RELAÇÃO DOS SONHOS ANTECIPATÓRIOS COM … · que cada uma dessas abordagem tem sobre os sonhos...

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1 RAFAEL NEIA BARBOSA SCOTT RELAÇÃO DOS SONHOS ANTECIPATÓRIOS COM DESEMPENHO COGNITIVO, AFETO E COMPORTAMENTO DA VIGÍLIA Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Doutor em Psicobiologia. Natal, 2015

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RAFAEL NEIA BARBOSA SCOTT

RELAÇÃO DOS SONHOS ANTECIPATÓRIOS

COM DESEMPENHO COGNITIVO, AFETO E COMPORTAMENTO DA

VIGÍLIA

Tese apresentada à

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, para obtenção do título de

Doutor em Psicobiologia.

Natal,

2015

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RAFAEL NEIA BARBOSA SCOTT

RELAÇÃO DOS SONHOS ANTECIPATÓRIOS

COM DESEMPENHO COGNITIVO, AFETO E COMPORTAMENTO DA

VIGÍLIA

Tese apresentada à

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, para obtenção do título de

Doutor em Psicobiologia.

Orientador: Prof. Dr. Sidarta Ribeiro

Natal

2015

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de

Biociências

Scott, Rafael Neia Barbosa.

Relação dos sonhos antecipatórios com desempenho cognitivo, afeto e

comportamento da vigília / Rafael Neia Barbosa Scott. – Natal, RN, 2015.

204 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Sidarta Ribeiro.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Sono. – Tese. 2. Sonhos. – Tese. 3. Aprendizado. – Tese. I. Ribeiro,

Sidarta. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 159.963

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Autor: Rafael Neia Barbosa Scott Data da defesa: 22 de junho de 2015.

Banca Examinadora :

___________________________________ Prof. Dr. Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

___________________________________ Profa. Dra. Cecilia Hedin Pereira

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), RJ

___________________________________ Dr. Sérgio Arthuro Mota Rolim

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

___________________________________ Profa. Dra. Fivia de Araujo Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

___________________________________ Prof. Dr. John Fontenele Araujo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família, primeiramente meu pais, Martha e Wallace,

pelo apoio e incentivo; minha avó Maria (agora bisa), pela sabedoria e esperança; e

minhas irmãs, Camila e Isabel, pelo carinho e auxílio logístico nessa reta final.

Agradeço especialmente aos meus grandes amores: minha esposa, Tatiana,

pelo suporte, companheirismo e sonhos de ontem e amanhã, e meu filho, John

Thomas, fonte de alegria e orgulho. Dedico esse trabalho a ele.

Agradeço a meu orientador, professor Sidarta Ribeiro, pela honra, iluminação,

garra e paciência. Entre os sonhos de sucesso da vigília, e crocodilos de pesadelos,

fomos em frente.

Agradeço aos amigos que colaboraram diretamente com este trabalho: Daniel

Soares Brandão, por seu auxílio imprescindível no laboratório de eeg, durante os

experimentos e com as análises, especialmente a cardíaca; Natália Mota, pela

contribuição na análise dos dados e estagiamento do sono; e Ernesto Soares, pela

contribuição na análise dos dados eletrofisiológicos, comportamentais e nos

experimentos. Hail to the Matlab Wizards.

Agradeço aos professores John Araújo e Fívia Lopes, por suas importantes

orientações na qualificação do projeto e muitas contribuições ao longo desses anos.

Aos amigos, professores e colegas da pós-graduação, por todas as aulas e

debates tão fundamentais para a pavimentação de uma base teórica e renovação de

ideias.

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Agradeço à COMPERVE, pela colaboração fundamental em parte desse

projeto.

Agradeço à instituição e toda comunidade do Instituto do Cérebro (UFRN),

pelo suporte e colaboração com nossa pesquisa.

Agradeço a todos os membros e funcionários do Programa de Pós-

Graduação em Psicobiologia da UFRN.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –

CAPES, que forneceneu bolsa de doutorado para o pesquisador.

Finalmente, agradeço aos participantes voluntários dos experimentos pela

colaboração tão crucial para nosso trabalho; e a todos aqueles que contribuíram

direta ou indiretamente com a viabilidade deste trabalho.

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Sumário

Resumo ................................................................................................................... 10

Abstract.................................................................................................................... 12

Introdução ................................................................................................................ 14

Sono e memória ................................................................................................... 16

Neurobiologia dos sonhos .................................................................................... 23

Função onírica ...................................................................................................... 28

Objetivos .................................................................................................................. 35

Hipóteses e predições.............................................................................................. 37

Experimento 1 – O vestibular ................................................................................... 39

1.1 - Introdução ..................................................................................................... 39

Vestibular como evento significativo .................................................................. 39

Sonhos relacionados com a prova ..................................................................... 40

A influência do sexo do participante nos sonhos e no desempenho .................. 41

1.2 - Metodologia .................................................................................................. 44

Sujeitos.............................................................................................................. 44

Instrumentos ...................................................................................................... 48

Questionários ................................................................................................. 48

O processo seletivo – exame vestibular UFRN 2010 ...................................... 49

Protocolo ........................................................................................................... 50

Análises ............................................................................................................. 51

Variáveis de desempenho: ............................................................................. 51

Variáveis individuais: ...................................................................................... 51

Variáveis de sonhos ....................................................................................... 52

Análises estatísticas ....................................................................................... 53

1.3 - Resultados .................................................................................................... 54

UFRN 2010 ....................................................................................................... 54

Sonhos e desempenho................................................................................... 54

Contexto da ocorrência do sonho antecipatório com o vestibular ................... 59

Características específicas dos sonhos relacionados com as provas ............. 63

Influência do sexo do participante na atividade onírica ................................... 65

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1.4 - Discussão ..................................................................................................... 68

1.5 - Conclusões ................................................................................................... 75

Experimento 2 – Jogo de videogame ....................................................................... 77

2.1 - Introdução ..................................................................................................... 77

Videogame como tarefa ..................................................................................... 77

Sono diurno vespertino ...................................................................................... 83

Presas e Predadores ......................................................................................... 85

2.2 - Metodologia .................................................................................................. 87

Sujeitos.............................................................................................................. 87

Instrumentos ...................................................................................................... 91

Questionários ................................................................................................. 91

Tarefa comportamental .................................................................................. 92

Eletrofisiologia ................................................................................................ 96

Protocolo ........................................................................................................... 97

Desenho experimental.................................................................................... 97

Metodologia de análise de dados .................................................................... 101

2.3 - Resultados .................................................................................................. 105

Desempenho geral na tarefa ........................................................................... 105

O Sonho com o Jogo ....................................................................................... 107

Sonho e desempenho .................................................................................. 108

Análise das Partidas (Pares) ........................................................................ 114

Eletrofisiologia ................................................................................................. 117

Análise do Sono .............................................................................................. 119

Análise da atividade cardíaca .......................................................................... 126

2.4 - Discussão ................................................................................................... 131

2.5 - Conclusões ................................................................................................. 141

Discussão Geral ..................................................................................................... 144

Conclusão .............................................................................................................. 151

Referências Bibliográficas ...................................................................................... 152

Anexos ................................................................................................................... 178

Anexo A - Carta de Contato ............................................................................... 178

Anexo B – TCLE Experimento 1 ......................................................................... 179

Anexo C - Questionário Vestibular ..................................................................... 180

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Anexo D - TCLE Experimento 2 .......................................................................... 182

Anexo E – Questionário Sociodemográfico ......................................................... 185

Anexo F - Escala de Sonolência de Epworth ...................................................... 186

Anexo G - Índice de qualidade de sono de Pittsburgh ........................................ 187

Anexo H - Questionário Pré Sono – Dia e Noite anterior ao experimento .......... 190

Anexo I – Questionário sobre jogos eletrônicos .................................................. 193

Anexo J - Questionário Pós - Sono (Cochilo) ...................................................... 196

Anexo K - Questionário Pós - Teste .................................................................... 197

Anexo L - Método suplementar: Análise da atividade cardíca (Experimento 2) ... 201

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Resumo

Sonhos seriam relevantes por simular possíveis cenários de sucesso e fracasso

para maximizar o desempenho do indivíduo, através de aprendizado sem riscos e

direcionamento do comportamento. Realizamos dois experimentos, utilizando: (1) o

exame vestibular de acesso à universidade; (2) uma simulação em videogame do

confronto Presa e Predador. No (1), comparamos as respostas de candidatos do

vestibular UFRN 2010 em um questionário com o desempenho (n = 255). 44,3% dos

participantes reportaram um sonho relacionado ao vestibular. A ocorrência desse

sonho correspondeu a maiores escores de medo, alterações no cotidiano, no humor

e no sono. Entre os que sonharam com o vestibular, encontramos uma correlação

positiva entre alterações do cotidiano e desempenho. No experimento (2), utilizamos

como tarefa um jogo de videogame de tiro em primeira pessoa. Dois participantes

jogavam entre si, um no papel de Caçador (localizar e matar adversário) e outro

como Presa (localizar e coletar itens), monitorados eletrofisiologicamente (EEG,

ECG, EOG e EMG). A maioria dos voluntários (53,8%, n = 26) relatou sonhar com

conteúdos relacionados ao jogo, o que esteve associado com aumento da atividade

cardíaca média durante os jogos. Presas que sonharam com o jogo apresentaram

ganhos no escore do Objetivo, e aquelas que não sonharam apresentaram perdas.

Análises da atividade cardíaca e do sono demonstraram maior estresse entre as

Presas. O sonho com o jogo relacionou-se com menor agressão ao Predador, com

maior eficiência no forrageio e otimização da resposta de luta-ou-fuga. Finalmente,

encontramos uma associação entre sonhos e diminuição das interações violentas

entre Treino e Teste, sugerindo uma função social para a atividade onírica em

humanos. Em conjunto, os experimentos reforçam a noção de que o sonho com

desafios da vigília tem papel adaptativo.

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Palavras-chave: Sono, Sonhos, Aprendizado, Vestibular, Videogames

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Abstract

Dreams are important to simulate possible scenarios of success and failure to

maximize adaptive success of the individual, by way of risk-less learning able to

guide waking behavior. We performed two different experiments using: (1) the

examination for admission to the university; (2) a videogame simulation of a prey-

predator conflict. For experiment (1), we compared the answers in a questionnaire of

255 candidates to the UFRN 2010 examination (n = 255) with performance. Dreams

related to the examination were reported by 44.3% of the participants, and their

occurrence was associated with higher scores of fear and apprehension, and major

changes in daily life, mood and sleep. We found a positive correlation between

changes in daily life and performance among those who dreamed about the

examination. In experiment (2), we used as a task a first person shooter videogame.

For each session, two participants played against each other, one in the role of

Predator (seek and kill the opponent), and the other in the role of Prey (find and

collect items); both participants were monitored electrophysiologically (EEG, ECG,

EOG e EMG). Most of the volunteers (53.8%, n = 26) reported dreams related to the

game. Dreaming with the task was associated with increased mean heart activity

during game playing. Preys who dreamt about the game showed gains in a

quantitative score of Goal achievement, while those who did not dream presented

score losses. Analyses of cardiac variability and sleep patterns showed greater

stress among Preys. Dreaming about the game was related to decreased aggressive

behavior towards the Predator, with more efficient foraging, an apparent optimization

of the fight-or-flight response. Finally, we found an association between oneiric

activity and the reduction of violent interactions between the participants from

Training to Test, which suggests a social function for dreams in humans. Altogether,

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the experiments support the notion that dreams related to waking-life challenges play

an adaptive role.

Keywords: Sleep, Dreams, Learning, College-Admission Examination, Videogames

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Introdução

"Yesterday is but today's memory, and tomorrow is today's dream."

-- Khalil Gibran

Os sonhos, intensas vivências durante o sono em uma realidade distinta da

experiência da vigília, sempre foram objeto de fascínio e mistério para os seres

humanos. Nas mais diversas culturas, há indícios de uma crença generalizada de

que os sonhos fazem referência a verdades ocultas, capazes de transmitir

importantes mensagens sobre o mundo e sobre aquele que sonha, ainda que de

modo cifrado ou indireto (Morewedge & Norton, 2009; Scott & Ribeiro, 2010). A

associação dos sonhos com a revelação de mistérios e mesmo de eventos futuros é

ampla (Shulman & Stroumsa, 1999), sendo observada tanto em povos ditos

primitivos, como culturas nativas norte e sul-americanas e aborígenes australianos

(Graham, 1994; Gregor, 1981; Lincoln & Seligman, 1935) quanto em tradições de

civilizações antigas como a mesopotâmica, egípcia e greco-romana (Hughes, 2000).

O mesmo ocorre nas três principais religiões monoteístas: na tradição judaico-cristã

(em diversas passagens da Bíblia, como: Gênesis 20:3 Gênesis 41:25 Mateus 1:20

Mateus 2:12), mulçumana (em diversas passagens do Alcorão, como 8.43 e 12.4) e

nos cânones budistas (Wayman, 1967).

Na maioria das sociedades, o sono está relacionado com sonhos e os sonhos

com conhecimento e memória. Apesar da ampla associação dos sonhos com os

mitos, eles também podem ser combinados com canções e danças. Algumas

culturas consideram a narração de sonhos como obrigatórias e estes têm sérias

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repercussões nos eventos do dia. Por exemplo, para os Tzotzil Maia, ‘o sonho é a

medida do homem, e o homem que não sonha é louco ou estúpido’ (Galinier et al.,

2010). Ou seja, sonhar teria relação com saúde mental e cognição (inteligência).

Sonhos sempre tiveram amplo uso em rituais religiosos e práticas medicinais,

e até hoje se mantêm como uma importante ferramenta terapêutica para diferentes

modelos teóricos de psicoterapia, desde a psicanálise até a abordagem Gestáltica

ou a terapia cognitivo-comportamental, apesar das diferentes considerações teóricas

que cada uma dessas abordagem tem sobre os sonhos (Pesant & Zadra, 2004). Por

exemplo, a teoria Jungiana considera que os sonhos possuem uma função

compensatória ao apresentar ao ego pontos de vistas que são complementares às

atitudes dominantes da vigília (Jung, 1974). A abordagem existencial-

fenomenológica aponta para a continuidade entre o conteúdo manifesto nos sonhos

e as preocupações da vigília e o estilo de vida do sonhador (Boss & Kenny, 1987).

Para a Gestalt, todos os elementos dos sonhos são compreendidos como projeções

de aspectos aceitos, desejados e/ou indesejados da personalidade do sonhador,

sendo a função onírica a busca pela integração das partes rejeitadas do self (Perls,

1992). Já a abordagem Cognitiva considera que os sonhos refletem as concepções

de si mesmo, do mundo e do passado/futuro (esquemas) do sonhador (Beck, 1971).

A psicanálise, concebida por Sigmund Freud no início do século XX, é

considerada a primeira abordagem de cunho científico sobre os sonhos. Ela

corrobora a noção ancestral de que o fenômeno onírico reflete ‘verdades ocultas’,

mas não credita os sonhos às fontes externas ao indivíduo (mágicas ou sagradas) e

sim ao próprio inconsciente do sonhador (Freud, 1900). Assim, sonhos seriam

constituídos da representação mnemônica e simbólica da realidade feita pelo

indivíduo, podendo inclusive conter fragmentos evidentes da experiência prévia da

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vigília (chamados ‘restos diurnos’). O sonho seria uma tentativa do ego (eu) de

atender uma demanda inconsciente oriunda do id, que encontra representação no

conteúdo onírico a partir do rebaixamento parcial funções do ego e principalmente

do rebaixamento do papel inibitório (censor) do superego. A formação de um sonho

seria provocada de duas maneiras diferentes: ou de um impulso instintivo que é

comumente suprimido (desejo inconsciente), ou de um impulso que sobrou da

vigília, uma sequência pré-consciente de pensamento, com todos os impulsos

conflitantes a ela ligados, que receberia reforços, durante o sono, de um elemento

inconsciente (Freud, 1940).

A proposta psicanalítica para os sonhos não foi acolhida pela neurobiologia,

em certa medida pela dificuldade de realizar medidas quantitativas a respeito de um

fenômeno tão subjetivo. No transcurso do século XX, o esforço de investigação

empírica focou no papel cognitivo do sono per se. Apenas recentemente, como

veremos mais adiante, as hipóteses da neurobiologia parecem se aproximar das

hipóteses freudianas.

Sono e memória

O sono é fundamental para o organismo. Privações totais ou parciais

provocam uma série de alterações que comprometem a saúde física e mental,

podendo inclusive, em casos extremos, ter consequências fatais. Considerando a

perda de consciência e de responsividade a ameaças externas, o sono deve ter um

papel adaptativo importante, apesar de ainda não ser clara qual a função (ou

funções) de dormir. Porém, evidências sugerem que o sono é fundamental para a

homeostase metabólica (Xie et al., 2013) e para a plasticidade dendrítica associada

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à aprendizagem (Yang et al., 2014). No conjunto, estas evidências sugerem que

dormir é para o encéfalo (Hobson, 2005), e que uma das principais funções do sono

é cognitiva (Diekelmann, 2014; Diekelmann & Born, 2010) .

O advento da eletroencefalografia permitiu a descoberta de que o sono é

composto de duas fases fisiologicamente distintas entre si (Niedermeyer, Schomer,

& Lopes da Silva, 2011), sendo que uma delas exibe registros muito semelhantes

aos observados na vigília, i.e., a atividade encefálica parece mostrar um indivíduo

desperto, enquanto se observa comportamentalmente que este dorme (Aserinsky &

Kleitman, 1953). Assim, alguns pesquisadores, principalmente da escola francesa,

denominaram esse estado de “sono paradoxal” (Jouvet, 1998). Outra característica

evidente dessa fase são os movimentos rápidos dos olhos, daí sua denominação

sono REM (do inglês rapid-eye-movement) (Aserinsky & Kleitman, 1953). Quando se

desperta um indivíduo nesse estado, é muito mais comum (80%) que ele relate um

sonho (Dement & Kleitman, 1957), o que levou à noção de que o sono REM

abrigaria a quase totalidade da experiência onírica, ao menos em adultos (Domhoff,

2003). De fato, o ciclo que em humanos compreende sequencialmente a vigília, o

sono inicial, ou sono leve, ou sonolência (fase N1), um sono intermediário (N2), o

sono de ondas lentas (OL), também conhecido como sono profundo (fase N3) e o

sono REM, se caracteriza por dramáticas alterações periódicas de parâmetros

eletrofisiológicos, neuroquímicos e metabólicos do sistema nervoso (Hobson &

Pace-Schott, 2002).

O sono de ondas lentas, filogeneticamente mais antigo, ocorre em todas as

espécies de répteis, mamíferos e aves já investigadas (Kavanau, 1997; Ribeiro &

Nicolelis, 2006) e é marcado por uma redução geral do metabolismo se comparado

aos outros dois estados (vigília e sono REM), com a diminuição substancial do

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processamento de informações sensoriais do meio externo nos circuitos tálamo-

corticais (McCarley, 2007). A denominação “sono de ondas lentas" é devido à

presença de oscilações eletroencefalográficas de baixa frequência, na banda

espectral delta (1 a 4 Hz). Tais ondas lentas representam um aumento da

sincronização da atividade neuronal, que tende a concentrar-se em torno do pico

positivo de voltagem das oscilações (Steriade, McCormick, & Sejnowski, 1993).

Estudos com registros em áreas profundas do encéfalo em roedores revelaram que

no sono de ondas lentas ocorre reverberação neuronal que reproduz padrões

neuronais observadas durante a vigília precedente (Pavlides & Winson, 1989; Wilson

& McNaughton, 1994). Tal reverberação, que ocorre em várias áreas do

prosencéfalo, incluindo o hipocampo e o neocórtex, possivelmente promove uma

amplificação pré-transcricional de traços de memória recentemente adquiridos

(Ribeiro, Goyal, Mello, & Pavlides, 1999; Ribeiro et al., 2002; Ribeiro et al., 2004;

Ribeiro et al., 2007). As evidências experimentais sugerem que no sono de ondas

lentas ocorre uma reativação endógena dos circuitos neurais previamente utilizados

na vigília, promovendo incremento na força sináptica e assim aumentando o

contraste entre o que será lembrado ou esquecido (Ribeiro & Nicolelis, 2004). Por

outro lado, alguns autores defendem que o sono de ondas lentas serve

primariamente para promover o down-scale generalizado da força das sinapses

acumulada durante a atividade da vigília (Tononi & Cirelli, 2006).

Estudos filogenéticos demonstram que o sono REM está presente em

mamíferos, aves e crocodilianos, mas parece não ocorrer em outros répteis, anfíbios

e peixes (Ribeiro & Nicolelis, 2006; Siegel, 1995). O sono REM se caracteriza por

robusta atonia muscular, elevada atividade cortical comparável à da vigília (estado

de sonolência, presença de ondas na banda Teta) e eventos fisiológicos de ativação

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que emergem de núcleos pontinos, que são transmitidos para o núcleo geniculado

lateral do tálamo e de lá para o córtex occipital (ondas ponto-genículo-ocipitais,

PGO). Tanto o hormônio do estresse cortisol quanto a atividade colinérgica atingem

um mínimo durante o sono de ondas lentas em comparação à vigília, enquanto os

níveis durante o sono REM são similares ou até maiores durante a vigília quando

comparados aos apresentados. O hormônio de crescimento é secretado durante o

sono de ondas lentas. A atividade aminérgica é alta durante a vigília, intermediária

durante o sono de ondas lentas e mínima durante o sono REM (Diekelmann & Born,

2010).

Em roedores, o sono REM que se segue à aquisição de novas memórias é

concomitante com o aumento da transcrição de genes que codificam proteínas

necessárias para a formação de memórias de longo prazo, como arc e zif-268

(Ribeiro et al., 2007; Ribeiro et al., 2002; Ribeiro et al., 1999). Tais genes são

relacionados à plasticidade neural dependente de cálcio (Lonze & Ginty, 2002; Mayr

& Montminy, 2001; Sheng, Thompson, & Greenberg, 1991), e sua ativação dispara o

reforço e remodelamento de conexões sinápticas selecionadas pela experiência na

vigília. A proteína codificada pelo gene arc interage com o citoesqueleto e enzimas

dependentes de cálcio nos dendritos da célula ativada, atuando na remodelagem

sináptica (Donai et al., 2003). A proteína codificada pelo gene zif-268 atua como

fator de transcrição, indiretamente provocando mudanças nos terminais axonais,

aumentando a produção de sinapsinas, por exemplo (Thiel, Schoch, & Petersohn,

1994). A reativação do gene zif-268 durante o sono REM se propaga do hipocampo

para o córtex cerebral à medida que se sucedem episódios de sono REM, sugerindo

que no sono ocorre o progressivo desengajamento hipocampal na codificação de

memórias de longo prazo (Ribeiro & Nicolelis, 2004).

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O sono, assim, pode ser identificado como um estado que otimiza a

consolidação de novas informações, promovendo alterações tanto quantitativas

quanto qualitativas nas representações mnemônicas [revisões em (Diekelmann &

Born, 2010; Rasch & Born, 2013)]. As alterações mnemônicas promovidas pelo

sono, segundo as hipóteses que discutiremos a seguir, estariam relacionadas tanto

com o passado quanto com o futuro do indivíduo.

A hipótese do “encéfalo prospectivo” (prospective brain) considera que uma

das funções cruciais do encéfalo é usar informação armazenada para imaginar,

simular e predizer possíveis eventos futuros (Botzung, Denkova, & Manning, 2008;

Schacter, Addis, & Buckner, 2007), maximizando o sucesso adaptativo do indivíduo.

Com base nessa hipótese, podemos sugerir que o sono em humanos desempenhe

uma função preditiva de eventos futuros. Corroborando esta hipótese, evidências

indicam que a consolidação de memórias durante o sono em humanos é dirigida por

fatores motivacionais e fortalece especificamente as memórias relevantes para

nossos objetivos e comportamentos futuros (van Dongen, Thielen, Takashima,

Barth, & Fernández, 2012; Wilhelm et al., 2011). Além disso, resultados sugerem

que o sono aumenta a possibilidade de um objetivo importante do cotidiano ser

espontaneamente lembrado e executado pelo indivíduo (Scullin & McDaniel, 2010).

Outra evidência importante que justifica esta nossa hipótese foi a

demonstração de que o insight pode ser altamente facilitado pelo sono (Wagner,

Gais, Haider, Verleger, & Born, 2004). Há inúmeros exemplos de associação entre

insight e sono na ciência e na arte, tais como a descoberta da estrutura circular do

benzeno por Kekulé, a descoberta da tabela periódica por Mendeleev e a inspiração

de uma miríade de artistas, como o movimento surrealista protagonizado por Dali

entre outros (Barrett, 2001; Mazzarello, 2000). Tais relatos anedóticos foram

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estudados em laboratório utilizando um protocolo com sono diurno (cochilo) e o

Teste de Associações Remotas. Os resultados demonstraram que, em comparação

com repouso na vigília e sono NREM, o sono REM melhorou a formação de redes

associativas e a integração entre informações dissociadas para a resolução criativa

de problemas (Cai, Mednick, Harrison, Kanady, & Mednick, 2009).

Desse modo, umas das funções do ciclo sono e vigília é modular, regular e

preparar processos cognitivos e emocionais do encéfalo. Uma experiência

emocional geraria uma memória codificada em um contexto com alto teor

adrenérgico. Através de múltiplas interações no sono, principalmente na fase de

sono REM, haveria simultaneamente o fortalecimento daquela memória (saliência) e

a progressiva liberação de sua carga autonômica (esquecimento emocional)

(Walker, 2009). O sono, assim, seria fundamental para o processamento emocional

e adaptação às situações de estresse (Suchecki, Tiba, & Machado, 2012; van der

Helm & Walker, 2009).

Segundo a lei de Yerkes-Dodson, a performance em geral depende da

ativação psicobiológica (arousal) seguindo uma curva em U invertido (Teigen, 1994;

Yerkes & Dodson, 1908), sendo que uma quantidade excessiva de ativação

psicobiológica (incluindo atenção e estresse) passa a prejudicar a performance. O

sono, nesse caso, teria um papel fundamental de regular a ativação (arousal) frente

um estímulo ou tarefa para um nível adequado (máximo desempenho). Utilizando

imageamento funcional, foi demonstrado que uma noite de sono alterou as

estruturas neurais usadas para a evocação de memórias emocionais, em

comparação ao período da vigília. Durante a evocação correta de objetos com

conteúdo emocional negativo, o sono levou a uma mudança de ativação de uma

rede neural mais difusa (incluindo atividade generalizada nos córtices pré-frontal

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lateral e parietal) para uma rede mais refinada (incluindo a amígdala e o córtex pré-

frontal ventromedial), com conexões mais fortes entre áreas límbicas (Payne &

Kensinger, 2010). Portanto, a modulação da rede mnemônica pelo sono é ampla e

incluiria até o esquecimento (Saletin, Goldstein, & Walker, 2011).

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Neurobiologia dos sonhos

O relato subjetivo ainda é a principal forma de acesso aos sonhos (Domhoff,

2003; Windt, 2013), pois a decodificação de sonhos a partir dos sinais neurais ainda

é incipiente (Horikawa, Tamaki, Miyawaki, & Kamitani, 2013). Considera-se que a

grande maioria dos sonhos é esquecida (i.e., o conteúdo onírico não está acessível

para a consciência da vigília). Lembrar-se de um sonho depende de vários aspectos,

sendo principalmente: recência (tempo decorrido desde o sonho), tom emocional do

sonho (conteúdos intensos tendem a ser mais lembrados), e importância individual e

cultural dada aos sonhos (atenção cognitiva) (Beaulieu-Prévost & Zadra, 2007;

Morewedge & Norton, 2009; Blagrove & Pace-Schott, 2010; Scott & Ribeiro, 2010). A

ansiedade (e o estresse em geral) altera a arquitetura normal do sono, prejudicando

a qualidade e duração: diminui quantidade de sono profundo, inibe sono REM,

aumenta insônia e quantidade de despertares durante a noite. Baixa qualidade do

sono, frequência de despertares noturnos e diagnóstico de insônia estão

relacionados com maior recordação onírica (Schredl, Wittmann, Ciric, & Götz, 2003).

Ao mesmo tempo, observa-se maior incidência de sonhos desagradáveis e

pesadelos relacionados às situações de ansiedade e estresse (Levin & Nielsen,

2007). Além disso, de modo geral mulheres reportam mais sonhos do que homens,

tendência observada ainda na infância (Schredl & Reinhard, 2008) e que parece se

acentuar em situações de estresse agudo (Erlacher, Ehrlenspiel, & Schredl, 2011).

Sonhos são característicos por seus aspectos perceptuais (principalmente

visual e auditivo), movimento e conteúdo emocional, e são normalmente

organizados em forma de narrativa com percepção de tempo e causalidade similares

à da experiência da vigília, porém não idênticas (incluindo pessoas, lugares, objetos

e animais) (Domhoff, 2003). Sonhos são frequentemente bizarros, marcados por

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incongruências, descontinuidades e instabilidade de tempo, espaço e personagens.

Mesmo assim são tomados como reais pelo sonhador durante a experiência onírica

(M. J. Fosse, Fosse, Hobson, & Stickgold, 2003; Nir & Tononi, 2010; Pace-Schott,

2013). Uma análise da consciência onírica sugere uma diminuiçao importante da

função executiva relacionada a nossa capacidade de tomar decisões (R. Fosse &

William, 2007; Rechtschaffen, 1978), principalmente em função da redução de

atividade do córtex pré-frontal durante o sono REM (Koechlin, Ody, & Kouneiher,

2003; Muzur, Pace-Schott, & Hobson, 2002), com excessao do sonho lúcido (Van

Eeden, 1913; Laberge et al., 1981; Brylowski, Levitan & LaBerge, 1989; Holzinger et

al., 2006; Mota-Rolim & Araujo, 2013; Voss et al., 2009, 2014). Já a prevalência de

conteúdo emocional intenso pode estar relacionada com a mobilização do sistema

dopaminérgico mesolímbico durante o sono REM (Perogamvros & Schwartz, 2012).

