Referncial Curricular - Caderno 2 - Completo

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PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAO - SEMED

REFERENCIAL CURRICULAR DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO3 ao 9 ano do Ensino Fundamental

2008

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NELSON TRAD FILHO Prefeito Municipal

MARIA CECILIA AMENDOLA DA MOTTA Secretria Municipal de Educao

ALELIS IZABEL DE OLIVEIRA GOMES Diretora - Executiva

ANGELA MARIA DE BRITO Coordenadora Geral de Gesto de Polticas Educacionais

SORAYA REGINA DE HUNGRIA CRUZ Coordenadora Geral de Gesto Estratgica

CCERO ROSA VILELA Coordenador Geral de Gesto Administrativa e Financeira

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COORDENAO GERAL Angela Maria de Brito - SEMED Ana Olria Ferreira Alves - SEMED Osmar Martins - SEMED CONSULTORA Olga Maria dos Reis Ferro - UEMS [email protected] PARTICIPAO TCNICA PEDAGGICA Ana Olria Ferreira Alves - SEMED

FICHA TCNICA DOS AUTORES:Adriana Cercarioli: Licenciatura Plena em Letras com habilitao em Lngua Portuguesa, Lngua Inglesa e suas respectivas literaturas; Ps-graduao especializao: Linguagem: Leitura e Redao; SEMED e-mail: [email protected] Ana Olria Ferreira Alves: Licenciatura em Pedagogia com habilitao em educao infantil, sries iniciais do ensino fundamental e superviso escolar/UCDB; Ps-graduao especializao: Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; SEMED e-mail: [email protected] Angela Maria de Brito: Licenciatura em Pedagogia/UCDB; Mestre em Educao/UFSCAR; Coordenadora Geral de Gesto de Polticas Educacionais do Departamento de Educao Bsica/ SEMED e-mail: [email protected] Adriano da Fonseca Melo: Licenciatura em Matemtica; Planejamento Educacional Universidade Salgado de Oliveira, Organizao do trabalho pedaggico, em educao matemtica, do professor das sries iniciais do Ensino Fundamental/UNIDERP; SEMED Mestrando em Educao Matemtica/UFMS e-mail: [email protected] Ana Aparecida da Silva: Licenciatura em Letras (Licenciatura plena)/FUCMAT;Ps graduao especializao: Planejamento Educacional - Universidade Salgado Filho e-mail: [email protected] Anderson Martins Corra: Licenciatura em Matemtica/UFMS; Ps-graduao especializao: Educao Matemtica/UNIDERP; Mestrando em Educao Matemtica/UFMS; SEMED e-mail: [email protected] Analice Teresinha Talgatti Silva: Licenciatura em Geografia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Ps-graduao especializao: Mtodos e Tcnicas de Ensino/UNIDERP; SEMED e-mail: [email protected] Ana Cludia Gonalves de Arajo Pereira: Licenciatura em Pedagogia; Ps-graduao especializao: Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Professora da REME. Ana Lcia Serrou Castilho: Licenciatura em Artes Visuais; Ps-graduao especializao: Didtica do ensino Superior/UCDB; SEMED e-mail: [email protected] Carolina Monteiro Santee: Licenciatura em Letras; Mestre em Educao/UFMS; Doutoranda em Educao/UFMS; Professora no curso de Letras/UFMS Ctia Fabiane Reis Castro de Oliveira: Licenciatura em Pedagogia/UFMS; Ps-graduao especializao: Mtodos e Tcnicas de Ensino/UNIDERP; SEMED e-mail: [email protected]

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Cludia Renata Rodrigues Xavier: Licenciatura em Educao Fsica/UFMS; Ps-graduao especializao: Dana Educao Fsica/FMU/SP; SEMED; Mestranda em Educao/UFMS email: [email protected] Cleide Pereira Gomes: Licenciatura em Letras (Portugus/ Ingles); Ps-graduao especializao: Metodologia do Ensino, Metodologia do ensino Superior e Informtica na Educao; Mestre em Cincias da Educao/UTCD; SEMED e-mail: [email protected] Clodoaldo Soares Rodrigues: Licenciatura em matemtica; Ps-graduao: Educao Matemtica; SEMED; e-mail: [email protected] Cristiane Miranda Magalhes Gondin: Licenciatura em Biologia (Licenciatura e Bacharelado)/UCDB; Ps-graduao especializao: Organizao do trabalho pedaggico, em educao matemtica, do professor das sries iniciais do Ensino Fundamental/UNIDERP, Psgraduanda em Prticas Pedaggicas com nfase em Histria, Geografia e Cincias; SEMED email: [email protected] Eracilda Conceio Gonalves Gama: Licenciatura em Pedagogia com habilitao na prescola, sries iniciais e disciplinas pedaggicas do 2 grau /UFMS; Ps-graduao especializao: Metodologia do ensino/FIFASUL; Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Mestranda em Educao/UTCD. Evanir Bordim Sandim: Licenciatura em Pedagogia; Ps-graduao especializao: Gesto escolar; SEMED e-mail: [email protected] Jucleides Silveira Pael Alcar: Licenciatura Plena em Histria; Ps-graduao especializao: Mtodos de Ensino no Curso Superior; SEMED e-mail: [email protected] Kely Fabricia Pereira Nogueira: Licenciatura em Matemtica; Ps-graduao especializao: Matemtica para o Ensino Mdio e Fundamental/UNIDERP, Organizao do trabalho didtico do professor de Matemtica dos anos iniciais/UNIDERP; Mestranda em Educao/UTCD; SEMED e-mail: [email protected] Gilce Maria Neves Bianco: Licenciatura em Pedagogia; Ps-graduao especializao: Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Professora da REME. Gildo Ribeiro do Nascimento Maior: Licenciatura em Filosofia com habilitao em Histria, Psicologia e Sociologia e-mail: [email protected] Leila Mateus Potric Licenciatura em pedagogia; Ps-graduao especializao; Psgraduao especializao: Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF. Leize Demtrio da Silva: Licenciatura em Educao Fsica UFMS; Ps - graduao especializao: Educao Fsica Escolar/UFMS; SEMED e-mail: [email protected] Leni Castilho Ferreira de Arruda Licenciatura em pedagogia; Ps - graduao especializao: Alfabetizao - e-mail: [email protected] Leusa de Melo Secchi: Licenciatura em Pedagogia; Mestre em Educao/UFMS; Professora do Centro Universitrio de Campo Grande/UNAES; SEMED e-mail: [email protected] Liliana Gonzaga de Azevedo Martins: Licenciatura em pedagogia; Mestre em Educao /UCDB; SEMED e-mail: [email protected] Luis Eduardo Moraes Sinsio: Licenciatura em Educao Fsica/UFMS; Mestre em Educao/UFMS; SEMED e-mail: Magali Luzio: Licenciatura em Histria/FUCMAT; Ps-graduao especializao: Formao de Ensino; Mestre em Desenvolvimento Local/UCDB; SEMED e-mail: [email protected] Marcia Vanderlei de Souza Esbrana: Licenciatura em Letras (licenciatura plena ingls/ portugus/ espanhol/ literaturas)/UFMS; Mestre em Lingstica/UnB; Doutoranda em Educao/UFMS; SEMED e-mail: [email protected] Maria ngela Arruda Fachini: Licenciatura em Pedagogia/FUCMAT; Mestre em Educao/UFMS; SEMED e-mail: [email protected]

