Regional Batalha Das Letras Os Jornais a Paz e a Voz Da Serra Na Disputa Entre Populistas e Liberais...
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FACULDADE DE FILOSOFIA SANTA DOROTÉIA
Batalha das letras: os jornais A Paz e A Voz da Serra na disputa
entre populistas e liberais em Nova Friburgo (1945-1954).
Projeto de pesquisa
apresentado à disciplina História
Regional, da Faculdade de
Filosofia Santa Dorotéia.
Pablo dos Santos Silva
Nova Friburgo, novembro de 2012
ÍNDICE:
Título 2
Delimitação do tema e justificativa 2
Objetivos 6
Hipótese 7
Quadro teórico 8
Bibliografia consultada 9
I – TÍTULO:
Batalha das letras: os jornais na disputa entre populistas e liberais em Nova
Friburgo (1945-1954).
II – DELIMITAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA:
Os jornais sempre foram porta-vozes de alguma ideologia ou grupo interessado
em manter suas posições. Como a forma escrita foi durante muito tempo a comunicação
de massas por excelência, grupos políticos, associados ou não a grupos econômicos,
foram os principais mantenedores de jornais, impregnando nas notícias e anúncios duas
posições e tendências, confraternizando ora com o estado de coisas, ora com o
pensamento alternativo. Através da tentativa de construir uma hegemonia que um jornal
investe, o trabalho de pesquisa em jornais como fonte primária se mostrou ao longo dos
anos um meio muito eficaz de se entender alguns processos históricos. A formação da
opinião pública e sua disputa em momentos importantes, tais como declarações de
guerra, implantação de governos revolucionários, eleições, etc, são momentos em que a
mídia impressa formulou pensamentos à direita e à esquerda, tomando e domando
opiniões.
Em Nova Friburgo, a imprensa escrita tem 120 anos. O primeiro periódico
lançado ainda na Vila de Nova Friburgo, foi O Friburguense, em 1881, de direção de
Major Candido Matheus Pardal Junior, mais famoso por Candido Pardal. De lá pra cá,
mais de 90 jornais forma lançados, com tiragens variáveis e tempo de circulação
relativos a importância do periódico1. Os que circularam mais tempo e são os jornais de
interesse da pesquisa, é o jornal A Paz, de fundação de Galdino do Valle Filho, em 06
de dezembro de 1906; e A Voz da Serra, cujos primeiros proprietários foram Américo
Ventura Filho, Jose Côrtes Coutinho (diretor), Dante Laginestra, Messias de Moraes
Teixeira, Juvenal Marques (gerente), Carlos Côrtes. Os dois jornais travaram boas
polêmicas, abrigando adversários políticos em suas hostes.
A partir de 1945, com o surgimento do A Voz da Serra, o quadro de disputa
entre os populistas e os liberais fica firmado e esta disputa será analisada até o suicídio
1 CORRÊA, Maria Janaína Botelho. Histórias e Memórias de Nova Friburgo. Rio de Janeiro, Educam, 2011, pp. 17-24.
2
de Vargas, quanto há um baque no populismo, não no seu encerramento, mas quando
esta forma política será debilitada pela morte de seu grande nome.
O jornal A Paz teve início quando Galdino do Valle Filho adquiriu junto à
Menezes Wanderley o diário Correio Popular. No período de dois anos deixou de
circular, 1918 e 1919, voltando à ativa em 1920. Galdino do Valle Filho foi um
importante político, e nas palavras de COSTA “, foi, em grande parte, nos idos de 1910
e 1920, determinante no processo de construção da hegemonia liberal burguesa em
Nova Friburgo”2. De posição legalista no período revolucionário de 1930, Galdino,
deputado situacionista, apoiando o presidente Washington Luis, liderou a “legião
patriótica” de Nova Friburgo contra os avanços dos revolucionários. Com a vitória da
revolução, Galdino se exilaria em Portugal3. Nessas circunstâncias, A Paz deixa de
circular em 1930, voltando à impressão em fins de 1936. Seus principais diretores após
Galdino foram: João Aguilera Campos (1952); Câmara Barreto (1976) e Amado
Rodrigues (1982), este seu último diretor.
