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1 Relacionamento e Trabalho em Equipe Introdução Olá! Você está recebendo o caderno “Relacionamento e Trabalho em Equipe” e esperamos que ele seja um bom apoio para seus estudos. Neste caderno vamos dialogar sobre algumas competências que são muito importantes para o mundo do trabalho e também para o nosso dia a dia, como relacionamento humano, trabalho em equipe, direitos do trabalhador e consumo consciente. Qualquer que seja a área de trabalho que você escolher ou o curso que fizer, vai precisar lidar com esses temas, concorda? Afinal, vivemos em sociedade. Mesmo que você trabalhe como técnico em informática e lide com uma máquina ou trabalhe em um laboratório químico compenetrado em suas misturas, terá que, em algum momento, relacionar-se com pessoas, lidar com seu chefe ou com seus funcionários, com seus clientes ou tomar decisões em equipe. O caderno está dividido em quatro capítulos. O primeiro tem o título “Trabalhando em equipe e mantendo um bom relacionamento interpessoal”. Esse capítulo vai nos ajudar a refletir um pouco sobre nossas próprias características e sobre como nos comportamos ao realizar uma tarefa sozinhos ou em equipe. Geralmente gostamos de estar em grupo, em uma festa, uma atividade de lazer, mas desde que esse grupo seja de amigos ou de pessoas que pensam como nós. Ao trabalhar em equipe, na escola ou no trabalho, nem sempre podemos escolher com quem nos relacionar. Temos, então, que aprender a agir profissionalmente ou, mesmo que não seja no trabalho, mas na escola ou praticando um esporte coletivo, a trabalhar com foco na atividade que temos para fazer respeitando o grupo. Várias pesquisas científicas apontam para a importância do trabalho em equipe no desempenho profissional, em

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Relacionamento e Trabalho em Equipe

Introdução

Olá!

Você está recebendo o caderno “Relacionamento e Trabalho em Equipe” e

esperamos que ele seja um bom apoio para seus estudos.

Neste caderno vamos dialogar sobre algumas competências que são muito

importantes para o mundo do trabalho e também para o nosso dia a dia, como

relacionamento humano, trabalho em equipe, direitos do trabalhador e consumo

consciente.

Qualquer que seja a área de trabalho que você escolher ou o curso que fizer, vai

precisar lidar com esses temas, concorda? Afinal, vivemos em sociedade. Mesmo que

você trabalhe como técnico em informática – e lide com uma máquina – ou trabalhe em

um laboratório químico compenetrado em suas misturas, terá que, em algum momento,

relacionar-se com pessoas, lidar com seu chefe ou com seus funcionários, com seus

clientes ou tomar decisões em equipe.

O caderno está dividido em quatro capítulos.

O primeiro tem o título “Trabalhando em equipe e mantendo um bom

relacionamento interpessoal”. Esse capítulo vai nos ajudar a refletir um pouco sobre

nossas próprias características e sobre como nos comportamos ao realizar uma tarefa

sozinhos ou em equipe.

Geralmente gostamos de estar em grupo, em uma festa, uma atividade de lazer,

mas desde que esse grupo seja de amigos ou de pessoas que pensam como nós. Ao

trabalhar em equipe, na escola ou no trabalho, nem sempre podemos escolher com quem

nos relacionar. Temos, então, que aprender a agir profissionalmente ou, mesmo que não

seja no trabalho, mas na escola ou praticando um esporte coletivo, a trabalhar com foco

na atividade que temos para fazer respeitando o grupo. Várias pesquisas científicas

apontam para a importância do trabalho em equipe no desempenho profissional, em

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muitas áreas. Vamos citar algumas dessas pesquisas e, inclusive, diferenciar trabalho

“em grupo” de trabalho “em equipe”.

No segundo capítulo, “Melhorando as condições de convivência na vida e no

trabalho”, discutiremos a difícil arte de conviver. Temos visto em todo o mundo casos

de intolerância religiosa, racismo, com relação à orientação sexual e violência contra a

mulher, muitas vezes dentro de casa. Vamos examinar o que a legislação prevê nesses

casos e também o que dizem os acordos internacionais que tratam de uma cultura da

paz, tendo sempre na educação das crianças e jovens a maior esperança. Para conviver

com pessoas de maneira harmoniosa – e quase tudo o que fazemos, em casa, na escola,

no trabalho é acompanhado de pessoas – é preciso empatia e tolerância.

No terceiro capítulo: “Apropriando-se dos direitos Trabalhistas e

Previdenciários” vamos aprender mais sobre a legislação trabalhista e previdenciária

vigente no Brasil e um pouco de sua história, para entender como chegamos até aqui. E

a previdência, o que é, afinal? Algo ligado à aposentadoria, não? Trataremos também da

Lei da Aprendizagem e o que está previsto quanto ao trabalho de jovens que ainda estão

estudando.

No quarto e último capítulo, o tema é “Repensando o consumo”. Teremos coisas

bastante interessantes para discutir nesse capítulo. Já houve um tempo, não muito

distante, em que quase ninguém se preocupava com o consumo excessivo (a não ser

quando faltava o dinheiro para as compras) e os bens naturais, como água, a luz do sol,

as florestas, os animais pareciam inesgotáveis ou imutáveis. Aprendemos que não é

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assim, que se não cuidarmos desses bens, eles acabarão e inviabilizarão nossa vida na

Terra.

Repensar o consumo é uma questão de sobrevivência! Precisamos respeitar a

natureza e utilizar seus recursos de maneira equilibrada para evitarmos um esgotamento

dos recursos e garantirmos a sobrevivência das futuras gerações. A boa notícia é que há

muitas iniciativas em todo o mundo em favor de uma vida mais saudável.

Enfim, nesses quatro capítulos, vamos aprender sobre relacionamento, viver e

trabalhar juntos, compreender as diferenças, quais são nossos direitos como

trabalhadores e como viver uma vida sustentável, utilizando os recursos naturais de

modo racional. Esperamos que você amplie seu conhecimento e possa compartilhar com

seus colegas.

Vamos começar? Boa leitura e bons estudos!

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Situação de Aprendizagem 1: Trabalhando em equipe e praticando o

relacionamento interpessoal

Contextualização e Mobilização

Você lembra de fazer trabalhos em grupo na escola quando era mais novo ou até

recentemente? Aposto que sim!

