REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DAS MULHERES NA ANTIGUIDADE TARDIA: O CASO DAS DEVOTAS CRISTÃS

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Cadernos de Clio, Curitiba, n.º 4, 2013 295 REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DAS MULHERES NA ANTIGUIDADE TARDIA: O CASO DAS DEVOTAS CRISTÃS João Carlos Furlani 1 Resumo: Neste artigo, temos por objetivo refletir sobre a representação e as condições sociais em que se encontravam as mulheres entre o final do século III ao início do século V no Império Romano. Para tanto, discuti- remos, num primeiro momento, o conceito de Antiguidade Tardia, bem como o contexto histórico da época; para, num segundo momento, anali- sarmos o papel desempenhado pelas mulheres cristãs na sociedade roma- na. Nesse sentido, acreditamos ser possível situar personagens femininas, que mesmo diante da repreensão atribuída às suas figuras, de certo modo, destacaram-se e tiveram voz em seu tempo. Palavras-chave: Antiguidade Tardia; Império Romano; Mulheres; Cristi- anismo; Condição social. Introdução A segunda metade do século III é, tradicionalmente, considerada como um momento de agudas transformações do Império Romano, pro- duzindo-se com rapidez alterações de natureza econômica, religiosa e política, o que proporcionou o surgimento de conflitos sociais que termi- 1 Graduando do curso de História da Universidade Federal do Espírito Santo. Membro do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (LEIR) e do grupo de pesquisa em História de Roma da UFES. Atua na linha de pesquisa: “História social do Baixo Império Romano”, e no projeto “Cidade, corpo e poder no Impé- rio Romano”, sob orientação do prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva. Atualmente, desenvolve o subprojeto intitulado: “Pobreza, caridade e liderança feminina na Antiguidade Tardia: o diaconato de Olímpia em Constantinopla”. Contato: jo- [email protected] .

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artigo sobre o papel da mulher na sociedade tardo-antiga de contexto cristão

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    REFLEXES SOBRE A HISTRIA SOCIAL DAS MULHERES NA ANTIGUIDADE TARDIA:

    O CASO DAS DEVOTAS CRISTS

    Joo Carlos Furlani1

    Resumo: Neste artigo, temos por objetivo refletir sobre a representao e as condies sociais em que se encontravam as mulheres entre o final do sculo III ao incio do sculo V no Imprio Romano. Para tanto, discuti-remos, num primeiro momento, o conceito de Antiguidade Tardia, bem como o contexto histrico da poca; para, num segundo momento, anali-sarmos o papel desempenhado pelas mulheres crists na sociedade roma-na. Nesse sentido, acreditamos ser possvel situar personagens femininas, que mesmo diante da repreenso atribuda s suas figuras, de certo modo, destacaram-se e tiveram voz em seu tempo. Palavras-chave: Antiguidade Tardia; Imprio Romano; Mulheres; Cristi-anismo; Condio social.

    Introduo

    A segunda metade do sculo III , tradicionalmente, considerada

    como um momento de agudas transformaes do Imprio Romano, pro-

    duzindo-se com rapidez alteraes de natureza econmica, religiosa e

    poltica, o que proporcionou o surgimento de conflitos sociais que termi-

    1 Graduando do curso de Histria da Universidade Federal do Esprito Santo. Membro do Laboratrio de Estudos sobre o Imprio Romano (LEIR) e do grupo de pesquisa em Histria de Roma da UFES. Atua na linha de pesquisa: Histria social do Baixo Imprio Romano, e no projeto Cidade, corpo e poder no Imp-rio Romano, sob orientao do prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva. Atualmente, desenvolve o subprojeto intitulado: Pobreza, caridade e liderana feminina na Antiguidade Tardia: o diaconato de Olmpia em Constantinopla. Contato: [email protected].

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    naram por desestabilizar o Estado. Tal mutao, alm de gerar inquieta-

    es, acarretou diversas alteraes na estrutura social do Imprio. Do pon-

    to de vista religioso, intensificaram-se movimentos de desvalorizao do

    mundo, com a irrupo de discusses cada vez mais acirradas. Por outro

    lado, novas vises de Estado, sociedade e religio emergiram, ao passo

    que papis sociais tenderam a se modificar de modo mais ou menos rpido

    (Siqueira, 2010: 149-150). Esse perodo amide identificado como o

    incio da Antiguidade Tardia. Entretanto, as diversas mudanas supracita-

    das no ocorreram em um curto espao de tempo como se costuma afir-

    mar, pois h pelo menos um sculo j detectamos indcios de transforma-

    es que abrangem tanto a poltica quanto a religio, embora estas trans-

    formaes tenham se tornado mais profundas nos sculos IV e V.