O jornal A Voz da Serra foi fundado para representar os anseios dos
correligionários do PSD, legenda fundada por Vargas, que tinham em vista participar
do debate político via mídia em Nova Friburgo. Desde seu primeiro número, A Voz da
Serra mostrou sua verve getulista, como atesta sua manchete: “Com o General Gaspar
Dutra, disciplinados, unidos e coesos marcharemos para a Vitória, levando de vencida
todos os óbices que surgirem nas sendas que trilhamos” 4. Podemos ver o caráter
extremamente partidário já em seu primeiro número. A linha editorial de A Voz da
Serra seria mestra em apoiar Getúlio e todo o seu quadro política, nas esferas federal,
estadual e municipal.
Nas eleições subseqüentes a fundação de A Voz da Serra, o embate entre
liberais conservadores e populistas povoariam as páginas dos jornais, e a defesa
assumida era estrita. No mesmo número inicial de A Voz da Serra, uma crítica clara ao
político Galdino do Valle Filho:
A política em Friburgo não se mistura. É água e azeite, dois elementos que a química não conseguiu ainda combinar.
2 COSTA, Ricardo da Gama Rosa. Visões do “Paraíso” Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo da República. Dissertação de Mestrado, UFF, 1997. p 12.3 Idem. p 63.4 Jornal A Voz da Serra, 07, de abril de 1945.
3
De um lado, o chamado Galdinismo, corrente oposicionista, chefiada pelo velho político fluminense, Dr. Galdino do Valle Filho, médico de alto conceito, mas um inábil político, apesar da idade.
De outro lado, os elementos que pertenceram sempre, há mais de 30 anos, à corrente política do grande Nilo Peçanha e aqui chefiada por Ernesto Brasílio, Coronel Galiano das Neves, Alberto Braune, Comte Bittencourt e Sílvio Rangel, cujos exemplos de civismo foram a bandeira sob a qual nos acolhemos. 5
Entretanto, mesmo com a avalanche pessedista, Galdino ainda era extremamente
presente na atmosfera política de Nova Friburgo, e a UDN elegeu o prefeito César
Guinle, cujo mandato durou de 1947 à 1951. A Câmara também esteve nas mãos dos
udenistas, e a conta total do pleito foi: 5.882 votos a César Guinle, contra 3.073 a
Carlos Braune e 1.240 a Henrique Leal. A UDN fez 9 vereadores, contra 4 do PSD, 1
do PTB e 1 do PSP, legenda esta que abrigou os comunistas, cassados pelo Governo
Dutra.6
Já nos anos 1950, os populistas provariam o gostinho do poder. Em eleições
realizadas em 03 de outubro de 1950, José Eugenio Muller é eleito prefeito, sob a
legenda do PSD, e seu nome foi assimilado ao de Getúlio Vargas, que seria eleito
presidente do Brasil em pleito no mesmo ano.
Segundo cita COSTA, quando do suicídio de Vargas em agosto de 1954, “logo
após o anúncio do ocorrido, foi montada uma carreata e o PSD cedeu
seus alto-falantes. Além de passeatas contando com a presença de
centenas de operários, a reação popular ao episódio chegou a provocar
a queima de faixas de propaganda dos candidatos udenistas, que,
através do jornal A Paz reagiram, chamando os manifestantes de
“moleques que vivem nos fundos dos botequins, crápulas, sem
nenhuma moral, aproveitadores alguns, inveterados alcoólatras outros,
e falsos amigos do Presidente extinto”. 7
A disputa era política, via mídia impressa, mas o projeto de pesquisa que segue
pretende descobrir, além de desvelar as relações conflituosas entre populistas e liberais
nas páginas dos seus jornais, como eram feitas correlações políticas nas linhas editoriais
5 Idem. p. 3.6 Cf. Livros de Atas da Câmara Municipal de Nova Friburgo referentes à Legislatura de 1947/50.7 COSTA. Ricardo da Gama Rosa. op. cit., p 123.
4
dos periódicos, encontrar as proximidades de distâncias nos projetos políticos
defendidos.
5
III – OBJETIVOS:
Analisar a formação política de Nova Friburgo, principalmente os
grupos populistas e liberais;
Verificar como da formação política se redundou a fundação dos
jornais partidários;
Investigar através dos exemplares de cada jornal, A Paz e A Voz
da Serra, as principais disputas, sejam políticas ou com
finalidades econômicas para a cidade;
Identificar quais foram os saldos da disputa pela hegemonia
midiática em Nova Friburgo.
