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JULIANA NERI DE OLIVEIRA RELAÇÃO FAMILIA/ESCOLA E OS SENTIMENTOS QUE SURGEM NA FASE DE ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL UNIVERSIDADE PONTIFICIA CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP 2008

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JULIANA NERI DE OLIVEIRA

RELAÇÃO FAMILIA/ESCOLA E OS SENTIMENTOS QUE SURGEM NA

FASE DE ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

UNIVERSIDADE PONTIFICIA CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

2008

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JULIANA NERI DE OLIVEIRA

RELAÇÃO FAMILIA/ESCOLA, E OS SENTIMENTOS QUE SURGEM NA

FASE DE ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho apresentado como requisito para conclusão da Habilitação Educação Infantil à Comissão de professores responsáveis pelo Curso: Profas. Dras. Maria Anita V.Martins, Marisa Del Cioppo Elias, Mônica F.V. Mendes; Neide de Aquino Noffs e Neide Barbosa Saisi, sob a orientação da Profa. Dra Marisa Del Cioppo Elias.

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

2008

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“As instituições família e escola

desempenham um papel importante

na formação do individuo.São os

primeiros mundos a serem habitados

por nós, sendo instituições

que formão nossa identidade”

(SYMANSKI, 2003).

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Dedico esse trabalho a todas as

famílias e professores da área

de educação, que por ventura

venha se interessar pelo assunto.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho só foi possível ser realizado com a colaboração de algumas

pessoas.

Agradeço primeiramente a Deus, por ter colocado essas pessoas em meu

caminho.

Otacílio obrigada por ter sempre acreditado em mim, e colaborado diretamente

para que isso pudesse ter acontecido, por permitir que eu pudesse estar aqui

hoje.

Tia Zenaide agradeço por ter acompanhado o desenvolvimento do trabalho,

sempre me ajudando a ter uma visão mais critica da realidade.

A minha orientadora Marisa por ter me acolito e me orientado durante o

trabalho.

E não menos Importante a minha mãe, pela paciência de me acompanhar

durante essa longa caminhada, quero que saiba que te amo muito, e essa foi a

maior prova de amor que você já me deu.

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Resumo

Este trabalho contém subsídios para que profissionais da educação possam

refletir sobre suas pratica com relação ao vinculo professor/aluno e

família/escola. O trabalho inicia-se trazendo um pouco da história da família,

onde são abordadas as mudanças que sofreu ao longo do tempo, assim

mostrando o importante papel que exerce sobre a criança em seu

desenvolvimento. Partindo da importância da escola para o desenvolvimento

da criança, pois é ela quem à insere no contexto social.Assim favorecendo a

formação do caráter do individuo que se desenvolve de acordo com seu

desenvolvimento físico e social. Ha diversos fatores que envolvem a dificuldade

de adaptação, apesar de ser uma condição ligada a vários fatores internos do

aluno, está de certa forma sustentada pelo meio social, familiar e escolar no

qual ele está inserido. Cada família possui uma pratica educativa que a

diferencia das outras e as vezes até mesmo da escola, por isso deve haver

uma parceria onde haja confiança e respeito mutuo, uma aliança família/escola.

Palavras-chave: vinculo materno, escola, desenvolvimento e socialização.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................08

1 RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA E A INTERVENÇÃO

PSICOPEDAGÓGICA.....................................................................................09

1.1 História da família....................................................................................09

1.2 Relação entre família e escola................................................................10

2 O VINCULO MATERNO COMO MATRIZ DO DESENVOLVIMENTO

PSICOLÓGICO DA CRIANÇA.....................................................................13

2.1 A quebra do vinculo materno................................................................. 15

2.2 A socialização da criança na sociedade, e construção de uma

identidade..................................................................................................... 19

3 ORGANIZAÇÃO E ANALISE DOS DADOS............................................21

Caso João...................................................................................................21

Caso Antonio...............................................................................................24

Caso professora.........................................................................................26

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................28

REFERÊNCIAS...............................................................................................29

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INTRODUÇÃO

Esse tema foi escolhido inicialmente sobre situações observadas no período

adaptativo na educação infantil, na intenção de descobrir quais os sentimentos e

atitudes que as mães vivenciam ao se separarem de seus filhos na fase de iniciação

escolar.

Este trabalho é fundamentado na identificação dos sentimentos e atitudes da mãe

na fase adaptativa de seu filho a escola.

Foram realizadas entrevistas com algumas mães cujos filhos estão ingressando na

escola pela primeira vez, procuramos também ouvir a professora que esta

ingressando alunos na escola pela primeira vez.

O modo de atuar da mãe ao deixar seu filho na educação infantil, pode repercutir na

atitude desta, ao decorrer do trabalho nos depararemos com situações onde a mãe

entra em controversas, na questão da necessidade da criança e a sua própria

necessidade.

Começamos o nosso trabalho abordando a história da família e a influência desta na

fase adaptativa (socialização), tomando como foco o significado do saber para a

família e como a família lida com essa condição.

Em seguida falaremos um pouco do surgimento e significado do vinculo para a mãe

e a criança, para entendermos um pouco mais dos sentimentos e atitudes da mãe

em relação a faze adaptativa, a suposta “separação”.

Procuramos fazer uma relação família e escola, no processo de adaptação,

sugerindo uma aliança entre ambos.Assim facilitando ambas as partes, sempre

focando a construção da identidade da criança.

