Relação entre a Solidão e a Realização de Atividades do ... · viagens da minha vida, que...
Transcript of Relação entre a Solidão e a Realização de Atividades do ... · viagens da minha vida, que...
Relação entre a Solidão e a Realização de Atividades do
dia-a-dia no Idoso
Dissertação apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto, no âmbito do Curso do 2º
Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em
Atividade Física para a Terceira Idade, de acordo com
o Decreto de Lei nº 74/2006 de 24 de Março.
Orientadora: Professora Doutora Teresa Marinho
Raquel Pinto Porto, setembro de 2015
Ficha de catalogação Pinto, R. (2015). Relação entre a Solidão e a Realização de Atividades do dia-
a-dia no Idoso. Tese de Mestrado em Atividade Física para a Terceira Idade
apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras – Chave: IDOSO, SOLIDÃO, ATIVIDADE DO DIA-A-DIA,
DIGNIDADE.
III
Agradecimentos
À minha orientadora Teresa Marinho, que me guiou ao longo deste árduo
caminho, apesar de qualquer e possível contratempo, mostrando-se sempre
disponível e, acima de tudo, compreensiva.
Aos meus pais, pelos valores e educação que me incutem, pelo excelente
exemplo que são para mim e pelo gigante apoio nos momentos de maior luta
ao longo deste ano. Não há palavras suficientes que demonstrem o quão grata
estou por vos ter.
À minha família, sobretudo aos meus avós por toda a preocupação e
interesse que demonstraram. Serão sempre os meus segundos pais e os
melhores conselheiros que alguma vez poderei ter.
À Joana Cruz e à Joana Melo pela enorme ajuda e companhia que foram,
tanto ao longo deste capítulo, como ao longo da minha vida e para sempre.
Obrigada por me ajudarem a levantar em todas as quedas que dei.
À Catarina pela amizade que tão rápido evoluiu e que nunca irei esquecer.
Não poderia ter escolhido ninguém melhor para ter feito uma das melhores
viagens da minha vida, que tanto contribui para o meu interesse na realização
deste trabalho.
À Patrícia que correu sempre em meu auxílio, sem hesitar, quando mais
precisei. Foi um ano difícil, que sem ti teria sido bem pior. Ajudaste-me a ser
quem sou agora e, por isso, devo-te tudo.
À minha prima Ana que tanto lhe devo por toda a ajuda na realização
deste trabalho.
A todos os idosos que comigo partilharam pedaços das suas histórias que
tanto marcaram o meu coração.
E, não esquecendo NUNCA, à Polly, pela melhor companhia que foi,
desde sempre e para sempre.
V
Índice Geral
AGRADECIMENTOS III
ÍNDICE GERAL V
ÍNDICE DE QUADROS VII
ÍNDICE DE ANEXOS IX
RESUMO XI
ABSTRACT XIII
LISTA DE ABREVIATURAS XV
1. INTRODUÇÃO 1
2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 5
2.1. SER VELHO NOS DIAS DE HOJE 5 2.2. SOLIDÃO 9 2.3. OLHAR O IDOSO: UMA QUESTÃO CULTURAL 13 2.4. O CUIDADO 15 2.5. A DIGNIDADE 17 2.6. O IDOSO E O OUTRO 21
3. HIPÓTESES DO TRABALHO 23
4. METODOLOGIA 25
4.1. DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 25 4.2. PROCEDIMENTO E INSTRUMENTOS UTILIZADOS 27 4.3. PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS 28
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 29
5.1. SEXO E SOLIDÃO 29 5.2. SEXO E ATIVIDADES DO DIA-A-DIA 32 5.3. SOLIDÃO E IDADE 34 5.4. ATIVIDADE E IDADE 36 5.5. SOLIDÃO E ATIVIDADE 38
VI
6. “VOZES” 41
7. CONCLUSÕES 45
8. PROPOSTAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO 47
9. BIBLIOGRAFIA 49
VII
Índice de Quadros
Quadro 1: Frequências de género e idade p.26 Quadro 2: Verificação da normalidade do nível de solidão entre sexos p.29 Quadro 3: Comparação dos níveis de Solidão entre Sexos p.29 Quadro 4: Percentagem de respostas à questão “Já não sinto mais intimidade
com ninguém.” p. 31 Quadro 5: Verificação da Normalidade da Atividade entre Sexos p. 32 Quadro 6: Comparação dos Níveis de Atividade entre Sexos p. 32 Quadro 7: Correlação Linear de Pearson entre as variáveis Solidão e Idade
p. 34
Quadro 8: Correlação Linear de Pearson entre as variáveis Atividade e Idade
p. 36
Quadro 9: Correlação Linear de Pearson entre as variáveis Solidão e Atividade
p. 38
IX
Índice de Anexos
Anexo 1: Questionário aplicado XIX
XI
Resumo
Após o enquadramento teórico onde se exploram os conceitos sobre o
velho e o envelhecimento, a solidão, a questão cultural, o cuidado, a dignidade
e o outro, no âmbito de perspectivar o idoso no núcleo de uma sociedade,
inicia-se a parte prática no sentido de procurar uma relação entre a solidão e a
realização de atividades do dia-a-dia. Para além deste objetivo principal foram,
também, estabelecidos objetivos de cariz específico: verificar se o nível de
solidão é influenciado pelo sexo; verificar se o nível solidão é influenciado pela
idade; verificar se a realização de atividades do dia-a-dia é influenciada pelo
sexo; verificar se a realização de atividades do dia-a-dia é influenciada pela
idade. Para isso, realizou-se um estudo com uma amostra de 40 idosos
pertencentes ao Centro de Saúde do Covelo, no Porto, sendo 21 mulheres
(52,5%) e 19 homens (47,5%), com idades compreendidas entre os 65 e os 94
anos. Trata-se de um estudo quantitativo de natureza descritiva, correlacional e
transversal. Para avaliação da solidão foi utilizada a escala da solidão da
Universidade Califórnia em Los Angeles (UCLA; versão portuguesa, de autoria
de Félix Neto, 1989). Por sua vez, a avaliação das atividade do dia-a-dia foi
realizada através do “Lawton Instrumental Activities of Daily Living” (IADL)
realizado por Carla Graf (2013). Os principais resultados mostram que há
influência significativa da idade na realização de atividades do dia-a-dia –
quanto mais idade tem o individuo, menor é o número de atividades realizadas
no dia-a-dia. Verificou-se de igual modo uma correlação significativa entre a
solidão e a realização de atividades do dia-a-dia.
PALAVRAS-CHAVE: IDOSO; SOLIDÃO; ATIVIDADE DO DIA-A-DIA;
DIGNIDADE.
XIII
Abstract
After the theoretical framework where are explored the concepts of the
elderly and the aging, loneliness, cultural issues, care and dignity and the other
person, it’s presented the practical part in order to try to find a connection
between the loneliness and conducting day-to-day activities. In addition to this
main goal, goals of specific nature were established: confirm if the level of
loneliness is influenced by gender; check if loneliness is influenced by age;
verify that the performance of activities of daily living is influenced by gender;
prove that the performance of activities of daily living is influenced by age. A
study was conducted to corroborate that. The sample used to validate this study
consisted of 40 elderly people registered to the health centre of Covelo, in
Porto, 21 of them (52.5%) being women and 19 being men (47.5%), aged
between 65 and 94 years old. It is a quantitative study of a descriptive,
correlational and transversal nature. To evaluate the solitude was used the
“Loneliness Scale” by the University of California - Los Angeles (UCLA;
Portuguese version by Felix Neto, 1989). The assessment of the daily living
activities was held through the Lawton Instrumental Activities of Daily Living
(IADL) by Carla Graf (2013). The main results show that there is a significant
influence of age in carrying out day-to-day activities – the oldest the elderly, the
smaller the number of activities of daily living are carried out. Also, it was found
a significant correlation between loneliness and carrying out the activities of
daily living.
KEYWORDS: ELDERLY; LONELINESS; ACTIVITIES OF DAILY LIVING;
DIGNITY.
XV
Lista de Abreviaturas
H1- Hipótese número um
H2- Hipótese número dois
H3- Hipótese número três
H4- Hipótese número quatro
H5- Hipótese número cinco
IADL- Instrumental Activities of Daily Living
INE- Instituto Nacional de Estatística
N- Número da amostra
p- Valor de significância
r- Valor da correlação
SPSS- Statistical Package for the Social Sciences
UCLA- University of California, Los Angeles
1
1. Introdução
Atualmente, segundo dados estatísticos do INE (2005), continua a haver
uma tendência de aumento do envelhecimento da população em Portugal. O
envelhecimento demográfico não é em si um problema social. O que constitui o
verdadeiro problema social é a ausência, insuficiência e inadequação das
respostas da organização social para enfrentar as necessidades dos idosos e a
falta de articulação dessas respostas com a sociedade civil. Assiste-se, ainda,
a políticas sociais centradas, quase em exclusivo, ou na reparação da perda
das capacidades físicas ou na reparação da perda dos recursos económicos
ligados ao trabalho (Calado, 2004). A presente investigação surge no âmbito do Mestrado em Atividade
Física para a Terceira Idade e enquadra-se no domínio da solidão, mais
especificamente, na influência da mesma nas atividades do dia-a-dia do idoso.
A escolha deste tema deveu-se essencialmente à minha experiência em
acompanhamento de idosos, relatos dos mesmos e de voluntários do G.A.S.
Porto que fornecem apoio domiciliário. Apercebi-me que, muitos deles, vivendo
ou sentindo-se sozinhos, iam perdendo alguma autonomia relativamente à
maior parte das tarefas do dia-a-dia.
Podemos encontrar variados estudos acerca da população idosa, no
entanto são poucos os que se relacionam com a solidão. Há uma parca
existência de estudos que relacionam a população idosa com a solidão e, desta
forma, pretende-se com este estudo, realizar um contributo para esta área, que
tanto tem por explorar.
Hoje em dia, quantas não são as vezes em que se assiste a notícias
acerca do abandono de idosos nas suas próprias casas? Filhos que já não se
importam, netos que se desinteressaram ou família que já faleceu.
Independentemente do motivo, muitos idosos são abandonados quer seja por
alguém ou pela própria vida, acabando por falecer totalmente sozinhos, sem
qualquer apoio ou conforto. Tem vindo a assistir-se, por parte do ser humano, a
uma perda de sensibilidade e cuidado, não só para com as outras espécies do
2
planeta, mas também para com ele próprio. Esta falta de cuidado e afeto,
aliada à solidão, no caso do idoso, pode tornar-se determinante para o modo
como o mesmo encara esta fase da vida, sendo importante entender o que é
que influencia este sentimento e o porquê do idoso deixar de cuidar de si
próprio.
O facto de se verificar e sentir a falta de acolhimento e amparo ao idoso,
leva à realização deste estudo, que tenta entender melhor se a solidão no idoso
tem influência no estilo de vida que este adota.
Assim sendo, a investigação tem como objetivo geral:
• Verificar a relação entre o nível de solidão e a atividade em tarefas do
dia a dia.