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Maria das Dores Dias Acosta: Licenciatura Plena em Letras com habilitao em Lngua Portuguesa e Espanhola/UFMS; Ps-graduao especializao: Lngua e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana/ centro Universitrio Leonardo da Vinci; SEMED e-mail: [email protected] Maria da Graa Vinholi: Licenciatura em Pedagogia e Letras; Ps-graduao especializao: Educao Distncia/ UNB, Mdias na Educao/PUC/RJ, Tecnologias na Educao/ UFRP, Metodologias do Ensino Superior/FEPV; Mestre em Educao/UFSCAR; SEMED e-mail: [email protected] ; [email protected] Maria de Lourdes Alencar Lima: Licenciatura em Pedagogia com habilitao em sries iniciais e Orientao educacional; Ps-graduao especializao: Psicopedagogia; SEMED e-mail: [email protected] Maria Lionete da Silva Ribeiro: Licenciatura em Cincias Plena/UNOESTE; Graduao em Pedagogia (administrao)/UNOESTE; Ps-graduao especializao: Planejamento educacional Universidade Salgado de Oliveira; Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Mestranda em Educao/UTCD; SEMED e-mail: [email protected] Michelle Bittar: Licenciatura em Biologia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Mestre em Educao/UCDB e-mail: [email protected] Nelagley Marques: Licenciatura em Letras com licenciatura Plena e Bacharelado em Tradutor Intrprete/UNIDERP; Ps-graduao especializao: Tendncias contemporneas do Ensino na Lngua Inglesa/UNIDERP; SEMED - e-mail: [email protected] Olavo Costa Barrios Filho: Licenciatura em Histria/UCDB; Ps-graduao especializao: Histria Regional/UFMS; SEMED e-mail: [email protected] Olga Maria dos Reis Ferro: Licenciatura em Pedagogia; Mestre em Educao/UFMS; Doutoranda em Educao/UFMS; Professora da UEMS e-mail: [email protected] Osmar Martins: Licenciatura em Geografia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Ps-graduao especializao: Educao e Meio Ambiente/UNIC; SEMED e-mail: [email protected] Regina Magna Rangel Martins: Licenciatura em Pedagogia; Ps-graduao especializao: Organizao do trabalho didtico do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; SEMED email: [email protected] Rita de Cssia de Barros Galcia: Licenciatura em Histria; Ps-graduao especializao: Mtodos e Tcnicas de Ensino/UNIDERP; SEMED e-mail: [email protected] Rosa Maria Dalpiaz Dias: Licenciatura em Cincias com habilitao em Matemtica/FUCMAT; Ps-graduao especializao: Matemtica Superior PUC/MG; SEMED e-mail: [email protected] Ruth Aquino: Licenciatura em Pedagogia; Ps-graduao especializao: Polticas Pblicas e Gesto Educacional no Contexto Intercultural/UCDB; SEMED e-mail: [email protected] Sidnei Camargo: Licenciatura em Pedagogia/ Administrao Escolar; Licenciatura em Letras; Licenciatura em Educao Artstica; Licenciatura em instrumento Piano; Pos - graduao especializao: Msica Brasileira/UFMT, Metodologia do Ensino Superior; SEMED e-mail: [email protected] Snia Fenelon Filrtiga: Licenciatura em Pedagogia; Ps-graduao especializao: Educao Especial/UFMS/UERJ; SEMED e-mail: [email protected] Snia dos Santos Boiarenco Amorim: Licenciatura em Geografia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Ps-graduao especializao: Organizao do trabalho pedaggico, em educao matemtica, do professor das sries iniciais do Ensino Fundamental/UNIDERP; SEMED e-mail: [email protected] Vera Lcia Penzo Fernandes: Licenciatura em Educao Artstica com habilitao em Artes Plsticas; Mestre em Educao/UFMS; Doutoranda em Educao/UFMS; SEMED e-mail: [email protected]