Uma pesquisa pela internet realizada com a população brasileira demonstrou que os

participantes se lembravam de um sonho aproximadamente uma vez por semana

(76%), e os sonhos continham ação (93%), pessoas conhecidas (92%), sons e

vozes (78%), e imagens coloridas (76%). O conteúdo onírico foi associado com

planos para os dias seguintes (37%), memórias do dia anterior (13%), ou não

relacionadas ao sonhador (30%). Pesadelos normalmente incluem ansiedade e

medo (65%), ser perseguido (48%), e outras sensações desagradáveis (47%) (Mota-

Rolim et al., 2013).

Historicamente, sonhar é um fenômeno correlacionado principalmente com o

sono REM. O avanço na investigação do sono REM através das técnicas de

neuroimagem (Dang-Vu et al., 2005; Maquet et al., 2005) e contribuições

neuropsicológicas de pacientes com danos neurológicos (Schwartz, Dang-Vu, Ponz,

Duhoux, & Maquet, 2005) permitem compreender de que forma a atividade cerebral

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durante o sono REM determina as características oníricas. Durante o sono REM,

observa-se um predomínio de ativação da ponte, tálamo, córtex temporo-ocipital

(relacionado à percepção visual), córtex motor (percepção motora) e regiões

límbicas/para-límbicas (incluindo amígdala, formação hipocampal e córtex cingulado

anterior, refletindo na prevalência das emoções) (Dang-Vu et al., 2005; Maquet et

al., 2000). O sono REM é também acompanhado de uma relativa inibição dos

córtices pré-frontal dorsolateral (falta de estabilidade de orientação, declínio da

vontade, crença ilusória de estar acordado, amnésia ao acordar, fragmentação da

memória episódica, pensamento linear) e parietal inferior (perda da distinção entre

perspectiva em primeira ou terceira pessoa, reduzida sensibilidade à saliência de um

estímulo externo). Há evidências, entretanto, de que o sonhar possui mecanismos

específicos distintos dos mecanismos subjacentes ao sono REM, sendo inadequado

confundi-los (Solms, 2000, 2013). Sonhar requer a junção temporo-parieto-ociptal, e,

conforme vermos adiante, se relaciona com a chamada default mode network.

A associação entre o sono REM e o fenômeno onírico não é absoluta. Relatos

mentais obtidos durante o estágio N1 são frequentes (80-90%), mas curtos,

normalmente experiências vívidas, sem movimento, similares a ‘flashes’, que não

incluem o sonhador (também chamados sonhos hipnagógicos) e que podem ser

influenciados por algumas tarefas executadas antes do sono, especialmente

videogames (Stickgold, Malia, Maguire, Roddenberry, & O’Connor, 2000).

Despertares nas fases N2 e N3 (sono Não REM, ou NREM) geram relatos 50-70%

das vezes, mas com grande variabilidade individual entre os sujeitos e

especialmente ao longo da noite: na primeira metade da noite, em que a fase N3 é

prevalente, os relatos são poucos, e (em comparação com relatos do REM)

normalmente curtos, similares a pensamentos, menos vívidos e visuais e mais

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conceituais e plausíveis, com menor atividade motora e conteúdo emocional, e mais

relacionados a preocupações atuais, sob grande controle volitivo. Na segunda

metade da noite, os relatos obtidos no sono NREM são mais longos e mais

alucinatórios (mais incongruentes e com mais elementos fantásticos), a ponto de

10–30% de todos os relatos de sono NREM serem indistinguíveis dos obtidos no

sono REM por qualquer critério utilizado. Considerando que o sono NREM equivale

a 75% do total do tempo de sono, podemos considerar que os sonhos dessa fase

respondem por uma parcela significativa dos sonhos típicos (Cicogna & Occhionero,

2013; Nir & Tononi, 2010).

De fato, a atividade onírica sofre grande modulação de oscilações

cronobiológicas, incluindo uma oscilação ultradiana de 90 minutos, um ritmo

ultradiano de 12 horas, a oscilação circadiana e um ritmo circatrigintano de 28 dias

para mulheres (Nielsen, 2004; Wamsley, Hirota, Tucker, Smith, & Antrobus, 2007). A

privação de sono REM através de um protocolo de 20 minutos de sono seguido de

40 minutos de vigília forçada durante três dias sugeriu que as manifestações

polisonográficas do sono REM não são necessárias para a experiência onírica, mas

que os mecanismos dirigindo o sono REM alteram os sonhos durante o sono NREM.

Uma ativação subcortical similar ao sono REM pode acontecer durante o sono

NREM em humanos quando o sono REM é mais provável de acontecer (Suzuki et

al., 2004). Também foi demonstrado que a supressão parcial ou total do sono REM

utilizando o antidepressivo clomipramina (81%, alcance 39-98%) em 11 indivíduos

saudáveis não afetou nenhum aspecto dos relatos dos sonhos (tamanho,

complexidade, bizarrice, tom emocional, autopercepção e mentalização tipo

raciocínio), sugerindo que a geração de atividade mental durante o sono é

independente do estágio do sono (Oudiette et al., 2012). É possível que os

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marcadores atualmente utilizados como parâmetros para o estagiamento do sono

seja insuficientes para considerar, por exemplo, a possível ocorrência de sono REM

‘encoberto’ durante o início do sono (sleep onset) (Nielsen et al., 2005).

Um provável substrato neural dos sonhos é a chamada “default mode

network” (DMN - rede neural em modo padrão) (Domhoff & Fox, 2015; Pace-Schott,

2013; Domhoff, 2011; Nir & Tononi, 2010; Wamsley & Stickgold, 2010). A DMN inclui

partes do lobo temporal medial, córtex pré-frontal medial, córtex cingulado posterior,

além do córtex parietal medial, lateral e inferior. As regiões da DMN, na ausência de

atenção exteroceptiva ou foco mental, suportam preocupações autodirecionadas,

com a consciência imergindo na própria vida interna (devaneio) ou imaginando a

vida interna de terceiros (Teoria da Mente), além de simular cenários futuros ou

recriar eventos do passado a partir de material mnemônico episódico, autobiográfico

e semântico (Schacter et al., 2012; Schacter et al., 2007). Foi demonstrado ainda

que o devaneio mental facilita a incubação criativa para resolução de problemas (ao

contrário de pensamentos diretos com a tarefa) (Baird et al., 2012). A DMN como

importante atividade endógena do sistema nervoso contraria o paradigma mais

utilizado por grande parte dos pesquisadores, restrito a condição Estímulo-Resposta,

reorientando as pesquisas para um novo paradigma em que grande parte da

atividade cortical seria do ‘encéfalo para o encéfalo’ (Northoff, Qin, & Nakao, 2010),

em uma noção similar aos conceitos psicanalíticos de inconsciente e psicodinâmica

(Northoff, 2012).

Análises de evidências de neuroimagem funcional e relatos subjetivos

demonstram uma grande similaridade entre a atividade onírica e o devaneio mental

que pode ocorrer na vigília (daydream), sendo que os sonhos aparentemente são

caracterizados por uma redução ainda maior da atividade das regiões do córtex pré-

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frontal envolvidos em controle cognitivo e metacognição (Fox, Nijeboer,

Solomonova, Domhoff, & Christoff, 2013). Sonhar é mais relacionado com

imaginação do que com percepção, como demonstram estudos neuropsicológicos:

sonhar requer a junção temporo-parieto-ociptal intacta e se relaciona principalmente

com a habilidade visio-espacial (Foulkes, 1982; Solms, 2000; Nir & Tononi, 2010).

Função onírica

Por muito tempo a hipótese vigente sobre os sonhos, da ativação-síntese,

considerava que o conteúdo onírico é produzido pela ativação cortical aleatória

durante o sono REM, um mero subproduto de processos neurofisiológicos sem

correlato mental de interesse cognitivo (Hobson, Hoffman, Helfand, & Kostner, 1987;

Hobson & McCarley, 1977). Outros autores consideram que a função onírica seria

um derivado psicológico construído através de mecanismos de imaginação cultural,

podendo ser útil para a vida mental, bem-estar e identidade, mas sem servir

diretamente a uma função biológica ou psicológica (Flanagan, 1995).

Tais hipóteses foram criticadas por problemas com alguns aspectos dos

sonhos, como a seletividade onírica para alguns tipos de experiências em detrimento

de outras (ler e escrever, por exemplo, raramente aparecem em sonhos) (Schredl &

Erlacher, 2008), a prevalência de emoções, e principalmente os pesadelos

recorrentes que caracterizam a Síndrome do Estresse Pós-Traumático. Esse

conjunto de evidências levou à formulação da Teoria da Simulação de Ameaça

(TSA), que postula que a consciência onírica foi selecionada por seu valor

adaptativo como mecanismo biológico de defesa, relevante por sua capacidade de

repetidamente simular eventos ameaçadores (Revonsuo, 2000). A TSA pode ser

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considerada a primeira abordagem evolutiva da função onírica. Em uma recente

revisão (Hobson, 2009), o principal defensor da teoria da ativação-síntese propõe

uma nova teoria em que o sono REM pode constituir um estado de protoconsciência,

provendo um modelo de realidade virtual do mundo que é de uso funcional para o

desenvolvimento e manutenção da consciência da vigília. Essa nova hipótese

(Hobson, Hong, & Friston, 2014), como veremos a seguir, muito se aproxima da

nossa hipótese de trabalho, além de indiretamente resgatar algumas hipóteses

psicanalíticas.

Mamíferos no ambiente natural devem apresentar um repertório limitado de

sonhos, restrito a evitar predação, mapas espaciais relativos a alimentação,

reprodução e alguns outros comportamentos espécie-específicos de alto valor

adaptativo. A principal função dessas simulações seria testar novos comportamentos

contra uma réplica mnemônica do mundo, levando a um aprendizado sem riscos, o

que justificaria a prevalência de sono REM mais em jovens do que adultos, e

relacionaria o sonhar com o brincar (Cheyne, 2000), também característico de

jovens aves e mamíferos. Humanos em situações de riscos físicos e psicológicos

reais, segundo a teoria da simulação de ameaça, deveriam aumentar a ativação de

tal sistema, o que resultaria no aumento da frequência e severidade de eventos

ameaçadores em sonhos. Segundo a TSA, o pesadelo seria o sonho prototípico e

ancestral.

Os achados da TSA ainda são contraditórios: comparando sonhos de

crianças curdas (traumatizadas) e finlandesas (controle), Valli e colaboradores

(2005) obtiveram resultados favoráveis a TSA: maior frequência de pesadelos e

ameaças nos sonhos das crianças curdas que viveram riscos reais. Por outro lado,

a prevalência de pesadelos em indivíduos vivendo em regiões com altos índices de

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criminalidade na África do Sul foi comparável à prevalência de pesadelos em

habitantes de uma área bem mais segura, no País de Gales (Malcolm-Smith, Solms,

Turnbull, & Tredoux, 2008b). Diferenças no método experimental parecem ser

determinantes para a discrepância desses resultados (Revonsuo & Valli, 2008),

havendo debate principalmente em torno da definição clara do que é uma “ameaça”

(Malcolm-Smith, Solms, Turnbull, & Tredoux, 2008a). Podemos considerar, ainda,

que os sonhos seria importantes pela capacidade de gerar simulações em geral,

mas não necessariamente ou exclusivamente ameaças.

A hipótese da TSA, assim, torna-se passível de generalizações mais

abrangentes e completas (Ribeiro & Nicolelis, 2006). Podemos considerar que a

função dos sonhos é adequar e moldar as memórias adquiridas na vigília, em um

processo cíclico de criação, seleção e generalização de conjecturas sobre a

realidade, influenciando as ações na vigília do dia seguinte para maximizar o

sucesso adaptativo. Assim, a mistura e recombinação de traços significativos de

memória, na forma de narrativa onírica, principalmente durante o sono REM

prolongado, promoveriam uma flexibilidade cognitiva altamente adaptativa em

ambientes sujeitos a alterações drásticas, como a Terra após o cataclismo que

marca o fim do período Cretáceo e a grande irradiação de mamíferos (Kavanau,

1997; Vellekoop et al., 2014). Tal simulador biológico probabilístico poderia explicar

a crença generalizada em diversas culturas ao longo da história no potencial

premonitório dos sonhos (Morewedge & Norton, 2009; Scott & Ribeiro, 2010;

Shulman & Stroumsa, 1999).

Similar à essa proposta, a hipótese atual de Hobson e colaboradores (2014),

de que o encéfalo é dotado de um gerador inato de realidade virtual, que através da

plasticidade dependente da experiência se torna um gerador ou modelo preditor do

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mundo, também se assemelha à noção das representações que constituiriam o

inconsciente freudiano. Essa hipótese neurobiológica atual considera ainda que

sonhar tem um papel essencial em manter e aprimorar a capacidade do modelo,

minimizando a complexibilidade do modelo e assim maximizando a eficiência

estatística e termodinâmica, através da diminuição na atividade do córtex frontal e

suspenção temporária das restrições top-down em níveis mais baixos de

representações ou crenças que competem por ‘recursos sinápticos’. O conteúdo

onírico corresponderia às expectativas ou crenças codificadas por atividade neuronal

endógena, que tanto causa quanto é causada por mudanças na conectividade

sináptica. Apesar das diferenças na terminologia e constructos teóricos, tal

explicação se assemelha muito à teoria psicanalítica de que o sonho seria uma

tentativa do ego (eu) de atender uma demanda oriunda do id inconsciente

(representações nos níveis mais baixos que competem por recursos), que encontra

representação no conteúdo onírico a partir do rebaixamento parcial das funções do

ego (atividade frontal, funções executivas) e principalmente do rebaixamento do

papel inibitório (censor) do superego (no caso, inibição top-down). Em outra revisão

neurobiológica recente (Perogamvros, Dang-Vu, Desseilles, & Schwartz, 2013), é

sugerido que o sono e o sonhar, através da ativação de circuitos

emocionais/motivacionais, podem oferecer o substrato neurocomportamental para o

reprocessamento off-line de emoções, aprendizagem associativa, e comportamentos

exploratórios, resultando em melhor organização mnemônica, regulação da emoção

da vigília, habilidades sociais e criatividade.

Sonhos, assim, ocorreriam nos mamíferos em geral e teriam um importante

papel para o indivíduo que sonha. Mas quais outras características dos sonhos

seriam típicos ou mais desenvolvidos nos seres humanos?

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Haveria na espécie humana, além da resposta fisiológica e comportamental

ao estresse caracterizado pelo padrão luta ou fuga (“fight-or-flight”), uma resposta

comportamental padrão ‘cuidar e ajudar’ (“tend-and-befriend”) característica pela

busca de proteção e cuidado (para si e prole) e criação e manutenção da rede

social. Esse segundo padrão de resposta ao estresse seria mediado pelo hormônio

oxitocina e pelas vias opióides e dopaminérgicas (Geary & Flinn, 2002; Taylor, 2006;

Taylor et al., 2000; Turton & Campbell, 2005). Nesse contexto, sonhos teriam uma

função primária para o indivíduo, relacionada com aprendizado, otimização da

resposta de luta ou fuga e direcionamento do comportamento (filogeneticamente

relacionado aos mamíferos), e uma função social secundária, mas fundamental para

a coesão dos grupos humanos, possivelmente baseada na resposta secundária ao

estresse de ‘cuidar e ajudar’.

A partilha de relatos de sonhos é uma prática comum e importante entre

grupos de caçadores e coletores (Wax, 2004) e dados sugerem que mesmo na

sociedade moderna ocidental faz parte das interações sociais do cotidiano, apesar

do propósito ser outro: primariamente entretenimento, e não religioso. Partilhar

relatos de sonhos dependeria da intimidade e da natureza da relação social,

promovendo interações tanto privadas (entre indivíduos) quanto públicas (por todo

um grupo) (Vann & Alperstein, 2000). Sonhos estariam na fronteira entre o indivíduo

(experiência subjetiva) e seu grupo social, uma vez que, apesar de ser um fenômeno

da consciência individual, são retirados da cultura e circunstâncias sociais, e são

publicamente expressos em formas socialmente interpretáveis (Graham, 1994). Um

aspecto da cultura humana que parece único a nossa espécie seria a capacidade de

contar histórias (story-telling), que envolve a evolução da fantasia e sua relação com

mitos e ‘histórias de origem’ das religiões, e que, portanto, seria um importante

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mecanismo de coesão social dos grupos (L. Barrett, Dunbar, & Lycett, 2002). Pace-

Schott (2013) propõe que o sonhar seria um instinto de contar histórias (narrativa).

Os sonhos teriam um papel fundamental na organização da imaginação e no

desenvolvimento da linguagem, símbolos culturais e religiosos. Ainda não é claro,

contuto, se e como tais importantes funções oníricas tem relação com o fato da

evolução humana ter sido moldada por interações gene-cultura (Laland, Odling-

Smee, & Myles, 2010).

Quais são as evidências da função adaptativa dos sonhos? Existe uma clara

continuidade entra a vida da vigília e a atividade onírica, sendo demonstrado que

diferenças individuais na quantidade de tempo gasto em determinada tarefa durante

a vigília (experiência) são refletidos proporcionalmente no conteúdo onírico (Schredl

& Hofmann, 2003). A atividade onírica é influenciada também por preocupações

emocionais da vigília: no caso de indivíduos passando por separações conjugais, o

grau de preocupação na vigília com o ex-cônjuge se correlaciona significativamente

com o número de sonhos em que o antigo parceiro aparece como um personagem.

Importante para nossa hipótese de trabalho, sonhar com o antigo parceiro contribuiu

para a recuperação do luto emocional relacionado à perda (remissão) (Cartwright,

Agargun, Kirkby, & Friedman, 2006). Tal preocupação não precisa ser explícita ou

consciente: solicitar que se suprima pensamentos sobre uma determinada pessoa

alvo enquanto descreve a atividade mental 5 minutos antes de dormir aumentou

mais a quantidade de sonhos com determinada pessoa do que em comparação a

pensar livremente nessa pessoa ou apenas escrever livremente depois de

mencioná-la. Tal retorno do reprimido ativamente pela consciência aconteceu

independente do grau de atração emocional pela pessoa alvo (Wegner, Wenzlaff, &

Kozak, 2004). Outro importante conjunto de evidências do papel adaptativo dos

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sonhos vem dos relatos obtidos de mulheres grávidas ou no pós-parto. As mulheres

em ambas condições relataram a presença da criança em sonhos e pesadelos,

sendo que os sonhos daquelas no pós-parto exibiram mais ansiedade e situações

com o infante em perigo (Nielsen & Paquette, 2007).

O presente estudo é motivado pela necessidade de investigar tais hipóteses

e possivelmente esclarecer algumas das características dos sonhos e sua relação

com o desempenho da vigília em humanos. A tese é composta de dois

experimentos: O primeiro utilizou o processo seletivo para admissão no ensino

superior (provas do vestibular da UFRN) como evento significativo da vigília; o

segundo, em laboratório, utilizou como tarefa um jogo de videogame entre dois

participantes competindo entre si com papéis e objetivos diferentes (predação e

forrageio).

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Objetivos

Objetivo geral:

Neste trabalho, buscamos investigar cientificamente a relação dos sonhos

antecipatórios com desempenho cognitivo, afeto e comportamento da vigília

realizando dois experimentos distintos, descritos a seguir.

Objetivos específicos:

Experimento 1:

Analisar a influência de sonhos relacionados ao processo seletivo

(vestibular) no desempenho final do candidato.

Avaliar em que contexto ocorreram os sonhos com o vestibular.

Relacionar as características dos sonhos antecipatórios com as provas.

Experimento 2:

Avaliar os efeitos de um estímulo complexo (jogo) na atividade mental

durante o cochilo (sonho) e sua relação com o desempenho posterior

na tarefa.

Analisar os efeitos dos estímulos dos diferentes papéis no jogo

(predação e forrageio) na atividade mental e no desempenho.

Verificar as alterações eletrofisiológicas (EEG, ECG e EMG)

relacionadas à tarefa e aos diferentes papéis.

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Investigar a relação de padrões dos registros eletrofisiológicos e do

desempenho no treino com a ocorrência dos sonhos relacionados com

a tarefa, e se estes têm alguma influência no desempenho;

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Hipóteses e predições

Experimento 1:

Hipótese 1: Sonhos antecipatórios relacionados com o evento futuro maximizam o

sucesso adaptativo do indivíduo.

Predição 1.1: Esperamos encontrar uma correlação positiva entre o sonhar

com as provas e o desempenho nas mesmas, com melhor rendimento na

performance para o grupo que sonhou com a prova (Sonho Sim) do que o que não

(Sonho Não).

Hipótese 2: A ocorrência de um sonho antecipatório com um evento futuro depende

da mobilização psicobiológica do indivíduo.

Predição 2.1: A ocorrência do sonho com a prova se relacionará com maior

medo e apreensão (Q2Medo), além de alterações mais profundas no cotidiano

(Q4Cotidiano), nos padrões de humor (Q5Humor) e de sono (Q6Sono) do candidato

(índices mais elevados para o grupo Sonho Sim).

Hipótese 3: Características específicas dos sonhos relacionados as provas, como

intensidade sensorial e emocional, resultam em diferenças no desempenho.

Predição 3.1: Esperamos encontrar melhor desempenho para sonhos com

menor ativação psicobiológica (vividez, intensidade emocional)

Hipótese 4: As frequências com que os sonhos são lembrados e reportados, em

situações de estresse agudo, são influenciadas pelo sexo.

Predição 4.1: Maior proporção de participantes do sexo feminino reportando

um sonho.

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Experimento 2:

Hipótese 5: Sonhos têm uma função primária para o indivíduo, relacionada com

aprendizado, otimização da resposta de luta ou fuga e direcionamento do

comportamento.

Predição 5.1: Correlação positiva entre conteúdo mental associado ao jogo

durante o sono (sonho) e ganhos no desempenho na tarefa;

Hipótese 6: Os diferentes papéis assumidos pelos jogadores (Grupo Caçadores -

predação e Grupo Presas - forrageio) estimularão os participantes de maneira

diferencial.

Predição 6.1: Maiores alterações de padrões eletrofisiológicos (durante a

tarefa e no cochilo) para o grupo Presa.

Predição 6.2: Diferenças nos registros eletrofisiológicos entre os participantes

que sonharam com o jogo e os que não;

Hipótese 7: O sono favorece o aprendizado, influenciando diretamente o

desempenho em uma tarefa.

Predição 7.1: Correlação positiva entre quantidade de sono (NREM e REM) e

ganhos no desempenho;

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Experimento 1 – O vestibular

1.1 - Introdução

Vestibular como evento significativo

Existem muitos relatos anedóticos do conteúdo onírico sendo modulado pela

expectativa de eventos futuros, tanto agradáveis (como uma viagem longa ou evento

social) quanto desagradáveis (provas e compromissos profissionais). Por exemplo, é

relativamente comum que um atleta de futebol declare em uma entrevista ter

sonhado com uma jogada, antes de uma partida importante. Um estudo realizado na

Alemanha, com 840 atletas de diversas modalidades esportivas, demonstrou que

15% deles tiveram sonhos aflitivos antes de uma competição ou jogo importante nos

12 meses anteriores, número similar ao que reportou pelo menos um sonho do tipo

em sua carreira esportiva (Erlacher et al., 2011). De fato, os sonhos refletem a

preocupação emocional relacionada ao evento (Cartwright et al., 2006). Para um

atleta profissional, o desempenho em um evento esportivo importante é fundamental

para seu sucesso adaptativo a curto e longo prazos, impactando diretamente tanto

seu status social quanto seu acesso a recursos e até a viabilidade de sua carreira.

Assim, com o intuito de investigarmos quantitativamente uma situação

ecologicamente crucial no contexto da vida humana contemporânea, buscamos um

evento emocionalmente significativo que envolve um amplo número de indivíduos

em um contexto altamente desafiador: o exame de admissão para a universidade,

chamado no Brasil de exame vestibular. Trata-se de uma prova de importância

capital na vida dos jovens brasileiros, pois define seu acesso ao sistema

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universitário público e gratuito, avaliando toda sua carreira acadêmica num único

evento seletivo de forma a definir seu futuro a curto e longo prazo. Considerando

que a pressão seletiva mais significativa em humanos parece ser de caráter social

(Buss, 2004; Ottoni, 2009), é compreensível que o vestibular desperte elevados

índices de ansiedade nos candidatos (Rodrigues & Pelisoli, 2008).

O vestibular, desse modo, pode ser considerado um rito de passagem

competitivo, porta de ascensão social restrita (tanto pelo status individual da

universidade pretendida quanto pela conquista posterior do diploma de ensino

superior) dependente do rendimento individual num momento específico. Ainda que

concursos públicos, por exemplo, tenham semelhante relevância emocional para o

candidato, é no vestibular que encontramos uma maior homogeneidade entre os

sujeitos (em sua maioria na passagem da adolescência para a vida adulta), além de

grande comoção social em torno do evento (pressão familiar, divulgação ampla nos

meios de comunicação, etc.). Por fim, a escolha do vestibular para avaliar a relação

entre sonho e adaptação à vigília se beneficia do fato de que os resultados do

exame vestibular são independentemente avaliados pela universidade, gerando um

vasto banco de dados de desempenho livre de qualquer viés do experimentador.

Sonhos relacionados com a prova

Em nossos resultados iniciais (Scott, 2009), referentes ao vestibular da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) de 2009, os candidatos que

aceitaram participar do estudo (n = 94) preencheram questionários específicos sobre

a prova e lhes foi solicitado que relatassem um sonho relacionado às provas, caso

algum houvesse ocorrido nos dias que as antecederam. O desempenho final de

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cada candidato no exame vestibular foi fornecido ao pesquisador pela UFRN. Ao

todo 45 participantes relataram que sonharam com a prova. Nossos resultados

mostraram uma correlação positiva entre o desempenho na prova e sonhos

antecipatórios com o evento, tanto na comparação do desempenho nas provas

objetivas e discursivas, quanto na aprovação final. A ocorrência desses sonhos

antecipatórios refletiu uma maior preocupação na vigília (mobilização psicobiológica)

em torno do evento futuro (maiores escores de medo e apreensão, além de maiores

alterações no cotidiano, nos padrões de humor e de sono). Além disso, os dados

sugerem um papel importante dos sonhos na determinação de comportamentos

ecologicamente relevantes da vigília, simulando possíveis cenários de sucesso

(sonhar com aprovação) e fracasso (pesadelos) para maximizar o sucesso

adaptativo do indivíduo. Recentemente, Arnulf e colaboradores (2014) publicaram

resultados semelhantes (utilizando o exame de admissão para a escola de

medicina), concluindo que sonhos com um evento estressante são comuns e que

essa simulação episódica promove um ganho cognitivo.

A influência do sexo do participante nos sonhos e no desempenho

O estudo supracitado (Arnulf et al., 2014) focou apenas na relação dos

sonhos e do desempenho. Porém, o sexo dos participantes demonstrou ser um fator

significativo em diversas análises apresentadas por eles: Com 64,5% dos candidatos

do exame sendo do sexo feminino, foi encontrada uma maior prevalência de sonhos

dentre as mulheres que participaram do estudo (68%, p < 0,05). Já é conhecida a

tendência das mulheres em reportar mais sonhos do que homens (Schredl &

Reinhard, 2008), e que parece se acentuar em situações de estresse agudo

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(Erlacher et al., 2011; Levin & Nielsen, 2007). Outra importante diferença entre os

gêneros é que aparentemente a incorporação tardia de eventos da vigília nos

sonhos, após aproximadamente uma semana (efeito dream-lag), é observada

apenas para o sexo feminino (Blagrove et al., 2011; Nielsen, Kuiken, Alain,

Stenstrom, & Powell, 2004).

Além disso, Arnulf e colaboradores (2014) encontraram uma associação entre

um nível maior de ansiedade e o sexo feminino (diferença entre o nível médio de

ansiedade entre os sexos, mulheres 5,4 ± 2,2 vs. 4,1 ± 2,3 dos homens, p < 0,001).

Finalmente, demonstraram um efeito significativo no desempenho para o Sexo

(médias homens 7,6 ± 3,3, mulheres 7,2 ± 3,1; T = 2,57 e p= 0,009), aparentemente

mais robusto do que o exame aparecer no sonho na noite anterior à prova (médias

sim 8,5 ± 3,1; não 7,8 ± 3; T = −2,48; p = 0,01 ); ou sonhos com a prova durante o

primeiro semestre (médias sim 8,2 ± 3,1; não 7,5 ± 2,9; T = −2,47 e p = 0,01).

Tal diferença do desempenho pode ser explicada pelo modo distinto como os

sexos reagem em situações de estresse como o vestibular, em que há intensa

competição social em um momento específico, dependente do desempenho

individual. Para contextos competitivos, há uma relação entre os hormônios cortisol

e testosterona e o comportamento, que possui características distintas para homens

e mulheres (Bateup, Booth, Shirtcliff, & Granger, 2002). Resultados sugerem que as

possíveis associações entre cortisol e falta de recuperação (repouso adequado) ou

sonolência, e a longo prazo prejuízo a saúde, são distintos para os sexos masculino

e feminino (Eek, Karlson, Garde, Hansen, & Ørbæk, 2012). De modo geral, mulheres

reportam maior medo e são mais propensas a desenvolver transtornos de ansiedade

do que homens. Diferentes processos de socialização entre os gêneros cultivariam e

promoveriam processos relacionados a ansiedade (McLean & Anderson, 2009).

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Considerando o papel atribuído a cada um dos sexos na evolução da espécie

humana, os homens, como caçadores e guerreiros, seriam mais competitivos,

enquanto as mulheres, como coletoras e cuidadoras, expressariam as emoções

básicas com maior intensidade (Geary, 1998).

Considera-se que na espécie humana há, além do padrão característico de

luta-ou-fuga, um segundo padrão de resposta ao estresse chamado ‘cuidar e ajudar’

(“tend-and-befriend”) caracterizado pela busca de proteção e cuidado, e criação e

manutenção da rede social. Esse padrão de resposta tenderia a ser mais expresso

pelo sexo feminino, uma vez que seria mediado pelo hormônio oxitocina e pelas vias

opióides e dopaminérgicas (Geary & Flinn, 2002; Taylor, 2006; Taylor et al., 2000;

Turton & Campbell, 2005). Os sonhos teriam um papel adaptativo relacionado a

resposta primária de luta ou fuga (otimizando o comportamento), mas cuja função

seria distinta (aparentemente secundária) na resposta de cuidar e ajudar

(socialização), e, portanto, não resultaria em melhor desempenho em um contexto

estritamente individual e competitivo como o vestibular.

