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Coordenador do Grupo de Estudos “Reflexões do Brasil”

Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira

Autores

Bruna Toso de Alcântara

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

José Renato Ferraz da Silveira

Mariana Borges Lemes

Tarsila Lemus do Nascimento

Desenvolvimento do Material Didático

José Renato Ferraz da Silveira

Junior Ivan Bourscheid

Santa Maria, novembro de 2013

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APRESENTAÇÃO

O Núcleo PRISMA (Pesquisas em Relações Internacionais de Santa Maria), através do

Grupo de estudos “Reflexões do Brasil”, promove o presente material didático em caráter ensaístico

acerca do Brasil da década de 20. Com o propósito de “revelar” o Brasil sob o ponto de vista

rigorosamente atual na escultura, arquitetura, música e literatura, percebemos, nesse período

histórico, a efervescência dos movimentos sócio-políticos que se descortinam na revolução de 30,

inaugurando um novo Brasil.

A Semana de Arte Moderna, realizada entre 11 e 18 de fevereiro, contou com a participação

de escritores, músicos, artistas, arquitetos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Do comitê

patrocinador, tendo à frente Graça Aranha, faziam parte, entre outros, Paulo Prado, Alfredo Pujol,

Renné Thiollier e José Carlos Macedo Soares. Entre os participantes, cuja presença se anunciava,

figuravam músicos como Villa Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga e Frutuoso Viana; escritores

como Mário de Andrade, Ronald de Carvalho, Álvaro Moreira, Oswald de Andrade, Menotti del

Picchia, Renato de Almeida e Plínio Salgado; artistas plásticos como Vítor Brecheret, Haarberg,

Anita Malfatti, Di Cavalcanti. O evento teve desde o início grande divulgação. Embora não faltasse

quem se opusesse a sua concretização.

O certo é que a Semana tinha o objetivo de renovar o ambiente artístico e cultural de São

Paulo e do país, tentando libertar a arte brasileira das amarras que ainda vinculavam à Europa. Esse

acontecimento cultural da maior significação ultrapassou o campo artístico e repercutiu inclusive na

área política.

Conforme Chaia (2007, p. 7), “arte e política: trata-se de um paradoxal encontro, no qual as

partes envolvidas estabelecem instáveis equilíbrios, porém, sempre de fortes intensidades”.

A incômoda reunião e a surpreendente união entre arte e política reiterada por Chaia

permeia o sentimento de insatisfação e inconformismo – e a busca de uma nova linguagem dos

artistas e intelectuais da Semana de Arte Moderna de 22 – que representam um desejo de renovação

do Brasil. Temas como o índio, a valorização da tradição nacional ou a procura do espírito do povo,

são consequências desse sentimento de perturbação.

Perturbar e instigar a reflexão do leitor em torno do que representa a década de 20 para o

pensamento brasileiro, sob diversos aspectos – econômico, sociológico, político, artístico - é o

propósito desse breve ensaio.

Os autores

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SUMÁRIO

1 O Manifesto Antropofágico_______________________________________________________5

2 Como estava a Europa na pré-revolução cultural de 1922________________________________6

3 Vanguardas artísticas europeias (início do século XX até a Segunda Guerra Mundial) _________7

4 Antecedentes políticos brasileiros __________________________________________________8

5 Os principais autores da Semana de 1922 ___________________________________________10

6 A semana de 22 _______________________________________________________________12

7 Pós-revolução cultural de 22: fatos políticos _________________________________________13

8 Brasil e os anos 1920: Aspectos Econômicos ________________________________________16

9 Artes Plásticas e a Semana da Arte Moderna da década de 20___________________________24

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1 O MANIFESTO ANTROPOFÁGICO

José Renato Ferraz da Silveira

O manifesto antropofágico de Oswald de Andrade situa-se na politização da arte. De acordo

com Chaia (2007), a circulação de ideias brotadas dos manifestos vanguardistas torna a arte um

meio de transformação (gradativa ou revolucionária) da sociedade. Intelectuais dedicam-se a obra

numa busca frenética pela propagação difusa de algum projeto político. O intelectual-artista politiza

sua arte ao privilegiar seu papel de militante gerando aspectos conflitivos entre a sua obra e o

pensamento da época. Vanguardas revolucionam, mas as resistências ao novo sempre são

combativas e irregulares.

No manifesto antropofágico, a ideia é propagar e agitar. A ação criativa, nesse sentido, tem

um propósito de desconstruir às ideias já postas. Recriar o mundo a partir de uma nova linguagem

simbólica. De fato, o artista, nesse contexto, assume um papel peculiar de engajamento político que

critica, protesta e age publicamente.

