REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE … · O conto “O arco e o cesto”, do...

147
MARIA RITA PEREIRA DE SOUZA REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DO ENSINO MEDIO Mestrado em Língua Portuguesa Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo – 2006

Transcript of REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE … · O conto “O arco e o cesto”, do...

MARIA RITA PEREIRA DE SOUZA

REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DO

ENSINO MEDIO

Mestrado em Língua Portuguesa

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo – 2006

MARIA RITA PEREIRA DE SOUZA

REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DO

ENSINO MÉDIO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Língua portuguesa, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Ferreira.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO SÃO PAULO – 2006

BANCA EXAMINADORA

_______________________________

_______________________________

_______________________________

Às minhas filhas: Talita e Tamires, as jóias mais valiosas que tenho.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me concedido a vida, a sabedoria e a fé para a realização desta pesquisa e, também, por ter colocado no meu caminho pessoas especiais como:

O meu orientador, Prof. Dr. Luiz Antônio Ferreira, que me forneceu valiosas

sugestões para a concretização desta pesquisa. Os professores doutores do Programa de estudo Pós-Graduados em Língua

Portuguesa, que acrescentaram muitos conhecimentos importantes para a minha vida acadêmica: Profª. Dra. Sueli Cristina Marquesi, Prof. Dr. Dino Preti, Profª. Drą. Neusa Oliveira Barbosa Bastos.

Os professores Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira e Dra. Maria Flávia Bolella, que

contribuíram para o aperfeiçoamento de minha pesquisa no momento do exame de qualificação.

Os meus alunos da E. E. Profª. “Luzia de Queiroz e Oliveira”, que participaram

como sujeitos do processo de criação das redações. As minhas queridas filhas, Talita e Tamires, que me demonstraram o fascinante

potencial que tem o ser humano para agir criativamente a cada momento. O meu esposo, Antônio, que em todos os momentos da minha vida, tem me dado

força e apoio para persistir. A minha mãe, que com o seu exemplo, me ensinou o significado da palavra lutar. Os meus irmãos e sobrinhos, que, com palavras, gestos ou olhares, me transmitiram

forças para a realização desta pesquisa. Os meus amigos da Pós-graduação, que me apoiaram durante esta trajetória, e em

especial, Maria da Penha de Paula, que soube me ouvir e aconselhar nos momentos mais difíceis desta pesquisa. Agradeço também à S.E.E. pelo apoio financeiro.

RESUMO

Em nossa prática, temos constatado que a falta de criatividade é uma constante nas

redações de alunos, uma vez que estes revelam enormes dificuldades com relação à escrita. Diante dessa constatação, nos questionamos como podemos desenvolver o potencial criador de nossos educandos, já que o ensino atual está voltado para a memorização dos conteúdos e o “não pensar” ?

Cremos não ser possível apontar alguma solução, mas tencionamos provar que

algumas habilidades consideradas criativas como: o humor, a fluência, a fantasia, a originalidade, a curiosidade, a sensibilidade, a analogia, o inconformismo e a elaboração podem ser estimuladas por meio da prática e do treino.

Com vistas a alcançar tal objetivo, nos propusemos a analisar, em redações de

alunos, apenas as habilidades de humor, fluência e analogia. Considerando que o pensamento crítico está sempre em conexão com o pensamento criador na aprendizagem escolar, ao analisarmos as habilidades consideradas criativas, estabelecemos um elo com o pensamento crítico. O corpus utilizado para a concretização deste experimento foram redações de alunos da E. E. Prof.ª “Luzia de Queiroz e Oliveira”, situada na Zona Leste, São Paulo.

Para fundamentar esta pesquisa, utilizamos como apoio teórico: os autores voltados

para a Psicologia Escolar e Criatividade: Alencar, Freire, Kneller, Ostrower e Wechsler; os autores voltados para a Filosofia: Lipman e Raths e os autores voltados para a Lingüística textual: Koch, Rodari e Matos.

Com o resultado da análise, nos certificamos que os textos considerados criativos

possuem características que os diferem dos demais textos e comprovamos a falta de criatividade na maioria das redações, uma vez que estas não apresentaram as habilidades consideradas criativas. Preocupados com essa deficiência, oferecemos nesta pesquisa algumas propostas de como aflorar o pensamento criador do educando.

ABSTRACT In our practice, we have been verifying that the creativity lack is a constant in the

students' compositions, once these reveal enormous difficulties with regard to the writing.Ahead of this verification, we question us I eat we can develop the potential creator of our educandos, since the current teaching is directed to the contents memorization and to “don'tthink it” ?

We believe don't be possible to point some solution, but we intend prove that some

creative considered abilities eat: The humor, the fluency, the fantasy, the originality, thecuriosity, the sensibility, the analogy, inconformismo and the elaboration can be stimulatedby means of the prático and of the training.

With seen to reach such goal, we proposed us to analyze, in students compositions,

just the humor abilities, fluency and analogy. Considering that the critical thought is alwaysin connection with the thought creator in the school learning, to the we analyze the creativeconsidered abilities, establish a link with the critical thought. Corpus used to the materialization of this experiment were students' compositions of E. E. Prof.ª “Luzia deQueiroz and Oliveira”, situated in the Zone East, São Paulo.

To base this research, we use I eat theoretical support: The directed authors to the

School Psychology and Creativity: Alencar, Freire, Kneller, Ostrower and Wechsler; Thedirected authors to the Philosophy: Lipman and Raths and the directed authors toLingüística textual: Koch, Rodari and Matos.

With the result of analysis, we certify us that the creative considered texts own

characteristic that differ them of the too much texts and prove the creativity lack in thecompositions majority, once this ones didn't introduce the creative considered abilities.Worried with this deficiency, we offer in this research some proposed of eat bloom thethought creator of the as bloom the thought creator of the educating.

Criatividade é fazer castelos de areia – e torná-los reais

ou até mais fantásticos.

Criatividade é imaginar como é estar na Lua – e depois ir

até lá explorá-la.

Criatividade é sonhar sonhos impossíveis – e depois alcançá-los.

Criatividade é ler as “20.000 Léguas submarinas” de Júlio Verne – e depois construir uma cidade debaixo

d’aguá.

Torrance (1979)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................1 Capítulo 1 – Criatividade e seus conceitos.....................................................15 1.1 Teorias sobre criatividade............................................................18 1.1.1 Abordagens filosóficas..............................................................18 1.1.2 Abordagens biológicas..............................................................19 1.1.3 Abordagens psicológicas...........................................................20 1.1.4 Abordagens psicoeducacionais.................................................26 1.1.5 Abordagens psicofisiológicas....................................................30 1.1.6 Abordagens sociológicas...........................................................31 1.2 O Processo criativo.....................................................................32 Capítulo 2 – A pessoa criativa........................................................................36 2.1 Habilidades da pessoa criativa.....................................................38 2.1.1 Fluência.....................................................................................38 2.1.2 Pensamento original e inovador................................................39 2.1.3 Sensibilidade interna e externa..................................................40 2.1.4 Fantasia e imaginação...............................................................42 2.1.5 Inconformismo..........................................................................45 2.1.6 Uso de analogias.......................................................................47 2.1.7 Idéias enriquecidas e elaboradas...............................................51 2.1.8 Preferência por situações de risco, motivação e curiosidade....53 2.1.9 Humor, impulsividade e espontaneidade..................................54 2.1.10 Confiança em si mesmo e sentido de destino criativo............55 2.2 O que vem a ser Lingüisticamente criativo?...............................57 2.3 Aluno criativo x aluno inteligente...............................................61 Capítulo 3 – Variáveis influenciadoras na criatividade..................................66 3.1 Características de um contexto social propício à criatividade.....67 3.2 Ênfase no papel dos sexos............................................................69 3.3 A importância do ambiente escolar na criatividade.....................70

Capítulo 4 – Análise do corpus ......................................................................74 Capítulo 5 – Propostas de atividades............................................................100 CONCLUSÃO..............................................................................................107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................113 ANEXOS.......................................................................................................118

INTRODUÇÃO

A hora, transformada em ora, pede demissão do relógio e vai

trabalhar na gramática, como conjunção ou advérbio.

Gianni Rodari

O ser humano utiliza a língua porque vive em comunidades, nas quais tem

necessidade de comunicar-se e de interagir socialmente por meio do seu discurso. A

linguagem é uma forma de o indivíduo agir sobre o mundo, uma ação repleta de

intencionalidade.

É interessante ressaltar que a língua não serve apenas para se comunicar. Ela não é

um instrumento, ou seja, não é uma espécie de ferramenta que o sujeito utiliza para certos

fins comunicacionais. O conto “O arco e o cesto”, do antropólogo Pierre Clastres, nos

fornece uma visão mais ampla sobre linguagem. A obra trata de uma tribo de índios

chamada Guayaqui, em que os homens utilizam a linguagem de uma forma totalmente

inusitada. Nessa tribo, os papéis sociais são bem definidos: os homens caçam, deixando

para as mulheres o cuidado de coletar. Os caçadores cantam à noite, não para se comunicar,

mas para exprimir a insatisfação que sentem por terem que dar sua caça e dividir suas

mulheres.

Possenti (2004: 361) apresenta uma justificativa para a afirmação acima: “aceitar

que seja um instrumento significaria tomar a língua como algo completamente exterior ao

sujeito”. Para o autor, o sujeito é o que é por ser efeito da linguagem. A língua também não

pode ser concebida como expressão do pensamento, pois essa é uma visão instrumental e

aceitar essa teoria, seria acreditar que existe uma língua melhor para cada finalidade, por

exemplo, o alemão para a filosofia, o inglês para a ciência etc. Outro motivo para não

aceitar que a língua seja expressão do pensamento é porque essa concepção nos leva a crer

que pode existir pensamento sem linguagem. Possenti (op. cit.: 362) afirma que a língua

“não “veste” um pensamento prévio, que seria fruto de uma mente “sadia”, mas, ao

contrário, é a condição do pensamento.”

Segundo Geraldi (1990: 135-139) todo o processo de ensino/ aprendizagem da

língua na escola deve partir justamente da produção de textos (orais e escritos). Para ele, é

na produção de discursos que o sujeito articula, aqui e agora, dentro de uma certa formação

discursiva, um ponto de vista sobre o mundo.

Turazza (2005: 152) corrobora as afirmações acima. Para a autora:

O texto, concebido como processo de produção, é o lugar privilegiado da

criatividade, enquanto elemento formalizador do discurso. É nele que se

dá o processo de associação do “velho” (ou de associação entre o velho e a

nova informação), de modo a haver dissociação e reprocessamento para

“melhorar” ou para “transformar” os conhecimentos compartilhados.

A partir dessas afirmações, cremos ser relevante levar o aluno a refletir de maneira

crítica e criativa, sobre o mundo que o cerca, e também auxiliá-lo a usar a língua como

instrumento de interação social. Mas, o que é ser criativo? Como aflora o pensar criativo?

Como diferenciar o criativo, em língua, do não criativo?

Nos dias atuais, não resta dúvida de que em determinados grupos sociais, certos

comportamentos são avaliados positivamente em detrimento de outros. Há, como bem

reflete Ostrower (2001: 141), uma competitividade agressiva que é vista como um valor de

convívio e de produção: só cria quem compete. Para a autora, em nossa cultura, a

competição está institucionalizada em todos os setores, e a competitividade é considerada

normal, pois é condição essencial para os processos de vida. Nesse sentido, os processos

criativos emergem dentro dos processos de trabalho, uma vez que o homem almeja sempre

realizar algo significativo. Para a autora (op. cit.: 10), “o homem cria, não apenas porque

quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser humano,

coerentemente, ordenando, dando forma, criando.”

A criatividade e os processos de criação seriam, nesse sentido, inerentes ao ser

humano e todo o seu fazer se transforma em um formar, justamente para configurar a vida e

dar-lhe sentido (cf. op. cit: 163). As palavras de Ostrower nos conclamam a refletir com

mais acuro sobre uma verdade advinda do senso comum de que, a criatividade é um “dom”.

Como a autora, entendemos o criar como uma habilidade que pode ser aprendida e

estimulada por meio de atividades adequadas.

O desenvolvimento da criatividade é extremamente necessário, uma vez que a

sociedade está passando por diversos problemas. Virgolin (1994: 43) frisa que:

convivemos com a idéia de um planeta ameaçado pela destruição atômica,

pelo declínio das nossas reservas naturais e dos chamados “combustíveis

fósseis” (como carvão, petróleo, gás natural), pelo efeito da

superpopulação e da deteriorização do meio ambiente natural.

Para a autora, toda essa crise está afetando nossa saúde, nosso modo de vida, nossas

relações sociais, políticas e econômicas e exigem transformações sociais, culturais,

espirituais e sobretudo nas idéias.

A partir dessas considerações, acreditamos que a criatividade seja uma habilidade de

sobrevivência para a próxima geração. Devido a tantas mudanças, o futuro torna-se incerto

e a cada momento surgem problemas que pedem por soluções criativas. Com esse ritmo

acelerado de transformações, temos certeza de que nosso futuro necessitará de pessoas

críticas e criativas que saibam usar a sua imaginação para satisfazer as necessidades do

momento. Diante dessa realidade concreta e desafiante, torna-se cada vez mais urgente uma

nova reflexão sobre o Ensino, pois é nessa área que os novos princípios ordenadores serão

definidos, equacionados e transmitidos a todos, para que uma nova civilização se construa

num amanhã próximo. A escola precisa ter ciência desse novo desafio que lhe é imposto e,

por meio de atividades adequadas, procurar se aproximar mais da realidade do aluno. Desse

modo, estimulará a capacidade de pensar criticamente dos educandos que,

conseqüentemente, encontrarão soluções criativas para os problemas.

Compreendemos que exista uma imensa necessidade de estimular a criatividade em

todos os ambientes, começando pela escola, pois é o local onde o indivíduo passa grande

parte de seu tempo antes de ingressar no mercado de trabalho. Entretanto, o que temos

observado é que a escola recebe influências negativas da sociedade, uma vez que com suas

práticas sociais transformam o indivíduo em um sujeito ideológico, pronto para reproduzir

essas mesmas atitudes sociais, o que impede a manifestação de outras práticas que talvez

fossem mais produtivas em termos de criatividade.

Para Lipman (2001: 19), a escola é um campo de batalha, uma vez que é a

responsável por fabricar a sociedade do futuro. Nesse sentido, todo grupo ou facção social

almeja controlar a escola tendo em vista seus próprios objetivos. As escolas refletem os

valores aceitos em sua época, e, estes, por sua vez, não devem ser desafiados ou submetidos

a sugestões alternativas.

Rodari (1982: 10) corrobora as afirmações acima. Para a autora, o pensamento

criativo seria uma arma eficaz de transformação do mundo. Portanto, representa uma

ameaça a uma ordem social conhecida, estabelecida e vantajosa e que para mudá-la são

necessários homens criativos que saibam usar sua imaginação. Urge desenvolver a

criatividade de todos para mudar o mundo.

Assim como Lipman e Rodari, acreditamos que o fato de se atribuir tão pouca

atenção ao pensamento crítico e criativo está relacionado à idéia de poder e de autoridade.

Se as pessoas forem estimuladas a pensar, com certeza irão pensar coisas que “não

deviam”. Se apresentarem alternativas, se criticarem, elas poderão discutir o poder que de

direito pertence aos que têm autoridade. Isso explica o porquê de a sociedade preferir

estimular a docilidade e a submissão às figuras poderosas.

Encontramos, talvez, uma justificativa em Silva (1994: 78): apesar de a pessoa

criativa ser considerada importante para a sociedade, ela é vista também como ameaçadora,

por ser questionadora e “revolucionária”. Segundo a autora, esse fato pode provocar uma

desestabilização social.

Diante desse quadro, torna-se evidente que a sociedade não estimula o pensamento

porque teme as conseqüências. Os educadores precisam conscientizar o aluno do quanto ele

necessita se libertar das pressões da sociedade; devem propiciar atividades que o levem a

ser crítico e criativo diante das situações problemas. Para tanto, é necessário que eles

também saibam pensar. De acordo com Freire (1996: 32), saber pensar é duvidar de suas

próprias certezas, questionar suas verdades. Se o docente faz isso, terá facilidade de

desenvolver em seus alunos o mesmo espírito. O professor que pensa certo deixa

transparecer aos educandos que uma das grandezas de estarem no mundo e com o mundo,

como seres históricos, é a capacidade de poderem intervir no mundo. Acreditamos que só

assim, os educadores exercerão de fato as suas obrigações com a educação, e, com certeza,

contribuirão para a construção de um mundo melhor.

O comportamento criativo fornece ao indivíduo vantagens em termos de “higiene

mental”, “pleno funcionamento de personalidades”, “realização educacional”, “sucesso

vocacional” e “bem estar social”. Essas vantagens, como aponta Torrance (1976: 36),

constituem a grande preocupação não só de elementos que militam na área da educação,

mas também de pesquisadores cujo objetivo é verificar até que ponto pode haver correlação

mútua entre tais variáveis e a criatividade em seus múltiplos aspectos.

Na esteira desse pensamento, Wechsler (1993: 77) salienta que um dos maiores

problemas da adolescência é a falta de destino criativo. Para a autora, os adolescentes não

sabem como canalizar suas energias. Acrescenta, ainda, que o que leva o jovem a utilizar

drogas e a praticar atos de violência é a falta de valores próprios e da percepção de

inutilidade da vida humana.

Segundo Torrance (1971: 82), o “abafamento dos desejos e das capacidades

criativas golpeia as próprias raízes da satisfação de viver, criando afinal arrasadora

tensão e desintegração”. Para o autor, não há dúvida de que a criatividade pessoal seja um

ótimo recurso para enfrentar as tensões do dia a dia.

Diante dessas afirmativas, a criatividade pode ser considerada como uma forma de

assegurar a saúde mental na infância, adolescência, maturidade e velhice, pois auxilia o

indivíduo a desenvolver o seu potencial, fornecendo-lhe forças internas para resolver os

seus problemas presentes e condições para reagir criativamente a problemas futuros.

Como podemos verificar, se, de um lado, o comportamento criativo é função do

bem estar do indivíduo e de sua adaptação ao meio social a que pertence; de outro, deve ser

considerado uma espécie de força motriz responsável pelo dinamismo interno da sociedade.

Na vida, mas principalmente na escola, a criatividade, em nossa perspectiva, não é

vista como uma característica inerente. A sala de aula é, pois, um excelente local para o

desenvolvimento do potencial criativo. Cremos que, esse potencial, em muitos e muitos

casos, está adormecido por causa da opressão que os indivíduos sofrem da sociedade, da

família e da própria educação que faz com que, de acordo com as regras do discurso

classifiquemos a produção – em qualquer sentido – como normal, se ligada à tradição e o

que comumente se espera como resultado daquela atividade, ao tradicional, ao que é

esperado. (cf. Wechsler, 1993: IX)

Essa forma de ver é confirmada por Rodari (1982: 10), ao afirmar que a justificativa

para a criatividade se “desenvolver” apenas em alguns indivíduos está ligada à divisão

injusta do trabalho, à educação concedida apenas aos privilegiados. A falta de estímulo no

ambiente em que cresce a maioria das crianças é, portanto, fator de inibição do potencial

criativo. Alencar (1993: 84) corrobora essa afirmação e cita o Japão como sendo um país

que considera todos os indivíduos como possíveis portadores de algum talento ou

habilidade superior, o que facilita o surgimento da criatividade.

No Brasil, temos um enorme desafio, uma vez que as estatísticas revelam que o

fracasso escolar é uma constante nas escolas brasileiras. O índice de reprovação e evasão

ainda é muito grande. Muitas crianças estão sem estudar, ou porque as escolas da região

não atendem à demanda, ou porque precisam trabalhar para ajudar nas despesas da casa.

Também, o tempo que o aluno permanece na escola é insuficiente, em vista do tempo que o

aluno permanece na escola em países desenvolvidos como França, Alemanha, Inglaterra,

Japão ou Estados Unidos. Outro fator que agrava o fracasso da nossa educação é que, em

algumas regiões do país, existe uma enorme quantidade de professores que não chegaram

nem mesmo a completar o ensino fundamental e estes, quando no meio rural, se vêem

obrigados a atender simultaneamente a alunos de séries diferentes.

No que se refere à criatividade, embora haja um consenso por parte dos educadores

de que essa habilidade deva ser desenvolvida, não oferecem as condições mais adequadas

para a expressão da criatividade. Observamos que cultivam idéias errôneas a respeito de

criatividade, como, por exemplo, a idéia de que a criatividade é uma característica inata,

não podendo ser ensinada ou aprendida. Devido ao programa extenso da escola brasileira,

aliado ao pouco tempo que os alunos permanecem na escola, é favorecido apenas um

número muito reduzido de habilidades intelectuais. Essas habilidades são insuficientes para

preparar o aluno para um futuro produtor de conhecimentos. Observamos, também, que

muito pouco tem sido feito, no sentido de favorecer o desenvolvimento do pensamento

crítico. O aluno tem pouca oportunidade de investigar problemas reais e de interesse

concreto. Enfim, em nossa prática pedagógica, constatamos que apesar de muito se falar em

criatividade pouco tem sido feito no sentido de reconhecê-la e favorecer o seu

desenvolvimento.

Todas as pessoas possuem potencial criador e esse potencial pode evoluir em vários

níveis de intensidade. De acordo com Alencar (1993: 16), todo ser humano possui um certo

grau de habilidades criativas, que podem ser aperfeiçoadas por meio da prática e do treino.

Condições ambientais favoráveis e o domínio de técnicas adequadas favorecem o

desenvolvimento da criatividade. Como já dissemos, de acordo com a autora, um ambiente

que favorece o medo do ridículo e da crítica é responsável por bloquear o surgimento

dessas habilidades criativas.

Infelizmente, quando pensamos nas condições naturais do ensino de redação em

nossas escolas, a fantasia, embora aparentemente estimulada, vem sempre eivada de

observações de muitas espécies que, de algum modo, desestimulam a coragem em relação

ao arriscar e ao criar. É importante ressaltar que os livros didáticos também desestimulam

alguns traços associados à criatividade como a curiosidade e a espontaneidade. Os contos

endereçados às crianças enfatizam uma criança passiva, obediente, no qual uma atitude de

curiosidade é sempre punida e a desobediência castigada. A nossa literatura infantil é

direcionada para fortalecer aqueles mesmos traços acentuados pela família e pela escola, de

conformismo, obediência e passividade. De acordo com Freire (1996: 63), o educando que

tem a sua curiosidade “castrada” acaba perdendo a sua liberdade e o seu desejo de

aventurar-se.

Alencar (1993: 86) realizou estudos para investigar as características e

comportamentos desejados e encorajados pelos professores em sala de aula e, também,

investigar a extensão em que estes professores enfatizam características relacionadas à

criatividade. Nessa pesquisa, constatou que 95% dos professores gostariam que seus alunos

fossem obedientes, sinceros, atenciosos, trabalhadores e bem aceitos pelos colegas.

Algumas características relacionadas à criatividade como independência de julgamento,

curiosidade, intuição e absorção nas tarefas que realizam não foram consideradas

importantes, para serem encorajadas na sala de aula. Já a obediência e o conformismo

parecem facilitar a disciplina e a ordem exigidas pelos professores, principalmente com

relação a alguns objetivos exigidos pelo sistema educacional que prioriza o domínio de

conhecimento à habilidade de solucionar problemas.

De fato, o que temos percebido é que os educadores dão pouco valor ao aluno

criativo. O aluno ideal, desejado por todos os professores, é aquele que permanece quieto e

atento ao que o professor está transmitindo, é um aluno que não questiona, que não critica,

que não propõe ao professor novas abordagens. Acreditamos que esse modelo de aluno

ideal é mais um agravante que conduz a uniformidade de comportamento, de pensamento e

expressão, constituindo, ao mesmo tempo um obstáculo à espontaneidade. Entretanto, a

culpa pela repressão à criatividade não pode ser somente lançada ao professor, uma vez que

ele próprio advém de um sistema educacional no qual também teve sua própria criatividade

reprimida.

De acordo com nossas pesquisas, constatamos que o criar é uma habilidade que

pode ser desenvolvida pelo pensamento, cabendo à escola essa tarefa. Noller (apud

Wechsler, 1993: 165) postula que a “função da escola é ensinar o aluno a pensar”. Para o

autor, isso só pode ser alcançado por meio do desenvolvimento da criatividade de cada

aluno, isto é, estimulando a sua motivação interna. Desse modo, o ensino criativo deve ser

feito por meio da motivação interna criada dentro do indivíduo e não por meio de reforço e

punição.

A produção criadora está sempre em conexão com o pensamento crítico na

aprendizagem escolar. Para Lipman (2002: 39), existe a fusão dessas duas habilidades, pois

não há pensamento criativo sem o mínimo de julgamento crítico. Dias (1986: 54)

acrescenta que

numa organização hierárquica, a criatividade surge como o grau máximo

da criticidade, de forma que todo texto criativo é um texto crítico, sem,

contudo, implicar que o inverso seja verdadeiro, ou seja, que todo texto

crítico deva ser um texto criativo. Parece-nos mesmo que a criatividade

chega mesmo a representar um passo que é posterior à crítica, uma vez

que a construção do novo e da ruptura só é possível através da crítica ao já

conhecido.

Como podemos verificar o pensamento crítico e o criativo estão intrinsecamente

relacionados. Ao tratarmos de criatividade, portanto, estabeleceremos, também, um elo com

o pensamento crítico. De acordo com Lipman (2002: 57), o pensamento crítico “envolve a

capacidade de presumir, supor, comparar, inferir, contrastar ou julgar para deduzir ou

induzir, classificar, descrever, definir ou explicar”. Para Turazza (2005: 152), a

criatividade implica:

estabelecer novas associações, provocando rupturas com associações e

referências triviais, adquirindo flexibilidade mental, originalidade e

tornando-se capaz de usar o previsível para superar o imprevisível, isto é,

desenvolver habilidades de produção..

Assim como Lipman e Turazza, acreditamos que essas habilidades são essenciais

para nós, uma vez que sem elas nossa capacidade para ler e escrever estaria ameaçada. Elas

nos auxiliam a pensar melhor, a fazer melhor e a resolver melhor os nossos problemas. Ao

transformar, estamos agindo, fazendo e são esses processos de criação que nos envolvem na

globalidade, em nosso ser sensível, no ser atuante, no ser pensante.

Atualmente, sentimos que há uma necessidade imensa de acentuar o pensamento na

educação de crianças. Almejamos que nossas crianças pensem sozinhas, que se

autogovernem, que sejam equilibradas. Não queremos que sejam imprudentes ou

precipitadas em seus julgamentos. Esperamos que sejam capazes de aplicar o conhecimento

obtido, em situações novas. Esperamos que selecionem o certo e o errado na propaganda

que se dirige a elas. Esperamos que tenham uma atitude de reflexão em situações

problemáticas. Para Lipman (2002: 159), urge que os educadores ensinem as crianças a

pensar por si mesmas se querem ter uma democracia de verdade, uma vez que o indivíduo

pensante é tão importante quanto a sociedade que questiona.

Mas o que seria esse “pensar”? Quais as conseqüências que o desenvolvimento

dessa habilidade implicaria no educando? Segundo Raths (1977: 1), “pensar está

relacionado ao homem global. Não se limita apenas ao domínio cognitivo. Abrange a

imaginação, o pensamento com certo objetivo, exige a expressão de valores, atitudes,

sentimentos, crenças e aspirações”. Para o autor, a privação de alguns tipos de experiências

tem conseqüências no comportamento. Por exemplo, um aluno que não se concentra; que

não presta atenção no que está realizando, com certeza fracassa em seu trabalho. O autor

enfatiza que quando os educadores oferecem oportunidades para o aluno pensar, a

freqüência de comportamento impulsivo tende a diminuir. De acordo com Raths, não há

receitas para se ensinar a pensar, não existe um “jeito certo” para pensar. A capacidade de

pensar já é própria do ser humano, o que é necessário é oferecer oportunidades para o

indivíduo pensar e discutir o pensamento.

As palavras de Raths nos permitem refletir sobre a situação do ensino atual, que

valoriza a memorização do conhecimento e o “não pensar”. Acreditamos que seja

necessário propiciar atividades que favoreçam o pensamento. Se esse for priorizado em

nossas escolas, com certeza haverá maior tendência para utilizar operações de pensamento

para resolver vários problemas da vida. Com isso, o aluno exercitará sua capacidade de

pensar, refletirá mais antes de tomar decisões precipitadas e toda essa aprendizagem

exercitada na escola terá também reflexo na sua vida particular.

É por meio da mobilização do pensamento criativo do educando e da compreensão

das características de personalidade que ocorrerá a fusão entre a aprendizagem escolar e o

mundo real do trabalho. Para Wechsler (1993: XIV), é preciso que haja uma ênfase maior

em perceber implicações, propor alternativas, predizer direções, estimar as conseqüências

das ações, elaborar as alternativas, elaborar perguntas, tomar decisões, obter novas

informações, reconhecer e compreender os potenciais e como mudar certas características.

Enfim, os pensamentos crítico e criativo podem produzir uma melhoria na

educação, uma vez que aumentam a quantidade e a qualidade do significado que os alunos

retiram daquilo que lêem e percebem, e que expressam por meio daquilo que escrevem e

dizem. Segundo Lipman (2002: 183),

o pensar crítico é essencial para a reforma educacional. Os educadores

almejam alunos que possam fazer mais que simplesmente pensar; é

igualmente importante que sejam capazes de praticar um bom julgamento.

É o bom julgamento que caracteriza a interpretação profunda de um texto

escrito, a redação equilibrada e coerente, a compreensão lúcida daquilo

que ouvimos e o argumento persuasivo.

Diante desse quadro, constatamos o grau de importância da figura do

professor e sua relevância no processo ensino-aprendizagem. Os melhores professores são

aqueles que percebem o potencial criador de seus alunos e os auxilia no aflorar de idéias

originais.

A criatividade é uma ação ativa do sujeito sobre o mundo. Segundo Franchi (1991:

9), é “uma atividade criadora e não meramente reprodutora”. Ser criativo é operar, com

consciência, sobre os múltiplos usos da linguagem (falada, escrita, icônica, gestual, etc), em

seus contextos de produção reais ou imaginários, constituindo-se num sujeito singular,

único.

Temos consciência de que algo deve ser feito para que o indivíduo possa ser

cada vez mais crítico e criativo; e poder trabalhar simultaneamente a linguagem, uma vez

que é por meio da linguagem que o homem se constitui como sujeito. É necessário trabalhar

com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua

criatividade. São esses, pois, os nossos propósitos para a elaboração desta dissertação.

