RELAÇÃO ENTRE SITUAÇÃO SOCIAL E CRESCIMENTO … · foi analisada a população infantil de...

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RELAÇÃO ENTRE SITUAÇÃO SOCIAL E CRESCIMENTO FÍSICO, NUMA POPULAÇÃO INFANTIL DE SANTO ANDRÉ, SP, BRASIL* Maria Stella Ferreira Levy** RSPU-B/362 LEVY, M.S.F. Relação entre situação social e crescimento físico, numa população infantil de Santo André, SP, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 11:295-321, 1977. RESUMO: Baseado em dados sócio-antropológicos e em medidas antropo- métricas coletados no Município de Santo André, Estado de São Paulo, Brasil, foi analisada a população infantil de ambos os sexos e de treze idades diferentes (0, 3, 6 e 9 meses, 1 ano, 1 ano e meio, 2 a 8 anos). Foram utilizadas 3 variáveis independentes ISSE índice de situação sócio-econômica da família (baseado nas inter-relações da média de gasto familiar mensal "per capita" e a instrução e ocupa- ção do chefe da casa); CATANCES construída a partir da informação sobre a nacionalidade dos ascendentes das crianças até 3 a geração; e Tamanho do Gru- po Residencial. Como variáveis dependentes, utilizou-se a estatura, o peso e o Ín- dice de Kaup. Considerando a relação positiva entre melhores condições de vida e desenvolvimento físico, constatou-se (através do teste de ordenação de médias de Duncan) que, embora as médias das medidas diferissem segundo as variáveis independentes, isso não acontecia igualmente nas mesmas idades e nos dois sexos. Observou-se pelos resultados das análises de variância, na maioria das vezes signi- ficantes, que as variáveis selecionadas explicavam muito pouco da variação das medidas nas várias idades e sexos. Conclui-se que a amostra estudada, segundo as variáveis independentes deste estudo, difere entre idades em ambos os sexos. Isto levanta uma série de questões sobre quais as variáveis mais adequadas a estudos desse gênero. Sugere-se, consideradas as duas categorias de variável CATANCES, a utilização de duas "'tabela padrão" para peso e altura, segundo regiões brasileiras. Quanto ao índice de Kaup, evidenciou-se a necessidade de ser encontrada uma função matemática específica para cada idade, uma vez que, ao menos em relação a crianças em crescimento, o índice não media aquilo a que se propunha. UNITERMOS: Crescimento físico. Crescimento infantil, aspectos antropoló- gicos, demográficos e sócio-econômicos. Antropometria. 1. INTRODUÇÃO Como é notório no conhecimento cien- tífico, o ritmo de crescimento, na espécie humana, varia não só com a idade e o sexo dos indivíduos, mas também devido às características individuais e sua relação com * Parte resumida de tese "Condicionantes Sociais e Medidas Antropométricas: estudo de uma amostra da população infantil de Santo André" apresentada à Faculdade de Saúde Pública, USP, para obtenção do grau de "Doutor em Saúde Pública", aos 29 de agosto de 1975. A tese original encontra-se em microficha e poderá ser solicitada para: CENATE — Rua Matheus Grou, 57 — São Paulo, SP — Brasil. ** Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Ar- naldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil. inúmeros fatores ambientais que vão me- diando o crescimento e desenvolvimento, in- terferindo na sua evolução e produto final. O trabalho aqui proposto se apoia na in- terpretação de dados antropométricos, sob

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RELAÇÃO ENTRE SITUAÇÃO SOCIAL E CRESCIMENTO FÍSICO,NUMA POPULAÇÃO INFANTIL DE SANTO ANDRÉ, SP, BRASIL*

Maria Stella Ferreira Levy**

RSPU-B/362

LEVY, M.S.F. Relação entre situação social e crescimento físico, numa populaçãoinfantil de Santo André, SP, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 11:295-321,1977.

RESUMO: Baseado em dados sócio-antropológicos e em medidas antropo-métricas coletados no Município de Santo André, Estado de São Paulo, Brasil,foi analisada a população infantil de ambos os sexos e de treze idades diferentes(0, 3, 6 e 9 meses, 1 ano, 1 ano e meio, 2 a 8 anos). Foram utilizadas 3 variáveisindependentes ISSE — índice de situação sócio-econômica da família (baseado nasinter-relações da média de gasto familiar mensal "per capita" e a instrução e ocupa-ção do chefe da casa); CATANCES — construída a partir da informação sobrea nacionalidade dos ascendentes das crianças até 3a geração; e Tamanho do Gru-po Residencial. Como variáveis dependentes, utilizou-se a estatura, o peso e o Ín-dice de Kaup. Considerando a relação positiva entre melhores condições de vidae desenvolvimento físico, constatou-se (através do teste de ordenação de médiasde Duncan) que, embora as médias das medidas diferissem segundo as variáveisindependentes, isso não acontecia igualmente nas mesmas idades e nos dois sexos.Observou-se pelos resultados das análises de variância, na maioria das vezes signi-ficantes, que as variáveis selecionadas explicavam muito pouco da variação dasmedidas nas várias idades e sexos. Conclui-se que a amostra estudada, segundoas variáveis independentes deste estudo, difere entre idades em ambos os sexos.Isto levanta uma série de questões sobre quais as variáveis mais adequadas aestudos desse gênero. Sugere-se, consideradas as duas categorias de variávelCATANCES, a utilização de duas "'tabela padrão" para peso e altura, segundoregiões brasileiras. Quanto ao índice de Kaup, evidenciou-se a necessidade deser encontrada uma função matemática específica para cada idade, uma vez que,ao menos em relação a crianças em crescimento, o índice não media aquilo a quese propunha.

UNITERMOS: Crescimento físico. Crescimento infantil, aspectos antropoló-gicos, demográficos e sócio-econômicos. Antropometria.

1. INTRODUÇÃO

Como é notório no conhecimento cien-t íf ico, o ritmo de crescimento, na espéciehumana, varia não só com a idade e o sexodos indivíduos, mas também devido àscaracterísticas individuais e sua relação com

* Parte resumida de tese — "Condicionantes Sociais e Medidas Antropométricas: estudo de umaamostra da população infanti l de Santo André" — apresentada à Faculdade de Saúde Pública,USP, para obtenção do grau de "Doutor em Saúde Pública", aos 29 de agosto de 1975. A teseoriginal encontra-se em microficha e poderá ser solicitada para: CENATE — Rua Matheus Grou,57 — São Paulo, SP — Brasil.

** Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Ar-naldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil.

inúmeros fatores ambientais que vão me-diando o crescimento e desenvolvimento, in-terferindo na sua evolução e produto final .

O trabalho aqui proposto se apoia na in-terpretação de dados antropométricos, sob

o ponto de vista antropológico, sócio-eco-nômico e demográfico.

A população selecionada vai dos zeromeses até os 8 anos de idade*, controlan-do-se pelas variáveis sexo que tem papelbiológico (e social) em cada idade. Alémdessas, as outras variáveis analisadas fo-ram: um índice de situação sócio-econô-mica (ISSE) que serve como estimadordessa situação nas famílias, o número depessoas por domicílio e a origem nacionaldos ascendentes das crianças até a 3a ge-ração.

O levantamento no qual nos baseamosfoi de tipo transversal, o que impedeconhecer o processo de crescimento dosindivíduos estudados, porém fornece umafotograf ia de uma dada população em umadeterminada época e local, com suas carac-

terísticas momentâneas. Considerando cer-tos cuidados no procedimento amostral19,21

nem sempre levados em conta em estudoscongêneres; considerando as técnicas detreinamento e mensuração adotadas e ostipos de medidas escolhidas 19,21 e conside-rando a utilização do critério etário** pro-posto pelo Centro Internacional da Infân-cia 10,21 os dados deste trabalho se reves-tem de particular valor.

Com base na população infanti l residenteno Município de Santo André, Estado deSão Paulo, foi estimado o tamanho daamostra por idade e sexo, considerando-sedois parâmetros; os resultados cobririamcom 95% de confiança (C) 90% da popu-lação (P) em estudo21 .

As 5.841 crianças aqui estudadas se dis-tribuem conforme os mencionados critérios,segundo o sexo e idade (Tabela 1 ) .

* As idades aqui trabalhadas são: 0, 3, 6, 9, 12 e 18 meses; 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 anos. Na seleçãodessas idades houve também preocupação de ordem prática, de contribuir de alguma forma,

com informações para uma política mais realista de planejamento ao atendimento à infância.* As crianças de zero mês foram medidas com 2 e 3 dias de idade; as de 3 até 18 meses com

± 7 dias da data do aniversário e as de 2 a 8 anos com ± 14 dias da data do aniversário.

As crianças de zero meses foram medi-das nas várias maternidades do município;as de outras idades nos postos de saúde daFundação de Assistência à Infância deSanto André (FAISA), nos grupos esco-lares e ginásios estaduais do mesmo mu-nicípio.

2. CARACTERIZAÇÃO DOMUNICÍPIO E DAPOPULAÇÃO ESTUDADA

Os dados foram coletados durante o pe-ríodo que vai de novembro de 1968 aj u n h o de 1969 (excluindo-se o f i n a l dedezembro e o mês de jane i ro) e visarama obtenção de medidas padrão para crian-ças brasileiras de várias faixas etárias *

A escolha desse Município se deveu a umaconjunção de vários fatores, conforme ex-pl ic i tado no projeto original , e que resu-miremos a seguir.

Dada a variedade das condições étnicas,ecológicas, sócio-culturais e econômicas dasociedade brasileira, exclui-se desde logo apretensão de se estudar um grupo popu-lac ional típico. Claro está que Santo Andréé mais s imi lar a certos grupos populacio-nais brasileiros do que a outros. Pode-seentão caracterizar o município consideran-do-se as seguintes características**

O povoamento é recente, tendo os pri-meiros imigrantes italianos chegado emf i n s do século passado. A maior diversi-ficação da população de Santo André veri-ficou-se intensamente nos últimos 30 anosdada sua condição de área indust r ia l e apressão da Capital e seus arredores. Foipolo de atração para estrangeiros de vá-rias nacionalidades e para brasileiros dediversos estados 21.