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2 COMO ESTAVA A EUROPA NA PRÉ-REVOLUÇÃO CULTURAL DE 1922

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

*Belle Époque: euforia burguesa pelo advento da Era da Máquina;

*Culto ao progresso, à velocidade e aos confortos proporcionados pela tecnologia;

*Eclosão das duas guerras mundiais (1914-1918/ 1939-1945);

*Desilusão, desencanto, perplexidade;

*Falência das ideias;

*Descréditos de antigas “certezas” científicas e religiosas;

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3 VANGUARDAS ARTÍSITCAS EUROPEIAS (INÍCIO DO SÉCULO XX ATÉ A

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL)

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

*Expressionismo: nascido nas artes plásticas. Foi um dos movimentos que mais influenciou

o modernismo brasileiro. Davam destaque ao grotesco, ao bizarro, ao deformado, pela ênfase a

expressão da vida interior. Principal representante foi Edvard Munch com a obra O Grito.

*Futurismo: fundado na Itália em 1909 por Filipo Tommaso Marinetti. Defende uma arte

sintonizada com a beleza da velocidade, as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou

pela revolta. A vanguarda possuía caráter que foram assumidos pelo Movimento Fascista, como por

exemplo: antifeminista, antissocialista, antidemocrático e etc.

*Dadaísmo: a mais radical das correntes, pois visava demolir as demais correntes. Usava do

humor irracionalista para dinamitar a cultura e a linguagem, sua expressão máxima, substituindo

palavras por ruídos e gritos inarticulados. Os artistas desenvolveram todas as formas possíveis de

contestações as atrocidades decorrentes da Primeira Guerra Mundial e tiveram seu auge durante os

anos de 1916 a 1921, sendo Tristan Tzara o maior representante.

*Cubismo: surgiu na França com a proposta de fragmentação da realidade, foi um ideal

comum de renovação artística e teve seu auge durante os anos de 1907 a 1914. Os maiores

representantes foram: Pablo Picasso na pintura e Guilhaume Apollinare na literatura.

*Surrealismo: surge em Paris durante o período entre guerras (1919/1938) e defende que o

caráter destrutivo dadaísta deveria corresponder a apenas uma das etapas do processo de criação.

Inauguram um novo conceito de realidade baseado no surreal (o sonho, a fantasia, o inconsciente).

Os maiores representantes foram André Breton no campo literário, na pintura com Salvador Dali e o

cinema com Luis Bufiel.

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4 ANTECEDENTES POLÍTICOS BRASILEIROS

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

*República Velha ou Primeira República (1889-1930): o golpe de 15 de novembro de

1889 encerrou com o período Monárquico e deu início ao regime republicano. No entanto, a

mudança do sistema de governo não implicou o início da soberania do povo sobre a coisa pública.

Politicamente, manteve-se o predomínio das elites agrárias, especialmente a cafeeira, até 1930. A

esse período, 1889 a 1930, recebe o nome de República Velha, a qual se subdivide em dois

momentos distintos: a República da Espada (1889-1894), quando a presidência foi exercida por

chefes militares, e República Oligárquica (1894-1930), quando o poder político foi exercido

diretamente por presidentes das elites mineiras ou paulistas.

*Chegada de imigrantes, em especial nas regiões Sudeste e Sul: a Primeira República

deu continuidade à política de incentivo a imigração de europeus iniciada pelo antigo imperador

Dom Pedro II.

*Primeira Guerra Mundial (1914-1918): a principal consequência da Primeira Guerra

Mundial para o Brasil foi econômica. Diante das dificuldades de importações, a incipiente indústria

brasileira teve seu ritmo de crescimento acelerado. O resultado foi um novo surto industrial (o

primeiro foi durante o Reinado de Dom Pedro II que teve o apoio financeiro do Barão de Mauá),

com o crescimento, em especial, da indústria têxtil e alimentícia.

*Crise cafeeira (desde 1907): a partir da década de 1830 o Brasil começou a produzir e

exportar café. Com a popularização da bebida e as grandes remessas de lucros obtidas pelos

cafeicultores o império brasileiro incentivou a produção dos grãos de café e a crise econômica que

se instaurara desde a derrocada da economia do ouro havia, aparentemente, acabado para sempre.

Todavia o novo século e o novo governo - agora civil- se depararam novamente com a crise, uma

vez que com o excesso da superprodução de café os barões (donos dos cafezais) exigiram que o

Estado comprasse o excedente, assim foi feito, em 1907, no Convênio de Taubaté. Com o passar

dos anos o país teve que fazer empréstimos para assegurar os lucros das elites cafeeiras e com a

crise financeira mundial de 1929, as finanças brasileiras não suportavam mais, o “ouro negro”

quebrou o Estado e auxiliou o levante contra os governadores do eixo paulista-mineiro que ocorreu

em 1930.

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*Conflitos regionais: no período da República Velha ou Primeira República inúmeras

revoltas aconteceram em diversas regiões do país. As Revoltas messiânicas foram as de maior

destaque, em especial a de Canudos (principal líder Antônio Conselheiro, ocorreu entre os anos de

1896-1897), uma vez que ela foi registrada no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha a obra foi

considerada um marco para o pré-modernismo brasileiro.