A atividade em grupo – em sala de aula ou como tarefa de casa – é uma prática

escolar bastante comum em todos os lugares e para todas as idades. Você pode até fazer

uma pesquisa entre pessoas com idades diferentes, de cidades diferentes e,

provavelmente, todas que frequentaram alguma escola, vão lembrar dos trabalhos em

grupo.

Quando o trabalho era para ser feito fora da escola, reuníamos os colegas na casa

de alguém e, além das brincadeiras e lanches, fazíamos o que havia sido solicitado pelo

professor. Talvez você tenha lembranças divertidas desses trabalhos ou lembre-se de

algumas discussões – até mesmo brigas – porque a divisão de tarefas não era muito

justa, porque sempre tinha um “folgado” que não fazia nada e o produto final ficava

sempre para os mesmos ou para um único componente do grupo. Essas discussões não

costumam ser só entre crianças, não. Adolescentes e adultos também têm sérias

dificuldades quando precisam dividir responsabilidades!

Você lembra de algum problema desse tipo quando fazia trabalhos em grupo?

Algumas pessoas têm mais facilidade e gostam de estar sempre no meio de

outras para trabalhar, estudar e se divertir. Outras preferem fazer muitas atividades

sozinhas e ficam incomodadas quando são obrigadas a lidar com essa convivência.

É uma questão de jeito, de personalidade. E você? O que prefere? Já parou para

pensar nisso?

Há momentos em que mesmo as pessoas mais extrovertidas preferem ficar

sozinhas, refletir, pensar, ouvir as músicas que gostam. Mas, de qualquer forma,

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gostando ou não, você deve fazer, diariamente, muitas atividades junto com outras

pessoas.

Porque essa é praticamente uma exigência do mundo em que vivemos.

Você já ouviu esta expressão: “Nenhum homem é uma ilha? ”

O que você acha que ela quer dizer?

Essa frase é de um poema de John Donne, um poeta

inglês do século XVI! Ele nasceu em 1572 e morreu em 1631.

Mesmo fazendo tanto tempo, essa frase é repetida até hoje.

No mesmo poema – Meditação 17 – ele cita a

expressão “por quem os sinos dobram? ”.

É um costume muito antigo em várias partes do mundo

que, ao morrer alguém de uma cidade ou de um vilarejo, a igreja toca os sinos de uma

maneira especial, não para indicar as horas ou avisar da missa, mas para comunicar do

falecimento. Dizemos que, nessas badaladas, os sinos “dobram”. Nas grandes cidades

estamos afastados desses costumes.

A estrofe do poema com essa frase é:

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do

continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como

se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua;

a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por

isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti” (DONNE,

1624).

Não é bonito?

Curiosidade:

O escritor norte-americano Ernest Hemingway escreveu um

romance com o título “Por quem os sinos dobram? ” Que

depois foi adaptado para o cinema e foi muito premiado!

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Pois é! Não somos uma ilha e costumamos estar juntos de outras pessoas em

muitos lugares: no clube ou associação onde praticamos esporte ou outro tipo de lazer

como um grupo de música, com amigos para assistir a um jogo de futebol, a um show

ou para um outro hobby. Nesses lugares, o que nos une é um gosto em comum, a

convivência com pessoas, o lazer e o prazer e, na verdade, se não estivermos contentes

em um desses locais temos liberdade para parar de frequentá-los.

Na escola e no trabalho é diferente. Eles fazem parte da nossa vida e não

podemos deixá-los tão facilmente. Por isso escolhemos dar destaque aqui para a escola e

o trabalho porque, além desses ambientes

estarem presentes na vida de

praticamente todas as pessoas, a

importância do relacionamento e do

trabalho em equipe é também a

convivência e a sociabilidade, mas não é

só isso. Na escola e no trabalho temos

outros objetivos bastante importantes e

precisamos atingi-los com sucesso.

Mas, afinal, esse tipo de relacionamento, do contato com grupos é obrigatório,

mesmo que eu não queira?

Vamos procurar entender um pouco melhor esse ponto.

Na escola, algumas vezes o professor, ao propor uma atividade, deixa que os

alunos decidam se querem fazer sozinhos ou em grupo e eles mesmos podem escolher

os componentes do grupo, o que parece muito bom porque sempre temos afinidades

com algumas pessoas mais do que com outras e escolhemos nossos amigos. Mas, outras

vezes, o professor não nos dá opção de escolha e determina como os alunos devem se

organizar: individualmente, em duplas, trios ou grupos maiores mesmo que contrarie a

maioria dos alunos. Em algumas ocasiões ainda, não podemos nem mesmo escolher

quem fará parte do nosso grupo. O próprio professor determina quem fica com quem.

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Você já se viu na situação de perguntar ou pelo menos pensar:

“Não posso fazer o trabalho sozinho, se eu preferir assim? ”.

“O professor pode me obrigar a fazer trabalho em grupo se eu não quero? ”.

“ E ainda com pessoas que eu não escolhi? ”

É interessante que esse questionamento seja feito. Não devemos simplesmente

obedecer às tarefas sem entender porque elas são impostas.

Mas, você precisa saber que há uma razão para isso!

Quando o professor “decide” como os alunos devem se organizar para fazer

certas atividades é porque ele tem uma intencionalidade. O que isso quer dizer? Ele

planejou a tarefa de modo a chegar a alguns objetivos com ela e para isso ele sabe qual é

a melhor formação – trabalho individual ou em grupo – para que a aprendizagem

aconteça. Além disso, espera-se que o professor conheça seus alunos, suas

características, os pontos fortes e fracos de cada um em seu desenvolvimento. Desta

forma, o professor segue critérios específicos para orientar o trabalho em sala de aula.

Ou seja, não é para “torturar” ninguém que o professor faz isso, nem para descontentar

ou punir os alunos. O objetivo do professor é que os alunos aprendam e para isso em

alguns momentos é necessário que cada aluno se empenhe individualmente para

compreender o que está sendo ensinado e, em outros momentos é importante que uns

ajudem aos outros com suas melhores habilidades.

Lev Vygotsky foi um pesquisador russo dos mais

importantes da área da educação. Ele dizia que: “o

aprendizado desperta vários processos internos de

desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando

a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando

em cooperação com seus companheiros” (VYGOTSKY,

1989).