    Inmeros seriam os aspectos do sculo III a IV a serem estudados.

    No entanto, nos interessa destacar aqui questes relativas ao panorama

    social tardo-antigo. Desse modo, nosso objetivo principal, neste artigo,

    refletir sobre a representao e as condies sociais em que se encontra-

    vam as mulheres entre o final do sculo III ao incio do sculo V, no Im-

    prio Romano, analisando o papel que desempenhavam na sociedade.

    Propomos-nos assim a analisar personagens que, mesmo diante da repres-

    so que sofreram em virtude de serem mulheres, destacaram-se e tiveram

    voz em seu tempo. Nesse sentido, alguns conceitos acerca da Histria das

    Mulheres, como aqueles propostos por Michelle Perrot (1993), serviram

    de apoio nossa pesquisa.

    Perrot (1993) declara que as mulheres foram reprimidas por scu-

    los, mas ressalta que sua histria no feita de violncias e submisses.

    O status de vtima no resume o papel das mulheres na histria, que sa-

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    bem resistir, existir, construir seus poderes (Perrot, 1993: 166). De acor-

    do com a autora, no podemos generalizar o status feminino, devemos

    compreend-lo em suas variadas facetas e identidades. No entanto, com-

    preender a identidade feminina como uma multiplicidade dinmica de

    papis sociais exige da anlise historiogrfica a visibilidade dos diversos

    contextos que possibilitaram a construo do lugar feminino ao longo do

    tempo (Caixeta, 2004).

    Podemos perceber, ao analisarmos a Histria Social das Mulheres e

    a produo terica sobre os estudos de gnero, que no existe um tipo

    nico, mas representaes variadas das mulheres em cada espao-tempo.

    Muitas vezes essas distintas representaes se articulam, assinalando uma

    identidade feminina contraditria, complexa e dinmica, como a mulher

    no lar, no trabalho, nos contextos de sociabilidade, no exerccio de sua

    sexualidade e de atividades religiosas (Condilo, 2009). No nos prenden-

    do aos diversos conceitos de identidade existentes, partimos do pressupos-

    to de que a identidade feminina pode ser aquilo o que se diz e aquilo que

    se reconhece como caractersticas pertencentes s mulheres de determina-

    do perodo.

    A Antiguidade Tardia, um momento de mudanas

    Compreender a condio social das mulheres na Antiguidade Tar-

    dia exige antes compreender o perodo a ser analisado, embora no pos-

    samos nos aprofundar aqui nesse assunto. No entanto, faz-se necessrio

    dizer algumas palavras acerca do contexto histrico no qual viviam as

    mulheres que trataremos neste artigo.

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    Apoiando-nos no conceito proposto por Marrou (1979: 15), segun-

    do o qual a Antiguidade Tardia no somente a ltima fase de um de-

    senvolvimento contnuo: [mas] uma outra Antiguidade, uma outra civili-

    zao, que temos de reconhecer na sua originalidade e julgar por si pr-

    pria e no atravs de cnones de pocas anteriores. Podemos assim pen-

    sar em acontecimentos singulares que a distinguem bastante dos sculos

    anteriores ou posteriores, diferentemente da viso de decadncia que ainda

    vigora nos manuais escolares. Na verdade, se nos prendermos a reflexes

    que envolvam o conceito de decadncia do Imprio Romano, compre-

    ender as transformaes, as condies sociais, polticas e culturais dessa

    poca se tornar um processo complicado ou at mesmo impraticvel,

    pois, inconscientemente, nosso olhar ser condicionado pela ideia de um

    Imprio em runas, o que um equvoco. Todavia, se analisarmos a fase

    final do Imprio livre dessas premissas, refletindo sobre, por exemplo, a

    cultura, a sociedade e a religiosidade que se esboam de maneira original

    nesse perodo, ser possvel encontrarmos, na Antiguidade Tardia, not-

    veis realizaes que marcaram tanto o Ocidente quanto o Oriente.

