Reinaldo Pimenta - A Casa da Mãe Joana

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A casa da me Joana 2 Mais curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas Reinaldo Pimenta Elsevier, 2004. 2004, Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. Nenhuma parte deste livro, sem autorizao prvia por escrito da editora, poder ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrnicos, mecnicos, fotogrficos, gravao ou quaisquer outros. Projeto Grfico Studio Creamcrackres Editorao Eletrnica DTPhoenix Editorial Reviso Grfica Edna Cavalcanti Elsevier Editora Ltda. A Qualidade da Informao Rua Sete de Setembro, 111 - 16a andar 20050-006 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Telefone: (21) 3970-9300 Fax (21) 2507-1991 E-mail: [email protected] Escritrio So Paulo Rua Elvira Ferraz, 198 04552-040 - Vila Olmpia - So Paulo - SP Telefone: (11) 3841-8555 ISBN 85-352-1169-1 CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ P697c Pimenta, Reinaldo v. 2 A casa da me Joana 2: mais curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas / Reinaldo Pimenta. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ISBN: 85-352-1169-1 1. Lngua portuguesa - Etimologia. I. Ttulo. 03-2185 CDD -469.2 CDU - 811.134.3'373.6 AGRADECIMENTOS Um homem de sorte tem bons amigos. Os meus so os melhores. Eles compartilharam comigo a felicidade pelo sucesso da primeira Casa e me brindaram com novas idias e novas palavras, especialmente meus

queridos amigos Andrei Winograd e Cludio Cezar Henriques, com suas empolgantes crticas e sugestes. Um escritor de sorte tem uma boa editora. O pessoal da Campus sempre me tem incentivado e apoiado num relacionamento afetuoso que excede uma mera ligao profissional. Na verdade, o lugar deles no pargrafo de cima.

"NADA TEMOS A TEMER, EXCETO AS PALAVRAS." RUBEM FONSECA APRESENTAO ALGUNS DIAS DEPOIS DO LANAMENTO DEA Casa da Me Joana, meu editor me chamou (ele sorria, lembro-me bem) para dizer que tinha duas notcias: uma boa e outra ruim. A notcia boa era que a editora tinha definido um novo projeto:A Casa da Me Joana 2. A notcia ruim era que o autor seria eu. At hoje no estou seguro quanto inteno da segunda frase, mas, por via das dvidas, resolvi ensinarlhe uma lio e energicamente me empenhar para que a segunda casa sasse melhor que a primeira. Continuaes em geral no do certo, especialmente no cinema. A empreitada desanda porque contraria a matemtica, a cronologia e a lgica: o original s vira 1 por causa do 2 e depois dele. Ento, desde j, aqui vai uma advertncia: este livro no um risoto de palavras feito com as sobras do primeiro. um prato servido quente, com ingredientes frescos e prazerosos. So novas histrias curiosas, surpreendentes e divertidas - sobre o nascimento de palavras, frases e marcas. O que aqui se repete, sem mofo, o estilo da apresentao, com humor (divertir informando) e seriedade (sem exceo, todas as etimoogias resultaram de pesquisas em obras de especialistas, relacionadas a bibliografia). Outra novidade ficou para o fim do livro: um ndice analtico que abrane as duas obras. Nele, a palavra procurada remete para seu respectivo verbete ou para outro verbete em cujo interior se explica a origem da palavra procurada. Dessa forma, uma descomprometida leitura do ndice poder at surpreender o leitor com uma relao inesperada entre palavras - por exemplo, que diabo tm em comum "imbecil", "bacilo" e "baguete" - ou com um instigante vocbulo como "taparrabo". Tal como na obra anterior, A Casa da Me Joana 2 pretende ser um livro srio e divertido. Mais uma vez, espero que se divirtam seriamente. O AUTOR BEA GUMERCINDO BESSA (1889-1913), jornalista e jurista alagoano, foi adversrio de Rui Barbosa

na Questo Acreana, em que o Estado do Amazonas pretendia incorporar o Territrio do Acre. Bessa venceu a questo em favor do Acre, apresentando argumentos irrefutveis e numa quantidade impressionante. Posteriormente, mas no muito, Rodrigues Alves (Presidente do Brasil de 1902 a 1906) diria a um cidado que lhe apresentava um pedido com justificativas infindveis: "O senhor tem argumentos Bessa". A partir da, popularizou-se a expresso bea com o sentido de em grande quantidade ou intensidade. Por que os dois esses viraram c-cedilha? Ningum sabe. ABLUO Do LATIM ABLUTIONE, LAVAGEM, LIMPEZA, PURIFICAO, derivado do verboabluere (da o portugus abluir), formado deab(prefixo significando afastamento) + lavare (lavar), j que a ablutione afastava a sujeira, no sentido fsico e moral. Em portugus, abluo tem os sentidos de lavagem do corpo (rico no toma banho; faz abluo) e de lavagem (purificao) das mos pelo sacerdote na missa. E, se voc conhece algum cheirosinho, que tem a estranha compulso de repetidamente lavar as mos ou banhar-se, trata-se de um legtimo abluciomanaco. So pessoas facilmente identificveis: andam sempre com um sabonete no bolso, fazem campanhas contra o uso do guarda-chuva, afirmam que chafariz aumentativo de bid e chamam carro de bombeiro de Jacuzzi ambulante. ABREUGRAFIA MTODO DE DIAGNSTICO DE DOENAS PULMONARES pelo registro fotogrfico da imagem obtida por radioscopia. Foi inventado pelo mdico paulista Manuel de Abreu (1864-1962) e, por isso, ganhou o nome deabreugrafia (melhor que "manuelgrafia"). J os raios X - tambm conhecidos cientificamente como raios Roentgen foram descobertos pelo fsico alemo Wilhelm Konrad Rntgen (1845-1922), ganhador do prmio Nobel em 1901. Rntgen doou todo o dinheiro do prmio sua universidade, recusou-se a batizar os raios com o seu nome (chamou-os de "X", com o sentido mesmo de origem desconhecida) e no quis explor-los comercialmente. Morreu pobre e numa felicidade que um capitalista jamais vai entender. Os mdicos garantem que s vezes ouvem os pacientes dizerem "raul X". ACENTOS FOI ARISTFANES DE BIZNCIO (257-180 A.C.), o primeiro bibliotecrio da biblioteca de

Alexandria, que introduziu os sinais de acentuao e de pontuao no grego, com a inteno de evitar confuso na leitura das palavras e dos textos. Os acentos eram trs e foram adotados na lngua portuguesa com nomes provenientes do latim. * * O agudo (do latim acutu, agudo, penetrante) os gregos chamavam deokstono (estridente; da oxtono); indicava uma elevao da voz. O grave (do latim grave, pesado, grave) era conhecido pelos gregos como bartono (de voz grave; da bartono); indicava uma elevao da voz menor que a do acento agudo. O circunflexo (do latimcircunflexu, descrito ao redor) era uma palavra linda em grego (e aqui vai uma boa idia para o nome do seu prximo filho): perispmeno; indicava que a voz se elevava e se abaixava na mesma slaba, e seu desenho era o resultado da unio, na extremidade superior, do acento agudo com o acento grave, pode olhar. Quanto a outros sinais, o til (do espanhol tilde, til) um enezinho posto acima do "a" ou do "o" para indicar sua nasalizao; o trema vem do grego trma, furo, cada um dos pontos do dado (trema sinnimo de direse ou pices e j foi chamado de cimalhas). Provavelmente algum filho perdido do lder negro Malcolm do mesmo sobrenome. O latim no usava os acentos gregos. Tinha dois sinais grficos que indicavam a quantidade de uma vogal (tofla ou tnica): a braquia para as vogais breves () e o macro para as longas (). ACHADOS E PERDIDOS NO, NO H NENHUM MISTRIO NA ORIGEM DA EXPRESSO. Achados e perdidos uma seo num aeroporto, num prdio qual voc deve dirigir-se para recuperar algo que perdeu naquelas dependncias. Inexplicvel a ordem das palavras. Primeiro se acha e depois se perde?! Enquanto no ingls a seqncia lgica - lost and found -, no portugus a expresso acabou na contramo. Aqui, algum leitor pode empinar o nariz (todos os leitores tm sempre o direito, logicamente inalienvel, de empinar o prprio nariz) e argumentar: pobre autor, no h uma ordem cronolgica nas palavras; ali simplesmente esto coisas que foram achadas e coisas que foram perdidas. Ah, ? Ento como que uma coisa perdida foi parar na seo de achados e perdidos se ningum achou? A nica hiptese algum ter perdido algo na prpria seo de achados e perdidos. E agora me diga: algum perde alguma coisa na seo de achados e perdidos? S se a pessoa foi l recuperar algo perdido e l mesmo perdeu uma segunda coisa. A propsito de perdas, um dos fenmenos mais intrigantes da humanidade so os misteriosos desaparecimentos dos guarda-chuvas perdidos. Certamente o prezado

leitor j perdeu um guarda- chuva e muito provavelmente nunca achou um guarda-chuva perdido. Eu mesmo j perdi vrios guarda-chuvas e jamais achei algum. Pois esta a questo que intriga a humanidade: para onde vo os guarda-chuvas perdidos no nosso planeta? A DAR COM UM PAU AVOANTES SO AVES QUE VM, EM GRANDES BANDOS, da frica para o Brasil e pousam em algumas regies do Nordeste para desova. Exaustas e famintas, so mortas, aos milhares, pelos sertanejos, a pauladas. Da veio a expresso a dar com um pau com o sentido de em grande quantidade. ADEUS ADEUS EM PORTUGUS, ADJS EM ESPANHOL, adieu em francs,addio em italiano, todas essas palavras tm a mesma origem: o que restou de uma frase como entrego-te a Deus, recomendo- te a Deus ou algo parecido. Em ingls, goodbye a forma reduzida de God be with ye (Deus esteja contigo). God virou good por analogia com as expresses good day e good night. ADVOGADO DO DIABO O ENCARREGADO DE APRESENTAR OBJEES e dificuldades a uma tese. A expresso veio do direito eclesistico: nos processos de canonizao, ele o Promotor da F, incumbido de apontar os defeitos e as fraquezas de quem se pretende santificar. Em latim, havia as figuras doadvocatus diaboli e do seu oponente, oadvocatus dei (advogado de Deus). Maledicentes afirmam que a expresso est caindo em desuso porque o profissional e o cliente se confundem cada vez mais. AGFA A AGFA FABRICAVA CORANTES quando foi fundada em 1867, numa cidade alem perto de Berlim. Agfa um acrnimo do nome da empresa: ktiengesellschaft (Aktien, aes + Gesellschaft, sociedade) frnilinfabrikation - sociedade annima para a fabricao de corantes. AGORA INS MORTA PORTUGAL, 1340. D. PEDRO, o filho do rei Afonso IV, se casa, por arranjo poltico, com D. Constana, uma nobre senhora de Castela. Ao se mudar para a corte portuguesa, a feinha e ingnua D. Constana, coitada, leva consigo uma dama lindssima, filha de um fidalgo galego, chamada Ins de Castro, por quem, claro, o infante D. Pedro vai se apaixonar perdidamente.

