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REFLEXÕES DO CAPÍTULO 01 – CARÁTER DA REVELAÇÃO PRIMEIRA PARTE QUAIS OS REQUISITOS PARA QUE UM ENSINAMENTO POSSA SER CONSIDERADO UMA REVELAÇÃO? O vocábulo revelação deriva do termo latino revelare, que significa sair de sob o véu e, em linguagem figurada, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção genérica, todas as ciências que nos trazem o conhecimento de idéias até então ignoradas e que nos põe em contato com o que não sabíamos podem ser consideradas revelações. Há, sob esse aspecto, para a humanidade, uma revelação incessante. Para que um ensinamento possa ser considerado uma revelação faz-se mister que sua característica essencial seja a verdade e que esta verdade seja até então desconhecida. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato. Se é falso, já não há um fato e, conseqüentemente, não existe revelação. Toda revelação desmentida pelos fatos não pode emanar de Deus, pois Deus não se engana nem mente. Há que ser, assim, considerada produto de uma concepção humana. O ESPIRITISMO PODE SER CONSIDERADO UMA REVELAÇÃO? POR QUÊ? Tendo trazido à humanidade o conhecimento acerca das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo material, que eram até então desconhecidas, o Espiritismo preenche todos os requisitos para ser considerado uma revelação. Mostra a realidade da nossa natureza espiritual, revelando ao homem o que ele é, de onde vem, o que faz na Terra e para onde vai após a morte do corpo físico. Revela a existência de uma vida espiritual em uma outra dimensão, paralela ao mundo físico, da qual o homem tinha tão somente um vago conhecimento. COMO ENTENDER, À LUZ DO ESPIRITISMO, OS CHAMADOS "HOMENS DE GÊNIOS"? Para as doutrinas materialistas, os chamados "homens de gênio" receberam, por acaso, matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade, daí serem melhores dotados de inteligência que os demais. Para alguns espiritualistas, representados pelas diversas correntes religiosas que há muito predominam, Deus teria concedido a esses homens uma alma mais favorecida do que aos homens comuns, levando-nos a admitir uma Divindade parcial e injusta, pois privilegiaria algumas de suas criaturas. Ambas as hipóteses levam à conclusão de que nenhum mérito possuem esses homens, pois teriam sido privilegiados pela matéria ou pelo Criador. O Espiritismo, no entanto, demonstra que a única explicação lógica e racional, condizente com os atributos de justiça da Divindade, está na preexistência do espírito que encarna nesta condição e na pluralidade das vidas sucessivas. Os "homens de gênio", explica Kardec, são espíritos que melhor têm aproveitado o tempo vivido, adquirindo mais conhecimentos e progredindo mais do que os que estão menos adiantados. Ao reencarnarem, trazem o seu saber, que é fruto de seu trabalho e não de um privilégio material ou divino. Antes de renascer como homem de gênio, já era um espírito de adiantada evolução. Reencarna para fazer com que os outros aproveitem do que ele já sabe e para adquirir novos conhecimentos. A fim de possibilitar que os mais adiantados possam auxiliar os que se encontram mais atrasados é que Deus envia a todos os povos, em épocas diversas, esses homens de gênio, impulsionando-os ao progresso e os tirando da inércia, como o estudante em relação ao professor. QUEM SÃO E QUAL O PAPEL DOS ESPÍRITOS QUE ENCARNAM COMO REVELADORES? Os espíritos que encarnam como reveladores, são aqueles tratados por Kardec como "homens de

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REFLEXÕES DO CAPÍTULO 01 – CARÁTER DA

REVELAÇÃO

PRIMEIRA PARTE

QUAIS OS REQUISITOS PARA QUE UM ENSINAMENTO POSSA SER CONSIDERADO UMA REVELAÇÃO? O vocábulo revelação deriva do termo latino revelare, que significa sair de sob o véu e, em linguagem figurada, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção genérica, todas as ciências que nos trazem o conhecimento de idéias até então ignoradas e que nos põe em contato com o que não sabíamos podem ser consideradas revelações. Há, sob esse aspecto, para a humanidade, uma revelação incessante. Para que um ensinamento possa ser considerado uma revelação faz-se mister que sua característica essencial seja a verdade e que esta verdade seja até então desconhecida. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato. Se é falso, já não há um fato e, conseqüentemente, não existe revelação. Toda revelação desmentida pelos fatos não pode emanar de Deus, pois Deus não se engana nem mente. Há que ser, assim, considerada produto de uma concepção humana. O ESPIRITISMO PODE SER CONSIDERADO UMA REVELAÇÃO? POR QUÊ? Tendo trazido à humanidade o conhecimento acerca das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo material, que eram até então desconhecidas, o Espiritismo preenche todos os requisitos para ser considerado uma revelação. Mostra a realidade da nossa natureza espiritual, revelando ao homem o que ele é, de onde vem, o que faz na Terra e para onde vai após a morte do corpo físico. Revela a existência de uma vida espiritual em uma outra dimensão, paralela ao mundo físico, da qual o homem tinha tão somente um vago conhecimento. COMO ENTENDER, À LUZ DO ESPIRITISMO, OS CHAMADOS "HOMENS DE GÊNIOS"? Para as doutrinas materialistas, os chamados "homens de gênio" receberam, por acaso, matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade, daí serem melhores dotados de inteligência que os demais. Para alguns espiritualistas, representados pelas diversas correntes religiosas que há muito predominam, Deus teria concedido a esses homens uma alma mais favorecida do que aos homens comuns, levando-nos a admitir uma Divindade parcial e injusta, pois privilegiaria algumas de suas criaturas. Ambas as hipóteses levam à conclusão de que nenhum mérito possuem esses homens, pois teriam sido privilegiados pela matéria ou pelo Criador. O Espiritismo, no entanto, demonstra que a única explicação lógica e racional, condizente com os atributos de justiça da Divindade, está na preexistência do espírito que encarna nesta condição e na pluralidade das vidas sucessivas. Os "homens de gênio", explica Kardec, são espíritos que melhor têm aproveitado o tempo vivido, adquirindo mais conhecimentos e progredindo mais do que os que estão menos adiantados. Ao reencarnarem, trazem o seu saber, que é fruto de seu trabalho e não de um privilégio material ou divino. Antes de renascer como homem de gênio, já era um espírito de adiantada evolução. Reencarna para fazer com que os outros aproveitem do que ele já sabe e para adquirir novos conhecimentos. A fim de possibilitar que os mais adiantados possam auxiliar os que se encontram mais atrasados é que Deus envia a todos os povos, em épocas diversas, esses homens de gênio, impulsionando-os ao progresso e os tirando da inércia, como o estudante em relação ao professor. QUEM SÃO E QUAL O PAPEL DOS ESPÍRITOS QUE ENCARNAM COMO REVELADORES? Os espíritos que encarnam como reveladores, são aqueles tratados por Kardec como "homens de

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gênios", que, como vimos, caracterizam-se pela superioridade de conhecimentos. Vêm à Terra com o papel de ensinarem verdades que os homens ignoram e que ainda ignorariam durante muito tempo, se tivessem que aprender por si mesmos, a fim de lhes dar um impulso para que possam se elevar mais rapidamente. O que de novo ensinam aos homens, quer sejam ensinamentos de ordem física, quer de ordem filosófica, é que se constitui uma revelação. Deus, de tempos em tempos, envia à Terra esses reveladores como seus missionários, para revelarem à humanidade não apenas verdades científicas como também verdades morais, indispensáveis ao progresso do homem.

SEGUNDA PARTE

NO SENTIDO RELIGIOSO, QUAL A CARACTERÍSTICA DE UMA REVELAÇÃO? Como vimos no capítulo anterior, o vocábulo revelação significa sair de sob o véu e é utilizado no sentido de descobrir, de dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. As ciências terrenas, materialistas, de tempos em tempos, trazem-nos revelações acerca das leis e forças que regem a matéria, como o fazem a Astronomia, a Geologia, a Física e a Química, dentre outras. No sentido religioso, contudo, o que caracteriza uma revelação é a sua natureza espiritual. Uma revelação de caráter religioso diz sempre respeito às coisas espirituais, que o homem não pode descobrir por meio da inteligência nem com o auxílio dos sentidos. O conhecimento destas coisas é permitido por Deus e é sempre feita à humanidade por intermédio de homens predispostos, seus mensageiros, considerados profetas ou messias, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Provindo de uma fonte infinitamente sábia e justa, a revelação, neste caso, implica em aceitação absoluta, sem verificação, exame nem discussão. PODE O HOMEM RECEBER DIRETAMENTE DE DEUS UMA REVELAÇÃO? Kardec explica que é possível ao homem receber diretamente da Divindade uma revelação, dando a entender que esta hipótese não contraria as Leis Naturais. Todavia, ressalta que nenhuma prova há neste sentido. O que não podemos duvidar é que há Espíritos que, pela elevação já alcançada, encontram-se mais próximos de Deus, o que lhes permite assimilar os seus pensamentos para transmiti-los aos homens. Quando se trata de um revelador encarnado, pode ele tirar dos seus próprios conhecimentos o ensinamento a ser revelado ou recebê-lo de Espíritos mais elevados, mensageiros diretos de Deus. É, pois, segundo Kardec, correto dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes, o que não significa que todos médiuns sejam reveladores. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores nem, muito menos, intermediários diretos da Divindade ou dos seus mensageiros. QUAL A DIFERENÇA ENTRE UMA REVELAÇÃO DIVINA E AS LEIS HUMANAS? O caráter essencial de uma lei revelada pela Divindade é o da eterna verdade. Sendo Deus a sabedoria plena, uma revelação eivada de erros ou sujeita a modificações não pode dele emanar. A lei do Decálogo recebida por Moisés, por exemplo, tem todos os caracteres de sua origem divina, pois perfeitas e até hoje acatadas pela humanidade. Jesus veio confirmá-las e dar-lhes cumprimento. O mesmo não se pode dizer das demais leis moisaicas, expedidas pelo legislador hebreu para disciplinar um povo ainda brutalizado. Eram leis fundamentalmente transitórias, que, em muitas ocasiões, contrariavam a Lei do Sinai. Eram obra pessoal e política daquele legislador e, desse modo, leis de natureza humanas. À medida que aquele povo foi evoluindo, os costumes foram abrandados, o uso da violência diminuindo e essas leis, por si mesmas, caindo em desuso. Sendo assim, a diferença entre uma lei de revelação divina e uma de autoria humana é que a primeira traz uma verdade definitiva, inquestionável, ao passo que segunda, provindo de uma fonte imperfeita, como o homem, carece de perfeição, sendo, pois, meramente transitória, refletindo os costumes da época.

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TERCEIRA PARTE

POR QUE O ESPIRITISMO PODE SER CONSIDERADO UMA REVELAÇÃO CIENTÍFICA? O Espiritismo é também uma revelação científica por terem seus ensinamentos sido recebidos através de um trabalho de observação e de pesquisa realizado por Allan Kardec. Sua doutrina não foi ditada completa nem impingida como crença cega. Ao contrário, é deduzida pelo trabalho de observação dos fatos, tendo se submetido à experimentação os ensinamentos e instruções que os Espíritos Superiores transmitiram. Caracteriza-se, ainda, como revelação científica, por dar a conhecer à humanidade o mundo invisível que a cerca e no meio do qual vive sem que o suspeitasse, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte. É, portanto, uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra. QUAL O CARÁTER DIVINO DA REVELAÇÃO ESPÍRITA? O Espiritismo é ao mesmo tempo uma revelação divina por ter o seu surgimento resultado da ação da Providência de Deus e não da iniciativa ou desígnio de um homem. Os seus ensinamentos foram dados a conhecer pelos Espíritos Superiores, sob a égide de Jesus e encarregados por Deus de esclarecer os homens sobre coisas que eles ignoravam e que não tinham condições de aprender por si mesmos. HÁ SEMELHANÇA ENTRE O MÉTODO DE ELABORAÇÃO DO ESPIRITISMO E DAS CIÊNCIAS MATERIALISTAS? O método de elaboração utilizado por Kardec para codificar o Espiritismo foi exatamente o mesmo que é usado pelas ciências positivas. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas, são observados, comparados, analisados e, remontando dos efeitos às causas, chega-se à lei que os rege. Depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não foram, portanto, os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria. A teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação, elaborado pelo mesmo método experimental, que se aplica não apenas à matéria, mas, igualmente, às questões metafísicas. QUAL A IMPORTÂNCIA DESTAS CIÊNCIAS PARA O ADVENTO DO ESPIRITISMO? O Espiritismo e as Ciências positivas se completam, reciprocamente. Sem os conhecimentos trazidos pelo Espiritismo, a Ciência acha-se impossibilitada de explicar certos fenômenos, utilizando-se apenas as leis da matéria. O Espiritismo, por sua vez, sem a Ciência, não encontraria apoio nem comprovação para muitos dos fenômenos que explica. Por essa razão, o estudo das leis da matéria tinha que preceder o das leis que regem o mundo espiritual, porque a matéria é que primeiro fere os sentidos. O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências. Só podia, portanto, vir depois da elaboração delas, pela força mesma das coisas e pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxílio apenas das leis da matéria.

QUARTA PARTE

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O ESPIRITISMO E AS ANTIGAS "CIÊNCIAS OCULTAS"? Do mesmo modo que a Astronomia tem seus fundamentos na observação dos mesmos fatos observados pela Astrologia e a Química nos fatos observados pela Alquimia, o Espiritismo, tal qual as antigas ciências ocultas, apoia-se na manifestação dos Espíritos. Assim como a Astronomia, por intermédio de homens como Galileu, Newton e Kepler, torno conhecidas as leis que regem o

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mecanismo do Universo, revelando que os astros nada mais são do que simples mundos semelhantes à Terra, desfazendo-se o sentido do maravilhoso que lhes era atribuído pela Astrologia, o Espiritismo, relativamente às ciências ocultas, que se apoiam também na manifestação dos Espíritos, trouxe a conhecer as leis que regem o mundo espiritual, desfazendo práticas e crenças ridículas, através da experiência e da observação dos fatos. PODEMOS CONSIDERAR QUE A REVELAÇÃO TRAZIDA POR JESUS VEIO REVOGAR A LEI MOSAICA? As leis promulgadas por Moisés podem ser classificadas em duas partes: uma, é o conhecido Decálogo, base da religião cristã, revelação de origem divina, recebida por ele como profeta, denominação dada então aos portadores de faculdades mediúnicas. Recebida no Monte Sinai, lançou as bases da verdadeira fé, revelando aos homens a existência do Deus único, soberano e criador de todas as coisas. Outra parte de suas leis são de origem puramente humana, destinada a regular a vida daquele povo em sociedade. Jesus, como ele próprio afirmou, segundo a anotação dos Evangelistas, não veio revogar a lei de Moisés e, sim, dar-lhe cumprimento. Mas apenas no que se refere à lei de origem divina, que é a parte eterna, irrevogável, pois emanada da Sabedoria Suprema. A parte da lei mosaica de concepção humana, que se destinava a disciplinar aquela sociedade, era transitória e, com o progresso intelectual e moral da humanidade, tornou-se obsoleta e inaceitável. Esta parte não foi acolhida pelo Cristo. QUAL A DIFERENÇA ENTRE A VISÃO DE DEUS APRESENTADA POR MOISÉS E A REVELADA POR JESUS? A maneira inteiramente nova para a época com que Jesus explicava o sentido de Deus é o ponto mais importante de sua revelação. Moisés trouxe a idéia de uma Divindade temível, ciumenta e vingativa. Cruel e implacável para com aqueles que contra ela se insurgissem; que ordena o massacre e o extermínio de povos, sem excetuar, sequer, mulheres, crianças e velhos; que castiga os que poupam suas vítimas; que pune todo um povo pelo erro de seu governante; que pune os filhos pelas faltas dos pais; que se vinga do culpado na pessoa do inocente; que privilegia um povo, presidindo aos combates para sustentar a sua causa contra a de outros povos; que consente com a escravidão de povos rivais. Enfim, o Deus mosaico era injusto e inclemente, parcial e vingativo. Jesus ensinou um Deus diferente, justo e bom, manso e misericordioso. Que perdoa o pecador que se arrepende e dá a cada um segundo as suas obras. O Pai de todos, que estende sua proteção a todos os seus filhos, indistintamente. Um Deus que não faz da vingança uma virtude e que ordena o olho por olho, dente por dente. Mas o Deus de misericórdia, que perdoa as ofensas e que ensina a fazer o bem em troca do mal e a não fazer o que não queremos que nos façam. Jesus trouxe um Deus grande, que vê o pensamento e não a adoração formal. Já não é um Deus que quer ser temido, mas amado. QUE ASPECTOS DA DOUTRINA DE JESUS MAIS CONTRIBUEM PARA MODIFICAR O MODO DO HOMEM ENCARAR A VIDA NA TERRA? A revelação do verdadeiro Deus que a doutrina de Jesus nos trouxe, se corretamente compreendida, tem tudo para operar uma profunda modificação no modo como o homem encara a vida na Terra. Demonstra a imparcialidade da Divindade, sua soberana justiça e bondade; colocando o amor como o móvel que deve presidir as ações humanas; ensina a amá-lo sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos e estabelece o princípio da igualdade dos homens perante ele e da fraternidade universal. Esta revelação acerca da Divindade é o ponto central da doutrina de Jesus, juntamente com a da imortalidade da alma e da continuidade da vida após a morte do corpo, impondo aos homens novas obrigações. Quando corretamente compreendida, fará o homem encarar a vida terrena sob outro aspecto e o impulsionará a mudanças nos costumes e nas relações sociais.

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QUINTA PARTE POR QUE O CRISTO NÃO ENSINOU TUDO O QUE TINHA PARA ENSINAR? Em sua passagem pela Terra, o Cristo não disse tudo o que poderia dizer, uma vez que a humanidade não se encontrava, àquela época, em condições de compreender certas verdades. Conforme afirmou, seu ensinamento era incompleto, posto que não pôde ser desenvolvido inteiramente, por faltar aos homens conhecimentos que só podiam ser adquiridos com o tempo e sem os quais não o compreenderiam. Como ele próprio afirmou: «Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas.» (S. João, caps. XIV, XVI; S. Mat., cap. XVII.) POR QUE JESUS DENOMINOU A NOVA REVELAÇÃO DE "CONSOLADOR"? Jesus denominou a nova revelação de "Consolador" porque previa que os homens necessitariam de consolações, o que as crenças que seriam fundadas não teriam como o fazer. Esse "Consolador", contudo, não deve ser entendido como a revelação de novas verdades, mas no sentido de explicar e desenvolver o ensino do Cristo, porque é nele que se encontra toda a verdade. Faltava, apenas, a chave para entender o seu significado. COMO A CIÊNCIA E O ESPIRITISMO CONTRIBUEM PARA A INTERPRETAÇÃO DAS CHAMADAS "ESCRITURAS SAGRADAS"? Durante longo período, os homens só puderam explicar os ensinamentos contidos no Antigo Testamento e no Evangelho com o auxílio do que até então lhes era permitido saber. Tinham sobre as leis da Natureza noções falsas ou incompletas. Os teólogos davam às Escrituras interpretações embasadas em erros e preconceitos, buscando obter a confirmação de idéias preconcebidas. Não podiam compreender causas que dependiam do conhecimento de leis que lhes eram até então desconhecidas. Tornando conhecidas algumas destas leis, a Ciência possibilita aos homens uma interpretação mais de conformidade com a razão, a lógica e o bom-senso. O Espiritismo, por sua vez, revela leis que igualmente ficaram desconhecidas durante muito tempo, relativas ao mundo espiritual. Assim, tanto as ciências positivas, como o Espiritismo, prestam grande contribuição para a inteligência dos textos das chamadas Escrituras, criando as condições necessárias à sua correta interpretação e derrogando os sistemas utópicos defendidos pelos teólogos. POR QUE KARDEC AFIRMA QUE O ESPIRITISMO É CONSEQÜÊNCIA DIRETA DA DOUTRINA DE JESUS? O Espiritismo é conseqüência direta dos ensinamentos de Jesus porque partiu de suas palavras, como ele partiu das de Moisés. Kardec cita alguns dos ensinamentos trazidos pelo Espiritismo que comprovam ser ele conseqüência direta dos ensinos de Jesus, complementando-o, como ele prometera. O Cristo nos trouxe uma vaga idéia da vida futura, não podendo se estender em maiores esclarecimentos, face à incapacidade de compreensão dos homens. O Espiritismo acrescenta ao ensino de Jesus a revelação da existência do mundo espiritual, que nos rodeia e que povoa o espaço; esclarece acerca do nascimento e da morte, mostrando aos homens de onde vem e para onde vai, por que está na Terra e por que sofre; ensina que a alma progride incessantemente até atingir a perfeição possível que a aproxima de Deus, através das vidas sucessivas; que as almas são criadas em iguais condições de aptidão para progredir; que Deus é igual para todos, não havendo criaturas deserdadas nem favorecidas; que não há seres perpetuamente destinados ao mal e ao sofrimento nem outros criados puros e perfeitos. Enfim, o Espiritismo demonstra que "não há criações múltiplas, nem diferentes categorias entre os seres inteligentes, mas que toda a criação deriva da grande lei de unidade que rege o Universo e que todos os seres gravitam para um fim comum que é a perfeição, sem que uns sejam favorecidos à custa de outros, visto serem todos filhos das suas próprias obras", completa Kardec.

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SEXTA PARTE

DE QUE FORMA O CONHECIMENTO DAS RELAÇÕES ENTRE ESPÍRITOS ENCARNADOS E DESENCARNADOS FAZ O HOMEM MELHOR COMPREENDER A REALIDADE DA SUA EXISTÊNCIA? As relações entre os dois planos de vida traz ao homem a prova material da sua natureza espiritual, da sua individualidade como espírito imortal e da solidariedade que une todos os seres da criação, encarnados, desencarnados e até os que estão vinculados a outros planetas. Além disso, este relacionamento contribui para uma melhor compreensão da nossa realidade existencial ao trazer o conhecimento: - da situação dos espíritos que deixaram a Terra e que se encontram no mundo espiritual; - de suas migrações, através das sucessivas reencarnações; - das suas alegrias e de seus sofrimentos, enquanto espíritos desencarnados; - das causas por que são felizes ou infelizes, conforme o bem ou o mal que tenham feito, pois a felicidade ou desdita na vida espiritual depende do seu grau de perfeição ou imperfeição, pois cada um é punido naquilo em que pecou. - de que todos podem abreviar seus sofrimentos, fazendo-os cessar através do arrependimento e da reparação ou prorrogá-los, se persistirem na prática do mal. E A REVELAÇÃO DA PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS? Com a correta compreensão da lei natural da reencarnação, o homem passa a entender as causas das anomalias com que tem de conviver durante a vida terrena. A realidade da pluralidade das existências torna incongruente os preconceitos de raças e de castas, pois demonstra que um espírito que hoje é rico e poderoso pode renascer pobre e subordinado. Nenhum outro argumento contra os preconceitos e as injustiças sociais é tão convincente e toca tanto na consciência do homem como o fenômeno da reencarnação. Comprovando a sobrevivência do espírito, o homem não se sente livre para aumentar seus gozos da vida presente, independente de qualquer forma de moralidade, pois sem ela nada o esperaria após a morte. Por outro lado, seus sofrimentos ficariam sem perspectivas de terem fim, somente lhe restando o desespero. Trazendo-lhe a certeza da vida futura e do reencontro com aqueles a quem amou e com aqueles a quem ofendeu, o homem tem uma nova visão da sua existência. Com estas revelações, o Espiritismo dá ao homem os instrumentos de que necessita para operar a sua transformação COMO KARDEC ENTENDE O CHAMADO "PECADO ORIGINAL"? O pecado original, da forma como as religiões tradicionais o compreendem, é absolutamente inconciliável com os atributos de justiça e de bondade de Deus, na medida em que torna os homens responsáveis pela falta cometida por um só e quando ainda sequer existiam. Kardec interpreta de modo racional a teoria do pecado original, explicando-o à luz da realidade da pluralidade das existências. Preexistindo antes do seu renascimento, o espírito traz o gérmen das imperfeições acumuladas em existências pretéritas, das quais não conseguiu se despojar e que afloram na nova existência em forma de instintos naturais e pendores. É esse o verdadeiro pecado original, explica Kardec. O homem sofre as suas conseqüências na nova vida, mas com a diferença de que sabe que foi ele o causador, por suas próprias faltas e não pelas faltas de outrem. Além de mais conforme a justiça divina, é, ao mesmo tempo, mais consolador, pois traz ao homem a certeza de que a misericórdia do Criador lhe proporcionará todas as oportunidades de que necessita para se corrigir e progredir, até tornar-se purificado e não mais necessitar da vida corporal, passando a viver exclusivamente a vida espiritual, definitiva e bem-aventurada.

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PODEMOS CONSIDERAR O PERISPÍRITO UMA REVELAÇÃO DO ESPIRITISMO? Quanto à sua existência, o perispírito não é uma revelação espírita, posto que já conhecido desde tempos remotos, principalmente pelas doutrinas orientais diversas. Também Paulo, em sua primeira carta aos cristãos de Corinto, demonstrou conhecê-lo, tendo-o denominado de "corpo espiritual". O termo "perispírito", todavia, foi criado por Allan Kardec, no Livro dos Espíritos, para definir esse envoltório que liga o espírito ao corpo material e que sobrevive à morte deste. QUAL A SUA IMPORTÂNCIA PARA O ESPÍRITO, SEGUNDO ENSINA A REVELAÇÃO ESPÍRITA? O estudo das propriedades do perispírito abre novos horizontes à Ciência e dá a chave para o entendimento de uma série de fenômenos até então incompreendidos por falta de conhecimento da lei que os rege. Tais são, entre outros, os fenômenos da dupla vista, da visão a distância, do sonambulismo, da catalepsia, da letargia, da presciência, das aparições, dos pressentimentos, etc. QUE INFLUÊNCIA O ESPIRITISMO EXERCEU NA INTERPRETAÇÃO DO EVANGELHO? O Espiritismo, sem negar o Evangelho, veio, ao contrário, confirmá-lo, explicando-o à luz das novas leis da Natureza que revela. Os atos e os ensinamentos deixados pelo Cristo, alguns tidos como miraculosos e inadmissíveis, foram elucidados pela nova doutrina. Com ela, a humanidade teve esclarecidos alguns pontos obscuros do ensino de Jesus, entendendo melhor o seu alcance e podendo distinguir a realidade e a alegoria.

SÉTIMA PARTE COMO EXPLICAR O FATO DE O ESPIRITISMO CONSEGUIR SER ACEITO POR TANTAS PESSOAS, APESAR DE FORTEMENTE CRITICADO? Por ter trazido a fé raciocinada, embasada na razão e na justiça e bondade de Deus, atendendo a uma necessidade que o homem tinha de crer em alguma coisa. Dirigindo-se aos aflitos, o Espiritismo trouxe a consolação da imortalidade do espírito e das vidas sucessivas. Em vez das chamas eternas do inferno e da ociosidade contemplativa inútil e perpétua, trouxe a certeza de um futuro mais sedutor, que só depende de nós próprios. É MAIS FÁCIL CRER NO QUE LHE DIZEM ATRAVÉS DE UMA PESSOA QUE PODEMOS TODOS VER E CRER DO QUE AQUILO LHE DIZEM ATRAVÉS DOS ESPÍRITOS QUE NÃO SE VÊ PARA CRER... A 1ª E A 2ª REVELAÇÃO VIERAM ATRAVÉS DE UM INDIVÍDUO E SÃO "LOCALIZÁVEIS", ENQUANTO QUE A DOUTRINA VEIO "EM MASSA" ATRAVÉS DOS ESPÍRITOS. COMO EXPLICAR, ENTÃO, TAMANHA SIMPATIA PELA DOUTRINA? Uma das causas apontadas por Kardec como responsável pela rápida propagação da Doutrina é o fato dela ter surgido simultaneamente em diversos pontos da Terra, posto que não está personificada em uma só pessoa. Sendo fruto da manifestação dos vários Espíritos que emprestaram seus ensinamentos, multiplicaram-se os pontos de irradiação. Se tivesse surgido num só ponto, como obra exclusiva de um homem, talvez decorresse muitos anos sem que ela ultrapassasse os limites do país onde começara. Devido ao caráter de universalidade de seus ensinamentos, rapidamente se propagou. NO ITEM 46, NOS DIZ O TRECHO: "MULTIPLICANDO-SE ESSES CENTROS, SEUS RAIOS SE REÚNEM POUCO A POUCO, COMO OS CÍRCULOS FORMADOS POR UMA MULTIDÃO DE PEDRAS LANÇADAS NA ÁGUA, DE TAL SORTE QUE, EM DADO TEMPO, ACABARÃO POR

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COBRIR TODA A SUPERFÍCIE DO GLOBO." PODEMOS ENTENDER ENTÃO QUE A DOUTRINA ESPÍRITA SERÁ OU TEM A TENDÊNCIA DE SER A "RELIGIÃO DO FUTURO"? A QUE SERÁ ACEITA POR TODOS OU SUA GRANDE MAIORIA? No livro "O Que É Espiritismo", Kardec afirmou que o Espiritismo não tinha vindo para ser mais uma religião, pois o mundo já possuía muitas, não precisando de mais uma. O Espiritismo veio para esclarecer, à luz das novas leis que revela, muitos dos ensinamentos do Cristo que ficaram perdidos na incompreensão da humanidade e para trazer outros, que não puderam ser ministrados quando de sua passagem pela carne. Assim, devemos entender a citação em questão como uma previsão de que a Doutrina se espraiaria por toda a Terra, tornando seus ensinos conhecidos por toda a humanidade. No entanto, não podemos dizer que será a religião do futuro, mas que seus preceitos, seus postulados, serão, afinal, compreendidos e aceitos no futuro pelas religiões existentes. Como quis dizer o Cristo, quando afirmou que haveria um só rebanho e um só pastor. Não que todas as religiões se fundiriam, mas que todas convergiriam para uma só verdade. PELA FORMA COMO A DOUTRINA SE "MOSTROU" PODEMOS AFIRMAR QUE ELA NÃO TEM COMO MORRER? Acreditamos que a Doutrina veio para ficar, pois elaborada por Espíritos Superiores, por ordem de Deus, sob a direção de Jesus e codificada por um seu Missionário, Allan Kardec. Sendo evolucionista, como explicou Kardec, ela se atualizará sempre, acompanhando o progresso das ciências, dos costumes e das idéias, razão por que nunca estará ultrapassada. Tem tudo, portanto, para não morrer nunca. PODEMOS DIZER QUE O ESPIRITISMO É UMA DOUTRINA UNIVERSAL? Sem dúvida nenhuma, é uma doutrina universal, pois elaborada pela universalidade dos Espíritos Superiores, surgindo em vários pontos do globo e através de muitos médiuns. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS TRÊS REVELAÇÕES? As duas primeiras revelações resultaram de um ensino direto, pois a humanidade ainda não evoluíra o suficiente para concorrer na sua elaboração. A primeira, foi imposta pela fé, através autoridade de Moisés; a segunda, apresentada por Jesus por meio de seus aconselhamentos e tendo como base o amor. A terceira revelação, sem descartar a parte divina da primeira nem todo o ensinamento trazido pela segunda, não foi revelada por um único homem, mas por uma coletividade de Espíritos Superiores e tem como objetivo dar continuidade aos ensinamentos da segunda revelação, agora explicados pelas leis que regulam os fenômenos que regem o Universo. COMO SE DÁ A RELAÇÃO ENTRE O ESPIRITISMO E AS DEMAIS CIÊNCIAS? O Espiritismo acompanhará sempre o progresso das demais ciências. Jamais será ultrapassado, pois, se novas descobertas da ciência demonstrarem que ele está em erro acerca de um ponto qualquer ou se uma nova verdade se revelar, o Espiritismo se modificará nesse ponto. Como toda ciência de observação, o Espiritismo não pode deixar de ser uma doutrina essencialmente progressiva. Sendo assim, não estabelece princípios absolutos sem que se achem devidamente demonstrados ou que resultem da observação, caminhando sempre paralelamente com o progresso. Estará sempre aliado à ciência, uma vez que, como esta, fundamenta-se em leis naturais, criadas por Deus. QUAL A UTILIDADE DA DOUTRINA MORAL DOS ESPÍRITOS, SE ELA É A MESMA DE JESUS? Como explica Kardec, a moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor. Os Espíritos vieram ratificar o ensinamento moral de Jesus, que havia sido ao mesmo tempo esquecido e adulterado pelos homens, por intermédio das diversas religiões que se

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constituíram após a sua passagem pela carne. Relembrando aqueles ensinamentos, fez aumentar o número de seus seguidores, propagando pelo mundo a doutrina de Jesus, através das múltiplas manifestações que se fizeram por toda a parte. A moral resultante das Leis Naturais está escrita na nossa consciência. Porém, nem todos a interpretam e a seguem corretamente. Do mesmo modo que um pai repete para seu filho o mesmo ensinamento inúmeras vezes, Deus envia, de tempos em tempos, seus missionários para lembrar aos homens a sua Lei, recolocando-os no caminho certo. A moral do Cristo é praticamente idêntica à ensinada por Sócrates e Platão quinhentos anos antes e repetida, sob formas diversas, até os dias de hoje, por diversas correntes moralistas. O Espiritismo, porém, não se limitou a reviver o ensinamento moral do Cristo. Acrescentou a ele o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os dois planos de vida, espiritual e o material. Trouxe à humanidade, por meio das próprias leis da Natureza, a realidade do espírito, do seu passado e de seu futuro, do qual apenas se tinha vaga noção.