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1.2 - Metodologia

Sujeitos

Para realizar a coleta de dados, foi estabelecida uma parceria com a

Comissão Permanente do Vestibular (COMPERVE), instituição responsável pela

organização, execução e processamento de dados do exame vestibular anual da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Utilizando o endereço eletrônico que

o candidato fornece na inscrição no processo seletivo, a COMPERVE enviou o

Convite (Anexo A) para a participação na pesquisa, além de hospedar em seu sítio

oficial o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (Anexo B) e os

Questionários (Anexo C).

Nós frisamos, tanto na abordagem inicial (e-mail ou pessoal) quanto no TCLE,

a completa ausência de relação entre a participação na pesquisa e os resultados

finais do processo seletivo. Também fornecemos diversas formas de contato (celular

pessoal e pelo menos 2 endereços de e-mail) para esclarecer dúvidas sobre a

participação.

Foi considerada válida a participação do sujeito que respondeu a todos os

questionários de modo completo e que concordaram em participar da pesquisa,

firmando o TCLE. No caso de respostas incompletas ou equivocadas, entramos

novamente em contato com o candidato para obter tais informações ou esclarecer

quaisquer dúvidas. Especificamente no que concerne ao quesito “Sonho Mais

Recente”, respostas como “não lembro”, “não consigo lembrar de nenhum sonho

agora” ou “não lembro dos meus sonhos” não impediram que o candidato em

questão fosse excluído na amostra, desde que todas as outras informações fossem

adequadamente respondidas.

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Abordamos por correio eletrônico 23.442 dos 27.054 candidatos inscritos para

o exame vestibular 2010. A abordagem via e-mail aconteceu um dia antes das

provas, e novamente após o último dia de prova. Recebemos 269 questionários,

oriundos de candidatos brasileiros residentes em Natal e outras cidades do país,

sendo 255 válidos. Excluimos da amostra os candidatos desclassificados do

processo seletivo e que não possuiam pontuação válida referente ao desempenho

(i.e., pelo menos um dos Argumentos de Classificação). Dos 14 questionários

excluídos da amostra, 9 participantes foram excluídos do processo seletivo por faltar

à prova, 3 por não obter Argumento das Provas Objetivas (não acertaram pelo

menos uma questão de cada disciplina) e 2 porque não foi possível localizar o

candidato no processo seletivo com os dados fornecidos.

Os participantes tinham idade média de 22,03 anos (dp = 7,58) e a maioria é

do sexo feminino (58,43%). Um grande número de participantes concorria a cursos

com alta demanda (relação candidatos/vagas), como Medicina (12,16%) (Tabela 1).

Segundo as regras do processo seletivo, o tamanho da amostra para a maioria das

comparações de interesse foi de n = 255 na parte Objetiva (AO); n = 198 para

Argumento das provas Discursivas (AD) e n = 181 para Argumento Parcial (AP). Ao

considerarmos apenas a Matrícula na UFRN (Aprovação Final), obtivemos na

amostra um índice de aprovados (40,00%) acima do resultado do processo seletivo

como um todo (23,31%) [X² (1, n = 255) = 41,612; p ≤ 0,001.].

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Tabela 1 – Curso Pretendido, Demanda Do Curso No Vestibular UFRN 2010

(Relação Candidatos/Vaga), Número De Participantes Na Amostra (n) e

Porcentagem Dos Participantes Da Amostra (frequência).

Curso Demanda

(candidatos/vaga) n Frequência

138 Música - Instrumento (B) (MT) 0,88 1 0,39%

187 Ecologia (B) (N) 1,18 1 0,39%

163 Engenharia Têxtil (F) (TN) 1,23 1 0,39%

165 Física (B) (MT) 1,26 1 0,39%

173 Química (L) (M) 1,38 1 0,39%

195 Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F) (N) 1,62 3 1,18%

186 Ecologia (B) (MT) 1,73 3 1,18%

152 Ciências e Tecnologia (B) (N) 1,99 7 2,75%

304 Letras – Língua Espanhola e Literatura (L) (N) 2,02 1 0,39%

151 Ciências e Tecnologia (B) (T) 2,11 13 5,10%

170 Matemática (L) (MT) 2,17 1 0,39%

207 Geografia (B) (N)

2,23 1 0,39%

305 Letras – Língua Portuguesa e Literatura (L) (TN) 2,27 2 0,78%

120 Dança (L) (N) 2,43 3 1,18%

185 Ciências Biológicas (L) (N) 2,46 1 0,39%

118 Comunicação Social – Radialismo (B) (N) 2,63 3 1,18%

214 Sistemas de Informação (B) (MT) 2,82 2 0,78%

199 Zootecnia (F) (MT) 2,84 3 1,18%

184 Ciências Biológicas (L) (MT) 2,87 1 0,39%

117 Comunicação Social – Radialismo (B) (T) 3,00 3 1,18%

191 Farmácia (F) (MT) 3,14 3 1,18%

114 Ciências Sociais (L) (N) 3,22 4 1,57%

157 Engenharia de Produção (F) (T) 3,36 2 0,78%

126 Geografia (B) (M) 3,43 1 0,39%

129 Gestão de Políticas Públicas (B) (N) 3,52 2 0,78%

141 Pedagogia (L) (T) 3,54 3 1,18%

111 Artes Visuais (L) (MT) 3,58 3 1,18%

175 Química do Petróleo (B) (MT) 3,58 1 0,39%

113 Ciências Sociais (B) (M)

3,70 2 0,78%

159 Engenharia de Software (B) (MT) 3,70 4 1,57%

210 Pedagogia (L) (M) 3,71 1 0,39%

161 Engenharia Florestal (F) (MT) 3,73 1 0,39%

142 Pedagogia (L) (N) 3,83 3 1,18%

115 Comunicação Social – Jornalismo (B) (T) 3,88 1 0,39%

103 Ciências Contábeis (B) (M) 3,92 1 0,39%

160 Engenharia Elétrica (F) (MTN)

3,97 7 2,75%

158 Engenharia de Produção (F) (N) 3,98 1 0,39%

131 História (L) (M) 4,00 1 0,39%

162 Engenharia Química (F) (MTN) 4,19 8 3,14%

133 Letras - Língua Espanhola e Literatura (L) (N) 4,20 2 0,78%

104 Ciências Contábeis (B) (N) 4,26 4 1,57%

153 Ciências Atuariais (B) (N) 4,33 1 0,39%

130 História (B) (M) 4,36 1 0,39%

Continua

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47

Continuação

Curso Demanda

(candidatos/vaga) n Freq

137 Letras - Língua Portuguesa e Literatura (L) (N) 4,50 2 0,78%

192 Farmácia (F) (N) 4,57 3 1,18%

116 Comunicação Social – Jornalismo (B) (N) 4,58 1 0,39%

194 Fonoaudiologia (F) (MT) 4,58 1 0,39%

101 Administração (B) (M) 4,80 3 1,18%

102 Administração (B) (N) 4,83 7 2,75%

301 Administração (B) (TN) 5,07 2 0,78%

132 História (L) (N) 5,17 3 1,18%

119 Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (B)(N) 6,43 6 2,35%

145 Serviço Social (F) (T) 6,72 1 0,39%

188 Educação Física (L) (MT) 6,90 1 0,39%

197 Nutrição (F) (MT) 6,94 2 0,78%

198 Odontologia (F) (MT) 7,05 5 1,96%

121 Design (B) (MT) 7,28 2 0,78%

135 Letras - Língua Inglesa e Literatura (L) (M) 7,50 1 0,39%

155 Engenharia Civil (F) (MTN)

7,62 8 3,14%

190 Enfermagem (F) (MT) 7,63 4 1,57%

205 Direito (B) (TN) 9,49 4 1,57%

123 Direito (B) (N) 9,57 8 3,14%

182 Biomedicina (B) (N) 9,63 2 0,78%

150 Arquitetura e Urbanismo (F) (MTN) 9,85 4 1,57%

144 Serviço Social (F) (M) 9,89 1 0,39%

193 Fisioterapia (F) (MT) 10,45 7 2,75%

122 Direito (B) (M)

10,97 10 3,92%

143 Psicologia (F) (MT) 16,51 11 4,31%

196 Medicina (F) (MTN) 27,31 31 12,16%

TOTAL

255 100,00%

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Instrumentos

Questionários

Os questionários utilizados compreenderam os seguintes itens:

1) Questionário específico sobre as Provas do vestibular, incluindo coleta de

relato onírico a elas relacionado (caso houvesse) e perguntas sobre diversos

aspectos das mesmas, elaborado para este projeto. As perguntas (respostas em

escala de 1 a 7, sendo 1 “quase nada” e 7 “muito”) abordavam os seguintes temas

relacionados as provas: desafio/dificuldade, medo/apreensão, desejo de ser

aprovado, alterou o cotidiano, alterou o humor, alterou o sono, importância para o

futuro, e crença na aprovação. A seguir, foi perguntado ao participante: “Você se

lembra de algum sonho (ou pesadelo) que você relaciona com a prova (antes de

fazê-la), ainda que vagamente? ” com resposta forçada (Sim ou Não). Caso

respondesse que Sim, era solicitado que este descrevesse o sonho do modo mais

completo possível (e a data que ele ocorreu). Além disso, abordamos sobre os

aspectos do sonho com a prova (respostas em escala de 1 a 7): a Força da relação

entre a prova e sonho (Fraca a Forte); o Tom emocional do sonho (Desagradável a

Agradável); o nível de Ansiedade no sonho (Quase nada a Muito) e a Vividez do

sonho (Quase nada a Muito).

2) Solicitação de relato de um sonho recente qualquer, utilizado como

controle, segundo o “método do Sonho Mais Recente” (Domhoff, 2003).

Por se tratar de um procedimento não-invasivo, os riscos aos participantes

foram mínimos.

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O processo seletivo – exame vestibular UFRN 2010

Segundo o padrão dos anos de 2008 e de 2009, as provas do vestibular

UFRN ocorreram em 3 dias contínuos, ao final do segundo semestre. A abordagem

via e-mail aconteceu um dia antes das provas, e novamente após o último dia de

prova. As provas do vestibular UFRN 2010 ocorreram nos dias 22, 23 e 24 de

novembro de 2009, das 08:10 à 12:40 em salas previamente determinadas pela

COMPERVE (em escolas e campus da universidade).

O exame vestibular da UFRN compreende uma prova objetiva e outra prova

discursiva. A prova objetiva composta por 20 questões de Português e mais 12 para

cada uma das outras disciplinas (Química, Biologia, Física, Matemática, Língua

Estrangeira – Espanhol ou Inglês, Geografia e História; totalizando 104 questões).

“As questões objetivas dão ênfase à leitura e à compreensão do objeto do

conhecimento da disciplina e da área do conhecimento. As questões discursivas

procuram avaliar a capacidade do candidato aplicar o conhecimento da disciplina (e

da área) e expressar esse conhecimento em uma linguagem adequada (Resolução

de problemas)” (Comperve 2010 p.77). No 1° dia de provas ocorreu a aplicação das

provas objetivas de Química, Biologia, Física, Matemática e Língua Estrangeira. No

2° dia as provas objetivas de Português / Literatura Brasileira, História e Geografia,

além da Redação (prova discursiva). No 3° dia aconteceram as provas discursivas

de três disciplinas, que variavam em função da área de conhecimento do curso

pretendido (Humanística I ou II, Tecnológica I ou II e Biomédica).

Todas as provas objetivas foram corrigidas pela COMPERVE, enquanto que

no caso da prova discursiva apenas foram corrigidos os exames de candidatos que

acertaram pelo menos uma questão para cada disciplina na prova objetiva e

pertenciam ao grupo correspondente a, no máximo, (2,5+0,2di) vezes o total de

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vagas oferecidas para o curso i (di é a demanda do curso i). Um Escore Padronizado

(EP) foi calculado pela COMPERVE para cada prova, atribuindo 500 pontos à média

de cada prova na área e 100 pontos ao desvio-padrão. Os Argumentos das Provas

Objetivas (AO) e das Provas Discursivas (AD) foram calculados pela média

aritmética dos escores padronizados das provas correspondentes. Caso o candidato

obtivesse um AD mínimo de 450 pontos, era calculado um Argumento Parcial (AP) a

partir da média de AO (peso 2) e AD (peso 3). Por fim, este AP foi somado ao

Argumento de Inclusão (aplicado somente no caso de candidatos oriundos da rede

pública de ensino) para obter o Argumento de Classificação (AC).

Protocolo

O primeiro contato via correio-eletrônico ocorreu dia 22/11/2009 (primeiro dia

de provas), e o convite foi enviado novamente no dia 25/11/2009 (após o fim da

participação do candidato no processo seletivo). Os questionários foram recebidos

até o dia 02/12/2009.

Os resultados finais de cada sujeito foram acessados pelo pesquisador

através do Extrato de Desempenho (disponível on-line na página da Comperve). As

respostas do Questionário foram comparadas com o desempenho no vestibular.

Desenho Experimental

Dia

1 Provas Objetivas

1° Convite

Dia

2 Provas Objetivas e Discursivas

Dia

3 Provas Discursivas

2° Convite

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51

Análises

Variáveis de desempenho:

Os argumentos obtidos no resultado final dos candidatos ao processo

seletivo: Argumento da Prova Objetiva (AO), Argumento das provas Discursivas

(AD) e o Argumento Parcial (AP) foram utilizadas como variáveis do desempenho

nas provas; bem como sucesso no pleito (Aprovação ou Reprovação).

Variáveis individuais:

Para controlar possíveis variáveis individuais no desempenho no processo

seletivo e nas respostas, consideramos: sexo, idade e demanda do curso

pretendido. A partir das respostas do candidato no Questionário sobre o vestibular,

consideramos as variáveis (escala de 1 a 7, sendo 1 “quase nada” e 7 “muito):

desafio/dificuldade (Q1Desafio), medo/apreensão (Q2Medo), desejo de ser

aprovado (Q3Desejo), alterou o cotidiano (Q4Cotidiano), alterou o humor

(Q5Humor), alterou o sono (Q6Sono), importância para o futuro (Q7 Futuro) e

crença na aprovação (Q8Aprovação). Consideramos também a soma total das

questões Q1 a Q7 (Quest ProvaTotal).

Além disso, as respostas do questionário (escala ordinal) foram

transformadas em categorias nominais com 3 grupos (categóricas, CAT) (Baixa =

1 e 2; Média= 3 a 5; Alta= 6 e 7) para cada uma das questões.

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Variáveis de sonhos

A partir da resposta à pergunta “Você se lembra de algum sonho (ou

pesadelo) que você relaciona com a prova (antes de fazê-la), ainda que

vagamente?”, do Questionário 1, formaram-se, segundo a data em que o sonho

ocorreu: variável ‘Sonho Antecipatório com a Prova: Sim ou Não (independente da

data do sonho); e Sonho Véspera com a Prova: Sim ou Não (sonho ocorrido entre

21/11 a 24/11, vésperas das provas).

A partir do questionário 2, a variável Sonho Mais Recente: sim (reportou um

relato de sonho qualquer) ou não (não se lembra de nenhum sonho, ou de outro

sonho além do vestibular).

Por fim, a variável Sonho Véspera (sim ou não), considerou o relato de

qualquer sonho (antecipatórios com a prova e sonhos mais recentes) ocorridos entre

os dias 22/11/09 a 24/11/09.

Para validar aspectos do sonho, utilizamos as respostas do Questionário 1

(escala de 1 a 7): Força da Relação entre a prova e sonho (Fraca a Forte); o Tom

emocional do sonho (Desagradável a Agradável); o nível de Ansiedade no sonho

(Quase nada a Muito) e a Vividez do sonho (Quase nada a Muito).

As respostas do questionário sobre o sonho (escala 1 a 7) também foram

transformadas em categorias nominais com 3 grupos (categóricas, CAT), sendo:

(Baixa = 1 e 2), (Média= 3 a 5) e (Alta= 6 e 7) para ‘Relação sonho com Prova’,

‘Ansiedade no Sonho’, e ‘Vividez no Sonho. Para o ‘Tom emocional do Sonho’, os

grupos foram: (Pesadelo = 1 e 2); (Neutro= 3 a 5) e (Agradável= 6 e 7).

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53

Análises estatísticas

Para as comparações entre grupos (Sexo, Sonho Antecipatório com a Prova,

Sonho Véspera com a prova, Sonho mais Recente e Sonho Véspera) utilizamos os

testes não-paramétricos: Chi-quadrado (X²) para variáveis qualitativas e testes de

Mann Whitney para variáveis quantitativas.

Utilizamos as variáveis de desempenho nas provas (AO, AD e AP) para

análises univariadas:

Correlações de Spearman para variáveis contínuas (idade) e ordinais

(desafio/dificuldade, medo/apreensão, desejo de ser aprovado, alterou

o cotidiano, alterou o humor, alterou o sono, importância para o futuro;

crença na aprovação; soma total das questões Q1 a Q7, Relação entre

a prova e sonho; o Tom emocional do sonho; Ansiedade no sonho e a

Vividez do sonho)

Para variáveis nominais, Testes de Mann-Whitney (Sexo, Sonho

Antecipatório com a Prova, Sonho Véspera com a prova, Sonho mais

Recente e Sonho Véspera) e testes de Kruskal-Wallis com testes de

Mann-Whitney com correção de Bonferroni (Q1DesafioCAT,

Q2MedoCAT, Q3DesejoCAT, Q4CotidianoCAT, Q5HumorCAT,

Q6SonoCAT, Q7 FuturoCAT, ‘Relação sonho Prova CAT’, ‘Ansiedade

no SonhoCAT’, ‘Vividez no SonhoCAT e ‘Tom emocional do

SonhoCAT’).

Todas as comparações estatísticas foram feitas utilizando o software IBM

SPSS Statistics 21 (para Windows 32bit). Conforme padrão do programa,

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54

calculamos a significância pelo método exato quando os recursos computacionais

disponíveis permitiram. Caso contrário, o valor foi calculado pelo método assintótico.

Consideramos o nível de significância estatística ( α ) para p ≤ 0,05 nas

comparações de interesse. Especificamente para os testes de correlação de

Spearman, consideramos p ≤ 0,01.

1.3 - Resultados

UFRN 2010

Sonhos e desempenho

Não encontramos diferenças significativas no desempenho médio dos

argumentos das provas entre aqueles que reportaram ou não tanto qualquer Sonho

antecipatório com a prova (Sonho Antecipatório com a Prova) quanto um sonho com

a prova ocorrido na véspera das mesmas (Sonho Véspera com a Prova). Apenas

sonhar na véspera da prova, independente da relação do conteúdo onírico com o

vestibular (Sonho Véspera) ou apenas reportar um sonho (Sonho mais Recente)

também não exibiu diferença significativa no desempenho no processo seletivo

(Tabela 2). Também não encontramos diferenças significativas na quantidade de

aprovados e sonhos (sim ou não) dentre as variáveis Sonho Antecipatório com a

Prova, Sonho Véspera com a Prova, Sonho Véspera e Sonho mais Recente (Tabela

3).

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55

Tabela 2- Análise Das Variáveis Relacionadas Aos Sonhos e o Desempenho No Vestibular.

Testes de Mann-Whitney. Não foram encontradas diferenças significativas.

Sonho Antecipatório com a Prova n

% de sujeitos Rank médio

Mann-Whitney U

Wilcoxon W

Z p

Argumento das Provas Objetivas

Não 142 55,7 131,05 7590 14031 -,740 0,460

Sim 113 44,3 124,17

total 255 100,0

Argumento das

Provas Discursivas

Não 114 57,6 99,70 4765 8335 -,058 0,955

Sim 84 42,4 99,23

total 198 100,0

Argumento Parcial

Não 103 56,9 92,36 3877 6958 -,401 0,690

Sim 78 43,1 89,21

total 181 100,0 Sonho Véspera

com a Prova n % de sujeitos Rank médio

Mann-Whitney U

Wilcoxon W Z p

Argumento das Provas Objetivas

Não 204 80,0 125,79 4750 25660 -,958 0,339

Sim 51 20,0 136,85

total 255 100,0

Argumento das

Provas Discursivas

Não 161 81,3 98,61 2834 15875 -,458 0,648

Sim 37 18,7 103,39

total 198 100,0

Argumento Parcial

Não 147 81,2 89,59 2292 13170 -,752 0,455

Sim 34 18,8 97,09

total 181 100,0

Sonho Véspera n

% de sujeitos Rank médio

Mann-Whitney U

Wilcoxon W Z p

Argumento das Provas Objetivas

Não 173 67,8 125,65 6686 21737 -,739 0,461

Sim 82 32,2 132,96

total 255 100,0

Argumento das

Provas Discursivas

Não 139 70,2 97,28 3792 13522 -,835 0,405

Sim 59 29,8 104,72

total 198 100,0

Argumento Parcial

Não 126 69,6 89,01 3214 11215 -,774 0,440

Sim 55 30,4 95,56

total 181 100,0 Sonho Mais

Recente n % de sujeitos Rank médio

Mann-Whitney U

Wilcoxon W Z p

Argumento das Provas Objetivas

Não 53 20,8 136,89 4882 25385 -,986 0,326

Sim 202 79,2 125,67

total 255 100,0

Argumento das

Provas Discursivas

Não 47 23,7 100,37 3507,5 14983,5 -,120 0,906

Sim 151 76,3 99,23

total 198 100,0

Argumento Parcial

Não 43 23,8 93,62 2854,5 12445,5 -,375 0,709

Sim 138 76,2 90,18

total 181 100,0

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56

Tabela 3 – Quantidade De Aprovados No Vestibular e Ocorrência de Sonhos: Frequência Observada,

Frequência Esperada, Valor de X² e p (testes qui-quadrado). n = 255, gl=1.

Variável

Sonho

X² p

Sim Não

f obs f esp f obs f esp

Sonho Antecipatório com a Prova 45 45,2 57 56,8 0,003 1

Sonho Véspera com a Prova 19 20,4 83 81,6 0,2 0,389

Sonho Véspera 31 32,8 71 69,2 0,243 0,682

Sonho Mais Recente 76 80,8 26 21,2 2,287 0,156

Encontramos para os sujeitos que reportaram um Sonho Antecipatório com a

Prova (grupo Sim) correlações positivas entre alterações no Cotidiano em função

das provas e o Argumento das Provas Objetivas (Correlação Rho de Spearman, r

(113) = ,27; p = 0,004) (Figura 1A) e o Argumento Parcial (Correlação Rho de

Spearman, r (78) = ,325; p = 0,004) (Figura 1B).

Não encontramos correlações significativas para nenhum grupo (Sim e Não)

considerando Sonho Véspera com a Prova, qualquer Sonho na Véspera ou reportar

um Sonho Mais Recente.

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Figura 1 – Correlação entre Alterações do Cotidiano e o Argumento das Provas apenas para os

sujeitos que reportaram um Sonho Antecipatório com a Prova (Grupo Sim). Figura 1A - Argumento

das provas Objetivas (Correlação Rho de Spearman, r (113) = ,27; p = 0,004). Figura 1B - Argumento

Parcial (Correlação Rho de Spearman, r (78) = ,325; p = 0,004).

A comparação do desempenho e as respostas do questionário em categorias

nominais (Baixa, Média e Alta) utilizando testes de Kruskal Wallis encontrou

1A

1B

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58

diferenças significativas apenas para participantes do grupo Sim da variável Sonho

Antecipatório com a Prova.

Há uma diferença significativa entre o Desafio/dificuldade atribuídos às

provas e o Argumento Parcial [X² (2, n = 78) = 8,158, p = 0,017]. Testes de Mann-

Whitney demonstraram que o desempenho foi maior para desafio/dificuldade Alta

(Mdn = 578,34) do que Média (Mdn = 528,16) U = 363; p = 0,01. (Figura 2).

Além disso, encontramos uma diferença significativa entre alterações do

Cotidiano e o Argumento das Provas Objetivas [X² (2, n = 113) = 9,14; p = 0,01].

Testes de Mann-Whitney demonstraram que o desempenho foi maior para alteração

do cotidiano Alta (Mdn = 550,17) do que Média (Mdn = 487,19) U = 696 p = 0,006.

Encontramos também uma diferença significativa entre alterações do Cotidiano e o

Argumento Parcial [X² (2, n=78)= 8,963; p = ,011]. Testes de Mann-Whitney

demonstraram que o desempenho foi maior para alteração do cotidiano Alta (Mdn =

550,12) do que Baixa (Mdn = 528,48) U = 166 p = 0,014.

Não foram encontradas diferenças significativas para nenhum grupo (Sim e

Não) considerando Sonho Véspera com a Prova, Sonho na Véspera ou reportar um

Sonho Mais Recente.

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Figura 2 – Desempenho do Argumento Parcial (AP) por respostas da Q1Desafio agrupadas

(Desafio\dificuldade agrupado – Baixo: 1 e 2; Médio: 3 a 5; e Alto: 6 e 7) para grupo Sim do Sonho

Antecipatório com as Provas. Teste de Kruskal-Wallis [X² (2, n = 78) = 8,158, p = 0,017]. Resultados

significativos dos Testes de Mann-Whitney: Alta vs Média U = 363; p = 0,01. (n Baixo=6; n Médio=48;

n Alto=24).

Contexto da ocorrência do sonho antecipatório com o vestibular

Realizamos uma comparação das respostas do Questionário sobre o

vestibular, idade e demanda candidatos/vaga do curso (variáveis individuais) em

função do Sonho Antecipatório com a Prova e Sonho Véspera com a Prova

(variáveis de sonhos) utilizando testes de Mann-Whitney.

Para Sonho Antecipatório com a Prova, encontramos diferenças significativas

entre as respostas dos participantes que declararam lembrar de um sonho

relacionado com o vestibular (Sim n = 113) e os que não (Não n = 142).

Especificamente, a presença do sonho antecipatório (grupo Sim) se relacionou com

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maiores escores de Medo e Apreensão ( U = 5991 p < 0,001 ; Sim Mdn = 5 ; Não

Mdn = 3); maiores alterações no Cotidiano ( U = 5948 p < 0,001 ; Sim Mdn = 6 ;

Não Mdn = 4) no Humor ( U = 6607,5 p = 0,014 ; Sim Mdn = 5 ; Não Mdn = 3) e no

padrão de Sono ( U = 5898,5 p < 0,001 ; Sim Mdn = 5 ; Não Mdn = 3) em função do

vestibular; além de maior escore Total no Questionário ( U = 5948 p < 0,001 ; Sim

Mdn = 37 ; Não Mdn = 33). (Figura 3).

Para Sonho Véspera com a Prova, encontramos diferenças significativas

entre as respostas dos participantes que declararam lembrar de um sonho

relacionado com o vestibular (Sim n = 51) e os que não (Não n = 204), (Figura 4).

Sujeitos que declararam sonhar com relação ao vestibular durante a época das

provas (grupo Sim) apresentaram maiores alterações no Cotidiano ( U = 4286,5 p =

0,049 ; Sim Mdn = 6 ; Não Mdn = 5), no Humor ( U = 4162,5 p = 0,025 ; Sim Mdn = 5

; Não Mdn = 4) e no padrão de Sono ( U = 3953,5 p = 0,007 ; Sim Mdn = 5 ; Não

Mdn = 4) em função do vestibular; além de maior escore Total no Questionário ( U =

4205 p = 0,034 ; Sim Mdn = 36 ; Não Mdn = 34).

Para as demais comparações, não foram encontradas diferenças

significativas.

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61

Figura 3 – Respostas do Questionário sobre o vestibular para Sonho Antecipatorio com a Prova ( n

Não = 142; n Sim = 113; n Total = 255). Medo e Apreensão, Alterar o Cotidiano, Alterar o Humor,

Alterar o Sono e o Escore Total no questionário apresentaram resultados significativos nos Testes de

Mann-Whitney: Medo e Apreensão ( U = 5991 p < 0,001); Cotidiano ( U = 5948 p < 0,001), Humor (

U = 6607,5 p = 0,014 ), Sono ( U = 5898,5 p < 0,001) e escore Total no Questionário ( U = 5948 p <

0,001).

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Figura 4 – Respostas do Questionário sobre o vestibular para Sonho Véspera com a Prova ( n Não =

204; n Sim = 51; n Total = 255). Alterar o Cotidiano, Alterar o Humor, Alterar o Sono e o Escore Total

no questionário apresentaram resultados significativos nos Testes de Mann-Whitney: Cotidiano ( U =

4286,5 p = 0,049 ), Humor ( U = 4162,5 p = 0,025) Sono ( U = 3953,5 p = 0,007 ) e Total no

Questionário ( U = 4205 p = 0,034 ).

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Características específicas dos sonhos relacionados com as provas

A figura 5 ilustra que os participantes que relataram lembrar-se de um sonho

relacionado ao vestibular: Sonho Antecipatório com a Prova (n = 113), Sonho

Véspera com a Prova (n = 51), segundo uma análise descritiva das respostas do

questionário sobre o sonho, em sua maioria julgou que a relação do sonho com o

vestibular, a ansiedade no sonho e a vividez do sonho eram altas; além dos sonhos

mais neutros serem menos reportados que pesadelos ou sonhos agradáveis.

Relação Sonho-Prova Ansiedade Vividez Tom Emocional

Figura 5 – Características dos sonhos com as Provas. Gráficos exibem a Porcentagem relativa das

diferentes categorias: (Baixa, Média e Alta) para a Relação do Sonho com a prova, a Ansiedade no

Sonho e a Vividez do Sonho e: (Pesadelo, Neutro e Agradável) para o tom emocional do sonho.

Figura 5A - Sonho Antecipatório com a Prova (n = 113). Figura 5B - Sonho Véspera com a Prova (n =

51).