Com a morte prematura de D. Constana, a tolinha, D. Pedro se casa clandestinamente com Ins. O casal tem trs filhos. Influenciado por seus conselheiros, o rei D. Afonso IV decide mandar executar Ins de Castro, temeroso de que, uma vez morto, Ins se torne rainha de Portugal e, assim, passe a favorecer seus familiares da fidalguia galega em prejuzo da nobreza lusitana. No dia 7 de janeiro de 1355, no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, num local hoje conhecido como "Quinta das Lgrimas", Ins degolada. Quando D. Pedro sobe ao trono portugus em 1357 como D. Pedro 1, manda executar os assassinos de Ins de Castro. Em 1361, o serem trasladados, de Coimbra para o Mosteiro de Alcobaa, s restos mortais de Ins, D. Pedro 1 coroa o cadver de Ins como rainha. Hoje, no transepto desse mosteiro, esto os tmulos dos dois amantes. Na tampa do sepulcro de Ins, v-se esculpida sua figura angelical, com a coroa de rainha. Muito mais que um fato poltico, o episdio se celebrizou como uma trgica histria de amor, genialmente narrada por Cames em "Os lusadas". E a expresso agora Ins morta ficou consagrada para exprimir qualquer ao tardia e de resultado intil. AGULHA Do LATIM ACUCULA, AGULHINHA, diminutivo de acu, agulha. ALAMEDA ATUALMENTE ALAMEDA QUALQUER CAMINHO ladeado de rvores. Mas, na sua origem, tinha o sentido restrito de via margeada de lamos (um tipo de rvore). Alameda veio de lamo mais a terminao -eda, variao de -edo (significando coletivo), que tambm aparece em arvoredo. ALARDE EM PORTUGUS, EXISTE A PALAVRA alardo, que significa revista anual de tropas e veio do rabe al-"ard (revista, resenha).Alarde uma variante de alardo e, por extenso, ganhou o sentido de ostentao, aparato. ALARME Do ITALIANO ALL "ARME (s ARMAS), que era o grito da sentinela prevenindo a aproximao do inimigo. Hoje o grito matutino do relgio prevenindo a aproximao do patro. De alarme formaram-se alarmismo e alarmista. ALCORO O LIVRO SAGRADO DO ISLAMISMO. Do rabe al-kuran, que significa "a leitura por

excelncia". Diz-seAlcor do ou Coro. Os que preferem a forma Coro sustentam que, como Alcoro j contm al-, que o artigo "o" em rabe, dizer "o Alcoro" seria uma redundncia, por duplicidade de artigos. LGEBRA Os RABES E OS HINDUS J POSSUAM uma noo rudimentar da lgebra, mas foram os rabes que levaram esse conhecimento ao Ocidente. Moamede Ben Mua, por volta de 820, escreveu uma obra intitulada "Ai jabra w"al muqbala" (a restaurao e a comparao), com uma introduo metdica lgebra. O ttulo foi abreviado e originou a palavra aljabra, que deu no latim medieval algebra (j proparoxtona). Da se espalhou para outras lnguas: lgebra em portugus e em espanhol; algebra em italiano e em ingls; algbre em francs; algebra em alemo. Diretamente do rabeal jabra, com seu significado de restaurao, reparao, surgiram no portugus arcaico (e por l ficaram), lgebra, com o sentido de ortopedia, a arte de restaurar membros fraturados ou deslocados, e algebrista, ortopedista. ALGEMA Do ARABE AL-JAMA A, PULSEIRA. Adereo para criminosos, a algema passou a integrar o aparato sexual sadomasoquista, em que dor e prazer se misturam. Como no dilogo entre a masoquista e o sdico num motel: Ela: "Me bate!" Ele: "No." Munio para os celibatrios convictos: em espanhol, esposa mulher casada; jesposas (no plural) eesposar significam respectivamente algemas e algemar. ALGODO - CoTo - COTONETE ALGODO VEIO DO RABE AL-QUTUN, que tambm originou algodn, em espanhol. A palavra rabe se desprendeu do artigo al, e qutun originou o italiano cotone, que foi dar no francs coton, no ingls cotton e no portugus coto, aquele amontoado de poeira que parece um algodozinho nojento. Em portugus, h palavras, referentes ao algodo, formadas ora com aigo(d), ora com coton(i). Por exemplo: uma fbrica de tecidos de algodo pode ser chamada de algodoaria ou cotonificio. Tal como aconteceu com a palavra gilete (de King Camp Gillette, ;eu inventor), cotonete originalmente marca registrada, mas virou substantivo comum para designar uma haste com algodo nas extremidades. Foi formado do ingls cotton + -ete, sufixo

diminutivo. O objeto foi inventado, na dcada de 1920, pelo polons Leo Gerternzang, que teve a brilhante idia de comercializar o produto ao ver sua esposa limpar o ouvido da filha com um algodo preso extremidade de um palito de dente. Quer dizer, a inveno, na verdade, foi da Madame Gerternzang; ao marido coube globalizar o palito algodoado. ALKA- SELTZER O NOME DO REMDIO DA BAYER veio de aikal, reduo de alkaline, alcalino, anticido + seltzer, gua mineral gasosa, do ale n Selterser (wasser), (gua) de Selters, reduo de Niederselters, cidade alem de cujas fontes era obtida a gua de Seltzer, famosssima no sculo XIX. AL O TELEFONE FOI INVENTADO EM 1876 por Alexander Graham Bell, escocs naturalizado norte-americano. Naquele mesmo ano, o norte-americano Thomas Edison inventor do telgrafo, do fongrafo e da lmpada eltrica incandescente aperfeioou o invento de modo que se pudesse falar e ouvir pelo mesmo aparelho. Edison foi o primeiro a usar no telefone a interjeio hallo - a palavra inglesa veio de uma variao da expresso holla, do francs medieval hola, formado da interjeio de chamamento ho + la (l). Do ingls hallo vieram o portugus al e o francs all. Para a origem do francs all, h uma outra verso que alguns etimlogos aceitam, outros consideram fantasiosa. Em 1880, foi instalado em Paris um posto com um telefone Bell. No incio, as pessoas, para apressar o interlocutor, usavam a palavra allons (algo como "Vamos!"). Depois, a palavra teria se reduzido para all. ALPINISTA DE ALPINO + ISTA. Alpino relativo aos Alpes, a cadeia de montanhas entre a Frana e a Itlia. Foi com as escaladas nos Alpes que o alpinismo ganhou popularidade, e o nome se generalizou. Quem escala o verest continua sendo alpinista; no pode ser chamado de everestista. Quem escala o Po de Acar, no Rio de Janeiro, tambm alpinista, mas, nesse caso, a atividade no recomendvel a diabticos. Hora do recreio. Responda rpido, ou voc sabe ou no sabe: antes de o Everest ser descoberto, qual era o monte mais alto do mundo? Resposta no rodap da prxima pgina, no vale colar. AMBULNCIA Do FRANCS AMBULNCE, que veio de hpital ambulant. O veculo foi criado, no final do

sculo XVIII, pelo baro Dominique Larrey, um cirurgio militar, protegido de Napoleo. Inicialmente, era o hospital ambulante que seguia as tropas. AMETISTA Do LATIM AMETHYSTU, AMETISTA, que veio do grego amthystos, ametista. No grego, amthystos se originou de amthustos (que evita a embriaguez), formado de a(sem) + metustes, bbado, que veio de mthu, bebida fermentada. Os gregos associaram a ametista a Baco, deus do vinho, e achavam que ela evitava a embriaguez. Virou smbolo da sobriedade, talvez porque a gua parecia vinho e no embriagava quando posta num jarro de ametista, que roxa. D para imaginar que era o maior conto-do-vigrio de camel grego, alardeando com um jarro de ametista cheio de gua na mo: - Olha o legtimo jarrinho de ametista! o jarrinho da felicidade. O fregus bebe vontade e no sente nada. Nem o gosto do vinho. T com Baco, t com deus. Pode experimentar vontade. Olha o jarrinho da felicidade! Vai um golinho a, meu senador? AMIANTO PRIMEIRO, A NOTCIA: SEGUNDO A IMPRENSA, o amianto um mineral cancergeno, provoca vrias doenas respiratrias graves nos trabalhadores que o inalam e est proibido em mais de 30 pases. Agora, a ironia: a palavra amianto veio do latim amiantu, do grego amantos, que significava imaculado, puro. Por qu? H sculos a humanidade se vale do fogo como lemento de purificao, como no caso de objetos contaminados - seja para limp-los, seja para destru-los eliminando a expanso de sua contaminao. Ora, os gregos, com uma lgica silogstica aristotlica, Monte Everest. raciocinavam assim: tudo aquilo que o fogo no consegue destruir puro por natureza; o amianto no pode ser destrudo pelo fogo; logo, o amianto puro. Amantos foi formado dea- (sem) + miano (manchar, sujar). AMIGo DA ONA AMIGO DA ONA O AMIGO HIPCRITA, FALSO. A expresso surgiu quando um caador mentiroso contava mais uma de suas histrias: acuado por uma ona, sem nenhuma arma ou objeto para se defender e sem caminho para escapar, ele deu um berro to forte, que a ona fugiu apavorada. Um ouvinte deu um risinho de mofa e comentou que isso era impossvel. O caador, indignado, retrucou: "Afinal de contas, voc meu amigo ou amigo da ona?". AMIGO URSO OUTRO AMIGO FALSO. A expresso veio da fbula de La Fontaine em que um

homem e um urso ficam amigos. Um dia o urso v o homem dormindo com uma mosca pousada no nariz. Para espant-la, o urso atira vigorosamente uma pedra que bate no meio da testa do homem e o mata. Moral da fbula: um inimigo inteligente menos perigoso que um amigo ignorante. AMORTIZAR AMORTIzZAR POPULARMENTE USADO apenas no mundo das finanas e dos negcios. Por exemplo, quando voc amortiza (paga) uma dvida. E nesse caso voc est literalmente matando a pobre coitada. Amortizar veio de a- + morte + -izar. AMPUTAR Em latim, putu, como substantivo, era rapazinho (origem de puto, usado em Portugal com o mesmo sentido)*; como adjetivo, * Puto, como palavro, masculino de puta, que teria vindo ou do latim vulgar putta, menina, ou do francs pute, este derivado do latim putidu, ftido, estragado. putu significava puro e deu origem ao verbo putare, purificar. Depois o verbo teve seu sentido ampliado para podar (que veio de putare), calcular, avaliar, considerar e deu origem a outros verbos e palavras que vieram parar no portugus: - amputare (cortar em toda a volta; mutilar; de am(bi)-, em torno + putare, podar) amputar; - putativu (imaginrio) putativo; - com putare (calcular, levar em conta) computar e contar; - com putu (clculo) cmputo; - disputare (raciocinar em sentidos opostos, discutir; de dis-, separao, + putare, raciocinar) disputar; - imputare (inserir na conta, levar em conta; de in-, dentro + putare, contar) imputar; - reputare (recontar, reexaminar; de re-, repetio + putare, contar) reputar. No latim,putare tambm originou deputare (atribuir), que deu, em portugus, deputar (enviar algum em misso; investir poderes em algum). O particpio de deputare, deputatu, ganhou depois o sentido de "considerado como vindo do alto" (de-, de cima para baixo + putatu, considerado), enviado por uma autoridade; da o portugus deputado, que significa no s, mais especifica- mente, o membro de uma cmara legislativa, como tambm, mais genericamente, quem age com delegao de poderes para tratar de negcios de algum, um enviado.* ANESTESIA No GREGO, AISTHSIS SIGNIFICA SENSAO, sensibilidade, percepo; seu derivado (com o prefixoan-, sem) anaisthsis a falta de sensibilidade. Da o

portugus anestesia. O grego aisthtiks, relativo percepo, deu em portugus esttico, da esttica, com o sentido estendido para beleza, harmonia. * Ao leitor grosseiro roga-se evitar uma associao obscena entre as palavras deputado e enviado. ANTRTICA O INDO-EUROPEU RKSOS, URSO, originou rktosem grego eursusem latim (daurso). Em grego, rktos gerou arktiks, relativo ao urso. Foram os gregos que batizaram derktos as constelaes de Ursa Maior e de Ursa Menor, ambas prximas ao plo norte. Assim, o plo norte o plo rtico (do latim arcticu), e o plo sul, o oposto, o plo antrtico (do latim antarcticu, que veio do gregoantarktiks, formado de anti, oposto + arktiks, rtico). Por isso, o nome correto do continente que fica no plo oposto Antrtica (e no "Antrtida", j que no existe, opostamente, uma regio "rtida"). Por lembrar grosseiramente a forma de uma carroa puxada por bois, a constelao de Ursa Maior, que tem sete estrelas, era chamada pelos romanos de septem triones (sete bois). Das palavras latinas da derivadas septentrione e septentrionale vieram setentrio (o plo norte) e setentrional (situado no Norte). ANTEPASTO EM PORTUGUS, A PALAVRA PASTO (do latim pastu, pasto, sustento, alimento) pode significar (a) terreno onde o gado se alimenta, (b) alimento, comida. Da, antepasto o que se serve nas refeies antes do primeiro prato, antes do pasto, sem necessidade de mugir. ANTDOTO Do LATIM ANTIDOTU, CONTRAVENENO, que veio do grego antdoton, forma reduzida dephrmakon (remdio) antdoton (de anti-, contra + doton, dado). APANHEI-TE, CAVAQUINHO! EXPRESSO USADA QUANDO SE SURPREENDE algum num fiagrante. Ficou popularizada graas a uma polca, com esse ttulo, do grande compositor Ernesto Nazareth (1863-1934). Nazareth exclamou a frase quando, depois de muito esforo, conseguiu transcrever uma composio. Nazareth era um homem muito educado. No bem isso que um metaleiro urra quando consegue compor uma, digamos assim, msica. AP0 STILA APOSTILA, QUE TAMBM PODE SER GRAFADA postila, veio do latim post illa, forma reduzida de post ilia verba auctoris, que significa depois daquelas palavras do autor. APUPAR O VERBO TEM ORIGEM ONOMATOPAICA: foi formado a partir da palavra latina upupa, que deu em portugus poupa, nome de um pssaro semelhante pega. O som produzido por ele se parece com um apupo. uma ave afugentada das imediaes dos motis,