Com bases neste contexto temos como objetivo refletir a partir de referenciais

teorias sobre o significado do vinculo entre a criança e a sua mãe, como fator

relevante para seu processo de aprendizagem e desenvolvimento.

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1 RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA E A INTERVENÇÃO

PSICOPEDAGÓGICA

1.1 História da família

Szymanski (2003) explica que a família ao longo do tempo sofreu algumas

mudanças, e que foi por volta do século XVIII que começa a surgir o sentimento de

família e isso se da por conta de outras instituições como o Estado e a Igreja que

passa a valorizar esse sentimento. No século XIX e XX surge a família nuclear

burguesa formada pela classe proletária. Essa família deixou de viver em

comunidade para viver de uma forma privada em suas casas e cuidando da

educação de seus filhos.

Ainda segundo a autora, o modelo social de família provém de um modelo europeu

que foi imposto à sociedade. Esse modelo organizou-se em torno da figura do pai,

ou seja, modelo patriarcal. Já o modelo matriarcal é aquele que se organiza em

torno da mulher, quando não há um companheiro.

Com a industrialização as procuras pelas creches aumentaram muito,

conseqüentemente, se observarmos a família urbana de baixo nível econômico,

podemos perceber o modelo matriarcal, até pela mudança de companheiro, nesse

caso ela que mantém os filhos, pois a mulher mantém em torno de si o núcleo

familiar (mãe e filho) agregados, que junto com ela formam o núcleo familiar.

Acredito que o modelo matriarcal é o que prevalece em nossa sociedade, pois o

número de separação de casais vem aumentando constantemente e nessa

organização familiar o homem se retira da convivência familiar, para construir uma

nova vida, ficando a mulher e os filhos que mantém o núcleo familiar.

Neste caso outros homens podem vir a fazer parte dessa família ( por um longo ou

por pouco tempo) e a chegada desse novo homem nessa família mexe com a

organização familiar, mas não desfaz o núcleo, caso esse outro homem por qualquer

motivo saia dessa família o núcleo permanece, portanto esse núcleo familiar se

torna permanente independente das mudanças que possam ocorrer nessa família.

Szymanski (2003), fez um estudo com familiares da periferia de São Paulo e

observou que o impacto desse modelo institucionalizado se fez sentir de diversas

maneiras, depois de um certo tempo de contato com essas famílias, a autora

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observou ainda que havia características em comum, que tanto revela os caminhos

que as famílias deveriam seguir em função dos desafios do cotidiano, como valores

que tinham relativos a família.

Em muitas dessas famílias a mulher assumia o papel de chefe, a hierarquia era

considerada do mais velho para o mais novo, como também do homem para a

mulher. Na verdade quem tinha a posição mais alta era aquele que mantinha

maternalmente a família. Os cuidados com a criança eram sem contestação de

responsabilidades da mulher.

Portanto quando a família é patriarcal, a responsabilidade dos cuidados do filho fica

a cargo da mãe, seja em casa ou na escola.

1.2 Relação entre família e escola

Na visão de Szymanski (2003) as instituições família e escola desempenham um

papel importante na formação do individuo. São elas os primeiros”mundos” a serem

habitados por nós, são nessas instituições que formam nossas identidades.

Há fatores a serem considerados na relação família/escola. Embora essas duas

instituições tenham objetivo de preparar o individuo para que seja inserido na

sociedade, elas divergem na ação educativa, nos objetivos, conteúdos e métodos.

Um fator que provoca conflito nessa relação é que há famílias de diferentes classes

sociais, dificultando um engajamento dos pais em um projeto coletivo. Outro fator

refere-se à estratégia de socialização da família e isso depende da classe social a

qual essa família pertence, pois , além disso, diferem também nos modelos

educativos.(SZYMANSKI, 2003).

Ainda a autora menciona três modelos de prática educativa que a família possui: o

racional, humano e simbiossinérgico.Ela explica que no modelo racional os pais

decidem e impõe suas vontades sobre as atividades dos filhos, dão importância à

disciplina, ordem, submissão e autoridade, esses pais usam como estratégias a

imposição, dão ordem, criticam, controlam, ou seja, utilizam de uma prática que

formam conformistas sociais coibindo dessa forma a autonomia.

Já na pratica humanista os pais são considerados guias, dão ao filho poder de

decisão, suas estratégias estimulam a expressão das emoções dos filhos, encoraja-

os e valoriza suas potencialidades, favorecendo a autonomia e autodeterminação.

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Sua prática é orientada segundo as necessidades dos seus filhos.(SZYMANSKI,

2003).

A partir dessas definições, acredito que a família dos dois alunos se encaixa

no modelo de educação humanista, pois ambas as famílias incentivam a autonomia

da criança, usando de diálogos, incentivo entre outros meios.

Realmente precisa concluir este item e fazer a ligação com o que vem a seguir.

Simbiossinergico – simbio significa associação durável e reciprocamente proveitosa

entre dois seres ou mais, sinérgico corresponde aos recursos das pessoas e ações

coordenadas por um grupo. Nessa prática os pais são parceiros nas atividades dos

filhos, suas estratégias são respeitarem direitos e deveres dos filhos, partilharem

responsabilidades que desenvolva a consciência social, trocarem experiências,

emoções e sentimentos. Deixam claro sobre a responsabilidade das conseqüências

de suas ações e reconhecem seus próprios erros. A partir dessa análise

percebemos que é difícil encontrar famílias na sua forma pura (SZYMANSKI,2003).