Devido sua proximidade da Capital e ca-racterísticas que provocaram a instalação deindústrias de grande porte, a população domunicípio é constituída especialmente de

assalariados, excluindo da pesquisa, prati-camente, as camadas de altas rendas, oque favorece, nesse sentido, uma ten-dência a uma população típica. Mais de50% dos empregados industriais do muni-cípio pertencem aos setores químico, meta-lúrgico, material elétrico e de comunicações,transporte e mecânico, o que exige mão-de-obra mais qualificada e portanto pagamaiores salários. Sintetizando:

"Santo André permite afastar o obstá-culo insuperável do caso típico (in-viável no Brasil) e também exclui ocaso extremo de condições econômicasmuito satisfatórias, que deve repre-sentar uma minoria insignificante dapopulação brasileira. E, estuda umapopulação "típica" quanto à situaçãosócio-econômica geral.Então, as medidas antropométricas aserem apresentadas ao f ina l do Es-tudo, estão limitadas nas suas poten-cialidades genéticas, na medida emque situações sócio-econômicas e cul-turais específicas, como as encontra-das em seu extremo menos satisfa-tório se fazem presentes. Nessas con-dições, quando um pediatra ou outrosestudiosos e técnicos ligados ao temaconfrontarem medidas das criançasobservadas com as das tabelas apre-sentadas, e obtiverem uma correspon-dência, poderão concluir que nas con-dições brasileiras, a criança terá al-cançado o desenvolvimento possível,mas não poderão afirmar que estapreenche as condições médico-sani-tárias ideais"***.

O estudo de Santo André expõe o deli-neamento utilizado, desde a escolha do mu-nicípio, das medidas e indicadores sociaisque foram coletados até a metodologia deamostragem e o alcance da generalização.Aí também se encontram definidas, com as

* Os estudos existentes ou eram já um pouco antigos e não forneciam dados que pudessem sertratados estatisticamente, e baseavam-se em fichas das quais não se conhecia a precisão.

** Conforme José de Souza Martins, explicitado no projeto original encaminhado à Nestlé emmarço/abril de 1968.

*** Transcrito do projeto original.

respectivas freqüências, algumas variáveissociais, culturais, assim como as biométricaspor idade e sexo.

Além das variáveis idade e sexo, que ser-viram como critério de estratificação daamostra, o estudo inclui inúmeras outrasinformações colhidas através de entrevistasfeitas com as mães das crianças estudadasefetuadas nos locais onde se realizava amedição ou no local de residência das crian-ças, conforme o formulário publicado emMarcondes e col.21. As várias medidas foramfeitas dentro de controle rigoroso, tanto ins-trumental como no que se refere aos medi-dores*. Além disso, ao se escolherem asmedidas, levou-se em conta, entre outrascoisas, a facilidade na sua obtenção, de for-ma que os resultados fossem confiáveistambém por esse prisma.

Dentre as variáveis sócio-econômicas doestudo encontramos o nível de escolaridadedo pai e da mãe, a ocupação do pai, a ori-gem rura l ou urbana do pai, o gasto "percapita" da família, número de pessoas pordomicílio, estado sócio-conjugal da mãe dacriança**. Também foram colhidas infor-mações sobre a origem nacional dos ascen-dentes em l inha direta das crianças. Paraaqueles que eram de origem brasi leira , pro-curou-se saber o estado da federação deonde se or iginaram; para os estrangeiros opaís de origem. Esse dado foi obtido paraos pais da criança, os quatro avós e os oitobisavós. Infelizmente não foi possível in-cluir informações sobre aspectos de nutri-

ção, podendo esses serem apenas inferidos,e futuramente pesquisados. Não foram obti-dos também dados demográficos, especial-mente a idade dos pais, paridade, que po-deriam ter sido variáveis significativas parao estudo especialmente no caso do recém-nascido. Informações sobre aspectos raciaissão difíceis de serem colhidas na realidadebrasileira, uma vez que o critério mais óbvio,ou seja, cor, é extremamente subjetivo.Outros critérios mais refinados e objetivos,encareciam muito e não faziam parte dosobjetivos da pesquisa. Isso também é ver-dadeiro quanto a uma série de medidas decrescimento, tais como idade óssea, idadedental, e outras. Limitamos-nos a medidasantropométricas que, sobretudo, fossem fá-ceis de ser tomadas minimizando perda deconfiança.

A fim de qual if icar o município estudado,a Tabela 2 compara os dados encontradosno "Estudo de Santo André" com os do"Estudo da Reprodução Humana no Distritode São Paulo" (coletados em 1965/66),***e com os do Censo Demográfico de 1970para a VII Região Microgeográfica: o Es-tado de São Paulo, quanto à instrução ouescolarização de homens e mulheres de maisde 15 anos.

Foram incluídas pessoas da faixa de 15 a19 anos, aos dados censitários porque, teo-ricamente, aí podiam estar mães e algunspais de crianças nas idades consideradas nopresente trabalho.

*Os aparelhos de medição foram construídos especialmente para a pesquisa. Todos os 20 me-didores deviam medir crianças de todas as idades, a fim de reduzir os vícios de medida.Após o pré-teste, aqueles que não foram julgados em boas condições, foram retreinados, atéalcançaram o grau de precisão desejada. Além disso, iniciou-se a medição em crianças maio-res, mais fáceis de serem medidas. Somente após dois meses de coleta é que se começou amedir crianças menores. A fim de minimizar as diferenças de medidas que decorrem do pe-ríodo do dia em que é feita a mensuração, crianças de todas as idades foram medidas tantopela manhã como à tarde.** Embora no número de pessoas por domicílio possam estar incluídas pessoas que não façamparte da família biológica das crianças, isso não parecia ser fato comum nas casas quevisitamos; e os dados do estudo mostram que 95,5% das entrevistadas eram casadas com ochefe da casa; 1,8% moravam com outro parente ou pai; 0,1% era solteira morando só como filho (s) e 2,6% eram ex-casadas morando só com o (s) fi lho(s).

*** Estudo realizado pelo então Departamento de Estatística Aplicada da Faculdade de Higiene eSaúde Pública da USP nessa data, e que inclui uma amostra de 3009 mulheres residentes noDistrito de São Paulo, conforme explicado em Silva32.

É interessante v e r i f i c a r que a região deSão Paulo apresenta piores resultados doque a amostra de Santo André no que dizrespeito à primeira categoria educacional :há maior número de analfabetos na regiãoporém, a situação se inverte daí para frente.Parte dessa constatação poderia ser expli-cada por :

1) o tamanho da classe de 15 a 19 anos(no Censo), que melhora percentual-mente o nível de instrução, porquetrata de população mais jovem;

2) a provável alta taxa de reprovações,especialmente no primário e do pri-mário em diante. Conseqüentemente,a fal ta de informação no censo sobreo nível de instrução alcançado;

3) uma imigração para Santo André , di-ferencial quanto à Instrução: baixonível de instrução dos migrantes.

Quanto à amostra do Distrito de SãoPaulo, onde as categorias são equivalentes,Santo André se apresenta em piores condi-ções em todos os níveis educacionais, espe-cialmente do ginásio em diante.

A distribuição percentual das categoriasocupacionais , conforme se ver i f ica nos tra-balhos já mencionados, indica que a amos-tra de Santo André é constituída por 87,1%de assalariados. Do ponto de vista dogasto médio mensal por dependente, ve r i f i -ca-se que a moda do estudo foi a 3a cate-goria, portanto a que equivale em médiaa 2/5 até menos de 3/5 do salário mínimo,por pessoa, por mês. As tabelas compara-

tivas sobre nível de instrução, mostram queo Estado de São Paulo e o Distrito daCapital do Estado, têm melhor nível edu-cacional do que a amostra estudada. Estasó tem condições melhores em relação aoanalfabetismo, quando comparada ao Esta-do de São Paulo.

Com base no que foi exposto, podemosdizer que a população de Santo André nãoé uma população privi legiada do ponto devista sócio-econômico, embora possa estarem melhor condição do que a de out rospontos do terr i tório nacional .

A Tabela 3 evidencia a condição de "ur-banização" do Munic íp io de Santo André ,q u a n d o comparado a outros da Grande SãoPaulo . Ver i f i camos que por ocasião da pes-quisa pra t icamente não havia zona r u r a lem Santo André. Mesmo assim houve 46crianças (0,6%), f i lhos de pessoas ocupadasem a t iv idades ru ra i s .

Pelos resultados do Censo Demográf icode 1970, ver i f i camos que da população eco-nomicamente ativa de 10 anos e mais deSanto A n d r é , 58% aproximadamente estavaengajada em atividades indus t r ia is , enquan-to que para o Munic íp io de São Paulo essaproporção era de 39%. Esses dados ind i -cam a característica de m u n i c í p i o i n d u s t r i a ldo p r ime i ro . Entretanto, colocamos na Ta-bela 3 outros municípios da Grande SãoPaulo, a fim de evidenciar a heterogenei-dade dos municípios vizinhos do Munic íp iode São Paulo, que apresentam situações de"per i fer ia" tão diferentes, em relação aoMunic íp io da Capital. Ou seja, a chamadaGrande São Paulo é constituída de muni -cípios que são "cidades dormitório", muni-cípios de "grande emigração", municí -pios de "imigração", para apontar somentealguns aspectos.

O caso de Santo André e também de SãoCaetano, assim como outros municípios doABC situados a pouca distância do Centro,servidos por rodovias de primeira categoria,

favorecem o que já foi dito com relação àspessoas de estrato social alto. Estas pre-fe rem manter suas f a m í l i a s res idindo naCapital do Estado — que está apta a fo r -necer melhores serviços, sejam educativos,assistenciais, recreativos, e outros — e sedeslocarem todos os dias para seus locaisde t raba lho .

3. OBJETIVOS

Este estudo tem como objet ivo observaras relações entre algumas variáveis de tiposocial e antropológico, e um aspecto do de-senvolvimento in fan t i l , ou seja, o cresci-mento f í s ico* visto através de 3 var iáveisa n t r o p o m é t r i c a s : estatura, peso e índ icede Kaup .