para que o hspede no pense que est sendo vaiado. APUROS APURO COM O SENTIDO DE PERFEIO, requinte veio de apurar, verbo derivado da palavra puro. Mas quem est em apuros evidentemente no est nos requintes e sim numa situao difcil. Em apuros se originou da expresso latina in puribus, que literalmente significa no pus, no lixo. Como se v, pus e requinte no se acham to afastados assim. ARBIAS ANTIGAMENTE, ALGUNS NOMES DE PASES eram empregados no plural em razo de suas divises polticas ou naturais: as Itlias, as Espanhas. Dizia-se as Arbias, porque a Arbia se dividia em trs partes: a ptrea (noroeste), a desrtica (centro) e a feliz (sul) - essa diviso assim aparece em "Os lusadas", de Cames (canto IV, LXIII). Uma pessoa das arbias uma pessoa espantosa, excntrica, incompreensvel, tal como era a Arbia para navegantes e escritores, na poca das grandes navegaes. ARCO-RIS ARCo (DO LATIM ARCU) A SE DEVE, claro, forma do arco- ris. ris vem do nome da deusa grega. ris era a personificao do arco-ris, a ponte entre o Cu e a Terra, entre os deuses e os homens. Ela era a mensageira que levava aos homens as manifestaes dos deuses, servindo especialmente a Hera, mulher de Zeus. ris representada coberta por um leve vu que, ao soi, toma as cores do arco-ris. kRENA Do LATIM ARENA, QUE SIGNIFICAVA areia (que tambm veio de arena) e, por extenso, o lugar coberto de areia, como era o centro do circo romano onde combatiam gladiadores e feras. O gladiador era chamado dearenarius, que deu em portugus arenrio, gladiador que lutava na arena. ARETE Do LATIM, ARIES, CARNEIRO, vieram o nome do signo e (pela forma ariete) arete, que era uma mquina de guerra feita de um enorme tronco de madeira e utilizada para derrubar muralhas ou portas de fortalezas. Geralmente, numa das extremidades do tronco, era implantada uma cabea de carneiro, feita de ferro ou de bronze. O acento da palavra identifica sua pronncia. Mas no adianta, a maioria, por comodidade, diz mesmo "arite", que hoje s aparece na expresso "golpe de arete", um choque hidrulico - aquele pancado no aquecedor do seu banheiro quando voc ou algum do prdio aciona a descarga. o aquecedor dedurando mais uma produo do vizinho. TOA

Os engenheiros mecnicos envolvidos com problemas hidrulicos conhecem uma mquina para elevar gua chamada arete hidrulico ou carneiro hidrulico. ARQUIPLAGO Os GREGOS Ci \MAvAIvI o ivA Egeu de archiplagos, significando mar (plagos) principal (archi; arquiinimigo o inimigo supremo). Como o Egeu tinha muitas ilhas, a palavra passou a designar o conjunto de ilhas. ARRASTAR A ASA ARRASTAR A ASA PARA UMA MULHER tentar conquist-la com galanteios, fazendo charme. o que o galo faz para conquistar uma galinha. Por isso, o galo capenga, de asa arriada, morre cedo: overdose de sexo. T0A - DE (A)T0AR, REBOCAR BARCO ou navio - a corda usada para uma embarcao rebocar a outra. Uma embarcao est toa quando se acha (ou melhor, no consegue se achar) sem leme nem rumo, ao sabor da rebocadora. E assim est quem vive toa, a reboque do destino. AURICULAR ORELHA E AURICULAR VIERAM DO LATIM auricula, orelha, e auriculare, da orelha, respectivamente. Est nos dicionrios: o dedo mnimo tambm chamado de dedo auricular, o que evidentemente depende da anatomia do portador. Num pianista magrinho, dotado de orelhas fonogrficas, todos os dedos, com exceo do polegar, so auriculares. Auspcio - AGOURO ARTESIANO Do FRANCS ARTSIEN, NATURAL ou habitante da cidade de Artsia (A rtois) , regio do Norte da Frana. Foi l que ocorreu a experincia pioneira de se cavar um poo perpendicularmente ao solo at atingir um lenol de gua subterrneo, o primeiro poo artesiano da histria. Algumas pessoas dizem equivocadamente "poo cartesiano", como se a empreitada exigisse a participao de um filsofo. "Poo cartesiano" como pode ser chamado o caminho profundo e metdico na busca da racionalidade suprema. ASTIGMATISMO DE A- (NEGAO) + STIGMA (PONTO, EM GREGO) + -ismo (estado). O astigmtico no v pontos; em vez deles, v manchas. Astigmtico no d ponto sem ndoa. AUspcIo VEIO DO LATIM AUSPICIU, profecia a partir da observao do vo, do canto ou do modo de comer das aves; pressgio. A palavra veio de auspice - formada de avis (ave) + specio (vejo) -, que inicialmente significava o autor daquele tipo de pressgio (da o portugus uspice, adivinho). Depois, os otimistas fizeram de auspice um adjetivo significando favorvel, feliz.

Em portugus, auspcio ficou com os seguintes sentidos: augrio baseado na observao das aves, prenncio, proteo e patrocnio. Com esse ltimo significado, a palavra aparecia, no plural, no faz muito tempo, em programas de rdio e de televiso que eram apresentados "sob os auspcios" de algum patrocinador. Em latim, o verbo augere, crescer, glorificar, originou augustu, consagrado (era o ttulo dado a alguns imperadores romanos), eaugure (em portugus, ugure), sacerdote que fazia profecias observando o vo ou o canto das aves.* Sua cincia era chamada deaugurium, * Pelo visto, os adivinhos romanos viviam se esbarrando. que deu no portugusaugrio e agouro - este acabou recebendo do uso popular uma carga negativa, tal como no seu derivado agourar. AUTPSIA AuTPSIA - DO GREGO AUTOPSIA: auto (de si mesmo) + opsis (exame) - inicialmente tinha esse significado de exame de si mesmo; depois se popularizou com o sentido imprprio de exame mdico de um cadver e assim ficou, tal como aparece hoje em diversos idiomas. Necropsia - de necro (morte) + opsis (exame) - a palavra correta para designar o exame de um cadver, s que no pegou. Avi s A ORIGEM DO NOME DA LOCADORA de automveis tem vrias verses: (a) um acrnimo delliehiclesinstantly,upplied (todos os veculos imediatamente fornecidos); (b) veio do latim avis, ave, agregando os conceitos de velocidade e distncia. Agora, esquea essas verses e fique com a verdadeira: a empresa foi fundada em 1946, no aeroporto de Willow Run, em Detroit, no estado norte-americano de Michigan; nome do fundador: Warren Avis. BABAU! H TRS VERSES PARA A ORIGEM da interjeio indicativa de coisa perdida para sempre, o leitor escolhe: (a) uma onomatopia (palavra imitativa de som, como tiquetaque, zunzum...); (b) veio do quimbundo (lngua africana) babau, que significa "foi-se"; (c) veio de baba, com o argumento de que a exclamao freqentemente acompanhada do gesto de passar as costas da mo do pescoo ao queixo e estend-la aberta em frente ao rosto, indicando que a pessoa babou e no comeu. O trofu criatividade vai para a ltima concorrente. BABEL CONFUSO. Do HEBRAICO Babhel (Babilnia), que veio do assrio bab-ilu, porta de Deus. Segundo o Gnese, os primeiros seres humanos falavam todos a mesma lngua. Um dia, os

descendentes de No, depois de tudo bem sequinho, resolveram construir uma torre para atingir o cu e eternizar seus nomes. A ousadia despertou a ira divina. Deus nem quis ouvir as justificativas (" s uma precauozinha para futuras enchentes"). Castigou-os confundindo sua lngua, para que no se entendessem, e espalhou-os pela Terra. A similaridade entre as pronncias das palavras hebraicas Babhel (Babilnia) e balal (confundir) teria motivado o nome da torre no texto bblico. BAGULHO O LATIM BAGA (BAGA) ORIGINOU o portugus baga, fruto carnoso com sementes (como o tomate, a uva, o mamo) ou, por semelhana, gota. Baga a origem de (a) bagao, com a terminao aumentativa e pejorativa -ao e (b) bagulho, com a terminao diminutiva e depreciativa -ulho. Bagulho o nome que se d semente (carocinho) da uva e de outros frutos. Por analogia e extenso ganhou o ;entido de objeto usado ou de m qualidade, ampliado depois para :oisa, troo. Voltando ao latim baca, da veio o italiano bagatelia (coisa sem valor), que deu o portugus bagatela, com o mesmo sentido. Depois, o uso popular, por ironia, deulhe o sentido oposto (quantia exagerada), com que aparece hoje mais freqentemente - "o carro custou a bagatela de US$80 mil". * Baga foi para o masculino e ficou bago, com o significado inicial de cada fruto de um cacho de uvas; depois vieram outros sentidos, por analogia: qualquer fruto parecido com a uva, conta de rosrio e, "last but not least", testculo (mais usado no plural - bagos).** Baguear segurar os testculos de um animal para castr-lo. * Preo em dlar para a eventualidade de (a) uma nova edio desta obra sem reviso ou (b) modificao do padro monetrio nacional, o que ocorrer primeiro. O autor aposta, com desvantagem, na primeira hiptese. ** Uva, conta de rosrio e testculo aparecem aqui misturados por fidelidade etimologia. O leitor atento sabe muito bem diferenciar esses objetos. BAIONETA A ARMA - UM SABRE ADAPTVEL boca de um fuzil - foi fabricada pela primeira vez na cidade de Bayonne (Sudoeste da Frana). Da a palavra francesa baonnette, que deu baioneta em portugus. BAIRRO Do RABE BARRI, DERIADO DE BARR, arredores (de uma cidade). A palavra comeou a ser usada pelos rabes na pennsula Ibrica (barrio em espanhol), com o sentido de subrbio, redondezas de uma cidade.

BAITOLA APALAVRA TERIA SURGIDO DURANTE a construo da primeira estrada de ferro do Cear. O chefe da obra, um engenheiro ingls, afetadssimo para os padres locais, vivia advertindo os trabalhadores para terem cuidado com a "baitola", que era como ele pronunciava a palavra bitola (a distncia entre os trilhos). Ento, alguns trabalhadores, convictos de que afetao no coisa de macho, criaram baitola para designar o homossexual passivo. E a est o leitor a torcer o nariz. Tudo bem, tem cheiro de historinha, mas, at hoje, os etimlogos s encontraram essa explicao para a origem da palavra. BALANA A PALAVRA LATINA PARA DESIGNAR a balana de dois pratos era libra, que deu em portugus libra, com seus vrios sentidos de moeda, unidade de massa, constelao e signo (Libra ou Balana). Depois, os romanos substituram a palavra libra por bilanx, formada de bis (duas vezes) + lanx (nome de um prato grande e fundo em que se levava comida para a mesa). Do latim bilanx, atravs do espanhol balanza, veio o portugus balana. BAL Do FRANCS BALLET, QUE VEIO do italiano balleto, diminutivo de bailio, baile. O que, alis, faz todo o sentido: o bal nada mais que um baile de poucos visto por muitos. Se a platia trocar de lugar com os bailarinos, a sim, vira baile. BANAL Do FRANCS BANAL. O sentido original da palavra banal, tanto em francs como em portugus, surgiu na poca do Feudalismo: banal era tudo aquilo que pertencia ao suserano (o senhor) e era utilizado pelos vassalos (seus sditos). Assim, um moinho de um feudo, utilizado por todos os habitantes, era um moinho banal, sinnimo de comunitrio. A partir da, a palavra, nos dois idiomas, teve seu sentido ampliado para o de comum, vulgar. O francs banal veio de ban, a proclamao do senhor feudal em seu territrio. Depois ban ganhou o sentido de comunidade formada pelos vassalos e seus semelhantes sob o comando do mesmo suserano. Como o espao em que o suserano exercia esse comando era afastado e ficava fora das muralhas de seu feudo, recebeu em francs o nome de banlieue (ban + lieue, lgua), palavra que hoje significa arredores, subrbio. O francs antigo ban tambm gerou a palavrabandon, autoridade, poder.