Nessa frase, Vygotsky cita a interação de crianças, mas o que ele afirma é válido

também para jovens e adultos, como vamos ver mais adiante.

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Se você quiser saber mais sobre a vida e a obra de Lev Vygotsky acesse na

internet: http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ie2/infoeduc/teovygotsky.html

Além de Vygotsky, muitos outros educadores têm estudado as vantagens do

trabalho em equipe para a aprendizagem e, em muitos casos, formando o que os

educadores chamam de agrupamentos produtivos. Esses agrupamentos, que podem ser

duplas, trios ou grupos maiores, são constituídos por alunos que têm graus de

desenvolvimento diferentes em alguma área do conhecimento ou habilidades específicas

diferentes. Ou seja, um é melhor em cálculo matemático e outro em redação.

Vamos exemplificar:

Exemplo 1: Laura e Pedro são dois alunos da turma do Ensino Médio; eles são

muito criativos e se comunicam muito bem; são aqueles alunos “falantes”, que contam

histórias incríveis, mas eles não são muito bons na escrita, cometem muitos erros de

ortografia. Por outro lado, Tiago e Camila escrevem bem, mas são bastante retraídos e

quietos. A professora Sônia, da disciplina de Língua Portuguesa, forma um grupo com

os quatro alunos – Laura, Pedro, Tiago e Camila para a atividade de redação criativa.

Mas, veja bem! A ideia não é “fatiar” a atividade em tarefas e cada um fazer o que sabe

melhor! Isto não seria uma equipe de fato.

A intenção da professora é que eles façam um trabalho colaborativo, uns

aprendam com os outros e todos avancem, principalmente quanto à habilidade que eles

ainda não haviam desenvolvido tão bem.

Exemplo 2: a aula agora é de Ciências e a professora Patrícia monta “duplas

produtivas” para trabalharem no laboratório com alguns experimentos de química.

Mariana e Luciana são irmãs gêmeas e faltaram em várias aulas. Então, a professora

define que Mariana faça dupla com Vitor e Luciana com Flávia. Vitor e Flávia não

faltaram a nenhuma aula e estão muito empolgados com os experimentos. As duas

irmãs, cada uma em sua dupla, ficam encarregadas do registro por escrito dos

experimentos (e elas são boas nisso!)

A professora tem o objetivo de que os alunos que dominam mais os conceitos e

estão empolgados expliquem para suas colegas os experimentos para que o registro

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possa ser feito. Uns aprendem conceitos de química e outros aprendem a fazer uma boa

comunicação. Além disso, todos aprimoram suas habilidades.

Entendeu agora porque o professor precisa, em algumas ocasiões, montar ele

mesmo as equipes de trabalho? Tudo pelo conhecimento!

Ouvir opiniões diferentes das suas, confrontar com as suas próprias ideias,

argumentar, raciocinar, ensinar o que sabe aos colegas e aprender o que ainda não sabe

é um excelente modo de promoção da aprendizagem.

É interessante fazer uma reflexão aqui sobre esses “agrupamentos produtivos”.

Eles são formados por pessoas (crianças, jovens ou adultos) que têm habilidades e

competências diferentes ou estão em níveis de conhecimento diferentes em alguma área,

mas, todos têm potencial para aprender. Essas diferenças são temporárias e podem

deixar de existir com o estímulo dos professores e dos colegas. Certo?

Não é curioso perceber que essas pessoas se unem pela diferença e não pela

igualdade? E é assim que aprendem! Talvez até essas professoras não interfiram na

escolha de alguns grupos, mas nesses sim, porque sentem a necessidade de que isso seja

feito. Elas utilizam critérios pedagógicos para essa divisão. E aqui podemos lembrar da

diferença entre igualdade e equidade. Igualdade seria tratar todos os alunos da mesma

maneira e, nesse caso, nem todos teriam sucesso na aprendizagem porque eles não estão

em condições iguais, mas as professoras trataram os alunos com equidade que é cuidar

de maneira diferente para que todos tenham direito à aprendizagem.

Muitas escolas antigamente tentavam uniformizar os alunos deixando juntos os

iguais; ou seja, os “bons” alunos em um grupo e os “maus” alunos em outro grupo;

quem tirava notas melhores de um lado da sala e quem tirava notas baixas de outro lado.

Em alguns ambientes de trabalho também havia essa separação entre os que sabiam

mais e os que sabiam menos. Agora sabemos, com o apoio dos pesquisadores da

psicologia e da educação, que o grupo “heterogêneo” é mais rico porque é onde há mais

trocas e mais aprendizado. Então, viva a diversidade!

Curiosidade:

Algumas escolas e bibliotecas no Brasil e em outros países do mundo deixaram

de comprar todas as mesas e cadeiras iguais para os estudantes como

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Conheça um pouco mais sobre esse importante poeta brasileiro:

http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp

compravam antes. Elas optaram por oferecer diferentes opções de tamanho,

formato e cor para que o usuário escolha a que for mais confortável para ele. O

que era sempre homogêneo antes, uniformizado, agora é diversificado. Porque as

pessoas são diferentes, tem alturas, pesos e preferências diferentes e todas

merecem ser atendidas em suas necessidades. Trata-se apenas do mobiliário,

parece apenas um detalhe, mas isso é tratar as pessoas com equidade.

Parece claro, então, que trabalhar em grupo com pessoas muitas vezes bastante

diferentes de nós é muito importante, mas será que é fácil? Já lembramos das discussões

que tínhamos nos trabalhos escolares. Se estamos entre amigos, pessoas escolhidas por

nós, a convivência é mais tranquila e até muito divertida, mas, temos que nos relacionar

também com pessoas que pensam e agem de maneira muito diferente da nossa. E

conviver não é fácil! Até o poeta Mário Quintana concorda. Em um poema seu de nome

“A arte de viver”, ele diz, “Mas como é difícil!

Como fazer, então, se a convivência é difícil?

Conviver com pessoas, trabalhar em um grupo, dividir tarefas exige algumas

qualidades que precisamos cultivar. Portanto, vamos, primeiramente, examinar as

nossas características pessoais.

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Você tem facilidade para se relacionar? Como se comporta em grupo? Gosta de

“chefiar” os grupos dos quais você faz parte na escola, no trabalho ou no esporte? Ou é

mais tímido e prefere que outras pessoas tomem a iniciativa?