Treinar a criticidade envolve uma aprendizagem que tem como ponto de partida o

desempenho do aluno na leitura de textos de diferentes códigos e diferentes estruturas. A

percepção crítica precisa, cremos, ser trabalhada e cultivada num processo gradativo e

contínuo. É um experimento que deve se desenvolver em cada situação da vida do

educando e significa que a atitude do professor, enquanto orientador e instigador do

processo aprendizagem, precisa extrapolar o texto didático e alcançar o próprio universo do

indivíduo, enquanto texto disponível para trabalhar a criticidade. (cf. Dias, 1986: 61)

Temos certeza que o processo criativo se envolve no aflorar de uma série de

habilidades que se complementam e aflora, no nosso caso, em língua. A nosso ver, treinar

(e isso é possível) a criatividade consiste em desenvolver no educando as habilidades de

fluência, analogia, humor, originalidade, inconformismo, elaboração, fantasia,

sensibilidade, curiosidade. Com isso, será capaz de perceber lacunas, definir problemas,

testar soluções e elaborar planos para a implementação de uma nova solução escolhida;

enfim, seus gestos terão um tom singular, idiossincrático... criativo.

Considerando que o sujeito criativo é na verdade um sujeito que interessa a uma

sociedade nova, crítica e criativa, surgiu a necessidade de pesquisarmos critérios de

avaliação que estivessem centrados no indivíduo como ser mutante, pois, a nosso ver, urge

prepararmos o indivíduo para a vida e não para o simples acúmulo de informações.

Temos observado, em nossa prática pedagógica, que a falta de criatividade é uma

constante nas redações de alunos. Estes demonstram grande dificuldade com relação à

escrita, muitos ainda encontram um verdadeiro “bloqueio” quando necessitam de escrever.

Diante dessas constatações, nos questionamos como podemos desenvolver o potencial

criador dos educandos, já que o ensino atual está voltado para a memorização dos

conhecimentos e o “não pensar”?

Com esta pesquisa, não pretendemos apontar alguma solução e nem somos capazes

de fazê-lo. Mas tencionamos provar que algumas habilidades consideradas criativas podem

ser estimuladas. Desse modo, acreditamos contribuir para a produção de textos mais

originais.

Com vistas a alcançar tal objetivo, nos propusemos a analisar, em redações de

alunos, algumas habilidades consideradas criativas e propor alternativas que possibilitem

estimulá-las. Lembramos que os autores: Kneller, Alencar e Wechsler, que serão abordados

nesta pesquisa, afirmam que as habilidades da pessoa criativa são: fluência, originalidade,

humor, inconformismo, elaboração, analogia, fantasia, curiosidade e sensibilidade. Porém,

por motivos de delimitação, nos deteremos ao estudo do humor, da fluência e da analogia.

Para fundamentar esta pesquisa, utilizaremos como apoio teórico: os autores

voltados para a Psicologia Escolar e Criatividade: Wechsler, Alencar, Kneller, Ostrower e

Freire; os autores voltados para a Filosofia: Lipman e Raths e os autores voltados para a

Lingüística textual: Koch, Rodari e Matos.

Este trabalho terá como corpus, narrativas de nossos alunos, que estão cursando o

primeiro ano, do ensino médio, da E. E. Profª “Luzia de Queiroz e Oliveira”, situada em

Itaquera, Zona Leste, São Paulo. Para a concretização desse experimento, solicitamos a

quarenta alunos (vinte e três meninos e dezessete meninas) que realizassem uma narrativa

dando continuidade à seguinte frase “Se eu fosse um...”. De acordo com Raths (1977: 300),

esse tipo de atividade faz com que os alunos criem, tenham novas idéias e inventem novas

formas de ver as coisas. Esse tipo de exercício é um convite para liberar a imaginação e a

criatividade. Tomando por base a afirmação de Raths e tendo ciência da importância desse

tipo de atividade é que aplicamos o exercício.

Como já mencionamos, todo o processo de ensino/aprendizagem da língua na escola

deve partir da produção de textos orais e escritos. Diante de tal afirmativa, percebemos a

importância de se trabalhar com textos escritos e justificamos o porquê de esta pesquisa ter

como corpus textos produzidos por alunos.

Com vistas a atingir nosso objetivo, assim estruturamos esta pesquisa:

Introdução: em que fazemos a explicitação do tema, das justificativas do estudo,

dos objetivos, da pergunta de pesquisa e a organização da dissertação.

Capítulo I: em que demonstramos que a criatividade tem sido estudada sob os mais

diversos enfoques e abordagens teóricas, indicando assim que ela contém vários aspectos

de extrema relevância. Também vamos discorrer sobre cada fase do processo criativo e

comprovar a importância desse seqüenciamento para a criatividade.

Capítulo II: em que apontamos a importância de se descobrir e de se desenvolver

as características ou traços da personalidade criativa. Enfatizamos que tais características

são condições sine qua non para o surgimento de comportamentos criativos. Em seguida,

salientamos que o indivíduo criativo utiliza recursos na linguagem que o fazem ser

considerado lingüisticamente criativo.

Capítulo III: em que oferecemos um panorama dos diversos elementos que podem

influenciar a criatividade. Enfatizamos que existem bloqueios que afetam a manifestação do

potencial criativo.

Capítulo IV: em que analisamos, nas redações de alunos de ensino médio, algumas

habilidades consideradas criativas como o humor, a fluência e a analogia.

Capítulo V: em que apresentamos propostas de atividades para o desenvolvimento

das habilidades de fluência, humor e analogia, que poderão ser utilizadas pelo professor em

sala de aula ou pelo leitor de qualquer área que quiser “brincar” com as suas idéias e buscar

novas soluções para os problemas enfrentados no seu dia-a-dia.

Conclusão: em que apresentamos e discutimos os resultados obtidos na análise do

corpus, além de retomarmos a pesquisa de modo geral.

CAPÍTULO I

CRIATIVIDADE E SEUS CONCEITOS

A criatividade envolve 99% de esforço

e dedicação e 1% de inspiração.

Thomas Edson

Neste capítulo, vamos apresentar alguns conceitos a respeito de criatividade, bem

como as diversas teorias e abordagens que existem sobre o assunto. Nosso objetivo ao

discorrermos sobre cada uma dessas teorias é propiciar um espaço de reflexão para

podermos avaliar textos criativos.

Levando-se em conta que esta pesquisa procura detectar as características para se

avaliar a criatividade, como a fluência, o humor e a analogia, nos referiremos

especificamente ao modelo psicológico cognitivista. Segundo Alencar (1993: 23), os

processos cognitivos se referem aos processos psicológicos envolvidos no conhecer,

compreender, perceber, aprender. Eles se referem ao modo como a pessoa lida com os

estímulos do mundo externo: como o indivíduo observa e compreende, como grava as

informações e como adiciona as novas informações aos dados previamente registrados.

Até 1950, pouco se havia feito em relação às pesquisas sobre criatividade, mas a

partir dessa data, grande interesse dominou a atenção de pesquisadores americanos. Dentre

eles, podemos destacar: Guilford, Torrance, Wallach e Kogan. Guilford desenvolveu vários

estudos a respeito das habilidades intelectuais que estariam relacionadas à criatividade e

também a outras habilidades cognitivas. Uma de suas maiores contribuições foi alegar que

a inteligência humana é muito mais complexa do que o tem sido medida pelos testes de

inteligência.(cf. Alencar, 1993: 24)

Gardner foi outro psicólogo que também contribuiu para despertar dúvidas em

relação à eficácia dos testes de Q. I. O estudioso enfatiza que o intelecto humano possui

capacidades diferenciadas, variando desde a inteligência musical até a inteligência

envolvida no entendimento de si mesmo. Para o autor, esses testes medem apenas as

capacidades lógico-matemática e lingüística e deixam de lado as demais inteligências.∗

∗ Aprofundaremos melhor o assunto no capítulo II.

De acordo com as teorias estudadas, há muitos conceitos para o termo criatividade.

Observando-os, constatamos que não existe acordo quanto ao significado exato do termo.

Verificamos também que os estudiosos utilizam diferentes critérios para defini-lo.

Kneller (1978: 13) utiliza o critério da flexibilidade para definir criatividade: “tão

flexível e caprichoso fenômeno é a criatividade, que mal podemos defini-la.”

Wechsler (1993: 2) usa o critério etimológico: ″nas definições mais antigas sobre

criatividade encontramos o termo latino creare=fazer, e o termo grego krainen=realizar″.

Para a autora, essas definições revelam uma grande preocupação com o que se faz e com o

que se sente, isto é, como pensar, produzir e se realizar criativamente.

Anderson (apud Alencar, 1993: 13) considera a criatividade como um produto

inovador: “criatividade representa a emergência de algo único e original.”

Stein (apud Alencar, 1993: 13) enfoca a criatividade a partir do resultado:

“criatividade é o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou

satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo.”

Margaret Mead (apud Kneller, 1978: 16) define criatividade como: produção,

invenção e pensamento: “...desde que uma pessoa faz, inventa ou pensa algo que é novo

para si mesma, podemos dizer que realizou ato criador...”

Rodari (1982: 140) utiliza o critério do inconformismo:

Criatividade é sinônimo de “pensamento divergente”, isto é, a capacidade

de romper continuamente os esquemas da experiência. É “criativa” uma

mente que trabalha, que sempre faz perguntas, que descobre problemas

onde os outros encontram respostas satisfatórias (na comodidade das

situações onde se deve farejar o perigo), que é capaz de juízos autônomos

e independentes (do pai, do professor e da sociedade) que recusa o

codificado, que remanuseia objetos e conceitos sem se deixar inibir pelo

conformismo.

Torrance (1976: 34) emprega o critério da percepção: “criatividade é o processo de

perceber lacunas ou elementos faltantes perturbadores; formar idéias ou hipóteses a

respeito deles; testar essas hipóteses; e comunicar os resultados, possivelmente

modificando e retestando as hipóteses.”

Como podemos observar, embora complexo no que tange à sua conceituação,

parece não restar dúvida de que o pensamento criativo é dotado de curiosidade, imaginação

e invenção. Diante dessa complexidade, torna-se necessário conhecer algumas teorias que

abordam o assunto em questão sob outras perspectivas. Com isso, será possível constatar

que alguns conceitos enraizados, presentes atualmente a respeito de criatividade, provêm

dessas teorias.

1.1 Teorias sobre criatividade Neste tópico, vamos abordar algumas teorias que tentam explicar tanto a evolução

filosófica quanto a psicológica de criatividade.

1. 1. 1 Abordagens filosóficas Uma das mais antigas concepções de criatividade provém da crença de que esse

processo acontece por inspiração divina. Como as pessoas conheciam pouco sobre o

pensamento humano, tudo que não podiam explicar atribuíam aos deuses. De acordo com

Platão (apud Wechsler, 1993: 2), o homem, no momento da criação, perdia o controle de si

mesmo, passando a um domínio de um poder superior. De acordo com essa teoria, a

vontade humana não pode interferir na criatividade, pois esta é vista como uma prenda

divina. Atualmente, ainda encontramos pessoas que acreditam que o artista é inspirado pelo

super-humano.

A criatividade era também concebida como forma de loucura. As pessoas

explicavam a espontaneidade e a irracionalidade da criatividade como sendo fruto de

loucura. A criatividade “seria por isso uma espécie de purgativo emocional que mantinha

mentalmente sãos os homens”. (Kneller, 1978: 34)

De acordo com a teoria filosófica, o sujeito criativo sempre destoa dos demais em

uma sociedade. Ele sempre age de uma forma que a sociedade não espera, por isso é

sempre julgado como anormal e louco. Por ser extremamente diferente, o indivíduo criativo

acaba se isolando do resto da sociedade. (cf. Wechsler, 1993: 2)

Segundo Kneller (1978: 35), no século XVIII, vários pensadores e escritores, como

Kant em sua Critica do Juízo, relacionaram criatividade e gênio. Kant alegou que uma obra

de criação é regida por leis próprias, imprevisíveis. A partir desse fato, concluiu que a

criatividade não pode ser ensinada. Para o autor (op.cit.: 37), a “criatividade humana

também tem sido encarada como expressão de uma criatividade universal imanente a tudo

que existe.”

A criatividade também foi vista como forma de intuição. Descartes (apud Wechsler,

1993: 3) acreditava que as idéias da alma eram inatas. Desse modo, o indivíduo criativo

possuiria uma capacidade de intuição cujo dom lhe seria dado. De acordo com essa teoria, a

pessoa criativa era considerada saudável, não era mais vista como louca, embora fosse,

ainda, vista como um ser diferente, por possuir um dom raro.

Infelizmente, ainda nos dias de hoje, as pessoas que conseguem manifestar o seu

potencial criador são vistas como “estranhas”, “esquisitas”, “meio loucas”. Mostraremos,

nesta pesquisa, que o indivíduo criativo se difere das demais pessoas, mas não pode ser

considerado um “louco”.

1. 1. 2 Abordagens biológicas A teoria evolucionista de Darwin teve enorme influência no conceito de

criatividade, que começa a ser concebida como força criadora inerente à vida. Segundo essa

concepção, a criatividade é transmitida pelos códigos genéticos e está fora do controle

pessoal, portanto não é educável. (cf. Wechsler, 1993: 3)

Edmundo Sinnot também foi um dos maiores responsáveis pela teoria biológica

sobre criatividade. O biólogo afirmava que a vida por si só é criativa, porque é capaz de se

auto-organizar e auto-regular sozinha, além de estar sempre gerando novidades. Para

Sinnot, na evolução física as mudanças aconteciam por conta das modificações genéticas.

No ser humano devido à sua capacidade consciente, emerge muitas vezes a necessidade de

colocar sentido e ordem nas experiências. Desse modo, o animal segue regras biológicas

para se organizar e o ser humano segue normas criadas por ele mesmo.(cf. op.cit.: 3)

Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que a criatividade é um dom divino, que o

indivíduo já nasce criativo. É bastante comum ouvirmos das pessoas que elas não são

criativas, que não possuem esse dom. Contudo, cabe aos educadores desmistificar essa

idéia, pois como já mencionamos, todo indivíduo possui um potencial criador.

1. 1. 3 Abordagens psicológicas a) Teorias associativas

Associacionismo, como o próprio nome já diz, consiste em associar idéias, oriundas

da experiência. Para Kneller (1978: 40), “quanto mais freqüentemente, recentemente e

vividamente relacionadas duas idéias, mais provável se torna que, ao apresentar-se uma

delas a mente a outra a acompanhe.”

Segundo essa teoria, as novas idéias surgem a partir das velhas. O pensador frente a

um problema recorre a combinações de idéias, até resolvê-lo. A nova idéia aparece dessa

nova combinação. O interessante é que essas idéias originais não aparecem aos poucos e

sim repentinamente. (cf. Kneller, 1978: 40)

Para Lipman (2001: 112), “quanto maior for o número de associações que fizermos

em nosso pensar, mais consistente será a textura de significados de tal pensamento.”

O autor (op. cit.: 140) acrescenta, ainda, que

se tentarmos compreender termos como “pensamento” e “criatividade”

utilizando uma perspectiva muito ampla, podemos colocar a questão da

seguinte maneira: pensar é fazer associações, e pensar criativamente é

fazer associações novas e diferentes.

Nós, assim como Lipman e Kneller, acreditamos que, para criar, o indivíduo tem

que, por meio de conhecimentos armazenados, fazer novas associações e interagir com eles,

reproduzindo, desenhando o “novo”, tendo como suporte os traçados do “velho”.

b) Teoria da Gestalt

Segundo a teoria gestaltista, o pensamento criador começa com uma situação

problemática que de certa maneira se torna incompleta. O pensador, então, enxerga esse

problema como um todo, tenta variadas abordagens para o problema e chega finalmente a

uma solução. (cf. Kneller, 1978: 40)

O sujeito criativo está sempre à procura de soluções para falhas na informação. Para

Wertheimer (apud Wechsler, 1993: 5), a experiência é muito importante para o

preenchimento da gestalt. No entanto, o significado de recordações passadas é mais

relevante do que a lembrança do fato ocorrido, no pensamento criativo. De combinações de

experiências passadas decorre o pensamento produtivo, ao passo que o pensamento

reprodutivo é a lembrança por si só.

Diante dessas considerações, observamos que essa teoria também acredita que é por

meio de conhecimentos armazenados que o indivíduo é capaz de construir o novo.

c) Teorias psicanalíticas

A psicanálise é, atualmente, a mais influente das teorias sobre criatividade. Para

Freud (apud Kneller, 1965: 41),

a criatividade origina-se num conflito dentro do inconsciente (o id). Mais

cedo ou mais tarde o inconsciente produz uma solução para o conflito. Se

a solução é “ego-sintônica”- se reforça uma atividade pretendida pelo ego,

ou parte consciente da personalidade, teremos como resultado um

comportamento criador.

Segundo Kneller (1978: 41), a criatividade e a neurose possuem a mesma origem,

ou seja, há uma espécie de conflito no inconsciente. Para o autor, a pessoa criativa e a

neurótica são movidas pela mesma energia, a do inconsciente.

Para Kneller (op. cit.: 138), vários pensadores acreditavam que o gênio e a loucura

estivessem relacionados entre si. Inventores, artistas, cientistas e outras pessoas criativas

foram vistos como loucos.

De acordo com a teoria psicanalítica freudiana, a criatividade e a neurose são

provenientes do conflito do inconsciente. No entanto, no indivíduo criativo haveria um

relaxamento maior entre as barreiras do ego e do id, possibilitando que os impulsos

criadores, provocados pelo inconsciente para solucionar conflitos, conseguissem transpor o

limiar da consciência. (cf. Wechsler, 1993: 6)

Como podemos observar, segundo a teoria freudiana, a criatividade é vista como

uma maneira de solucionar conflitos. Quando o educador oferece oportunidades para o

aluno pensar, está também propiciando momentos para que ele possa resolver os seus

conflitos internos. Com isso, há uma mudança no comportamento do educando, ou seja, ele

fica menos agressivo. Para Raths (1997: 4),

quando as crianças têm oportunidades para pensar, quando tais

oportunidades fazem parte do currículo e são apresentadas dia após dia, e

semana após semana, começam a modificar seu comportamento.

O humor e a fantasia são típicos da pessoa criativa. A originalidade que se manifesta

no humor e na fantasia são oriundos do inconsciente. Quando o ego se relaxa, ela acontece,

permitindo que as intuições do inconsciente venham à tona. (cf. Kneller, 1978: 43)

Na perspectiva dos psicanalistas freudianos, a criatividade é uma espécie de

continuação das brincadeiras infantis, um substituto para elas. Pois da mesma maneira que

a criança soluciona seus problemas por meio de brincadeiras, também a pessoa adulta

resolveria seus conflitos por meio de uma solução criativa. (cf. Wechsler, 1993: 6)

Diante do exposto acima, concluímos que, para aumentar o número de pessoas

criativas, é necessário estimular as brincadeiras infantis e o humor na sala de aula. Para

Kneller (1978: 43), a relação da criatividade com o folguedo infantil atinge máxima clareza,

talvez, no prazer que a pessoa criativa manifesta em jogar com idéias,

livremente em seu hábito de explorar idéias e situações pela simples

alegria de ver aonde elas vão levar.

Para os freudianos, o indivíduo criativo não é desajustado. Ele possui, ao contrário

do que pensam as pessoas, em geral, um ego muito flexível. É muito confiante, consegue

viajar pelo seu inconsciente e retornar a salvo com suas descobertas. (cf. Kneller, 1978: 43)

Todo indivíduo sente muita satisfação em criar. A criação faz muito bem para o seu

espírito. Nesse momento de criação, seu intelecto e seu sentimento estão em perfeita

harmonia. É como se ele abraçasse o mundo com muita força. Segundo Kneller (1978: 43)

na “realização espontânea do eu o homem une-se novamente com o mundo – com o

homem, a natureza, e ele mesmo.”

Embora todos os indivíduos sejam criativos, observamos que muitas vezes essa

habilidade não se manifesta. Para Wechsler (1993: 7), a sociedade é a maior responsável

pelo não surgimento da criatividade, pois evita mudanças que afetem seu equilíbrio. As

pessoas acabam se conformando com as regras impostas por ela, acabam reprimindo seus

desejos emocionais e a conseqüência disso é a neurose.

d) Teorias humanistas

De acordo com a teoria humanista, a criatividade é concebida como uma vocação do

ser humano à auto-realização. Carl Rogers foi uma das figuras mais importantes dessa

teoria, sua preocupação era com as forças positivas que o indivíduo traz dentro de si. Na

visão desse autor, para fazer desabrochar o potencial criativo é necessário que haja algumas

condições interiores: abertura às experiências, lugar interno de avaliação e habilidades para

viver o momento presente. (cf. Wechsler, 1993: 8)

Ser criativo é sempre estar aberto às experiências, ao passo que uma pessoa não

criativa é totalmente fechada. Para Kneller (1978: 50),

a criatividade é, pois, a capacidade de permanecer aberto ao mundo –

sustentar a percepção alocêntrica contra a autocêntrica secundária, e ver as

coisas em sua plenitude e realidade, em lugar de o fazer em termos de

hábito e interesse pessoal. A falta de criatividade, por outro lado, é o

estado de achar-se fechado à experiência.

A pessoa criativa possui características que a diferenciam das demais. Carl Rogers

(apud Wechsler, 1993: 9) apresenta algumas:

• tolerância às ambigüidades;

• ausência de rigidez nos comportamentos e pensamentos;

• confiança nos sentimentos e percepções;

• procura da auto-realização, desfrutando o momento presente e adaptando-se ao

meio;

• busca de organização contínua da personalidade.

Observando essas características, podemos constatar que a criatividade está

relacionada com saúde mental, ou seja, o indivíduo que possui uma mente sã é aquele que

consegue se auto-realizar por meio de criações.

Na visão de outro humanista famoso, Rollo May (apud Wechsler, 1993: 9), a

criatividade é definida como uma imersão total em uma idéia. Para favorecer esse processo,

estão envolvidos tanto os componentes físicos: pressão alta, perda de apetite, batimentos

cardíacos acelerados e componentes psicológicos (nervosismo, angústia, tensão). Esses

componentes são oriundos da enorme concentração do desejo de criar. É um processo

altamente emotivo.

e) Teorias desenvolvimentais

Piaget (apud Wechsler, 1993: 10) postulou que a imaginação criadora advinha do

processo de assimilação, em estado de espontaneidade. Segundo ele, a idade não diminui a

capacidade de o indivíduo criar, porém é integrada com a inteligência.

Alguns teóricos analisaram a criatividade em etapas. As fases que favorecem o

desenvolvimento da criatividade são: as fases do conflito iniciativa x culpa (fase fálica, de

acordo com Freud) e a fase do conflito intimidade x isolamento (fase genital, de acordo

com Freud). Para Gowan (apud Wechsler, 1993: 10), “nessas fases, o conflito se relaciona

com o amor pelo outro, sendo que na primeira, o amor é edipiano ou amor pela figura

parental do sexo oposto, e na segunda, o amor é do tipo heterossexual, do adulto jovem,

por determinadas pessoas.”

De acordo com essa teoria, a criatividade resulta de amar e receber amor. O amor é

que inspira a criatividade. Para comprovar tal afirmativa, Gowan (apud Wechsler, 1993:

10) apóia-se no fato de que poetas e escritores sempre enaltecem o amor, seja ele,

correspondido ou não.

f) A teoria do psicodrama

Um olhar retrospectivo tanto sobre civilizações primitivas como sobre as altamente

desenvolvidas mostra que uma antiqüíssima sabedoria consiste em atribuir às forças do

grupo um papel decisivo na estruturação da vida social. Em 1914, em Viena, reconheceu-se

que é mais fácil resolver problemas individuais dentro do grupo. Surgiu então o

psicodrama, teoria profunda do grupo, que reúne métodos individuais e de ação. Jacob L.

Moreno (1959: 106) foi o fundador dessa teoria e explica com clareza o termo:

Drama é uma palavra grega e significa “ação” ou (algo que acontece).

Psicodrama pode então ser definido como “o método que penetra a

verdade da alma através da ação. A catarse que ele provoca é por isso uma

“catarse de ação”.

O psicodrama tem como fundamento o princípio da espontaneidade criadora, a

participação desinibida de todos os integrantes do grupo na produção dramática e a catarse

ativa. Escolha, percepção e papel devem estar espontaneamente prontos para atender às

exigências da presente situação, sempre em constante evolução. Para Moreno, a

espontaneidade é a arma mais eficaz do homem criador e por meio do “Teste de

espontaneidade”, pode-se observar e medir o grau de adequação e originalidade. Vejamos

como Moreno (1959: 58) conceitua espontaneidade:

Espontaneidade (latim – sua sponte = do interior para o exterior) é a

resposta adequada a uma nova situação ou a nova resposta a uma situação

antiga. Espontaneidade atua no presente, aqui e agora. Está,

estrategicamente, ligada às oposições polares “automatismo-reflexão” e

“produtividade-criatividade”.

De acordo com o autor, a espontaneidade é mais antiga que a sexualidade, a

memória e a inteligência e, embora seja a mais antiga em termos universais, é a força

menos desenvolvida nas pessoas e, freqüentemente, inibida e desencorajada pelas

instituições culturais. Para Moreno, o desenvolvimento da espontaneidade deveria ser

exigido por todos os educadores, uma vez que essa habilidade é essencial para se criar.

1. 1. 4 Abordagens psicoeducacionais

a) Teoria cognitivista

J.P. Guilford (apud Kneller, 1978: 53) foi um dos psicólogos pioneiros que avaliam

a criatividade. De acordo com Guilford, a mente humana envolve 120 fatores ou

capacidades diferentes, que formam duas classes principais; capacidades de memória

(menor) e capacidade de pensamento (maior). As capacidades de pensamento se

subdividem em:

• cognitivas: reconhecem informações;

• produtivas: geram novas informações;

• avaliativas: julgam informações que são produzidas.

As capacidades produtivas se subdividem em:

• convergente: formulação de respostas lógicas para o problema;

• divergente: formulação de alternativas variadas à procura de várias soluções para o

problema;

Como podemos observar, o pensamento divergente é aquele que favorece a

criatividade, uma vez que oferece várias alternativas para a solução de problemas. Para

Guilford (apud Wechsler, 1993: 13), a criatividade estaria na operação do tipo divergente.

O psicólogo relacionou o pensamento criativo com a resolução de problemas. Dessa forma,

o pensamento criativo envolveria a elaboração de respostas diferentes.

Guilford (apud Wechsler, 1993: 15) apresenta alguns fatores que arrolam o

pensamento divergente:

a) Fluência vocabular: capacidade de gerar várias idéias. Pode ser ideativa, associativa e

expressiva:

• Fluência associativa: capacidade de fornecer palavras para uma área restrita de

significados;

• Fluência ideativa: competência de trazer à tona várias idéias em uma situação

problema;

• Fluência expressiva: capacidade de gerar muitas idéias para obedecer a limites.

b) Flexibilidade: capacidade de interpretar algo de forma diferente.

c) Originalidade: capacidade de produzir respostas diferentes ou incomuns.

d) Elaboração: capacidade de tecer detalhes para a obtenção de um determinado produto.

Os traços de personalidades também são importantes para o desempenho criativo. As

características mais importantes da pessoa criativa são: estar aberto às novas experiências,

ser tolerante às ambigüidades e ser sensível a novas informações.

Para Kneller (1978: 55), a educação ao invés de priorizar o pensamento divergente

está presa no pensamento convergente, pois ensina o estudante a achar respostas que a

sociedade julga certa. Lipman (2001: 213) corrobora tal afirmativa. Para o autor, o ensino é

o responsável por tornar os alunos submissos no modo de pensar e no comportamento: “A

escola é um local onde aprendemos as coisas certas nas quais devemos acreditar e onde

aprendemos a agir adequadamente”. De acordo com o autor, o educador deve levar o aluno

a pensar criticamente. Para ele, o pensar crítico irá ajudá-lo a evitar a pensar acriticamente e

a agir de forma irrefletida.

Assim como os autores acima citados, acreditamos que quando os educadores

oferecem aos alunos oportunidades que favoreçam o pensamento divergente, fornecem

também subsídios para o desenvolvimento da criatividade.

b) Teoria educacional

Paul Torrance (apud Wechsler, 1993: 16) foi um dos grandes estudiosos na área da

educação. Segundo a teoria de Torrance, nas fases da produção criativa há uma mistura do

pensamento convergente com o divergente. O pensamento divergente deve aparecer na fase

de formulação de hipóteses. Nessa fase, idéias precisam ser soltas, fluentes, flexíveis, sem

julgamentos ou críticas, deixando fluir a fantasia e a imaginação. O ambiente deve ser

estimulador e não punitivo para propiciar as melhores idéias. De acordo com essa teoria, o

pensamento divergente favorece o processo de testar as hipóteses. As idéias originais que

surgiram na fase anterior serão julgadas e avaliadas em diferentes aspectos.

Raths (1997: 31) corrobora as afirmações acima. O autor afirma que é fundamental

ensinar o educando a trabalhar com hipóteses, pois considera que quando o indivíduo faz

levantamento de hipóteses para solucionar um problema, está utilizando operações de

pensamento. Para o filósofo,

uma hipótese é uma proposição apresentada como possível solução para

um problema. Sugere uma forma de fazer alguma coisa. Muito

freqüentemente, também representa um esforço para explicar como algo

atua, e é um guia para tentar a solução de um problema. É uma proposição

provisória e representa um palpite.

Diante do exposto, verificamos que um bom educador precisa sempre apresentar à

classe um problema e pedir para que os alunos sugiram várias hipóteses de resolvê-lo. Com

isso, favorecerá o pensamento divergente.

Uma das mais importantes etapas do processo criativo, apontadas por Torrance, é a

fase de comunicação de resultados. É só por meio da divulgação de seu produto que o

artista avalia o impacto de sua obra. As falhas de seu produto que não foram percebidas

antes são, nessa fase, percebidas por ele.

A criatividade, na visão de Torrance, pode ser estudada por meio de fatores

cognitivos e características emocionais. Os fatores da criatividade envolvidos na área

cognitiva são: fluência (quantidade de idéias expressas), flexibilidade (mudança de

categoria de idéias incomuns) e elaboração (embelezamento das idéias). (cf. Wechsler,

1993: 16)

As palavras e os desenhos também podem revelar características das pessoas

criativas. Nas palavras, as características da pessoa criativa são: emoção, fantasia, analogia

e perspectivas incomuns. Nos desenhos, as características são: emoção, movimento,

perspectiva incomum, perspectiva interna, fantasia, combinação, riqueza e colorido da

imagem, humor, resistência ao fechamento de idéia e extensão de limites. (Wechsler, 1993:

18)

Observamos, em nossa prática pedagógica, que os educadores priorizam e reforçam o

pensamento convergente, uma vez que os estudantes devem encontrar uma única resposta

para os problemas. Há uma punição para melhorar a aprendizagem e isso só dificulta o

surgimento da criatividade. Para reverter tal situação, é necessário que o educador aplique

atividades, que partam do interesse do aluno e de sua motivação interna, pois essa possui

um efeito duradouro.