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Vera Mattos: Licenciatura em Cincias Biolgicas licenciatura plena e bacharelado USU/RJ; Ps-graduao especializao: Citologia/ USO/RJ; Mestre em Educao/UFMS; Doutoranda em Educao/UFMS; Professora no curso de Biologia/UEMS e-mail: [email protected]

PARECERISTAS Professor Especialista Ari Fernando Bittar Educao Fsica/UFMS Professora Doutora Cludia Aparecida Stefane - Educao Fsica/UFMS Professora Mestre Izabel Cristina Silva Histria/UCDB Professora Doutora Maria Augusta de Castilho Histria/UCDB Professora Especialista Magda Simoni De Toni Artes Visuais/SEMED Professora Mestre Nilcia Protsio Campos Msica/UFMS Professora Mestre Lcia Monte Serrat Alves Bueno Artes Visuais/UFMS Professora Mestre Maria Celene Nessimian Artes Visuais/UFMS Professora Mestre Carolina Monteiro Santee Lngua Estrangeira/UFMS Professora Mestre Elismar Bertolucci de Arajo Anastcio Lngua Portuguesa/UNIDERP Professor Doutor Edgar Aparecido Costa Geografia/UFMS Professor Mestre Jarbas Antnio Guedes Matemtica/UNIDERP Professor Mestra Eugnia Aparecida dos Santos - Matemtica/UNIDERP Professora Ps-Doutora Marilena Bittar Matemtica/UFMS Professor Ps-Doutor Jos Luiz Magalhes de Freitas - Matemtica/UFMS Professora Doutora ngela Maria Zanon Biologia/UFMS COLABORADORES Adriano da Fonseca Melo Alex da Costa Mendes Alexandrino Martinez Filho Cristiane Miranda Magalhes Gondin Michelle Bittar Rogrio Lopes Paulino Thiago Jordo

REVISOItamar Soares de Arruda - SEMED Maraglai dos Santos Peres - SEMED Maria Stela Lopes Bomfim IESF Marcia Vanderlei de Souza Esbrana SEMED

ILUSTRAO DA CAPA A escola que queremos Adrielly Pereira Cavalcanti 7 anos Escola Municipal Joo Evangelista Vieira de Almeida

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SUMRIO

APRESENTAO ..................................................................................................... ..19 REFERENCIAL CURRICULAR PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL ............................................................................................................................. ..21 1. A ORGANIZAO DO CURRCULO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO 1 AO 9 ANO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE, MS........... 23 1.1 Por que trabalhar com eixos formadores do cidado no currculo? ....................... 25 2. ITINERRIOS CIENTFICOS E CULTURAIS COMO MATRIZ DE

INTEGRAO HORIZONTAL E VERTICAL DA FORMAO HUMANA........ 26 3. PERFIL DO PROFESSOR....................................................................................... 31 4. A FUNO MEDIADORA DA ESCOLA ............................................................ 35 5. PERFIL DO ALUNO .............................................................................................. 36 6. PERFIL DA EQUIPE TCNICA PEDAGGICA DA ESCOLA ......................... 41 6.1 O papel do corpo tcnico nas unidades escolares da Rede Municipal de Ensino... 43 7. GESTO ESCOLAR: A CONSTRUO DO CONCEITO DE DEMOCRACIA ..45 8. LIVRO DIDTICO: LIMITES E POSSIBILIDADES .......................................... ..48 9. ORGANIZAO DOS ESPAOS ESCOLARES: A BIBLIOTECA .................. ..50 10. A INFORMTICA NA EDUCAO ................................................................. ..52 11. AVALIAO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO ........................................ ..56 12. CENRIOS DA VIDA URBANA: HISTRIA, CONCEPO, ORGANIZAO, CONDIES E PERSPECTIVAS ............................................................................. ..58 13. MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO E EDUCAO: HISTRICO, CONCEPO E ORGANIZAO ........................................................................... ..60 14 MOVIMENTOS INDGENAS E EDUCAO: HISTRICO, CONCEPO E ORGANIZAO ........................................................................................................ ..62 15. POLTICAS AFIRMATIVAS: FUNDAMENTAES E PARMETROS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL .............................................................................. ..65 16. MOVIMENTO DE MULHERES (GNERO) E EDUCAO: HISTRICO, CONCEPO E ORGANIZAO ........................................................................... ..69

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17. POLTICAS E PRTICAS DE EDUCAO ESPECIAL, NA PERSPECTIVA DA EDUCAO INCLUSIVA .................................................................................. 72 LNGUA PORTUGUESA ......................................................................................... 77 1. FUNDAMENTOS DA LNGUA PORTUGUESA ................................................ 79 1.2 Concepes de Lngua .......................................................................................... 80 1.3 Concepo de Semitica ....................................................................................... 82 1.4 Concepo de Linguagem ..................................................................................... 83 1.5 Concepes de texto/gneros e tipos ..................................................................... 84 1.6 Histrico da Lingstica ........................................................................................ 86 2. OBJETIVOS DO ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA ................................... 87 3. METODOLGICAS DO ENSINO DE LNGUA PORUGUESA PARA O 3 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................... 88 3.1 Mtodos utilizados na aprendizagem da Lngua Portuguesa ................................ 88 3.2 Texto e gramtica (indissociveis) ........................................................................ 91 4. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEDOS POR MEIO DE SEUS

