REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO PAI MISERICORDIOSO

Por Marco Antonio do Nascimento Sales, Pr.

Texto: Evangelho Segundo Lucas 15, 17-19

CAPÍTULO XV - JESUS COME COM OS PECADORES

1 E aconteceu que todos os pecadores, como os coletores de impostos e pessoas de má fama estavam se reunindo

para ouvir a Jesus.

2 Entretanto, os fariseus e os mestres da Lei o censuravam murmurando: “Este saúda e se mistura a pessoas

desqualificadas e ainda partilha do pão com elas”.

A PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA

3 Foi então que Jesus lhes propôs a seguinte parábola:

4 “Qual, dentre vós, é homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no campo as noventa

e nove e vai em busca da que se extraviou, até que a encontre?

5 E assim que a encontra, coloca-a por sobre os ombros cheio de júbilo

6 e ruma para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e anuncia: ‘Alegrai-vos comigo, pois hoje encontrei

minha ovelha perdida’.

7 Eu vos afirmo que, da mesma maneira, haverá muito mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do

que por noventa e nove justos que não carecem de arrependimento.

A PARÁBOLA DA MOEDA PERDIDA

8 Ou ainda, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a

casa e a procura diligentemente até encontrá-la?

9 E, tendo-a achado, reúne suas amigas e vizinhas e proclama: ‘Alegrai-vos comigo, porque agora achei minha

dracma perdida’.

10 Eu vos asseguro que, de igual modo, há grande júbilo na presença dos anjos de Deus por um pecador que se

arrepende”.

A PARÁBOLA DO FILHO PERDIDO

11 E Jesus continuou: “Um homem tinha dois filhos.

12 O mais novo reivindicou do seu pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança a que tenho direito’. E consentindo, o pai

repartiu sua propriedade entre eles.

13 Não se passou muito tempo, e o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, partindo para terras distantes; e lá

esbanjou todos os seus bens, vivendo de forma irresponsável.

14 Coincidentemente, após haver gasto tudo o que possuía, abateu-se sobre toda aquela região uma grande fome,

e ele começou a passar muita necessidade.

15 Por esse motivo foi empregar-se com um dos cidadãos daquela região, que o mandou para o campo a fim de

cuidar dos porcos.

16 Ali, chegou a ter vontade de encher o estômago com as vagens de alfarrobeira com as quais os porcos eram

alimentados, no entanto, ninguém lhe dava absolutamente nada.

17 Foi quando, caindo em si, falou consigo mesmo: ‘Quantos empregados de meu pai têm comida com

fartura, e eu aqui, morrendo de fome!

18 Levantar-me-ei, tomarei o caminho de volta para meu pai, e ao chegar lhe confessarei: Pai, pequei contra

o céu e contra ti.

19 Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores’.

20 E, logo em seguida, levantou-se e saiu na direção do pai. Vinha caminhando ele ainda distante, quando seu pai o

viu e, pleno de compaixão, correu ao encontro do seu filho, e muito o abraçou e beijou.

21 Então, o filho lhe declarou: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho!’

22 Entretanto, o pai ordenou aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o com distinção, ponde-lhe o

anel de autoridade e as sandálias de filho.

23 Também trazei o novilho gordo e o preparai. Comamos, façamos uma grande festa e regozijemo-nos!

24 Porquanto este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado’. E começaram a celebrar

o seu regresso.

25 Entrementes, o filho mais velho estava no campo. Quando foi se aproximando da casa do pai, ouviu o som da

música e das danças.

26 Então chamou um dos servos e indagou-lhe sobre o que estava acontecendo.

27 Este informou: ‘Teu irmão regressou, e teu pai mandou matar o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e

salvo!’.

28 Mas o filho mais velho encheu-se de ira, e negou-se a entrar. Então o pai saiu e insistiu com ele.

29 Porém ele replicou ao pai: ‘Há tantos anos tenho trabalhado como um escravo para ti sem nunca ter

desobedecido a uma só ordem tua. Contudo, tu nunca me ofereceste nem ao menos um cabrito para que pudesse

festejar com meus amigos.

30 No entanto, chegando em casa esse teu filho, que pôs fora os teus bens com prostitutas, tu ordenaste matar o

novilho gordo para ele!’.