OITAVA PARTE COMO EXPLICAR A AUTORIDADE DA REVELAÇÃO ESPÍRITA, CONSIDERANDO QUE ELA FOI TRAZIDA POR ESPÍRITOS AINDA FALÍVEIS? A revelação espírita não se baseia unicamente no ensino dos Espíritos, aceitos incondicionalmente e sem o exame da razão. Também o homem concorre para a revelação, com a observação dos fatos trazidos pelos Espíritos, dela extraindo suas deduções. Esta foi a missão de Allan Kardec, que, como ele próprio afirmou, tornou-se o centro de elaboração da doutrina. As manifestações dos Espíritos eram de todas as categorias e a ele cabia submetê-las à lógica e ao bom-senso, vindo daí a autoridade da doutrina. POR QUE OS CONHECIMENTOS SOBRE A MORAL DE JESUS E OS POSTULADOS DA DOUTRINA ESPÍRITA NÃO FORAM PASSADOS SOMENTE PELOS ESPÍRITOS DE GÊNIO QUE ESTAVAM ENCARNADOS? Porque se a revelação viesse apenas pelos Espíritos encarnados, por mais iluminados que fossem, a sua contradição por parte da incredulidade seria muito maior. Como se provaria a veracidade do conhecimento do mundo espiritual, se não fosse trazido pelos seus próprios habitantes? Quis Deus que o ensino fosse dado pelos próprios Espíritos para que eles convencessem os homens de sua existência. Por outro lado, vindo pelos Espíritos, esses conhecimentos poderiam se propagar mais rapidamente sobre a Terra e sua veracidade mais facilmente constatada, pela coincidência das manifestações. A ação dos grandes Espíritos encarnados, ainda que homens de gênio, é restrita e de lenta propagação. Viesse deles a revelação, o ceticismo seria maior e muitos séculos levariam para ser aceitas pela humanidade. Por esta razão, Deus, em sua sabedoria, quis que o ensino fosse dado pelos próprios Espíritos e não por encarnados, a fim de que eles convencessem os homens da sua existência. EM QUE CONSISTE A SUPERIORIDADE DO ENSINO DOS ESPÍRITOS? O Espiritismo ensina ser errôneo atribuir-se aos espíritos todo o saber e toda a sabedoria, bem como supor-se que baste se dirigir ao primeiro espírito que se apresente para conhecer todas as coisas. Saídos da Humanidade, os espíritos constituem uma de suas faces, havendo, assim como na Terra, os superiores e os vulgares. Do mesmo modo que os homens, os espíritos mais adiantados podem instruir-nos sobre maior porção de coisas, dar-nos opiniões mais judiciosas, do que os atrasados. Ouvir os espíritos não é entrar em entendimento com potências sobrenaturais. É tratar com seus iguais, com aqueles mesmos com quem convivemos neste mundo. O Espiritismo veio corrigir a falsa idéia que se fazia da natureza do mundo espiritual e das relações dos homens com o além-túmulo.

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A superioridade do ensino dos Espíritos decorre do fato de, estando eles libertos dos entraves da matéria e isentos dos cuidados da vida corpórea, apreciarem as coisas de um ponto de vista mais elevado. Gozam eles de uma perspicácia que lhes possibilita ver um horizonte mais vasto; compreendem seus erros, retificam suas ideias e se desembaraçam dos prejuízos humanos. Daí serem seus conselhos, segundo o grau de adiantamento que alcançaram, mais judiciosos e desinteressados do que dos encarnados. Além disso, o meio em que se encontram lhes permite iniciar-nos em coisas que ignoramos, relativas à vida futura e que não podemos aprender no meio em que estamos. POR QUE AS REVELAÇÕES DOS ESPÍRITOS SÃO PARCIAIS E GRADATIVAS? Porque nós não entenderíamos tudo de uma só vez. As revelações somente devem ser feitas quando a humanidade se encontra preparada para recebê-las. Jesus fez isso há dois mil anos. Ensinou aquilo que o povo entenderia na época e prometeu, para depois, a vinda do Consolador, que viria nos revelar todas as coisas e relembrar os seus ensinamentos. Achando-se a humanidade madura para tanto, Deus permitiu que penetrasse na realidade do mundo espiritual, erguendo o véu que encobria o mundo invisível e desvendando o mistério do futuro do homem. QUE IMPORTÂNCIA PARA O FUTURO DA HUMANIDADE TROUXE A REVELAÇÃO DA EXISTÊNCIA DO MUNDO ESPIRITUAL? A vida terrena era tudo para o homem, porque nada via ele além dela. Sua visão se detinha no túmulo. Desvendando a realidade da vida espiritual, o Espiritismo ajuda o homem a entender as causas do sofrimento na Terra; a ver no bem uma finalidade e não mais uma teoria. A crença em que tudo acaba com a vida faz o egoísmo reinar soberano entre os homens. Com a certeza da vida futura, a solidariedade e a fraternidade ligam todos os seres, nesta e na outra vida. A nova revelação veio encher o vácuo que a incredulidade criou, levantar os ânimos abatidos pela dúvida ou pela perspectiva do nada e imprimir a todas as coisas uma razão de ser. O Espiritismo representa uma nova era para a humanidade, por lhe demonstrar a imortalidade da alma e as consequências para vida futura da nossa atual existência. Com isso, mostrou ao homem que apenas ele é o responsável pelo seu próprio destino, tornando-o mais compreensivo e sensível às Leis Naturais e jogando por terra as antigas concepções de paraíso e de inferno.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 2 – DEUS

Não existe efeito sem causa, este é um axioma da ciência. Nem sempre, porém, essa causa nos é visível, o que não implica dizer que ela não existe. Sendo esse efeito inteligente, a causa que o origina somente pode ser igualmente inteligente. Em toda parte se reconhece a presença do homem pelas suas obras. Pela grandiosidade das obras da Natureza, porém, há que se concluir que a sua causa não pode ser a inteligência humana. Somente uma inteligência muito superior à do homem poderia dar causa a um efeito de tamanha magnitude. DE QUE PRINCÍPIO UTILIZOU-SE KARDEC PARA DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE DEUS? Kardec se utilizou de um axioma utilizado pela ciência, segundo o qual não há efeito sem causa. É princípio elementar da ciência que pelos seus efeitos é que se julga de uma causa, ainda que essa causa se conserve oculta. Cita, como exemplo, um pássaro que, ao voar, é atingido por um tiro. Ainda que o atirador não seja visto, é de se deduzir a sua existência. Conclui-se, pois, que nem sempre se faz necessário vejamos uma coisa para sabermos que ela existe e que, observando-se o efeito, conhece-se a causa.

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E PARA DEMONSTRAR A SUA AÇÃO INTELIGENTE? Kardec parte de outro princípio elementar igualmente utilizado pela ciência e que também se tornou axioma para comprovar a inteligência de Deus: todo efeito inteligente resulta de uma causa inteligente. Em toda parte se reconhece a presença do homem pelas suas obras. Uma obra de arte, por exemplo, não pode se fazer por si mesma. Reconhece-se, nela, a atuação de uma inteligência, pois somente uma inteligência poderia concebê-la. Ninguém admitiria ser obra de um animal ou produto do acaso. Verificando-se que não está acima da capacidade humana, conclui-se ser ela obra de um homem. Pela perfeição ou imperfeição da obra, poder-se-á reconhecer o grau de inteligência ou de adiantamento do seu autor. A existência do homem pré-histórico prova-se não apenas pelos fósseis encontrados, mas, também, por objetos daquela época trabalhados pelo homem. Uma pedra talhada, por exemplo, pode atestar a presença do homem pouco adiantado; um obra de arte, no entanto, prova que, não sendo ele capaz de produzi-la, somente pode ser obra de uma inteligência superior. O mesmo acontece com a obra da Criação. Observando-se a perfeita harmonia que move toda a Natureza, somos forçados a reconhecer que ela ultrapassa o limite da inteligência humana. Não podendo o homem produzi-la, somente pode ser fruto de uma inteligência superior à da Humanidade. Apenas uma inteligência superior à mais luminosa sabedoria de um homem de gênio seria capaz de produzi-la, a menos que se admita possa haver inteligência sem causa. Logo, essa inteligência somente pode provir da Divindade. COMO KARDEC REFUTA O ARGUMENTO DE QUE AS OBRAS DA NATUREZA SÃO PRODUTO DE FORÇAS PURAMENTE MECÂNICAS? Os que se recusam a aceitar a existência de Deus argumentam que as obras da Natureza são efeito de forças puramente materiais, que atuam mecanicamente, em virtude de leis e forças que se põem em ação através de um automatismo. Kardec demonstra que essas leis e forças são materiais e mecânicas e não inteligentes. Sendo a sua aplicação útil um efeito inteligente, é irrefutável a existência de uma causa inteligente por trás delas. Exemplifica com a existência do relógio, que não se pode conceber sem a existência do relojoeiro. A "engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente? Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras", conclui o Codificador.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 3 – O BEM E O MAL

Sendo Deus o princípio de todas as coisas e todo sabedoria, bondade e justiça, tudo o que dele procede há de ter estes mesmos atributos. Logo, o mal não pode ter nele a sua origem. Entretanto, o mal existe e tem uma causa. Não podendo o homem penetrar nos desígnios do Criador, desconhece o porquê da sua ocorrência. O que lhe parece um mal, sob a ótica material com que aprecia as coisas, Deus permite que aconteça por ser necessário ao seu progresso. Deus concedeu ao homem tudo o necessário para que se evitasse o mal e, de tempos em tempos, envia-lhe seus emissários para esclarecê-lo. SEGUNDO KARDEC, POR QUE O MAL NÃO PODE PROVIR DE DEUS? Deus é o princípio de todas as coisas e tem como atributos a sabedoria, a bondade e a justiça, em seu grau infinito. Tudo o que dele procede contém esses atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto, conforme explica Kardec. Sendo assim, o mal não pode ter nele a sua origem.

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PODE O MAL PROVIR DE UM SER ESPECIAL? Se o mal tivesse sua origem num ser especial, dedicado exclusivamente a ele, qualquer que seja o nome que se lhe deem as religiões, este ser seria igual a Deus e, por conseguinte, tão poderoso quanto este ou lhe seria inferior. Se fosse igual à Divindade, teríamos duas potências rivais a dirigir o Universo, em luta incessante, uma pelo bem, outra pelo mal. Cada uma procuraria desfazer a obra da outra, o que seria incompatível com a harmonia que se revela no Universo. Se inferior a Deus, a ele estaria subordinado e somente poderia ser sua criatura. Teríamos, então, que Deus houvera criado o espírito do mal, o que implicaria em negação do atributo de bondade infinita. NÃO PROVINDO O MAL DE DEUS NEM DE QUALQUER OUTRO SER COM SEMELHANTES PODERES, DE ONDE PROVÉM? Kardec classificou em duas categorias os males que atingem a Humanidade: aqueles que provêm de sua vontade e os que o homem não pode evitar. Estes últimos, são aqueles que provêm das leis e forças da Natureza, como os flagelos destruidores, inevitáveis e que atingem por vezes extensas áreas e um grande número de homens. Os primeiros, mais numerosos, são os que o homem cria pelos seus atos e pensamentos, os que provêm de seus vícios, como o orgulho, o egoísmo e a ambição. Enfim, dos excessos que pratica. Nestes vícios estão a causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte e da maior parte das enfermidades. POR QUE DEUS PERMITE A EXISTÊNCIA DO MAL? Com sua inteligência ainda restrita, o homem não pode penetrar nos desígnios do Criador, apreciando as coisas unicamente do ponto de vista do momento e de sua personalidade. Por esta razão, não compreende a ordem da Natureza, deixando de perceber que aquilo que muitas vezes se lhe afigura um mal é um meio que lhe fará progredir em conhecimento. É o que ocorre com relação aos flagelos naturais, que Deus permite aconteçam para que o homem se desenvolva em conhecimento, com o objetivo de atenuar os seus efeitos. Quanto mais se adianta o homem, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos, neutralizando as consequências ou mesmo evitando a sua ocorrência. É assim que, pouco a pouco, a necessidade faz o homem criar as ciências por meio das quais melhora as condições de habitabilidade do globo e aumenta o seu próprio bem-estar. Quanto aos males gerados pelo mau uso do livre-arbítrio pelo homem, Deus permite que aconteçam não só em respeito a esse livre-arbítrio como, também, porque, sendo o Planeta de provas e de expiações, essas situações, infelizmente, ainda são necessárias ao aprimoramento dos espíritos que compõem a sua humanidade. Os males a que se acha o homem exposto na Terra servem como "um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impede para a frente, na senda do progresso", completa Kardec. O QUE FAZ DEUS PARA EVITAR A OCORRÊNCIA DO MAL? Deus promulgou leis sábias e soberanas, que objetivam unicamente o bem. Nelas o homem encontra o necessário para evitar a ocorrência do mal. Dotou o homem das faculdades que lhe são necessárias ao seu cumprimento e escreveu na sua consciência essas leis. Além disso, de tempos em tempos, manda à Terra seus enviados, Espíritos Superiores, que encarnam com a missão de trazerem esclarecimentos e lembrar os homens de sua Lei, visando moralizá-los e melhorá-los. Se se conformasse com as leis divinas, o homem se pouparia a todos os males e viveria ditoso na Terra. Se assim não acontece, é pelo uso equivocado do seu livre-arbítrio, o que o faz sofrer as consequências do seu proceder.

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REFLEXÃO DO CAPÍTULO 4 – PAPEL DA CIÊNCIA NA

GÊNESE

Os primeiros livros religiosos, considerados sagrados, tornaram-se, ao mesmo tempo, os primeiros livros de ciência. Não possuindo meios de observação que o levasse a dados científicos, o homem adotou esses livros como a única fonte de conhecimento da gênese da criação. Com o desenvolvimento da ciência, o homem adquiriu conhecimentos que o levaram a rever antigos conceitos, a que se dava a conotação de sagrados para que fossem aceitos sem questionamentos. QUAL A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO PARA O CONHECIMENTO DA ORIGEM DA CRIAÇÃO? Os primeiros livros produzidos pelo homem foram os que tratavam de assuntos ligados à religião, abordando, sempre, o princípio das coisas, que era tema comum a todas as religiões. Como a ciência ainda se encontrava num estágio de conhecimentos muito atrasado, esses livros religiosos, considerados sagrados, foram, ao mesmo tempo, os primeiros livros de ciência. Dessa forma foi que a religião exerceu importante papel para que o homem viesse a ter as primeiras noções a respeito da origem da criação. Cumpriu, assim, a religião, a função que, muito mais tarde, com a aquisição dos conhecimentos propiciados pelo progresso dos meios de observação, a ciência veio desenvolver. EM QUE ESSE CONHECIMENTO SE MODIFICOU COM A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA? Como não possuía conhecimento para compreender racional e naturalmente as coisas, o homem criou uma gênese repleta de alegorias, de fatos que, posteriormente, a ciência veio comprovar serem ante-naturais, ou seja, impossíveis de terem se dado da forma como narrados. Com o advento dos diversos ramos em que se desenvolveu a ciência - como, por exemplo, a Astronomia, a Química, a Física, a Antropologia, dentre outros - a gênese adquiriu uma conotação científica, mais racional, mais natural, mais conforme com as leis de Deus e, consequentemente, mais crível. Por essa razão Kardec afirma ser impossível se conceber a gênese da criação sem os dados que a ciência disponibiliza. " A Ciência é chamada a constituir a verdadeira Gênese, segundo a lei da Natureza ", afirma o Codificador. COMO KARDEC EXPLICA O FATO DE A GÊNESE BÍBLICA TER SIDO ACEITA COMO VERDADEIRA POR TANTAS RELIGIÕES? A gênese bíblica foi adotada como princípio de fé, sem se admitir qualquer questionamento a respeito. Como explica o Codificador, numa época em que a humanidade estava carente de conhecimentos científicos, em que predominava o atraso moral e intelectual, recém saída da fase primitiva, somente à custa do temor a Deus é que se conseguiria impor algum limite, algum princípio moral àquele povo, de modo a permitir uma convivência algo civilizada. Nesse contexto, não havia como se questionar os fatos narrados na Gênese. Todo o edifício religioso se desmoronaria e a humanidade retornaria ao estado primitivo, em que prevalecia o instinto de conservação, à falta de um Poder Superior que se fizesse respeitar. Por essa razão é que as religiões tradicionais impingiram uma gênese conforme conhecida, sem se admitir qualquer

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questionamento quanto a possibilidade ou não dos fatos terem se passados da forma narrada. Objetivava-se manter os homens sob controle e, para isso, era necessário uma divindade que não sofresse qualquer abalo em seu poder. Dentro da evolução intelectual da época, qualquer dúvida a respeito dos fatos bíblicos seria interpretada como fraqueza ou falha de Deus, pois, como ainda hoje ocorre com algumas denominações religiosas, tinham a Bíblia como a palavra de Deus. Além desse aspecto, há que se considerar, também, que não havia como se questionar os fatos bíblicos devido ao desconhecimento científico a respeito dos temas envolvidos na gênese. Não foi somente, portanto, para preservar as religiões, mas também por não ter a humanidade meios de investigação é que se aceitou durante todo esse tempo a Gênese bíblica como é conhecida. POR QUE OS EQUÍVOCOS NELA EXISTENTES E QUE FORAM EXPOSTOS PELA CIÊNCIA NÃO PODEM SER INTERPRETADOS COMO CONTESTAÇÃO AOS ATRIBUTOS DA DIVINDADE? A ciência tem por missão descobrir as leis da Natureza, que, sendo obras de Deus, não podem ser contrariadas pelas religiões. Desconhecer o progresso para preservar a imagem da Divindade, como entendem determinadas religiões é contrariar as suas próprias leis, além de inútil, pois não se conseguiria obstar que a ciência avance e que a verdade venha à tona. As religiões que temem as descobertas da ciência fazem uma ideia mesquinha da Divindade, não compreendendo que assimilar as leis da Natureza que a ciência revela é glorificar a Deus em suas obras. PELO QUE SE VIU, É POSSÍVEL A COEXISTÊNCIA DA RELIGIÃO COM OS AVANÇOS DA CIÊNCIA? Kardec demonstra nesse capítulo que não só é possível como necessário. A religião sem o amparo da ciência torna-se uma fábrica de dogmas e mitos, que somente levam o homem à descrença. Perde a sua credibilidade. A ciência sem a religião afasta-se da sua função principal, que é aprofundar o estudo das leis da Natureza, divorciando-se do Criador e enveredando por uma caminho que não leva à evolução espiritual da humanidade. Perde a sua referência maior, que é avançar sempre visando o progresso e o bem do homem, passando a ser usada em sentido contrário ao que lhe destinou o Criador. QUAL A CAUSA DE MUITAS RELIGIÕES NÃO DISCUTIREM O ASPECTO CIENTIFICO DA ALMA: SUA ORIGEM E SUA DESTINAÇÃO? As religiões tradicionais assentaram suas bases em ideias dominantes nos primórdios da humanidade. Com base nessas ideias que vigoravam à época sobre o mecanismo do Universo e que eram desprovidas dos conhecimentos que a ciência mais tarde veio revelar, essas religiões estabeleceram seus dogmas de fé, cuja aceitação por parte de seus seguidores é ainda hoje imposta. Como esses dogmas não resistem ao mais superficial exame à luz das novas revelações trazidas pela ciência e estando neles fundamentadas, essas religiões preferem simplesmente ignorá-las, mantendo suas crenças, a despeito de contrariarem as leis da Natureza hoje conhecidas. O receio de ver desmoronar toda a construção levada a efeito durante séculos lhes faz ignorarem a ciência. QUAL A RAZÃO DA QUESTÃO DO HOMEM ESPIRITUAL CONTINUAR SOMENTE NA TEORIA? As questões relativas ao homem como espírito, à época da edição da obra que estamos estudando, carecia dos meios de observação que já haviam para exame das questões materiais. Também com relação a estas, enquanto o homem não conheceu as leis que as regem, não pôde aplicar o método experimental para estudá-las. Em consequência, adotou sistemas que hoje se mostram

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absolutamente equivocados, quanto ao mecanismo do Universo e à formação da Terra. Com o advento da Doutrina trazida pelos Espíritos, as leis que regem o mundo espiritual foram reveladas, permitindo à humanidade aprofundar o estudo do homem espiritual, agora com a utilização do método experimental. A mediunidade, mais desenvolvida, generalizada e, principalmente, estudada, veio servir de instrumento para que se explorasse a pesquisa e o estudo das relações entre os dois mundos existentes - o físico e o espiritual. Conhecendo, então, a realidade do mundo espiritual e obtendo de seus habitantes importantes informações, o homem pôde adquirir conhecimentos que os antigos comentadores da Gênese não possuíam, permitindo-lhe melhor compreendê-la e lhe retificarem os erros. NO QUE O ESPIRITISMO SE DIFERENCIA DAS OUTRAS FILOSOFIAS RELIGIOSAS? No que concerne ao tema objeto da obra que estamos estudando - a Gênese - o Espiritismo se distingue das demais concepções religiosas por admitir uma gênese exclusivamente compatível com os novos conhecimentos trazidos pela ciência, uma gênese livre das passagens miraculosas e sobrenaturais, que contrariam as leis da natureza. Sendo uma Doutrina que entende ser a fé raciocinada a única que realmente sustenta o homem nas lutas evolutivas, o Espiritismo não poderia nunca compactuar com determinados fatos narrados na gênese mosaica, que afrontam as leis de Deus e que, como temos estudado, são fruto do desconhecimento, reinante à época, das leis que regem o Universo.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 5 - ANTIGOS E MODERNOS

SISTEMAS DO MUNDO

Os antigos sistemas do mundo foram concebidos através dos meios de observação disponíveis à época. Sem possuir conhecimentos que apenas mais tarde o avanço da ciência veio lhe conferir, o homem formulou concepções que hoje soam absurdas. QUAIS OS FATORES APONTADOS POR KARDEC COMO CAUSADORES DA CONCEPÇÃO EQUIVOCADA DO UNIVERSO? Kardec aponta como motivo pelas antigas concepções dos sistemas do mundo o desconhecimento, à época, das leis que regem o Universo, reveladas mais tarde pela Física. Não dispondo dos meios de observação científica, que somente mais tarde veio a adquirir, o homem não possuía outra maneira de concebê-los senão pelo que observavam a olho nu e pelo que podiam perceber através dos sentidos físicos. Tiravam conclusões apenas pela aparência das coisas. Não dispondo de meios de locomoção que lhes permitissem realizar viagens a grandes distâncias, suas observações eram limitadas a pequenas áreas. Não lhes sendo possível, por exemplo, perceber a esfericidade da Terra, eram levados a concebê-la uma superfície plana, a se perder de vista no sentido horizontal. QUAL A CONCEPÇÃO QUE VIGORAVA A RESPEITO DO CÉU? O céu era tido como uma abóbada real, de forma côncava e com bordos inferiores repousando na Terra, cuja capacidade era enchida pelo ar. Não possuindo noção do espaço infinito, os homens imaginavam o céu constituído de matéria sólida, daí a denominação que lhe foi dada de "firmamento", ou seja, algo firme, resistente, ainda hoje utilizada.

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E COM RELAÇÃO ÀS ESTRELAS? A natureza das estrelas era totalmente desconhecida. Suspeitava-se serem pontos luminosos, de volumes diversos, encravados no céu, como lâmpadas dispostas numa única superfície. Todas guardariam a mesma distância da Terra. As expressões geradas por essas concepções, embora equivocadas, permanecerem até os dias atuais, tais como "abobada estrelada", "sob a cúpula do céu", dentre outras. IDEM, COM RELAÇÃO ÀS NUVENS? Igualmente era desconhecido o mecanismo do fenômeno de formação das nuvens pela evaporação das águas da Terra. Não se podia supor que a chuva vinda do céu tivesse origem na própria Terra, pois ninguém a via subir. Daí o surgimento da crença nas águas superiores e inferiores, em fontes celestes e terrestres, em reservatórios colocados nas altas regiões. Eram suposições compatíveis com a idéia de uma abóbada superior sólida, capaz de os sustentar. A chuva teria origem nas águas superiores que escapavam pelas frestas dessa abóbada. Conforme fossem mais ou menos largas as frestas, a chuva era branda, torrencial ou diluviana. COMO OS ANTIGOS SISTEMAS DO MUNDO VIAM A TERRA EM RELAÇÃO AOS ASTROS? Pelos sistemas do mundo que se formaram anteriormente às revelações trazidas pelo desenvolvimento da ciência, a Terra era considerada a coisa principal, ou seja, o centro do Universo e os astros acessórios criados exclusivamente em função de seus habitantes. Nenhuma finalidade útil era-lhes reconhecida, servindo eles, tão somente, na ótica desses sistemas, como uma espécie de adornos existentes no céu, para compor a paisagem terrena. RESUMIDAMENTE, COMO KARDEC EXPLICA A EVOLUÇÃO DESSAS IDÉIAS ATÉ OS DIAS DE HOJE? Aos poucos, percebeu-se o movimento aparente das estrelas, que se deslocam em massa do oriente para o ocidente, despontando ao anoitecer, ocultando-se pela manhã e conservando suas respectivas posições. Todavia, permaneceu a idéia de uma abóbada sólida, a arrastar consigo as estrelas, no seu movimento de rotação. Mais tarde, pela direção do movimento das estrelas e pelo periódico retorno delas, na mesma ordem, percebeu-se que a abóbada celeste não podia ser apenas uma semi-esfera posta sobre a Terra, mas uma esfera inteira, oca, em cujo centro se achava a Terra, sempre chata ou, quando muito, convexa e habitada somente na superfície superior. Mais tarde, com a exatidão possível à época, notou-se que certas estrelas tinham movimento próprio, independente da abóbada celeste, desfazendo-se a idéia de que se encontravam a ela presas, que foram denominadas estrelas errantes ou planetas, para serem distinguidas das que se encontravam fixas. Observando-se o movimento diurno da esfera estrelada, foi notada a imobilidade da Estrela Polar, ao redor da qual as outras se movimentavam. Foi o primeiro passo para o conhecimento da obliqüidade do eixo do mundo. Com as viagens tornando-se mais longas, observou-se a diferença dos aspectos do céu, segundo as latitudes e as estações, chegando-se, pouco a pouco, a se fazer uma idéia mais exata do sistema do mundo. Em 600 A.C., Tales, de Mileto descobriu a esfericidade da Terra, a obliqüidade da eclíptica e a causa dos eclipses. Um século depois, Pitágoras descobre o movimento diurno da Terra, sobre o próprio eixo, seu movimento anual em torno do Sol e incorpora os planetas e os cometas ao sistema solar. Hiparco, de Alexandria, 160 anos A.C., inventa o astrolábio, calcula e prediz os eclipses, observa as manchas do Sol, determina o ano trópico, a duração das revoluções da Lua. Obs: astrolábio - Instrumento náutico circular, usado em Astronomia para avaliar a posição dos astros e a sua altura acima do horizonte.