Segundo Szymanski (2003) a escola também oferece aos pais esses mesmos

modelos de prática educativa. A escola em um modelo racional detém o poder. Na

tendência humana a escola acredita nos recursos da família e acata suas decisões.

Já no modelo simbiossinergico a escola valoriza a interdependência, reciprocidade e

co-gestão.

Partindo desse principio fica claro do por que dos choques entre família e escola. A

escola oferece um modelo educativo e a família oferece outro.Nesse âmbito surge

uma série de conflitos nessa relação. O que não acontece em família de uma classe

social mais elevada, porque estas têm condições de escolherem a escola que condiz

mais com sua prática educativa. Já no caso de famílias que dependem da escola

pública, isso não ocorre, pois o modelo educacional depende da diretoria e

coordenação, ou seja, depende da linha de pensamento dessas pessoas. No caso

de discrepância no modelo educacional os conflitos já começaram na relação

professor e aluno (SYMANSKY, 2003)

De acordo com as observações a escola onde foram feitos os estudos de caso

parece se enquadrar no modelo educacional simbiossinergico, pois a ação educativa

se da na parceria entre pais e escola, respeitando diferenças e deveres deixando

claro a responsabilidade dos pais no desenvolvimento dos filhos.

De acordo com Szymanski (2003), para justificar o insucesso escolar de algumas

crianças os professores consideram as famílias como: “desestruturadas”,

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desinteressadas, carentes e violentas. Esse raciocínio é preconceituoso, e na

verdade serve para atribuir culpa a uma situação que não é problema da escola.

Dessa forma a escola afasta o problema, toma um atalho que impossibilita a

compreensão das dificuldades dessas famílias.

Se esses problemas refletissem um pouco mais perceberiam que: família

desestruturada é nada mais, nada a mesmo que família diferente do modelo pronto

que a forma de organização dessas famílias não é responsável pelo comportamento

dessas crianças na escola. Nem toda família é violenta, muitas vezes usam o

castigo físico como forma de punição e, isso advém da forma como foram

educados, das suas crenças e valores.

Essas mesmas famílias na verdade são vitimas de violência, muitas vezes quando a

família trata a escola de forma violenta, está apenas reproduzindo a forma como

foram tratadas, as condições de família trabalhadora dificulta o acompanhamento na

vida escolar dos filhos, e outros fatores é baixa escolaridade dessas famílias

(SZYMANSKY, 2003).

Não foi percebido nenhum tipo violência na dinâmica familiar dos casos analisados,

pois as mães pareceram muito afáveis e cuidadosas. São famílias que valorizam ao

estremo a vida escolar, onde possui uma constancia nos dialogo e parceria com a

escola afim de preservar a educação e conseqüentemente um bom desenvolvimento

de seus filhos.

Podemos perceber mais uma vez que o modelo pensado está presente na forma de

ver a família, pois é a partir dela que muitos profissionais avaliam a família e é esse

olhar que nos deixa cegos na compreensão da organização dessas famílias.

Szymansky (2003) aponta algumas alternativas para superar as dificuldades de

relacionamento entre a escola e a família, é necessário que haja um conhecimento

mútuo. O preconceito é um dos grandes vilões que dificultam essa relação, julgarem

uma família desestruturada, carente de cultura e se fechar para um enfrentamento

dos problemas, é estar fugindo da sua função. reconhecer seria uma possibilidade.

As professoras devem promover uma série de atividades que possam apontar para

as dificuldades encontradas por essas famílias. Para que haja esse conhecimento

sobre a família depende também da escola assim desenvolvendo parcerias,

beneficiando ambas as partes.

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2 O vinculo materno como matriz do desenvolvimento psicológico

da criança

Segundo a psicóloga clínica Ana Maria Moratelli da Silva Rico, ainda no útero se

inicia a formação do vínculo entre a mãe e o bebê. Este processo de comunicação é

tão complexo quanto sutil tornando possível esta troca íntima e profunda. O feto

precisa se sentir desejado e amado para promover um saudável desenvolvimento,

portanto o vínculo é de grande importância para este processo.

A riqueza das emoções e sentimentos faz com que tudo seja especial.

A formação gradativa, portanto, necessita de tempo, compreensão e amor para que

possa aflorar. Os sentimentos como um todo reflete sobre a criança muito

precocemente, mas, para que haja uma compreensão sobre estes sentimentos é

preciso que exista maturidade neuro-fisiológica.

Moratelli(2008) afirma que a medida que vai evoluindo, o feto torna-se capaz de

registrar e de dar significado às emoções e sentimentos maternos.

Se houver sintonia entre a mãe e o feto, haverá gestos de carinho como: conversa,

acariciar a barrica, o que é percebido e decodificado pelo feto como atitude de

compreensão, carinho e proteção, portanto, o tranqüilizando.

Desta maneira, se a mãe for amorosa e tiver uma relação afetiva rica com seu bebê,

poderá contribuir para que nasça uma criança confiante e segura de si. Assim

também, se a mãe for deprimida, passa a privam o feto de seu amor, favorecendo o

estado depressivo na criança, podendo ser notado após o nascimento, pois sua

personalidade foi estruturada num clima de medo e angústia.