Para além deste principal objetivo, definiram-se também alguns objetivos
específicos que ajudarão, posteriormente, a compreender melhor os resultados
obtidos, sendo estes:
• Verificar se o nível de solidão é influenciado pelo sexo
• Verificar se o nível solidão é influenciado pela idade
• Verificar se a realização de tarefas do dia a dia é influenciada pelo sexo
• Verificar se a realização de tarefas do dia a dia é influenciada pela idade
Relativamente à estrutura do estudo, após a presente introdução,
prossegue-se a revisão bibliográfica, na qual é realizado um enquadramento
teórico iniciando-se com o tema “O que é ser velho hoje” para que seja dada
uma perspetiva mais real do sujeito do estudo: o velho. Segue o tema “A
Solidão” que, sendo uma das variáveis a avaliar, irá clarificar os conceitos ou
preconceitos que temos acerca da mesma. “Olhar o idoso: Uma Questão
Cultural” é um tema que pareceu pertinente, pois nem sempre o que se aplica à
a nossa cultura se aplica a culturas com valores e ideais diferentes. “O
Cuidado”, a “A Dignidade” e “O idoso e O Outro” são três temas que se
interligam e que revelam a parte humana deste trabalho. Apelam aos
problemas que vivemos na sociedade atual e procuram compreender a
3
necessidade de olhar para o idoso como pessoa humana merecedora de
respeito, amor e responsabilidade por parte de cada um de nós.
Na segunda parte do trabalho será descrita a metodologia utilizada,
fazendo referência à amostra, ao instrumento utilizado nesta investigação, aos
procedimentos efetuados e à apresentação e discussão dos resultados obtidos
nesta investigação.
A investigação contém, seguidamente, um capítulo (“Vozes”) que nos irá
transportar para o verdadeiro sentimento dos entrevistados, através de alguns
relatos reais.
Por fim, as conclusões irão sintetizar todo um conjunto de factos
considerados essenciais nesta pesquisa. Enunciando a problemática expõem-
se, a partir dos objetivos/hipóteses, os resultados encontrados. Assim, pôde ser
constituída uma proposta de pesquisa para o futuro, pois uma investigação é
tão importante pelos resultados quanto pelas questões que levanta.
5
2. Enquadramento teórico
2.1. Ser velho nos dias de hoje
Ao longo do tempo, vários autores têm vindo a tentar definir o conceito de
envelhecimento. Para Spirduso (1995), o envelhecimento é um processo, ou
conjunto de processos dos organismos vivos, resultante de uma falta de
adaptação e de uma menor funcionalidade, associados a alterações físicas e
fisiológicas que ocorrem ao longo do tempo. O mesmo autor em 2005, refere
que o fenómeno de envelhecimento não pode ser descontextualizado do fator
tempo. Robert (1995), por exemplo, diz que o envelhecimento provém da falta
de capacidade da maior parte dos organismos manterem uma funcionalidade
estável. Este mesmo autor considera também que o envelhecimento é
caracterizado pela falta progressiva de capacidade de adaptação do organismo
ao ambiente envolvente. A falta desta capacidade pode tornar-se prejudicial,
sobretudo para aqueles que vivem e sofrem tantas mudanças ao longo do
tempo.
Os idosos de hoje nasceram aproximadamente entre 1915 e 1950.
Viveram duas guerras mundiais e viveram em Portugal o regime Salazarista:
tempos de total repressão e censura. Desde aí muita coisa mudou. Assistimos
a uma revolução pela liberdade que pôs fim a um regime ditatorial que
perdurava há 48 anos e a um avanço exponencial do mercado tecnológico.
Durante o tempo em que vivem ou viveram, viram a televisão passar de preto e
branco a cores, os jogos de tabuleiro passarem a jogos de realidade virtual, os
telefones de fios passarem a portáteis e “touch”.
Conseguirão todos os idosos acompanhar e adaptar-se à velocidade dos
avanços que temos vindo a assistir ?
Com o aumento da esperança média de vida, o idoso passa a ter cada
vez mais anos de “capacidades”, supondo uma integração mais fácil na
sociedade como membro útil da mesma. A longevidade do ser humano não
6
deveria ser considerada um problema, pois é uma conquista do processo de
envelhecimento social. Cabe à sociedade criar condições para que o homem,
ao viver mais tempo, possa viver com dignidade. São muitas as dificuldades
enfrentadas pelos idosos no decorrer da velhice, sendo a maior parte delas
decorrentes da fragilidade e vulnerabilidade próprias do estado fisiológico. Tais
estados podem torná-los em potenciais vítimas da crescente violência social
observada nos nossos dias (Gaioli, 2004).
Há um certo preconceito eminente ao “ser-se velho”. Aliás, o próprio
idoso, muitas vezes sente incómodo com a palavra “velho”. Vejamos a
definição de velho no Dicionário da Língua Portuguesa (2003-2015): “Adjetivo.
1. que tem muita idade, idoso. 2. Antiquado; antigo. 3. Muito usado. 4. Que
exerce há muito uma profissão.”
Tal como refere Britto da Motta (1996), há um problema com a “aplicação
generalizada e indiferenciada a pessoas e a objetos, pelo que os significados
de gasto e descartável predominam. Ao reino animal e principalmente aos
humanos, acrescentam-se as remissões diretas ao desgaste da saúde, da
energia e ao descarte final da morte. Na atualidade, a lógica produtivista
acentua isso. Intensificam-se os estímulos à aposentadoria precoce nos
sectores mais definidamente capitalistas da produção, do mesmo modo que se
fecha o mercado ao ingresso ou regresso de trabalhadores tardios” (p.71).
Porém, temos vindo a assistir a uma nova profissão do idoso: ser avô(ó).
Nos dias de hoje, a taxa de desemprego tem vindo a atingir níveis
preocupantes, situação que não propicia o aumento da natalidade, já que os
adultos não se sentem com capacidades financeiras para criar uma criança
condignamente. Mesmo assim, muitos casais decidem ter filhos por mais difícil
que o futuro se apresente. Estas dificuldades começam desde logo pelo pouco
tempo de licença parental de que dispõem (cerca de 120 dias), usufruindo a
mãe de apenas seis semanas obrigatórias. Rapidamente têm de voltar a
exercer as suas profissões e, dadas as exorbitantes mensalidades dos
infantários, os pais optam por pedir auxílio aos avós da criança. À medida que
o tempo passa, alguns pais vão ficando confortáveis com a situação e
7
aproveitam a ajuda tão necessária dos avós para levar a cabo outras tarefas,
como por exemplo levar o neto ao médico ou à escola. O receio de perder o
emprego é tão grande, que os pais não colocam sequer a hipótese de pedir
permissão para saírem mais cedo do trabalho e tratarem pessoalmente de
assuntos relacionados com os filhos.
A forte tendência dos avós ajudarem os filhos a cuidar dos netos,
constituiu-se numa perigosa “bola de neve” e é apenas uma consequência da
grande dificuldade em conseguir emprego, problema que, tão cedo, não tende
a melhorar.
Contudo, não devemos esquecer que estes avós já tiveram a sua dose de
trabalho, não só a nível profissional mas também do ponto de vista familiar,
pois já cuidaram dos seus filhos e merecem o devido descanso.
Independentemente da conotação associada à palavra velho, a realidade
revela que estamos todos a envelhecer aos poucos e que o nosso sistema
fisiológico começa a ressentir-se, sendo a saúde física um dos principais
problemas do processo de envelhecimento. Segundo Spirduoso (2005) existem
três dimensões da saúde física: condição física, estado funcional e saúde
subjetiva. A primeira consiste na presença e número de problemas de saúde
profissionalmente diagnosticados e experienciados por um indivíduo. A
segunda (estado funcional) refere-se ao grau de condicionamento que impede
a pessoa de executar atividades da vida diária e passatempos discricionários.
A saúde subjetiva compreende a avaliação pessoal que os indivíduos fazem
acerca da sua própria saúde, variando esta de pessoa para pessoa.
Tais dimensões referem-se diretamente à saúde em si mesma, embora
existam outros fatores que influenciam a qualidade de vida, tais como
económicos, ambientais e sociais, entre outros.
No caso do idoso português, tendo em conta as reformas reduzidas e os
cortes constantes que lhe estão subjacentes, o nível de vida precário não lhe
permite viver dignamente.
9
2.2. Solidão
O que sabemos nós sobre este tema? Experiências de outros?
Experiências nossas? Será que a solidão se limita ao ato de estar sozinho ou
também inclui o facto de nos sentirmos sozinhos?
Neste sentido, consideramos ser conveniente frisar que nem sempre o
facto de vivermos sozinhos implica que sejamos seres solitários. Podemos
viver sozinhos mas ao mesmo tempo saber que podemos sempre contar com
alguém, quer seja família ou amigos, ou até mesmo não ter necessidade de
conviver tanto como outras pessoas, podendo tal postura constituir-se um traço
de personalidade. No entanto, o contrário também pode acontecer. Algumas
pessoas, ainda que com companhia da família ou dos amigos sentem-se, de
alguma forma, sozinhas. Talvez por insatisfação pessoal, pela pouca intimidade
com o seu par, pela pouca atenção que dão uns aos outros, pelas poucas
refeições que fazem em conjunto, entre outros motivos. Enfim, há um grande
conjunto de situações que pode proporcionar à pessoa um grande sentimento
de solidão, de vazio, de algo que não sabemos bem caracterizar mas que, na
verdade, cria infelicidade.
Então, posto tudo isto, o que é realmente a solidão? Uma coisa é certa: a
solidão está relacionada com as relações sociais e já todos nós, em algum
momento da nossa vida, a experimentámos. Segundo Peplau & Perlman (1982)
a solidão trata-se de um sentimento quase aflitivo que se sente quando o tipo
de relações que mantemos não correspondem ao tipo de relações que
desejamos.
Para Klein (1971), há uma grande necessidade de procurar objetos
externos quando se experimenta um sentimento de solidão muito intenso, uma
vez que esta é parcialmente anulada pelos relacionamentos externos. As
influências de outros indivíduos, sobretudo daqueles que mais importância têm
para o sujeito que experimenta a solidão, podem, de certa forma, reduzir este
sentimento.
Já para Adalberto Dias de Carvalho, numa entrevista dada à revista “A
10
página da educação” em 2011, esta questão não é assim tão simples, visto
tratar-se de uma noção que afeta as pessoas e as preocupa. “É uma noção
que não é agradável, afeta tudo, afeta todos, mas curiosamente é pouco
tratada” (p.8). Ainda tem havido pouco interesse sobre o assunto, por parte das
comunidades científicas e muito por parte da literatura.
O mesmo autor refere ainda que a solidão é um “quase-conceito” (p.8)
que se pode vir a perder quanto mais o tentamos concetualizar. O que
ganhamos em objetividade podemos vir a perder na intensidade da apreensão,
na conceito e na entendimento da própria noção. Para Adalberto Dias de
Carvalho, a solidão é um estado de alma.
Pascal e Flaubert (2009, cit. por Carvalho, 2011, p. 8) distinguem dois
tipos de solidão O primeiro, entende solidão como “um caminho longo e
doloroso”; já Flaubert considera-a como um “verdadeiro prazer”. Poderá isto
distinguir a diferença entre solidão negativa e solidão positiva? Para Adalberto
Dias de Carvalho (2011), a solidão positiva é aquela que é escolhida quando
necessitamos de um afastamento de tudo e de todos do ponto de vista
construtivo, sendo um bom exemplo busca da criatividade, na qual há o
“isolamento em busca do recurvamento sobre nós mesmos na tentativa de
perscrutar, na nossa própria subjetividade, aquilo que não conseguimos
encontrar no mundo exterior” (p.8). No entanto, também é visível na
criatividade, a solidão negativa. Muitas vezes, o artista reflete na sua arte
sentimentos de angústia, de insatisfação, de desespero. Nesses momentos,
podemos afirmar que o seu isolamento de deveu à necessidade de exprimir
estados negativos de solidão.
