Reflexões Sobre Algumas Contradições Da Educação Física No Âmbito Da Escola

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  • 7/25/2019 Reflexes Sobre Algumas Contradies Da Educao Fsica No mbito Da Escola

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    I. INTRODUO

    ste ensaio, em primeiro lugar, uma satisfao social epblica do compromissopoltico, educacional ecultural do mestrado em

    educao Fsicada Universidade Gama Filho e, em segundolugar, uma sntese do conjunto integrado deestudos, elaborados ao longo do meu processode atuao profissional e de formaoacadmica. O contedo desta apresentao seinsere no mbito de duas linhas de pesquisadenominadas "Ensino do MovimentoHumano" e "Polticas Pblicas e InovaesInstitucionais em Educao Fsica", cujafinalidade a proposio de diretrizes terico-prticas que fundamentem o ensino-aprendizagem da educao fsica, no contextodo sistema educacional e, mais especi-ficamente, na escola pblica brasileira.

    Um dos interesses e uma das im-portncias das referidas linhas de pesquisadevem-se ao estatuto de componentecurricular obrigatrio que a educao fsicaefetivamente adquiriu atravs da Lei n 5.692/71 e da sua imediata sistematizao,estabelecida pelo Decreto Federal n 69.450/

    71. Todavia, a gnese desencadeadora desseprocesso, envolvendo as argumentaes eproposies legais em prol da incluso econsolidao da educao fsica na instituioescolar, data do sculo passado e, maisenfaticamente, a partir do conjunto de inter-venes feitas por Rui Barbosa. Desde ento,diferentes pressupostos, muitas vezes con-traditrios e antagnicos, tm sido defendidose veiculados atravs do discurso e da prticapedaggica dos profissionais e estudiososdessa atividade social. Assim, a educaofsica vem sendo encarada como umcomponente curricular obrigatrio e, possi-velmente, continuar recebendo esse respaldolegal na nova Lei de Diretrizes e Bases daEducao Nacional ora em tramitao noCongresso Nacional, o que impe aos pes-quisadores e profissionais ligados rea a

    responsabilidade e o desafio de justificar, nombito da prtica pedaggica, seus valoreseducacionais e sociais.

    II. PROBLEMATIZAO

    As manifestaes no campo dodiscurso e das aes trazem em seu bojo,explcita ou implicitamente, concepes evalores que podem ou no ser hegemnicos,refletindo, reafirmando ou se contrapondo sdeterminaes do contexto poltico, eco-nmico e social da poca. Portanto, asargumentaes histricas em defesa da in-sero da educao fsica no contexto do

    processo de educao escolar no podem seranalisadas e julgadas sem considerar omomento poltico-social em que elas emer-gem. Em cada momento de redefinio daordem vigente ou, especificamente, dos pres-supostos educacionais, "novas" concepesso formuladas, veiculando um conjunto deoutros valores que a justifiquem, mas sem,necessariamente, fazer desaparecer as antigaselaboraes enraizadas no plano do discurso eda prtica social, bem como impedir osurgimento de outras teses de contraposio aessas "novas" concepes.

    Desde ento os adeptos da impor-tncia da educao fsica para o processo deformao global do homem vm travandouma luta histrica que, at a dcada desetenta, se dava no sentido de introduzir efazer cumprir de fato a obrigatoriedade dessaatividade no mbito escolar. J, a partir dessapoca, a luta passou a se dar no sentido demanter o "status" efetivamente adquirido de

    disciplina curricular, reivindicando-se,inclusive, o mesmo tratamento daquelasdisciplinas tradicionalmente consolidadas (ouseja, a Matemtica, o Portugus, as Cincias,etc), sem se discutir, no entanto, a questo dasua legitimidade. Esse quadro retrata, emalguma medida, a tradio das sociedades quese sustentam no postulado da normatizaolegal (via de regra so regimes autoritrios).Essa uma caracterstica tradicional dasociedade brasileira em que a prticalegislativa tem sido

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    "As lutas

    histricas, nosentido deincluir a

    EducaoFsicano contexto da

    escola, sederam

    privilegiando ocarter dainstitucio-

    nalizao ou dalegalidade, emdetrimento daconstruoda

    consolidao deelaboraes

    terico-prticasque a

    justificassepedaggica-

    mente"

    criticada pela sua dimenso irrealstica eantecipadora, na medida em que as leis sosancionadas sem que haja condies favor-veis de implantao e exeqibilidade. Por-tanto, tenta-se constituir o real a partir dasimposies legais; e no campo pedaggico,formulam-se as teorias para serem impostas

    no mbito da prtica.