Torrance investigou e constatou que as crianças norte-americanas da quarta série

estavam diminuindo a criatividade, uma vez que estas são punidas na sala de aula. Os

professores valorizam a criança obediente e passiva ao invés da criança questionadora. (cf.

Wechsler, 1993: 18)

Quando as crianças são reprimidas na sala de aula, o ensino torna-se desmotivador e

sem nenhum aproveitamento. Para Lipman (2001: 97),

obrigar crianças a memorizar meros conteúdos é privá-las das

oportunidades de discernir relações e formar julgamentos; é fazer com que

sua experiência escolar seja sem sentido. Por outro lado, fornecer tais

oportunidades é estimulá-las a pensar por si mesmas, a fazer julgamentos e

a envolverem-se no pensar de ordem superior.

Kneller (1978: 38) acrescenta que a criança sempre tem uma paixão enorme pela

descoberta. A educação deve oferecer oportunidades para alimentar esse desejo. Para o

autor, a criança “em lugar de simplesmente receber o conhecimento de seus mestres e

manuais, ela deve recombinar por seus próprios meios aquilo que aprende”. Se os

educadores aceitarem o conhecimento como coisa dada, ele permanecerá “inerte” e abafará

a imaginação natural.

Torna-se necessário que os educadores se conscientizem desse problema e tentem

resolvê-lo, utilizando estratégias adequadas para obter alunos críticos e criativos. Dessa

forma, contribuirão para o ímpeto natural da criatividade. Para Kneller (1993: 96),

o mestre deve receber bem as idéias originais de seus estudantes - mais do

que isso, deve espiaçá-los para esse fim - sempre e em todos os assuntos.

Em primeiro lugar, podemos estimular os estudantes a ter idéias originais -

idéias que, pelo menos, sejam originais para eles.

Os educadores podem obter melhores resultados em relação à aprendizagem se

trabalharem de forma criativa. Os alunos que aprendem pouco de forma autoritária

poderiam aprender muito mais de uma forma criativa. O que temos observado, em nossa

prática pedagógica, é que a escola insiste em priorizar a memorização dos conteúdos,

fazendo pouco uso do pensamento divergente. Salientamos que não basta que os

educadores “encham a cabeça” dos alunos com conhecimento, é preciso exercitá-los no uso

desses conhecimentos. Para tanto, é necessário que os educadores ensinem os educandos a

pensar por meio de atividades que envolvam comparação, interpretação, resumos,

levantamento de hipóteses e inferências.

1. 1. 5 Abordagens psicofisiológicas a) Hemisférios cerebrais e criatividade

A psicofisiologia tem oferecido grandes contribuições no estudo sobre hemisférios

cerebrais e criatividade. Muito se tem questionado sobre a localização do pensamento

criativo. Por meio de muitos estudos, ficou evidente que o hemisfério esquerdo processa

bem melhor as informações de forma seqüencial, lógica, linear, detalhista, organizada e

analítica. É nesse hemisfério que se desenvolvem as expressões verbais: leitura, escrita,

matemática, computação ou aritmética.(cf. Wechsler, 1993: 19)

Já o hemisfério direito ficou conhecido por processar a informação de maneira

global, emocional, não-linear, ou sem lógica. Esse lado se encarrega dos seguintes

comportamentos:

Apreensão das idéias globais e principais dos problemas, lidar

intuitivamente com fatos e situações de modo simultâneo, apreender

através de experiência e do contato direto com o material, elaborar

pensamentos através de imagens ou sonhar acordado, responder

positivamente a apelos emocionais, usar analogias e metáforas, sumarizar

o material estudado, lembrar facilmente de rostos, interpretar linguagem

corporal, usar de humor, improvisar, desenhar as próprias idéias, sintetizar

imagens e outros processamentos da mesma natureza. (cf. Wechsler, 1993:

20)

Depois de muitas pesquisas, os estudiosos chegaram à conclusão de que há o

envolvimento dos dois hemisférios cerebrais na criatividade. O hemisfério direito se

encarrega de propor soluções originais para os problemas e o hemisfério esquerdo de

analisar detalhadamente os fatos e as soluções alcançadas, fazendo comparações,

modificando-as e criticando-as para alcançar os resultados finais. (cf. Wechsler, 1993: 20)

Com essa teoria, desmistificamos a idéia de que a criatividade provém somente de

um hemisfério. Mostramos que tanto o hemisfério esquerdo quanto o direito são

importantes na criatividade.

1. 1. 6 Abordagens sociológicas Os sociólogos têm se preocupado bastante em saber como deve ser o ambiente

facilitador do desenvolvimento da produção criativa. Eles questionam como a sociedade,

com suas regras, pode permitir o surgimento da criatividade.

Segundo essa teoria, os valores e critérios usados para julgar os produtos criativos

provêm do meio social ao qual o indivíduo pertence. Para Wechsler (1993: 21), a sociedade

“estabelece a utilização do produto criativo e as maneiras de se manter a continuidade

entre as descobertas e a utilização do passado e do presente”. Sendo assim, é necessário

termos uma visão ampla da sociedade a qual o indivíduo pertence para estudarmos a

criatividade, pois o ambiente social exerce uma força positiva ou negativa na produção

criativa. Os efeitos causados por ele são estimulador, recompensador, repressor ou punidor.

Isso nos leva a acreditar que a escola não é somente a responsável por fazer

desabrochar a criatividade, uma vez que a sociedade também assume um papel muito

importante na permissão ou não da expressão criativa.

Um produto só é considerado criativo em um determinado momento histórico. De

acordo com o teórico Csikszentmchalyi (apud Silva: 1994: 93), só podemos estudar a

criatividade se não isolarmos o indivíduo e sua produção do meio social, onde suas ações

ocorreram. Para este autor, a criatividade resulta de uma ação que une três forças:

• um grupo de instituições sociais, ou campo, que seleciona as produções que quer

preservar;

• um domínio de cultura que deve preservar e transmitir as idéias selecionadas para as

gerações seguintes;

• o indivíduo que traz alguma mudança no domínio e que o campo deve julgar

criativa.

De acordo com essa teoria, a criatividade é um julgamento de valor atribuído pelos

especialistas a uma obra. Desse modo, qualquer obra, bem como a pintura, escultura e

descoberta cientifica, só podem ser vistas como criativas quando comparadas com o que já

existe no momento. Para confirmar tal afirmativa, lembramos que vários artistas só são

reconhecidos após a morte, pois suas obras são confrontadas com outras, realizadas naquele

momento histórico.

Diante das teorias apresentadas, observamos que cada linha teórica aborda a

criatividade a partir de diferentes prismas e todas essas abordagens são essenciais para

termos uma visão mais ampla do que, afinal, seja a criatividade. Constatamos o quanto tem

sido difícil para os teóricos definirem o termo “criatividade” e, também, avaliarem quando

uma obra pode ser considerada criativa ou não.Vale ressaltar que avaliar um produto como

criativo vai depender do ponto de vista de cada estudioso. Vimos que provém da teoria

filosófica o conceito de que a criatividade é um dom que não pode ser estimulado. A força

dessas idéias sobre criatividade está ainda hoje bastante enraizada na nossa população.

Encontramos sempre pessoas, no nosso meio de trabalho, que se expressam com frases do

tipo “não adianta, não nasci criativo” ou “não tenho esse dom”. Observamos que é da má

interpretação da teoria psicanalítica que advém o conceito de considerar o indivíduo

criativo como “anormal”, conceito também enraizado em nosso meio, atualmente. Enfim,

esperamos que por meio dessas teorias tenhamos contribuído para esclarecer esse fenômeno

tão complexo que é a criatividade.

1. 2 O Processo criativo

De acordo com nossos estudos, observamos que existem fases que resultam na

produção criativa. Neste tópico, vamos discorrer sobre cada uma delas e procurar mostrar a

importância desse seqüenciamento para a criatividade. Mostraremos que para ocorrer a

criatividade é necessário muito esforço e dedicação. Desmistificaremos, então, o mito de

que a criatividade surge repentinamente.

A criatividade envolve alguns processos psicológicos presentes nos indivíduos. São

processos difíceis de serem mensurados empiricamente. Wechsler, Kneller, Alencar,

estudiosos do assunto, afirmam a existência de cinco fases no processo criador. São elas:

apreensão, preparação, incubação, iluminação e verificação. Esses autores explicam com

muita clareza cada fase do processo criativo:

a) Na fase de apreensão, o indivíduo se sente perturbado por algum problema que

precisa ser solucionado. (cf. Wechsler, 1993: 27)

b) Na fase de preparação, o indivíduo lê bastante, faz anotações, faz perguntas, propõe

possíveis soluções e enquanto está lendo ou investigando, está armazenando

hipóteses na sua cabeça. Todo esse processo ocorre de forma inconsciente. Essa fase

é bastante longa e pode durar meses ou anos. Para confirmar tal afirmativa, Alencar

(1993: 35) cita vários exemplos de pessoas que para realizar algo criativo levaram

muito tempo. Dentre elas, destacamos o escritor Tostói, da Rússia, que para

escrever Guerra e Paz, utilizou um número infinito de documentos que dariam para

formar uma biblioteca.

c) Na fase de incubação, a impressão que temos é que o indivíduo deixou de se

preocupar com o problema. Nessa fase, parece que as idéias estão enterradas por

tempo indeterminado (cf. Wechsler, 1993: 28). Durante esse período, é

imprescindível relaxar a atenção, dar uma pausa, quando a pessoa não consegue sair

da situação problema. Essa pausa é necessária para evitar que a pessoa fique

frustrada, na tentativa de solucionar o problema de uma vez só. Nesse período, não

é atribuída nenhuma atenção ao problema durante certo tempo, pois a incubação não

resulta de um momento de fadiga. Alguns indivíduos resolvem os problemas de

forma rápida, ao passo que outros deixam o problema em aberto. Para Wechsler

(1993: 32) deixar um problema em aberto propicia a incubação e revela que o

indivíduo ainda está atento para solucioná-lo. Guilford (apud Wechsler, 1993: 33)

enfatiza que os educadores devem deixar os problemas em aberto, para reflexão ao

invés de tentarem resolvê-los com respostas inadequadas.

d) Na fase de iluminação, o criador encontra a solução para os seus problemas

repentinamente. Esse momento é chamado de “clímax” ou “aha” ∗ do processo de

∗ Também conhecido como insight.

criação. O sujeito pode estar até dormindo quando alcança a idéia iluminadora, que

pode surgir em forma de analogias. (cf. Wechsler, 1993: 28)

Toda descoberta por acaso só acontece porque o indivíduo já estava com a mente

preparada, ou seja, ele já tinha passado um longo tempo em busca de uma solução para o

problema. Repentinamente, a analogia, entre algum elemento do ambiente e o problema

que estava almejando resolver, lhe traz um “clique”, um “heureca”. Para exemplificar,

Wechsler (1993: 35) cita o caso de Archimedes, que vivia preocupado em como iria medir

a coroa do rei: Certo dia, estava tomando um banho público, quando percebeu que a água

levantava pelas bordas da banheira, assim que seu corpo mergulhava. De repente, viu que

havia encontrado a solução para o seu problema. Sua alegria foi tanta que saiu nu pelas ruas

gritando “heureca”.

Wechsler (1993: 28) também cita o exemplo de Isaac Newton que elaborou a lei da

gravidade depois que a maçã caiu em sua cabeça. A autora ressalta que só quem estava

atento à lei da gravidade poderia fazer tal associação. As muitas invenções na área da

medicina, em forma de vacinas e antibióticos também surgiram repentinamente, após

exaustivos anos de estudo. Isso confirma uma frase importante de Thomas Edison: “a

criatividade envolve 99% de esforço e dedicação e 1% de inspiração”.

Para Alencar (1993: 40), embora o momento de inspiração surja repentinamente, ele

não ocorrerá se não formos receptivos. Cada indivíduo tem o seu estilo de pensar e as

condições que vão favorecer a criatividade variam de indivíduo para indivíduo, bem como a

hora do dia, a posição corporal, barulho ou silêncio, entre outros.

e) A fase de verificação também pode levar muitos anos. Segundo Kneller (1965: 71)

durante essa fase o criador faz de tudo para dar o toque final ao seu trabalho. Esse

processo necessita de muito esforço e acaba desestimulando o criador. Wechsler (1993:

29) cita como exemplo o caso de um poeta Coleridge, que desistiu de terminar muitos

de seus poemas, devido ao fato de estes necessitarem ainda de muita revisão. Para a

autora, às vezes, o produto final pode ficar totalmente diferente da idéia original.

Infelizmente, o que temos observado, em nossa prática pedagógica, é que nenhum

tempo é dado para o período de incubação na sala de aula. Devido à ausência de tempo, os

alunos se vêem obrigados a responder ou encontrar soluções banais ou pouco criativas.

Entretanto, muito poderia ser obtido, em termos de elaboração e aprofundamento de

conteúdo, se os educadores dessem maior tempo para a incubação nas salas de aula.

CAPÍTULO II

A PESSOA CRIATIVA

É o poder de ir e vir da fantasia para a realidade

(e vice-versa) que faz a pessoa saudável.

Ângela M. R. Virgolin O indivíduo criativo possui características que o difere das demais pessoas. Vamos apontar, neste capítulo, quais são essas diferenças e a importância de cada uma delas para a pessoa criativa.

Existem muitas pesquisas para se descobrir quais as características da pessoa criativa. Os pesquisadores almejam saber quais os sentimentos, comportamentos, atitudes que induzem o indivíduo a produzir algo criativo. Vários estudos foram realizados para analisar a biografia de pessoas altamente criativas. Um exame de estudos feitos com amostras de pessoas que contribuíram na arquitetura, ciências, matemática e arte aponta para alguns traços comuns que se sobressaíram.

Os pesquisadores que tiveram destaque no estudo da personalidade criativa foram: Barron (1955) que analisou a originalidade e Mackinnon (1964) que estudou a personalidade de arquitetos altamente criativos (cf. Wechsler, 1993: 48). Mackinnon postulou que os arquitetos mais criativos possuíam os seguintes traços de personalidades:

• intuição; • flexibilidade cognitiva, que permite ao indivíduo atacar um problema com uma

variedade de técnicas e a partir de uma variedade de ângulos, quando um determinado método ou enfoque mostra-se inadequado;

• percepção de si mesmo como uma pessoa responsável; • persistência e dedicação ao trabalho; • pensamento independente; • menor interesse em pequenos detalhes e maior nos significados e implicações dos

fatos; • maior tolerância à ambigüidade; • espontaneidade; • maior abertura às experiências; • interesse não-convencionais.

Macckinnon (apud Alencar, 1993: 19) constatou que os arquitetos mais criativos

possuíam alta inventividade, independência, individualidade, entusiasmo, determinação e capacidade de trabalho, ao passo que os demais se mostraram responsáveis, seguros e de bom caráter. Depois de muitas pesquisas, os estudiosos nessa área concluíram que as características comuns nas pessoas criativas são:

• fluência; • pensamento original e inovador; • alta sensibilidade externa e interna; • fantasia e imaginação; • inconformismo;

• uso elevado de analogias e combinações incomuns; • elaboração; • preferência por situações de risco; motivação e curiosidade; • elevado senso de humor, impulsividade e espontaneidade; • confiança em si mesmo, sentido de destino criativo. Além dessas características, é necessário também que o indivíduo tenha uma

bagagem de conhecimento. Para Alencar (1990: 37), o domínio do assunto é fundamental. A autora lembra que não seria possível para um compositor registrar a sua criação, caso não dominasse as regras de como imprimir na pauta a sua inspiração musical; outro exemplo seria do cientista que deve dominar os princípios básicos de laboratório para contribuir para o avanço científico. O conhecimento necessário varia de área para área e é de extrema relevância para a criatividade. 2. 1 Habilidades da pessoa criativa

Todas essas habilidades mencionadas são relevantes no pensamento criador. Portanto, acreditamos ser necessário discorrer sobre cada uma delas. Esperamos, com isso, demonstrar que essas habilidades podem ser desenvolvidas por meio da prática e do treino. Ressaltamos que apenas as habilidades de analogia, humor e fluência serão utilizadas para análise do corpus. 2. 1. 1 Fluência

Para Kneller (1978: 80), o indivíduo criativo é fluente, pois produz mais idéias do que uma pessoa comum, a respeito de um assunto. Segundo o autor, o indivíduo pode se expressar verbalmente ou não, assim como o artista pode fazer suas tarefas em tinta ou argila.

De acordo com Alencar (1993: 24), fluência é “a habilidade do sujeito em gerar um número relativamente grande de idéias na sua área de atuação”. Essa habilidade é medida pelos psicólogos por meio de testes, nos quais são apresentadas ao indivíduo algumas tarefas simples. O índice de fluência é determinado pela quantidade de respostas. A autora cita alguns exemplos de como medir essa habilidade:

• pedir ao aluno para que nomeie todos os objetos de que se lembre que sejam

sólidos, flexíveis e coloridos; • solicitar ao aluno que enumere todas as conseqüências para uma determinada ação

ou acontecimento; • propor ao aluno que escreva o maior número de palavras com a letra “p”.

Como podemos observar, a fluência é uma habilidade fácil de ser estimulada.

Segundo Kneller (1987: 100), quanto mais idéias o aluno oferecer, mais problemas

conseguirá sanar: “Ser fluente nas idéias, trará para seus estudos um cérebro

imediatamente mais fértil e pode utilizar de maneira mais ampla o que aprende.”

Muitas vezes, os educadores impedem precocemente o surgimento de novas idéias

por meio do raciocínio crítico, dizendo: “Isso não vai dar certo”, “Isso é ridículo”. Com

isso, inibem o afloramento de idéias originais, pois para que estas surjam é necessário que o

educando deixe fluir suas idéias, fazendo muitas associações. Como vimos, não é difícil

aplicar atividades que desenvolvam a habilidade de fluência. O desenvolvimento dessa

habilidade é uma forma de o educador valorizar as idéias de seus educandos e,

conseqüentemente, estimular a criatividade.

2. 1. 2 Pensamento original e inovador

Para Kneller (1987: 80), a originalidade “é o mais amplo dos traços que entram na

criatividade. Abrange capacidades como a de produzir idéias raras, resolver problemas de

maneiras incomuns, usar coisas ou situações de modo não costumeiro.”

Para Torrance (apud Wechsler, 1993: 51), a originalidade pode ser vista como:

novidade, quebra de padrões habituais de pensar, capacidade para produzir

idéias raras ou incomuns, uso de situações ou conceitos de modo não

costumeiro, habilidade para estabelecer conexões distantes e indiretas ou

resposta infreqüente dentro de um determinado grupo de pessoas.

Como podemos observar, a originalidade requer do indivíduo que ele dê um salto

mental, que vá além do óbvio. Essa habilidade é detectada por meio de respostas incomuns

e remotas. Existe um teste chamado “Títulos” que consegue medir a originalidade. Nesse

teste, contam-se histórias e solicita-se que os ouvintes ofereçam o maior número de títulos

adequados para elas. Guilford (apud Alencar, 1993: 25) sugeriu, para medir a originalidade,

a história de uma esposa que estava impossibilitada de falar, até que um dia realizou uma

cirurgia e recuperou a voz. Seu marido começou a sofrer porque ela falava em demasia,

após muito sofrimento, ele resolveu solicitar ao médico que realizasse uma cirurgia para

tirar sua audição. Dessa forma, a paz foi restaurada na família.Os títulos mais comuns

apresentados para essa história foram: “Um homem e sua esposa”, “O triunfo da medicina”,

“A decisão de um homem”. Já os considerados originais foram os títulos menos comuns

como: “O homem surdo e a mulher muda” e “Operação: paz de espírito”. A originalidade

deve ser avaliada dentro de um contexto, ou seja, não basta que a resposta seja incomum,

ela deve também ser avaliada quanto a sua adaptação à realidade. Com a finalidade de

diferenciar uma resposta criativa daquela feita ao acaso, é necessário que a resposta criativa

venha resolver um problema ou alcançar um objetivo. Para Kneller (1978: 18), não basta

que o produto seja novidade, ele tem que ser relevante para o momento.

Para obter uma solução original, os indivíduos criativos se esforçam bastante,

passam muito tempo em busca de uma resposta adequada ao problema. De acordo com

Wechsler (1993: 54), “os indivíduos originais também utilizam o seu pensamento inovador

para resolver problemas das suas vidas diárias”. Um exemplo disso é o caso de Thomas

Edison, o descobridor da lâmpada elétrica, que com os seus conhecimentos na área da

eletricidade, estava sempre trazendo novidades para o seu meio. Certa vez, acabou com as

baratas que infestavam o seu local de trabalho, colocando duas folhas de estanho

eletrificadas sobre a mesa, aonde elas passavam.

Como podemos observar, o exemplo citado revela o quanto a criatividade é

relevante não só para as grandes produções artísticas e científicas, mas também para a

solução dos nossos problemas diários. Demonstramos que para se obter um produto criativo

é preciso que o indivíduo se dedique muito e isso pode levar anos.

2. 1. 3 Sensibilidade interna e externa

Para Alencar (1993: 26), a sensibilidade se refere à habilidade de enxergar falhas

em uma situação onde aparentemente não se percebem problemas. Desse modo, enquanto a

maioria das pessoas não questiona, o indivíduo com sensibilidade tende a questionar até o

óbvio, a identificar as diferenças e defeitos em suas idéias e no ambiente observado. De

acordo com Wechsler (1993: 55), possuir sensibilidade interna e externa para o mundo que

nos rodeia é condição “sine qua non” para o começo do processo criativo.

Existem exercícios que favorecem a sensibilidade. Um deles é chamado de

“Defeituologia”. Nesse exercício, solicita-se aos alunos que nomeiem alguns defeitos para

um objeto qualquer. A título de exemplificação, Alencar (1993: 26) cita algumas respostas

oferecidas por estudantes quando lhes foi solicitado que nomeassem os defeitos de um

livro: junta poeira, ocupa espaço, não interage com o leitor, rasga com facilidade, o seu

conteúdo fica ultrapassado, não pode ser utilizado no escuro.

Para que ocorra a produção criativa é necessário que o indivíduo esteja apaixonado

por uma idéia. De acordo com Wechsler (1993: 57), a “energia mais poderosa para a

realização criativa tende a vir do sentimento de possuir um ideal, um sonho, que se

pretende realizar”. O comprometimento que indivíduos criativos tiveram por suas idéias,

pode ser observado em suas biografias. Torrance (apud Wechsler, 1993: 57) realizou

pesquisas para identificar as características de pessoas criativas e o que as motivava quando

eram crianças. Ele constatou a importância de se estar apaixonado por uma idéia desde o

início da escolaridade e também a de se conseguir expressar emoções e sentimentos por

meio de desenhos e palavras. O resultado de sua pesquisa apontou para o fato de que os

indivíduos criativos foram aqueles que tiveram, em suas infâncias, pais e professores que

respeitaram seus sonhos. Torrance constatou que o amor é fundamental na vida das crianças

para incentivar a criatividade. Com base nessas experiências sobre a importância do amor

na expressão criativa, Torrance, em sua obra “Manifesto para Crianças”, dá exemplos de

como incentivar uma pessoa a ser criativa:

• Não tenha medo de se apaixonar por alguma coisa e sair intensivamente à sua

procura;

• Aprenda a se libertar da expectativa dos outros para poder seguir o seu próprio

caminho;

• Fuja dos papéis que outros querem lhe impor;

• Liberte-se para poder jogar o seu próprio jogo;

• Conheça, compreenda, orgulhe, use, explore e desfrute seus potenciais;

• Não desperdice suas energias tentando ser uma pessoa certinha.

A partir dessas considerações, constatamos o quanto a figura do educador e da

família são importantes para estimular a criança a desenvolver o seu potencial criador. No

entanto, o que temos observado como educadores, é que devido ao grande número de

alunos existentes em sala de aula, o professor não consegue oferecer a atenção necessária a

cada aluno para que ele desenvolva o seu potencial criador. Observamos também, que

muitos desses alunos nem sempre têm famílias que os incentivem, ficando difícil para o

professor desenvolver sozinho essa tarefa.

2. 1. 4 Fantasia e imaginação

Durante muito tempo, as palavras “imaginação” e “fantasia” pertenceram

unicamente à história da filosofia. A psicologia se preocupou com esses vocábulos somente

há algumas décadas atrás. É por esse motivo que a fantasia e a imaginação estão sempre em

desvantagem em relação à memorização dos fatos, no ambiente escolar. Para Rodari (1982:

137), ouvir com paciência e recordar são as características do modelo escolar mais cômodo.

Hegel (apud Rodari, 1982: 137) nos legou a distinção entre “imaginação e fantasia”.

Para o autor, ambas são indicativas da inteligência. Entretanto, a inteligência como

imaginação é vista como puramente reprodução e a fantasia como um ato criativo. Como

podemos observar, havia uma certa diferença entre fantasia e imaginação, mas atualmente

nem a filosofia, nem a psicologia diferenciam esses vocábulos. Para Rodari (1982: 137),

não há problema algum em utilizá-los como sinônimos.

Todos os autores abordados nesta pesquisa ressaltam a importância da fantasia no

pensamento criativo. Wechsler (1993: 58) postula que, desde o início da infância, a fantasia

pode ser vista como uma maneira de resolução de problemas. Por meio de jogos

imaginários, são trabalhadas diversas situações como o medo, a necessidade de ter amigos e

também a identificação com os papéis feminino e masculino. Segundo a autora, brincar e

fantasiar faz parte da infância, pois assim que as crianças adquirem o controle da

linguagem, a fantasia passa a ser internalizada por meio de pensamentos e idéias. Para

Piaget (apud Wechsler, 1993: 58), quando o adulto imagina algo é como se fosse uma

brincadeira interiorizada. Dessa forma, a fantasia no adulto é o brincar da criança.

De acordo com Raths (1997: 29),

imaginar é ter algum tipo de idéia sobre alguma coisa que não está presente; é

perceber, mentalmente, o que não foi totalmente percebido. É uma forma de

criatividade. Ficamos libertos do mundo dos fatos e da realidade e podemos chegar

a locais onde talvez nunca alguém tenha estado, onde nunca estará outra pessoa.

Mas viajamos apenas em fantasia. Criamos imagens mentais. Em outras palavras,

imaginamos.

Raths (op. cit.: 30) questiona se às vezes não descrevemos o pensamento como

imaginação e se temos a pretensão de dizer a mesma coisa quando falamos em pensar

criativamente. Para o autor, a imaginação exige que deixemos de lado o que é comum,

requer invenção e originalidade, liberdade para pensar no que é novo e diferente.

Para Ostrower (2001: 20) o que fornece amplitude à imaginação é a capacidade de

associar objetos e eventos, é poder manipulá-los mentalmente, sem necessitar de sua

presença física. Para a autora, as pessoas são levadas ao mundo da fantasia por meio de

associações e isso não pode ser considerado como devaneios.

A nossa sociedade não valoriza a fantasia. Podemos observar que pais, professores,

familiares não aceitam que a criança use a imaginação. Alguns pais reprimem alguns mitos,

bem como: o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa. No entanto, esses mitos são de suma

importância para o desenvolvimento criativo da criança. O psicanalista Bruno Betlelheim

(apud Wechsler, 1993: 59) demonstrou que proibir a criança de acreditar nesses

personagens é torná-la despreparada para a vida adulta. O estudioso cita como exemplo o

caso de um garoto cujo pai se vestiu de Papai Noel e no meio da festa retirou a fantasia para

que o menino soubesse a “verdade”. A criança teve uma reação inesperada por todos da

festa: começou a gritar desesperadamente “Por que o verdadeiro Papai Noel não aparece

para mim?”. Os pais da criança ficaram perplexos, pois não entendiam que o filho, para

enfrentar a vida, não conseguia acreditar em explicações racionais.

Muitos estudiosos têm encontrado obstáculos para desenvolver a fantasia. Wechsler

(1993: 59) encontrou inúmeras barreiras quando tentou trabalhar o desenvolvimento dessa

habilidade nas crianças. Em um de seus trabalhos, ofereceu leituras sobre marcianos, discos

voadores, etc. A autora ficou decepcionada com o resultado, pois alguns pais tiraram seus

filhos do programa com receio de que estes perdessem o contato com a realidade e dessem

asas à fantasia.

Assim como a autora, acreditamos que os pais confundem fantasia com loucura.

Observamos que os pais bloqueiam demais a fantasia da criança. Quando uma criança diz

que não vai ao banheiro porque lá tem bruxa, a atitude da mãe é sempre dizer para a criança

que ela não deve inventar modas. Ou se a criança diz ter um amigo imaginário é logo

punida. Na verdade, os problemas acontecem porque os pais desconhecem que existem

muitas diferenças entre o pensamento infantil e o pensamento adulto.

Virgolin (1994: 49) também ressalta a importância da fantasia. Para a autora, a

saúde mental passa pelo jogo de ir e vir, sem que ocorra perda da realidade, possibilitando a

elaboração de conflitos, anseios e fantasias:

É o poder ir e vir da fantasia para a realidade (e vice-versa) que faz a

pessoa saudável, no exercício pleno de sua liberdade. Os indivíduos que

vivem só na fantasia, incapazes de “pôr os pés no chão”, assim como

aqueles que só vivem a realidade, incapazes de sonhar, de ousar sair da

rigidez de seus hábitos, são aqueles que estão mais comprometidos em

termos de sanidade mental.

Muitos estudiosos da área desenvolveram estudos que permitiam às pessoas fazerem

uso de sua imaginação no pensamento criativo. De Mille (apud Alencar, 1993: 47) elabora

vários jogos infantis, para que as crianças aprendam que há ocasiões para a fantasia e

ocasiões para a realidade e que ambas devem ser valorizadas.

Virgolin & Alencar (1994: 120) propõem exercícios que estimulam o uso da

imaginação. Vejamos alguns: “o que aconteceria se... (eu me tornasse invisível, fosse capaz

de ler o pensamento dos outros, desaparecessem todos os livros da terra, se os cachorros

tivessem asas, se tivéssemos quatro braços ao invés de dois...etc.)” , “se eu pudesse ...”, “se

eu fosse...”, “se você tivesse uma varinha de condão, o que tornaria maior, menor, mais

colorido, mais quente, mais engraçado...?”, “imagine e desenhe o mundo no ano 3000” e

outros.

Quando o objetivo é liberar a imaginação, os educadores não devem pedir fatos

confirmadores, pois a fantasia ultrapassa os dados. O educador pode, por exemplo, por

meio até de desenhos, solicitar ao aluno que represente uma enxaqueca, ou a vida no

espaço. No Japão, por meio de jogos, peças teatrais, dança e farta literatura infantil, a

fantasia da criança é cultivada. Há materiais escolares de altíssima qualidade que são

utilizados tanto pelos pais como por professores para estimular a criatividade. (cf. Alencar,

1993: 85)

As lendas folclóricas, histórias de assombração e contos de fadas também são

importantes para favorecer o pensamento criativo. Existem depoimentos de escritores que

foram influenciados por essas histórias, como também relatos de cientistas famosos que

declararam ter utilizado a fantasia para esquecer a solidão. Para ressaltar a importância da

fantasia no processo criativo Torrance (apud Wechsler, 1993: 61) define:

• Criatividade é fazer castelos de areia – e torná-los reais ou até mais fantásticos.