Da veioabandonner -a + bandon + (n)-er-, com o sentido literal de deixar algum sob seu prprio e exclusivo arbtrio, origem do portugus abandonar. ANANA - DAR UMA BANANA DAR UMA BANANA UM GESTO OBSCENO que consiste em dobrar o brao com o punho fechado e segurar a dobra do cotovelo com a outra mo. tradicional no s no Brasil, como em Portugal, na Espanha, na Itlia e na Frana, sempre com o mesmo sentido ofensivo. Com o gesto, pretende o ofensor representar o membro masculino, sugerindo ao ofendido que o introduza todo- o-mundo-sabe-onde. No Brasil, o gesto ganhou o nome de "banana", por associao da forma da fruta com a forma do membro masculino representado no gesto ofensivo. A palavra banana tem origem controversa: para alguns, de origem africana; para outros, veio do rabe banana, dedo. Segundo uma tradio oriental muito antiga, a banana que teria sido a fruta tentadora de Eva no paraso. Evidentemente, em razo da sua forma flica. * Por isso, a banana j foi chamada pelos franceses de "fruta do paraso" e a bananeira recebeu a classificao botnica de Musa paradisiaca. Posteriormente, na literatura de outras religies, a banana foi substituda pela ma em prol da discrio. A palavra banana como adjetivo - um sujeito banana um frouxo, um palerma - provavelmente surgiu devido a a fruta ser pouco consistente, mesmo com casca. A bem da verdade, o falo que tem forma de banana. zzz BANANEIRA - PLANTAR BANANEIRA PLANTAR BANANEIRA SE PR DE CABEA para baixo, com as mos apoiadas no solo e as pernas esticadas para o alto, semelhantemente s folhas de uma bananeira. Sim, s folhas. Pare de pensar bobagem: mulheres tambm plantam bananeira. BANQUETE Do FRANCS BANQUET, QUE VEIO DO italiano banchetto, banquinho. Os banquinhos eram dispostos ao redor de mesas improvisadas para refeies festivas com muitos convidados. BARBA - PR AS BARBAS DE MOLHO PARA ANDAR NA MODA DO PESCOO PARA CIMA, o homem mulher. Elas se valem de penteados, maquiagens e nada conseguem fazer com as sobrancelhas, ficam restritos ao cabelo e A ausncia do cabelo, provocada ou natural, pode passa. Bom mesmo

menos abenoado que a adereos. Eles, j que barba. at virar moda, mas

dispor de uma vasta cabeleira e lev-la ao tmulo com imponncia de efgie. O sonho maior de todo careca no fortuna em dlar, nem a Adriane Galisteu, mas tosomente uma, apenas uma nica coisa: cabelo. No caso da barba, se nenhuma, rotina; se escassa, desleixo, mas tambm j virou moda. Ento ficamos assim: a barba o ponto a atacar. Se o prezado leitor no um Adnis, v por a. Antigamente, como os mendigos duravam pouco e no existia a gravata, a barba era sinal de honra, prestgio, poder. Uma grande humilhao era ter a barba cortada. Da se fizeram vrios provrbios sobre a importncia da barba como elemento de aferio do valor de um homem. No latim (importado do grego): "Barba non facit philosophum", a barba no faz o filsofo; no francs: "Du cot de la barbe est la toute-puissance", a barba traz o poder absoluto. Do espanhol, que produz uma singela rima, o provrbio veio parar no portugus: "Quando las barbas de tu vecino veas pelar, pon las tuyas a remojar", "Quando vires as barbas do vizinho pelar (escassear), pe as tuas de molho". E assim o uso popular ficou com o pedao final do provrbio e pr as barbas de molho passou a ser usado como sinnimo de acautelar-se. BARBEIRO O NOME DO PROFISSIONAL VEIO DE BARBA + a terminao designativa de profisso -eiro. Agora, veja os seguintes trechos extrados do verbete "barbeiro" no dicionrio Morais Silva: "Homem que tem por ofcio rapar ou aparar barbas e cortar o cabelo. Dentista, curandeiro. Havia antigamente barbeiros de lanceta, isto , sangradores. Indivduo que no hbil na sua profisso." No Brasil e em Portugal, at as primeiras dcadas do sculo XIX, os barbeiros tambm praticavam odontologia e medicina, chegando at a realizar pequenas cirurgias (mdico especialista era coisa de rico, de gente da corte). E a imagine o que deve ter acontecido com os pobres clientes. Quantos dentes mal arrancados? Quantas bocas feridas? Quantas punes geradoras de infeces terrveis? Quantos quelides? Associe a isso o fato de o ofcio de barbeiro, em sentido restrito, no exigir uma especializao, mas tosomente certa habilidade manual (com todo o respeito aos profissionais do ramo). Pronto! No foi difcil a palavra ganhar aquela ltima acepo, "indivduo que no hbil na sua profisso". Da tambm se formou barbeiragem como sinnimo de incompetncia. J o nome do inseto outra histria.

Em abril de 1909, o jovem cientista mineiro Carlos Chagas, ento com 30 anos, assim se pronunciava num comunicado: "Saibam todos que o inseto conhecido por barbeiro ou chu po, encontrado nas casas de pau-a-pique dos sertanejos do Brasil, portador de um parasita que causa febre, anemia, cardiopatias e aumento dos gnglios." E todos ficaram sabendo que Chagas havia identificado o agente causador da doena, um protozorio (transmitido pelo barbeiro) que ele chamou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao sanitarista Oswaldo Cruz. A partir da, foi o povo que se encarregou de outra homenagem, batizando o mal como "doena de Chagas". O barbeiro deve seu nome popular ao fato de ele chupar o sangue da sua vtima quase sempre no rosto, enquanto ela dorme (na verdade, o barbeiro no tem uma predileo especial por rostos, que, ao dormirmos, essa parte do corpo se acha sempre descoberta e ao inteiro dispor do vampirinho). BATEAU-MOUCHE ATRADuO, AO P DA LETRA, para o barco a motor que passeia pelo Sena, no barco-mosca e sim barco-espio. Mouche, em francs, mosca, mas tambm uma gria para espio, sentido usado para designar um pequeno navio de guerra ou um pequeno barco a vapor usualmente chamado bateaumouche. Alguns insistem na tese de que a origem do nome est no bairro de Mouche, na cidade de Lion, beira do rio Rdano, onde foram fabricados os primeiros bateaux-mouches. BAZUCA Do INGLS BAZOOKA. Na dcada de 1930, o comediante norte-americano Bob Burns se apresentava em pblico tocando um instrumento que ele mesmo inventara e dera o nome de bazooka. O instrumento tinha dois tubos e uma chamin de fogo. A arma comeou a ser utilizada na Segunda Guerra Mundial e, por sua semelhana com o instrumento musical, foi batizada com o mesmo nome pelo major norte-americano Zeb Hastings. BELVEDERE DO ITIO BELVEDERE, formado de bel (lo) , belo + vedere preciso que seja um mirante de onde se descortine um panorama. Um aparato formado de banquinho e binculo para ver a vizinha tomando banho no pode ser chamado de belvedere. BENETTON A BENE?TON FOI FUNDADA em 1965 pelos irmos Giuliana, Luciano, Gilberto e Carlo Benetton. A sede

do Grupo Benetton fica na Villa Minelli, um complexo de edificaes do sculo XVI, na cidade italiana de Ponzano, a uns 30km de Veneza. BENGALA BENGALA UMA REGIO NO NORDESTE DA NDIA. De l vieram o tigre de Bengala (no um tigre velhinho) e uma espcie de cana, a cana-da-ndia, tambm chamada cana de Bengala. Essa (pausa) cana serviu para fazer bastes e o objeto que, por causa da origem da matriaprima, ficou sendo chamado de bengala. Tambm por isso, em inglscane significa cana e bengala. BEcIO Do LATIM BOEOTIU, BEcaO, natural da Becia, regio da antiga Grcia. A palavra latina veio do grego boitos, que significava becio; gluto e idiota como um becio. Os atenienses achavam os becios uns becios, gentalha grosseira e inculta. BESTA - BESTA QUADRADA BESTA VEIO DO LATIM BESTA, ANIMAL FEROZ. Besta quadrada no tem nenhum ingrediente geomtrico, o que faria supor a existncia da besta redonda. Trata-se da simplificao de besta elevada ao quadrado. E a superbesta, o grande imbecil. BESUNTAR Do LATIM UNCTARE COM O PREFIXO BIS. Besuntar untar (engordurar) duas vezes. Bic QUANDO O NAZISMO COMEAVA a crescer em seu pas, o hngaro Lszl Bir sabiamente arrumou as malas e emigrou para a Argentina, onde viria a patentear uma inveno a que ele dedicou seis anos de vida para aperfeioar: a caneta esferogrfica. Em 1945, as primeiras canetas Biro foram comercializadas. O preo da novidade? Uma pechincha, cerca de US$100. Isso mesmo, cada uma. Ainda na dcada de 1940, a patente passou das mos de Bir para um francs chamado Marcel Bich, que, na dcada seguinte, lanaria, sem o "h", a Bic Cristal, que hoje voc compra por centavos de qualquer moeda. Foi to grande a popularizao do produto que hoje a esferogrfica (de qualquer marca) chamada pelos franceses de "bic" e pelos ingleses de "biro". BICA - ESTAR NA BICA BICA SE ORIGINOU DA PALAVRA BICO (do latim beccu). Estar na bica (estar prestes a conseguir alguma coisa) vem do tempo em que a populao se abastecia de gua em fontes pblicas. Quem estava na

bica achava-se na iminncia de obter o precioso lquido. BID O APORTUGUESAMENTO DO FRANCS BIDET. Bidet apareceu pela primeira vez empregado por Rabelais em 1564, significando apenas pequeno cavalo de sela (bidet veio de bider, trotar). S em 1739 a palavra passou a designar, metafrica e graciosamente, o aparelho sanitrio. Ou seja, a traduo ao p da letra de bidet para o portugus esta: cavalinho. BIFURCAR Do LATIM BIFURCU (BIFURcDO), formado de bis (dois) + furca (forca, pau bifurcado). Furca a origem do francs fourche, forquilha, bifurcao, e seu diminutivo fourchette, do espanhol horca, do ingls fork (garfo) e do portugus forca. BIGODE H VRIAS TEORIAS A RESPEITO DA ORIGEM DA PALAVRA. A mais provvel sustenta que bigote era como os espanhis chamavam os germanos, que comearam a freqentar a pennsula ibrica, na Idade Mdia. Bigote teria vindo da exclamao em alemo bf Got, por Deus, freqentemente proferida pelos germanos e no compreendida pelos espanhis, que assim batizaram os estrangeiros - mais um exemplo para a sustentao da teoria de que voc o que voc fala. Como os germanos ostentavam uma impressionante capilaridade supralabial, bigote deixou de ser a pessoa e passou a designar sua principal caracterstica fsica, o bigode. BINA O IDENTIFICADOR DE CHAMADAS TELEFNICAS coisa nossa, saiu do Brasil para o mundo. Foi inventado pelo mineiro Nlio Jos Nicolai. O primeiro aparelho comercializado se chamou BINA 82 e foi lanado em Braslia, em 1982. BINA foi formado deB ldentificaNmeroA. BISPO - QUEIXAR-SE AO BISPO No DIREITO PORTUGUS ANTIGO, os bispos eram verdadeiras autoridades, com prerrogativa de fazer justia em litgios civis. Da a expresso v se queixar ao bispo, com o sentido de mandar uma pessoa procurar algum com autoridade para resolver uma pendenga. BOCA - BOCA-DE-SIRI BOCA VEIO DO LATIM BUCCA, QUE, por sua vez, se originou da onomatopia bu! Ainda no latim, bucina, cometa de boiadeiro, teria vindo ou de bucca ou de bos (boi) + cano (dou um sinal tocando um instrumento). Bucina originou o portugus buzina e, ainda no latim, a palavra bucinum