    Desta forma, podemos inferir que aslutas histricas, no sentido de incluir aeducao fsica no contexto da escola, sederam privilegiando o carter da insti-tucionalizao ou da legalidade, em detrimen-to da construo da consolidao de elabo-raes terico-prticas que a justificassepedagogicamente. Isso no significa que notenha havido preocupaes com a dimensosocial e pedaggica da educao fsica.

    As teses e fundamentos da educa-o, assim como as da educao fsica,sempre estiveram inseridas na tradio dacultura ocidental e, mais especificamente, nacultura grega que continua sendo uma grandemetfora para a educao. A sociedadecapitalista, ao defender a institucionalizaoda educao, tinha que elaborar um projetopedaggico para a sua operacionalizao.Nesse sentido, recorreu-se tradio grega de

    que a formao do corpo, da alma e da menteeram condies de libertao e purificao dohomem. Esse esprito, aliado scircunstncias do momento histrico-culturalbrasileiro do sculo passado, consu-bstanciaram as justificativas sociais dos edu-cadores e dos higienistas para inserir aeducao fsica na escola brasileira. Todavia,evidencia-se, a partir desse referencial deanlise, maior preocupao inicial com adimenso da legalidade, de fazer acontecer ede justificao ideolgica, em detrimento dalegitimidade.

    Esse um dos desafios atuais, namedida em que at hoje as proposiespedaggicas ainda no deram conta dalegitimizao da educao fsica no mbitoescolar. Essas proposies tm se dado pormecanismos de imposio cultural atravs

    da aplicao de modelos estrangeiros ou dealternativas oriundas de instituies externas natureza da escola (ou seja, a instituiomdica, com a biologizao e higienizao daeducao Fsica; a instituio militar, com amilitarizao da educao fsica; e asinstituies desportivas, com a

    desportivizao da educao fsica).

    Em suma, possvel afirmar que,atualmente, um dos problemas que desafiamos profissionais afetos a essa rea aredefinio da identidade da educao fsicaescolar, onde a relao objetivo-contedo-forma signifique a busca de um conhecimentoassociado prtica cultural que possacontribuir para a consecuo das finalidadesda instituio escolar. Esse desafio implica

    em superara-a histrica subordinao daidentidade da educao fsica escolar stendncias, aos valores, aos cdigos e sorientaes conceituais e metodolgicas quetm sido forjadas a partir de qualquer insti-tuio externa escola (Bracht, 1991).

    Uma das possveis implicaes doproblema at aqui caracterizado a crescentetendncia dos indivduos (inclusive deescolares) buscarem outros espaos para aprtica de atividades fsicas, reguladas pelosprincpios da ludicidade, da autonomia e doprazer, em detrimento daqueles regulados porinteresses corporativistas, instrucionais einstitucionais estranhos vontade do prati-cante. Comea, portanto, a fazer coro umgrupo emergente de intelectuais defensores datese da "desescolarizao" da educao fsica.

    Esses autores entendem que os es-paos institucionalizados, regidos por regrasque definem as possibilidades e limites de

    atuao dos grupos sociais, cerceiam a auto-nomia dos indivduos, delimitam suas possi-bilidades criativas e, possivelmente, seus in-teresses e necessidades ldicas e de prazer.Fundamentados no paradigma do lazer, oreferido grupo de estudiosos argumenta queessa perspectiva passa necessariamente peladesinstitucionalizao da educao fsica.

