Rel Cuidador Idosos

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS Centro de Ensino Médio e Fundamental Escola Técnica de Saúde Estação de Pesquisa Atividade referente ao Plano Diretor 2008/2009 Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde – ROREHS Ministério da Saúde – MS Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS Relatório Final Diagnóstico dos processos de formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG Montes Claros Julho/2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

Centro de Ensino Médio e Fundamental

Escola Técnica de Saúde

Estação de Pesquisa

Atividade referente ao Plano Diretor 2008/2009

Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde – ROREHS

Ministério da Saúde – MS

Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS

Relatório Final

Diagnóstico dos processos de formação de cuidadores de idosos

no município de Montes Claros/MG

Montes Claros

Julho/2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

Centro de Ensino Médio e Fundamental

Escola Técnica de Saúde

Estação de Pesquisa

Professor Paulo César Gonçalves de Almeida Reitor da UNIMONTES

Professor João dos Reis Canela Vice-Reitor da UNIMONTES

Professor Wilson Atair Ramos

Diretor da Escola Técnica de Saúde do Centro de Ensino Médio e Fundamental – CEMF da UNIMONTES

Equipe: Coordenação: Marília Borborema Rodrigues Cerqueira Elaboração Projeto da Atividade Marília Borborema Rodrigues Cerqueira Maria Patrícia da Silva Élika Garibalde Elaboração Relatório Final Marília Borborema Rodrigues Cerqueira Maria Patrícia da Silva Élika Garibalde Fabiano Rodrigues Maynart Zaida Ângela Marinho de Paiva Crispim Atividades de coleta de dados Élika Garibalde Fabiano Rodrigues Maynart Marília Borborema Rodrigues Cerqueira Banco de dados Fabiano Rodrigues Maynart Apoio administrativo Arlany Júlia Moreira Contribuição especial Iza Manuella Aires Cotrim-Guimarães – análise dos Planos de Cursos

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A EQUIPE:

Marília Borborema Rodrigues Cerqueira: graduada em Ciências Econômicas e especialista em Teoria Econômica, ambos pela UNIMONTES; mestre em Demografia pelo CEDEPLAR/FACE/UFMG – 2003 e, atualmente, doutoranda em Demografia no CEDEPLAR; professora da ETS/CEMF/UNIMONTES desde 1997; professora dos cursos de Ciências Sociais e Serviço Social da UNIMONTES desde 2004; coordenadora do Observatório Estação de Pesquisa a partir de 2005. Maria Patrícia Silva: graduada em Ciências Sociais, especialista em Docência para a Educação Profissional e mestranda em Desenvolvimento Social pela UNIMONTES; especialista em Gestão Hospitalar pela ESP/MG; professora da ETS/CEMF/UNIMONTES desde 2003; integrante da equipe do Observatório Estação de Pesquisa desde 2003. Élika Garibalde: graduada em Ciências Econômicas pela UNIMONTES e especialista em Economia pela UNIMONTES/UFMG; cursou disciplinas isoladas no programa stricto sensu em Desenvolvimento Social pela UNIMONTES; integrante da equipe do Observatório Estação de Pesquisa a partir de 2007. Fabiano Rodrigues Maynart: licenciado em Educação Física pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE; profissional com experiência em banco de dados/SPSS do Observatório Estação de Pesquisa desde 2007. Zaida Ângela Marinho de Paiva Crispim: graduada em Ciências Econômicas e especialista em Docência para a Educação Profissional pela UNIMONTES; especialista em Gestão Hospitalar pela ESP/MG; integrante do Observatório Estação de Pesquisa a partir de 2006. Iza Manuella Aires Cotrim-Guimarães: pedagoga e especialista em Docência para a Educação Profissional pela UNIMONTES; mestranda em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ; exerce as funções de pedagoga e docente na ETS/CEMF/UNIMONTES desde fevereiro de 2002 e a de Gerente de Desenvolvimento Acadêmico no Hospital Universitário Clemente de Faria/UNIMONTES, desde maio de 2007. Arlany Júlia Moreira: graduada em Ciências Contábeis pela UNIMONTES; profissional com experiência em elaboração e gestão de projetos da ETS/CEMF/UNIMONTES desde 2004; integrante do Observatório Estação de Pesquisa a partir de 2008.

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Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por

admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por

ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,

isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro

Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,

por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.

(Antonio Cicero)

A todos aqueles que ousaram se guardar,

e o fizeram participando desta atividade.

O nosso agradecimento sincero!

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LISTA DE FIGURAS

GRÁFICO 1: Pirâmide Populacional, Montes Claros, 1980....................................

GRÁFICO 2: Pirâmide Populacional, Montes Claros, 2009....................................

TABELA 1: Alguns indicadores populacionais do município de Montes

Claros/MG, anos selecionados.............................................................

GRÁFICO 3: Idosos residentes em Montes Claros/MG, 2009, por sexo.................

TABELA 2: Morbidade proporcional por causa de internação hospitalar da

população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG,

1998 e 2007 (em %).............................................................................

TABELA 3: Taxas de morbidade hospitalar por causa de internação, da

população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG,

triênios selecionados (por mil).............................................................

TABELA 4: Mortalidade proporcional por causa básica de óbito segundo a CID-

10, da população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes

Claros/MG, 1996 e 2006 (em %).........................................................

TABELA 5: Taxas de mortalidade por causa básica de óbito segundo a CID-10,

da população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG,

triênios selecionados (por mil).............................................................

GRÁFICO 4: Alunos dos cursos para cuidadores de idosos, por faixa etária,

Montes Claros/MG, 2006 a 2008.........................................................

QUADRO 1: Dificuldades encontradas como cuidadores de idosos segundo os

egressos dos Cursos de Qualificação e Sequencial da Unimontes,

2006 a 2008..........................................................................................

QUADRO 2: Opiniões dos discentes sobre os processos de formação para

cuidadores de idosos, Montes Claros/MG, 2009.................................

QUADRO 3: Opiniões dos docentes sobre os processos de formação para

cuidadores de idosos, Montes Claros/MG, 2009.................................

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................

2. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................

3. O DIAGNÓSTICO...................................................................................

3.1 Objetivos.............................................................................................

3.2 Aspectos metodológicos.....................................................................

4. PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS PELA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS –

UNIMONTES...........................................................................................

5. APONTAMENTOS DEMOGRÁFICOS E PERFIL DE MORBI-

MORTALIDADE DE IDOSOS...............................................................

5.1 População residente e envelhecimento em Montes Claros/MG.........

5.2 Perfil de morbi-mortalidade de idosos residentes no município de

Montes Claros/MG..................................................................................

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................

6.1 Sobre os discentes...............................................................................

6.2 A percepção dos alunos sobre os processos de formação..................

6.3 Os processos de formação para cuidadores de idosos na perspectiva dos

docentes................................................................................................

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................

8. REFERÊNCIAS......................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

A Estação de Pesquisa da Escola Técnica de Saúde – ETS do Centro de Ensino

Médio e Fundamental – CEMF da Universidade Estadual de Montes Claros –

UNIMONTES, um Observatório da Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde –

ROREHS/ Ministério da Saúde/Organização Pan-America da Saúde – OPAS, apresenta

este relatório final de atividade intitulado: “Diagnóstico dos processos de formação de

cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG”, visando oferecer informações

que possam subsidiar a elaboração de políticas públicas em atendimento às demandas

advindas do processo de envelhecimento populacional, como também elementos

orientadores para a definição de prioridades e possibilidades de intervenção.

Esse processo de envelhecimento é irreversível e observável no cotidiano, haja vista

o crescente número de idosos por todos os lugares e em vários eventos e situações.

Caracterizando-se pela rapidez com que ocorre, o processo de envelhecimento aponta a

necessidade de se redefinirem as políticas de diversos setores, como os de saúde,

previdência e economia, em geral, com o intuito de prevenir, ou atenuar, o desamparo das

gerações mais velhas (Wong, Carvalho, 2006). Vale incluir, entre estes setores, o de

formação de profissionais que possam cuidar dos idosos, considerando-se que “o aumento

da esperança de vida faz com que uma porcentagem maior de pessoas viva parte de sua

vida em estado de incapacidade física ou mental” (Rios-Neto, 2005, p. 376).

A preparação dos profissionais que têm como atividade de trabalho o cuidar é cada

vez mais uma exigência, ressaltando que a qualificação deve possuir uma dimensão que vai

além da questão “mercado de trabalho”, pois envolve questões como ética, respeito,

conhecimentos técnicos, carinho, zelo. Há a necessidade de formação e da demanda por

formação, uma vez que o profissional lida com a saúde do idoso e pode ser definido como

um parceiro da equipe de saúde.

Dessa forma, o profissional responsável pelos cuidados com idosos deve ser

devidamente capacitado para desenvolver tal função. Em 2007, o Ministério da Saúde

envidou esforços visando a formação desses profissionais, em consonância com a Política

Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Nesse contexto, promoveu-se uma oficina de

elaboração da Proposta do Curso de Preparação de Cuidadores de Idosos com Dependência

e do Curso de Formação do Preparador do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência,

com a participação de algumas escolas da Rede de Escolas Técnicas do SUS – RETSUS.

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Ressalta-se que no evento foi elaborado um projeto-piloto do Curso de Preparação de

Cuidadores de Idosos com Dependência, cujo Plano de Curso buscou atender a todas as

necessidades da pessoa idosa.

A Escola Técnica de Saúde – ETS/CEMF/UNIMONTES foi uma das 6 (seis)

escolas escolhidas entre as 37 que compõem a Rede de Escolas Técnicas do SUS –

RETSUS para desenvolver o projeto-piloto do Curso de Preparação de Cuidadores de

Idosos com Dependência e o currículo foi construído embasado nos seguintes eixos de

competência para a prática do cuidador: interação e comunicação; cuidados em relação às

atividades ‘do andar’; prontidão para agir em situações imprevistas; prevenção de riscos;

acidentes e violências; e direito da pessoa idosa. Esse curso do projeto-piloto foi

ministrado em 2008 (e integrou o objeto de estudo deste trabalho).

Nesse contexto, esta atividade teve por objetivo diagnosticar os processos de

formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG, especificamente

aqueles ministrados pela UNIMONTES. O trabalho balizou-se pela busca de informações

sobre os referidos cursos, intitulados “Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas

Idosas com Dependência” e “Curso Superior Sequencial de Cuidador de Idoso”, como

também sobre os profissionais cuidadores de idosos, egressos desses cursos.

Dada a particularidade de ser um profissional recentemente reconhecido pela

Classificação Brasileira de Ocupações – CBO e pela própria sociedade, o cuidador de

idosos é um assunto ainda pouco explorado no sentido de constituir-se tema de

diagnósticos no município de Montes Claros/MG. Esta atividade foi uma tentativa de

preenchimento dessa lacuna.

Soma-se, ainda, o fato de que diagnosticar o tipo de formação oferecida a esses

profissionais é uma atividade legitimada e reconhecida como uma maneira de se

estabelecer sintonia entre o mundo do trabalho e a escola. A Lei 9.394/96 (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB) afirma a importância em ajustar a

Educação Profissional às necessidades do mundo do trabalho1. Do mesmo modo o Decreto

2.208/972 e a Portaria 646/97 do mesmo modo afirmam que devem ser realizados

1 Ver em seu Capítulo III, Da Educação Profissional, art.39. A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva (LDB 9.394/96).

2 Segundo seu artigo 7º: Para a elaboração das diretrizes curriculares para o ensino técnico, deverão ser realizados estudos de identificação do perfil de competências necessárias à atividade requerida, ouvidos os setores interessados, inclusive trabalhadores e empregadores (Decreto Federal nº 2.208/97, de 17 de abril de 1997).

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diagnósticos sobre a demanda de recursos humanos em saúde, corroborando a importância

da atividade empreendida.

Em se tratando da metodologia adotada para o desenvolvimento da atividade, foram

utilizadas diversas técnicas e estratégias, qualitativas e quantitativas, associando-se,

respectivamente, a realização de entrevistas, a aplicação de questionários aos cuidadores de

idosos e potenciais cuidadores de idosos – alunos que fizeram o curso e não trabalhavam

com idosos –, e análise de documentos. O processo de trabalho abordou profissionais dos

referidos cursos e contou com esforços de outros profissionais, para além da equipe de

trabalho constante do Observatório Estação de Pesquisa – como o caso da análise dos

projetos pedagógicos dos cursos realizada por uma pedagoga da Escola, constituindo o

capítulo 4.

Quanto à organização deste documento, há a divisão em capítulos, sendo este o

primeiro. A seguir, o Referencial Teórico resgata autores e literatura imprescindíveis ao

entendimento do objeto de estudo. O capítulo 3 conta para o leitor as peculiaridades do

diagnóstico feito, destacando-se os objetivos da atividade e os aspectos metodológicos. O

capítulo 4 é a análise dos processos de formação de cuidadores de idosos executados pela

UNIMONTES. Em sequência apresentam-se alguns apontamentos demográficos sobre o

município e o perfil de morbi-mortalidade de idosos. O sexto capítulo são os demais

resultados e discussões, perpassando sobre dados referentes aos alunos-cuidadores de

idosos e alunos potenciais cuidadores de idosos; informações sobre a percepção dos

professores dos cursos e dos mesmos alunos; como também são registradas as avaliações

dos cursos na opinião de ambos – docentes e discentes. Por último, encontram-se as

Considerações Finais, seguidas das Referências utilizadas para a construção deste relatório.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Os idosos integram o grupo populacional que mais cresce em quase todos os países

do mundo, e no Brasil, a realidade não é diferente. A pirâmide populacional brasileira

apresenta-se com base estreita, ou seja, percebe-se que a proporção de crianças na

população diminuiu e, conseqüentemente, o peso relativo de todas as demais faixas etárias

sofreu aumentos significativos.

Enquanto o envelhecimento populacional significa mudanças na estrutura etária, a queda da mortalidade é um processo que se inicia no momento do nascimento e altera a vida do indivíduo, as estruturas familiares e a sociedade. Apesar de os dois processos responsáveis pelo aumento da longevidade terem sido resultado de políticas e incentivos promovidos pela sociedade e pelo Estado e do progresso tecnológico, as suas conseqüências têm sido vistas, em geral, com preocupações por acarretarem pressões para transferência de recursos na sociedade, colocando desafios para o Estado, os setores produtivos e as famílias (Camarano, 2002, p. 6).

O processo de envelhecimento populacional no Brasil caracteriza-se como “agudo”

(Carvalho, 1993), uma vez que a queda da fecundidade ocorreu de forma muito rápida. Já a

queda da mortalidade e o ganho de longevidade, de igual importância na discussão,

resultam no aumento do número absoluto de idosos (Carvalho, Garcia, 2002).

Embora seja ainda um país jovem, o Brasil vem demonstrando um perfil populacional do tipo de transição demográfica que sinaliza rápida mudança em termos de aumento vertiginoso do estrato idoso da população, [...]. Aumento esse que representa, do ponto de vista da adoção de políticas públicas e sociais, solução de difícil alcance para contemplar adequadamente as peculiaridades emergentes dessa população idosa, caso a questão não seja tomada a sério com antecipação (Gonçalves et al., 2006, p. 571).

No entanto, tal longevidade pode ocasionar a fragilidade da saúde, uso exagerado

de medicamentos, depressão e limitações funcionais, implicando na necessidade de

cuidados constantes. Rogers (1995) confirma essa ideia de que o aumento da longevidade

não implica em um maior número de anos de vida saudável para todos os idosos.

Conforme Gonçalves et al. (2006), no Brasil estima-se que 85% dos idosos

apresentam pelo menos uma doença crônica, e destes pelo menos 10% com sobreposição

de afecções concomitantes. Desse modo, a situação de cronicidade e o aumento da

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esperança de vida dos brasileiros contribuem para o aumento de idosos com limitações

funcionais, o que exige profissionais cuidadores.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, o aumento do

número de pessoas idosas, com 60 anos ou mais, em todo o mundo, leva a uma maior

demanda dos serviços de atenção básica à saúde, decorrente do aumento na incidência de

doenças crônicas não-transmissíveis.

Entre as doenças que mais acometem os idosos, com 60 anos ou mais, estão:

acidente vascular cerebral – AVC, hipertensão, doenças do coração, diabetes, doenças da

coluna, acidentes domésticos, quedas, artrite-reumatismo, doenças do aparelho

circulatório, depressão, neoplasias, bronquite-asmática, doenças infecto-parasitária,

tuberculose, pneumonia, doenças do aparelho digestivo, varizes, doenças na próstata e

doenças infecto-urinária.

Para a sociedade, o envelhecimento é um processo que diz respeito à natureza, e

que se desenrola com desgastes, limitações físicas e mentais, e seu caminho final resulta

com a morte. Para os idosos, as perdas são tratadas principalmente como problemas de

saúde, anunciadas na aparência do corpo e pelo que acontece a ele como enrugamento,

encolhimento e reflexos mais lentos.

As mudanças consequentes do envelhecimento, muitas vezes, fazem com que os

idosos passem a necessitar de auxílio para desenvolver ações que anteriormente realizavam

sozinhos. A partir de tais necessidades surge o profissional “cuidador de idoso” e, como

aconteceu com outras profissões de nível técnico, a exemplo do auxiliar e técnico de

enfermagem, o cuidador de idosos tem sido inserido no serviço sem a devida capacitação.

Duarte (1996) apresenta o cuidador como o profissional que convive diariamente

com o idoso, ajudando nos cuidados higiênicos, auxiliando com a alimentação,

administrando medicação e estimulando-o com as atividades reabilitadoras, interagindo

assim, com a equipe terapêutica. Para a autora, o cuidador pode ser uma pessoa da família

ou amigo (cuidador informal) ou uma pessoa contratada para executar essas tarefas

(cuidador formal).

O debate em torno do significado sobre o termo profissão é bem complexo, pois

trata-se de termo polissêmico e que não possui fácil definição. Segundo Franzoi (2009), a

dificuldade para definir conceitualmente o termo profissão explica-se pelas diferentes

conotações que o termo assume dependendo da área de conhecimento em que se analisa ou

a tradição idiomática em que é aplicado.

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Quando utilizado na sociologia anglo-americana, o termo (profession) é reservado para profissões ditas sábias, ou seja, que pressupõem formação universitária, distinguindo-se de ocupations – o conjunto de empregos. Diferentemente, tanto na língua francesa quanto na portuguesa, o termo, sem o qualificativo liberal (ou liberales) designa tanto as ‘profissões sabias’ quanto o conjunto dos empregos reconhecidos na linguagem administrativa, principalmente nas classificações dos recenseamentos promovidos pelo Estado (Franzoi, 2009, p.328).

Considerando uma análise sociológica, as teses funcionalistas isolam as profissões

das ocupações a partir do conhecimento formal, do contato teórico-científico; o termo

profissão neste sentido é utilizado para designar aqueles que possuem diploma, ou melhor,

conhecimento científico universitário, por exemplo: os médicos, os advogados. Gonçalves

(2007) afirma que a grande ruptura com o funcionalismo é realizada por Hughes,

interacionista simbólico. A ruptura é realizada em vários sentidos:

[...] a problemática sociológica nuclear radica-se na análise das práticas dos membros de um grupo ocupacional para serem reconhecidos e legitimados socialmente como detentores monopolistas de uma área de actividade profissional, o que lhes confere um elevado prestígio e estatuto social – deste modo é determinante a compreensão dos jogos de interacção social permeados pela conflitualidade e pelo poder de controlar e monopolizar determinadas actividades profissionais; as profissões são objectos da prática quotidiana, não mais de que um “folk concept”; a inexistência de uma definição apriorística de profissão, mas uma pluralidade de situações, resultantes de diferentes contextos sociais em que são exercidas as correspondentes actividades laborais; a opção metodológica pelas monografias sobre as ocupações, privilegiando-se sempre as consideradas menos distintivas socialmente (ao contrário do que aconteceu com os funcionalistas que se centraram nos médicos e advogados), observadas por via da observação participante e das histórias de vida, seguindo a tradição etnográfica da Escola de Chicago (Gonçalves, 2007, p. 180).

No entanto, como afirma Dubar (1997) apud Franzoi (2009), a abordagem proposta

pelos interacionistas é insuficiente na compreensão do processo de socialização dos

trabalhadores, principalmente daqueles assalariados com menos qualificação. Para Dubar

(1997), a oposição entre as definições dos termos profissão e ocupação refere-se a uma

disputa política e ideológica pela distinção e classificação, assim como aconteceu através

dos séculos: intelectuais/manuais; cabeça/mão, etc.