    Como exemplo da originalidade da Antiguidade Tardia, podemos

    citar os argumentos de Marrou (1979), ao analisar a diferena entre os

    primeiros sculos do Imprio e os sculos IV e V. O autor evoca, entre os

    quatro sculos e meio que os separam, dois homens bem representativos

    do seu tempo, Ccero e Agostinho. No plano da cultura, recorda que as

    obras de Ccero eram transcritas, coluna a coluna, em longos retngulos

    de papiro ou de pergaminho, enrolados em cilindro, que se iam desenro-

    lando medida da necessidade da leitura, para em seguida os enrolar de

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    novo.2

    De acordo com Marrou (1979: 17-23), houve tambm uma revolu-

    o do vesturio durante a Antiguidade Tardia. A veste principal por

    dentro da toga, a tnica, passou a ter costuras continuadas e ser solida-

    mente fixada ao corpo, sendo assim muito menos ampla que a antiga rou-

    pa. Em contrapartida, no perodo clssico, utilizava-se uma grande pea

    de tecido flexvel, presa por um colchete ou fbula e sem mangas. Busta-

    mante (2007: 5) declara que tais mudanas no se limitaram ordem pls-

    tica, mas ecoaram profundamente na atitude psicolgica e at moral. Im-

    ps-se ento uma diferente definio do pudor, acompanhada de uma

    sublimao do erotismo.

    J na Antiguidade Tardia, o volumen cedeu lugar ao codex, isto ,

    ao livro que ainda hoje utilizamos, formado de cadernos cosidos, e que

    permite edies de tamanhos considerveis, como a Cidade de Deus, de

    Agostinho, em um tempo no qual cada vez mais se difundia a leitura em

    silncio, o que contribuiu para a suplantao do primado, por tanto tempo

    incontestado, da oratria.

    com base em elementos como esses que pouco a pouco percebe-

    mos a originalidade e riqueza do mundo tardo-antigo. Contudo, no po-

    demos deixar de caracterizar esse perodo em suas variadas facetas.

    De forma concisa, aceitando-se que as elites romanas dos sculos

    III a V no viveram aterradas ante uma perspectiva de calamidade, pode-

    mos reconhecer sua prosperidade e a confiana que tinham em si mesmas,

    pois acreditavam na eternidade do Imprio, mesmo ante a ameaa dos

    povos vizinhos. Do mesmo modo, como afirma Peter Brown (1972), no

    2 A este modo rolo de papiro se dava o nome de volumem.

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    Imprio do Ocidente a sociedade e a cultura eram dominadas por uma

    aristocracia senatorial cinco vezes mais rica, em mdia, do que os senado-

    res do sculo I. As cidades do Imprio conheceram, na Antiguidade Tar-

    dia, uma fase de grande desenvolvimento, como vemos no caso de Antio-

    quia e Constantinopla.3

    A aristocracia da fase final do Imprio, contudo, j no era constitu-

    da de modo idntico dos sculos anteriores. Seus integrantes eram bem

    distintos dos antigos senadores da poca do Principado. Dela participavam

    provinciais e membros provenientes das foras armadas. Dessa forma,

    uma das principais conquistas do sculo III manteve-se no sculo IV, isto

    , a atribuio dos postos e a promoo baseadas apenas no mrito.

    As alteraes na estrutura social verificadas na Antiguidade Tardia

    tambm afetaram a religio oficial e as sensibilidades espirituais da socie-

    dade romana, acontecimento tido como uma das principais transformaes

    do perodo.

    Entramos aqui num terreno que j tinha seus precedentes: a relao

    entre o paganismo e o cristianismo. Sabemos que j nos trs primeiros

    sculos da Era Crist, o paganismo vinha sofrendo modificaes em seus

    rituais, mas no IV sculo que a situao se agrava para os pagos devido

    aos confiscos, interdies de sacrifcios, proibio de consulta a orculos e

    visitao a templos, ao lado da promulgao de leis restritivas aos seus

    cultos, como a de 356, na qual era proibido, sob pena de morte, celebrar

    3 Sobre a cidade de Constantinopla, seu contexto, bem como a sua reforma e a da Igreja, mediante as crticas de Joo Crisstomo, consultar os trabalhos de Gilvan Ventura da Silva: Um bispo para alm da crise: Joo Crisstomo e a reforma da Igreja de Constantinopla (2010) e O sentido poltico da prdica cristo no Imp-rio Romano: Joo Crisstomo e a reforma da Cidade Antiga (2010a).