5A

5B

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Realizamos comparações entre as variáveis categóricas das características

dos sonhos com as provas e as variáveis quantitativas de desempenho (AO, AD e

AP) utilizando testes de Kruskal Wallis. Encontramos diferenças significativas

apenas entre a Ansiedade no Sonho Antecipatório com a Prova e o desempenho

das provas Objetivas [X² (2, n = 113) = 11,542; p = 0,003]. Testes de Mann-Whitney

demonstraram que o desempenho foi maior para ansiedade no sonho Baixa (Mdn =

596,41) do que Média (Mdn = 517,56) U = 69 p = 0,001. (Figura 6). Encontramos

também uma diferença significativa entre alterações Ansiedade no Sonho

Antecipatório e o Argumento Parcial [X² (2, n = 78) = 6,137; p = 0,046]. Testes de

Mann-Whitney demonstraram que o desempenho foi maior para Ansiedade no

Sonho Antecipatório Baixa (Mdn = 592,78) do que Média (Mdn = 507,28) U = 36 p =

0,013.

Figura 6 – Desempenho no Argumento das provas Objetivas (AO) por categoria de respostas da

Ansiedade no Sonho Antecipatório com a Prova (Baixo: 1 e 2; Médio: 3 a 5; e Alto: 6 e 7). Teste de

Kruskal-Wallis [X² (2, n = 113) = 11,542; p = 0,003]. Resultados significativos dos Testes de Mann-

Whitney: Baixa vs Média U = 69 p = 0,001. (n Baixo=12; n Médio=31; n Alto=70).

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Influência do sexo do participante na atividade onírica

Comparamos a distribuição de homens e mulheres entre as diferentes

variáveis de sonhos. Observarmos uma diferença significativa na distribuição do

sexo dos participantes entre os grupos Sim e Não do Sonho Antecipatório com a

Prova. Poucos participantes do sexo Masculino lembraram de um sonho

antecipatório relacionado ao vestibular [X² (1, n = 255) = 5,267; p = 0,029]. (Tabela

4)

Tabela 4 – Quantidade De Participantes, Em Função Dos Sexo, Que Reportaram Um Sonho

Antecipatório com a Prova: Frequência Observada Na Amostra, Frequência Esperada, Valor de X² e

p (testes qui-quadrado). n Sim = 113; n Não = 142; n Masculino = 106; n Feminino = 149; n Total =

255, gl=1.

Sexo

Sonho Antecipatório com a Prova

X² p Sim Não

f obs f esp f obs f esp

Masculino 38 47,0 68 59,0 5,267 0,029

Feminino 75 66,0 74 83,0

Realizamos uma comparação das respostas do Questionário sobre o

vestibular, idade e demanda candidatos/vaga do curso (variáveis individuais) em

função do Sexo dos participantes utilizando testes de Mann-Whitney.

Encontramos diferenças significativas entre as respostas dos participantes

homens (Masculino n = 106) e mulheres (Feminino n = 149). Participantes do sexo

Feminino reportaram escores mais elevados de Medo e Apreensão ( U = 5775 p <

0,001 ; Masculino Mdn = 5 ; Feminino Mdn = 3); maiores alterações no Humor ( U =

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66

6246,5 p = 0,004 ; Masculino Mdn = 3 ; Feminino Mdn = 4); além de maior escore

Total no Questionário ( U = 6032 p = 0,001 ; Masculino Mdn = 33 ; Feminino Mdn =

36).

As comparações das variáveis de desempenho no processo seletivo (AO, AD

e AP) por Sexo do participante, utilizando testes de Mann-Whitney, demonstrou que

os participantes do sexo Masculino da amostra obtiveram melhor desempenho no

processo seletivo em todos os Argumentos utilizados: Argumento das provas

Objetivas (U = 6084,5 p = 0, 002 ; Masculino Mdn = 575,93 ; Feminino Mdn = 535,82;

n Masculino = 106; n Feminino = 149; n total = 255); Argumento das provas

Discursivas (U = 3878 p = 0, 015 ; Masculino Mdn = 577,49 ; Feminino Mdn = 523,03

; n Masculino = 89; n Feminino = 109; n Total = 198) e Argumento Parcial (U =

2920,5 p = 0,015 ; Masculino Mdn = 578,43 ; Feminino Mdn = 528,33 ; n Masculino =

81; n Feminino = 100; n Total = 181). Porém, testes de Qui-quadrado demostraram

que essas diferenças no desempenho não resultaram em diferença significativa em

relação a Aprovação final no vestibular.

A seguir, correlacionamos o desempenho (Argumentos das Provas Objetivas,

Argumento das Provas Discursivas e Argumento Parcial) e as respostas do

questionário sobre o vestibular considerando o Sonho Antecipatório com a prova

(Sim e Não), utilizando correlações de Spearman separadamente em função do

Sexo do participante (Masculino e Feminino). Não foram encontradas correlações

significativas para o grupo que não reportou um sonho (Sonho Não), independente

do sexo.

Já para o grupo que sonhou (Sonho Antecipatório com a Prova: Sim),

encontramos somente para o sexo Masculino uma correlação positiva entre

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alterações no Cotidiano (Q4Cotidiano) o desempenho no Argumento das provas

Objetivas (AO), (Figura 7). Maiores alterações no cotidiano de homens que

sonharam com o vestibular se correlaciou com notas mais altas (Correlação Rho de

Spearman, r (38) = ,524; p = 0,001).

Figura 7 – Correlação entre Alterações do Cotidiano e o Argumento das Provas Objetivas apenas

para os sujeitos do sexo Masculino que reportaram um Sonho Antecipatório com a Prova (Grupo Sim)

(Correlação Rho de Spearman, r (38) = 0,524; p = 0,001).

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1.4 – Discussão

Não encontramos diferenças significativas nas variáveis de desempenho em

função da atividade onírica, relacionada ou não com a prova (Tabelas 2 e 3). Os

sujeitos que reportaram um Sonho Antecipatório com a Prova (grupo Sim) exibiram

uma correlação entre maiores notas e maiores alterações no cotidiano em função do

vestibular (Figura 1). Além disso, participantes que sonharam (Sonho Antecipatório

com a Prova Sim) apresentaram melhor desempenho (Argumento Parcial) quando

julgaram o desafio e a dificuldade das provas como Alta do que como Média (Figura

2).

Em discordância com nossa hipótese e resultados anteriores (Arnulf et al.,

2014; Scott, 2009) não foram encontradas diferenças significativas no desempenho

de quem reportou sonhos relacionados com o vestibular e de quem não. Um

resultado que parece favorecer nossa hipótese é que maiores alterações do

cotidiano se correlacionaram positivamente com o desempenho para o grupo que

declarou sonho antecipatório, efeito não observado no grupo que não sonhou. Além

disso, participantes que julgaram a dificuldade do vestibular como Alta e sonharam

com a prova obtiveram melhor rendimento que aqueles que julgaram como Média,

sugerindo uma relação da função onírica com adaptação a contextos desafiadores.

A ocorrência do Sonho Antecipatório com as Provas se relacionou com

maiores escores de Medo e Apreensão; maiores alterações no Cotidiano; no Humor

e no padrão de Sono em função do vestibular; além de maior escore Total no

Questionário (Figura 3). A ocorrência de um sonho relacionado ao vestibular nos

dias das provas (Sonho Véspera com a Prova) se relacionou com maiores

alterações no Cotidiano; no Humor e no padrão de Sono em função do vestibular;

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69

além de maior escore Total no Questionário (Figura 4). Conforme nossas predições,

nossos resultados sugerem que a ocorrência de um sonho antecipatório parece

depender da mobilização psicobiológica em torno do evento futuro. Já é conhecida a

relação do conteúdo onírico com atividades da vigília (Schredl & Hofmann, 2003) e

preocupações emocionais da vigília (Cartwright et al., 2006).

O Sonho Antecipatório com a Prova e Sonho Véspera com a Prova foram

avaliados como tendo alta relação do sonho com o vestibular, alta ansiedade no

sonho e alta vividez do sonho; além dos sonhos mais neutros serem menos

reportados que pesadelos ou sonhos agradáveis (Figura 5). Encontramos melhor

desempenho nas provas quando a Ansiedade no Sonho Antecipatório com a Prova

foi Baixo (ilustrado na Figura 6). Possivelmente esses achados representam a queda

de desempenho prevista pela curva de U invertido da lei de Yerkes-Dodson (Teigen,

1994; Yerkes & Dodson, 1908); que considera que quantidade excessiva de ativação

psicobiológica (incluindo atenção e estresse) prejudica a performance.

Observarmos uma baixa proporção de participantes do sexo masculino no

grupo que declarou um Sonho Antecipatório com a Prova (Tabela 4). Participantes

do sexo Feminino, por sua vez, reportaram escores mais elevados de Medo e

Apreensão; maiores alterações no Humor e maior escore Total no Questionário. Os

participantes do sexo Masculino da amostra são mais velhos e apresentaram melhor

desempenho no processo seletivo em todos os Argumentos utilizados. Finalmente, a

Figura 7 mostra que homens que sonharam com a prova (Sonho Antecipatório com

a Prova: Sim) exibiram uma correlação de maiores alterações no cotidiano com

maiores notas no vestibular.

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Dentre os que declararam se lembrar de algum sonho relacionado ao

vestibular, encontramos com uma diferença significativa na distribuição por gênero:

poucos participantes do sexo Masculino no grupo Sonho Sim. A metodologia

utilizada no experimento (questionário) se refere muito mais a capacidade de

recordar um sonho relacionado ao vestibular do que da ocorrência da experiência

onírica per se. A diferença entre a presença dos sexos no grupo Sim pode ser

explicado pelo fato de que, de modo geral, mulheres reportam mais sonhos do que

homens, o que parece se acentuar em situações de estresse agudo, como o caso do

vestibular (Erlacher et al., 2011; Levin & Nielsen, 2007; Schredl & Reinhard, 2008).

Além de mais velho, o grupo do sexo Masculino obteve melhor desempenho

no processo seletivo em todos os Argumentos: AO, AD e AP; e apresentou mais

confiança na aprovação. Já participantes do sexo Feminino reportaram escores mais

elevados de Medo e Apreensão; maiores alterações no Humor e maior escore Total

no Questionário. De modo geral, mulheres reportam maior medo e são mais

propensas a desenvolver transtornos de ansiedade do que homens (McLean &

Anderson, 2009). O sexo feminino é a população mais sujeita aos índices elevados

na Escala Beck de Ansiedade relacionados ao vestibular (Rodrigues & Pelisoli,

2008). A ansiedade (e o estresse em geral) altera a arquitetura normal do sono,

prejudicando a qualidade e duração: diminui quantidade de sono profundo, inibe

sono REM, aumenta insônia e quantidade de despertares durante a noite. Se, por

um lado, baixa qualidade do sono, frequência de despertares noturnos e diagnóstico

de insônia estão relacionados com maior recordação onírica (Schredl et al., 2003) é

evidente que tal perturbação prejudicaria o papel do sono no aprendizado (Rasch &

Born, 2013) e consequentemente a performance do indivíduo.

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Por outro lado, homens que sonharam com a prova (Sonho Antecipatório com

a Prova: Sim) exibiram uma correlação de maiores alterações no cotidiano com

maiores notas no vestibular. É possível que os sonhos, nesse caso, reflitam o

processamento mnemônico relacionado ao estudo preparatório representado pelas

alterações do cotidiano em função das provas (mais horas de estudo ou frequentar

um curso pré-vestibular, por exemplo). Homens e mulheres possuem diferentes

reações em contextos competitivos estressantes, como é o vestibular (Bateup et al.,

2002; Eek et al., 2012). Haveria na espécie humana, além da resposta fisiológica e

comportamental ao estresse caracterizado pelo padrão luta ou fuga (“fight-or-flight”),

uma resposta comportamental padrão ‘cuidar e ajudar’ (“tend-and-befriend”)

característica pela busca de proteção e cuidado (para si e prole) e criação e

manutenção da rede social, mediado pelo hormônio oxitocina e pelas vias opióides e

dopaminérgicas, e por isso mesmo tenderia a ser mais expresso

comportamentalmente pelo sexo feminino (Geary & Flinn, 2002; Taylor, 2006; Taylor

et al., 2000; Turton & Campbell, 2005). Ainda não é claro o papel da dos sonhos

segundo esse duplo padrão de respostas. É possível que os sonhos tenham um

papel adaptativo relacionado à resposta primária de luta ou fuga (que otimiza o

comportamento), mas cuja função seria distinta (aparentemente secundária) na

resposta de cuidar e ajudar (socialização), e portanto não resultaria em melhor

desempenho em um contexto estritamente individual e competitivo como o

vestibular.

A influência do padrão de respostas tend-and-befriend no sucesso adaptativo

dos indivíduos, contudo, não deve ser menosprezada. Partilhar o sonho parece ter

um papel importante na manutenção da saúde mental do sonhador, tal como sugere

o amplo uso de relatos oníricos na psicoterapia (Pesant & Zadra, 2004) ou mesmo o

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exemplo de anciões do povo Inuit, que explicam a gravidade da situação social

atual, principalmente as altas taxas de suicídio entre os jovens, parcialmente pelo

desaparecimento do costume de partilhar sonhos (Galinier et al., 2010).

Um trabalho recente (Arnulf et al., 2014) obteve resultados semelhantes ao de

nossa amostra anterior (UFRN 2009), demonstrando melhor desempenho em uma

prova para participantes que sonharam antes com a mesma. O desenho

experimental foi semelhante: participação voluntária para responder um questionário

sobre o exame após convite por correio eletrônico. Porém, existem algumas

importantes diferenças metodológicas que podem influenciar na interpretação dos

resultados. Por exemplo, em função do tipo de processo seletivo utilizado: uma

prova única para admissão nas escolas de saúde para estudantes que já cursavam

a universidade há quase um ano, e que aconteceu em uma única data (e não 3 dias

consecutivos como no presente estudo) e permitiu que apenas o sonho específico

da noite anterior à prova fosse considerado. Além disso, os pesquisadores

controlaram para muitas variáveis individuais (como escolaridade dos pais,

desempenho do histórico escolar, tipo de ensino médio frequentado, nacionalidade,

etc). O grupo amostral (n = 719) foi bem maior do que o deste experimento (n =

255), e incluía mais mulheres e era mais jovem do que o restante dos candidatos do

processo seletivo, do mesmo modo que no nosso resultado inicial [n = 94, (Scott,

2009)]. Os pesquisadores optaram por uma análise do conteúdo do sonho utilizando

a Escala de Ameaças em Sonhos, elaborada para testar especificamente a Teoria

da Simulação de Ameaças (Malcolm-Smith et al., 2008b; Revonsuo, 2000;

Revonsuo & Valli, 2008). No presente estudo preferimos não utilizar escalas do tipo,

que parecem gerar contradições entre os resultados de diversos trabalhos, e apenas

utilizar a relação sonho-prova feita pelo próprio sonhador. As perguntas do

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questionário são diferentes das aqui utilizadas. As análises estatísticas também

divergem: além de utilizar alguns testes paramétricos para análises univariadas (aqui

somente utilizamos testes não-paramétricos), realizaram uma regressão linear

multivariada que incluiu todas as variáveis com valor de p < 0,10 na análise

univariada. Como em nossa amostra as variáveis de sonhos não apresentaram

diferenças significativas, não realizamos a regressão linear. Por outro lado, além do

sonho antecipatório, o estudo dos pesquisadores franceses encontrou relação entre

melhor desempenho no exame e outras variáveis individuais. Entre outras

características (não ser bolsista, ser repetente, e ter recebido honras ao fim do

ensino médio), influenciou positivamente o desempenho ser do sexo masculino e

mais velho, tal como aconteceu em nossos resultados.

A interpretação dos resultados obtidos deve considerar as características

específicas de nosso grupo amostral (n = 255), considerando a participação

voluntária no experimento. Os participantes da pesquisa obtiveram um índice de

aprovação bem superior (40%) ao observado na população total do vestibular UFRN

2010 (23%).

A metodologia do experimento pode ter influenciado o recrutamento amostral:

ao fim das provas objetivas (primeiro e segundo dia), muitos candidatos buscaram

na internet o gabarito provisório para avaliar seu desempenho, e se depararam com

o convite para participar da pesquisa. Isso pode ter influenciado na motivação para

participar da pesquisa, principalmente candidatos que conseguiram bom

desempenho inicial. Além disso, acreditamos que é importante comunicar que

recebemos nove questionários de candidatos que faltaram a prova (e foram

automaticamente desclassificados), sugerindo um possível mecanismo reparatório

(inconsciente) motivando a participação. Associar a participação na pesquisa com

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qualquer benefício no processo seletivo foi considerado o maior risco que o sujeito

do experimento esteve exposto, sendo reiterado em diversos momentos da

abordagem (convite, Termo de Consentimento Livre e esclarecimentos por e-mail ou

telefone) que a pesquisa não tinha qualquer influência no resultado do processo

seletivo.

Finalmente, existem diferenças individuais relacionadas às reações em

situações de estresse agudo (Suchecki et al., 2012; van der Helm & Walker, 2009) e

perturbação no sono e da atividade onírica (Levin & Nielsen, 2007) que não foram

controladas nessa metodologia (por exemplo, Ansiedade traço). Tomando como

exemplo os pesadelos que caracterizam a Transtorno do Estresse Pós-Traumático

(American Psychiatric Association, 2013), é provável que nem todos os sonhos

(principalmente pesadelos, em que há reação fisiológica concomitante) sejam

adaptativos. O presente estudo não controlou adequadamente a diferença entre

sonhos ‘normais’ e ‘patológicos’. De fato, foi a ocorrência desse segundo tipo de

sonho que fez Freud reformular sua hipótese de que todo sonho é uma realização

de um desejo inconsciente (Freud, 1900) para que o sonho é uma tentativa do ego

realizar um desejo inconsciente (Freud, 1940). O pesadelo e os sonhos de angústia

(fracasso do ego) representariam uma falha da função onírica. Já para a TSA

(Revonsuo 2000) a ameaça do vestibular para o sucesso do indivíduo foi detectada,

e gerou pesadelo, mas não necessariamente promoveu uma resposta adaptativa

adequada.

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1.5 – Conclusões

Esse trabalho buscou investigar se sonhos relacionados com um evento

futuro (vestibular) maximizam o sucesso adaptativo do indivíduo. Não foram

encontradas diferenças significativas no desempenho na comparação direta entre

quem sonhou e não sonhou.

No entanto, favorável à hipótese do papel adaptativo dos sonhos,

encontramos apenas para quem sonhou: uma correlação positiva entre alterações

do cotidiano e o desempenho. Observamos também que candidatos que sonharam

com as provas e que julgaram a Dificuldade do vestibular como Alta apresentarem

melhor rendimento do que os que julgaram como dificuldade Média, sugerindo uma

relação do sonho com adaptação a contextos desafiadores.

A ocorrência do sonho com a prova do vestibular esteve associada a maiores

escores de medo e apreensão, e a maiores alterações no cotidiano, no humor e no

sono em função do vestibular, o que favorece nossa hipótese de que a atividade

onírica sofre influência da mobilização psicobiológica em torno de um evento. A

única característica dos sonhos que exibiu diferença no desempenho foi baixo nível

de Ansiedade no Sonho associado com notas mais elevadas.

Consideramos como hipótese que os sonhos seriam modulados pela resposta

fisiológica e comportamental ao estresse caracterizado pelo padrão luta ou fuga

(“fight-or-flight”), e por uma resposta comportamental padrão ‘cuidar e ajudar’ (“tend-

and-befriend”), mais expresso comportamentalmente pelo sexo feminino. Isso

poderia explicar o fato de encontramos uma maior proporção de participantes do

sexo feminino reportando um sonho. Por outro lado, o desempenho no vestibular é

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individual, e portanto não foi possível estabelecer uma diferença significativa entre

os que reportaram um sonho e os que não.

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Experimento 2 – Jogo de videogame

2.1 Introdução

Videogame como tarefa

Nesse segundo estudo, utilizamos um jogo de videogame como estímulo

emocionalmente significativo da vigília. Um estudo anterior (Wamsley, Tucker,

Payne, Benavides, & Stickgold, 2010) utilizou um protocolo semelhante ao do

presente estudo: participantes foram treinados em uma tarefa de navegação

espacial (jogo de videogame de labirinto virtual com visão em primeira pessoa) com

o objetivo de investigar a reexpressão de atividade neural durante o sono

relacionada com o jogo no relato da atividade mental dos participantes. Ganhos no

desempenho durante o Reteste foram fortemente associados com conteúdo mental

da tarefa durante o cochilo diurno no período vespertino. Por outro lado,

pensamentos relacionados com a tarefa durante a vigília, observados em um grupo

controle, sem a intervenção do cochilo, não previu o ganho no desempenho. O jogo

utilizado como tarefa, porém, é restrito a navegação espacial em um labirinto virtual,

graficamente um ambiente fantástico (pouco realista), com baixo envolvimento

emocional do sujeito e baixa demanda visiomotora. Além disso, o protocolo

restringiu a sequência natural do ciclo de sono (acordando o participante quando o

mesmo entrava em sono REM), e obteve registros eletrofisiológicos somente do

sono. O mesmo grupo de pesquisadores demonstrou resultados semelhantes

utilizando como tarefa de aprendizado visiomotor e engajamento emocional um jogo

de videogame estilo Arcade que simula esqui na neve utilizando uma prancha

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móvel. Os participantes treinaram por um período de um ou mais dias, e coletou-se

o relato verbal utilizando um aparelho de monitoramento portátil que despertava os

sujeitos nas fases iniciais do sono (coletados na casa do participante). O

aprendizado da tarefa exerceu um efeito direto nos relatos verbais da mentalização

durante os estágios iniciais do sono (estágios N1 e N2), com quase 30% de todos os

relatos se relacionando ao jogo nas noites após treino. A natureza desse replay

cognitivo era alterada com a duração crescente do sono, se tornando mais abstrata

em relação a experiência original conforme o tempo no sono aumentava (Wamsley,

Perry, Djonlagic, Babkes Reaven, & Stickgold, 2010). Novamente, não foram feitos

registros eletrofisiológicos durante a tarefa e procurou-se apenas os efeitos no sono

NREM. Nenhuma das tarefas utilizando videogames e sonhos buscou investigar

comportamentos complexos ecologicamente mais relevantes para o sucesso

adaptativo, como predação ou forrageio.

Diversos estudos demostram que jogos de ação melhoram aspectos da

percepção e cognição (Colzato, van Leeuwen, van den Wildenberg, & Hommel,

2010; Donohue, Woldorff, & Mitroff, 2010; Green & Bavelier, 2003; Mishra, Zinni,

Bavelier, & Hillyard, 2011; Oei & Patterson, 2014). Em jogadores experientes são

observadas diferenças anatômicas nos gânglios da base [estriado ventral e dorsal

(Erickson et al., 2010)]; uso mais eficiente da rede neural de controle motor,

incluindo os córtices pré-frontal, pré-motor, sensorimotor primário e parietal (Granek,

Gorbet, & Sergio, 2010); além de maior supressão de informação irrelevante

distratora e melhor processo de decisão perceptual (Mishra et al., 2011). Existem

importantes ressalvas metodológicas em relação a tais achados (Boot, Blakely, &

Simons, 2011). Porém, jogadores experientes apresentam estratégias diferenciadas

(modulação top-down), com modelos comportamentais favorecendo a hipótese de

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que jogadores de videogame de ação experientes são mais capazes de formar

modelos, ou de extrair estatísticas relevantes, para a tarefa em questão (Green, Li,

& Bavelier, 2010), por exemplo, fazendo buscas mais minuciosas do que não-

jogadores, levando a um melhor desempenho na detecção de mudanças (Clark,

Fleck, & Mitroff, 2011).

Jogar um jogo de tiro em primeira pessoa por 10 horas provocou alterações

neuroplásticas nos processos neurais que dão suporte à atenção espacial seletiva.

Foram observadas alterações no Potencial Evocado (em inglês evoked related

potentials, ou ERPs) occipital e parieto-occipital em uma tarefa de atenção visual

antes e depois do treino no jogo. As ondas P1 e N1 (relacionadas com

processamento sensorial primário, e caracterizadas por umpico em torno de 100 e

150 ms) foram pouco afetadas, enquanto que as amplitudes das ondas P2 e P3

(picos em 200 e 300 ms respectivamente) aumentaram em indivíduos que exibiram

melhor performance na tarefa. Essas ondas estariam relacionadas ao

processamento top-down de estímulos visuais. Os resultados mostraram, porém,

uma variação individual nos resultados que indica que nem todos os jogadores de

videogame se beneficiam igualmente, tanto do ponto de vista comportamental

quanto em termos de alterações neurais (Wu et al., 2012). Foi demonstrado que

treinar em videogames melhora o controle cognitivo em adultos idosos (Anguera et

al., 2013). Alterações neurais provocadas por videogames como tarefa podem

acontecer mesmo da exposição a curto prazo (uma única partida), sendo que os

participantes de um estudo foram muito mais rápidos mas menos exatos em uma

tarefa depois de jogar um videogame de ação, enquanto foram muito mais lentos,

mas mais exatos, depois de jogarem um videogame de quebra-cabeça (do tipo

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puzzle). O desempenho na tarefa dependeu de rapidez e exatidão (Nelson &

Strachan, 2009).

Em nossa pesquisa, optamos por utilizar um jogo de tiro em primeira pessoa

capaz de evocar reações comportamentais e fisiológicas relacionadas a desafios

adaptativos imediatos, fundamentais para a sobrevivência do indivíduo, tais como

predação (localizar e matar inimigo virtual), o forrageio (localização e coleta de itens

no ambiente), e as reações de luta-fuga frente a inimigos (evitar predação). Apesar

de qualquer jogo de videogame violento estimular pensamentos agressivos, jogar

um jogo com violência mais realista estimula significativamente mais sentimentos

agressivos e a mobilização psicobiológica (ativação) durante a partida (Barlett &

Rodeheffer, 2009). Por outro lado, um estudo de meta-análise não deu suporte à

conclusão de que jogos de videogame violentos levariam a comportamento

agressivo em outras situações além do jogo, sendo associados, contudo, com maior

cognição visuespacial (Ferguson, 2007). Os estímulos auditivos (música e efeitos

sonoros do jogo) são fundamentais para a resposta de estresse induzida pelo

videogame (Hébert, Béland, Dionne-Fournelle, Crête, & Lupien, 2005).

Consideramos que o desempenho na tarefa é equivalente a aprendizado sob

estresse, e portanto seguirá a lei de Yerkes-Dodson (Teigen, 1994; Yerkes &

Dodson, 1908) que considera que quantidade de ativação (incluindo atenção e

estresse) durante as fases iniciais do aprendizado e memorização influencia

diretamente o desempenho, seguindo uma curva em U invertido. Em roedores, há

indicações da existência de diferenças individuais relacionadas com perfis

(equivalentes a personalidade) para desempenho tanto em condições de alto quanto

baixo estresse (Salehi, Cordero, & Sandi, 2010). Desse modo, se a mobilização

psicobiológica em função de um evento (ansiedade e estresse) prepara o indivíduo

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para uma resposta adequada à um momento de ameaça, níveis elevados passam a

ser prejudiciais, chegando, inclusive, a perturbar a atividade onírica (mais

pesadelos), além da qualidade e quantidade de sono (Levin & Nielsen, 2007). Em

roedores, uma única exposição a um protocolo de medo condicionado promoveu

alterações nos ciclos de sono e vigília por um período de 24 horas, aumentando o

tempo em sono NREM, diminuindo o tempo em vigília, e reduzindo potência de

oscilações na banda Teta (4-8 Hz) durante o sono REM (Hellman & Abel, 2007).

Uma revisão dos resultados de estudos com humanos e animais indica que o rebote

de sono (especialmente de sono REM) após uma situação estressante é um

importante comportamento adaptativo de recuperação, mas que em indivíduos que

exibem níveis elevados de ansiedade e comportamento ansioso tal vantagem

endógena parece debilitada (Suchecki et al., 2012). A compreensão dos efeitos do

estresse sobre os mecanismos mnemônicos é fundamental para a prevenção e

tratamento de transtornos mentais de ansiedade e transtornos relacionados a

trauma e estresse, como o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (American

Psychiatric Association, 2013).

Uma maneira de investigar os efeitos do jogo nos participantes seria utilizar a

variabilidade cardíaca (no inglês, heart rate variability, ou HRV) (Billman, 2011, 2013;

Quintana & Heathers, 2014), que como outros elementos dos registros

eletrofisiológicos pode servir como um parâmetro de respostas emocionais (Kreibig,

2010), como medo e ansiedade (Appelhans & Luecken, 2006) e até para intensidade

e emotividade onírica no sono (Chouchou & Desseilles, 2014).

Dois estudos utilizaram registros eletroencefalográficos em uma tarefa

semelhante ao do presente estudo, um jogo de videogame de ação violento (James

Bond 007 Nightfire). No primeiro caso (Salminen & Ravaja, 2008), foram aferidos

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potenciais evocados (ERPs) relacionados a dois eventos violentos do jogo, o

personagem do jogador ferir e matar um personagem oponente com uma arma. As

duas ações elevaram a atividade occipital em Teta (4-6 Hz), além do ferir evocar

maior atividade occipital em Teta Alto (6-8Hz) e o matar assimetria de alfa baixo (8-

10 Hz) nos eletrodos centrais, todos em relação ao nível basal pre-evento (1-s). Tais

resultados foram associados aos processos afetivos relacionados com os eventos

violentos no jogo. O outro estudo com o mesmo jogo (Ravaja, Turpeinen, Saari,

Puttonen, & Keltikangas-Järvinen, 2008) utilizou registros de eletromiografia

funcional (no inglês, fEMG) e potencial galvânico da pele para examinar a valência

emocional e ativação de respostas psicobiológicas associadas a eventos do jogo. Os

resultados demostraram uma resposta de grande ativação negativa (ansiedade)

quando ferindo e matando inimigos, mas um aumento de emoção positiva quando o

próprio personagem do jogador (James Bond) é ferido e morto. Esse resultado,

aparentemente contraditório, indicaria que o jogo de videogame desse tipo é atrativo

para os jogadores porque simula situações de perigo, risco e conflito, mas que não

causam danos reais em caso de fracasso. A emoção positiva no caso da derrota é o

que caracterizaria o videogame como uma brincadeira.