Freidson (1995) traz para o debate a questão do trabalho informal, daqueles

trabalhadores que estão à margem da economia oficial; esse tipo de trabalhador não está

incluído nas modernas classificações oficiais. Porém, a teorização sobre profissões não

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pode deixar de tratar sobre economia informal, uma vez que muitas profissões têm suas

origens no trabalho informal, sendo reconhecidas oficialmente com o passar do tempo.

O sentido para o termo profissão aqui utilizado está de acordo com Franzoi (2009),

no sentido lato em oposição ao estrito de profissão “sábia” que pressupõe uma formação

teórica, sendo sua atividade de trabalho. A profissão é definida como o reconhecimento

social dos saberes que ele adquiriu na esfera da formação, bem como dos serviços ou

produtos que ele é capaz de oferecer, pelo valor social que preserva (Bava Jr., 2000).

O verbo cuidar em português significa atenção, zelo e ainda pode relacionar-se com

meditar, dispensar atenção ou prevenir. No entanto, a dimensão do ato de cuidar pode ir

além de momentos de atenção, pois na verdade é uma ocupação, uma responsabilização e

envolvimento com o ser cuidado (Remen, 1993; Boff, 1999; Silva et al., 2001).

Portanto, conforme Santos (2001) apud Saliba et al. (2007), o processo de cuidar é

a maneira como ocorre o cuidado, um processo interativo, que desenvolve ações, atitudes e

comportamentos com base no conhecimento científico, na experiência, intuição e tendo

como ferramenta principal o pensamento crítico, sendo essas ações e/ou outros atributos

realizados para o ser cuidado, no sentido de promover, manter e/ou recuperar sua

dignidade humana.

Cuidador de pessoas idosas trata-se de uma ocupação reconhecida e inserida na

Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego, “é

uma pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para realizar as

atividades e tarefas da vida quotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e serviços de

saúde ou da comunidade, geralmente remunerado” (Brasil, 1999).

Para Bava Jr. (2000) os padrões da CBO não podem ser utilizados sem

questionamentos – este autor reconhece o valor de tal classificação. Mas definir

trabalhadores apenas pela ocupação pressupõe que acaso eles fiquem desempregados

perde-se automaticamente seu perfil profissional. Na definição da CBO “não se integra, ao

corpo de cada ocupação, a escolaridade, o setor e a atividade econômica” (Bava Jr., 2000,

p.55).

Entretanto, a situação do cuidador, como afirma Maffioletti, Loyola e Nigri (2006),

é de pouca visibilidade diante da parca estrutura assistencial que desvaloriza este trabalho,

muitas vezes assumido como responsabilidade natural da mulher, nos níveis público,

familiar e pela rejeição social.

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Mais do que procurar exaustivamente o que separa as profissões das outras ocupações, é analiticamente mais virtuoso dar relevo aos processos de (re)configuração das ocupações em geral (incluindo nestas as profissões) – em termos de organização, de estruturação interna, de relações de poder com o Estado, os clientes e outros agentes sociais – e às articulações das ocupações com as transformações sociais mais amplas. A par disto, emerge como relevante reflectir sobre as causas subjacentes à difusão em determinados contextos nacionais, como o português por exemplo, do modelo profissional (com aspectos diferenciados do que era proposto pelos funcionalistas) e do profissionalismo, na qualidade de sistema de valores e de princípios de inserção laboral dos sujeitos sociais (Gonçalves, 2007, p.190).

A dinâmica demográfica indica o quanto é necessário reconhecer o papel do

cuidador de idosos, uma vez que a demanda das pessoas com 60 de idade ou mais é

crescente, proporcionalmente à participação relativa desse grupo populacional na estrutura

etária brasileira. O profissional “cuidador de idosos” tem história recente e seu papel ainda

é pouco percebido, ainda possui poucas oportunidades de treinamentos e apoio. Maffioletti,

Loyola e Nigri (2006) afirmam que alguns estudiosos relacionam o custo emocional e

físico desta função com o despreparo dos cuidadores informais e formais, que são os

responsáveis pelo cuidado.

Ainda segundo estes autores, a preparação dos profissionais cuidadores de idosos

efetiva-se em um movimento social que objetiva criar uma nova mentalidade voltada para

o acolhimento desses sujeitos, construindo uma subjetividade em que ela, a velhice, pareça

mais construtiva. Nessa nova mentalidade a proposta é que o acolhimento da velhice

dependente aconteça, na medida do possível, no domicílio. “Desta forma, ela possibilita

para a velhice, para a doença e para a morte uma ressignificação e propõe que lhes seja

permitido transitar, novamente, no espaço doméstico com naturalidade e propriedade”

(Maffioletti, Loyola, Nigri, 2006, p.1.086). Tal proposta apresenta um desafio a partir do

momento em que esse tipo de acolhimento demanda mudança de paradigma, de forma que

a doença, a velhice, a dependência e até a morte deixem de ser entendidas como inimigas

da vida e sejam aceitas, dialeticamente, como inerentes a ela.

[...] o surgimento do cuidador formal como uma nova categoria profissional, sob a exigência dessa nova mentalidade de assistência para os velhos, não pode ser entendida como uma resultante exclusiva das pressões do campo gerontológico. Ela se inscreve no campo do cuidar – apesar das resistências que tem encontrado –, porque há compatibilidade entre a nova mentalidade e a estrutura social, numa lógica interna que lhe dá sustentação: há uma pressão social e econômica que obriga os membros da família a se inserirem no mercado de trabalho; há uma demanda e uma oferta que se inscrevem na fragmentação dos saberes, da prestação de serviços desregulamentada, da carência de uma rede de serviços

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públicos especializada; e há a exigência de minimizar custos (Maffioletti, Loyola, Nigri, 2006, p. 1.086).

No atual contexto de ampliação do contingente de idosos, a assistência à saúde deve

se adequar às necessidades dos indivíduos desse grande grupo, que necessitam de atenção

específica. Deste modo, problemas com a saúde dos idosos requerem pessoal qualificado e

o cuidador de idosos é um profissional que assume tarefas para atender às demandas do

idoso e responsabiliza-se por elas.

Em consonância a esta tendência, as políticas de atenção ao idoso defendem que o domicílio constitui-se no melhor local para o idoso envelhecer, sendo que permanecer junto à família representa a possibilidade de garantir a autonomia e preservar sua identidade e dignidade (Cattani, Perlini, 2004, p. 255).

As responsabilidades assumidas pelo cuidador irão satisfazer as necessidades do

idoso visando à melhoria da sua condição de vida.

Os conhecimentos científicos actuais sobre a importância da promoção da saúde ao longo da vida, para prevenir ou retardar situações de doença ou dependência, sobre os factores de risco e as doenças mais freqüentes nas pessoas e sobre o seu impacto nos cuidados de saúde exigem a definição de linhas orientadoras e capacitação de profissionais de saúde (Martins, 2007, p. 8).

As atividades prestadas ao idoso são classificadas conforme o tipo de ajuda – seja

material, instrumental, sócio-emocional ou cognitivas; conforme os domínios de ajuda – se

são Atividades de Vida Diária – AVD (relacionadas ao autocuidado, ou seja, alimentar-se,

banhar-se, vestir-se ou ir ao banheiro) ou Atividades Instrumentais de Vida Diária – AIVD

(relacionadas à participação da pessoa idosa na sociedade e demonstram a capacidade de

independência ou não do idoso, exemplo: usar meios de transporte, tomar medicamentos,

usar telefone, etc.); conforme a intensidade ou quantidade da ajuda; o local que acontece a

ajuda e conforme, ainda, os padrões temporais envolvidos. Destaca-se que o apoio

oferecido pelo cuidador é complexo, e dificilmente enquadra-se em apenas uma

classificação somente (Brasil, 2007; Neri, Sommerhalder, 2001).

Ressalta-se que, conforme Miguel, Pinto e Marcon (2007), em alguns casos, o

auxílio prestado ao idoso para executar determinadas atividades não deve limitar o

exercício da autonomia. “[...] a dependência não constitui um estado permanente, mas um

Page 16: Rel Cuidador Idosos

16

processo dinâmico, cuja evolução pode se modificar e até ser prevenida ou reduzida se

houver ambiente e assistência adequados” (p. 786).

Sobre dependência LEITE (1995) diz que esta significa uma condição do idoso a qual se caracteriza por degenerescência decorrente de doenças crônicas ou de outras patologias, que lhe ameaçam a integridade física, social e econômica, diminuindo ou impedindo a capacidade do indivíduo para atender suas necessidades (Leite, 1995, apud Cattani, Perlini, 2004, p. 255).

Em 2006, o Pacto pela Vida colocou as pessoas idosas, com mais de 60 anos, como

uma prioridade. Nesse sentido, uma das diretrizes que integra a Política Nacional de Saúde

do Idoso é a necessidade de capacitação de recursos humanos para atenção à saúde do

idoso. Já em 1999, o artigo 3º da Portaria Interministerial 5.153/1999 determinava:

Serão estabelecidos protocolos específicos com as universidades e entidades não-governamentais; de notória competência, visando a capacitação de recursos humanos nas diferentes modalidades de cuidadores: domiciliar (familiar e não-familiar) e institucional.

Em consonância com a Política Nacional de Saúde do Idoso e Portaria supracitada,

a importância em estudar a atenção à saúde do idoso cresce a cada dia em todo o mundo e

o atendimento especializado nos serviços de saúde tem o propósito de prevenir doenças,

tratar, reabilitar e ainda oferecer novos serviços assistenciais, de modo a garantir-lhes a

independência no meio em que vivem. No contexto, observa-se o crescimento da demanda

por serviços individualizados, prestados por cuidadores de idosos.

Assim, a atenção ao idoso não restringe ao ambiente familiar; demanda também a

preparação de uma rede de saúde com serviços especializados, unidades de cuidados

diários, além da garantia de remédios e profissionais capacitados com qualidade.

O objetivo é promover uma qualificação profissional que instrumentalize os indivíduos para ingressarem no mercado de trabalho no papel de cuidadores, constituindo um novo recorte profissional que leve em conta a especificidade da velhice, considerando as ressonâncias do envelhecimento orgânico, das patologias que podem acompanhá-lo e das respostas sociais que determinam atitudes de rejeição ou acolhimento (Maffioletti, Loyola, Nigri, 2006, p. 1.086).

Page 17: Rel Cuidador Idosos

17

Portanto, faz-se necessário o aperfeiçoamento de profissionais com o objetivo de

promoção à saúde dos idosos. “É nesse ambiente que os saberes social, científico e

tecnológico são aplicados, o que exige das equipes habilidades para lidar com o outro e

seus problemas” (Lima, 2006, p. 42).

Com esse cenário, podemos prever a necessidade, cada vez maior, de cuidadores formais com treinamento para cuidar de idosos. Mesmo aqueles cuidadores com vínculo de parentesco, precisam de treinamento, pois esta é uma função extremamente complexa e desgastante para a pessoa que cuida (Chaves, 2007, s/p).

Page 18: Rel Cuidador Idosos

18

3. O DIAGNÓSTICO

3.1 Objetivos

O objetivo geral desta atividade foi diagnosticar os processos de formação de

cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG, especificamente aqueles

oferecidos pela UNIMONTES. Os objetivos específicos foram:

diagnosticar os processos de formação oferecidos pela UNIMONTES para os

cuidadores de idosos;

diagnosticar o perfil de morbi-mortalidade da população idosa do município de

Montes Claros, a partir de dados disponíveis no DATASUS;

definir o perfil dos cuidadores de idosos que atuam em Montes Claros, que

participam ou participaram dos cursos oferecidos pela UNIMONTES;

diagnosticar as demandas e dificuldades que esses cuidadores de idosos enfrentam

ao desenvolver o seu trabalho e como se sentem ao desempenhar as atividades do

cuidado;

organizar um banco de dados com as informações sobre cuidadores de idosos do

município de Montes Claros.

3.2 Aspectos metodológicos

O método

Para desenvolver a atividade “Diagnóstico dos processos de formação de

cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG” foram adotadas várias técnicas

e estratégias, mesclando-se métodos quantitativo e qualitativo, realizando-se aplicação de

questionários, realização de entrevistas semi-estruturadas e análise de documentos.

A combinação de métodos tem a ver com o caráter do objeto específico de

conhecimento e “[...] com o entendimento de que nos fenômenos sociais há possibilidade

de se analisarem regularidades, freqüências, mas também relações, histórias,

representações, pontos de vista e lógica interna dos sujeitos em ação” (Minayo, 2007, p.

63). E conforme Goldenberg (2000, p. 62): “É o conjunto de diferentes pontos de vista, e

Page 19: Rel Cuidador Idosos

19

diferentes maneiras de coletar e analisar os dados (qualitativa e quantitativamente), que

permite uma idéia mais ampla e inteligível da complexidade de um problema”. Segundo a

autora, os limites de um método podem ser contrabalançados pelos resultados alcançados

com a adoção do outro.

Sobre a técnica quantitativa, supõe-se que exista um aspecto comparável nos

elementos da população (Goldenberg, 2000). Minayo (2007) relembra Kant (1980) ao citar

que propriedades numéricas são atributos de todos os fenômenos. Quanto à estratégia

adotada, o questionário, ele foi escolhido por ser um instrumento que pressupõe hipóteses e

questões fechadas, “[...] cujo ponto de partida são as referências do pesquisador [...]”

(Minayo, 2007, p. 190).

Em se tratando da técnica qualitativa, Haguette (1999, p. 63) afirma que “os

métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas

origens e de sua razão de ser”, permitindo que o cientista se aproxime dos indivíduos que

oferecerão os dados para o diagnóstico. As abordagens qualitativas não se preocupam em

fixar leis, produzir teorias ou generalizações. Essa técnica de diagnóstico pode ser

estruturada com questões que possibilitam o acesso a informações objetivas ou subjetivas.

A entrevista semi-estruturada permite maior interação com o entrevistado, as

questões não são fechadas, possibilitando ao coletador obter dados de maneira flexível.

Lunardelo (2004) afirma que, com esse meio, é possível articular o direcionamento da

entrevista com questões formuladas, como também abordar o tema de maneira livre e

reflexiva e obter dados fundamentais à atividade.

Goldenberg (2000) coloca, com base em diversos autores, que as atividades

interativas dos indivíduos produzem as significações sociais, perceptíveis ao cientista

quando este participa do mundo que se propõe estudar. Os seres humanos são intérpretes

do mundo que os cerca, logo, é necessário desenvolver métodos de diagnóstico que

priorizem os pontos de vista dos mesmos. Os dados qualitativos permitem o tratamento da

subjetividade e da singularidade dos fenômenos sociais. “Contrapõem-se, assim, à

incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e da singularidade dos

fenômenos que não podem ser identificados através de questionários padronizados”

(Goldenberg, 2000, p. 49).

Pelo exposto, nesta atividade foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com

professores e alunos egressos de cursos de formação para cuidadores de idosos ministrados

pela UNIMONTES, visando aprofundar vertentes de estudo, como percepções sobre o

curso, demandas e dificuldades que os cuidadores de idosos enfrentam ao desenvolver o

Page 20: Rel Cuidador Idosos

20

seu trabalho e como se sentem ao desempenhar as atividades do cuidado. E foram

aplicados questionários a ambos os públicos também: professores e alunos. Vale citar que

foram aplicados questionários em sala de aula, aos alunos frequentes – à época inicial dos

trabalhos desta atividade, e outros questionários foram enviados/recebidos por endereço

eletrônico (e-mail) para alguns professores dos referidos cursos. O desenvolvimento da

atividade contou, ainda, com diversos contatos com professores e coordenador de um dos

cursos, visando o melhor entendimento das informações coletadas.

Do mesmo modo, foram analisados alguns documentos dos cursos – trabalhos

empreendidos por uma pedagoga da ETS/CEMF/UNIMONTES, simultaneamente, em

discussões com a equipe do Observatório Estação de Pesquisa.

E foi organizado um banco de dados em software específico, o SPSS 14.0,

congregando informações sobre os cuidadores de idosos do município de Montes Claros,

egressos dos cursos ministrados pela UNIMONTES.

Finalizando, a última fase foi a junção dos resultados, análises finais e redação do

documento final. Minayo (2007) fala que a triangulação de métodos não é fácil, e mostra

que as metodologias não são incompatíveis, sendo possível integrá-las em um mesmo

trabalho. “[...] uma investigação de cunho quantitativo pode ensejar questões passíveis de

serem respondidas só por meio de estudos qualitativos, trazendo-lhe um acréscimo

compreensivo e vice-versa; [...]” (p. 76). Ainda segundo Minayo, não há sentido de atribuir

prioridade de uma metodologia sobre a outra, pois cada uma tem seu papel, seu lugar e sua

adequação. Portanto, as informações coletadas nos questionários, entrevistas e documentos

permitiram uma mais elaborada construção da realidade de estudo, instigando novas

indagações para novos diagnósticos.

O trabalho de análise

Dos dados coletados por meio dos questionários foram elaboradas estatísticas

descritivas. Para tanto, utilizou-se o programa estatístico computacional Statistical Package

for the Social Sciences – SPSS, versão 14.0, no qual se construiu um banco de dados

específico para cada grupo de estudo – um para as respostas dos alunos do “Curso de

Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência”, outro para as respostas

dos alunos do “Curso Superior Sequencial de Cuidador de Idoso”, mais um para as

respostas dos professores.

Page 21: Rel Cuidador Idosos

21

Quanto à técnica de análise, buscou-se seguir a metodologia proposta por Minayo

(2007), a hermenêutica-dialética. A interpretação dos dados com a utilização da

hermenêutica-dialética permite a aproximação da realidade, por considerar os aspectos

extradiscursivos que constituem o espaço sociopolítico e econômico do contexto. Ambas

referem-se “[...] à práxis estruturada pela tradição, pela linguagem, pelo poder e pelo

trabalho” (p. 168). A hermenêutica enfatiza o significado dos aspectos consensuais, da

mediação, do acordo, da unidade de sentido; é a arte da compreensão. Segundo Minayo

(2007, p. 343), “a hermenêutica oferece as balizas para a compreensão do sentido da

comunicação entre os seres humanos; parte da linguagem como o terreno comum de

realização da intersubjetividade e do entendimento [...]”. A dialética, por sua vez, enfatiza

a diferença, o contraste, o dissenso, a ruptura de sentido; é a arte do estranhamento e da

crítica. A autora (id., p. 347) cita: “o exercício dialético considera como fundamento da

comunicação as relações sociais historicamente dinâmicas, antagônicas e contraditórias

entre classes, grupos e culturas”. A linguagem é posta como um veículo de comunicação e

de dificuldade de comunicação, escondendo, nos significados aparentemente iguais dos

seus significantes, a realidade conflitiva das desigualdades, da dominação, da exploração,

como também da resistência e da conformidade. A análise com base na hermenêutica-

dialética “busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade em seu

movimento contraditório” (id., ibid.).

A partir dessa escolha, foi utilizada a análise de conteúdo, pois, de acordo com

Gomes (1994, p. 74), esse tipo de análise permite a “descoberta do que está por trás dos

conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado”. A análise

de conteúdo relaciona estruturas semânticas, consideradas como significantes, com

estruturas sociológicas dos enunciados, consideradas significados. Para Minayo (1994),

significantes e significados são descritos e analisados pela articulação de variáveis

psicossociais, do contexto cultural, do contexto e do processo de produção da mensagem.

A análise de conteúdo auxilia a interpretar as mensagens e a compreender os seus

significados para além do senso comum.

Dentre os vários tipos de unidades de registro para as análises de conteúdo, a

equipe de trabalho optou por grandes blocos de análise, na perspectiva de “tema”, que se

refere a uma unidade maior em torno da qual é tirada uma conclusão (Gomes, 1994). Para

tanto, foram definidos os blocos de análise, ou as categorias de análise que, conforme

Minayo (2007, p. 317), “são expressões ou palavras significativas em função das quais o

conteúdo de uma fala será organizado”. “Nesse sentido, trabalhar com elas [as categorias

Page 22: Rel Cuidador Idosos

22

de análise] significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito

capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser

utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa” (Gomes, 1994, p. 70).