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    sacrifcios, adorar os dolos ou mesmo entrar em seus templos. No entan-

    to, em 392, pelas mos de Teodsio, responsvel por promulgar uma lei

    que, aplicada com rigor, proibia qualquer ato do culto pago, mesmo o

    executado no interior das residncias, que o paganismo sofrer um duro

    golpe. No entanto, devemos estar atentos para no acreditar acriticamente

    na eficcia da legislao, pois possumos sculos de experincia de no

    cumprimento das leis imperiais, o que no significa que a legislao impe-

    rial fosse de todo incua, mas sim que as crenas e prticas religiosas no

    se transformaram subitamente.

    As mulheres romanas e suas conquistas

    Como mencionamos em nossa breve descrio acerca da Antigui-

    dade Tardia, as mudanas de cunho poltico, religioso, econmico e so-

    ciocultural ocorridas a partir do sculo III alteraram bastante o modo de

    vida da sociedade romana, incluindo o papel das mulheres.

    Durante o perodo republicano, e mesmo posteriormente, Roma se

    caracterizava por seu sistema patriarcal, no qual os homens concentravam

    o poder, a propriedade, as decises polticas e econmicas, escreviam as

    leis, ditavam normas e pregavam a moral. A mulher, por sua vez, era

    submetida a tais ordenaes, movimentando-se dentro de casa, onde edu-

    cava a prole e servia como agente de reproduo (Ciribelli, 2002: 263).

    Em funo de tal caracterizao, comum pesquisadores generalizarem a

    condio social da mulher, atribuindo a elas um papel subalterno. No en-

    tanto, acreditamos que generalizar o status feminino na Antiguidade no

    a forma mais correta de o estudarmos, pois assim estaramos negligenci-

    ando fatos histricos, muitas vezes em prol de uma simplificao que

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    facilitaria resultados em uma dada pesquisa ou que reforaria discursos

    absolutos de dominao masculina.

    Mesmo na fase final da Repblica, essa passividade atribuda s

    mulheres no ocorria em todos os casos. Alguns autores ressaltam que as

    mulheres se opuseram de variadas formas opresso e ao poder masculi-

    no mesmo, na maior parte do tempo, estando confinadas ao espao do-

    mstico (Ciribelli, 2002: 263-264). Em determinado momento, Cato

    (Tito Lvio, Histria Romana. v. I.), acerca das atitudes das mulheres,

    alerta os polticos romanos: Se elas tornarem-se iguais a vocs, elas o

    dominaro. Achard (1995: 58) ressalta que apesar de no gozarem de

    direitos polticos, as romanas chegaram a conseguir a supresso de leis

    que as prejudicavam, como a Lei pia,4 a Lei Vocnia,5

    A supresso da Lei pia, que proibia o luxo nas vestimentas utili-

    zadas pelas mulheres, foi justificada por meio da tradicional diviso entre

    os gneros, que consistia em relacionar o homem poltica e guerra; e a

    mulher ao adorno e beleza, sendo, portanto, habituais os enfeites utiliza-

    das pelas mulheres. J a posio contrria defendia que as mulheres devi-

    am se submeter aos seus maridos, no se manifestar, se restringir ao ambi-

    ente domstico, manter o decoro, a discrio e a simplicidade (Bustaman-

    te, 2007: 3). Todavia, mediante a posio contrria de alguns homens,

    entre outras.

    4 A Lei pia, adotada durante a II Guerra Pnica (218 - 201 a.C.), impunha uma srie de restries s mulheres romanas, dentre as quais se encontram: o limite posse de quantidade de ouro pela e a proibio do luxo no vestir (Bustamante, 2007: 3). 5 A Lei Vocnia proibia a instituio de uma mulher como herdeira, embora fosse filha nica, casada ou no. Proibia tambm legar as mulheres mais da metade do patrimnio.

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    bem como as manifestaes pblicas das aristocratas, ao final a lei pia

    foi revogada.