FUNDAMENTOS ....................................................................................................... 92 5. RELEVNCIA SOCIAL DA APRENDIZAGEM ARTICULADA AOS QUATRO EIXOS DA LNGUA PORTUGUESA ....................................................................... 93 6. CONTEDOS DE LNGUA PORTUGUESA PARA O 3 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 94 6.1 Contedos para o 3 ano do ensino fundamental .................................................. 94 6.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 3 ano do Ensino Fundamental ................................................................................................................ 95 6.2 Contedos para o 4 ano do ensino fundamental .................................................. 96 6.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 4 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 97 6.3 Contedos para o 5 ano do ensino fundamental .................................................. 98 6.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 5 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 99 6.4 Contedos para o 6 ano do ensino fundamental .................................................. 99 6.4.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 6 ano do Ensino Fundamental ................................................................................................................ 100 6.5 Contedos para o 7 ano do ensino fundamental .................................................. 102

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6.5.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 7 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 102 6.6 Contedos para o 8 ano do ensino fundamental .................................................. 104 6.6.1.Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 8 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 105 6.7 Contedos para o 9 ano do ensino fundamental .................................................. 107 6.7.1. Relevncia social da aprendizagem desses contedos para o 9 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 108 7. ITINERRIOS CIENTFICOS E CULTURAIS ....................................................109 8. AVALIAO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA ...................................................................................................................................... 111 LNGUA ESTRANGEIRA ....................................................................................... 117 ABREVIAES ......................................................................................................... 118 1. APRESENTAO DO REFERENCIAL CURRICULAR DE LNGUA

ESTRANGEIRA ......................................................................................................... 119 1.1 Histrico do Ensino de Lngua Estrangeira na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande MS (REME) ................................................................................................. 121 2. FUNDAMENTOS DA LINGSTICA APLICADA ............................................ 128 3. FUNDAMENTOS DO ENSINO DE LNGUA INGLESA E DA LNGUA ESPANHOLA ............................................................................................................. 130 3.1 Lngua Inglesa ....................................................................................................... 130 3.2 Lngua Espanhola .................................................................................................. 133 4. FUNDAMENTOS DA LNGUA ESTRANGEIRA PARA O 1 AO 5 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ....................................................................................... 135 5. METODOLOGIA DO ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA ......................... 136 6. PERFIL DO PROFESSOR DE LNGUA ESTRANGEIRA .................................. 139 7. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEDOS POR MEIO DOS SEUS FUNDAMENTOS - 1 AO 5 DO ENSINO FUNDAMENTAL ............................... 143 8. CONTEDOS DE LNGUA INGLESA PARA O 1 AO 5 DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 144 8.1 Contedos para o 1 ano do ensino fundamental .................................................. 144 8.2 Contedos para o 2 ano do ensino fundamental .................................................. 145 8.3 Contedos para o 3 ano do ensino fundamental .................................................. 145 8.4 Contedos para o 4 ano do ensino fundamental .................................................. 145

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8.5 Contedos para o 5 ano do ensino fundamental .................................................. 145 9. CONTEDOS DE LNGUA ESPANHOLA PARA O 1 AO 5 DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 146 9.1 Contedos para o 1 ano do ensino fundamental .................................................. 146 9.2 Contedos para o 2 ano do ensino fundamental .................................................. 146 9.3 Contedos para o 3 ano do ensino fundamental .................................................. 146 9.4 Contedos para o 4 ano do ensino fundamental .................................................. 146 9.5 Contedos para o 5 ano do ensino fundamental .................................................. 147 10. CONTEDOS DA LNGUA INGLESA PARA O 6 AO 9 DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 147 10.1 Contedos para o 6 ano do ensino fundamental ................................................ 147 10.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 6 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 148 10.2 Contedos para o 7 ano do ensino fundamental ................................................ 149 10.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 7 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 150 10.3 Contedos para o 8 ano do ensino fundamental ................................................ 150 10.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 8 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 151 10.4 Contedos para o 9 ano do ensino fundamental ................................................ 152 10.4.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 9 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 153 11. CONTEDOS DE LNGUA ESPANHOLA PARA O 6 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 153 11.1 Contedos para o 6 ano do ensino fundamental ................................................ 153 11.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 6 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 154 11.2 Contedos para o 7 ano do ensino fundamental ................................................ 155 1.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 7 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 156 11.3 Contedos para o 8 ano do ensino fundamental ................................................ 157 11.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 8 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 158 11.4 Contedos para o 9 ano do ensino fundamental ................................................ 158

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11.4.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 9 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 159 12. AVALIAO DA APRENDIZAGEM DO ENSINO DE LNGUA

ESTRANGEIRA ......................................................................................................... 160 ARTES ........................................................................................................................ 165 1. FUNDAMENTOS DO ENSINO DE ARTE .......................................................... 167 1.1 As Linguagens Artsticas ...................................................................................... 171 1.2 Artes visuais .......................................................................................................... 172 1.3 Msica ................................................................................................................... 173 1.4 Teatro......................................................................................................................174 1.5 A arte e as novas tecnologias ................................................................................ 175 2. OBJETIVOS DO ENSINO DE ARTE ................................................................... 178 3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEDOS POR MEIO DOS SEUS FUNDAMENTOS ....................................................................................................... 179 4. CONTEDOS DE ARTES VISUAIS PARA O 3 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 191 4.1 Contedos para o 3 ano do ensino fundamental .................................................. 191 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 191 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 191 4.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 3 ano do ensino fundamental ................................................................................................ 191 4.2 Contedos para o 4 ano do ensino fundamental .................................................. 192 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 192 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 192 4.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 4 ano do ensino fundamental ................................................................................................ 192 4.3 Contedos para o 5 ano do ensino fundamental .................................................. 193 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 193 Eixo - Produo artstica ..............................................................................................193 4.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 5 ano do ensino fundamental ................................................................................................ 193 4.4 Contedos para o 6 ano do ensino fundamental .................................................. 193 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 193 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 194