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QUAL A ORIGEM DA CRENÇA NO CÉU E INFERNO, COMO UMA REGIÃO FÍSICA?

A crença num céu e num inferno geograficamente demarcados teve origem nas teogonias pagãs, que tinham as profundezas da Terra como a morada dos réprobos, a que deram o nome de inferno, ou seja, lugares inferiores, destinado aos que contrariavam as leis de Deus. O céu, por essa mesma crença, era situado nas regiões superiores, além da região das estrelas, constituindo-se região habitada pelos bem-aventurados, isto é, aqueles que se portassem na Terra de conformidade com as leis divinas. Como a ciência desmistificou essa crença? A ciência desmistificou essa crença através da astronomia, demonstrando que inexiste no espaço lugares altos ou baixos.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 6 – URANOGRAFIA GERAL –

O ESPAÇO E O TEMPO

SÃO IDÊNTICOS OS NUMEROSOS MUNDOS EXISTENTES NO UNIVERSO? R - Uma simples observação dirigida a uma região qualquer do nosso globo permite-nos constatar uma variedade infinita de seres e de fenômenos produzidos pela Natureza. Vemos que as leis e as forças instituídas pelo Criador atuam incessantemente, numa atividade sem igual. A Natureza onipotente age conforme os lugares, os tempos e as circunstâncias, sem que isso venha a comprometer a harmonia que reina no seio da criação. As ações dessas leis e forças naturais são harmônicas, porém, múltiplas. Se, num pequeno mundo como o nosso planeta, que já vimos ser insignificante no contexto geral do Universo, é de tal variedade a ação da Natureza, quão mais variada, desenvolvida e pujante deve ser a sua ação em mundos inimaginavelmente maiores e mais complexos. Os sistemas planetários são, portanto, diferentes. A vida não se limita aos três reinos que aqui conhecemos. HÁ NO UNIVERSO UMA SÓ MATÉRIA OU VÁRIAS? R - Embora sejam diferentes as diversas substâncias que compõem o mundo, do ponto de vista de sua constituição íntima, a matéria é composta originariamente de um mesmo elemento primitivo, que é o fluido cósmico universal. Esta é a substância simples, única e geradora de todos os corpos. Apesar da dessemelhança quanto à solidez, compressibilidade, peso e propriedades dos corpos dos objetos naturais ou não que encontramos na Terra, da dessemelhança entre os gases da atmosfera, os minerais, os vegetais e mesmo a constituição íntima do planeta, tudo o que existe em termos de matéria são, tão somente, variações sob as quais ela se apresenta. QUAL A DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE ESPAÇO DADO PELAS DEFINIÇÕES ANTIGAS E A VISÃO DO ESPÍRITO GALILEU? R - Os antigos, principalmente os teólogos, concebiam o espaço como algo limitado, finito, constituindo uma extensão entre dois corpos. Assim, somente existiria espaço onde existisse corpos físicos, onde a matéria densa estivesse presente. Alegavam que certo número de corpos finitos não poderiam formar uma série infinita e que, onde acabassem os corpos, igualmente o espaço acabaria. Também definiram o espaço como sendo o lugar onde se movem os mundos, o vazio onde a matéria atua. O espírito Galileu, todavia, que subscreve o presente capítulo e cujos ensinamentos foram

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acolhidos por Kardec, trouxe a confirmação de que o espaço é infinito, posto que inimaginável qualquer limite. Isto é, existe o espaço mesmo onde não exista a matéria tal qual a conhecemos. PODEMOS ESTABELECER A ÉPOCA DO INÍCIO DA CRIAÇÃO PRIMÁRIA DAS COISAS? O começo absoluto das coisas está intimamente ligado à existência de Deus. Como Deus é infinito, ou seja, não teve começo nem terá fim, tendo existido de todo o sempre, concluiremos que o mesmo se dá com a eternidade. Tendo o Universo nascido do Eterno, a sua criação remonta a época inimaginável, ao Fiat Lux! da gênese mosaica. O início da criação primária, pois, remonta à própria Divindade. Por mais que imaginemos recuar no tempo, mesmo hipoteticamente, até onde vai a nossa capacidade de imaginação, milhões de século atrás, jamais chegaremos à época do começo da criação. Quais as principais características das leis e forças que atuam sobre a matéria? Podemos entender como as principais características das leis e das forças que atuam sobre a matéria os seguintes aspectos: 1º- terem sido fruto de uma única e soberana vontade - Deus, o criador de todas as coisas; 2º- são variadas, segundo as combinações da matéria; 3º- são diversificadas em seus efeitos, segundo as circunstâncias e os meios em que atuam; 4º- são eternas e estáveis e entre elas há perfeita harmonia. Ressalta o espírito Galileu estar se reportando às leis e forças que conhecemos na Terra. Possivelmente, noutros meios que escapam à nossa percepção, o fluido cósmico pode ter outras propriedades que por ora desconhecemos ou ser suscetível de combinações que não fazemos idéia, produzindo efeitos apropriados a necessidades que não sabemos ou dando lugar a novas percepções. SEGUNDO O ENSINAMENTO DE GALILEU, COMO FORAM FORMADOS OS SATÉLITES? R - O ensinamento de Galileu é no sentido de que os satélites foram formados pelo desprendimento de parte das massas que deram origem aos respectivos planetas. Segundo explica o Espírito, antes das massas planetárias atingirem um grau de resfriamento bastante para lhes solidificar, soltaram glóbulos líquidos, que, por efeito das mesmas leis que operaram a sua formação, adquiriram um movimento de translação em torno do planeta de onde foram desprendidos, como ocorreu com os planetas em relação ao astro central. O número e o estado dos satélites de cada planeta variam conforme as condições especiais em que eles se formaram, tendo alguns dado origem a vários satélites e outros a nenhum astro secundário. COMO PODEMOS RESUMIR O PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS SÓIS? Os sóis são resultado da condensação da matéria cósmica primitiva em forma de imensa nebulosa, por força das leis universais que regem a matéria. Essas mesmas leis lhes deram a forma de um esferóide e, em seguida, pelo movimento circular produzido pela gravitação de suas zonas moleculares em direção ao centro, modificou a esfera primitiva, dando-lhe a forma lenticular.

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O QUE SÃO OS COMETAS? R - Segundo o espírito Galileu, os cometas são astros errantes ou, como preferem alguns autores, viajantes (o termo errante é contestado, uma vez que dá idéia de falta de rumo, de algo vagante sem destino certo), que têm trajetória e periodicidade programadas e que permitem ao homem acompanhar o seu percurso e transpor os limites da Terra, calculando distâncias de longínquas regiões do espaço. Sua natureza etérea afasta todo e qualquer risco de choques violentos com a Terra, que, neste caso, o atravessaria, como se passasse através de um nevoeiro. São constituídos de gases congelados e poeira e têm alguns quilômetros de diâmetro. Quando se aproximam do Sol, sua superfície começa a se vaporizar sob a ação do calor, produzindo uma brilhante e reluzente cabeleira (uma imensa esfera de gás e poeira ao redor do núcleo, com até um milhão de quilômetros de diâmetro), uma cauda de gás e outra de poeira, que pode atingir até 100 milhões de quilômetros de comprimento. COMO A MENSAGEM DO ESPÍRITO GALILEU DEFINE A VIA-LÁCTEA? R - Segundo o espírito Galileu, a Via-Láctea é uma imensa região localizada no espaço sideral e composta por uma quantidade calculada em trinta milhões de sóis com seus respectivos planetas, que brilham em toda a sua extensão. Vista da Terra, é uma faixa esbranquiçada, que atravessa o céu de uma a outra extremidade. Por sua aparência leitosa, os antigos a cognominaram de Via-Láctea. O nosso sol, assim como todos os corpos dele originados e que o acompanham - planetas, satélites, estrelas, etc. - fazem parte desse imenso conjunto. Compara, ainda, a Via -Láctea a "uma campina matizada de flores solares e planetárias, que brilham em toda a sua enorme extensão". COMO PODEMOS ENTENDER OS CHAMADOS "DESERTOS DO ESPAÇO"? R - Por "desertos do espaço" é denominada a inimaginável região existente no espaço universal, localizada além da Via-Láctea que é por nós conhecida. São planícies de vácuo que se distendem pela amplidão afora, formadas por amontoados de matéria cósmica que se encontram isolados no espaço, como ilhas flutuantes de enormíssimo arquipélago, em região de dimensões incomensuráveis. Sua extensão não pode ser expressa por números acessíveis à nossa compreensão. De acordo com as hipóteses mais atualizadas da ciência, os desertos do espaço que separam os superaglomerados de galáxias atingem dimensões da ordem de 150 a 200 milhões de anos-luz. Somente através da imaginação nos é possível transpor tamanha imensidade. COMO PODEMOS DESCREVER AS CHAMADAS "ESTRELAS FIXAS"? R - As chamadas "estrelas fixas" são os diversos sóis existentes no espaço sideral, pertencentes a uma aglomeração de astros que recebe o nome de Via-Láctea. Embora chamados "estrelas fixas", estes sóis não se encontram imóveis na amplidão do Universo. Ao contrário, possuem movimento, regido pelas leis universais de gravitação. São solidários uns com os outros e comandam um sistema planetário composto de vários globos. Alguns destes sistemas chegam a possuir milhares de planetas. QUE PRINCÍPIO BÁSICO DO ESPIRITISMO É REAFIRMADO POR GALILEU NOS ITENS 53 A 55? R - O princípio básico do Espiritismo reafirmado por Galileu e que é pressuposto do “princípio da solidariedade humana” é o da pluralidade dos mundos habitados. Conforme os Espíritos responderam a Allan Kardec, todos os globos que se movem no espaço são habitados e há vida por toda a parte. Os ensinamentos de Galileu ora estudados reafirmam que, mesmo nas regiões mais distantes, inalcançáveis ainda à nossa imaginação, não há massas de matéria inerte. Inconcebível

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imaginar-se que vales e montanhas, sóis fecundos e resplandecentes de luz, onde a Natureza exibe toda a sua exuberância, sejam carentes de seres pensantes que os possam usufruir. Ou, como comenta Kardec, no Livro dos Espíritos, tenham sido criados apenas para recrearem a vista dos habitantes da Terra. Este princípio é, assim, reafirmado por Galileu e sem ele não haveria como existir o “princípio da solidariedade humana”. ASSIM COMO O NOSSO CORPO FÍSICO, OS PLANETAS TAMBÉM NASCEM, VIVEM UM CERTO PERÍODO E MORREM? R - Segundo o ensinamento dos Espíritos, "preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos" (questão 728 do Livro dos Espíritos). Portanto, a transformação dos planetas aqui preceituada por Galileu é o cumprimento da Lei de Destruição, uma das Leis Naturais instituídas por Deus. Não se trata de uma destruição inútil, terminativa, mas de uma destruição renovadora. Como os corpos humanos, também os planetas são matéria condensada, extraída do fluído cósmico universal e, como tal, sujeitos a uma transformação evolutiva. Cumpridas suas finalidades, passam pelo mesmo processo transformador inerente à toda e qualquer matéria, aí incluído o nosso corpo físico, ou seja, "nascem, vivem e morrem". Seus elementos constitutivos retornam à massa cósmica comum, para assimilarem novos elementos e se regenerarem, dando oportunidade ao surgimento de novos corpos planetários, cada vez mais perfeitos.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 7 - ESBOÇO GEOLÓGICO DA

TERRA

COMO SE DEU O SEU PROCESSO DE FORMAÇÃO, ATÉ CHEGAR AO ESTADO ATUAL? Desprendida da massa central que formou a nebulosa que deu origem ao sol, a matéria condensada desprendida, ao longo de muitos anos e pela ação das leis de movimento, recebeu novas camadas, de naturezas diferentes, que foram sendo superpostas umas às outras, em condições e formas distintas, até chegar ao seu estado atual. Algumas camadas inferiores, mais profundas, mais sólidas e que se formaram primeiro, provêm de matéria fundida, denunciando que sofreram a ação do fogo, durante o processo de sua formação. A última de todas, que se acha na superfície, é a camada da terra vegetal, que deve suas propriedades aos detritos de matérias orgânicas provenientes das plantas e dos animais. Outras apresentam substâncias depositadas pela ação da água, donde se conclui que o fogo e a água participaram da formação da matéria que constitui a camada sólida do globo. A QUE SE DÁ, EM GEOLOGIA, O NOME DE "ROCHAS"? E COMO SE FORMARAM? Em Geologia, o termo "rocha" nem sempre implica na idéia de uma substância pedrosa. Dá-se o nome de "rochas" às camadas do solo terreno situadas abaixo da camada vegetal, como um leito ou um banco feito de uma substância mineral qualquer. Umas são formadas de areia, de argila ou de terra argilosa, de marna, de seixos rolados; outras o são de pedras propriamente ditas, mais ou menos duras, tais como os mármores, os calcáreos ou pedras calcáreas, as pedras molares, ou carvões-de-pedra, etc. Diz-se que uma rocha é mais ou menos possante, conforme é mais ou menos considerável a sua espessura. Umas formaram-se pela ação do fogo; outras, pela ação de determinados agentes químicos ou por outras causas que as levaram ao endurecimento e, com o

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tempo, à consistência de pedra. EM QUE MOMENTO SE DEU O APARECIMENTO DA VEGETAÇÃO? A vegetação que encontramos no solo da Terra apareceu após a retirada das águas tranqüilas que, por longo tempo, cobriram extensas faixas do solo. A vegetação surgiu nos lugares cujas camadas eram dotadas de meios para assimilarem princípios nutritivos, após a retiradas das águas que os cobriam. Nos lugares onde o solo não era próprio para assimilar os princípios nutritivos, onde apenas foram depositadas areias silicosas, impróprias à agregação, formaram-se planícies arenosas, sem vegetação, que constituem os desertos. COMO SE EXPLICA A FORMAÇÃO DAS REGIÕES MONTANHOSAS? De conformidade com as leis de equilíbrio dos líquidos e da gravidade, os depósitos aquosos, via de regra, formam-se em planos horizontais. As montanhas, segundo deduz-se, apareceram de depósitos levantados por uma força qualquer, que formaram rochas duras, em posição inclinada e, às vezes, vertical e que foram arrastados para as baixadas pelas correntes e pelo próprio peso. Ou seja, depois dessas camadas terem sido solidificadas ou transformadas em pedras, as montanhas formaram-se pela convulsão do solo, que foi deslocado por leis e forças que atuam na Natureza. QUE CIRCUNSTÂNCIAS COMPROVAM A EXISTÊNCIA DE UM FOCO DE FOGO NO INTERIOR DO PLANETA? A existência de um foco de fogo no interior da Terra pode ser comprovada por pelo menos três circunstâncias que levam a esta conclusão: 1ª - o aumento progressivo da temperatura, à medida que se penetra no seu interior. A ciência concluiu que, a cada trinta metros de profundidade, dá-se um elevação de 1°C na temperatura, chegando a 6.000°C em seu núcleo; 2ª - a existência de fontes térmicas, que, quanto maior a profundidade em que se situam as nascentes, mais quentes são as suas águas e 3ª - o fogo e as matérias fundidas esbraseadas, que são expelidas pelos vulcões ou pelas fendas abertas por tremores de terra. Considerando que todo efeito tem uma causa, estas circunstâncias parece não deixarem dúvida quanto à existência de um foco central de fogo no interior do planeta, que seria, assim, uma massa incandescente, recoberta por uma crosta sólida, cuja espessura, estima-se, varia de seis quilômetros no leito dos oceanos a quarenta quilômetros no solo continental. A TERRA, EM SEUS PRIMÓRDIOS, ERA UMA MASSA INCANDESCENTE. COMO SE DEU O PROCESSO DE RESFRIAMENTO? Segundo se pode observar, o processo de resfriamento da Terra se deu naturalmente, ao contato com o ar. Foi um processo gradativo, que evoluiu pouco a pouco. Em virtude da irradiação do calor, iniciou-se o resfriamento, que começou pela superfície, que endureceu, permanecendo o interior em estado fluido. Com o endurecimento gradual da superfície, foram se formando camadas diferentes, que caracterizam os períodos geológicos admitidos pela ciência, até atingir a espessura hoje conhecida. Esse processo de resfriamento da Terra, para ser melhor compreendido, pode ser comparado ao que se submete um bloco de carvão, ao sair em brasa da fornalha. Sua superfície se apaga e resfria ao contacto do ar, enquanto o seu interior se mantém em brasa. SERIA POSSÍVEL, NESSA FASE DE SUA FORMAÇÃO, A EXISTÊNCIA DE SER VIVO NA TERRA? Durante esse período, devido ao estado de total incandescência em que se encontrava a matéria

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que a forma, a Terra não era ainda habitada por seres vivos. Estes surgiram na superfície do Planeta somente mais tarde, nos períodos geológicos que se seguiram a esse estado primitivo. Se fosse possível a sua existência, receberia luz apenas pelo brilho da massa incandescente e da atmosfera avermelhada que então dominava o planeta, em conseqüência do calor que era irradiado, sem que sequer pudesse notar a existência do Sol, cuja luz não podia ser percebida. EM TERMOS DE NUMERO DE ÁTOMOS, OU SEJA, DA PRESENÇA DE ELEMENTOS, QUAL A DIFERENÇA DO QUE EXISTIA NA ÉPOCA DA FORMAÇÃO DA TERRA E DO QUE EXISTE HOJE? Nesse período, a Terra não continha nenhum átomo a mais nem a menos do que hoje. Possuía os mesmos elementos que hoje são nela encontrados. Todavia, devido à incandescência que reinava àquela época, esses elementos, que hoje formam a água, a terra, as pedras e os metais, encontravam-se em estados diversos dos de hoje. Sofreram, unicamente, uma transformação, necessárias às condições de vida do globo, por força do resfriamento a que foram submetidos, o que gerou novas combinações. O ar dilatado se estendia a uma grande distância; a água, forçosamente era transformada em vapor, misturando- -se com o ar; as matérias, tais como os metais, o enxofre, o carbono, achavam-se em estado gasoso. O aspecto da atmosfera, desse modo, nada tinha de comparável ao que é hoje. Os únicos acréscimos que se agregaram e ainda se agregam à massa da Terra são os meteoros e a poeira cósmica que incidem sobre o planeta, que, porém, são insignificantes, comparados com a sua massa total.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 8 – TEORIAS SOBRE A

FORMAÇÃO DA TERRA

COMO TERIA SIDO FORMADA A TERRA, SEGUNDO A TEORIA DA PROJEÇÃO? De acordo com a teoria da projeção, formulada por Buffon, a Terra teria resultado do choque de um cometa com o sol a cujo sistema pertence, o que provocou o destacamento de uma porção deste. Projetada no espaço pela violência do choque, esta porção destacada se dividiu em fragmentos, que vieram a formar diversos planetas, dentre os quais a Terra. Segundo Buffon, estes fragmentos que vieram a formar os planetas continuaram a se mover circularmente, pela combinação das forças centrífuga e centrípeta, na mesma direção, do ocidente para o oriente e no mesmo plano. Os planetas seriam, assim, partes da substância incandescente do Sol e, por conseguinte, também teriam sido incandescentes, em sua origem. Levaram para se resfriarem e consolidarem um tempo proporcional aos seus volumes e, quando a temperatura o permitiu, a vida lhes despontou na superfície. POR QUE MANEIRA A CIÊNCIA REJEITA ESTA TEORIA, SEGUNDO A QUAL A TERRA NÃO PODERIA TER SIDO FORMADA POR UMA PARTE DESTACADA DO SOL, EM FUNÇÃO DO CHOQUE PROVOCADO POR UM COMETA? A ciência rejeita a teoria da projeção por várias razões, apontadas por Kardec: 1ª - Kardec aponta como uma das razões para a rejeição desta teoria o fato de os cometas serem formados por matéria gasosa, rarefeita, sem resistência bastante para causar fragmentos em parte do Sol e arremessá-los à distância. Embora a ciência atual, diferentemente do que se entendia à época do Codificador, defina os cometas como sendo um bloco de gelo e rocha, com alguns quilômetros de extensão, que, ante a proximidade do Sol, tem o gelo transformado numa grande cabeça de vapor, formando um longa cauda, pela força do vento solar, prevalece, de qualquer modo,

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a observação de Kardec, pois, ainda assim, um cometa não teria condições de provocar qualquer dano ao Sol, caso viesse a se chocar com ele; 2ª - Os planetas não teriam sido formados por partes da substância incandescente do Sol, como defendia Buffon, por ser este composto de matéria sólida, cercada de uma atmosfera luminosa, conhecida como fotosfera, que não se acha em contato com a sua superfície. Hoje, a ciência concluiu que se trata de um imenso globo de hidrogênio incandescente, cuja gravidade mantém os planetas em suas órbitas; 3ª - Ao tempo de Buffon, não eram conhecidos muitos dos planetas que hoje se conhece e que têm suas órbitas inclinadas entre 13 e 34 graus, o que não concorda com um movimento único de projeção, um dos fundamentos de sua teoria; 4ª - Os cálculos de Buffon acerca do resfriamento da massa terrestre, estimados em 74.000 anos, revelaram-se inexatos pela descoberta da lei do decrescimento do calor, por Fourier. Nos dias de hoje, estima-se que o processo de resfriamento da Terra levou milhões da anos para se completar. 5ª - Buffon considerou unicamente o calor central da Terra como o responsável pela temperatura de sua superfície, sem levar em conta o dos raios solares, concluindo, em consequência, que o planeta atingiria um estado de resfriamento que inviabilizaria a vida. Para a ciência atual, considerando a espessura da crosta terrestre, o calor interno do globo não contribui, de há muito, senão em parcela insignificante, para a temperatura da superfície exterior. COM RELAÇÃO AO RESFRIAMENTO DA TERRA E À EXTINÇÃO DA VIDA NO PLANETA, PODEMOS CONSIDERAR QUE A CIÊNCIA ATUAL CONFIRMA O PENSAMENTO DE KARDEC A RESPEITO DA TEORIA DE BUFFON? Como vimos acima, segundo Buffon, a Terra passaria por um processo de resfriamento de sua temperatura em decorrência da gradual diminuição do calor localizado no seu centro. Num certo tempo, que estimou em 93.000 anos, em virtude do gradual abaixamento do calor central, a Terra chegaria a um estado de resfriamento completo, que começaria pelos pólos e, pouco a pouco, atingiria todas as regiões do globo. Esse resfriamento congelaria toda a sua massa líquida e faria desaparecer todo o ar, fenômenos que tornariam impossível a vida no planeta, cujos seres iriam sumindo até o seu total desaparecimento. Kardec refutou esta previsão, como foi dito acima, considerando que Buffon baseou-se na premissa de que a temperatura da superfície exterior do planeta é influenciada apenas pelo calor interno do globo. Já àquela época, a ciência demonstrava que o principal fator determinante da temperatura externa da Terra são os raios solares, cujas variações de ação ditam essa temperatura. Hoje a ciência ratifica essas razões, explicando que, se eliminada a luz solar que ela intercepta, ocorreria um resfriamento tão violento que o próprio ar condensaria, formando uma camada de neve de oxigênio e nitrogênio. O calor que emana do interior do planeta seria insuficiente para dissolver essa neve, o que inviabilizaria a vida. QUAL TERIA SIDO A ORIGEM DA TERRA, SEGUNDO A TEORIA DA INCRUSTAÇÃO? Segundo esta teoria, a Terra atual teria sido formada pela fusão dos satélites de um planeta antigo, que esgotara a sua finalidade, à exceção da Lua, que permaneceu como satélite autônomo, usando do livre-arbítrio de que os globos também são dotados. Essa fusão teria se dado através de uma atração magnética dirigida pelas autoridades siderais. Os antigos satélites teriam sido soldados e as águas escoadas para os lugares vazios deixados pela Lua. Os seres então existentes foram colocados em estado de catalepsia e depois despertados, sendo o homem por último. Os satélites que teriam se fundido foram: Ásia, que trouxe a raça amarela; África, que trouxe a raça negra, Europa, que trouxe a raça branca e América, que trouxe a raça vermelha. Essa fusão explicaria os fósseis e os restos de animais extintos encontrados no novo planeta, que eram os animais que se adaptaram ao novo mundo e ao seu clima e por isso desapareceram.

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POR QUE KARDEC AFIRMA QUE A TERRA NÃO PODERIA TER SE FORMADO POR INCRUSTAÇÃO? A teoria da incrustação, além de não explicar a formação dos satélites cuja fusão teria originado a Terra, é contrariada pelos conhecimentos científicos revelados posteriormente à sua formulação. Assim é que os estudos geológicos atestam as diversas camadas que formam o solo da Terra, igualmente superpostas em todas as partes do Planeta, desde a camada granítica, a primeira que se formou e que é encontrada uniformemente e sem interrupção. Se formada pela fusão de diversos planetas, a parte correspondente a cada um deles deveria apresentar as características próprias do satélite originário. Além disso, a suposta soldadura haveria de ter deixado algum vestígio, considerando a sua profundidade, o que não ocorre. Também os fósseis das mesmas espécies de animais que são encontrados em todo o Planeta mostram os períodos de aparecimento, existência e desaparecimento nos seus diferentes pontos. Essa circunstância não se compatibiliza com a formação da Terra pela fusão de mundos diferentes, pois diferentes haveriam de ser os animais que os povoaram. POR QUE KARDEC CONSIDERA INVIÁVEL A HIPÓTESE DA TERRA SER DOTADA DE UMA ALMA, CONFORME APRESENTADO NA TEORIA DA INCRUSTAÇÃO? À medida que o espírito avança em sua evolução, vai plasmando um corpo físico cada vez mais sutil e com menos imperfeições, dotado das aptidões de que necessita para as tarefas a serem executadas na nova encarnação. Se admitirmos que a Terra possa ser dotada de um espírito especial que nela encarnasse, forçoso seria admitir que esse espírito estaria num nível de evolução muito atrasado, menos adiantado, ainda, do que o princípio inteligente que habita um vegetal, pois seu corpo sequer seria dotado de vitalidade. Por outro lado, seria um espírito ainda preso a caprichos, como o que fez com que a Lua não participasse, juntamente com os demais satélites do planeta desconhecido, da fusão que originou a Terra. Kardec ressalta que Deus, a inteligência suprema, não teria a imprevidência de confiar o cumprimento de suas leis a um espírito capaz de o contrariar. O QUE PROPÕE KARDEC EM SUBSTITUIÇÃO À IDÉIA DA ALMA DA TERRA? Trazendo a questão para o terreno da racionalidade, Kardec sugere que se possa entender como alma da Terra, numa imagem simbólica, a coletividade de Espíritos incumbidos da sua constituição e direção, a quem estão confiados os destinos morais e o progresso de seus habitantes. Essa missão, afirma o Codificador, somente pode ser atribuída a um ente superior em saber, que, embora não tenha afirmado expressamente, nós sabemos a quem se referiu.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 9 – REVOLUÇÕES DO GLOBO

COMO PODEMOS CONCEITUAR AS REVOLUÇÕES GERAIS E AS REVOLUÇÕES PARCIAIS OCORRIDAS NA TERRA? As revoluções gerais que se operaram na Terra foram aquelas descritas nos chamados "períodos geológicos" e que transformaram repetidas vezes o aspecto do globo. Nesses períodos, seus elementos constitutivos ainda não haviam encontrado posições definitivas, daí porque as revoluções ocorridas houveram de ser gerais, de modo a assentar uma um base consolidada, definitiva.