Desde que se reconhece a existência deuma relação posit iva entre situação sociale crescimento físico, tentar perceberquando essas relações se tornam mais sig-n i f i c a t i v a s , ou seja, quais as idades maiscrí t icas para cada sexo, segundo as duasmedidas (estatura e peso) e o índice (deK a u p ) escolhidos.

Interessava v e r i f i c a r essa relação, em ra-zão do t amanho do grupo f a m i l i a r ou re-s idenc ia l e também considerar a condiçãode famí l i as de ascendentes brasi leiros ouest rangeiros ; e tentar , assim, exp l ic i t a ralém dos aspectos sócio-econômicos, quesão relacionados, o papel específico queeles separadamente poderiam ter sobre asmedidas antropométricas.

Além disso queríamos observar se essasvariáveis in te r fe r i r iam diversamente nasvárias idades, ou se por hipótese, as queestimam qualidades "genéticas" atuariammais em idades menores e as "ambientais"em idades maiores.

Considerando o que foi dito a respeitode população "típica" no contexto nac ional ,tentar estabelecer duas outras tabelas "pa-drão", por exemplo, padrão Sul e padrão

* De uma maneira geral os autores consideram o processo de desenvolvimento como aumentode tamanho, diferenciação de estrutura e alteração da forma, do qual o processo de cres-cimento é apenas parte. Porém, o assunto é complexo e há opiniões divergentes. Paradiferentes "approachs", ver entre outros Meredi th 22, 23 (1935, 1957), Harris 14 (1957), Nagel 24

(1957), Wolanski 43 (1967) Tanner36 (1960) e Tanner & Taylor 38 (1971).

Leste-Nordeste — assim chamadas poranalogia às tábuas de sobrevivência —que seriam mais uma alternativa do pontode vista clínico. A possibilidade de seobter essas tabelas se deve ao fato de queembora a população de Santo André sejaheterogênea, com a imigração provinda devárias partes do globo e de vários Estadosda Federação, constatamos* que os gruposmigrantes casam-se bastante entre si, ou jávêm casados quando aí se estabelecem.

E, finalmente, dado que não havia con-dições de estratificar a amostra por outros

controles que não idade e sexo, detectar deacordo com as variáveis sócio-antropológi-cas, as possíveis associações casuais, queresultariam em diferentes composições dosvários grupos etários, permitindo, assim,q u a l i f i c a r melhor os resultados obtidos noEstudo de Santo A n d r é 2 1 .

4. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a análisedo presente trabalho, como sóe acontecer,dependeu de uma série de fatores.

* Tabulações ainda não trabalhadas sistematicamente, e conforme Levy, M.S.F. em relatórioapresentado à FAPESP, em 1971, "sobre a migração nas 3 gerações de ascendentes dascrianças do Estudo Antropométrico", 1971. Dados inéditos.

No que se refere à construção das va-riáves, especialmente a do Índice de Situa-ção Sócio-econômica (ISSE), houve a in-tenção explícita de manter ao máximo asvariáveis qualitativas, uti l izando-se a dis-tr ibuição conjunta de instrução e ocupa-ção do pai, segundo o gasto (expresso nu-mericamente) médio mensal "per capita"de cada casela*.

No que se refere a testes estatísticos,quando foi o caso, utilizou-se o teste deduas médias, considerando-se desvios pa-drões desconhecidos e desiguais. Quandohavia mais de duas médias, foi em cadacaso testada a homocedasticidade das va-riâncias pelo teste de Bartlett apud Snede-cor & Cochran 3 3 (1974). Quando se aceitoua hipótese de homocedasticidade, foram tes-tados cada conjunto de médias segundo oteste de médias ordenadas proposto porDuncan . 8 Conforme o caso utilizou-setambém análises de variâncias. No caso devariáveis qualitativas utilizou-se o teste deduas proporções.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5 . 1 . Seleção das Variáveis

O ISSE apoiou-se na distr ibuição conjun-ta de 3 variáveis:

a) a ocupação principal do chefe da ca-sa, cuja definição baseou-se no tipode relação de trabalho (patrão, em-pregado e autônomo) e na naturezado t rabalho (manua l , não manual , in-telectual e comercia l ) ;**

b) o grau de instrução do chefe, que va-riou do ana l fabe to até super ior com-pleto; e

c) o gasto médio mensal "per capita" fa-miliar. Este foi obtido através da in-formação da entrevistada sobre"quanto a f amí l i a gasta por mês"(inclusive salários de empregados eexclusive aluguel e/ou prestação deimóveis ou veículos de t r aba lho) ede "quantas pessoas vivem com essedinheiro" (inclusive empregadas do-mésticas). A partir do quocientedessas duas respostas, foram obtidasnove categorias de gasto mensal mé-dio por dependente***

A Tabela 4 que segue mostra a distribui-ção dos escores do ISSE, segundo a ins-trução e a ocupação do pai. A fim deconstruirmos tabelas de 3 entradas, o ISSEfoi dividido em 3 grupos: o "baixo" com39,76% e cujo escore médio foi —0,2370;o "médio" com 28,51% da amostra e esco-re médio de —0,0440 e o "alto" com o res-tante 31,73% e tendo um escore médio de+0,3361.

Além desse índice, utilizamos as informa-

ções sobre a nacional idade dos ascendentesda criança, até a 3a geração. Com estas

informações, construímos uma variável —categoria de ancestrais, por nós denomina-

nada de CATANCES. Agrupamos em umasó categoria, as crianças das quais fosseconhecida a nacionalidade de todos os seusancestrais (até a 3.a geração) e que emtodos os casos a nacionalidade fosse bra-

*para comentários sobre a elaboração do ISSE e sua fórmula , consultar Levy 19 (1975), 3a.parte.

** Todas as características são mutuamente exclusivas. A maneira como essas alternativasforam conjugadas para construir cada categoria ocupacional e o índice de estrato socialconforme uti l izado no Estudo de Santo André , encontra-se em Marcondes e col. 21, p. 47-51.

***Para mais detalhes no que se refere à construção e freqüência dessas e das outras variáveissócio-econômicas aqui utilizadas, inclusive o ISSE, ver Levy 19 e Marcondes e col. 21, (1971).

sileira. Numa segunda categoria, reunimostodas as crianças de quem pelo menos um

dos ancestrais fosse estrangeiro; foramtambém incluídas nessa categoria, aquelascrianças das quais não se conhecia pelomenos a nacionalidade de um dos ances-trais, sendo todos os demais naturais doBrasil*. Essa variável estima ao mesmo

tempo o grau de heterosis de uma popu-

lação e também sugere hábitos culturais

diversos, que implicam em uma valorização

diferencial de aspectos da vida humana eem formas diferentes de apresentar so-

luções.

A última variável independente aqui con-

siderada foi o número de pessoas por do-

micílio**, que foi para a amostra 5,78.Conforme estudo em crianças dinamarque-sas (Andersen3) , conhecia-se uma relação

indireta entre densidade de pessoas em ummesmo domicílio e idade óssea, mesmoquando se controlava por tipo de ocupa-

ção do pai. Outros estudos também en-contraram a mesma relação com respeito

a estatura e peso (Tanner 3 7 ) . Havíamosverif icado, em estudo anterior***, que pais

com ascendentes estrangeiros nessa pes-quisa estavam em condições sociais relativa-mente melhores do que os de ascendentes ex-

clusivamente nacionais; e verificamos poste-

riormente que o número de pessoas que

compunham o grupo residencial era maior

entre crianças com ascendentes exclusiva-mente nacionais em comparação com as de-mais. Decidiu-se então manter essa úl t ima

variável entre as independentes, separando-se em 3 grupos: o grupo "pequeno" cujonúmero médio de pessoas por residência foi4,21; o "médio" com 6,42, e o "grande" com9,38.

No que diz respeito às variáveis depen-dentes, ou seja, medidas antropométricas,utilizamos no presente trabalho as 3 se-guintes: estatura, peso e índice de corpu-

lência de Kaup**** que se expressa pelaseguinte f ó r m u l a :

Estudos baseados em medidas antropo-métricas, meramente descritivos como o deTwiesselmann40, por exemplo, cont inuam

sendo feitos, embora muitos dos estudosaqui citados já estejam utilizando técnicasmuito mais sofisticadas para medir o pro-cesso de crescimento. Alguns como Garn12

(1964), consideram ultrapassados trabalhos

como o acima referido. Acontece, porém,

que as necessidades e as condições técnicasdos países são diferentes, e estudos compopulações locais podem ser de muita u t i l i -dade.

* Em geral o maior desconhecimento se encontrava em relação a família do pai da criança,uma vez que era a mãe a entrevistada. Na amostra inteira houve 403 crianças (4,4%)(183 do sexo feminino e 220 do masculino) das quais todos os ascendentes conhecidoseram brasileiros, mas havia alguma resposta "não sabe".

** Esse dado foi obtido através da pergunta no 14 do questionário, onde se lê: "quantaspessoas vivem com esse dinheiro? (inclusive empregadas domésticas)". Corresponde aoconceito de "household" adotado na Inglaterra, Estado Unidos, e ao de "Menage" naFrança. Para uma melhor discussão desse conceito ver Taschner 39, p. 201-3.

*** Utilizando a classificação por estrato social empregada em Marcondes e col. 21 (1971), ve-rificou-se ao se comparar por gerações a melhor situação social dos ascendentes estran-geiros. (Ver Levy (1971) relatório apresentado à FAPESP).

**** Para comparação com outros estudos, ver Marcondes e col. 21.

Além disso, Oliver & Howells25 conside-ram que o estudo da morfologia humanaainda é central, uma vez que certos traçosconstituem um campo inteiro da variaçãohumana em tamanho e forma envolvendotanto modificações devidas ao ambiente,como relações e diferenciações de popula-ções. Em outras palavras, todo o processode micro-evolução.