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4.4.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 6 ano do ensino fundamental ................................................................................................ 194 4.5 Contedos para o 7 ano do ensino fundamental .................................................. 194 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 194 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 194 4.5.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 7 ano do ensino fundamental ................................................................................................ 194 4.6 Contedos para o 8 ano do ensino fundamental .................................................. 195 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 195 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 195 4.6.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 8 ano do ensino fundamental ................................................................................................ 196 4.7 Contedos para o 9 ano do ensino fundamental .................................................. 196 Eixo - Compreenso histrica e cultural das artes visuais .......................................... 196 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 196 4.7.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de artes visuais para o 9 ano ensino fundamental ..................................................................................................... 196 5. CONTEDOS DE MSICA PARA O 3 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 197 5.1 Contedos para o 3 ano do ensino fundamental .................................................. 197 Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 197 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 197 5.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de Msica para o 3 ano do ensino fundamental ..................................................................................................... 197 5.2 Contedos para o 4 ano do ensino fundamental .................................................. 198 Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 198 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 198 5.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de Msica para o 4 ano do ensino fundamental ..................................................................................................... 199 5.3 Contedos para o 5 ano do ensino fundamental .................................................. 199 Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 199 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 199 5.3.1. Relevncia social da aprendizagem dos contedos de Msica para o 5 ano do ensino fundamental.......................................................................................................200

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Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 200 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 200 5.4.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de Msica para o 6 ano do ensino fundamental. .................................................................................................... 201 5.5 Contedos para o 7 ano do ensino fundamental .................................................. 201 Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 201 Eixo - Produo musical ............................................................................................. 201 5.5.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de Msica para o 7 ano do ensino fundamental ..................................................................................................... 202 5.6 Contedos para o 8 ano do ensino fundamental .................................................. 202 Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 202 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 203 5.6.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de Msica para o 8 ano do ensino fundamental. .................................................................................................... 203 5.7 Contedos para o 9 ano do ensino fundamental .................................................. 203 Eixo - Compreenso histrica e cultural da Msica .................................................... 203 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 204 5.7.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de msica para o 9 ano do ensino fundamental. .................................................................................................... 204 6. CONTEDOS DE TEATRO PARA O 3 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................... 205 6.1 Contedos para o 3 ano do ensino fundamental .................................................. 205 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 205 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 205 6.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro para o 3 ano do ensino fundamental ..................................................................................................... 205 6.2 Contedos para o 4 ano do ensino fundamental .................................................. 206 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 206 Eixo II - Produo artstica .......................................................................................... 206 6.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro para o 4 ano do ensino fundamental ..................................................................................................... 206 6.3 Contedos para o 5 ano do ensino fundamental .................................................. 206 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 206 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 207

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6.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro para o 5 ano do ensino fundamental ..................................................................................................... 207 6.4 Contedos para o 6 ano do ensino fundamental .................................................. 207 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 207 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 207 6.4.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro do 6 ano ensino fundamental ................................................................................................................. 208 6.5 Contedos para o 7 ano do ensino fundamental .................................................. 208 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 208 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 209 6.5.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro para o 7 ano do ensino fundamental. .................................................................................................... 209 6.6 Contedos para o 8 ano do ensino fundamental .................................................. 209 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 209 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 210 6.6.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro para o 8 ano do ensino fundamental. .................................................................................................... 210 6.7 Contedos para o 9 ano do ensino fundamental .................................................. 211 Eixo - Compreenso histrica e cultural do Teatro ..................................................... 211 Eixo - Produo artstica ............................................................................................. 211 6.7.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos de teatro para o 9 ano do ensino fundamental. .................................................................................................... 211 7. METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE ........................................................... 212 8. ITINERRIOS CIENTFICOS E CULTURAIS PARA O ENSINO DE ARTE ... 224 9 AVALIAO DA APRENDIZAGEM DO ENSINO DE ARTE ........................... 227 EDUCAO FSICA ............................................................................................... 233 1. FUNDAMENTOS DA EDUCAO FSICA ....................................................... 235 1.1 Tendncias emergentes da Educao Fsica escolar ............................................. 238 1.2 A cultura corporal de movimento .......................................................................... 241 2. OBJETIVOS DO ENSINO DE EDUCAO FSICA .......................................... 244 3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEDOS POR MEIO DE SEUS

FUNDAMENTOS ....................................................................................................... 244 4. CONTEDOS PARA O 3 AO 5 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL .......... 253 4.1 Eixo Conhecimento sobre o corpo ..................................................................... 253

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4.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 3 ao 5 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 254 4.2 Eixo Jogos esportivos e recreativos ................................................................... 254 4.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 3 ao 5 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 254 4.3 Eixo Atividades rtmicas e expressivas ............................................................... 255 4.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 3, ao 5 ano do ensino fundamental .................................................................................................................. 255 5. CONTEDOS PARA O 6 AO 9 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ......... 256 5.1 Eixo Conhecimento sobre o corpo ...................................................................... 256 5.1.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 6 e 7 anodo ensino fundamental ................................................................................................................. 256 5.1.2 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 8 e 9 anodo ensino fundamental ................................................................................................................. 257 5.2 Eixo Jogos esportivos e recreativos ................................................................... 257 5.2.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 6 e 7ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 258 5.2.2 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 8 e 9ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 259 5.3 Eixo Atividades rtmicas e expressivas .............................................................. 259 5.3.1 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 6 e 7 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 260 5.3.2 Relevncia social da aprendizagem dos contedos para o 8 e 9 ano do ensino fundamental ................................................................................................................. 260 6. PRTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS ....................................................... 260 6.1 Biodana ................................................................................................................ 261 6.2 Arvorismo .............................................................................................................. 261 6.3 Corrida de Orientao ........................................................................................... 262 6.4 Trilhas .................................................................................................................... 262 7. METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAO FSICA .................................. 263 8. ITINERRIOS CIENTFICOS CULTURAIS PARA 3 AO 9 ANO EDUCAO FSICA ........................................................................................................................ 266 8.1 Lugares .................................................................................................................. 267 8.2 DVDS .................................................................................................................... 268