(som de trombeta; concha), que deu no portugus bzio. A expressso fazer boca-de-siri (ficar calado, manter segredo) surgiu porque no se consegue ver a boca do siri, a no ser que ele permanea imvel enquanto voc vai at sua casa, pega uma lupa e a enfia debaixo dele com todo o cuidado que um siri exige. BISTECA Do ITALIANO BISTECCA. O ingls beef (origem de bife) significa (a) boi, vaca ou touro criado para servir de alimento e (b) a carne desses animais. Veio do francs boeuf (boi, carne bovina), originrio do latim bove (boi, vaca). Roast (assado) beef deu no portugus rosbife. Beefsteak (fatia de carne bovina frita ou grelhada) originou o portugus bifesteque, que no pegou, e o italiano bistecca. BIZANTINO Do LATIM BYZANTINU, RELATWO cidade de Bizncio, antiga colnia grega, onde foi erguida pelo imperador Constantino, em 330, a cidade de Constantinopla (hoje Istambul), capital do Imprio Romano do Oriente, territrio da civilizao bizantina. Em diversos idiomas, tal como no portugus, a palavra ganhou o sentido de excessiva e ridiculamente sutil ("essa idia bizantina, no leva a nada"). Isso se deve s infindveis e estreis discusses teolgicas e existenciais em que se metiam com freqncia os bizantinos, o que para muitos devia tornar a vida aborrecidamente bizantina. Veja s este depoimento de Gregrio de Nissa, padre da prpria igreja bizantina, ao descrever, claramente irritado, Constantinopla no sculo IV: "Todos os lugares esto cheios de pessoas que falam de coisas ininteligveis - as ruas, os mercados, as praas e as encruzilhadas. Pergunto quantos bolos tenho de pagar; em resposta filosofam sobre o nascido e o no nascido. Quero saber o preo do po e algum me responde: "O Pai maior do que o Filho". Pergunto se o meu banho est pronto e dizem-me: "O Filho foi feito do nada"." Era o inferno dos pragmticos e o paraso dos filsofos e dos pensadores, como um amigo meu, existencialista, to questionador de tudo que certa vez, caminhando solitrio, se surpreendeu com o seguinte dilogo dele com ele mesmo, vindo a propsito de nada: "Pois ... (pausa) Ou no?". BOAL Do ESPANHOL BOZAL, FOCINHEIRA, derivado de bozo, corda que se pe na

boca de um animal. Bozal (no espanhol, o "z" tem som de "") era como os espanhis chamavam quem no falava (ou falava mal) o espanhol, especificamente o negro africano. BODE EXPIATRIO BODE EXPIATRIO NO O RESULTADO do cruzamento de cabra com fechadura. a pessoa acusada injustamente, no lugar do verdadeiro culpado. A expresso veio do ritual judaico nolom Kipur (Dia da Expiao, em hebraico). Nesse dia, na poca do Templo de Jerusalm, todos os pecados da humanidade eram transferidos e concentrados em dois bodes. Um era sacrificado, e seu sangue era aspergido no recinto mais sagrado do Templo. O outro, destinado a acalmar o demnio, era atirado do alto de um precipcio; em seguida, era apresentado ao povo, como sinal de expiao dos pecados, um fio de l clara. A histria no registra, mas dizem que Levi foi considerado o maior sacerdote de todos os tempos, porque, no final de cada cerimnia, ele exibia, do alto da montanha, um fio de l compri dssimo, exatamente da altura do precipcio, no fundo do qual repousava um carneiro completamente tosquiado. BONS OLHOS O VEJAM! EXPRESSO DITA PARA AFASTAR MAU-OLHADO, ou seja, para espantar maus olhos. BODUM POPULARMENTE, BODUM MAU CHEIRO. Segundo os dicionrios, tambm o fedor do bode no castrado. Conclui-se da que a inhaca do bode est toda concentrada no mesmo lugar, para tortura da cabra. Bodum se formou de bode + -um, terminao relativa a animais (como em vacum, gado de vacas, bois e novilhos). BOEING A BOEING AIRPLANE COMPANY, sediada em Seattle, Estados Unidos, apareceu em 1917. Era o novo nome da Pacific Aero Products, empresa de propriedade do norte-americano William Edward Boeing (1881-1956). BOI - BOI NA LINHA TER BOINA LINHA SIGNIFICA EXISTIR um problema, um obstculo frente. A expresso vem do tempo em que no existiam cercas que protegessem as estradas de ferro da invaso de animais. Vez por outra, um boi se instalava na linha frrea, forando o trem a parar.

BOLA - TROCAR AS BOLAS TROCAR AS BOLAS VEIO DO JOGO DE SINUCA ou de bilhar: quando o jogador bate com o taco numa bola que no seja a sua tacadeira. A variao bolar as trocas comeou como piada metalingstica, em ironia ao prprio sentido da expresso, e acabou consagrada popularmente. BONS VENTOS O LEVEM! NA SUA ORIGEM, ERA O VOTO DE BOA SORTE para o navegador que partia em viagem de barco a vela. Posteriormente, virou comentrio irnico a respeito de quem morreu e no deixou saudade. a pessoa cuja ausncia preenche uma lacuna. BORDEL Do FRANCS ANTIGO BORDEL. O frncico (lngua dos antigos francos) tinha a palavra bord, tbua. Seu plural, borda, ganhou o valor coletivo de casa de tbuas e foi parar no francs borde, cabana, que ganhou o diminutivo bordel. Assim, bordel era singela e romanticamente uma cabaninha de tbuas. Foi por volta de 1200 que as cabaninhas permaneceram de p mas a singeleza e o romantismo foram abaixo, e bordel virou prostbulo, porque as prostitutas, especialmente nas cidades porturias, s podiam exercer seu comrcio em lugares afastados, onde se instalavam em casinhas de tbuas, formando um bairro retirado. A forma francesa tambm a origem do italiano bordelio, prostbulo. BORRACHA - BORRACHUDO BORRACHA VEIO DO ESPANHOL BORRACHA, que originalmente era um odre (saco feito de pele de animal) de couro, bojudo, com bocal, contendo lquido. Da, veio o espanhol e o portugus borracho, com o sentido de bbado. Borrachudo um tipo de mosquito. A origem do nome tem pelo menos trs verses, o fregus escolhe: (a) se for tocado com a mo, esborracha-se; (b) o inseto se empanturra de sangue e fica meio borracho, meio bbado; (c) de tanto sugar sangue, o inseto fica inchado como uma borracha (odre) cheia. Borrachudo tambm passou a designar, na gria brasileira, o cheque que estica, vai at o banco, volta s mos do beneficirio e no descontado nem a tapa. BRAO - NO DAR O BRAO A TORCER NO DAR O BRAO A TORCER INSISTIR numa opinio, no mudar de idia. A expresso originria dos tempos das torturas fsicas da Inquisio. BRAVO!

A PALAVRA LATINA BARBARUS, ESTRANGEIRO, grosseiro, deu, em portugus, os adjetivos brbaro e bravo, que tm os sentidos de rude e admirvel. A interjeio, usada para aclamar um artista, comeou a ser usada pelos italianos, que, ao final de um espetculo de msica, gritavam bravo - com o sentido de extraordinrio - e o nome do autor da obra: Bravo Rossini! Bravo Verdi! Esse sentido de notvel, admirvel da palavra bravo se estendeu ao uso do vocbulo brbaro no Brasil, como em um cara br baro um filme brbaro... BROCARDO BROCARDO, AXIOMAJURDICO, PROVRBIO, veio do latim medieval brocardus, palavra adaptada do nome de Burchard 1, bispo de Worms, de 1000 a 1025, e autor de uma clebre compilao de direito cannico. Por sculos, Worms, cidade alem s margens do Reno, foi sede de mais de cem assemblias deliberativas sobre controvrsias religiosas. BULDOQUE Do INGLS BULL, TOURO + DOG, CO. Evidentemente o cachorro no tem esse nome porque se parece com um touro. que a raa era usada numa competio popular, praticada na Inglaterra medieval, chamada bullbaiting, em que ces treinados atacavam touros. Com suas poderosas mandbulas, o buldogue abocanhava o focinho do touro e ali ficava o tempo suficiente para encher seu dono de orgulho e prestgio. Forte, corajoso, resistente dor, cara achatada, pescoo grosso e fortes msculos maxilares (no o dono, o co), era a raa ideal para a competio. Em 1835, o bullbaiting foi proibido na Inglaterra. Touros e ces seriam substitudos por seres humanos e uma bola. BUMBA-MEU-BOI UMA FESTA NATALINA MUITO POPULAR no Nordeste brasileiro, na qual se encena a morte e o ressuscitamento de um boi. Bumba -meu-boi equivale a "bate, chifra, meu boi!". Bumba, palavra onomatopaica representativa do som de uma batida, uma pancada (sinnima de bum), pode ter vindo do quicongo (um grupo de lnguas africanas) mbumba, bater. BUROCRACIA Do FRANCS BUREAUCRATIE, PALAVRA criada pelo economista Jean-Claude Marie Vincent, Seigneur de Gournay (1712-1759), com o francs bureau + o grego krtos, poderio. No francs antigo bureau (do latim burra, l de qualidade inferior)

significava um tecido grosseiro com que se cobriam as mesas para escrever e fazer contas. Depois passou a designar a prpria mesa assim coberta e posteriormente a mesa de trabalho; finalmente chegou ao seu sentido atual de escritrio, repartio. DACHEP AQUELE VASO MAIS BONITO em que voc esconde aquele vaso mais feio. Veio do francs cache-pot, formado de cache, esconde + pot, pote, vaso. E, para esconder o pescoo, use um cachecol, do francs cachecol, formado de cache, esconde + col, pescoo, colarinho (do latim coliu, pescoo). O verbo francs cacher, esconder, originou o ingls cache, esconderijo (de provises, alimentos). Cache foi aproveitado pela informtica na expresso cache memory, uma rea da memria do computador reservada para agilizar a recuperao de dados. CADVER DO LATIM CADA VER, QUE VEIO do verbo cadere, cair. mais um caso de invencionice engenhosa a explicao de que a palavra latina cadaver teria sido formada das slabas iniciais da expresso caro data izermibus, carne dada aos vermes. CACARECO CACARECO MAIS USADO NO PLURAL e significa coisa velha, de pouco valor. A palavra o resultado do cruzamento de duas outras com o mesmo sentido de objeto insignificante: cacaru e tareco. Cacaru se formou de caco + -aru, terminao que significa aumento, coleo (como em fogaru). Tareco veio do rabe tarayk (coisa de pouco valor) e popularmente virou treco. CADERNO EM LATIM QUA TER, QUATRO VEZES, originou quaternu, de quatro em quatro, que deu em portugus quaderno, "conjunto de quatro flios ("folhas de impresso com quatro pginas impressas") dobrados ao meio e colocados um dentro do outro, formando cada uma das unidades ou sees que so reunidas e presas entre si para a confeco de um livro ou volume" (Houaiss). Quaderno a forma arcaica de caderno. No francs antigo, quaternu virou quaer, que recebeu o sufixo diminutivo -et, ficou quernet e depois carnet, aportuguesado carn. Quaerviroucayer, que originou a forma francesa definitiva cahier. CADETE DO FRANCS CADET, o IRMO que nasce depois de outro irmo. A palavra veio do gasco (dialeto da