Já Alcântara1 (1932) dizia que se exa-gerava a importância do exame clínico emdetrimento do antropométrico:

''Assim é (diz o autor) que pode ocorrerum processo que tenha atingido maisintensamente as funções de crescimentodo que outras, por exemplo, formas frus-tras de distúrbios endócrinos que podemlegitimamente passar desapercebidos aoexame clínico mas já inf luem sobre opeso (v.g. diabetes mellitus), ou sobre aestatura (como por exemplo o mixede-ma)."

Porém, dizia também, que medidas antro-pométricas interpretadas como tal, apre-sentam critério autônomo de avaliaçãopodendo auxiliar, esclarecendo e com-plementando o quadro clínico. Baseadosnessas considerações é que selecionamos,do conjunto de variáveis antropométricas,as 3 mencionadas.

A escolha da estatura é conseqüência devárias razões. É conhecida a correlaçãoda estatura e idade óssea com a idadecronológica (Green1 3), e embora passívelde certas críticas, a idade óssea é conside-rada o melhor estimador do crescimentoin fan t i l (Krogman 18). Além disso, a alturaé uma medida fácil de ser obtida e relati-vamente confiável, e não é alterada emespaços muito curtos de tempo como acon-tece com o peso.

Enquanto a estatura é uma medida maisestável, e por isso mesmo melhor estimadordo crescimento, o peso pode sofrer altera-ções quase de um dia para o outro. Porexemplo, Ronaghy e col.2 8 dizem não se po-der considerar o peso corporal como basedo estado nutrit ivo pois no caso de criançascom Kwashiokor, o peso f lu tua muito devi-do ao edema; a estatura no entanto nãosofre essas flutuações, prometendo sermelhor padrão para detecção de má nutri-ção durante o crescimento e a adolescência.Segundo comentários de Krogman 18

(1962), a idade óssea, altura e peso pare-cem formar um complexo integrado nocrescimento.

Em outras palavras, à prazo curto, opeso sofre interferência direta das condi-ções ambientais, e nas idades que estamosconsiderando, infecções menores interferemdiretamente no peso das crianças, diminuin-do-o 4 , 6 , 1 7 . Além disso, a variabilidadedo peso em crianças da mesma idade, noestudo de Santo André, é cerca de trêsvezes a da altura (Marcondes e col.21).Essas considerações, entretanto, não inva-lidam a importância do peso em criançasde mesma idade quando se relaciona àaltura (Duvernoy9).

As duas medidas acima referidas nos dãoindicações que são complementares para odiagnóstico do crescimento; o índice deKaup, que relaciona peso e altura, é consi-derado um estimador do estado nutricionaldos ind iv íduos 5 , 4 1 , e expressa um aspectodiferente: à medida que a criança crescee aumenta sua estatura, a importância re-lativa do peso torna-se menor, ou seja, umacriança normal, baixa, que tenha poucopeso, estará, provavelmente, mantidos cer-tos controles, em melhores condições denutrição do que uma alta com pouco peso*.

* Há, é evidente, aspectos genéticos e mesmo de uma adaptação ao meio ecológico como no casodos Dinka, Nuer e outros grupos humanos (ver Roberts 29, Howells 16, Dobzhanski 7), onde essarelação não é tão aparente, podendo até ser invertida no caso de adultos.

A seleção desse índice específico deveu-setambém ao fato de que ao se processarregressões múltiplas entre as cinco variá-veis independentes (incluindo-se sexo eidade) e vários índices, o índice de Kaupapresentou o mais baixo coeficiente de de-terminação (0,0129), seguindo-se-lhe o deVon Pirquet (0,1638).

Os indicadores utilizados no presentetrabalho visaram qualif icar a amostra, afim de se conhecer a interferência de dife-rentes situações econômicas e sociais noprocesso de crescimento infantil , na medidaem que pode ser visto através de medidasantropométricas. Tendo em vista que aalimentação é um dos fatores ambientaisque mais interfere no plano do crescimentodeterminado pela herança e que está dire-tamente associada ao poder aquisitivomediado pelas outras características sociais,foram selecionadas as variáveis indicadas.Supõe-se que a conjugação desses fatorespropiciem conhecimento e seleção de maiornúmero de alternativas, não só no que dizrespeito a tipo de alimentação, mas tam-bém entre diversos itens do consumo: ves-tuário, lazer e outros. Isso significa quea conjugação dessas variáveis deve trazeruma contribuição maior do que cada umadelas per si, e as diferenças por elas ex-pressas, embora correlacionadas, atuariamdiferentemente.

5.2 Relações entre as VariáveisIndependentes

Ao relacionarmos o ISSE com as variá-veis que o compuseram, verificamos quecada uma delas atuou de maneira própriano índice, ou seja, embora 72,20% dosindivíduos da categoria mais baixa do gastomédio mensal "per capita" concentrem-se noISSE "baixo", 6,64% localizam-se no ISSE"alto" No que se refere aos de maiorgasto mensal, 67,74% concentram-se noISSE "alto" e 11,74% no "baixo". Quandoconsideramos o grau de instrução do paiverificamos que não há nenhum indivíduoanalfabeto no ISSE "alto" (99,46% encon-

tram-se no "baixo"); de outro lado, não seencontram indivíduos com algum ano decurso superior no ISSE "baixo". O ter cur-sado primário completo, divide os pais dascrianças pelos ISSE "médio" e "alto'; e oter feito algum ano do curso ginasial(89,54%) em diante aumenta bastante achance do indivíduo vir a se colocar noISSE "alto". No que se refere à variávelocupação do chefe da casa, não encontra-mos indivíduos pertencentes às categoriasocupacionais "operários não qualificados","empregados na agropecuária" e "sitiantes"na categoria "alto" do ISSE, sendo emcontrapartida bastante altas as proporçõesdestas categorias no ISSE "baixo", varian-do de 70 a 100%. "Empregados técnicos","empregados burocráticos" e "empresários"não são encontrados no ISSE "baixo", es-tando mais de 95% no grupo "alto".

Podemos dizer então que a contribuiçãode cada um dos indicadores pesou diversa-mente nos escores obtidos no ISSE. Éclaro que a organização do índice de situa-ção sócio-econômica (ISSE) foi possíveldado as relações existentes entre essesindicadores.

Ao relacionarmos as três variáveis inde-pendentes do estudo: grupo residencial,CATANCES e ISSE, verif icamos que:

1) Parece existir uma associação diretaentre idade e tamanho do grupo resi-dencial . Ou seja, as crianças maisvelhas da amostra, e isso é part icular-mente óbvio a partir dos 7 anos, sãoem média de famílias mais numerosasdo que as mais moças. Esperava-seque a idade da criança não estivessecorrelacionada com o tamanho da fa-míl ia que ela tem.

2) Essa associação apresenta níveis dife-rentes quando vista através das cate-gorias das variáveis controle. Ou seja,de uma maneira geral:

a) as crianças com todos os ascen-dentes nacionais têm sempre fa-mílias maiores do que aquelas compelo menos um ascendente es-trangeiro; e

b) as crianças de ISSE pior têm fa-mílias maiores que as de ISSEmédio, e estas do que as de ISSEalto.

3) Ao considerarmos concomitantementeISSE e CATANCES, verificamos paracada categoria de ISSE controlada, quecrianças com todos os ascendentesnacionais tendem a ter sempre umnúmero médio maior de pessoas no do-micí l io, do que aquelas que têm pelomenos um ascendente estrangeiro.

Esses dados sugerem a existência de umafecundidade diferencial segundo as 3 cate-gorias do ISSE, e também entre famíliasonde os ancestrais são todos nacionaisquando comparados àquelas onde há aomenos um estrangeiro.

Essas conclusões colocam em relevo al-gumas questões para as quais não temosrespostas. Ainda assim alguns argumentos,baseados em dados indiretos, podem serexplicitados:

1) A associação direta entre idade e ta-manho do grupo residencial poderia serdecorrente de:

— uma migração, que traz consigo umafecundidade mais elevada, e que seencontra em piores condições de vidadada a falta de especialização ocu-pacional e instrução dos chefes dacasa. Ainda, que essa migraçãotivesse ocorrido mais intensamenteem determinados períodos e depoisdecrescido. Os dados, contudo,indicam ter sido a imigração paraa Grande São Paulo (excluindo-seo Município de São Paulo) durante

as décadas de 40/50, 50/60 e 60/70— da população de 10 a 59 anos— de 72,68%, 72,02% e 74,88%,respectivamente31. Ora, com essasinformações, tão gerais é verdade,pois incluem toda a variedade demunicípios da Grande São Paulo,não é possível verificar a hipótesede períodos maiores ou menores demigração em Santo André. Outrasugestão para explicar esse fato,baseia-se na mortalidade diferencialpor idade. Essa, atuaria no sentidoda maior probabilidade de umacriança que já sobreviveu até os 8anos ter irmãos em idades menores,contra uma probabilidade menor queuma criança mais jovem — de 2anos por exemplo, ter irmãos emidades menores.

2) A hipótese de migração e da proba-bilidade diferencial de sobrevivênciapodem estar ligadas à estrutura etáriada população dos pais. A idade mé-dia destes, a proporção de primeirosfilhos, segundos, etc., todas estas va-riáveis podem conduzir a estruturasetárias da população infanti l , diferentessegundo as variáveis de controle. Ébem provável que alguns desses fatoresou todos e, eventualmente outros quenão nos tenham ocorrido, atuem nosentido de diferenciar o grupo residen-cial segundo a idade da criança.

No que se refere à estrutura etária dapopulação, comparando-se os dados doCenso de 1960* para o município de SantoAndré e de São Paulo, com os de 1970para os mesmos municípios, onde há dadospor idade e sexo, verificamos o que seapresenta na Tabela 5.

A estrutura etária dos dois municípios nasidades férteis são semelhantes, e entre osdois censos não se apresentaram modifica-

* Esses dados foram coletados diretamente no IBGE, sendo que para 1960 só existe populaçãopor idade.

ções. Conseqüentemente, não há indicaçãode mudanças, pelo menos na década da pes-quisa.

Quanto à proporção de primeiros filhos,segundos filhos, e outros*, verificam-se si-tuações interessantes, conforme Tabela 6.