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8.3 CDS ....................................................................................................................... 269 9. AVALIAO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM EM EDUCAO FSICA ........................................................................................................................ 270

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APRESENTAO

A Prefeitura Municipal de Campo Grande tem como uma de suas metas prioritrias a qualidade da educao que oferece aos seus muncipes, e por meio da Secretaria Municipal de Educao/SEMED, implementa e desenvolve aes que propem subsidiar o trabalho docente e, conseqentemente, favorecer a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem. Nesse sentido, a construo do Referencial Curricular para o Ensino Fundamental, que ora apresentamos, teve incio em 2005, com vistas a dar apoio ao trabalho pedaggico e ao plano de ensino dos professores, e melhorar a qualidade do ensino nas escolas. Para a elaborao, contou-se com a participao dos professores da Rede Municipal de Ensino/REME, os quais, nos encontros para estudos, apresentaram sugestes, cujas propostas foram analisadas e sistematizadas pelos tcnicos da Coordenadoria-Geral de Gesto de Polticas Educacionais, que procuraram garantir que permanecesse a essncia do currculo pensado pelos profissionais educadores da Rede. Com a promulgao da Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que dispe sobre a durao de nove anos para o Ensino Fundamental, houve, portanto, a necessidade de se fundamentar o referido documento nos aspectos tericos, metodolgicos e organizacionais, visando atender aos pressupostos dessa legislao que fundamentam o Referencial Curricular, que so a busca da totalidade social e histrica da formao do cidado, compreendida como uma educao que oportuniza aos alunos entenderem o funcionamento dos valores cultural, esttico, poltico e econmico da sociedade da qual faz parte, e conforme o nvel de compreenso, em consonncia com a poltica de educao do municpio de Campo Grande. Assim, espera-se que este documento, elaborado coletivamente, possa funcionar como uma nova organizao do trabalho didtico do professor das escolas da REME. Para isso, salutar que seja objeto de constante estudo e reviso. Quando chegamos reflexo crtica daquilo que ns mesmos fazemos, porque nossa prtica vem alcanando o sonhado salto qualitativo.

Maria Cecilia Amendola da Motta Secretria Municipal de Educao

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REFERENCIAL CURRICULAR PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL

Caro professor,

O documento foi elaborado pela equipe da Coordenadoria Geral de Polticas Educacionais CGPE, da Secretaria Municipal de Educao (SEMED), com o objetivo de sistematizar a proposta curricular apresentada pelos professores atuantes nas escolas da Rede Municipal de Ensino (REME). Este trabalho teve incio no ano de 2005, por meio de reunies, debates, pesquisa nos quais os professores da REME puderam apresentar suas propostas para compor o currculo que queriam desenvolver nas escolas municipais de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Aps essa participao e contribuio, a SEMED realizou no Programa de Formao Continuada, a sntese das propostas curriculares apresentadas pelos professores, de modo a sintetizar, num nico documento, a essncia do currculo pensado e elaborado pelos profissionais das escolas da REME. As respostas sobre o que as escolas desejavam para o currculo permitiram a realizao de um trabalho pedaggico em grupo, bem como trouxeram novas expectativas para a (re)construo e sistematizao do referencial curricular norteador do trabalho didtico do professor do Ensino Fundamental da REME. Ao definir os princpios gerais do referencial curricular da REME, coube aos profissionais da diviso de currculo da Secretaria Municipal de Educao fundamentar e sistematizar essas propostas. Para isso, optou-se por selecionar uma diversidade de obras que discutissem o pensamento humano e a educao no interior da sociedade contempornea. Existe uma expectativa muito grande em relao qualidade da educao brasileira e, particularmente, uma preocupao com a qualidade da educao do Municpio de Campo Grande-MS, expressa neste texto. Acredita-se que um trabalho em equipe, como esse que foi desenvolvido, aponta caminhos favorveis para efetivao de um trabalho didtico concernente s necessidades campograndenses. Prope-se uma educao que valorize a potencialidade de todos os alunos, a capacidade que eles tm de aprender e (re)elaborar conhecimento, de ver na sociedade o que se passa, mesmo que pelo olhar sincrtico do senso comum. Por isso, cabe escola ajudar crianas e jovens a sistematizar os seus conhecimentos para que a aprendizagem seja significativa e uma ferramenta somativa aos eventos de transformao da sociedade. importante lembrar, que existe, tambm, uma expectativa da sociedade e dos rgos institucionais da educao sobre a capacidade de aprendizagem do professor. Por isso, professor, est embutido neste discurso a esperana de que voc consiga cuidar bem de sua prpria