*Greve geral de 1917: primeira greve geral devido às precárias condições de vida dos

trabalhadores. Iniciada em junho de 1917 em São Paulo, com paralisações localizadas em fábricas

têxteis, nos bairros da Mooca e Ipiranga. Apesar da violência policial, os grevistas sustentaram o

movimento e conseguiram o atendimento de algumas de suas reivindicações, como por exemplo:

aumento dos salários e inclusão de operários em reuniões importantes da firma.

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5 OS PRINCIPAIS AUTORES DA SEMANA DE 1922

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

*José Oswald de Sousa Andrade: em 1912, Oswald volta da Europa frustrado pelo Brasil

estar "atrasado 50 anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo". Sua ida à Europa

foi imprescindível uma vez que neste local entrou em contato com a técnica do verso livre proposta

por Paul Fort, e onde sentiu a necessidade de remodelar as artes no Brasil.

Autor de discursos e artigos irônicos, ele, junto com Mário de Andrade, foi um dos

idealizadores da Semana da Arte Moderna. Autor de Os Condenados e Memórias de João Miramar1.

Também foi quem iniciou o Movimento Pau-Brasil.

Sua obra de grande repercussão foi O Manifesto Antropofágico, publicado na Revista

Antropofagia em 1928. Carregado de uma linguagem metafórica, ele reconta a história do Brasil.

Este se torna a principal fonte teórica do movimento.

“Oswald foi panfletário, polemista, crítico, ensaísta, romancista, contista e poeta e foi

também, sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais desconcertantes da literatura brasileira."

(ALMANAQUE)

*Mário Raul de Morais Andrade: um dos principais articuladores da Semana de 22, Mario

de Andrade foi autor de Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema (seu primeiro livro), Paulicéia

desvairada2, Macunaíma3, A Escrava que não é Isaura, Amar, Verbo Intransitivo, dentre outras

obras.

Foi um poeta, romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte e fotógrafo brasileiro.

Integrante do Grupo dos Cinco4, junto com Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti Del

Picchia, Tarsila do Amaral.

*Paulo Menotti Del Picchia: foi agricultor, advogado, editor, industrial, banqueiro,

deputado estadual e federal, chefe do Ministério Público do Estado de São Paulo, jornalista, poeta,

1 Inclui uma mescla de gêneros. A sequência dos fatos não é direta, como na prosa tradicional à qual se contrapõe o livro, mas subliminar, que trespassa os diversos fragmentos, mesmo os que não se referem diretamente à história pessoal do protagonista. Relata a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice de Joao Miramar. 2 Obra que inspirou a 1ª fase do Modernismo. Considerada a base do modernismo. 3 O anti-herói ou herói às avessas. 4 Grupo formado pelos principais artistas da Semana da Arte Moderna. Defendiam os ideais modernistas e tomaram a frente do movimento.

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romancista, ensaísta e teatrólogo e primeiro diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda do

Estado de São Paulo. Foi um dos líderes do movimento, e junto com Cassiano Ricardo e Plínio

Salgado, desenvolveu o movimento nacionalista e literário do verde-amarelismo.

Seu primeiro livro foi Poemas do Vício e da Virtude (1913), depois disso ainda publicou

Moisés (1917), Juca Mulato (1917), Chuva de pedra (1925), O amor de Dulcinéia (1926), Laís

(1921), entre outros. Trabalhou nos jornais Cidade de Itapira, A Tribuna, A Noite, São Paulo e

Brasil Novo.

*Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho: poeta, crítico literário e de arte, professor de

literatura e tradutor brasileiro. Sua poesia tinha estilo simples e direto.

Foi convidado a participar da Semana da Arte Moderna, mas não pode comparecer, a

princípio por problemas de saúde, assim, deixou seu poema Os Sapos que foi lido por Ronald de

Carvalho.

Algumas de suas obras: Carnaval, Libertinagem, Vou-me embora pra Pasárgada, Os Sapos5,

Estrela da Manhã, entre outros.

*José Pereira da Graça Aranha: Aranha foi membro da Academia de Letras, e em 1900

entrou pra carreira diplomática e nela seguiu durante 20 anos. Entretanto, foi como juiz municipal

em Porto do Cachoeiro, no Espírito Santo, em 1890, que conseguiu o material que servia para a sua

principal obra Canaã, publicado com grande sucesso em 1902.

Di Cavalcanti comentou com Aranha a ideia de fazer uma amostra com os trabalhos dos

artistas da época, uma semana, como ele próprio diz, de "escândalos literários e artísticos". Aranha

se entusiasmou com a ideia e a expôs ao artista plástico Paulo Prado, que foi um dos promotores

do que veio a ser a Semana da Arte Moderna brasileira.