* Os dados aqui utilizados, com base no Censo de 70 para o Estado de São Paulo, foramgentilmente cedidos por M. de Lourdes V. A. Costa, aluna da Faculdade de Saúde Pública/USP, e fazem parte de um trabalho mais amplo que a autora vem desenvolvendo, conside-rando a técnica descrita por VEEVERS 42, sobre a ordem dos nascimentos.

Não obstante esta tabela ser baseadaapenas na f ecund idade de mulheres de 40anos e mais, o que não é absolutamente ocaso das mães do estudo de Santo André,ela evidencia o maior peso do tamanho def a m í l i a s da zona rura l em comparação coma da urbana , a inda mais se considerarmosque o rural representa apenas 15,09% dototal de crianças nascidas vivas dessasmães. É claro, também, se fossem consi-deradas as mães de todas as idades deve-r iam var iar os valores das proporções eo tamanho médio da f amí l i a .

O que nos interessa pa r t i cu la rmente nessaTabela 6, são dois aspectos:

1) Considerando somente a coluna do to-tal, como exemplo, sabemos que os6,8% das crianças de paridade 6 emais, se acham incluídas em todas asoutras l inhas dessa co luna ; em com-pensação, não sabemos quantas das33,1% de primeiros f i lhos têm irmãosna paridade 2, 3, etc.*. Esses dados,de certa maneira, explici tam numerica-mente o argumento da mortalidadedi fe renc ia l por idade, ou posto deoutra maneira, das diferenças de pro-babil idade de sobrevivência.

2) O segundo ponto que gostaríamos dechamar a atenção se refere às diferen-ças encontradas entre ru ra l e u rbano :as percentagens que caem brusca-mente a partir da paridade 3 pa-ra as mulheres de zona urbana,não são pareadas pelas percentagens(nas mesmas paridades), em relação àsmulheres de zona rura l , onde decres-cem, gradualmente, mostrando umamaior fecundidade na zona rura l .

Embora o Munic íp io de Santo Andréseja considerado como tendo cerca de97% de zona urbana entre os censosde 1960 e 1970, a população que lávive, especialmente os imigrantes de

Estados que não o de São Paulo, de-vem ter características de populaçõesrurais . Esse fato explicaria, ao menosparcialmente, por que crianças comtodos os ascendentes nacionais têm umgrupo médio residencial maior do queaquelas que possuem ao menos um es-trangeiro entre seus ancestrais; e,também, é um argumento esclarecedor,quando dentro das mesmas categoriasde ISSE, os "nacionais" apresentamgrupos médios residenciais maiores.

3) Uma outra ordem de argumentos podeser baseado na questão da populaçãoamostrada. Embora a amostra doestudo de Santo André apresente asqualidades já descritas anteriormente,as crianças amostradas pertenciam aEscolas Públicas ou estavam matricu-ladas nos postos de saúde da FAISA.As maternidades, no entanto, foram asexistentes no Município, e serem su-postamente todas as faixas da popu-lação.

A Tabela 7 mostra em percentagens, adis t r ibuição das crianças segundo as cate-gorias de ISSE por locais de medição.

A Tabela 7 leva-nos a crer que as crian-ças de zero meses são as que se encontramem melhores condições e não di ferem muitodaquelas dos postos de saúde. Porém asque f reqüentam os grupos escolares têmcondições piores. Este fato explicaria atécerto ponto a tendência a diminuição damédia de ISSE conforme aumenta a idade;e se for verdadeira a hipótese de que fa-mílias de pior situação sócio-econômicatêm maior fecundidade , explicaria, em par-te, também o aumento do t amanho médiodo grupo residencial nessa faixa.

A Tabela 7 parece indicar que tanto aFAISA como as maternidades atendem, nasmesmas proporções, cr ianças dos mesmosgrupos sócio-econômicos, coisa que não

* O conhecimento dessas probabilidades exige uma série de cálculos de ponderação de propor-ções, os quais não disposmos no momento.

parece acontecer com os grupos escolares.Isso sugere a possibil idade de haver famí-lias que não ut i l izem os serviços da FAISA,podendo mesmo ter seus partos em casa e,de haver crianças em colégios par t icu la resque poderiam estar em melhores condiçõesdo que o geral da amostra.

Poderíamos, com certo cuidado, suger i ra presença de um padrão nacional de maiorfect indidade em relação às f a m í l i a s que seencontram sensibilizadas pela presença deoutro padrão c u l t u r a l , europeu via de regra.

Se isso for verdadeiro, também pode serverdadeira a proposição de que, quem temalgum contato com a cu l tura européia eseus padrões, tenha fo rmas mais concretas(talvez melhor instrução, melhor saúde físi-ca) para ter melhor si tuação sócio-econô-mica, e também, dêm maior valor a umtipo de alimentação mais rica em proteínase calorias além de valorizarem a dimensãorelativa ao exercício físico sistemático. Emcontrapart ida os "nacionais", na sua maio-ria imigrantes de Minas Gerais e Nordeste,possuam piores níveis de instrução e desaúde f í s i ca ; uma alimentação baseadaprat icamente na f a r i n h a e no f e i j ã o ( le i tesó para recém-nascidos), e não valor izamo exercício físico como elemento do desen-volvimento muscular e corpóreo do ind i -víduo.

É possível, também, como tem sido colo-cado hoje em dia por vários autores , que

a maior va r iab i l idade genética devido aheterogamia de uma população comparadaa pouca va r iab i l idade da endogamia, favo-reça um aumento das várias medidasant ropométr icas , o que poderia inva l ida r ,ou melhor completar as diferenças atr ibuí-das à cul tura . Melhor dizendo, há umapotencial idade genética que varia entreind iv íduos e grupos, e que pode ou nãoencont ra r sua plena realização dependendodas condições proporc ionadas pelo meioambiente onde o organismo está se desen-volvendo. Mas não devemos esquecer queessa potencialidade genética de um grupode ind iv íduos , pode ser — no que se re fe rea estatura por exemplo — bastante diversaentre os grupos, e que um pigmeu da f lo-resta de I t u r i , com sua potencia l idadegenética totalmente r ea l i z ada , será sempremais baixo do que os Dinka e N u e r , domesmo cont inente a f r i c a n o , nas mesmascondições de rea l ização .

5 .3 . Relações entre as VariáveisIndependentes e as Antropométricas

Um dos objet ivos propostos foi o deexaminar as médias de peso, estatura eíndice de Kaup , para cada sexo nas trezeidades consideradas, a fim de v e r i f i c a r ai n f l u ê n c i a de aspectos sócio-econômicos(que além do ISSE também podiam servistos através do t amanho do Grupo Resi-

dencial, este incluindo um conteúdo demo-gráf ico, e de aspectos genéticos, que seriamestimados através da variável CATAN-CES). Ora, no decorrer do trabalho veri-ficamos que além dos conteúdos culturais,sociais, demográficos e genéticos estarematuando com maior ou menor força em cadavariável , as próprias variáveis t inham rela-ções entre si, o que dif icul tava essa sepa-ração.

Vale dizer que sempre consideramosessa divisão um artif ício didático e de pes-quisa, pois na realidade são coisas insepa-ráveis. E o formulár io da pesquisa deSanto André não foi elaborado com intuitode tentar separar ao máximo esses aspec-tos, conforme já dissemos, uma vez quenão há perguntas sobre idades dos pais,paridade da criança, condições de sanea-mento e de alimentação, número de irmãosque entraram no estudo, e outros. Mesmoassim, considerando todas essas lacunas,tentamos fazer o que era possível com osdados de que dispunhamos.

Esbarramos nesse momento com proble-mas de ordem metodológica: não quería-mos medir "velocidade", quando os nossosdados só permitiam medir "distância", Ametodologia então adotada consistiu nacomparação das médias das medidas, se-gundo um ou mais controles, u t i l i zandoquase sempre o teste de médias ordena-das*. Para o uso dessa técnica era ne-cessário que as variâncias das médias aserem testadas não fossem desiguais, ouseja, que fossem homocedásticas.

Ao testarmos a homocedasticidade** (ho-mogeneidade) para cada conjunto de médias

que queríamos comparar, encontramosinúmeros casos onde essa qualidade nãoexistia, o que impedia o teste entre as mé-dias. Nos casos permitidos, testou-se asmédias e os resultados seguir-se-ão resu-midamente. Contudo, essa falta de homo-cedasticidade das variâncias permitiu algu-mas observações de caráter geral.

1) No que se refere às 3 medidas sele-cionadas, podemos dizer que a estaturaapresentou a menor variabilidade entreas médias dos indivíduos em todas asidades e nos 2 sexos, e inclusive con-siderando os controles utilizados. Se-guem-se-lhe o peso e o índice de Kaup,resultados de certa forma esperadosao se observar os coeficientes de va-riação do estudo de Santo André.

2) No que se refere ao sexo, a falta dehomocedasticidade esteve sempre maispresente no sexo feminino. Isso signi-fica que a variabilidade das medidasindividuais das meninas é maior do queaquela encontrada para os meninos.Essa observação tem se apresentadoem vários trabalhos como por exemploo de Ferreira & Mello1 1 , o deSt in i 3 5 , que indicam terem as crian-ças do sexo feminino uma melhoradaptação, ou seja, mais rápida, quan-do sujeitas a situações de "stress"; esegundo este ú l t imo autor, na aldeia deHelicônia, Colômbia, essa melhor res-posta do sexo feminino reduz conside-ravelmente o dismorfismo sexual, quese torna não significante entre meni-nos e meninas adolescentes, quanto aestatura e t amanho corporal.

* O teste usado foi o de Duncan8. Segundo essa técnica, ordena-se as médias da menor paraa maior, e testa-se então a maior contra a menor. Se estas não diferirem, para-se o testeaí. Caso difiram, testa-se a maior contra a segunda menor e assim por diante, até não haverdiferenças significantes. Caso exista essa diferença entre a maior e todas as outras, recomeça-se o mesmo processo a partir da segunda maior.