Saber sobre o que mais gostamos, como preferimos fazer determinadas coisas é

muito importante. Esse autoconhecimento é necessário quando trabalhamos sozinhos,

mas, principalmente, quando trabalhamos em grupo. Parece engraçado dizer que

precisamos nos conhecer, mas é verdade! Às vezes não nos conhecemos muito bem.

Antes de aprender a lidar com os outros, saber lidar com a gente mesmo é o mais

importante!

Algumas pessoas são tímidas e podem sofrer um bocado ao ter que trabalhar ou

estudar com um grupo que não conhecem. Podem preferir ficar entre os amigos mais

íntimos e não se expor.

Isso pode parecer um problema sério, a timidez muitas vezes é considerada

como um defeito, mas isso não é verdade. Você sabia que o cientista Albert Einstein, o

poeta Carlos Drummond de Andrade e o cantor David Bowie eram pessoas tímidas? E

que Bill Gates e Michael Jordan também são? Pois é! Essas personalidades tão famosas

e que foram tão bem-sucedidas tinham pavor de serem chamadas para apresentar um

seminário na escola. Imagine!

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É interessante sabermos desses exemplos para compreender que a timidez é um

traço da personalidade de algumas pessoas e não é preciso mudar isso. Uma pessoa não

vai deixar de ser tímida ou extrovertida porque precisa estudar ou trabalhar com outras,

ela pode apenas aprender a se comunicar melhor e interagir para o seu próprio

desenvolvimento e para o bom convívio.

As pessoas muito extrovertidas, que podem parecer mais bem-sucedidas, com

mais facilidade para atuar em equipe também precisam se adequar ao grupo para não

dominarem todo o espaço e tornarem-se inconvenientes. Precisam aprender a ouvir e a

respeitar o jeito de cada um. O ser humano é complexo. Cada um de nós tem

características próprias e contradições também. Por isso é bom “traduzirmos” a nós

mesmos e compreendermos as diferenças.

O poeta Ferreira Gullar escreveu um poema de nome “Traduzir-se”. Ele aponta –

de uma maneira muito interessante – as contradições e ambiguidades próprias da

natureza humana. Um dos versos, por exemplo, é: “Uma parte de mim é multidão: outra

parte estranheza e solidão” e no verso final ele propõe que viver, afinal, é

conseguirmos “traduzir uma parte na outra parte”. O poeta nos traz essa reflexão de

uma maneira artística, muito bonita. Aliás, os artistas fazem isso conosco, não é

mesmo? Desvendam a alma humana e dizem – ou mostram – coisas que nós sentimos,

mas muitas vezes não conseguimos expressar.

Leia o poema “Traduzir-se” na íntegra acessando o link:

https://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?obra_id=11021&poeta_id=262

E ouça também o mesmo poema musicado e interpretado pela cantora Adriana

Calcanhoto: https://www.youtube.com/watch?v=rG5VG_6ZtnA

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Você já conhecia Ferreira Gullar? Poeta brasileiro que era

membro da Academia Brasileira de Letras e faleceu em

dezembro de 2016?

Se quiser saber mais sobre ele, veja neste site da Academia

Brasileira de Letras.

Fazer estas reflexões sobre quem somos, quais são nossas características mais

marcantes, o que precisamos melhorar em nós mesmos para conviver com outras

pessoas é muito importante para nos prepararmos para a vida social, para as escolas e

cursos que frequentamos e para o mundo do trabalho, nossa vida profissional.

A capacitação técnica na área em que trabalhamos é fundamental, mas se não

atentarmos também para essas habilidades pessoais podemos ter muitos problemas e

comprometer até a nossa carreira profissional. Ou seja, não adianta saber muito

tecnicamente se não conseguimos nos relacionar respeitosa e eticamente com nossos

colegas de trabalho.

Pesquisadores da área da Psicologia e da Educação têm estudado essas

características individuais e sociais das pessoas e percebido que, além de serem

importantes para que o relacionamento interpessoal ocorra da melhor forma e o

resultado do trabalho seja mais eficiente, são importantes também para a nossa saúde

física e mental. Não é incrível?

Jay Hall, pesquisador polonês, já escreveu vários artigos sobre o trabalho em

equipe nas empresas e o que torna uma equipe mais ou menos eficaz:

Para alcançar a eficácia, um grupo deve primeiro descobrir como integrar

com sucesso atividades de trabalho e sócio emocionais, simultaneamente.

Em geral, comportamentos - individuais ou de grupo - que atendem apenas

ao elemento-trabalho, produzem dificuldades a nível interpessoal; enquanto

que contribuições puramente interpessoais, a despeito de sua utilidade em

manter o grupo como entidade, frequentemente desgastam o objetivo-

trabalho. Nenhuma das facetas do funcionamento do grupo pode ser

ignorada se a eficácia é o objetivo. (HALL, 1969).

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Veja que, como o autor afirma, não podemos deixar de lado, quando

trabalhamos em equipe, nem as atividades do trabalho em si, que é a dimensão técnica

da nossa profissão e nem os aspectos sócio emocionais. Ambos são importantes para o

sucesso da atividade em grupo.

Ainda para termos ideia da importância que devemos dar às questões do

desenvolvimento pessoal e social, a Organização Mundial de Saúde (OMS) nomeou 10

habilidades que estão relacionadas com o nosso dia a dia, independentemente do país

em que vivemos e da atividade que fazemos, que eles consideram primordiais para

nosso desenvolvimento como pessoas e nossa saúde integral. Eles chamam essas

características de habilidades de vida!

São elas:

Autoconhecimento

Relacionamento interpessoal

Empatia

Lidar com os sentimentos

Lidar com o estresse

Comunicação eficaz

Pensamento crítico

Pensamento criativo

Tomada de decisão

Resolução de problemas

Você já deve estar reconhecendo em você algumas dessas habilidades e pensando

em quais precisa melhorar, não? E deve ter percebido que já estamos tratando de várias

dessas habilidades aqui. Não vamos tratar de cada uma detalhadamente, mas todas elas

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estão, de alguma forma relacionadas às competências requeridas na vida pessoal e

profissional.

É interessante perceber a importância que tem sido dada para essas habilidades de

vida por organizações bastante sérias, que têm muita credibilidade. Muitas escolas

tradicionais e empresas renomadas não levavam em conta essas características ao

considerar o que seria um bom aluno e um bom funcionário!