A interação da mãe com a criança é vista como uma unidade simbiótica. O termo

simbiose significa uma interação contínua e recíproca entre mãe e filho. O processo

psicodinâmico dessa comunicação entre mãe e criança é gratificante para ambos. A

gratificação, do ponto de vista da criança, se refere ao atendimento de suas

necessidades de dependência. Já do ponto de vista da mãe isto é sinônimo de duas

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atividades: as atividades de doação, com as quais a mãe responde às necessidades

da criança e as satisfaz, e as manifestações fisiológicas e emocionais da criança em

resposta às atividades da mãe. Assim, a criança seria uma fonte de estímulos para a

mãe, e, conseqüentemente, ela seria uma fonte de estímulos para a criança.

Santos (2001), afirma que o comportamento materno, assim, tende a estar sob o

controle dos estímulos e condições reforçadoras que partem do bebê. Admite-se,

então, que o comportamento materno varia em função do estado do bebê (choro,

sorriso, acordado e outros). A partir de estudos, afirma-se, ser o choro do nenê um

estímulo bastante importante na determinação do comportamento mãe. É a próprio

maneira que o bebê se expressa que determina a maneira que a mãe deverá agir

para que haja o termino do incômodo.

Mãe e filho formam uma díade de interação. Este processo de solicitação da mãe, e

resposta imediata, resulta-se em variados modos de comunicação criados por

ambos.Os bebês que receberam mais afeto, nos primeiros meses, tornaram-se mais

independentes e afetivos.

Deduzimos então que os primeiros encontros entre a mãe e o recém-nascido,

freqüentemente, determinam a natureza de suas relações futuras.

A mãe interage com o filho, mediante diferentes maneiras de manifestações de

amor, afetividade e desejo. O recém-nascido é capaz de responder a essas

interações já nas primeiras horas de vida.

Pode –se afirmar que este alojamento conjunto, é um momento imprescindível para

o fortalecimento do vínculo mãe-filho, e a quebra desse vínculo após o nascimento

da criança produz um misto de sentimentos e dúvidas.

Ao nascermos são criados diversos vínculos, como tendência natural.

Os vínculos afetivos gerado juntamente ao bebê, deveria se estender-se à

sociedade, no entanto, podem ser fragilizados ou mesmo rompidos posteriormente.

Portanto o período pré-natal e pós-parto são muito importantes, tanto para a mãe

quanto para o recém-nascido, e podem inclusive determinar a qualidade da ligação

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afetiva que vai se estabelecer entre os membros do dia-a-dia da criança e da mãe.

Por isso, é fundamental que o pré-natal, o parto e o nascimento ocorram em

ambientes afetivos e propícios à prestação de uma assistência mais calorosa e

sensível.

A mãe é vista nessa perspectiva como uma importante figura na apresentação do

mundo para a sua criança, assumindo um papel primordial, que vai aos poucos

sendo compartilhado com outros personagens. Ao mesmo tempo, é esse bebê,

mesmo antes do seu nascimento, que vai estabelecendo outras organizações para

essa mãe, instaurando nessa relação o aprendizado de novos modos de interação.

Mesmo com diferentes metas de socialização e formas de relacionamento e

comunicação mãe-bebê em diversas culturas, como ponto comum entre elas temos

o fato de a mãe ser uma figura fundamental para a sobrevivência e o bem-estar do

seu filho. O exercício da maternidade difere qualitativa e quantitativamente entre

diferentes culturas, mas aparece como questão relevante em cada uma delas

(SANTOS, 2001).

Segundo Vygotsky(1987) o bebê, é um sujeito essencialmente ativo, que age e não

apenas reage, como se pensava até algumas décadas atrás, possui diversos

parceiros e cada vez compartilha um número maior de contextos de interação. Ele

interage não apenas com a mãe, e não habita apenas a casa. Ao ser apresentado

aos novos contextos que o envolvem, ele partilha uma mudança nas suas metas e

nos seus agentes de socialização.

Nesse cenário, surge a creche, como instituição presente e cada vez mais

significativa em nossa sociedade, principalmente nos grandes centros urbanos.

2.1 A quebra do vinculo materno

Segundo Rizzo(1988), para os que vêm à creche pela primeira vez, este é um

espaço completamente diferente e novo. Para os que estão voltando das férias,

existe também um período normal de readaptação, já que eles passaram o período

de um mês na presença de seus pais e familiares em casa, longe da escola.

Cada criança expressa de uma maneira diferente mediante ao novo espaço e as

novas professoras ou monitoras. Podendo chorar, se isolar das outras crianças,

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deixar de brinca ou rejeitar alimentos na hora das refeições.

A participação dos pais é fundamental nesse período. Para facilitar a adaptação ou

readaptação a quantidade de horas na instituição aumenta a cada dia: no primeiro,

as crianças ficam 3 horas. No segundo, 4 horas, e assim por diante. É importante

que mães (ou pessoas próximas às crianças) se sintam seguras para passar

segurança para a criança nesse momento de separação, mantendo a rotina normal

da criança nesse período, evitando propor mudanças, como tirar a chupeta, a

mamadeira ou fraldas e dizendo a criança quando vai embora e quando voltará.

A postura da professora também é importante, pois no primeiro contato elas

demonstram muito afeto, atenção, simpatia e alegria.

O período de adaptação que pode durar dias, semanas ou meses até que a criança

identifique o novo espaço físico, estabeleça um vínculo de afeto com o pessoal

envolvido no processo e se sinta disposta e receptiva a novas informações que

possam estimular o seu crescimento intelectual e emocional, estímulos que desde

cedo , irão ajudar a tornar-se um adulto confiante e feliz.