Graça Aranha foi o encarregado de estrear a Semana de 22 com a conferência "A Emoção

Estética na Arte Moderna". Assim, ele é considerado um dos líderes desse movimento que renovou

a literatura do Brasil.

5 lido entre vaias e gritos da plateia na Semana de Arte Moderna de 1922, tendo se convertido em um clássico da poesia moderna brasileira, citado em todos os livros didáticos sobre Literatura Brasileira do século XX. Considerado o momento mais sensacional da Semana de Arte Moderna de 1922. a leitura do poema "Os Sapos" ocorreu na segunda noite, quando Ronald de Carvalho leu o poema de Bandeira, que não comparecera ao teatro por motivos de saúde. O poema é uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público brasileiro. A plateia reage através de vaias, gritos, patadas, interrompendo a sessão 1 .

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6 A SEMANA DE 22

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

13/02: Graça Aranha pronunciou uma conferência tendo como tema “A Emoção Estética na

Arte”- elogiou e comentou as artes expostas e principalmente quadros pintados por grandes nomes

(Anita Malfatti, Tarsila do Amara, Candido Portinari...);

15/02: Oswald de Andrade apresentou vários de seus poemas e Mário de Andrade fez um

discurso literário sobre o tema: “A escrava que não é Isaura”;

17/02: Villa-Lobos fez uma incrível e aplaudida apresentação musical, porém ocorreu uma

falha de interpretação pelo público;

Revista Klaxon (1922-1923): Primeira revista modernista - que teve nove edições - seu

principal propósito era servir aos ideais modernistas. Entre os nomes que contribuíram estão Mário

de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita

Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha.

Primeira Geração Modernista: Movimento Pau-Brasil (1924-1925), Movimento Verde-

Amarelo ou Escola da Anta (1926-1929) e Movimento Antropofágico.

A Semana da Arte Moderna, considerada uma iconoclastia, foi um marco na história da

cultura brasileira, quando houve uma maior popularização da cultura brasileira, em especial na

música e nas obras de arte, foi também quando o Brasil desenvolveu uma cultura própria e

nacionalista. Os traços expostos nas obras revolucionaram o que se sabia ser o Brasil até então, pois

eles reconstituíram a cara da nação deixando-a menos conservadora e preparada para os abalos

políticos, sociais e econômicos que viriam nas décadas posteriores.

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7 PÓS-REVOLUÇÃO CULTURAL DE 22: FATOS POLÍTICOS

Giuliana Facco Machado

Jéssica Maria Grassi

*Partido Comunista Brasileiro: fundado em 1922 em um congresso no Rio de Janeiro, o

Partido Comunista do Brasil tinha por objetivo promover uma revolução do proletariado e substituir

a sociedade capitalista por uma sociedade socialista.

*Coluna Prestes: em 1924 desabrocha a Revolta Tenentista, os derrotados vão para o sul,

onde se deparam com outro movimento proveniente do Rio Grande do Sul, e dessa união surge a

Coluna Prestes.

A Coluna Prestes, comandada pelo Capitão Luiz Carlos Prestes, começa sua marcha pelo

Brasil pregando reformas políticas e sociais. O sucesso da Coluna ajuda a abalar ainda mais a

república velha, e a preparar a Revolução de 30.

Ela percorre 13 Estados (cerca de 20 quilômetros) e depois de anos de confronto com as

tropas militares, termina em 1927. Em 1931, Prestes vai morar na antiga União Soviética e em 1934

entra para o Partido Comunista, fundado em 1922.

*Revolução de 1930: com o rompimento da aliança entre São Paulo e Minas Gerais, e a

conhecida Política Café com Leite, o Estado paulista indica Júlio Prestes para candidato a

presidência da República, em substituição ao presidente da época Washington Luís.

Em resposta, Minas Gerais se une ao Rio Grande do Sul indicando o gaúcho Getúlio Vargas

para a presidência. Quando dá-se a adesão da Paraíba, em 20 de setembro de 1929, fundam a

Aliança Liberal, lançando a candidatura de Getúlio para a presidência da República e João Pessoa

como vice.

Com a vitória de Júlio Prestes, dá-se inicio a Revolução de 30, de modo que, os

revolucionários queriam impedir a posse de Prestes e derrubar Washington Luís do poder.

Essa revolução culminou com o Golpe de 30 que depôs Washington e impediu a posse de

Júlio Prestes pondo fim a República Velha em 3 de novembro de 1930 com a o início do Governo

Provisório de Getúlio Vargas.

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*Revolução Constitucionalista de 1932: a Revolução Constitucionalista ocorrida no estado

de São Paulo em 9 de julho de 1932, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes foi uma resposta do

estado à Revolução de 30 e tinha por objetivo derrubar o Governo Provisório de Getúlio Vargas e

promulgar uma nova constituição para o Brasil.