6
IV – HIPÓTESE:
A política de Nova Friburgo foi formulada em bases políticas
conservadoras, onde mesmo os grupos que reivindicavam para si a pecha de
liberal na prática poderiam ser considerados liberal-conservadores. É intenção
provar que pelas páginas dos jornais travavam-se brigas e intrigas políticas que
correspondiam ao panorama político em esferas diferentes, federal, estadual, e
que a população ficou entre a cruz e a espada em diversos momentos dado a
intervenção midiática na política. O material jornalístico da época elucida
questões como a participação popular em manifestações e participação em
pleitos.
7
IV – QUADRO TEÓRICO:
Para o desenvolvimento do estudo, serão utilizados conceitos teóricos diversos
que buscam caracterizar a linha de pesquisa priorizada.
Em GRAMSCI, o conceito de partido, o “moderno Príncipe” (GRAMSCI,
1991), mas a principal diferença é que não seria a organização da sociedade feita por
um indivíduo, e sem pelo coletivo. “(...) o partido político (...) é precisamente o
mecanismo que realiza na sociedade civil a mesma função desempenhada pelo Estado,
de modo mais vasto e mais sintético, na sociedade política” (GRAMSCI, 2001, vol. 2,
p. 24). Os intelectuais, para GRAMSCI deveriam ser orgânicos, seriam os
organizadores do partido revolucionário, e “Por isso seria possível dizer que todos os
homens são intelectuais, mas nem todos os homens têm na sociedade a função de
intelectuais” (GRAMSCI, 2001, vol. 2, p. 18)
Em BENEVIDES, o conceito a se assimilado na pesquisa é o de liberalismo-
conservador, que foi a tônica da política empreendida pela UDN, gerando um cognome,
o udenismo.
“A defesa do livre jogo de economia de mercado e
da propriedade privada, somada à concepção clássica do
liberalismo dos direitos individuais - estas, as constantes
do liberalismo udenista - não corresponde, como se sabe,
à democratização da sociedade. (...) O liberalismo
udenista permanece, sem dúvida, marcado por um
profundo elitismo. Um dos aspectos mais interessantes
desse elitismo se refere à crença inabalável na presciência
das elites. O corolário dessa tese se enraiza na convicção
de que o povo jamais será politicamente responsável; no
máximo poderá ser 'politicamente educado' ou 'guiado'.8
8 , Maria Victoria - A UDN e o Udenismo, RJ, Paz e Terra, 1981, pp. 245/252
8
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
LIVROS:
ABREU, Alzira Alves de et al. A Imprensa em Transição: o jornalismo
brasileiro nos anos 50. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996
ARAUJO, João Raimundo e MAYER, Jorge Miguel. Teia Serrana: formação
histórica de Nova Friburgo. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 2003
BENEVIDES, Maria Victoria. A UDN e o Udenismo, Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1981
BROWN, R.J., The First Ten Newspapers in America, Newspaper Collectors
Society of America, History Buff, 1994
CASTRO, Elizabeth Vieralves. Nova Friburgo: Medicina, Poder Político e
História (1947-1977). Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Departamento de
História da UERJ, 2001
CORREIA, Maria Janaína Botelho. O Cotidiano de Nova Friburgo no final do
século XIX: Práticas e Representação social. Rio de Janeiro, Educam, 2008
COSTA, Ricardo da Gama Rosa. Visões do “Paraíso Capitalista”: Hegemonia e
Poder Simbólico na Nova Friburgo da República. Niterói, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, 1997
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. PTB - do Getulismo ao Reformismo -
1945/1964, São Paulo, Marco Zero, 1989
GOMES, Ângela Maria de Castro. A Invenção do Trabalhismo, Rio de Janeiro,
IUPERJ/Vértice, 1988
9
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere – Volume 2, Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1999.
__________________. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.
__________________. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1991.
ARTIGOS
SIQUEIRA, Carla. O sensacional, o popular e o populismo nos jornais Última
Hora, O Dia e Luta Democrática no segundo governo Vargas (1951-1954). Trabalho
apresentado no XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – BH/MG –
2003
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