A brincadeira é considerada pela psicologia evolucionista como uma

adaptação ontogenética, sendo diretamente relacionada com a aprendizagem.

Estudos demonstram que houve pressões seletivas para o desenvolvimento de

brincadeiras de luta e de perseguição na espécie humana, associadas a diferentes

funções, especialmente caça, fuga de predadores e luta intra-específica (Bichara,

Lordelo, Carvalho, & Otta, 2009). Os jogos de tiros em primeira pessoa são um

gênero muito popular, possivelmente por explorar basicamente estes elementos. Um

estudo com jogadores muito experientes no gênero sugere que os jogos em primeira

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pessoa influenciam o conteúdo da atividade onírica, diminuindo a frequência e

severidade de eventos ameaçadores nos sonhos (Gackenbach & Kuruvilla, 2008).

Outro estudo comparou os sonhos de 75 homens, sendo 25 soldados do exército

canadense, 25 jogadores severos de jogos de tiro em primeira pessoa com temática

militar, e um grupo controle com 25 indivíduos. Nesse estudo, a atividade onírica foi

diferente para violência e ameaças reais comparadas aos estímulos virtuais do

videogame: os sonhos dos militares apresentaram maiores frequências de agressão

e ameaças, e também foram mais intensos em agressividade e emoção (Dale,

Murkar, Miller, & Black, 2014).

Tudo considerado, o jogo de videogame pode ser utilizado como uma tarefa

adequada para a investigação da relação entre sono, sonhos e aprendizado.

Sono diurno vespertino

O presente estudo utilizou um protocolo que considera o sono diurno

vespertino (cochilo) (Mednick, Nakayama, & Stickgold, 2003). Além de minimizar o

efeito invasivo do experimento nos participantes, evitando transferir uma noite de

sono normal em casa para uma noite de monitoramento no laboratório (o que

perturbaria o cotidiano e repouso adequado), o sono diurno no período da tarde

minimiza a influência circadiana e do cronotipo individual na atividade onírica

(Wamsley et al., 2007).

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Um estudo demonstrou que memórias motoras são dinamicamente facilitadas

durante cochilos diurnos, com ganhos unicamente associados com eventos

eletrofisiológicos expressos localmente em regiões anatomicamente discretas do

encéfalo (Nishida & Walker, 2007). Também foi demonstrado que o cochilo

beneficiou a consolidação de memórias emocionais, com esse efeito

significativamente correlacionado com a quantidade de sono REM e com a

predominância de potência Teta na região pré-frontal direita (Nishida, Pearsall,

Buckner, & Walker, 2009). Outro estudo com sono diurno (somente sono Não-REM)

demostrou do ponto de vista comportamental que participantes que cochilaram

brevemente melhoraram mais em uma tarefa de memória declarativa do que os que

permaneceram acordados, mas que os ganhos no desempenho em uma tarefa de

memória procedural foram os mesmos, independente do sono (Tucker et al., 2006).

Foi demonstrado que o cochilo diurno, logo após uma aula, aumentou a duração de

memórias declarativas de adolescentes dentro no contexto escolar (Lemos,

Weissheimer, & Ribeiro, 2014). Além disso, foi demostrado que o cochilo

potencializa a solução de problemas que envolvem raciocínio lógico (Beijamini,

Pereira, Cini, & Louzada, 2014). Assim, podemos considerar que o sono diurno pode

abrigar o processamento de diversas modalidades de aprendizado que seriam

importantes para o desempenho na tarefa proposta (jogo de tiro em primeira

pessoa): aprendizado motor, aprendizado espacial, aprendizado emocional,

memórias declarativas e resolução criativa de problemas.

Eventos e memórias podem ser incorporados em sonhos, seja através de

uma replicação literal do que aconteceu na vigília, ou, mais frequentemente, essa

incorporação pode ser parcial ou indireta. Em laboratório, é comum que elementos

relacionados ao experimento apareçam nos relatos oníricos (eletrodos,

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pesquisadores, etc.), já que o estímulo da própria situação teria grande saliência

para os voluntários (Domhoff, 2003). Foi encontrado um efeito de incorporação

imediata (resíduos do dia) para sonhos da fase NREM e REM, e um efeito de

incorporação atrasado (dream-lag), após cerca de uma semana, para sonhos da

fase REM em mulheres (Blagrove et al., 2011; Nielsen et al., 2004).

Presas e Predadores

Nossa hipótese considera que os sonhos têm uma possível relação evolutiva

com o prolongamento do sono REM em mamíferos, e a rápida irradiação que

acontece após o cataclismo que marcou o fim do período Cretáceo (Kavanau, 1997;

Vellekoop et al., 2014). Nesse cenário, os primeiros mamíferos teriam acesso muito

limitado a recursos, em um ambiente em que tinham que evitar muitos predadores

em potencial. Ou seja, em certo sentido, todos somos descendentes de ‘presas’, e

essa herança filogenética estaria presente, por exemplo, nas características gerais

de pesadelos persecutórios (Revonsuo, 2000). Por outro lado, grandes mamíferos

tendem a gastar mais tempo em sono REM, sugerindo um importante papel dos

sonhos no comportamento predatório, com uma função similar à brincadeira, de

aprendizado sem riscos (Cheyne, 2000). O comportamento de caça teria um

importante papel na evolução da espécie humana (F. Ribeiro, Bussab, & Otta, 2009),

inclusive contribuindo para muitas das diferenças observadas atualmente entre

homens (caçadores e guerreiros) e mulheres (coletoras e cuidadoras) mesmo na

cultura ocidental moderna (Geary, 1998). Entre grupos de caçadores coletores, o

comportamento predatório em humanos é caracterizado pelo alto número de retorno

zero (o caçador não obtem presa alguma) e grande variação individual entre

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caçadores, com um pico para a maioria dos caçadores em torno dos 40 anos

(McElreath & Koster, 2014). Dessa forma, podemos perguntar: os sonhos também

teriam uma função adaptativa para a predação em seres humanos? Ou teriam uma

segunda função, mediada pela resposta ao estresse de cuidar e ajudar, nesse caso

diminuindo a agressividade e fortalecendo a coordenação de indivíduos intragrupo?

O Experimento 2 foi motivado pela necessidade de se obter uma melhor

caracterização psicológica e eletrofisiológica dos sonhos, e como eles se relacionam

com o desempenho da vigília em comportamentos ecologicamente relevantes para a

sobrevivência imediata do organismo, estimulados por uma tarefa complexa que

envolve aprendizado multimodal (espacial, visiomotor, cognitivo e emocional). A

tarefa é um jogo de videogame que funciona como estímulo complexo,

possivelmente ativando respostas de módulos evolutivos adaptativos que

influenciariam o sono (e sonhos), e posteriormente o desempenho na mesma tarefa.

Assim, o objetivo foi utilizar um jogo de tiro em primeira pessoa que evocasse

reações psicobiológicas (comportamentais e fisiológicas) relacionadas a desafios

adaptativos imediatos, fundamentais para a sobrevivência do indivíduo, como

predação (localizar e matar inimigo virtual), forrageio (localizar e coletar itens no

ambiente), e reações de luta-fuga frente inimigos (evitar predação).

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2. 2 - Metodologia

Sujeitos

Recrutamento:

Os participantes, pessoas de ambos os sexos com idade entre 18 e 40 anos

foram convidados por cartazes na universidade e divulgação nas redes sociais. Os

interessados entraram em contato com o pesquisador por e-mail e/ou telefone, para

esclarecimentos sobre a pesquisa, sendo então informados dos critérios de inclusão

e exclusão. Aqueles interessados aptos a participar preencheram um cadastro

simples (nome, telefone e e-mail para contato, e qual tarde da semana ele estaria

disponível). O pesquisador entrou em contato com os participantes interessados

para agendar o experimento. Cada experimento aconteceu com dois jogadores

(voluntários), pareados por sexo, idade e lateralidade. Nesse contato, já foram

apresentados os principais pontos do Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido

(TCLE, Anexo D) e quaisquer dúvidas foram esclarecidas. Por fim, no dia em

questão, o participante conheceu as instalações em que ocorreram o experimento,

sendo o TCLE novamente explicado em detalhes. O experimento teve início após a

obtenção do TCLE, caso o voluntário concordasse em participar. Assegurou-se o

compromisso de que o experimento não resultaria em nenhuma forma de dano físico

ou psicológico aos participantes.

Critérios de Exclusão:

1. Presença de transtornos afetivos, transtornos do sono, transtornos

ansiosos, quadros psicóticos, epilepsia, acidentes cerebrais isquêmicos

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ou hemorrágicos, doença de Parkinson, síndrome amnésica, quadro de

demência, transtorno cognitivo leve, habilidade motora dos membros

superiores prejudicada, deficiência auditiva ou visual severa.

2. Uso regular de algum medicamento psicotrópico

3. Uso regular de substâncias psicotrópicas ilícitas

4. Uso de álcool 24 horas antes do experimento

Riscos

Por se tratar de um protocolo não-invasivo (EEG), e de jogo de videogame

disponível no mercado, a previsão de riscos foi mínima durante toda a realização

protocolo (jogos e cochilo). O risco do participante foi semelhante ao de se jogar

duas partidas de 45 minutos de videogame do tipo “tiro em primeira pessoa’, e

participar de exames físicos e psicológicos de rotina. No entanto, existia o risco de

desconforto psíquico e reações de estresse em virtude do conteúdo violento e clima

emocional estimulado pelo jogo. Todo o protocolo foi acompanhado pelo doutorando

e psicólogo Rafael Scott, que garantiu a interrupção do protocolo a qualquer

momento e intervenção adequada junto ao participante, sem qualquer ônus.

Havia o risco mínimo do Relato Mental permitir a identificação do participante,

sendo solicitado que o participante omitisse nomes próprios e referências

específicas em seu relato escrito. Caso isso não acontecesse, os pesquisadores

realizaram tal correção durante a digitação do relato escrito. Além disso, havia o

risco de que o conteúdo podia constrangê-lo de alguma forma. Assim, foi ressaltado

ao participante que ele não era obrigatório relatar imagens, pensamentos ou sonhos

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que não desejasse compartilhar por qualquer motivo, sem qualquer prejuízo para a

pesquisa.

Benefícios

Não foram previstos benefícios diretos aos participantes. Alguns trabalhos

demonstram maior cognição visuoespacial após exposição à videogames de ação

(Donohue et al., 2010; Ferguson, 2007; Green & Bavelier, 2003), mas o tempo

médio total de exposição a esse tipo de estímulo considerados para estes estudos

(10 horas) é muito superior ao tempo total na tarefa no presente protocolo (90

minutos). Os participantes foram avaliados por inventários e questionários que

avaliam diversos aspectos do sono. Caso o resultado em algum deles estivesse fora

do padrão normal esperado, o participante recebeu um feedback informando dos

detalhes da avaliação e a importância do sono para a saúde mental e física, sendo

orientado então a procurar uma avaliação clínica adequada. Da mesma forma,

anormalidades percebidas pelo pesquisador nos registros eletrofisiológicos foram

informadas imediatamente ao participante, junto com a orientação para que este

buscasse uma avaliação médica especializada.

Amostra Experimental

De 18 experimentos realizados, consideramos válidos 13, cada um com 2

participantes: um como Presa e outro como Predador (n = 26). Outros 4

experimentos foram inteiramente descartados das análises (n = 8): dois por

protocolo incompleto (registros somente do cochilo ou somente do Treino e Teste);

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um por diferenças na tarefa que impedem uma comparação dos resultados com os

demais (os personagens dos jogadores podiam utilizar granadas); e um com apenas

um participante estrangeiro (dificuldades de comunicação). Um protocolo completo,

mas com apenas um participante no papel de Presa (o Predador já tinha participado

e conhecia o jogo), foi incluído apenas nas análises de ECG e do Sono ( n = 1),

considerando que alguns registros eletrofisiológicos da amostra foram descartados

por problemas.

A amostra (n = 26) é formada majoritariamente por homens (80,8%), com

idade média de 24,7 anos (dp = 3,58). Todos os participantes se declararam destros.

Os participantes dormiram em média 6,6 horas (dp = 1,3) na noite anterior ao

experimento. Apresentaram média de 7,7 (dp = 2,6) na Escala Epworth de

Sonolência e média de 5,4 (dp = 2,7) no Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh

(IQSP). Em relação a videogames, 84,6% são jogadores ativos de jogos de ação

(uma partida nos últimos 6 meses), mesma parcela (84,6%) que declara algum tipo

de experiência prévia com jogos de tiro em primeira pessoa. O interesse declarado

em jogos do tipo da tarefa (tiro em primeira pessoa) é moderado (46,2%) para a

maioria dos participantes, seguido de interesse alto (38,5%) e baixo (15,3%).

O pareamento completo de todas as variáveis individuais entre os

participantes não foi obtido na prática (apresentados na Tabela 5). Não foram

encontradas diferenças significativas entre as variáveis individuais dos grupos

(testes de Mann-Whitney): idade, tempo total de sono na noite anterior, escore total

escala Epworth e escore total no IQSP.

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Tabela 5 – Pareamento Dos Participantes (Presa e Predador) – Diferenças Em Relação Ao

Sexo e Experiência Prévia Com Jogos do Tipo Da Tarefa

Papel no jogo

Variável Presa Predador

n % n %

Sexo Masculino 11 84,6 10 76,9

Feminino 2 15,4 3 23,1

Experiência prévia com jogos de tiro

em primeira pessoa

Não 3 23,1 1 7,7

Sim 10 76,9 12 76,9

Instrumentos

Questionários

Utilizamos os seguintes instrumentos para controlar possíveis variáveis

individuais no desempenho na tarefa e nos registros do cochilo:

1 - Questionário socioeconômico (Anexo E).

2 - Escala de Sonolência de Epworth (Bertolazi, Fagondes, Hoff, Pedro D, &

Barreto, 2009) (Anexo F).

3 - Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (Bertolazi et al., 2011)

(Bertolazi et al., 2011) (Anexo G).

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4 – Questionário Pré Sono – Dia e Noite anterior ao experimento: horário que

se deitou e levantou, tempo que dormiu, se cochilou, e se aconteceu algum evento

recente fora do normal (emocionalmente significativo). Elaborado para esse estudo

(Anexo H).

5 - Questionário sobre Videogames - para aferir experiência prévia e interesse

na tarefa, desenvolvido para esse estudo. (Anexo I).

Para verificar a presença de elementos da tarefa (jogo) durante o cochilo

utilizamos:

1 - Relato da Atividade Mental, no qual os participantes descrevem tudo que

conseguir lembrar (pensamentos, imagens ou sonhos) logo após o cochilo.

Elaborado para este estudo, (Anexo J).

2 - Questionário Pós-Jogo – uma auto avaliação do desempenho na tarefa,

relato subjetivo das estratégias cognitivas adotadas na tarefa, e para avaliar a

relação da Atividade Mental durante o cochilo com o Jogo. Desenvolvido para esse

estudo (Anexo K).

Tarefa comportamental

Para a tarefa comportamental utilizamos o jogo de videogame de ação

F.E.A.R., estilo tiro em primeira pessoa (‘First Person Shooter – FPS’) com

elementos de horror psicológico. O jogo simula combate a partir de uma perspectiva

em primeira pessoa. O corpo todo do protagonista está presente, permitindo que o

jogador veja o tronco e pés de seu personagem ao olhar para baixo, ou as mãos ao

subir uma escada. O áudio do jogo conta com a tecnologia de virtual surround, que

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permite ao jogador identificar a direção do ruído dentro do ambiente tridimensional

do jogo (por exemplo, se os passos estão vindo do aposento do lado direito ou do

andar de cima). A física simulada no jogo é realista, bem como os objetos do

cenário. Por exemplo, armas de fogo convencionais quase sempre são letais em

caso de acerto e objetos reagem aos tiros e outros acontecimentos provocados pelo

jogador. Elementos não-realistas do jogo original (eventos sobrenaturais e poderes

super-humanos do personagem) foram desligados pelos pesquisadores para o

experimento. O jogador explora um ambiente virtual tridimensional interativo,

tentando derrotar inimigos e coletar itens. Utilizamos a primeira versão para PC

(2005). Considerando o grande sucesso de público e crítica, utilizamos na tarefa

apenas ambientes virtuais (mapas) que não estavam disponíveis na versão

comercial do jogo.

As imagens do jogo foram exibidas em uma tela LCD de 32’ adequadamente

posicionada para os participantes (estímulos visuais). Os efeitos sonoros do jogo

foram apresentados aos jogadores através de um par de fones de ouvido estéreo

com protetores auriculares descartáveis (estímulos sonoros). Os jogadores

utilizaram um controlador de jogos do tipo Playstation ligado ao PC para interagir

com os estímulos apresentados. Utilizamos o software FRAPS para gerar um

arquivo de vídeo da partida, com o áudio e imagens do jogo tal como apresentados

ao participante.

Cada sessão de jogo teve a duração de 45 minutos. O jogador podia

acompanhar o tempo através de cronômetro regressivo exibido no jogo. Durante

esse período o jogo era contínuo (sem pausas), com um intervalo de 10 segundos

entre o personagem do jogador morrer e reiniciar novamente em outro ponto

aleatório do cenário. Foram duas sessões: como estímulo (Treino) e como

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aprendizado (Teste). Utilizamos um protocolo de Cochilo (sono diurno), com o

desenho Treino – Cochilo – Teste. Utilizamos o software Cowlog para codificação de

comportamentos a partir de vídeos digitais (Hänninen & Pastell, 2009). A partir do

registro dos vídeos extraímos as seguintes variáveis de desempenho no jogo: 1)

Número de inimigos mortos, 2) Número de mortes do jogador, 3) Número de itens

coletados.

Cada Partida aconteceu com dois jogadores (voluntários), pareados por sexo,

idade e lateralidade. Eles foram aleatoriamente definidos em um dos papeis no jogo:

Predador ou Presa. Cada um possui objetivos e atributos diferentes:

Para o Predador, o Objetivo do jogador era: “matar presa, não ser abatido

pela presa.” O Predador possui como recursos de ataque ‘Golpear’ ou pode utilizar a

Arma de Fogo (Escopeta). Já para a Presa o objetivo do jogador era: “sobreviver,

coletar e acumular ‘medkits’ espalhados pelo mapa. Se morrer, perderá os

acumulados.” Foi apresentado um exemplo ilustrando o item do jogo chamado

‘medkit’ que o jogador deveria recolher no cenário virtual. O único recurso que

possui é Golpear.

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Figura 8 – Exemplos ilustrativos da tela de jogo. Figura 8A - a visão do participante no papel de

Predador. Figura 8B - a visão do participante no papel de Presa. O valor ao lado da cruz, no canto

inferior, representa a porcentagem da saúde do personagem (0 = morte). A Presa está escondida em

um local de baixa iluminação

8A

8B

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Eletrofisiologia

Considerando a relação sinal/ruído dos registros, limpamos a superfície da pele

em contato com os eletrodos e aplicamos um gel de condutância. Todos os

eletrodos tiveram sua impedância testada, sendo considerado como aceitáveis

valores menores que 25 KOhms. Utilizamos um sistema da Brain Products para os

registros. O posicionamento dos eletrodos seguiu as orientações do fabricante e

recomendações da AASM (Iber, Ancoli-Israel, Chesson, & Quan, 2007). No total

utilizamos 64 eletrodos, com a seguinte configuração de canais:

Eletroencefalografia (EEG): 58 eletrodos, com posicionamento determinados

pela touca específica do fabricante Brain Products (seguindo Sistema 10/20),

com opções de tamanho de acordo com perímetro da cabeça do participante.

Eletrocardiograma(ECG): 1 eletrodo, posicionado na zona precordial. Registro

da atividade cardíaca (frequência).

Eletromiografia (EMG): 3 eletrodos posicionados no queixo, um superior e outros

dois inferiores (um dos inferiores é recomendado como reserva). Registro do

tônus muscular dos sujeitos.

Eletrooculograma (EOG): 2 eletrodos, posicionados na região do zigomático, um

de cada lado. Registro dos movimentos oculares.

Os registros da polissonografia durante a fase de cochilo foram classificados

segundo manual da AASM (Iber et al., 2007), e as seguintes variáveis consideradas

para a análise do sono: 1) Tempo Total Cochilo, 2) Tempo Total em Vigília, 3)

Tempo total no Sono NREM 4) Tempo total no Sono REM.

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Protocolo

Desenho experimental

1 - Esclarecimentos sobre objetivos e procedimentos da pesquisa.

2 - Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

3 - Aplicação dos questionários socioeconômico, sono e videogames.

4 - Registro eletrofisiológico durante jogo de videogame (Treino).

5 - Registro eletrofisiológico durante cochilo diurno.

6 - Aplicação de questionário sobre Atividade Mental durante o cochilo.

7 - Registro eletrofisiológico durante jogo de videogame (Teste).

8 - Aplicação de questionário sobre a tarefa (desempenho e relação da atividade

mental com os jogos).

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O protocolo ocorreu no Laboratório de Eletroencefalografia do Instituto do

Cérebro – UFRN. O laboratório é todo climatizado e com acesso restrito. Durante o

protocolo um sinal luminoso do lado externo do laboratório avisava sobre o registro,

o que garantiu a privacidade do experimento.

A sala em que ficaram os participantes é isolada dos pesquisadores, com a

porta e cortinas garantindo a privacidade. Possui climatização de ar própria, com as

configurações seguindo preferências dos sujeitos. A iluminação foi controlada por

dimer. O sujeito teve acesso a banheiro, água e alimento durante todo protocolo.

Antes do início de cada etapa do protocolo perguntou-se sobre o conforto do

voluntário. O participante ficou acomodado em uma poltrona-cama durante todo

protocolo (sentado durante os jogos e deitado durante o cochilo). Orientou-se que o

participante utilizasse roupas leves e confortáveis, com oferecimento de material de

higiene e a possibilidade dele trocar de roupas antes ou durante o protocolo.

Preparação

Os voluntários chegaram ao ICe-UFRN, receberam explicações mais

detalhadas do experimento e conheceram as instalações em que este aconteceu.

Após esclarecer possíveis dúvidas, preencheram o TCLE.

O experimento teve início agendado com os participantes para as 13:00

horas.

Durante a preparação do registro eletrofisiológico pelos pesquisadores

(colocação de eletrodos: EEG, EMG, EOG e ECG), os participantes responderam

aos seguintes questionários:

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1 - Sóciodemográfico

2 - Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh

3 - Escala de Sonolência de Epworth

4 - Questionário sobre Videogames

5 - Questionário Pré Sono – Dia e Noite anterior ao experimento.

Treino

A seguir, colocamos os fones e fornecemos os controles do jogo. Verificou-se

o funcionamento e se o participante estava confortável com os ajustes da tela, dos

fones e do controle do videogame. Os participantes então jogaram um videogame

(jogo de PC) por 45 minutos - TREINO na tarefa, enquanto registramos a

eletrofisiologia. O jogo foi gravado em vídeo (registro das imagens e sons tal como

apresentados ao sujeito.).

Cochilo

Após o fim do jogo, preparamos a sala: a poltrona-cama foi aberta, colocamos

lençóis e ofereceremos 3 tipos de travesseiros. Os participantes se deitaram e os

pesquisadores verificam a integridade do sinal dos registros. Ao lado da cama foi

colocada uma prancheta com caneta e papel com as instruções do Relato Mental.

Garantido o conforto do participante, as luzes foram apagadas por 2 horas (120 min)

enquanto registrávamos a eletrofisiologia (COCHILO). O sujeito experimental foi

orientado a dormir durante esse período, e assim que as luzes fossem acesas, a

fornecer um Relato da Atividade Mental, i.e., deveria descrever tudo que

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conseguisse lembrar (pensamentos, imagens ou sonhos) durante o período. Ao fim

dos 120 minutos, gradualmente elevamos a luminosidade da sala de registro. Caso

o sujeito não iniciasse o Relato, um pesquisador entrou na sala de registro e

gentilmente despertou o participante (chamando-o pelo nome), relembrando-o as

instruções do relato.

Teste

Terminando o Relato da Atividade Mental, novamente a sala era convertida

para o jogo: poltrona-cama na posição sentado, retiravam-se os lençóis e

travesseiros, fornecemos os fones de ouvido e o controle do videogame para o

participante. Confirmado conforto do sujeito e funcionamento dos equipamentos,

teve início a segunda sessão na tarefa. Os participantes voltam a jogar o mesmo

jogo por mais 45 minutos, enquanto realizamos registros eletrofisiológicos (TESTE).

Por fim, responderam ao Questionário Pós-Jogo (auto avaliação do

desempenho na tarefa, relação da Atividade Mental durante o Cochilo com o Jogo).

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Metodologia de análise de dados

Análises Psicométricas:

Variáveis individuais:

Para controlar possíveis variáveis individuais no desempenho na tarefa e nos

registros do cochilo, consideramos a partir dos questionários sobre aspectos

socioeconômicos e sono: sexo, idade, tempo total de sono na noite anterior, escore

na escala Epworth (Bertolazi et al., 2009), escore total no IQSP (Bertolazi et al.,

2011). A partir do questionário sobre videogames, consideramos as variáveis:

jogador de videogames de ação (pelo menos um jogo do tipo nos últimos 6 meses,

dois grupos: jogador e não-jogador), experiência prévia com jogos de tiro em

primeira pessoa (dois grupos: sim ou não), interesse em jogos de tiro em primeira

pessoa (três níveis: baixo, médio, alto).

Variáveis de desempenho na tarefa:

Utilizamos o registro dos vídeos das partidas para extrairmos as variáveis de

desempenho no jogo. Os eventos do personagem do jogador (Matar, Morrer, Coletar

item) foram registrados com uma precisão aproximada de 110 milissegundos.

Comparamos as diferenças entre Treino (G1) e Teste (G2) das variáveis:

1) Número de inimigos mortos (Kills),

2) Número de mortes do jogador (Deaths),

3) Número de itens coletados (Medkits).

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4) Variável relacionada ao Objetivo do Papel do Jogador: Escore Objetivo (Goal) =

objetivo primário (inimigos mortos ou Itens coletados) /números de vidas utilizadas.

Predador=kills / (deaths+1); Presa=medkits / (deaths+1).

Para a análise da dupla (partida), consideramos:

1) Eventos = número total de ‘violência’ (kills e deaths) + número total de ‘itens

coletados’ (medkits)

2) “Violência” = quantidade de interações violentas (Kills+Deaths) da sessão (por

exemplo, se o Predador matou 10 e morreu 1, Presa 1-10, violência=11)

3) Itens coletados = medkits coletados

Variáveis do conteúdo mental

Utilizamos a questão de múltipla escolha número 6 do questionário sobre a

tarefa para determinar dois grupos: grupo Sonho e grupo Não-sonho.

Q6: “Durante seu sono, o jogo ou elementos dele passaram em sua cabeça?” As

seguintes respostas configuram o grupo Não-sonho: ‘Não’; ‘Somente Acordado’;

‘Não tenho certeza’. O grupo Sonho é determinado pelas seguintes respostas:

‘Entrando no sono’; ‘Saindo do sono’; ‘Sonhando’; ‘Sim, mas não tenho certeza

quando’.

Análises Eletrofisiológicas:

Frequência cardíaca: utilizamos o registro do eletrocardiograma (ECG) para

determinar a atividade (HR) e variabilidade cardíaca (HRV). Realizamos ainda uma

análise espectral, com a razão entre baixas e altas frequências (variável LF / HF)

(Pan & Tompkins, 1985; Ramshur, 2010; Task Force of the European Society of

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Cardiology the North American Society of Pacing Electrophysiology, 1996). Fizemos

essa análise dos registros do Treino, Cochilo e Teste. Detalhamento suplementar do

método no Anexo L.

Estagiamento do sono: utilizamos os registros da polissonografia (EEG, EMG

EOG) durante a fase de cochilo para estagiamento do sono segundo manual da

AASM (Iber et al., 2007) de forma resumida (Vigília, Sono NREM e Sono REM).

Consideraremos as seguintes variáveis para a análise do sono: 1) Tempo Total do

Cochilo, 2) Tempo Total em Vigília, 3) Tempo total no Sono NREM, 4) Tempo total

no Sono REM.

Análises estatísticas:

Utilizamos o teste de Shaphiro-Wlik para verificar a distribuição normal das

variáveis e consequentemente a escolha dos testes para as comparações de

interesse (paramétrico ou não) (Mayers, 2013). Todas as comparações estatísticas

foram feitas utilizando o software IBM SPSS Statistics 21 (para Windows 32bit).

Fizemos comparação de todas as medidas de desempenho na tarefa (inimigos

mortos, números de mortes do personagem do jogador, itens coletados e escore

objetivo) entre treino e teste para os diferentes papéis no jogo (Presa ou

Predador). Utilizamos teste t de Student ou o teste de Wilcoxon (não

paramétrico).

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Fizemos comparação entre o grupo Sonho (Sim e Não) de todas as medidas de

desempenho na tarefa (inimigos mortos, números de mortes do personagem do

jogador, itens coletados e escore objetivo), entre treino e teste, para os papéis no

jogo (Presa ou Predador). Procedemos a comparação entre as médias (diferença

Teste-Treino) dos Grupos (utilizando teste t de Student com medidas

independentes ou teste U de Mann-Whitney) e a comparação entre os indivíduos

(medidas repetidas) em cada Grupo.

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2.3 - Resultados

Desempenho geral na tarefa

Analisamos o desempenho na tarefa em função do Papel no jogo, realizando

testes de Wilcoxon pareados (medidas repetidas). Os resultados significativos estão

ilustrados na Figura 9. Para o grupo no Papel de Presas, observamos na

comparação entre Treino (g1) e Teste (g2) que os jogadores mataram mais o

Predador (Figura 9A - um aumento do número de Inimigos mortos, Z = -2,097 , p =

0,036 , Mdn Treino = 2; Mdn Teste = 6), e coletaram mais Itens no jogo (Figura 9B, Z

= -2,805 , p = 0,003 , Mdn Treino = 39; Mdn Teste = 41). Já para os participantes no

papel de Predador, a única diferença significativa observada foi um aumento no

número de mortes do jogador (deaths), ou seja, foram mais derrotados pela Presa

(Figura 9C, Z = 2,004 , p = 0,046 , Mdn Treino = 2; Mdn Teste = 6). Convém

ressaltar que os dados são muito semelhantes ao número de vezes que as Presas

mataram o inimigo, mas não idênticos: era possível que o Predador (ou a Presa)

cometessem suicídio (por exemplo, o personagem no jogo cai de altura elevada, ou

ainda é atingido por uma explosão de algum item no cenário provocada por uso da

arma de fogo – como um extintor de incêndio). Nesses casos, contabilizamos

apenas a morte do jogador.