Essa é considerada um dos acontecimentos mais marcantes do Governo Provisório de

Vargas apesar da derrota dos revolucionários, pois, dentre outras contribuições, impediu que o país

fosse governado de forma inconstitucional.

REFERÊNCIAS

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8 BRASIL E OS ANOS 1920: ASPECTOS ECONÔMICOS

Bruna Toso de Alcântara

Mariana Borges Lemes

Dizer que a economia da década de 1920 era essencialmente agrícola, e totalmente

dependente das exportações de café e da importação de capitais estrangeiros, seria simplificar as

características de uma economia que “começava a diversificar lentamente sua base produtiva

doméstica e que lutava para colocar em ordem suas finanças internacionais”. Assim, em que pese o

conformismo dos responsáveis políticos de que o país estava irremediavelmente ligado ao café, um

cenário mais complexo se desenvolvia (ALMEIDA, 2012, p. 01).

Em realidade o Brasil estava dividido entre o lado rural e o urbano. A detenção do poder e

da riqueza estava nas mãos das oligarquias rurais, substancialmente por causa da produção cafeeira.

As cidades brasileiras passavam por uma rápida transformação urbana, decorrente do processo de

industrialização, em especial na região de São Paulo, que começou com a I Guerra Mundial em

meados do começo do século XX.

Os imigrantes europeus (italianos, portugueses, espanhois e japoneses) estavam

substituindo a mão de obra escrava, logo após o advento da abolição. De outro lado, a massa

operária (homens, mulheres e crianças) era explorada com baixos salários e carga horária elevada.

Em síntese, cinco principais fatores explicam o crescimento industrial do Brasil na década

de 1920, no eixo RJ-SP:

• Energia;

• Acumulação de capitais advindos das exportações;

• Mão de obra barata;

• Matérias-primas;

• Proteção governamental para a indústria.

Embora dependentes do capital cafeeiro, é possível constatar um lento avanço dos setores

fabris, que já não eram simplesmente complementares ou subsidiários da economia exportadora de

produtos agrícolas, mas estavam progressivamente relacionados com o crescimento da demanda

interna por matérias-primas industriais e maquinaria em geral. No nordeste em lugar do engenho

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aparecera a grande usina, unidade tipicamente fabril e maquinofatureira, que passara a produzir o

açúcar extraído da cana fornecido pelas lavouras dos antigos engenhos transformados assim em

simples produtores de matéria-prima.

De 1920 a 1930 o açúcar foi afetado em 45% e a borracha em 75%, enquanto as o café

crescia 53%.São Paulo concentrava cerca de 2/3 dessas exportações, o Rio de Janeiro se mantinha

estagnadas e que embora as de Minas Gerais e do Espírito Santo tivessem obtido forte expansão,

suas estruturas econômicas e sociais não permitiam a geração de elevados excedentes para uma

acumulação. Tudo isto condicionado e estimulado pelo amplo liberalismo econômico.

Liberalismo este preconizado a nível mundial, e que demonstra as influências internacionais

na economia brasileira. Passemos então, a uma breve análise da conjuntura internacional deste

período.

1.1 Conjuntura Internacional

A nível internacional pode-se apontar três acontecimentos de relevo:

• O deslocamento definitivo do poder no mundo capitalista, da Europa para os EUA,

que acarretou a liderança estadunidense na segunda fase da Revolução Industrial.

• A Europa em efervescência sociopolítica, ou seja, o enfraquecimento dos governos

(devido à Guerra) mostrou que a democracia era incapaz de superar os problemas – em

consequência tem-se a ascensão de regimes totalitários: nazismo, fascismo, salazarismo.

• Revolução Socialista na Rússia, fazendo com que Socialismo deixasse de ser apenas

uma teoria. Ganha corações ementes na perspectiva da internacionalização

(IFRN, 2010)

Portanto, nota-se que pelo lado dos trabalhadores há uma emergente e crescente afirmação

do operariado como ator político depeso.Enquanto que do lado dos empresários capitalistas quatro

aspectos tornam-se relevantes:

1. No pós-guerra, acelerou-se o processo de monopolização da economia;

2. Centro capitalista passa a gravitar em torno dos EUA;

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3. Gestores do capital passam a ter posição mais orgânica, com planejamento em conjunto

(qual seu papel quando os EUA assumirem a liderança no mundo?);

4. Em 1921 a Criação do Conselho de Relações Exteriores (CRE) passou ater influência

decisiva na política externa dos EUA.

(IFRN, 2010)

Voltando-nos, então para as repercussões brasileiras, a especulação comercial começa a

intervir nos negócios do café depois de 1896. Os EUA constituíram sua zona de influencia militar e

financeira na América Latina no período 1898-1930 através da Diplomacia do Dólar. A I Guerra

Mundial acarretou a queda nos preços das exportações de café e restringiu nossa capacidade de

importar. Além disso, afastou os investimentos internacionais da economia brasileira. Em 1918 com

o fim a guerra, o gradativo restabelecimento das atividades mercantis internacionais permitiram a

elevação nos lucros advindos da exportação do café, período do qual o Brasil se beneficia com a

desorganização europeia.

