Relação entre números de plântulas e profundidade de serapilheira

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(1) )Acadêmico de Ciências Biológicas do Centro de Ensino Superior Juiz de Fora(CESJF); (2) Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora(PGECOL); (3) Biólogo Autônomo; (4) Departamento de Biologia da Universidade de Taubaté; E-mail: [email protected] RELAÇÃO ENTRE NÚMERO DE PLÂNTULAS E PROFUNDIDADE DE SERAPILHEIRAS EM ÁREAS DE MATA DE ARAUCÁRIA, EUCALIPTO E PINNUS NA FLONA DE PASSA QUATRO, MINAS GERAIS, BRASIL. Barbosa, B.C 1 ; Paschoalini M.F. 2 ; Lacerda, P.D. 3 ; Lelis, A.P.M. 1 ; Dib, M.M. 1 ; Barbosa, D.E.F. 1 ; Voltolini, J.C. 4 ; Rodrigues, W.C. 1 Resumo: Espécies exóticas são consideradas uma das principais causas da perda de diversidade no mundo. O objetivo deste estudo é comparar a espessura da serrapilheira e o número de plântulas em três tipos de vegetação: mata nativa, Pinus sp. e Eucalyptus sp. Foram utilizadas parcelas 1m² distantes entre si 20m dentro de cada fitofisionomia. Para obtenção dos dados de espessura da serapilheira utilizou-se régua milimetrada. Segundo teste estatístico houve diferença significativa na espessura de serrapilheira nos três tipos de vegetação e o número médio de plântulas encontradas nos três pontos de estudo foi considerado semelhante. Palavras-chave: Plantas exóticas, alelopatia, fragmentação florestal INTRODUÇÃO Espécies exóticas são organismos encontrados fora da sua área de distribuição natural. A maioria das espécies exóticas não se estabelece nos lugares nos quais foram introduzidas, entretanto, algumas conseguem se instalar com sucesso no novo habitat prejudicando espécies nativas (LAMPRECHT, 1990). As plantas exóticas invasoras durante o processo de ocupação do ambiente natural provocam impactos ambientais negativos, como competição, hibridação, deslocamento de espécies nativas, entre outros (AZEVEDO, 2010). A modificação na composição do substrato também é outro impacto causado por essas espécies invasoras, que dificultam a germinação plantas nativas. Sendo assim, as plântulas podem encontrar restrições durante as etapas de germinação, desenvolvimento e estabelecimento em seu habitat. Os fatores restritivos podem ser bióticos (pisoteio, competição, herbivoria, alelopatia, acumulo de matéria orgânica no solo - serrapilheira) ou abióticos (temperatura, água, solo) (BECKER et al, 2006). A serrapilheira é um componente de origem vegetal e animal morta depositada sobre o solo (BARBOSA; FARIAS, 2006) e é de suma importância dentro de um ecossistema, pois responde pela ciclagem de nutrientes (FIGUEIREDO et al., 2003). Porém, a serapilheira pode exercer efeito mecânico negativo sobre as plântulas, atuando como barreira física para seu crescimento (BECKER et al, 2006). Este trabalho teve como objetivo comparar a espessura da serrapilheira e número de plântulas em três tipos de vegetação: mata nativa de Araucaria, Pinus sp. e Eucalyptus sp. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo compôs-se de três fragmentos de mata situados na Floresta Nacional (FLONA) de Passa Quatro, localizada no sul de Minas Gerais, no município de Passa Quatro. A FLONA abrange uma área de 3,5 milhões de m² inseridos no Domínio da Mata Atlântica, integrando o Corredor Ecológico da Serra da Mantiqueira e o Mosaico de Unidades de Conservação da Serra da Mantiqueira (ICMBio, 2009). A FLONA de Passa Quatro é um importante fragmento floresta do bioma Mata Atlântica composta por florestas estacionais semideciduais, floresta ombrófila densa e ombrófila mista (ICMBio, 2009), além de áreas de cultivo de Araucaria angustifolia, Pinnus sp., e Eucalyptus sp.

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(1) )Acadêmico de Ciências Biológicas do Centro de Ensino Superior Juiz de Fora(CESJF); (2) Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora(PGECOL); (3) Biólogo Autônomo; (4) Departamento de Biologia da Universidade de Taubaté; E-mail: [email protected]

RELAÇÃO ENTRE NÚMERO DE PLÂNTULAS E PROFUNDIDADE DE SERAPILHEIRAS EM ÁREAS DE MATA DE ARAUCÁRIA, EUCALIPTO E

PINNUS NA FLONA DE PASSA QUATRO, MINAS GERAIS, BRASIL.