Buscou-se, portanto, seguir as etapas da análise de conteúdo classificadas por

Minayo (2007): pré-análise, decomposta em leitura flutuante, constituição do corpus e

formulação de hipóteses e objetivos; exploração do material, que consiste na operação de

codificação; tratamento dos resultados obtidos e interpretação por meio de porcentagens

para destacar as informações que propiciam inferências e interpretação em torno de

dimensões teóricas previamente estudadas.

O universo de estudo

Considerando-se que a proposta de atividade é “Diagnóstico dos processos de

formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG”, buscou-se

abordar os diversos “atores” dos processos de formação de cuidadores de idosos, tidos

como fontes de informações possíveis de serem subsídio para o diagnóstico. Nesse sentido,

foram partícipes os professores e alunos dos cursos ministrados pela UNIMONTES, quais

sejam: “Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência” e “Curso

Superior Sequencial de Cuidador de Idoso”.

Ressalta-se que a UNIMONTES foi pioneira e, até a data atual, a única instituição

acadêmica a oferecer cursos na área de formação de cuidadores de idosos no município de

Montes Claros/MG. Em outra instituição, houve uma disciplina relacionada ao tema, em

um curso da área da saúde, e não um curso – constituindo, portanto, objeto diferente do

tema de estudo deste diagnóstico.

Considerações éticas

Para a realização deste diagnóstico, buscou-se seguir os princípios éticos

imprescindíveis ao desenvolvimento de trabalhos desta natureza, que envolvem seres

humanos. Os indivíduos abordados pela equipe de estudo tiveram resguardado o direito de

participar ou não, como desistir de fazê-lo a qualquer momento.

Page 23: Rel Cuidador Idosos

23

O trabalho de Campo

Identificação dos cursos e alunos, outros documentos: estas informações foram

coletadas nas Secretarias Escolares das unidades/centros acadêmicos onde foram

ministrados os referidos cursos.

Pré-teste: os questionários foram pré-testados em novembro de 2008, visando

garantir a fidedignidade aos objetivos propostos. Para tanto, os profissionais para a

abordagem do pré-teste foram escolhidos aleatoriamente.

Aplicação dos questionários: os questionários foram aplicados em sala de aula; nas

residências dos professores e alunos-cuidadores de idosos e potenciais cuidadores – no

município e outra localidade; em locais de trabalho; e via meio eletrônico (e-mail). Na sala

de aula, também houve aleatoriedade na escolha do profissional abordado, aplicando-se o

questionário para aquele aluno que estivesse presente e aceitasse participar. Para os demais

tipos de abordagem, primeiramente foram feitos contatos por telefone, por e-mail e

presencial, visando falar do objetivo da atividade e convidar a participar; somente depois,

houve a aplicação do questionário. Estes procedimentos foram válidos também no caso das

entrevistas.

Facilidades do processo: entre os facilitadores para o desenvolvimento do trabalho,

faz-se necessário citar o empenho de alguns profissionais ao aceitar participar e o empenho

dos funcionários das Secretarias Escolares da UNIMONTES, em suas diversas

unidades/centros acadêmicos, ao fornecer informações e documentos. Sobre a aplicação

dos instrumentos de coleta de dados, alguns participantes responderam o questionário na

hora e outros entregaram no dia posterior. Outro facilitador foi o fato de alguns

profissionais valorizarem a “atividade” como uma forma de aprendizado, disponibilizando-

se, portanto, a participar do pleito.

Dificuldades do processo: de maneira oposta, alguns profissionais (maior número

de professores e uma coordenadora de curso) foram resistentes à solicitação para fornecer

informações ou documentos e responder o questionário ou entrevista, desmerecendo o

trabalho científico. E entre aqueles que não participaram, houve agendamento de horário

para a aplicação do questionário não cumprido: um integrante da equipe do Observatório

Page 24: Rel Cuidador Idosos

24

Estação de Pesquisa esteve no local e horário marcado e o profissional não estava lá, em

mais de uma tentativa. Do mesmo modo, vários e-mails voltaram sem resposta, após,

inclusive, o manifesto de aceite em participar. Vale dizer, de igual importância, a

existência de problemas com o cadastro geral dos alunos do “Curso Superior Sequencial de

Cuidador de Idoso”, não solucionados devido à impossibilidade de contato com a

coordenação.

Conferência do material

Todo o conteúdo coletado foi conferido, objetivando-se captar, literal e fielmente a

resposta do profissional participante.

Análise dos documentos

Em se tratando dos documentos analisados, constituíram-se objetos de estudo: os

projetos pedagógicos dos cursos oferecidos, os relatórios parciais e finais das atividades

desenvolvidas e os planos de ensino. As análises foram feitas pela pedagoga Iza Manuella

de Aires Cotrim-Guimarães e compõem o capítulo a seguir.

Page 25: Rel Cuidador Idosos

25

4. PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS

PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS –

UNIMONTES

Este capítulo foi construído a partir de uma análise dos projetos pedagógicos dos

cursos oferecidos pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES para a

formação dos “Cuidadores de Idosos”, tanto em nível superior, na modalidade sequencial,

quanto no nível médio, na formatação de Curso de Formação Inicial e Continuada de

Trabalhadores3 (Curso Básico).

A análise fundamentou-se no objetivo geral da atividade, que foi diagnosticar os

processos de formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG,

especificamente aqueles oferecidos pela UNIMONTES. Ao conhecer os processos

formativos dos Cuidadores de Idosos oferecidos pela UNIMONTES buscou-se, também,

fazer uma relação deles com a literatura atual.

Outros documentos que acompanham os projetos dos cursos, ou plano de curso,

como se denomina na educação profissional de nível médio, também foram analisados,

como relatórios parciais e finais das atividades desenvolvidas e planos de ensino.

O Curso Superior de Formação Específica – Sequencial Cuidador de Idoso foi

promovido pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES em parceria

com a Fundação de Apoio e Desenvolvimento de Ensino Superior do Norte de Minas –

FADENOR e vinculado à graduação em Medicina da UNIMONTES.

O Curso teve uma duração de quatro períodos, que totalizaram dois anos de

atividades, perfazendo uma carga horária de 1.650 horas, incluído o estágio de 300 horas.

O perfil profissiográfico estabelecido para o curso aponta o Cuidador de Idoso

como “o profissional capacitado para auxiliar o idoso que apresenta ou não limitações para

realizar as atividades e tarefas da vida cotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e

serviços de saúde ou da comunidade” (Unimontes, 2004, p. 22).

No mesmo tópico do projeto, registram-se como atividades a serem desempenhadas

pelo Cuidador de Idoso: auxílio nas atividades diárias; administração de medicamentos;

auxílio na deambulação e mobilidade; cuidados com a organização do ambiente; prestação

3 Decreto Federal 5.154, de 17 de abril de 2004, que regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências.

Page 26: Rel Cuidador Idosos

26

de primeiros socorros; estímulo ao relacionamento, contato com a realidade e participação

em atividades recreativas.

Verifica-se, entretanto, que o curso possui como objetivos “capacitar o diplomado

para avaliar, construir, controlar, manter e gerenciar negócios baseados no atendimento ao

público da terceira idade, além de capacitá-lo para o trabalho em equipe multiprofissional

em hospitais, clínicas de atendimento, estabelecimentos asilar [sic], espaços de estudo e

lazer” (Unimontes, 2004, p. 18 – grifos deste relatório).

Um segundo objetivo prevê a atualização e ampliação de conhecimentos técnicos, o

fornecimento de ferramentas para atendimento de idosos e também para a abertura e gestão

de empresas no ramo de negócios que envolvem a população idosa.

O perfil profissiográfico contempla, portanto, uma formação focada na prestação de

assistência diretamente ao idoso, enquanto os objetivos do curso preveem uma formação

focada na gestão de negócios, atividades ou estabelecimentos relacionados ao público da

terceira idade. A partir desta constatação, foram analisados os conteúdos do curso,

considerando duas vertentes: assistencial e de gestão.

Com exceção da disciplina “Gestão em Saúde do Idoso”, que sugere uma relação

com a prática gerencial prevista nos objetivos do curso, verifica-se que as demais

disciplinas estão relacionadas à prática assistencial do Cuidador de Idoso: Gerontologia

Básica; Ciências Sociais em Saúde; Direito e Cidadania do Idoso; Políticas Públicas em

Saúde; Bioética; Assistência Social na 3ª Idade; Habilidades Específicas em

Fonoaudiologia, Fisioterapia e Geriatria; Psicologia do Idoso; Recursos Terapêuticos em

Gerontologia; Sistemas de Informação em Saúde; Enfermagem do Envelhecimento;

Oficina Terapêutica para a 3ª Idade; Neuropsiquiatria Geriátrica; Nutrição e Bem-estar;

Cuidador de Idoso: contexto e prática e Tópicos Especiais para a 3ª Idade. Outras

disciplinas complementam a formação do profissional: Português Instrumental e

Fundamentos de Informática. Cabe ressaltar, contudo, que a disciplina “Gestão em Saúde

do Idoso” apresenta como ementário:

Discutir sobre o processo saúde-doença, bem como sobre questões referentes à assistência social, a saúde, alimentação, nutrição, educação, cultura, esporte e lazer, Previdência Social, habitação, transporte, violência e justiça voltada para este grupo. Discutir as políticas públicas de saúde do idoso e a participação popular nas mesmas, dando ênfase aos programas preconizados pelo Ministério da Saúde e suas estratégias de implementação, tendo como referencia [sic] o Estatuto do Idoso, especialmente no que se refere a dinâmica das relações sociais (Unimontes, 2004, p. 34).

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O projeto do Curso Sequencial não explicita a relação entre disciplinas, conteúdos,

perfil profissiográfico e objetivos do curso, mas pode-se relacionar estes últimos ao campo

de atuação do profissional de nível superior “Cuidador de Idoso”, conforme se verifica a

seguir:

O profissional está apto a atuar no cuidado com idosos em hospitais, clínicas, órgãos governamentais de âmbito federal, estaduais e municipais, administradores de recursos de saúde [sic], asilos, grupos de convivência da terceira idade, empresas diversas voltadas para a prestação de serviços ou venda de produtos para a terceira idade e profissionais do setor de saúde que desejam uma opção de educação continuada no âmbito do ensino superior (Unimontes, 2004, p. 23).

Já o Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência foi

realizado pela Escola Técnica de Saúde do Centro de Ensino Médio e Fundamental da

UNIMONTES, em parceria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino

Superior do Norte de Minas – FADENOR e através de convênio com o Ministério da

Saúde. Teve uma duração de três meses, perfazendo uma carga horária de 160 horas

distribuídas em 120 horas de aulas teórico-práticas e 40h de atividades práticas.

O perfil profissional de conclusão do curso estabeleceu como competências para o

Cuidador de Idoso de nível médio:

- Desenvolver ações que busquem a proteção social e promoção da saúde, a prevenção e o monitoramento das situações que oferecem risco à saúde da pessoa idosa com dependência, visando à melhoria de sua qualidade de vida. - Desenvolver ações que estimulem o processo de interação e comunicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade. - Agir, [sic] com prontidão e presteza em situações imprevistas, articulando os recursos para o seu pronto atendimento (Unimontes, 2007, p. 07).

Os objetivos do Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com

Dependência possuem grande semelhança com os objetivos do Curso Sequencial, com

exceção do foco gerencial na formação do profissional de nível médio, que não foi

contemplado nos seus objetivos. Esta semelhança sugere que houve algum diálogo entre as

equipes que elaboraram os projetos, tratando-se apenas de uma inferência, vez que esta

questão não foi explicitada em nenhum projeto ou relatório que foi fornecido para a

presente análise.

Page 28: Rel Cuidador Idosos

28

Ambos os projetos apresentam como justificativa para oferecimento do curso a

ampliação da longevidade da população brasileira. Ressaltam que o aumento do tempo de

vida não significa, necessariamente, que os idosos estejam livres de doenças ou tenham

condições de viver seus últimos anos de forma saudável. Sobre esse aspecto, Giacomin et

al. (2005) afirmam que, de modo geral, as doenças apresentadas pelos idosos são crônicas

e múltiplas, e podem perdurar por muitos anos. Estas “doenças podem gerar incapacidades

e causar dependência, com ônus crescentes sobre o idoso, a família e o sistema de saúde”

(Caldas, apud Giacomin et al., 2005, p.80).

Para a UNIMONTES essas assertivas evidenciam o papel do Cuidador de Idoso, ao

se considerar a necessidade de se estabelecer nas comunidades serviços de saúde

diferenciados para o atendimento a esta parcela da população, em oposição ao modelo

hospitalar ou asilar (Unimontes, 2004; 2007). Giacomin et al. (2005) também evidenciam a

relevância desse profissional, cuja necessidade deve ser apreciada no planejamento das

políticas de saúde para idosos.

Cabe ressaltar, no entanto, que não se trata apenas da formação de um profissional

capacitado para atender às necessidades patológicas dos idosos com dependência, mas de

uma formação pautada por uma nova mentalidade que considere, para além das patologias

inerentes a esta fase da vida, as questões sociais que determinam atitudes de rejeição ou

acolhimento, e que percebe a velhice, a doença, a dependência e a morte como parte da

vida (Maffioletti, Loyola e Nigri, 2006). E mais:

A construção dessa nova mentalidade tem proposto que o acolhimento da velhice dependente seja feito, na medida do possível, em nível familiar e no domicílio. Desta forma, ela possibilita para a velhice, para a doença e para a morte uma ressignificação e propõe que lhes seja permitido transitar, novamente, no espaço doméstico com naturalidade e propriedade (Maffioletti, Loyola, Nigri, 2006, p. 1.086).

Sobre esta “nova mentalidade”, os projetos dos dois cursos preveem no

desenvolvimento das atividades uma discussão a respeito da integração social do idoso no

âmbito familiar e comunitário, tanto no elenco de conteúdos a serem trabalhados quanto no

perfil profissiográfico dos cursos: “o Cuidador do idoso deve também saber atuar em

ambientes de convivência espontânea de idosos, com plena empatia, valorizando-os como

grupo social e considerando o ‘cuidado’ como um compromisso prioritário, pessoal e

também da sociedade” (Unimontes, 2004, p.22) e deve “desenvolver ações que estimulem

Page 29: Rel Cuidador Idosos

29

o processo de interação e comunicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade”

(Unimontes, 2007, p. 34).

Caracterização dos profissionais formados

O Curso Superior de Formação Específica – Sequencial Cuidador de Idoso foi

oferecido ao público em geral: a candidatos que atuavam na área da saúde ou áreas afins e

para candidatos que desejavam atuar nestas áreas. A escolaridade mínima exigida era o

ensino médio e a forma de ingresso no curso se deu mediante processo seletivo. A seleção

obedeceu aos seguintes critérios: prova escrita de redação, prova escrita de português e

análise do histórico escolar do ensino médio. Não houve prova de títulos para os

profissionais que já atuavam na área.

O Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência (nível

médio), de acordo com o projeto, foi oferecido para pessoas que já trabalhavam como

Cuidador de Idoso, mediante comprovação do vínculo de trabalho e priorização dos

trabalhadores de órgãos públicos ou entidades sem fins lucrativos. Não houve exigência de

escolaridade mínima, mas foi estabelecido critério de seleção baseado no nível de

escolaridade, na seguinte ordem: ensino médio completo; ensino médio incompleto; ensino

fundamental completo e análise de currículo. Sobre o perfil acadêmico do curso, a

coordenação aponta no relatório final que este foi diversificado, envolvendo profissionais

de nível superior, técnicos da área de saúde, de nível médio, sem formação profissional e

de nível fundamental completo (Unimontes, 2008).

Em se tratando da distribuição das matrículas por sexo, registrou-se que 81,5% dos

matriculados no curso superior eram mulheres e no curso de nível médio, 86,0%. Estes

dados não apenas confirmam uma das características marcantes do setor saúde, que é a

feminização, que representa uma acentuada atuação do público feminino em todo o

contingente – mais de 70% (Machado, 2006), como também aferem legitimidade à

afirmação de que grande parte dos Cuidadores de Idosos são, também, do público

feminino.

No Brasil, o crescimento das taxas de idosos com incapacidades tem,

consequentemente, aumentado o número de idosos dependentes de uma ou mais pessoas

para realizarem suas tarefas diárias. Estas pessoas costumam ser familiares dos idosos,

Page 30: Rel Cuidador Idosos

30

geralmente mulheres residentes no mesmo domicílio (Karsch, 2003). Maffioletti, Loyola e

Nigri (2006) confirmam que em todas as épocas e em grande parte das sociedades a tarefa

de cuidar dos doentes, bem como outras atividades do gênero, eram exercidas pelas

mulheres.

A reflexão sobre as práticas do cuidar traça uma historiografia que o considera próprio à natureza das mulheres, como se fosse algo determinado pelo orgânico. Uma concepção que encontra registro, desde os relatos de sociedades consideradas primitivas, até os dias de hoje (Maffioletti, Loyola, Nigri, 2006, p.1088).

Desenvolvimento metodológico dos cursos

A vinculação teoria-prática constituiu a metodologia privilegiada tanto para o Curso

Sequencial quanto para o Curso de Nível Médio. A coletivização das experiências se

caracterizou, segundo os projetos dos cursos, por meio da realização de seminários

temáticos, estudos de caso, trabalhos em grupos para troca de experiências, interpretação e

análise das práticas.

Foi observado, entretanto, que o perfil da clientela atendida para cada curso

propiciou alternativas diferentes para a vinculação teoria-prática. O Curso Sequencial,

conforme já citado, atendeu a uma demanda espontânea que não atuava necessariamente na

área da saúde. Foi previsto estágio supervisionado para o curso, no total de 300 horas,

sendo 40 horas destinadas às atividades de elaboração do projeto de estágio e

aprofundamento teórico, em sala de aula, e 260 horas destinadas à realização de uma

pesquisa de campo com a orientação do docente.

Ainda sobre a vinculação teoria-prática no Curso Sequencial, o projeto previu que,

para além das aulas expositivas, os docentes deveriam lançar mão de procedimentos

articuladores dos estudos acadêmicos com a realidade comunitária: “estudos de caso,

atividades práticas em sala de aula, estudos dirigidos, seminários” (Unimontes, 2004, p.

19).

O Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência (Nível

Médio), conforme mencionado, foi oferecido a profissionais que já atuavam como

Cuidadores de Idosos, seja no âmbito das instituições de saúde, seja no âmbito familiar.

Esta característica confere ao curso um desenvolvimento metodológico peculiar, uma vez

Page 31: Rel Cuidador Idosos

31

que, trata-se da formação de trabalhadores que compõem uma dada realidade, e que “a

investigação do processo de trabalho deve permitir identificar não apenas as atividades que

lhe são pertinentes mas, fundamentalmente, deve permitir evidenciar os conhecimentos de

caráter técnico-científico e socio-cultural que nele estão expressos” (Marques, 2002, p. 19).

O projeto do Curso de Nível Médio previu a realização de 40 horas de atividades

práticas em instituições de saúde, consistindo em 25% da carga horária total do curso (160

horas). Para o desenvolvimento destas atividades considerou-se a necessidade de “real

execução de serviços e/ou real manuseio de insumos materiais destinados a esta atividade”

(Unimontes, 2007, p. 38), sendo realizadas sob supervisão direta do professor e

intermediadas pelos professores do conteúdo teórico-prático (atividades teórico-práticas)

do curso.

Para os dois cursos foi prevista, ainda, a elaboração de relatório final de estágio

(Curso Sequencial) e relatório final de atividades práticas (Curso de Nível Médio).

Também a respeito do Curso de Qualificação de Nível Médio, cabe colocar que seu

currículo foi organizado a partir da identificação de competências profissionais, que se

estruturam em conjuntos de Eixos Temáticos para os quais foi distribuída a carga horária

de atividades teóricas do curso.

O Curso Sequencial foi estruturado em quatro módulos desenvolvidos em quatro

períodos letivos. Recomendou-se uma integração entre os conteúdos do curso e a adoção

de estratégias de ensino diversificadas; visão orgânica do conhecimento e contextualização

dos conteúdos.

Diagnóstico dos processos de formação de cuidadores de idosos pós-análise

documental

A formação dos profissionais que atuam como Cuidadores de Idosos é

imprescindível para responder a demanda do atual cenário demográfico brasileiro, bem

como às necessidades do Sistema Único de Saúde – SUS. É fundamental que essa

formação esteja pautada pela concepção atual da saúde do idoso, que ultrapassa a visão

simplista que se restringia às questões patológicas relacionadas ao envelhecimento.

A Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES foi pioneira na

formação desses profissionais, tanto em nível médio quanto superior, ao oferecer os Cursos

de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência, pela Escola Técnica de

Page 32: Rel Cuidador Idosos

32

Saúde do Centro de Ensino Médio e Fundamental, em parceria com o Ministério da Saúde,

e Curso de Cuidadores de Idosos, na modalidade Sequencial.

Conferiu-se que a integração entre teoria e prática foi condição fundamental no

desenvolvimento de ambos os cursos, cada um com suas especificidades. No Curso

Superior, na modalidade Sequencial, esta integração se deu, prioritariamente, pelo

desenvolvimento do estágio e utilização de algumas metodologias que pretendiam

fortalecer a relação acadêmica com a realidade do serviço. Já no Curso de Nível Médio,

esta vinculação se deu pela realização das atividades práticas nos serviços de saúde,

articulação entre atividades práticas e atividades teórico-práticas em sala de aula e pela

característica inerente ao curso de qualificação que foi o fato do público atendido se

constituir por profissionais que já atuavam na área da saúde como Cuidadores de Idosos.

A partir da análise dos projetos dos referidos cursos e alguns planos de ensino e

relatórios, constatou-se que ambos os cursos apresentaram uma proposta de formação

pautada por esses novos princípios, visando ao desenvolvimento de ações para além da

cura e reabilitação, mas também para a proteção social, promoção e prevenção da saúde e a

interação e (re)integração das pessoas idosas aos ambientes familiares e à comunidade.

Page 33: Rel Cuidador Idosos

33

5. APONTAMENTOS DEMOGRÁFICOS E PERFIL DE MORBI-

MORTALIDADE DE IDOSOS

5.1 População residente e envelhecimento em Montes Claros/MG

A análise da distribuição etária do município de Montes Claros em alguns pontos

no tempo, como nos censos de 1980 e 2000 e no ano corrente de 2009 (dados coletados no

site do Departamento de Informática do SUS – DATASUS), mostra que o município está

em processo de envelhecimento populacional, seguindo o padrão do estado e país, como já

exposto por Cerqueira (2003). O grupo de população residente com 60 anos ou mais, em

relação ao total populacional, passou de 4,1% em 1980, para 6,6% em 2000 e 8,6% em

2009 (lembrando que os números de população para 2009 são os resultados de projeções

intercensitárias). Também o grupo etário de 15 a 59 anos apresentou variações crescentes,

como o grupo de 60 anos ou mais. A proporção de indivíduos de 15 a 59 anos passou de

55,4% em 1980 para 63,4% em 2000 e 65,4% em 2009. Já o contingente populacional de 0

a 14 anos variou em sentido contrário – uma consequência da queda da fecundidade;

correspondia a 40,5% do total da população montesclarense de 1980, passando para 30,0%

em 2000 e 26,0% em 2009.

O envelhecimento populacional significa mudanças na estrutura etária, ao passo que a queda da mortalidade é um processo que se inicia no momento da concepção e altera a vida do indivíduo, as estruturas familiares e a sociedade, pois faz que mais e mais indivíduos sobrevivam a idades avançadas (Cerqueira, 2003, p. 2).

A queda da mortalidade nas idades avançadas faz com que haja um maior número

absoluto de idosos (Carvalho, Garcia, 2002). E com a queda da fecundidade, há proporções

menores de crianças na estrutura etária e, consequentemente, os demais grupos sofrem

aumentos significativos.

No município de Montes Claros, o processo de envelhecimento em curso é

observável nas pirâmides populacionais para os anos 1980 e 2009. Verifica-se o

estreitamento da base e o ganho de peso relativo dos demais estratos da população

(gráficos 1 e 2). As barras referentes ao contingente populacional de 0 a 14 sofreram

redução no tamanho, enquanto as demais, indicativas dos indivíduos adultos e idosos

apresentam maior expressividade numérica e gráfica.

Page 34: Rel Cuidador Idosos

34

Fonte dos dados básicos: DATASUS, acesso em maio/2009.

Fonte dos dados básicos: DATASUS, acesso em maio/2009.

As mudanças na estrutura etária repercutem em alterações em indicadores como as

razões de dependência e índice de envelhecimento. As primeiras avaliam o grau de

dependência existente entre os indivíduos que constituem a população, estabelecendo uma

relação entre os teoricamente dependentes – crianças/jovens (de 0 a 14 anos) e idosos (65

anos ou mais), em relação a aqueles indivíduos em idade produtiva (de 15 a 64 anos). O

índice de envelhecimento, por sua vez, estabelece uma relação de idosos para com o grupo

de crianças/jovens. Chama-se a atenção para o fato desses indicadores considerarem o

GRÁFICO 1: Pirâmide Populacional, Montes Claros, 1980

8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00

0 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

%

Masculino

Feminino

GRÁFICO 2: Pirâmide Populacional, Montes Claros, 2009

8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00

0 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

%

Masculino

Feminino

Page 35: Rel Cuidador Idosos

35

limite de 65 anos para a definição do grupo de idosos (65 ou mais), por se tratar de

medidas utilizadas internacionalmente (tabela 1).

TABELA 1: Alguns indicadores populacionais do município de Montes Claros/MG, anos selecionados

Indicadores (em %)

1980

2000

2009 Razão de Dependência Total Razão de Dependência Jovem Razão de Dependência de Idosos Índice de Envelhecimento

75,9

71,3

4,7

6,5

52,2

45,6

6,5

14,3

46,4

38,0

8,4

22,0

Fonte dos dados básicos: DATASUS, acesso em maio/2009.

Os cálculos demonstram um movimento decrescente nas razões de dependência

total e jovem, ao contrário da razão de dependência idosa e índice de envelhecimento,

registrados em ritmo ascendente. Estes resultados são as representações numéricas da

dinâmica populacional: há a queda da fecundidade e o consequente envelhecimento da

população. Em um período de quase 30 anos, de 1980 a 2009, a Razão de Dependência

Total da população residente em Montes Claros/MG passou de 75,9% para 46,4%,

indicando que para cada 100 pessoas de 15 a 64 anos, havia aproximadamente 76 pessoas

dependentes em 1980 e, no corrente ano, 46. No indicador de dependência total, no

numerador, estão computados os indivíduos de 0 a 14 anos, cuja variação no período em

questão foi significativamente decrescente, o que se observa na Razão de Dependência

Jovem, que caiu de 71,3% em 1980 para 38,0% em 2009. Em sentido oposto, a Razão de

Dependência de Idosos e o Índice de Envelhecimento apresentam o aumento relativo dos

indivíduos com idade superior a 65 anos. De 4,7% em 1980, esta razão subiu para 8,4% em

2009; o Índice de Envelhecimento passou de 6,5% em 1980 para 22,0% em 2009.

Especificamente, o Índice de Envelhecimento revela que, em 2009, para cada 100

crianças/jovens de 0 a 14 anos existem 22 idosos.

Não obstante o aumento da Razão de Dependência de Idosos e do Índice de

Envelhecimento, o município de Montes Claros está no momento da “janela de

oportunidade”, que é, segundo Santana (2002, p. 81) “o período entre o início do processo

de envelhecimento e o momento em que o peso proporcional dos idosos se torna maior, e

Page 36: Rel Cuidador Idosos

36

que pode ser usado pela sociedade para a prevenção de eventuais problemas e/ou questões

sociais decorrentes deste fenômeno”. Faz-se necessário criar as condições de pleno bem-

estar social para o enfrentamento de cenários com grande número de idosos, com o

possível aumento dos níveis e graus de restrições de atividade ou incapacidade.

Em se tratando dos indicadores propriamente, Chesnais (1990) critica as razões de

dependência, considerando-as ficções estatísticas, uma vez que existem variações nas

idades de entrada e saída da atividade econômica. Entretanto, elas oferecem uma

aproximação da realidade e podem subsidiar a tomada de decisões, se analisadas dentro do

contexto socioeconômico-demográfico ao qual se referem e, de acordo com Veras (1994),

em termos numéricos é possível ter a medida do ônus sobre a população que trabalha,

podendo-se chegar a uma estimativa aproximada do custo financeiro que os grupos

“inativos” representam para a sociedade (Cerqueira, 2003).

Fonte dos dados básicos: DATASUS, acesso em maio/2009.

No conjunto dos idosos, verifica-se que as mulheres são o maior contingente

(gráfico 3), um resultado coerente com a dinâmica demográfica – a esperança de vida das

mulheres é maior que a dos homens. Assim, as mulheres têm maior probabilidade de

ficarem viúvas (Cerqueira, 2003) e sozinhas, no que se refere à parceria conjugal

heterossexual. As razões entre os sexos diminuem com o aumento da idade, evidenciando

GRÁFICO 3: Idosos residentes em Montes Claros, 2009, por sexo

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 anos ou +

Grupo Etário

Homens

Mulheres

Page 37: Rel Cuidador Idosos

37

que mais mulheres do que homens chegam às idades avançadas. Em Montes Claros, para o

ano de 2009, para 100 mulheres com 80 anos ou mais existem 60 homens.

A feminização do envelhecimento populacional é objeto de estudo de vários autores

e trata-se de uma questão ampla, que foge ao escopo deste trabalho. Há que se considerar a

sobremortalidade masculina em todas as idades; os fluxos migratórios seletivos por sexo; a

saúde dos homens no sentido de serem resistentes ao autocuidado e à busca de cuidados

médicos; à exposição diferenciada aos riscos de morte, em resposta à educação, formação e

cultura de base machista. Esse desequilíbrio demográfico quanto ao sexo é recorrente em

muitas sociedades humanas (Rodrigues, Fonseca, Rodrigues, 1996), e diante da

complexidade do problema, faz-se necessário um estudo específico sobre o tema.

5.2 Perfil de morbi-mortalidade de idosos residentes no município de

Montes Claros/MG

Morbidade

O envelhecimento populacional suscita uma preocupação crescente com a saúde

dos idosos. O ganho de longevidade pode implicar em aumento da morbidade e em um

conjunto maior de pessoas vivendo em condições de saúde pouco favoráveis, com algum

tipo de incapacidade. Neste contexto, o estudo da morbidade e da mortalidade de idosos

tem uma importância singular por oferecer conhecimentos que possibilitam a melhor

compreensão dos perfis de saúde desse contingente populacional que cresce muito

rapidamente. È importante que não somente os formuladores de políticas públicas tenham

esse conhecimento, como também a sociedade, as famílias e os cuidadores de idosos.

Neste estudo, o perfil de morbi-mortalidade de idosos foi elaborado por meio da

análise das informações sobre internações hospitalares e mortalidade geral, dados

coletados no site do Departamento de Informática do SUS – DATASUS e no Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (acessos em fevereiro de 2009).

O limite para o corte de idade seguiu o preconizado pela Organização Mundial de

Saúde – OMS, que define idosos como os indivíduos com 60 anos ou mais para países em

desenvolvimento (Tirado, 2000).

Page 38: Rel Cuidador Idosos

38

Para as análises da morbidade, buscou-se conhecer as internações hospitalares de

pessoas residentes em Montes Claros/MG por causa de internamento, com base na

Classificação Internacional de Doenças – CID, 10ª revisão e a variação proporcional no

período de 1998 a 2007, enfatizando os referidos anos. As taxas de morbidade foram

calculadas para os triênios 1998, 1999, 2000 e triênio 2005, 2006, 2007, computando-se a

média dos eventos dos respectivos anos e adotando a população de 1999 e de 2006 como

denominadores, em ordem. Essa forma de cálculo já foi adotada por outros autores

(Barbosa, Andrade, 2000; Barbosa, 2001 e Cerqueira, 2003), cuja justificativa se pauta nos

possíveis problemas com os dados de mortalidade e a fim de minimizar os efeitos de

variações sazonais.

É oportuno dizer que as informações provenientes de internações hospitalares,

conquanto possam servir para ilustrar o perfil de morbidade da população idosa do

município, não representam a situação vigente para a totalidade desse segmento

populacional, como também salientado por Cerqueira (2003). A cobertura dos dados em

uso restringe-se à parcela da população que teve acesso aos serviços de saúde do Sistema

Único de Saúde – SUS, ficando de fora, portanto, tanto a parcela da população necessitada

que não foi alcançada pelos serviços do SUS, quanto aquela que utilizou a rede privada de

atendimento.

Ainda de acordo com Cerqueira (2003), como a base de dados do SUS exclui

grupos possivelmente opostos em relação às condições de saúde, pode-se considerar que

ela apresente uma boa configuração das condições médias vivenciadas pelo conjunto da

população. “Ademais, acredita-se que as informações relativas à morbidade diagnosticada,

em comparação com aquelas oriundas de morbidade auto-referida, sejam mais

representativas das reais condições de saúde da população” (Cerqueira, 2003, p. 30).

Sobre a limitação do uso das internações hospitalares pelo SUS, vale citar Nunes

(2004, p. 429), ao afirmar que essas informações servem como uma proxy de morbidade e

são representativas do padrão das causas de morbidade hospitalar dos idosos.

Portanto, as informações sobre a morbidade hospitalar do contingente populacional

com 60 anos ou mais, residentes em Montes Claros/MG, encontram-se nas tabelas 2 e 3.

Na tabela 2, a organização das informações buscou a ordem decrescente das proporções

das causas de internamento no último ano de estudo, 2007. Devido aos possíveis

problemas com os dados, os percentuais com variações centesimais (dados resultantes do

cálculo, sem arredondamentos) e decimais (decorrentes de arredondamentos), foram

considerados na mesma posição do ranking, o que diferenciou o número de causas de

Page 39: Rel Cuidador Idosos

39

internamento registrado para os sexos e anos da análise. Assim sendo, a apresentação das

principais causas de internamento para o ano de 1998 não está ordenada, mas buscou-se,

como para 2007, citar as cinco primeiras.

É possível observar que o padrão de morbidade hospitalar dos homens idosos em

Montes Claros, no período em estudo, apresenta as doenças crônico-degenerativas como as

causas de maiores percentuais de internações. Em 2007, as doenças do aparelho

circulatório encontram-se na primeira posição do ranking, com 40,0% das internações

decorrentes de alguma complicação deste aparelho, seguindo o padrão do Brasil no que se

refere às doenças do aparelho circulatório como primeira causa de morbidade e

mortalidade de idosos, ambos os sexos (Mello Jorge et al., 2008).

TABELA 2: Morbidade proporcional por causa de internação hospitalar da população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG, 1998 e 2007 (em %)

Causas CID-10

1998

2007

Homens Doenças do aparelho circulatório......................................... Neoplasias............................................................................ Doenças do aparelho digestivo............................................. Doenças do aparelho respiratório......................................... Lesões por envenenamentos e outras consequências de causas externas..................................................................... Algumas doenças infecciosas e parasitárias......................... Doenças do aparelho geniturinário....................................... Doenças do sistema nervoso................................................

38,3 6,1

10,6 10,9

4,3 3,3

10,9 4,6

40,0 11,8 10,0 9,0

7,0 4,1 3,9 1,9

Mulheres Doenças do aparelho circulatório......................................... Doenças do aparelho respiratório......................................... Neoplasias............................................................................ Doenças do aparelho digestivo............................................. Lesões por envenenamentos e outras consequências de causas externas..................................................................... Algumas doenças infecciosas e parasitárias.........................

46,7 12,9 5,3 9,0

4,2 2,8

41,9 9,4 8,3 7,7

7,8 5,2

Fonte: DATASUS, acesso em fevereiro de 2009.

Nos dados e anos em estudo houve uma alteração na ordem de importância das

doenças para a conformação do padrão de morbidade hospitalar dos idosos: as neoplasias

passam para a segunda colocação, seguidas das doenças do aparelho digestivo e, em quarto

Page 40: Rel Cuidador Idosos

40

lugar, as doenças do aparelho respiratório. Ganham maior representatividade, com 7,0

pontos percentuais, as lesões por envenenamentos e outras consequências de causas

externas e, por outro lado, perdem percentuais as doenças do aparelho geniturinário.

Como exposto, também para as mulheres idosas, as doenças do aparelho

circulatório são a principal causa de morbidade hospitalar. Em segundo lugar do ranking,

em 1998 e 2007, encontram-se as doenças do aparelho respiratório. A partir da terceira

posição, o perfil de morbidade hospitalar das idosas apresenta alternâncias de um ano para

o outro, sendo, em 2007, a terceira maior proporção de internações por neoplasias; na

quarta posição, as doenças do aparelho digestivo e as lesões por envenenamentos e outras

consequências de causas externas que, bem como para os idosos, têm maior

representatividade neste último ano. E as doenças infecciosas e parasitárias respondem pela

quinta causa de internação de idosas em 2007.

As taxas de morbidade hospitalar para os triênios selecionados são escritas na

tabela 3. Tratando-se da razão entre a média dos eventos registrados nos três anos e a

população residente com 60 anos ou mais (1999 e 2006), a ordenação das causas básicas

sofre alterações e é apresentada em ordem decrescente para o triênio 2005, 2006 e 2007.

TABELA 3: Taxas de morbidade hospitalar por causa de internação, da população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG, triênios selecionados (por mil)

Causas CID-10

1998/2000

2005/2007

Homens Doenças do aparelho circulatório............................................... Neoplasias.................................................................................. Doenças do aparelho digestivo.................................................. Doenças do aparelho respiratório............................................... Algumas doenças infecciosas e parasitárias.............................. Doenças do aparelho geniturinário............................................

95,2 15,7 24,6 26,5 6,9

25,3

112,7 29,6 22,6 21,7 17,2 12,0

Mulheres

Doenças do aparelho circulatório.............................................. Neoplasias................................................................................. Algumas doenças infecciosas e parasitárias.............................. Doenças do aparelho respiratório.............................................. Doenças do aparelho digestivo.................................................. Lesões por envenenamentos e outras consequências de causas externas......................................................................................

97,3 11,6 6,2

24,9 19,8

9,2

79,0 20,8 17,2 15,2 14,7

11,8

Fonte: DATASUS, acesso em fevereiro de 2009.

Page 41: Rel Cuidador Idosos

41

Verifica-se que a primeira causa de internamento de idosos residentes em Montes

Claros/MG, segundo as taxas de morbidade, são as doenças do aparelho circulatório,

condizente com resultados encontrados em outros trabalhos. A ordenação das demais

causas de internações hospitalares do presente estudo difere um pouco daquelas

encontradas pelos referidos autores, ao estudarem outras populações – do Brasil e do

estado do Rio Grande do Sul, respectivamente. Nestes trabalhos, os autores registraram as

doenças do aparelho respiratório como a segunda causa de internamento e as doenças do

aparelho digestivo como a terceira posição no ranking, seguidas pelas neoplasias.

Sobre as internações de ambos os sexos por algumas doenças infecciosas e

parasitárias, a discussão remete à citação de Nunes (2004, p. 429), que também verificou a

presença desse grupo de causa: “Quer dizer, a queda acentuada da mortalidade pelas

doenças infecciosas e parasitárias não é acompanhada de uma redução, na mesma

magnitude, na morbidade por esse grupo de patologias”.

No que se refere às variações observadas tanto no contingente populacional de

idosos, tendo como base os anos de 1999 e 2006, quanto nas taxas de morbidade hospitalar

pela principal causa de internação deste grupo etário, as doenças do aparelho circulatório,

para os triênios apresentados, um exercício simples indica que, para os homens idosos,

houve uma variação de 36,8% na proporção de idosos e 18,4% nas aludidas taxas. Para o

contingente feminino, as variações foram de 35,8% no total de idosas com 60 anos ou mais

e 18,9% no total de internações por patologias do aparelho circulatório.

A análise por sexo ressalta o maior adoecimento dos homens idosos, como também

encontrado por Nunes (2004). Em relação ao total populacional, a proporção das

internações de idosos foi igual 20,7% do total do contingente de homens com 60 anos ou

mais, residentes em Montes Claros/MG. As internações de idosas foram equivalentes a

16,5% da parcela de mulheres nesta faixa de idade. Faz-se necessário registrar que estes

percentuais oferecem uma aproximação da realidade, no entanto, não consideram as

internações de um(a) mesmo(a) idoso(a) repetidas vezes ou transferido(a) – são

computadas as Autorizações de Internação Hospitalar – AIHs, sem registro das

reinternações e transferências. Conforme Nunes:

A frequência total de internações do grupo masculino [...] continua sendo mais elevada do que a de mulheres [...], não obstante nessa faixa etária haver mais mulheres que homens. Esse fato ratifica a ideia de que os homens não apenas morrem mais cedo que as mulheres, mas também adoecem proporcionalmente

Page 42: Rel Cuidador Idosos

42

mais que estas. Em outras palavras, podemos afirmar que quanto aos padrões de morbidade ao envelhecer o homem é o sexo frágil (Nunes, 2004, p. 437).