O grande foco da fase de adaptação vem sendo as crianças, porém nos

esquecemos de que as mães também necessitam de alguns ajustamentos

emocionais.(RIZZO,1988)

È previsto que as mãe desejem que seus filhos se saiam muito bem na escola, e

normalmente é isso que acontece.

Segundo Rizzo (2001) há uma série de disputas, onde muitas mães, sentem que a

escola esta lhes “roubando” o filho e tem dificuldades de aceitar a idéia de entregá-lo

aos cuidados de outras pessoas.Esse tipo de atitude normalmente é encarado pelos

educadores com indiferença, mas isso não é correto pedagogicamente.Este assunto

deve ser tratado da melhor maneira possível, dando-lhes apoio e encorajamento, se

necessário um dialogo e esclarecimentos.

Na ocasião da primeira reunião da escola, com a professora, a mãe deverá ser

alertada sobre conflitos que poderão afligi-las, assim como a criança, mas é

importante que a professora a tranqüilize sobre seu espírito (tranqüilidades ou

ansiedade) vai-se refletir sobre a criança.(Rizzo,1988)

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É inevitável que haja certa rivalidade entre pais e professores. Isso só pode ser

minimizado se ambas as partes respeitarem os respectivos papéis.

Neste caso, pode ser útil que a mãe pergunte a si mesma se ela não se sente

insegura quanto ao fato de deixar que sua criança vá á escola. Mesmo que tenha se

esforçado para incentivá-la e saiba da importância de sua ida, sua própria duvida de

que ela não esteja pronta para isso podem ser transmitidas à criança.

Esse processo adaptativo costuma durar cerca de quatro a cinco semanas para que

se adaptem as escolas, algumas demoram mais tempo, mas também há aquelas

que entram e de imediato se sentem integradas.

Rizzo (2001) ainda afirma que a criança com problemas de se integrar nesse novo

ambiente, apresenta como sintomas freqüentes crises de choro agarrando-se ao

colo da mãe. Como referencia positiva a mãe deve inspirar confiança e

tranqüilidade, incentivando a ficar na escola.

No caso de choro a mãe deve ser aconselhada a permanecer por perto, mas nunca

em sala de aula juntamente com a criança. È preferível que a criança entre sozinha

na sala, sem a pressão dos pais e professores, para isso a mãe deve se dispor à

atender as necessidades da criança,e a organização ambiente requer duas

preocupações fundamentais. A primeira é de constituir-se em ambiente atraente,

agradável, estimulador da curiosidade exploratória. A segunda estar de tal forma

organizado que possibilite a criança aprender a usá-la facilmente, se sentindo

segura no ambiente.

As dificuldades paternas ou maternas (primeira infância), são classificadas como um

fator que opera para a fragilização do vinculo resumindo-se na redução do potencial

de realização produtiva do indivíduo.

Portanto venho mostrar a importância do incentivo da mãe nessa nova faze da vida

da criança

Questionando o sofrimento da mãe quanto a conscientização de que seu “bebê” esta

passando para uma nova faze, onde este se tornando um individuo independente,

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havendo assim conseqüentemente uma quebra no vinculo materno construído por

ambas as partes.

Ao ingressar na escola, a família ainda se constitui no grupo por excelência para a

criança. No entanto, a escola proporciona uma diversificação dos grupos nos quais a

criança poderá se inserir. O papel do grupo formado por crianças da mesma idade

passa a ser o de favorecer a aprendizagem social, ou seja, o convívio com os

padrões e regras sociais. Durante esse estágio, o grupo permitirá à criança

diferenciar-se dos outros e descobrir sua autonomia e sua originalidade (Wallon,

1987).

Wallon (1987) descreve o estágio do personalismo divide-se em três períodos

distintos, todos com o objetivo de tornar o eu mais independente e diversificado. São

eles: período da negação, idade da graça e período da imitação. No primeiro, o da

negação, surge na criança a necessidade de se auto-afirmar, de impor sua visão

pessoal e lutar para fazer prevalecer sua opinião.

No período seguinte, o da idade da graça, por volta dos quatro anos de idade, a

criança desenvolve maneiras de ser admirada e chamar a atenção para si através

da sedução, com uma necessidade de agradar cujo objetivo é obter a aprovação dos

demais. A criança passa a se considerar em função da admiração que acredita

poder despertar nas pessoas. Ressalta-se a importância da oferta de oportunidades

de expressão espontânea da criança, através de atividades como a música, a

dança, artes, etc. Exercitar na criança as habilidades de representação do seu meio,

ou seja, através do faz-de-conta ou do uso da linguagem, contribui para que ela

adquira uma precisão maior na expressão de seu eu.

O terceiro período, o da imitação, por volta dos 5 anos, é marcado por uma

reaproximação ao outro, manifestada pelo gosto por imitar, que possui um papel

essencial na assimilação do mundo exterior. O professor deve observar que sua

figura geralmente desperta o desejo de identificação no aluno, devendo estar

consciente de tal fato para estabelecer sua conduta. Wallon entende a imitação

como uma “necessidade de identificar-se com a realidade percebida para identificá-

la melhor” (Id, p.231).