    No somente a supresso de leis contribuiu para as alteraes na

    condio social das mulheres romanas, mas tambm mudanas no que

    concerne ao matrimnio. O casamento, ao longo da Roma Antiga, foi

    adquirindo novas concepes e modelos. Evocamos, como exemplo, o

    surgimento de uma nova modalidade de casamento jurdico, o sine manus,

    j que o cum manus caiu em desuso no final da Repblica, como ressalta

    Gaio (I. 111). Esta modalidade era baseada na ideia de que a mulher,

    mesmo casando-se, permanecia sob a tutela de seu pai ou tutor.

    Diferentemente do cum manus, ela poderia dispor dos seus bens e at

    receber herana. Dessa forma, em caso de divrcio, a esposa receberia

    parte do dote, que antes era retido integralmente pelo marido, sendo tam-

    bm capaz de tomar decises que antes no lhes eram permitidas devido

    sua condio de dependncia.

    Como vlvula de escape diante do poder masculino, muitas mulhe-

    res romanas no se dedicavam ao lar, fugiam ao dever da maternidade,

    opinavam em questes polticas e literrias, rompiam laos com seus fa-

    miliares, tornavam-se prostitutas e apreciavam cultos estrangeiros, como o

    de Dionsios, Cibele, sis e Srapis. Sua preferncia por estes ltimos de-

    viam-se acolhida e iniciao que lhes eram oferecidas (Ciribelli, 2002:

    265-269).6

    6 O culto de sis pregava a igualdade dos sexos e a liberao para o amor. O que justifica as relaes amorosas entre mulheres e poetas, como Cntia e Propercio e Dlia e Tibullo, que tinham se tornado adeptas ao culto (Achard, 1995: 62).

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    A condio social das devotas crists na Antiguidade Tardia

    Como observamos acima, na fase final da Repblica, as mulheres

    romanas obtiveram mudanas em sua condio social, por meio de con-

    cesses legais, por enfrentarem a situao que lhes era imposta e por alte-

    raes nas tradies. Ao chegarmos na Antiguidade Tardia, verificamos

    diversas outras transformaes.

    As mulheres tardo-antigas no podiam, como de costume, exercer

    participao na vida poltica, a menos que fossem membros da casa impe-

    rial. Tradicionalmente, se esperava das mulheres romanas que cultuassem

    as virtudes tradicionais da modstia, castidade e devoo aos deuses e

    famlia, devendo ser protegidas da explorao de sua fraqueza por tutores

    indignos (Siqueira, 2001: 4). Entretanto, elas no viviam isoladas em suas

    residncias, estavam sempre fisicamente presentes, tanto na vida domsti-

    ca, como na vida pblica.

    As mulheres romanas, mesmo em finais da Repblica, participavam

    de banquetes e reunies sociais importantes. De modo diverso das gregas,

    tinham o direito de propriedade e podiam at mesmo fundar negcios e,

    futuramente mosteiros. Embora, como dito anteriormente, no pudessem

    votar ou ser eleitas, algumas inscries encontradas na cidade de Pompeia

    mostram que as mulheres no se continham em apoiar seus candidatos aos

    cargos pblicos, o que demonstra, em algum grau, sua notabilidade e in-

    fluncia social. Segundo Funari (2001: 104-107) h mesmo indcios de

    que havia mulheres de posses que pagavam pelos servios de prostbulos.

    Tais reflexes, consequentemente, nos levam a ponderar sobre a viso

    tradicional e estereotipada da figura feminina presa ao lar em Roma.

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    Apesar do esforo em constituir temas referentes s mulheres na

    Antiguidade Tardia, ainda sofremos com a limitao da documentao, j

    que poucas so as fontes escritas por mulheres s quais temos acesso. Por

    outro lado, existe uma abundncia de fontes documentais que trazem um

    olhar dos homens sobre elas. E com base nesse olhar masculino sobre as

    mulheres que podemos ter ideia tambm de seus defeitos, ou ao menos

    ponderar sobre o que os romanos consideravam como defeitos.