O aluno com bom relacionamento interpessoal, com facilidade para fazer amigos,

bastante sensível às questões sociais e problemas que aconteciam no entorno da escola

ou um ótimo comunicador, não costumava ser valorizado por muitas escolas, não é

mesmo? Às vezes essas características eram consideradas até defeitos e não qualidades

porque esses alunos eram muito “falantes” e “atrapalhavam a aula”! O que interessava

eram boas notas, apenas. Era saber matemática, geografia, ciências etc. As questões

sócio emocionais não pareciam fazer parte das incumbências da escola, em muitos

casos. Como se fosse possível separar a parte “pensante” do aluno de seus sentimentos e

emoções!

No ambiente de trabalho também, um funcionário que lida bem com os

sentimentos, tem criatividade, pensamento crítico e propõe soluções para os problemas

nem sempre era visto com bons olhos. O importante era a produtividade e só!

Atualmente, sabemos que nenhuma grande produção vale mais que as pessoas que nela

trabalham. Além disso, até a produtividade da empresa fica comprometida se os

cidadãos não têm suas necessidades e direitos respeitados.

O grande gênio do cinema, Charles Chaplin, soube, por

meio da sátira, retratar como ninguém o período áureo da

industrialização em que algumas indústrias chegavam a tratar

os funcionários como máquinas em busca de um aumento de

produtividade, passando por cima das necessidades mais

básicas dos seres humanos.

Veja esta cena clássica do filme “Tempos Modernos”

em que é proposta ao dono da fábrica, a ideia de uma máquina “alimentadora” para que

os operários não precisem “perder tempo” no horário do almoço para se alimentarem,

comprometendo a produtividade.

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https://www.youtube.com/watch?v=XLF1JZCxpxw

Com ironia, mostrando o exagero de uma situação em que a máquina alimenta o

funcionário (e tudo dá errado, é claro!), Chaplin nos faz refletir sobre a desumanização

nas relações de trabalho e lembrar que os direitos da pessoa humana devem estar sempre

em primeiro lugar em qualquer tomada de decisão, em qualquer ambiente de

convivência.

Atualmente, a própria OMS, que se preocupa com a saúde global dos cidadãos

de todo o mundo, nos diz que quando essas habilidades de vida são observadas pela

empresa, significa boa saúde de todos. Os empregadores já perceberam que suas equipes

trabalham muito melhor se valorizarmos essas habilidades e competências!

Uma das habilidades de vida citadas é a empatia. Você já deve ter ouvido falar

nessa característica tão importante para a convivência. Empatia é a capacidade de

colocar-se no lugar do outro. Sentir seus problemas e também alegrias como se fossem

com você.

Veja esta animação, que foi exibida em uma palestra da professora Brené Brown, da

Universidade de Huston – EUA e que ilustra o significado de empatia de uma maneira

bastante interessante e bem-humorada:

https://goo.gl/zwu6zm

A empatia é fundamental para que você compreenda as motivações das pessoas

e as respeite, mesmo que você não concorde com suas posições.

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As pessoas são diferentes, pensam de forma diferente e, muitas vezes, acham

que têm razão e que o outro está errado. Porque cada um tem seu ritmo: os mais rápidos

ou apressados acham que os outros são “lerdos” ou preguiçosos, o que nem sempre é

verdade; algumas pessoas fazem as coisas rapidamente, mas não pensam muito e

cometem muitos erros. Outros fazem as coisas mais lentamente, mas refletem bastante

sobre o que estão fazendo e são mais cuidadosas, portanto, erram menos. Enfim,

convivemos com pessoas, colegas de escola e de trabalho que são diferentes de nós.

Além disso, mesmo que você precise fazer um trabalho com um grupo de

pessoas que não conhece bem, na escola ou já na vida profissional (porque não podemos

escolher nossos colegas de trabalho) precisa lembrar que essa relação não precisa ser,

necessariamente, de amizade. Você não precisa ter intimidade com o grupo, basta ter

respeito e sempre debater ideias em torno do objetivo que vocês têm em comum.

Pense bem: quando um jogador de futebol é escalado para um jogo importante,

uma decisão de campeonato, nem sempre

os outros jogadores escolhidos pelo

técnico são seus melhores amigos, não é

mesmo? Pode ser que o melhor amigo de

um jogador, aquele que está sempre junto

com ele, não seja escalado. Não pode? A

decisão é do técnico e ele faz a escalação

visando a um objetivo. A relação dos

jogadores precisa ser profissional

independentemente das afinidades pessoais.

Já vimos sobre os “agrupamentos produtivos” na escola e suas vantagens. Na

vida profissional também é assim. Quando formamos um grupo com pessoas que não

conhecemos muito bem, que têm hábitos, opiniões e até idades diferentes podemos

aprender e ensinar ainda mais. Além disso, pode ser uma boa oportunidade para

perdermos preconceitos e ampliarmos nossa vivência!

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Desenvolvimento da Atividade de Aprendizagem

Na vida profissional, as habilidades de relacionamento interpessoal são

requeridas em todos os ambientes de trabalho, mesmo que o profissional passe a maior

parte do tempo em uma atividade isolada, como já dissemos, por exemplo consertando

um computador ou preparando uma planilha de cálculos. Mesmo nessas situações, o

profissional faz parte de um grupo que tem objetivos comuns e um conjunto de regras

que lhe são próprias. Em outros casos – e parece que na maioria das atividades

profissionais – o trabalho em equipe é obrigatório, é essencial, não há como desenvolver

determinadas tarefas individualmente.

Uma das razões para essa necessidade do trabalho em equipe na vida

profissional é a complexidade do conhecimento no mundo em que vivemos.

Desde que o primeiro ser humano como nós existe na face da Terra – há cerca de

150 mil anos – ele vem construindo e ampliando o conhecimento. Desde as primeiras

ferramentas para caçar e se defender até a alta tecnologia que temos hoje passando pela

utilização do fogo, a construção de moradias e a invenção do avião, além de tantas e

tantas outras invenções que não acabaríamos de enumerar, a complexidade do mundo só

aumenta. É possível imaginar que os seres humanos primitivos conseguiam dominar

tudo o que havia sido criado e transmitir seus conhecimentos para seus descendentes.