Mortalidade

O estudo do padrão de mortalidade compreendeu os anos de 1996 e 2006 (1996 é o

primeiro ano da adoção da CID-10 e 2006 é o último ano de informações disponíveis no

DATASUS). Os trabalhos compreenderam a análise da mortalidade proporcional por causa

básica do óbito, segundo a CID-10, para o contingente com 60 anos ou mais de idade e por

sexo. Foram calculadas, ainda, as taxas de mortalidade para os triênios 1996, 1997, 1998 e

2004, 2005, 2006, computando-se a média dos eventos dos respectivos anos e adotando a

população de 1997 e de 2005 como denominadores, em ordem.

Inicialmente, procedeu-se a avaliação da qualidade dos dados do DATASUS,

adotando-se como indicador a proporção de mortes enquadradas no grupo de “sintomas,

sinais e achados de exames clínicos e de laboratórios não classificados em outra parte”

(causas mal definidas), Capítulo XVIII da CID-10. Para tanto, o parâmetro de análise foi a

classificação elaborada por Chackiel (apud Cerqueira, Paes, 1998) na qual “as regiões com

percentual de causas mal definidas acima de 10% têm registro considerado inadequado

para fins estatísticos de planejamento de saúde” (p. 1977).

Ponderou-se o procedimento e achados pelas afirmações:

A dificuldade em estabelecer a causa básica da morte em indivíduos idosos deve-se à própria complexidade do processo mórbido, à falta de assistência médica, à elevada proporção de óbitos domiciliares, e também, à indiferença no conhecimento das causas, dada a inevitabilidade da morte nas faixas de idades mais avançadas (Vasconcelos, 2002, p. 2).

Do mesmo modo, para os dados de mortalidade do Brasil, os autores Mello Jorge et

al. (2008, p. 272) citam:

No país, a maior quantidade de óbitos mal definidos concentra-se na faixa de 60 de idade e mais; [...]. Uma das explicações para a maior proporção de óbitos por causas mal definidas é a dificuldade em se estabelecer a causa básica do óbito nos idosos. Esta, provavelmente, é consequência da presença de múltiplas doenças no idoso e da influência da idade na expressão clínica de sinais e

Page 43: Rel Cuidador Idosos

43

sintomas para o diagnóstico correto da causa básica do óbito (Mello Jorge et al., 2008, p. 272).

Para o total de óbitos de pessoas com 60 anos ou mais residentes em Montes

Claros/MG, a magnitude das causas mal definidas variou de 13,4% em 1996 para 11,1%

em 2006, para os dados masculinos. No meio da série temporal encontram-se proporções

superiores, como as dos anos 1999 (19,2%), 2000 (22,1%) e 2001 (18,2%), entre outros,

resultando em uma média aritmética simples de todas as proporções igual a 17,5%. Para os

dados femininos, os óbitos por causas mal definidas somaram 17,6% em 1996 e 12,0%, em

2006. Em outros anos, registraram-se 24,6% em 1999, 17,6% em 2000 e 19,4% em 2001,

cuja média aritmética simples foi igual a 17,7%.

Mello Jorge et al. (2008, p. 273) encontraram percentuais de óbitos por causas mal

definidas, para o Brasil e ambos os sexos, iguais a 15,1% em 1996 e 10,4% em 2005 –

ressalta-se neste caso o “poder das médias”, quando se trata pela média uma realidade de

ampla dimensão como o Brasil, ou seja, dados bons, como os do estado de São Paulo e

outros de qualidade ruim, como estados do Nordeste, em único indicador.

Sendo assim, os dados de mortalidade de idosos de Montes Claros/MG têm níveis

similares aos do Brasil e denunciam a necessidade de intensificar a utilização dessas

estatísticas e, segundo Cerqueira (2003, p. 36), “[...] como forma de chamar a atenção para

a premência de se resolver, com brevidade, os problemas inerentes à qualidade dos dados

sobre causas de morte no país”.

Os dados da tabela 4 apresentam as principais causas de óbito da população com 60

de idade ou mais, organizadas em ordem decrescente na coluna referente a 2006. Para os

homens idosos, observa-se a semelhança na conformação do padrão de mortalidade em

ambos os anos, 1996 e 2006, até a quarta posição do ranking. A primeira causa de óbito

foram as doenças do aparelho circulatório, seguidas das neoplasias, doenças do aparelho

respiratório e, em quarto lugar, as causas mal definidas. Este perfil foi semelhante ao

encontrado por Mello Jorge et al. (2008, p. 275): “Em 2005, no Brasil, a proporção de

óbitos MD [mal definidos] em idosos (11,9%) foi suplantada tão-somente pelas mortes

cujas causas básicas eram doenças do aparelho circulatório (36,5%), neoplasias (16,0%) e

doenças do aparelho respiratório (12,6%)”. Ressalta-se que o perfil registrado pelos autores

citados é de ambos os sexos.

Page 44: Rel Cuidador Idosos

44

TABELA 4: Mortalidade proporcional por causa básica de óbito segundo a CID-10, da população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG, 1996 e 2006 (em %)

Causas CID-10

1996

2006

Homens Doenças do aparelho circulatório......................................... Neoplasias............................................................................ Doenças do aparelho respiratório......................................... “Causas mal definidas”........................................................ Doenças do aparelho digestivo............................................. Algumas doenças infecciosas e parasitárias......................... Causas externas de morbidade e mortalidade.....................

34,6 19,2 15,2 13,4 3,2 4,7 5,5

34,8 18,7 12,4 11,1 5,9 5,7 3,5

Mulheres Doenças do aparelho circulatório......................................... Neoplasias............................................................................ “Causas mal definidas”........................................................ Doenças do aparelho respiratório......................................... Doenças do aparelho digestivo............................................. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas.................. Algumas doenças infecciosas e parasitárias.........................

34,8 17,3 17,6 14,4 2,6 4,2 5,1

35,5 16,5 12,0 7,8 7,2 6,4 4,5

Fonte: DATASUS, acesso em fevereiro de 2009.

O padrão de mortalidade das idosas diferenciou-se do padrão dos idosos,

verificando-se os óbitos por causas mal definidas com a terceira maior proporção em 2006

e o grupo das doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas como a quinta causa de maior

magnitude em 1996 (considerando-se as neoplasias e causas mal definidas como na

segunda posição do ranking para este mesmo ano).

As taxas de mortalidade, calculadas para os triênios, estão registradas na tabela 5 e

em ordem decrescente de magnitude na coluna do triênio 2004, 2005, 2006. Considerando-

se que no numerador adotou-se a média dos eventos dos anos integrantes da série,

respectivamente para cada taxa calculada, a ordenação das taxas pelas causas básicas de

óbito sofreu mudanças, se comparadas à ordenação com base na proporção de cada causa

no total de óbitos (tabela 4). Enfatiza-se, assim, o grupo das causas mal definidas que

passou a ser a terceira taxa de óbito dos idosos, ou seja, para cada mil homens com 60 anos

ou mais que morreram, entre 1996, 1997 e 1998 e entre 2004, 2005 e 2006,

aproximadamente 10 e 7 idosos, respectivamente, tiveram a causa básica do óbito mal

definida – não houve o registro da causa da morte.

Page 45: Rel Cuidador Idosos

45

TABELA 5: Taxas de mortalidade por causa básica de óbito segundo a CID-10, da população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG, triênios selecionados (por mil)

Causas CID-10

1996/1998

2004/2006

Homens Doenças do aparelho circulatório......................................... Neoplasias............................................................................ “Causas mal definidas”........................................................ Doenças do aparelho respiratório......................................... Doenças do aparelho digestivo............................................. Causas externas de morbidade e mortalidade......................

17,6 9,6 9,9 7,0 3,1 2,4

16,2 9,3 6,6 5,3 2,5 1,9

Mulheres

Doenças do aparelho circulatório......................................... Neoplasias............................................................................ “Causas mal definidas”........................................................ Doenças do aparelho respiratório......................................... Algumas doenças infecciosas e parasitárias.........................

13,6 5,8 7,3 4,5 2,0

12,6 5,3 4,9 3,6 2,2

Fonte: DATASUS, acesso em fevereiro de 2009.

Para finalizar a análise do perfil de mortalidade de idosos residentes em Montes

Claros/MG, vale citar que o maior percentual (89,2%) dos óbitos dos indivíduos com 60

anos ou mais, ambos os sexos e ocorridos em 2006, tiveram o quesito raça/cor classificado

como “ignorado”. Do mesmo modo, 91,4% destes óbitos de pessoas com 60 de idade ou

mais tiveram a escolaridade como “ignorada”.

Todas essas informações remetem à citação de Mello Jorge et al. (2008, p. 278-9):

O conhecimento mais próximo da realidade quanto às causas de morte de idosos no Brasil, com o objetivo de avaliar adequadamente o perfil epidemiológico desse grupo etário, deve se valer de outros métodos, mais completos, e não somente utilizar a DO [Declaração de Óbito]. Aqui se apresentam algumas metodologias possíveis de serem adotadas, visando esclarecer as causas mal definidas em idosos. [...].

Entre as metodologias, registram-se a redistribuição das mortes por causas mal

definidas; relacionamento entre os bancos de dados Sistema de Informações de

Mortalidade – SIM e Sistema de Informações Hospitalares – SIH, ambos do SUS; contato

com o médico que assinou a DO; análise do prontuário hospitalar e investigação com visita

domiciliária e análise de prontuários dos serviços onde o falecido foi atendido (Mello Jorge

et al., 2008, p. 279-280).

Page 46: Rel Cuidador Idosos

46

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados dos trabalhos de campo, organizados

em grandes blocos temáticos. As discussões das informações acompanham os dados,

buscando-se o entendimento delas à luz da literatura existente. Para fins de identificação

dos alunos dos processos de formação de cuidadores de idosos, intitulados “Curso de

Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência” (nível médio) e “Curso

Superior de Formação Específica Sequencial Cuidador de Idoso”, ministrados pela

UNIMONTES nos anos de 2006, 2007 e 2008, serão denominados, respectivamente, de

egressos ou alunos do Curso de Qualificação e egressos ou alunos do Curso Sequencial.

Tratando-se dos totais de alunos abordados, do “Curso de Qualificação do Cuidador

de Pessoas Idosas com Dependência” (nível médio), algumas informações foram coletadas

do total de alunos presentes no momento da aplicação do questionário, ou seja, 32

discentes. A segunda onda da pesquisa, visando a avaliação e outras informações referentes

ao curso, teve 29 alunos participantes. Do “Curso Superior de Formação Específica

Sequencial Cuidador de Idoso”, a equipe de trabalho conseguiu contactar 13 alunos,

embora tenha havido muitos esforços no sentido de se conseguir um maior número de

respondentes. E as diversas informações foram coletadas em único contato, tendo em vista

a dificuldade de fazê-lo, ora por dificuldade de endereço e telefone – endereços errados,

telefones trocados, ora por falta de interesse do aluno do Curso Sequencial em participar.

Faz-se necessário registrar que o “Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas

Idosas com Dependência” (nível médio) computou 40 matrículas (total definido a priori

para todas as ETSUS que ministraram o curso) e o “Curso Superior de Formação

Específica Sequencial Cuidador de Idoso”, com 45 matrículas. O primeiro curso foi

financiado com recursos do Ministério da Saúde e, o segundo, foi auto-financiado. De

igual importância, vale citar que houve desistências em ambos os cursos.

6.1 Sobre os discentes

Na identificação dos perfis dos alunos foram arroladas variáveis sociodemográficas

– sexo, faixa etária, raça/cor e escolaridade; e variáveis de inserção no emprego – forma de

Page 47: Rel Cuidador Idosos

47

contratação, tempo de trabalho, local de trabalho, horário de trabalho, função e renda, entre

outras. Buscou-se ainda levantar aspectos referentes ao motivo da escolha da profissão, as

expectativas após a realização do curso, as dificuldades encontradas no desempenho das

atividades e os sentimentos relacionados a elas.

Perfil

Sexo

Conforme os dados coletados, a grande maioria dos profissionais egressos do Curso

de Qualificação é do sexo feminino, correspondente a um percentual de 84,4%. Resultado

semelhante foi encontrado para os profissionais egressos do Curso Sequencial, indicando a

prevalência feminina (84,6%). Estes percentuais, por se referirem ao contingente que

respondeu à pesquisa, diferem um pouco daqueles concernentes às matrículas nos cursos,

cuja distribuição por sexo somou 86,0% e 81,5% de alunas do Curso de Qualificação e

Curso Sequencial, respectivamente.

Verifica-se que os achados do presente estudo quanto a sexo são similares ao

disposto na literatura acerca da temática, uma vez que o cuidar é identificado,

historicamente, em profissões constituídas em maior número por mulheres e, no que diz

respeito ao cuidado com idosos, por mulheres que trabalham predominantemente em

asilos, casas de apoio e/ou residências. Este maior número de mulheres tanto no nível

superior quanto na qualificação é condizente com a história da profissão das mulheres na

área da saúde.

A maior parte dos cuidadores é de mulheres, o que reflete um dado da nossa cultura. As características do cuidador principal [grifos dos autores] tornam-se evidentes não só no que é falado, como nas atitudes no grupo. No intercâmbio entre os componentes, podemos observar: habilidades, sensibilidade, empatia. São características que parecem fazer parte da personalidade de quem cuida, mas tomam mais expressão no ato de cuidar. Sendo assim, cuidar também é uma maneira de se auto-realizar (Silveira, Caldas, Carneiro, 2006, p. 1.632).

A maior presença de mulheres é observada, também, no mercado de trabalho em

geral. De acordo com Graff e Anker (s/d, p. 187), desde o fim da Segunda Grande Guerra,

Page 48: Rel Cuidador Idosos

48

a presença do trabalho feminino no mercado formal cresceu significativamente em todo o

mundo, provocando alterações significativas na instituição familiar. Ao mesmo tempo,

aumentou o grau de escolaridade entre as mulheres tanto quanto as oportunidades de

melhoria no padrão econômico de vida.

O grande aumento no nível da escolaridade feminina no período posterior à Segunda Guerra Mundial contribuiu para aumentar as taxas de participação feminina na força de trabalho em todo o mundo, já que a educação aumenta as recompensas econômicas e não econômicas associadas ao emprego. Grandes mudanças na estrutura familiar, e especialmente a maior ocorrência de unidades domésticas chefiadas por mulheres em todo o mundo ajudaram a aumentar a participação feminina na força de trabalho, já que as mulheres chefes de família provavelmente precisam trabalhar mais que as outras mulheres. As taxas de fecundidade caíram em muitos países e a idade ao casar aumentou em todo o mundo. Estes fenômenos demográficos têm efeitos importantes na participação feminina na força de trabalho (Graff, Anker, s⁄d, p.187).

A questão da feminização do mercado de trabalho brasileiro é acompanhada pela

precarização e pela informalidade, conforme descrito abaixo por Guimarães (2008), a

partir da análise de dados das PNAD’s de 2005 e 2006. A precarização parece estar

presente também no setor da saúde, principalmente quando se observa as questões de

contratação e salários dos profissionais de nível médio.

Desse modo, os dados parecem sugerir a possibilidade de alternância de grandes tendências que são expressões das relações entre trabalho e gênero: o deslocamento da força de trabalho masculina que vinha ocorrendo mediante a sua saída do setor considerado formal e ingresso no setor considerado informal sofre pequena desaceleração, em relação ao segmento feminino, cujo ingresso no mercado de trabalho continua crescendo, e assim, passa a ser mais atingido pelos processos citados. Estas tendências devem ser discutidas nos termos de uma convergência entre precarização, informalidade e feminização do mercado de

trabalho (Guimarães, 2008, p. 13).

Faixa etária

A idade é um dos principais atributos do indivíduo, par a par com o sexo, pois

define e tem relação direta com a grande maioria das funções e necessidades biológicas e

sociais, como as demandas de saúde e sociais, entre outras (Wong, 2001). Tão importante e

difícil de registro, em algumas populações, remetendo à discussão sobre a valorização do

Page 49: Rel Cuidador Idosos

49

que é novo (Tolotti, 2007). Nesse sentido, optou-se pelo trabalho com a idade agrupada em

intervalos quinquenais – procedimento adotado por órgãos e instituições como IBGE,

Fundação João Pinheiro, Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada – IPEA, Centro de

Desenvolvimento e Planejamento Regional – CEDEPLAR/UFMG, etc.

E no âmbito do cuidar, a idade é um aspecto que merece atenção já que a

dependência dos idosos em relação às atividades da vida diária – AVD implica em

demanda de esforço físico daqueles que atuam nessa função.

A variável idade pode influir duplamente na atividade de cuidadores de idosos: restringindo o acesso dos mais velhos a esse mercado de trabalho e limitando o tempo de atuação destes profissionais na função em decorrência do desgaste físico produzido pela mesma. É importante considerar, entretanto, que profissionais mais experientes podem contribuir em outros aspectos do bem-estar e da qualidade de vida do idoso, uma vez que o cuidado é influenciado por crenças, valores e experiências vividas na trajetória de vida pessoal e profissional (Ribeiro et al., 2008, p. 1.288).

No presente estudo, a média da idade dos egressos do Curso de Qualificação é 36 e

do Curso Sequencial é 40 anos. O gráfico 4 apresenta a distribuição dos alunos por faixa

etária.

Fonte: Trabalho de campo, 2008/2009.

GRÁFICO 4: Alunos dos cursos para cuidadores de idosos,

por faixa etária, Montes Claros/MG, 2006/2008

0

5

10

15

20

25

30

35

15 a 19

anos

20 a 24

anos

25 a 29

anos

30 a 34

anos

35 a 39

anos

40 a 44

anos

45 a 49

anos

50 a 54

anos

Faixa etária

%Qualificação

Sequencial

Page 50: Rel Cuidador Idosos

50

Raça/Cor

A inserção da informação de raça/cor neste diagnóstico justifica-se pelo fato da

UNIMONTES praticar a política de cotas para ingresso em seus cursos de graduação

considerando, portanto, as problemáticas advindas dessa discussão que, no âmbito da

discriminação étnica/racial e racismo no Brasil, apontam as desvantagens e desigualdades

às quais os sujeitos negros estão particularmente submetidos.

Ressalta-se que para as informações de raça/cor, a atividade adotou o mesmo

procedimento da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE no Censo

2000: é uma autoclassificação, com base em estudos antropológicos das relações

interétnicas, contemplando-se as categorias branca, preta, parda, indígena e amarela.

Assim, quanto ao perfil raça/cor, os resultados indicam que a maior parte dos

alunos egressos de ambos os cursos se autoclassifica como pardo: 56,3% dos alunos do

Curso de Qualificação e 30,8% dos alunos do Curso Sequencial. Dentre os demais, 12,5%

dos primeiros e 23,1% dos últimos se autoclassificam como brancos e 9,4% dos alunos do

Curso de Qualificação e 15,4% dos alunos do Curso Sequencial abordados por este estudo

se autoclassificam na categoria preto, apontando que a discussão acerca do

empardecimento da população, em voga atualmente, merece maiores estudos. Os

percentuais restantes foram respostas na classificação “amarela”.

A estabilidade da classificação de raça/cor ao longo dos anos é questionada por

estudiosos do tema e a análise das autodeclarações de raça/cor gera uma série de

discussões que são difíceis de chegar a um ponto comum. Em se tratando dos significativos

contingentes que se autodeclaram como “pardos”, baila a questão: a maior miscigenação

das raças tem feito aumentar a categoria parda em detrimento da categoria branca? Essa

questão ainda está por ser respondida (Carvalho, Wood, Andrade, 2003).

Não obstante, Wood (1991) registrou que cerca de 95% das respostas sobre raça/cor

dadas espontaneamente são consistentes com os termos utilizados nas categorias

censitárias, reforçando a escolha correta ao se adotar as categorias do Censo Demográfico

para inquéritos com esse tipo de variável.

Os percentuais indicativos de “não respondeu”, iguais a 18,8% dos alunos do Curso

de Qualificação e 15,4% dos alunos do Curso Sequencial podem denotar a premente

necessidade de se trabalhar o quesito raça/cor entre estes discentes, possibilitando-lhes a

construção desse conceito e tendo em vista o seu valor explicativo para diversos

fenômenos e/ou eventos sociais.