A palavra solidão tem muitas vezes uma conotação negativa, geralmente
associada a conceitos como falta, ausência, perda e abandono.
Outros autores não consideram que haja uma relação entre a solidão e a
presença de “alguém” físico. Weiss (1974), por exemplo, refere que a solidão
não é causada por estar sozinho, mas por estar sem uma forma específica de
relacionamento ou conjunto de relacionamentos. Quando o tipo de relação da
qual se sente falta aflora, a solidão desaparece imediatamente como se nunca
11
tivesse existido. Não há uma recuperação gradual nem tão pouco é um estado
que se possa recuperar aos poucos. O autor supracitado fala-nos da solidão
como algo desejável, no sentido em que o afastamento ou separação dos
outros oferece um retorno a si mesmo.
É curioso verificar que a palavra solidão não tem a mesma conotação em
todas as línguas e culturas. Há uma distinção entre solidão e solitude. Se
repararmos, na língua inglesa, surgem dois conceitos diferentes para uma só
tradução portuguesa.
Podemos ver a solidão como uma boa forma de autoconhecimento,
embora seja necessário saber distinguir, tal como refere Adalberto Dias de
Carvalho (2011), em algumas situações na vida, a violência dos fenómenos. A
solidão quando é violenta causa mais tristeza, mais angústia, mais sofrimento,
atenta a dignidade de uma pessoa.
Na maioria dos casos, o idoso sofre ataques de solidão agressiva,
principalmente quando é abandonando em casa, no lar ou no hospital pela
família. Não foi lá parar por opção própria, mas pela imposição de
acontecimentos que podem passar pela morte do cônjuge, pela vida atarefada
dos filhos, pela emigração forçada dos mesmos, pelo desprezo e esquecimento
dos familiares, por toda uma panóplia de razões estruturais e governamentais
que em nada favorece o facto de se ser velho. Tal como nos adverte Carter
(2000) o idoso fica isolado, tornando-se num ser solitários, ainda que na sua
casa ou mesmo no lar. Aí também há solidão. Na verdade, solidão não significa
estar sozinho. A experiência de estar sozinho pode ser positiva, prazerosa e
emocionalmente gratificante se está sob o controle do indivíduo. A solitude é o
estado de estar sozinho e separado de outras pessoas e, frequentemente, está
relacionada a uma escolha consciente e desejada de se estar sozinho. A
solitude é algo que cultivamos, é o tempo que pode ser utilizado para reflexão e
é a oportunidade de renovação pessoal (Carter, 2000).
Tenhamos agora em conta o sujeito deste estudo, o idoso. Os avanços
tecnológicos no campo da medicina, sobretudo no âmbito da prevenção, têm
vindo a contribuir para o aumento da esperança média de vida e,
12
consequentemente, para o envelhecimento da população.
Irónico será pensar que o ritmo destes avanços é contemporâneo à
adaptação da população idosa a este “mundo moderno”. O idoso leva mais
tempo a adaptar-se em relação ao resto da sociedade pois viveu grande parte
da sua vida sem existência desta brutal amplitude de modernidade. A
informação era dada em formato de papel ou por anúncio na rádio e não
através da Internet. Hoje, vemos muitos idosos alheios às novas técnicas
médicas ou aos novos tratamentos, pois o acesso à informação é limitado à
Internet.
Segundo a OMS (2007), o mundo está a envelhecer a um ritmo
estonteante: “o número de pessoas com mais de 60 anos, em termos de
proporção da população global, aumentará de 11% em 2006 para 22% em
2050. Nessa altura, e pela primeira vez na história da humanidade, a
população terá mais pessoas idosas do que crianças (com idades até aos 14
anos)” (p.3).
No entanto, e como refere Guillemard cit. por Quaresma et al. (2004), o
envelhecimento não deve ser considerado apenas como um fenómeno
demográfico, mas também como um portador de alterações sociais,
económicas e culturais, constituindo-se como fenómeno estruturante das
nossas sociedades.
Será a solidão uma característica do processo de envelhecimento?
Gustafsson (1994), poeta, filósofo e romancista sueco, afirma que todos
somos seres solitários e que há vários tipos de solidão. Algumas pessoas são
socialmente isoladas e outras não, como uma espécie de solidão da própria
existência. Ele acrescenta ainda que, na vida, há um isolamento que é
fundamental em cada um de nós. Nunca nos podemos transformar noutra
pessoa, nem sentir a dor do outro, nem fugir do próprio corpo, nem instalarmo-
nos no outro. “Estamos sozinhos com a nossa solidão.”(Tomei & Fortunato,
2008, p.16)
13
2.3. Olhar o idoso: Uma questão cultural
Segundo a National Framework for Older People (NSF-OP, unidade
pertencente ao departamento de cuidados de saúde da Universidade de
Oxford) citado por Haywood et. al (2004), a definição de pessoa idosa não se
limita ao estado de saúde e à idade, estando também relacionada com a etnia
e o capital cultural.
É de realçar o facto de o idoso ser visto de formas diferentes em
contextos culturais diversos. Em alguns povos, o idoso continua a ser
considerado figura superior e de respeito.
Um exemplo clássico desta outra visão de velhice pode ser observado
num estudo realizado por Evans-Pritchard (1989), há mais de cinquenta anos,
sobre os Nuer, grupo étnico do Sudão. Segundo este autor, a entrada na
adolescência para o individuo Nuer do sexo masculino é marcada por um ritual
de iniciação que define a sua inserção numa classe de idade e determina o seu
estatuto de superioridade, igualdade ou inferioridade relativamente aos outros
Nuer. Os membros de uma determinada faixa etária devem respeito aos da
faixa anterior, que é composta por pessoas mais velhas e, portanto, superior na
hierarquia social. Isto transparece, posteriormente, em todas as dimensões da
vida social.
Uchoa (1988), após alguns anos a trabalhar com os Bambara (povo do
Mali) para a sua tese de doutoramento, mostra-nos que estes consideram a
velhice como uma conquista. Para eles, o envelhecimento é concebido como
um processo de crescimento que ensina, enriquece e enobrece o ser humano.
Ser velho significa ter vivido, ter criado filhos e netos, ter acumulado
conhecimento e ter conquistado, através destas experiências, um lugar
socialmente valorizado. Toda a vida social é organizada segundo o princípio da
senioridade. Considera-se que os mais velhos estão perto dos ancestrais e por
esse motivo detêm a autoridade. Verifica-se que estudos realizados em
sociedades não ocidentais enfatizam o poder, o elevado status e o papel social
central atribuído aos idosos nestas sociedades.
14
Posto isto, percebemos que na cultura destes povos, ao contrário da
generalidade das sociedades ocidentais, o idoso é detentor de mais valor,
apreço e dignidade. Não é um peso para a sociedade apenas por não ter
capacidade física para produzir. É alguém que integra o meio social como
qualquer outro indivíduo, desempenhando um papel importante na transmissão
de conhecimentos e sabedoria e ocupando, de certa forma, um lugar de
destaque no seio da organização.
Todavia, alguns estudos ressaltam o impacto negativo do processo de
modernização sobre o status dos idosos nessas sociedades (Cowgill & Holmes,
1972).
Ainda assim, e porque a solidão não se refere apenas à inclusão ou
exclusão, o idoso pertencente a este tipo de cultura não ocidental pode
perfeitamente experimentar este sentimento.
Patrícia Amélia Tomei e Graziela Fortunato no artigo “A solidão no poder
das organizações” escrito em 2008, referem o fenómeno da solidão como
sendo universal no tempo e no espaço, atingindo todos os povos. A solidão
parece ser uma das características que mais definem o homem moderno.
15
2.4. O cuidado
A sociedade contemporânea, conhecida como sociedade tecnológica e do
conhecimento, tem vindo a mostrar um enorme descuido para com o nosso
planeta. Temos assistido a devastações florestais, à aniquilação de habitats de
animais, à morte dos mesmos, entre muitos outros atos que apenas demostram
que a noção de cuidado do ser humano está bastante distorcida.
Se não há cuidado para com o nosso próprio planeta como haveremos de
cuidar de nós próprios para, posteriormente, sermos capazes de cuidar do
outro?
Ultimamente têm surgido muitas notícias sobre abandono e morte de
idosos. Muitos vivem sozinhos e, sem ninguém que se preocupe com eles,
acabam por falecer de acidente ou morte natural. Na maioria dos casos, estas
situações só vêm a público algumas semanas ou meses depois.
Como é possível tal abandono? O idoso acaba por falecer sem qualquer
tipo de apoio ou atenção por parte de uma sociedade que vive rápida e
apressadamente, sem tempo de olhar para o lado e aperceber-se do
sofrimento alheio. Hoje em dia abandonamos demasiadas coisas, desde
crenças a objetivos, desde animais de estimação a familiares.
Segundo Boff (2011) vivemos numa sociedade que está a criar “cada vez
mais incomunicação e solidão entre as pessoas”. Esta sociedade tecnológica
levou-nos para uma dimensão em que o virtual sobrepõe-se ao real e as
relações sociais refletem o mesmo. O autor acredita que “o mundo do virtual
criou um novo habitat para o ser humano” o qual se caracteriza pelo
isolamento, “pela falta do toque, do tato e do contacto humano” (p. 11).
Boff (2011, p.12-14) faz referência ao tamagochi como sinal de cuidado
por um instrumento virtual: “O tamagochi é uma invenção japonesa dos inícios
de 1997. Um chaveirinho electrónico com três botões abaixo da telinta de
cristal, que alberga dentro de si um bichinho de estimação virtual. O bichinho
tem fome, come, dorme, cresce, brinca, chora, fica doente e pode morrer. Tudo
depende do cuidado que recebe ou não de seu dono ou dona”. Este é um
16
enorme exemplo de como tudo na sociedade se tornou virtual, estendendo-se
ao sentido do cuidado. Como podemos ver, sendo o tamagochi um objeto
sobretudo para crianças, desde cedo o mundo virtual entra nas nossas vidas e
faz parte do nosso dia-a-dia.
Pensemos agora no idoso de hoje. Grande parte da sua vida não
coincidiu com o aparecimento das grandes tecnologias, pelo que estes não se
sentem tão à vontade nesta área comparativamente a um jovem. Queremos
com isto asseverar que para o idoso não existe a noção de cuidado virtual,
apenas cuidado real e sincero. Infelizmente, e voltando ao tema da solidão, a
verdade é que o idoso é um ser, por norma, isolado. O idoso tem dificuldade
em adaptar-se, já que a sociedade evoluiu a um ritmo que este não consegue
acompanhar.
Relativamente ao cuidado com o próprio, é comum depararmo-nos com
algum desleixo por parte daqueles que vivem sozinhos, sobretudo os idosos.
Segundo o INE (2015), entre os triénios 2001-2003 e 2011-2013 a
esperança de vida à nascença aumentou em Portugal 3,4 anos para os
homens e 2,6 anos para as mulheres atingindo os 76,9 anos e os 82,9 anos,
respetivamente.