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Atualmente, no século XXI, o volume e a sofisticação do conhecimento historicamente

construído pelo homem são tão grandes que não cabem na nossa imaginação! E é claro

que não é possível dominarmos todo esse conhecimento.

Toda a complexidade do

conhecimento exige que cada ser

humano componha uma pequena parte

que vai formar o todo e nós dependemos

do conhecimento e do trabalho de toda a

humanidade. Nosso trabalho é, ao

mesmo tempo, pequeno, se comparado

com a construção do conhecimento

humano e grande no sentido de que é

vital para a continuidade – e melhoria – do mundo em que vivemos. Podemos até pensar

na imagem de uma corrida de revezamento na qual cada geração e cada indivíduo faz a

sua parte e transmite ao outro seu legado para que ele dê continuidade.

Uma pesquisa com profissionais da saúde realizada em um hospital da rede

pública no Estado do Rio de Janeiro e descrita no artigo “Trabalho em equipe de saúde:

limites e possibilidades de atuação eficaz”, de Márcia Cristina Gomes de Pinho no ano

de 2006, retrata muito bem a necessidade do trabalho em equipe. A autora explica que o

trabalho em equipe na área da saúde é essencial considerando que é determinado até

mesmo pela legislação que o atendimento a um paciente em um hospital ou clínica,

qualquer que seja a especialidade, deve ser integrado, ou seja, vários profissionais

participando do atendimento do paciente. Esta situação, que é a ideal para que o

paciente não seja visto em partes do corpo separadamente, mas como um ser humano

inteiro, “exige” o trabalho em equipe por parte dos

profissionais da saúde.

Até aqui estamos utilizando as palavras

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“grupo” ou “equipe" como a mesma coisa, como sinônimos, mas, é interessante

observar que essa mesma pesquisadora – Márcia C. Gomes de Pinho – chama a atenção

em seu artigo, citando outros autores, para a diferença existente entre grupo de trabalho

e equipe de trabalho. Parece a mesma coisa, não é? Mas, veja a diferença:

O grupo é aquele cujo processo de interação é usado para compartilhar

informações e para tomada de decisões com o objetivo de ajudar cada

membro com o seu desempenho na área específica de atuação, sendo o

desempenho considerado apenas como a reunião das contribuições

individuais de seus membros. A equipe, por sua vez, orienta-se pelos

esforços individuais que resultam em um desempenho maior que a soma

das entradas. (Pinho, 2006 p. 70).

Já discutimos sobre as diferenças pessoais e as preferências de cada um para

trabalhar sozinho ou em equipe e que, mesmo entre pessoas que “se dão bem”, que são

amigas, até e têm os mesmos objetivos no trabalho, os conflitos acontecem! A palavra

“conflito” pode assustar, dar a ideia de que a equipe não vai conseguir trabalhar, mas

não é assim! Em uma equipe de trabalho que está empenhada e comprometida com os

resultados, as situações de conflito são positivas e até saudáveis, você sabia?

O pesquisador Jay Hall, que já foi citado anteriormente, defende que a eficácia

de um trabalho em equipe depende de quatro Cs: o Compromisso, Conflito,

Criatividade e Consenso.

Compromisso – quanto mais envolvidos com o trabalho os componentes da

equipe estiverem, maior a chance de que o trabalho seja bem executado; é claro que esse

compromisso não pode ser forçado, pelo chefe, por exemplo, o envolvimento e o

compromisso são desenvolvidos por cada pessoa que compõe a equipe;

Conflito – se as pessoas estão comprometidas com o trabalho, com certeza os

conflitos vão aparecer porque cada um vai querer dar o máximo de si e as diferenças de

ideias vêm à tona, isso é natural; é a partir do conflito que as pessoas vão expor suas

ideias, ouvir outras que nem havia pensado, argumentar, reavaliar seus pensamentos e

caminhar para as melhores soluções; visto desta forma, o conflito não é muito

interessante? Pois é! Então não devemos “abafar” os conflitos, fingir que não existem

ou achar que a equipe acabou porque as pessoas não se entendem. Muito pelo contrário,

são os conflitos que vão gerar a criatividade e o consenso. Mas lembre-se que tratamos

aqui do conflito de ideias e não de brigas pessoais ou por falta de tolerância. É um sinal

de maturidade saber separar as questões pessoais das questões profissionais.

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Criatividade – a partir do conflito surgem novas soluções para o trabalho e para

a resolução de problemas; uma pessoa sozinha, por mais competente que seja, não

chegará às ideias criativas da equipe.

Consenso – você sabe o que é consenso? É a concordância de opiniões entre as

pessoas da equipe; é chegar a um acordo, a uma decisão comum a todos; veja que se a

equipe é comprometida, deixou vir à tona os conflitos e criou novas soluções, o

consenso é uma consequência de todo esse processo.

Interessante, não?

Quer dizer que alguns dos nossos conflitos desde os primeiros grupos da escola

poderiam ter sido aproveitados para tirarmos as melhores ideias e fazermos um ótimo

trabalho? Muito bom! Mas, a maioria de nós não sabia disso e desmanchava o grupo,

desistia ao primeiro conflito. Essas características do trabalho em equipe deveriam ser

ensinadas desde a escola, você não acha? Já iríamos para a vida profissional levando

esse conhecimento e essa experiência de extrair os melhores resultados das situações de

conflito.

Mas, sempre é tempo! Agora podemos trabalhar em equipe com mais segurança!

Esse mesmo autor nos lembra ainda que para que o trabalho em equipe tenha

essa eficácia, ele deve ocorrer em um ambiente democrático, em que as pessoas estejam

dispostas a e debater e compartilhar umas com as outras e não impor suas próprias

ideias como se fossem as únicas corretas.

Outro desafio pelo qual passamos diariamente na vida pessoal e do trabalho é

tomar decisões e resolver problemas. Quem não precisa?

Quando pensamos em tomada de decisão em relação ao trabalho, nossa atividade

profissional, já imaginamos que quem toma as decisões é a chefia! Se eu sou um

simples funcionário, sem cargo de chefia, eu não tomo decisões! Mas, não é bem assim!

Tomar decisão é uma habilidade que todos nós temos em potencial e precisamos

desenvolver. Se você pensar bem, tomamos várias decisões ao longo do dia, desde as

mais rotineiras: levanto mais cedo para ter mais tempo para tomar o café da manhã e me

arrumar com calma antes de ir para o trabalho ou durmo até a última hora e saio

depressa de casa? Até as mais sérias como mudar ou não de emprego, fazer ou não uma

faculdade.