De nossas principais exportações, só o café apresentou um desempenho auspicioso, em

preços e quantidades, o algodão ainda teve uma expansão, graças à reconstrução do pós-guerra e

pela proteção indireta dos preços mantidos pelos EUA, mas as demais apresentaram estagnação ou

mesmo queda.

As exportações maciças compensam as grandes e indispensáveis importações e obtêm-se

mesmo saldos comerciais apreciáveis numa média anual de 273 mil contos (15.700.000 libras

esterlinas). Estes saldos vultosos pagaram aos grandes compromissos externos em ascensão

contínua e paralela ao desenvolvimento do país. Fazendo com que a dívida externa do Brasil, em

1930, alcance a cifra espantosa de mais de 250 milhões.

1.2 Brasil na década de 1920

O Brasil passou por experiências de câmbio fixo e flutuante-fundingloans, experimentou

crises cambiais de grande magnitude. O segundo fundingloan foi acertado no ano de 1914 no

governo de Hermes da Fonseca. Em decorrência do Convênio de Taubaté, o Estado foi obrigado a

contrair novos empréstimos, onerando a balança de pagamentos durante o período de 1913 a 1914.

As crises geraram depreciações cambiais cumulativas e colapso das reservas e do currency board

nas experiências com câmbio fixo (crise da Caixa de Conversão em 1913-14 e da Caixa de

Estabilização em 1929-30). As dificuldades de importação fizeram crescer o número de

estabelecimentos industriais, especialmente no eixo São Paulo - Rio de Janeiro.

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Instalam-se no país bancos estrangeiros (ingleses e franceses), o capital estrangeiro em

alguns setores privados, como estradas de ferro, empresas de mineração, linhas de ônibus

urbano,linhas de navegação,usinas produção energia elétrica,portos,industrialização,

aperfeiçoamento técnico para preparação do café, tanto material — os sistemas de transportes—

como da organização do tráfico mercantil e financeiro.

Novas indústrias de algodão, tecidos de lã, de seda e até de fios de seda artificial (raiom) e

indústrias de calçados foram implantadas. A modernização industrial também atingiu a moagem do

trigo, a fabricação do açúcar (com maciça instalação de usinas no Nordeste), a indústria de bebidas

(cerveja, refrigerantes) de fósforos, de peças de vestuário, os setores metalúrgicos (pregos,

parafusos, porcas), a produção de cimento, ferro e aço, os produtos de borracha, os óleos vegetais,

as pastas e papel, os frigoríficos, os móveis, as editoras e gráficas e, ainda, a química e a farmácia.

As carnes congeladas e industrializadas, o óleo de caroço de algodão, a borracha, o cacau, o mate e

o fumo foram estabelecidos como produtos de exportação.

O processo de instalação fabril utilizava máquinas a vapor, o que obrigava à importação de

carvão. Com isso, grande parte do dinheiro arrecadado nas exportações era gasto na compra desse

combustível. Já entre 1900 e 1910, a implantação de usinas de produção de energia hidrelétrica foi

fundamental para garantir o crescimento fabril que se processaria na década de 20, pois o

encarecimento do carvão durante a I Guerra inviabilizou o uso dessa matéria-prima vegetal como

fonte de energia.

Em 1921 se instala a primeira grande empresa siderúrgica, a Belgo-Mineira, formada de

capitais franco-belgo-luxemburgueses, que estabelece sua primeira usina com alto forno em Sabará

(Minas Gerais).

Produção industrial cresceu à média anual de 6,6% entre 1920 e 1928. A instalação de

usinas elétricas ocorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo, o que possibilitou o aumento da

capacidade produtiva dos setores industriais do Centro-Sul, contribuindo para distanciar esta região

das demais em termos de competitividade. A concentração industrial em São Paulo aumentava, dos

31,5% do total nacional em 1919 para 37,5% em 1929. A consolidação da economia paulista, como

principal locus da acumulação nacional atraiu a localização, notadamente na cidade de São Paulo e

cercanias, de grandes empresas internacionais, que para lá foram produzir ou montar produtos de

maior complexidade tecnológica: entre as principais, citemos a Rhodia,General Motors, General

Eletric, RCA, Phillips, Pirelli, Firestone, Unilever, Nestlé, Kodak, Ford Motor Company com

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oficinas para montagem de veículos motores com peças importadas de suas fábricas norte-

americanas. A Pullman Standard CarExport Corporation se instalou no Rio de Janeiro.

Os setores industriais precisavam importar outras matérias-primas que não eram fabricadas

aqui, como anilinas, corantes, fios de juta, feltros (para chapéus), malte (cerveja), aço (para os

setores metalúrgicos),o óleo combustível. Diante disso, faz-se interessante uma explicação sucinta

sobre os principais produtos desenvolvidos no país à época.