    Muitos so os depoimentos que qualificam as mulheres como seres

    que falam muito e se preocupam demasiadamente com sua aparncia,

    necessitando de auxlio para conter seus impulsos. Por outro lado, quando

    so cabveis elogios a elas, mencionam que h mulheres boas, que so

    fiis, modestas e competentes em sua vida domstica e conseguem agir

    conforme os princpios morais (Siqueira, 2001: 4). Talvez, devido a esses

    elogios que se costuma apontar um papel genrico para as mulheres

    romanas.

    Siqueira (2001: 5) ressalta que algumas dessas questes foram con-

    frontadas pelos cristos. No entanto:

    [...] o cristianismo, assim como outras religies da mentalidade predominante, mantm a mesma postura com relao mulher. A reivindicao Crist que os homens e mulheres so espiritualmente iguais no teve nenhuma conseqncia mais prtica, assim como a reivindicao filosfica que as mulheres podem manifestar as mesmas virtudes como os homens.

    Concordando com o trecho acima e numa tentativa de explicar os

    motivos para a permanncia da postura masculina frente s mulheres,

    mesmo com o advento do cristianismo, Silva (2006: 306-307) declara que

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    h uma distino entre o plano mstico e o plano terreno. Portanto, se no

    plano mstico se pode pretender uma igualdade entre todos os homens, no

    plano terreno, hodierno, as mulheres, como herdeiras de Eva que so,

    devem se conformar com a sua posio secundria diante do homem. Tal

    hiptese explica, em grande parte, a rgida atuao eclesistica crist, que

    dificultava a concesso de maior participao e visibilidade das mulheres

    nas cerimnias litrgicas. No entanto, a partir desse momento de redefi-

    nio do lugar ocupado pelas mulheres no mbito eclesistico que ocorre

    a ascenso das vivas, virgens e diaconisas, dentro da ekklesia.

    Nesse sentido, podemos dizer que, se o cristianismo no props, em

    absoluto, a igualdade entre os gneros, ele porm abriu as portas para

    novas atividades, ou simplesmente modificou e utilizou as existentes,

    possibilitando s mulheres diferentes formas de prestar devoo suas

    crenas, como, por exemplo, o movimento monstico.

    Silva (2007: 63-64) ressalta que o monacato, que comeou a se es-

    boar por volta de 270, porm expandindo-se mais fortemente nos sculos

    IV e V, concedeu mais oportunidades para certas mulheres exercerem a

    sua devoo fora do mbito familiar, tendo como ponto de convergncia

    os mosteiros, onde se encontravam virgens, devotas, vivas e diaconisas,

    que deixavam seus lares a fim de viver reclusas. Essas mulheres tinham

    maior oportunidade de se diferenciar das tradicionais matronas romanas,

    pois se libertariam, parcialmente, do jugo masculino.

    Siqueira (2001: 5), da mesma forma, declara que o cristianismo in-

    troduziu uma prtica que, ao unir homem e mulher em um compromisso

    com Deus, podia suscitar o abandono dos deveres com a famlia e o Esta-

    do:

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    Pela primeira vez, algumas mulheres podiam rejeitar o casamento e a gravidez, e viver em casa com suas mes, ou em solido, ou em uma comunidade de mulheres. A orao e estudo de Bblia podiam deslocar os afazeres da vida domstica, as mulheres sempre pude-ram participar em cultos religiosos e fazer oferecimentos aos deu-ses, podiam alcanar fama duradoura dedicando Igreja e ao servi-o de Deus.

    Podemos dizer ento que, por meio do cristianismo, algumas mu-

    lheres passaram de uma situao opaca para uma de emergente visibilida-

    de, na qual o reconhecimento no era adquirido somente por seguir as

    virtudes propostas para uma vida domstica, mas tambm por sua devoo

    ao culto cristo e por prticas do asceticismo. Essas mulheres, reconheci-

    das pela sua atuao em prol do cristianismo, tambm foram mencionadas

    nas fontes gregas e latinas, constantemente elogiadas por darem comida e

    vestirem os pobres, os salvarem da morte e nutrir profunda admirao por

    importantes figuras, como os bispos e os ascetas.

    Em meio ao cenrio de crists devotas e piedosas inseriam-se as vi-

    vas. Consideradas modelos de devoo, formavam uma associao em

    suas comunidades, geralmente reunidas sob o comando de uma delas.