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Figura 9 – Gráficos mostram o aumento, do Teste para o Treino, da quantidade de Inimigos mortos

(9A) e itens coletados (9B) para Presas, e aumento da quantidade de mortes do jogador para

Predadores (9C). Linhas representam indivíduos, eixo y esquerdo valor da variável no Treino, direito

valor no Teste. ( n presa = 13 ; n predador = 13).

9A 9B .

9C

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107

O Sonho com o Jogo

A Tabela 6 apresenta as respostas dos voluntários da questão que abordava

a presença do jogo no conteúdo mental durante o Cochilo. A maioria dos voluntários

(53,8%; n total = 26) relatou algum tipo de conteúdo do jogo (tarefa) na Atividade

Mental durante o Cochilo (grupo Sonho Sim, n = 14). Observamos a mesma

frequência do sonho com a tarefa independente do papel no jogo (53,8%, n = 7), ou

seja, aparentemente a penetrância do estímulo na atividade onírica foi influenciado

por outros fatores. Apenas 2 participantes (1 presa e 1 predador) relataram

efetivamente ter sonhado com o jogo.

Tabela 6 – Respostas da Questão 6 do Questionário Pós Jogo: “Durante seu sono, o jogo ou elementos dele passaram em sua cabeça?” (Múltipla escolha)

Total Presa Predador

Respostas n % n % n %

Não 4 15,4 2 15,4 2 15,4

Somente acordado (deitado na cama)

8 30,8 4 30,8 4 30,8

Sim, mas não tenho certeza quando

7 26,9 4 30,8 3 23,1

Entrando no sono 4 15,4 2 15,4 2 15,4

Saindo do sono (acordando) 1 3,8 0 0,0 1 7,7

Sonhando 2 7,7 1 7,7 1 7,7

Total 26 100 13 100 13 100

Considerando possíveis variáveis individuais influenciando na incorporação

do estímulo pela atividade onírica, comparamos Idade, escore na Escala de

sonolência de Epworth, escore no IQSP (qualidade do sono), Tempo Total de Sono

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na noite anterior (horas), jogador de videogames de ação (pelo menos um jogo do

tipo nos últimos 6 meses, sim ou não), experiência prévia com jogos de tiro em

primeira pessoa (sim ou não), interesse em jogos de tiro em primeira pessoa (três

níveis – baixo, médio, alto), utilizando testes de Chi-quadrado para variáveis

nominais, e testes de Mann-Whitney para variáveis quantitativas. Não observamos

diferenças significativas a priori entre os grupos (Sonho Sim vs. Sonho Não).

Sonho e desempenho

Realizamos dois tipos de análises do desempenho na tarefa comparando os

participantes que sonharam com o jogo e os que não. Iniciamos com comparações

entre os grupos em geral, utilizando testes de Mann-Whitney na diferença entre

Teste-Treino (Sim e Não) e posteriormente considerando apenas a performance

individual (i.e. medidas repetidas), utilizando testes de Wilcoxon. Considerando os

objetivos distintos no jogo para cada papel, analisamos separadamente os

Predadores e Presas.

Não observamos diferenças significativas entre os grupos experimentais

Sonho Não e Sonho Sim para os participantes no papel de Predador para nenhuma

das análises (grupo e individual).

A Figura 10 ilustra os resultados significativos para as Presas dos testes de

Mann-Whitney (n Não = 6; n Sim = 7; n Total = 13). Observamos na comparação

entre as diferenças Teste-Treino dos Grupos (Sonho Sim e Não) um aumento do

número de vezes que a Presa mata o Predador (Figura 10A, número de Inimigos

Mortos, Mdn Não = 5,5 , Mdn Sim = 0 ; U = 5,5 p = 0,025) e do número de mortes do

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109

personagem para o grupo que Não sonhou com o jogo (Figura 10B, número de

Mortes do Jogador, Mdn Não = 10 , Mdn Sim = -1 ; U = 2 p = 0,004). Como

consequência, observamos uma diferença significativa no desempenho do escore

relacionado ao Objetivo no jogo: o grupo que Não sonhou obteve ganhos negativos,

enquanto o grupo Sonho Sim obteve ganhos positivos na tarefa (Figura 10C, número

de Mortes do Jogador, Mdn Não = -1,20 , Mdn Sim = 0,42 ; U = 2 p = 0,005).

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110

Figura 10 – Resultados significativos na comparação entre as Presas daqueles que

sonharam ou não com o jogo (testes de Mann-Whitney). Boxplots representam as diferenças

Teste-Treino das variáveis para cada grupo. Presas que não sonharam apresentaram

aumento no número de Mortes do Jogador (10A) e aumento do número de Inimigos Morto

(10B). O grupo que não sonhou obteve perdas no Escore relacionado ao Objetivo (número

de itens coletados/número de vidas utilizadas) e o grupo que sonhou ganhos positivos

(10C).

10A

A

10B

A

10C

A

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111

A Figura 11 apresenta os resultados da comparação individual do

desempenho (medidas repetidas) para as Presas, utilizando testes de Wilcoxon.

Encontramos um aumento significativo do número de Mortes do jogador para quem

não sonhou (Figura 11A, Z = -2,201 , p = 0,031 , Mdn Treino = 11,5; Mdn Teste =

21,5). Já para os indivíduos do grupo Sonho Sim, encontramos um aumento

significativo no número de itens coletados entre as duas partidas (Figura 11B, Z = -

2,214 , p = 0,031 , Mdn Treino = 39; Mdn Teste = 39). Assim, os indivíduos que não

sonharam com o jogo apresentaram uma queda significativa do Escore relacionado

ao Objetivo na tarefa (para presas, sobreviver e coletar itens) (Figura 11C, Z = -

2,201 , p = 0,031 , Mdn Treino = 3,2; Mdn Teste = 2).

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Figura 11 – Gráficos representando os valores do Teste para o Treino para Presas. Bordas e *

assinalam resultados significativos nos testes de Wilcoxon ( p > 0,05). Linhas coloridas representam

11C

*

*

*

11A

A

11B

A

11C

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indivíduos, eixo y esquerdo valor da variável no Treino, direito valor no Teste. ( n sim = 7 ; n não = 6).

11A - o aumento do número de Mortes dos jogadores que não sonharam. 11B - o aumento do

número de Itens Coletados para jogadores que Sonharam. 11C - diminuição do Escore Objetivo para

os que não sonharam.

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Análise das Partidas (Pares)

Analisamos a relação da atividade onírica relacionada ao jogo com a dinâmica

específica da interação dos participantes (presa-predador) de cada experimento

(sistema fechado). Os resultados significativos são ilustrados na Figura 12.

Inicialmente, os pares (n = 13) foram divididos em 3 grupos baseados na ocorrência

de sonhos nos jogadores, independente do papel (número de participantes com

sonhos relacionados à tarefa). Na maioria dos experimentos, apenas um voluntário

reportou conteúdo mental com o jogo durante o sono. Em quatro ocasiões os dois

sonharam, e em três experimentos nenhum dos participantes sonhou.

Especificamente, grupos: nenhum (n = 3), um (n = 6) e ambos (n = 4). Analisamos a

Quantidade Total de Eventos (matou/morreu e itens coletados) no Treino (G1) e

Teste (G2), Total do Experimento (G1+G2) e na Diferença (G2-G1). A seguir,

consideramos separadamente os eventos relacionados à predação e luta (interações

violentas entre os participantes: matou/morreu) e forrageio (itens coletados).

Finalmente, realizamos as mesmas análises, mas considerando quem Sonhou,

configurando quatro grupos: Nenhum (n = 3); Predador (n = 3); Presa (n = 3); e

Ambos (n = 4) (n total =13).

Os resultados dos testes de Kruskal Wallis apresentaram uma diferença entre

o Número de participantes que sonhou com a tarefa (Figura 12A) e a variação na

quantidade de eventos violentos entre Treino e Teste [X² (3, n = 13) = 9,391; p =

0,004]. Testes de Mann-Whitney não foram significativos, mas demonstraram uma

tendência de aumento da violência quando nenhum dos participantes sonhou (Mdn =

26), e diminuição quando os dois sonharam (Mdn = -2,5) U = 0 p = 0,057.

Considerando especificamente quem Sonhou (Figura 12B), encontramos novamente

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uma diferença significativa entre os grupos na Diferença (Teste-Treino) da

quantidade de eventos violentos [X² (2, n = 13) = 6,734; p = 0,02]. Testes de Mann-

Whitney não foram significativos, mas demonstraram uma tendência de diminuição

da violência quando Ambos participantes sonharam (Mdn = -2,5), em comparação

com aumento para somente o Predador (Mdn = 12) U = 0 p = 0,057; e aumento para

Nenhum dos participantes sonhar (Mdn = 26) U = 0 p = 0,057.

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Figura 12 – Representação dos resultados significativos da análise das interações das duplas (presa

e predador) e atividade onírica. Boxplots representam o valor da diferença dos eventos violentos

entre Teste e Treino: 12A - segundo o número dos participantes da dupla que sonhou com o jogo. 0

(n = 3), 1 (n = 6) e 2 (n = 4). [X² (3, n = 13) = 9,391; p = 0,004]. 12B - especificamente quem da dupla

Sonhou. Nenhum (n = 3); Predador (n = 3); Presa (n = 3); e Ambos (n = 4) (n total =13). violentos [X²

(2, n = 13) = 6,734; p = 0,02]. Os resultados sugerem um aumento da quantidade de eventos

violentos quando nenhum ou somente o predador sonhou, e diminuição quando os dois participantes

sonharam.

12A

A

12B

BA

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Eletrofisiologia

Durante a preparação do experimento, os sujeitos foram esclarecidos sobre

os registros eletrofisiológicos, inclusive sobre o ruído gerado nos registros quando o

voluntário vocaliza ou se movimenta (fala ou ri, por exemplo). Mesmo com os

participantes cientes do fato, todos os registros das partidas registraram ruídos

provocados por expressões espontâneas de emotividade pelos participantes, como

gritos de frustração, raiva, susto e triunfo, palavrões e risadas provocadas pelo

estímulo. Tais intercorrências eram evitadas pelos pesquisadores (relembrando aos

participantes, principalmente durante a avaliação do sinal dos registros antes de

cada etapa, da necessidade de silêncio e mínima movimentação), mas consideradas

naturais e ilustrativas do envolvimento psicobiológico do participante com a tarefa.

Exemplo dos registros brutos são apresentados na Figura 13. De modo geral,

encontramos problemas nos registros eletrofisiológicos dos experimentos, com muita

interferência de ruídos e perda de sinal de vários eletrodos durante a aquisição do

sinal. Na tarefa, os principais problemas observados se referem às interferências

provocadas pelos voluntários (movimentos e vocalizações espontâneas,

principalmente provocados pelo envolvimento emocional com o jogo) e

possivelmente pela atividade eletromagnética dos fones de ouvido. No cochilo, o

principal problema foi a perda de canais específicos, como ECG ou o terra, por

exemplo, e a perda de impedância ao longo do tempo. Visando corrigir tais

problemas, trocamos a touca de registro nos três últimos experimentos (touca

Easycap n = 10; touca ActiveCap n = 3); e os tipos de fones de ouvido estéreo nos

últimos dois (circumaural eletromagnético comum, n = 11; intra-auriculares

pneumáticos específicos para EEG, n = 2).

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Figura 13 – Exemplos dos registros eletrofisiológicos brutos (raw data) de um dos participante do

experimento. Todos os 64 canais são apresentados (eixo y) ao longo do tempo (eixo x). No caso, são

13A

A

13B

A

13C

A

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119

apresentados trechos de 10 segundos (cada coluna representa 1s). Quadro superior, exemplo de

registro durante o Treino. Quadro intermediário, registro durante o Cochilo. Quadro inferior, registro

durante o Teste.

Análise do Sono

A Figura 14 ilustra o estagiamento do sono de um mesmo participante,

segundo a classificação Vigília, Sono Não-Rem e Sono Rem. A Figura 15 apresenta

dois exemplos dos registros eletrofisiológicos dos participantes durante o Cochilo

(uma dupla Predador e Presa).

Três registros de participantes que foram incluídos nas análises

comportamentais tiveram de ser descartados, especificamente uma dupla de

participantes (Predador sonho Sim e Presa sonho Não) e uma Presa (Sonho Não),

resultando em n = 23. Incluímos nessas análises os dados de mais uma presa

(Sonho Sim, n = 1), totalizando n = 24.

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Figura 14 – Exemplos do estagiamento do sono de um participante. Eixo Y, em ordem de cima para baixo: canal

frontal, canal central, canal occipital, eletromiografia (EMG) e eletro-oculogramas (EOG1 e EOG2). Janelas de 30

segundos. 14A representa Vigília, 14B Sono Não-REM, e 14C sono REM.

14A

A

14B

A

14C

A

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Figura 15 – Exemplos da representação dos registros eletrofisiológicos de uma dupla de participantes

durante o Cochilo. Espectros de frequência no eixo y (no caso, do canal CPZ), número de épocas de

30s no eixo x. Os traçados azuis representam a diferença da potência do EMG naquele período em

relação à potência média da totalidade do registro. Os traçados pretos indicam o estagiamento do

sono por dois diferentes avaliadores (alto = vigília, intermediário = Não-REM e inferior = REM). 15A:

dados de um Predador (apresentou Sono REM). 15B: dados da Presa (não apresentou Sono REM).

15A

A

15B

A

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A Figura 16 apresenta os resultados médios do estagiamento do sono

segundo a presença do conteúdo mental do jogo durante o Cochilo e segundo o

Papel e o Sonho. A única diferença encontrada entre as variáveis de Sono e as

variáveis de Sonho e Papel no Jogo, utilizando testes de Kruskal Wallis, foram em

relação ao tempo total no Sono REM (encontrado em somente dois Predadores, que

não relataram conteúdo mental relacionado à tarefa - grupo Sonho Não) e Papel e o

Sonho [X² (3, n =13) = 9,805; p = 0,022]. Testes de Mann-Whitney não encontraram

diferenças significativas.

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Figura 16 – Gráficos representando o estagiamento do sono a partir da atividade eletrofisiológica

registrada durante o Cochilo. Barras representam média em minutos (eixo y), linhas das barras

representam +- duas vezes o erro médio.16A - Eixo x representa as respostas sobre a atividade

mental do cochilo (Q6) (n Não = 3, n Somente Acordado = 7, n Sim, mas não tem certeza = 7 , n

Entrando no Sono = 4, n Acordando = 1, n Sonhando = 2). 16B - eixo x representa Papel e Sonho

com o Jogo ( n Presa Não = 4, n Presa Sim = 8, n Predador Não = 6, n Predador Sim = 6). Apenas

encontramos diferenças entre a quantidade de sono REM.

16A

A

16B

A

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Por fim, correlacionamos o estagiamento do sono com as variáveis de

desempenho (testes de correlação de Spearman). Encontramos resultados

significativos ( p < 0,01 ) apenas para os sujeitos no papel de Predadores (Figura

17). A quantidade de inimigos mortos no Treino se correlacionou negativamente com

o tempo de Vigília no Cochilo (Figura 17B, r (12) = ,-787; p = 0,002) e positivamente

com o tempo de Sono NREM no Cochilo (Figura 17C, r (12) = ,751; p = 0,005),

provavelmente resultado da Tarefa estimulando o sono no Cochilo. Já a quantidade

de tempo em Vigília no Cochilo se correlacionou negativamente com o Escore

Objetivo no Teste (r (12) = ,-741; p = 0,006). A representação gráfica dessa última

análise apresentou um participante com valor atípico (outlier). Removemos esse

caso outlier da análise (n Predadores = 11), e apresentamos na Figura 17 a

correleção negativa encontrada entre quantidade de tempo em Vigília no Cochilo e o

Escore Objetivo no Teste (Figura 17A, r (11) = ,- 718; p = 0,010).

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Figura 17 – Correlações entre os resultados do estagiamento do sono (eixo y) e o desempenho na

tarefa (eixo x). Pontos coloridos representam a presença do jogo no conteúdo mental do Cochilo

(‘Não’ e ‘Somente Acordado’ = Sonho Não; demais = Sonho Sim). Predadores apresentaram uma

correlação negativa entre o tempo em vigília no Cochilo e o escore objetivo no Teste (r (11) = ,-718; p

= 0,010) (17A, possível efeito do Cochilo no desempenho). (n Não = 1, n Somente Acordado = 4, n

Sim, mas não tem certeza = 2 , n Entrando no Sono = 2, n Acordando = 1, n Sonhando = 1, n Total =

11). Predadores também apresentaram correlações entre o número de inimigos mortos no Treino e o

tempo em Vigília no Cochilo (r (12) = ,-787; p = 0,002) (correlação negativa, 17B) e entre o tempo em

sono NREM (r (12) = ,751; p = 0,005) (correlação positiva, 17C), possível efeito do estímulo (Tarefa)

no Cochilo. (n Não = 2, n Somente Acordado = 4, n Sim, mas não tem certeza = 2 , n Entrando no

Sono = 2, n Acordando = 1, n Sonhando = 1, n Total = 12). Removemos um outlier ( n = 1 ) da figura

17A.

17A

17B 17C

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Análise da atividade cardíaca

Não foi possível realizar análises da atividade cardíaca para todos os sujeitos

da amostra utilizando os registros eletrofisiológicos. Assim, foram incluídos nas

análises apenas os participantes com variáveis válidas nas condições Treino,

Cochilo e Teste (ver sessão anterior considerações sobre a inclusão de mais um

participante), totalizando 22 participantes (n = 22).

Utilizamos testes de Mann-Whitney para comparar a atividade (HR) e a

variabilidade cardíaca (HRV), além da análise espectral (LF/HF) entre os diferentes

Papéis, e entre aqueles que sonharam (Sonho Sim) ou não (Sonho Não).

A Figura 18 mostra os resultados significativos entre Predadores (n = 11) e

Presas (n = 11). Observamos menor variabilidade cardíaca para as Presas no

Cochilo (Figura 18A, Mdn Presa = 35,3 , Mdn Predador = 67,2 ; U = 16 p = 0,002) e

no Teste (Figura 18B, Mdn Presa = 15,9 , Mdn Predador = 46,6 ; U = 22 p = 0,01).

Além disso, as Presas apresentaram maiores valores da razão entre as frequências

cardíacas (LF/HF) no Cochilo (Figura 18C, Mdn Presa = 1,829 , Mdn Predador =

0,987 ; U = 21 p = 0,008) e no Teste (Figura 18D, Mdn Presa = 2,035 , Mdn

Predador = 1,447 ; U = 20 p = 0,007).

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Figura 18 - Representação dos resultados significativos da análise da atividade cardíaca entre os que

exerceram diferentes papeis no jogo. Boxplots representam: eixo y valor da variável, eixo x Papel no

Jogo. O papel de Presa esteve associado com valores mais baixos na variabilidade cardíaca (HRV)

no Cochilo (Mdn Presa = 35,3 , Mdn Predador = 67,2 ; U = 16 p = 0,002) (18A) e no Teste (Mdn Presa

= 15,9 , Mdn Predador = 46,6 ; U = 22 p = 0,01) (18B). Presas também apresentaram maior valor da

razão entre baixas e altas frequências (LF/HF) no Cochilo (Mdn Presa = 1,829 , Mdn Predador =

0,987 ; U = 21 p = 0,008) (18C) e no Teste (Mdn Presa = 2,035 , Mdn Predador = 1,447 ; U = 20 p =

0,007) (18D). (n Presa = 11, n Predador = 11, n Total = 22).

18A

A

18D

A

18B

A

18C

A

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A Figura 19 mostra os resultados significativos entre Sonho Sim (n = 13) e

Sonho Não (n = 9), indepedentemente do papel no jogo. Observamos maior

atividade cardíaca para quem sonhou com o conteúdo do jogo no Treino (Figura

19A, Mdn Sim = 97,6 , Mdn Não = 73,2 ; U = 25 p = 0,025) e no Teste (Figura 19B,

Mdn Sim = 91,6 , Mdn Não = 69,1 ; U = 26 p = 0,03).

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Figura 19 - Representação dos resultados significativos da análise da atividade cardíaca entre os que

sonharam com o jogo e os que não sonharam (independentemente do papel). Boxplots representam:

eixo y valor da HR, eixo x Sonho com a tarefa. O sonho com o jogo esteve associado com valores

mais altos da atividade cardíaca média no Treino (Mdn Sim = 97,6 , Mdn Não = 73,2 ; U = 25 p =

0,025) (19A) e no Teste (Mdn Sim = 91,6 , Mdn Não = 69,1 ; U = 26 p = 0,03) (19B) ( n Sim = 13, n

Não = 9, n Total = 22).

19A

A

19B

A

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Finalmente, realizamos testes de Mann-Whitney entre quem sonhou ou não

com o jogo separadamente para cada um dos papéis. A única diferença encontrada

foi para Predadores (n Sim = 6, n Não = 5 , n total = 11), representada na Figura 20.

Aqueles que reportaram conteúdo associado ao jogo no Cochilo exibiram maiores

alterações da variabilidade cardíaca na diferença Teste-Treino (Mdn Sim = 13,55 ,

Mdn Não = -1,8 ; U = 2 p = 0,017).

Figura 20 - Representação dos resultados significativo da análise da atividade cardíaca de

Predadores, comparando os que sonharam com o jogo com os que não sonharam. Boxplots

representam: eixo y valor da HRV, eixo x Sonho com a tarefa. O sonho com o jogo esteve associado

com aumento da variabilidade cardíaca do Treino para o Teste (Mdn Sim = 13,55 , Mdn Não = -1,8 ;

U = 2 p = 0,017) ( n Total = 11).

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131

2.4 - Discussão

Nossos resultados comportamentais demonstraram que os participantes no

papel de Presas, em geral, matam mais o Predador e coletam mais itens durante o

Teste do que no Treino. Por outro lado, os Predadores morrem mais.

Quando consideramos a presença de sonho relacionado com a tarefa,

observamos resultados apenas para as Presas: Na comparação por grupos,

encontramos um aumento do número de vezes que mata o Predador e do número

de mortes do personagem para o grupo que Não sonhou com o jogo. Como

consequência, o grupo que Não sonhou obteve ganhos negativos, enquanto o grupo

Sonho Sim obteve ganhos positivos na tarefa. Observamos resultados semelhantes

na comparação individual do desempenho (medidas repetidas). Encontramos

também um aumento significativo do número de Mortes do jogador para quem não

sonhou. Já para os indivíduos do grupo Sonho Sim, encontramos um aumento

significativo no número de itens coletados entre as duas partidas. Assim, os

indivíduos que não sonharam com o jogo apresentaram uma queda significativa do

Escore relacionado ao Objetivo na tarefa (para presas, sobreviver e coletar itens).

Em conjunto, esses resultados sugerem que a presença de elementos

associados ao estímulo no conteúdo mental do sono (Sonho) provocou um efeito

somente no grupo Presa, aparentemente com uma resposta comportamental mais

adequada adaptativamente: Menor comportamento de agressão ao predador, com

maior eficiência no forrageio. É possível que a atividade onírica tenha otimizado a

resposta de luta-e-fuga expressa comportamentalmente na tarefa. Desse modo, sob

um foco evolucionista, nossos dados corroboram a hipótese de uma função

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adaptativa do sonho (Revonsuo, 2000), pelo menos na execução da tarefa no

ambiente atual. O conteúdo onírico refletiu o processamento mnemônico e

preparação antecipatória que ocorre no encéfalo durante o sono.

Nossa hipótese (Ribeiro & Nicolelis, 2006) considera que a função onírica

seria fundamental para otimizar o comportamento futuro da vigília identificando

ameaças, evocando possíveis respostas em um cenário sem riscos reais e maiores

gastos energéticos (Revonsuo, 2000); e direcionando a atenção para recursos que

maximizariam o sucesso adaptativo (Fosse & William, 2007), através da mobilização

do sistema dopaminérgico mesolímbico durante o sono (Perogamvros et al., 2013;

Perogamvros & Schwartz, 2012). A capacidade de simular cenários e otimizar uma

resposta de forrageio evitando predadores, por exemplo, poderia explicar a rápida

irradiação dos mamíferos aos mais variados nichos ecológicos, e o aparente

sucesso da classe ao se adaptar em um cenário de mudanças drásticas e recursos

escassos, no caso a ‘longa noite de inverno’ que marca a extinção em massa na

transição Cretáceo-Paleógeno (Kavanau, 1997; Vellekoop et al., 2014). Como evitar

predadores é muito mais importante para a sobrevivência imediata do indivíduo do

que a predação, a relação da atividade onírica com o jogo foi apenas funcional para

os jogadores no papel de Presas.

Os resultados da análise do sono durante o Cochilo, mostram uma única

diferença encontrada entre as variáveis de Sono relacionados ao Papel no jogo e ao

conteúdo mental com o jogo (sonho): somente predadores que não sonharam com o

jogo exibiram Sono REM. É sabido que o estresse agudo, altera a arquitetura do

sono, sendo uma das principais mudanças a inibição do sono REM. O simples fato

de dormir em um laboratório (situação de exame) já pode provocar essas mudanças

nos indivíduos (Domhoff, 2003). Mesmo assim, é possível considerar um efeito do

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estresse associado ao jogo (tarefa) nos resultados, já que Presas com mais de 60

minutos de sono NREM também não entraram em sono REM [o que seria esperado

dentro de um ciclo de sono ‘natural’ (McCarley, 2007)]. Em roedores,

condicionamento ao medo aumenta a quantidade de sono Não–REM (Hellman &

Abel, 2007). O Cochilo, entre as partidas, pode ter atrasado o rebote de sono REM

observado após situações de estresse agudo (Smith & Lapp, 1986, 1991; Smith,

Young, & Young, 1980; Suchecki et al., 2012).

Na comparação entre sono e desempenho, encontramos resultados

significativos apenas para os sujeitos no papel de Predadores. A quantidade de

inimigos mortos no Treino se correlacionou negativamente com o tempo de Vigília

no Cochilo e positivamente com o tempo de Sono NREM no Cochilo, ou seja, um

melhor desempenho no Treino aumentou a quantidade de sono (e diminuiu o tempo

em vigília). Já a quantidade de tempo em Vigília no Cochilo se correlacionou

negativamente com o Escore Objetivo no Teste. Esse último resultado corrobora

resultados anteriores (Arnulf et al., 2014; Scott, 2009; Wamsley, Tucker, et al., 2010)

que demonstraram que o conteúdo onírico reflete o processamento mnemônico e

preparação antecipatória que ocorre no encéfalo durante o sono (Diekelmann, 2014;

Diekelmann & Born, 2010; Rasch & Born, 2013; Wilhelm et al., 2011). Já o sono,

para as presas, pode ter tido um efeito significativo apenas na atenuação da

resposta à estímulos aversivos (Pace-Schott et al., 2011; Pace-Schott, Verga,

Bennet, & Spencer, 2012; Rolls et al., 2013; van der Helm & Walker, 2009)

regulando as reações relacionadas ao estresse apenas para os que sonharam, mas

sem uma correlação direta com o desempenho medido na tarefa e a quantidade de

sono.

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A análise da atividade cardíaca demonstrou menor variabilidade cardíaca

para as Presas no Cochilo e no Teste. Além disso, as Presas apresentaram maiores

valores da razão entre as frequências cardíacas baixas e altas (LF/HF) no Cochilo e

no Teste. Já o sonho com o jogo esteve relacionado com maior atividade cardíaca

para quem sonhou tanto no Treino quanto no Teste. Finalmente, considerando o

sonho em função do papel, encontramos para Predadores que reportaram conteúdo

associado ao jogo no Cochilo maiores alterações da variabilidade cardíaca na

diferença Teste-Treino. É provável que estes resultados reflitam a atividade do

sistema nervoso autônomo, principal componente das reações emocionais. Menor

variabilidade cardíaca e aumento da relação LF/HF, observados para as Presas,

estariam relacionados com Ansiedade. Já o aumento da atividade cardíaca,

observada em quem sonhou, estaria associado a uma variedade de emoções

intensas (positivas e negativas) como Raiva, Ansiedade, Medo, Vergonha, Tristeza

Antecipatória, Felicidade, Prazer, Alegria, Surpresa e Alívio. Já o aumento da

variabilidade cardíaca, para predadores que sonharam, pode ser explicada por

reações de Divertimento e Alegria (Kreibig, 2010). Esses resultados corroboram

nossas predições de que a tarefa teria um maior grau de dificuldade (mais

estressora) para participantes no grupo Presa (maiores alterações nos padrões

eletrofisiológicos), além do sonho se relacionar com maior envolvimento

psicobiológico com a tarefa. Finalmente, o ganho na variabilidade cardíaca

observado para os Predadores que sonharam poderia explicar a dissociação entre

conteúdo onírico e desempenho na tarefa observada nesses indivíduos.

Assim, diferentemente dos participantes no papel de Presas, é possível que

para os Predadores a tarefa proposta tenha estimulado componentes lúdicos, e eles

parecem ter encarado o jogo de videogame como um jogo de luta entre os

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participantes, que é observado em seres humanos tanto para o desenvolvimento de

habilidades quanto fortalecimento de laços de cooperação e filiação (Bichara et al.,

2009). É comum, nesse caso, que um dos participantes da atividade lúdica não

empregue todos os recursos disponíveis em caso de confronto direto real.

Nossa análise das duplas de participantes apresentou uma diferença entre o

Número de participantes que sonhou com a tarefa e a variação na quantidade de

eventos violentos entre Treino e Teste, sugerindo um aumento da violência quando

nenhum dos participantes sonhou, e diminuição quando os dois sonharam.