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    Ao lado disso, a criao e a desco-berta de outros espaos tais como os parques,praias, clubes, academias, hotis econdomnios, que viabilizam a prtica dasatividades corporais alm de se mostraremalternativos, parece tambm estar contribu-indo para as manifestaes no sentido da

    "desescolarizao" da educao fsica.

    Certamente no existem evidnciasde que a escola esteja querendo competir comesses locais socialmente constitudos. Oprprio espao escolar, salvo em raros pasesdesenvolvidos, no d conta do universo depossibilidades existentes para a prtica dasatividades corporais, assim como os espaosditos no-formais tambm no o do (querpelo imaginrio da hierarquizao social, quer

    pelos tipos de possibilidades que elesoferecem, dentre outros aspectos).

    Um aspecto que tambm merececonsiderao que no parece ser prudente auniversalizao da tendncia da "deses-colarizao". possvel que esta se d emdeterminadas sociedades que j usufruam deuma maior estabilidade poltica, econmica esocial, onde os indivduos disponham decondies materiais que lhe asseguram oacesso a clubes, academias, hotis, condo-

    mnios, etc. Numa sociedade de terceiromundo, a democratizao de oportunidades scamadas populares demasiadamentelimitada. Nessas sociedades os prprios es-paos ditos pblicos deixam transparecer umaespcie de seletividade social, atravs dasdiferenciaes em relao localizao, infra-estrutura, ao tipo de manuteno, sopes de prticas em funo das instalaesexistentes, dentre outros fatores.

    A questo no , portanto, a doespao, mas da concepo norteadora dessaprtica e da forma como ela vem sendotrabalhada no plano da finalidade, dametodologia, da relao professor-aluno.Parece bvio que ela tenha que se realizar emalgum lugar, seja pblico ou privado. Oshomens esto culturalmente condicionados acriarem, formal ou informalmente, consci-entes ou no intencionalmente, suas regras

    de convivncia. Sendo assim, a "desesco-larizao" por si s no assegura a ruptura esuperao do atual quadro conceituai

    caracterizador da educao fsica, ou seja, ada desportivizao e suas caractersticaspedaggicas reguladoras. Mesmo porque soos meios de comunicao de massa que tmexercido o maior poder de disseminao esustentao dessa perspectiva, com reflexosmarcantes na prtica social, inde-pendentemente do local em que ela se d.Esse argumento pode relativizar a tendnciaanunciada e defendida pelos defensores dasteses de "desescolarizao" da educaofsica.

    O que parece importante ressaltar que uma parcela de intelectuais, envolvidoscom as questes afetas educao fsicaescolar, tm procurado legitim-la no mbitoda educao escolarizada, igualando-a asdemais disciplinas curriculares, em vez deredefinir seu sentido e sua especificidade

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    "Os homensesto

    culturalmentecondicionados

    a criarem,formal ou

    informalmente,conscientes ouno

    intencional-mente, suas

    regras deconvivncia.

    Sendo assim, adesescola-

    rizaopor sis no

    assegura a

    ruptura esuperao doatual quadro

    conceituaicaracterizador

    daEducaoFsica, ou seja,

    a dadesportivizao

    e suascaractersticas

    pedaggicasreguladoras".

    pedaggica sem perder de vista, no entanto,seu inter-relacionamento com as finalidadesda educao. Assim, a escola, entendida como"locus" poltico-social de promoo edivulgao dos conhecimentos culturaispercebidos e construdos historicamente -nosentido de instrumentalizar e sensibilizar osindivduos para agirem criticamente nomundo do trabalho e na construo dasociedade democrtica - deve tambm ser umespao privilegiado para a prtica dasatividades corporais.