    Existiam ainda as virgens, que ocupavam um lugar privilegiado na ekkle-

    sia, pois apareciam aps o clero, os monges e as crianas durante as pro-

    cisses. Assim como as vivas, as virgens no constituam uma ordem, j

    que no ofereciam oblao e nem servios litrgicos (Berardino, 2002).

    Alm das vivas e virgens, existiam, no Oriente, mulheres que eram

    ordenadas diaconisas. Em suma, eram elas responsveis pelo apoio s

    catecmenas e s novas crists, bem como pelos servios litrgicos. Alm

    disso, podiam ser mensageiras; deviam estar presentes quando uma mu-

    lher vinha procurar um dicono ou o bispo; deveriam acolher mulheres

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    nas assembleias; prestar ajuda aos pobres e necessitados e zelar, assim

    como os diconos, pela boa ordem nas reunies. Contudo, a ao das dia-

    conisas era limitada, pois no poderiam realizar as tarefas confiadas aos

    presbteros e aos diconos, consideradas de maior importncia. Elas ape-

    nas assistiam os presbteros na administrao do batismo, por uma questo

    comportamental e de decncia.

    As aristocratas crists e sua influncia social

    Assim como descrito por Silva (2007: 86), em sua anlise da Hist-

    ria Lausaca, Paldio menciona um conjunto de mulheres que, fazendo

    parte da elite, se notabilizaram pela admirvel devoo causa crist. Um

    caso bem conhecido o de Melnia, a Jovem, que, dentre suas aes cari-

    tativas, teria distribudo no Egito, em Antioquia e na Palestina grande

    quantidade de moedas de ouro. Teria ainda vendido suas posses na Espa-

    nha, Aquitnia, Tarragona e Glia, retendo apenas aquelas da Siclia,

    Campnia e frica, cujos rendimentos reservou manuteno dos con-

    ventos. Alm disso, providenciou tambm a libertao de oito mil escra-

    vos.

    Outro caso notvel o de Olmpia. Pertencente a uma famlia aris-

    tocrtica de Constantinopla recm-enobrecida, filha de Seleuco, um comi-

    tes, e supostamente descendente de Ablbio, ela um excelente exemplo

    de mulheres que, na Antiguidade Tardia, obtiveram uma posio de desta-

    que. Olmpia, rf desde a infncia, recebeu uma educao crist, sob a

    superviso da irm do bispo Anfilquio, Teodsia, integrante de um grupo

    de mulheres crists piedosas. Olmpia tornou-se viva prematuramente, o

    que favoreceu sua adeso ao ascetismo cristo. Ela tambm foi benfeitora

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    do bispo Nectrio, que a ordenou diaconisa da igreja de Constantinopla,

    como tambm partidria de Joo Crisstomo, de quem foi amiga intma.

    Olmpia, em sua condio de patrocinadora de obras de caridade,

    teria doado igreja dez mil quilos de ouro, vinte mil de prata, e todos os

    seus bens imveis situados nas provncias da Trcia, Galcia, Capadcia

    Prima e Bitnia, mais as casas pertencentes a ela na Capital, e uma situada

    perto da catedral, chamada de a casa de Olmpia, juntamente com a casa

    da tribuna, com banheiros, e todos os edifcios perto dele, um moinho e

    uma casa localizada prximo aos banhos pblicos de Constantinopla, alm

    de outra, que era chamada de a casa de Evandro, assim como tambm

    todas as suas propriedades suburbanas (Vita Olympiadis).

    Os casos de Melnia e Olmpia, evidentemente no so os nicos.

    Como ressalta Silva (2007: 86):

    Paula, responsvel pelo funcionamento de um mosteiro com 50 virgens na Palestina; Asela, uma virgem reconhecida como patrona de conventos e Melnia, a Antiga, fundadora de um mosteiro para mulheres em Jerusalm, cumprem, do mesmo modo, o papel de pa-tronas venerveis da Igreja.

    Tais mulheres, frequentemente, estavam associadas a crculos aris-

    tocrticos do Imprio Romano, na condio de esposas, filhas ou vivas

    de destacados membros da elite. Venria, por exemplo, era esposa do

    comites Valovico. Melnia, a Antiga, era filha do ex-cnsul Marcelino,

    enquanto Olmpia filha do ex-comites Seleuco. Na qualidade de detento-

    ras de vastos patrimnios, elas se tornaram clebres por consumir toda a

    sua riqueza na conservao de igrejas, mosteiros e hospedarias e na assis-

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    tncia prestada a monges, enfermos, prisioneiros, a bispos e nas celebra-

    es do culto cristo (Silva, 2007: 86).