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aprendizagem, que tenha o desejo e as condies necessrias para estudar e pesquisar permanentemente, porque esta uma condio mpar para que seus alunos tenham sucesso na escola e na vida. Frente atual crise do sistema capitalista, no fcil para a escola sistematizar um Referencial Curricular que d conta de abarcar todas as reivindicaes da sociedade para com a educao. A sociedade atual traz necessidades materiais e espirituais resultantes do modo de organizao de produo da sociedade, que, em seu movimento de reproduo do capital produz simultaneamente, a misria humana, como condio da prpria sobrevivncia do capital. Essa questo impe aos educadores novas formas de pensar a educao por meio da formao humanstica cientfica que busca a construo de uma sociedade mais humana. Essa responsabilidade implica um trabalho de equipe formada por pesquisadores, administradores e professores como articuladores e executores da formao humana. Todavia, importante acentuar que a crise do capital atinge todos os setores da sociedade e nos resultados da aprendizagem das crianas e jovens. Ento, os problemas da educao expressos na escola, no decorrem somente da pouca formao e aprendizagem do professor, mas resulta de um conjunto de fatores complexos, inerentes ao prprio movimento social, poltico e econmico da sociedade capitalista contempornea. E justamente por isso que o professor precisa estudar permanentemente, pois a educao palco de embate poltico e ideolgico refletido nas prticas escolares. O pressuposto terico a busca da totalidade social e histrica da formao do cidado, entendida como uma educao cuja organizao do trabalho didtico do professor desenvolver, nas crianas e jovens do Ensino Fundamental, a compreenso de como funciona a sociedade em seus aspectos social, cultural, poltico e econmico, de acordo com o nvel de conhecimento que esses educandos possam alcanar no seu momento de estudo, numa perspectiva do salto qualitativo do conhecimento. Desse modo, o papel do professor oferecer s crianas e aos jovens situaes didticas adequadas s necessidades e s possibilidades de aprendizagem conforme com a capacidade e a potencialidade que eles tm de aprender e de sistematizar o conhecimento. Assim, espera-se que este documento, elaborado coletivamente, seja norteador do trabalho didtico do professor das escolas pblicas do Ensino Fundamental da REME, de forma a ampliar a aprendizagem das crianas e dos jovens. importante que seja tomado como objeto de constante estudo e crtica. Quando chegamos ao ponto da reflexo crtica daquilo que ns mesmos fazemos significa que a nossa prtica tem alcanado o sonhado salto qualitativo.

Profissionais da equipe da Diviso de Currculo da SEMED e Prof. MSc e consultora da escrita deste referencial curricular, Olga Maria dos Reis Ferro/UEMS.

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1. A ORGANIZAO DO CURRCULO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO 1 AO 9 ANO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE, MS.Ana Olria Ferreira Alves Olga Maria dos Reis Ferro Osmar Martins

O currculo do ensino fundamental do 1 ao 9 ano, na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande-MS ter como orientao para a sua organizao pedaggica, o Plano Municipal de Educao: o futuro da educao a gente que faz (2007-2016) e os Referenciais Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande-MS, elaborado pelos professores das escolas municipais e equipe da Diviso do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educao - SEMED. Neste documento, a definio e distribuio das reas de conhecimento, divididas em base comum e partes diversificadas do currculo, atende ao texto do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional-LDB, n 9394, de 20 de dezembro de 1996, que assim determina: Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada (BRASIL, 1996). Essa definio de um currculo dividido em base comum e partes diversificadas, atende ao cumprimento do artigo 210 da Constituio Federal de 1988, que determina como dever do Estado para com a educao, fixar contedos mnimos para o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar a formao bsica comum e respeito aos valores culturais e artsticos, nacionais e regionais. Tambm disposto que o ensino fundamental obrigatrio para os alunos na idade prpria e que o Estado tem o dever de oferecer atendimento s crianas de zero a seis anos. Com as determinaes oriundas das relaes sociais, polticas e econmicas da sociedade contempornea surge a necessidade de se trabalhar em prol da melhoria da qualidade de ensino, compreendendo que a permanncia dos alunos na escola deve ser ampliada por meio da jornada diria. Para soluo de tal necessidade social, em maio de 2005, entrou em vigor a Lei n 11.114 que altera a LDB - Lei de Diretrizes e Bases, preconizando

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que a matrcula no Ensino Fundamental passaria a ser obrigatria aos seis anos de idade, com durao do tempo de ensino fundamental de 8 para 9 anos. O ingresso das crianas com seis anos no ensino de nove anos abordado na Resoluo de 03/08/2005, em seu artigo 1 e estabelece que: a antecipao da obrigatoriedade de matrcula no Ensino Fundamental aos seis anos de idade implica na ampliao da durao do Ensino Fundamental para nove anos; em seu artigo 2, essa mesma Resoluo prev que a organizao do Ensino Fundamental para nove anos e Educao Infantil adotar a seguinte nomenclatura:

Etapa de ensino Educao Infantil Creche Pr Escola Ensino Fundamental Anos Iniciais Anos Finais

Faixa etria prevista at 5 anos de idade at 3 anos de idade 4 e 5 anos de idade at 14 anos de 6 a 10 anos de 11 a 14 anos

Durao

9 anos 5 anos 4 anos

Fonte: Ministrio da Educao/ Secretaria de Educao Bsica.Maio, 2006.

Contudo, em Mato Grosso do Sul, devido ao movimento organizado de pais, cujos filhos completariam 6 anos at dezembro do ano de sua matrcula, o Conselho Municipal de Educao, assim deliberou:A deliberao CME/MS n 685 de 05-12-2007 altera os dispositivos das deliberaes CME/MS n 559/2006, 596/2006,620/2007 e 627/2007, que dispem sobre a ampliao do ensino fundamental para 9 anos no Sistema Municipal. Art. 2. II. A criana que ir completar 6 anos at dezembro poder ser matriculada no 1 ano do ensino fundamental.