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Consolidada a superfície, a Terra ainda passou por inúmeras perturbações que a modificaram. Foram as chamadas "revoluções parciais", que, embora em grande número, foram parciais, localizadas em determinados pontos do planeta. Duas foram as causas que contribuíram para essas perturbações: o fogo e a água. QUAIS AS MODIFICAÇÕES NO PANORAMA DO GLOBO PRODUZIDAS PELO FOGO? O fogo produziu erupções vulcânicas, com suas espessas camadas de cinzas e lavas sepultando os terrenos que se encontravam em redor, com as respectivas cidades e habitantes. Produziu, ainda, a ação do fogo, terremotos e levantamentos da crosta sólida, impelindo as águas para regiões mais baixas e, em alguns lugares, afundamento da crosta para onde as águas se precipitaram, deixando seco outros locais. Surgiram, assim, as ilhas que hoje temos em meio a oceanos; porções de continentes se separaram e formaram ilhas e braços de mar, secados, ligaram ilhas e continentes. E PELA ÁGUA? As águas produziram a retirada do mar em algumas costas e desmoronamentos que interceptaram a corrente e formaram lagos, inundações e aterros nas embocaduras dos rios, criando novos territórios. QUE RAZÕES SÃO APONTADAS POR KARDEC PARA DEMONSTRAR QUE O DILÚVIO NÃO ATINGIU TODO O PLANETA? É hoje ponto pacífico por parte da ciência que esse dilúvio, embora tenha se estendido por uma grande superfície, foi apenas local e não universal nem ocasionado pela água da chuva, conforme consta na gênese mosaica. Kardec explica que, por maior que fosse a densidade da chuva, a quantidade de água, ainda que se prolongasse por quarenta dias, não poderia ser suficiente o bastante para cobrir toda a Terra, incluindo as mais altas montanhas. Pensavam os homens daquela época que a Terra era uma área plana, cuja extensão não passava dos locais até onde lhes era permitido o acesso. Como o dilúvio inundou toda a área em que vivia os ascendentes do povo hebreu, para o povo de então toda a Terra fora inundada, idéia que passou de geração a geração, até chegar ao tempo de Moisés. QUAIS AS RAZÕES APONTADAS POR KARDEC PARA AFIRMAR QUE A TERRA NÃO DEVERÁ PASSAR POR NOVOS CATACLISMOS GERAIS? Conforme explica Kardec, a Terra já superou a fase de grandes comoções que assinalaram os períodos geológicos. Naquela época, sua crosta era de fraca espessura, pouca resistência oferecendo à matéria em ebulição que se encontrava em seu interior. Com o gradual resfriamento da matéria, a crosta terrestre foi se tornando mais densa, consolidando-se e fazendo com que tais comoções fossem diminuindo. Com o solo solidificado, a Terra adquiriu estabilidade, com menos vulcões que ainda apresentam possibilidade de erupção e sem os cataclismos gerais de outrora. O Codificador admite, no entanto, que a Terra ainda poderá sofrer perturbações locais, por efeito de erupções vulcânicas, da eclosão de alguns vulcões novos, de inundações repentinas de algumas regiões, do surgimento de ilhas nos mares ou do desaparecimento de outras. Explica, porém, que passou o tempo dos grandes cataclismos gerais, como os que assinalaram os períodos geológicos que marcam a formação de seu solo. É CORRETA A AFIRMAÇÃO NO SENTIDO DE QUE A TERRA UM DIA TERÁ FIM? Os Espíritos ensinam que Deus renova os mundos como os seres vivos, podendo um planeta desaparecer, com a matéria que o compõe sendo disseminada no espaço. De conformidade com o

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resultado de recentes pesquisas, a ciência já considera aceitável a hipótese de que a Terra um dia deixará de existir, por efeito do calor solar que ocupará o seu espaço. Segundo acredita-se, após o esgotamento de seu combustível nuclear (hidrogênio), o Sol se expandirá e irá ocupar o espaço da Terra, dentre outros planetas que integram o seu sistema. Como consequência, estes planetas serão queimados pela ação das elevadas temperaturas solares e se extinguirão. No entanto, a Terra ainda está longe de dar cumprimento à finalidade que lhe foi destinada pelo Criador, de servir como habitação para os espíritos em evolução que compõem a sua humanidade. Considerando que tanto o planeta como a sua humanidade ainda se encontram longe da perfeição que podem alcançar e que nenhum sinal de declínio foi manifestado, podemos concluir que o seu fim se encontra muito distante e que não se dará ao tempo de seus atuais habitantes. QUAIS SERIAM OS CATACLISMOS FUTUROS DE QUE KARDEC NOS FALA? Os cataclismos futuros a que a Terra ainda pode ser submetida, segundo o Codificador, são de natureza moral. Sua humanidade ainda se encontra em pleno processo evolutivo para alcançar a perfeição a que está destinada. Enquanto os espíritos que a habitam não houverem atingido a perfeição relativa possível, através do progresso moral e intelectual, pela completa observância das leis naturais, o Planeta estará sujeito a perturbações causadas não mais pela Natureza, mas pelos homens. Ou seja, "serão antes morais e sociais do que físicas", conclui Kardec. CONFORME A TEORIA DE GALILEU, A TERRA UM DIA DEIXARÁ DE EXISTIR? De acordo com a teoria de Galileu, essa diminuição constante da massa da Terra ocasionará, num certo momento, a sua completa dissolução. A diminuição da massa modificará as suas condições de equilíbrio no espaço, pois o poder de atração está na razão direta da massa. O globo terrestre, então, será dominado por planetas mais poderosos, aos quais não pode fazer contrapeso, sofrendo profundas mudanças nas condições de vida em sua superfície. Conclui Galileu sua mensagem afirmando: "Assim, nascimento, vida e morte; ou infância, virilidade, decrepitude são as três fases por que passa toda aglomeração de matéria orgânica ou inorgânica. Indestrutível, só o Espírito, que não é matéria.

REFLEXÕES DO CAPÍTULO 10 – GENÊSE ORGÂNICA

Qual a semelhança entre o corpo físico do homem e do animal? O corpo físico do homem difere dos corpos dos animais apenas no aspecto formal. Do ponto de vista de sua constituição material, ambos são constituídos pelos mesmos elementos. Segundo explicação Kardec, hoje corroborada pela ciência, não há em seu corpo um único átomo diferente do que é encontrado nos corpos dos animais. A matéria é a mesma, sujeita ao mesmo processo de nascimento, vida, morte e transformação. Ao perder a vitalidade, assim como ocorre com os animais, seus elementos constitutivos são devolvidos à natureza, indo gerar novos corpos minerais, vegetais e animais, por meio de novas combinações. Como podemos interpretar a afirmação de Kardec, no sentido de que "o homem é o último anel da animalidade na Terra"? Os seres orgânicos constituem-se de corpos que estão submetidos a uma cadeia evolutiva que se eleva pouco a pouco, progredindo lenta e ininterruptamente. Assim, cada espécie é um aperfeiçoamento resultante da transformação da que está imediatamente abaixo. Do ponto de vista material, sendo constituído dos mesmos elementos que compõem os corpos dos animais, o homem

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é parte integrante dessa cadeia evolutiva, constituindo-se o ponto culminante de todo esse processo, no que se refere à vida na Terra. Por essa razão, Kardec afirma que "o homem é o último anel da animalidade na Terra", que define bem toda a trajetória que o princípio inteligente pode cumprir no planeta, no que diz respeito à matéria. Em que o Espiritismo se difere do materialismo, quanto à explicação da gênese? Diferente das ciências materialistas, o Espiritismo, quando pesquisa sobre o surgimento do homem na Terra, não se limita à matéria orgânica. As ciências materialistas consideram o homem apenas no seu aspecto material, limitando suas pesquisas à matéria orgânica. O Espiritismo demonstra que, além da matéria, há no homem um princípio espiritual, imaterial para os nossos sentidos, que tem vida própria e que é indestrutível. Enquanto as ciências terrenas se satisfazem com a explicação da gênese orgânica, pesquisando sobre o surgimento do homem tão somente no tocante ao seu corpo físico, o Espiritismo não as contesta, porém, vai além, prosseguindo a pesquisa para entender a criação e a evolução desse princípio espiritual. Vai, inclusive, além da gênese mosaica, que também se limitou ao aspecto material.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 11 - GÊNESE ESPIRITUAL

Princípio Espiritual – União do princípio espiritual e da matéria Hipótese sobre a origem dos corpos humanos – Encarnação dos Espíritos – Reencarnação – Emigrações e imigrações dos Espíritos – Raça adâmica – Doutrina dos anjos decaídos PRINCÍPIO ESPIRITUAL 1. – A existência do princípio espiritual é um fato que não tem, por assim dizer, mais necessidade de demonstração, como o princípio material; é, de qualquer maneira, uma verdade axiomática; afirma-se por seus efeitos, como a matéria pelo que lhe sejam próprios. De acordo com a máxima: “TODO EFEITO TENDO UMA CAUSA, TODO EFEITO INTELECTUAL DEVE TER UMA CAUSA INTELIGENTE”, não é ninguém que não faça a diferença entre o movimento mecânico de um sino agitado pelo vento, e o movimento deste mesmo sino destinado a dar um sinal, uma advertência, atestando por isso mesmo um pensamento, uma intenção. Ora, como não pode vir à ideia de ninguém atribuir o pensamento à matéria do sino, conclui-se que ele está movido por uma inteligência à qual sirva de instrumento para se manifestar. Pela mesma razão, ninguém tem a ideia de atribuir o pensamento ao corpo de um homem morto. Se o homem vivo pensa, é, pois, que há nele algo que não existe quando está morto. A diferença que existe entre ele e o sino é que a inteligência que faz este mover está fora dele, enquanto que a que faz agir o homem está nele mesmo. 2. – O princípio espiritual é o corolário da existência de Deus; sem este princípio, Deus não teria razão de existir porque nem se poderia mais conceber a soberana inteligência nem reinando durante a eternidade senão sobre a matéria bruta como um monarca terrestre só reinando durante toda sua vida sobre as pedras. Como não se pode admitir Deus sem os atributos essenciais da divindade; a justiça e a bondade, estas qualidades seriam inúteis se só se devessem ser exercidas sobre a matéria. 3. – Por outro lado, não se poderia conceber um Deus soberanamente justo e bom, criando seres inteligentes e sensíveis para consagrá-los ao nada após alguns dias de sofrimento sem

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compensações, entretendo sua vida desta sucessão indefinida de seres que nascem sem ter desejo, pensa um instante apenas para conhecer a dor, e se apagam para sempre após uma existência efêmera. Sem a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seria, da parte de Deus, uma crueldade sem motivo. Eis porque também o materialismo e o ateísmo são os corolários um do outro; negando a causa, não se pode admitir o efeito; negando o efeito não se pode admitir a causa. O materialismo é, pois consequente com ele próprio, se não o é com a razão. 4. A ideia da perpetuidade do ser espiritual é inata no homem; ela está nele no estado de intuição e de aspiração; compreende que aí somente está a compensação das misérias da vida; é porque sempre houve e haverá sempre mais espiritualistas que materialistas, e mais deístas que ateus. À ideia intuitiva e ao poder do raciocínio, o Espiritismo vem juntar a sanção dos fatos, a prova material da existência do ser espiritual, de sua sobrevivência, de sua imortalidade e de sua individualidade; ele precisa e define o que este pensamento tinha de vago e de abstrato. Mostra-nos o ser inteligente operante fora da matéria, quer após, quer durante a vida do corpo. 5. – O princípio espiritual e o princípio vital são eles uma só é mesma coisa? Partindo como sempre, da observação dos fatos, diremos que, se o princípio vital fosse inseparável do princípio inteligente, haveria alguma razão de confundi-los; mas, como se veem os seres que vivem e que nada pensam, como as plantas; corpos humanos serem ainda animados de vida orgânica nos quais não existe mais nenhuma manifestação do pensamento; que se produz no ser vivo movimentos vitais independentes de todo ato da vontade; que durante o sono a vida orgânica está em toda sua atividade, ao passo que a vida intelectual não se manifesta por nenhum sinal exterior, há lugar de admitir que a vida orgânica reside num princípio inerente à matéria, independente da vida espiritual que é inerente ao Espírito. Desde então que a matéria tenha uma vida independente do Espírito, e que o Espírito tenha uma vitalidade independente da matéria, fica evidente que esta dupla vitalidade repousa sobre dois princípios diferentes. 6. – O princípio espiritual, tê-lo-ia sua fonte no elemento cósmico universal? Não seria apenas uma transformação, um modo de existência deste elemento, como a luz, a eletricidade, o calor, etc.? Se o fosse assim, o princípio espiritual sofreria as vicissitudes da matéria; ele feneceria pela desagregação como o princípio vital; o ser inteligente só teria uma existência momentânea como o corpo, e, à morte, retornaria ao nada, ou, o que se tornaria no mesmo, no todo universal; seria, em uma palavra, a sanção das doutrinas materialistas. As propriedades sui generis que se reconhecem no princípio espiritual provam que ele tem existência própria, independente, pois, se tivesse sua origem na matéria, não teria estas propriedades. Desde então, que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se a esta conclusão, remontando os efeitos às causas, que o elemento material e o elemento espiritual são os dois princípios constituintes do Universo. O elemento espiritual individualizado constitui os seres chamados Espíritos, como o elemento material individualizado constitui os diferentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos. 7. – O ser espiritual sendo admitido e sua fonte não podendo ser a matéria, qual seria sua origem, seu ponto de partida? Aqui, os meios de investigação fazem absolutamente falta, como em tudo o que tenha com o princípio das coisas. O homem só pode constatar o que exista; sobre o que reste só pode emitir

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hipóteses; e seja que este conhecimento ultrapasse o portal de sua inteligência atual, seja que haja para ele inutilidade ou inconveniência de o possuir pelo momento, Deus não o dará, ainda que por revelação. O que Deus o faz dizer por seus mensageiros, e que, além disso, o homem possa deduzir por si próprio do princípio da soberana justiça que é um dos atributos essenciais da Divindade, é que todos têm um mesmo ponto de partida; que todos são criados simples e ignorantes com uma igual aptidão para progredir por sua atividade individual; que todos atingirão o grau de perfeição compatível com a criatura por seus esforços pessoais; que todos, sendo os filhos de um mesmo pai, são o objeto de uma igual solicitude; que nenhum deles será mais favorecido ou melhor dotado que os demais, e dispensado do trabalho que seria imposto a outros para atender o objetivo. 8. – Ao mesmo tempo em que Deus criou os mundos materiais de toda eternidade, igualmente criou seres espirituais de toda eternidade: sem o que os mundos materiais estariam sem finalidade. Conceber-se-ia de preferência os seres espirituais sem os mundos materiais do que estes últimos sem os seres espirituais. São os mundos materiais que deveriam fornecer aos seres espirituais os elementos de atividade para o desenvolvimento de sua inteligência. 9. – O progresso é a condição normal dos seres espirituais, e a perfeição relativa o objetivo que devam atingir; ora, Deus em tendo criado toda a eternidade, e em criando sem cessar, por toda eternidade também, tê-lo-ia atingido o ponto culminante da escala. Antes que a Terra existisse, mundos se sucederam aos mundos e, desde que a Terra saiu do caos dos elementos, o espaço era povoado por seres espirituais em todos os graus de adiantamento, desde os que nasciam à vida, até os que por toda eternidade, tinham tomado lugar entre os puros Espíritos, vulgarmente chamados de anjos. UNIÃO DO PRINCÍPIO ESPIRITUAL E DA MATÉRIA 10. – A matéria antes de ser o objeto do trabalho do Espírito para desenvolvimento de suas faculdades, seria preciso que ele pudesse agir sobre a matéria, é porque veio habitar, como o lenhador habita a floresta. Devendo ser ela por sua vez o motivo e o instrumento do trabalho, Deus, em lugar de uni-lo à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber todos os impulsos de sua vontade e de se prestar a todos os seus movimentos. O corpo é, pois, ao mesmo tempo, o invólucro e o instrumento do Espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste-se de uma veste apropriada ao novo gênero de trabalho que deva realizar, como se dá a um operário ferramentas menos grosseiras à medida que ele seja capaz de fazer uma obra mais cuidada. 11. PARA SER MAIS EXATO, É PRECISO DIZER QUE É O PRÓPRIO ESPÍRITO QUE ELABORA SEU ENVOLTÓRIO E O ADAPTA ÀS SUAS NOVAS FUNÇÕES; ELE O TORNA PERFEITO, SE REVELA E COMPLETA O ORGANISMO À MEDIDA QUE EXPERIMENTA A NECESSIDADE DE MANIFESTAR NOVAS FACULDADES; EM UMA PALAVRA, ELE O COLOCA NO MOLDE DA SUA INTELIGÊNCIA; DEUS LHE FORNECE OS MATERIAIS, PARA QUE ELE COLOQUE EM OBRA; É ASSIM QUE AS RAÇAS AVANÇADAS TÊM UM ORGANISMO, OU, COMO QUEIRA, UM APARELHAMENTO MAIS APERFEIÇOADO DO QUE AS RAÇAS PRIMITIVAS. Assim se explica igualmente a personalidade especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia e as maneiras do corpo. 12. – Desde que um Espírito nasça à vida espiritual, ele deve, para seu adiantamento, fazer uso de suas faculdades, a princípio, rudimentares; é porque ele se recobre de uma veste corpórea

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apropriada a seu estado de infância intelectual, roupagem esta que ele deixa para se revestir de outra à medida que suas forças crescem. Ora, como há tido em todos os tempos, mundos, e que estes mundos deram nascimento a corpos organizados próprios a receber Espíritos, em todos os tempos, Espíritos encontraram de alguma forma seu grau de adiantamento, os elementos necessários à sua vida carnal. 13. – O corpo, sendo exclusivamente material, sofre as vicissitudes da matéria. Após ter funcionado algum tempo, ele se desorganiza e se decompõe; o princípio vital, não encontrando mais elemento à sua atividade, esvai-se e o corpo morre. O espírito, já que o corpo privado de vida é daí em diante sem utilidade, deixa-o, como se deixa uma casa em ruína ou uma veste fora de serviço. 14. – O CORPO É APENAS UMA VESTE DESTINADA A RECEBER O ESPÍRITO: desde então pouco importa sua origem e os materiais dos quais ele seja construído. Que o corpo do homem seja uma criação especial ou não, ele não é menos formado dos mesmos elementos que o dos animais, animado do mesmo princípio vital, senão dito aquecido pelo mesmo fogo, como é iluminado pela mesma luz, sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas necessidades: é um ponto sobre o qual não há contestação. Em não considerar senão a matéria, fazendo-se abstração do Espírito, o homem nada tem, pois que o distinga do animal; mas tudo muda de aspecto si se fizer uma distinção entre a habitação e o habitante. Um grande senhor, sob um barraco ou vestido com a bata de um camponês, ele não se apresenta mais como grande senhor. É o mesmo com o homem; não é sua vestimenta carnal que o ergue acima do estúpido e o faz um ser à parte, é seu ser espiritual, seu Espírito. HIPÓTESE SOBRE A ORIGEM DO CORPO HUMANO 15. – Da similitude de formas exteriores que existe entre o corpo do homem e o de um símio, certos fisiologistas concluíram que o primeiro seria uma transformação do segundo. A isto nada há de impossível, sem que, se o for assim a dignidade do homem tenha que sofrer. Os corpos dos símios têm, muito bem, podido servir de vestimenta aos primitivos Espíritos humanos, necessariamente pouco avançados que vieram se encarnar na Terra, estas vestes sendo os meios apropriados a suas necessidades e mais próprios ao exercício de suas faculdades que os corpos de qualquer outro animal. Em lugar de uma veste especial que tenha sido feita pelo Espírito, ele o teria encontrado um todo pronto. Ele pôde, pois, se vestir da pele do símio, sem deixar de ser um Espírito humano, como o homem se reveste por vezes da pele de certos animais sem cessar de ser homem. Está bem entendido que se trata aqui, apenas, de uma hipótese que não está absolutamente posta em princípio, mas dada somente para mostrar que a origem do corpo não prejudica ao Espírito que é o ser principal e que a similitude do corpo do homem com o corpo do símio não implica na paridade entre seu Espírito e o do símio. 16 – Em se admitindo esta hipótese, pode-se dizer que sob a influência e pelo efeito da atividade intelectual de seu novo habitante, o invólucro se modificou, embelezando nos pormenores, no todo, conservando a forma geral do conjunto. Os corpos melhorados, em se procriando, reproduziram-se nas mesmas condições, como o é das árvores enxertadas; deram nascimento a uma nova espécie que, aos poucos se distanciavam do tipo primitivo à medida que o Espírito progredia. O Espírito simiesco, que não teve aniquilamento, continuou a procriar em corpos de símios a seu uso, como o fruto da planta enxertada reproduz enxertias, e o Espírito humano procriou corpos de homens, variantes do primeiro molde onde se estabelecera. A estirpe está bifurcada; produziu um rebento e este rebento se tornou raça.

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Como não existem transições bruscas na natureza, é provável que os primeiros homens que apareceram sobre a Terra deram pouca diferença do símio na forma exterior, e, sem duvida, nada muito além na inteligência. Há ainda em nossos dias, selvagens que, pelo comprimento dos braços e dos pés e a conformação da cabeça, tem totalmente as linhas do símio, que lhe faltam somente serem peludos para completarem a semelhança. ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS 17. – O Espiritismo nos ensina, de qual forma se opera a união do Espírito e do corpo na encarnação. O ESPÍRITO, PELA SUA ESSÊNCIA ESPIRITUAL, É UM SER INDEFINIDO, ABSTRATO, QUE NÃO PODE TER UMA AÇÃO DIRETA SOBRE A MATÉRIA; TORNA-SE-LHE PRECISO UM INTERMEDIÁRIO; ESTE INTERMEDIÁRIO ESTÁ NUM ENVOLTÓRIO FLUÍDICO (b) QUE FAZ, DE ALGUMA SORTE, PARTE INTEGRANTE DO ESPÍRITO, ENVOLTÓRIO SEMI-MATERIAL, a dizer, tendo a matéria por sua origem e a Espiritualidade por sua natureza etérea; como toda matéria, É HAURIDO DO FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL, que sofre nesta circunstância uma modificação especial. Este envoltório designado sob o nome de perispírito, um ser abstrato, faz do Espírito um ser concreto, definido, penhorável pelo pensamento; encontra-se apto a agir sobre a matéria tangível, tal como todos os fluidos imponderáveis que sejam, como se sabe, os mais possantes motores. O FLUIDO PERISPIRITUAL É, POIS, O TRAÇO DE UNIÃO ENTRE O ESPÍRITO E A MATÉRIA. Durante sua união com o corpo, é o veículo de seu pensamento para transmitir o movimento às diferentes partes do organismo que se movimentam sob o impulso da sua vontade, e para repercutir no Espírito as sensações produzidas pelos agentes exteriores. Tem por fios condutores os nervos, como no telégrafo, o fluido elétrico tem por condutor o fio metálico. 18. – LOGO QUE O ESPÍRITO DEVA SE ENCARNAR NUM CORPO HUMANO EM VIA DE FORMAÇÃO, UM LAÇO FLUÍDICO, QUE NÃO É OUTRO SENÃO UMA EXPANSÃO DO PERISPÍRITO, O AMARRA AO GERME SOBRE O QUAL ELE SE ENCONTRA LANÇADO POR UMA FORÇA IRRESISTÍVEL DESDE O MOMENTO DA CONCEPÇÃO. À MEDIDA QUE O GERME SE DESENVOLVE, O LAÇO SE APERTA; SOB A INFLUÊNCIA DO PRINCÍPIO VITAL MATERIAL DO GERME, O PERISPÍRITO, QUE POSSUI CERTAS PROPRIEDADES DA MATÉRIA, UNE-SE MOLÉCULA A MOLÉCULA COM O CORPO QUE SE FORMA; DE ONDE SE PODE DIZER QUE O ESPÍRITO, POR INTERMÉDIO DE SEU PERISPÍRITO, TOMA, DE ALGUMA FORMA, RAIZ NESTE GERME, COMO UMA PLANTA NA TERRA. QUANDO O GERME ESTÁ INTEIRAMENTE DESENVOLVIDO, A UNIÃO É COMPLETA E, ENTÃO, ELE NASCE À VIDA EXTERIOR. Por um efeito contrário, esta união do perispírito e da matéria carnal, que se encontra acoplada sob influência do princípio vital do germe, quando este princípio cessa de agir por consequência da desorganização do corpo, que só era mantida por uma força ativa, cessa quando esta força cessa de agir; então, o perispírito se desembaraça molécula a molécula, tal como se unira e o Espírito se encontrará em liberdade. NÃO É, POIS, A PARTIDA DO ESPÍRITO QUE CAUSA A MORTE DO CORPO, MAS A MORTE DO CORPO QUE CAUSA A PARTIDA DO ESPÍRITO. (c) 19. – O Espiritismo nos ensina, pelos fatos que ele nos põe, mesmo, a observar, os fenômenos que acompanham esta separação; é, algumas vezes, rápida, fácil, doce e insensível; outras vezes é muito lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito e pode durar meses inteiros.

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20. – Um fenômeno particular, igualmente registrado pela observação, acompanha sempre a encarnação do Espírito. Desde que este é preso pelo laço fluídico que o une ao germe, a perturbação se apodera dele; esta perturbação cresce à medida que o laço se aperta e, nos últimos momentos, o Espírito perde toda consciência dele próprio, de sorte que ele mesmo não se torna jamais testemunha consciente de seu nascimento. No momento em que a criança respira, o Espírito começa a recuperar suas faculdades que se desenvolvem à medida que se formam e se consolidam os órgãos que devam servir à sua manifestação. Aqui ainda manifesta-se a sabedoria que preside a todas as partes da obra da criação. Faculdades demasiadamente ativas usariam e quebrariam os órgãos delicados apenas esboçados. É porque sua energia é proporcional à força de resistência destes órgãos. 21. – Mas, ao mesmo tempo em que o Espírito recupera a consciência dele próprio, ele perde a lembrança de seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões adquiridas anteriormente, aptidões que estavam momentaneamente postas em estado latente e que, em retomando sua atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que teria feito precedentemente; ele faz renascer o que se fez pelo seu trabalho anterior; é para ele um novo ponto de partida, um novo degrau a galgar. Aqui ainda se manifesta a bondade do Criador porque a lembrança de um passado, frequentemente penoso ou humilhante, juntando-se às amarguras de sua nova existência, poderia perturbar-lhe e entravá-lo; ele só se lembra daquilo que aprendeu porque lhe será útil. Se, por vezes ele conserva uma vaga intuição dos acontecimentos passados, é como a lembrança de um sonho fugidio. É, pois um homem novo qualquer que seja a idade do seu Espírito; ele marcha por novos trâmites ajudado pelo que tenha adquirido. Tão logo retorna à vida espiritual, seu passado se desenrola a seus olhos. E ele julga se teve bem ou mal empregado seu tempo. 22. – Não há, pois, solução de continuidade na vida espiritual, malgrado o esquecimento do passado; o Espírito é sempre ele, antes, durante e depois da encarnação; a encarnação é somente uma fase de sua existência. Este esquecimento só acontece, mesmo, durante a vida exterior de relação; durante o sono, o Espírito, em parte desligado dos laços carnais, rendido à liberdade e à vida espiritual se lembra; sua vida espiritual não se torna mais tão obscurecida pela matéria. 23. – Em tomando a humanidade a seu grau o mais ínfimo da escala intelectual, entre os selvagens mais atrasados, indaga-se se é este o ponto de partida da alma humana. Conforme a opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, individualiza-se, elabora-se, em passando pelos diversos graus da animalidade; é ao que a alma se ensaia à vida e desenvolve suas primeiras faculdades para o exercício; será, por assim dizer, seu tempo de incubação. Chegado ao grau de desenvolvimento que comporta este estado, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria assim filiação espiritual, como o há filiação corpórea. Este sistema, fundado sobre a grande lei de unidade que preside a Criação, assegura, é preciso convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma resultante, um alvo, um destino aos animais, que não são mais seres deserdados, mas que encontram no porvir que lhe seja reservado uma compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual, não é sua origem, mas os atributos especiais dos quais está dotado à sua entrada na humanidade, atributos que o transforma e o faz um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga de onde saiu. Por ter passado pela fileira da animalidade, o homem não seria menos homem; não seria mais animal como o fruto não é raiz, que o sábio não é o disforme feto através do qual iniciou no mundo. Mas este sistema levanta numerosas questões do que não é oportuno discutir aqui os prós e o contra, senão examinar as diferentes hipóteses que têm sido feitas sobre este assunto. Sem, pois, procurar a origem da alma, e as fileiras pelas quais tenha podido passar, nós a tomamos à sua

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entrada na humanidade, ao ponto onde, dotada do senso moral e do livre arbítrio, começa a incorrer a responsabilidade de seus atos. 24. – A obrigação, para o Espírito encarnado de prover a nutrição do corpo, a sua segurança, o seu bem estar, o contrai a aplicar suas faculdades nestas pesquisas de exercê-las e de desenvolvê-las. Sua união com a matéria é, pois, útil a seu avanço, eis, porque a encarnação é uma necessidade. Por outro lado, pelo trabalho inteligente que opera a seu proveito, ele ajuda à transformação e ao progresso material do globo em que habite; é assim que, tudo em seu próprio progresso, ele concorre à obra do Criador do qual é agente inconsciente. 25. – Mas a encarnação do Espírito não é nem constante nem perpétua; é apenas transitória; deixando um corpo, ele não retoma um outro instantaneamente; durante um lapso de tempo mais ou menos considerável, ele vive a vida espiritual, que é sua vida normal: de tal sorte que a soma do tempo passado nas diferentes encarnações é de pouca monta, comparada àquela dos tempos que ele passou no estado de Espírito livre. No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, neste senso que coloca a proveito, para seu adiantamento, os conhecimentos e a experiência adquiridos durante a vida corpórea; – falamos de Espírito chegado ao estado de alma humana, tendo a liberdade de ação, e a consciência de seus atos. – Ele examina o que fez durante sua estada terrestre, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, endireita seus planos e toma as resoluções após o que ele conta se conduzir em uma nova existência tentando fazer melhor. É assim que cada existência é um passo adiante no caminho do progresso, uma sorte de escola de aplicação. A encarnação não é, pois, em absoluto, normalmente uma punição para o Espírito, como qualquer um possa pensar, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de progredir. À medida que o Espírito progride moralmente, ele se desmaterializa, a dizer que, livrando-se da influência da matéria, ele se depura; sua vida espiritualiza-se, suas faculdades e suas percepções se estendem; sua felicidade está em razão do progresso completado. Mas, como age em virtude de seu livre arbítrio, pode, por negligência ou mal querer, retardar seu avanço; prolonga, por consequência, a duração de suas encarnações materiais que se transformam então para ele em punição, já que, por sua falta, ele permanece nos lugares inferiores, obrigado a recomeçar a mesma empreitada. Depende, pois, de o Espírito abreviar, por seu trabalho de depuração sobre si próprio, a duração do período de encarnações. 26. – O PROGRESSO MATERIAL DE UM GLOBO SEGUE O PROGRESSO MORAL DE SEUS HABITANTES; ora, como a criação dos mundos e dos Espíritos é incessante, que os que progridem mais ou menos rapidamente em virtude de seu livre arbítrio, resulta disso que há mundos mais ou menos idosos, com diferentes graus de adiantamento físico e moral, onde a encarnação é mais ou menos material e, onde, por consequência, o trabalho, para os Espíritos é mais ou menos rude. Neste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados; povoada de Espíritos relativamente inferiores, a vida corpórea o é mais penosa do que em outros, como o é mais atrasados, onde é mais penoso ainda que sobre a Terra, e par os quais a Terra seria relativamente um mundo feliz. 27. – Tão logo os Espíritos tenham adquirido sobre um mundo a soma de progresso que comporta o estado deste mundo, eles o abandonam para se encarnarem em um outro mais avançado onde adquirem novos conhecimentos, e assim, em seguida, até que a encarnação em um corpo material não lhe sendo mais útil, vivam exclusivamente da vida espiritual, onde progridem ainda em um outro sentido e para outros fins. Chegado ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade; admitidos nos conselhos do Todo-Poderoso, têm seu pensamento, e tornam-se seus