Assim sendo, muitas vezes, os homens falecem mais cedo e, no caso dos
casais, a mulher (viúva) fica fisicamente sozinha. Provavelmente habituadas a
cozinhar para dois, passam a não ver necessidade de fazer uma refeição
completa apenas para si próprias e acabam por comer algo simples como uma
peça de fruta, pão e iogurte. Do mesmo modo, já nem sequer se dão ao
trabalho de realizar limpezas ou cuidar da própria casa. São estas algumas das
atitudes que vêm demonstrar uma falta de cuidado para com o próprio na
ausência de alguém por perto. Tal como afirma Boff (2011, p. 162): “o cuidado
não convive nem com o excesso nem com a carência. Ele é o ponto ideal de
equilíbrio entre um e outro”.
17
2.5. A Dignidade
Dignidade. São poucas as pessoas que pensam nesta palavra e que a
colocam num patamar de princípios pessoais. Ou talvez tenham aceite que
poucos são aqueles que podem viver com este direito. No Dicionário da Língua
Portuguesa podemos encontrar o seguinte significado: “1. Título ou cargo que
confere a alguém uma posição elevada; cargo honorífico; honraria. 2.
Qualidade moral que infunde respeito; respeitabilidade; autoridade moral. 3.
Decência; gravidade. 4. Modo digno de proceder; atitude nobre; nobreza. 5.
Grandeza. 6. Consciência do próprio valor; pundonor1. “
Temos vindo a assistir a um esquecimento do valor pessoal e humano, a
um silêncio permanente que resulta em frustrações e depressões. Tudo isto
porque nos esquecemos que todos temos o direito de viver dignamente, todos
temos valor e todos merecemos respeito, devendo reclamar esses mesmos
direitos. Não devemos entrar em modo de “piloto automático” e aceitar tudo o
que nos é imposto e atribuído. Não podemos desistir. Tal como referia o
escritor, jornalista e militar Raúl Brandão (2003, p. 218): “E, com ou sem boca,
com ou sem consciência, nunca mais deixarei de andar nisto, disperso,
amalgamado, confundido, de fazer parte deste drama, queira ou não queira,
proteste ou não proteste, tudo é inútil, todo o esforço inútil, todas as palavras
inúteis. Reconheço-o. Mas não me canso de pregar, não posso deixar de
pregar, até cair vencido e exausto, dominado e deslumbrado.”
É importante a valorização própria para que nos consigamos superar e
transcender, querendo sempre mais. Relembrando Kant (1995, p.66): “Age
como se a máxima da tua ação se devesse tomar pela tua vontade, em lei
universal da natureza. Age de tal maneira que uses a humanidade tanto na tua
pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente e nunca
simplesmente como meio”.
Atualmente, a crise económica traz consigo uma alteração dos valores
1 Dicionário online da língua portuguesa (2003-2015). [consult. 2015-09-15 13:10:01].
18
pessoais. As pessoas aparentam não se importar com o pouco que lhes é
dado, sujeitando-se a horários de trabalho extraordinários e substituindo o
tempo que deveriam dedicar a si próprias por um novo part-time para poder
fazer face às adversidades da vida. Não vivemos. Tentamos
desesperadamente sobreviver. O verdadeiro sentido da vida encontra-se bem
sublinhado nas palavras de Zygmunt Bauman (2007, p. 111): “O valor, o mais
precioso dos valores humanos, o atributo sine qua non da humanidade, é uma
vida de dignidade, não a sobrevivência a qualquer custo”.
Este panorama não se aplica apenas aos indivíduos empregados ou
jovens adultos, mas também ao velho e ao reformado.
Ao longo da história, o velho foi visto de diferentes formas e de acordo
com os contextos. Nos primórdios, a humanidade primitiva vivia em cavernas,
caçava o seu alimento com armas criadas pela própria e vivia do que a terra
fornecia. Apenas os mais fortes sobreviviam e aqueles que não aguentavam
este modo de vida iam desaparecendo, ou seja, pereciam.
Num segundo momento, os povos já se regiam por uma certa
organização familiar, na qual o patriarca exercia o papel primordial.
Começaram a plantar os seus alimentos e criavam animais para sustento
próprio (Rodrigues, 2000).
Na Roma antiga, o velho assume um papel essencial na sociedade. É
considerado o juiz de todos os destinos dos seus familiares, é venerado por
deter o poder social e económico e é poderoso por possuir propriedades rurais
e autoridade sobre os seus herdeiros (Rodrigues, 2000).
Em 1760 dá-se o início da Revolução Industrial e a sociedade agrária
passa a sociedade industrializada (Moragas, 1997). A invenção da máquina
acarretou a expansão do capitalismo, desmembrando sociedades. O velho
perde prestígio e apreço, havendo portanto, uma desestruturação do esquema
social no qual vivia. Foi neste momento que a visão negativa acerca do velho
se instala, pois começa a dar-se mais valor à capacidade de produção de bens
materiais ao invés do valor humano. O velho como tem pouca capacidade de
produção, começa a perder espaço na sociedade (Rodrigues, 2000).
19
Atualmente, com o aumento da esperança média de vida torna-se
necessário dar maior ênfase ao assunto, uma vez que, tal modificação social
exige a ampliação da assistência a questões respectivas ao envelhecimento
humano (Rodrigues, 2000).
Hoje, o velho é visto como um “peso” para o Estado, continuando a
receber a sua pensão/subsídio (recebendo a maioria uma quantia miserável) e
nada produzindo após a aposentadoria. Simone de Beauvoir (1970, p.51)
contextualiza a questão da brutal exclusão que o idoso sofre pela colectividade,
frisando o fato de que não poder trabalhar ou produzir mais torna-o numa “boca
inútil”.
De acordo com a definição de Kant (1995), na sociedade podem-se
conceber duas espécies de valores: a dignidade e o preço. Quando um objecto
está acima do preço, sem a possibilidade de algo que seja equivalente,
reconhece-se que tem dignidade; em oposição se um objeto pode ser posto no
lugar de outro sem que haja alteração no seu valor, entende-se como um
preço.
A dignidade está, portanto, bem acima de qualquer preço que possa ser
atribuído, sendo crucial que não nos deixemos ser rotulados como um produto
de supermercado.
Na esteira do pensamento de Kant, e relativamente ao idoso, percebe-se
que só é reconhecido como sujeito de direito o individuo que produz ativamente
e que, por ser eficiente, é insubstituível. Por outro lado, aquele que já não
contribui mais para o capital ativo da sociedade não é reconhecido como
sujeito digno de respeito e dignidade; assim, tanto este como qualquer outro
que se encontre em condição semelhante terá o mesmo valor, que se resume a
um valor nulo. Estamos perante uma sociedade cega ao valor humano e tal
como refere Garcia e Lemos (2011, p.99) “o conceito de dignidade humana foi
sendo esquecido, dando lugar a visões materialistas que colocaram o homem
no limiar de um precipício existencial”.
De acordo com Gonçalves (1996), nos tempos que correm, não há
nenhuma valorização da velhice, embora muitos considerem que o idoso deve
20
ser alvo de respeito. O respeito limita-se à valorização do aspecto físico ou do
“quão conservada está aquela senhora de 70 anos”. Este exemplo demonstra
que não há uma valorização real e concreta do que é ser idoso. A velhice é
quase sempre associada aos cabelos brancos, às rugas, ao andar lento, à
perda de autonomia e das capacidades e quase nunca associada à beleza. A
beleza parece ser uma característica aliada apenas à juventude. Do mesmo
modo, a sociedade apenas cria espaços para crianças, jovens e adultos, sendo
o velho esquecido. Ainda que alguns espaços tenham vindo a ser criados, por
motivos económicos, nem todos podem usufruir deles, sendo necessária uma
maior atuação governamental para a criação de espaços dedicados à avaliação
da qualidade de vida das pessoas idosas, sempre sob a égide dos princípios
de liberdade, do respeito, da dignidade e da justiça social. É fundamental
acolher os idosos, apesar das limitações naturais ligadas à passagem do
tempo, acarinhá-los e levá-los a usufruir de momentos de lazer. O convívio com
outras pessoas permite que continuem a crescer culturalmente e que
contribuam com a sua experiência para a vida em sociedade. A ocupação é
crucial na vida do idoso para a reconstrução da sua dignidade. O simples fato
da existência basta para que se possa exigir uma vida com dignidade e
respeito.
Acompanhamos a ideia de Kant (1995) de que o valor do ser humano não
está vinculado a questões de ordem objetiva, mas ao modo como as pessoas
dispõem das suas vontades e dos seus anseios, ainda que não alcancem o fim
pretendido.
21
2.6. O idoso e o Outro Nos dias que correm, deparamo-nos com assuntos polémicos ou
passíveis de discussão e, com o aparecimento das redes sociais, qualquer
indivíduo pode opinar livremente acerca de qualquer tema. Se é correto ou não,
se está ou não de acordo, se apoia ou não apoia, seja qual for a opinião, esta
torna-se pública. Consequentemente assiste-se a um fenómeno em crescendo:
as pessoas tomam posse da opinião da grande maioria, sem refletir acerca do
assunto em questão com a devida calma. Tudo isto representa o facilitismo das
redes sociais, que propicia tocar levianamente num grande número de teclas
de um computador, submeter publicamente a opinião sem que seja preciso “dar
a cara pela mesma” ou defendê-la posteriormente. Trata-se da falta que fazem
as conversas “face-a-face”, pois aí é necessário ter uma opinião formada para
que, assim, esta seja contestada, possa ser defendida e discutida abertamente.
O contacto com a realidade tem vindo a perder valor resultando isto numa
enorme desumanização. Na perspetiva de Vitorino Nemésio (2003, p. 93): “Um
dos sinais dos tempos de massificação humana em que vivemos neste limiar
da Era Atómica é a desumanização. Não emprego a palavra ‘desumanização’
no sentido englobante e pejorativo de ‘baixa de humanidade’ – o que seria
manifesto exagero, senão puro absurdo. Mas emprego-a no sentido de
retração e encurtamento da vida afectiva e de diminuição da cordialidade”.
Tornámo-nos seres egoístas que apenas olham para o seu umbigo,
ignorando o rosto do outro. Talvez porque a realidade do outro custa
demasiado a encarar, pois a pura das verdades é que ou outro é um ser como
nós próprios, com defeitos, imperfeições, sonhos por realizar. Miguel Torga
(1995, p. 72), fazendo-nos olhar ao espelho e refletir sobre a nossa atitude,
refere: “em vez de nos enfrentarmos com amor e coragem, andamos
prudentemente ao lado uns dos outros com os olhos abotoados”. Há que
enfrentar o rosto e o olhar do outro, sem mágoa, medo ou rejeição: “ o rosto do
outro torna impossível a indiferença. O rosto do outro me obriga a tomar
posição porque fala, pro-voca, e-voca e con-voca.” (Boff, 2011, p. 139).
22
Quando falamos de solidão, normalmente relacionamos esta com a
presença de outra pessoa. Partimos do princípio que a solidão é apenas
experimentada pela ausência de outro(s) indivíduo(s) ou de relacionamentos
externos.
Segundo Klein (1971), a valorização dos outros e do êxito - que no início
das nossas vidas é retratada pela necessidade de se ser valorizado pela
própria mãe - pode ser utilizada como defesa contra a solidão.