• Criatividade é sonhar sonhos impossíveis – e depois alcançá-los.

• Criatividade é imaginar como é estar na lua – e depois ir até lá e explorá-la.

• Criatividade é ler as “20.000 mil léguas submarinas’ de Júlio Verne – e depois

construir uma cidade debaixo d’água.”

• Criatividade é tecer contos nas nuvens – e depois colonizar os espaços.

• Criatividade é sentir o potencial da criança – e ajudá-la a desenvolvê-lo.

Por meio desses exemplos, demonstramos a importância da fantasia e da

imaginação para o pensamento criador. Existem inúmeros exercícios que os educadores

podem aplicar para desenvolver essas habilidades. Infelizmente, em nossa sociedade,

observamos que os pais não têm o hábito de contar histórias para seus filhos, não cultivam

mais a fantasia e a televisão, com suas idéias prontas, funciona como uma babá eletrônica

que transforma a criança num ser passivo.

2. 1. 5 Inconformismo

A pessoa criativa é inconformista, possui idéias originais e é aberto à experiência.

Esse indivíduo conta com a habilidade de enxergar sob diferentes pontos de vista.

Crutchfield (apud Wechsler, 1993: 62) faz considerações importantes a respeito de

inconformismo e da crença que o indivíduo precisa ter em suas próprias idéias:

O conformismo acarreta falta de confiança em si próprio e enfraquece o

poder criativo da pessoa ao lhe retirar a fé nos pensamentos e poder da

imaginação. O conformismo inibe a habilidade de sentir e pensar sobre a

realidade e a falta de contato com o real arruína totalmente o pensamento

criativo.

Diante do exposto, nos certificamos o quão importante é para a criatividade a

característica do inconformismo, pois um indivíduo conformista jamais será capaz de

querer criar algo de novo. A pessoa criativa precisa ser inconformista e lutar contra as

pressões da sociedade para realizar suas descobertas. É interessante ressaltar que o

indivíduo criativo não pode ser confundido com o rebelde. Wechsler (op.cit.: 62) estabelece

uma diferença entre o indivíduo inconformista e o rebelde. Para a autora, a pessoa rebelde

defende sua identidade de forma agressiva, ao passo que o sujeito inconformista aceita as

regras sociais desde que estas não interfiram em seus planos.

Eiduson (apud Wechsler, 1993: 63) realizou estudos para avaliar as características

da personalidade de diversos cientistas e constatou que estes possuíam idéias incomuns e

apresentavam uma enorme necessidade de fugir de padrões habituais de pensar. As

biografias de gênios na área de ciências também foram analisadas e houve a constatação de

que Lavoisier e Galton eram pessoas independentes nos julgamentos e não se incomodavam

pelo modo que eram vistos pela sociedade.

Para Freire (1996: 63), é preciso reforçar a capacidade crítica do educando e sua

insubmissão, dentro de uma rigorosidade metódica, para que ele não se torne um simples

“memorizador”. O educador pode trabalhar a percepção crítica de seus educandos, por meio

de atividades adequadas. Citaremos dois exercícios propostos por Lipman (2001: 207) para

desenvolver essa habilidade:

a) Conscientemente levantando questões como: O que sabemos...? Como sabemos...?

Qual é a prova para...?

b) Fazer inferências a partir de provas e reconhecer quando as inferências sólidas não

podem ser realizadas.

Propiciando o desenvolvimento de atividades como essas, o educador fará com que

seus alunos reflitam sobre a realidade que os cerca e os estimulará a não se conformarem

em receber tudo pronto.

2. 1. 6 Uso de analogias

Uma das características fundamentais do pensamento criativo é a capacidade de

brincar com idéias, cores, formas, conceitos a fim de se obter combinações incomuns. A

mente que cria procura pontos semelhantes entre coisas que ninguém nunca encontrou,

estabelece conexões entre coisas nunca antes estabelecidas. (cf. Wechsler, 1993: 64)

Para Mednick (apud Wechsler, 1993: 64) “criar é fazer conexões”. Todo ato

criativo envolve a habilidade de fazer associações. Para Ostrower (2001: 20), as

associações são oriundas do inconsciente, elas “compõem a essência do nosso mundo

imaginativo. São correspondências, conjeturas evocadas à base de semelhanças,

ressonâncias íntimas em cada um de nós com experiências anteriores e com todo um

sentimento de vida.”

Assim como esses autores, acreditamos que o que dá amplitude à imaginação é o

poder que temos em fazer uma série de atuações, associar objetos e eventos, poder

manipulá-los, tudo mentalmente, sem precisar de sua presença física. Para Alencar &

Virgolin (1994: 117), utilizar

metáforas e analogias torna o pensamento mais flexível, uma vez que elas

nos levam a observar e analisar uma situação sob outras perspectivas, que

não a usual, quebrando a rigidez de pensamento e de percepção,

mantendo-nos abertos e receptivos a novas idéias. Além disso,

desenvolvem também a nossa imaginação, visto que podemos especular,

intuir sobre a situação, apresentando várias hipóteses.

Usar o pensamento analógico é fundamental durante o período de soltar idéias e

buscar soluções originais. Wechsler (1993: 65) investigou tanto a influência das analogias

na produtividade de adultos criativos, como também outras características como emoção,

fantasia, perspectiva incomum e elaboração. A autora constatou que a presença dessas

características em testes de criatividade verbal, realizados em pessoas quando crianças,

revelou-se relacionada com a produção criativa na vida adulta.

Para Ostrower (2001: 20), “grande parte das associações liga-se à fala, nela

submerge e com ela se funde, pois muito do que imaginamos é verbal, traduz-se em nosso

consciente por meio de palavras”. A autora enfatiza que nós pensamos e imaginamos

dentro dos termos de nossa língua, de nossa cultura. Para nos comunicarmos usamos

palavras e são elas que fazem a mediação entre o nosso consciente e o mundo.

A utilização de metáforas e analogias enriquece as obras de seu criador. Esses

recursos podem ser encontrados em diversas áreas. Wechsler (1993: 65) cita exemplos:

• Na poesia, com os brilhantes versos de Olavo Bilac (1994), na Ode à Língua

Portuguesa:

Última flor do lácio, inculta e bela.

És, a um tempo, esplendor e sepultura.

Ouro nativo, que na ganga impura.

A bruta mina entre os cascalhos vela...

(p.286)

• Na literatura, com a maravilhosa obra de Machado (1946), onde em Dom

Casmurro, o autor utiliza analogias e metáforas para descrever os olhos de

Capitu:

...ollhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição

nova. Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que

arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de

ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me a outras partes vizinhas, aos

braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava

das pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura,

ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos

gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado este tempo

infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas...

(p.109)

• Na música, Chico Buarque (1987) utiliza analogias para melhor compreensão

de suas imagens, como na música Construção:

Sentou para descansar como se fosse sábado.

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe.

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago.

Cantou e gargalhou como se ouvisse música.

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado.

E flutuou no ar como se fosse um pássaro.

E se acabou no chão feito um pacote flácido...

Diante do exposto acima, exemplificamos o poder da analogia para a criatividade e

mostramos que essa habilidade pode estar presente em muitas áreas. Wechsler (1993: 66)

salienta que os educadores devem ensinar os alunos a fazerem uso dessa habilidade nas

redações:

enfatizar que a pureza das expressões gramaticais nas redações deve estar

sempre aliada à expressão de imagens ricas e vívidas, utilizando-se o

poder das analogias e metáforas a fim de se permitir ao leitor ou ao

interlocutor a possibilidade de vivenciar os sentimentos do seu autor.

Existem técnicas adequadas para estimular o surgimento de analogias e metáforas.

Alencar (1993: 114) cita o uso da sinética, uma técnica utilizada principalmente nos

Estados Unidos, por organizações industriais que precisam de idéias inovadoras. Sinética é

um vocábulo grego que significa a conjunção de elementos diferentes e aparentemente

irrelevantes. Seu objetivo é favorecer o aumento da consciência e, conseqüentemente, o

controle dos mecanismos através dos quais se chega a novas soluções.

A sinética parte do pressuposto que utilizar metáforas e analogias pode favorecer a

compreensão melhor de um problema que é estranho; pode torná-lo mais familiar e

conseqüentemente mais susceptível a uma solução criativa. O homem se sente seguro

diante do que já é conhecido e se sente ameaçado diante do que lhe é estranho. Por meio do

mecanismo de tornar o estranho familiar, espera-se observar aspectos de problemas já

conhecidos, o que favorece a aplicação de medidas familiares para solucionar novos

problemas. São utilizados para esse fim, três procedimentos: análise, generalização e

analogia. Por meio da análise subdivide-se a pergunta geral em suas partes; pela

generalização, espera-se identificar padrões significantes entre os elementos; pela analogia,

procuram-se paralelos, questionando-se: o que em meus pensamentos se assemelha a isto?

(cf. Alencar, 1993: 114).

Tornar o familiar estranho é um mecanismo que envolve muito esforço consciente

para se obter uma visão nova das pessoas, idéias, sentimentos e objetos. Por meio dele,

buscam-se idéias preconcebidas de antigos hábitos que impedem a visão de novos ângulos,

de novas soluções. O processo básico de sinética envolve o fazer analogias e metáforas de

maneira pessoal, direta, simbólica ou em fantasia. Da maneira que se segue:

a) Analogia pessoal: Identificar-se com os elementos do problema, empatizando-se

com este. Ex.: Como você se sentiria se fosse um vulcão?

b) Analogia direta: Comparar fatos, conhecimentos ou tecnologias paralelas. Ex.: De

que maneiras o problema do tráfego pode ser resolvido ao se pensar na

comunicação entre as formigas?

c) Analogia simbólica: Utilizar-se de imagens para resolver o problema. Essas

imagens deverão ser satisfatórias no sentido estético, mas não necessariamente,

corretas, no sentido tecnológico. Ex.: você agora é um encarregado de planejar um

novo conjunto habitacional: Use sons, cores, ritmos, formas, de maneira incomum e

o mais variado possível, simbolizando sentimentos com formas.

d) Analogia de fantasia: Fazer o uso dos sonhos e desejos para solucionar um

problema. Ex.: Como seria o alimento que solucionaria a fome do país?

Como podemos observar, essas atividades são sugestões de como favorecer a

capacidade do educando para realizar comparações e analogias. São exercícios simples de

serem aplicados pelo educador. Raths (1977: 19) enfatiza que os educadores devem

oferecer às crianças tarefas que exijam pensamento, precisam fazer perguntas que acentuem

o pensamento nos educandos. O autor postula que quando o educador pede para as crianças

compararem as coisas estão propiciando momentos em que pode ocorrer pensamento. Para

ele, com esse tipo de atividade, as crianças têm oportunidades para: observar, por meio de

fatos e imaginação, diferenças e semelhanças; examinar objetos ou idéias com o objetivo de

ver relações mútuas; procurar pontos para concordar ou discordar; verificar o que um tem

que o outro não tem. Muitas vezes, o que descrevem está relacionado com os objetivos da

tarefa. Desse modo, sempre que variar os objetivos, as descrições de comparações vão

variar também.

Quando é solicitado às crianças que comparem objetos, existe a necessidade de

observação. Observar é uma maneira de descobrir informações e, quando elas

compartilham as informações com outras pessoas, percebem suas falhas e as falhas dos

outros, aprendem a ver e a notar o que não tinham percebido antes. Exercícios simples

como pedir que os alunos observem pinturas, esculturas, técnicas de natação favorecem o

pensamento critico e criativo. (cf. op. cit.: 22)

A partir dessas afirmações, observamos o quanto é essencial oferecer oportunidades

de pensamento para os educandos. Para Raths (op.cit.: 57), só teremos alunos críticos e

criativos se as habilidades de comparar, criticar, observar, e decidir forem bem

desenvolvidas. Em nossa prática pedagógica, notamos que são poucos os livros didáticos

que trazem exercícios que desenvolvem esse tipo de atividades. Sendo assim, cabe ao

educador procurar outros mecanismos que possibilitem estimular essas habilidades.

2. 1. 7 Idéias enriquecidas e elaboradas

A elaboração é uma fase essencial para transformar a idéia em produto criativo. É o

trabalho final de embelezamento que vai acrescentar os últimos detalhes na obra. Esse

aspecto pode ser mais facilmente observado nas obras criativas de artistas plásticos, que

acrescentam cores e detalhes às suas obras até que elas fiquem prontas.

Também o povo japonês, por meio da escrita, pintura, música e arranjo floral, nos

fornece amostras da capacidade de elaboração e detalhamento desse povo. A elaboração, o

detalhamento e o enriquecimento das imagens são frutos de muito esforço e dedicação, pois

requerem muitas horas de trabalho à procura da forma mais elegante para se obter o

produto final. Essa característica pode ser observada em todas as áreas. Wechsler (1993:

68) aponta que a maneira mais utilizada na literatura é por meio de adjetivos, como um

modo de embelezar as palavras ou por meio do detalhamento e descrição dos elementos do

cenário, aonde a ação vai se desenvolver. Procura-se, desse modo, criar uma imagem mais

clara da situação verbal.

Para confirmar o exposto acima, a autora (op. cit.: 68) nos fornece um exemplo da

obra “Iracema” de José de Alencar. Nessa obra, antes de a personagem principal entrar, o

autor cria um contexto selvagem para mostrar a maravilhosa paisagem onde morava

Iracema e utiliza elaborações e analogias para descrever o quanto era bela a índia. Vejamos:

Verdes mares bravios da minha terra natal,

Onde conta a jandaia nas frondes da carnaúba

verdes mares que brilhais como líquida esmeralda

nos raios do sol nascente

Prolongando as alvas praias ensombradas de coqueiros...

O moço guerreiro, encostado ao mastro leva os olhos presos

Na sombra fugitiva da terra...Iracema, a virgem dos lábios

cor de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da

graúna e mais longos que o talhe da palmeira.

O favo do jati não era tão doce como seu sorriso; nem a

baunilha rescendia no bosque como o seu hálito perfumado.

(p.10)

Podemos observar o quanto José de Alencar se dedicou para que essa obra ficasse

tão bela; o quanto deve ter se esforçado para conseguir passar uma imagem real de sua

idéia. Notamos que é por meio da colocação de detalhes que o escritor consegue essa

proeza.

A fase de elaboração é uma das fases mais difíceis, pois é durante esse período que

as pessoas criativas abandonam suas idéias frente à tarefa do imenso esforço exigido pelo

detalhamento final. Constatamos que essa é uma das maiores dificuldades do nosso aluno,

que não consegue expor claramente suas idéias, por não ser persistente em escrever. Se o

educando for treinado a fazer rascunho, a reescrever o texto quantas vezes for necessário,

com certeza, sua redação será mais original.

É interessante ressaltar que os alunos produtores das redações, que serão analisadas

nesta pesquisa, não estavam cientes dessa necessidade de elaboração. Dessa maneira, foram

poucos os que fizeram rascunho ou levaram um pouco mais de tempo para escrever.

2. 1. 8 Preferência por situações de risco, motivação e curiosidade

Solucionar criativamente um problema é sem dúvida um desafio para o indivíduo,

pois é imprescindível que ele veja de modo diferente o que é visto por todos como

inquestionável. O indivíduo tem que se arriscar para descobrir se sua idéia tem valor e

persistir muito até obter uma solução nova para o problema. (cf. Wechsler, 1993: 69)

Muitos indivíduos abandonam suas idéias com medo de fracassar, com receio do

que os outros irão pensar. Para Wechsler (op.cit.: 72), é necessário que o indivíduo tenha

plena confiança em si mesmo caso contrário não conseguirá realizar o que almeja. Ser

curioso e estar motivado são características fundamentais para enfrentar os obstáculos que

surgem no decorrer do processo.

Como podemos verificar, a motivação e a coragem estão intrinsecamente

relacionadas com a produção criativa. Infelizmente, nos dias atuais, observamos que os

professores não encorajam certas características relacionadas à criatividade, bem como a

curiosidade e a espontaneidade. Alencar (1993: 86) enfatiza que além dos professores,

também os livros endereçados às crianças tendem a enfatizar uma criança passiva, no qual

ser curioso e desobediente é merecedor de castigo. Os livros infantis que nossos alunos

lêem reforçam, a todo o momento, que eles devem ser obedientes, passivos. É interessante

ressaltar que esses traços favorecidos pelos livros infantis são os mesmos traços que a

família e a escola procuram incutir na cabeça das crianças.

Para Freire (1996: 66), o educador que desrespeita a curiosidade do educando, o seu

gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, transgride os princípios

fundamentalmente éticos de nossa existência. É fundamental que professores e alunos

sejam curiosos, instigadores. Segundo o autor, “é preciso, indispensável mesmo, que o

professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser

humano.”

Kneller (apud Alencar, 1993: 91) salienta que os educadores devem aguçar a

curiosidade do educando, relacionando os estudos com a realidade, levando-o a

compreender que várias questões comportam várias respostas e que o erro é também

importante e pode representar um trampolim para a resposta correta.

Raths (1977: 15) corrobora a afirmação acima e acrescenta que pensar é um modo

de aprender, é um modo de perguntar pelos fatos, e se o pensamento tem algum objetivo, os

fatos assim encontrados serão significativos para esse objetivo. Nesse caso, temos

aprendizagem intencional, e uma pessoa está amadurecendo quando suas atividades são

disciplinadas pelo objetivo. Freire (1996: 66) acrescenta que ensinar requer aceitar os riscos

do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de

discriminação que separe as pessoas em raça e classes.

Assim como esses autores, acreditamos que o educadores necessitam aguçar cada

vez mais a curiosidade de seus educandos, se almejam alunos críticos e criativos. A crítica

deve estar inserida no ensino, a partir da curiosidade dos alunos. Temos observado, em

nossas escolas, que os educandos raramente fazem perguntas, aceitam tudo o que lhes é

transmitido sem questionar. Esse fato confirma que os educadores precisam incentivá-los a

fazer perguntas, mesmo que estas não tenham nada a ver com o assunto tratado.

2. 1. 9 Humor, impulsividade e espontaneidade O indivíduo criador revela acentuado senso de humor. Para Wechsler (1993: 73) “a

espontaneidade e a impulsividade das pessoas criativas lhes oferecem maiores

possibilidades de brincar com as idéias e com os elementos, justapondo-os e combinando-

os de maneiras incomuns, inesperadas e engraçadas”. O indivíduo criativo encontra pontos

semelhantes em fatos ou idéias que nunca foram percebidos por outras pessoas e é essa

comparação tão inusitada que nos leva a achar graça.

A psicanálise, também tenta explicar a origem do humor no indivíduo. Segundo

Kneller (1978: 82), o indivíduo criativo possui o seu ego extremamente flexível. Dessa

forma, consegue retirar-se mais facilmente de seu inconsciente, permitindo que este realize

as conexões novas que tornam a essência do humor. Wechsler (1993: 75) enfatiza que os

indivíduos que apresentam idéias originais são aqueles que mais riem de suas próprias

idéias.

O ambiente humorístico também favorece o surgimento de idéias diferentes

inovadoras e criativas. Os educadores precisam ter ciência do quanto é importante criar um

ambiente humorístico em sala de aula. Observamos que, assim como a fantasia e a

curiosidade não são estimuladas, o humor também não é. Notamos que alguns professores,

para manter a disciplina, incutem nos seus alunos que estudar é coisa séria. Com essa

atitude, reprimem o riso e o humor tão natural que ocorrem nas situações diárias.

2. 1. 10 Confiança em si mesmo e sentido de destino criativo

Pesquisas evidenciam que há relações entre auto-estima e criatividade. Revelam que

os indivíduos criativos possuem auto-estima elevada. Estes por divergirem da norma

sentem necessidade de crer em si mesmos para serem aceitos. (Silva, 1994: 86)

Para Wechsler (1993: 76), a confiança em si mesmo provém do autoconceito

positivo, sendo a família e a escola responsáveis por essa influência negativa ou positiva.

Segundo a autora, a nossa sociedade também mais critica do que elogia as atitudes do

indivíduo que tenta acertar. Essa atitude reprime cada vez mais o indivíduo que passa a não

se arriscar mais com medo do fracasso.

Alencar (1993: 73) salienta que, nos primeiros anos de escolaridade, a influência

dos professores em formar um autoconceito no aluno é muito maior do que eles imaginam.

De acordo com a autora, é comum, após muitos anos depois de deixar os estudos, o adulto

se lembrar de críticas feitas pelo professor e revelar que jamais irá esquecê-las, devido ao

impacto que sofreu na época.

Para a autora em questão (op.cit.: 74), é freqüente também o professor fazer

comparações desfavoráveis citando alunos incapazes. A autora chegou a observar em sala

de aula um professor que pedia para os alunos vaiarem quem não conseguisse realizar uma

operação de multiplicação. Para ela, o aluno que se torna vítima de tal ato jamais terá um

desempenho melhor. São situações como essa que contribuem para a formação de barreiras

internas à própria expressão criativa e para uma visão limitada dos próprios recursos e

habilidades.

Crianças que possuem autoconceito positivo estão propensas a terem um

rendimento escolar superior àquelas que apresentam um autoconceito negativo. A figura do

professor é extremamente relevante para formar um conceito positivo no aluno. Segundo

Freire (1996), o professor tem que estar ciente de que suas atitudes podem influenciar

profundamente a vida de um aluno, de modo positivo ou negativo. Alencar (1993: 77)

propõe alguns exercícios de como reforçar sentimentos positivos no aluno:

• Pedir a cada participante do grupo que diga para os colegas uma das

suas qualidades, traços ou características de que mais goste;

• Colocar o grupo de participantes sentado em círculo e solicitar a cada

um para escolher um colega ali presente e em seguida dizer-lhe uma

característica positiva que o mesmo apresenta (esse exercício é utilizado

somente quando os participantes já se conhecem há algum tempo);

• Solicitar a um dos participantes do grupo que saia da sala e em seguida

pedir a alguns dos membros presentes que escrevam no quadro-negro

um traço característico positivo do colega ausente. Este, ao entrar na

sala, deverá tentar adivinhar quem foram os autores que escreveram na

lousa a seu respeito.

Esses exercícios são fáceis de serem aplicados, além de muito eficazes para elevar a

auto-estima do educando. A certeza de tal afirmativa é devido ao fato de que já realizamos

essa atividade com nossos alunos. Percebemos que, após a aplicação do exercício, eles se

sentiram mais confiantes durante as aulas e mais compreensíveis entre si.

A pessoa criativa tem certeza de que sua obra é valiosa. Para Kneller (1978: 85) a

pessoa criativa “é dotada de inabalável fé não naquilo que fez, mas no que pode, com

tempo e fortuna, realizar. Apesar de toda espécie de tropeços físicos, financeiros,

psicológicos ela é afinal sustentada, em última instância, pela fé em seus poderes

criadores.”

Wechsler (1993: 76) corrobora as afirmações acima. Segundo a autora, além da

segurança que o indivíduo precisa ter em si mesmo, é necessário que ele tenha também um

sentido de destino criativo. Precisa sentir o quanto pode contribuir para o progresso da

humanidade. É imprescindível que o indivíduo criativo esteja apaixonado por uma idéia.

Sendo assim, conseguirá enfrentar as situações de desânimo que irão surgir. É importante

frisarmos que nenhuma invenção da humanidade foi obtida na primeira tentativa e sim

depois de muitos erros e fracassos. A autora (op.cit.: 77) postula que o indivíduo criativo “é

aquele que sabe quem é, aonde quer ir e o que deseja realizar. Ele já resolveu o problema

da identidade pessoal.”

Parece-nos que a ausência de destino criativo é um dos maiores problemas que os

nossos alunos adolescentes vêm enfrentando. Eles se sentem inúteis e não sabem como

empregar suas energias, por isso usam drogas e praticam atos de violência. Os educadores

necessitam ser também criativos e oferecer oportunidades para os educandos canalizarem

suas energias.

2. 2 O que vem a ser “Lingüisticamente criativo”?

Neste segmento, temos por objetivo responder à seguinte pergunta: O que vem a ser

“lingüisticamente criativo”? Acreditamos que o indivíduo criativo utiliza certos recursos na

linguagem para atingir seus objetivos e com base nos estudos de Matos (1994)

responderemos a essa pergunta.

A criatividade é um conceito bastante aberto e variável, que pode ser visualizada por

meio de um continuum que se estenderia de um pólo muitíssimo criativo a outro,

pouquíssimo criativo. Dessa forma, os indivíduos evidenciariam ser mais criativos ao

realizarem determinadas ações em determinados contextos, ao passo que outros

manifestariam ser menos criativos em situações semelhantes. (cf. Matos, 1994: 163)

Para Van Djik (1992), os usuários da língua atribuem aos seus enunciados atos

convencionais particulares, forças ilocucionárias capazes de persuadir o outro. Benveniste

(1976:295) afirma que todos que sabem falar uma língua têm domínio implícito desses

conceitos. Segundo Chomsky (apud Koch, 1984: 23), a língua é o objeto ideal, lugar da

liberdade, da criatividade individual. Benveniste (1976: 286) corrobora essa afirmação ao

alegar que, ao produzir um discurso, o indivíduo se apropria da língua, não só com o

objetivo de transmitir mensagens, mas com a finalidade de atuar, de interagir socialmente,

instituindo-se como “eu” e constituindo-se ao mesmo tempo como interlocutor. Segundo

Mainguenau (1996: 21):

os enunciadores não se contentam em transmitir conteúdos

representativos, empenham-se constantemente em posicionar-se através

do que dizem, a afirmar-se afirmando, negociando sua própria emergência

no discurso antecipando as reações do outro.

Diante dessas afirmações, percebemos que é pela linguagem que o homem se realiza

socialmente, expressando o que pensa e sente e ouvindo o que os outros pensam e sentem.

Por meio dos textos verbais e não-verbais há sempre alguém tentando agir sobre outra

pessoa e vice-versa.

É por meio da linguagem que o homem modela seus pensamentos, suas emoções,

seus atos. É pela linguagem que ele influencia e é influenciado. Linguagem e pensamento

estão intrinsecamente relacionados e para que ocorra a criatividade essas habilidades devem

fluir naturalmente. Para Barbosa (1991: 17),

se linguagem e pensamento estão umbilicalmente relacionados, como

afirmamos, e se ambos se nutrem de nossa imaginação criadora, o

primeiro passo para produzirmos um texto que realmente expresse nossa

linguagem, nosso pensamento, nossa imaginação criadora, deve ser no

sentido de liberá-los de toda sorte de condicionamentos que os tornam

padronizados e mecânicos.

Assim como Barbosa, acreditamos que qualquer falante é capaz de usar

criativamente as palavras para atingir seu objetivo e se comunicar com eficácia, mas para

tanto, precisa se libertar de padrões convencionais e deixar fluir sua imaginação.

Matos (1994:161) enfatiza que a escrita criativa viria a ser a

escrita que exprime os pensamentos e sentimentos do autor

imaginativamente, às vezes de modo singular e poético, principalmente

através de padrões relacionados de linguagem e pensamento. Esse modo

de escrever é, talvez, mais motivado pela necessidade que tem, o escritor,

de expressar sentimentos e idéias idiossincramente, em vez de produzir

textos factualmente exatos ou logicamente seqüenciados.

O autor acredita que o indivíduo criativo utiliza certos recursos para interpretar e

escrever divergentemente. Matos (1994: 162) postula, também, que para os lingüistas é

fundamental o conceito chave de criatividade. Para ele, é criativo um indivíduo que possui

a capacidade de produzir e compreender um número infinito de frases. Essa afirmação é

inspirada nas reflexões e obras do lingüista norte-americano Noam Chomsky por sua ênfase

no aspecto criativo do uso lingüístico. Enquanto os lingüistas de orientação gerativo-

transformacional destacam a capacidade humana de produzir frases, especialistas em

psicolingüística da aprendizagem de línguas aludem a outro aspecto importante da

criatividade lingüística: a capacidade que possuem os falantes de uma comunidade de

inventar palavras para designar conceitos em um determinado contexto.

Segundo Matos (1994: 164), psicólogos cognitivistas tendem a considerar como

criativos aqueles atos que envolvem a resolução de problemas. Lingüisticamente elas

consideram que

problemas expressionais ou comunicacionais existem ou podem existir, na

interação humana (desde a compreensão plena até o desentendimento, a

incomunicação), que formas (palavras, locuções, frases, parágrafos, blocos

de discurso mais extensos) podem ser criadas de maneira inovadora e com

prováveis efeitos nos interlocutores. Segundo a visão cognitivista de que o

viver é uma macroatividade constante de resolver problemas, partindo-se

de soluções possíveis para chegar-se a soluções preferíveis, o comunicar-

se é saber produzir mensagens criativamente adequadas ao ouvinte ou ao

leitor, ao contexto ou à situação, bem como ao assunto tratado.

Na visão desse autor, todos os seres humanos são lingüisticamente criativos e por

meio de sua língua materna essa habilidade se manifesta desde a forma mais simples até a

mais complexa, mas nem por isso menos eficaz. Ser lingüisticamente criativo onde,

quando, como, por quê e para quê? Matos (op.cit.: 163) enfatiza que ser “lingüisticamente

criativo é saber brincar como os elementos constitutivos do universo”. De acordo com o

autor, esse saber brincar envolveria uma gama vastíssima de atos lingüísticos. Esses atos

são exemplificados pelo autor como apenas sugestivos, podendo ser complementados pela

imaginação criadora dos leitores. Segundo Matos, um aprendiz de português é criativo ao:

• inventar jogos de palavras, fazer trocadilhos;

• metaforizar de maneira inusitada;

• fazer uso de analogias e comparações;

• sugerir títulos alternativos para poemas, contos, romances, etc.;

• redigir textos humorísticos;

• transformar poemas em textos em prosa e vice-versa;

• sugerir nomes para conceitos que ainda não foram representados lingüisticamente .

Um exemplo: CRIASIÇÃO (palavra resultante da fusão de criação + aquisição);

• propor nomes para super-heróis ainda inexistentes na literatura infanto-juvenil. Um

exemplo: PAXION (um personagem promotor da paz universal);

• traduzir, lúdico-literalmente, frases do português ao inglês (ou outras línguas);

• explorar os recursos morfológicos existentes em língua portuguesa, criando palavras

não-dicionarizadas. Exemplo: insaber, magnificar, desvirtudes, criatória,

poucamente, ternurosa, optação;

• criar “jingles”;

• realizar paródias de slogans, mensagens publicitárias, poemas, músicas;

• transformar um texto gravado (áudio) em texto escrito. O saber traduzir uma

mensagem, de uma forma de representação a outras, pressupõe uma flexibilidade

cognitiva que não tem sido devidamente orientada pela escola;

• transformar um texto discursivo em diagrama arbóreo, hierárquico, rede semântica,

mapa cognitivo.