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mensageiros, seus ministros diretos para o governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de diferentes graus de adiantamento. Assim, todos os Espíritos encarnados ou desencarnados, em qualquer grau da hierarquia que se apresentem, desde o menor até o maior, têm suas atribuições no grande mecanismo do Universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo em que sejam úteis a eles mesmos; aos menos avançados, como a de simples manobreiro, incumbe uma tarefa material, inicialmente inconsciente, depois gradualmente inteligente. Por toda parte a atividade no mundo espiritual, em nenhum lugar a inútil ociosidade. A coletividade dos Espíritos é de alguma sorte a alma do Universo; é o elemento espiritual que atua em tudo e por tudo, sob o impulso do pensamento divino. Sem este elemento só resta a matéria inerte, sem fim finalidade, sem inteligência, sem outro motor além das forças materiais que deixam uma grande quantidade de problemas insolúveis; pela ação do elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser, tudo se explica; eis porque sem a Espiritualidade, tropeça-se em dificuldades insuperáveis. 28. – Desde que a Terra se encontrou nas condições climatéricas próprias à existência da espécie humana, os Espíritos vieram a se encarnar aí; e admite-se que encontraram os envoltórios todos feitos e que não tiveram senão que se apropriar para seu uso, compreende-se melhor ainda que pudessem tomar nascimento simultaneamente sobre vários pontos do globo. 29. – Bem que os primeiros que vieram devessem ser pouco avançados, em razão, mesmo, do que os que deveriam se encarnar em corpos muito imperfeitos, devia haver entre eles diferenças sensíveis nos caracteres e nas aptidões conforme o grau de seu desenvolvimento moral e intelectual; os Espíritos similares foram naturalmente agrupados por analogia e simpatia. A Terra encontrava-se assim povoada de diferentes categorias de Espíritos, mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso. Os corpos receberam o cunho do caráter do Espírito e seus corpos se procriaram conforme seu tipo respectivo, daí resultarem diferentes raças, no físico como em moral. Os Espíritos similares, continuando a se encarnar de preferência entre seus semelhantes, perpetuaram o caráter distinto físico e moral das raças e dos povos, que só se perde ao longo, por sua fusão e o progresso dos Espíritos. (Revista Espírita, julho 1860, página 198: Frenologia e Fisiognomia). 30. – Pode-se comparar os Espíritos que vieram povoar a Terra, a estas tropas de emigrantes de origens diversas que vão se estabelecer sobre um terreno virgem. Encontram aí a madeira e a pedra para fazer sua habitação e cada qual dá à cena um carimbo (marca) diferente, conforme o grau de seu saber e de sua inteligência. Grupam-se então por analogia de origens e de gostos; estes grupos acabam por formar tribos, a seguir povos tendo cada qual seus costumes e seu caráter próprio. 31. – O progresso nunca foi uniforme em toda espécie humana; as raças as mais inteligentes adiantaram-se naturalmente às outras, sem contar que Espíritos novamente nascidos à vida espiritual vieram encarnar-se na Terra após os primeiros chegados, gerando a diferença do progresso mais sensível. Seria impossível, de fato, dar a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos símios, quanto aos chineses, e ainda menos em relação aos europeus civilizados. Estes Espíritos de selvagens, entretanto, pertencem também à humanidade; eles atenderão um dia ao nível de seus primogênitos, mas isto não será certamente nos corpos da mesma raça física, imprópria a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento não for mais relativo com seu desenvolvimento, eles migrarão deste meio para se encarnar em um grau superior, e assim em seguida até que tenham conquistado todos os graus terrenos, após o que deixarão a

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Terra para passar em mundos gradativamente mais avançados. (Revista Espírita, abril 1862 página 97: Perfectibilidade da raça negra). REENCARNAÇÕES 32. – O PRINCÍPIO DA REENCARNAÇÃO É UMA CONSEQÜÊNCIA FATAL DA LEI DO PROGRESSO. Sem a reencarnação, como explicar a diferença que existe entre o estado social atual e o dos tempos de barbáries? Se as almas são criadas ao mesmo tempo em que os corpos, as que nascem atualmente são todas também novas, todas também primitivas que as que viveram há mil anos; aditemos que não haja entre elas nenhuma conexão, nenhuma relação necessária; que elas sejam completamente independente umas das outras; por que, então, as almas da atualidade seriam melhores dotadas por Deus que as predecessoras? Por que elas compreenderiam melhor? Por que teriam instintos mais apurados, usos mais doces? Por que teriam intuições de certas coisas sem lhes ter ensinado? Desafiamos de sair daí, a menos que se admita que Deus criasse almas de diversas qualidades, conforme os tempos e os lugares, proposição inconciliável com a ideia de uma soberana justiça. Ditas, ao contrário, que as almas atuais já viveram nos tempos recônditos; que puderam ser bárbaras como seu século, mas que progrediram; que a cada nova existência elas levem as aquisições das existências anteriores; que, por consequência, que as almas dos tempos civilizados são almas não criadas mais perfeitas, mas que se aperfeiçoaram elas mesmas com o tempo, e tereis a única explicação plausível da causa do progresso social. (O Livro dos Espíritos, capítulo IV e V). Algumas pessoas pensam que as diferentes existências da alma efetuam-se de mundo em mundo, e não sobre um mesmo globo onde cada Espírito só aparece uma única vez. Esta doutrina seria admissível se todos os habitantes da Terra estivessem exatamente ao mesmo nível intelectual e moral; eles não poderiam então progredir senão em indo num outro mundo e sua reencarnação na Terra seria sem utilidade; ora, Deus não faz nada de inútil. Desde o instante que aí se encontram todos os graus de inteligência e de moralidade, a partir da selvageria que costeia o animal até a civilização a mais avançada, ela apresenta um vasto campo de progresso; perguntar-se-ia porque o selvagem seria obrigado ir procurar em outro lugar o grau acima dele quando se encontra a seu lado, e assim, de próximo em próximo; porque o homem avançado não teria podido fazer suas primeiras etapas senão em mundos inferiores, enquanto que os análogos de todos esses mundos estão em torno dele; que há diferentes graus de progresso não somente de povo a povo, mas no mesmo povo, mas no mesmo povo e na mesma família? Em sendo assim, Deus teria feito algo de inútil, colocando lado a lado a ignorância e o saber, a barbárie e a civilização, o bem e o mal, ao passo que é precisamente este contato que faz avançar os retardatários. Não há, pois, mais necessidade ao que os homens troquem de mundo a cada etapa. Como não o há para que um escolar troque de colégio a cada classe; longe disso, foi uma vantagem para o progresso o que seria um entrave, porque o Espírito estaria privado do exemplo que lhe oferece a vida dos graus superiores, e da possibilidade de reparar seus danos no mesmo meio e à atenção dos que tenha ofendido, possibilidade que lhe é o mais poderoso meio de adiantamento moral. Após uma curta coabitação, os Espíritos, dispersando-se e tornando-se estranhos uns dos outros, os laços de família e de amizade, não tendo tempo de se consolidar, seriam rompidos. Que os Espíritos deixem por um mundo mais avançado aquele que eles não possam mais nada adquirir, deve acontecer e o é; tal é o princípio. Se o é que o deixem ir adiante, é sem dúvida por causa individual que Deus pesa em sua sabedoria.

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Tudo tem um objetivo na criação, sem o que Deus não seria nem prudente nem sábio; ora, se a Terra não devesse ser senão uma só etapa para o pregresso de cada indivíduo, que utilidade teria ela para os jovens em tenra idade de ai vir passar alguns anos, alguns meses, algumas horas, durante as quais eles nada podem adquirir? Da mesma forma, para os idiotas e os cretinos. Uma teoria só é boa quando a condição resolve todas as questões que a ela se amarram. A questão do morto prematuro tem sido uma pedra de tropeço para todas as doutrinas, exceto para a doutrina espírita que é a única que tem solução de maneira racional. Para os que percorrem sobre a Terra uma carreira normal, há para o progresso, uma vantagem real a se reencontrar no mesmo meio, para aí continuar o que deixaram inacabado, durante a mesma família ou em contato com as mesmas pessoas, para reparar o mal que tenham podido fazer, ou por sofrer a pena de talião. EMIGRAÇÃO E IMIGRAÇÃO DE ESPÍRITOS 33. – No intervalo de suas existências corpóreas, os Espíritos estão no estado de erraticidade, e compõem a população espiritual ambiente do globo. Pelas mortes e nascimentos, estas duas populações diversificam incessantemente uma das outras; existe, pois, diariamente emigrações do mundo corpóreo para o mundo espiritual, imigrações do mundo espiritual no mundo corpóreo: é o estado normal. 34. – A certas épocas, regradas pela sabedoria divina, estas emigrações e estas imigrações operam-se em massa mais ou menos consideráveis por sequência de grandes revoluções que se fazem partir ao mesmo tempo quantidades inumeráveis, que são logo recolocadas por quantidades equivalentes de encarnações. É preciso, pois, considerar os flagelos destruidores e os cataclismos como ocasiões de chegadas e de partidas coletivas, maneiras providenciais de renovar a população corporal do globo, de revigorá-la pela introdução de novos elementos espirituais mais depurados. Se nestas catástrofes há destruição de um grande número de corpos, não há senão vestimentas devastadas, mas nenhum Espírito perece: só fazem trocar de meio; em lugar de partirem isoladamente, eles partem em quantidade, eis, pois toda diferença, porque partir por uma causa ou por outra, não se deve menos fatalmente partir cedo ou tarde. As renovações rápidas e quase instantâneas que se operam no elemento espiritual da população, em sequência dos flagelos destruidores, apressam o progresso social; sem as emigrações e as imigrações que vêm de tempos em tempos dar-lhe um violento impulso, eles marchariam com uma extrema lentidão. É notável que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre seguidas de uma era de progresso na ordem física, intelectual ou moral, e por sequência no estado social da nação entre aqueles elas se efetuam. É que tiveram por objetivo operar um remanejamento na população espiritual, que é a população normal e ativa do globo. 35. – Esta transfusão que se opera entre a população encarnada e a população desencarnada de um mesmo globo, opera-se igualmente entre os mundos, seja individualmente nas condições normais, seja por massas em circunstâncias especiais, Há, pois, emigrações e imigrações coletivas de um mundo a outro. Resulta disso a introdução, na população de um globo, de elementos inteiramente novos; novas raças de Espíritos vindo se misturar às raças existentes, constituindo novas raças de humanos. Ora, como os Espíritos não perdem nunca o que adquiriram, eles aportam com sua inteligência e intuição de conhecimentos que possuam; imprimem, por consequência, suas características à raça corpórea que venham animar. Não têm necessidade, para isso, senão de que novos corpos sejam criados especialmente para seu uso; desde que a espécie corpórea existe, eles o encontram todos prontos a os receber. São, pois, simplesmente novos habitantes; chegando à

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Terra, eles fazem, a princípio, parte de sua população espiritual, após o que se encarnam como os outros. RAÇA ADÂMICA 36. – Conforme o ensinamento dos Espíritos, é uma dessas grandes imigrações, ou, se o queira, uma destas colônias espirituais vinda de uma outra esfera que deu nascimento à raça simbolizada na personalidade de Adão e, por esta razão, denominada raça adâmica. Quando ela chegou, a Terra era povoada desde tempos imemoriais, como a América quando vieram os europeus. A raça adâmica, mais avançada do que aquelas que a tinham precedido na Terra, é, em efeito, a mais inteligente; é ela que empurra todas as outras ao progresso. A Gênese no-la mostra-nos, desde seu começo, industriosa, apta às artes e às ciências, sem ter passado pela infância intelectual, o que não é próprio das raças primitivas, mas que concorda com a opinião de que ela se compunha de Espíritos tendo já progredido. Tudo prova que ela não é anciã sobre a terra, e nada se opõe ao que ela só esteja aqui após alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas, e tenderia, ao contrário, em confirmá-las. 37. – A doutrina que faz proceder todo o gênero humano de uma só individualidade após seis mil anos, não é admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, tiradas da ordem física e da ordem moral, resumem-se nos seguintes pontos: 38. – No ponto de vista fisiológico, certas raças apresentam tipos particulares característicos que não permitem de lhes assinalar uma origem comum. Há diferenças que não são evidentemente o efeito do clima, já que os brancos que se reproduzem nos países dos negros não se tornam negros, e reciprocamente. O ardor do Sol grelha e brune a epiderme, mas, jamais transformou um branco em negro, achatando o nariz, trocando a forma dos traços da fisionomia, nem tornou encrespado e lanoso os cabelos longos e sedosos. Sabe-se atualmente que a cor do negro provém de um tecido particular subcutâneo que possui a espécie. É preciso, pois, considerar as raças negras mongólicas, caucásicas, como tendo suas origens próprias e tendo nascimento simultaneamente ou sucessivamente sobre diferentes partes do globo; seu cruzamento produziu raças mistas secundárias. Os caracteres fisiológicos das raças primitivas são o indicativo evidente de que elas provêm de tipos especiais. As mesmas considerações existem, pois, para o homem como para os animais, quanto à pluralidade das estirpes. 39. – Adão e seus descendentes são representantes na Gênese como homens essencialmente inteligentes, já que, desde a segunda geração, eles constroem cidades, cultivam a terra, talham os metais. Seus progressos nas artes e nas ciências foram rápidos e constantemente sustentados. Não se conceberia, pois, que esta cepa tenha tido por rebentos povos numerosos tão atrasados, de uma inteligência tão rudimentar, que eles costeiam, ainda, em nossos dias, com a animalidade; que teriam perdido todo traço e até a menor lembrança tradicional do que o que faziam seus pais. Uma diferença tão radical nas aptidões intelectuais e no desenvolvimento moral atesta, com não menos evidência, uma diferença de origem. 40. – Independentemente dos fatos geológicos, a prova da existência do homem sobre a terra antes da época fixada pela Gênese é tirada da população do globo. Sem falar da cronologia chinesa, que remonta, diga-se, a trinta mil anos, dos documentos mais autênticos que atestam que o Egito, a Índia e outros países eram povoados e florescentes pelo menos três mil anos antes da era cristã, mil anos, por consequência, após da criação do primeiro homem, conforme a cronologia bíblica. Documentos e observações recentes não parecem deixar

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nenhuma dúvida atualmente sobre as relações que existiram entre a América e os velhos Egípcios; de onde é preciso concluir que esta região já era povoada por esta época. É necessário, pois, admitir que em mil anos a posteridade de um só homem tenha podido cobrir a maior parte da Terra; ora, uma tal fecundidade seria contrária a todas as leis antropológicas. A Gênese, ela própria nunca atribuiu aos primeiros descendentes de Adão uma fecundidade anormal, já que ela dá a enumeração nominal até Noé. 41. – A impossibilidade torna-se mais evidente si se admitir, com a Gênese que o dilúvio destruiu todo o gênero humano, à exceção de Noé e de sua família, que não era numerosa, no ano do mundo 1656, ou seja, 2348 anos antes de Jesus Cristo. Não seria, pois, em realidade, senão de Noé que dataria o povoamento do globo; ora, por esta época, a História designa Menés como rei do Egito. Quando os hebreus se estabeleceram neste último país, 642 anos depois do dilúvio, já era um poderoso império que teria sido povoado, sem falar das outras regiões, em menos de seis séculos, somente pelos descendentes de Noé, o que não é admissível. Remarquemos, de passagem, que os egípcios acolheram os hebreus como estrangeiros; seria espantoso que tivessem perdido a lembrança de uma comunidade de origem também próxima, naquele tempo em que conservavam religiosamente os monumentos de sua História. Uma rigorosa lógica, corroborada pelos fatos, demonstra, pois, da maneira a mais peremptória, que o homem está sobre a Terra desde um tempo indeterminado, bem anterior à época assinalada pela Gênese. Do mesmo modo, a diversidade das raças primitivas, por demonstrar a impossibilidade de uma proposição, é demonstrar a proposição contrária. Se a Geologia descobre traços autênticos da presença do homem antes do grande período diluviano, a demonstração será ainda mais absoluta. DOUTRINA OS ANJOS DECAÍDOS E DO PARAÍSO PERDIDO (1) 42. – O termo anjo, como vários outros, tem várias acepções: toma-se indiferentemente em boa e má parte, uma vez que se diz: os bons e os maus anjos, o anjo de luz e o anjo das trevas; daí segue-se que, em sua acepção geral, significa simplesmente Espírito. Os anjos não são seres fora da humanidade, criados perfeitos, mas Espíritos chegados à perfeição, como todas as criaturas, por seus esforços e seu mérito. Se os anjos fossem seres criados perfeitos, a rebelião contra Deus, sendo um sinal de inferioridade, os que se revoltaram não poderiam ser anjos. A rebelião contra Deus não se conservaria da parte de seres que fossem criados perfeitos, ao passo que ela concebe a parte de seres ainda atrasados. Por sua etimologia, o termo anjo (do grego aggelos), significa enviado, mensageiro; ora, não é racional supor que Deus tenha tomado seus mensageiros entre seres assaz imperfeitos para se revoltar contra ele próprio. 43. – Até que os Espíritos tenham atingido a um certo grau de perfeição, estão sujeitos a falir, seja no estado de erraticidade, seja no estado de encarnação. Falir é infringir a lei de Deus, bem que esta lei esteja inscrita no coração de todos os homens a fim de que eles não tenham necessidade da revelação para conhecer seus deveres, o Espírito só a compreende gradualmente e à medida que sua inteligência se desenvolve. Aquele que infringe esta lei por ignorância e falta de experiência que só se adquire com o tempo, apenas incorre em uma responsabilidade relativa; mas da parte daquele cuja inteligência está desenvolvida, que tendo todos os meios de se esclarecer, enfrenta a lei voluntariamente e pratica o mal com conhecimento de causa, é uma revolta, uma rebelião contra o autor da lei.

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44. – Os mundos progridem fisicamente pela elaboração da matéria, e moralmente pela depuração dos Espíritos que os habitam. A bondade aí está em razão da predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem é o resultado do avanço moral dos Espíritos. O progresso intelectual não é suficiente já que, com a inteligência, podem fazer o mal. Tão logo um mundo chegue a um de seus períodos de transformação que o deva fazer subir na hierarquia, as mutações se operam em sua população encarnada e desencarnada; é, então que têm lugar as grandes emigrações e imigrações. Aquilo que, malgrados sua inteligência e seu saber, preserva-se no mal, em sua revolta contra Deus e suas leis, será, daí para frente mais um entrave para o progresso moral ulterior, uma causa permanente de dificuldade para o repouso e a sorte dos bons, é por causa disso que são enviados para mundos menos adiantados; lá eles aplicarão sua inteligência e a intuição de seus conhecimentos adquiridos do progresso daqueles entre os quais são chamados a viver, ao mesmo tempo que expiarão, em uma série de existências penosas e por um duro trabalho, suas faltas passadas e seu endurecimento voluntário. Quem serão eles entre esse bando novo para eles, ainda na infância da barbárie, senão anjos ou Espíritos pecadores envoltos em expiação? A Terra de onde foram expulsos, não será para eles um paraíso perdido? Não seria para eles um lugar de delícias em comparação com o meio ingrato aonde vão se encontrar relegados durante milhares de séculos, até o dia em que terão o mérito da libertação? A vaga lembrança intuitiva que conservam em si é para eles como uma miragem distante que os chama àquilo que perderam por sua falta. 45. – Mas, ao mesmo tempo em que os malvados partem do mundo que habitavam, eles são substituídos por Espíritos melhores, vindos, que seja, da erraticidade deste mesmo mundo, que seja de um mundo menos avançado onde tiveram o mérito de deixar e para os quais sua nova morada é uma recompensa. A população espiritual estando assim renovada e purgada de seus piores elementos, ao fim de algum tempo o estado moral do mundo se encontre melhorado. Estas mutações são por vezes parciais, isto é, limitadas a um povo, a uma raça; por outras vezes, são generalizadas, quando o período de renovação for chegado para o globo. 46. – A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os Espíritos que dela fazem parte estiveram exilados sobre a terra, já povoada, mas por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que tiveram por missão fazer progredir, aportando entre eles as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não será este, com efeito, o papel que esta raça preencheu até este dia? Sua superioridade intelectual prova que o mundo de onde saíram estava mais avançado que a Terra; mas este mundo devendo entrar em uma nova fase de progresso, e estes Espíritos, ante sua obstinação, não tendo sabido de colocar nesta altura, teriam sido deslocados tornando-se um entrave à marcha providencial das coisas; eis porque foram excluídos, ao passo que outros mereceram substituí-los. Em relegando esta raça sobre esta terra de labor e de sofrimentos, Deus teve razão de lhes dizer: “Tu tirarás tua nutrição com o suor da tua fronte”. Em sua mansuetude, prometeu-lhe que lhe enviaria um Salvador, isto é, aquele que deveria esclarecer a respeito da rota a seguir por sair deste lugar de miséria, deste inferno e encontrar a felicidade dos eleitos. Este Salvador, Ele lhe enviou na figura do Cristo, que ensinou a lei de amor e de caridade desconhecida por eles e que deveria ser a verdadeira âncora de salvação. O Cristo tem não apenas ensinado a lei, mas deu o exemplo da prática desta lei, por sua mansuetude, sua humildade, sua paciência em sofrer sem murmúrio os tratamentos dos mais ignominiosos e as maiores dores. Para que uma tal missão fosse cumprida sem desvario, era preciso um Espírito livre das fraquezas humanas. É igualmente em via de fazer avançar a humanidade em um senso determinado que Espíritos superiores, sem ter a qualidade do Cristo, encarnaram-se a seu tempo, sobre a Terra para aí cumprir

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missões especiais que aproveitam em seu adiantamento pessoal se executarem conforme as vistas do Criador. 47. – Sem a reencarnação, a missão do Cristo seria um contrassenso, tal como a promessa feita por Deus. Suponhamos, com efeito, que a alma de cada homem seja criada no ato do nascimento de seu corpo e que ela só faça aparecer e desaparecer sobre a Terra, não há nenhuma relação entre as que vieram após Adão até Jesus Cristo, nem as que vieram após; elas são todas estranhas umas às outras. A promessa de um Salvador feita por Deus não poderia se aplicar aos descendentes de Adão se suas almas ainda não tinham sido criadas. Para que a missão do Cristo pudesse se encaixar às palavras de Deus, era preciso que elas pudessem se aplicar às mesmas almas. Se estas almas são novas elas não podem ser correlatas com as faltas do primeiro pai que é apenas o pai carnal e não o pai espiritual; senão, Deus teria criado almas maculadas por uma falta que não teriam cometido. A doutrina vulgar do pecado original implica, pois, na necessidade de uma correlação entre as almas do tempo de Cristo e a do tempo de Adão, e, por consequência da reencarnação. Ditas que todas essas almas faziam parte da colônia de Espíritos exilados sobre a Terra no tempo de Adão, e que elas estavam maculadas pela falta que as haviam feito exclusas de um mundo melhor, e vos teries a única interpretação racional do pecado original, pecado próprio a cada indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de um outro que jamais conhecera; ditas que tais almas ou Espíritos renasçam em diversas repetições sobre a terra na vida corpórea para progredir e se depurar; que o Cristo veio iluminar estas mesas almas não apenas para suas vidas ulteriores, e somente então vós dareis à sua missão um papel real e sério, aceitável pela razão. 48. – Um exemplo familiar, marcado por sua analogia, fará melhor compreender ainda os princípios que vieram a ser expostos: Em 24 de maio de 1861, a fragata Ifigênia conduzira à Nova Caledônia uma companhia disciplinar composta de 291 homens. O comandante da colônia lhes endereçou, à sua chegada, uma ordem do dia assim concebida: “Colocando o pé sobre esta terra longínqua, já cumpristes o papel que vos está reservado. “A exemplo de nossos bravos soldados da marinha servindo sob vossos olhos, vós nos ajudareis a levar com claridade, ao meio das tribos selvagens da Nova Caledônia, a bandeira da civilização. Não é uma bela e nobre missão, eu vos indago? Vós a enchereis dignamente. “Escutai a voz e os conselhos de vossos chefes. Estou na sua cabeça; que minhas palavras sejam bem entendidas. “A escolha de vosso comandante, de vossos oficiais, de vossos suboficiais e cabos é uma segura garantia de todos os esforços que serão tentados para fazer de vós excelentes soldados; eu digo mais, para vos elevar à altura de bons cidadãos e vos transformas em colonos honrados se o desejardes. “Vossa disciplina é severa; deve sê-la. Colocada em nossas mãos, ela será firme e inflexível, sabei-o bem; como também, justa e paternal, ela saberá distinguir o erro do vício e da degradação...” Eis, pois homens expulsos por suas más-condutas, de um país civilizado e enviados, por punição, para o meio de um povo bárbaro. Que lhe diz o chefe? “Afrontastes as leis de vosso país; lá, causastes embaraços e escândalos, e então, fostes enxotados; e vos enviaram para aqui, mas podereis aqui resgatar vosso passado; podereis, pelo trabalho, aqui criar um posição honrada e tornarem-se honestos cidadãos. Ter-vos-á, uma bela missão a preencher, a de levar a civilização

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entre as tribos selvagens. A disciplina será severa, mas justa, e saberemos distinguir os que se conduzirem bem.” Para esses homens relegados ao seio da selvageria, a mãe pátria, não será ela um paraíso perdido pelas suas faltas e por sua rebelião à lei? Sobre esta terra longínqua, não seriam anjos decaídos? A linguagem do chefe não seria a que Deus fez entender aos Espíritos exilados sobre a Terra: “Haveis desobedecido a minhas leis e é por isso que vos tenho banido do mundo onde poderíeis viver felizes e em paz; aqui sereis condenados ao trabalho, mas podereis, por vossa boa conduta, merecer vosso perdão por vossa falta, a dizer, o céu?” 49. – À primeira abordagem, a ideia de decaídos parece em contradição com o princípio de que os Espíritos não possam regredir; mas é necessário considerar que não se cogita de um retorno ao estado primitivo; o Espírito, embora em uma posição inferior, não perde nada daquilo que adquiriu; seu desenvolvimento moral e intelectual é o mesmo, qualquer que seja o meio onde se encontre colocado. É na posição do homem do mundo condenado à prisão por seus malfeitos; certamente, ele está decaído ao ponto de vista social, porém, não se tornou nem estúpido, nem mais ignorante. 50. – Crer-se-ia agora que estes homens enviados à Nova Caledônia vão se transformar subitamente em modelos de virtude? Que vão abjurar, de um só golpe seus erros passados? Não seria preciso conhecer a humanidade para supô-lo. Pela mesma razão, os Espíritos da raça adâmica, uma vez transferidos para a Terra do exílio, não teriam despojado instantaneamente seu orgulho e seus instintos maus; por longo tempo, ainda, conservaram suas tendências de origem, um resquício do velho fomento; ora, não é este o pecado original? A nódoa que eles trazem de nascença é a da araçá de Espíritos culpados e punidos àqueles a quem o caiba; tarefa que podem afastar pelo arrependimento, a expiação e a renovação do seu ser moral. O pecado original, considerado como a responsabilidade de uma falta cometida por um outro, é uma falta de senso e a negação da justiça de Deus; considerado, ao contrário, como consequência e saldo de uma imperfeição primária do indivíduo, não apenas a razão o admite, mas, encontra-se de total justiça a responsabilidade que provenha dela. NOTA (1) Quando, na Revista Espírita de janeiro de 1862, publicamos um artigo sobre a interpretação da doutrina dos anjos decaídos, apresentamo-la apenas como uma hipótese, tendo somente a autoridade de uma opinião pessoal controversa, já que, então, faltava-nos elementos assaz completos para uma afirmação absoluta. Demo-la a título de ensaio, com vistas de provocar o exame, bem determinado a abandoná-lo ou a modificá-lo, se houvesse lugar. Atualmente, esta teoria sofreu a prova do controle universal; não somente foi acolhida pela grande maioria dos Espíritos como a mais racional e de acordo com a soberana justiça de Deus, mas ela foi confirmada pela generalidade das instruções dadas pelos Espíritos sobre este assunto. É o mesmo que concerne à origem da raça adâmica. NOTAS DO TRADUTOR (a) Com a “teoria do nada”, isto é, o peso sem massa descoberto pelos astrofísicos, a Ciência caminha célere para admitir que, de fato, existam dois fundamentos na existência do Universo: a energia constituinte do mundo material e das formas, correspondente a 23% do mesmo e algo mais que até então não foi possível caracterizar, compondo os 73% restantes. Mas, é preciso que o Espiritismo caminhe pelas trilhas traçadas por Kardec para que possa influir junto aos cientistas, na proposição da existência da Espiritualidade. Enquanto insistirem em transformar o Espiritismo em mais uma seita evangélica, esta posição não será alcançada.