Sartre (2003) considera que a solidão humana fixa-se na impossibilidade
de uma efetiva comunicação com o outro. O autor retrata dois momentos que
concretizam o encontro com o outro. O primeiro caracteriza-se pela perda da
genuinidade e da autonomia original quando o indivíduo se sente observado ou
pressente a presença do outro: “Sou como o outro me vê…” (Sartre, 2003, p.
276). Aqui encontramos a necessidade de nos relacionarmos com o próximo, já
que o mesmo permitirá o encontro com o nosso verdadeiro ser.
O segundo momento acontece quando, transformado em objecto pelo
olhar do outro, o ser observado reage e desenvolve o olhar que o constrange,
transformando-se assim em ser olhante. Neste momento fica caracterizado o
conflito, raiz de todo o relacionamento (Sartre, 2003). É curioso ver como o
outro tem tanta influência em nós e na nossa pessoa e, ao mesmo tempo, a
grandeza do nosso receio em confrontá-lo.
Nas palavras de Jorge Bento “Sem o Outro ele não existiria, tal como não
existiriam a vida, a sociedade e o mundo. Logo o Outro é um valor, uma
entidade valiosa e portadora de alta cotação, digna portanto de apreço,
consideração e respeito” (2012, p.80).
23
3. Hipóteses do trabalho
Realizaram-se hipóteses de forma a criar um expectativa das ocorrências,
baseadas em difusões de possíveis relações estabelecidas entre as variáveis.
Segundo Tuckman (2000), as hipóteses são subtis e estão relacionadas
com as teorias e os concepções; as observâncias que se utilizam para testar
essas hipóteses são específicas e baseadas em factos.
Posto isto, as hipóteses deste estudo, formuladas a partir dos objetivos
propostos, são:
H1- Há diferenças significativas entre sexos relativas à Solidão: as
mulheres apresentam maiores níveis de Solidão do que os homens.
H2- Há diferenças significativas entre sexos relativas à Atividade: as
mulheres apresentam maior nível de Atividade do que os homens.
H3- A solidão é influenciada pela idade: quanto mais idade tem o
indivíduo, maiores são os níveis de solidão.
H4- A Atividade é influenciada pela idade: quanto mais idade tem o
indivíduo, menores são os níveis de atividade.
H5- Há uma correlação entre a Atividade e a Solidão.
Com estas hipóteses pretende-se dar resposta às questões de
investigação desta pesquisa. Para o estudo destas hipóteses será utilizada
uma metodologia estatística especifica, de modo a reconhecer o nível de
influência e a sua significância.
25
4. Metodologia
Segundo Fortin (1999) a investigação científica é “um processo
sistemático que permite examinar fenómenos com vista a obter respostas para
questões precisas que merecem uma investigação” (p.17). Estas respostas
podem ser consideradas abstractas e gerais tal como na investigação
fundamental; por outro lado, pode também ser concretas e específicas, como
acontece na investigação aplicada (Tuckman, 2000). Tanto numa como na
outra o sujeito que investiga encontra factos e, a partir destes, consegue
formular uma generalização baseada na interpretação dos mesmos.
Tudo isto requer uma determinada metodologia, sendo que Gil (1991)
define metodologia como um procedimento racional e sistemático, que tem
como fim, dar respostas aos problemas propostos. Existem vários métodos
empregados pelos diferentes investigadores, o que contribui para que haja um
conhecimento mais vasto. Os métodos de recolha de dados, que podem ser
utilizados são: quantitativo e qualitativo.
O método quantitativo é um processo sistemático de recolha de dados
observáveis e quantificáveis, que tem como finalidade contribuir para o
desenvolvimento e validação dos conhecimentos (Fortin, 1999).
No caso desta investigação, o método de recolha foi de carácter
quantitativo. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, pois descreve a
realidade; correlacional, visto que procura uma relação entre as variáveis
existentes; e transversal, dado que são tratados dados que foram recolhidos
num momento único.
4.1. Descrição e Caracterização da Amostra
A amostra é composta por 40 indivíduos, 21 mulheres (52,5%) e 19
homens (47,5%), com idades compreendidas entre os 65 e os 94 (ver quadro
1).
26
Quadro 1 – Frequências de género e idade
N %
Género Feminino 21 52.5 Masculino 19 47,5
Idade
65 1 2,5 67 5 12,5 68 3 7,5 69 2 5,0 72 2 5,0 74 2 5,0 75 3 7,5 76 2 5,0 78 3 7,5 79 3 7,5 80 3 7,5 81 3 7,5 83 3 7,5 84 1 2,5 86 2 5,0 88 1 2,5 94 1 2,5
Trata-se de uma amostra não probabilística, recolhida por conveniência,
com um critério de exclusão: ter menos de 65 anos.
Os dados foram recolhidos no Centro de Saúde do Covelo, no Porto, local
onde a variedade de sujeitos é maior, pois muitos deles comparecem apenas a
consultas de rotina. Devido à dimensão da amostra e por não ser uma amostra
aleatória não se considera representativa da população portuguesa.
27
4.2. Procedimento e Instrumentos Utilizados
Para avaliação da solidão foi utilizada a escala da solidão da Universidade
Califórnia em Los Angeles (UCLA; versão portuguesa da autoria de Félix Neto,
1989). Por sua vez, a avaliação das atividade do dia-a-dia foi realizada através
do “Lawton Instrumental Activities of Daily Living” (IADL) realizado por Carla
Graf (2013).
Os questionários (ver anexo 1) eram entregues aos idosos que por sua
vez respondiam às questões de forma individual, com exceção daqueles que
tinham dificuldades em entender o conteúdo das questões, ou que não sabiam
ler. Estes últimos tinham o meu auxílio na leitura e na interpretação das
questões.
A escala da solidão contém 18 questões, correspondendo cada uma delas
a um, dois, três ou quatro pontos, mediante a resposta “nunca”, “raramente”,
“algumas vezes” ou “muitas vezes”, realizando-se posteriormente o total da
pontuação. É de frisar que a pontuação nem sempre segue a mesma ordem,
invertendo-se na questão nº1, nº4, nº5, nº8, nº9, nº13, nº14, nº17 e nº18.
Nestas questões a pontuação para as opções “nunca”, “raramente”, “algumas
vezes” e “muitas vezes” é quatro, três, dois e um pontos, respectivamente.
Relativamente ao Lawton Instrumental Activities of Daily Living, o
questionário consiste em oito questões, assinalando o idoso, em cada
categoria, a frase que mais se adequa ao seu perfil. A pontuação é dada de
acordo com a escala já existente (observar anexo).
Ao longo de todo este processo, muitos dos idosos responderam
confortavelmente às questões propostas, o que permitiu o apontamento de
alguns “relatos reais”.
28
4.3. Procedimentos estatísticos Os dados obtidos foram analisados através do programa estatístico
Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS®) versão 23, tendo sido
estabelecido um grau de significância estatística de 5% para todos os
procedimentos estatísticos realizados (p<0,05).
29
5. Apresentação e discussão dos Resultados
5.1. Sexo e Solidão
Para avaliar as diferenças entre sexos, relativas ao nível de solidão, foi
inicialmente avaliado o pressuposto da normalidade pelo One-Sample
Kolmogorov-Smirnov – Lilliefors Test. Observou-se que o nível de solidão
verifica este pressuposto entre os inquiridos do género masculino (p=0,151),
mas não entre aqueles do género feminino (p=0,042) (ver quadro 2).
Quadro 2: Verificação da normalidade dos níveis de solidão entre sexos.
Solidão Masculina Solidão Feminina
Amostra (n=40) 19 21
Test Statistic 0,170 0,192
p 0,151 0,042
Por esse motivo, a comparação dos valores desta variável entre os dois
géneros, foi realizada através do teste Mann-Whitney U and Wilcoxon W. Não
foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os níveis de
solidão dos géneros (p= 0,520) (ver quadro 3).
Quadro 3 – Comparação dos níveis de Solidão entre Sexos.
Solidão
Mann-Whitney U 175,500
Wilcoxon W 406,500
p 0,520
30
Os resultados da relação entre a solidão e os sexos mostram que não
existem diferenças estatisticamente significativas.
Verifica-se que nas hipóteses as mulheres apresentam um maior nível
de solidão do que os homens, já que em idades mais avançadas passam mais
tempo sozinhas ou viúvas. Tal como referido anteriormente, a esperança média
de vida varia entre homens e mulheres. Enquanto que para os primeiros a
esperança média de vida consta nos 71 anos de idade, as mulheres, por sua
vez atingem, em média, os 79 anos. Num estudo realizado por Lopes, et. Al
(2009), (no qual participaram 34 mulheres com idades entre os 70 e os 79 anos
e 4 mulheres com 80 anos ou mais; 19 homens entre os 60 e os 69 anos de
idade, 14 entre os 70 e 79 anos de idade e 3 com 80 anos ou mais) 35,4% das
mulheres responderam afirmativamente à questão “O Sr(a). sente solidão?”; a
mesma questão foi respondida de forma afirmativa por apenas 22,2% dos
homens.
A mulher tem uma vida mais longa e, normalmente, por fatores culturais,
em todo o mundo, casa-se mais jovem do que o homem; da conjugação
desses dois fatores resulta um período mais extenso de solidão das mulheres
viúvas (ou separadas) em relação aos homens (Veras, 1988). Magalhães
(2003) também refere que há uma maior proporção de mulheres a viver
sozinhas, sobretudo idosas reformadas e viúvas.
No entanto, os resultados obtidos no presente estudo não foram de
encontro às hipóteses estipuladas. Isto pode dever-se a vários fatores, tais
como o número reduzido da amostra e o desconhecimento do estado civil de
cada um dos indivíduos. Alguns sujeitos perguntaram, também, se as questões
presentes se referiam apenas aos seus amigos. Com esta questão
depreendeu-se que o questionário aparentava abranger pouco a questão da
“solidão em casa”, o que, consequentemente, não faz os indagados ter em
conta o seu cônjuge quando falamos de solidão. A única citação do
questionário (Avaliação do Nível de Solidão) que pode fazer com que o
inquirido tenha isso em conta é a nº6: “Já não sinto mais intimidade com
31
ninguém.” Observemos então a diferença entre sexos nesta mesma questão
(ver quadro 4):
Quadro 4 – Percentagem de respostas à questão “Já não sinto mais intimidade com ninguém.”
Nunca Raramente Algumas
Vezes Muitas Vezes
Homens 42,2% 36,8% 10,5% 10,5%
Mulheres 33,3% 33,3% 28,6% 4,8%
Como podemos verificar, as mulheres, no que se refere à falta de
intimidade, parecem sentir mais carência neste âmbito. Aqui os resultados
fazem sentido tendo em conta o estudo referido anteriormente.
O estado civil e as variáveis sócio-demográficas, como o sexo, a idade e o
estatuto sócio-económico são também, entre outros, preditores de solidão, pois
constata-se, de facto, que as mulheres idosas relatam maiores níveis de
solidão do que os homens, o que se deve, na maior parte dos casos, à viuvez
(Monteiro & Neto, 2008).
32
5.2. Sexo e Atividades do dia-a-dia
Foi avaliado o pressuposto da normalidade pelo One Sample Kolmogorov-
Smirnov – Lilliefors Test. A Atividade não verifica este pressuposto entre os
inquiridos do género masculino (p=0,032), nem entre aqueles do género
feminino (p=0,000) (ver quadro 5).