Assim como Matos, acreditamos que um indivíduo lingüisticamente criativo é

aquele que utiliza certos recursos na linguagem (recursos acima mencionados) para atingir

seus objetivos. Ressaltamos que não precisa ser um Guimarães Rosa para cunhar palavras

ou fazer derivações lexicais das mais diversas, não tem que ser um Machado de Assis ou

Fernando Pessoa para demonstrar que sabe escrever. Mesmo sem ter esses atributos em tão

alto grau como os referidos autores, o aprendiz de línguas é cognitivamente competente

para usar a língua de modo criativo. Ao professor de Língua Portuguesa cabe a

responsabilidade de propor atividades que assegurem o desenvolvimento desse potencial.

2. 3 Aluno criativo x aluno inteligente

A relação entre criatividade e inteligência vem sendo estudada de diversas maneiras

por muitos teóricos que tratam do assunto. Os estudiosos afirmam que essas habilidades

não podem ser vistas como sinônimos e que o aluno criativo se difere do aluno inteligente.

O processo intelectual é bastante complexo. Essa complexidade é demonstrada pelas

diferentes abordagens sobre o que é a inteligência. Para se avaliar a inteligência são

utilizados testes de Q. I. (Quociente intelectual) ou testes de rendimento intelectual. Esses

testes não são completos, pois avaliam apenas uma das áreas do pensamento, que é o

raciocínio convergente, isto é, aquele que oferece apenas uma resposta para resolver o

problema e punem os indivíduos criativos que sempre oferecem mais de uma resposta para

o problema. (cf. Wechsler, 1993: 123)

Gardner (2000: 30) corrobora a afirmação acima. Para o autor, existe, no nosso

intelecto, uma pluralidade de inteligências e esses testes medem apenas a capacidade de

responder rapidamente a itens de tipo lógico-matemático ou lingüístico e deixam de lado as

demais inteligências. A nossa sociedade coloca as inteligências lingüística e matemática

num “pedestal” e grande parte dos testes de Q. I. está baseado na alta valorização dessas

capacidades. Sendo assim, se o indivíduo se sai bem em linguagem e lógica, deverá sair-se

bem em testes de Q. I.

O autor (op. cit.: 20) acrescenta, ainda, que os testes de Q. I. predizem o

desempenho escolar com muita exatidão, porém não predizem de maneira satisfatória o

desempenho numa profissão depois da instrução formal. Tomemos por exemplo dois

indivíduos: um “mediano” que obteve notas médias nos testes de Q. I. e outro “superior”

que obteve notas altas. O que acontece com eles depois que a escola é concluída é que,

muitas vezes, o aluno “mediano” torna-se bem-sucedido na profissão que escolheu por ser

considerado por todos que estão a sua volta como um indivíduo talentoso. Já, o aluno

“superior” pode ter pouco sucesso na carreira escolhida, por ser considerado “comum” em

suas realizações.

Os exemplos acima reforçam o quanto a avaliação dos testes de Q. I. é falha.

Precisamos ter um olhar crítico frente a esses testes e também observar como existem

maneiras diferentes das pessoas desenvolverem capacidades importantes para seu modo de

vida. Haja vista o caso dos marinheiros que encontram seu caminho em torno de centenas

ou milhares de ilhas, olhando para as constelações de estrelas no céu, sentindo a maneira

pela qual um barco passa sobre a água e observando alguns marcos dispersos. Uma palavra

para a inteligência nessa sociedade de marinheiros provavelmente se referiria a esse tipo de

habilidade para navegar. (Gardner, 2000: 14)

Gardner tem uma visão pluralista da mente e reconhece que os indivíduos têm

forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes. O autor enfatiza a

pluralidade do intelecto e afirma que a mente humana possui sete tipos de inteligências:

• Inteligência lógico-matemática é a capacidade lógica e matemática, como a

capacidade científica;

• Inteligência lingüística é o tipo de capacidade exibida em sua forma mais completa,

talvez pelos poetas;

• Inteligência espacial é a capacidade de formar um modelo mental de um mundo

espacial e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo, como os

marinheiros;

• Inteligência musical é a capacidade de percepção e produção musical, assim como

Mozart;

• Inteligência corporal-cinestésica é a capacidade de resolver problemas ou de

elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do corpo, assim como os

atletas;

• Inteligência interpessoal é a capacidade de compreender outras pessoas, o que as

motiva, como elas trabalham, assim como os professores, vendedores;

• Inteligência intrapessoal é a capacidade de formar um modelo acurado e verídico de

si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida.

É de suma importância que reconheçamos e estimulemos todas as variadas

inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Segundo Gardner (2000:

18), nós todos somos tão diferentes em grande parte porque possuímos diferentes

combinações de inteligências. A competência cognitiva humana é melhor descrita em

termos de um conjunto de capacidades, talentos ou habilidades mentais que chamamos de

“inteligências”. Todos os indivíduos normais possuem cada uma dessas capacidades em

certa medida, os indivíduos diferem no grau de capacidade e na natureza de sua

combinação.

Numa visão tradicional, a inteligência é definida operacionalmente como a

capacidade de responder a itens em testes de inteligência. Já a teoria de Gardner, das

Inteligências múltiplas, pluraliza o conceito tradicional. De acordo com essa teoria, uma

inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são

importantes num determinado ambiente cultural. A capacidade de resolver problemas

permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a

rota adequada para esse objetivo. A criação de um produto cultural é crucial nessa função,

na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os

sentimentos da pessoa. (Gardner, 2000: 21)

Getzels & Jackson (apud Wechsler, 1993: 123) realizaram estudos para comprovar

que há diferenças entre criatividade e inteligência. Esses autores classificaram os estudantes

em termos de alta criatividade e alta inteligência. Os resultados dessa pesquisa revelaram

que há uma relação mínima entre criatividade e inteligência e constataram também que

tanto o grupo mais inteligente quanto o mais criativo obtiveram resultados bem mais

satisfatórios do que a média da população.

Mackinnom (apud Wechsler, 1993: 124) em um de seus testes realizados com

arquitetos e pesquisadores comprovou que existe um mínimo de inteligência nas

realizações criativas, entretanto concluiu também que alta inteligência não garante alto

nível de criatividade.

Kneller (1978: 21) corrobora as afirmações acima. Para o autor:

A correlação entre inteligência e criatividade é alta sem todavia ser

absoluta. As crianças de Q. I. baixo ou mesmo médio tendem para baixa

ou média criatividade. O oposto não é, entretanto, necessariamente

verdadeiro. Alto Q. I. não garante alta criatividade.

Como podemos verificar, na visão desses autores, inteligência não pode ser

confundida com criatividade. Há uma diferença entre essas habilidades, embora não seja

fácil de ser identificada e para ocorrer a criatividade é necessário um mínimo de

inteligência. Observamos, em nossa prática pedagógica, que a maioria dos educadores,

assim como a sociedade, desprezam a definição de inteligência, proposta por Gardner, e

consideram como inteligentes aqueles alunos que obtêm notas altas nas avaliações.

Notamos que não sabem distinguir o aluno de alto Q. I. do aluno criativo, pois muitas vezes

consideram a pessoa altamente inteligente como sendo altamente criativa.

Em termos de comportamento, o aluno criativo é bastante diferente do aluno

considerado inteligente. De acordo com Kneller (1978: 85), o aluno criativo é desajustado,

está preocupado só com suas idéias e não em ser aceito pelo grupo. Possui um

comportamento irônico frente à obsessão de seus colegas com roupas, automóveis,

atletismo e namoros.

Pesquisas revelam que os educadores preferem os alunos de alto Q.I. aos de alta

criatividade. Kneller (1978: 87) apresenta alguns motivos dessa preferência. Para o autor,

o aluno criativo:

• é menos estudioso e ordeiro, mais interessado em suas próprias idéias do

que no seu trabalho per se;

• é excessivamente crítico;

• procura tarefas difíceis, que não raro combinam diversas áreas de

conhecimento;

• possui idéias espontâneas que são mais difíceis de serem avaliadas do

que o trabalho menos original;

• muitas vezes é desleixado e precipitado, mais atento a idéias do que à

aparência e menos preocupado em merecer a aprovação do professor.

Diante do exposto acima, observamos o quanto o aluno criativo se difere do aluno

considerado inteligente. Com base nessas informações, torna-se fácil para o educador

identificar, em sala de aula, o aluno criativo e tentar compreendê-lo em suas atitudes.

CAPÍTULO III

VARIÁVEIS INFLUENCIADORAS NA

CRIATIVIDADE

A pressão social no sentido de que todos pensem, ajam e se conformem

com as normas sociais do seu grupo é extremamente forte e eficaz.

Eunice M. L. Soriano de Alencar

Neste capítulo, vamos discorrer sobre alguns fatores que influenciam no surgimento

da criatividade. Vamos demonstrar que existem bloqueios que afetam a manifestação do

potencial criativo, mas que estes podem ser superados.

3. 1 Características de um contexto social propício à criatividade

Neste tópico, temos por objetivo mostrar que a sociedade com suas práticas sociais

transformam o indivíduo em um sujeito ideológico, pronto para reproduzir as mesmas

atitudes sociais, impedindo a manifestação de outras práticas que talvez fossem mais

produtivas em termos de criatividade.

Para que ocorra a criatividade, é necessário não só estimular o indivíduo, mas

também afetar o meio social ao qual ele pertence. Se as pessoas que estão ao redor do

indivíduo não valorizam o trabalho criativo quando este é apresentado, possivelmente os

esforços desse indivíduo encontrem obstáculos intransponíveis.

Ostrower (2001: 6) postula que o homem contemporâneo é pressionado por

múltiplas exigências nas funções que deve exercer e a todo o momento bombardeado por

informações contraditórias, que quase ultrapassam o ritmo orgânico de sua vida. Com isso,

ao invés de se integrar como ser social, o indivíduo sofre um processo de desintegração e

acaba se alienando de suas possibilidades de criar.

Assim como Ostrower, acreditamos que todo o processo de socialização é no

sentido de conduzir à uniformidade de comportamento e de expressão e de desestimular a

diversidade e originalidade. O que os agentes socializadores mais cultivam é a obediência

às regras, uma vez que se sentem perturbados com a perspectiva de mudança. Isso explica a

hostilidade que sempre se observa para com a pessoa divergente. Desse modo, o

desenvolvimento da criatividade não depende só da pessoa, mas também do contexto social

onde está inserida.

As pesquisas que estudam a ação do ambiente sobre a criatividade revelam que, de

maneira geral, este “ambiente” mais inibe do que encoraja essa característica. Os dados

coletados no ambiente familiar indicam que essas relações são determinantes de um

enquadramento social, ao passo que na escola o que vimos é um ensino direcionado à

memorização e repetição. As nossas práticas sociais nos transformam em sujeitos

ideológicos, aptos para reproduzir as mesmas relações sociais, impossibilitando a produção

de novas relações satisfatórias. (cf. Silva, 1994: 81)

O talento que não é estimulado leva o indivíduo a se conformar com as regras, não

produzindo, portanto de acordo com o seu potencial. Wechsler (1993: 125) afirma que

existem pessoas altamente inteligentes, que por falta de segurança em si mesmas, ou por

exigência de serem perfeitas têm medo de se arriscar para realizar atos criativos, não

aproveitando, portanto, seu potencial intelectual.

A sociedade pode favorecer o surgimento da criatividade, quando oferece chances

ao indivíduo de manifestar seu potencial, nas diversas áreas. Para Alencar (1993: 60),

existem várias maneiras de como a sociedade pode contribuir para fazer fluir a criatividade

no indivíduo:

• Uma sociedade estimula a criatividade quando encoraja uma abertura a

experiências internas e externas. Desse modo, uma sociedade onde prevalece

“não faça isto”, “não tente aquilo”, restringe a liberdade de questionar e a

autonomia necessária à criatividade;

• Uma sociedade favorece a criatividade quando os seus indivíduos têm

liberdade para pensar, explorar, questionar, estudar e preparar-se

profissionalmente, ser eles mesmos;

• Uma sociedade encoraja a criatividade valorizando a mudança e a

criatividade.

O discurso social afirma que o desenvolvimento do potencial criativo é relevante

não só para o indivíduo como também para a sociedade, uma vez que o desenvolvimento

tanto tecnológico como social dependem da criatividade. Por outro lado, a prática revela

que o potencial criativo tem sido freqüentemente inibido e bloqueado.

3. 2 Ênfase no papel dos sexos

Neste tópico, vamos demonstrar que a sociedade estabelece diferenças entre o sexo

masculino e o feminino e, dessa forma, inibe o potencial criativo.

As características de personalidade, tanto do homem criativo quanto da mulher, são

muito parecidas. No entanto, a mulher vem encontrando inúmeras dificuldades para se

realizar criativamente, pois a sociedade difere o sexo feminino do masculino. (cf. Wechsler,

1993: 103)

De acordo com a visão da sociedade tradicional, a mulher só se realiza por meio do

casamento e da maternidade, a que decide ficar solteira e se dedicar à carreira profissional é

mal vista e considerada “estranha”. Os pais também contribuem para fortalecer essas

diferenças entre os sexos, pois modelam o comportamento esperado “masculino” ou

“feminino”. Desde a infância, já é ensinado para a menina um comportamento de

passividade, ao passo que para o menino é reforçado um comportamento mais agressivo. A

menina é incentivada a brincar de boneca (deverá cuidar como se fosse um filho), fazer

comidinhas, bordar, imitando assim o papel da mãe em casa. Já os meninos são apoiados a

brigar, a brincar de revólver, carros, quebra-cabeças. (cf. Wechsler, 1993: 104)

Observamos que para a menina é dada mais atenção no sentido de protegê-la da

solidão e angústia. Ao passo que, para o menino existe todo um ensinamento voltado para

que ele se torne independente, livre, forte. Wechsler (1993: 105) postula que o papel de

submissão ao homem, de dependência e fragilidade feminina é transmitido sob diversas

maneiras: na literatura infantil, religião, livros escolares, televisão, etc. Nos livros de

histórias infantis, há sempre uma linda donzela esperando se casar com um príncipe

encantado. Do mesmo modo, por meio da religião, dos livros escolares e da televisão a

mensagem destinada à mulher ainda é a de apontar o seu papel para ser aquela que deve

casar, ter filhos, manter sua casa em ordem. Ao passo que, ao homem é transmitida a idéia

de que ele deve trabalhar fora para sustentar a família .

Na área acadêmica, os próprios pais que sempre elogiaram as filhas pelo seu

desempenho, começam com o passar dos anos a não valorizar esse mesmo desempenho,

cobrando das filhas que elas devem se casar. No entanto, para o homem é colocado que os

estudos são muito importantes, pois é por meio deles que ele conseguirá ter um bom

emprego e sustentar sua família.

Alguns traços de personalidade que se relacionam com a criatividade, bem como a

espontaneidade, sensibilidade e intuição, são bem vistos quando apresentados por mulheres.

Já outros são mais bem aceitos se apresentados por homens, bem como a curiosidade e a

independência. Certas áreas são consideradas masculinas como Ciências e Matemática, ao

passo que outras são consideradas próprias para o sexo feminino. Essa diferenciação tende

a bloquear o desenvolvimento do potencial criativo. (cf. Alencar, 1993: 63)

Como podemos verificar, a todo o momento, veiculam ideologias no sentido de que

o homem deve ser independente e a mulher submissa. A sociedade, por enfatizar

exageradamente a diferenciação dos papéis sexuais, inibe o afloramento do potencial

criativo. Cremos que somente os educadores poderão mostrar aos educandos uma visão

mais crítica do assunto e, dessa forma, auxiliá-los a vencer os obstáculos impostos pela

sociedade.

3. 3 A importância do ambiente escolar na criatividade

Vamos ressaltar, neste tópico, o quanto o educador pode tornar o ambiente mais

propício para o aflorar da criatividade.

Além de a figura do professor ser de extrema valia no processo ensino-

aprendizagem, o ambiente escolar também merece destaque, pois esse deve ser o mais

agradável possível. Para Wechsler (1993: 81), é preciso que o aluno sinta, no ambiente

escolar, o estímulo para ter a coragem de se arriscar, o estímulo para exprimir os seus

pensamentos e perceber que suas idéias possuem valor.

Alencar (1993: 58) corrobora as afirmações acima. Para a autora, um ambiente onde

o aluno se sente ameaçado, questionado, criticado, não é um ambiente favorável à

expressão da criatividade.

Segundo Wechsler (1993: 81), o desenvolvimento da criatividade na escola é

fundamental não só para aumentar o rendimento acadêmico do aluno, mas também para

oferecer um ambiente adequado à promoção da saúde mental. Desse modo, a criatividade

funciona como uma maneira de prevenção de desajustes emocionais e cognitivos, pois o

aluno que se sente valorizado na sala de aula tem motivação para estudar.

As atividades em grupo também contribuem para uma maior interação entre os

alunos e também aumentam a motivação destes para irem à escola. O educando sente uma

enorme necessidade em ser aceito pelo grupo e vê nessas atividades oportunidades para se

colocar como sujeito.

A concepção que o aluno tem de si mesmo pode ser um obstáculo para a expressão

da criatividade. Se ele se considera pouco criativo ou incapaz de gerar idéias, com certeza

direcionará seu comportamento no sentido de confirmar essa auto-imagem. O aluno

necessita de um ambiente propício para a construção de uma auto-imagem positiva, uma

vez que aquilo que pensa de si mesmo influencia o que pode fazer e alcançar. Desse modo,

o papel do professor é de extrema importância, uma vez que constitui um elemento

poderoso na formação de crenças e atitudes que cada aluno desenvolve a respeito de si

mesmo. (Fleith, 1993: 125)

Outro obstáculo para o desenvolvimento das habilidades criativas na sala de aula é a

necessidade de o aluno estar correto o tempo todo. A maioria dos educadores enfatiza a

exatidão das respostas, considerada condição essencial para ser um bom aluno. Já o que

erra é visto como incompetente e incapaz. Os professores não percebem o erro como um

ato criativo, como uma oportunidade para exploração e descoberta. Há uma falha no

sistema educacional que visa ensinar aos educandos somente uma única resposta.

Rodari (1982: 36) afirma que muitos dos “erros” dos alunos não são erros, são

criações que servem para assimilar uma realidade desconhecida. Para o autor, em cada erro

existe a possibilidade de uma história e a “palavra certa existe apenas em oposição à

palavra errada”. Rodari (op. cit.: 34) propõe algumas sugestões para trabalhar

criativamente o erro:

• “erro ortográfico”: A partir de um erro ortográfico, solicita-se ao aluno que

dê um significado ao mesmo e depois construa uma história. Ex.:

“altomóvel” um carro tão alto que não cabe em qualquer garagem; um

“livvro” com dois “v” será um livro mais pesado que os outros, um livro

todo errado ou um livro especialíssimo?

• “prefixo arbitrário”: O professor solicita aos alunos que escrevam em papel,

um prefixo, e, em outro, um substantivo.Formam-se então, então dois

grupos: um de prefixos e outro de substantivos. Retira-se de cada vez, um

papel de cada grupo, e juntam-se as duas, para formar uma palavra nova,

muitas vezes inexistente. Solicita-se aos alunos que dêem significado a ela e

elaborem uma composição. Assim des+tarefa=destarefa, poderia ser uma

tarefa que não precisamos fazer logo que voltamos para casa, porque pode

ser feita aos poucos; “maxi-coberta” um cobertor capaz de cobrir, no

inverno, todas as pessoas que sentem frio.

Diante do que foi exposto, percebemos o quanto é importante valorizar o erro do

educando. Vimos que existem muitas maneiras de o educador aproveitar esse “erro” na

produção criativa. Para Rodari (1982: 36), é errando que se cria.

Para encorajar a criatividade do educando, é preciso que o educador torne a sala de

aula um local propício para o seu desenvolvimento. De acordo com Freire (1996: 96), o

educador precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas momentos de

liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus alunos. Para

isso, é necessário que o educador goste do educando e do seu trabalho, que sinta prazer em

ver o aluno descobrindo o conhecimento.

A receptividade a novas idéias é uma das características fundamentais para o

desenvolvimento da criatividade e pode ser implementada por meio de vários

procedimentos. Para exemplificar indicaremos alguns citados por Alencar (1990: 58):

• Propiciar oportunidades para o aluno perguntar, elaborar e testar hipóteses,

discordar, propor interpretações alternativas, criticar fatos, conceitos, idéias;

• Oferecer um tempo adequado para o aluno pensar e desenvolver suas idéias

criativas;

• Estimular os alunos a refletir sobre o que gostariam de aprender, ou temas

sobre os quais queiram realizar estudos e pesquisas;

• Desenvolver nos educandos a habilidade de pensar em termos de

possibilidade, de fazer julgamentos, de propor modificações e

aperfeiçoamentos para suas próprias idéias;

• Encorajar o educando a redigir poemas, histórias, trabalhos artísticos,

oferecendo um espaço para a divulgação desta produção;

• Evitar que o trabalho do educando seja motivo de gozações ou críticas;

• Oferecer um clima agradável para que o aluno não tenha medo de se arriscar.

O medo de fracassar e de ser criticado não deve existir em sala de aula;

• Oferecer oportunidades ao aluno para desenvolver sua imaginação e para

elaborar idéias imaginativas com relação a um determinado tema;

• Não considerar disciplina como alunos sentados, quietos e de boca fechada.

Aceitar a espontaneidade, a iniciativa, o senso de humor e a capacidade

criadora como traços universais do homem, que não devem ser prescritos da

sala de aula, mas devem antes ser cultivados.

Os exemplos, acima citados, são apenas alguns dos muitos procedimentos que o

educador pode aplicar em sala de aula para criar um clima favorável à criatividade.

CAPÍTULO IV

ANÁLISE DO CORPUS

O texto, concebido como processo de produção, é o lugar privilegiado da

criatividade, enquanto elemento formalizador do discurso.

Jeni Silva Turazza

Uma vez apresentada a linha teórica que irá fundamentar esta pesquisa, vamos dar

início à análise do corpus, no qual detectaremos quais as habilidades criativas

predominantes nas redações. Com o desenrolar desta pesquisa, nos certificamos de que os

textos considerados criativos possuem elementos que os diferenciam dos demais, bem

como a fluência, analogia, humor, fantasia, elaboração, originalidade e flexibilidade.

Porém, nesta pesquisa, analisaremos apenas as seguintes habilidades: analogia, fluência e

humor.

O pensamento crítico está sempre em conexão com a produção criadora na

aprendizagem escolar. Desse modo, sempre que analisarmos as habilidades criativas,

também estabeleceremos um elo com o pensamento crítico, uma vez que não existem

alunos criativos que não sejam críticos.

Lembramos que o corpus desta pesquisa são redações de alunos do primeiro ano do

ensino médio. Para darmos início ao nosso trabalho, sugerimos aos alunos, como tema das

redações, que eles dessem continuidade à seguinte frase “Se eu fosse um...”. É interessante

ressaltar que esse tipo de exercício é um convite para evocar a analogia pessoal, pois o

indivíduo se imagina como o ser com o qual está trabalhando.

Com base nas teorias aqui apresentadas e após termos lido todas as redações, fomos

capazes de selecionar algumas. Observamos que a maioria dos meninos deixou

transparecer, em suas redações, que gostaria de ser “jogador de futebol” ou “presidente do

Brasil” e a maioria das meninas manifestou maior desejo em ser “modelo” ou “atriz”. Só

uma pequena parte dos alunos demonstrou ter idéias originais, como “ser um louco”, “ser

uma borracha”, “ser um pássaro”, “ser um arqueólogo”, “ser um desenho japonês”, “ser

diretor de escola”, “ser dono do mundo” e outros. Das quarenta redações recolhidas,

consideramos que quinze fugiam do lugar comum, se consideradas entre as demais.

Dessas, selecionamos, aleatoriamente, oito. Das vinte e cinco restantes, consideradas

comuns, analisaremos cinco. Tais escolhas já implicam um olhar prévio e uma seleção a

partir de impressões subjetivas. Como, porém, nosso objetivo está centrado na busca de

categorias do criativo e de suas potencialidades, julgamos não ser importante um critério

mais acurado de seleção nesse momento, justamente porque, aquelas prematuramente

julgadas “comuns” podem, pela análise, ressaltar o potencial criativo quando vistas sob um

critério mais rígido que leva em conta a exploração de habilidades de pensamento. A

recíproca pode ser verdadeira.

Uma vez apresentados os procedimentos e os critérios de seleção das redações,

vamos dar início à análise do corpus. Faremos a transcrição literal das redações e

analisaremos primeiro as redações consideradas mais criativas por apresentarem o humor,

a fluência e a analogia.

Redação 1 – Se eu fosse um louco

“Se eu fosse um louco, não seria um louco qualquer ou comum, porque eu seria tão esperto, tão

inteligente que ao contrário de todos os loucos eu não estaria em um manicômio. E sabe por quê?

Bom... o porquê nem eu sei, porque se eu quero ser alguma coisa, essa coisa tem que estar livre

para fazer o que quiser senão qual seria a graça?

O louco (eu) seria assim como um faraó era para o Egito, e soltaria os loucos das casas de

manicômio e faria uma cidade. A cidade seria Kiloucura, quilos de loucura em uma cidade só... Todos

nessa cidade fariam o que bem quisessem, quem afinal teria coragem para tentar impedir loucos de fazer

alguma coisa? Quem seria o louco?

Mas toda cidade tem que ter sua economia, loucos não trabalham, e agora? Eu como faraó da

Kiloucura contrataria vários doidivanas não loucos de outra cidade e tudo certo!

Tudo certo nada! No mundo em que vivemos os doidos passariam a perna nos pobres loucos.

Pensando bem, já existe essa cidade de loucos e doidos, olhe bem para o país e a cidade em que

vivemos. O que você vê? Todos já não temos idéias brilhantes, nem fantasias ludibriantes que nos tire da

realidade em que vivemos.

É uma pena, eu...estava gostando de ser o louco faraó. Se uma cidade de loucos é um caos, prefiro

estar só; me infiltraria no meio das pessoas, aquelas que se acham normais e inventaria o remédio da cura

de todos os tipos de loucura.

As pessoas que se encontram loucas é porque humanos sem coração, ou traumas assim as fizeram.

E daria o remédio contra loucura para todo mundo.

Talvez eu estaria inventando a solução para problemas mundiais. Assim a minha loucura

acabaria, eu também tomaria o remédio, ficaria muito feliz porque descobriria que era médico e fiquei

louco por não encontrar a fórmula de cura de um louco. Eu teria alcançado o meu objetivo.

Mas em todo caso não seria mais um louco. Eu abandono esse médico porque com o emocional já

abalado estaria louco mais irreversivelmente, ninguém me daria remédio nenhum, iria para o manicômio

sozinho o que não quero porque não existem loucos mais como antigamente...”

T. G. S.

A analogia é uma das características fundamentais do pensamento criativo. Essa

habilidade denota a capacidade de brincar com idéias, cores, formas, conceitos a fim de se

obter combinações incomuns. Observamos, no segmento abaixo, que a aluna faz uso dessa

habilidade, pois, sendo louca, manifesta ter interesse em possuir as características de um

faraó, ou seja, possuir o espírito de liderança. Para isso, brinca com as idéias e consegue

fazer diferentes associações:

“O louco (eu) seria assim como um faraó era para o Egito”

“é uma pena eu já estava gostando de ser o louco faraó”

“Eu como faraó da Kiloucura contrataria...”

Encontramos também a analogia, no segmento abaixo, a aluna compara uma cidade

de “loucos” com o mundo atual. Para ela, estamos em um mundo de “loucos”, onde já não

temos idéias brilhantes e nem fantasias para nos tirar da triste realidade em que vivemos. É

interessante observar que a aluna faz uma crítica à população atual, uma vez que esta não

valoriza a fantasia.

“Pensando bem, já existe essa cidade de loucos e doidos, olhe bem para o país e a

cidade em que vivemos, O que você vê? Todos já não temos idéias ludibriantes, nem

fantasias que nos tire da realidade em que vivemos.”

A aluna brinca com o significado da palavra “louco”, ora a utiliza com sentido

figurado, ora denotativo. Fazendo uma associação:

“...quem afinal teria coragem para tentar impedir loucos de fazer alguma coisa?

Quem seria o louco?”

A analogia também está presente, no segmento abaixo, pois a aluna compara os

remédios que servem para curar doenças com os que servem para resolver problemas:

“e daria o remédio contra loucura para todo mundo.”

“Talvez eu estivesse inventando a solução para problemas mundiais”

Ao se referir aos homens como “humanos sem coração”, notamos que a estudante

também faz uso de analogia e deixa implícita uma crítica aos seres humanos, pois estes por

serem maus são os responsáveis pela loucura dos outros:

“As pessoas que se encontram loucas é porque humanos sem coração, ou traumas

assim as fizeram.”

Sabemos que a maioria das pessoas confia no experimentado e provado, parece que

tem medo do novo. Por outro lado, o indivíduo criativo é mais descrente, duvida de tudo e

não tem receio de enfrentar o novo. Sente uma necessidade enorme de ser livre. Kneller

(1976) afirma que o ceticismo o liberta das crenças convencionais, ao passo que sua

ingenuidade em relação a idéias novas o leva a se arriscar intelectualmente em busca da

descoberta criadora. Observamos, no segmento abaixo, que a aluna manifesta um desejo em

ser livre, em fugir das regras convencionais. Para criar o humor, utiliza como recurso

lingüístico as reticências e uma pergunta retórica.

“Bom... o porquê nem eu sei, porque se eu quero ser alguma coisa, essa coisa tem

que estar livre para fazer o que quiser senão qual seria a graça?”

Considerando que o aluno criativo é aquele que possui elevado senso de humor,

pois sua espontaneidade oferece-lhe condições de lidar com idéias, organizando-as de

forma diferentes e engraçadas, observamos no trecho abaixo essa habilidade, pois o fato

apresentado pela estudante de “soltar os loucos do manicômio e construir uma cidade”

causa espanto e surpresa no leitor. É esse absurdo que provoca o humor:

“...e soltaria os loucos das casas de manicômio e faria uma cidade..”

Ser lingüisticamente criativo é ter a habilidade de criar vocábulos novos.

Encontramos na redação a palavra “Kiloucura”. Esse neologismo foi criado para nomear a

cidade, uma vez que esta teria, muitos loucos, por isso quilos de loucura. A criação deste

vocábulo é que provoca o humor:

“A cidade seria Kiloucura, quilos de loucura em uma cidade só...”

Ao utilizar a palavra “doidivanas” não como um sinônimo de “louco”, mas como

antônimo, a aluna parece tornar o enunciado incoerente e é essa falta de lógica que provoca

o humor:

“Eu como faraó da Kiloucura contrataria vários doidivanas não loucos de outra

cidade e tudo certo.”