Barbosa, B.C1; Paschoalini M.F.2; Lacerda, P.D.3; Lelis, A.P.M.1; Dib, M.M.1; Barbosa, D.E.F.1; Voltolini, J.C.4; Rodrigues, W.C.1

Resumo: Espécies exóticas são consideradas uma das principais causas da perda de diversidade no mundo.

O objetivo deste estudo é comparar a espessura da serrapilheira e o número de plântulas em três tipos de vegetação: mata nativa, Pinus sp. e Eucalyptus sp. Foram utilizadas parcelas 1m² distantes entre si 20m dentro de cada fitofisionomia. Para obtenção dos dados de espessura da serapilheira utilizou-se régua milimetrada. Segundo teste estatístico houve diferença significativa na espessura de serrapilheira nos três tipos de vegetação e o número médio de plântulas encontradas nos três pontos de estudo foi considerado semelhante. Palavras-chave: Plantas exóticas, alelopatia, fragmentação florestal INTRODUÇÃO Espécies exóticas são organismos encontrados fora da sua área de distribuição natural. A maioria das espécies exóticas não se estabelece nos lugares nos quais foram introduzidas, entretanto, algumas conseguem se instalar com sucesso no novo habitat prejudicando espécies nativas (LAMPRECHT, 1990). As plantas exóticas invasoras durante o processo de ocupação do ambiente natural provocam impactos ambientais negativos, como competição, hibridação, deslocamento de espécies nativas, entre outros (AZEVEDO, 2010). A modificação na composição do substrato também é outro impacto causado por essas espécies invasoras, que dificultam a germinação plantas nativas. Sendo assim, as plântulas podem encontrar restrições durante as etapas de germinação, desenvolvimento e estabelecimento em seu habitat. Os fatores restritivos podem ser bióticos (pisoteio, competição, herbivoria, alelopatia, acumulo de matéria orgânica no solo - serrapilheira) ou abióticos (temperatura, água, solo) (BECKER et al, 2006). A serrapilheira é um componente de origem vegetal e animal morta depositada sobre o solo (BARBOSA; FARIAS, 2006) e é de suma importância dentro de um ecossistema, pois responde pela ciclagem de nutrientes (FIGUEIREDO et al., 2003). Porém, a serapilheira pode exercer efeito mecânico negativo sobre as plântulas, atuando como barreira física para seu crescimento (BECKER et al, 2006). Este trabalho teve como objetivo comparar a espessura da serrapilheira e número de plântulas em três tipos de vegetação: mata nativa de Araucaria, Pinus sp. e Eucalyptus sp. MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo compôs-se de três fragmentos de mata situados na Floresta Nacional (FLONA) de Passa Quatro, localizada no sul de Minas Gerais, no município de Passa Quatro. A FLONA abrange uma área de 3,5 milhões de m² inseridos no Domínio da Mata Atlântica, integrando o Corredor Ecológico da Serra da Mantiqueira e o Mosaico de Unidades de Conservação da Serra da Mantiqueira (ICMBio, 2009).

A FLONA de Passa Quatro é um importante fragmento floresta do bioma Mata Atlântica composta por florestas estacionais semideciduais, floresta ombrófila densa e ombrófila mista (ICMBio, 2009), além de áreas de cultivo de Araucaria angustifolia, Pinnus sp., e Eucalyptus sp.

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(1) )Acadêmico de Ciências Biológicas do Centro de Ensino Superior Juiz de Fora(CESJF); (2) Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora(PGECOL); (3) Biólogo Autônomo; (4) Departamento de Biologia da Universidade de Taubaté; E-mail: [email protected]

O método de coleta adotado foi o de quadrantes de 1m² distantes entre si 20 metros dentro de cada fitofisionomia amostrada: fragmento com plantação de Pinnus sp., fragmento com plantação de Eucalyptus sp. e fragmento de mata nativa de floresta ombrófila mista com cultivo de Araucaria angustifolia. Para obtenção dos dados de espessura da serapilheira utilizou-se régua milimetrada, a qual foi inserida em cinco pontos dentro de cada quadrante (quatro angulares e um central). Após medição de profundidade a serrepilheira foi deslocada para contagem do número de plântulas.