Quadro 5 – Verificação da Normalidade da Atividade entre Sexos.
Atividade Masculina Atividade Feminina
Amostra (n=40) 19 21
Test Statistic 0,207 0,288
p 0,032 0,000
Por esse motivo, a comparação dos valores desta variável entre os dois
géneros, foi realizada através do teste Mann-Whitney U and Wilcoxon W. Não
foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as atividades
dos géneros (p= 0,078) (ver quadro 6).
Quadro 6 – Comparação dos Níveis de Atividade entre Sexos.
Atividade
Mann-Whitney U 134,00
Wilcoxon W 324,000
p 0,066
Mais uma vez, os resultados não foram ao encontro do especulado na
hipótese proposta, pois era esperado que houvesse uma diferença significativa
entre sexos na realização de atividades. Segundo um estudo realizado por
Horgas (1998), as mulheres passam grande parte do seu dia realizando tarefas
como lavar a roupa, limpar a casa, ir às compras, entre outras atividades; a
33
atividade que mais prevaleceu nos homens foi a visualização de televisão (não
considerada “activity of daily living”).
Infelizmente, a mulher ainda tem um papel muito diferente do homem,
sobretudo no que toca à realização de tarefas de casa, pelo que faria sentido
que a mulher perdesse os níveis de autonomia mais tarde em comparação ao
homem. Porém, embora as mulheres vivam mais tempo do que os homens,
elas passam por um maior período de debilitação biológica antes da morte do
que eles (Nogales, 1998).
Uma perspetiva diferente consiste no facto de as mulheres apresentarem
menor autoestima no domínio da realização, o que as conduzirá, na procura
desta consistência, a selecionar preferencialmente informações negativas
acerca de si próprias e a ignorar a informação positiva (Frieze, et, al 1982). Os
resultados de autores como Ickes & Layden (1978) apoiam esta teoria, visto
terem observado que, por um lado, os sujeitos com baixa autoestima
internalizam os fracassos e externalizam os sucessos.
Já os sujeitos com elevada autoestima apresentam o padrão oposto e, por
outro lado, os padrões que se atribuem às mulheres assemelham-se aos dos
sujeitos com baixa autoestima, enquanto que os dos homens se assemelham
aos dos sujeitos com elevada autoestima, dependendo do contexto em que
estes se inserem. Isto poderá resultar numa necessidade, por parte da mulher,
de aperfeiçoar, insistir e querer fazer mais, em comparação ao homem.
Mais uma vez, estes resultados podem ter sido influenciados pela
quantidade reduzida da amostra. Outro motivo que pode ter feito com que os
resultados não fossem de encontro à hipótese proposta recai para o sentimento
de vergonha que os idosos assumiram relativamente à não realização de
tarefas.
34
5.3. Solidão e Idade
Pesquisaram-se correlações lineares entre as quatro variáveis Idade e
Solidão, através da análise do coeficiente de correlação linear de Pearson. Os
resultados obtidos encontram-se registados no quadro 7.
Quadro 7 – Correlação Linear de Pearson entre as variáveis Solidão e
Idade.
Solidão
Idade
r
-0,030
p
0,855
N
40
Nesta análise, os resultados também não foram ao encontro das
hipóteses estipuladas inicialmente, ou seja, o nível de solidão não foi
significativamente influenciado pela idade, pois o valor de significância (p) foi
de 0,855.
Seria de esperar que a idade influenciasse a solidão, visto existirem
vários fatores que contribuem para uma menor vida social do idoso. Diz a
literatura que o indivíduo vai construindo a sua rede social no decurso da vida e
que a sua extensão depende de fatores sócio-demográficos, culturais e de
personalidade. Por outro lado, há estudos (Antonucci & Akiyama, 1987; Stoller
& Pugliesi, 1991) sobre as mudanças na rede social que vieram demonstrar
que com o avançar da idade há um decréscimo no tamanho da rede, devido à
perda de familiares e amigos. Em relação à modificação das redes sociais na
35
velhice, os estudos de Wenger (1987) e Bowling et. al. (1993) também
demonstraram que a rede social tem uma redução visível com o avançar da
idade.
Num estudo realizado por Fredrikson & Cartensen (1990), foi constatado
que, à medida que a idade avança, os idosos vão-se tornando mais seletivos
na escolha das suas amizades. Tornam-se seres mais críticos e, por norma,
também mais egoístas, sendo que, mesmo numa relação de amizade, o idoso
não demonstra tanto afeto e compaixão, embora sinta falta dos mesmos.
O receio de enfrentar o outro intensifica-se. Recordemos Boff: “O rosto
do outro torna impossível a indiferença. O rosto do outro me obriga a tomar
posição porque fala, pro-voca, e-voca e con-voca.” (2011, p. 139). O rosto do
idoso é alvo de comparação e descriminação numa sociedade dominada pela
valorização do belo. Com o avançar da idade, as rugas, o cabelo branco e o
aspeto cansado fazem com que o idoso se isole cada vez mais, de modo a não
enfrentar os preconceitos que inundam a sociedade atual.
Como foi revisto anteriormente, o idoso é um ser que sofre de uma certa
exclusão por parte da sociedade por ser considerado “um peso”.
Na percepção do idoso, dado que apenas são valorizados aqueles que
trabalham, este considera que o seu tempo acabou, pois é preciso dar lugar
aos mais jovens (Gonçalves, et. al 2008). Para Oliveira (1982), o trabalho, para
além de conferir uma identidade social à pessoa, também possibilita um vínculo
com a realidade.
36
5.4. Atividade e Idade
Pesquisaram-se correlações lineares entre a variável Idade e Atividade, através
da análise do coeficiente de correlação linear de Pearson. Os resultados
obtidos encontram-se registados no quadro 8.
Quadro 8 – Correlação Linear de Pearson entre as variáveis Atividade e
Idade.
Atividade
Idade
r
-0,680
p
0,000
N
40
Verifica-se existir correlação linear significativa entre a Atividade e a Idade
dos inquiridos, sendo que esta relação é negativa (r=-0,680; p= 0,000), o que
significa que é possível concluir que com o aumento da idade há um tendência
significativa para a diminuição da atividade.
Estes resultados vão de encontro às hipóteses estipuladas. Num estudo
realizado por Horgas et al. (1998) também foi constatado que os indivíduos
mais velhos têm níveis mais baixos de realização de tarefas, sendo isto
resultante da perda de funcionalidade causada pelo envelhecimento biológico.
Tal como foi referido anteriormente neste estudo, para Spirduso (1995), o
envelhecimento consiste num processo, ou conjunto de processos dos
organismos vivos, resultante de uma falta de adaptação e de uma menor
funcionalidade associada a alterações físicas e fisiológicas que ocorrem ao
longo do tempo. O mesmo autor em 2005 refere que o fenómeno de
37
envelhecimento não pode ser descontextualizado do fator tempo. Aliado a esta
definição, também Robert (1995) diz que o envelhecimento provém da falta de
capacidade da maior parte dos organismos manterem uma funcionalidade
estável. O autor considera que o envelhecimento é caracterizado pela falta
progressiva de capacidade de adaptação do organismo ao ambiente
envolvente.
Assim, é natural que com o progredir do tempo, por melhor que esteja a
mente ou a dignidade da pessoa, o lado biológico irá sempre atraiçoar e
prejudicar a realização de tarefas do dia-a-dia.
Não devemos esquecer que a amostra contem uma grande variedade de
idades, podendo assim avaliar com mais viabilidade esta relação.
Não foram encontrados estudos que refutassem estes resultados.
38
5.5. Solidão e Atividade
Pesquisaram-se correlações lineares entre a variável Idade e Atividade,
através da análise do coeficiente de correlação linear de Pearson. Os
resultados obtidos encontram-se registados no quadro 9.
Quadro 9 – Correlação Linear de Pearson entre as variáveis Solidão e Atividade.
Atividade
Solidão
r
-0,352
p
0,026
N
40
Verifica-se existir correlação linear significativa entre a Atividade e o nível
de Solidão. Uma vez mais esta relação é negativa (r=-0,352; p= 0,026),
concluindo-se que uma menor atividade aparece associada a maiores níveis de
solidão. Há uma correlação entre estas duas variáveis, o que vai de encontro
às hipóteses propostas.
De facto, a relação com o outro pode ser determinante na realização das
tarefas do dia-a-dia, tal como a consequente manutenção da autonomia.
Katz (1983) refere que a realização de atividades no dia-a-dia está
intimamente relacionada com o apoio familiar e social: “o cuidado familiar
prestado a idosos continua a ser de extrema importância para o bem-estar dos
mais velhos, mesmo nas sociedades atualmente desenvolvidas, onde continua
a ser a família a assumir a imensa maioria das tarefas de apoio” (Paúl, 2005,
p.283).
39
As amizades criadas são, também, um fator que pode optimizar a vida
ativa do idoso; no entanto, nem todos os idosos têm amigos disponíveis que
prestem apoio nos momentos mais difíceis, no auxílio e manutenção da
identidade, na mudança de circunstâncias das condições de vida e na
adaptação à velhice (Stevens, 2001).
Foi também constatado através de relatos, durante a aplicação dos
questionários, que muitos dos indivíduos que vivem sozinhos parecem não ter
preocupações com o cuidado próprio pois, tal como foi referido anteriormente,
para estes, apenas é importante o cuidado com o outro. Quer-se com isto
afirmar que o idoso, muitas das vezes, descura das suas necessidades para
satisfazer as dos outros. Exemplo disso é que muitos não fazem refeições
elaboradas a não ser que a família os vá visitar.
Segundo Lopes (2005), o envelhecimento exige uma acomodação das
funções corporais às novas condições de vida, exige um reposicionamento
social e aprendizagem para usar o tempo livre, uma modificação do modo
como se situa e age no mundo. O idoso deve tentar adaptar-se em vez de se
colocar numa “bolha” isolada do resto do mundo, por mais duro que isso possa
ser. Ainda que as suas capacidades estejam reduzidas, há modos de combater
a solidão, sendo esta um crise psicológica, por vezes de carácter muito intenso.
No entender de Goldfarb (2002), e paralelamente às mudanças físicas,
ocorrem as crises psicológicas que podem ser muito mais intensas, a saber: a
finitude, o luto (seja ele de pessoas queridas ou de habilidades que não
conseguem mais exercer) e a dependência, ocasionando um longo processo
de elaboração das perdas. O mundo que nos cerca altera-se à medida que
antigos lugares dão espaço a novos, velhos amigos partem e papéis familiares
se dissolvem.
É necessário o luto pelas funções corporais perdidas, pela imagem
corporal danificada ou destruída. Na realidade, muitos dos sintomas atribuídos
ao envelhecimento são oriundos de manifestações de defesas narcisistas e
expressões de afetos como o medo, a agressividade ou os sentimentos de
perda (Abras & Sanches, 2004).
41
6. “Vozes”
Fez parte do processo desta investigação aplicar questionários
diretamente aos idosos e, inevitavelmente, conversar um pouco com eles.
Torna-se evidente a necessidade de afeto, companhia e atenção que sentem e
revelam. Cada vez que era realizada uma questão surgia a conversa acerca da
filha ou da neta ou das várias doenças de que padeciam e que os levava a
visitar regularmente o médico de família.