A aluna trabalha com idéias absurdas ao revelar que inventaria um remédio para a

loucura e também tomaria o remédio. O efeito do remédio a faria descobrir a causa de sua

loucura: um dia fora médico e por não descobrir algo para curar a loucura é que havia

ficado louco. Agora com a mente sã, estava feliz por ter alcançado o seu objetivo de

inventar o remédio para a loucura. Para conseguir se expressar, a estudante brinca

criativamente com as palavras, utiliza antíteses e constrói uma narrativa não linear. As

idéias apresentadas parecem ser contraditórias e é essa construção que leva ao humor:

“Assim a minha loucura acabaria, eu também tomaria o remédio, ficaria muito feliz

porque descobriria que era médico e fiquei louco porque não consegui encontrar a

fórmula da cura de um louco. Eu teria alcançado o meu objetivo.”

Observamos que a aluna cria um final inesperado, pois no início de sua redação

dizia que queria ser um louco diferente, não queria ir para o manicômio. E agora no final de

sua redação ele iria sozinho para lá, já que não existiam mais loucos, pois ele havia criado

um remédio para os loucos e só ele de tanto pensar seria louco. O enunciado por parecer

incoerente e absurdo acaba provocando o humor:

“mas em todo o caso não seria mais um louco. Eu abandono esse médico porque

com o emocional abalado estaria louco mais irreversivelmente, ninguém me daria

remédio nenhum, iria para o manicômio sozinho (o que não quero) porque não

existem loucos mais como antigamente...”

As frases feitas tiram toda a elegância do texto e revelam falta de criatividade.

Notamos que a aluna utiliza para finalizar a redação uma frase feita, porém, neste caso,

podemos considerar que o uso foi criativo, pois a estudante tem consciência do uso

desgastado dessas frases e não se contenta em repetir, mas faz uma modificação para tornar

o seu texto ainda mais original. Essa substituição é que leva ao humor:

“não existem loucos mais como antigamente...”

Considerando que a fluência é a habilidade de gerar muitas idéias, observamos que

a estudante faz uso dessa habilidade diversas vezes em seu texto. Ao empregar perguntas

retóricas, aquelas que envolvem o interlocutor sem exigir resposta, a aluna deixa fluir as

suas idéias e também a do leitor:

“...eu não estaria em um manicômio. E sabe por quê?

...essa coisa tem que estar livre para fazer o que quiser, senão qual seria a graça?

..quem afinal teria coragem para tentar fazer alguém impedir loucos de fazer alguma

...bobagem? Quem seria o louco?

... loucos não trabalham, e agora?

...olhe bem para o país. O que você vê?”

É interessante observar que esta redação é de uma aluna que optou por ser um

personagem do sexo masculino. Esse fato nos leva ao questionamento do porquê dessa

escolha. Será que sente as pressões da sociedade sobre o sexo feminino? Será que para

poder expressar suas idéias, precisou se passar pelo sexo masculino? De certa forma,

consideramos que essa escolha tornou seu texto mais original.

Verificamos que a aluna, para atingir seus objetivos e se comunicar com eficácia,

utilizou as habilidades consideradas criativas como o humor, a fluência e a analogia

diversas vezes em sua redação.

Redação 2 – Se eu fosse um...

“Se eu fosse um pássaro voaria para longe

Se eu fosse uma flor seria bela e formosa

Se eu fosse um astronauta iria até a lua

Se eu fosse um palhaço estaria no circo

Se eu fosse uma escritora teria idéias sensacionais,

Para fazer esta redação, mas como eu não sou, vou ficando por aqui..”

J. E..

Como sabemos, uma afirmação veemente é aquela que fazemos com convicção

tentando a todos convencer da veracidade daquilo que dizemos. O humor desta redação

reside justamente em tentar convencer alguém de um fato óbvio, cuja veracidade é

indiscutível. Todos sabemos que a flor é bela, que pássaros voam para longe, que

astronautas almejam ir até a lua, que os palhaços ficam no circo e que escritor tem idéias

brilhantes. Observamos que a aluna fez uso dessas expressões óbvias e também de

paralelismo para criar um final inesperado: se ela fosse escritora teria idéias originais, mas

como ela não era, iria ficar por ali. É esse final inesperado que provoca todo o humor da

redação:

“Se eu fosse um palhaço estaria no circo

Se eu fosse uma escritora teria idéias sensacionais

Para fazer esta redação, mas como eu não sou, vou ficando por aqui.”

A fluência é a capacidade de gerar muitas idéias. Encontramos, nesta redação, essa

habilidade, uma vez que a aluna apresentou diversas idéias do que gostaria de ser, não se

contentou apenas em ser um único ser, mas almejou ser: pássaro, flor, astronauta, palhaço

e por fim escritora. Com o final inesperado desta redação, observamos que a aluna encontra

logo uma saída para o grande problema da maioria dos alunos: que é a de escrever uma

redação. Notamos que deixa implícita a insatisfação que sente em escrever, que possui uma

idéia já formada de que só os escritores são capazes de escrever bem. Diante disso,

podemos considerar que há uma crítica ao ensino de redação atual, uma vez que os

educadores não estão conseguindo fazer com que os alunos sintam prazer em escrever.

Cabe aos educadores conscientizarem seus educandos que escrever não é um dom, mas

uma arte que exige o desenvolvimento de habilidades e técnicas específicas, da mesma

forma como o exigem a pintura, a escultura, a dança, a música e todas as outras artes.

Redação 3 – Se eu fosse um ...

“Se eu fosse um escritor, pera aí, eu sou um escritor, tenho de pensar em algo diferente...

Se eu fosse um matemático, pera aí, também sou um desses...

Nossa, como é difícil pensar nisso...

Já sei

Se eu fosse um desenho japonês, eu seria Poronoa Zoro, o caça-piratas do mangá

One Piece. Isso sim seria legal, ser forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e dormir o dia inteiro durante

uma viagem de navio ao redor do mundo.

Exatamente...

Ser forte como Maguila;

Rápido como um Guepardo;

Inteligente como...pera aí, eu já sou inteligente;

Conhecido como Chapolin Colorado;

Temido como Churck Norris;

E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...”

R. W.

Considerando que analogia é o ponto de semelhança entre coisas diferentes,

observamos que o aluno faz uso dessa habilidade para melhor expressar suas idéias, uma

vez que estabelece conexões entre coisas que nunca foram percebidas como tal. Não utiliza

os famosos clichês “forte como um touro”, “rápido como um raio”. Ao fazer associações

diferentes, o aluno foge completamente dos estereótipos. Vejamos o seguinte trecho:

“Ser forte como Maguila;

Rápido como um Guepardo;

Conhecido como Chapolin Colorado;

Temido como Churck Norris;

E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...”

O aluno almeja: ter a força de Maguila, lutador de boxe; a rapidez de um animal;

conhecido como um personagem da programação infantil; ser temido como um ator de

cinema e por fim dorminhoco como uma aluna da sala, a Milena. Como vimos, o estudante

utiliza analogias para fazer novas associações.

O estudante utiliza, também, uma mistura da linguagem formal com a coloquial.

Encontramos em sua redação a expressão “pera aí” considerada coloquial. Ao fazer uso

dessa expressão, notamos o estabelecimento de um diálogo. O “pera aí” implica dialogar

com um outro que pode ser ele mesmo, mas que seguramente, é um outro no plano

discursivo. A ênfase humorística reside justamente no uso dessa expressão em discurso

indireto livre:

“Se eu fosse um matemático, pera aí, eu sou um desses”

“Se eu fosse um escritor, pera aí, eu sou um escritor”, “inteligente como...pera aí,

eu sou inteligente.”

Observamos que o aluno cria um final inesperado que provoca também o humor,

quando apresenta várias características que gostaria de ter como: forte, temido, conhecido,

rápido e, no final, deseja algo simples como ser: dorminhoco como uma aluna da sala. De

acordo com Koch (2004: 27), um enunciado só tem valor dentro de um determinado

contexto. Portanto, só quem conhece a aluna “Milena” e sabe que ela dorme durante as

aulas, é capaz de fazer inferências, por meio de conhecimentos prévios e tornar o enunciado

coerente e engraçado.

“Temido como Churck Norris;

E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto..”

A anáfora, figura de linguagem que consiste em repetir palavra ou expressão, foi

usada pelo aluno. Esse recurso revela a habilidade do aluno em fluência e humor:

“Se eu fosse um escritor...

Se eu fosse um matemático...

Se eu fosse um desenho japonês...”

O aluno pode ser considerado fluente, pois expõe com clareza muitas idéias. Pensa

em ser: escritor, matemático, desenho japonês, artista e também apresenta várias

características de “Poronoa Zoro” como ser: forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e

dorminhoco:

“Isso sim seria legal, ser forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e dormir o dia

inteiro durante uma viagem de navio ao redor do mundo.”

Segundo os autores abordados nesta pesquisa, deixar um problema em aberto

favorece a incubação. Esse recurso, além de fazer fluir a imaginação do leitor, proporciona

também um certo suspense à redação. O aluno utiliza como recurso lingüístico as

reticências para deixar suas idéias em aberto e fazer com que flua a sua imaginação e

também a do leitor. Vejamos como utiliza esse recurso para manifestar sua habilidade de

fluência:

“tenho de pensar em algo diferente...

nossa como é difícil pensar nisso..

Exatamente..

E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...”

Redação 4 – Se eu fosse uma borracha

“Se eu fosse uma borracha, viveria apagando os erros dos outros, mas essa seria a minha função,

apagar e apagar e apagar. Mas que chatisse, não?

Essa seria minha vidinha de borracha, passando de mão em mão pagando bastante lição, por

exemplo, uma redação.

Moraria num lugar bem legal, um dos moradores seria a caneta que não me faz nenhum mal, mas

por outro lado tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum, seria o lápis. Ele só me daria

trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada de mim.

Fico feliz por não ser uma borracha, ela foi a coisa mais usada nesse pequeno texto. Mas também

foi minha grande inspiração de completar essa história.”

L. S. J.

De acordo com (Wechsler, 1993: 280), a analogia pessoal é a habilidade de

“identificar-se com os elementos do problema, empatizando-se com este”. Observamos que

o aluno faz uso desse tipo de analogia, pois se coloca na posição de borracha para expressar

seus sentimentos em relação à caneta e ao lápis e à vida que teria se fosse uma borracha.

Vejamos o trecho:

“...um dos moradores seria a caneta que não me faz nenhum mal, mas por outro

lado, tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum que seria o lápis. Ele só

me daria trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada de mim.”

O indivíduo humorado é impulsivo e espontâneo. Dessa forma, organiza as idéias de

formas diferentes e engraçadas. Ao repetir a palavra “apagar” e terminar a frase com uma

pergunta retórica “Mas que chatisse, não?”, observamos que o aluno faz uso dessa

habilidade. Para Koch (2004: 83), “martelar” na cabeça do ouvinte/leitor, repetindo

palavras e recursos sonoros é uma forma de fazer com que a mensagem se torne mais

presente na memória:

“Se eu fosse uma borracha viveria apagando os erros dos outros,mas essa seria a

minha função, apagar e apagar e apagar. Mas que chatisse, não?”

No trecho abaixo, notamos que o aluno exagera nas idéias, ao colocar que de tanto o

lápis escrever gastaria a borracha e é esse exagero que provoca o humor:

“... tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum, seria o lápis. Ele

só me daria trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada

de mim...”

Antítese é a utilização de palavras ou expressões de sentidos opostos em um

enunciado, ou mesmo em enunciados próximos. Nesta redação, encontramos: “pequeno

texto/grande inspiração”. Ao empregar essa figura de linguagem, o aluno reforça a idéia de

que não gosta e não sabe escrever, por isso considera sua redação “um pequeno texto”. Ao

fazer uso desse recurso e atribuir elogios à borracha, pois foi ela sua “musa inspiradora”,

ele cria o humor:

“Fico feliz por não ser uma borracha, ela foi a coisa mais usada nesse pequeno

texto, mas também foi a minha grande inspiração de completar essa história.”

Ainda nesse segmento, notamos que, ao mencionar que estava feliz por não ser uma

borracha, pois foi esse o objeto mais utilizado em sua redação, o aluno cria o humor e deixa

claro a insatisfação que sente em produzir uma redação. Observamos que o aluno já tem

enraizado em sua memória o conceito de que errar não é bom. Cabe ao educador

desmistificar essa idéia, propondo atividades que trabalhem criativamente o erro, pois como

afirma Rodari (1982: 36) muitos dos “erros” dos alunos não são erros, são criações que

servem para assimilar uma realidade desconhecida. Para o autor, em cada erro existe a

possibilidade de uma história e a “palavra certa existe apenas em oposição à palavra

errada.”

Redação 5 – Se eu fosse um arqueólogo

“Se eu fosse um arqueólogo, eu iria viajar pelo mundo à procura de relíquias inestimáveis.

Eu conheceria as pirâmides, as esfinges e os sarcófagos.

Eu atravessaria os desertos, visitaria o pólo norte e pularia para o pólo sul, passando pelo

Equador e pelo Chile, depois eu passaria no Japão, “hum”, só de pensar me deu uma vontade louca de

comer peixe.

Ah! Mas então seria melhor eu ir para o Amazonas, eu poderia pescar e caçar com os índios,

usando arco e flecha, sarabatana e flechas grandes, eu estaria realizando um sonho de infância, mas

mesmo assim o que eu queria mesmo era conhecer a Grécia, eu simplesmente adoro a mitologia de lá;

Afrodite, Medusa, Zeus, minotauro, Hércules e muitos outros personagens.

Ai meu Deus! Como eu adoraria fazer isso, e quem não adoraria, mas é como dizem:

Querer não é pode e eu quero muito fazer isso, com certeza eu seria muito feliz.

Ah!!! Eu já ia me esquecer de dizer que faria tudo isso com um protótipo do 14 bis, só para sentir

o vento do rosto.”

R. E.

Como já mencionamos, o indivíduo criativo possui elevado senso de humor, uma

vez que brinca com idéias fazendo combinações incomuns. Notamos que o educando faz

uso do humor em sua redação quando menciona que viajaria pelo mundo inteiro em um “14

bis”. Todos sabemos que esse tipo de avião não existe e é essa mistura de realidade e ficção

que provoca o humor:

“Ah!!! Eu já ia me esquecer de dizer que faria tudo isso com um protótipo do 14 bis,

só para sentir o vento do rosto.”

O aluno possui um nível elevado em fluência, uma vez que almeja visitar vários

lugares se fosse um arqueólogo. Deixou fluir suas idéias em relação a lugares, não se

limitou em ficar no Brasil. Ele atravessaria os desertos; do pólo norte pularia para o pólo

sul; passaria pelo Equador, pelo Chile, Japão, Amazonas, Grécia. Como podemos observar,

o aluno pensou em vários lugares e em todos esses lugares, se lá estivesse, faria algo

diferente, como por exemplo: caçar e pescar com os índios no Brasil utilizando arco e

flecha, sarabatana e flechas grandes:

“Eu conheceria as pirâmides, as esfinges e os sarcófagos.

Eu atravessaria os desertos, visitaria o pólo norte e pularia para o pólo sul,

passando pelo Equador e pelo Chile, depois eu passaria no Japão, “hum”, só de

pensar me deu uma vontade louca de comer peixe.”

Encontramos também a habilidade de fluência no segmento em que o estudante

menciona querer conhecer na Grécia vários personagens: Afrodite, Meduza, Zeus,

Minotauro, Hércules.

“...eu queria mesmo era conhecer a Grécia, eu simplesmente adoro a mitologia de

lá: Afrodite, Meduza, Zeus, minotauro, Hércules e muitos outros personagens.”

Redação 6 – Se eu fosse um...?

“Se eu fosse um pernilongo, eu morreria esmagado e teria que chupar o sangue dos outros.

Se eu fosse um político, eu seria preso, por causa do mensalão.

Se eu fosse um traficante, eu seria preso.

Se eu fosse um macaco, eu teria que comer bananas.

Se eu fosse D. PedroI, não poderia jogar vídeo game, nem assistir TV.

Se eu fosse uma telha, eu tomaria chuva, sol quente, e quebraria. O pior, é que as pombas, você

sabe né?

Se eu fosse um livro, eu seria riscado, rasgado e depois jogado no lixo.

Se eu fosse um peixe, eu seria engolido por um tubarão, ou pescado e comido.

Se eu fosse uma árvore, eu seria queimada, ou cortada ou até atingida por um raio em

tempestade.

Eu acho que eu vou ser eu mesmo. É melhor.”

M.S.

Para Wechsler (1993: 49), o indivíduo criativo é em geral fluente no sentido de

produzir mais idéias do que uma pessoa qualquer, sobre um determinado tema. Para a

autora, quantidade gera qualidade. Diante dessas afirmações, verificamos que a habilidade

de fluência está presente nesta redação, uma vez que o aluno apresenta várias idéias do que

poderia ser: pernilongo, político, traficante, macaco, D. Pedro I, telha, livro, peixe, árvore.

Ele mistura objetos, pessoas, animais, plantas e essa mistura revela o quanto deixa fluir

suas idéias. É interessante observar que o educando cita até D. Pedro I, que não existe mais.

Notamos que estabelece uma coerência com o título que deu à redação, uma vez que

acrescentou ao título um ponto de interrogação “Se eu fosse um..?” O ponto de interrogação

revela o quanto o aluno estava indeciso e repleto de idéias no que gostaria de ser. Vejamos:

“Se eu fosse um pernilongo, eu morreria..

Se eu fosse um político, eu seria..

Se eu fosse um traficante, eu iria...”

O paralelismo, recurso no qual se podem observar expressões ou frases com

estrutura sintática idêntica, aparece nesta redação. O aluno utiliza esse recurso para melhor

expor suas idéias e evidenciar na forma, o que o conteúdo nos transmite:

“Se eu fosse um pernilongo, eu morreria..

Se eu fosse um político, eu seria..

Se eu fosse um traficante, eu iria..

Se eu fosse um macaco, eu teria..

Se eu fosse D. Pedro I, não poderia.

Se eu fosse uma telha, eu tomaria..

Se eu fosse um livro, eu seria..

Se eu fosse um peixe, eu seria...

Se eu fosse uma árvore, eu seria...”

A ironia é uma figura de linguagem que consiste em afirmar o contrário da realidade

com a intenção de zombar ou brincar. Observamos que o aluno utiliza essa figura de

linguagem quando se refere aos políticos e traficantes, pois todos nós sabemos que nenhum

político foi preso por causa do mensalão e nem todos os traficantes são presos. Por ser a

afirmação do aluno inversa à realidade dos fatos, entendemos que haja ironia nessas frases.

O uso dessa figura de linguagem é que provoca o humor:

“Se eu fosse um político, eu seria preso por causa do mensalão.

Se eu fosse um traficante, eu iria preso.”

O humor também está presente no segmento abaixo, pois o aluno relaciona o tempo

passado com o tempo presente, utiliza avanços tecnológicos para expressar que não estaria

satisfeito se fosse D. Pedro I, porque não poderia fazer uso desses recursos. É essa falta de

lógica que cria o humor:

“Se eu fosse D. Pedro I, não poderia jogar vídeo game, nem assistir TV.”

Como vimos, perguntas retóricas são aquelas que numa conversação envolvem o

interlocutor, porém não exigem resposta. Observamos que o aluno utiliza esse recurso para

levar o leitor a imaginar o que fazem as pombas em cima do telhado. Notamos que o aluno

utiliza a figura de linguagem: eufemismo, como recurso de humor. O leitor acha graça ao

perceber que seriam “as fezes” da ave que o aluno não quis revelar. Vejamos:

“Se eu fosse uma telha, eu tomaria chuva, sol quente, e quebraria. O pior é que

as pombas, você sabe né?”

Outra figura de linguagem utilizada pelo aluno foi a gradação, ao fazer uso desse

recurso mostrou ser lingüisticamente criativo. Notamos também que fica implícita uma

crítica aos alunos que não conservam os livros didáticos. Vejamos:

“Se eu fosse um livro, eu seria riscado, rasgado e depois jogado no lixo.”

É interessante observar como o aluno apresenta suas idéias: inicia sempre com a

mesma expressão “Se eu fosse um...” e depois coloca um fator negativo, como por exemplo

“eu iria preso”. Esse tipo de construção revela a visão determinista do aluno em relação ao

mundo que o cerca, pois se fosse um traficante só poderia ir preso; se fosse um pernilongo

só poderia morrer esmagado; se fosse uma telha só poderia tomar chuva; se fosse um

macaco só poderia comer bananas etc. Esse recurso, além de criar no leitor uma certa

expectativa em relação ao que o aluno gostaria de ser, demonstra que o aluno não está

satisfeito em ser alguém diferente. Mas é só no final que o educando revela que vai ser ele

mesmo, porque seria melhor. Esse final inesperado é que provoca o humor.

“Eu acho que eu vou ser eu mesmo. É melhor.”

Como podemos observar, esta redação contém as características consideradas

criativas como o humor, a fluência e a analogia. Encontramos também muitas críticas: aos

políticos que não são punidos; aos traficantes que não vão presos; ao desmatamento

exacerbado e à má conservação dos livros didáticos.

Redação 7 – Se eu fosse a dona do mundo

“Se eu fosse a dona do mundo faria dele um lugar bem diferente. Inventaria carros que voassem

pelo céu e que não poluíssem, nós os humanos voaríamos de uma cidade a outra como pássaros.

Não moraríamos em um só planeta, viveríamos pela Galáxia, tipo assim, escolas em Marte,

Shopping em Júpiter, museus e cinemas em Saturno.

As empresas seriam no oceano, mas lá no fundo, seria um mundo pirado. Nossos pais para irem

trabalhar iriam de submarino e nós iríamos cozinhar em larvas de vulcão.

Os animais falariam e nós moraríamos em matas que ficariam nas nuvens, mas os animais

ficariam aqui nas cidades, pássaros andariam e hipopótamos, elefantes e cavalos voariam. Teríamos um

mundo divertido e louco.”

J. B.

De acordo com Alencar (1993: 73), as incursões pelo mundo da fantasia têm o seu

lado positivo, porque torna mais fácil para o indivíduo suportar as frustrações que vive na

realidade e permite-lhe a satisfação de desejos, por meio de uma gratificação imaginária.

Observamos que a aluna brinca com as palavras, com as idéias e cria um mundo de

fantasia. Apresenta idéias totalmente exóticas que provocam o humor: carros que voariam e

não poluiriam, pessoas que voariam, viveríamos em vários planetas, empresas seriam no

fundo do mar, os pais iriam trabalhar de submarino, cozinharíamos em larvas de vulcão,

animais falariam, as matas seriam nas nuvens; pássaros andariam e hipopótamos, elefantes

e cavalos voariam. Diante de tantas idéias, constatamos que a habilidade de fluência

também aparece nesta redação:

“Os animais falariam e nós moraríamos em matas que ficariam nas nuvens, mas

os animais ficariam aqui nas cidades, pássaros andariam e hipopótamos,

elefantes e cavalos voariam.”

No segmento abaixo, encontramos a habilidade de analogia, uma vez que a aluna

menciona que os humanos voariam como pássaros. Ao utilizar esse recurso, demonstra o

desejo de ser livre para ir aonde quiser. Para Koch (2004: 27), um enunciado só tem valor

dentro de um determinado contexto. Portanto, só quem conhece a situação de São Paulo e

sabe que a população está presa em seus lares com receio dos bandidos, é capaz de entender

o enunciado e perceber que a aluna deixa implícita uma crítica à situação da cidade:

“...nós os humanos voaríamos de uma cidade a outra como pássaros”

Redação 8 – Se eu fosse diretor da Escola Luzia de Queiroz e Oliveira

“Se eu fosse diretor da escola, eu colocaria animais na escola junto com os alunos e professores.

Colocaria gorilas e macacos e eles andariam livres, livres e soltos. E seriam professores das matérias mais

chatas: Inglês, História e Geografia. O elefante seria o professor de geografia, o macaco o de inglês e o

gorila o de História.

Iria ter uma piscina para os animais nadarem e os alunos também. Iria ter cortinas nas salas

para os macacos se pindurarem; iria ter uma mata atlântica para experiências absurdas, como cruzar um

elefante com um hamster. Desse cruzamento iria sair um papagaio com penas coloridas e com tromba.

Seria um barato só e seria a melhor escola do mundo, pena que isso não passa de um sonho e com

bastante imaginação. Iria ser simplesmente um barato. Seria a escola dos animais e seres humanos. Seria a

Zooescola.”

A. D.

Observamos que o aluno cria um mundo de fantasia logo no início de sua redação.

Segundo Virgolin (1994: 49), é o poder ir e vir da fantasia para a realidade que faz uma

pessoa saudável. Para ela, a saúde mental passa pelo jogo de ir e vir sem que haja perda da

realidade. O educando faz uma mistura de realidade e ficção ao colocar que os animais

ferozes ficariam junto com os alunos e professores. Essa mistura considerada absurda é

que provoca o humor:

“Se eu fosse diretor da escola, eu colocaria animais na escola, junto com alunos

e professores. Colocaria elefantes, gorilas e macacos e eles andariam livres,

livres e soltos.”

Todos os alunos almejam uma escola ideal, que tenha piscina. A escola dos sonhos

desse aluno seria diferente: a piscina, não seria só para os alunos e professores; nas salas

de aula haveria cortinas para os macacos se pendurarem. Tudo isso seria um absurdo e é

essa mistura de fantasia e realidade que, novamente, provoca o humor:

“Iria ter piscinas para os animais nadarem e os alunos também”

“Iria ter cortinas nas salas para os macacos se pindurarem”

Dentro da escola iria ter uma mata, para fazer experiências absurdas, como cruzar

animais diferentes. Do cruzamento do elefante com hamster, sairia um papagaio com penas

coloridas e com tromba. Sabemos que é impossível fazer o cruzamento desses animais e é

interessante observar que o aluno escolhe um animal enorme e um muito pequeno para

cruzar, aumentando ainda mais a noção de incoerência e é essa incoerência que provoca o

humor:

“iria ter uma mata atlântica para experiências absurdas como cruzar um

elefante com um hamster e iria nascer um papagaio com penas coloridas e com

tromba.”

O aluno para melhor definir a idéia de escola que gostaria de ser diretor, cria um

vocábulo novo: “Zooescola”, mistura um vocábulo inglês Zoo (zoológico) à escola.

Constatamos que, neste trecho, o aluno revela ser lingüisticamente criativo, pois manifestou

a capacidade de inventar palavras de acordo com a situação:

“Seria a Zooescola”

No que se refere à habilidade de fluência, notamos que esta aparece na redação, uma

vez que o aluno apresenta muitas idéias de como gostaria que sua escola fosse: professores

dando aulas, animais soltos, piscinas, cortinas para os macacos, mata para realizar

experiências exóticas. Vejamos:

“Iria ter piscinas para os animais nadarem e os alunos também”

“Iria ter cortinas nas salas para os macacos se pindurarem”

Observamos que ao mencionar que gostaria que os animais fossem os professores

das matérias mais chatas, bem como Inglês, Geografia e História, o aluno faz uma crítica ao

ensino. A nosso ver, essa crítica tem fundamento, pois como o ensino está voltado para a

memorização de conteúdos, o ambiente escolar torna-se tedioso. A escola é vista pelo aluno

como um ambiente desagradável que requer mudanças. É interessante notar que mesmo não

tendo conhecimento teórico a respeito de criatividade, o estudante tem ciência de que o

ambiente escolar precisa ser agradável.

Análise das redações consideradas não originais

Redação 1 – Se eu fosse um jogador de futebol

“Se eu fosse um jogador de futebol, ah! Mais seria bom! Primeiro jogaria para o Corinthians e

assim com o meu sucesso seria convocado para jogar na seleção brasileira. Seria muito famoso e teria

muito dinheiro mesmo. Seria milhionário, muitas mulheres cairiam aos meus pés. E seria bom!

Eu faria todos os comerciais de cerveja na televisão e ganharia muito, mas seria famoso mesmo é

pelo meu futebol, todos iriam falar esse é mesmo um brasileiro.

Teria tudo o que eu quisesse e teria muita fama. Não haveria quem não conhecesse ou ouvisse

falar do meu nome, seria muito legal ser um jogador profissional pro Corinthians e pra seleção brasileira

esse sonho ainda posso realizar.”

A.. C.. S.

Como podemos observar, esta redação traz como tema: ser um jogador de futebol.

Como já dissemos esse foi um dos temas mais apresentados pela maioria dos alunos da

sala. Cremos que não está na escolha do tema a falta de originalidade, mas sim nas idéias

apresentadas por este aluno, uma vez que apenas reproduz o que é tradicional, o que a

sociedade espera que ele reproduza. O aluno almeja o que a maioria dos garotos de sua

idade almeja: ser um jogador de futebol, ganhar dinheiro, ser famoso e conquistar muitas

mulheres. Com isso, o aluno demonstrou não ser fluente nas idéias. Vimos que valoriza

apenas bens materiais e não consegue se posicionar de forma inovadora frente à situação de

ser um jogador de futebol: quer jogar no Corinthians e também na seleção brasileira, tudo

que um jogador comum e fanático pelo Corinthians quer. Não há novidades em seus

desejos. No que se refere ao vocabulário, observamos que o aluno utiliza um vocabulário

simples, não cria vocábulos novos, não utiliza figuras de linguagem, não utiliza nenhum

recurso que possamos considerar sua redação criativa. As habilidades de humor e analogia

também não foram encontradas.

Redação 2 – Se eu fosse uma atriz famosa

“Se eu fosse uma atriz famosa e rica no meu aniversário eu faria uma festa, a maior das festas

que já se viu com muitos comes e bebes a vontade muitos convidados e para a festa ficar melhor com um

show inesquecível do “Jeito Moleque” cantando seus sucessos e depois eles ficariam na festa comigo até o

final a festa duraria uns dois dias. Faria festas de quinta até o domingo e sempre com o Jeito moleque.

Faria um filme e uma novela de bastante sucesso, nunca estaria parada sempre sendo convidada

para fazer várias novelas filmes, festas, desfiles, casamentos e muitos outros.”

A. A.

A aluna apresenta idéias convencionais como “ser atriz famosa”, “ter muito

dinheiro”, “ser convidada para fazer filmes, novelas”. Sendo fruto de uma sociedade

capitalista que apregoa que o sucesso se dá pela fama e pelo dinheiro, a estudante reproduz

esse discurso sem questionar. O vocabulário utilizado pela aluna é simples. Não

verificamos a presença de neologismos, de nenhuma figura de linguagem e também de

nenhuma das habilidades: fluência, humor e analogia.

Redação 3 – Se eu fosse um presidente

“Se eu fosse um presidente eu mudaria tudo de ruim nesse país, ia governar com competência e

dignidade, não pensaria em mim e sim nas pessoas, porque se não fosse essas pessoas eu não estaria na

presidência.

Como presidente eu aumentaria o salário mínimo, abaixaria os impostos, tentaria tirar todos da

miséria extrema, o número de desemprego iria diminuir.