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(b) Na época de Kardec, tudo o que transcendia ao conhecimento da Ciência era considerado “fluido”. Atualmente o que se dizia “fluido perispiritual” é conhecido como “energia parapsíquica”, ou seja, correlata com a vida além da alma, transcendendo à matéria. O mesmo conceito no item seguinte, referente a “laço fluídico”. (c) Segundo pesquisas feitas no final do século XX, a vida celular orgânica persiste após o trespasse, por algum tempo e vai se deteriorando gradativamente, com maior ou menor velocidade, dependendo de cada caso. Por esse motivo, aceita-se a existência tácita deste campo perispiritual de que fala Kardec e que abandona o corpo no ato da morte; ele já foi detectado por espectrógrafos; os russos o denominam de psicossoma, embora não seja um corpo, mas um campo de energia parapsíquica. (d) Se compararem os itens 42 e 43 com as edições roustaingistas, o leitor verá que eles foram abolidos das mesmas porque nega a tese do anjo decaído, no caso, Lúcifer, que teria se rebelado contra Deus. Parece, mesmo, que Kardec tenha inserido tais itens para combater a tese docetista.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 12 - GÊNESE MOSAICA

Conforme o livro de Gênesis, no começo Deus criou o Céu e a Terra. Em seguida, relata o Gênesis: “Faça-se a luz e a luz foi feita”. Na sequência, vieram as plantas e as árvores frutíferas, os corpos de luz no firmamento, o Sol e a Lua. Depois, os animais aquáticos, os pássaros, os animais terrestres e, por fim, o homem. Mais um trecho de Gênesis: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança e que ele mande sobre os peixes do mar, os pássaros do céu, os animais, sobre toda a Terra e sobre todos os répteis que se movem na terra. Deus então criou o homem à sua imagem e o criou macho e fêmea. Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a Terra e sujeitai-a, dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem na terra”. Em seis dias, o Céu e a Terra ficaram prontos, com todos os seus ornamentos. No sétimo dia, após haver acabado todas as suas obras, o Senhor abençoou esse dia e o santificou, porque cessara de produzir todas as obras que criara. À vista do que o livro de Gênesis fala sobre a obra da criação, resumido nos tópicos acima, nota-se que sobre alguns pontos há notável concordância entre a Gênese mosaica e a doutrina científica; mas seria um erro acreditar que basta se substituam os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados para se tornar completa a analogia. Não menor erro seria acreditar que, afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese mosaica e a Ciência caminham lado a lado, sendo uma simples paráfrase da outra. Em primeiro lugar, é inteiramente arbitrário o número de seis períodos geológicos, pois que se eleva a mais de vinte e cinco o número das formações bem caracterizadas, número que, ao demais, apenas determina as grandes fases gerais. Tal ideia só foi adotada, em começo, para encaixar as coisas, o mais possível, no texto bíblico, numa época, aliás pouco distante, em que se entendia que a Ciência devia ser controlada pela Bíblia. Essa a razão por que os autores da maior parte das teorias cosmogônicas, tendo em vista facilitar-lhes a aceitação, se esforçaram por pôr-se de acordo com o texto sagrado. Logo que se apoiou no método experimental, a Ciência sentiu-se mais forte e se emancipou. Hoje, é ela que controla a Bíblia. De outro lado, a Geologia, tomando por ponto de partida unicamente a formação dos terrenos graníticos, não abrange, no cômputo de seus períodos, o estado primitivo da Terra. Tampouco se ocupa com o Sol, com a Lua e com as estrelas, nem com o conjunto do Universo, assuntos esses que pertencem à Astronomia. Para enquadrar tudo na Gênese, cumpre se acrescente um primeiro período, que abarque essa ordem de fenômenos e ao qual se poderia chamar período astronômico.

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Comparando-se o que diz a Ciência e o que relata a Gênese mosaica, o primeiro fato que ressalta é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde de maneira rigorosa, como muitos o supõem, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável se verifica na sucessão dos seres orgânicos, que é quase a mesma, com pequena diferença, e no aparecimento do homem, por último. É esse um fato importante. Há também coincidência, não quanto à ordem numérica dos períodos, mas quanto ao fato em si, na passagem em que se lê que, ao terceiro dia, «as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido». É a expressão do que ocorreu no período terciário, quando as elevações da crosta sólida puseram a descoberto os continentes e repeliram as águas, que foram formar os mares. Foi somente então que apareceram os animais terrestres, segundo a Geologia e segundo Moisés. Dizendo que a criação foi feita em seis dias, terá Moisés querido falar de dias de 24 horas, ou terá empregado essa palavra no sentido de período, de duração? É mais provável a primeira hipótese, se nos ativermos ao texto bíblico, primeiramente porque esse é o sentido próprio da palavra hebraica iôm, traduzida por dia. Depois, a referência à tarde e à manhã, como limitações de cada um dos seis dias, dá lugar a que se suponha haja ele querido falar de dias comuns. Não se pode conceber qualquer dúvida a tal respeito, estando dito, no versículo 5: «Ele deu à luz o nome de dia e às trevas o nome de noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia». Isto, evidentemente, só se pode aplicar ao dia de 24 horas, constituído de períodos de luz e de trevas. Ainda mais preciso se torna o sentido, quando ele diz, no versículo 17, falando do Sol, da Lua e das estrelas: «Colocou-as no firmamento do céu, para luzirem sobre a Terra; para presidirem ao dia e à noite e para separarem a luz das trevas. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia». Ora, tudo, na criação, era miraculoso e, desde que se envereda pela senda dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a Terra foi feita em seis vezes 24 horas, sobretudo quando se ignoram as primeiras leis naturais. Todos os povos civilizados partilharam dessa crença, até o momento em que a Geologia surgiu a lhe demonstrar a impossibilidade. Um dos pontos que mais criticados têm sido na Gênese é o da criação do Sol depois da luz. Tentaram explicá-lo, com o auxílio mesmo dos dados fornecidos pela Geologia, dizendo que, nos primeiros tempos de sua formação, por se achar carregada de vapores densos e opacos, a atmosfera terrestre não permitia se visse o Sol, que, assim, efetivamente não existia para a Terra. Semelhante explicação seria, porventura, admissível se, naquela época, já houvesse na Terra habitantes que verificassem a presença ou a ausência do Sol. Ora, segundo o próprio Moisés, então, somente plantas havia, as quais, contudo, não teriam podido crescer e multiplicar-se sem o calor solar. Há, pois, evidentemente, um anacronismo na ordem que Moisés estabeleceu para a criação do Sol; mas, involuntariamente ou não, ele não errou, dizendo que a luz precedeu o Sol. Com efeito, o Sol não é o princípio da luz universal; é uma concentração do elemento luminoso em um ponto, ou, por outra, do fluido que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades luminosas. Esse fluido, que é a causa, havia necessariamente de preceder ao Sol, que é apenas um efeito. Em princípio, pois, a asserção de Moisés é perfeitamente exata: é falsa no fazer crer que a Terra tenha sido criada antes do Sol. Estando, pelo seu movimento de translação, sujeita a esse último, a Terra houve de ser formada depois dele. É o que Moisés não podia saber, pois que ignorava a lei de gravitação. Com a mesma ideia se depara na Gênese dos antigos persas. No primeiro capítulo do Vendedad, Ormuz, narrando a origem do mundo, diz: «Eu criei a luz que foi iluminar o Sol, a Lua e as estrelas». (Dicionário de Mitologia Universal.) A forma, aqui, é sem dúvida mais clara e mais científica do que em Moisés e não reclama comentários. Donde vieram os Espíritos que se encarnaram na Terra, logo que ela reuniu condições para recebê-los?

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Muitos vieram, completamente formados, do espaço e de outros mundos, além dos que se formaram e chegaram à condição humana na própria Terra, em face da evolução do princípio espiritual ao longo dos milênios, através dos reinos inferiores da Criação. Os Espíritos que vieram de outros astros, ao chegarem à Terra, revestiram-se de corpos adequados às suas necessidades especiais, às suas aptidões, e que, fisionomicamente, tinham as características da animalidade. Sob a influência deles e por meio do exercício de suas faculdades, esses corpos se modificaram e se aperfeiçoaram; é o que a observação comprova. Achou-se, portanto, nosso mundo povoado de Espíritos de diversas categorias, mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso. Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram daí diferentes grupos, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral. Continuando a reencarnar entre os que se lhes assemelhavam, os Espíritos similares perpetuaram o caráter distintivo, físico e moral, dos povos, caráter esse que só com o tempo desaparece, mediante a fusão e o progresso deles. Pode-se, pois, comparar os Espíritos que vieram de outros mundos povoar a Terra a esses grupos de emigrantes de origens diversas que vão estabelecer-se numa terra virgem, onde encontram madeira e pedra para erguerem habitações, cada um dando à sua um cunho especial, de acordo com o grau do seu saber e com o seu gênio particular. Grupam-se então por analogia de origens e de gostos, acabando os grupos por formar tribos, em seguida povos, cada qual com costumes e caracteres próprios. (A Gênese, cap. XI, itens 29 a 31.) Por que o progresso não se fez uniformemente em todos os pontos da Terra? Não foi uniforme o progresso em toda a espécie humana, porque, como era natural, os grupos mais inteligentes adiantaram-se aos outros, mesmo sem se levar em conta que muitos Espíritos recém-nascidos para a vida espiritual, vindo encarnar na Terra juntamente com os primeiros aí chegados, tornaram ainda mais sensível a diferença em matéria de progresso. Seria, assim, impossível atribuir a mesma ancianidade de criação aos selvagens, que mal se distinguem do macaco, aos chineses e menos ainda aos europeus civilizados. (A Gênese, cap. XI, item 32.) Os Espíritos dos selvagens também progridem? Evidentemente. Os Espíritos dos selvagens também fazem parte da Humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma espécie, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento já não estiver em correspondência com o progresso que hajam alcançado, eles emigrarão daquele meio, para reencarnar noutro mais elevado e assim por diante, até que tenham conquistado todas as graduações terrestres, ponto em que deixarão a Terra, para passarem a mundos mais avançados. (A Gênese, cap. XI, item 32.)

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 12 - CARACTERES DOS

MILAGRES

Quando um determinado acontecimento nos provoca surpresa, como por exemplo, alguém passar no vestibular sem ter estudado “nadinha”, podemos pensar ou mesmo dizer a essa pessoa: “Que milagre!!!”]Com isso, temos que o milagre diz respeito a um fato ou um acontecimento que nos provoca surpresa, admiração e até certa dose de incredulidade, por tratar-se de algo inusitado, ou extraordinário e incomum.]Mas, por influência de certas concepções religiosas, o milagre representa a indicação de uma participação divina na vida das pessoas e nos fenômenos da natureza. E, em

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razão desse entendimento, o milagre também se refere a um ato ou acontecimento inexplicável, caracterizado por uma alteração súbita e fora do comum das leis da natureza, no qual Deus manifesta Seu poder.] O que dá grande relevância aos milagres é, justamente, essa sua origem sobrenatural e a impossibilidade de serem explicados. Ponderando sobre a atitude divina, Léon Denis (1846-1927), um dos principais continuadores do espiritismo após a morte de Allan Kardec, escreve: “O milagre é uma postergação das leis eternas fixadas por Deus, obras que são da sua vontade, e seria pouco digno da suprema Potência exorbitar da sua própria natureza e variar em seus decretos. [1] Deus faz milagres? Em princípio, até poderia fazer, se verdadeiramente acreditarmos que para Ele tudo é possível. E por que faria, se Ele mesmo criou leis perfeitas? O fato é que tudo o que é perfeito não carece de modificação ou de aperfeiçoamento, pois tudo nele já está previsto e providenciado, sem nada a corrigir nem improvisar! No entanto, a explicação espírita para os milagres defende que, na maneira de agir de Deus, não existe o regime de exceção e de privilégios, nem de exclusão ou de derrogação de Suas leis. E esse ensino encontra-se, principalmente, na obra A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO, em seu capítulo. XIII, denominado “Caracteres dos milagres”. Nele, Allan Kardec leciona que os milagres desaparecem na proporção exata do avanço do conhecimento científico dos processos da natureza: Foram fecundos em milagres os séculos de ignorância, porque se considerava sobrenatural tudo aquilo cuja causa não se conhecia. À proporção que a Ciência revelou novas leis, o círculo do maravilhoso se foi restringindo; mas, como a Ciência ainda não explorara todo o vasto campo da Natureza, larga parte dele ficou reservada para o maravilhoso. (...) O Espiritismo, pois, vem, a seu turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis. Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo material. Antigamente, havia muitas coisas consideradas como maravilhosas ou sobrenaturais. Algumas delas nem eram fatos reais, mas apenas crendices ou superstições sem fundamento. Os indivíduos, de então, não tinham condições de dar uma explicação racional para os fenômenos estranhos que aconteciam. Por falta de uma explicação lógica, chamaram-nos de milagres. Assim, em termos religiosos, o milagre passou a ser entendido como algo que não deve ser questionado, bastando apenas acreditar nele por meio da fé. Felizmente, a crença no maravilhoso ou no sobrenatural vem diminuindo, graças ao progresso da ciência e da tecnologia, que tem cada vez mais revelado e explicado as leis que regem o mundo material. Entretanto, não podemos menosprezar a importância da contribuição da Doutrina Espírita que, ao revelar a existência dos espíritos e como agem sobre os fluidos e sobre a matéria, tem explicado muitos fenômenos como sendo o efeito dessa causa espiritual. E os espíritos nada mais são do que a alma dos homens que já viveram na Terra, e que continuam com sua vida, porém no mundo espiritual. Sobre essa vida dos espíritos, Kardec ainda diz: Sua existência, portanto, é tão natural depois, como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo o está às que regem o princípio material; mas, como estes dois princípios têm necessária afinidade, como reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem das coisas.

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Para os que negam a existência dos espíritos – ou do princípio espiritual –, tudo o que existe no Universo se restringe à matéria. Assim, os fenômenos que tenham por base a ação dessa espiritualidade serão, inevitavelmente, classificados como sobrenaturais. E, em virtude de eles se caracterizarem por forças ainda desconhecidas da natureza e, por causa disso, não poderem ser comprovados através dos habituais métodos da ciência oficial, também poderão ser taxados de afeitos à fantasia, à imaginação, à ilusão ou à alucinação. Entretanto, a ciência espírita existe para demonstrar como funcionam as leis que regem os fenômenos do campo material em conjunto com o campo espiritual, mas sem se utilizar de métodos absolutamente idênticos ao da ciência oficial. E isso porque os fenômenos espíritas, na grande maioria das vezes, se caracterizam pela espontaneidade, o que requer procedimentos bastante particulares. No mesmo capítulo, ao se referir às mesas girantes, Allan Kardec tece algumas considerações, que, por analogia, poderão ser aplicadas ao entendimento das manifestações espíritas em geral: Antes de se conhecerem as propriedades da eletricidade, os fenômenos elétricos passavam por prodígios para certa gente; desde que se tornou conhecida a causa, desapareceu o maravilhoso. O mesmo ocorre com os fenômenos espíritas. (...) Entretanto, dir-se-á, admitis que um Espírito pode levantar uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio; não está aí uma derrogação da lei da gravidade? — Sim, da lei conhecida. Conhecem-se, porém, todas as leis? Antes que se houvesse experimentado a força ascensional de alguns gases, quem diria que uma pesada máquina, transportando muitos homens, poderia triunfar da força de atração? Ao vulgo, isso não pareceria maravilhoso, diabólico? Aquele que se houvera proposto, há um século, a transmitir uma mensagem a 500 léguas e receber a resposta dentro de alguns minutos, teria passado por louco; se o fizesse, teriam acreditado estar o diabo às suas ordens, porquanto, então, só o diabo era capaz de andar tão depressa. Hoje, no entanto, não só se reconhece possível o fato, como ele parece naturalíssimo. Por que, pois, um fluido desconhecido careceria da propriedade de contrabalançar, em dadas circunstâncias, o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso do balão? É, efetivamente, o que sucede, no caso de que se trata. O Espiritismo sempre se envolverá com explicações lógicas para o entendimento dos fenômenos conhecidos como sobrenaturais. Daí, a importância de seus adeptos estarem sempre atentos aos progressos da ciência, acompanhar tudo o que está acontecendo, para que o desenvolvimento de sua fé tenha como alicerce a razão, porque somente esta nos permite o real e profundo entendimento de todas as coisas. Para a doutrina espírita, a fé – essa confiança quanto à realidade espiritual, essa convicção de que o poder e sabedoria de Deus se manifestam através de leis imutáveis, porém amorosas – tem de ser esclarecida e bem fundamentada. E somente através dessa crença esclarecida que conseguiremos perseverar no bem, por entendermos que este é o mais satisfatório caminho para todos; que persistiremos em nosso esforço evolutivo, na certeza de que sempre alcançaremos resultados compensadores, agora ou depois, aqui ou na espiritualidade. Enfim, uma fé que nos permita melhor compreender os sofrimentos, superar as inevitáveis dificuldades da jornada terra, bem como transformar situações a partir da própria mudança interior. Therezinha Oliveira, ao abordar sobre “os milagres que o Espiritismo faz”, nos ensina: O Espiritismo coloca ao nosso alcance muitos recursos espirituais com os quais se torna possível acionarmos certas leis naturais e produzirmos alguns fenômenos que ajudem ao próximo e a nós mesmos. Mas quem procurar o Espiritismo somente para obter cura imediata de seus males físicos e espirituais, ou resolver de pronto seus problemas materiais, poderá ficar decepcionado. Porque somente se realiza o que estiver dentro das leis divinas. E o Espiritismo não tem por finalidade principal a realização de fenômenos, mas, sim, o progresso moral da humanidade.

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O maior milagre que o Espiritismo faz não é tirar problemas e dores do nosso caminho. É explicar-nos o porquê das coisas e ensinar-nos: como podemos melhorar a nós mesmos para gerarmos efeitos felizes; como prevenir e resolver problemas espirituais, desde que empreguemos vontade e esforço no sentido do bem; ou ainda, como suportar aquilo que, por ora, não pode ser mudado porque serve de expiação ou de prova. E os milagres que Jesus realizou? Sim, porque as páginas do Evangelho são repletas de sonhos, visões, curas, aparições, possessões e outros fenômenos inexplicados. Qual a explicação? De fato, Jesus fez apenas uma amostragem das realizações espirituais possíveis. “À época de Jesus, os milagres foram feitos para despertar as almas para a crença em Deus e nos espíritos, e eles abririam brechas nos corações a fim de o Evangelho penetrar.” [4] O Cristo, pela sua natureza superior, é um espírito que, por suas virtudes, encontra-se em nível intelectual, moral e espiritual muitíssimo acima da humanidade terrestre. Para finalizar, ainda Allan Kardec, sobre Jesus: “Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios.”

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 14 - FLUIDOS

NATUREZA E PROPRIEDADES DOS FLUIDOS

Elementos fluídicos

1. – A Ciência resolveu a questão dos milagres que mais particularmente derivam do elemento

material, quer explicando-os, quer lhes demonstrando a impossibilidade, em face das leis que regem

a matéria. Mas, os fenômenos em que prepondera o elemento espiritual, esses, não podendo ser

explicados unicamente por meio das leis da Natureza, escapam às investigações da Ciência. Tal a

razão por que eles, mais do que os outros, apresentam os caracteres aparentes do maravilhoso. É,

pois, nas leis que regem a vida espiritual que se pode encontrar a explicação dos milagres dessa

categoria.

2. – O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas

modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. (Cap.

X.) Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou

imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de

ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da

transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto

podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.

(Cap. IV, nos 10 e seguintes.)

Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fenômenos especiais: ao segundo

pertencem os do mundo visível e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados fenômenos

materiais, são da alçada da Ciência propriamente dita, os outros, qualificados de fenômenos

espirituais ou psíquicos, porque se ligam de modo especial à existência dos Espíritos, cabem nas

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atribuições do Espiritismo. Como, porém, a vida espiritual e a vida corporal se acham

incessantemente em contacto, os fenômenos das duas categorias muitas vezes se produzem

simultaneamente. No estado de encarnação, o homem somente pode perceber os fenômenos

psíquicos que se prendem à vida corpórea; os do domínio espiritual escapam aos sentidos materiais

e só podem ser percebidos no estado de Espírito. (1)

(1) A denominação de fenômeno psíquico exprime com mais exatidão o pensamento, do que a de

fenômeno espiritual, dado que esses fenômenos repousam sobre as propriedades e os atributos da

alma, ou, melhor, dos fluidos perispiríticos, inseparáveis da alma. Esta qualificação os liga mais

intimamente à ordem dos fatos naturais regidos por leis; pode-se, pois, admiti-los como efeitos

psíquicos, sem os admitir a título de milagres.

3. – No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre

modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria

tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo

princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo

invisível.

Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma

aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que

são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem

determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos

diferentes.

Lá, porém, como neste mundo, somente aos Espíritos mais esclarecidos é dado compreender o

papel que desempenham os elementos constitutivos do mundo onde eles se acham. Os ignorantes

do mundo invisível são tão incapazes de explicar a si mesmos os fenômenos a que assistem e para

os quais muitas vezes concorrem maquinalmente, como os ignorantes da Terra o são para explicar

os efeitos da luz ou da eletricidade, para dizer de que modo é que vêem e escutam.

4. – Os elementos fluídicos do mundo espiritual escapam aos nossos instrumentos de análise e à

percepção dos nossos sentidos, feitos para perceberem a matéria tangível e não a matéria etérea.

Alguns há, pertencentes a um meio diverso a tal ponto do nosso, que deles só podemos fazer idéia

mediante comparações tão imperfeitas como aquelas mediante as quais um cego de nascença

procura fazer idéia da teoria das cores.

Mas, entre tais fluidos, há os tão intimamente ligados à vida corporal, que, de certa forma, pertencem

ao meio terreno. Em falta de observação direta, seus efeitos podem observar-se, como se observam

os do fluido do imã, fluido que jamais se viu, podendo-se adquirir sobre a natureza deles

conhecimentos de alguma precisão. É essencial esse estudo, porque está nele a chave de uma

imensidade de fenômenos que não se conseguem explicar unicamente com as leis da matéria.

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5. – A pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia, é o ponto de partida do fluido universal; o

ponto oposto é o em que ele se transforma em matéria tangível. Entre esses dois extremos, dão-se

inúmeras transformações, mais ou menos aproximadas de um e de outro. Os fluidos mais próximos

da materialidade, os menos puros, conseguintemente, compõem o que se pode chamar a atmosfera

espiritual da Terra. É desse meio, onde igualmente vários são os graus de pureza, que os Espíritos

encarnados e desencarnados, deste planeta, haurem os elementos necessários à economia de suas

existências. Por muito sutis e impalpáveis que nos sejam esses fluidos, não deixam por isso de ser

de natureza grosseira, em comparação com os fluidos etéreos das regiões superiores.

O mesmo se dá na superfície de todos os mundos, salvo as diferenças de constituição e as

condições de vitalidade próprias de cada um. Quanto menos material é a vida neles, tanto menos

afinidades têm os fluidos espirituais com a matéria propriamente dita.

Não é rigorosamente exata a qualificação de fluidos espirituais, pois que, em definitiva, eles são

sempre matéria mais ou menos quintessenciada. De realmente espiritual, só a alma ou princípio

inteligente. Dá-se-lhes essa denominação por comparação apenas e, sobretudo, pela afinidade que

eles guardam com os Espíritos. Pode dizer-se que são a matéria do mundo espiritual, razão por que

são chamados fluidos espirituais.

6. – Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria tangível? Ela talvez somente seja

compacta em relação aos nossos sentidos; prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam os fluidos

espirituais e os Espíritos, aos quais não oferece maior obstáculo, do que o que os corpos

transparentes oferecem à luz.

Tendo por elemento primitivo o fluído cósmico etéreo, à matéria tangível há de ser possível,

desagregando-se, voltar ao estado de eterização, do mesmo modo que o diamante, o mais duro dos

corpos, pode volatilizar-se em gás impalpável. Na realidade, a solidificação da matéria não é mais do

que um estado transitório do fluido universal, que pode volver ao seu estado primitivo, quando

deixam de existir as condições de coesão.

Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria não é suscetível de adquirir uma

espécie de eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos, que parecem

autênticos, tenderiam a fazer supô-lo. Ainda não conhecemos senão as fronteiras do mundo

invisível; o porvir, sem dúvida, nos reserva o conhecimento de novas leis, que nos permitirão

compreender o que se nos conserva em mistério.

Formação e propriedades do perispírito

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7. – O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido

cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência ou alma. Já vimos

que também o corpo carnal tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido condensado e

transformado em matéria tangível. No perispírito, a transformação molecular se opera

diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O

corpo perispirítico e o corpo carnal têm pois origem no mesmo elemento primitivo; ambos são

matéria, ainda que em dois estados diferentes.

8. – Do meio onde se encontra é que o Espírito extrai o seu perispírito, isto é, esse envoltório ele o

forma dos fluidos ambientes. Resulta daí que os elementos constitutivos do perispírito naturalmente

variam, conforme os mundos. Dando-se Júpiter como orbe muito adiantado em comparação com a

Terra, como um orbe onde a vida corpórea não apresenta a materialidade da nossa, os envoltórios

perispirituais hão de ser lá de natureza muito mais quintessenciada do que aqui. Ora, assim como

não poderíamos existir naquele mundo com o nosso corpo carnal, também os nossos Espíritos não

poderiam nele penetrar com o perispírito terrestre que os reveste. Emigrando da Terra, o Espírito

deixa aí o seu invólucro fluídico e toma outro apropriado ao mundo onde vai habitar.

9. – A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do

Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudar de envoltório a seu bel-prazer, pelo que não

podem passar, a vontade, de um mundo para outro. Alguns há, portanto, cujo envoltório fluídico, se

bem que etéreo e imponderável com relação à matéria tangível, ainda é por demais pesado, se

assim nos podemos exprimir, com relação ao mundo espiritual, para não permitir que eles saiam do

meio que lhes é próprio. Nessa categoria se devem incluir aqueles cujo perispírito é tão grosseiro,

que eles o confundem com o corpo carnal, razão por que continuam a crer-se vivos. Esses Espíritos,

cujo número é avultado, permanecem na superfície da Terra, como os encarnados, julgando-se

entregues às suas ocupações terrenas. Outros um pouco mais desmaterializados não o são,

contudo, suficientemente, para se elevarem acima das regiões terrestres. (1)

(1) Exemplos de Espíritos que ainda se julgam deste mundo: Revue Spirite, dezembro de 1859, pág.

310; – novembro de 1864, pág. 339; – abril de 1865, pág. 177.

Os Espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores, e, até, encarnar neles. Tiram,

dos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais para a formação do envoltório

fluídico ou carnal apropriado ao meio em que se encontrem. Fazem como o nobre que despe

temporariamente suas vestes, para envergar os trajes plebeus, sem deixar por isso de ser nobre.

É assim que os Espíritos da categoria mais elevada podem manifestar-se aos habitantes da Terra ou

encarnar em missão entre estes. Tais Espíritos trazem consigo, não o invólucro, mas a lembrança,

por intuição, das regiões donde vieram e que, em pensamento, eles vêem. São videntes entre cegos.

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10. – A camada de fluidos espirituais que cerca a Terra se pode comparar às camadas inferiores da

atmosfera, mais pesadas, mais compactas, menos puras, do que as camadas superiores. Não são

homogêneos esses fluidos; são uma mistura de moléculas de diversas qualidades, entre as quais

necessariamente se encontram. as moléculas elementares que lhes formam a base, porém mais ou

menos alteradas. Os efeitos que esses fluidos produzem estarão na razão da soma das partes puras

que eles encerram. Tal, por comparação, o álcool retificado, ou misturado, em diferentes proporções,

com água ou outras substâncias: seu peso específico aumenta, por efeito dessa mistura, ao mesmo

tempo que sua força e sua inflamabilidade diminuem, embora no todo continue a haver álcool puro.

Os Espíritos chamados a viver naquele meio tiram dele seus perispíritos; porém, conforme seja mais

ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais

grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele encarna. O Espírito produz aí, sempre por

comparação e não por assimilação, o efeito de um reativo químico que atrai a si as moléculas que a

sua natureza pode assimilar.

Resulta disso este fato capital: a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os

Espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda. O mesmo

já não se dá com o corpo carnal, que, como foi demonstrado, se forma dos mesmos elementos,

qualquer que seja a superioridade ou a inferioridade do Espírito. Por isso, em todos, são os mesmos

os efeitos que o corpo produz, semelhantes as necessidades, ao passo que diferem em tudo o que

respeita ao perispírito.

Também resulta que: o envoltório perispirítico de um Espírito se modifica com o progresso moral que

este realiza em cada encarnação, embora ele encarne no mesmo meio; que os Espíritos superiores,

encarnando excepcionalmente, em missão, num mundo inferior, têm perispírito menos grosseiro do

que o dos indígenas desse mundo.

11. – O meio está sempre em relação com a natureza dos seres que têm de nele viver: os peixes, na

água; os seres terrestres, no ar; os seres espirituais no fluido espiritual ou etéreo, mesmo que

estejam na Terra. O fluido etéreo está para as necessidades do Espírito, como a atmosfera para as

dos encarnados. Ora, do mesmo modo que os peixes não podem viver no ar; que os animais

terrestres não podem viver numa atmosfera muito rarefeita para seus pulmões, os Espíritos inferiores

não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos mais etéreos. Não morreriam no meio desses

fluidos, porque o Espírito não morre, mas uma força instintiva os mantêm afastados dali, como a

criatura terrena se afasta de um fogo muito ardente ou de uma luz muito deslumbrante. Eis aí por

que não podem sair do meio que lhes é apropriado à natureza; para mudarem de meio, precisam

antes mudar de natureza, despojar-se dos instintos materiais que os retêm nos meios materiais;

numa palavra, que se depurem e moralmente se transformem. Então, gradualmente se identificam

com um meio mais depurado, que se lhes torna uma necessidade, como os olhos, para quem viveu

longo tempo nas trevas, insensivelmente se habituam à luz do dia e ao fulgor do Sol.

12 – Assim, tudo no Universo se liga, tudo se encadeia; tudo se acha submetido à grande e

harmoniosa lei de unidade, desde a mais compacta materialidade, até a mais pura espiritualidade. A

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Terra é qual vaso donde se escapa uma fumaça densa que vai clareando à medida que se eleva e

cujas parcelas rarefeitas se perdem no espaço infinito.

A potência divina refulge em todas as partes desse grandioso conjunto e, no entanto, quer-se que

Deus, não contente com o que há feito, venha perturbar essa harmonia! que se rebaixe ao papel de

mágico, produzindo efeitos pueris, dignos de um prestidigitador! E ousa-se, ainda por cima, dar-lhe

como rival em habilidade o próprio Satanás! Não haveria modo de amesquinhar mais a majestade

divina e admiram-se de que a incredulidade progrida.

Tendes razão de dizer: «A fé vai-se.» Mas, a que se vai é a fé em tudo o que aberra do bom-senso e

da razão; é a fé idêntica à que outrora levava a dizerem: «Vão-se os deuses!» A fé, porém, nas

coisas sérias, a fé em Deus e na imortalidade, essa está sempre vivaz no coração do homem e, por

mais sufocada que tenha sido sob o amontoado de histórias pueris com que a oprimiram, ela se

reerguerá mais forte, desde que se sinta libertada, tal como a planta que, comprimida, se levanta de

novo, logo que a banham os raios do Sol!

Efetivamente, tudo é milagre em a Natureza, porque tudo é admirável e dá testemunho da sabedoria

divina! Esses milagres se patenteiam a toda gente, a todos os que têm olhos de ver e ouvidos de

ouvir e não em proveito apenas de alguns! Não! milagres não há no sentido que comumente

emprestam a essa palavra, porque tudo decorre das leis eternas da criação, leis essas perfeitas.