Apurava-se, através do discurso sofrido, a solidão de que eram alvo,
embora, curiosamente, raras foram as vezes que a mencionaram diretamente.
A abertura relativamente à questão da solidão foi muito menos evidente em
comparação ao tema das atividades do dia-a-dia. Talvez por vergonha, talvez
por preferirem fazer sobressair o facto de que ainda possuem alguma ajuda por
parte da família. A verdade é que, para os idosos, qualquer amostra de carinho
e de compaixão é valorizada, embora mais valorizada se torne a falta dela.
Outra observação feita refere-se à abertura que as mulheres têm em
relação aos homens. Estas aparentavam ser muito mais carentes do que eles,
o que faz sentido após a compreensão do isolamento durante a viuvez, que é
maior nas mulheres, tal como refere a bibliografia existente e mencionada
neste estudo.
Posto isto, contemplemos então alguns relatos de alguns destes
indivíduos.
Os nomes atribuídos são totalmente fictícios, servindo apenas para lhes
conferir, ainda assim, alguma identidade.
Manuela, 78 anos: “O meu filho vem visitar-me sempre que pode mas ele
tem lá o trabalho e anda sempre muito ocupado.”
António, 75 anos: “Hoje em dia já não há respeito pelos mais velhos (...)
estes jovens são muito mal educados (...).”
42
Ricardina, 77 anos: “Oh menina para que é que hei de estar a cozinhar se
sou só eu? Como uma fruta e um iogurte e bebo um chá com umas bolachitas
antes de ir para a cama e já fico satisfeita. Quando vem cá o meu filho com o
meu genro eu faço um assado no forno que eles gostam muito, mas só para
mim dá muito trabalho (...)”
Isabel, 80 anos: “(...) quem me faz as compras é a minha filha (...) Eu dou-
lhe o dinheiro e ela traz. Não gosto nada de ver o dinheiro a desaparecer,
assim vai ela e eu penso que o dinheiro foi para ela.”
Luís, 71 anos: “A minha mulher é que faz as coisas da casa todas,
sempre foi assim (...)”
José, 68 anos: “(...) e eu de vez em quando faço a cama, de resto é a
minha mulher, mas eu tenho vergonha de dizer aqui que não faço nada.”
Rosa, 74 anos: “(...) Como sofro de diabetes, tenho de comer muitas
vezes ao dia e por isso à noite não janto, como qualquer coisa, pouca porque à
noite faz mal. Mas cozinho sempre para a minha filha e neta que jantam
comigo e me fazem companhia.”
Maria, 76 anos: “Lá em casa quem trata de tudo é a nossa empregada
que vem uma vez por semana, foi a minha filha que estipulou isso para não
termos tanto trabalho e assim também se poupa a ela de preocupações.”
Teresa, 81 anos: “Olhe menina, eu faço as minhas coisas sozinha, mas
quando são compras grandes e limpezas profundas é tudo a minha filha mais
velha que ajuda porque eu já não posso.”
43
Jorge, 67 anos: “Não costumo fazer muito lá em casa, sabe (...), mas se
for preciso mudar uma lâmpada ou alguma coisa relacionada com obras
pequenas eu faço isso porque a minha esposa não sabe. Os homens e a
cozinha nunca se deram bem não é?”
Lúcia, 82 anos: “Não faço nada minha querida, trazem-me o almoço a
casa e tenho umas senhoras que me limpam a casa. A noite vem cá os meus
filhos e tomo uma caneca de leite com um pão e fico bem. Já não tenho idade
pra isso.”
Fernando, 73 anos: “O estado paga muito pouco. A menina imagina o que
é viver com 100 euros por mês?”
Jacinta, 82 anos: “No outro dia, na praia, queria comprar um chapéu para
o meu marido porque estava muito sol, só que eram muito caros! Não posso
dar 5 euros por um chapéu. Com 200 euros, tenho que pagar a renda, os
medicamentos e a comida todos os meses. Não há dinheiro para luxos!”
Abílio, 71 anos: “Eu ainda tenho idade para trabalhar que ainda estou
muito bem, mas quem é que me quer agora? A gente nova agora tem cursos
superiores e mesmo assim não tem emprego. Na minha altura quase ninguém
tinha isso e toda a gente trabalhava!”
Filomena, 69 anos: “Agora que estou reformada aproveito para ir à
ginástica que ainda tenho tempo. Depois vou buscar o meu neto à escola e fico
a tomar conta dele até o meu filho vir. (...) Chega por volta das sete e meia.”
Lourdes, 79 anos: “Isto no tempo do Salazar era tudo muito melhor!”
45
7. Conclusões
Como forma de conclusão, após a realização desta investigação, verificou-
se então o seguinte:
• Relativamente às diferenças do nível de solidão entre sexos, embora os
resultados deste estudo não apresentem diferenças significativas,
estudos anteriores mostram que, por norma, as mulheres sofrem
maiores níveis de solidão em comparação aos homens.
• Nas diferenças concernentes à realização de atividades entre sexos
também não se verificaram diferenças significativas; no entanto estudos
realizados acerca do tema afirmam que as mulheres têm maior
tendência a realizar um maior número de tarefas do que os homens.
• Quanto à influência da idade na solidão, os resultados do presente
estudo, não mostraram diferenças significativas, embora os estudos
existentes mostrem que os indivíduos com mais idade apresentam
maiores níveis de solidão do que os mais novos.
• A influência da idade nas atividades realizadas representou diferenças
significativas de carácter negativo, ou seja, quanto mais velho for o
indivíduo, menor é o número de atividades realizadas. Estes resultados,
por sua vez, foram ao encontro de vários estudos realizados
anteriormente acerca da temática.
• Relativamente ao objetivo principal, verificou-se a existência de
correlação entre o nível de solidão e a realização de atividades do dia-a-
dia. Embora não haja estudos que confirmem diretamente esta questão,
muitos deles afirmam que o apoio e a presença familiar está
intimamente relacionada com a realização de tarefas e atividades
diárias.
Segundo Neril & Freire (2000), os relacionamentos sociais são muito
46
importantes para o bem estar físico e mental na velhice, sendo perfeitamente
alcançável a meta de envelhecer livre da solidão e do isolamento, desde que se
tomem iniciativas para manter uma vida com dignidade.
De facto, e conforme refere Oliveira (2008), é fundamental ter em conta
os vários apoios prestados ao idoso: apoio social formal que provém do Estado
ou das estruturas sociais e apoio social informal que provém dos diferentes
membros da família, dos amigos ou dos vizinhos. Este apoio poderá ser
material ou instrumental (ajuda material direta ou serviços), informativo
(conselhos para superação de problemas) e afectivo (ter alguém com quem
partilhar, conversar, confiar).
É assim necessário, segundo Zimerman (2005) um esforço para que
sejam ajustadas as relações sociais dos idosos com os filhos, netos, colegas e
amigos, potenciando novos relacionamentos e a adaptação do idoso a um novo
estilo de vida, para que as perdas sejam minimizadas.
O idoso faz tão parte desta sociedade como qualquer um de nós, sendo
crucial que haja uma devida integração do mesmo, para que possa viver
dignamente, com valor e sem receio.
47
8. Propostas futuras de investigação
As propostas futuras foram pensadas como consequência de situações
que foram surgindo ao longo deste estudo.
Aquando da realização dos questionários, um dos participantes estava
acompanhado da filha. No momento de responder a algumas questões, a filha
contestava as respostas dadas pelo pai, afirmando que este não estava a ser
honesto relativamente às questões apresentadas. Nesse momento, surgiu uma
grande curiosidade em compreender qual a perspetiva dos familiares mais
próximos relativa à solidão.
Posto isto, seria pertinente realizar um estudo similar ao que aqui foi
levado a cabo, mas dando voz aos familiares mais próximos do idoso.
Outra questão que poderia ser de grande relevância para uma próxima
investigação seria perceber que contornos poderá tomar a velhice no futuro,
tendo em conta o modo de vida e a sociedade em que os jovens de hoje estão
inseridos.
49
9. Bibliografia
Abras, R. & Sanches, N. (2004). O idoso e a família. In: J. M Filho, M. Burd,
(org): Doença e Família (pp. 233-241). São Paulo: Caso do Psicólogo.
Antonucci, T. C., & Akiyama, H. (1987). Social networks in adult life and a
preliminary examination of the convoy model. Journal of gerontology, 42, 519-
527.
Bauman, Z. (2007). Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar Editores
Beauvoir, S. (1970). A velhice: As relações com o mundo. São Paulo: Difusão
Europeia do Livro.
Bento, J. (2012). Pelo regresso do Desporto: ensaio epistemológico. In J. Bento
e W. Moreira, Homo sportivus. O humano no homem (pp. 14-112). Belo
Horizonte: Casa da Educação Física.
Britto da Motta, A. (1996). Recontando o Tempo de Madureza. In M. Koury et.
al (org): Cultura e Subjectividade (pp. 71-82). João Pessoa: Ed. Universitária
Boff, L. (2011). Saber Cuidar: Ética do humano - Compaixão pela Terra.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes.
Bowling, A. C., Schulz, J. B., Brown, R. H., & Beal, M. F. (1993). Superoxide
dismutase activity, oxidative damage, and mitochondrial energy metabolism in
familial and sporadic amyotrophic lateral sclerosis. Journal of neurochemestry,
61(6), 2322-2325.
50
Brandão, R. (2003). Húmus. Lisboa: Colecção Mil Folhas.
Calado, D. (2004). Velhice – Solidão ou vida com sentido?. In M. Quaresma
(Coord.), O sentido das idades da vida: Interrogar a solidão e a dependência
(pp. 51-72). Lisboa: Cesdet Edições.
Carvalho, A. D. (2011). A solidão é um estado de alma. A página da
educação(193).
Carter, M. (2000). Abiding loneliness: An existential perspective. Illinois: Park
Ridge Center.
Cowgill, D. & Holmes, L. (1972). Aging and Modernization. New York: Appleton
Century Crofts.
Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto:
Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-09-15 13:10:01]. Disponível na
Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/dignidade
Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto:
Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-09-18 10:20:35]. Disponível na
Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/velho
Evans-Pritchard, E. (1989). Les systèmes de classe d’âge chez les Nuer. In: R.
Santerre & G. Letourneau (ed.): Vieillir à Travers le Monde (pp. 125-131).
Sainte-Foy: Les Presses de L’Université Laval.
Fredrickson, B. L., & Carstensen, L. L. (1990). Choosing social partners: How
old age and anticipated endings make us more selective. Psychology and
Aging, 5, 335-347.
51
Frieze, I. H., Whitley, B. E., Hanusa, B. H., & McHugh, M. C. (1982). Assessing
the theoretical models for sex differences in casual attributions for sucess and
failure. Sex roles, 8(4), 333-343.
Fortin, M. (1999). O Processo de investigação da concepção à realização.
Loures: Lusociências. Edições Técnicas e Científicas.
Gaioli, O. (2004). Ocorrência de maus-tratos em idosos no domicílio. Ribeirão
Preto: Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Negro.
Garcia, R & Lemos, K. (2011). Temas (quase éticos) de desporto. Belo
Horizonte: Casa da Educação Física
Gil, A. C. (1991). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.