Para eu conseguir fazer o país ir para frente não basta só de mim e sim das pessoas que estão a

minha volta. Pois como eu vou conseguir melhorar o país se as pessoas que estão perto de mim não

ajudam.

Como irei conseguir isso se estou rodeado de pessoas que só pensam em si mesmas, que não tentam

ajudar o povo não fazem nada para melhorar o país. Eles não pensam que ajudando a si mesmos estão

melhorando o pais que eles vivem.”

L. E. B.

Não encontramos, nesta redação nenhuma das habilidades consideradas criativas. A

nosso ver, esta redação caminha para o lugar comum, pois o tema da redação “Ser um

presidente” foi um dos mais escolhidos pelos alunos da sala. O presidente que o aluno

gostaria de ser é aquele que todos os brasileiros querem: honesto, que governe com

competência, que aumente os salários, que abaixe os impostos. Como observamos, não há

novidades nessas idéias, por isso não podemos considerar que a habilidade de fluência

esteja presente.

É interessante ressaltar que este aluno é considerado um dos mais inteligentes da

sala por tirar notas boas. Comprovamos, então, o que dissemos nesta pesquisa: o aluno

“inteligente” nem sempre é o mais criativo.

Redação 4 – Se eu fosse uma modelo

“Se eu fosse uma modelo, seria mais bonita que a Gisele e seria muito rica ganharia milhões.

Terias roupas caras de peles e tudo mais. Ajudaria os pobres o meu dinheiro seria tanto que não saberia o

que fazer!

Usaria roupas e maquiagem tudo de marca. Seria muito fashion. E seria adorada por todo o

mundo, viveria no shopping fazendo compras. Minha vida seria feliz. Viajaria para todo o mundo e teria

casa em todos os lugares mais bonitos. E não deixaria as passarelas toda a imprensa estaria atrás de mim.

Se eu fosse uma modelo, andando já desfilaria nos píncaros da glória”.

C.. D.

Escrever com originalidade é dizer o que os outros ainda não disseram, empregando

uma linguagem inesperada e viva, de forma variada e atraente. Diante dessa afirmação,

constatamos que o texto da aluna é muito comum, pois a estudante manifesta ter o mesmo

desejo que as outras garotas de sua idade: ser modelo. E como modelo, quer ser como as

que temos atualmente: bonitas, ricas, famosas, elegantes.

Não podemos afirmar que a habilidade de fluência esteja presente, uma vez as idéias

apresentadas pela estudante são as mesmas já estabelecidas pela sociedade: modelos são

bonitas, têm dinheiro, usam roupas caras e de marca, fazem muitas compras, são invejadas

por todos. É interessante observar como a aluna relaciona felicidade com dinheiro. Para ela,

só é feliz quem tem bens materiais.

No que se refere ao vocabulário, observamos que a aluna utiliza dois

estrangeirismos “shopping” e “fashion”. Esses vocábulos denunciam o quanto a adolescente

é massificada pela sociedade de consumo. Também encontramos, na redação, a presença de

frases feitas “píncaros de glória”. Essa expressão tornou o texto ainda mais pobre. Para

Rocco (1981: 67), “a escola, entre outras instituições contribui para a perpetuação do“já

dito”, do “já feito”, na medida em que o novo sempre implica em riscos”. De acordo com a

autora, o aluno contenta-se com a repetição, sem que nem mesmo tenha consciência do fato.

Desse modo, podemos afirmar que a aluna ao fazer uso de uma expressão já desgastada,

revela não ser crítica. Verificamos que as habilidades de humor e analogia também não

aparecem nesta redação.

Redação 5 – O presidente do Brasil

“Se eu fosse o Presidente da República eu acabaria principalmente com a fome a pobreza e a

corrupção e as pessoas de baixa renda não pagariam os impostos, investiria na educação no turismo e nas

estradas, combateria o tráfico de drogas, pessoas e animais, vigiando rigorosamente as fronteiras por

terra, céu e mar.

Faria tudo isto retirando deputados, ministros, governadores e até prefeitos que desviam o

dinheiro que é direcionado a população brasileira. Além de tudo criaria clínicas para tratar das pessoas

viciadas em drogas e investiria nas pesquisas de remédios para a Aids e outras doenças que não atingem

só o Brasil, mas o mundo todo.

Este seria o Presidente perfeito, mas que ainda não existe infelizmente.”

V. S. M.

Nesta redação, também não notamos a presença de nenhuma das habilidades

consideradas criativas. Embora apareçam muitas idéias, constatamos que são as mesmas

idéias que os demais alunos da sala apresentaram ao discorrer sobre o desejo de serem

presidentes do Brasil. O estudante apenas reproduz o desejo da maioria dos brasileiros: ter

um presidente que acabe com a miséria, que diminua os impostos, que invista na educação,

que combata o tráfico, que invista na saúde, que acabe com a corrupção. Como podemos

observar, o aluno não propõe outras soluções para os problemas do país. Portanto, não

podemos considerá-lo fluente nas idéias.

O vocabulário utilizado pelo aluno é simples. Verificamos a presença de um dos

famosos clichês: por terra, céu e mar, o que revela falta de esforço, por parte do aluno, para

a obtenção de um efeito expressivo satisfatório.

CAPÍTULO V

PROPOSTAS DE ATIVIDADES

Todos nós possuímos o potencial criativo basta desenvolvê-lo.

Eunice Soriano de Alencar

Este capítulo tem por objetivo demonstrar as várias possibilidades que existem para

estimular a criatividade. Apresentaremos aqui quinze exercícios para desenvolver

especificamente as habilidades de fluência, humor e analogia. Por meio destas atividades,

mostraremos o quanto é simples desenvolver a criatividade no educando. Notificamos que

os exercícios propostos são sugestões de Wechsler (1993) e Raths (1977).

Exercício 1

Assunto: Poluição

Objetivo: Desenvolver o humor

Humor: Desenvolva uma peça de teatro com alguns colegas seus, usando o tema da

poluição de forma engraçada.

Exercício 2

Assunto: O trânsito

Objetivo: Desenvolver o humor

Humor: a) Dramatize de quantas maneiras você pode atravessar a rua.

b) Componha uma música, com tom humorístico, sobre o namoro e os sinais de

trânsito.

Exercício 3

Assunto: Escravidão no Brasil

Texto:

O sistema de exploração de recursos naturais do Brasil exigia abundantemente

emprego de braços. Os conquistadores da terra não queriam arcar com o ônus de utilizar

nessa tarefa gente livre, cuja manutenção lhes absorvesse a maior parte do ganho. Por outro

lado, a população de Portugal não era suficiente para atender a todos os setores de seus

vastos domínios. O recurso era a escravidão. Com trabalhadores que pudessem ser

sustentados com um mínimo de despesas de alimentação e de roupa estaria aberta a estrada

da fortuna. Em fins do século XV os portugueses já importavam da África numerosos

escravos, muitos dos quais foram transferidos para o Brasil quando se iniciou a

colonização. (Mathias apud Wechsler, 1993: 349)

Desenvolvendo as características criativas:

Fluência: O que significa escravidão? Diga tudo o que você pensar.

Humor: Dramatize a vida e as brincadeiras das crianças, filhos de escravos, de maneira

humorística. Quais eram os seus divertimentos preferidos?

Analogias: Tente usar comparações ou usar metáforas usando os termos escravidão ou

escravo. Exemplo: escravo dos desejos, escravo das horas, etc.

Exercício 4

Sinética é uma palavra que vem do grego e significa juntar ou combinar elementos

aparentemente diferentes ou irrelevantes. Segundo Wechsler (1993: 279), este conceito foi

desenvolvido por Williams Gordon (1961), como um modo de auxiliar a procura de

soluções para um problema, apoiando-se no processo de pensar por meio de analogias e

metáforas. Daremos um exemplo de como solucionar problemas de forma analógica:

Suponhamos que você é diretor ou coordenador de um programa universitário. Você

recebe contínuas queixas dos alunos do seu programa, reclamando que não sabem em que

matérias se matricular, qual o fluxo das disciplinas no seu currículo, os seus pré-requisitos.

Para resolver esse problema, você junto com um grupo de colegas vai tentar criar analogias

e metáforas para o problema.

Com o que se parece um estudante no primeiro semestre de um curso universitário?

• Uma bolha de sabão voando?

• Um pirilampo em volta da luz?

• Um filhote de animal perdido?

• Uma rolha de cortiça no oceano?

Exercício 5

Analogia de fantasia

Esta analogia trabalha com aspirações, desejos, sonhos, tentando traçar paralelos do

real com o imaginário. (Wechsler, 1993: 282)

Como seria:

• A escola ideal?

• O alimento que solucionaria a fome do país?

• A roupa que se adequaria às diversas estações do ano?

• A extinção das doenças na Terra?

Exercício 6

Analogia simbólica

É um tipo de analogia que faz combinações entre elementos que parecem

discrepantes entre si, mas que podem ter imagens semelhantes ou combinadas com o seu

problema.(Wechsler, 1993: 282)

Você agora é um arquiteto encarregado de planejar um novo conjunto habitacional:

• Pense numa paisagem com múltiplos e diferentes elementos que não combinem

entre si.

• Enfatize a desarmonia entre os elementos desse conjunto.

• Desenhe ou represente esse cenário destacando diferenças.

• Use cores, sons, ritmos, formas, de maneira incomum e o mais variado possível,

simbolizando sentimentos com formas.

• Visualize o mesmo cenário de maneira equilibrada e harmônica, como se estivesse

tocando uma melodia.

Exercício 7

Técnica: Tempestade de idéias

Objetivo: Estimular a fluência em relação aos sentimentos.

Liste todas as atitudes em que se pode sentir:

• Confuso

• Entediado

• Feliz

• Amedrontado

• Entusiasmado

• Desajeitado

• Orgulhoso

• Sozinho

• Respeitado

Exercício 8

Objetivo: Desenvolver a fluência

Peça aos participantes que toquem os cabelos uns dos outros. Após isso coloque a

seguinte situação: imagine que os cabelos de todas as pessoas mudassem de cor,

dependendo dos seus sentimentos, do seu estado de ânimo. O que poderia acontecer? Quais

seriam as conseqüências? Escreva tudo o que você puder imaginar como resultado desta

situação.

Exercício 9

Objetivo: Desenvolver o humor

Disciplina: Matemática

Suponhamos que o mundo fosse governado por um grande matemático e que fosse

estabelecido que a comunicação seria toda através de números e operações matemáticas.

Assim sendo, a comunicação se tornaria mais objetiva e deixaria menos dúvidas para

possíveis interpretações. Escreva agora um vocabulário básico para este novo tipo de

comunicação.

Bom dia = 33+22

Como vai você?-------------

Você está linda hoje.-------------

Quanto custa?-------------------

Onde está o banheiro?---------------

Exercício 10

Objetivo: Desenvolver o humor

A letra x ficou superdesvalorizada no nosso alfabeto. Ela se tornou revoltada com essa

situação e juntamente com sua numerosa família declarou guerra ao vocabulário da língua

portuguesa. Durante esta revolta, que foi apoiada pelos professores de Português, foi

decidido que durante uma semana, em todas as escolas, tudo o que se falaria teria a letra X

como inicial de palavra. Você está vivendo na semana x agora. Como é seu vocabulário:

Dê-me a borracha = Xexê xa boxaxa

Professora, posso tomar água? = Xexixa,xosso toxar axa?

Preciso ir para casa----------------------------

Estou com fome--------------------------------

Exercício 11

Objetivo: Desenvolver a fluência, o humor e a fantasia:

Imagine que você tem poder absoluto num país e quarenta e oito horas apenas para agir. O

que você faria?

Exercício 12

Objetivo: Desenvolver a fluência, o humor e a fantasia

Invente alguns provérbios. Compare-os com uma lista de provérbios já existentes.

Exercício 13

Objetivo: Desenvolver o humor

Mude os versos de um poema, de trágicos para cômicos ou vice-versa.

Exercício 14

Objetivo: Desenvolver a fluência

Dê o maior número de respostas:

• O que está errado nos programas de TV?

• Por que é que a nova geração está “se perdendo”?

• O que é que está errado nas “invenções modernas”?

• O que está certo (ou errado) no mundo?

Exercício 15

Objetivo: Desenvolver a analogia

• Compare as formigas com os gafanhotos.

• Compare dois homens famosos.

• Compare a vida na fazenda com a vida na cidade.

• Compare o trabalho isolado com o trabalho em grupo.

• Compare a leiteira com a padaria.

• Compare água e ar.

• Compare dois problemas de matemática.

• Compare dois feriados.

• Compare o sol e a lua.

• Compare carne assada e torta de maçã.

Os exercícios, acima citados, são apenas alguns dos muitos procedimentos que o

educador pode aplicar em sala de aula para favorecer a criatividade.

CONCLUSÃO

Começamos esta pesquisa apresentando as diversas teorias e abordagens que

existem a respeito de criatividade. Com isso, demonstramos que cada linha teórica aborda a

criatividade a partir de diferentes prismas e que os teóricos do assunto divergem ao

definirem criatividade. Verificamos que existem muitos problemas e limitações na

avaliação da criatividade, porém essas dificuldades advêm da própria complexidade do

fenômeno.

É interessante observar que até hoje veiculam conceitos enraizados como “eu não

nasci criativo” ou “não tenho esse dom” que são oriundos dessas teorias. Essas frases

evidenciam que muitas pessoas ainda acreditam que a criatividade é um dom divino. Por

meio desta pesquisa, desmistificamos essa idéia e comprovamos que todos nós possuímos

potencial criativo e que, esse potencial, às vezes, não aparece porque está adormecido

devido a toda uma repressão que sofremos da sociedade, de nosso ambiente social, e de

nossa educação, no sentido de nos fazer adaptados ao “normal”, ao que é tradicional, ao que

é esperado. Premidos também por uma necessidade de ser aceitos, somos muitas vezes

levados a anular as nossas idéias, a limitar as nossas experiências e a bloquear o nosso

crescimento. Entretanto, ressaltamos que a sociedade pode estimular a criatividade dando

chances ao indivíduo de ter experiências em várias áreas, oferecendo interações sociais,

oportunidades e privilégios que são determinados não pelo status social, família, raça, cor,

credo ou partido político, mas antes pelas habilidades e atributos pessoais de cada um de

seus membros.

Enfim, demonstramos que o ambiente é um fator de extrema relevância para o

desenvolvimento da criatividade, pois um ambiente, em que a pessoa se sente ameaçada,

criticada, não propicia o surgimento da criatividade e inibe os traços da pessoa criativa.

Ressaltamos que o indivíduo criativo precisa ter auto-estima elevada para produzir algo de

novo. Observamos que auto-estima está totalmente ancorada nas relações sociais mantidas

pelo indivíduo e, de forma muito freqüente, podemos confirmar que uma atitude crítica dos

pais e, mais tarde, dos professores para com as produções, respostas e idéias da criança,

inibem a sua capacidade para pensar e criar, pois a criança passa a se perceber como

incompetente e incapaz.

Mostramos que é essencial que o aluno sinta no ambiente escolar o estímulo

necessário para ter a coragem de se arriscar; para poder expressar suas idéias e mostrar que

elas têm valor. Cientes dessa necessidade, apresentamos, nesta pesquisa, algumas sugestões

de como o educador pode valorizar as idéias de seus educandos e tornar o ambiente escolar

o mais agradável possível.

Ao discorrermos sobre as fases do processo criativo mostramos a importância e o

seqüenciamento dos passos envolvidos no processo criativo, indicando o engano que existe

em se encarar a criatividade como um produto repentino. Deixamos claro que para que esta

ocorra, é necessário muito esforço e dedicação. No que se refere ao produto criativo,

provamos que este é possível de ser mensurado e investigado. Salientamos que existem

diferentes visões ou critérios para a consideração da produção criativa, e para que uma obra

possa ser considerada criativa ou não, além de o produto ser avaliado, a sociedade na qual o

indivíduo esta inserido também precisa ser.

Apesar de muito se falar em criatividade, constatamos que pouco tem sido feito no

sentido de favorecer o seu desenvolvimento. Sendo assim, cremos que a escola necessita

ampliar os seus objetivos educacionais estabelecendo novos processos de ensino-

aprendizagem, visto que já ficou provado que o comportamento criativo é aprendido,

portanto pode ser estimulado. É primordial que a escola elabore propostas cujo objetivo

central seja preparar aulas na produção de idéias originais.

Nesta pesquisa, trazemos algumas propostas de atividades que poderão ser

utilizadas pelo educador para estimular a criatividade de seus educandos. Cremos que a

figura do professor é de suma importância no processo ensino-aprendizagem, pois os

melhores professores são aqueles que percebem o potencial de seus educandos e os

incentivam no aflorar de novas idéias. O professor é efetivamente uma peça central, que

tem um imenso poder e influência sobre o aluno, podendo contribuir tanto para o

crescimento e expansão de suas habilidades, além de exercer influência significativa na

construção de um autoconceito positivo, como, pelo contrário, exercitar o seu poder no

sentido de dificultar este crescimento, prejudicando o aluno no processo de descoberta de si

mesmo, de suas habilidades e potenciais.

Ao tratarmos de inteligência e criatividade vimos que existem maneiras ou estilos

preferenciais de aprender e pensar que afetam o pensamento e o comportamento criativo e

que a criatividade não pode ser confundida com inteligência. Percebemos que a inteligência

humana é muito mais complexa do que o tem sido medida pelos testes de inteligência, uma

vez que existe um grande número de habilidades mentais que não são medidas por esses

testes. Comprovamos que para ocorrer a realização criativa é preciso criatividade e

inteligência conjuntamente.

Apontamos, nesta pesquisa, algumas diferenças entre o aluno criativo e o aluno

“inteligente”. Verificamos que o aluno considerado “inteligente” é mais conformista e se

preocupa em responder às expectativas da sociedade. Ao passo que, o aluno criativo é

inconformista, concentra-se mais em suas idéias e não está preocupado em ser aceito pelos

outros. Enfatizamos que alguns educadores ainda possuem um conceito equivocado a

respeito de inteligência, pois consideram como “inteligentes” os alunos que obtêm notas

altas nas avaliações. Desse modo, preferem os alunos “inteligentes” por serem também

obedientes e passivos aos criativos por serem questionadores.

Salientamos que para termos alunos críticos e criativos, precisamos favorecer as

habilidades de pensamento, ou seja, precisamos oferecer oportunidades para o aluno

comparar, criticar, levantar hipóteses, julgar, avaliar. Cremos que, com essas habilidades

bem desenvolvidas, os educandos serão capazes de fazer diferentes associações e,

conseqüentemente, criarão novas alternativas para a resolução de problemas.

Ao discorrermos sobre as variáveis influenciadoras na criatividade, tentamos

oferecer um panorama dos diversos elementos que podem influenciar a criatividade.

Enfatizamos que existem bloqueios, tanto externos quanto internos, que afetam a

manifestação do potencial criativo. Vimos que a mulher criativa tem muito a superar,

devido à sua repressão dentro da sociedade. Gostaríamos de ressaltar que todas essas

barreiras que afetam o surgimento da criatividade não devem desanimar e sim ajudar no

caminho em frente.

Depois de apresentarmos toda a base teórica que consideramos ser necessária para a

compreensão desse fenômeno tão complexo que é a criatividade, passamos à análise do

corpus, em que comprovamos a falta de criatividade, na maioria das redações, uma vez que

não apresentaram as características consideradas criativas como a fluência, o humor e a

analogia. Vale ressaltar que essas redações foram consideradas não originais levando-se em

conta apenas esses critérios. Talvez, se os critérios e a proposta de redação fossem outros,

esses alunos que se mostraram menos criativos pudessem revelar um grau maior de

criatividade e vice-versa.

Das quarenta redações recolhidas, apenas quinze apresentaram idéias originais.

Consideramos esse número baixo em vista das vinte e cinco não originais que recebemos.

Ao analisarmos as cinco redações consideradas mais comuns, nos deparamos com a falta de

originalidade. Todas encaminhavam para o lugar comum: tinham como tema “ser um

jogador de futebol”, “ser atriz”, “ser modelo”, “ser presidente do Brasil”. Como já

dissemos, esses foram os temas mais apresentados pela maioria dos alunos da sala.

Consideramos que não está na escolha do tema a falta de originalidade, mas sim nas idéias

apresentadas por esses alunos, uma vez que apenas reproduziram o que é tradicional, o que

a sociedade espera que eles reproduzam. Observamos que esses alunos valorizam os bens

materiais, são consumistas e reproduzem esses valores sem questionar. As habilidades de

fluência, humor e analogia não foram encontradas. Os alunos utilizaram um vocabulário

simples e constatamos a presença de alguns clichês, o que tirou toda a originalidade dos

textos. Segundo Rocco (1981: 246), “a presença do clichê denuncia ainda a incapacidade

de senso crítico, visto que o indivíduo acaba por se mostrar insensível e incapaz de

diferenciar a seqüência estereotipada daquela, original”.

Para a autora, podem ser muitas as causas de tal problema, mas possivelmente

possamos atribuí-lo ao sistema escolar atual que freqüentemente trabalha à base de

respostas prontas; talvez à própria vida nas imensas cidades que transformadas elas mesmas

em grandes clichês acabam por bloquear o mecanismo da observação e, conseqüentemente,

da imaginação criadora. Sem dúvida, conforme atestam as redações, esses alunos fazem-se

entender, são claros, porém longe se mostram de uma expressão verbal que seja reflexo de

um nível de pensamento, por exemplo, abstrato, nível em que, a partir de verificações

calcadas no real, pudessem passar livremente, através de determinadas construções verbais

mais elaboradas, à reflexão, à criação de hipóteses, a partir do conjectural e do possível.

Ao analisarmos as oito redações consideradas mais originais, percebemos que

algumas habilidades consideradas criativas aparecem em maior proporção do que outras. O

humor foi a habilidade mais encontrada, o que nos surpreendeu, pois apesar da crise social,

econômica que assola o país, esse fato não tem sufocado o humor de nossos alunos, pelo

contrário a maioria tem deixado transparecer em suas redações uma pitada de humor. A

habilidade de fluência apareceu em menor proporção do que o humor. Já, a analogia foi a

habilidade menos encontrada, o que nos deixou bastante preocupados em relação ao

processo ensino-aprendizagem, uma vez que essa habilidade é considerada, por todos os

autores abordados nesta pesquisa, de extrema importância, pois o uso do pensamento

analógico é essencial para fazer novas associações. A partir desses dados, julgamos ser

necessário que os educadores apliquem atividades que favoreçam o surgimento das

habilidades de fluência e analogia, já que foram as menos encontradas.

Com a análise dessas redações, nos certificamos de que todos os seres humanos são

lingüisticamente criativos e por meio de sua língua materna essa criatividade se manifesta.

Observamos que o ser humano é capaz de utilizar palavras adequadas, fazer certas escolhas

lexicais que garantem a eficácia da interação. Enfim, constatamos que o ser humano possui

capacidade de interagir socialmente por meio da língua criativamente. Acreditamos que se

essa habilidade não se manifesta é porque está adormecida, no entanto pode ser despertada

por meio de atividades adequadas. Preocupados com essa deficiência, oferecemos nesta

pesquisa algumas propostas de como aflorar o pensamento criador do educando.

Cabe ao educador desmistificar a concepção de criatividade, ainda presente nos

meios educacionais, segundo a qual ser criativo tem a ver somente com as dimensões

artísticas e tecnológicas, desprezando assim, o que torna o ser humano verdadeiramente

humano: o uso criativo desse maravilhoso sistema que é a linguagem.

De acordo com o levantamento que fizemos, partindo da pergunta que orienta esta

pesquisa, a qual questiona como podemos desenvolver o potencial criador dos educandos,

já que a educação brasileira valoriza a memorização do conhecimento e o “não pensar”,

podemos responder que é possível aproveitar o potencial humano para tornar a escola mais

criativa propondo exercícios que estimulem as habilidades consideradas criativas. Desse

modo, acreditamos que a escola irá conseguir atrair os educandos, amenizando assim os

gravíssimos problemas de evasão e repetência que a escola brasileira tem se defrontado ao

longo de sua história.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, E. M. L. S. (1990). Como desenvolver o potencial criador. 3. ed. Petrópolis,

RJ: Vozes.

______(1993). Criatividade. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

______(1994). Condições favoráveis à criação nas ciências e nas artes. In: VIRGOLIN, A.

M. R. & ALENCAR, E. M. L. (orgs). Criatividade expressão e desenvolvimento.

Petrópolis, RJ: Vozes.

BARBOSA, S. A. (2001). Redação: Escrever é desvendar o mundo.14. ed. São Paulo:

Papirus.

BENVENISTE, E. (1976). Problemas de lingüística geral. São Paulo: Ed. Da Universidade

de São Paulo.

CLASTRES, P. (2003). O arco e o cesto. In: A sociedade contra o estado. Tradução de

Theo Santiago. São Paulo: Cosac & Nayfy.

DIAS, A. R. F. (1986). A produção crítica e a crítica à produção. Dissertação de Mestrado.

PUC, São Paulo.

FLEITH, D. S. (1994). Treinamento e estimulação da criatividade no contexto

educacional. In: VIRGOLIN, A. M. R. & ALENCAR, E. M. L. (orgs). Criatividade

expressão e desenvolvimento. Petrópolis, RJ: Vozes.

FRANCHI, C. (1991). Criatividade e gramática. CENP, Secretaria de Estado e da

Educação, Governo do Estado de São Paulo.

FREIRE, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São

Paulo: Paz e Terra.

GARDNER, H. (2000). Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Tradução de Maria

Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas.

GERALDI, J. W. (1996). Linguagem e ensino. Exercícios de militância e divulgação.

Campinas: Mercado das letras.

KNELLER, G. F. (1978). Arte e ciência da criatividade. Tradução de José Reis. 5. ed. São

Paulo: Ibrasa.

KOCH, I. G. V. (1984). Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez.

______(2004). Introdução à lingüística textual. São Paulo: Martins Fontes.

LIPMAN, M. (2001). O Pensar na educação. Tradução de Ann Mary Fighiera Perpétuo. 3.

ed. Petrópolis, RJ: Vozes.

MAINGUENEAU, D. (1996). Pragmática para o discurso literário. São Paulo: Martins

Fontes.

MATOS, F. G. (1994). Criatividade de aprendizes de português com língua materna e de

línguas estrangeiras. In: VIRGOLIN, A. M. R. & ALENCAR, E. M. L. (orgs).

Criatividade expressão e desenvolvimento. Petrópolis, RJ: Vozes.

MORENO, J. L. (1974). Psicoterapia de grupo e psicodrama. Tradução de Dr. Antônio C.

Mazzaroto Cesarino Filho. São Paulo: Mestre Jou.

NOVAES, M. H. (1972). Psicologia da criatividade. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.

OSTROWER, F. (2001). Criatividade e processos de criação. Petrópolis, RJ: Vozes.

POSSENTI, S. (2004). Teoria do discurso: um caso de múltiplas rupturas. In:

MUSSALIM, F. & BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à lingüística: fundamentos

epistemológicos. São Paulo: Cortez.

RATHS, L. E. (1977). Ensinar a pensar. Tradução de Dante Moreira Leite. 2. ed. São

Paulo: EPU.

ROCCO, M. T. F. (1981). Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre

Jou.

RODARI, G. (1982). Gramática da fantasia. 2. ed. São Paulo: Summus.

SILVA, C. J. (1994). Criatividade: Bem-me-quer, mal-me-quer. In: VIRGOLIN, A. M. R.

& ALENCAR, E. M. L. (orgs). Criatividade expressão e desenvolvimento. Petrópolis, RJ:

Vozes.

TORRANCE, E. P. (1971). Educação e criatividade. In: TAYLOR, C. W. Criatividade

progresso e potencial. Tradução de José Reis. São Paulo: Ibrasa.

______(1976). Criatividade: medidas, testes e avaliações. Tradução de José Reis. São

Paulo: Ibrasa.

______(1979). The search for satori and creativity. Buffalo, New York: Bearly Limited.

TURAZZA, J. N. (2005). Léxico e criatividade. 1. ed. São Paulo: Annablume.

VAN DIJK, T. A. (1992). Cognição discurso e interação. São Paulo: Ibrasa.

VIRGOLIN, A. M. R. & ALENCAR, E. M. L. (1994). Expressão e desenvolvimento.

Petrópolis; RJ: Vozes.

VIRGOLIN, A. M. R. (1994). Criatividade e saúde mental: um desafio à escola. In:

VIRGOLIN, A. M. R. & ALENCAR, E. M. L. (orgs). Criatividade expressão e

desenvolvimento. Petrópolis, RJ: Vozes.

WECHSLER, S. M. (1993). Criatividade descobrindo e encorajando. Campinas, SP:

Editorial Psy.

ANEXOS

REDAÇÕES CONSIDERADAS ORIGINAIS

Redação 1 – Se eu fosse um louco

Se eu fosse um louco, não seria um louco qualquer ou comum, porque eu seria tão esperto, tão

inteligente que ao contrário de todos os loucos eu não estaria em um manicômio. E sabe por quê?

Bom... o porquê nem eu sei, porque se eu quero ser alguma coisa, essa coisa tem que estar livre

para fazer o que quiser senão qual seria a graça?

O louco (eu) seria assim como um faraó era para o Egito, e soltaria os loucos das casas de

manicômio e faria uma cidade. A cidade seria Kiloucura, quilos de loucura em uma cidade só... Todos

nessa cidade fariam o que bem quisessem, quem afinal teria coragem para tentar impedir loucos de fazer

alguma coisa? Quem seria o louco?

Mas toda cidade tem que ter sua economia, loucos não trabalham, e agora? Eu como faraó da

Kiloucura contrataria vários doidivanas não loucos de outra cidade e tudo certo!

Tudo certo nada! No mundo em que vivemos os doidos passariam a perna nos pobres loucos.

Pensando bem, já existe essa cidade de loucos e doidos, olhe bem para o país e a cidade em que

vivemos. O que você vê? Todos já não temos idéias brilhantes, nem fantasias ludibriantes que nos tire da

realidade em que vivemos.

É uma pena, eu...estava gostando de ser o louco faraó. Se uma cidade de loucos é um caos, prefiro

estar só; me infiltraria no meio das pessoas, aquelas que se acham normais e inventaria o remédio da cura

de todos os tipos de loucura.

As pessoas que se encontram loucas é porque humanos sem coração, ou traumas assim as fizeram.

E daria o remédio contra loucura para todo mundo.

Talvez eu estaria inventando a solução para problemas mundiais. Assim a minha loucura

acabaria, eu também tomaria o remédio, ficaria muito feliz porque descobriria que era médico e fiquei

louco por não encontrar a fórmula de cura de um louco. Eu teria alcançado o meu objetivo.

Mas em todo caso não seria mais um louco. Eu abandono esse médico porque com o emocional já

abalado estaria louco mais irreversivelmente, ninguém me daria remédio nenhum, iria para o manicômio

sozinho o que não quero porque não existem loucos mais como antigamente...