Ação dos Espíritos sobre os fluidos. – Criações fluídicas. -Fotografia do pensamento

13. – Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem

dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam;

o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que

escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a

luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o

veículo do pensamento, como o ar o é do som.

14. – Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens

manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento

e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal

ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que

apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades,

como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a

grande oficina ou laboratório da vida espiritual.

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Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um

pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta se produza, como

basta que modele uma ária, para que esta repercuta na atmosfera.

É assim, por exemplo, que um Espírito se faz visível a um encarnado que possua a vista psíquica,

sob as aparências que tinha quando vivo na época em que o segundo o conheceu, embora haja ele

tido, depois dessa época, muitas encarnações. Apresenta-se com o vestuário, os sinais exteriores -

enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc. – que tinha então. Um decapitado se

apresentará sem a cabeça. Não quer isso dizer que haja conservado essas aparências, certo que

não, porquanto, como Espírito, ele não é coxo, nem maneta, nem zarolho, nem decapitado; o que se

dá é que, retrocedendo o seu pensamento à época em que tinha tais defeitos, seu perispírito lhes

toma instantaneamente as aparências, que deixam de existir logo que o mesmo pensamento cessa

de agir naquele sentido. Se, pois, de uma vez ele foi negro e branco de outra, apresentar-se-á como

branco ou negro, conforme a encarnação a que se refira a sua evocação e à que se transporte o seu

pensamento.

Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a

usar. Um avarento manuseará ouro, um militar trará suas armas e seu uniforme, um fumante o seu

cachimbo, um lavrador a sua charrua e seus bois, uma mulher velha a sua roca. Para o Espírito, que

é, também ele, fluídico, esses objetos fluidicos são tão reais, como o eram, no estado material, para

o homem vivo; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva

quanto a deste. (1)

(1) Revue Spirite, junho de 1859, pág. 184. – O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. VIII.

15. – Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar;

eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som.. Pode-se pois dizer, sem receio de errar,

que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há

no ar ondas e raios (2) sonoros.

(2) Nota da Editora, à 16ª edição, de 1973: Como consta no original francês. Usaríamos o termo

vibrações, definido com clareza nos modernos dicionários e plenamente consagrado na nossa

literatura espírita.

Há mais: criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num

espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. Tenha um homem, por exemplo, a idéia

de matar a outro: embora o corpo material se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto em

ação pelo pensamento e reproduz todos os matizes deste último; executa fluidicamente o gesto, o

ato que intentou praticar. O pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira é pintada, como

num quadro, tal qual se lhe desenrola no espírito.

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Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma

alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.

Contudo, vendo a intenção, pode ela pressentir a execução do ato que lhe será a consequência, mas

não pode determinar o instante em que o mesmo ato será executado, nem lhe assinalar os

pormenores, nem, ainda, afirmar que ele se dê, porque circunstâncias ulteriores poderão modificar

os planos assentados e mudar as disposições. Ele não pode ver o que ainda não esteja no

pensamento do outro; o que vê é a preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos,

seus desígnios bons ou maus.

Qualidades dos fluidos

16. – Tem conseqüências de importância capital e direta para os encarnados a ação dos Espíritos

sobre os fluidos espirituais. Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-

lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou

más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos

sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios

corrompem o ar respirável. Os fluidos que envolvem os Espíritos maus, ou que estes projetam são,

portanto, viciados, ao passo que os que recebem a influência dos bons Espíritos são tão puros

quanto o comporta o grau da perfeição moral destes.

17. – Fora impossível fazer-se uma enumeração ou classificação dos bons e dos maus fluidos, ou

especificar-lhes as respectivas qualidades, por ser tão grande quanto a dos pensamentos a

diversidade deles.

Os fluidos não possuem qualidades sui generis, mas as que adquirem no meio onde se elaboram;

modificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, a água pelos sais das camadas

que atravessa. Conforme as circunstâncias, suas qualidades são, como as da água e do ar,

temporárias ou permanentes, o que os torna muito especialmente apropriados à produção de tais ou

tais efeitos.

Também carecem de denominações particulares. Como os odores, eles são designados pelas suas

propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral, trazem o cunho dos

sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de

bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são

excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos,

tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc. O quadro dos

fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das

propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem.

18. – Sendo apenas Espíritos encarnados, os homens têm uma parcela da vida espiritual, visto que

vivem dessa vida tanto quanto da vida corporal; primeiramente, durante o sono e, muitas vezes, no

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estado de vigília. O Espírito, encarnado, conserva, com as qualidades que lhe são próprias, o seu

perispírito que, como se sabe, não fica circunscrito pelo corpo, mas irradia ao seu derredor e o

envolve como que de uma atmosfera fluídica.

Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha preponderante papel no organismo.

Pela sua expansão, põe o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e

também com os Espíritos encarnados.

O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se

transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os

fluidos ambientes.

Desde que estes se modificam pela projeção dos pensamentos do Espírito, seu invólucro

perispirítico, que é parte constituinte do seu ser e que recebe de modo direto e permanente a

impressão de seus pensamentos, há de, ainda mais, guardar a de suas qualidades boas ou más. Os

fluidos viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem depurar-se pelo afastamento destes, cujos

perispíritos, porém, serão sempre os mesmos, enquanto o Espírito não se modificar por si próprio.

Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila

com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o

perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e sua irradiação, o perispírito com

eles se confunde.

Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com

que se acha em contacto molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma

impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os

eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades.

Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos que o

encarnado absorve pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas

pestilenciais.

19. – Assim se explicam os efeitos que se produzem nos lugares de reunião. Uma assembléia é um

foco de irradiação de pensamentos diversos. É como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde

cada um emite uma nota. Resulta daí uma multiplicidade de correntes e de eflúvios fluídicos cuja

impressão cada um recebe pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a

impressão dos sons pelo sentido da audição.

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Mas, do mesmo modo que há radiações sonoras, harmoniosas ou dissonantes, também há

pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto é harmonioso, agradável é a impressão;

penosa, se aquele é discordante. Ora, para isso, não se faz mister que o pensamento se exteriorize

por palavras; quer ele se externe, quer não, a irradiação existe sempre.

Tal a causa da satisfação que se experimenta numa reunião simpática, animada de pensamentos

bons e benévolos. Envolve-a uma como salubre atmosfera moral, onde se respira à vontade; sai-se

reconfortado dali, porque impregnado de salutares eflúvios fluídicos. Basta, porém, que se lhe

misturem alguns pensamentos maus, para produzirem o efeito de uma corrente de ar gelado num

meio tépido, ou o de uma nota desafinada num concerto. Desse modo também se explica a

ansiedade, o indefinível mal-estar que se experimenta numa reunião antipática, onde malévolos

pensamentos provocam correntes de fluido nauseabundo.

20. – O pensamento, portanto, produz uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral, fato

este que só o Espiritismo podia tornar compreensível. O homem o sente instintivamente, visto que

procura as reuniões homogêneas e simpáticas, onde sabe que pode haurir novas forças morais,

podendo-se dizer que, em tais reuniões, ele recupera as perdas fluídicas que sofre todos os dias

pela irradiação do pensamento, como recupera, por meio dos alimentos, as perdas do corpo

material. É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos

espirituais e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem precisa

retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior.

Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas palavras, enuncia-se

uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo fluidos reparadores que

atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral.

21. – Dir-se-á que se podem evitar os homens sabidamente mal-intencionados. É fora de dúvida;

mas, como fugiremos à influência dos maus Espíritos que pululam em torno de nós e por toda parte

se insinuam, sem serem vistos?

O meio é muito simples, porque depende da vontade do homem, que traz consigo o necessário

preservativo. Os fluidos se combinam pela semelhança de suas naturezas; os dessemelhantes se

repelem; há incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.

Que se faz quando está viciado o ar? Procede-se ao seu saneamento, cuida-se de depurá-lo,

destruindo o foco dos miasmas, expelindo os eflúvios malsãos, por meio de mais fortes correntes de

ar salubre. A invasão, pois, dos maus fluidos, cumpre se oponham os fluidos bons e, como cada um

tem no seu próprio perispírito uma fonte fluídica permanente, todos trazem consigo o remédio

aplicável. Trata-se apenas de purificar essa fonte e de lhe dar qualidades tais, que se constitua para

as más influências um repulsor, em vez de ser uma força atrativa. O perispírito, portanto, é uma

couraça a que se deve dar a melhor têmpera possível. Ora, como as suas qualidades guardam

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relação com as da alma, importa se trabalhe por melhorá-la, pois que são as imperfeições da alma

que atraem os Espíritos maus.

As moscas são atraídas pelos focos de corrupção; destruídos esses focos, elas desaparecerão. Os

maus Espíritos, igualmente, vão para onde o mal os atrai; eliminado o mal, eles se afastarão. Os

Espíritos realmente bons, encarnados ou desencarnados, nada tem que temer da influência dos

maus.

II. EXPLICAÇÃO DE ALGUNS FENÔMENOS CONSIDERADOS SOBRENATURAIS

Vista espiritual ou psíquica. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos

22. – O perispírito é o traço de união entre a vida corpórea e a vida espiritual. É por seu intermédio

que o Espírito encarnado se acha em relação contínua com os desencarnados; é, em suma, por seu

intermédio, que se operam no homem fenômenos especiais, cuja causa fundamental não se

encontra na matéria tangível e que, por essa razão, parecem sobrenaturais.

É nas propriedades e nas irradiações do fluido perispirítico que se tem de procurar a causa da dupla

vista, ou vista espiritual, a que também se pode chamar vista psíquica, da qual muitas pessoas são

dotadas, freqüentemente a seu mau grado, assim como da vista sonambúlica.

O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que

escapam aos sentidos corpóreos. Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas

sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou

psíquico, elas se generalizam o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser, tudo o que se encontra

na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico.

No homem, tais fenômenos constituem a manifestação da vida espiritual; é a alma a atuar fora do

organismo. Na dupla vista ou percepção pelo sentido psíquico, ele não vê com os olhos do corpo,

embora, muitas vezes, por hábito, dirija o olhar para o ponto que lhe chama a atenção. Vê com os

olhos da alma e a prova está em que vê perfeitamente bem com os olhos fechados e vê o que está

muito além do alcance do raio visual. Lê o pensamento figurado no raio fluídico (nº 15). (1)

(1) Fatos de dupla vista e lucidez sonambúlica relatados na Revue Spirite: janeiro de 1858, pág. 25;

novembro de 1858, pág. 313; julho de 1861, pág. 193; novembro de 1865, pág. 352.

23. – Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha

tão escravizado, que não possa alongar a cadeia que o prende e transportar-se a um ponto distante,

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quer sobre a Terra, quer do espaço. Repugna ao Espírito estar ligado ao corpo, porque a sua vida

normal é a de liberdade e a vida corporal é a do servo preso à gleba.

Ele, por conseguinte, se sente feliz em deixar o corpo, como o pássaro em se encontrar fora da

gaiola, pelo que aproveita todas as ocasiões que se lhe oferecem para dela se escapar, de todos os

instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. Tem-se então o fenômeno a

que se dá o nome de emancipação da alma, fenômeno que se produz sempre durante o sono. De

todas as vezes que o corpo repousa, que os sentidos ficam inativos, o Espírito se desprende. (O

Livro dos Espíritos, Parte 2ª, Cap. VIII.)

Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa;

acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os

amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados também.

O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião da morte se rompe definitivamente; a

separação completa somente se dá por efeito da extinção absoluta da atividade vital. Enquanto o

corpo vive, o Espírito, a qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado à sua prisão,

desde que a sua presença aí se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida exterior de

relação. Por vezes, ao despertar, conserva das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem

mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas intuições que lhe sugerem

idéias e pensamentos novos e justificam o provérbio: A noite é boa conselheira.

Assim igualmente se explicam certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e

magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase, etc., e que mais não são do que manifestações da

vida espiritual. (1)

(1) Casos de letargia e de catalepsia: Revue Spirite: “Senhora Schwabenhaus”, setembro de 1858,

pág. 255; – “A jovem cataléptica da Suábia”, janeiro de 1866, pág. 18.

24. – Pois que a visão espiritual não se opera por meio dos olhos do corpo, segue-se que a

percepção das coisas não se verifica mediante a luz ordinária: de fato, a luz material é feita para o

mundo material; para o mundo espiritual, uma luz especial existe, cuja natureza desconhecemos,

porém que é, sem dúvida, uma das propriedades do fluido etéreo, adequada às percepções visuais

da alma. Há, portanto, luz material e luz espiritual. A primeira emana de focos circunscritos aos

corpos luminosos; a segunda tem o seu foco em toda parte: tal a razão por que não há obstáculo

para a visão espiritual, que não é embaraçada nem pela distância, nem pela opacidade da matéria,

não existindo para ela a obscuridade. O mundo espiritual é, pois, iluminado pela luz espiritual, que

tem seus efeitos próprios, como o mundo material é iluminado pela luz solar.

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25. – Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso. Penetrando a

matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para a sua visão, corpos opacos.

Entretanto, a vista espiritual não é idêntica, quer em extensão, quer em penetração, para todos os

Espíritos. Somente os Espíritos puros a possuem em todo o seu poder. Nos inferiores ela se acha

enfraquecida pela relativa grosseria do perispírito, que se lhe interpõe qual nevoeiro.

Manifesta-se em diferentes graus, nos Espíritos encarnados, pelo fenômeno da segunda vista, tanto

no sonambulismo natural ou magnético, quanto no estado de vigília. Conforme o grau de poder da

faculdade, diz-se que a lucidez é maior ou menor. Com o auxílio dessa faculdade é que certas

pessoas vêem o interior do organismo humano e descrevem as causas das enfermidades.

26. – A vista espiritual, portanto, faculta percepções especiais que, não tendo por sede os órgãos

materiais, se operam em condições muito diversas das que decorrem da vida corporal. Efetuando-se

fora do organismo, tem ela uma mobilidade que derrui todas as previsões. Indispensável se torna

estudá-la em seus efeitos e em suas causas e não assimilando-a à vista ordinária, que ela não se

destina a suprir, salvo casos excepcionais, que se não poderiam tomar como regra.

27. – Necessariamente incompleta e imperfeita é a vista espiritual nos Espíritos encarnados e, por

conseguinte, sujeita à aberrações. Tendo por sede a própria alma, o estado desta há de influir nas

percepções que aquela vista faculte. Segundo o grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o

estado moral do indivíduo, pode ela dar, quer durante o sono, quer no estado de vigília:

1° a percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns que ocorram a

grande distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os

remédios convenientes;

2° a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a presença dos Espíritos;

3° imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento (veja-

se, acima, o n° 14).

Estas criações se acham sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as gera. É

assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas de certas crenças religiosas e com elas

preocupadas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tais quais

essas pessoas os imaginam. Ás vezes, é toda uma epopéia. Os pagãos viam o Olimpo e o Tártaro,

como os cristãos vêem o inferno e o paraíso. Se, ao despertarem, ou ao saírem do êxtase,

conservam lembrança exata de suas visões, os que as tiveram tomam-nas como realidades

confirmativas de suas crenças, quando tudo não passa de produto de seus próprios pensamentos

(1). Cumpre, pois, se faça uma distinção muito rigorosa nas visões extáticas, antes que se lhes dê

crédito. A tal propósito, o remédio para a excessiva credulidade é o estudo das leis que regem o

mundo espiritual.

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(1) Podem explicar-se assim as visões da irmã Elmerich que, reportando-se ao tempo da paixão do

Cristo, diz ter visto coisas materiais, que nunca existiram, senão nos livros que ela leu; as da Sra.

Cantanille (Revue Spirite, de agosto de 1866, pág. 240) e uma parte das de Swedenborg. (2) Veja-

se, abaixo, o cap. XVI, “Teoria da presciência”, nos 1, 2 e 3.

28. – Os sonhos propriamente ditos apresentam os três caracteres das visões acima descritas. Às

duas primeiras categorias dessas visões pertencem os sonhos de previsões, pressentimentos e

avisos (2). Na terceira, isto e, nas criações fluídicas do pensamento, é que se pode deparar com a

causa de certas imagens fantásticas, que nada têm de real, com relação à vida corpórea, mas que

apresentam às vezes, para o Espírito, uma realidade tal, que o corpo lhe sente o contrachoque,

havendo casos em que os cabelos embranquecem sob a impressão de um sonho. Podem essas

criações ser provocadas: pela exaltação das crenças; por lembranças retrospectivas; por gostos,

desejos, paixões, temor, remorsos; pelas preocupações habituais; pelas necessidades do corpo, ou

por um embaraço nas funções do organismo; finalmente, por outros Espíritos, com objetivo benévolo

ou maléfico, conforme a sua natureza. (1)

(1) Revue Spirite, Junho de 1866, pág. 172; – setembro de 1866, pág. 284. – O Livro dos Espíritos,

Parte 2ª, cap. VIII, nº 400.

Catalepsia. – Ressurreições

29. – A matéria inerte é insensível; o fluido perispirítico igualmente o é, mas transmite a sensação ao

centro sensitivo, que é o Espírito. As lesões dolorosas do corpo repercutem, pois, no Espírito, qual

choque elétrico, por intermédio do fluido perispiritual, que parece ter nos nervos os seus fios

condutores. É o influxo nervoso dos fisiologistas que, desconhecendo as relações desse fluido com o

princípio espiritual, ainda não puderam achar explicação para todos os efeitos.

A interrupção pode dar-se pela separação de um membro, ou pela secção de um nervo, mas,

também, parcialmente ou de maneira geral e sem nenhuma lesão, nos momentos de emancipação,

de grande sobreexcitação ou preocupação do Espírito. Nesse estado, o Espírito não pensa no corpo

e, em sua febril atividade, atrai a si, por assim dizer, o fluido perispiritual que, retirando-se da

superfície, produz aí uma insensibilidade momentânea. Poder-se- ia também admitir que, em certas

circunstâncias, no próprio fluido perispiritual uma modificação molecular se opera, que lhe tira

temporariamente a propriedade de transmissão. É por isso que, muitas vezes, no ardor do combate,

um militar não percebe que está ferido e que uma pessoa, cuja atenção se acha concentrada num

trabalho, não ouve o ruído que se lhe faz em torno. Efeito análogo, porém mais pronunciado, se

verifica nalguns sonâmbulos, na letargia e na catalepsia. Finalmente, do mesmo modo também se

pode explicar a insensibilidade dos convulsionários e de muitos mártires. (Revue Spirite, janeiro, de

1868: «Estudo sobre os Aissaouas».)

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A paralisia já não tem absolutamente a mesma causa: aí o efeito é todo orgânico; são os próprios

nervos, os fios condutores que se tornam inaptos à circulação fluídica; são as cordas do instrumento

que se alteraram.

30. – Em certos estados patológicos, quando o Espírito há deixado o corpo e o perispírito só por

alguns pontos se lhe acha aderido, apresenta ele, o corpo, todas as aparências da morte e enuncia-

se uma verdade absoluta, dizendo que a vida aí está por um fio. Semelhante estado pode durar mais

ou menos tempo; podem mesmo algumas partes do corpo entrar em decomposição, sem que, no

entanto, a vida se ache definitivamente extinta. Enquanto não se haja rompido o último fio, pode o

Espírito, quer por uma ação enérgica, da sua própria vontade, quer por um influxo fluídico estranho,

igualmente forte, ser chamado a volver ao corpo. É como se explicam certos fatos de prolongamento

da vida contra todas as probabilidades e algumas supostas ressurreições. É a planta a renascer,

como às vezes se dá, de uma só fibrila da raiz. Quando, porém, as últimas moléculas do corpo

fluídico se têm destacado do corpo carnal, ou quando este último há chegado a um estado

irreparável de degradação, impossível se torna todo regresso à vida. (1)

(1) Exemplos: Revue Spirite, “O doutor Cardon”, agosto de 1863, pág. 251; – “A mulher corsa”, maio

de 1866, pág. 134.

Curas

31. – Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os

quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no

perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é

o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório

fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O

poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende

também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica

provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções daquele

que deseje realizar a cura, seja homem ou Espírito. Os fluidos que emanam de uma fonte impura

são quais substâncias medicamentosas alteradas.

32. – São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as

circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo

ordinário; doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que

operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou, até,

exclusivamente por ato da vontade Entre os dois pólos extremos dessa faculdade, há infinitos

matizes. Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e só diferem pela intensidade

e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente

terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais.

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33. – A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:

1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano,

cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;

2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para

o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para

exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja

qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito; (1)

3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse

derramamento. É o magnetismo misto, semi-espiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual.

Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em

tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes,

provocado por um apelo do magnetizador.

(1) Exemplos: Revue Spirite, fevereiro de 1863, pág. 64; – abril de 1865, pág. 113; -setembro de

1865, pág. 264.

34. – É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do

exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o seu

grau máximo se deve considerar excepcional. No entanto, em épocas diversas e no seio de quase

todos os povos, surgiram indivíduos que a possuíam em grau eminente. Nestes últimos tempos,

apareceram muitos exemplos notáveis, cuja autenticidade não sofre contestação. Uma vez que as

curas desse gênero assentam num princípio natural e que o poder de operá-las não constitui

privilégio, o que se segue é que elas não se operam fora da Natureza e que só são miraculosas na

aparência. (2)

(2) Casos de curas instantâneas relatados na Revue Spirite: “O príncipe de Hohenlohe”, dezembro

de 1866, pág. 368; “Jacob”, outubro e novembro de 1866, págs. 312 e 345; outubro e novembro de

1867, págs. 306 e 339; – “Simonet”, agosto de 1867, página 232; – “Caid Hassan”, outubro de 1867,

pág. 303; – “O cura Gassner”, novembro de 1867, pág. 331.

Aparições. – Transfigurações

35. – Para nós, o perispírito, no seu estado normal, é invisível; mas, como é formado de substância

etérea, o Espírito, em certos casos, pode, por ato da sua vontade, fazê-lo passar por uma

modificação molecular que o torna momentaneamente visível. É assim que se produzem as

aparições, que não se dão, do mesmo modo que os outros fenômenos, fora das leis da Natureza.

Nada tem esse de mais extraordinário, do que o do vapor que, quando muito rarefeito, é invisível,

mas que se torna visível, quando condensado.

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Conforme o grau de condensação do fluido perispirítico, a aparição é às vezes vaga e vaporosa;

doutras vezes, mais nitidamente definida; doutras, enfim, com todas as aparências da matéria

tangível. Pode, mesmo, chegar, até, à tangibilidade real, ao ponto de o observador se enganar com

relação à natureza do ser que tem diante de si.

São freqüentes as aparições vaporosas, forma sob a qual muitos indivíduos, depois de terem

morrido, se apresentam às pessoas que lhes são afeiçoadas. As aparições tangíveis são mais raras,

se bem haja delas numerosíssimos casos, perfeitamente autenticados. Se o Espírito quer dar-se a

conhecer, imprime ao seu envoltório todos os sinais exteriores que tinha quando vivo. (1)

(1) O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, caps. VI e VII. (2) Nota da Editora: As materializações

prolongadas, quais as verificadas por William Crookes, não eram, então, conhecidas.

36. – É de notar-se que as aparições tangíveis só têm da matéria carnal as aparências; não

poderiam ter dela as qualidades. Em virtude da sua natureza fluídica, não podem ter a coesão da

matéria, porque, em realidade, não há nelas carne. Formam-se instantaneamente e

instantaneamente desaparecem, ou se evaporam pela desagregação das moléculas fluídicas (2). Os

seres que se apresentam nessas condições não nascem, nem morrem, como os outros homens.

São vistos e deixam de ser vistos, sem que se saiba donde vêm, como vieram, nem para onde vão.

Ninguém os poderia matar, nem prender, nem encarcerar, visto carecerem de corpo carnal.

Atingiriam o vácuo os golpes que se lhes desferissem.

Tal o caráter dos agêneres, com os quais se pode confabular, sem suspeitar de que eles o sejam,

mas que não demoram longo tempo entre os humanos e não podem tornar-se comensais de uma

casa, nem figurar entre os membros de uma família. (1)

(1) Nota da Editora: Segundo a Bíblia, este fato se deu na família de Tobias. (Ver “O Livro de

Tobias”.)

Ao demais, denotam sempre, em suas atitudes, qualquer coisa de estranho e de insólito que deriva

ao mesmo tempo da materialidade e da espiritualidade: neles, o olhar é simultaneamente vaporoso e

brilhante, carece da nitidez do olhar através dos olhos da carne; a linguagem, breve e quase sempre

sentenciosa, nada tem do brilho e da volubilidade da linguagem humana; a aproximação deles causa

uma sensação singular e indefinível de surpresa, que inspira uma espécie de temor; e quem com

eles se põe em contacto, embora os tome por indivíduos quais todos os outros, é levado a dizer

involuntariamente: Ali está uma criatura singular. (2)

(2) Exemplos de aparições vaporosas ou tangíveis e de agêneres: Revue Spirite, janeiro de 1858,

pág. 24; – outubro de 1858, pág. 291; – fevereiro de 1859, pág. 38; – março de 1859, pág. 80; –

janeiro de 1859, pág. 11; – novembro de 1859, pág. 303; – agosto de 1859, pág. 210; -abril de 1860,

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pág. 117; – maio de 1860, pág. 150; – julho de 1861, pág. 199; – abril de 1866, pág. 120; – “O

lavrador Martinho, apresentado a Luiz XVIII, detalhes completos”, dezembro de 1866, pág. 353

37. – Sendo o mesmo o perispírito, assim nos encarnados, como nos desencarnados, um Espírito

encarnado, por efeito completamente idêntico, pode, num momento de liberdade, aparecer em ponto

diverso do em que repousa seu corpo, com os traços que lhe são habituais e com todos os sinais de

sua identidade. Foi esse fenômeno, do qual se conhecem muitos casos autênticos, que deu lugar à

crença nos homens duplos. (3)

(3) Exemplos de aparições de pessoas vivas: Revue Spirite, de dezembro de 1858, págs. 329 e 331;

– fevereiro de 1859, pág. 41; – agosto de 1859, pág. 197; – novembro de 1860, pág. 356.

38. – Um efeito peculiar aos fenômenos dessa espécie consiste em que as aparições vaporosas e,

mesmo, tangíveis, não são perceptíveis a toda gente, indistintamente. Os Espíritos só se mostram

quando o querem e a quem também o querem. Um Espírito, pois, poderia aparecer, numa

assembléia, a um ou a muitos dos presentes e não ser visto pelos demais. Dá-se isso, porque as

percepções desse gênero se efetuam por meio da vista espiritual, e não por intermédio da vista

carnal; pois não só aquela não é dada a toda gente, como pode, se for conveniente, ser retirada,

pela só vontade do Espírito, àquele a quem ele não queira mostrar-se, como pode dá-la,

momentaneamente, se entender necessário.

À condensação do fluido perispirítico nas aparições, indo mesmo até à tangibilidade, faltam as

propriedades da matéria ordinária: se tal não se desse, as aparições seriam perceptíveis pelos olhos

do corpo e, então, todas as pessoas presentes as perceberiam. (1)

(1) Devem acolher-se com extrema reserva as narrativas de aparições puramente individuais que,

em certos casos, poderiam não passar de efeito de uma imaginação sobreexcitada e, porventura, de

uma invenção com fins interesseiros. Convém, pois, levar em conta, muito escrupulosamente, as

circunstâncias, a honradez da pessoa, assim como o interesse que ela possa ter em abusar da

credulidade de indivíduos excessivamente confiantes.

39. – Podendo o Espírito operar transformações na contextura do seu envoltório perispirítico e

irradiando-se esse envoltório em torno do corpo qual atmosfera fluídica, pode produzir-se na

superfície mesma do corpo um fenômeno análogo ao das aparições. Pode a imagem real do corpo

apagar-se mais ou menos completamente, sob a camada fluídica, e assumir outra aparência; ou,

então, vistos através da camada fluídica modificada, os traços primitivos podem tomar outra

expressão. Se, saindo do terra-a-terra, o Espírito encarnado se identifica com as coisas do mundo

espiritual, pode a expressão de um semblante feio tornar-se bela, radiosa e até luminosa; se, ao

contrário, o Espírito é presa de paixões más, um semblante belo pode tomar um aspecto horrendo.

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Assim se operam as transfigurações, que refletem sempre qualidades e sentimentos predominantes

no Espírito. O fenômeno resulta, portanto, de uma transformação fluídica; é uma espécie de aparição

perispirítica, que se produz sobre o próprio corpo do vivo e, algumas vezes, no momento da morte,

em lugar de se produzir ao longe, como nas aparições propriamente ditas. O que distingue as

aparições desse gênero é o serem, geralmente, perceptíveis por todos os assistentes e com os olhos

do corpo, precisamente por se basearem na matéria carnal visível, ao passo que, nas aparições

puramente fluídicas, não há matéria tangível. (1)

(1) Exemplo e teoria da transfiguração: Revue Spirite, março de 1859, pág. 62. (O Livro dos

Médiuns, 2ª Parte, cap. VII.)

Manifestações físicas. – Mediunidade

40. – Os fenômenos das mesas girantes e falantes, da suspensão etérea de corpos pesados, da

escrita mediúnica, tão antigos quanto o mundo, porém vulgares hoje, facultam a explicação de

alguns outros, análogos e espontâneos, aos quais, pela ignorância da lei que os rege, se atribuía

caráter sobrenatural e miraculoso. Tais fenômenos têm por base as propriedades do fluido

perispirítico, quer dos encarnados, quer dos Espíritos livres.

41. – Por meio do seu perispírito é que o Espírito atuava sobre o seu corpo vivo; ainda por

intermédio desse mesmo fluido é que ele se manifesta; atuando sobre a matéria inerte, é que produz

ruídos, movimentos de mesa e outros objetos, que os levanta, derriba, ou transporta. Nada tem de

surpreendente esse fenômeno, se considerarmos que, entre nós, os mais possantes motores se

encontram nos fluidos mais rarefeitos e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.