* A falta de homocedasticidade entre as variâncias não permitiu testar todas as médias contratodas. Nos estudos que conhecemos nunca vimos a utilização dessa técnica, sendo semprepressuposta a homocedasticidade. Em todo o caso, esse teste é um bom indicador da maiorou menor variabilidade das medidas individuais dos sujeitos pesquisados.

3) No que se refere à idade, percebe-seque a heterocedasticidade aumentamuitíssimo dos 4 aos 8 anos na amos-tra estudada. Nas idades anter iorespoucas são aquelas variâncias que dei-xaram de ser homocedásticas. Issoindica que essa var iabi l idade pode terocorr ido por conta não só de interaçõesentre as variáveis controle, condiçõesgenéticas diversas e variações no r i tmode crescimento que existem em todasas idades, mas especialmente devidoas causas ambientais, que teriam aímaior impor tânc ia . Ou seja, melhor si-tuação sócio-econômica, pode favorecerdiretamente uma melhor resistência ainfecções e doenças in fan t i s entre ou-tras coisas. Deve ser por volta dessasidades que as cr ianças costumam termais contato com as outras, e estaremsujeitas a apanharem por contágio to-da uma série de infecções.

Quando testamos as médias entre as 3categorias de ISSE, ver i f icamos que namaior ia das idades (nos 2 sexos), quandose trata da variável estatura, a média dascrianças de ISSE alto é mais elevada doque as de ISSE médio e baixo (especial-mente no sexo mascu l ino) , apesar de queem cinco idades o "alto" e "médio" fo rammaiores do que a média do "baixo". Aose analisar o peso, igual número de vezes(8) o "alto" foi maior do que o "médio"e o "baixo", como apenas o "alto" foimaior do que o "baixo", não tendo, nessesúl t imos casos o "médio" d i f e r i d o do "alto"Raras vezes o "médio" foi maior do queo "baixo", contudo o "baixo" foi quasesempre diferente, ou seja, t inha sua médiade peso menor. O índice de Kaup, para osexo femin ino , nunca d i f e r i u entre as ca-tegorias de ISSE; já no sexo masculinoalgumas vezes a média das crianças deISSE "alto" foi mais elevada do que oISSE "baixo" em algumas idades, emborana maioria das ocasiões onde foi testado,as médias não d i f e r i r a m quanto às catego-rias de ISSE.

Quando testamos as médias entre as 3categorias de Grupo Residencia l ( G R ) ,observamos imediatamente que o índice deKaup foi sempre igual ao se comparar asidades e para os 2 sexos (exceção fe i taao zero meses f e m i n i n o ) . No que se re fe rea a l tura , cr ianças de f a m í l i a s pequenas tive-ram suas médias maiores do que aquelasde grupos "médio" e "grande", em igualnúmero de vezes que cr ianças de grupos"pequeno" e "médio", t iveram al tura médiamais elevada do que aquelas do grupo"grande", Ou seja, o grupo pertencente àsfamí l i a s grandes sempre foi mais baixo.Quanto ao peso, a maior parte não d i f e r i uou não pôde ser testada. Nas 7 idades, emambos os sexos, onde houve diferenças , ogrupo "pequeno" foi mais pesado, em mé-dia, do que o grupo "grande", e às vezestambém do que o "médio" Três vezes opeso médio tanto de "pequeno" como "mé-dio" foi maior do que "grande"

Ao se testar conjuntamente os 2 sexossegundo as duas categorias de CATAN-CES, pois nos parecia que as médias dos2 sexos quando os ascendentes eram todosnacionais eram mais baixas do que quandose comparava a ambos os sexos da cate-goria "ao menos um ascendente estrangei-ro", ver i f icamos no caso do índice de Kaupque de 1 ano e meio em diante a varia-bi l idade era muito maior, não sendo possí-vel testar as médias. Até 1 ano quandofoi possível testar, apenas d i f e r i r am asmédias dos 3 meses, sendo que o"mascul ino — 1 estrangeiro" foi maior doque as duas categorias de f e m i n i n o ; e"masculino-nacional" foi apenas maior doque "feminino-nacional" .

O peso não pôde ser testado aos 6 me-ses, e nem dos 5 aos 8 anos. Nas outrasidades, var iou o que se encontrou. Em 3idades o "feminino-nacional" foi menospesado do que cada uma das outras 3 com-binações; também em 3 idades o "mascu-lino-estrangeiro" foi mais pesado do quecada uma das outras 3; e de uma maneirageral o "feminino-nacional" teve sempremenos peso que o "masculino-estrangeiro"

sendo apenas aos 9 meses que os 2 mas-culinos foram mais pesados, cada um, doque os 2 femininos.

No que concerne a altura, isso aconte-ceria aos 6 e 9 meses. Em 5 idades o"feminino-nacional" foi mais baixo do quetodos, e em 6 o "masculino-estrangeiro"foi mais alto do que todos, sendo que emtodas as idades testadas o "feminino-na-cional" foi mais baixo do que "masculino-estrangeiro" Em 3 idades — 2, 5 e 8

anos — aconteceu coisa interessante: o"masculino — 1 estrangeiro" foi mais altodo que os dois sexos nacionais, não tendosido porém mais alto do que "feminino —1 estrangeiro".

Quando se testou (por sexo e idade) as3 medidas, primeiro segundo 1SSE e CA-TANCES e depois, segundo GR e CA-TANCES, observamos de uma maneirageral ao se testar as médias segundoas 3 categorias de ISSE e as 2categorias da variável CATANCES quepara o sexo feminino — tanto para o ín-dice de Kaup como para o peso — somenteencontramos diferenças nas medidas para1 ano de idade. Quanto ao índice de Kaupo "alto nacional" foi maior do que o "bai-xo nacional", porém no que se refere aopeso o "nacional-baixo" foi menos pesadodo que cada um dos outros e o "alto-1estrangeiro" só não foi mais pesado que0 "alto-nacional" e o "médio-estrangeiro"No que tange a altura, encontramos dife-renças em várias idades, a partir dos 9meses, indicando serem as meninas doISSE "baixo-nacional" sempre menos altasdo que as do "alto-1 estrangeiro", o queacontece menos vezes com o "baixo-1 es-trangeiro". Quando observamos o compor-tamento das variáveis para o sexo masculi-mo não encontramos diferenças entre asidades para o índice de Kaup. Porém após1 ano de idade verificaram-se diferençastanto para peso, quanto para a a l tura :diferença essa geralmente indicando ser o"baixo-nacional" (e às vezes também o"médio-nacional") menos pesado e maisbaixo do que o "alto-estrangeiro". É inte-

ressante notar aqui que aos zero mesestambém foi encontrada essa diferença.

Ao analisarmos as mesmas medidas se-gundo as 3 categorias de Grupo Residen-cial, encontramos diferença no zero mesesfeminino, índice de Kaup, no sentido desteser melhor para o grupo "grande-nacio-nal" em relação a "pequeno-nacional".Porém, foi a única diferença desse índice,em ambos os sexos.

Ainda para o sexo feminino, só após 1ano de idade começam a ser mais fre-qüentes as diferenças tanto para pesocomo para altura. É interessante notar queenquanto para a altura de uma maneirageral os mais baixos são os "grande-na-cional", no que se refere ao peso são me-nos pesados ambos os do grupo "grande"seja "nacional" ou "estrangeiro".

Mantendo ainda o controle sexo, idade,e o Grupo Residencial, e variando ISSE,observamos para cada uma das categoriasde GR como se comportaram as 3 catego-rias de ISSE.

Considerando primeiramente o índice deKaup, observamos que para ambos ossexos continua não apresentando diferen-ças nas idades onde foi testado. Excetuam-se o zero meses feminino, quando no

Grupo Residencial médio a média para oISSE foi diferente da dos outros; e, os 3anos masculino, quando no grupo "peque-no" — tanto "alto" como "baixo" — fo-ram maiores do que a do "médio"

No que se refere a altura houve menornúmero de diferenças entre as alturasmédias no grupo residencial grande, nasvárias idades e nos 2 sexos (só foi diferen-te na idade de 6 anos, " femin ino grande").No grupo residencial médio, sexo feminino,houve o maior número de diferenças demédia: 9 meses, 1, 2, 3 e 5 anos indicandoserem as meninas do ISSE "alto", maisaltas do que as do "médio" e "baixo". Nosexo masculino houve maior igualdadeentre as médias, e apenas nas idades 3, 5e 8 anos foram maiores os meninos doISSE "alto". No que se refere ao grupo

res idencia l "pequeno", também há m a i o ri g u a l d a d e no sexo m a s c u l i n o , t endo sidod i f e r e n t e s as médias de zero e 3 meses, 2e 4 anos. O que acontece f o r a de comuma q u i é que aos 3 meses o grupo de esta-tu ra mais elevada é jus t amente o de ISSEbaixo. Para o sexo f e m i n i n o , nesse mesmogrupo r e s idenc i a l , f o r a m mais altas aque-las do ISSE "alto" nas idade de 1, 2 e7 anos.

Quan to ao peso, no grupo "grande"para ambos os sexos não houve d i f e rençasentre as médias dos ISSE, e só aos 7 anosf e m i n i n o e aos 4 mascul ino as va r i ânc i a snão f o r a m homocedásticas, i nd i cando umapequena v a r i a b i l i d a d e nos pesos das cr ian-ças de f a m í l i a s grandes nas diversas cate-gor ias de ISSE. No grupo "médio" mas-c u l i n o também foi g rande a i g u a l d a d e , esó as de ISSE "alto" de 6 anos f o r a m mai spesadas do que as de mesma idade e ISSE"baixo". É de interesse notar uma grandev a r i a b i l i d a d e nos pesos dos zero mesesmascu l ino . Já no sexo f e m i n i n o , para omesmo grupo res idencia l , houve maior va-r i a b i l i d a d e . E nas idades de 9 meses, 1 anoe 2 anos, as de ISSE "alto" f o r a m mai spesadas que as de "baixo" e às vezes"médio" também. Aos 7 anos as de ISSE"médio" f o r a m mais pesadas do que as deISSE "baixo"

No grupo r e s idenc i a l "pequeno" em 3idades apenas f o r a m mais pesadas as me-n inas de ISSE "al to", 1, 5 e 6 anos. Já nocaso dos meninos houve mui t a s d i f e n c a snesse grupo entre as vár ias categorias deISSE, o que foge à regra ge ra l : ou seja,os men inos não só vêm apresentando me-nor v a r i a b i l i d a d e i n d i v i d u a l , como tem-sed i f e r e n c i a d o menos nas vá r ias idades .Nesse g rupo não só f o r a m mais pesadosaqueles de ISSE "alto" nas idades de 6meses, 1, 2, 3, 7 e 8 anos, como tambémaos zero anos. Ou seja, quando c o n t r o l a d opor grupo re s idenc ia l , var iando-se o ISSE,os meninos apresentaram nas 3 medidasvar iab i l idades e d i fe renças grandes, quan -do o grupo res idencia l foi o pequeno.