Gasconha, Sudoeste da Frana) capdet, chefe, capito, porque o comandante gasco que vinha servir nas armadas dos reis franceses, no sculo XV, freqentemente era o segundo filho de uma famlia nobre. Em portugus, cadete, alm do sentido popular de aspirante a oficial (tambm existente no francs), significa filho no primognito. O francs cadet foi parar na Esccia, onde ganhou o sentido de faztudo, biscateiro e deu origem ao ingls caddy (tambm grafado caddie) , o rapazinho que carrega os tacos do golfista. Entre os golfistas, so muito populares as piadas com dois personagens: umcaddy espirituoso e um pssimo jogador: Golfista - Esta bola no a minha, caddy. muito velha. Caddy - Faz tempo que estamos jogando, senhor. CAIXA- PRETA NA VERDADE, o AVIO tem duas caixas-pretas: uma para dados sobre o vo e outra para comunicaes da cabine. Ambas no so pretas. So laranja berrante para facilitar sua localizao entre os destroos de uma aeronave. A expresso comeou a ser usada depois da Segunda Guerra Mundial, quando as caixas-pretas passaram a ser amplamente utilizadas. Mas antes disso o pessoal da fora area britnica j chamava assim qualquer caixa contendo equipamento de navegao area complicado. A cor preta provavelmente foi escolhida para designar algo misterioso, secreto e tambm pela aliterao da expresso em ingls (black box). O sentido se ampliou para designar qualquer sistema ou aparelho cujo mecanismo de funcionamento incompreensvel para o usurio. Uma das grandes questes da humanidade a seguinte: j que as caixaspretas so indestrutveis, por que os avies no so feitos do mesmo material? At que possvel. S um probleminha: com o peso, o bicho no decola de jeito nenhum. CAMBRAIA APALAVRA VEIO DO NOME DE UMA CIDADE, no Norte da Frana, Cambraia (Cambrai) , que ganhou fama por produzir e exportar o tecido. Em francs, cambraia, o tecido, no cambrai, e sim batiste, que veio de battre, bater (a l, a seda) e no tem nada a ver com o nome prprio, embora alguns sustentem que o primeiro fabricante do tecido era um tecelo de Cambraia, chamado Batiste. O nome da cidade, Cambrai, e batiste acabaram originando os nomes de dois tipos de tecido muito parecidos em vrios idiomas: (a) em portugus, cambraia e batista (ou batiste); (b) em ingls, cambric (de Kamer)k, o nome da cidade em holands) e batiste; (c) em espanhol, cambray e batista; (d) em italiano, cambri e batista.

CAMLIA Do FRANCS CAMLLa, QUE VEIO do latim botnico cameilia, nome dado pelo naturalista e mdico sueco Lineu em homenagem ao missionrio morvio Camelli, que, no final do sculo XVII, levou o vegetal da Indonsia para a Europa. CAMEMBERT O DELICIOSO QUEIJO FOI PRODUZIDO pela primeira vez, no final do sculo XVIII, por Marie Fontaine, uma agricultora nos arredores da cidade francesa de Camembert, na Normandia. CAMISA Do LATIM CvISM (DE CAMA, cAMA), que era uma pea de baixo usada no leito ou escondida, colada na pele. De camisa vieram, com terminaes diminutivas, camisola e camiseta. O sentido inicial de camisa como uma pea ntima, a ltima a ser tirada ao se despir, explica o sentido da expresso ficar s com a camisa do corpo como perder tudo, ficar na misria. CAMPARI A MARCA SURGIU NA CIDADE ITALIANA de Milo, em 1860. Era uma receita secreta do italiano Gaspare Campari, composta de lcool, gua destilada e uma mistura de ervas, plantas e fruta. O grande charme da bebida sem dvida sua cor avermelhada. J o sabor amargo uma questo de gosto. Para seus detratores, to deliciosa quanto um ch de boldoon the rocks. O Campari um ingrediente do famoso drinque Negroni, que surgiu em 1919 no bar Casone, em Florena, na Itlia. Um de seus freqentadores era o conde italiano Camillo Negroni, que sempre pedia o mesmo drinque, uma mistura de dois produtos do Grupo Campari: o prprio e o vermute Cinzano. Um dia o conde pediu ao barman Fosco Scarcelli uma bebida mais forte. Scarcelli acrescentou mistura gim, gelo e uma rodela de limo. O conde Negroni aprovou, e o coquetel recebeu o seu nome. CANAP Do FRANCS CANAP; que veio do latim cana peu, leito cercado de mosquiteiro. Tanto no francs quanto no portugus, a palavra significa ou um tipo de sof para umas trs pessoas (o sentido original) ou uma fatiazinha de po com iguanas variadas, servida como aperitivo (o sentido posterior, por associao de imagem). Ou seja, no primeiro caso, sentase; no segundo, come-se. Na prtica, o leitor deve observar cuidadosamente essa ordem, sob pena de se tornar um banguela de

fundilhos sujos. O latim cana peu tambm originou o ingls canopy, que pode significar (a) dossel (armao forrada sobre altar, trono, leito), (b) armao coberta de lona na entrada de prdios, (c) no avio, a tampa transparente da cabine do piloto, (d) a parte do pra-quedas que se abre. O ingls tambm importou o francs canap para o tipo de aperitivo. CANECO - PINTAR O CANECO CANECO PODE SER uiv forma variante de caneca. Mas, na expresso pintar o(s) caneco(s) cometer desatinos -, caneco aparece com outro sentido, que empregado regionalmente: diabo. Nesse caso veio de co (o diabo) + a terminao diminutiva - eco. Quer dizer, pintar o caneco mesmo fazer diabruras. E, aqui, permita-me o leitor uma digresso e uma confidncia. A pelos meus dez anos, cada vez que eu engendrava uma travessura, feito raro mas de boa qualidade, com efeito denso e particularmente irritante, minha me me chamava de "co do diabo". Ao ostentar esse ttulo, sentia-me como a ltima das crianas. Ora, sendo o co o melhor amigo do homem, eu me achava ainda mais vil que o prprio demnio, por eu ser a personificao de seu servil e irracional companheiro. Foram necessrias dcadas para que a etimologia viesse iluminar-me e fazer-me ver o verdadeiro intento da afronta materna. que minha me, pessoa muito dada a pleonasmos, na verdade proferia uma ofensa enftica em que co e diabo se paralelizavam, um em reforo do outro. Ou seja, o co era o diabo e vice-versa. E, assim, eu seria um superco ou um superdiabo, no cumulativamente. A confidncia era essa; a digresso acaba aqui. Adiante. CANETA ETIMOLOGICAMENTE caneta sinnimo de caninha, j que ambas so o diminutivo de cana. Na prtica, o que as diferencia a qualidade do discurso resultante do uso de uma ou da outra. A verso inicial da caneta era um tubinho, uma pequena cana em cuja extremidade se ajustava uma ponta para escrever. Agora, ao aumentativo. Cana veio do latim canna, cana, tubo, que tambm foi parar no italiano canna, onde recebeu o aumentativo cannone (tubo grosso, pea de artilharia), origem do nosso canho. Gosto se discute sim. O que no se discute o direito de ter mau gosto. zzz CANGURU Do INGLS KANGAROO. Assim que o capito ingls James Cook, pela primeira vez, desembarcou na Austrlia, em 1770, quis logo saber o nome daquele estranho animal, dotado do que toda

perua de shopping adoraria ter: boa velocidade e uma bolsa na barriga. Aborgines que se encontravam s margens do rio Endeavour (batizado com o nome da embarcao de Cook), em Queensland, informaram (foi um s, mas bote a uns dez gritando em coro para a cena ficar mais empolgante): -Kangooroo! A palavra aparece registrada nos dirios de bordo de Cook e do botnico Joseph Banks, presente na mesma viagem. Ento, no h dvida: a palavra foi trazida da Austrlia pelos ingleses, naquela poca. A questo, intrigante at hoje, que diabo kangooroo queria dizer na lngua dos nativos da Austrlia. H duas hipteses, o leitor escolhe: (a) significava "no estou entendendo" e foi a resposta dos aborgines quando os ingleses lhes perguntaram o nome do animal; (b) era como eles chamavam o bicho e pronto. A hiptese (b) contestada por relatos provenientes da primeira colnia penal australiana, estabelecida em Port Jackson (hoje Sdnei), em 1788 - dezoito anos depois da chegada de Cook. Seus autores registram que os locais chamavam o animal de patagorong oupatagaran. Ento, se o leitor j estava pensando em optar pela hiptese (a) por ser a mais engraadinha, pode ficar com ela e estar na companhia de bons etimlogos. DANCULA Do LATIM CANICULA, CADELINHA (diminutivo de cane, co) e, posteriormente, o nome da estrela Srio, a maior estrela da constelao do Co Maior. Em portugus, cancula o espao de tempo em que essa estrela se encontra em conjuno com o Sol - o perodo de temperaturas mais elevadas no ano. Por extenso, a palavra ganhou o sentido de grande calor. CANTO - CANTO DO CISNE O CANTO DO CISNE O GORJEIO harmonioso do cisne na hora da morte. Por extenso, passou a significar a ltima obra de um artista. Simbolicamente o cisne contm uma forte complexidade. Alguns autores reconhecem nele um hermafroditismo: masculino por seus atos e por seu longo pescoo de carter flico; feminino por seu corpo arredondado e sedoso. Na mitologia grega, o cisne aparece associado a ambos os sexos. Nmesis, a deusa da justia distributiva e da vingana, se metamorfoseou em gansa para fugir das investidas de Zeus. A tolinha achava que com isso enganaria o deus dos deuses. Claro que Zeus, o maior banco de dados da Grcia antiga, registrou a metamorfose da amada e partiu para a sua. Zeus e sua mania de grandeza: em vez de se transformar num

mero ganso, preferiu um congnere, o cisne, por ter um membro maior. * E a, penas para que te quero, Zeus se uniu (sexualmente) a Nmesis. Com isso, e considerada a condio no ovpara dos seres humanos, a bela Nmesis teve que esperar alguns dias para desfazer sua metamorfose. Nmesis, a gansa, ps um ovo, que foi encontrado por um pastor, que o entregou a Leda, mulher de Tndaro, rei de Esparta. Leda guardou o ovo num cesto e dele nasceram dois seres humanos, um de cada sexo: Plux e Helena (isso mesmo, a de Tria). A crena de que os cisnes cantam antes de morrer j era contada por Aristteles na sua "Histria dos Animais": "Eles so musicais e cantam principalmente com a proximidade da morte; a eles voam para o mar. Vrias pessoas, navegando perto da costa da Lbia, casualmente encontraram muitos deles no mar, cantando tristes melodias, e realmente viram alguns deles morrendo." CAPICUA A PALAVRA OU A FRASE que lida da mesma forma da esquerda para a direita ou viceversa tem um lindo nome: palndromo - do grego palndromos (que volta sobre seus passos), formada de plin (em sentido inverso) + drmos (correr; da hipdromo, autdromo...). o caso de palavras como radar, anilina, Natan, Menem e de frases como as seguintes. Amor a Roma. - A base do teto desaba. - A bola da loba. - A cera causa a sua careca. - A droga da gorda. - A grama amarga. - Ame o poema. - Anotaram a data da maratona. - Lao bacana para panaca boal. - Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces. - Socorram-me, subi no nibus em Marrocos. No fique o leitor a torcendo-me o nariz. A frase palindrmica vale mais pela engenhosidade do autor (no fui eu!) do que pela possibilidade do fato enunciado. Afinal de contas, todo o mundo sabe que lobas no tm bolas (no importa o sentido) e que a medicina jamais recomendou como calmante a aplicao de caviar e doces no colo. Esse processo da mesma leitura de l para c e de c para l tambm acontece com os nmeros (202, 1.441, 172.424.271...). Como palndromo s para letras, o nmero que lido da mesma forma em qualquer sentido tem um nome especial: capicua. A palavra se formou de capi (do

latim caput, cabea) + cu + a. A palavra tambm existe no espanhol, capica, que veio do catalo, significando literalmente "cabea e rabo". A ltima data que foi capicua: 20/02/2002. Qual ser a prxima, prezado leitor? Capicua tambm , no domin, a pedra que pode acabar o jogo encaixandose em qualquer das duas pontas. CAPPUCCINO A FORMA EM ITALIANO PARA capuchinho (frade de uma ordem franciscana) e, a partir de 1905, para uma bebida quente feita com caf e leite, servida com canela e creme de chantili. A bebida ficou com esse nome por ter a mesma cor do hbito dos frades capuchinhos. O nome da ordem franciscana derivado de uma parte da sua vestimenta: ocappuccio, capuz (da o portugus capucho), do latim cappa, capuz, tipo de casaco com capuz (da o portugus capa). O italiano cappuccio gerou o francs capuce, que deu no espanhol capuz, origem do portugus capuz. CARAMBA INFELIZMENTE O POVO, independentemente de classe social, vem usando e abusando do palavro. No se trata de puritanismo. O caso que, de tanto ser usado, o palavro vem a cada dia perdendo sua fora expressiva, desgasta-se. Falta pouco para palavro virar palavra. Seu aumentativo diminui a olhos vistos e a ouvidos... ouvidos. preciso lanar urgentemente a campanha "Salvem as baleias e os palavres". Faamos uma bula para o uso do palavro, limitando situaes de uso e definindo a posologia, em prol da preservao da espcie. Palavro no para ser dito a qualquer hora, por qualquer motivo. No. Palavro coisa sria, preciosa. Tem seu momento prprio, exige circunstncia, vale principalmente quando usado como exclamao. Por exemplo, voc est dirigindo seu carro numa estrada deserta, de madrugada, e um pneu fura. Claro, voc no vai dizer: "Ora, ora, mas que falta de sorte, furou um pneu do meu carro". No, essa a hora do palavro. Diga-o com a nfase merecida, mesmo que sua sogra esteja no carro (ou principalmente por isso). Menos pior, alguns palavres sofrem pequenas alteraes para ser expelidos em pblico, sem constrangimento, como "putz", "caraca". Em outros casos, a amenizao do palavro menos explcita, quase oculta. Puxa veio da exclamao espanhola pucha, abrandamento deputa. Ecaramba tambm veio de uma interjeio espanhola, caramba, suavizao de carajo.