1.2.1 Principais produtos da economia brasileira na década de XX

• CAFÉ

Em 1920 e 1921 houve uma superprodução cafeeira, os EUA principais compradores das

mercadorias brasileiras depois de 1918, estavam aplicando capitais em programas de recuperação

econômica da Europa. A solução foi a política de valorização do produto (a terceira entre 1921 e

1923), proporcionada por um crédito especial do Banco do Brasil com retirada do produto do

mercado e diminuição de impostos aos exportadores. A política da terceira valorização cafeeira

conseguiu aumentar as exportações e a capacidade de importar, principalmente maquinários. Entre

1918 e 1924 o número de cafeeiros paulistas passará de 828 milhões para 949. E repete-se

novamente a velha história da superprodução em1924 adota-se um largo esquema de valorização

permanente.

Criou-se em São Paulo um órgão especial, o Instituto do Café, destinado a controlar

inteiramente o comércio exportador do produto, regulando as entregas ao mercado e mantendo o

equilíbrio entre a oferta e a procura o grupo inglês Lazard Brothers Co. Ltd. adiantavam os recursos

necessários; e criava-se sobre o café um novo imposto de mil-réis-ouro por saca destinado às

despesas com a execução do plano e serviço das dívidas contraídas.

As safras cafeeiras de 1925-1926 foram grandes e as de 1927-1928 maiores ainda (uma

produção de aproximadamente 26 milhões de sacas). Houve queda no período 1928-1929 (14

milhões de sacas) e um novo aumento em 1929-1930 (30 milhões de sacas). O desenlace fatal virá

com o craque da Bolsa de Nova Iorque em outubro de 1929. O curso do café não resistirá ao abalo

sofrido em todo mundo financeiro, e declinará bruscamente 30%.

• BORRACHA

O Brasil, possuidor da maior reserva mundial de seringueiras nativas, verá assim abrir-se

mais uma perspectiva econômica de vulto. A exportação da borracha vem em contínuo aumento

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desde 1827.Em 1912 a exportação da borracha brasileira alcança seu máximo com um total de

42.000 toneladas. Daí por diante é o declínio. Os preços também atingem seu teto em 1910, valendo

então a tonelada quase 639 libras. Neste ano a exportação soma 377.000 contos (24.646.000 libras-

ouro), e representa quase 40% da exportação total do país; contra 385.000 contos, ou pouco mais de

40% representados pelo café. A borracha brasileira, explorada em condições precárias não resistirá

à concorrência do produto oriental que contava com grandes recursos técnicos e financeiros da

Inglaterra, da França.

• CACAU

A produção de cacau era de 90% na Bahia, a exportação do produto crescera em ritmo

acelerado ,44.980mil em 1915; 64.526mil em 1925; 100mil em 1935 (contra 260mil neste mesmo

ano na Costa do Ouro). E mesmo este progresso limitado já não se fará como no passado, mas

através de dificuldades e crises muito graves. A oportunidade do cacau brasileiro se tornar uma

grande riqueza conforme aumento de consumo de chocolate nos Estados Unidos e na Europa

semelhante à do café ou da borracha não se concretizará pela concorrência de países africanos-

Costa do Ouro-que tiveram investimento inglês.

• AÇÚCAR

O açúcar brasileiro é progressivamente excluído dos mercados mundiais, com isso

voltando-se para o mercado interno. A partir de 1933 a economia açucareira começou a ser limitada

pelo sistema de quotas distribuídas entre as diferentes unidades produtoras (usinas e engenhos) do

país, sob a direção de um órgão oficial do governo federal, o Instituto do Açúcar e do Álcool, que se

incumbiria de manter os preços em nível adequado. O desaparecimento dos antigos engenhos

seguiu sua marcha até a absorção total de toda a produção de açúcar pelas usinas.

• ALGODÃO

O surto da produção algodoeira no Brasil será em parte apreciável de iniciativa japonesa. A

Alemanha foi o maior comprador de algodão brasileiro, com uma proporção que chegará, em 1935,

a quase 60% da exportação total do Brasil. Grandes empresas norte-americanas, como Anderson

Clayton & Cia. Ltda., Me Fadden & Cia., Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (SANBRA)

controlavam a produção brasileira de algodão. O rompimento, por exemplo, de dois setores

imperialistas centralizados em pólos opostos da Terra, a Grã-Bretanha e o Japão, vai estimular a

cultura algodoeira no Brasil. A queda da produção ocorre em 1980 causada por pragas nas lavouras.

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CONCLUSÃO

Em síntese podemos notar que houve um esgotamento do crescimento de bem primários.

Em outras palavras, o café que fora produto base da economia brasileira, desde a independência,

encontrava-se com uma tendência alta de queda de preços, pressionando o governo a garanti-los

através de recursos públicos. Sendo que com a crise de 1929 os EUA, principal comprador do bem

passa a reprimir as vendas.