O segundo caso, ou seja, controlando-sepor ISSE e va r i ando o grupo res idenc ia l ,observamos ao ana l i sa r o índice de Kaupque para o sexo masculino, em nenhumaidade houve di ferenças entre as médias,embora tivesse hav ido algumas onde a va-r i a b i l i d a d e entre as medidas i n d i v i d u a i sfosse grande. Para o sexo f e m i n i n o tam-bém houve essa var iab i l idade , mas alémdisso aos 6 meses constatamos d i f e rençasno "baixo" e no "médio" favorecendo ogrupo "grande" e aos 5 anos no ISSE"baixo" favorecendo o grupo "poucos".Essa inversão é de d i f í c i l explicação, a indamais que não acontece com as out ras me-didas para a mesma idade. Sugerimos queta lvez , t enha a ver com o real significadodo índ ice de Kaup , e que ainda não é sufi-cientemente conhecido e estudado.

No que concerne à a l tu ra ver i f i camosque para o grupo "baixo", tanto para me-ninos como para meninas, as médias dasmedidas não se d i f e r e n c i a v a m mui to entreos ISSE. Aos 8 anos a a l tu ra média dasmen inas do grupo "pequeno" e do "médio"foi maior do que a do "grande"; e os me-n i n o s de 5 a 8 anos do grupo "pequeno"t i v e r a m uma a l tura média super ior aos dosgrupos "médio" e "grande", Quando con-s ideramos o ISSE "médio" , só fo ram maisaltos os garotos de 7 anos do grupo"pequeno" em relação aos outros 2 gruposres idenc ia i s ; porém as garotas de 3 meses,1 ano e meio, 2, 3, 5 e 8 anos do grupo"pequeno" f o r a m maiores em média doque as do "grande" e às vezes também do"médio" Na classe do ISSE "alto" inver-te-se a s i tuação: apenas as meninas de 4,7 e 8 anos do grupo "pequeno" f o r a mmais al tas , enquan to que os meninos domesmo grupo fo r am em média mais altosnas idades 1 e meio, 6, 7 e 8 anos e tam-bém o zero meses. No sexo m a s c u l i n o maisuma vez, no que se refere à a l tura , varia-ram mais as medidas i n d i v i d u a i s do quepara o sexo femin ino , e em comparaçãocom as outras medidas.

Quanto ao peso, houve uma certa var ia-

bilidade nos valores individuais , dos 5 aos8 anos nas meninas, e de 4 a 6 anos nosmeninos. O grupo que variou menos paraos 2 sexos foi o "médio". Aí, só foi maispesado o grupo pequeno de 1 ano e meiofemin ino . E, em todas as outras idades,tanto para os garotos como para as ga-rotas — excetuando-se os de 6 anos — nãose diferenciaram as médias de peso. O"baixo" e o "alto", para os 2 sexos, mos-traram uma equivalência de variabilidade ediferenças: no "baixo" pesaram mais asmeninas do grupo pequeno de 2 e 4 anos,e os meninos de 1 e meio e 8 anos. Nogrupo "alto" só foram em média mais pe-sadas as meninas de 4 anos e os meninosde 1 e meio e 6 anos, todos de residênciasonde vivem poucas pessoas.

Percebe-se por esses resultados que asmédias das medidas parecem variar, oud i fe r i r , mais dentro de cada grupo residencialcomparativamente às categorias do ISSE.Percebe-se, também, haver maior variabili-dade e d i ferença dentre crianças em melho-res condições sócio-econômicas e dentreaquelas que têm residências onde morampoucas pessoas.

Finalizando essa análise, dado ao com-portamento muito especial do índice deKaup em relação às outras medidas aquiconsideradas, pode-se concluir (Levy1 9)que esse índice — e provavelmente outrosíndices utilizados para medir condições denutr ição de crianças em crescimento —poderia ser um bom indicador do estadonutricional, para cada idade e cada sexo,se tivesse sua f ó r m u l a completada por umafunção específica, dado a amplitude devariação relativa do peso em função daamplitude de var iação relativa da altura.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E

RECOMENDAÇÕES

O nosso in tu i to nessa parte f i n a l é reto-mar algumas conclusões mais gerais apre-sentadas no decorrer do presente estudo,sumarizando-as, e tecer considerações so-bre alguns dos aspectos não só ligados

aos objetivos, como também sobre o quefoi observado duran te a história deste tra-balho.

Como vimos, o ISSE mostrou qualidadesque foram diversas de cada uma de suasvariáveis componentes. Vale dizer, que astrês variáveis in te r fe r i ram diversamente naclassificação das pessoas em um gradientede situações sociais. Observamos tambémo papel de instrução para uma pior ou me-lhor situação sócio-econômica. O analfabe-to, por exemplo, deixará dif ici lmente deintegrar o estrato mais baixo da sociedadedo tipo de Santo André. Por sua vez, quemingressou na Universidade estará possivel-mente no ISSE "alto", e aqueles que tive-rem concluído pelo menos um ano do cursoginasial, terão suas chances de participa-rem do nível "alto", bastante aumentadas.

Observamos que, embora Santo Andrénão se encontre tão privilegiado em termosde instrução e renda quando comparado aoDistrito de São Paulo ou mesmo ao Esta-do, deve estar, como já foi mencionadoaqui, em melhores condições que a maioriados municípios brasileiros. Neste sentido,o conjunto de tabelas para peso e alturaapresentados no trabalho original, possuemum papel específico: a parte de médiasreferente a categoria "pelo menos um es-trangeiro" da variável CATANCES, possuias melhores médias, mesmo se não consi-derarmos as outras variáveis independen-tes; e a categoria "todos brasileiros" pos-sui as médias mais baixas. É claro que amédia total, é uma media dessas médias.

Daí decorre a nossa sugestão de utiliza-mos duas tabelas padrão: a padrão Sul ea padrão Leste-Nordeste, por analogia aostermos utilizados para as tábuas de vida.A tabela Leste-Nordeste seria mais expres-siva de população dessas regiões e a Sulseria mais verdadeira para alguns municí-pios e regiões mais urbanas e desenvolvi-das. A tabela do estudo de Santo Andréseria in termediár ia entre essas duas.

Também verificamos que não foi só avariável CATANCES que determinou essas

diferentes tabelas padrão. Analisou-se asrelações entre essa variável e as outrasduas: Grupo Residencial e ISSE. Consta-tou-se então que enquanto a maior pro-porção de "todos nacionais" se encontravano ISSE "baixo" e a menor no "alto",com "pelo menos um estrangeiro" aconte-cia o inverso; e ainda que estes t inhamsempre maiores porcentagens no Grupo Re-sidencial "poucos" do que os "nacionais"que por sua vez t inham maior percentagemem "grande" do que os "estrangeiros", Eque essas categorias eram importantes pa-ra elevar as médias de peso e a l tura estu-dadas.

Observou-se também que os valores des-sas percentagens variavam em algumasidades e determinados sexos, o que quali-f ica melhor as médias das medidas porsexo e fa ixa etária (Levy 1 9 ) .

É evidente pela f reqüênc ia das categoriasdas 3 var iáveis ut i l izadas na construção doíndice, e pela própria divisão do ISSE nas3 categorias: "baixo", "médio" e "alto",que aí devem estar incluídas crianças malnutr idas. Mas isso também faz parte dapopulação brasi leira i n f a n t i l . As tabelas doanexo 1 do trabalho or iginal apresentamut i l idade cl ínica, uma vez que os pediatras,educadores, assistentes sociais, e outrosque têm sob sua responsabilidade o cuidardo bom andamento do desenvolvimento fí-sico e global i n f a n t i l , poderão observarsegundo os vários critérios de est ra t i f ica-ção uti l izados, em que grau de "ruindade"ou "bondade" se encontram os casos comque estejam t raba lhando.

Ribe i ro 2 7 compara por grupo etário asnecessidades básicas "per capita" em cru-zeiros, com o custo a l imentar mensal, mos-trando como variam as necessidades porfa ixa etária. Cita também, mais adiante, quea al imentação entra com 43% no orçamen-to f a m i l i a r (que varia de 43 a 50% depen-dendo das fontes u t i l izadas) e que "o au-mento relat ivo dos gastos com alimentaçãoé maior na medida em que a renda cai,i m p l i c a n d o também na redução absoluta do

consumo a l imen ta r : quanto menos se ganha,menos se come e mais se gasta com a ali-mentação em relação às demais necessida-des (vestuário, educação, transporte, e ou-tros)"

Nesse sentido, vale a pena comentar doisartigos publicados em julho de 74, no Jor-nal do Brasil 2,26. O pr imeiro artigo apre-senta uma tabela baseada no Decreto-Lei399, de 30/4/38, que define uma raçãoal iment íc ia essencial para a sobrevivênciade um trabalhador de salário mínimo du-rante um mês; e o segundo toma preços dealguns produtos al imentícios dos armazénsda Zona Norte da Guanabara e dos 6 maio-res supermercados do Rio de Janei ro eGrande Rio. Construímos então para a Gua-nabara , com base nesses artigos, a Tabela8, onde se computa qual seria o gasto mé-dio para manter esse chamado "padrãoessencial al imentício", na Guanabara , em1974.