T. G. S.

Redação 2 – Se eu fosse um...

Se eu fosse um pássaro voaria para longe

Se eu fosse uma flor seria bela e formosa

Se eu fosse um astronauta iria até a lua

Se eu fosse um palhaço estaria no circo

Se eu fosse uma escritora teria idéias sensacionais,

Para fazer esta redação, mas como eu não sou, vou ficando por aqui..

J. E.

Redação 3 – Se eu fosse um ...

Se eu fosse um escritor, pera aí, eu sou um escritor, tenho de pensar em algo diferente...

Se eu fosse um matemático, pera aí, também sou um desses...

Nossa, como é difícil pensar nisso...

Já sei

Se eu fosse um desenho japonês, eu seria Poronoa Zoro, o caça-piratas do mangá

One Piece. Isso sim seria legal, ser forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e dormir o dia inteiro durante

uma viagem de navio ao redor do mundo.

Exatamente...

Ser forte como Maguila;

Rápido como um Guepardo;

Inteligente como...pera aí, eu já sou inteligente;

Conhecido como Chapolin Colorado;

Temido como Churck Norris;

E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...

R. W.

Redação 4 – Se eu fosse uma borracha

Se eu fosse uma borracha, viveria apagando os erros dos outros, mas essa seria a minha função,

apagar e apagar e apagar. Mas que chatisse, não?

Essa seria minha vidinha de borracha, passando de mão em mão pagando bastante lição, por

exemplo, uma redação.

Moraria num lugar bem legal, um dos moradores seria a caneta que não me faz nenhum mal, mas

por outro lado tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum, seria o lápis. Ele só me daria

trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada de mim.

Fico feliz por não ser uma borracha, ela foi a coisa mais usada nesse pequeno texto. Mas

também foi minha grande inspiração de completar essa história.

L. S. J.

Redação 5 – Se eu fosse um arqueólogo

Se eu fosse um arqueólogo, eu iria viajar pelo mundo à procura de relíquias inestimáveis.

Eu conheceria as pirâmides, as esfinges e os sarcófagos.

Eu atravessaria os desertos, visitaria o pólo norte e pularia para o pólo sul, passando pelo

Equador e pelo Chile, depois eu passaria no Japão, “hum”, só de pensar me deu uma vontade louca de

comer peixe.

Ah! Mas então seria melhor eu ir para o Amazonas, eu poderia pescar e caçar com os índios,

usando arco e flecha, sarabatana e flechas grandes, eu estaria realizando um sonho de infância, mas

mesmo assim o que eu queria mesmo era conhecer a Grécia, eu simplesmente adoro a mitologia de lá;

Afrodite, Medusa, Zeus, minotauro, Hércules e muitos outros personagens.

Ai meu Deus! Como eu adoraria fazer isso, e quem não adoraria, mas é como dizem:

Querer não é pode e eu quero muito fazer isso, com certeza eu seria muito feliz.

Ah!!! Eu já ia me esquecer de dizer que faria tudo isso com um protótipo do 14 bis, só para sentir

o vento do rosto.

R. E.

Redação 6 – Se eu fosse um...?

Se eu fosse um pernilongo, eu morreria esmagado e teria que chupar o sangue dos outros.

Se eu fosse um político, eu seria preso, por causa do mensalão.

Se eu fosse um traficante, eu seria preso.

Se eu fosse um macaco, eu teria que comer bananas.

Se eu fosse D. Pedro I, não poderia jogar vídeo game, nem assistir TV.

Se eu fosse uma telha, eu tomaria chuva, sol quente, e quebraria. O pior, é que as pombas, você

sabe né?

Se eu fosse um livro, eu seria riscado, rasgado e depois jogado no lixo.

Se eu fosse um peixe, eu seria engolido por um tubarão, ou pescado e comido.

Se eu fosse uma árvore, eu seria queimada, ou cortada ou até atingida por um raio em

tempestade.

Eu acho que eu vou ser eu mesmo. É melhor.

M.S.

Redação 7 – Se eu fosse a dona do mundo

Se eu fosse a dona do mundo faria dele um lugar bem diferente. Inventaria carros que voassem

pelo céu e que não poluíssem, nós os humanos voaríamos de uma cidade a outra como pássaros.

Não moraríamos em um só planeta, viveríamos pela Galáxia, tipo assim, escolas em Marte,

Shopping em Júpiter, museus e cinemas em Saturno.

As empresas seriam no oceano, mas lá no fundo, seria um mundo pirado. Nossos pais para irem

trabalhar iriam de submarino e nós iríamos cozinhar em larvas de vulcão.

Os animais falariam e nós moraríamos em matas que ficariam nas nuvens, mas os animais

ficariam aqui nas cidades, pássaros andariam e hipopótamos, elefantes e cavalos voariam. Teríamos um

mundo divertido e louco.

J. B.

Redação 8 – Se eu fosse diretor da Escola Luzia de Queiroz e Oliveira

Se eu fosse diretor da escola, eu colocaria animais na escola junto com os alunos e professores.

Colocaria gorilas e macacos e eles andariam livres, livres e soltos. E seriam professores das matérias mais

chatas: Inglês, História e Geografia. O elefante seria o professor de geografia, o macaco o de inglês e o

gorila o de História.

Iria ter uma piscina para os animais nadarem e os alunos também. Iria ter cortinas nas salas

para os macacos se pindurarem; iria ter uma mata atlântica para experiências absurdas, como cruzar um

elefante com um hamster. Desse cruzamento iria sair um papagaio com penas coloridas e com tromba.

Seria um barato só e seria a melhor escola do mundo, pena que isso não passa de um sonho e com

bastante imaginação. Iria ser simplesmente um barato. Seria a escola dos animais e seres humanos. Seria a

Zooescola.

A .D.

Redação 9 – Se eu fosse um bicho preguiça

Se eu fosse um bicho preguiça, isso seria maravilhoso, pois eu ficaria o dia inteiro sem fazer nada,

só iria apenas comer, dormir e beber.

Eu sendo um bicho preguiça a minha vida seria incrível. Pois não haveria nada melhor do que só

ficar entre as árvores tirando um cochilo, eu seria tão preguiçoso que nem estaria fazendo esta lição.

T. S.

Redação 10 – Se eu fosse um...

Se eu fosse um palhaço gostaria de ser o Boso, para ser bem famoso, mas existem outras pessoas

mais famosas, então eu gostaria de ser uma modelo, só que o meu corpo não permitiria.

Se eu fosse uma rainha? É uma boa idéia e todos me conheceriam porém teria muitas

responsabilidades. Então ta decidido, vou virar escritora e assim sendo o meu nome iria ser espalhado pelo

mundo todo, junto com as minhas histórias.

Pensando bem, acho que eu nunca poderia ser uma escritora, cuja redação tem limite de 30 linhas,

só consigo fazer vinte ou menos.

Já sei, vou ser um pássaro e todos ficarão impressionados com a minha beleza.

Será que eu posso voar baixinho? Tenho muito, muito medo de altura, então vou ser uma pata.

Mas, e aquele tal apelido de “Pata choca”? Ser chamada por este nome não será legal. Acho

melhor continuar sendo eu mesma. Brincar, sair e me divertir muito é realmente o que eu quero para o meu

futuro.

Mudar a nossa vida é fácil no papel, mas tente colocar tudo em prática!

C..D.

Redação 11 – Se eu fosse um relógio mestre

Muitas pessoas se preocupam com a hora, pois querem tudo em seu tempo certo e nos mínimos

detalhes, às vezes é bom ter suas obrigações e saber o tempo que elas podem ser executadas, mas em

muitas ocasiões o tempo não é muito bom com você por isso vou dar alguns exemplos de como as horas não

colaboram com você:

Quando você está naquele delicioso sono e é acordado as 6:15 para ir para escola.

Ou muitos também que são acordados de madrugada ainda para ir trabalhar

Em pleno fim de semana que é o único dia que você tem para dormir até mais tarde e seu vizinho liga o

rádio no volume máximo quando ainda são apenas 8:00 horas.

Por isso muitas vezes o tempo ou horas não colaboram com você e nem com ele mesmo.

Há mais se eu fosse um relógio, mas um relógio mestre que comandasse todos os outros eu

acertaria as horas dos relógios de acordo com os donos fazendo com que todos fossem privilegiados tanto

para não reclamarem e terem suas obrigações feitas em um determinado tempo, mas aí eu acho que o dia

não teria apenas 24 horas.

P. H.

Redação 12 – Se eu fosse um Deus

Se eu fosse um Deus mataria a todos que queiram ter guerra um com o outro. Acabaria com toda

a fome e miséria do mundo, também acabaria com a seca, não deixaria ter catástrofes no eco-sistema.

Quem fosse me contrariar teria que sofrer as conseqüências de não ter obedecido as normas que eu instalei,

obedecendo as minhas ordens as pessoas não morreriam tão cedo e não teriam mais doenças.

Só para quem roubar iria diretamente para o espaço e seria jogado no planeta mais distante do

sol. Quem não obedecer a ordem de não mudar de opinião sobre seu sexo tomaria um banho de larva

vulcânica sem dó nem piedade sem voltar atrás com minhas ordens, eu mesmo ordenaria que soltassem

todas as pessoas inocentes que foram presas injustamente.

B. C.

Redação 13 – Se eu fosse um livro

Se eu fosse um livro que pudesse andar e falar eu iria arrasar. Eu andaria por aí plantando as

minhas idéias nas mentes dos humanos, ensinando coisas, dando informações e muitas outras coisas.

Eu contaria histórias ao mundo todo e assim eu emocionaria, encantaria, faria com que as

pessoas rissem, apoiaria as pessoas a perseguir seus sonhos e, principalmente, tentaria omitir a maldade

que há no mundo.

Se eu fosse um livro, eu adoraria ver as pessoas me consultando para saber a resposta de alguma

dúvida. Adoraria ver que as pessoas me procuram, me pesquisam principalmente, se o propósito delas não

fosse maldoso.

Mas se eu fosse um livro mesmo, eu gostaria mesmo de plantar bons sentimentos nos corações

humanos para que juntos pudessem mudar o mundo.

J. J. L.

Redação 14 – Se eu fosse a lua

Se eu fosse a lua, eu seria a inspiração de muitos poetas e de muitos apaixonados que quisessem

demonstrar seu amor a suas amadas, além de poder conhecer o mundo. Cada lugar com seus diferentes

costumes.

Seria uma penetra nas festas feitas nas ruas, como as festas juninas, mas uma penetra que todos

gostariam de ter, pois eu seria sinônimo de alegria, pois nesta noite não haveria chuva e todos poderiam

“curtir”.

Teria como companhia as estrelas.

E quando tivesse eclipse, todos iriam ficar esperando a hora em que eu e o sol, nos juntássemos,

então assim todos iriam ficar nos admirando.

Nos dias de chuva ninguém poderia me ver, mas todos saberiam que sempre estaria lá. Pena que

quando acabasse a noite, eu teria que me despedir de algum lugar, mas o que me alegraria é que daqui há

doze horas, eu voltaria.

I. S.

Redação 15 – Se eu fosse um bebezinho

Se eu fosse um bebezinho novamente, saberia já o futuro, então aproveitaria muito mais a minha

infância, brincaria muito, correria e ia tentar ter muitos e muitos amigos.

Saberia também os erros que havia cometido e iria tentar não cometê-los mais. Saberia as

dificuldades da vida, e é claro que dificuldade sempre tem, mas saberia encara-las de outro modo.

Com o passar dos tempos ia viajar muito mais com a minha família, tirar muitas e muitas fotos

para marcar mais a infância linda e divertida que iria ter não que minha infância foi ruim, mas tudo que

não fiz, faria para ter mais um motivo para ser feliz.

Portanto se eu fosse um bebezinho novamente faria tudo isso que escrevi, sei que isso não é

possível mais é um sonho de um adolescente.

L..G. M..

Redações consideradas não originais

Redação 1 – Se eu fosse um jogador de futebol

Se eu fosse um jogador de futebol, ah! Mais seria bom! Primeiro jogaria para o Corinthians e

assim com o meu sucesso seria convocado para jogar na seleção brasileira. Seria muito famoso e teria

muito dinheiro mesmo. Seria milhionário, muitas mulheres cairiam aos meus pés. E seria bom!

Eu faria todos os comerciais de cerveja na televisão e ganharia muito, mas seria famoso mesmo é

pelo meu futebol, todos iriam falar esse é mesmo um brasileiro.

Teria tudo o que eu quisesse e teria muita fama. Não haveria quem não conhecesse ou ouvisse

falar do meu nome, seria muito legal ser um jogador profissional pro Corinthians e pra seleção brasileira

esse sonho ainda posso realizar.

A .C. S.

Redação 2 – Se eu fosse uma modelo

Se eu fosse uma modelo, seria mais bonita que a Gisele e seria muito rica ganharia milhões. Terias

roupas caras de peles e tudo mais. Ajudaria os pobres o meu dinheiro seria tanto que não saberia o que

fazer!

Usaria roupas e maquiagem tudo de marca. Seria muito fashion. E seria adorada por todo o

mundo, viveria no shopping fazendo compras. Minha vida seria feliz. Viajaria para todo o mundo e teria

casa em todos os lugares mais bonitos. E não deixaria as passarelas toda a imprensa estaria atrás de mim.

Se eu fosse uma modelo, andando já desfilaria nos píncaros da glória.

C.. D.

Redação 3 – Se eu fosse uma atriz famosa

Se eu fosse uma atriz famosa e rica no meu aniversário eu faria uma festa, a maior das festas que

já se viu com muitos comes e bebes a vontade muitos convidados e para a festa ficar melhor com um show

inesquecível do “Jeito Moleque” cantando seus sucessos e depois eles ficariam na festa comigo até o final

a festa duraria uns dois dias. Faria festas de quinta até o domingo e sempre com o Jeito moleque.

Faria um filme e uma novela de bastante sucesso, nunca estaria parada sempre sendo convidada

para fazer várias novelas filmes, festas, desfiles, casamentos e muitos outros.

A. A.

Redação 4 – Se eu fosse um presidente

Se eu fosse um presidente eu mudaria tudo de ruim nesse país, ia governar com competência e

dignidade, não pensaria em mim e sim nas pessoas, porque se não fosse essas pessoas eu não estaria na

presidência.

Como presidente eu aumentaria o salário mínimo, abaixaria os impostos, tentaria tirar todos da

miséria extrema, o número de desemprego iria diminuir.

Para eu conseguir fazer o país ir para frente não basta só de mim e sim das pessoas que estão a

minha volta. Pois como eu vou conseguir melhorar o país se as pessoas que estão perto de mim não

ajudam.

Como irei conseguir isso se estou rodeado de pessoas que só pensam em si mesmas, que não tentam

ajudar o povo não fazem nada para melhorar o país. Eles não pensam que ajudando a si mesmos estão

melhorando o pais que eles vivem.

L. E. B.

Redação 5 – O presidente do Brasil

Se eu fosse o Presidente da República eu acabaria principalmente com a fome a pobreza e a

corrupção e as pessoas de baixa renda não pagariam os impostos, investiria na educação no turismo e nas

estradas, combateria o tráfico de drogas, pessoas e animais, vigiando rigorosamente as fronteiras por

terra, céu e mar.

Faria tudo isto retirando deputados, ministros, governadores e até prefeitos que desviam o

dinheiro que é direcionado a população brasileira. Além de tudo criaria clínicas para tratar das pessoas

viciadas em drogas e investiria nas pesquisas de remédios para a Aids e outras doenças que não atingem

só o Brasil, mas o mundo todo.

Este seria o Presidente perfeito, mas que ainda não existe infelizmente.

V. S. M.

Redação 6 – Se eu fosse uma milionária

Se eu fosse uma milionária, minha vida seria bem diferente, começando por onde moraria, iria ser

uma mansão, com piscina, jardim, área de lazer e muito mais.

Viajaria conhecendo o mundo inteiro, vários países, aprendendo várias línguas e costumes e

estudaria bastante para realizar o meu sonho de ser uma estilista, eu poderia até ser conhecida pelo

mundo inteiro.Imagino minhas criações, todas luxuosas e com tudo isso me tornaria independente e

satisfeita com os meus objetivos, mas acima de tudo feliz, o que é bem importante, não que eu não seje

mas com certeza seria mais.

Sei que o dinheiro não é tudo na vida, mas não deixa de ser essencial, mas tudo isso não passa de

um sonho um tanto quanto alto, mas quem sabe no futuro poderia se tornar realidade.

K.M..

Redação 7 – Se eu fosse um jogador de futebol

Se eu fosse um jogador seria um bom jogador, pretendo um dia jogar num time grande como

Corinthians, São Paulo, Palmeiras e etc. No dia que eu for um jogador, vou sustentar meus pais, meu

irmão e meus outros familiares, minha mãe iria gostar de me ver na televisão.

Eu iria vir para casa, ver meus pais só quando desse tempo e quando fizesse gol era para mandar

beijos para eles e fazer um gesto com a mão em forma de um coração. Depois de três anos voltei para casa,

minha mãe ficou muito contente meu pai também. Depois fui ver meus outros familiares ficaram muito

felizes também.

L. H.

Redação 8 – Meu Brasil

Se eu fosse uma super-heroína e tivesse muita autoridade sobre o povo do meu país,

primeiramente iria acabar com a corrupção na política, gostaria de implantar uma lei para todas as

pessoas que matassem outras, como punição, prisão perpétua.

Me empenharia tentar acabar definitivamente com as drogas, bebidas alcólicas e tudo o que faz

mal as pessoas. Aumentaria o salário mínimo e a aposentadoria, almejaria investir na educação infantil,

penso que se um aluno tivesse que passar de uma série para outra deveria passar com seus próprios

méritos. E o principal que é a falta de respeito de governadores e etc, para com as pessoas necessitadas na

área da saúde. Se eu fosse uma super-heroína...

J. G.

Redação 9 – Se eu fosse rica

Se eu fosse rica, com certeza eu teria uma vida bem diferente. Em primeiro lugar eu teria tudo

que tenho vontade, sem contar em bens materiais, daria uma vida melhor para meus pais, poderia pensar

em fazer a minha faculdade pensar no futuro de meu irmão e muito mais.

Eu viajaria pelo mundo inteiro para conhecer pessoas diferentes, e outras culturas. Também

ajudaria asilos e orfanatos, principalmente crianças carentes.

Bem se eu fosse rica poderia fazer tantas coisas. Isso é! Ser rica mais com saúde.

D. S

Redação 10 – Se eu fosse um jogador de futebol

Se eu fosse um jogador famoso eu iria jogar em vários times de futebol. Iria fazer muitos

comerciais, iria procurar patrocinadores, iria ajudar minha família. Viajaria para muitos países e só

voltaria quando estivesse velho.

Eu iria querer jogar no time de base, no time do meu coração ficaria muito feliz e quando eu não

pudesse mais jogar eu iria ajudar as outras crianças a ser jogadores. Iria tirar as crianças da rua, das

drogas, incentivar a ser alguém na vida, porque não devemos matar nem roubar ninguém por ai a fora.

J. C..

Redação 11 – Se eu fosse uma herdeira

Se eu fosse herdeira de uma família milionária, com certeza não estaria aqui, provavelmente

estaria em uma escola particular, onde há um ensino mais rígido e exigente, prefiro aqui.

Com certeza ia ter menos amigos, porque não ia poder conversar na escola e nem brincar na rua à

noite.

Eu acho que ia ter que me esforçar mais para passar de ano com notas boas, não ótimas. Não sei

se seria mimada ou não se eu fosse, acho que ia ser chata demais, tudo o que eu quisesse eu ganharia sem

nenhum esforço de alguma forma ia ser bom.

Há mais eu acho que o mais difícil era escolher uma profissão, sei lá, quando a gente tem menos

recursos, da mais vontade de chegar lá, no nosso sonho.

G.V. S.

Redação 12 – Se eu fosse uma pessoa rica

Se eu fosse uma pessoa rica e poderosa eu mudaria muitas coisas no mundo e ajudaria muitas

pessoas. Construiria um centro de apoio a pessoas viciadas em álcool e em drogas. Tentaria tirar as

crianças, os adultos e os senhores de idade das ruas. Ajudar uma pessoa é uma ação muito boa aos olhos

de Deus, pois ele nos deu o sentimento do amor e da bondade.

Cada um tem em si o dom de perceber quando uma pessoa precisa de ajuda, eu ajudaria cada um

que precisasse de mim. Não seria aquela pessoa rica que não se preocupa com ninguém e que só olha pro

seu próprio nariz.

Faria qualquer um sorrir em todas as fases de sua vida, principalmente nas ruins que é quando

alguém precisa ainda mais da gente do nosso carinho e da nossa compreensão, nunca feche as portas de

sua casa para alguém pois todos que vem a sua casa precisam de você.

V. P.

Redação 13 – Se eu fosse um apresentador

Se eu fosse um apresentador de televisão o meu programa ia ser radical, que tenha alguma coisa

há ver com skate, porque eu ando de skate, há um ano e vou continuar andando, até o último dia de

minha vida, por isso que o meu programa vai ter alguma coisa há ver com skate, nesse programa ia ter

várias pessoas andando de skate, fazendo várias manobras radicais.

Um dia, eu ainda vou ser profissional no skate, eu ainda sou iniciante, porque eu ando muito

pouco e para você ser profissional, você tem que andar pelo menos 20 anos, e eu vou andar muito mais que

20 anos.

M.. M..M..

Redação 14 – Se eu fosse uma modelo

Se eu fosse uma modelo não estaria aqui hoje com certeza, estaria numa escola muito chique, teria

muito dinheiro e seria muito famosa.

É acho que não teria tempo para nada, tantas entrevistas, desfiles, campanhas, fotos, comerciais,

realmente ia ser cansativo, mas eu não me importo, acima de tudo ia ser legal.

O engraçado é que quando eu fosse em algum lugar público todo mundo ia me reconhecer, pedir

autógrafos, ia ser melhor eu andar de segurança.

Quem sabe até eu poderia ter uma carreira profissional, na França, nos Estados Unidos, eu ia

conhecer muitos artistas, nossa eu poderia até conhecer pessoalmente a Avril Lavigne mas isso é só um

texto.

L. C..

Redação 15 – Se eu fosse uma cantora

Eu queria ser conhecida internacionalmente e iria regravar várias músicas do grupo R.B.D. e iria

conhecer todo o grupo RBD, e quem sabe morar no país deles.

E quando eu fosse fazer algum show eu queria que todo mundo ficasse querendo subir no palco

par ame conhecer e eu queria que o RBD me acompanhasse quando eu fosse cantar algumas musicas como

Rebelde, Nuestro Amor, etc.

E as vezes eu poderia até cair algumas vezes no palco para ter um pouco mais de humor, e na

hora em que eu olhasse para as pessoas todo mundo estivesse rindo, iria ser legal.

Mais isso é praticamente impossível, mais vale a pena sonhar.

I. M..

Redação 16 – Se eu fosse o presidente do Brasil

Se eu fosse o presidente do Brasil. aumentaria os salários em dobro, criaria mais empregos e

financiamentos para pequenos negócios, diminuiria os impostos e a dívida externa, iria também garantir

moradia digna para todos e melhores condições sanitárias, acabaria com o analfabetismo, o racismo e a

exploração de crianças e adolescentes.

Aumentaria em dobro os anos de prisão para os políticos e não permitiria que tivessem privilégios

tais como: televisão, rádio, geladeira e etc. criaria também novas leis de proteção à fauna e a flora,

asfaltaria estradas e baixaria o preço das passagens de ônibus.

Incentivaria a cultura e os esportes, aumentaria o número de parques ecológicos e a área das

terras indígenas, treinaria mais policiais para aumentar a segurança de todos, criaria programas sociais e

facilitaria a criação de indústrias e a entrada de turistas.

F. R.

Redação 17 – Se eu fosse uma presidenta

Se eu fosse uma presidenta eu iria começar a agir. Iria começar a construir casas para as pessoas

que moram debaixo de viadutos, começaria a distribuir cestas básicas, mas só para quem precisa, iria

continuar a distribuir o cartão renda familiar, mas só pra quem precisar mesmo, quem tiver o cartão e não

precisar simplesmente mandaria bloquear. Mas primeiro de tudo se eu pudesse, iria tirar todos os

deputados federais, estaduais, governadores, bom acabaria com todos só iria deixar, eu a presidenta, um

prefeito para cada estado.

Eu não sei porque tem tudo isso de gente em uma câmara só, porque todos falam que vão fazer

algo, e no final não fazem nada, a ùnica coisa que eles fazem é pegar o dinheiro do povo.

Bom mais para que isso acabasse, eu iria ter que ser escolhida em uma eleição para ser uma

presidenta, aí eu começaria a fazer tudo isso, mas eu acho que ainda a nossa nação infelizmente tem

preconceitos contra isso.

Mas vai chegar o dia em que uma mulher via ser escolhida para ser uma presidenta e ela vai fazer

tudo isso. Nem que seje “eu”, daqui algum tempo!!!

F. C.

Redação 18 – Se eu fosse presidente

Se eu fosse presidente primeiramente gostaria de ajudar o povo do meu país, pois acho que precisa

de atenção e um pouco mais de conforto ou seja gostaria de ser uma pessoa que ajudassem seus próximos.

Mas também gostaria de ter dinheiro e por isso a escolha de um presidente, pois presidente tem a

oportunidade de compartilhar no país, mas também construir sua própria vida.

Tendo sua casa, seu carro, uma família bem estruturada, ser conhecido por todos, viajar etc.

Acho que tem pessoas que nasceram com sorte na vida mas não sabem aproveitar, pois como

muitos presidentes por aí, tem tudo o que querem, mas o mais importante do cargo deles, eles não fazem

que é ajudar seu país, só querem roubar e não é bem por aí

Eu penso que como eu já tenho, porque não ajudar os que não tem. Se eu fosse presidente

ninguém iria se arrepender de votar em mim.

V. S. D.

Redação 19 – Se eu fosse presidente

Se eu fosse presidente eu não deixaria o Brasil cair na corrupção. A primeira coisa que eu iria

fazer era não comer o dinheiro do povo. Cada dinheiro iria ter uma missão a fazer.

Eu não deixaria mais ninguém passar fome, melhorava 300% da poluição, não iria ter mais preço

alto nas comidas, os impostos iria abaixar, o gás e a gasolina não sofreria aumento.

Eu tirava todo essas pessoas que dorme na rua, construiria uma casa só para essas pessoas que

não tem onde morar. O presidente que temos hoje fez alguma coisa por nós, mas o que ele fez ainda é

muito pouco não refrescou nada. Cabia ele fazer uma Brasil melhor, o jeito que nós estamos vivendo não

dá pra nada Por isso nós estamos esperando um Presidente melhor para o Brasil e para a população.

M. .F.

Redação 20 – Se eu fosse uma pessoa famosa

Se eu fosse uma pessoa famosa tentaria usar minha fama para a melhoria do nosso país, que por

sinal precisa de muitas. Meu sonho é um dia ver todos saindo na rua com segurança. Um pouco é falta de

ajuda dos nossos governantes e até mesmo dos nossos artistas, que para eles é tudo na base da grana.

Vamos pensar em estudar e até mesmo rezar para daqui alguns anos nós artistas possam ajudar

mais na nossa paz. Espero que se meu sonho acontecer eu possa fazer tudo o que eu gostaria de fazer

hoje.

A . R. S.

Redação 21 – Se eu fosse presidente

Se eu fosse presidente eu faria a cidade de São Paulo mais feliz. Ajudando como renda mínima,

bolsa escola, cesta básica uma escola boa, por exemplo como (Céu). Ajudar os desabrigados fazendo casas

para quem necessita não ser como certos e certos que tem o cargo na mão de presidente e não ajuda os

necessitados.

As vezes eu penso que não deveria ser presidenta, por mais que queira essa não é a minha

vocação, mas quando eu vejo os necessitados passando fome, mendigando, vem na minha cabeça se fosse

eu.. Se eu fosse presidente eu faria desse país bem melhor, mas eu sei que é difícil, porque é muita gente

julgando sem saber o que se passa.

M.. C..

Redação 22 – Se eu fosse uma prefeita

Se eu fosse uma prefeita construiria um mundo melhor cheio de amor, respeito e compreensão com

mais oportunidades de trabalho, principalmente na educação. Pois nossa educação está cada vez pior não

devemos aceitar essa condição, devemos lutar pelos nossos ideais.

Abriria mais escolas, colocava aulas tempo integral, colocaria mais programas sociais em prol da

nossa sociedade.

Devemos construir nosso mundo melhor, eu acredito que um dia Deus salvará esta terra e não

haverá sofrimento morte, nem dor.

Pois lá no céu só vai haver alegria. Que Deus nos abençoe e nos ajude até que esse dia venha.

D. V.

Redação 23 – Se eu fosse o presidente do Brasil

Começando de hoje, hoje sou humilde passo por dificuldades e eu vejo o tanto que meus pais se

esforçam para me criar.

Eu vejo só preços altos as contas com preços absurdo, tudo se eu fosse presidente eu mudaria.

Olharia para o povo humilde não iria virar corrupto, tentaria aumentar o salário teria que diminuir o

preço da gasolina, porque tenha noção que quando aumenta a gasolina aumenta tudo..

Mudaria tudo para a melhor principalmente na área de saúde da educação. Para os ricos e pouco

para os pobres, seria direito igual para todos.

Por isso peço o voto de todos para mudarmos o Brasil.

H.. F.

Redação 24 – Se eu fosse jogador de futebol

Se eu fosse um jogador de futebol. Eu iria querer começar a carreira no São Paulo tentando

buscar meu espaço no time titular fazendo gols e dando possíveis passes para gols depois que eu

conseguisse fazer sucesso no São Paulo.

Eu gostaria de jogar no Real Madri, jogando ao lado de Ronaldo, Robinho, Roberto Carlos etc. Iria ser

difícil de entrar nesse time, levaria um tempo, mas só de treinar com ele já seria um presente.

Nessas horas que eu paro para pensar como o Brasil está dominando o mundo através do

futebol só no Real Madri temos cinco brasileiros, temos também um técnico brasileiro que comanda a

seleção do Japão. Falando nisso é que eu vou começar minha carreira fazendo história.

V.S.

Redação 25 – Se eu fosse um cantor

Se eu fosse um cantor eu queria ter a voz bela e queria cantar bem porque eu iria querer fazer

muito sucesso porque é uma coisa que vem do coração e que eu gosto muito de música. Ex. Samba e

Pagode.

E o que eu gosto de escutar é samba não custa nada é o que eu quero.

Futuramente quero trabalhar para bancar uma escola de música para treinar a voz para que eu possa

conseguir com muita força e fé eu chego lá.

Porque eu sei que Deus existe e se existe não custa nada acreditar porque o nosso futuro a Deus

pertence e vai da nossa parte fazer merecer. Essa é a minha opinião pelo menos.

C. S.