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A partir dessas considerações, verifica-se que a Educação Infantil possui um papel

importantíssimo na formação da personalidade da criança, visto que permite a sua

adaptação à vivência em comunidade, em grupos que vão além dos limites

familiares, e contribui para a formação do eu psíquico. A escola pode estimular o

desenvolvimento de valores saudáveis nas interações, tais como a cooperação, a

solidariedade, o companheirismo e o coletivismo. As atividades em grupo devem

alternar-se com atividades individuais fazendo assim uso das alternâncias comuns

nesse estágio para promover o desenvolvimento de mais recursos de personalidade

(WALLON, 1987).

2.2 A socialização da criança na sociedade, e construção de uma

identidade.

Segundo Vygotsky (1987) a criança quando nasce, já é membro de um grupo social,

pois suas necessidades básicas estão ligadas, as outras pessoas, pois depende

delas para suprir-las.

A socialização é definida como um processo necessário para o desenvolvimento,

através do qual a criança satisfaz suas necessidades e assimila a cultura de acordo

com o desenvolvimento da sociedade. Este processo inicia-se ao nascimento, tendo

continuidade durante toda sua vida.

Segundo Vygotsky (1987), o desenvolvimento mental da criança é um processo

contínuo de adquirir controle ativo sobre funções inicialmente passivas, sendo que,

desde os primeiros dias de vida. As atividades da criança adquirem um significado

próprio no sistema de comportamento social, quando é dirigido a objetivos definidos

e reproduzido pelo ambiente da criança. Confere, assim, ao outro indivíduo, pai,

mãe, irmão, professora, colegas, presentes na situação, uma importância na

determinação do desenvolvimento infantil.

Além do mais, em uma perspectiva vigotskiana, o desenvolvimento das funções

psicológicas superiores e os processos psicológicos específicos do homem, são

mediados pelos instrumentos culturais, tal como a linguagem, os sinais e os

símbolos, criados para se comunicar. O adulto é visto como um duplo mediador

nesse processo, porque, no decurso de uma atividade partilhada, ensina estes

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instrumentos à criança e é, assim, mediador da aquisição de instrumentos culturais,

que por sua vez, medeiam o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

No momento em que a aprendizagem ocorre, com a intervenção do outro, a criança

se torna autônoma naquele aprendizado.

Dentro das inúmeras mudanças (avanços) tecnológicos na sociedade, que

influenciam a socialização do individuo, a escola exerce um papel fundamental na

consolidação do processo de socialização, aprofundando-se no desenvolvimento

cognitivo e social infantil.

É na escola que se constrói parte da identidade de ser e pertencer ao mundo , tendo

modelos de aprendizagem princípios que fazem parte da sociedade. Pais e

professores são portadores de elementos essenciais de apoio a criança nessa nova

etapa, superando assim as dificuldades típicas da adaptação.

A socialização ocorre em três processos; processos mentais, processos afetivos, e

de conduta.

Os processos mentais na socialização correspondem ao conhecimento de valores,

normas, costumes, aprendizagem da linguagem, pessoas e o poder de adquirir

conhecimentos fornecidos pela instituição.( Vygotsky,1987)

O processo afetivo de socialização é essencial para o desenvolvimento, se tornando

uma base solida para a criança, sendo basicamente a empatia( estado da emoção

do outro), apego(vinculo com as pessoas ao seu redor), e a amizade(mediadora de

todo o desenvolvimento social).

A interiorização de normas, o raciocínio comportamental, medo de perder, o

raciocínio comportamental, ou até mesmo de ser castigado, colabora para motivar a

conduta social.

Portanto para haver o desenvolvimento social, basta obter uma boa conduta

desconsiderando os atos socialmente indesejáveis.

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3 Estudos de caso

Como foi dito inicialmente, o tema do nosso trabalho, surgiu de uma

experiência vivida. Portanto para concretizarmos a teoria descrita no texto,

desenvolvemos uma pesquisa qualitativa, cuja a abordagem é estudo de caso,

pois queríamos compreender os sentimentos que surgem na fase de

adaptação da e da mãe na educação infantil.

O estudo de caso foi efetuado em uma escola particular em um bairro nobre,

tendo como objetivo abordar as necessidades da mãe e da criança no

processo de adaptação.

Foi feita uma entrevista com duas mãe e uma professora baseada em um

roteiro de questões, a partir de reflexões do texto.

Com o auxilio das entrevistas, do questionário e a reflexão do problema central

do texto, foi feito uma análise e elaboração de 3 estudos de caso.

CASO JOÂO

Neste caso chamaremos esta criança por um pseudônimo, “João”.

João é uma criança que possui quatro anos de idade tem uma mãe, pai, e uma

irmã de onze anos de idade.Vindo de uma família bem estruturada, onde o foco

é a comunicação e afetividade, é uma criança que possui um vinculo familiar

fortemente solido e saudável.

Ele é uma criança que passou quatro anos de sua vida, interagindo somente

com adultos; a única interação com criança era feita através de sua irmã.

Portanto, não houve troca de experiências com colegas de sua faixa etária, até

o dia de sua iniciação à escola.

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Pensando em sua iniciação na vida acadêmica, a mãe constantemente o

levava à escola para buscar sua outra filha, a fim de que ele pudesse estar se

familiarizando com o lugar, segundo relatos da mãe. A criança logo se

encantou pelo colégio.

O fato de que João tinha quatro anos e nunca havia freqüentado a escola,

intrigava as pessoas, havendo assim uma certa cobrança em cima de sua mãe.

Mas não foi esse o motivo que a mobilizou a introduzi-lo na fase escolar, o

ponto alvo, foi ao notar a necessidade que a criança apresentava de se

socializar com outras crianças de sua faixa etária, experiências que devem ser

vivenciadas para que haja um desenvolvimento cognitivo, físico, motor, entre

outras coisas.