    H que se considerar que numasociedade caracterizada pelas desigualdadeseconmicas e sociais - que influenciam nosdiferentes graus e possibilidades de acesso dasua populao aos bens culturais e materiais -

    a escola (com todos os seuscondicionamentos ideolgicos e as suas con-tradies) um dos nicos espaos em que asclasses sociais menos favorecidas tm aoportunidade de vivenciar e refletir sobre acultura das prticas corporais. Alm desseaspecto, deve-se, ainda, considerar que aescola, por ser uma instituio social que todoindivduo constitucionalmente tem quefreqentar na fase de construo da suapersonalidade, um espao que no deve enem pode ser desprezado para a reflexo e aprtica da educao fsica.

    Partindo do pressuposto de que asituao-problema afeto educao fsica no a do espao institucional em que ela se d,ento os desafios voltam-se para aidentificao e anlise crtica das concepesautodefinidas de alternativas, questionando-se, ainda, a partir de que problemas concretoselas esto sendo elaboradas e se justificam, eque referencial didtico-pedaggico viabiliza

    a sntese teoria-prtica. Necessrios tambmpassam a ser os mecanismos de reeducaodo educador.

    No acredito nas possibilidades deuma aprendizagem "espontanesta" e auto-motivada. A dinmica da prtica social construda pelo conjunto das intervenes doshomens que, em funo dos interesses da suaclasse social, procuram criar mecanis-

    mos de ao que implicam valores, orienta-es, cdigos e semnticas que podem se darno sentido da manuteno, modernizao outransformao cultural. Dessa maneira, osvalores veiculados pelas instituies, pelosmeios de comunicao de massa, pelosencontros informais e por qualquer outrainstncia de comunicao humana seconstituem num conjunto intencional ou no,organizado ou no, de orientaes e opiniesque podem provocar algum tipo de reao nossujeitos interlocutores. Portanto, astransformaes dos sentidos conferidos aosvalores e princpios implcitos e explcitos nacultura corporal e nas prticas corporais(ginstica, esporte, dana, artes, recreao,etc) pressupem um tipo de intervenofilosoficamente definida e metodo-

    logicamente coerente, numa perspectiva dedemocratizao da sociedade, ou seja, dasuperao do modo de produo capitalista,da diviso da sociedade em classes, da divisosocial do trabalho, da competitividadediscriminatria, da exacerbao do individu-alismo, etc.

    Acrescente-se o fato, nesse contextode problematizao, que os estudiosos eprofissionais de educao fsica escolar quedefendem os pressupostos de uma perspectivaautodenominada de dialtica ou histrico-crtica de educao, pouco contriburam nosentido de elaboraes didtico-pedaggicasde modo a subsidiarem a ao pedaggica doprofessor. A intelectualidade da educaofsica ligada, de certa forma, ao pensamentode "esquerda brasileiro, parece no ter sadoainda do mbito das malhas do horizonteterico forjado pelas classes dominantes namodernidade" (Ghiraldelli Jr., 1990. p.2),correndo-se o risco dessas elaboraes, em

    contradio, perderem o seu sentido crtico-superador.

    No se pode negar, na esfera par-ticular, a importncia dos intelectuais crticosno processo de desvelamento das relaesobjetivas e subjetivas entre a funo social daescola e a sociedade. Todavia, essasprodues no tm escapado ao pessimismosocial e incapacidade de supera-

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    o do hiato ou do "paralelismo" entre a aoe a conjuntura, minando, em muitos casos, asesperanas e as estratgias emancipatrias.Impe-se a necessidade de superar o estgiode crtica dos mecanismos de reproduosocial e cultural para que se possa almejar oestgio de produo social e cultural, com

    vistas a se criar as condies necessrias paraque, juntos com os segmentos populares dasociedade, possam desenvolver instituies,valores e prticas que sirvam a seus interessesde emancipao e liberdade.