CARIOCA Do TUPI KARI"OKA, casa (oka) do homem branco (kari). CASAR O DITO POPULAR "quem casa quer casa" a confirmao da origem da palavra. Casar veio mesmo de casa; constituir casa parte, formar um novo lar. Casa, do latim casa, cabana, tambm onde mora o boto. A histria registra que antigamente os comerciantes tiravam bom proveito do duplo sentido da palavra. Quando queriam assegurar a excelente qualidade de um produto, disfaradamente enfiavam o dedo na casa do casaco ou do colete (era uma poca em que comerciantes usavam casaco ou colete) e exclamavam, convictos, ao potencial comprador: "Arrasada seja esta casa, se eu no falo verdade! ". CSPITE Do ITALIANO CASPITA, uma interjeio que significa "puxa!" e exprime deslumbramento, impacincia, contrariedade. Para alguns etimlogos, cas pita o cruzamento de duas exclamaes: capperi! (originalmente, alcaparras; interjeio equiva lent a "caramba! ") e cospetto di Bacco! (a cara de Baco; interjeio equivalente a "juro!"). Para outros, cas pita uma interjeio suavizadora da palavra cazzo, que aqui fica traduzida como pnis, para no enrubescer a recatada leitora. Como ningum, em circunstncia nenhuma, exclama "pnis! ", o leitor imagine a o sinnimo interjectivo usual. CASSETETE Do FRANCS CASSE-TTE, cuja traduo literal quebra-cabea. Em portugus, cassetete o porrete de madeira ou borracha; quebracabea um problema complicado (que pode ser um monte de pecinhas a encaixar para formar uma figura). O primeiro quebra a cabea por fora; o segundo, por dentro. Em francs, o sentido original de casse-tte (grafado casseteste) foi o de vinho que sobe cabea; depois, sucessivamente: (a) espcie de tacape, (b) trabalho ou jogo que exige aplicao e pacincia (tambm chamado casse-tte chinois, quebra-cabea chins), (c) barulho ensurdecedor. CATAPORA DOTUPI TATA"PORA, deta"ta, fogo + "pora, que irrompe. Tatapora tambm aparece dicionarizada com o mesmo sentido e seria a forma correta, mas o povo ficou com catapora. Cata pora o nome popular da varicela, que veio do francs variceile, formado de vari- (de variole, varola) + a terminao diminutiva -ceile. CAVANHAQUE

O GENERAL FRANCS Louis Eugne Cavaignac (1802-1857) era governador geral da Arglia em 1848, quando se elegeu deputado, voltou a Paris e foi designado ministro da Guerra. No final daque "Ple ano, candidatou-se presidncia e foi derrotado por Lus Napoleo Bonaparte (Napoleo III). Provavelmente os franceses no gostaram da imagem do candidato, que ostentava um solene e lustroso cavanhaque. Perdeu a eleio, mas eternizou-se na palavra - pelo menos em portugus, j que cavaignac no existe no francs atual, que prefere barbiche. O ingls tem uma palavra muito apropriada para cavanhaque: goatee, formada a partir degoat, bode. Antigamente, bigodes, cavanhaques e barbas imprimiam um ar de seriedade aos seus portadores, que, assim, os adotavam especialmente se tinham aspiraes fama ou ao poder. At a posse de Getlio Vargas, o Brasil teve um nico presidente de cara lavada: Arthur Bernardes. CAVAQUINHO VEIO DE CAVACO + a terminao diminutiva -inho. Ou seja, cavaquinho isto: madeirinha. Cavaco (de cava, o ato de cavar + -aco) a lasca que sobra da madeira desbastada. Como o destino do cavaco o cho, formou- se a expresso catar cavaco, que tropear e tentar recuperar o equilbrio seguindo para a frente e quase tocando o cho CDULA CDULA, NA SUA ORIGEM, significa papelzinho. Veio do latim schedula, diminutivo de scheda, folha de papiro. CESARIANA Do FRANCS CSARIENNE. Na Roma antiga, j se nascia com o destino traado. O beb era posto no cho pela parteira e o pai o levantava em manifestao de reconhecimento como filho legtimo. Se o pai no fizesse isso, a criana era deixada na porta da casa ou num monturo pblico disposio de qualquer um. Se a me quisesse ficar com o filho, j era meio caminho andado: salta um futuro escravo romana! Os bebs que nasciam deformados eram abandonados ou afogados, sem nenhum ressentimento, sob a chancela da inteligensia local. Veja s o preceito (i)moral do filsofo Sneca: " preciso separar o que bom do que no pode servir para nada". Plutarco registrou que os pobres abandonavam os filhos "para no v-los corrompidos por uma educao medocre que os torne inaptos dignidade e qualidade". Qualquer argumento servia de desculpa moral para o enjeitamento de um recm-nascido. Logo depois que Nero assassinou sua mame, Agripina, um romano abandonou um beb com um cartaz: "No te crio com

medo de que mates tua me", o equivalente romano para "Remember Agripina". Mas fiquemos com os casos felizes. Ao bem nascer, a menina recebia um nome s, o da sua gens (um grupo de famlias com um antepassado comum): Tlia, Cornlia, Jlia. J o irmozinho da Tlia ganhava trs nomes: (a) o prenome - de segunda mo, j usado por um antepassado (Marco, por exemplo); (b) o nome - que era o da sua gens (com isso j virava Marco Tlio); (c) o sobrenome - o da sua famlia (e ficava Marco Tlio Graco). Depois, devido ao acmulo das homonmias e ausncia do CPF, foi- se agregando um quarto e um quinto nomes. Quando Csar, o famoso imperador assassinado, nasceu em 100 a.C., foi batizado assim: Caio Jlio Csar. O sobrenome da gensJulia - Caesar-j era usado desde 208 a.C., e sua origem imprecisa. Para alguns veio de caesaries, cabeleira (longa e abundante); para outros, de caesus, particpio de caedere, cortar, e a interpretado como "retirado do ventre da me por inciso". Como o Csar que ganhou notoriedade foi o personagem shakespeariano, criou-se a lenda de que a palavra cesariana veio dele, que teria nascido dessa forma. Muito improvvel: a me, Aurlia, viveu muitos anos aps o nascimento do filho. A primeira cesariana documentada (numa mulher viva, claro) foi realizada em 1610. A me? Morreu 25 dias depois. Caesar virou duas coisas: ttulo de imperador romano e salada. A famosa "Caesar salad" tem o nome do seu criador, Caesar Gardini, dono do restaurante Caesar"s Place, em Tijuana, no Mxico. Mais um caso de criatividade movida pela necessidade. A inveno se deu na dcada de 1920, numa noite em que Caesar teve de improvisar uma salada quando apareceram mais clientes do que ele imaginava. CH O IDEOGRAMA CHINS REPRESENTATIVO do nome da bebida ganhou duas formas fonticas: no dialeto mandarim, era pronunciado ch"a; no dialeto Funkien, te. A primeira forma foi a escolhida pelo portugus ch; a segunda foi parar no ingls tea, no espanhol t, no francs th. Depois de, no sculo XVII, levarem a bebida de Macau para a Europa, os portugueses a trouxeram para o Brasil. D. Joo VI, em 1812, mandou cultivar 6.000 mudas no Jardim Botnico, no Rio de Janeiro. Fracasso total. Em 1820 foram feitas novas tentativas de cultivo no centro da cidade de So Paulo, em dois lugares: um onde se acha hoje o Viaduto do Ch, dao nome

chique do lugar; o outro atualmente o Largo do Arouche, onde ficava a chcara do militar e engenheiro paulista Jos Arouche de Toledo Rendon (1756-1834). Arouche fez uma grande plantao de ch na sua propriedade e, entre outras obras, escreveu "A Colheita de Ch". CHANTAGEM O VERBO CHANTER (DO LATIM CANTARE) primeiramente foi usado pelos franceses num contexto litrgico, com os sentidos de "celebrar com cantos" e, depois, por extenso, "glorificar", da chanter victoire, origem do nosso cantar vitria. Posteriormente, chanter ganhou os significados de "dizer, contar" e de "obter consentimento ou confisso", origem da expresso faire chanter quelqu "un (fazer algum permitir ou confessar alguma coisa), ou seja, "obrigar algum a fazer algo contra sua vontade", sentido que veio dar no portugus cantar (algum) e cantada. Com esse ltimo sentido de forar algum a algo, o francs formou, de chanter, a palavra chantage, que originou o portugus chantagem. CHANTILI A HISTRIA MAIS ROMNTICA da origem do creme atribui sua criao ao chef suo Fritz Karl Vatel (1635-1671). Aconteceu num copioso banquete de trs dias, oferecido pelo dono do castelo de Chantili, o prncipe de Cond, para impressionar o rei festeiro Lus XIV e sua gigantesca comitiva. A verso apresentada pelo filme "Vatel", de Roland Joff, revela que, em meio ao frenesi nas cozinhas do castelo, um auxiliar comunica a Vatel: - Mais da metade dos ovos est podre. No vamos conseguir fazer o creme. Vatel joga, numa tigela, um pouco de nata e acar e comea a bater (a mistura, no no auxiliar): - O acar vai subir como se fosse clara de ovo batida. O creme fica timo. Vatel instrui o auxiliar: - Se perguntarem o que isso, diga que uma velha receita da regio. Antes do final da comilana, inconformado com inmeros contratempos e desesperado pelo atraso na entrega de peixes para o jantar, que, assim, estaria arruinado, Vatel se suicida. Pouco depois, chegam os peixes. A festa no pra, a corte se delicia. Chantilly, o nome francs da cidade, veio de Cantilius, um galoromano* que fundou o primeiro povoamento naquela regio. * Mistura de gauls com romano, O feminino de galo-romano no galinha-romana. CIRURGIA Do LATIM CHIRURGLO, que veio do grego kheirourga - formado de kheirs