Houve toda uma preocupação da parte da família a respeito do psicológico de

João, o qual foi feito através de conversas, exemplos, mostrando o quanto sua

iniciação na educação infantil seria importante para ele; foi realizada, também,

convivências cada vez mais constantes á escola, ao buscar sua irmã, sempre

enfatizando o quanto seria bom ele participar da escola.

Ao fim destes trabalhos havia chegado a hora de comunicar a João sua

entrada na escola. Aparentemente foi uma hora tranqüila, pois ele já sabia da

importância de sua ida. Até o momento em que a mãe disse que ele deveria

ficar na escola e que ela deveria ir para casa, e voltaria mais tarde para pegá-

lo como fazia com sua irmã, neste momento João entrou em crise, pois não

podia se imaginar em um lugar estranho com pessoas estranhas. Por ser uma

criança com laços de convivência muito restritos, onde convivia somente com

parentes. Foi muito complicada sua adaptação na escola.Este processo só se

tornou possível, através de acordos feito entre mãe e filho, onde ela deveria

passar o tempo todo com ele.

Este processo foi muito doloroso, pois não era possível a mãe ficar em sala de

aula, isso estaria prejudicando o trabalho da professora, trazendo uma

resistência maior da parte da criança na formação de um vinculo, um laço de

confiança entre professora e aluno.

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O processo de adaptação durou cerca de um mês, a mãe ficou presente em

sala de aula durante uma semana,duas semanas no corredor, e na ultima

semana ia para casa no período em que o filho permanecia em sala de aula, e

durante o horário do lanche ela retornava à escola.

Foi tão difícil para a mãe quando para a criança, pois a mãe sabendo da

necessidade da criança estar ali, do quanto isso irá ajudá-la, ficava de coração

partido, ao ver seu filho sofrendo daquela maneira, sem poder fazer nada, a

não ser conversar e repassar tudo que já havia sido conversado anteriormente

a respeito da importância.

A mãe tinha como maior preocupação a segurança de seu filho, quanto a se

machucar, não conseguir interagir com os colegas devido sua timidez,

conseqüentemente criando algum problema de convivência , como

desentendimentos.

Depois de muita conversa e com o passar do tempo, tudo começou a fluir, até

que chegou as férias de julho. Ao voltar às aulas, tiveram que passar por um

novo processo adaptativo, pois João novamente estava inseguro, segundo

falas da mãe. Ele creditava que ao voltar a escola, tudo estaria mudado, sua

professora não seria mais a mesma, nem mesmo seus colegas.

Ao chegar à escola, pôde ver que tudo continuava como antes, e que tudo

continuaria a seguir seu rumo como anteriormente.

Hoje João é uma criança mais segura, presa à rotina, mas que apresenta mais

facilidade em se comunicar com outras pessoas, claro que tem muitas barreiras

ainda para serem quebradas, mas com o tempo e com as experiências vividas

tudo será superado, se transformando em um grande aprendizado.

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CASO ANTÔNIO

Neste caso também chamaremos esta criança por um pseudônimo, “Antônio”.

Antônio é uma criança que possui quatro anos de idade, vindo de outro estado,

Brasília Distrito Federal, mora somente com sua mãe e seu pai.

Devido à mudança de estado, residência, ciclo de amigos, separação de

familiares, passou por muitos conflitos internos no processo de adaptação na

instituição escolar, pois ocorreram muitas mudanças em sua vida.

Antônio é filho único, e atualmente mora com seu pai e sua mãe.

Por estarem somente os três no estado de São Paulo , a mãe de Antônio

depende muito da companhia do filho, isso dificultou muito o processo de

adaptação da criança.

A mãe de Antônio sabia o quanto era importante a iniciação dele na vida

acadêmica, mas tinha um porem, caso o filho viesse a freqüentar a escola , a

mãe perderia seu companheiro.Pois era isso que ele significava para ela, com

ele ela ia as compras, piscina, cabeleireiro, eles tinham uma relação complexa

onde um nunca se separaria do outro.

Por isso a professora teve muitos problemas no processo adaptativo, pois não

era somente necessário um trabalho feito com a criança, e sim deveria ser feito

anteriormente um trabalho com a mãe, que resistia fervorosamente a realidade

da criança, esta qual que deveria sim participar na instituição de ensino, pois

isso traria uma vida social e alta afirmação pessoal da criança.

A mãe não via o quanto estava prejudicando o seu filho, somente olhava o seu

lado, achava que a criança estaria melhor com ela.

Os preparativos para o primeiro dia de aula foram memoráveis, juntos

compraram todo o material.

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No primeiro dia de aula houve uma conversa, onde ela prometia ficar com ele

na escola, e promessas de recompensas, caso ele fosse a escola. È claro que

não foi uma tentativa bem sucedida, pois a criança pões se a pensar, que tipo

de lugar é esse, que tipo de pessoas eu irei encontrar, se minha mãe esta

dizendo que irá me recompensar caso eu vá, não deve ser compensador ir.

Como podemos observar essa atitude não pode ser bem vista pela criança,

isso tudo foi motivo de criar ainda mais bloqueios em qualquer tipo de tentativa

de vínculos entre Antônio e a professora e com seus futuros colegas de sala de

aula.

Depois de muito dialogo entre a mãe e a professora, a professora e Antônio,

foram feitos alguns ajustes nas atitudes da mãe.