31 Então, lhe arrazoou o pai: ‘Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que possuo é igualmente teu.

32 Porém, nós tínhamos que celebrar muito à volta deste teu irmão e regozijar-mo-nos, porque ele estava morto e

reviveu, estava sem esperança e foi salvo!’.”

*Fonte: VERSÃO KING JAMES ATUALIZADA EM PORTUGUÊS DA ABBA PRESS.

INTRODUÇÃO

De acordo com as pesquisas do Dr. Kenneth Bailey, que passou mais 40 anos no Oriente (Do Egito à Índia), o texto

inserto no Capítulo XV do Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas, apesar de ser muito lido é, na verdade pouco

compreendido nos termos ensinados por Jesus durante o seu Ministério Terreno.

O período de ocorrência de Lucas 15 é provavelmente o ano 29 A.D., Jesus estava na Peréia (Localidade Além do

Jordão), proclamando o Amor de Deus.

O motivo que leva o Senhor Jesus a falar as parábolas de Lucas 15, está circunscrito à parte inicial do texto, a saber

(Vide Lucas 15,2):

1- Jesus Saúda os Pecadores (HAMARTOLOS = aquele que é dedicado ao pecado, um pecador não livre do

pecado; aquele que é eminentemente pecaminoso, aquele que é especialmente perverso; especificamente os

homens dominados por certos vícios ou crimes, como os cobradores de impostos, prostitutas, etc.);

2- Jesus se Mistura com essa gente desqualificada;

3- Jesus Partilha o pão com esse tipo de pessoa.

* Fazer refeição com alguém era sinal de plena aceitação desta pessoa.

* Esse comer o pão dá uma conotação, de que Jesus, segundo o Dr. Kenneth Bailey, além de comer hospedava e

recebia os pecadores (HAMARTOLOI), pois o verbo inserto no texto “PROSDÉCHMAI”, traz uma idéia de “receber,

aceitar, considerar bem-vindo”.

* Isso era uma afronta para os “FARISEUS (A origem mais próxima do nome fariseu está no latim

pharisaeus, que por sua vez deriva do grego ϕαρισαῖος, assentado no hebraico פרושים

prushim. Esta palavra vem da raiz parash que basicamente quer dizer "separar", "afastar".

Assim, o nome prushim ou perushim é normalmente interpretado como "aqueles que se

separaram" do resto da população comum para se consagrar o estudo da Torah e das suas

tradições. Todavia, sua separação não envolvia um ascetismo, já que julgavam ser importante

o ensino à população das escrituras e das tradições dos pais.) e MESTRES DA LEI (ESCRIBAS -

termo escriba refere-se aos chamados doutores e mestres (cf. Mateus 22,35; Lucas 5,17), ou

seja, homens especializados no estudo e na explicação da Lei ou Torah. Embora o termo

apareça pela primeira vez no livro de Esdras, eles eram bem sucedidos ao que faziam e sabe-se

que tinham grande influência e eram muito considerados pelo povo, tendo existido escribas

partidários de diferentes seitas, tais como os fariseus, saduceus essênios) que não se misturavam

em hipótese alguma. Para eles Jesus era um herege.

* Para se defender destes ataques o Senhor Jesus conta essa Parábola Múltipla dividida em três partes, a saber: a

ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido. Pois, um Rabino como o Senhor Jesus não dava respostas

diretas, fazia sua audiência pensar, contava uma história.

* A Parábola é Múltipla com um único significado “a alegria da restauração do que se perdeu e a postura afetuosa,

compreensível e acolhedora de Deus em relação aos pecadores.”

1. A OVELHA PERDIDA

1.1. Jesus começa a hisória com uma colocação de impacto, compara os seus ouvintes a pastores de ovelhas,

basta olhar Lc 15,4a, pois a profissão era desprezada, era uma atividade dada ás crianças, idosos, ou pessoas

adultas sem qualificação.

1.2. As ovelhas eram da comunidade, algumas poderia ser do pastor e de sua família, mas o número de 100, com

certeza era muito expressivo para pertencer a uma só pessoa. Uma família média tinha entre 05 a 15 ovelhas, não

mais que isso. Qualquer perda é uma perda da comunidade.

1.3. A ovelha perdida precisa de restauração, ela não possui censo de direção, precisa ser resgatada e, esta ação, é

muito trabalhosa. O texto diz que o pastor, quando encontrou a ovelha perdida, colocou-a sobre seus ombros (uma

ovelha adulta tem mais de 80 cm e pesa entre 100 120 Kg) jubiloso e retornou para aldeia com a ovelha.