(mo) + rgon (obra, trabalho) -, que significava tanto trabalho manual quanto operao num paciente. O grego kheirs (mo) tambm aparece na palavra kheiromantea, origem do portugus quiromancia (previso pelas linhas e sinais da mo). Em portugus, o elemento -mancia (do grego mantea, adivinhao) aparece em vrias palavras. Quem estiver pensando em se formar em feitiaria escolha aqui sua especializao; todas se acham dicionarizadas e ainda h muitas outras: - cartomancia: adivinhao por cartas de baralho; - selenomancia: adivinhao pelos movimentos e posies da Lua; - salimancia: adivinhao pela direo e pelas figuras produzidas pelo sal espalhado sobre uma mesa; - rabdomancia: adivinhao por meio de varinha mgica; - aritmomancia: adivinhao por meio de nmeros; - agromancia: adivinhao pelo aspecto dos campos; - oniromancia: adivinhao por meio da interpretao dos sonhos; - tiromancia: adivinhao por meio do queijo. CHEGAR Do LATIM PLICARE, DOBRAR. Na linguagem nutica era comum, entre os romanos, a expresso plicare velam, dobrar a vela, usada principalmente quando a embarcao alcanava seu destino. No latim tardio,plicare j era usado com o sentido de chegar. CHOFER Do FRANCS CHAUFFEUR. Em latim, aquecer era cale facere - formado de calere (estar quente) + facere (fazer, tornar). Da se formou cale factio (o ato de aquecer), que deu no francs calfaction, de onde veio o portugus calefao. Aquele verbo calefacere, no latim popular, se reduziu acalefare que originou, em francs, o verbo chauffer (aquecer) e o nome chauffeur, que era inicialmente quem se ocupava do fogo de uma forja, de um forno, de uma caldeira. Mais tardechauffeur entrou na terminologia ferroviria para designar tanto o foguista como o maquinista das locomotivas a vapor. Depois da locomotiva, veio o automvel sem uma palavra para designar seu condutor, que acabou sendo chamado mesmo de chauffeur, embora ali nada houvesse a aquecer com fogo. Quando chauffeur veio parar no portugus, os puristas da lngua franziram a testa e torceram o nariz (ficaram com uma cara horrvel). Era uma poca em que se condenavam os francesismos, isto , palavras importadas para o nosso vocabulrio diretamente do francs, o idioma da moda. E propuseram, em substituio, o uso de uma palavra verncula que tinha tudo para cair no

esquecimento e caiu: cinesforo, formada decinesis- (do grego khinesis, movimento) + -foro (do latim fero, provoco, causo). Hoje, se voc chamar um motorista de nibus de cinesforo, corre o risco de levar uma cusparada de volta. CLIPE Do INGLS CLIP, QUE A FORMA RESUMIDA de paper (papel) clip (juntar). * A palavra foi aportuguesada, clipe, e tem o plural regular clipes, e no, como alguns pronunciam, clips, que o plural do ingls clip. No sculo XIX, as pessoas usavam um alfinete para manter juntas duas ou mais folhas de papel, muitas vezes involuntariamente adornadas por gotculas de sangue. Videoclipe foi formado de vdeo + o verbo ingls (to) clip com o sentido de cortar, abreviar. Em 1899, o noruegus Johan Vaaler, Convicto de que o sculo no poderia terminar sem um fato impactante para a civilizao, inventou o clipe. Ele patenteou sua criao na Alemanha porque, naquela poca, no havia legislao sobre patentes na Noruega. O clipe de Vaaler tinha uma volta a menos que o atual, com a desvantagem de o final do arame ferir o papel. E da? - questionaram os noruegueses, sem conhecer a verso posterior aprimorada. Era um objeto inventado por um noruegus para a humanidade, um orgulho para o pas. Que outra inveno, alm do bacalhau, a Noruega teria a ostentar perante o mundo? O clipe se transformou num smbolo nacional. Na Segunda Guerra Mundial, as foras nazistas ocupantes proibiram que os noruegueses usassem buttons* com as iniciais de seu rei Haakon VII, que vivia no exlio. Em substituio, e em sinal de protesto pela ocupao, eles passaram a usar um clipe na lapela. Em Oslo, existe um monumento com uma escultura de um clipe de seis metros de altura, em homenagem a Vaaler. * * * Muita gente no Brasil pronuncia bottom em vez de button. Bottom fica mais embaixo, traseiro e todo o mundo usa, no precisa comprar. ** Ainda bem que Vaaler no inventou o preservativo masculino. O clipe ganhou cores, formas, plsticos e um consumo impressionante em todo o planeta. Nos Estados Unidos as vendas chegam hoje a 11 bilhes de unidades por ano. A pelo final da dcada de 1990, Lloyds Bank promoveu uma curiosa pesquisa sobre a utilizao dos clipes pelos norte-americanos, que so fascinados por pesquisas bizarras. Qual o destino final de um clipe? Se voc pensa que evidentemente unir folhas de papel, veja o resultado da pesquisa (colhido num site na Internet, acredite se quiser). De cada 100.000 clipes consumidos nos Estados Unidos:

- 19.143 servem como fichas de pquer; - 17.200 mantm peas de roupa juntas; - 15.556 caem no cho e se perdem; - 14.163 so distraidamente destrudos em conversas telefnicas; - 8.504 so usados para limpar unhas ou cachimbos; - 5.434 viram palitos para cavucar os dentes. O que d um total de 80.000 clipes. Os demais 20.000 tm destinos variados. Ah, sim, quantos so usados para juntar folhas de papel? Apenas cinco! COBRA Do LATIM GOL UBRA. Em sentido figurado, a palavra serve para designar ou uma pessoa que se destaca numa atividade (ele "cobra" em latim) ou uma pessoa falsa (sogras em geral, exceto a minha e a do leitor se estiver em casa lendo este trecho em voz alta). A cobra desde a Antigidade tem essa imagem de animal astucioso e fingido. Tal como aparece, em atuao esplndida, no episdio do pecado original. Parece que a verso inicial era com um macaco oferecendo uma banana para Ado e este perguntando: "E agora o que que eu fao com isso?". Ao imaginar a resposta do macaco, o autor prudentemente trocou o bicho e a fruta. Por falar no pecado original, algumas observaes interessantes. Quem primeiro mordeu a ma foi Eva (sim, foi ela, o clone de Ado) e no Ado, que acabou ficando com a fama de causador do pecado original. Da em diante os homens passaram a ser culpados de tudo e com um pedao da ma entalado na garganta at hoje (o pomo-de-ado), menos como prova do crime, mais como arrependimento imediato. A culpa foi de Eva sim, minha senhora, est na Bblia (Gnese, 3-6): "A mulher viu que a rvore era boa ao apetite e formosa vista e que essa rvore era desejvel para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deuo tambm a seu marido, que com ela estava, e ele comeu ." Comeu o fruto. isso. Desde o incio do mundo elas nos seduzem. Mas, nada a reclamar, a verdade que ns, companheiro, adoramos nosso papel de seduzidos. Outra coisa: quem que disse que o tal fruto era uma ma? Em nenhuma passagem, a Bblia especifica qual era o fruto da formosa rvore. E muitos julgam pouqussimo provvel a existncia de macieiras na presumida regio do jardim do den. Acredita-se que a ma acabou ficando com o papel de fruto proibido em face da confuso entre as palavras latinas malu (mal, infortnio) e mlu (ma), que s se diferenciavam pela acentuao. Eva foi atrada para o fruto proibido pela serpente na conversa, no

convencimento de que, comendo o fruto, ela, como Deus, saberia diferenciar o bem e o mal. Uma serpente que fala, mas Eva no estranha, o que faz sentido j que para a moa tudo era estranho naquele cenrio. O fato de a insidiosa serpente se expressar to articuladamente e induzir ao mal , para muitos, a maior prova de que, na verdade, aquilo no era uma serpente, era o demo em pessoa, ou melhor, em animal. Ado, sem mdico e sem plano de sade, viveu 930 anos.* Com Eva, gerou trs filhos, pela ordem: Caim, Abel e Set. Diz a Bblia que, quando o terceiro filho nasceu, Ado tinha 130 anos. Quer dizer, em 130 anos, Ado e Eva (criados no mesmo dia, o sexto) fizeram trs filhos. Considerando-se a inexistncia de preservativos, a falta do que fazer e o ambiente paradisaco, parece que sexo no era uma das atividades preferidas do casal. * Grande coisa, Matusalm viveu 969. A COBRA EST FUMANDO EM 1943 FOI CONSTITUDAAFEB - Fora Expedicionria Brasileira com o objetivo de lutar na Europa, ao lado dos pases aliados, na Segunda Guerra Mundial. A insgnia da FEB ficou assim: sobre um fundo amarelo, o desenho de uma cobra verde fumando um cachimbo; no alto, em letras brancas sobre um fundo azul: "BRASIL". Pronto, a estavam as cores da bandeira nacional. Tudo isso aparecia dentro de um octaedro com bordas vermelhas - a cor representando a guerra. O desenho foi uma resposta a um reprter do Rio de Janeiro, que disse ser mais fcil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. O rptil chegou at a ser representado pela Disney: uma cobra de capacete, soltando fumaa pelas ventas e disparando dois revlveres. A expresso ficou, ento, com o sentido de "vou botar pra quebrar", "a situao vai ficar preta". COBRAS E LAGARTOS DIZER COBRAS E LAGARTOS DE ALGUM dizer coisas ofensivas a essa pessoa. Cobras a uma forma antiga de copias, que eram versos de escrnio para zombar de algum. Dizer cobras era, ento, satirizar, ridicularizar uma pessoa. Depois, a palavra cobras, que, com esse sentido, passou a ter a forma copias, passou a ser interpretada como o animal pelo uso popular, que acrescentou os lagartos para dar simetria frase e tambm porque, desde a Bblia, cobras e lagartos j andavam juntos. No livro dos Salmos do Antigo Testamento, aparece: "Sobre a spide e o basilisco andars e calcars aos ps o leo e o drago" (salmo XC). spide uma serpente; basilisco, um lagarto. O leo e o drago se separaram porque o segundo assinou contrato de exclusividade de imagem com So Jorge.

COMER Do LATIM COMEDERE, COMER. Em portugus, o verbo ganhou o sentido chulo de possuir algum sexualmente. Vejamos por qu. Vrios estudiosos j apontaram a ligao biolgica entre alimentao e sexualidade, o que j aconteceria desde o incio da vida. Antes do nascimento, o feto se nutre de substncias da me durante toda a gestao. Depois, alimenta-se do seio materno e aqui que entram em cena as idias de um no muito famoso ingls formado em medicina mas dedicado exclusivamente a estudos sobre o comportamento sexual humano. Havelock Ellis (1859-1939) escreveu uma obra de sete volumes chamada "Estudos sobre a psicologia do sexo". O primeiro volume, publicado em 1897, enrubesceu e revoltou o pblico vitoriano de tal forma que foi levado a julgamento e fulminado pela sentena do juiz, que qualificou o livro como "uma fico, engendrada com o propsito de vender uma publicao asquerosa". Os outros volumes foram publicados nos Estados Unidos e, at 1935, s se achavam disposio da comunidade mdica. Uma das teorias de Ellis a associao da amamentao com o ato sexual: mama inchada corresponde ao pnis em ereo; a boca vida e mida da criana corresponde vagina palpitante e mida; o leite, vital e albuminoso, representa o smen, igualmente vital e albuminoso. A satisfao mtua, completa, fsica e psquica da me e da criana, pela passagem de uma para a outra de um lquido orgnico e precioso, uma analogia fisiolgica verdadeira com a relao entre um homem e uma mulher no ponto culminante do ato sexual." As idias de Ellis contriburam para maior abertura na discusso de assuntos sexuais, mas, na poca, sua obra no teve grande repercusso porque o mundo andava mais encantado com as teses de um austraco contemporneo seu: Sigmund Freud. Levando Ellis e Freud dos homens para os animais: em algumas espcies, a fmea devora o macho aps a relao sexual - o caso da borboleta, da viva-negra, da abelha rainha. Vingana ou apetite post coitum?" Essa ligao entre sexualidade e alimentao explica o duplo sentido do verbo comer: alimentarse e possuir algum sexualmente. "A amante perfeita aquela que se transforma numa pizza s quatro da manh." (Charles Pierce) COMER GATO POR LEBRE Fantasias de donzelas,

No h quem como eu as quebre; Porque certo cuidam elas Que com palavrinhas belas Vos vendem gato por lebre. Anfatries, 1587) COMO SE V, O DITADO ANTIGO. Significa receber algo de qualidade inferior da coisa pretendida. Mas parece que nem tanto no caso. Quem j comeu carne de gato jura ser mais saborosa que a da lebre: mais macia e absorve melhor os temperos. Por isso, o ludibriado aceita o gato pela lebre e ainda lambe os beios. H vrios registros histricos de cercos militares a grandes cidades, quando os soldados sitiados comiam carne de gato na falta de outra melhor. S que a moda no pegou, e o gato jamais teve vez no