É igualmente com o concurso do seu perispírito que o Espírito faz que os médiuns escrevam, falem,

desenhem. Já não dispondo de corpo tangível para agir ostensivamente quando quer manifestar-se,

ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos toma de empréstimo, corpo ao qual faz que atue

como se fora o seu próprio, mediante o eflúvio fluídico que verte sobre ele.

42. – Pelo mesmo processo atua o Espírito sobre a mesa, quer para que esta se mova, sem que o

seu movimento tenha significação determinada, quer para que dê pancadas inteligentes, indicativas

das letras do alfabeto, a fim de formarem palavras e frases, fenômeno esse denominado tiptologia. A

mesa não passa de um instrumento de que o Espírito se utiliza, como se utiliza do lápis para

escrever. Para esse efeito, dá-lhe ele uma vitalidade momentânea, por meio do fluido que lhe

inocula, porém absolutamente não se identifica com ela.

Praticam um ato ridículo as pessoas que, tomadas de emoção ao manifestar-se um ser que lhes é

caro, abraçam a mesa; é exatamente como se abraçassem a bengala de que um amigo se sirva

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para bater no chão. O mesmo fazem os que dirigem a palavra à mesa, como se o Espírito se

achasse metido na madeira, ou como se a madeira se houvesse tornado Espírito.

Quando comunicações são transmitidas por esse meio, deve-se imaginar que o Espírito está, não na

mesa, mas ao lado, tal qual estaria se vivo se achasse e como seria visto, se no momento pudesse

tornar-se visível. O mesmo ocorre nas comunicações pela escrita: ver-se-ia o Espírito ao lado do

médium, dirigindo-lhe a mão ou transmitindo-lhe pensamentos por meio de uma corrente fluídica.

43. – Quando a mesa se destaca do solo e flutua no espaço sem ponto de apoio, o Espírito não a

ergue com a força de um braço; envolve-a e penetra-a de uma espécie de atmosfera fluídica que

neutraliza o efeito da gravitação, como faz o ar com os balões e papagaios. O fluido que se infiltra na

mesa dá-lhe momentaneamente maior leveza específica. Quando fica pregada ao solo, ela se acha

numa situação análoga à da campânula pneumática sob a qual se fez o vácuo. Não há aqui mais

que simples comparações destinadas a mostrar a analogia dos efeitos e não a semelhança absoluta

das causas. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. IV.)

Compreende-se, depois do que fica dito, que não há para o Espírito, maior dificuldade em arrebatar

uma pessoa, do que em arrebatar uma mesa, em transportar um objeto de um lugar para outro, ou

em atirá-lo seja onde for. Todos esses fenômenos se produzem em virtude da mesma lei. (1)

(1) Tal o princípio dos fenômenos de trazimento, fenômeno este muito real, mas que não convém se

admita, senão com extrema reserva, porquanto é um dos que mais se prestam à imitação e à

trapaçaria. Devem tomar-se em séria consideração a honradez irrecusável da pessoa que os obtém,

seu absoluto desinteresse, material e moral, e o concurso das circunstâncias acessórias. Importa,

sobretudo, desconfiar da produção de tais efeitos, quando eles se dêem com excessiva facilidade e

ter por suspeitos os que se renovem com extrema freqüência e, por assim dizer, à vontade. Os

prestidigitadores fazem coisas mais extraordinárias. Não menos positivo é o fato do erguimento de

uma pessoa; mas, tem que ser muito mais raro, porque mais difícil de ser imitado. É sabido que o Sr.

Home se elevou mais de uma vez até ao teto, dando assim volta à sala. Dizem que S. Cupertino

possuía a mesma faculdade, não sendo o fato mais miraculoso com este do que com aquele.

Quando as pancadas são ouvidas na mesa ou algures, não é que o Espírito esteja a bater com a

mão, ou com qualquer objeto. Ele apenas dirige sobre o ponto donde vem o ruído um jato de fluido e

este produz o efeito de um choque elétrico. Tão possível lhe é modificar o ruído, como a qualquer

pessoa modificar os sons produzidos pelo ar. (2)

(2) Casos de manifestações materiais e de perturbações operadas pelos Espíritos: Revue Spirite, “A

moça dos panoramas”, janeiro de 1858, pág. 13; – “Senhorita Clairon”, fevereiro de 1858, pág. 44; –

“Espírito batedor de Bergzabern” (narração completa), maio, junho e julho de 1858, págs. 125, 153 e

184; -” Dibberlsdorf”, agosto de 1858, pág. 219; – “Padeiro de Dieppe”, março de 1860, pág. 77; -”

Mercador de S. Petersburgo”, abril de 1860, pág. 115; – “Rua das Nogueiras”, agosto de 1860, pág.

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235; – “Espírito batedor do Aube”, janeiro de 1861, pág. 23; – “Flagelo do século dezesseis”, janeiro

de 1864, pág. 32; -“Poitiers”, maio de 1864, pág. 156 e maio de 1865, pág. 134; -“Irmã Maria”, junho

de 1864, pág. 185; – “Marselha”, abril de 1865, pág., 121; – “Fives”, agosto de 1865, pág. 225; – “Os

ratos de Equihem”, fevereiro de 1866, pág. 55.

44. – Fenômeno muito freqüente na mediunidade é a aptidão de certos médiuns para escrever em

língua que lhes é estranha; a explanar, oralmente ou por escrito, assuntos que lhes estão fora do

alcance da instrução recebida. Não é raro o caso de alguns que escrevem correntemente sem nunca

terem aprendido a escrever; de outros que compõem poesias, sem jamais na vida terem sabido fazer

um verso; de outros que desenham, pintam, esculpem, compõem música, tocam um instrumento,

sem conhecerem desenho, pintura, escultura, ou a arte musical. Ocorre freqüentemente o fato de um

médium escrevente reproduzir com perfeição a grafia e a assinatura que os Espíritos, que por ele se

comunicam, tinham quando vivos, se bem não as haja ele conhecido.

Nada, porém, apresenta esse fenômeno de mais maravilhoso, do que o de se fazer que uma criança

escreva, guiando-se-lhe a mão; pode-se, dessa maneira, conseguir que ela execute tudo o que se

queira. Pode-se fazer que qualquer pessoa escreva num idioma que ela ignore, ditando-se-lhe as

palavras letra por letra. Compreende-se que o mesmo se possa dar com a mediunidade, desde que

se atente na maneira por que os Espíritos se comunicam com os médiuns que, para eles, mais não

são do que instrumentos passivos. Se, porém, o médium tem o mecanismo, se venceu as

dificuldades práticas, se lhe são familiares as expressões, se, finalmente, possui no cérebro os

elementos daquilo que o Espírito quer fazê-lo executar, ele se acha na posição do homem que sabe

ler e escrever correntemente; o trabalho se torna mais fácil e mais rápido; ao Espírito já não resta

senão transmitir seus pensamentos ao intérprete, para que este os reproduza pelos meios de que

dispõe.

A aptidão de um médium para coisas que lhe são estranhas também tem freqüentemente suas

raízes nos conhecimentos que ele possuiu noutra existência e dos quais seu Espírito conservou a

intuição. Se, por exemplo, ele foi poeta ou músico, mais facilidade encontrará para assimilar o

pensamento poético ou musical que um Espírito queira fazê-lo expressar. A língua que ele hoje

ignora pode ter-lhe sido familiar noutra existência, donde maior aptidão sua para escrever

mediunicamente nessa língua. (1)

(1) A aptidão, que algumas pessoas denotam para línguas que elas manejam, sem, por assim dizer,

as haver aprendido, não tem como origem senão a lembrança intuitiva do que souberam noutra

existência. O caso do poeta Méry, relatado na Revue Spirite de novembro de 1864, pág. 328, é uma

prova do que dizemos. É evidente que, se na sua mocidade, Méry fora médium, teria escrito em latim

tão facilmente como em francês e toda gente houvera visto nesse fato um prodígio.

Obsessões e possessões

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45. – Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em conseqüência da inferioridade moral de seus

habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a

Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação,

como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação

ou expiação e aceita com esse caráter.

Chama-se obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta

caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais

exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Ela oblitera todas as

faculdades mediúnicas. Na mediunidade audiente e psicográfica, traduz-se pela obstinação de um

Espírito em querer manifestar-se, com exclusão de qualquer outro.

46 – Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível

às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá

ascendência a um Espírito mau, A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral

preciso é se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo;

para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a

necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do

obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão

degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade

e o livre-arbítrio.

Quase sempre a obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem freqüentemente

se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente existência,

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido

pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É daquele fluido que importa

desembaraçá-lo, Ora, um fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de

ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz expelir um fluido mau

com o auxílio de um fluido melhor.

Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao

qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha

superioridade moral, Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.

Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito

perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento

desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em

evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a

grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.

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O trabalho se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, para ele concorre

com a vontade e a prece. Outro tanto não sucede quando, seduzido pelo Espírito que o domina, se

ilude com relação às qualidades deste último e se compraz no erro a que é conduzido, porque,

então, longe de a secundar, o obsidiado repele toda assistência. É o caso da fascinação,

infinitamente mais rebelde sempre, do que a mais violenta subjugação. (O Livro dos Médiuns, 2ª

Parte, cap. XXIII.)

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de

seus propósitos maléficos o obsessor.

47. – Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica

com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como teia e constrangido a proceder

contra a sua vontade.

Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao

Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado

pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre

temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar

de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar

no momento da concepção. (Cap. XI, nº 18.)

De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora:

fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo.

Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento

de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra; quem o haja

conhecido em vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até a expressão da fisionomia.

48. – Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito

bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um

encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado. Isso se

verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se

acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu

substituto para ouvi-lo.

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma

moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe

resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao

extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares

perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os

que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura

furiosa.

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São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e não derivam de outra

causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também desordens patológicas, que são meras

conseqüências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa

originária. Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas, o

Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente,

deve ser tratado por meio da inteligência. (1)

(1) Casos de cura de obsessões e de possessões: Revue Spirite, dezembro de 1863, pág., 373; –

janeiro de 1864, pág. 11; – junho de 1864, pág. 168; – janeiro de 1865, pág. 5; – junho de 1865, pág.

172; – fevereiro de 1868, pág. 38; – junho de 1867, pág. 174.

49. – São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são epidêmicas.

Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é como se uma tropa de

inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o número dos indivíduos atacados. (1)

(1) Foi exatamente desse gênero a epidemia que, faz alguns anos, atacou a aldeia de Morzine na

Sabóia. Veja-se o relato completo dessa epidemia na Revue Spirite de dezembro de 1862, pág. 353;

janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863, págs. 1, 33, 101 e 133.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 15 – OS MILAGRES DO

EVANGELHO

Qual a visão do Espiritismo acerca dos chamados "milagres do Evangelho"? Os fatos narrados no Evangelho e que são tidos como milagrosos pelas religiões são assim considerados pela falta de conhecimento das leis que regem os fenômenos psíquicos, ou seja, aqueles que têm origem nas faculdades e nos atributos do espírito. Como vimos em estudo anterior, o homem tende a caracterizar como milagroso todo fato que não consegue explicar e que, por isso, considera como sobrenatural, realizado em contrariedade às leis naturais. No estudo do capítulo XIV, referente ao fluidos, vimos que os fenômenos de natureza espiritual fundamentam-se nas propriedades do fluido perispiritual, que lhe constitui o agente magnético. O Espiritismo trouxe o conhecimento das leis que regem esses fenômenos, demonstrando que os mesmos se realizam conforme leis naturais, cósmicas, instituídas pelo Criador, que nada têm de sobrenatural. Assim são explicados os chamados "milagres do Evangelho", com base no conhecimento dessas leis, mas que nem por isso deixam de ser considerados admiráveis. Qual a origem da superioridade da natureza de Jesus e como ela se manifestava perante os homens? A natureza superior de Jesus em relação ao restante da humanidade com quem conviveu na vida física não decorria de seu corpo físico, cuja constituição era idêntica à de todos os homens, mas de si próprio, espírito puro, cuja evolução já houvera concluído, encontrando-se em seu estado definitivo. Seu perispírito, conforme explica Kardec, era extraído da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres e encontrava-se ligado ao corpo físico apenas pelos laços indispensáveis à união

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do espírito à matéria. Foi, sem dúvida, o espírito mais perfeito que habitou a matéria neste Planeta, sendo sua encarnação uma missão delegada por Deus para cumprimento de seus desígnios. Podemos considerar os chamados milagres operados por Jesus como fenômenos mediúnicos? Como vimos, Jesus, como puro espírito, dominava inteiramente a matéria, através do poder completo de manipular os fluidos que sua evolução lhe proporcionava. Não necessitava de intermediários para operar as curas com que beneficiou os que se encontravam em condições de serem curados. Agia por si próprio, usando, unicamente, seu poder magnético. Se a alguma influência encontrava-se sujeito, esta somente poderia provir diretamente de Deus. Desse modo, os fatos considerados milagrosos que produziu durante sua passagem pela carne não

podem ser considerados fenômenos mediúnicos, mas, tão somente, fenômenos anímicos, produzidos pelo próprio espírito encarnado, sem interferência de outro.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 16 – AS PREDIÇÕES

SEGUNDO O ESPIRITISMO

Por que os judeus não aceitaram Jesus como o Messias prometido? Jesus encarnou no meio de inteligências ainda rudes. O povo de então era pouco esclarecido e esperava antes que o Messias prometido deveria vir com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas do que revestido de um poder moral. Como explica Kardec, "por isso que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de David e de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material". Por essa razão rejeitaram Jesus como o Messias esperado, o que não impediu que ele se tornasse "o maior entre os grandes, ... exclusivamente com a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o mundo e a ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois, uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos: "És rei? » respondeu: «Tu o dizes. »", conclui o Codificador. Como devem ser interpretadas as calamidades previstas por Jesus? As calamidades previstas por Jesus nas passagens evangélicas citadas neste capítulo constituem uma das muitas alegorias de que se utilizou para impressionar aquele povo, ainda fortemente preso às coisas materiais e com dificuldades para entender abstrações. Objetivava atingir o coração dos homens, para o que necessitava utilizar-se de fatos concretos, materiais e de uma linguagem forte, que os impressionassem. Mas estas alegorias não deixam de revelar grandes verdades. Primeiro, prediz calamidades que atingirão a humanidade, decorrentes da luta entre o bem e o mal, entre a fé e a incredulidade, as ideias progressistas e as retrógradas. Estão aí as guerras passadas e presentes e as convulsões de vários tipos, provocadas pelas forças da Natureza, a confirmar esta predição. Outra predição contida nesta passagem é a difusão do Evangelho por toda a Terra, restaurado na sua pureza primitiva, seguindo- -se do reinado do bem, da paz e da fraternidade universais. Será o verdadeiro reinado de Jesus, pois ele é que presidirá à sua implantação, com a prevalência do seu código de moral evangélica, sob o qual os homens passarão a viver. Cumprir-se-ão, então, as suas palavras: "depois dos dias de aflição, virão os de alegria". Quando se dará, ninguém o sabe, afirmou o próprio Cristo. Quando chegar o momento, os homens serão advertidos por meio de sinais precursores, que não virão dos astros, mas dos fenômenos de ordem moral. É claro que semelhante transformação não poderia se operar em vida dos apóstolos. No entanto, como Jesus lhes fala como se eles a houvessem de presenciar; é que poderão estar reencarnados quando se der e, até, colaborar na sua efetivação.

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Como devemos entender o "fim do mundo", alegoricamente anunciado pelo Cristo? Como explica Kardec, não seria racional que, depois da Terra entrar no caminho do progresso moral pela prática dos ensinamentos evangélicos, como predito por Jesus, Deus viesse a destruí-la. As palavras de Jesus, portanto, devem ser interpretadas em sentido figurado, como mais uma das alegorias de que se utilizou. Trazendo a prática do Evangelho grande melhora no estado moral dos homens, consequentemente, trará o reinado do bem e acarretará a queda do mal. Será, pois, o fim de um mundo velho, de um mundo governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pelas paixões inferiores, pela incredulidade. A este mundo é que o Cristo aludiu, ao dizer: "Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim." Qual o sentido da predição de Jesus, de que "vossos filhos e vossas filhas profetizarão"? Profeta era a denominação pela qual, à época de Jesus, eram conhecidos aqueles que se comunicavam com os espíritos e que, mais tarde, Kardec denominou "médiuns". Ao predizer que "vossos filhos e vossas filhas profetizarão", Jesus anunciou a vulgarização da mediunidade, que aconteceria quando fossem chegados os tempos. Podemos entender que o Espiritismo realiza o cumprimento desta predição? Com o advento do Espiritismo, sem dúvida, cumpriu-se a predição de Jesus, através da propagação da mediunidade, que presentemente se revela em indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as condições. É a predição da manifestação universal dos Espíritos, posto que, sem eles, não haveria médiuns. Ele realiza uma das mais importantes predições de Jesus, pela influência que forçosamente tem de exercer sobre as ideias. As ideias antigas se debatem com as novas e uma nova ordem de coisas se prepara, devendo o mundo velho chegar a seu termo. Se compararmos a situação atual com os tempos por ele descritos como assinaladores da era da renovação, não podemos deixar de convir que muitas das suas predições se estão presentemente realizando e que atingimos os tempos anunciados. Em todos os pontos do globo, os Espíritos se manifestam. Como devemos interpretar as palavras de Jesus: "quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; - e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes"? Assim como os espíritos, os planetas também estão destinados à evolução, através do progresso moral e intelectual de sua humanidade. A Terra, em consequência desta determinação divina, terá que ascender na hierarquia dos mundos, deixando o estágio em que se encontra atualmente, de provas e de expiações, para se tornar um planeta de regeneração, destinado a espíritos que já não perseverem no mal e cultivem o desejo de progredir moralmente. Como vimos no estudo do capítulo XI, o movimento migratório de espíritos não se restringe ao limite da Terra. Do mesmo modo que se opera a renovação da população encarnada e desencarnada dentro do ambiente terreno, pelos nascimentos e mortes dos corpos físicos, que é a rotina, também se efetua, individual ou coletivamente, movimentos migratórios entre os planetas. Esse movimento de chegada e partida coletiva de espíritos é determinado pela sabedoria divina, com a finalidade de acelerar a renovação da população de um planeta, introduzindo elementos espirituais mais depurados. A predição de Jesus anunciando a vinda do "Filho do homem" para separar os bodes e as ovelhas, é uma figura que representa o processo de seleção dos espíritos que permanecerão na Terra, em sua nova situação. Aqueles que não hajam acolhido os seus ensinamentos e permanecerem endurecidos no mal não poderão continuar reencarnando na Terra, pois o seu atraso moral poderia acarretar perturbação à evolução do planeta. Tendo que reinar o bem, a eles será interdito aqui permanecerem, devendo ser exilados para mundos inferiores, compatíveis com seu nível de evolução moral, como o foram, outrora, os espíritos que vieram para formarem a raça adâmica. Esse processo de seleção, já iniciado, é presidido por Jesus, como ele anunciou: "Os bons passarão à minha direita e os maus à minha esquerda".

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É possível conciliar a doutrina de um juízo final único com os atributos de Deus? A doutrina de um juízo final único e universal, pondo fim à vida terrena e direcionando seus habitantes para o céu ou o inferno não se coaduna com os atributos da Divindade. Toda a obra de Deus, incluindo o Sol, a Lua e as estrelas, perder-se-ia. Somente esta consequência já serviria para demonstrar o absurdo desta doutrina, formulada com base na ideia de que a vida no Universo se restringe à Terra. Admitindo-se, porém, que há um número incalculável em planetas a ela semelhantes em todo o Universo, destinados à habitação de espíritos e que a Terra é um dos menos consideráveis, evidenciada fica a incoerência desta doutrina. Por outro lado, a ideia de um juízo definitivo, inapelável, que não dá oportunidade de reabilitação às suas criaturas, não se concilia com a bondade infinita de Deus, cujas leis soberanas sempre deixa aos homens a possibilidade do arrependimento e da reparação. Além disso, como explica Kardec, esse juízo final único, qualquer que fosse a época de sua aplicação, apanharia de surpresa a humanidade em meio à sua evolução, inclusive crianças, que seriam submetidas ao julgamento definitivo mal saídas do ventre materno, sem sequer terem tido tempo suficiente para tomarem consciência de si mesmas e para praticarem o bem ou o mal. Como poderiam ser julgadas, se ainda não eram boas nem más? Seriam colocadas à direita ou à esquerda? A conclusão não pode ser outra se não a de que um juízo final único contraria toda noção que Jesus nos trouxe a respeito de Deus. O que vem a ser, na realidade, o Juízo Final? O julgamento predito por Jesus dá-se pelo processo de migração de espíritos, mais conforme a justiça e bondade de Deus do que o juízo único e definitivo. Segundo Kardec, o próprio termo "juízo final" é impróprio, pois o julgamento predito por Jesus não é único nem definitivo, uma vez que os espíritos passam por idêntica situação inúmeras vezes, a cada renovação dos mundos por eles habitados, até atingirem o grau de perfeição que lhes é possível e ao qual foram destinados. Esclarece, ainda, Kardec, que não há, na realidade, um juízo final, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, através dos quais se processam os movimentos migratórios de espíritos entre os planetas.

REFLEXÃO DO CAPÍTULO 17 – PREDIÇÕES DO

EVANGELHO

Como devemos interpretar as palavras de Jesus: "quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; - e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes"? Assim como os espíritos, os planetas também estão destinados à evolução, através do progresso moral e intelectual de sua humanidade. A Terra, em consequência desta determinação divina, terá que ascender na hierarquia dos mundos, deixando o estágio em que se encontra atualmente, de provas e de expiações, para se tornar um planeta de regeneração, destinado a espíritos que já não perseverem no mal e cultivem o desejo de progredir moralmente. Como vimos no estudo do capítulo XI, o movimento migratório de espíritos não se restringe ao limite da Terra. Do mesmo modo que se opera a renovação da população encarnada e desencarnada dentro do ambiente terreno, pelos nascimentos e mortes dos corpos físicos, que é a rotina, também se efetua, individual ou coletivamente, movimentos migratórios entre os planetas. Esse movimento de chegada e partida coletiva de espíritos é determinado pela sabedoria divina, com a finalidade de acelerar a renovação da população de um planeta, introduzindo elementos espirituais mais

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depurados. A predição de Jesus anunciando a vinda do "Filho do homem" para separar os bodes e as ovelhas, é uma figura que representa o processo de seleção dos espíritos que permanecerão na Terra, em sua nova situação. Aqueles que não hajam acolhido os seus ensinamentos e permanecerem endurecidos no mal não poderão continuar reencarnando na Terra, pois o seu atraso moral poderia acarretar perturbação à evolução do planeta. Tendo que reinar o bem, a eles será interdito aqui permanecerem, devendo ser exilados para mundos inferiores, compatíveis com seu nível de evolução moral, como o foram, outrora, os espíritos que vieram para formarem a raça adâmica. Esse processo de seleção, já iniciado, é presidido por Jesus, como ele anunciou: "Os bons passarão à minha direita e os maus à minha esquerda". É possível conciliar a doutrina de um juízo final único com os atributos de Deus? A doutrina de um juízo final único e universal, pondo fim à vida terrena e direcionando seus habitantes para o céu ou o inferno não se coaduna com os atributos da Divindade. Toda a obra de Deus, incluindo o Sol, a Lua e as estrelas, perder-se-ia. Somente esta consequência já serviria para demonstrar o absurdo desta doutrina, formulada com base na ideia de que a vida no Universo se restringe à Terra. Admitindo-se, porém, que há um número incalculável em planetas a ela semelhantes em todo o Universo, destinados à habitação de espíritos e que a Terra é um dos menos consideráveis, evidenciada fica a incoerência desta doutrina. Por outro lado, a ideia de um juízo definitivo, inapelável, que não dá oportunidade de reabilitação às suas criaturas, não se concilia com a bondade infinita de Deus, cujas leis soberanas sempre deixa aos homens a possibilidade do arrependimento e da reparação. Além disso, como explica Kardec, esse juízo final único, qualquer que fosse a época de sua aplicação, apanharia de surpresa a humanidade em meio à sua evolução, inclusive crianças, que seriam submetidas ao julgamento definitivo mal saídas do ventre materno, sem sequer terem tido tempo suficiente para tomarem consciência de si mesmas e para praticarem o bem ou o mal. Como poderiam ser julgadas, se ainda não eram boas nem más? Seriam colocadas à direita ou à esquerda? A conclusão não pode ser outra se não a de que um juízo final único contraria toda noção que Jesus nos trouxe a respeito de Deus. O que vem a ser, na realidade, o Juízo Final? O julgamento predito por Jesus dá-se pelo processo de migração de espíritos, mais conforme a justiça e bondade de Deus do que o juízo único e definitivo. Segundo Kardec, o próprio termo "juízo final" é impróprio, pois o julgamento predito por Jesus não é único nem definitivo, uma vez que os espíritos passam por idêntica situação inúmeras vezes, a cada renovação dos mundos por eles habitados, até atingirem o grau de perfeição que lhes é possível e ao qual foram destinados. Esclarece, ainda, Kardec, que não há, na realidade, um juízo final, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, através dos quais se processam os movimentos migratórios de espíritos entre os planetas.

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REFLEXÃO DO CAPÍTULO 18 - SÃO CHEGADOS OS

TEMPO

"Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar. Substitui-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade.

Transformação

A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas.

Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. Muito menos, pois, se trata de uma nova geração corpórea, do que de uma nova geração de Espíritos. Sem dúvida, neste sentido é que Jesus entendia as coisas, quando declarava: «Digo-vos, em verdade, que esta geração não passará sem que estes fatos tenham ocorrido.» (*) Assim decepcionados ficarão os que contem ver a transformação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

Transição

A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares. Têm ideias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém sobretudo das disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo. Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração. O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, em primeiro lugar, a revolta contra Deus, pelo se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos anti fraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme; enfim, o apego a tildo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza. Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que se obstinam em não emendar-se; porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque o contato com eles constituirá sempre um sofrimento para os homens de bem. Quando a Terra se achar livre deles, os homens caminharão sem óbices para o futuro melhor que lhes está reservado, mesmo neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, enquanto esperem que uma depuração mais completa lhes abra o acesso aos mundos superiores.

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Não se deve entender que por meio dessa emigração de Espíritos sejam expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores todos os Espíritos retardatários. Muitos, ao contrário, aí voltarão, porquanto muito há que o são porque cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo. Nesses, a casca é pior do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa daquela por que as viam quando em vida, conforme os múltiplos casos que conhecemos. Para isso, têm a auxiliá-los Espíritos benévolos que por eles se interessam e se dão pressa em esclarecê-los e em lhes mostrar quão falso era o caminho que seguiam. Nós mesmos, pelas nossas preces e exortações, podemos concorrer para que eles se melhorem, visto que entre mortos e vivos há perpétua solidariedade.

Renovação gradual

É muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da Natureza. Sejam os que componham a nova geração Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que trazem disposições melhores, há sempre uma renovação. Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formam duas categorias: de um lado, os retardatários, que partem; de outro, os progressistas, que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, portanto, no seio de um povo, de uma raça, ou do mundo inteiro, em relação com aquela das duas categorias que preponderar. Uma comparação vulgar ainda melhor dará a compreender o que se passa nessa circunstância. Figuremos um regimento composto na sua maioria de homens turbulentos e indisciplinados, os quais ocasionarão nele constantes desordens que a lei penal terá por vezes dificuldades em reprimir. Esses homens são os mais fortes, porque mais numerosos do que os outros. Eles se amparam, animam e estimulam pelo exemplo. Os poucos bons nenhuma influência exercem; seus conselhos são desprezados; sofrem com a companhia dos outros, que os achincalham e maltratam. Não é essa uma imagem da sociedade atual? Suponhamos que esses homens são retirados um a um, dez a dez, cem a cem, do regimento e substituídos gradativamente por iguais números de bons soldados, mesmo por alguns dos que, já tendo sido expulsos, se corrigiram. Ao cabo de algum tempo, existirá o mesmo regimento, mas transformado. A boa ordem terá sucedido à desordem.

Partidas coletivas

As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências e o de dar maior ascendente às ideias novas. Por estarem muitos, apesar de suas imperfeições, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura. Enquanto se conservassem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistiriam nas suas opiniões e nas suas maneiras de apreciar as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí veem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, conseguintemente, voltar com ideias inatas de fé, tolerância e liberdade. Ao regressarem, acharão mudadas as coisas e experimentarão a influência do novo meio em que houverem nascido. Longe de se oporem às novas ideias, constituir-se-ão seus auxiliares.

Regeneração

A regeneração da Humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com frequência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira. Quando insulado e individual, esse melhoramento passa despercebido e nenhuma influência ostensiva alcança sobre o mundo. Muito outro é o efeito, quando a melhora se produz simultaneamente sobre grandes massas, porque, então, conforme as

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proporções que assuma, numa geração, pode modificar profundamente as ideias de um povo ou de uma raça. É o que quase sempre se nota depois dos grandes choques que dizimam as populações. Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso.

Renascimento

Opera-se presentemente um desses movimentos gerais, destinados a realizar uma remodelação da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição constitui sinal característico dos tempos, visto que elas apressarão a eclosão dos novos germens. São as folhas que caem no outono e às quais sucedem outras folhas cheias de vida, porquanto a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas várias idades. As folhas mortas da Humanidade caem batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento, porém, para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica. Para o materialista, os flagelos destruidores são calamidades carentes de compensação, sem resultados aproveitáveis, pois que, na opinião deles, os aludidos flagelos aniquilam os seres para sempre. Para aquele, porém, que sabe que a morte unicamente destrói o envoltório, tais flagelos não acarretam as mesmas consequências e não lhe causam o mínimo pavor; ele lhes compreende o objetivo e não ignora que os homens não perdem mais por morrerem juntos, do que por morrerem isolados, dado que, duma forma ou doutra, a isso hão de todos sempre chegar. Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quiméricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum; cairão a seu turno, como os outros, e, então, que lhes acontecerá? Eles dizem: Nada! Viverão, no entanto, a despeito de si próprios e se verão, um dia, forçados a abrir os olhos."