O período de coleta de material deu-se de 8 às 18h do dia 16 de setembro de 2011, durante a estação seca. E para análise estatística foram utilizados dados de média, erro padrão e teste de Kruskal-Wallis para a geração de gráfico tipo Block Spot pelo pacote estatístico BioEstat 5.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na área de mata nativa com araucária foram estabelecidas 25 parcelas, em área de Pinnus 20 parcelas e em Eucalipto 12 parcelas. A diferença no número de pontos apresentados em cada área deve-se as diferentes dimensões dos fragmentos amostrados. Segundo teste de Kruskal-Wallis houve diferença significativa na espessura de serrapilheira nos três tipos de vegetação (Figura 1a). Na área de Pinus (22,74 ± 2,72) a serrapilheira possui maior espessura que as áreas de Araucaria (2,72 ± 0,64) e Eucalyptus (10,24 ± 2,96), sendo estas consideradas como grupos iguais. O número médio de plântulas encontradas nos três pontos de estudo foi considerado semelhante. Porém, a tendência na na variabilidade de plântulas encontradas na mata nativa de Araucaria (0,6 ± 0,24) foi maior que a encontrada em Eucalyptus (0,25 ± 0,13), e esta por sua vez, maior que na área de Pinus (0,15 ± 0,08) (Figura 1b).

Figura 1a: Variação na espessura de serrapilheira nos três tipos de vegetação

Figura 1b: Quantidade de plântulas nos três tipos de vegetação A tendência apresenta a Mata Nativa de Araucária como a área que possui maior quantidade de plântulas, enquanto as áreas de Pinus e Eucalyptus, espécies exóticas, apresentam número menor. O número de plântulas em matas nativas é maior que em áreas de floresta de eucalipto segundo Czarnobai; Voltolini (2009). Pinus e Eucalyptus possuem potencial alelopático e seus efeitos são avaliados por

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(1) )Acadêmico de Ciências Biológicas do Centro de Ensino Superior Juiz de Fora(CESJF); (2) Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora(PGECOL); (3) Biólogo Autônomo; (4) Departamento de Biologia da Universidade de Taubaté; E-mail: [email protected]

diversos autores que consideram a interferência na germinação de sementes e no desenvolvimento das plântulas fator muito relevante (MEDEIROS, 1990). A maior quantidade de serapilheira nas áreas de Pinus e Eucalyptus dificulta o crescimento de plântulas. Deste modo, as diferenças encontradas entre a profundidade de serapilheira das áreas explicam a tendência de menores números de plântulas nas áreas com maior espessura de serapilheira (CZARNOBAI; VOLTOLINI, 2009). Acrescenta-se também o fato de que a maior quantidade de serapilheira nas áreas de Pinnus e Eucalyptus irá disponibilizar no solo maior quantidade de aleloquímicos provenientes das folhas em decomposição (FERREIRA; AQUILA, 2000). CONCLUSÕES Para esse estudo conclui-se que há crescimento inversamente proporcional entre a espessura de serrapilheira e o número de plântulas. E que a presença de plantas exóticas com potencial alelopatico, como Eucalipto e Pinnus, exercem interferência química sobre o crescimento de plântulas. REFERÊNCIAS AZEVEDO, C.A. Proposta da estratégia paulista para o controle de espécies exóticas invasoras. 2010. N.3. p28-.30 In: Cadernos da Mata Ciliar. São Paulo: 2009. BARBOSA, J.H.; FARIAS, S.M. Aporte de serrapilheira ao solo em estágios sucessionais florestais na Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguésia 57 (3): 461-476. 2006. BECKER, C.G. et al. Efeitos diretos e indiretos da composição vegetal no recrutamento de plântulas. Relatórios da disciplina NE211 – PPG Ecologia, IB, NICAMP, p.60 - 76. 2006 CZARNOBAI, S.; VOLTOLINI, J. C. Influência da serrapilheira em plântulas nas áreas de Mata Nativa, Pinus e Eucaliptos da Flona de Passa Quatro/MG. In: IX Congresso de Ecologia do Brasil, 2009. FERREIRA, A. G.; AQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da Ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 12: p. 175-204, 2000. FIGUEIREDO A. et al. Avaliação estacional da deposição de serrapilheira em uma Floresta Ombrófila Mista localizada no sul do Estado do Paraná. Ciência Florestal 13(1): 11 - 18.2003 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Plano de Manejo da Floresta Nacional de Passa Quatro/MG.Brasília, 2009. LAMPRECHT, H. Silvicultura nos trópicos.Hamburg: GTZ, 343p, 1990 MEDEIROS, A. R. M. Alelopatia: importância e suas aplicações. Revista Hortisul, Pelotas, v. 1, n. 3, p. 27-32, jul. / set. 1990.