Considerando especificamente quem Sonhou, encontramos novamente uma

diferença significativa entre os grupos na Diferença (Teste-Treino) da quantidade de

eventos violentos. com uma tendência de diminuição da violência quando Ambos

participantes sonharam, em comparação com aumento para somente o Predador; e

aumento para Nenhum dos participantes sonhar .

O sonho como elemento de coesão social poderia explicar o fato de

observamos uma correlação negativa entre a diferença na quantidade de interações

violentas da dupla e a quantidade de voluntários que sonhou com a tarefa,

considerando as Partidas como um todo (interação Presa e Predador). O Relato do

conteúdo Mental durante o Cochilo de um participante no papel de Predador, que

relatou sonhar com o jogo, é ilustrativo para nosso argumento. O sujeito declarou

que os elementos do jogo foram: Personagens (5), Cenário (4) (notas para a força

da relação, escala de 0 a 5):

Relato Predador D - “Sonhei que nessa segunda parte do teste entrava

mais um jogador. Era um novo cenário, e o modo de jogo era eu e o

‘brother’ ao lado contra o novo jogador que era muito bom, mas aos

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poucos ia mudando, quando percebi era tudo ambientado na favela.

Algo como o time laranja (parte de baixo do morro), contra o time azul

(parte de cima).”

Já o participante que jogou no Papel de presa, da mesma dupla, também

relatou conteúdo associado a tarefa na atividade mental do sono:

Relato Presa D – “Luz, praia, uma competição - correndo a pé. Depois

conversando com amigos”. Elemento do jogo: Corrida (2).

Maior atividade locomotora, em um contexto de baixa agressividade

(‘competição’, não confronto, e em uma praia, ambiente tido como relaxante)

representada pela corrida no sonho, seria extremamente adaptativo para a tarefa

proposta para os sujeitos no papel de Presas. Já a coesão social (uso da expressão

‘brother’ ao lado), representada no relato do Predador pela aliança mútua entre os

adversários frente um elemento estrangeiro ao grupo, seria extremamente

adaptativo a médio e longo prazos. A cooperação entre indivíduos não aparentados,

presente em nossa espécie, teria sido fundamental na evolução humana

(Yamamoto, Alencar, & Lacerda, 2009), mas não representariam ganhos diretos no

desempenho da tarefa proposta (pelo contrário, o efeito tenderia a ser prejudicial

para a performance). Nesse caso, é possível que alguns participantes no papel de

Predador tenderam a formar um vínculo com o outro participante do experimento

(ambos sujeitos experimentais), indo além do papel de conflito atribuído pela tarefa

(dinâmica Presa-Predador).

Certos aspectos da tarefa escolhida podem ter influenciado nossos

resultados. Em comparação com um Jogo de Tiro em Primeira Pessoa ‘comum’, o

Papel de Presa é mais difícil e estressante, já que, basicamente, o jogador não pode

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atirar, e tem baixa probabilidade de sucesso caso tente derrotar o adversário. Já o

Papel de Predador, em oposição, é mais fácil, já que enfrenta um inimigo

desarmado. Os cenários virtuais do jogo utilizados no experimento também eram, do

ponto de vista espacial, restritos (i.e. configurados, para forçar o encontro periódico

entre dois jogadores), o que também tornou a tarefa mais difícil para as Presas. Em

um experimento piloto com cenários maiores, os participantes chegaram a passar

mais da metade do tempo explorando o cenário, sem se encontrar nenhuma vez.

Assim, podemos considerar que o estímulo apresentou baixa saliência emocional (e

necessidade de adaptação) para os participantes no papel de Predador. Além disso,

características do grupo amostral também poderiam explicar a diferença observada

para Presas: maior presença de jogadores sem experiência prévia considerável com

jogos de tiro em primeira pessoa. Dessa forma, podemos dizer que ocorreu

aprendizado sob estresse somente para Presas. Já é conhecida a relação do sono e

sonhos com o processamento emocional (Cartwright et al., 2006; Suchecki et al.,

2012; van der Helm & Walker, 2009).

Já para os participantes no papel de predadores, além da baixa saliência

emocional da tarefa (exige menor mobilização psicobiológica), podemos considerar

que a tarefa não simulou adequadamente as condições de uma caçada natural (i.e.

análogo ao cenário evolutivo humano). Observa-se entre grupos de caçadores

coletores que o comportamento predatório em humanos é caracterizado pelo alto

número de fracassados (insucesso, com retorno zero) e grande variação individual

entre caçadores, independentemente da idade, com um pico para a maioria dos

caçadores em torno dos 40 anos (McElreath & Koster, 2014). Além disso, a tarefa

proposta não permitia a localização de outra presa no cenário (mais fácil). A escolha

por presas mais arriscadas parece envolver aspectos sociais, políticos e simbólicos,

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além da simples estratégia de maximizar a relação custo e benefício do ponto de

vista energético (Jones, R. Bird, & Bird, 2013).

A opção por um protocolo com cochilo (Mednick et al., 2003) também pode

ser considerado uma limitação para a generalização dos resultados. É provável que

uma noite completa de sono (múltiplos ciclos de sono NREM e REM) demonstrasse

efeitos diferentes tanto da tarefa (treino) no sono quanto do sono na tarefa (teste). O

sono REM é associado com plasticidade neural, e teria um papel distinto e

complementar ao sono NREM no processamento mnemônico, com múltiplos ciclos

de sono NREM e REM, e sucessivos ciclos de sono e vigília, promovendo alterações

mais profundas e robustas na matriz neural (Diekelmann & Born, 2010; Rasch &

Born, 2013; Ribeiro, 2012; Ribeiro & Nicolelis, 2004), e provavelmente diferentes

tipos de sonhos (tanto em qualidade quanto quantidade).

O protocolo também utilizou relatos escritos para acessar o conteúdo mental

durante o cochilo. Relatos verbais tendem a ser mais espontâneos, e exigem menor

nível de vigília (processos executivos) do que o ato de escrever. Alguns relatos

obtidos durante o sono com despertares controlados, inclusive, tendem a ser

esquecidos pela manhã (Domhoff, 2003). Os participantes foram orientados a não se

preocupar com a formalidade do relato (gramática, por exemplo), focando a atenção

mais para a experiência subjetiva em si. Também optamos por não realizar

despertares controlados nas diferentes fases do sono, uma vez que tenderiam a

perturbar o ciclo normal de sono e afetar o aprendizado na tarefa. Assim, não temos

como comparar com exatidão os relatos mentais com a eletrofisiologia registrada no

cochilo.

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139

Finalmente, optamos por não realizar qualquer análise quantitativa sobre o

conteúdo dos relatos oníricos, e utilizamos somente a associação feita pelo próprio

sujeito entre a experiência subjetiva e elementos da tarefa. As análises atuais

tendem a focar em elementos específicos segundo a hipótese para as funções

oníricas, e teriam o viés do pesquisador na busca (associação) por elementos muito

fragmentados ou que foram representados de maneira simbólica. A interpretação

dos sonhos sofre intensa modulação individual e cultural (Beaulieu-Prévost & Zadra,

2007; Blagrove & Pace-Schott, 2010; Freud, 1900; Galinier et al., 2010; Gregor,

1981; Morewedge & Norton, 2009). Como exemplo ilustrativo, o caçador que

declarou não sonhar com o jogo (elementos do jogo na atividade mental do cochilo:

Somente acordado), e inclusive exibiu episódios de sono REM, escreveu em seu

relato:

Relato Predador F3 - “Uma menina tentando jogar videogame que se

transforma em uma ave branca quando voa com ela. A menina era loira

e tinha seus 20 poucos anos”.

A presença de um elemento da tarefa parece evidente, e inclusive seria

detectada por análises direcionadas (palavra-chave videogame), o que pode gerar

diferenças na interpretação dos resultados, e, portanto, cautela. Depender do relato

como forma de acessar a atividade onírica ainda é uma limitação para a

investigação científica, apesar de não impedir descobertas significativas (Windt,

2013).

O uso de um jogo de videogame como tarefa se mostrou uma interessante

ferramenta para a investigação científica. Eles tendem a ser mais interessantes e

envolventes para o participante do que as tarefas tradicionalmente usadas, o que

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pode influenciar muito o desempenho e consequentemente as interpretações dos

resultados. Um dos participantes, que já tinha experiência prévia como sujeito em

experimentos neurocientificos, declarou espontaneamente que este foi o único em

que não chegou ao final do protocolo entediado com a tarefa, pelo contrário, jogaria

mais se pudesse. Além disso, consideramos que os videogames podem oferecer em

um ambiente controlado (laboratório) estímulos e respostas comportamentais mais

naturais e que dificilmente seriam acessíveis a investigação científica no contexto

real (simulando confrontos e ameaças, por exemplo). Finalmente, nossos resultados

podem contribuir com pesquisas que buscam desenvolver um possível uso dos

videogames para o aprendizado em geral, e principalmente como ferramenta

terapêutica, como no caso da terapia de exposição para o tratamento de fobias

(Pace-Schott et al., 2012), da Síndrome do Estresse Pós-Traumático (Levin &

Nielsen, 2007) e até atenuando os efeitos do envelhecimento (Anguera et al., 2013).

Pretendemos continuar a trabalhar nesse experimento, objetivando a

publicação dos resultados. Assim, a curto prazo, aumentaremos o n experimental e

realizaremos algumas análises específicas: comparar sono no cochilo e os dados

das variáveis individuais de sono; relação do sono com a atividade cardíaca

observada; a relação da atividade cardíaca com desempenho na tarefa; análises

espectrais dos registros eletroencefalográficos e comparação com desempenho e

sonho; e aprimorar um ‘actimetro’ desenvolvido em Matlab que compara a diferença

dos frames dos vídeos para detectar a quantidade de atividade motora (movimento)

dentro do jogo. A longo prazo, vislumbramos inclusive o desenvolvimento de um

jogo de videogame próprio (ou um motor de jogos, engine), com código aberto, e

que permita tanto maior controle ativo pelos pesquisadores dos elementos do jogo e

do cenário virtual, como acesso a dados importantes como o registro da atividade

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motora (input nos controles), medir o tempo de reação entre estímulos apresentados

e a resposta do jogador, além de permitir integração plena com os registros

eletrofisiológicos, com a marcação automática dos múltiplos eventos do jogo

(triggers), para análises de ERPs (potencial evocado).

Dessa forma, nossos resultados sugerem que em situações de estresse

agudo os sonhos teriam uma função primária para o indivíduo, relacionada a

otimização da resposta de luta ou fuga e direcionamento do comportamento, e uma

função social secundária, mas fundamental para a coesão dos grupos humanos,

possivelmente baseada na resposta secundária ao estresse de ‘cuidar e ajudar’

(Geary & Flinn, 2002; Taylor, 2006; Taylor et al., 2000; Turton & Campbell, 2005).

Tais funções oníricas poderiam ter uma importante relação com o fato da evolução

humana ter sido moldada por interações gene-cultura (Laland et al., 2010). Nesse

contexto, os sonhos constituem uma ligação com a pré-história humana que não

deve ser menosprezada (Freud, 1940).

2.5 – Conclusões

Esse trabalho buscou investigar o papel adaptativo dos sonhos utilizando

como tarefa um jogo de videogame entre dois participantes em papéis distintos, um

com objetivo de caçar o adversário (predação), e o outro com objetivo de coletar

itens no cenário, evitando o adversário mais forte (forrageio). De modo geral, apenas

participantes no papel de Presas apresentaram diferenças do teste para o treino na

performance avaliada, com aumentos no número de vezes que mataram o

adversário e no número de itens coletados. A tarefa pareceu influenciar a arquitetura

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do sono dos participantes no Cochilo, uma vez que apenas Caçadores exibiram

Sono REM. É possível que isto esteja relacionado com maior estresse e medo para

o grupo Presas, fato sugerido pela análise da atividade cardíaca, que mostrou menor

variabilidade cardíaca (HRV) e maior relação LF/HF, no Cochilo e no Teste, e que

estariam relacionados com Ansiedade. Apenas para os Caçadores, por sua vez,

encontramos resultados associando sono e desempenho: um maior número de

sucessos na tarefa (matar o adversário) durante o Treino teria aumentado a

quantidade de sono (e diminuído o tempo em vigília) do Cochilo, com uma

correlação negativa entre o tempo em vigília e o Escore geral no Teste.

O sonho com a tarefa esteve associado com o aumento da atividade cardíaca

média durante os jogos (Treino e Teste), e estaria relacionado a uma variedade de

emoções intensas (positivas e negativas). Ou seja, o ocorrência do sonho pareceu

se relacionar com maior envolvimento psicobiológico (fisiológico, mental e

comportamental) com a tarefa. O sonho relacionado com a tarefa produziu efeitos no

desempenho apenas das Presas: quem não sonhou apresentou um aumento no

número de vezes que mata o Caçador e o número de mortes do próprio

personagem, com ganhos negativos no escore relacionado ao objetivo. Por outro

lado, as presas que sonharam aumentaram a coleta de itens entre as partidas,

apresentando ganhos positivos no escore do objetivo. Esses resultados sugerem

que sonhar com o jogo diminuiu o comportamento de agressão ao predador, com

maior eficiência no forrageio, otimizando a resposta de luta-e-fuga. O conteúdo

onírico pode ter refletido o processamento mnemônico e preparação antecipatória

que ocorre no encéfalo durante o sono.

Finalmente, encontramos uma associação entre atividade onírica e diminuição

das interações violentas na tarefa entre os participantes, com um aumento da

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violência quando nenhum dos participantes sonhou e diminuição da violência

quando ambos participantes sonharam. Tais resultados sugerem uma função social

para atividade onírica em humanos, fundamental para a coesão dos grupos,

possivelmente baseada no padrão de resposta secundária ao estresse de ‘cuidar e

ajudar.’

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Discussão Geral

Os dois experimentos permitiram compreender melhor a relação dos sonhos

antecipatórios com desempenho cognitivo, afeto e comportamento da vigília em

contextos competitivos de estresse agudo: um evento real, importante da vida

contemporânea (processo seletivo para o ensino superior), e uma tarefa em

laboratório, utilizando um jogo de videogame.

O experimento 1, com o vestibular, não demonstrou diferenças significativas

no desempenho na comparação direta entre quem sonhou e não sonhou,

contrariando resultados anteriores (Arnulf et al., 2014; Scott, 2009). Parcialmente em

concordância com nossa hipótese, encontramos apenas para quem sonhou: uma

correlação positiva entre alterações do cotidiano e o desempenho; além de

candidatos que julgaram a Dificuldade do vestibular como Alta apresentarem melhor

rendimento do que os que julgaram como dificuldade Média, sugerindo uma relação

do sonho com adaptação a contextos desafiadores. A ocorrência do sonho

relacionado as provas esteve associada a maiores escores de medo e apreensão, e

a maiores alterações no cotidiano, no humor e no sono em função do vestibular, o

que favorece nossa hipótese de que a atividade onírica sofre influência da

mobilização psicobiológica em torno de um evento (Cartwright et al., 2006; Schredl &

Hofmann, 2003). Encontramos uma maior proporção de participantes do sexo

feminino reportando um sonho, fato já previsto na literatura (Erlacher et al., 2011;

Schredl & Reinhard, 2008), ao mesmo tempo que exibiram rendimento inferior ao do

sexo masculino na amostra. É possível que tanto a atividade onírica como o relato

de um sonho sofram influência de uma resposta secundária ao estresse, expressa

comportamentalmente pelo padrão ‘cuidar e ajudar’, evolutivamente relacionado

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principalmente com sexo feminino (Geary & Flinn, 2002; Taylor, 2006; Taylor et al.,

2000; Turton & Campbell, 2005).

O experimento 2, utilizou um jogo de videogame entre dois participantes com

papéis distintos, um com objetivo de caçar o adversário (predação), e o outro com

objetivo de coletar itens no cenário, evitando o adversário mais forte (forrageio).

Encontramos diferenças comportamentais e fisiológicas entre os diferentes papéis.

Presas apresentaram diferenças do teste para o treino na performance avaliada,

com aumentos no número de vezes que mataram o adversário e no número de itens

coletados; além de alterações na atividade cardíaca que sugerem aumento da

ansiedade (Billman, 2013; Kreibig, 2010). Apenas Caçadores, por sua vez, exibiram

Sono REM no Cochilo [provavelmente por menor estresse, (Levin & Nielsen, 2007)]

e correlação entre sono e desempenho na tarefa, o que é amplamente conhecido na

literatura (Diekelmann & Born, 2010; Rasch & Born, 2013). O sonho com a tarefa

esteve associado a um maior envolvimento psicobiológico (fisiológico, mental e

comportamental), com maior atividade cardíaca média durante o jogo. Apenas

encontramos um efeito do sonho no desempenho das Presas: quem não sonhou

aumentou o número de vezes que mata o Caçador e o número de mortes do próprio

personagem, com ganhos negativos no escore relacionado ao objetivo, e as presas

que sonharam aumentaram a coleta de itens entre as partidas, apresentando

ganhos positivos no escore do objetivo. Esses resultados sugerem que sonhar com

o jogo diminui o comportamento de agressão ao predador, com maior eficiência no

forrageio, otimizando a resposta de luta-e-fuga. Finalmente, encontramos uma

associação entre atividade onírica e diminuição das interações violentas na tarefa

entre os participantes. Novamente, tais resultados sugerem uma função social para

atividade onírica em humanos, fundamental para a coesão dos grupos,

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possivelmente baseada no padrão de resposta secundária ao estresse de ‘cuidar e

ajudar’ (Geary & Flinn, 2002; Taylor, 2006; Taylor et al., 2000; Turton & Campbell,

2005).

Um exemplo interessante para o argumento da função dos sonhos na coesão

social é o uso ritual de sonhos, em uma cerimônia de canto e dança, pelo povo

Xavante (Graham, 1994). Como parte de um ritual de passagem para a vida adulta,

jovens do sexo masculino são iniciados em um tipo de dança e canto restrita aos

homens da tribo, construído coletivamente da combinação de versos e movimentos

retirados de sonhos, por sucessivas gerações. Assim, os adolescentes aprendem os

movimentos e versos, ao mesmo tempo que são instruídos nas tradições e dogmas

da cultura. Finalmente, eles sonham com uma composição original (muitas vezes

associada com os ancestrais), que é incorporada pelos demais na composição já

existente. Sonhos seriam um intermediário entre o processo criativo e subjetivo do

indivíduo e as noções coletivas de identidade grupal e pertencimento social (coesão

de grupo). Esse exemplo ilustra um possível modo pelo qual os sonhos podem ter

tido papel fundamental na evolução da religião e da cultura, explicando a

semelhança observada, nas mais diversas mitologias (Graham, 1994; Gregor, 1981;

Hughes, 2000; Lincoln & Seligman, 1935; Shulman & Stroumsa, 1999; Wayman,

1967), de elementos similares àqueles que são observados em sonhos (elementos

fantásticos e simbólicos).

Uma consideração importante, resultado deste trabalho, é que talvez a

relação entre sonho e desempenho da vigília não deve ser considerada de modo

direto e linear (qualquer sonho se relaciona positivamente com aprendizado e a

performance). De fato, a própria psicopatologia demonstra uma série de associações

entre quadros psiquiátricos específicos e perturbações na atividade onírica, sendo

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os pesadelos que caracterizam a Síndrome do Estresse Pós-Traumático (American

Psychiatric Association, 2013) o melhor exemplo de disfuncionalidade relacionado

ao conteúdo onírico (Levin & Nielsen, 2007). Talvez a atividade onírica per se, e o

acesso consciente a esse tipo de conteúdo, necessite ativamente dessa dissociação

(sonhos são para serem sonhados, não lembrados). Nesse sentido, os sonhos

estariam nos limites da experiência subjetiva dos indivíduos (fronteiras da noção de

eu), e têm uma relação muito importante com o fenômeno da consciência humana

em si. É possível, ainda, que a função onírica esteja justamente relacionada à

integração e manutenção da atividade geral do encéfalo.

A experiência onírica é intensa, e é comum que seja considerada alheia ou

sem relação direta com a experiência subjetiva da vigília. Por exemplo, 30% do

conteúdo dos sonhos foi considerado como sem relação com o próprio sonhador por

participantes de uma amostra brasileira (Mota-Rolim et al., 2013). Alguns povos

consideram que os sonhos acontecem em outras realidades (por exemplo, mundo

dos mortos ou mundo espiritual), ou ainda, pertencem a uma outra entidade ou

consciência que habita ou faz parte do indivíduo, como a noção da sombra pelos

índios Mehinaku (Gregor, 1981). No campo científico, diversas linhas psicológicas

consideram os sonhos como complementares a uma noção de eu (Beck, 1971; Boss

& Kenny, 1987; Jung, 1974; Perls, 1992). A teoria da Realidade Virtual (Hobson et

al., 2014) também considera os sonhos como parte de uma protoconsciência. A

própria psicanálise considera os sonhos uma porta de acesso ao inconsciente do

sonhador (Freud, 1900), sendo formulado, ainda dentro da primeira tópica sobre o

funcionamento psíquico, que a fonte da atividade onírica seria conteúdo

inconsciente, que estaria sendo ativamente reprimido pela consciência. Sonhos

teriam uma função de realizar um desejo, através da possibilidade do material

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inconsciente ser representado para a consciência, e assim teriam uma função

importante no equilíbrio psíquico (fundamental para a saúde).

Associação entre sono, sonhos e equilíbrio é bem ampla. Umas das funções

do ciclo sono e vigília é modular, regular e preparar processos cognitivos e

emocionais do encéfalo. É possível que os sonhos tenham um papel importante,

ainda desconhecido, no equilíbrio homeostático promovido em nível celular pelo

sono (Tononi & Cirelli, 2006), principalmente na determinação do entalhamento

(embossing) sináptico dependente da experiência da vigília (downscaling e upscaling

simultâneos) ocorrido no sono (Calais, Ojopi, Morya, Sameshima, & Ribeiro, 2015;

Ribeiro, 2012). A manutenção dos ciclos de vigília, sono NREM e sono REM é

fundamental para a saúde física e mental. Isso considerado, pode ser que os sonhos

tenham uma função e características distintas para quando estão relacionados com

o processamento de novas informações na matriz neural (input), e nesse caso

seriam mais relacionados com sono NREM, e para quando o processamento se

refere a um componente motivacional ou comportamental (output), nesse caso mais

relacionado com o sono REM. Em outras palavras, alguns sonhos podem refletir a

adequação das representações mnemônicas (atualização da realidade interna),

enquanto outros seriam o resultado final do processamento (simulações) promovido

pelo sono.

Apresentamos a seguir, no Quadro 1, um resumo das nossas hipóteses e

predições em relação com os resultados e conclusões.

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Quadro 1: Resumo das Predições e Resultados

Experimento 1:

Hipótese 1: Sonhos antecipatórios relacionados com o evento futuro maximizam o sucesso adaptativo do

indivíduo.

Predição Resultado Conclusão

Predição 1.1: Correlação positiva entre o sonhar com as provas e o desempenho nas mesmas, com melhor rendimento na performance para o grupo

que sonhou com a prova (Sonho Sim) do que o que não (Sonho Não).

Não foram encontradas diferenças significativas no desempenho na

comparação direta entre quem sonhou e não sonhou

Não corroborada

Hipótese 2: A ocorrência de um sonho antecipatório com um evento futuro depende da mobilização psicobiológica do indivíduo.

Predição Resultado Conclusão

Predição 2.1: A ocorrência do sonho com a prova se relacionará com maior medo e apreensão, além

de alterações mais profundas no cotidiano, nos padrões de humor e de sono do candidato

A ocorrência do sonho esteve associada a maiores escores de medo e apreensão, e a maiores alterações

no cotidiano, no humor e no sono

Corroborada

Hipótese 3: Características específicas dos sonhos relacionados as provas, como intensidade sensorial e emocional, resultam em diferenças no desempenho.

Predição Resultado Conclusão

Predição 3.1: Esperamos encontrar melhor desempenho para sonhos com menor ativação psicobiológica (vividez, intensidade emocional)

Baixo nível de Ansiedade no Sonho associado com notas mais elevadas

Parcialmente corroborada

Hipótese 4: As frequências com que os sonhos são lembrados e reportados, em situações de estresse agudo, são influenciadas pelo sexo.

Predição Resultado Conclusão

Predição 4.1: Maior proporção de participantes do sexo feminino reportando um sonho.

Maior proporção de participantes do sexo feminino no grupo Sonho Sim

Corroborada

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150

Experimento 2

Hipótese 5: Sonhos tem uma função primária para o indivíduo, relacionada com aprendizado, otimização da

resposta de luta ou fuga e direcionamento do comportamento.

Predição Resultado Conclusão

Predição 5.1: Correlação positiva entre conteúdo mental associado ao jogo durante o sono (sonho) e

ganhos no desempenho na tarefa;

Presas: quem não sonhou aumentou o número de vezes que mata o Caçador e

o número de mortes do próprio personagem, com ganhos negativos no

escore relacionado ao objetivo, e as presas que sonharam aumentaram a

coleta de itens entre as partidas, ganhos positivos no escore do objetivo.

Parcialmente Corroborada

Hipótese 6: Os diferentes papéis assumidos pelos jogadores (Grupo Caçadores -predação e Grupo Presas -

forrageio) estimularão os participantes de maneira diferencial.

Predição Resultado Conclusão

Predição 6.1: Maiores alterações de padrões eletrofisiológicos (durante a tarefa e no cochilo)

para o grupo Presa.

Menor variabilidade cardíaca (HRV) e maior relação LF/HF, no Cochilo e no Teste, e ausência de sono REM no

Cochilo

Corroborada

Predição 6.2: Diferenças nos registros eletrofisiológicos entre os participantes que

sonharam com o jogo e os que não;

O sonho com a tarefa este associado com o aumento da atividade cardíaca

média durante os jogos (Treino e Teste), e ausência de sono Rem no Cochilo.

Corroborada

Hipótese 7: O sono favorece o aprendizado, influenciando diretamente o desempenho em uma tarefa.

Predição Resultado Conclusão

Predição 7.1: Correlação positiva entre quantidade de sono (NREM e REM) e ganhos no desempenho;

Apenas para os Caçadores, encontramos uma correlação negativa

entre o tempo em vigília e o Escore geral no Teste.

Parcialmente Corroborada

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151

Conclusão

Podemos concluir a partir de nossos resultados que:

Sonhos antecipatórios ocorrem em função de maior ativação

psicobiológica relacionada a um conteúdo ou evento;

Há uma relação entre sonhos e melhor adaptação a contextos

desafiadores;

Aspectos individuais (como sexo) e contextuais (tarefa) exercem

influência na relação entre sonho e desempenho;

É possível que os sonhos tenham uma função relacionada à reação

primária ao estresse (luta ou fuga) e outra relacionada à reação

secundária de ‘cuidar e ajudar’ (coesão social).

Nossos resultados contribuem para a investigação científica dos sonhos, e

podem auxiliar na compreensão de aspectos contraditórios da literatura. No entanto,

outros trabalhos ainda são necessários para esclarecer melhor qual é a função da

atividade onírica.

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178

Anexos

Anexo A - Carta de Contato

Prezado candidato,

Você, envolvido com as provas do vestibular, está sendo convidado a participar de

uma pesquisa científica. Sua importante participação é voluntária, e não interfere em nada no

processo seletivo que está participando.

A pesquisa é bem simples, necessitando de pouco menos de 20 minutos de seu tempo,

e não envolve respostas certas ou erradas: apenas queremos ouvir sua opinião.

O objetivo é entender o papel dos sonhos e sua relação com o aprendizado.

“<Link participação> Clique aqui para iniciar sua participação.”

Você encontrará:

1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE): solicitamos que leia com

atenção. Caso concorde participar da pesquisa, assinale e siga para os questionários.

2- Questionários.

Para sua participação ser considerada válida, solicitamos que preencha todos os

questionários (tanto o TCLE quanto os questionários específicos) da maneira mais completa

possível.

Desde já agradecemos sua atenção. Estamos inteiramente à disposição para quaisquer

dúvidas e esclarecimentos.

Atenciosamente,

Rafael Neia Barbosa Scott

Pesquisador responsável.

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Anexo B – TCLE Experimento 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS – CB

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA - DFS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO:

Título: Sonhos antecipatórios: investigando a influência de um evento futuro significativo da

vigília na atividade onírica.

Pesquisador: Rafael Néia Barbosa Scott.

Objetivo: O objetivo desta pesquisa, em parceria com a Comperve, é entender a função dos sonhos, e como eles se relacionam com eventos importantes do cotidiano individual, no caso, o vestibular.

Envolvimento na pesquisa: O seu envolvimento nesta pesquisa será iniciado com o preenchimento dos questionários

específicos. A Comperve irá fornecer posteriormente seus resultados nas provas deste vestibular. Entraremos em contato para

algumas perguntas sobre suas respostas no questionário. Em nenhum momento a participação ou não nessa pesquisa

influenciará o processo seletivo do vestibular. O seu envolvimento nesta pesquisa poderá ser cancelado a qualquer momento.

Informações sobre a pesquisa e/ou sobre o seu envolvimento na mesma poderão ser requeridas a qualquer momento. Riscos: Por se tratar de um protocolo não invasivo, o seu risco é mínimo.

Benefícios: Você contribuirá para o entendimento da relação entre sonho e aprendizado.

Confidencialidade: As informações obtidas durante os registros serão armazenadas em sala trancada, e serão acessíveis apenas aos pesquisadores da equipe. Em nenhuma hipótese a identidade dos sujeitos será revelada. Ressarcimento e Indenização: Você não será pago para participar desta pesquisa. No entanto, será ressarcido por despesas

decorrentes de sua participação e será indenizado por dano comprovadamente ocorrido em virtude da participação nesta

pesquisa. O pesquisador responsável, o psicólogo Rafael Néia Barbosa Scott, proverá tais quantias.

Responsabilidades do Pesquisador e da Instituição: O pesquisador responsável, Rafael Néia Barbosa Scott têm a

responsabilidade de realizar a pesquisa nas instalações da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, localizada à Av.