    Diante desse contexto de proble-matizao, o objetivo dos estudos desenvol-vidos pelo coletivo de professores, alunos eex-alunos do Mestrado em Educao Fsicada Universidade Gama Filho tem se dado nosentido de elaborar uma proposta didtico-pedaggica para a educao fsica no con-texto escolar, a partir da vivncia e da anliseda realidade dessa prtica no contexto daescola pblica do Rio de Janeiro, bem comodo conjunto de elaboraes tericas que temhistoricamente influenciado a prtica peda-ggica em nosso Estado.

    compreenso e aceitao profissional comodisciplina curricular, e assumir sua real ca-racterstica de atividade curricular de dimen-so cultural, em detrimento de querer serinstrucional. O "status" de disciplina curricularimplica numa srie de condicionamentosformais culturalmente determinados que no

    fazem parte da natureza cultural da educaofsica, ou seja: um corpo de conhecimentodefinido que lhe confira uma relativaautonomia e identidade; objetivos norteadospor padres de desempenho; contedosinstrucionais hierarquizados; metodologiascentradas na instruo; medidas e avaliaesreferenciadas por critrios pr-definidosunilateralmente, dentre outras caractersticasque contrariam a natureza das atividadescorporais, quais sejam, a ludicidade, oagonismo, a expressividade, a solidariedade, asocializao ...

    No desdobramento dessa reflexo,

    Temos procurado apontar possveiscaminhos na direo de uma prticapedaggica da educao fsica, fundamentada

    no princpio da mediao crtica entre teoria eprtica, julgada coerente com a funoessencial da escola unitria. Temos tomadocomo ponto de partida a realidadecontraditria do ensino da educao fsicaescolar, para ento desenvolver uma reflexosobre o "porqu", "para qu" e "como" essaprtica social pode ser considerada edesenvolvida, sendo fator de resistncia econtraposio ativa ante os sentidos dados aosvalores que sustentam a diviso da sociedadeem classes sociais (a diviso social dotrabalho, o individualismo egocntrico, acompetividade antitica, a injustia, a intole-rncia, o autoritarismo, dentre outros aspec-tos).

    Para tal, a educao fsica precisa selibertar dos condicionamentos formais que lheso artificialmente impostos pela sua

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    acredita-se, inicialmente, ser necessrio terclareza do significado e da funo social daeducao fsica escolar no processo de soci-alizao do educando e, no caso da sociedadebrasileira, que deva estar inserida no conjuntoorgnico de luta, construo e consolidaode uma escola democrtica, em cuja direoprocura avanar, no obstante as condiesobjetivas da realidade ainda serem adversas.Torna-se ainda necessrio a discusso acercadas "novas" questes tericas e histricas dofazer educativo, inseridas no contexto dascontradies da sociedade em que se encontraa escola.

    III. CONSIDERAES FINAIS _____________

    A ttulo de concluso, no podemosnos eximir da responsabilidade de anunciar aselaboraes didtico-pedaggicas que

    julgamos ser coerentes com os pressupostoshistrico-crticos da educao.

    Os professores que advogam e agem em proldessa tese reconhecem que a escola tambm um espao de luta, junto com as outrasinstituies sociais, para o processo deconscientizao das classes populares,visando a superao do modo de produocapitalista.

    A educao fsica escolar est sendoencarada, neste ensaio, como uma ativi-dadecurricular que trata, pedagogicamente, dareflexo e da prtica de conhecimentos ehabilidades do que estamos denominando decultura corporal. Esta se configura atravs detemas ou formas de atividades particular-mente corporais, tais como: os jogos recre-ativos e esportivos; a ginstica; a dana; asmanifestaes folclricas, dentre outras queconstituem seu contedo.

    Nessa concepo poltico-pedag-gica, o objetico geral da educao fsica

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    escolar o de desenvolver uma posturacrtica frente s determinaes histricas dacultura corporal, na perspectiva de umaprtica intencional na dimenso do ldico,dos processos scio-comunicativos, doagonismo e da sade.

    Os planejamentos de ensino devemser abertos s experincias culturais dasatividades corporais, orientados por um pro-cesso de co-deciso e tendo, como critrio demediao, a realidade histrico-cultural, asexperincias dos alunos e a competnciapoltico-pedaggica do professor. No sepode racionalizar tempo, objetivos e conte-dos. O planejamento tem que se nortear pelascircunstncias e pela dinmica da aulas de

    forma processual.Os objetivos de ensino devem ex-

    pressar a ao dos alunos em funo datematizao da aula ou conjunto de aulas,enquanto que as diferentes manifestaes dacultura corporal, em coerncia com o estgiode desenvolvimento do aluno, se constituemna fonte de seleo dos contedos de ensino.