    Consideraes finais

    Nossa tentativa, no momento, foi a de visualizar as mulheres roma-

    nas como sujeito social, bem como sua atuao com percursos prprios,

    agindo ou reagindo conforme os fatos histricos vo se construindo. No

    entanto, como ressaltamos, a despeito das inmeras pesquisas, disserta-

    es e teses, ainda sofremos com a escassez de fontes que nos dem aces-

    so ao pensamento das mulheres e no ao pensamento dos homens sobre

    elas. Sabemos da dificuldade em tratar de temas referentes ao feminino na

    Antiguidade. Muitas lacunas ainda necessitam ser preenchidas, pois

    mediante discursos masculinos que o feminino constantemente represen-

    tado: nos mitos, na poesia, na histria, nos romances, nos tratados mdi-

    cos e filosficos, na legislao, na iconografia, entre outros suportes (Si-

    queira, 2001: 2). Nessa imensido documental destacam-se as imagens.

    Contudo elas no nos proporcionam uma viso direta das mulheres, mas

    sim a representao masculina sobre elas (Duby; Perrot, 1990: 8).

    Desse modo, muitos historiadores, como Siqueira (2001: 2-3) e Fu-

    nari (1995: 179-200) declaram que, para a construo de uma Histria das

    Mulheres na Antiguidade, fundamental uma anlise holstica, interdisci-

    plinar, que abarque os estudos sobre Literatura, Lngua, Antropologia,

    Arqueologia, Histria da Arte, entre outras especialidades.

    Analisando a relao das mulheres e a expanso do cristianismo,

    percebemos que o Imprio Romano passou por graduais transformaes,

    incluindo as de carter religioso. Nesse contexto, muitos romanos, busca-

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    ram consolo em suas crenas msticas. No entanto, a religio oficial j no

    lhes propiciava mais a paz de esprito que costumava oferecer, o que le-

    vou a um crescimento no nmero de adeptos de outras crenas, como o

    cristianismo (Funari, 2001: 131). Alm das camadas inferiorizadas, o cul-

    to cristo comeou a angariar adeptos tambm entre membros da aristo-

    cracia romana, a comear pelas mulheres da elite, marginalizadas nas

    religies tradicionais, mas encontrando espao na nova religio, marcan-

    do, ento, um processo de assimilao entre o cristianismo e as mulheres.

    Acreditamos que as mudanas sociais que ocorriam na vida das mu-

    lheres romanas algo a se ponderar, pois natural que, com o passar de

    sculos, o contato com novos povos e culturas, assimilaes e tenses

    produziram alteraes nos papis sociais e na representao da figura

    feminina. Mesmo com a difuso do cristianismo, de modo geral, as mu-

    lheres permaneceram em carter secundrio dentro da Igreja. Entretanto, o

    cristianismo contribuiu para a redefinio do lugar feminino nas comuni-

    dades crists e no Imprio Romano. Como mencionamos, colocando-se a

    servio da Igreja, as mulheres tinham a chance de abnegar o casamento e

    assim escapar do papel tradicional de me e de esposa; poderiam viver

    reclusas em mosteiros, praticar cultos e dedicar-se ao ascetismo, como

    diaconisas, virgens, viva, monjas ou devotas, o que lhes permitiria certo

    reconhecimento.

    Por fim, a representao e o papel feminino na Antiguidade Tardia

    so variveis, pois se transformam dependendo das condies sociais em

    que os analisamos. Das escravas que cuidavam e amamentavam os recm-

    nascidos s matronas que desempenhavam seus papis domsticos e cum-

    priam com as virtudes que se esperavam delas; das mulheres entregues

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    prostituio s ascetas, todas essas mulheres tinham funes diferentes

    dentro da sociedade, e eram tratadas e vistas de acordo tais funes. Seus

    papis e condies sociais poderiam diferenciar-se, porm, havia algo em

    comum entre elas: todas contriburam, ao seu modo, para dinmica da

    sociedade romana.

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