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A tomada de decisão faz parte da nossa vida e nem sempre percebemos que

estamos praticando essa habilidade. Quando as decisões que temos que tomar são

simples como o que vestir, qual transporte usar para ir ao trabalho, aceitar ou não um

convite para uma festa, não percebemos essas decisões como uma habilidade. Elas são

praticamente automáticas; podemos pensar um pouco, ficar em dúvida, mas nem nos

damos conta do processo mental que fazemos. Afinal, as consequências de tomarmos

uma decisão errada nesses casos, não é nada grave. Podemos nos arrepender de não

termos ido à festa ou passado frio porque escolhemos a roupa errada, mas isso logo cai

no esquecimento.

Há outras situações, no entanto, em que nossas escolhas podem ser

determinantes de uma situação boa ou ruim em nossa vida pessoal ou profissional. A

habilidade de tomada de decisão, de maneira geral, consiste simplificadamente em:

Encarar a situação para saber com clareza que é necessária uma tomada

de decisão;

Avaliar quais são as possibilidades ou alternativas que se tem para

escolher;

Ponderar os prós e os contras, quais as vantagens e desvantagens de

escolher determinado caminho;

Quais serão as consequências para você e para outras pessoas, se errar na

escolha ou se arrepender e, por fim,

Tomar a decisão que, depois dessa análise, você considera a mais correta.

É claro que esses são passos genéricos, que se aplicam em várias situações, mas

conforme a decisão a ser tomada seja de caráter profissional, envolvendo várias pessoas,

riscos mais sérios ou decisões pessoais que determinarão uma mudança de vida, cada

uma dessas etapas é carregada de uma série de fatores a serem considerados. É

importante lembrar também que a base para as nossas decisões são nossos valores, ou

seja, o conjunto de verdades nas quais acreditamos e as condições concretas que temos

diante de nós. Às vezes, gostaríamos que a escolha fosse outra, mas é uma alternativa

que não existe em nosso cenário real.

Sempre que temos que tomar uma decisão, na verdade, a não ser que sejamos

intempestivos e não paramos nem um minuto para pensar no que fazemos (o que pode

nos causar muitos aborrecimentos!), processamos mentalmente essas etapas. Só que, nas

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resoluções bastante simples do dia a dia, não nos damos conta disso. Você avalia se está

frio ou calor ao escolher a roupa que vai usar para sair de casa, quais são as alternativas,

o que vai acontecer se errar etc.

Nas atividades profissionais realizadas em equipe, essas ponderações devem ser

avaliadas por todos para que cheguem a um consenso, como já vimos antes.

Pronto para trabalhar em equipe? Será que agora você se sente mais preparado?

Quanto a importância de trabalhar em equipe e fazer o possível para que elas sejam

eficazes, parece que não há dúvida!

Já citamos aqui que o grande jogador de basquete norte-americano Michael

Jordan declara ser uma pessoa tímida. Pois bem, foi ele mesmo quem disse certa vez em

uma entrevista, ao ser elogiado por seu talento nos jogos, uma frase que ficou famosa e

é até utilizada para motivar profissionais de várias áreas.

Ele disse em uma entrevista:

“O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe vence campeonatos”

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Análise e Avaliação da Situação de Aprendizagem

Vimos várias características do trabalho em equipe desde aqueles realizados na

escola até o trabalho profissional e o que devemos observar para que a equipe tenha

sucesso em seus objetivos, ou seja, como colaborar para a eficácia da equipe.

Você pode ter uma função de destaque na equipe como um “líder”, a pessoa que

é a responsável por coordenar a equipe em determinada atividade; ou ainda você pode

ser um membro da equipe como qualquer outro. De qualquer forma, você pode

colaborar muito para que o trabalho seja realizado da melhor maneira.

Sempre que iniciamos um trabalho – escolar ou profissional – é importante fazer

um planejamento para não perder de vista seus objetivos, não esquecer de nenhum item,

administrar o tempo e os recursos que serão utilizados e, no caso do trabalho em equipe,

dividir as tarefas e responsabilidades.

Já sabemos que dividir tarefas não é “fatiar” o trabalho e cada um fazer uma

parte que será reunida no final. Se for feito assim, não podemos dizer que houve uma

equipe. É possível, sim, dividir tarefas, é até necessário para agilizar o trabalho, mas

toda a equipe deve participar para conhecer começo, meio e fim.

É interessante até, para se ter certeza da eficácia da equipe (não necessariamente

dos resultados) checar a participação de cada um e conferir as etapas. Esse checklist

também deve ser preparado pela equipe, conforme as especificidades do trabalho. Mas,

ele pode conter, por exemplo, os seguintes itens:

Todos os componentes da equipe têm clareza do trabalho que será

realizado e quais são os seus objetivos?

O planejamento do trabalho foi elaborado por toda a equipe?

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As estratégias de execução foram debatidas e resolvidas consensualmente

pela equipe?

A divisão das tarefas e responsabilidades de cada participante foi feita

coletivamente, com o acordo de todos?

Cada participante realizou devidamente sua tarefa?

Os resultados foram analisados e compreendidos por todos?

Cada membro da equipe tem compreensão de trabalho em sua totalidade?

Além desse checklist para verificar se determinado agrupamento de pessoas

constitui-se, de fato, em uma equipe, podemos checar também – e esse pode ser um

aprendizado interessante – como foi o comportamento da equipe quanto às questões

sócio emocionais, cuja importância já foi bastante salientada.

Esta é também uma sugestão para que a equipe possa elaborar seu próprio

checklist, conforme a sua realidade:

Houve envolvimento (frequência, participação) da parte de todos os

componentes da equipe?

O envolvimento de cada um foi suficiente para que houvesse o

comprometimento com o trabalho e com a própria equipe?

Os componentes da equipe demonstraram habilidades sócio emocionais

importantes para o trabalho em equipe, como empatia, bom

relacionamento interpessoal, capacidade de ouvir o outro etc.?

A equipe soube receber bem os conflitos como saudáveis para o

crescimento do grupo e aproveitá-los para o afloramento de novas ideias?

As pessoas da equipe puderam expor suas ideias com liberdade e

criatividade?