1.4. O ato de chamar toda vizinhança para celebrar o achado é prova de que as ovelhas pertenciam à comunidade.

1.5. A marca da alegria é presente na parábola (Lucas 15, 6-7).

2. A MOEDA PERDIDA

2.1. O povo tinha escassez de dinheiro que era um artigo raro.

2.2. A dracma era moeda grega de prata, correspondente ao denário romano, equivalia a 01 dia de trabalho.

2.3. 10 Dracmas era uma quantia razoável, possivelmente era o dote da mulher, guardando-as para o seu

casamento. A mulher na sociedade judaica era vista como um ser inferior, que tinha uma única finalidade de casar e

gerar filhos, caso isso não ocorresse era um problema para a comunidade.

2.4. Ao perder a moeda na casa, que tinha um formato de construção sem janelas e chão de barro batido, muito

escura por dentro. Fez com que a mulher acendesse uma lamparina e a procurasse. Quando a acha, faz o mesmo

que o pastor, convida a comunidade para celebrar alegremente o achado.

ATÉ ESTE MOMENTO OS FARISEUS E ESCRIBAS, viram trivialidades na explanação de Jesus, mas deste ponto

em diante Ele (Jesus), começa a narras a história de impacto na terceira parte desta parábola.

3. O FILHO PERDIDO E O PAI MISERICORDIOSO

3.1. Chagamos ao “EVANGELIUM IN EVANGELIO”, o EVANGELHO dentro do EVANGELHO.

3.2. É uma história de impacto... narra algumas coisas impensáveis para época.

3.3. Essa família parece disfuncional – onde está a mãe? Lucas 15,11.

3.4. É nesta parte da Parábola que Jesus começa a demonstrar de fato qual é o tema central do seu ensino aqui

(DEUS COMO UM PAI QUE FAZ TUDO PARA RESGATAR OS PECADORES – SE HUMILHA, DESCE DA SUA

POSIÇÃO, MUDA O PROTOCOLO SOCIAL E ABDICA DOS SEUS DIREITOS).

3.5.O pedido do filho mais novo revela um conflito e uma insatisfação no seio desta família – Lucas 15,12.

a) A herança era um assunto tratado próximo da morte e se fazia oralmente.

b) O pai podia dividir sua herança com os filhos, sendo sempre primogênito aquinhoado com porção dobrada em

relação aos demais filhos, mas estes só podiam usufruir dos bens, após a morte do pai.

c) O pedido do filho mais novo equivalia a dizer que ele queria que o seu pai tivesse morto.

3.6. O Pai da Parábola faz algo inesperado, ele aceita o pedido do seu filho mais novo, divide os bens entre os dois

rapazes e disponibiliza os seus bens para eles – Lucas 15, 12.

a) O filho mais velho guarda silêncio, pela Lei ele deveria ter rejeitado tal processo, não deveria ter aceito a partilha

e tinha que ser um conciliador entre o seu irmão mais novo e o seu pai. Tudo indica que ele (filho mais velho),

queria seu irmão mais novo fora de casa.

b) O filho mais novo, ao tomar posse dos bens, vende o que pode, faz dinheiro rápido e vai para uma terra

estrangeira. Ele não tinha preparo para administrar os seus bens, veio a fome e tudo mudou... foi de patrão a

empregado – Lucas 15, 13-15.

3.7. O Fundo do Poço do Filho mais Novo

a) Ficou subempregado, pediu ajuda a um cidadão (POLITÊS = pessoa com autoridade), mas este com malignidade

mandou-o cuidar dos porcos.

b) Ficou passando fome.

c) Ninguém o ajudava, possivelmente estava na mendicância.

3.8. As Situações Extremas Ajudam a Refletir

a) O filho mais novo lembrou dos empregados assalariados* do seu pai que tinham comida na casa do seu pai com

fartura.

- Na Bíblia tem pelo menos 03 palavras para servos – “DOULOS” = escravo, *“MÍSTHIOS” = empregado

assalariado, “PAIS OU PAIDÓS” = servo, criança, pessoa menor.

- O filho mais novo tomou a decisão de voltar para casa do pai e se tornar um MÍSTHIOS (empregado assalariado),

já que para ser filho seria impossível.