Page 51: Rel Cuidador Idosos

51

Escolaridade

Os egressos do Curso de Qualificação possuem escolaridade diversa e, nesse

sentido, observa-se que 3,1% têm o ensino fundamental completo; 6,3%, o ensino médio

incompleto; 46,7%, o ensino médio completo; 31,3%, o ensino técnico; 6,3%, o ensino

superior incompleto e mesmo percentual, 6,3%, o ensino superior completo. Dentre esses,

um tem pós-graduação. Essa conformação do padrão de escolaridade dos alunos do Curso

de Qualificação revela as exigências no que se referem a este quesito para a efetivação da

matrícula, como exposto no capítulo 4 – não houve exigência de escolaridade mínima, mas

foi estabelecido critério de seleção baseado no nível de escolaridade, na seguinte ordem:

ensino médio completo, ensino médio incompleto e ensino fundamental completo.

Observa-se, inclusive, que os ex-alunos do Curso de Qualificação possuíam outra

formação na área da saúde, a saber: Curso de Auxiliar de Enfermagem (6,2%) e Curso de

Técnico em Enfermagem (24,8%).

Quanto aos egressos do Curso Sequencial, como a questão de trabalho foi “qual é a

sua escolaridade atual?”, a totalidade dos ex-alunos abordada pela equipe de realização

deste diagnóstico tem formação superior, uma vez que o referido curso a proporcionou,

sendo que, desses, 15,4% tem também formação superior em outras áreas. Não houve

registro de pós-graduação. Assinala-se ainda que 7,7% já possuíam o Curso de Auxiliar de

Enfermagem e 23,1% o de Técnico de Enfermagem.

Tais realidades sugerem que os cursos de formação de cuidadores de idosos foram,

para os profissionais/alunos egressos, um aperfeiçoamento no decorrer de seus itinerários

formativos.

No contexto, supõe-se que a qualidade dos serviços prestados vem ampliando-se

sobremaneira, particularmente, quando se considera que o nível de escolaridade

correlaciona-se com melhor raciocínio lógico. Nesse sentido, a capacidade de apoiar os

idosos em funções mais complexas – como auxílio medicamentoso, recebimento e

transmissão de orientações médicas, acompanhamento a consultas, ajuda nos serviços

bancários, recebimento de benefícios e compras – pode favorecer a manutenção da

autonomia e bem estar do idoso (Brasil, 1999). Segundo Damas, Munari e Siqueira (2004):

A formação de um profissional mais seguro e consciente reflete no desenvolvimento de uma assistência diferenciada ao cliente. Possibilita ao cuidador desempenhar suas funções de forma cautelosa e reflexiva, evitando a transgressão de valores e convicções, e permitindo o estabelecimento de

Page 52: Rel Cuidador Idosos

52

relacionamentos interpessoais mais efetivos entre profissional e cliente (Damas, Munari, Siqueira, 2004, p. 276).

Variáveis de inserção no emprego

Profissão: cuidador de idosos

Inicialmente, faz-se oportuno lembrar que a discussão do termo “profissão” está

inserida no capítulo 2, sendo desnecessário retomá-la aqui.

Portanto, no que se refere ao exercício profissional como cuidador de idosos

registra-se que 34,4% dos egressos do Curso de Qualificação são atuantes e que 56,2% não

trabalham como cuidadores, no momento da realização deste diagnóstico. Desses ex-

alunos, 9,4% não responderam à questão. Considerando-se somente o grupo que trabalha

com idosos, 81,8% deles trabalham com mais de um idoso.

Dos egressos do Curso Sequencial abordados, 15,4% trabalham como cuidadores e

com mais de um idoso; 30,7% trabalham em outras áreas; 23,1% possuem experiências

anteriores como cuidadores de idosos; 23,1% estão desempregados e 7,7% não

responderam à questão. Os que não atuam como cuidadores de idosos citaram as

justificativas “a remuneração é baixa” e “dificuldades com horários” como motivos para

tanto. Desse modo, informam o exercício de outras profissões como: babá, empregada

doméstica, professor de educação infantil e operador de informática.

No caso da educação profissional, a complexificação do trabalho industrial fez com que o sentido do saber profissional fosse dado não somente pela habilidade técnica baseada numa teoria subjacente. A existência de uma teoria subjacente significava que ninguém poderia tornar-se um profissional sozinho, mas precisaria ser treinado e certificado por outros profissionais. O profissionalismo, portanto, passou a se basear na habilidade técnica, no conhecimento teórico que subjaz à habilidade e na aceitação por uma comunidade de outros profissionais (Ramos, 2005, p. 110).

Dos egressos do Curso de Qualificação que atualmente estão trabalhando como

cuidadores de idosos, 72,7% são contratados pela Consolidação das Leis Trabalhistas e os

demais, com percentuais iguais (9,1%), por contratos informais, autônomos e voluntários.

Page 53: Rel Cuidador Idosos

53

Dos ex-alunos do curso Sequencial, também trabalhadores como cuidadores de

idosos, registra-se que a metade é contratada pela CLT e os 50,0% restantes, por contratos

informais e/ou voluntário.

Local de trabalho

São diversos os locais de trabalho dos egressos do Curso de Qualificação que

cuidam de idosos, a saber: asilos (63,6%), residências/domicílios (27,3%) e

instituição/serviço beneficente – Pastoral da Pessoa Idosa (9,1%).

Dos ex-alunos do Curso Sequencial registra-se que a metade trabalha em instituição

no formato de asilos e os 50,0% restantes, em residências.

Estes dados suscitam questionamentos sobre os asilos, ou, Instituições de Longa

Permanência para Idosos – ILPI: são necessárias? Qual o formato adequado? Como devem

ser fiscalizadas, no sentido de permitir o exercício de cidadania dos idosos

institucionalizados? Como deve ser a equipe de trabalho em uma ILPI? Entre outras

perguntas, constituindo-se tema de futuros estudos. De acordo com Karsh:

A internação dos idosos em asilos, casas de repouso e similares, está sendo posta em questão até nos países desenvolvidos, onde estes serviços alcançaram níveis altamente sofisticados de conforto e eficiência. O custo desse modelo e as dificuldades de sua manutenção estão requerendo medidas mais resolutivas e menos onerosas. No Brasil é comum, mesmo nas famílias de renda geral mensal abaixo de dois salários mínimos, que a opção de internar o seu idoso em instituições asilares ocorra, predominantemente, no limite da capacidade familiar em oferecer os cuidados necessários (Karsch, 2003, p.865).

Seguindo o exposto, a citação dos autores abaixo complementa a discussão,

apresentando outra questão sobre o maior tempo de experiência profissional dos

cuidadores de idosos em instituições filantrópicas, resultado encontrado em outros estudos.

As instituições para idosos nasceram como serviços para abrigar velhos pobres, sendo geralmente vinculadas a instituições religiosas. O surgimento de instituições, enquanto prestadoras de serviços privados, é um fenômeno relativamente recente, decorrente das demandas sociais impostas pelo envelhecimento populacional. Este fato pode explicar também o porquê dos cuidadores de idosos das instituições filantrópicas possuírem maior tempo de experiência profissional (Ribeiro et al., 2006, s/p.).

Page 54: Rel Cuidador Idosos

54

Horário e tempo de trabalho

Em se tratando do horário de trabalho dos profissionais cuidadores de idosos, as

alternativas de resposta enquadram-se nas categorias tempo integral, por revezamento de

turno e tempo determinado – certo número de horas por dia. Os cuidadores que fizeram o

Curso de Qualificação têm seus horários de trabalho divididos entre “por revezamento de

turno” (63,6%); “por tempo determinado” (18,2%) e “tempo integral” (9,1%). Igual

percentual (9,1%), não respondeu. Já os cuidadores de idosos que fizeram o Curso

Sequencial, metade trabalha em tempo integral e, outra metade, por tempo determinado.

Buscou-se conhecer, também, o tempo de trabalho como cuidadores de idosos. Os

egressos do Curso de Qualificação que apresentam menos de cinco anos como cuidadores

somam 63,6% do total, restando 36,4% que trabalham há mais de cinco anos, assim como

os egressos do Curso Sequencial que exercem a profissão – todos eles trabalham por tempo

superior a cinco anos como cuidadores de idosos. Considerando-se que os alunos do Curso

de Qualificação compõem o maior contingente de cuidadores de idosos, o percentual com

tempo inferior a cinco anos neste trabalho confirma os achados de Ribeiro et al. (2008), ao

pesquisar o perfil dos cuidadores de idosos das ILPI’s em Belo Horizonte/MG:

O pouco tempo de trabalho dos cuidadores nas instituições pode estar relacionado ao estresse profissional, pois a maioria dos cuidadores trabalhava há menos de cinco anos nestes locais, independentemente da modalidade. Entretanto, nas filantrópicas (42,9%), o percentual de cuidadores que trabalhava há mais de cinco anos foi significativamente maior que nas privadas (Ribeiro et al., 2008, p. 1.290).

Renda

Pelo trabalho formal realizado, a maioria (81,8%) dos cuidadores de idosos

egressos do Curso de Qualificação recebe de 1 a 2 salários mínimos; 9,1% recebem de 3 a

4 salários mínimos e 9,1% realizam o trabalho de forma voluntária, portanto, sem

remuneração. Em relação à faixa salarial dos egressos do Curso Sequencial que trabalham

como cuidadores de idosos, registra-se também que a totalidade percebe de 1 a 2 salários

mínimos.

Page 55: Rel Cuidador Idosos

55

Estes valores são semelhantes aos encontrados por Ribeiro et al. (2008) ao

estudarem os cuidadores de idosos das ILPI’s de Belo Horizonte/MG, cujo salário mensal

variou até 2 salários mínimos.

Sobre a escolha da profissão

Esta questão, “o motivo da escolha da profissão de cuidador de idosos”, foi

analisada tendo em vista a totalidade dos alunos abordados pela equipe de trabalho,

justificando-se a análise pela possibilidade da escolha do curso/formação estar associada à

escolha da profissão. E ressalta-se: a questão permitia mais de uma alternativa como

resposta.

Deste modo, dos alunos do Curso de Qualificação, 56,3% responderam que o

motivo da escolha dessa profissão foi o mercado de trabalho crescente; 68,8% afirmam ter

vocação e 9,4% responderam outros motivos descritos abaixo, nas palavras dos alunos:

“Como já trabalho como voluntário adquiri no curso muitos conhecimentos,

inclusive na prática, que pretendo usar nos idosos que acompanho e orientar

qualquer pessoa que tenha dúvida e que eu possa ajudar. Inclusive dentro minha

própria família”.

“Para aprimorar conhecimentos”.

“Para aprender mais como cuidar de idosos”.

Já os egressos do Curso Sequencial (15,4%) afirmaram que escolheram a

profissão por vocação e os outros (84,6%) não responderam.

Sobre o estado biofísico dos idosos cuidados

É sabido que a população idosa cresce em todo o mundo e este crescimento reflete

nos serviços de atenção ao idoso, em alguns casos, demandando mais serviços da sua

Page 56: Rel Cuidador Idosos

56

família, já que a qualidade do cuidado prestado às pessoas com 60 anos ou mais de idade

constitui mais atenção.

O estado biofísico do idoso é um determinante dessa demanda por prestação de

serviços de terceiros. Os respondentes do Curso de Qualificação que trabalham como

cuidadores de idosos citaram, sobre o estado biofísico do(s) idoso(s) com o(s) qual(is)

trabalham: 18,2% responderam que os idosos são independentes; 36,4% afirmaram que os

idosos são parcialmente dependentes e 45,4% trabalham com idosos dependentes.

O estado biofísico do(s) idoso(s) com que trabalham os egressos do Curso

Sequencial: metade é parcialmente dependente e 50,0% dependentes.

Atividades desenvolvidas como cuidador de idosos

Esta questão teve duas formas de organização: para os alunos do Curso de

Qualificação, ela se baseou nas atividades catalogadas na CBO para o cuidador de idosos, e

permitiu múltipla resposta; para os alunos do Curso Sequencial, foram no formato de

pergunta aberta, especificando as atividades entre técnico-assistenciais, administrativo-

gerenciais e outras. A análise dos dados refere-se àqueles alunos que são cuidadores de

idosos, mas é oportuno citar que os demais alunos dos processos de formação de

cuidadores de idosos também registraram as atividades que, no caso, desenvolveriam na

condição de cuidadores.

De forma geral, sobre as atividades executadas por ambos – alunos cuidadores de

idosos do Curso de Qualificação e alunos cuidadores de idosos do Curso Sequencial,

observa-se que as atividades mais presentes envolvem respeito, afetividade, entendimento

sobre envelhecimento e organização das tarefas diárias.

Nesta situação, as relações entre os profissionais se caracterizam por ações de

igualdade, pois exercem semelhantes atividades e formas de tratamento dispensadas aos

idosos.

Para os alunos do Curso de Qualificação, percebe-se que “saber ouvir, respeitando

sua necessidade individual de falar” foi citada por 100,0% dos respondentes. “Ajudar o

idoso na recuperação da autoestima, dos valores e da afetividade” é uma atividade

realizada por 90,9% desses alunos. Em ordem, encontram-se as atividades a seguir, com

81,8% das respostas: estimular a independência do idoso; manter a calma em situações

críticas; cuidar da sua aparência e higiene pessoal; observar os horários das atividades

Page 57: Rel Cuidador Idosos

57

diárias; realização do banho; respeitar a privacidade do idoso e fazer companhia. Entre

percentuais iguais a 72,7%, 63,6% e 54,5%, podem ser citadas: acompanhar e respeitar o

idoso em sua necessidade espiritual e religiosa; administração de medicamentos;

demonstrar sensibilidade e paciência; mudança de decúbito; prevenir acidentes;

acompanhar o idoso em passeios, viagens e férias; acompanhar o idoso em atividades

sociais e culturais; cuidar da alimentação; lidar com sentimentos negativos e frustrações;

perceber e suprir carências afetivas; desestimular a agressividade do paciente; buscar

informações e orientações técnicas; ajudar nas necessidades fisiológicas; manusear

instrumentos (como: sonda, aparelho pressão, inalador, bolsa térmica, termômetro,

vaporizador, umidificador, etc.); e, observar a qualidade e validade dos alimentos.

Outras atividades desenvolvidas pelos alunos do Curso de Qualificação, cuidadores

de idosos, segundo menos que 50,0% das respostas deles: fazer leituras de jornais, livros e

revistas para o idoso; adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários;

promover adequação ambiental; cuidar da roupa e objetos pessoais; obedecer normas e

estatutos; verificar se a vacina do idoso está em dia e verificar se o idoso está perdendo

líquido.

Saldanha e Caldas (2004, p. 51) afirmam que uma atividade do cuidador de idosos é

“estimular a comunicação com o idoso: conversar, ouvir, valorizar sua linguagem,

fortalecer sua autonomia, atualizá-lo com informações”.

Born (2008, p. 73) comenta que a adaptação a diferentes estruturas e padrões

familiares e comunitários por parte do cuidador de idosos remete ao fato de que o cuidador

“poderá enfrentar situações bastante delicadas e estressantes no exercício de sua função”.

Como por exemplo, a “ausência total dos familiares, por considerarem cumprido seu papel

ao entregarem a pessoa idosa em ‘suas mãos’ pode ocasionar-lhe insegurança e solidão”.

Bem como “a super-proteção da família à pessoa idosa, interferindo no seu trabalho”. Ou

até mesmo quando nas disputas familiares, o cuidador é solicitado a tomar partido ou servir

de “espião” para um dos lados. Outro momento delicado é quando a família,

desconhecendo as obrigações do cuidador, determina que este realize também as tarefas

domésticas, prejudicando e abandonando o cuidado com a pessoa idosa de quem é

responsável.

Segundo o Guia Prático do Cuidador (Brasil, 2008, p. 40), “muitas vezes é

preciso fazer algumas adaptações no ambiente da casa para melhor abrigar a pessoa

cuidada, evitar quedas, facilitar o trabalho do cuidador e permitir que a pessoa possa se

tornar mais independente”. No entanto, algumas atividades cujo objetivo é adaptar o

Page 58: Rel Cuidador Idosos

58

ambiente, são executadas por menos da metade dos referidos cuidadores de idosos (não

cabe aqui discutir os possíveis determinantes deste fato, dada a amplitude da questão).

“Cuidar da roupa e objetos pessoais” e “obedecer a normas e estatutos” foram

também citados como sendo atividades de menos da metade dos cuidadores de idosos.

Contudo, o cuidado com a estética ajuda a melhorar a autoestima do idoso.

Retomando Born (2008), dar sempre à pessoa idosa o direito de escolha da

vestimenta e cuidar da aparência dela (cuidar das unhas, cabelos), são tarefas próprias da

função do cuidador de idosos.

Fazem-se necessários outros estudos como este para elucidar as possíveis

justificativas para a realização das atividades citadas pelos cuidadores abordados por este

diagnóstico, assim como, conhecer as razões de outras tarefas serem preteridas.

Para os egressos do Curso Sequencial as atividades técnico-assistenciais

desenvolvidas como cuidador de idosos, são: administração de medicamentos; estímulo a

autoestima e lucidez do(s) idoso(s). Já as atividades administrativo-gerenciais, citadas na

entrevista por esse grupo de alunos, foram: compras diversas, pagamentos de contas,

agendamento de consultas; acompanhamento no lazer; coordenação de grupos de idosos e

auxílio nas oficinas desenvolvidas por eles; compra de materiais para as respectivas

oficinas; participação em reuniões mensais em instituições mantenedoras dos grupos. Entre

outras atividades como cuidador de idosos, um ex-aluno disse:

“Faço também visitas domiciliares aos idosos pertencentes aos grupos assistidos,

esclarecendo a respeito das leis e do Estatuto do Idoso, e conhecendo de perto

suas necessidades básicas”.

Especificamente neste caso, dos ex-alunos do Curso Sequencial, as informações

foram coletadas por meio de uma questão aberta, visando valorizar o discurso dos

respondentes e, pelo preenchimento de um anexo, com a lista das atividades segundo a

CBO. Considerando-se a repetição das atividades, arroladas anteriormente na análise das

tarefas executadas pelos cuidadores/alunos do Curso de Qualificação, optou-se pela não

citação aqui. Vale registrar, também, as dificuldades advindas da coleta dessas

informações, tornando exaustivo o trabalho do entrevistador e do entrevistado, sugerindo-

se novas modalidades de coleta para diagnósticos futuros.

Page 59: Rel Cuidador Idosos

59

Dificuldades encontradas como cuidadores de idosos

A seguir, são relacionadas as dificuldades encontradas para o desenvolvimento das

atividades como cuidadores de idosos, para ambos os egressos. As dificuldades são

apresentadas pela resposta afirmativa ou negativa, para cada egresso dos processos de

formação. Também nesta questão, praticamente todos os alunos responderam, mesmo

aqueles que não trabalham como cuidadores de idosos.

QUADRO 1: Dificuldades encontradas como cuidadores de idosos segundo os egressos dos Cursos de Qualificação e Sequencial da Unimontes, 2006 a 2008

Especificação da dificuldade Egressos Curso

Qualificação Egressos Curso

Sequencial

Acompanhar o idoso em passeios, viagens e férias. Sim Não Adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários.

Sim

Sim

Administração de medicamentos. Sim Não Ajudar o idoso na recuperação da autoestima, dos valores e da afetividade.

Não

Sim

Buscar informações e orientações básicas. Não Sim Cuidar da aparência e higiene pessoal. Não Sim Cuidar da roupa e objetos pessoais. Sim Não Desestimular a agressividade do idoso. Não Sim Desgaste emocional do cuidador frente ao trabalho. Sim Sim Estimular a independência do idoso. Sim Não Falta de apoio da família do idoso. Sim Sim Falta de conhecimento sobre desenvolvimento do trabalho sem prejuízos físicos.

Sim

Não

Falta de reconhecimento do trabalho. Sim Sim Fazer leituras de jornais, livros e revistas para o idoso. Sim Não Lidar com sentimentos negativos e frustrações. Sim Sim Lidar com perdas e mortes. Sim Sim Manusear instrumentos. Sim Sim Mudança de decúbito. Sim Não Perceber e suprir carências afetivas. Não Sim Promover adequação ambiental. Sim Sim Realização do banho. Não Sim Superar limites físicos e emocionais. Sim Não

Fonte: Trabalho de campo, 2008/2009.