Porem em contra partida, a mãe passou a fugir da rotina da escola, chegando

todos os dias depois da primeira parte da rotina diária, fazendo como que a

criança não participasse do delo (roda de conversa), que é de importância

fundamental para a criança, é um momento onde ela esta aberta para interagir

com os colegas e professora, onde ela vai conhecer um pouco dos colegas e

se fazer conhecer.

Infelizmente a mãe de Antônio não sabia o mal que estava fazendo para com a

criança, pois a única coisa que ela queria no momento era ficar com o filho.

Aparentemente havia uma certa insegurança da mãe quanto ao sentimentos do

filho para com a professora e os colegas, havia um medo de que ele preferisse

estar com os colegas ao estar com ela própria.

Este processo durou cerca de oito meses, durante este período a professora

solicitou a presença da mãe quase que freqüentemente na instituição, para que

houvesse um trabalho em cima das atitudes e sentimento da mãe.A partir disso

foram ocorrendo mudanças em seu comportamento, onde Antônio passou a

chegar à escola no horário certo, a mãe passou a não mais pressentia-lo por ir

a escola, e sim incentivado somente com gestos.

Observando a mudança de comportamento de sua mãe,Antônio mudou

completamente sua postura perante a escola, tornando-se uma criança mais

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sociável, interagindo com a turma nas atividades, assim não apresentando

problemas em relação a permanência na escola.

Portando podemos concluir que a mudança da mãe refletiu diretamente na

criança.

CASO PROFESSORA

A professora entrevistada possui 25 anos, é formada pela USP, e já atuando à

6 anos na educação infantil .

Ao iniciarmos a entrevista, questionei a necessidades da adaptação e sua

freqüência. A professora firmou realizar sempre o processo adaptativo,

independente do aluno já ter freqüentado a escola outras vezes, pois é

necessário realizar a adaptação dos alunos à escola todos os anos, pois são

turmas novas professores novos, e isso gera uma certa insegurança tanto na

criança como na mãe.

“Defino o processo de adaptação não só como o ingresso à vida escolar como

também a descoberta da criança de um mundo mais amplo que a espera. O

início da vida escolar é um acontecimento significativo, que tem dois grandes

desafios: conhecer um ambiente desconhecido e a superar a separação da

mãe.” ( PROFESSORA)

Inicialmente houve uma reunião de apresentação onde conversamos com os

pais sobre o processo de adaptação e leitura de um texto que dá dicas sobre o

assunto. Procurando atender pais e crianças com total atenção, foi

realizada a semana de adaptação especialmente planejada com atividades

próprias para este período.

A maior dificuldade enfrentada no processo de adaptação foi a de fazer com

que os pais percebessem que o ingresso da criança à escola não deve ser

tratado de maneira dramática mas, sim, como algo natural que deve transcorrer

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sem grandes dificuldades, tendo como foco a preocupação de que os alunos

sintam-se bem e passem por esse período sem grandes dificuldades.

“Tenho uma ótima relação com pais e alunos atualmente, pois atualmente o

grupo esta adaptado, tanto as crianças como as mães. O primeiro dia de aula

ocorreu sem grandes problemas, apenas dois alunos choraram sentindo a

ausência das mães, procurando atendê-los da melhor maneira, realizando um

tratamento especial e individual.” (PROFESSORA)

Tendo como foco a preocupação de que os alunos sintam-se bem e passem

por esse período sem grandes dificuldades.

Depois do desenvolvimento de trabalhos tanto com os pais como com as mães,

hoje a educadora afirma ter uma ótima relação com pais e alunos e, pois

atualmente ambos estão adaptado.

Podemos observar que a atitude da professora em questão foi fundamental

para que houvesse sucesso em relação aos seu objetivos

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Considerações finais

A partir desse trabalho refletimos sobre o importante papel que a instituição

família exerce sobre o individuo criança, pois é ela a base da educação, é ela

que tem influência direta sobre a criança, pois é a primeira instituição que a

criança mantém contato. Falamos também sobre o processo de adaptação, o

quanto pode ser difícil tanto para a criança quanto para a mãe, dificuldades e

obstáculos que ambos ultrapassam tendo que superar seus próprios anseios, e

o quanto esta pode influenciar no desenvolvimento psicológico da criança.

Sendo assim o sistema família pode ser decisivo, tanto no aparecimento, como

na manutenção da dificuldade de aprendizagem. Isto pode ser observado no

caso Antônio, onde a mãe declara, a dificuldade que tem ao ficar distante do

filho, mesmo por poucas horas.

Podemos então concluir que a melhor posição foi na entrevista do caso João,

onde a mãe conversava freqüentemente com seu filho, mostrando a

importância de estar em uma instituição educacional, e o quanto isso será

compensador. Partindo disto se torna um incentivando para que a criança se

coloque em uma postura onde esteja aberta a construção de novos vínculos,

conseqüentemente permitindo a absorção de novas informações vindas desta

relação.

Os métodos e praticas utilizados pelo professor na instituição escola, também

são fundamentais pois o ritmo do processo de desenvolvimento da criança

depende da postura abordada pelo profissional de ensino.

É por isso que deve ser feita uma parceria entre família e escola, para que

haja um trabalho bem sucedido com a criança. Fica clara a força que cada uma

dessas instituições possui e que se conseguirem se unir e caminhar juntas,

poderão fazer um grande trabalho na formação deste individuo.

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