Se tomarmos por base o salário mínimode São Paulo — Cr$ 376,80 — na épo-ca 2,26, o mais elevado do País, e descon-tarmos os Cr$ 30,14 do INPS, ver i f icamosque esse gasto mínimo alimentar constitui64,78% do salário l íquido. Os 35,22% (Cr$122,09) que restam deveriam dar conta decondução, habitação, vestimenta, e outrosimprevistos, e são evidentemente, insuf ic ien-tes. Por exemplo, se pensarmos na condu-ção diár ia de ida e volta, a Cr$ 0,70 apassagem, durante 25 dias no mês, ou sejaCr$ 35,00, sobram 25,10% do salário.

Ora, sabemos que a Caixa EconômicaFederal (seguindo a orientação do BancoNac iona l de Habitação —BNH) tem pornorma, para pessoas de renda mais baixa,o l im i t e máximo de 25% da renda f a m i l i a rpara amortização da casa p rópr i a 3 9 , issosem pensar nas despesas de luz, água eoutros. E n f i m , f ica claro que o salário mí-nimo não dá para preencher o "mínimoessencial" de uma pessoa, que dirá de umaf a m í l i a .

Nessas circunstâncias, há que haver umacontenção enorme nos gastos, e evidente-

mente prejudicando a alimentação, especial-mente nos alimentos mais nutritivos, quesão os mais caros. O trabalho de So-bol l 3 4 (1973) mostra para três estratosde renda da classe assalariada, o nível deinadequação alimentar em relação aos vá-rios nutrientes. E, sabemos que uma ali-mentação insuficiente interfere diretamenteno peso e também no desenvolvimento daestatura, que pode vir a ser no fu turo ,menor do que a potencialidade genéticadela 30.

Essas informações conduzem a hipótesesobre a distribuição dos alimentos numafamília . Hartog1 5 faz interessantes con-siderações, mostrando inclusive através dealgumas pesquisas, que a distribuição dealimentos pode não só ser diferente entreregiões de um país e grupos sócio-econô-micos, mas também entre membros de umamesma família. Examina os diferentes sis-temas de distribuição de alimentos e a fun-ção social deles. Um dos vários exemploscitados, refere-se a um estudo feito emGhana — 1962, por Davey citado por

Hartog 15, onde o autor mostra que homense mulheres adultos recebiam de 80 a maisde 100% de suas necessidades energéticas,enquanto as crianças apenas 55 a 60%. Nopresente trabalho foi observado que con-forme aumenta a idade da criança tende aaumentar o Grupo Residencial. Embora comressalvas sobre o desconhecimento do nú-mero de irmãos no estudo, e as explicaçõessugeridas para o fato, f ica a indagação:

Entre vários filhos, em várias idades,quais serão os melhor alimentados? Os ca-çulas ou os mais velhos? Os meninos ouas meninas? Essa seria a nosso ver umapesquisa importante a ser feita, pois podemostrar diferenças entre as crianças quepoderão até estar invertidas dependendo dasituação social e dos interesses familiares,de sua visão do cosmos, de seu backgroundcultural.

Conforme observado, parece haver umafecundidade diferencial não só por idadecomo já mencionamos, mas por situaçãosócio-econômica e por CATANCES. Ouseja, conforme aumenta a idade, aumenta o

tamanho do grupo residencial; conformemelhora o ISSE d iminu i de tamanho ogrupo residencial médio e no caso de todosos ascendentes nacionais o grupo residen-cial é maior em média do que quando exis-te pelo menos um ascendente estrangeiro.No que se refere aos dois sexos, os gruposresidenciais são equivalentes.

Ao se controlar a variável ISSE, verif i -camos que o grupo "baixo" tem média degrupo residencial maior do que o médio eo alto. E isto tende a crescer, em ambosos sexos, conforme a idade cresce paratodos os grupos do ISSE. Também seobserva nas três categorias da variávelISSE, que nacionais tem sempre um gruporesidencial maior do que aquelas criançasque tem ao menos um ascendente estran-geiro. Há maiores diferenças entre as trêscategorias de ISSE quando se trata deapenas um ascendente estrangeiro, do queem relação às crianças com todos os ascen-dentes nacionais.

Verifica-se ainda que em todas as idadese para os dois sexos há sempre maiornúmero de crianças que tem ao menos umascendente estrangeiro; porém no grupo re-sidencial grande, com poucas exceções( fem. 3 e 6 anos e masc. 6 a 8 anos) hámais crianças com todos os ascendentes na-cionais, o que mais uma vez indica otamanho de família maior entre os nacio-nais. Isso pode também signif icar que den-tre os de famíl ias grandes — qualquer queseja a categoria da variável CATANCES,há maior número de crianças em idadesmaiores, o que vem de encontro com a su-gestão aqui levantada, das diferenças deprobabilidade de morte e sobrevivência,entre outras.

Uma das lições que se deve tirar dessesdados, é que ao se fazer pesquisas no gê-nero — uma vez que as médias das medidasaqui estudadas se apresentam por vezesdiferentes conforme as variáveis indepen-dentes — deveria ser melhor explorada atentativa para isolar certos fatores comohábitos alimentares e culturais e aspectosgenéticos — por exemplo, sabendo-se o nú-

mero de irmãos, para realmente conhecer ovalor desses diferenciais.

Como foi observado no trabalho, aquelascrianças com todos os ascendentes nacio-nais são de famílias maiores e têm piorescondições f inanceiras. A conseqüência dissono desenvolvimento físico pode ser expres-siva, porém depende da obtenção de dadosmais profundos sobre o assunto, e tambémdo modelo teórico em que se baseiam. Con-cluiu-se que deveriam ser refeitos os valo-res por trás dos modelos. Ou seja, o queé o "bom desenvolvimento"? Será que um"ótimo" físico é a melhor coisa para umacriança? Será que há uma tão alta corre-lação entre esse "ótimo" e uma "ótima"adaptação psico-social? — Questões no gê-nero deveriam ser colocadas e estudadas,porém sem "parti-pris". No geral, os estu-dos antropométricos vêm passando por vá-rias fases: foi a racial, diferenças rural-urbana, diferenças sócio-culturais. No mo-

mento a ênfase é na n u t r i ç ã o 2 0 uma vezque certos problemas epidemiológicos pare-cem ter sido afastados. A problemática daqualidade de vida deve estar semprepresente nesses estudos, embora não sedeva desprezar os rótulos antigos (e nemos novos), pois os frascos não mudaramtanto. E, nesse sentido, é possível quevariáveis demográficas tais como idade dospais ao nascer a criança, paridade, proble-mas de mortal idade e migração venhamtrazer mais luzes ao conhecimento dos dife-renciais de crescimento.

Além disso, as variáveis independentesselecionadas para esse estudo mostraramdiferenças significativas quanto às médiasdas medidas estudadas, e a importânciadiferencial nas várias idades e nos doissexos. E resultados das análises de va-riâncias processadas, pelo alto valor dasoma de quadrados do resíduo, vem refor-çar a idéia que o fenômeno é complexo,e que a maior parte da variação das mé-dias se deve a outras variáveis. Pensamosque a pr incipal delas é a variação indivi-dual em cada idade. E, nessa l inha de

pensamento, salta aos olhos a necessidadede estudos long i tud ina i s bem fei tos .

A estatura, como já mencionada (e al i te ra tura é grande) tem papel relevantecomo um bom estimador do desenvolvimentofísico i n f a n t i l , especialmente a longo prazo.Isso j u s t i f i c a r i a , que, não apenas em con-sultórios par t icu lares (onde quase sempreisso é f e i t o ) mas nos vários locais onde secuida de crianças, desde postos de pueri-cul tura , centros de saúde, grupos escolares,parques infantis, colégios, escolas, se man-tivesse atual izada uma f i c h a com a estaturae o peso da cr iança obtidos regularmente ,

e que isso fosse objeto de preocupação eestudo por par te dos médicos, ant ropólogo/e pedagogos, entre outros interessados natemática, a fim de que pudessem a tua rquando os dados mostrassem para cada in-divíduo, que algo diverso do "normal" esta-va acontecendo no r i tmo de crescimento e,assim o seguimento de pacientes e a lunoster ia um sentido mais "humano" . Não me-nos importante porque os dados assim ob-tidos pe rmi t i r i am cons t ru i r curvas de velo-cidade, possibi l i tando melhor conhecimentodo processo de crescimento da c r iançabras i l e i r a .

RSPU-B/362

LEVY, M.S.F. [Relationship between social situation and physical growth inchildren from Santo Andre, State of S. Paulo, Brazil]. Rev. Saúde públ.,S. Paulo, 11:295-321, 1977.

ABSTRACT; This article was based on some of the data collected in thecounty of Santo André, State of Sew Paulo, Brazil. Three measurements wereused as dependent variables: height, weight and Kaup index (by age and sex),related to three independent variables as follows: ISSE — Index of socio-eco-nomic conditions, built considering the joint distribution of occupation and edu-cation of the father and the amount of the family expenses per capita, permonth; CATANCES — meaning categories of ancestors: ("all brazilians" and"at least one foreigner"); and G.R. — size of household. Our objectives wereto analyse the relationship between the socio-anthropological variables and themeasurements selected, and at the same time to have a better knowledge of thevariability of the population studied. We dealt with 13 ages, from zero monthsto eight years.

As expected, many combinations of the independent variables showed dif-ferences in the measurements. An interrelationship among the independent va-riables was also found. There was not sufficient information (if this is possibleanyway) to state that the differences in the means of height and weight weredue to environmental conditions, since they could be due, e.g., to the tendencyof more endogamous marriages between the migrants. It was also observed thatthe Kaup Index did not measure what it was supposed to, at least in gro-wing children because of the range of relative variation of the weight in relationto the relative variation of the height. We tried to fit a curve based on thedata so that the Index could have a meaning for each age. The means weretested by Duncan multiple range tests, and least squares technique of analysisof variance.

U N I T E R M S ; Growth. Child development, anthropological, demographic andsocio-economics factors. Anthropometry.

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Recebido para publicação em 29/10/1976.

Aprovado para publicação em 17/12/1976