Senador Salgado Filho, s/n, Lagoa Nova, Natal, RN e de seguir as normas de boa conduta. Cabe ao pesquisador responsável, Rafael Néia Barbosa Scott, suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano à saúde do sujeito

participante da pesquisa e conseqüente à mesma. Cabe à instituição apoiadora desse projeto, da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, fornecer o espaço físico para a realização da pesquisa.

Explicitação de Critérios para Suspender ou Encerrar a Pesquisa: O pesquisador responsável e sua equipe comprometem-se a suspender ou encerrar esta pesquisa imediatamente ao perceber irregularidades que ofereçam riscos ou

danos à saúde do sujeito participante da pesquisa e conseqüente à mesma. Participação Voluntária: A participação como sujeito nesta pesquisa é voluntária. Você poderá desistir de sua participação nesta pesquisa, sem nenhum dano moral ou financeiro, a qualquer momento. Essa pesquisa não influencia o resultado do

vestibular.

Perguntas: Encorajamos você a questionar os procedimentos desta pesquisa. Em caso de dúvidas favor contatar o Sr. Rafael

Scott pessoalmente, por telefone (84) 9423-9646 ou por e-mail: [email protected]

Consentimento para Participação: (_________) Estou de acordo e autorizo minha participação no estudo acima descrito.

Fui devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa, aos procedimentos aos quais serei submetido e aos possíveis

riscos que possam advir de tal participação. Foram garantidos esclarecimentos que possa a vir solicitar durante o curso da pesquisa, assim como o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que a minha desistência implique em

qualquer prejuízo a minha pessoa. A minha participação fará parte do experimento e não implicará em custos ou prejuízos

adicionais, sejam eles de caráter econômico, social, psicológico ou moral, sendo garantido o anonimato e o sigilo dos dados

referentes a minha identificação.

Indivíduo:___________________________________________________________

Compromisso do Investigador: Eu discuti as questões acima apresentadas com o indivíduo participante no estudo. É minha

opinião que o indivíduo entende os riscos, benefícios e obrigações relacionadas a este projeto.

Rafael Neia Barbosa Scott Data: __/__/__

Pesquisador Responsável.

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180

Anexo C - Questionário Vestibular

NÚMERO DE INSCRIÇÃO: ___________________

CPF: _____________________________

NOME: ____________________________________________________________________

QUESTIONÁRIO 1

Você acaba de passar por uma prova (vestibular). Lembrando-se de como se sentiu ANTES

de fazer a prova, julgue os itens a seguir:

Quase nada Razoavelmente

Muito

1) desafio/dificuldade 1 2 3 4 5 6 7

2) medo/apreensão 1 2 3 4 5 6 7

3) desejo de ser aprovado 1 2 3 4 5 6 7

4) alterou seu cotidiano 1 2 3 4 5 6 7

5) alterou seu humor 1 2 3 4 5 6 7

6) alterou seu sono 1 2 3 4 5 6 7

7) importância no seu futuro 1 2 3 4 5 6 7

8) acha que será aprovado 1 2 3 4 5 6 7

Você se lembra de algum sonho (ou pesadelo) que você relaciona com a prova (ANTES de

fazê-la), ainda que vagamente?

Sim ( ) Não ( )

Se não, pule para o questionário 2.

* Se sim, por favor, descreva o sonho antes da prova do modo mais exato e completo que

recorde. Seu relato deve conter, sempre que possível: uma descrição do lugar (cenário) do

sonho, seja ele conhecido (familiar) ou não; uma descrição das pessoas, suas idades, sexo e

relacionamento com você; e quaisquer animais que apareceram no sonho. Se possível,

descreva seus sentimentos durante o sonho e se ele foi agradável ou desagradável. Não se

esqueça de dizer exatamente o que aconteceu durante o sonho com você e outros personagens.

>

>

>

Quando esse sonho ocorreu (data aproximada):________________

Como você classifica a força da relação entre prova e sonho:

Fraca Média Forte

1 2 3 4 5 6 7

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181

Tom emocional do sonho:

Desagradável Neutro Agradável

1 2 3 4 5 6 7

Ansiedade no sonhos:

Quase nada Razoável Muito

1 2 3 4 5 6 7

Sonho parecia ‘real’? (vívido, imagens fortes):

Quase nada Razoável Muito

1 2 3 4 5 6 7

Que palavra melhor descreve esse sonho?

Pesadelo ( )

Insônia ( )

Repetição ( )

Trabalho ( )

Delícia ( )

Busca ( )

Vergonha ( )

Contemplação ( )

Estudo ( )

Fantasia ( )

O sonho se repetiu durante a noite?

Sim ( ) Não ( )

E nas seguintes?

Sim ( ) Não ( )

** Se sim, descreva como aconteceu a repetição:

>

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Anexo D - TCLE Experimento 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS – CB

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA – DFS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: “Relação dos sonhos antecipatórios com

desempenho cognitivo, afeto e comportamento da vigília.”, que tem como pesquisador responsável

Sidarta Ribeiro.

Esta pesquisa pretende entender a função do sono e dos sonhos, e como eles se relacionam

com eventos que a pessoa vivenciou. Assim, investigaremos a influência de uma partida de

videogame de tiro em primeira pessoa (‘FPS’) sobre você e outro participante durante o jogo, durante

um cochilo na sequência (em que se pode dormir), e se isso tem alguma relação com o desempenho

em uma nova partida do jogo. O jogo é contra outro participante. Vocês irão jogar em papéis com

atributos e objetivos diferentes: um com objetivo de caçar o adversário, e o outro com objetivo de

escapar e coletar itens espalhados. A escolha dos papeis é aleatória (sorteio).

O motivo que nos leva a fazer este estudo é sabermos que o sono tem um papel fundamental

em várias formas de aprendizado, modificando memórias e habilidades e regulando nossas emoções.

Assim, o que vivemos influencia nosso sono, ao mesmo tempo que o que acontece nesse sono vai

influenciar em nosso dia seguinte. Mas ainda não é claro exatamente o que influencia, como isso

acontece, e quais os resultados disso. Também não sabemos se os sonhos, a principal vivência do

sono, contribuem para isso de alguma forma. Essa compreensão seria muito útil, por exemplo, na

prevenção e tratamento do Transtorno do Estresse Pós-Traumático, que pode acontecer após uma

experiência muito violenta ou traumática (risco de morte).

Caso você decida participar, você deverá ser submetido a um exame com um aparelho que

mede as ondas cerebrais (chamada eletroencefalografia - EEG), os batimentos cardíacos, o

movimento dos olhos e a atividade muscular. Esse aparelho utiliza eletrodos sobre a superfície da

pele, que não causam dor, não utilizam agulhas e não têm qualquer risco de provocar choques

elétricos. Nesse exame você irá jogar uma partida do videogame, depois ficará deitado de cochilo em

baixa iluminação, podendo dormir se conseguir, e então jogará mais uma partida do mesmo jogo.

Antes do exame você responderá questionários sobre dados socioeconômicos, sono e videogames.

Após o cochilo você deverá fornecer um relato, sobre o que se lembrar, de sua atividade mental

durante esse período (pensamentos, sonhos, etc.). Após a segunda partida do jogo, você responderá

um questionário sobre as partidas e o cochilo. Você tem o direito de se recusar a responder as

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183

perguntas que lhes cause constrangimento de qualquer natureza. Além do exame e questionários,

iremos gravar em vídeo suas partidas no jogo (apenas cenas e sons do videogame).

Durante toda a realização exame (jogos e cochilo) a previsão de riscos é mínima, ou seja, o

risco que você corre é semelhante àquele sentido num exame físico ou psicológico de rotina, ou de

jogar uma partida de videogame do tipo “tiro em primeira pessoa’.

Não se espera que ocorra algum desconforto durante o experimento. Você deverá comunicar

imediatamente qualquer desconforto, principalmente na fase do cochilo (sede, vontade de ir ao

banheiro, temperatura, etc.), que será minimizado pelo pesquisador. Ao participar da pesquisa você

terá como benefício acesso ao material coletado. Caso seja percebida qualquer anormalidade no

padrão das ondas cerebrais ou na avaliação de seu sono, que indiquem algum risco para sua saúde,

você receberá orientações para buscar encaminhamento especializado.

Em caso de algum problema que você possa ter, relacionado com a pesquisa, você terá

direito a assistência gratuita que será prestada no Hospital Universitário HUOL-UFRN.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para Rafael Neia

Barbosa Scott no telefone (84) 9423-9646.

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase

da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será

indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone 3215-3135.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o

pesquisador responsável Sidarta Ribeiro.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão

coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará para

mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa “Relação dos

sonhos antecipatórios com desempenho cognitivo, afeto e comportamento da vigília.”, e autorizo a

divulgação das informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde

que nenhum dado possa me identificar.

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184

Natal _______ de _____________________ de 20 .

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “Relação dos sonhos antecipatórios com

desempenho cognitivo, afeto e comportamento da vigília.”, declaro que assumo a inteira

responsabilidade de cumprir fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram

esclarecidos e assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo e

confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde

– CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, _______ de _____________________ de 20 .

Assinatura do pesquisador responsável

Impressão datiloscópica do

participante

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Anexo E – Questionário Sociodemográfico

Informações Sócio-Demográficas

Nome: ______________________________________ Data: _____/_____/_____

Data de Nascimento: _____/_____/_____ Telefone Fixo: _______________

Celular: ____________________________________________________

E-mail: _____________________________________________________

RG ________________________________________________________

Naturalidade: _____________________________

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

Estado civil?

1[ ] Solteiro 2[ ] Casado/ vivendo com o parceiro

3[ ] Viúvo 4[ ] Divorciado ou separado/ desquitada

Filhos?

1[ ] Nenhum 2[ ] Um

3[ ] Dois 4[ ] Mais de dois

Nível educacional?

1[ ] Analfabeto / Primário incompleto 2[ ] Primário completo / Ginasial incompleto

3[ ] Ginasial completo/ Colegial incompleto 4[ ] Colegial completo / Superior incompleto

5[ ] Superior completo 6[ ] Pós-graduação

Profissão?__________________________________________________________________

Você exerce sua profissão atualmente? 1[ ] Sim 2[ ] Não 3[ ] Estou afastado

Se sim, quantas horas por dia você trabalha? ____________________________________

Renda familiar:

( ) Até 01 Salário mínimo ( ) 1-2 Salários mínimos

( ) 2-3 Salário mínimo ( ) 04-10 Salários

( ) Acima de 10 salários

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Anexo F - Escala de Sonolência de Epworth

Escala de Sonolência de Epworth

Qual a probabilidade de você "cochilar" ou adormecer nas situações apresentadas a seguir?

Procure separar da condição de se sentir simplesmente cansado.

Responda pensando no seu modo de vida nas últimas semanas. Mesmo que você não tenha

passado por alguma destas situações recentemente, tente avaliar como você se portaria frente

a elas.

Utilize a escala apresentada a seguir para escolher o número mais apropriado para cada

situação :

0 - Nenhuma chance de cochilar

1 - Pequena chance de cochilar

2 - Moderada chance de cochilar

3 - Alta chance de cochilar

a. Sentado e lendo

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

b. Vendo televisão

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

c. Sentado em lugar público sem atividades (sala de espera, cinema, teatro, reunião)

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

d. Como passageiro de trem, carro ou ônibus, andando 1 hora sem parar

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

e. Deitado para descansar à tarde, quando as circunstâncias permitem

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

f. Sentado e conversando com alguém

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

g. Sentado calmamente, após um almoço sem álcool

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

h. Se estiver no carro, enquanto pára por alguns minutos no trânsito intenso

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3

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Anexo G - Índice de qualidade de sono de Pittsburgh

Questionário – IQSP

Índice. de qualidade de sono de Pittsburgh (PSQI-BR)

Instruções:

As seguintes perguntas são relativas aos seus hábitos de sono durante o último mês somente.

Suas respostas devem indicar a lembrança mais exata da maioria dos dias e noites do último

mês. Por favor, responda a todas as perguntas.

1. Durante o último mês, quando você geralmente foi para a cama à noite?

Hora usual de deitar ___________________

2. Durante o último mês, quanto tempo (em minutos) você geralmente levou para dormir à

noite?

Número de minutos ___________________

3. Durante o último mês, quando você geralmente levantou de manhã?

Hora usual de levantar ____________________

4. Durante o último mês, quantas horas de sono você teve por noite? (Este pode ser diferente

do número de horas que você ficou na cama).

Horas de sono por noite _____________________

Para cada uma das questões restantes, marque a melhor (uma) resposta. Por favor, responda a

todas as questões.

5. Durante o último mês, com que frequência você teve dificuldade de dormir porque você...

(a) Não conseguiu adormecer em até 30 minutos

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(b) Acordou no meio da noite ou de manhã cedo

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Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(c) Precisou levantar para ir ao banheiro

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(d) Não conseguiu respirar confortavelmente

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(e) Tossiu ou roncou forte

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(f) Sentiu muito frio

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____ 1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(g) Sentiu muito calor

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(h) Teve sonhos ruins

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(i) Teve dor

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(j) Outra(s) razão(ões), por favor descreva _______________________________

Com que frequência, durante o último mês, você teve dificuldade para dormir devido a essa

razão? Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

6. Durante o último mês, como você classificaria a qualidade do seu sono de uma maneira

geral?

Muito boa _____

Boa _____

Ruim ____

Muito ruim _____

7. Durante o último mês, com que frequência você tomou medicamento (prescrito ou

‘‘por conta própria’’) para lhe ajudar a dormir?

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

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8. No último mês, com que frequência você teve dificuldade de ficar acordado

enquanto dirigia, comia ou participava de uma atividade social (festa, reunião de

amigos, trabalho, estudo)?

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

9. Durante o último mês, quão problemático foi para você manter o entusiasmo

(ânimo) para fazer as coisas (suas atividades habituais)?

Nenhuma dificuldade _____

Um problema leve _____

Um problema razoável _____

Um grande problema _____

10. Você tem um(a) parceiro [esposo(a)] ou colega de quarto?

Não ____

Parceiro ou colega, mas em outro quarto ____

Parceiro no mesmo quarto, mas não na mesma cama ____

Parceiro na mesma cama ____

Se você tem um parceiro ou colega de quarto, pergunte a ele/ela com que frequência,

no último mês, você teve ...

(a) Ronco forte

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(b) Longas paradas na respiração enquanto dormia

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(c) Contrações ou puxões nas pernas enquanto você dormia

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(d) Episódios de desorientação ou confusão durante o sono

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana _____

(e) Outras alterações (inquietações) enquanto você dorme; por favor, descreva

_________________________________________________________________

Nenhuma no último mês _____ Menos de 1 vez/ semana _____

1 ou 2 vezes/ semana _____ 3 ou mais vezes/ semana ____

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Anexo H - Questionário Pré Sono – Dia e Noite anterior ao experimento

Pré Sono – Dia e Noite anterior ao experimento

1) A que horas você foi se deitar ontem? ___________________ hs

2) A que horas você acordou hoje? ____________________hs

3) Quantas horas, aproximadamente, você acha que realmente dormiu na sua última

noite de sono? (não incluir tempo acordado na cama) ____________________hs

4) Comparado com seu sono habitual, como você qualifica essa sua última noite de sono?

( ) Pior

( ) Igual

( ) Melhor

5)Você cochilou hoje?

( ) Não

( ) Sim

6) Se sim, em qual período do dia cochilou?

( ) Ao longo do dia

( ) Pela manhã

( ) Após almoço

( ) Final de tarde

7) Por quantos minutos você cochilou aproximadamente? ________________ minutos

8)Você sentiu alguma dor durante o dia de hoje?

( ) Não

( ) Sim

9) Se sim, especifique o local da dor:

( ) Coluna ( ) Dores nas juntas

( ) Cabeça ( ) Dores nas pernas

( ) Peito/tórax ( ) Outro:________________________ ( ) Dores pelo corpo todo

10) Em que momento do dia sua dor se manifestou?

( ) Ao longo do dia ( ) A tarde

( ) De manhã ( ) A noite

11) Você fez alguma atividade esportiva hoje?

( ) Não

( ) Sim

12) Se sim, há quanto tempo parou sua prática esportiva?

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( ) No máximo 2 horas

( ) De 3 a 6 horas

( ) Mais de 6 horas

13) Você tomou algum calmante ou medicamento para dormir nas últimas 24 horas?

(não incluir maracujina, ervas, homeopatia)

( ) Não

( ) Sim

14) Você ingeriu algum medicamento para se manter acordado nas últimas 24 horas? (

não incluir cafeína)

( ) Não

( ) Sim

15) Você ingeriu algum outro medicamento nas últimas 24 horas?

( ) Não

( ) Sim

16) Complete a tabela abaixo, considerando os medicamentos que usou nas últimas 24

horas ou que esteja tomando ultimamente, incluindo calmantes ou remédios para

dormir, caso faça uso:

Medicamento: Motivo: Dose Habitual:

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

17) Você ingeriu bebida alcoólica ontem ou hoje?

( ) Não

( ) Sim

18) Se sim, complete a tabela abaixo especificando a bebida tomada, dose e horário da

última dose:

Bebida Dose Horário

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

________________________ ___________________ ________________

19) Quantas xícaras de café /chá preto /mate e/ou copos de coca-cola ou guaraná você

tomou hoje? ______________________________ xícaras/copos

20) Se você ingeriu alguma dessas bebidas, especifique o horário da última xícara/copo: ___________________ hs.

21) Qual foi o horário da sua última refeição? (almoço, jantar ou lanche) _____________________ hs.

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22) Durante seu período de sono, qual aparelho ou prótese bucal que você usa?

( ) Nenhum ( ) Aparelho ortodôntico

( ) Placa para Bruxismo ( ) Prótese

( ) Aparelho intra-oral para ronco/apnéia ( ) Ponte/dentadura

( ) Aparelho tipo CPAP/BIPAP

23) Neste momento, está com as narinas congestionadas? (‘nariz entupido’)

( ) Não

( ) Sim

24) Aconteceu algo de diferente ontem ou hoje?

( ) Não

( ) Sim

25) Descreva o seu dia hoje:

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

______________________________________________________

26) Esse dia foi:

( ) Normal

( ) Diferente:______________________________________________.

27) Apenas para o sexo feminino:

Especifique a data de sua última menstruação:__________________________.

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Anexo I – Questionário sobre jogos eletrônicos

Questionário sobre JOGOS ELETRÔNICOS (videogames)

1) Você costuma jogar jogos eletrônicos (video-game, computador, etc)? ( ) Sim ( )Não

2) Qual sua plataforma de jogo preferida?

( ) Computador

( ) Celular

( ) Fliperama

( ) Video-game Qual:_________________________________

3) Qual sua experiência com jogos? Assinale aqueles que já jogou: ( ) Atari ( ) Xbox ( ) Computador PC

( ) Nintendo/Master System ( ) Playstation 2 ( ) Computador Apple

( ) SNES/ Mega Drive ( ) Xbox360 ( ) Jogo Social (Facebook)

( ) PSone/Nintendo64 ( ) PS3 ( ) Celular comum ( ) Fliperama(Arcade) ( ) Wii ( ) Smartphone

( ) Portátil. Modelo(s):___________________ ( ) Tablet (ipad)

( ) Outro:_____________________________

4) Quando foi a ultima vez que jogou? ____________________

Qual jogo?______________________

5) Com que freqüência costuma jogar ( ) Todos os dias

( ) Uma vez por semana

( ) Duas vezes por semana

( ) Três vezes por semana

( ) Quatro vezes por semana

( ) Cinco ou Seis vezes por semana

( ) Jogo raramente

6) Quando você joga, quanto tempo você costuma jogar? ( ) Menos de 1 hora por dia

( ) Até 2 horas por dia

( ) Até 4 horas por dia

( ) Mais de 4 horas por dia

7) Onde você costuma jogar? ( ) Em casa

( ) Em Lan House

( ) Fliperama

( ) Outro:________________

8) Com quem você joga?

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( ) sozinho

( ) com amigos (quantos:___)

( ) on-line

9) Se pudesse escolher, jogaria:

( ) sozinho

( ) com amigos (quantos:___)

( ) on-line

10) Que tipo (gênero) de jogo você prefere (numere quantas categorias quiser, sendo 1 a

favorita, 2 a sua segunda favorita, etc) ?

( ) Ação / Aventura

( ) RPG / Estratégia

( ) FPS (Jogos em Primeira Pessoa)

( ) Quebra-cabeça / Puzzle

( ) Corrida

( ) Luta ( ) ‘Plataforma’ (Mario Bros)

( ) Simuladores (Flight Simulator)

( ) Esporte

( ) Jogos de Baralho

( ) Outro: _________________

11) Quais seus jogos favoritos? (cite até 10 nomes de jogos que esteja jogando ou já

jogou)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

12) Você costuma jogar jogos violentos? ( ) Sim, só jogo jogos violentos

( ) Às vezes/também jogo jogos violentos ( ) Nunca jogo jogos violentos

13) Se você pudesse (acesso aos jogos, tempo livre, etc), jogaria: ( ) mais do que joga atualmente

( ) menos do que joga atualmente

( ) igual

( ) tanto faz – não me interesso tanto por games

14) Quais outras atividades você pratica em seu tempo livre (ate 10)?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

________________________________________________________________________

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15) Considerando os jogos e as atividades que você acabou de descrever, enumere da

mais prazerosa (1) até a que considera menos prazerosa:

1_________________________

2_________________________

3_________________________

4_________________________

5_________________________

6_________________________

7_________________________

8_________________________

9_________________________

10________________________

16) Em relação aos jogos em “Primeira Pessoa (FPS)”, como Doom, Counter-Strike e

Battlefield, qual seria sua correlação experiência-interesse?

( ) nenhuma experiência, nenhum interesse

( ) nenhuma experiência, interesse moderado

( ) nenhuma experiência, muito interesse

( ) alguma experiência, nenhum interesse

( ) alguma experiência, interesse moderado

( ) alguma experiência, muito interesse

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Anexo J - Questionário Pós - Sono (Cochilo)

Questionário Pós - Sono

RELATO DA ATIVIDADE MENTAL:

Por favor, descreva da maneira mais exata e completa que puder tudo que estava passando em

sua mente, seja um pensamento, imagens ou sonhos.

Seu relato deve conter, sempre que possível: uma descrição de imagens ou cenas, sejam

familiares (conhecidas) ou não; descrição das pessoas, suas idades, sexo e relacionamento

com você, descrição de quaisquer animais que apareceram. Descreva seus sentimentos

durante essa atividade mental, e no caso de sonho, se ele foi agradável ou desagradável.

Utilize o espaço necessário:

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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Anexo K - Questionário Pós - Teste

Questionário Pós - JOGO

Durante o período entre a primeira e a segunda partida, você pensou sobre, sonhou sobre ou

imaginou o labirinto do jogo?

SIM ( ) NÃO ( )

DESEMPENHO NO JOGO

1. De modo geral, como você avalia seu desempenho na tarefa (jogo1 + jogo2 )?

0 1 2 3 4 5

Ruim - Jogou mal Ótimo – Jogou bem

2. Como você avalia o seu desempenho no ultimo jogo (jogo2)?

0 1 2 3 4 5

Ruim Ótimo

3. E o seu desempenho no primeiro jogo (jogo1)?

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0 1 2 3 4 5

Ruim Ótimo

4. Pensando no seu jeito de jogar, quão diferente ele foi entre o jogo 1 e o jogo 2?

0 1 2 3 4 5

Igual Completamente diferente

5. Descreva essas diferenças, considerando se ela foi positiva/negativa e quanto ela foi

fundamental:

aspecto: _____________ (exemplos - ficar longe inimigos, familiaridade com

controles, usar o mapa, etc.)

impacto no desempenho:____ -5 a 5; sendo -5 (PIOROU muito meu desempenho) a

0 (nenhuma relação com o desempenho) a 5 (MELHOROU MUITO meu desempenho) a que atribui essa mudança?______________________

aspecto: _____________

impacto no desempenho:____

a que atribui essa mudança?______________________

aspecto: _____________

impacto no desempenho:____

a que atribui essa mudança?______________________

6. Durante seu sono, o jogo ou elementos dele passaram em sua cabeça?

( ) Não

( ) Somente acordado (deitado na cama) ( ) Entrando no sono

( ) Saindo do sono (acordando)

( ) Sonhando

( ) Sim, mas não tenho certeza quando

( ) Não tenho certeza

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7. Pensando somente em sonhos, você identifica elementos (ou aspectos) do jogo, ainda

que vagamente?

elemento:__________________________

grau de certeza/similaridade:_____ 0 (muito vago/incerto) a 5 (lembra-se

claramente do elemento, relacionado com MUITA certeza ao jogo)

elemento:__________________________

grau de certeza/similaridade:_____

elemento:__________________________

grau de certeza/similaridade:_____

8. Pensando somente em seus sonhos, você identifica elementos (aspectos) do experimento (quarto, eletrodos, etc.), ainda que vagamente?

elemento:__________________________

grau de certeza/similaridade:_____ 0 (muito vago/incerto) a 5 (lembra-se

claramente do elemento, relacionado com MUITA certeza ao jogo)

elemento:__________________________

grau de certeza/similaridade:_____

elemento:__________________________

grau de certeza/similaridade:_____

9. Seus sonhos no experimento foram diferentes do que costuma sonhar em casa?

0 1 2 3 4 5

Completamente diferente Dentro do padrão que costumo sonhar

10. Qual você acha que é o objetivo deste experimento?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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Anexo L - Método suplementar: Análise da atividade cardíca (Experimento 2)

Os batimentos cardíacos do sinal de ECG foram identificados utilizando um

algoritmo automático (Pan & Tompkins, 1985). Alguns sujeitos deslocaram ou

desconectaram acidentalmente o eletrodo de ECG durante certas partes do

experimento e portanto estas partes não puderam ter suas medidas

eletrocardiográficas analisadas. Outro inconveniente é que os movimentos dos

voluntários durante o experimento eventualmente provocavam artefatos no sinal de

ECG, os quais geram falhas na detecção dos batimentos através do algoritmo

automático. Portanto, um software interativo foi desenvolvido em Matlab (Mathworks,

Natick, MA) para detectar estas falhas. A Figura S1 apresenta a frequência cardíaca

em batimentos por minutos obtida de maneira automática para o jogo 2 do sujeito

17. Os valores máximo e mínimo estão indicados por círculos vermelhos. O gráfico

apresenta alguns valores muito elevados que foram causados por artefatos no ECG.

.

Figura S1- Frequência cardíaca em batimentos por minutos obtida de maneira automática

A Figura S2 apresenta o trecho do ECG que possui o valor mínimo de

frequência cardíaca indicado na Figura S1. Este valor ocorreu devido ao grande

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intervalo entre batimentos em destaque pelas linhas vermelhas. Os círculos

vermelhos indicam os pontos onde o algoritmo automático identificou a presença de

um batimento cardíaco. Percebe-se que a marcação automática está correta neste

trecho, e portanto o valor mínimo de frequência cardíaca foi corretamente

identificado.

.

Figura S2 - Trecho do sinal de ECG com baixa frequência cardíaca. Em destaque está o maior intervalo entre batimentos, que representa a menor frequência cardíaca.

A Figura S3 apresenta o trecho contendo o valor máximo de frequência

cardíaca indicado na Figura S1. Contudo, esta marcação se deu devido a uma

detecção indevida do algoritmo automático, causada pela presença de um artefato

no ECG. Com isto, formou-se um intervalo entre batimentos com uma duração muito

curta, o qual está indicado pelas linhas vermelhas.

.

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Figura S3 - Trecho do sinal de ECG com artefatos. A marcação incorreta de um batimento

cardíaco gera um intervalo entre batimentos menor que o verdadeiro.

Para solucionar este problema, a frequência cardíaca foi inspecionada

visualmente através do software desenvolvido no Matlab. Ao clicar na parte superior

do gráfico, era removido o menor intervalo entre batimentos, que corresponde à

maior frequência cardíaca, bem como o intervalo anterior e o seguinte, para garantir

a remoção de intervalos incorretos. Da mesma maneira, ao clicar na parte inferior do

gráfico, era removido o maior intervalo. A Figura S4 apresenta em destaque pelas

linhas vermelhas o trecho do ECG que foi descartado após a remoção do menor

intervalo entre batimentos, contendo artefatos

Figura S4 - Trecho do sinal de ECG após inspeção visual. O intervalo indicado pelas linhas

vermelhas, que possui artefatos, foi descartado da análise através de uma inspeção visual. Por isso, não há nenhuma marcação de batimento cardíaco nesse intervalo.

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Após o clique de remoção eram exibidos gráficos para mostrar o trecho do

ECG com os novos maiores e menores intervalos. Este processo foi repetido até os

valores extremos da frequência cardíaca estarem associados a trechos de ECG que

não apresentassem erros na identificação dos batimentos cardíacos, assim como na

Figura S2. Após a remoção de todos os valores extremos contendo artefatos, a

frequência cardíaca pode ser analisada mais facilmente, conforme consta na Figura

S5

Figura S5 - Frequência cardíaca em batimentos por minutos após inspeção visual.

A remoção de intervalos provocou a introdução de quebras de continuidade

na frequência cardíaca, dividindo o sinal em vários segmentos. Para formar um sinal

único e contínuo, primeiramente foram removidos segmentos contendo apenas 1

intervalo entre batimentos. Em seguida, foi adicionando 1 ponto entre segmentos

vizinhos que foi calculado a partir de uma interpolação de spline entre os dois

segmentos. Desta forma foi gerado um sinal contínuo que tende a apresentar

propriedades relacionadas à variabilidade da frequência cardíaca similares às do

sinal real, sem apresentar trechos com artefatos, que poderiam provocar grandes

distorções nos resultados.

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Finalmente, extraímos as variáveis utilizadas para os cálculos de interesse

(Task Force of the European Society of Cardiology the North American Society of

Pacing Electrophysiology, 1996): Como medida da atividade cardíaca (HR),

utilizamos a média da frequência cardíaca (bpm). Como medida da variabilidade

cardíaca, utlilizamos a raiz quadrada média de sucessivas diferenças no intervalo

entre as batidas (RMSSD, Root mean square of successive RR diferences). Além

disso, utilizamos uma análise espectral para extrair a razão da relação entre baixas

e altas frequências (LF/HF).