    A soluo dos problemas, funda-mentada nos pressupostos do pensamento

    divergente e criativo, deve ser privilegiadaem termos de metodologia de ensino, crian-do-se um ambiente aberto s experincias dereflexo e movimento. imperioso superar acrena de que o critrio de excelncia de umaaula de educao fsica escolar seja fornecidopelo tempo dispendido com as atividadesprticas, pela alegria exteriorizada pelosalunos e pelo nvel de harmonia e aceitaodos alunos. Uma aula implica em conflitosinerentes a qualquer forma de interao

    social. A resoluo de problemas implica emconflitos, insatisfaes, resistncias eimpasses que, por sua vez, necessitam sersuperados pela interveno acadmica esocial do professor.

    Pelas relevantes razes j argu-mentadas, temos que superar a funosomativa da avaliao em educao fsica, ouseja, qualquer tipo de avaliao cujo

    objetivo seja conferir notas visando a apro-vao ou reprovao dos alunos. Os conhe-cimentos e habilidades da educao fsica notm carter instrucional, mas apenas cultural.A valorizao da educao fsica no passapelo nosso poder de aprovar ou reprovar, mas,

    necessariamente, pela legitimidade e pelacompetncia. O conceito de cidadania noestar comprometido ou ser favorecido se oindivduo souber ou no jogar voleibol oucorrer mais rpido. Dessa forma, cria-se umambiente propcio e democrtico para umprocesso avaliativo de carter participativo(Que qualidades fsicas teremos oportunidadede desenvolver com as atividades que vamosfazer? Que critrios poderemos estabelecer,considerando as diferenas individuais que

    apresentamos? Qual foi o nosso percentual dedesempenho neste jogo? Quais as possveisrazes de termos obtido esses resultados?). Afuno da avaliao passa a ser de diagnsticocontinuado, numa perspectiva informativa ereflexiva.

    Finalizando, o papel do professorprecisa ser revisto no sentido de superar ano-diretividade paternalista, bem como oautoritarismo (muitas vezes materializado porridculas posturas estricas). A postura do

    professor, apesar de afetiva nas relaes comseus alunos, deve ser diretiva, pois ele oresponsvel pela mediao dos conflitosacadmicos e sociais, criando um ambiente dereflexo e decises superadoras das situaesproblemas emergentes.

    Temos que primar pela excelnciaacadmica; temos que ter lucidez acerca dosvalores e sentidos implcitos e explcitos nasnossas prticas pedaggicas e nas nossas

    formas de se relacionar; temos que lutar paradignificar o nosso trabalho e a formao dosnossos alunos. O amor e o ideal so neces-srios, mas no so suficientes. precisolutar para conquistar. preciso argumentar econvencer para vencer. E essa luta no podese limitar ao mbito do pedaggico e daescola. Ela tem que se dar em todas asinstncias da sociedade civil, no sentido deresistir e romper com a hegemonia burgue-

    "A postura doprofessor,apesar deafetiva nasrelaes comseus alunos,deve serdiretiva, poisele oresponsvel

    pela mediaodos conflitosacadmicos esociais, criandoum ambientede reflexo edecisessuperadorasdas situaesproblemasemergentes".

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    sa, sem o qual a escola e seus agentes estarocondicionados a reproduzir os valores e ascondies de sobrevivncia da classe populare trabalhadora deste pas.

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    UNITERMOS_________________________Educao Fsica, educao, escola, ensino-aprendi-zagem.

    Prof. Helder Guerra

    de Resende

    Professor Livre Docente pela Universidade

    Gama Filho,

    Coordenador e Professor do Mestrado em

    Educao Fsica da Universidade

    Gama Filho,

    Professor da Rede Estadual de Ensino

    Pblico do Rio de Janeiro.

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