A equipe possibilitou a troca de conhecimentos entre seus componentes

de modo a todos ensinarem e aprenderem

As tomadas de decisão foram resultado das ponderações de todos os

membros da equipe?

Ao concluir o trabalho, cada participante sentiu-se fazendo parte de uma

equipe, reconhecendo-se como autor do trabalho?

Este é, na verdade um exercício de auto avaliação da equipe e é interessante

também que você faça uma autoavaliação do seu trabalho. Independentemente da

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avaliação do professor ou de outras pessoas é muito importante que você mesmo reflita

sobre como se sentiu fazendo o trabalho, o que aprendeu, quais foram seus pontos fortes

e fracos, seus progressos comparados ao desempenho em outros trabalhos e o que faltou

para que o trabalho fosse melhor, tanto quanto ao conteúdo específico e aos

procedimentos quanto ao seu relacionamento interpessoal.

No caso da escola, a educadora Vani Moreira Kenski defende a auto avaliação

como sendo importante para o processo de aprendizagem. Veja o que ela diz:

“A auto avaliação do aluno deve proporcionar uma reflexão mais profunda, um

momento de parada e de encontro do aluno com o objeto de conhecimento, uma análise

das alterações ocorridas durante as interações existentes entre eles, sujeito da

aprendizagem, e o novo saber” (KENSKI, p. 140-141).

E, na vida profissional:

Uma autoavaliação é sempre importante, seja qual for a área em que for aplicada.

Conhecer a si mesmo e ver quais são os seus erros e acertos, aquilo que você faz melhor

e aquilo que você tem dificuldades, poderá lhe dar uma visão ampliada a respeito das

coisas. José Roberto Marques - presidente do IBC, Master Coach Senior e Trainer

Tanto na escola como na empresa muitas vezes somos avaliados por professores,

gestores ou pessoas com cargos de chefia ou de coordenação de equipes. Essa avaliação

também é importante e pode ser um complemento da autoavaliação. Lembre-se de

encarar a avaliação não como um julgamento ou muito menos como uma crítica

pessoal: ela deve ser um instrumento interessante para que você reafirme corrija suas

competências e habilidades e corrija traços que você considera importantes modificar.

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Outras Referências

Quando começamos a estudar e fazer pesquisa percebemos o quanto há por

saber, por descobrir. Como disse Miguel de Cervantes “o céu é o limite”.

Ah! Cervantes é do século XVI. Com as viagens espaciais, nem o céu é mais

limite para o conhecimento!

Quanto às questões de relacionamento interpessoal há uma série de filmes e

vídeos que podem ajudá-lo a refletir sobre várias dessas questões. Podem ser os

desenhos animados que são muito bem feitos e não são só para crianças, como:

“Monstros S.A.”, “Universidade Monstros” e “Divertida Mente” da Disney- Pixar.

Esses desenhos tratam de relacionamento interpessoal, empatia e das

“habilidades da vida” que nós já discutimos.

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O filme “Doze homens e uma sentença” é um

filme antigo (de 1957), mas é um clássico do cinema.

Esse filme, além de ser muito interessante como arte, que

o cinema nos traz, nos permite discutir o relacionamento

interpessoal e também a capacidade de argumentação.

Vão aqui mais algumas dicas que podem ajudá-lo a trabalhar melhor em grupo.

É interessante que você reflita sobre elas:

Ouça com atenção o que as outras pessoas têm a dizer sobre o assunto que vão

discutir;

Não tenha preconceitos, ou seja, não fique imaginando que aquele colega com

quem você não se dá muito bem, só vai falar bobagens, que você vai discordar

de tudo. Desarme-se!

Mesmo que você não concorde com as opiniões de outras pessoas, não as julgue;

você pode perfeitamente dizer “eu penso diferente, não concordo com suas

ideias”, mas não “você está errado, não sabe o que está dizendo”, afinal, ele

também não concorda com as suas ideias. Quem está certo? Os maiores conflitos

nas atividades em grupo acontecem porque as pessoas querem mudar a opinião

das outras e não argumentam a favor de suas ideias, apenas impõem.

Fale o que você pensa sobre o assunto, expresse suas opiniões sem medo de ser

julgado, todas as pessoas têm esse direito.

Mostre suas ideias e opiniões com argumentos; diga porque você tem aquela

opinião, com calma, sem imposição ou agressividade para que as pessoas

compreendam como você pensa. Outra frase de Christhophe Dejours é “Para ser

compreendido, não basta ter a verdade; é preciso encontrar formas pelas quais os

outros possam compreendê-la”.

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Esteja disposto a mudar de opinião, se os argumentos de outros colegas o

convencerem, não há nenhum problema nisso; quando amadurecemos

abandonamos várias ideias que tínhamos antes.

Mesmo que você não mude de opinião, compreenda que as pessoas têm o direito

e suas próprias razões para pensar diferente; procure colocar-se no lugar do

outro (isto se chama empatia).

Síntese e Aplicação

Examinamos o trabalho em equipe e o relacionamento interpessoal sob vários

ângulos e perspectivas, com a ajuda de pesquisadores das áreas da educação, da

psicologia, da administração de empresas e até da saúde! Poderíamos ainda conhecer

outras opiniões e abordagens, mas já foi possível perceber que o trabalho em equipe é

indispensável na sociedade contemporânea com toda a sua complexidade. Não seria

possível, nem que quiséssemos, trabalhar sozinhos e que, portanto, precisamos investir

sempre nas relações interpessoais.

Percebemos ainda que é importante que todas as pessoas aprendam a trabalhar em

equipe, principalmente, porque nós:

Conseguimos aprender melhor o que estudamos quando discutimos com outras

pessoas. Vários estudos já comprovaram isso! Um psicanalista francês chamado

Christophe Dejours, que estuda as relações humanas no trabalho, diz que “falar e

ser ouvido parece ser o modo mais poderoso de pensar”;

Nos preparamos para o mundo do trabalho; mesmo um trabalhador autônomo

precisa se relacionar com outras pessoas;

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Nos desenvolvemos como cidadãos, não pensando apenas em nossas ideias, mas

também no ponto de vista de outras pessoas, com empatia e consciência de

equipe.

Você pode também – como ficou “craque” em relacionamento interpessoal –

aprofundar-se nesse assunto, pesquisando o trabalho em equipe ou as relações entre as

pessoas na escola, na família... Podem sair boas pesquisas, hein?