As dificuldades citadas pelos cuidadores de idosos, egressos dos cursos em

epígrafe, são de ordem subjetiva, técnica e relacionadas ao domínio de certos

conhecimentos e habilidades, para além daqueles restritos ao complexo biomédico.

Page 60: Rel Cuidador Idosos

60

Aqui parece necessário registrar também que a abordagem do envelhecimento apenas na perspectiva das demandas biomédicas reais ou potenciais aos serviços de saúde não esgota o foco analítico necessário para caracterizar o enfoque da integralidade da saúde. Mesmo na perspectiva das necessidades de saúde, individuais e coletivas, que esse contexto traz, é insuficiente analisar apenas as doenças comuns no envelhecer ou mesmo os fatores de risco. Há um conjunto de singularidades no processo de envelhecimento que transcende o adoecimento e afirma a produção de saúde, abordagens que fogem da lógica positivista do conhecimento biomédico e inserem-se num plano de complexidade mais próximo dos novos paradigmas epistemológicos (Ferla et al., 2007, p. 83).

Os determinantes destas dificuldades podem ser diversos e, portanto, constituem-se

objeto de novos diagnósticos. Não obstante, as informações sobre as dificuldades podem

servir de subsídio para a organização e implementação de novos cursos de formação de

cuidadores de idosos.

Percepções dos cuidadores de idosos

No que se refere à percepção e sentimentos dos cuidadores de idosos, a equipe de

realização deste diagnóstico buscou conhecer informações de ordem subjetiva e pessoal

sobre o trabalho como cuidador. A totalidade dos cuidadores de idosos, ex-alunos do Curso

de Qualificação e do Curso Sequencial, afirma que se sentem realizados ao desempenhar as

atividades de cuidadores, como nas falas abaixo:

“Porque tenho aptidão para realizar essas atividades e me sinto útil no que

faço”.

“Sempre usei a empatia e me sinto feliz ao proporcionar aos outros o que gostaria

que fizessem comigo”.

“Eu amo o que faço... sou ligada demais nas minhas idosas e é um pouco de

mim...”.

“Me sinto realizado... para ser humano melhor... é gratificante você ajudar e

receber um obrigado acompanhado de um sorriso sincero!”

Page 61: Rel Cuidador Idosos

61

“Me sinto útil ao proporcionar ao outro conforto e bem estar!”

“Quando acontecem algumas mudanças relacionadas à saúde do idoso que eu já

não posso mais cuidar... A minha emoção é quando chego para trabalhar e não

encontro todos eles para dar o banho... é muito triste você chegar e saber que uma

delas não está mais ali...”

As respostas dos entrevistados indicam que o ato de cuidar é carregado de

sentimentos. Experiências e relatos de sentimentos internos foram expressados:

O cuidado é uma carreira que transcorre no tempo e, diferentemente de outras, não é planejada, nem esperada ou escolhida. A maneira como evolui depende de fatores objetivos relativos às características da doença do idoso, das habilidades do cuidador, da posição deste dentro da família, como também de fatores subjetivos (Oliveira et al., 2006, p. 185).

6.2 A percepção dos alunos sobre os processos de formação

As expectativas

Os egressos dos Cursos de Qualificação e Sequencial citaram as seguintes

expectativas em relação ao curso, em questões de múltipla escolha: aprimoramento dos

conhecimentos; melhoria na qualidade do serviço; inserção no mercado de trabalho;

melhoria na forma de contratação; melhoria da remuneração. Entre alternativas registradas

pelos próprios respondentes, registram-se: aperfeiçoamento para atender idosos; ter

condições de trabalho como assistente social com idoso; mais oportunidade de trabalho e

aprendizado e prática. Como afirmam Furegato et al. (2001, s/p): “o ensino não é uma

atividade com fins terapêuticos, mas é uma atividade de ajuda para aqueles que desejam

aumentar sua capacidade adaptativa ou sua competência profissional, através da aquisição

de novos conhecimentos para atuar terapeuticamente”.

Page 62: Rel Cuidador Idosos

62

A relação entre teoria e prática

Buscou-se conhecer se o que foi ministrado nos cursos tem relação com a prática

profissional como cuidadores de idosos. Os alunos do Curso de Qualificação, cuidadores

de idosos, responderam “parte do que estou aprendendo no curso é igual ao que pratico no

meu trabalho” (63,6%) e “o que estou aprendendo no curso é igual ao que pratico no meu

trabalho” (27,3%). E 9,1% não responderam.

Como também os ex-alunos do Curso Sequencial: metade respondeu “o aprendido é

congruente com o que pratico no meu trabalho” e os demais responderam que “parte do

que aprendi é congruente com o que pratico no trabalho”.

A continuidade dos estudos

Caso haja a continuidade do curso para a formação do Técnico para cuidador de

idosos, uma complementação do itinerário do Curso de Qualificação, todos os alunos que

trabalham como cuidadores de idosos manifestaram interesse em fazê-lo. Dos demais que

fizeram o referido curso, 95,2% responderam que têm sim a pretensão em dar continuidade

à formação técnica, registrando-se ínfimo percentual de resposta negativa.

No caso do Curso Sequencial, foi perguntado sobre o desejo de se fazer uma pós-

graduação na área de cuidador de idosos. Uma significativa parcela de 84,6% dos alunos

respondeu afirmativamente, que tem pretensão de fazer o curso.

O interesse da equipe de desenvolvimento deste diagnóstico corrobora a fala dos

autores a seguir, como também a ação pública expressa em políticas.

A implantação de políticas e programas considerando o novo perfil demográfico do país inclui a necessidade de ampliação quantitativa e qualitativa de profissionais para atuar na área do envelhecimento. Esta necessidade tem sido destacada na Política Nacional do Idoso, e mais recentemente na Política Nacional de Saúde do Idoso (Motta, Caldas, Assis, 2008, p. 1.144).

Page 63: Rel Cuidador Idosos

63

A avaliação do curso, de acordo com os alunos

Para este diagnóstico, buscou-se conhecer a avaliação dos processos de formação

de cuidadores de idosos na perspectiva dos alunos. Para tanto, foram abordados 29

respondentes do Curso de Qualificação e 13 do Curso Superior Sequencial. A avaliação foi

feita, entre outros critérios, por conceitos: ótimo, bom, regular, ruim. Houve questões sem

resposta.

Verifica-se que os processos de formação foram bem avaliados, concentrando-se

parte significativa dos conceitos entre “ótimo” e “bom”. Chama a atenção a avaliação da

biblioteca pelos alunos do Curso de Qualificação, quando somente 51% emitiram suas

opiniões. Faz-se necessário realizar outros estudos para se entender esta informação,

pairando as questões: faltou estímulo para o uso da biblioteca? Existe hábito de leitura

entre os alunos? Ou, as bibliografias trabalhadas em sala foram suficientes?

Em se tratando da avaliação dos professores pelos alunos, a análise desta variável

ressaltou a importância do educador na condução do processo de formação, bem como das

metodologias adotadas por ele. Vale dizer que os referidos cursos priorizaram docentes

com alguma experiência na área de envelhecimento, seja tratando-se de experiência

profissional ou da própria formação; como exemplo, a ETSUS que ministrou o Curso de

Qualificação tem quadro de professores composto por profissionais das respectivas áreas.

Page 64: Rel Cuidador Idosos

64

QUADRO 2: Opinião dos discentes sobre os processos de formação para cuidadores de idosos, Montes Claros/MG, 2009

Item avaliado

Conceitos (em %)

Ótimo

Bom

Regular

Ruim

Não Respondeu

Alunos do Curso de Qualificação

Conteúdo programático 55 38 - - 7 Carga horária 21 66 3 - 10 Material didático 24 49 24 - 3 Audiovisuais 14 28 41 - 17 Biblioteca 10 31 10 - 49 Sala de aula 24 52 17 - 7 Atendimento a sua expectativa 38 56 3 - 3 Professores – didática 45 45 - - 10 Professores – domínio do conteúdo 56 34 7 - 3 Professores – capacidade de motivar 31 52 10 - 7 Professores – relacionamento turma 45 48 7 - - Professores – pontualidade 62 31 - - 7 Metodologia – trabalho em grupo 45 52 - - 3 Metodologia – aulas expositivas 21 58 14 - 7 Metodologia – leitura de textos 24 66 7 - 3 Metodologia – discussões livres 59 38 3 - - Metodologia – tarefas coerentes 28 62 - - 10

Alunos do Curso Sequencial

Conteúdo programático 62 38 - - - Carga horária 8 84 - 8 - Material didático 46 31 15 8 - Audiovisuais 61 23 8 8 - Biblioteca 69 31 - - - Sala de aula 46 38 8 8 - Atendimento a sua expectativa 15 46 23 8 8 Professores – didática 46 46 8 - - Professores – domínio do conteúdo 77 23 - - - Professores – capacidade de motivar 31 46 15 8 - Professores – relacionamento turma 15 70 15 - - Professores – pontualidade 54 46 - - - Metodologia – trabalho em grupo 54 38 8 - - Metodologia – aulas expositivas 46 38 8 8 - Metodologia – leitura de textos 38 38 24 - - Metodologia – discussões livres 38 38 24 - - Metodologia – tarefas coerentes 38 38 24 - -

Fonte: Trabalho de campo, 2008/2009.

Outros pontos da avaliação:

O curso proporcionou conhecimentos?

Para a maioria do Curso Sequencial, 84,6%, o curso realizado proporcionou novos

conhecimentos sobre o assunto e 15,4% afirmaram que o curso realizado proporcionou

poucos conhecimentos além dos já possuídos. Do Curso de Qualificação, 86,2% dos alunos

Page 65: Rel Cuidador Idosos

65

responderam que o curso realizado proporcionou novos conhecimentos sobre o assunto e

13,8% não responderam.

Durante o curso houve oportunidade de reformular conceitos e pontos de vista que

tinha a respeito do tema?

Do Curso Sequencial, 92,3% afirmaram que sim e 7,7% disseram que não, não

houve essas oportunidades. E 100,0% dos alunos do Curso de Qualificação afirmaram que

sim, que houve oportunidade de reformular conceitos e pontos de vista.

Troca de experiências:

Curso Sequencial: o curso ofereceu oportunidades de troca de experiências e

conhecimentos entre 92,3% dos participantes. E do Curso de Qualificação, houve troca de

experiência para os 100,0% dos alunos.

Coerência das disciplinas com os objetivos/propósitos do curso:

Curso Sequencial: 46,2% responderam ótimo, 30,8% responderam bom e 23,1%

regular. E do Curso de Qualificação, 65,5% avaliaram como ótimo e 34,5% como bom.

Classificação do curso realizado:

Curso Sequencial: 61,5 classificaram-no como ótimo; 23,1% bom e 15,4% regular.

E do Curso de Qualificação, 72,4% como ótimo e 27,6% como bom.

Para os alunos do Curso de Qualificação, foi questionado se houve articulação do

conteúdo estudado e a prática profissional. Um total de 69,0% dos ex-alunos respondeu

que grande parte do que se falou tem aplicação prática na vida profissional e 13,8%

afirmaram que pouco do que se falou tem aplicação prática na vida profissional; 17,2% não

responderam. Barreira (2006), ao tratar da importância da relação teoria e prática no

processo de formação, afirma que para uma aprendizagem ser significativa exige-se a

articulação entre experiências anteriores e vivências pessoais dos educandos. Indagados se

o curso motivou a reflexão e introdução de mudanças nos processos de trabalho adotados,

a totalidade dos alunos desse curso respondeu que sim, o que parece ser um paradoxo

quando parcela deles afirma que pouco do que se estudou no curso tem articulação com a

prática profissional, com a prática.

Page 66: Rel Cuidador Idosos

66

Por último, foi permitido que o aluno deixasse sua sugestão ou qualquer outra

opinião, reclamação; enfim, um espaço aberto para se expressar. Dentre estas, escritas ou

faladas, são registradas a seguir algumas, na forma exata que foram expressas. Dos alunos

do Curso Sequencial:

“Com os conhecimentos e experiências adquiridos durante a formação, o

profissional cuidador de idoso está apto e capacitado para desenvolver seu papel

perante a sociedade, porém, falta espaço para atuação no mercado e divulgação

da importância desta nova categoria profissional”.

“É importante ressaltar que apesar da crescente demanda por pessoas

qualificadas nesta área, "os cuidadores de idosos” embora graduados há dois

anos pela UNIMONTES e reconhecidos pelo MEC com conceito A, encontram

bastante dificuldade de se inserirem no mercado de trabalho, isso ocorre

principalmente em virtude da desinformação da sociedade em relação a estes

profissionais, sugiro portanto um trabalho social de conscientização, através do

qual se esclareça a diferença entre cuidadores formais e informais e dessa forma

todos aqueles que se dedicarem e vierem aprimorar os seus conhecimentos por

meio deste rico curso, possam praticá-los de forma hábil, responsável e coerente,

podendo contribuir para melhoria da qualidade de vida dos idosos”.

“O curso deveria ser direcionado às pessoas da área da saúde, assim facilitando

sua inserção no mercado de trabalho, quando iniciamos o curso tínhamos a visão

de um curso promissor, porém, decepcionamos ao nos depararmos com um curso

não conhecido, tínhamos a esperança de sermos inseridos no centro de referência

do idoso no HU [Hospital Universitário] por sermos a 1ª turma, decepção apesar

da maior parte da turma ser técnico em enfermagem, o reitor fez discurso dizendo

que o curso era promissor, mas, estamos quase todos desempregados, infelizmente

ou felizmente nós mantemos o curso de técnico em enfermagem”.

“O curso deveria ser gratuito, o tempo de duração deveria ser maior, pois as

disciplinas eram muito interessantes e o tempo era curto para usufruir das

informações passadas, a universidade deveria ter dado espaço (abrir editais) a nós

cuidadores, para fazermos parte do centro de referência para pessoas idosas”.

Page 67: Rel Cuidador Idosos

67

“O curso nos proporcionou uma motivação muito grande, mas depois não superou

nossa expectativa”.

“O objetivo do curso cuidador de idosos realizado pela UNIMONTES foi ótimo,

porém o mercado de trabalho ainda deixa a desejar”

“O tempo curto, corrido, algumas coisas a desejar, o estágio foi ótimo, a demora

de contratação de professores, os professores bem capacitados e dedicados, alguns

alunos não querem nada com nada, só mesmo o diploma”.

“Poderia ter tido alguma disciplina sobre princípios de administração de casas

para acolhimento para idosos”.

“Por ser a primeira achei um descaso muito grande, no início, o local de trabalho

era no centro de referência do idoso, éramos a menina dos olhos, hoje os

cuidadores foram esquecidos, sem nenhuma expectativa de trabalho”.

“Primeiramente antes de abrir outra turma, deveriam primeiro inserir os

cuidadores no campo de trabalho, pois, o curso de cuidador de idosos é

maravilhoso, e muito sério, e tivemos profissionais competentes e maravilhosos,

mas que estavam ali para dar aulas e não emprego, mas que desde o início todos

sempre deixaram bem claro, para nós que nosso curso é muito promissor,

portanto, precisamos sim está no mercado de trabalho, para sermos reconhecidos

e valorizados. Para que através dos nossos caminhos virem outros cuidadores”.

E dos alunos do Curso de Qualificação:

“Deveria ter aulas intercaladas, pois às vezes se torna cansativo”.

“Alternar os horários para não coincidir dois ou mais horários do mesmo

professor, no mais foi ótimo o curso”.

“Aumentar a carga horária para 4 horários por dia, aumentar mais o tempo de

estágio no asilo...”

Page 68: Rel Cuidador Idosos

68

“Como temos um novo centro de idosos abrindo, nos dessem oportunidades para

quem realizou o curso e sim os que passaram no concurso terão que aperfeiçoar

em cuidador de idosos, porque não nós?”

“Consertar os vídeos e DVDs, pois, todos as vezes que os professores precisavam

estavam com algum defeito. Ser colocado tanto papel toalha como papel higiênico

nos banheiros, que sempre que precisávamos não tinha, não haver dois ou três

horários de um professor”.

“Deverá ser passado em maior espaço de tempo, pessoas mais capacitadas para

monitorar a televisão e o DVD”.

“Em primeiro lugar quero parabenizar os professores! Para quem trabalha e

sempre chegou atrasado, negociava o horário...”

“Eu acho que poderia melhorar o curso, deveria ser mais tempo para aprofundar

mais, foi muito bom para melhorar, lutar e nos comunicar para fazermos...”

“Gostei de fazer o curso, espero que o próximo seja mais duradouro!”

“Gostei muito do curso, mas gostaria que a carga horária com apenas um

professor, para ocupar 3 horários consecutivos é desgastante e cansativo!”

“Na minha opinião perguntar para as pessoas individualmente se ela aceita as

regras, se ela gosta de cuidar de idosos, se ela pretende seguir a profissão, eu falo

regras porque eu observei que muitos alunos não tem afinidade com o curso,

atrapalhando a aula, desinteressando outros alunos com conversa”.

“Não colocar dois horários seguidos do mesmo professor, a aula fica muito

cansativa!”

“O curso foi muito bom só deveria ter mais tempo!”

“O curso foi ótimo e um conhecimento para toda minha vida!”

“Os horários deveriam ser intercalados. Três horários com o mesmo professor é

muito cansativo. A sala de secretária onde fica a coordenação do curso, deixou

Page 69: Rel Cuidador Idosos

69

muito a desejar no final. Lá está afixado um horário de funcionamento: 18:30h às

22:30h. No final ninguém encontrava a coordenadora ou a secretária...”

“Os recursos audiovisuais devem ser melhorados e o horário para pessoas que

trabalham deviam ser flexíveis. Nada é tão bom que não possa ser melhorado!”

“Que os instrutores conheçam mais a realidade dos asilos, visite-os, antes de

administrar o curso!”

“Será melhor ministrado o curso em salas maiores, melhores cadeiras, melhores

banheiros e maior presença da secretaria!”

“Sugiro que nós passamos ter o técnico de cuidador de idosos”.

“Ter mais cursos de cuidador de idosos e aumentar as aulas”.

E daqueles que são cuidadores de idosos e fizeram o Curso de Qualificação:

“Fazer caravanas nas instituições com os alunos”.

“Gostaria de parabenizar a todos os envolvidos na realização deste curso. Muito

bom, proveitoso. Obrigado e parabéns!”

“Gostaria que a escola continuase [sic] com esses cursos e sempre fazendo

reciclagem com novidades em técnicas e maneira para que eu posso prestar

melhor trabalho com o idoso”.

“Gostaria que o curso cuidador de idoso fosse reconhecido pelo órgão, tipo

COREN”.

“Não estou trabalhando mas ajudo a cuidar de minha sogra, mãe e pai que são

idosos”.

“O curso deveria aprofundar mais podendo assim colocar os cuidadores de idosos

aptos p/ [sic] qualquer situação”.

Page 70: Rel Cuidador Idosos

70

“Para mim, que não sou auxiliar e nem cuidador, o curso foi de grande proveito.

Aprendi muito e pretendo colocar tudo em prática. No final curso não gostei, não

sei se porque conteúdo acabou, o nível das aulas caiu”.

“Quando colocar um idoso nestes lugares vai vizita-lo [sic] não deixe ele

abandonado”.

“Que os supervisores do curso, tenham mais contato com a realidade do idoso,

visite mais os asilos, porque falar do idoso é fácil, difícil é lidar com o idoso”.

“Sim falta um reconhecimento melhor sobre a remuneração salarial, porque temos

que fazer o melhor e receber o melhor, e precisa uma contratação maior nessa

área”.

6.3 Os processos de formação para cuidadores de idosos na perspectiva

dos docentes

Em relação à análise do processo de formação para cuidadores de idosos na

perspectiva dos docentes, os professores que se disponibilizaram a responder foram nove

(9) dos 15 abordados, totalizando um retorno de 60%.

Em se tratando do perfil de escolaridade deles, basicamente é formado por

profissionais com especialização lato sensu; apenas um professor possuía Mestrado em

Demografia e outro docente, com ensino médio (curso Técnico em contabilidade), sendo

que os dois últimos ministraram aulas no curso de capacitação. Dos docentes entrevistados,

77, 8% não possuem capacitação ligada à área de gerontologia ou geriatria. Apenas 11,1%

trabalham em instituição que possui no quadro de funcionários o cuidador de idoso. As

áreas de graduação que compõem o quadro de docentes dos cursos são: Enfermagem (03);

(01) Terapia Ocupacional; (01) Ciências Sociais; (01) Ciências Econômicas; (01) Serviço

Social, e um professor não informou qual a formação.