Goldfarb, D. C. (2002). Psicanálise e Envelhecimento. Revista Kairós, 13-38.
Gonçalves, A. K. (1996). O idoso aposentado e a percepção de seu
movimento. Rio Claro. A. K. Gonçalves. Dissertação de Mestrado apresentada
a Instituto de Biociências, Curso de Mestrado em Ciências da Motricidade,
Universidade Estatual Paulista.
Gonçalves, A., Gonçalves, C., Pol, D., & Millão, L. (2008). Aspectos
Psicossociais do Envelhecimento. In A. Teixeira, B. J. E & C. Freitas (Eds.),
Estudos multidisciplinares do envelhecimento humano (pp. 29-48). Porto
Alegre: Nova Prova Editora.
Graf, C. (2013). Lawton Instrumental Activities of Daily Living Scale. American
Journal of Nursing 108(4), 52-62
Guillemard, A. M. (1995). Penser le sujet. Paris: Editions Fayard
52
Gustafson, L. (1994). A classe média sai do paraíso. In: Jornal O Globo. Rio de
Janeiro.
Haywood K. L., Garret A. M., Schmidt L. J., Mackintosh A. E. & Fitzpatrick R.
(2004). Health status and quality of life in older people: A structured review of
patient-reported health instruments. Department of public health, University of
Oxford
Horgas, A. L., Wilms, H. U., & Baltes, M. M. (1998). Daily life in very old age:
everyday activities as expression of successful living. The gerontologist, 38(5),
556-568.
Ickes, W. T., & Layden, M. A. (1978). Attributional styles. In J. H. Harvey, W. J.
Ickes, & R. F. Kidd (Eds.), New directions in attribution research (119-152).
Hillsdale, N.J.: Erlbaum Associates.
INE – Instituto Nacional de Estatística (2005). Estimativas da população
residente segundo grandes grupos etários e sexo, em 31/12/2002.
INE – Instituto Nacional de Estatística (2015). A Situação demográfica recente
em Portugal. Revista de Estudos Demográficas(54).
Kant, I. (1995). Fundamentação da metafísica dos costumes. Porto: Porto
Editora.
Katz, S. (1983). Assessing self-maintenance: activities of daily living, mobility,
and instrumental activities of daily living. Journal of the american geriatrics
society, 31, 721–727
Klein, M. (1971). O sentimento de solidão: nosso mundo adulto e outros
ensaios. Rio de Janeiro: Imago
53
Lopes, R. (2005). Os velhos ainda precisam ser “Indignos”? In: Corte B.;
Mercadante, E. F.; Arcuri I. G. (orgs): Complex(idade): Velhice envelhecimento
(pp. 83-92). São Paulo: Editora Vetor
Lopes, R. F., Lopes, M. T. F., & Camara, V. D. (2009). Entendendo a solidão do
idoso. Revista brasileira de ciências do envelhecimento humano, 6(3), 373-381.
Magalhães, M. (2003). Quem vive só em Portugal. Revista de Estudos
Demográficos, 33, 55-68.
Monteiro, H. & Neto, F. (2008). Universidades da terceira idade: Da solidão aos
motivos para a sua frequência. Porto: Legis Editora.
Moragas, R. (1997). Gerontologia social: Envelhecimento e qualidade de vida.
São Paulo: Paulinas.
Nemésio, V. (2003). Era do átomo – crise do homem: Obras Completas.
Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda
Neril, A. & Freire, S. (2000). E por falar em boa velhice. Campinas: Papirus.
Neto, F. (1989). Avaliação da solidão. Psicologia Clínica, 2, 65-79.
Nogales, A. M. V. (1998). A mortalidade da população idosa no Brasil. Como
Vai? População brasileira 3(3), 24-32
Oliveira, J. (2008). Psicologia do idoso. Porto: Legis Editora.
Oliveira, M. I. T. C. (1982). Terceira idade e aposentadoria: sinónimos de crise?
Dissertação de Mestrado em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica.
54
OMS (2007). Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas:
Envelhecimento e ciclo de vida, saúde na família e na comunidade.
Envelhecimento global e urbanização: Enfrentar o desafio do sucesso da
humanidade (pp. 3-4)
Rodrigues, Nara Costa. (2000). Envelhecimento e Cidadania. In: Schons, C. R.;
Palma, L. T. S. (Org.). Conversando com Nara Costa Rodrigues sobre
gerontologia social (pp. 77-81). Passo Fundo: UPF Editora
Paúl, C. (2005). Envelhecimento activo e redes de suporte social. Sociologia:
revista da Faculdade de Letras do Porto, 15, 275- 287.
Peplau, L. & Perlman D. (1982). Loneliness: a soursebook of current theory,
research and therapy. New York: John Wiley & Sons.
Quaresma, M. L., Fernandes, A. F., Calado, D. F. & Pereira, M. (2004). O
sentido da vida: interrogar a solidão e a dependência. Lisboa: Instituto Superior
de Serviço Social de Lisboa.
Robert, L. (1995). O envelhecimento: Factos e teorias. Lisboa: Edições
Portugal.
Sartre, J. P. (2003). O ser e o nada: Ensaio de ontologia fenomenológica.
Petrópolis: Editora Vozes.
Sousa, L., Figueiredo, D. & Cerqueira, M. (2004). Envelhecer em família:
cuidados familiares na velhice (1ª ed.). Porto: Âmbar
Spirduso, W. (1995). Physical dimensions of aging. Champaign, Illinois: Human
Kinetics Publishers.
55
Spirduso, W., Francis, K. L., & MacRae, P. G. (2005). Physical dimensions of
aging (2ª ed.). Champaign, IL: Human Kinetics.
Stevens, N. (2001). Combating loneliness: a friendship enrichment programme
for older women. Ageing and Society, 21, 183-202.
Stoller E. P. & Pugliesi K. L. (1991). Size and effectiveness of informal helping
networks: A panel study of older people in the community. Journal of Health
and Social Behavior. 32, 180–191.
Tomei, P. A., & Fortunato, G. (2008). A solidão no poder nas organizações.
Organizações & Sociedade, 15(47).
Torga, M. (1995). Diário V. Coimbra: [s.n.].
Tuckman, B. W. (2000). Manual de investigação em educação. 4ª Ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian.
Uchôa, E., (1988). Les Femmes de Bamako (Mali) et la Santé Mentale. Une
Étude Anthropopsyquiatrique. Thèse Ph.D. Montréal: Université de Montréal.
Veras, R. P. (1988). Considerações acerca de um país que envelhece.
Cadernos de saúde pública, 4(4), 382-397.
Weiss, R. S. (1974). Loneliness: the experience of emotional and social
isolation. Cambrige: MIT press.
Wenger, E. (1987). Artificial intelligence and tutoring systems: Computational
and cognitive approaches to the communication of knowledge. San Francisco:
Morgan Kaufmann.
56
Wenger, A., Ségur, J., & Catteau, M. (1999). In search of the giant snake. Paris:
ZED.
Zimerman, G. (2005). Velhice: Aspectos biopsicossociais. São Paulo: Artmed
Editora.
XVII
ANEXOS
XIX
Anexo 1 – Questionário Aplicado
Questionário sobre a influência da solidão no estilo de vida do idoso
Este questionário encontra-se integrado na investigação para a tese de mestrado de Raquel Simões Pinto, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Todas as respostas são totalmente anónimas e confidenciais.
Idade: __ Sexo: Feminino__ Masculino__
Parte I
Assinale com (x) a opção com a qual mais se identifica. Pode escolher apenas uma opção, entre “nunca”, “raramente”, “algumas vezes” ou “muitas vezes”.
Parte II
Nesta parte encontram-se algumas questões acerca do funcionamento do seu dia-a-dia.
Assinale com (x) a opção que melhor descreve a sua situação. Pode escolher apenas uma opção.
A. Habilidade para utilizar o telefone 1. Utiliza o telefone por iniciativa própria; procura e marca números 2. Marca apenas alguns números conhecidos 3. Atende o telefone mas não marca números 4. Não utiliza o telefone
Nunca Raramente Algumas Vezes
Muitas Vezes
1. Sinto-me em sintonia com as pessoas que estão à minha volta. 2. Sinto falta de camaradagem. 3. Não há ninguém a quem possa recorrer. 4. Sinto que faço parte de um grupo de amigos. 5. Tenho muito em comum com as pessoas que me rodeiam. 6. Já não sinto mais intimidade com ninguém. 7. Os meus interesses e ideias não são partilhados por aqueles que me rodeiam. 8. Sou uma pessoa voltada para fora. 9. Há pessoas a quem me sinto chegado. 10. Sinto-me excluído. 11. Ninguém me conhece realmente bem. 12. Sinto-me isolado dos outros. 13. Consigo encontrar camaradagem quando quero. 14. Há pessoas que me conhecem realmente. 15. Sou infeliz por ser tão retraído. 16. As pessoas estão à minha volta mas não estão comigo. 17. Há pessoas com quem consigo falar. 18. Há pessoas a quem posso recorrer.
XX
B. Compras 1. Trata e faz todas as compras, sozinho(a) 2. Apenas faz, sozinho(a), compras de pequena quantidade 3. Necessita de ir acompanhado em todas as idas às compras 4. Completamente incapaz de fazer compras
C. Preparação de refeições 1. Prepara, confeciona e serve refeições adequadas, sem qualquer auxílio 2. Prepara refeições adequadas apenas se tiver os ingredientes 3. Aquece e serve refeições já confecionadas ou prepara refeições mas não mantém um dieta adequada 4. Necessita de ter as refeições já preparadas e servidas
D. Limpeza e arrumação da casa 1. Trata de toda a casa sozinha com auxílio ocasional (trabalhos pesados) 2. Faz tarefas leves diariamente tal como lavar a louça e fazer a cama 3. Faz tarefas leves diariamente mas não consegue manter um nível aceitável de limpeza 4. Necessita de ajuda para todas as tarefas de limpeza ou arrumação 5. Não participa em quaisquer tarefas de limpeza ou arrumação da casa
E. Lavagem da roupa 1. Trata de toda a roupa sozinha 2. Lava apenas pequenos itens como meias, meias-calças, cuecas, etc 3. Toda a lavagem tem de ser realizada por outra pessoa
F. Meio de Transporte 1. Desloca-se de forma independente utilizando transportes públicos ou conduz o seu próprio carro 2. Utiliza o táxi como meio de transporte, mas não utiliza outros transportes públicos 3. Desloca-se de transportes públicos apenas com companhia ou assistência e outra pessoa 4. As deslocações são limitadas ao táxi ou automóvel necessitando sempre de assistência de outra pessoa 5. Não se desloca de todo
G. Responsabilidade pela sua própria medicação 1. É responsável por tomar a sua medicação na dosagem e tempo correto 2. Toma responsabilidade pela medicação se esta já estiver devidamente preparada e organizada por dosagem 3. Não é capaz de tratar, sozinho, da sua própria medicação
H. Habilidade para tratar de assuntos financeiros 1. Trata de todos os assuntos financeiros de forma independente (contas, cheques, pagar renda e contas de água e
luz, ir ao banco, etc.); coleta e mantém o controlo da renda
2. Gere pagamentos do dia-a-dia, mas necessita de ajuda para gerir maiores pagamentos, tratar de assuntos no banco, etc.
3. Incapaz de lidar com o dinheiro
Obrigada pela colaboração!