- O filho mais novo tinha a mesma mentalidade dos fariseus e dos escribas, ou seja, a relação com Deus era

cercada de meritocracia e compensações, uma espécie de salvação pelas obras, MAS JESUS NESTA PARÁBOLA

REVELA QUE DEUS NÃO É ASSIM!

- O filho mais novo sabia que o seu retorno poderia redundar no KEZAZAH (corte), uma cerimônia de exclusão que

ocorria com pessoas que vendiam os bens das famílias para estrangeiros. A cerimônia era assim: os habitantes da

aldeia iam até o limite da sua com jarros de barro cheios de detritos e, diante do aldeão a ser excluído em virtude da

perda dos bens para os gentios, todos os jarros eram partidos (CORTADOS = KEZAZAH), para afirmar que o corte

que ele fez na comunhão da aldeia, agora ocorria na sua própria vida.

3.9. No Caminho de Regresso

a) Seu Pai já o Esperava – Lucas 15, 20.

- O pai estava “emocionado nas suas entranhas” (verbo esplanguizomai – encher-se de compaixão).

- O pai corre “drámon” (correr com pressa) – conduta que nenhum ancião judeu fazia.

- O pai se lança no filho “epepesen” e o abraça.

- O pai o beija fervorosamente “katéphílesen” – sinal de total perdão.

- Essas ações do pai confunde e atordoam a cabeça dos fariseus e escribas, pois a aceitação que se faz de quem

erra é sem cobrança, sem compensação e pura graça, um favor imerecido.

3.10. A Graça que Proporciona Presentes (dons/dádivas)

a) O pai presenteia o filho mais novo – Lucas 15, 22 – 23.

b) A roupa que o pai guardava para o casamento do filho mais velho ele deu para o mais novo, sinal de aceitação

total – Vide Isaías 61, 10.

c) O pai dá ao filho mais novo o “ANEL SINETE”, com o brasão da família, ele obtém a confiança do seu pai e, esta,

transformasse em autoridade para falar em nome da família.

d) O pai manda calçar sandálias nos pés do filho mais novo, indicando que ele não era um escravo, mas um homem

livre, pois só o escravo andava descalço.

e) O pai mata o novilho gordo, pois quer que a aldeia/comunidade participe do ato de aceitar e celebrar o retorno do

seu filho que havia “voltado a viver”, pois diante dos seus atos a comunidade o considerava como morto.

4. O FILHO QUE SE SENTIA UM ESCRAVO E O PAI MISERICORDIOSO

4.1. O filho mais velho estava distante emocionalmente do seu pai, tanto quanto o seu irmão esteve – Lucas 15, 25

– Era uma relação suportada...

4.2. Ele estava tão atordoado que ao invés de se dirigir para alguém idôneo, o filho mais velho, busca numa criança

a informação do que estava ocorrendo – Lucas 15, 27 – O termo servo neste versículo é “país, que vem de paidós”,

que significa menino. Tão é uma criança, que ela/ele não diz: “MEU SENHOR, TEU PAI”; fala apenas: “TEU PAI

FEZ A SHALOM COM O TEU IRMÃO”...

4.3. O filho mais velho tinha que ser o mestre de cerimônia da festa e não faz isso, deixa para o seu pai...

4.4. O filho mais velho se dirige ao pai sem usar títulos, como por exemplo: meu senhor pai...Lucas 15: 27-28.

4.5. O filho mais velho demonstra atitude e espírito de escravo e não de filho – Lucas 15, 29a (ELE DIZ

LITERALMENTE EU ME ESCRAVIZEI).

4.6. Ele insulta o pai publicamente e ainda diz: “EU NUNCA TE DESOBEDECI” – Lucas 15, 29b.

4.7. Ele acusa o pai de favoritismo – Lucas 15, 29 c.

4.8. Ele se declara fora da família – “ESSE TEU FILHO” – Lucas 15, 30.

5. Um Pai Misericordioso

5.1. É um pai que mais uma vez se humilha e tenta a reconciliação – Lucas 15, 31.

- Ele não usa o termo Huiós (filho) – você está submisso a mim.

- Ele usa o termo Téknon (filhinho) – meu bebê, minha criança.

5.2. Tudo que o pai tem é do filho (direitos assegurados).

5.3. O pai apela ao filho mais velho a reconciliação com o mais novo.

6. A HISTÓRIA NÃO TERMINA, POIS JESUS QUER QUE NÓS DEMOS UM FINAL SATISFATÓRIO Á MESMA.