O perfil de escolaridade da equipe de docentes que integrou o processo de formação

do cuidador de pessoas idosas possuía uma diversidade necessária ao trabalho

Page 71: Rel Cuidador Idosos

71

interdisciplinar. Conforme afirmam Motta, Caldas e Assis (2008), a interdisciplinaridade é

estratégia principal para a construção e aplicação de conhecimentos da Gerontologia, pois

esta área envolve a integração de vários aspectos para a compreensão do envelhecimento.

A ligação com a busca pela integralidade também é outro fator que demonstra a relevância

da equipe interdisciplinar.

A formação de recursos humanos na área de saúde do idoso está vinculada a uma compreensão de processo de envelhecimento e suas repercussões biopsicossociais, em face da qual se impõe a necessidade do trabalho interdisciplinar à luz de novos paradigmas sobre saúde-doença, papel e objetivos do profissional de saúde. Estes pressupostos importam no controle e habilidades a serem desenvolvidos durante o treinamento (Motta, Caldas, Assis, 2008, p. 1145).

Sobre o aluno

De acordo com os professores, em relação aos alunos que participaram dos

processos de formação foi colocado que: 67% dos alunos possuíam algum conhecimento

prévio sobre “cuidar de idosos”; 78% participaram de algum curso relacionado à área da

saúde; sobre ter experiências anteriores como cuidador de idosos, os professores afirmaram

que 67% dos alunos possuíam.

Seguindo a percepção dos professores sobre os alunos, 78% julgam que ao final do

curso os alunos conseguiram assimilar os conhecimentos necessários ao exercício do

trabalho como cuidador de idoso. Nos depoimentos abaixo, percebe-se que um professor

chamou atenção para o fato de alguns alunos possuírem conhecimentos prévios sobre a

saúde/enfermagem.

“Com relação aos meus alunos, 80% deles já tinham experiência com cuidados

aos idosos, pois além do curso de formação de cuidadores, eram técnicos de

enfermagem”.

“Com o passar do curso foi percebido um crescimento muito grande dos alunos,

principalmente nas dúvidas esclarecidas e na possibilidade da conciliação teoria e

prática”.

Page 72: Rel Cuidador Idosos

72

“Os alunos que fizeram o curso com o objetivo de aprender e não apenas de

receber o certificado, conseguiram assimilar o conhecimento necessário, levando

em consideração o empenho dos professores em executar as disciplinas com

vídeos, trabalhos e palestras com profissionais da área”.

Quanto à percepção dos professores sobre os alunos como futuros profissionais

cuidadores de idosos, ponderando a análise com questões sobre o sistema de saúde, os

processos de formação/escolaridade, o mercado de trabalho em saúde e o contexto de

envelhecimento populacional, os docentes do curso destacam que a demanda por este

profissional é crescente devido ao envelhecimento populacional; às iniciativas do Estado,

como a criação do Estatuto do Idoso; e, por outro lado, um professor destaca que ainda há

necessidade de reconhecimento deste profissional, vindo principalmente do Estado.

“É um mercado promissor, tendo em vista o aumento da longevidade da

população brasileira e consequentemente o aumento de doenças crônicas,

principalmente as degenerativas”.

“Acredito que o campo para o profissional Cuidador de Idosos tende a expandir

de maneira surpreendente, levando em conta não somente os itens mencionados,

mas também diante da exigência do cumprimento do Estatuto do Idoso”.

“Avalio que a inserção do profissional cuidador de idosos no sistema público de

saúde demanda um processo de constituição de política pública, uma vez que

ainda que reconhecida a importância da atuação profissional, ainda faz-se

inexistente a regulamentação de procedimentos e a inclusão desta categoria em

Portarias Ministeriais, bem como incipiente respaldo em termos de Política

Nacional do Idoso. Localmente, vislumbro uma possibilidade interessante para a

inserção dos cuidadores formais, em função do pólo acadêmico e da saúde ser

abrangente, o que justifica ampla divulgação para fins de reconhecimento e

demanda para tais profissionais”.

“Em toda esta temática e sendo coordenadora de Enfermagem de uma instituição

asilar, tenho sido posta frente a frente a um problema: a família procura por um

cuidador que tenha conhecimentos exclusivos de enfermagem, dificultando assim o

Page 73: Rel Cuidador Idosos

73

ingresso do cuidador no mercado de trabalho, por isso acredito que uma maior

ampliação dos conteúdos trabalhados durante o curso, valorizariam mais este

profissional e o tornaria mais adequado ao mercado de trabalho”.

Sobre o curso

Buscou-se conhecer, por meio da atribuição de conceitos, a opinião dos docentes

sobre alguns quesitos/aspectos do processo de formação. Os resultados encontram-se no

quadro 3.

Os docentes avaliaram o conteúdo programático como ótimo; sobre a carga horária

78% dos docentes a consideraram como boa; para 67% dos professores abordados o

estágio pode ser avaliado como ótimo; e entre os itens avaliados como regular ou ruim,

percebe-se que 44% consideram o material didático como regular e 34% afirmam que a

biblioteca é regular.

QUADRO 3: Opinião dos docentes sobre os processos de formação para cuidadores de idosos, Montes Claros/MG, 2009

Item avaliado

Conceitos (em %)

Ótimo

Bom

Regular

Ruim Não

Respondeu Conteúdo programático 100 - - - - Carga horária 11 78 11 - - Estágio 67 11 - - 22 Outros ambientes de aprendizagem 11 45 22 - 22 Material didático 11 45 44 - - Audiovisuais 22 34 33 11 - Biblioteca 11 33 34 22 - Sala de aula 33 67 - - - Atendimento a sua expectativa 33 56 11 - - Alunos 22 45 33 - -

Fonte: Trabalho de campo, 2008/2009.

No que se refere à carga horária dos cursos, para 67% dos professores abordados é

considerada como suficiente para uma formação de qualidade. Não obstante, cabe aqui

colocar algumas observações que foram levantadas entre os docentes que consideram a

carga horária insuficiente:

Page 74: Rel Cuidador Idosos

74

“Os conteúdos trabalhados foram de acordo com as necessidades de

conhecimentos do cuidador de idosos no desenvolver de suas atividades e

despertam o interesse dos alunos, entretanto, ressalta-se que com maior tempo

disponível, os assuntos poderiam ser mais trabalhados e melhor assimilados”.

“A carga horária permitiu contemplar uma parcela do que é necessário; apesar de

ser um curso de capacitação [tratado neste documento como Curso de

Qualificação] deveria ter uma carga horária maior”.

A disciplina trabalhada foi considerada por 100% dos professores de acordo com a

demanda para a formação dos cuidadores de idosos; ao avaliarem sobre a coerência entre

os propósitos das ementas que constituíam as disciplinas trabalhadas, 78% dos professores

afirmaram que a relação com os objetivos do curso está ótima, enquanto 22% responderam

bom; as repostas demonstram que as disciplinas trabalhadas estão interligadas aos

objetivos do curso, já que não houve resposta para regular ou ruim.

Ao expressarem suas percepções sobre a relação do conteúdo estudado com a

prática profissional, ou seja, com as necessidades dos serviços, todos os professores

entrevistados afirmam que existe esta relação. Segundo 89% dos docentes o processo de

formação contemplava, além das disciplinas teóricas, atividades práticas relacionadas aos

objetivos da formação para cuidadores de idosos.

Os docentes foram unânimes ao responderem sobre as oportunidades estabelecidas

aos alunos durante o processo de formação, que permitiram a troca de experiência e

conhecimento, visando o enriquecimento do trabalho como cuidador. Ao serem

questionados sobre a presença de metodologias que objetivassem a integração

ensino/serviço ou teoria/prática, 100% dos professores responderam que é possível afirmar

que houve tal integração. Esse consenso demonstra que o trabalho desenvolvido durante o

processo de formação buscou não limitar aos conhecimentos dos professores, não estava

centrada na figura do professor ou apenas em teoria, mas buscou-se desenvolver uma

prática dialógica, indo além de questões instrumentais, comprometida com reflexão

contextualizada das experiências vivenciadas por cada aluno/profissional e a teoria

trabalhada.

De acordo com Candau (1994), o processo ensino-aprendizagem possui três

dimensões: a humana, a técnica e a política, que se complementam e não se contrapõem, e

no centro situa-se a temática trabalhada. A autora considera um desafio superar uma visão

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75

reducionista ou justaposta da relação entre as três dimensões e seguir em direção a uma

articulação entre elas, pois a mútua implicação não se efetiva automaticamente.

Sobre a dimensão político-social, cabe destacar:

Se todo o processo ensino-aprendizagem é “situado”, a dimensão político-social lhe é inerente. Ele acontece sempre numa cultura, específica, trata com pessoas concretas que têm uma posição de classe definida na organização social em que vivem. Os condicionamentos que advêm desse fato incidem sobre o processo ensino-aprendizagem. A dimensão político-social não é um aspecto do processo de ensino-aprendizagem. Ela impregna toda a prática pedagógica que, querendo ou não (não se trata de uma decisão voluntarista), possui em si uma dimensão político-social (Candau, 1994, p. 14).

Os professores foram questionados se durante o processo de formação de

cuidadores de idosos foram contemplados no currículo, nas atividades didáticas, na

avaliação, conhecimentos importantes para o cotidiano de trabalho dos profissionais/alunos

quando se retirassem da sala de aula e fossem para a prática do cuidar. Para essa questão, a

totalidade dos sujeitos entrevistados considera que sim, o que é confirmado em

justificativas como:

“Contemplou todos os aspectos sociais, biopsicossociais e culturais que envolvem

a vida de um idoso. Portanto, através desse conhecimento, o cuidador adquire

habilidades e atitudes necessárias para resolver ações relacionadas ao idoso”.

“Os conteúdos teóricos foram trabalhados à luz da experiência prática com casos

clínicos trazidos à aprendizagem; as disciplinas contemplaram a formação

interdisciplinar demandada pela área de Gerontologia e Geriatria”.

“Os alunos se dedicaram e estão aptos a desenvolver suas atividades, os

conhecimentos que foram repassados foram suficientes para o desenvolver [sic] de

suas atividades, a melhora virá através da prática, tempo e na busca do

conhecimento e aperfeiçoamento que deve ser constante”.

Tratando-se de uma avaliação geral dos cursos, os professores que classificaram os

cursos como “ótimo” foram 56% e, na alternativa “bom”, 44% dos respondentes. Entre as

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sugestões para a melhoria dos processos de formação para cuidadores de idosos estão:

aumento de carga horária; realização de capacitação pedagógica para os professores, uma

vez que os profissionais não possuem formação específica para o exercício da docência;

aumento do acervo da bibliografia direcionado às áreas temáticas de cada disciplina.

Nesse sentido, é importante trazer para o debate o papel das políticas públicas para

a formação e educação permanente; conforme afirma Germano et al. (2007), é fundamental

pensar em investimentos em educação que busque a interdisciplinaridade, a articulação

entre educação/saúde/trabalho, a superação de práticas flexinerianas e o incentivo à

inclusão de dimensões éticas e humanas.

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77

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade desenvolvida teve como principal objetivo diagnosticar os processos de

formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG, especificamente

aqueles oferecidos pela UNIMONTES. Procurou-se construir um diagnóstico com base em

informações coletadas por meio de entrevistas e aplicação de questionários junto aos

docentes e alunos que participaram dos Cursos de Qualificação e Sequencial.

A reconfiguração do perfil demográfico da população mundial no que diz respeito

ao aumento da expectativa de vida, diminuição da mortalidade, queda da fecundidade e

consequente envelhecimento populacional demanda das famílias maior atenção/cuidado

para com seus idosos e do Estado políticas públicas que atendam às necessidades de saúde

desse grupo, pois é um fato que envolve questões que transcendem o ambiente familiar.

Os anos passam e a fragilidade chega às vidas dos idosos, sensibilidades que

alteram o estilo de vida; o processo de envelhecimento acarreta problemas de saúde,

compromete funções; todo esse processo, muitas vezes, leva os idosos, ou as famílias dos

idosos a buscarem alguém para auxiliar na execução de ações cotidianas, que em outras

fases da vida não precisariam. Nesse momento, surge a necessidade do cuidador de idosos,

podendo ser formal (contratado) ou informal (um familiar).

O trabalho desenvolvido pelo cuidador possue dimensões complexas, que pode

gerar angústia, insegurança; envolvem questões éticas, respeito, zelo; outra característica

importante é de ser um profissional que lida com a saúde do idoso. A atenção à saúde do

idoso cresce a cada dia em todo o mundo e o atendimento especializado nos serviços de

saúde tem o propósito de prevenir doenças, tratar, reabilitar e ainda oferecer novos serviços

assistenciais, de modo a garantir-lhes a independência no meio em que vivem.

Nesse sentido, chama-se a atenção para a necessidade de formação/capacitação dos

trabalhadores que irão atender ao idoso, sendo uma das diretrizes reconhecidas na Política

Nacional de Saúde do Idoso – PNSI.

Os cuidadores estão entre os profissionais a serem capacitados e têm um importante papel em auxiliar os idosos nas adaptações físicas e emocionais necessárias para o autocuidado. O artigo 3º da portaria interministerial 5.153 determinou a elaboração de protocolos para capacitação de diferentes modalidades de cuidadores: familiar (formal e informal) e institucional. Um ambiente (recursos físicos e pessoais) responsivo e adequado ao desempenho funcional e competência comportamental dos idosos os tornam adaptados, contribuindo assim para seu bem-estar (Ribeiro et al., 2006, p. 1.286).

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Preocupados com essa nova realidade, a UNIMONTES, em parceria com a

FADENOR, ofereceu o Curso Superior de Formação Específica – Sequencial Cuidador de

Idoso, em 2006 e 2007, auto-financiado.

A Escola Técnica de Saúde da UNIMONTES, em 2008, também por meio de

parceria com o Ministério da Saúde, foi uma das seis ETSUS que ministrou o Curso de

Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência, ratificando o

reconhecimento da importância da qualificação desses profissionais.

Conforme Brasil (2007), fica definido como resultado esperado validar o perfil

profissional do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência, apoiar em todas as ETSUS

outras iniciativas para esta qualificação, aumentando o número de pessoas qualificadas

para desenvolver o trabalho do cuidar de pessoas idosas, e assim consequentemente

contribuir com a melhoria da qualidade de vida destas pessoas, estabelecendo de fato uma

ação de promoção da saúde. Ainda, elaborar estratégias pedagógicas e gerenciais para

novas políticas para o atendimento desta necessidade.

[...] recomendado uso de metodologias mais ativas, participativas e críticas, como é o caso da Metodologia da Problematização, que tem como pressuposto que uma pessoa só conhece bem algo quando o transforma, transformando-se ela também no processo, Bordenave & Pereira (1982, p.10) apresenta a solução de problemas como uma forma de participação ativa e de diálogo constante entre alunos e professores para se atingir o conhecimento. Não um problema qualquer, ou imaginado pelo professor para estimular o potencial intelectual do aluno, mas problemas reais, percebidos pela observação direta da realidade em foco (Brasil, 2007, p. 8).

O debate aqui apresentado possui ainda uma dimensão reflexiva no intuito de

contribuir no entendimento de questões relacionadas a esse novo profissional que será cada

vez mais demandado pelos serviços públicos e pelas famílias; sobre a necessidade de

oportunidades para formação, o que contribuirá na construção do SUS, atendendo

demandas de um grupo populacional que cresce consideravelmente.

A análise dos documentos dos cursos – projetos e relatórios –, indicam semelhanças

entre os dois cursos, como a busca pela capacitação do aluno para o trabalho em equipe

multiprofissional e uma formação pautada por uma nova mentalidade que considere, para

além das patologias inerentes a esta fase da vida, as questões sociais que determinam

atitudes de rejeição ou acolhimento, e que percebe a velhice, a doença, a dependência e a

morte como parte da vida.

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79

Em se tratando do perfil de morbi-mortalidade dos idosos residentes no município

de Montes Claros/MG, registra-se um padrão conformado por doenças crônico-

degenerativas, em ordem, as doenças do aparelho circulatório, neoplasias, doenças do

aparelho respiratório e do aparelho digestivo. Faz-se indispensável citar a premente

necessidade de melhoria dos dados de mortalidade, haja vista os percentuais de óbitos

classificados no grande grupo de “causas mal definidas”.

Sobre os alunos dos cursos analisados, as informações ressaltam a importância das

mulheres nas atividades do cuidado e denotam o interesse de jovens para este novo

trabalho (novo no sentido de maior procura em decorrência do envelhecimento

populacional em curso e do advento dos processos de formação). A raça/cor predominante

é a parda, em consonância com outros resultados referentes a essa variável.

Do total dos alunos abordados, 15,4% e 34,4% dos Cursos Sequencial e de

Qualificação, respectivamente, trabalham como cuidadores de idosos; (a maioria) cuida de

idosos dependentes; são contratados pela CLT e estão em exercício nos asilos; e os salários

predominantes são de 1 a 2 salários mínimos. A escolha da profissão fundamenta-se na

vocação e no mercado crescente. No que diz respeito às atividades desenvolvidas como

cuidadores de idosos, observa-se uma gama enorme de tarefas, para além das integrantes

das atividades da vida diária – AVD e das atividades instrumentais da vida diária – AIVD.

Em decorrência, as dificuldades mesclam desde a dificuldade de lidar com perdas e morte

e falta de apoio da família, até ações que exigem maior qualificação, como administração

de medicamentos.

Essas informações, somadas à baixa inserção dos alunos egressos desses cursos,

como também aos salários percebidos, à discussão sobre o limite de ação dos cuidadores

de idosos, à falta de reconhecimento da profissão e às exigências da profissão, ressaltam a

necessidade de se colocar na pauta dos debates o tema, instigando a elaboração de políticas

públicas que busquem contemplar as diversas dimensões anunciadas.

Na perspectiva dos docentes, nos processos de formação para cuidadores de idosos

destaca-se que a prática pedagógica buscou ir além dos conhecimentos técnico/teóricos;

pois ao serem questionados sobre a presença de metodologias que objetivassem a

integração ensino/serviço ou teoria/prática, 100% dos professores responderam que é

possível afirmar que houve tal integração. Esse dado é um indicador que o trabalho

desenvolvido durante o processo de formação buscou não limitar aos conhecimentos dos

professores, apenas em teoria, mas buscou-se desenvolver uma prática dialógica, indo além

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de questões instrumentais, comprometida com reflexão contextualizada das experiências

vivenciadas por cada aluno/profissional e a teoria trabalhada.

O perfil de escolaridade da equipe de docentes que integrou o processo de formação

do cuidador de pessoas idosas demonstra a busca por um trabalho interdisciplinar.

Conforme afirmam Motta, Caldas e Assis (2008), a interdisciplinaridade é estratégia

principal para a construção e aplicação de conhecimentos da Gerontologia, pois esta área

envolve a integração de vários aspectos para a compreensão do envelhecimento. A ligação

com a busca pela integralidade também é outro fator que denota a relevância da equipe ser

interdisciplinar.

Na visão dos discentes, o curso proporcionou novos conhecimentos e motivou a

reflexão e mudanças de alguns conceitos e pontos de vista, para aproximadamente a

totalidade dos alunos de ambos os cursos. O curso permitiu a troca de experiências, e as

disciplinas foram coerentes com os objetivos da formação. A avaliação dos professores, na

perspectiva dos alunos, foi positiva, oscilando entre as categorias “ótimo” e “bom”.

Ressalta-se que, em alguns quesitos, a avaliação dos alunos do Curso Sequencial foi mais

crítica, no sentido de apresentar maior variabilidade de respostas.

A despeito da avaliação positiva dos dois cursos e nas percepções dos alunos e

professores, há que se investir na revisão das respectivas propostas de formação à luz das

sugestões/críticas coletadas neste diagnóstico, no sentido da fala de um aluno do Curso de

Qualificação:

“Nada é tão bom que não possa ser melhorado!”

Por fim, ressalta-se o valor deste diagnóstico, considerando-se que os resultados

apresentados aqui possam ser subsídios para ações e formulação de políticas públicas, ora

de formação de cuidadores de idosos, ora de apoio a estes profissionais, tendo em vista a

importância crescente de seus trabalhos no panorama de envelhecimento demográfico.

Page 81: Rel Cuidador Idosos

81

8. REFERÊNCIAS

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