Contudo, em que pese à situação do café, alternativas surgem - de fato precisavam surgir.

Assim nota-se uma diversificação de produtos na pauta exportadora brasileira. Também nota-se

uma migração do setor industrial-urbano.

Por exemplo, em 1920,com a visita do rei Alberto (Bélgica) ocorre um passo importante

para a industrialização, a Criação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Configura-se, portanto

um centro dinâmico com a industrialização que passa a se deslocar, em direção ao mercado interno,

fortalecendo o crescimento industrial e urbano (IFRN, 2010). Sendo essa tendência mais

aprofundada na próxima década, de 1930, com Getúlio Vargas no poder.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Paulo Roberto de. A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco. In: GOMES PEREIRA, Manoel (Org.): Barão do Rio Branco: 100 anos de memória. Brasília: FUNAG, 2012, 748 p.; ISBN: 978-85-7631-413-4; p. 523-563.

AREND, Marcelo. O Brasil e o longo século XX: condicionantes sistêmicos para estratégias nacionais de desenvolvimento. Disponível em: < http://www.gpepsm.ufsc.br/html/arquivos/Texto_para_Discussao_2012-n1_Arend.pdf>. Acesso em: 27 de Set 2013.

GRUPO POOL. A História. Disponível em:<http://www.pool.com.br/poolseguros/algodao/historia.htm>. Acesso em:27 de set 2013

IFRN. Instituto Federal de Educação, ciência e Tecnologia Rio Grande do Norte. Economia Brasileira: A Crise de Transição da década de 1920. Disponível em :<http://dietinf.ifrn.edu.br/lib/exe/fetch.php?media=corpodocente:janser:04_eco_brasileira_a_crise_de_transicao_da_decada_de_1920_2010_1.pdf> Acesso em: 21 de Outubro de 2013.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 43ed. São Paulo: Brasiliense, 2012.

VILARINHO, Sabrina. A Semana da Arte Moderna. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/literatura/a-semana-arte-moderna.htm> Acesso em: 27 de Set 2013.

(Autor desconhecido) História Econômica do Brasil. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/19950211/Historia-Economica-do-Brasil> Acesso em:27 de set 2013.

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(Autor desconhecido). O Café e a República: Economia cafeeira. Disponível em: <http://www.mundovestibular.com.br/articles/2809/2/O-CAFE-E-A-REPUBLICA---ECONOMIA-CAFEEIRA/Paacutegina2.html

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9 ARTES PLÁSTICAS E A SEMANA DA ARTE MODERNA DA DÉC ADA DE 20

Tarsila Lemus do Nascimento

A Semana da Arte Moderna da década de 20 foi um dos acontecimentos mais importantes

para que o mundo artístico pudesse ter um grande impulso no Brasil.

Seu maior objetivo era romper com os padrões europeus, buscando uma identidade e

valorização da cultura brasileira, assim, criando um estilo acadêmico para obras retirado das

tradições do Brasil, promovendo uma nova era com artes mais renovadas.

Cattani (2004) constata que a modernidade e raízes culturais próprias estavam já

ideologicamente ligadas na Semana da Arte Moderna, pois defende que os artistas modernistas

brasileiros se indagavam e buscavam tornar-se modernos sem correr o risco de perder sua

identidade pessoal e cultural.

Os principais artistas plásticos que participaram da Semana da Arte Moderna na pintura

foram Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Inácio da Costa Ferreira, John

Graz, Alberto Martins Ribeiro, Oswaldo Goeldi. Já na escultura os principais foram Victor

Brecheret, Hidelgardo Leão Velloso, Wilhelm Haarberg.

Tarsila do Amaral é considerada musa inspiradora da semana de 22 e um dos grandes pilares

do Modernismo brasileiro; mas ao contrário do que muitos pensam, ela não participou da Semana

da Arte Moderna, pois se encontrava em Paris, por este motivo ela não participou do evento.

Todavia esteve por dentro de cada detalhe, pois sua amiga Anita Malfatti lhe enviou uma carta

informando-a com minúcias os acontecimentos da polêmica Semana da Arte Moderna.

As obras de Tarsila do Amaral se tornaram verdadeiras expressões da identidade brasileira,

criando o conceito de brasilidade. Foi a primeira a usar “cores caipiras” e a utilizar de temas do

cotidiano do Brasil.

Portanto, “Tarsila do Amaral é caracterizada como a pintora mais representativa da maneira

como a modernidade se implantou nas artes plásticas brasileiras” (Cattani, 2004).

REFERÊNCIAS

CATTANI, Icleia Borsa. Icleia Borsa Cattani / organizador: Aguinaldo Farias. – Rio de Janeiro: FUANRTE, 2004. 160 p.: il. - (Pensamento Crítico; 3).