrosLocais
457 87 820 88 829 90 2106
Total 525 100 934 100 921 100 2380Fonte: Livro de óbitos de escravos, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.
30
Tabela 13: Origem dos Libertos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. Desterro (1799 –1830)
Origem %Africanos 12 11
Crioulos 22 20Crioulos presumíveis 31 29Origem nãoinformada
43 40
Total 108 100Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2, 3 e 4. AHESC.