O ensino fundamental ampliado para 9 anos deve assegurar que sejam contempladas no currculo, as expectativas das crianas que completaro a idade de 6 anos at o ms de dezembro do ano de sua matrcula no ensino fundamental e o desenvolvimento de seus aspectos fsico, psicolgico, intelectual, social e cognitivo. Nesta perspectiva, propor um currculo que leve em conta esses aspectos pensar numa proposta coerente com as especificidades das crianas de 5 e 6 anos, assim como os demais alunos em suas respectivas faixas etrias. O currculo reelaborado um norteador para a escola e deve ter como foco o que est previsto no artigo 8 da Deliberao CME/MS n 559, de 19 de outubro de 2006, que estabelece: A ampliao do ensino fundamental de nove anos requer a reorganizao do projeto poltico-pedaggico da instituio de ensino em consonncia com as diretrizes

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emanadas do Conselho Nacional de Educao, da Secretaria Municipal de Educao e as normas deste Conselho. Portanto, toda organizao da escola gira em torno desse currculo, tendo, como ponto de partida, o propsito de melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem em todos os anos do Ensino Fundamental. Com essa finalidade foram construdos, coletivamente, os Referenciais Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande-MS. Reafirma-se, portanto, que este documento foi estruturado de forma a estimular a intencionalidade de se materializar, na escola pblica, novas possibilidades de renovao do trabalho pedaggico. Desta forma se estrutura o documento:

CADERNO I - DOCUMENTO INTRODUTRIO E ALFABETIZAO CADERNO II - DOCUMENTO INTRODUTRIO E EIXO 1 - LINGUAGENS, ESTTICA, CULTURA E SUAS TECNOLOGIAS: - Lngua Portuguesa; - Lngua Estrangeira; - Artes; - Educao Fsica.

CADERNO III - DOCUMENTO INTRODUTRIO E EIXO 2 - SOCIEDADE, POLTICA, ECONOMIA E SUAS TECNOLOGIAS: - Histria; - Geografia; - Ensino Religioso.

CADERNO IV - DOCUMENTO INTRODUTRIO E EIXO 3 - CINCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS: - Matemtica; - Cincias. 1.1 Por que trabalhar com eixos formadores do cidado no currculo? A proposta de trabalhar com eixos formadores do cidado neste currculo tem como objetivo, promover a mediao entre os contedos das diferentes reas do conhecimento e a vida em sociedade. Nessa perspectiva as diferentes reas do conhecimento consistem em uma forma especfica vinculada ao contedo cientfico de cada rea do conhecimento e a vida e

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sociedade consiste em uma formao geral, que envolve conhecimento do ser humano como um todo, em suas relaes com a sociedade e, com a natureza e consigo mesmo. Tratam-se, portanto de conhecimentos que requer do professor saberes a cerca da filosofia, da histria, da sociologia, da psicologia e, no campo dessas cincias, destacar sociedade, tica, poltica, economia, tecnologia, esttica, natureza, entre outras. Assim, no se trata de trabalhar por projetos ou interdisciplinarmente para dar conta da formao especfica e geral do aluno, mas fazer com que Linguagens, esttica, cultura e suas tecnologias; Sociedade, poltica, economia e suas tecnologias; Cincias da natureza e suas tecnologias e Itinerrios cientficos e culturais constituam-se em instrumentos que permitem as crianas e aos jovens subsidiar, compreender e questionar, a realidade em que vivem e intervir na historicidade social de seu tempo.

2. ITINERRIOS* CIENTFICOS E CULTURAIS COMO MATRIZ DE INTEGRAO HORIZONTAL E VERTICAL DA FORMAO HUMANAOlga Maria dos Reis Ferro

Na perspectiva dos fundamentos deste referencial curricular, os Itinerrios cientficos e culturais no so temas transversais. As temticas que o Ministrio de Educao e Cultura (MEC) convencionou chamar de temas transversais, nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN/1996), no co-existem de forma paralela neste currculo, uma vez que a substncia deste documento so todas as temticas sociais que precisam ser estudadas e discutidas, conforme as necessidades a serem sanadas pelas pessoas em espaos e tempos determinados historicamente. Ento, vale indagar: o que so os Itinerrios cientficos e culturais na perspectiva deste referencial curricular? Quais so os objetivos das atividades pedaggicas e temticas sociais de relevncia, a serem estudadas e discutidas no ensino fundamental? Como o prprio nome diz, trata-se de uma atividade escolar que envolve a cincia e a cultura como uma matriz de integrao horizontal e vertical que visa uma formao plena do cidado. Vamos raiz dessas palavras para descobrir os seus significados.O termo itinerrio foi desenvolvido por Renato Janine Ribeiro, no Projeto do Curso de Graduao de Humanidades da USP. Ver RIBEIRO, Renato Janine (org) Humanidades: um novo curso na USP. So Paulo: EDUSP, 2001.*

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1. CINCIA: [...] As consideraes (crtica) de Claude Bernard a respeito (da Cincia positiva) so muito interessantes: A simples constatao dos fatos, diz ele, nunca chegar a construir uma cincia. Podem se multiplicar fatos e observaes, mas isso no levar compreenso de nada. Para aprender, preciso, necessariamente, raciocinar sobre o que se observou, comparar os fatos e julg-los com outros fatos que servem de controle (ABBAGNANO, 1998, p. 138) 2. CULTURA: [...] Este termo tem dois significados. No primeiro o mais antigo, significa a formao do homem, sua melhoria e seu refinamento, [...] O segundo significado, indica o produto dessa formao, ou seja, o conjunto dos modos de viver e de pensar cultivados, civilizados, polidos, que tambm costumam ser indicados pelo nome de civilizao (ABBAGNANO, 1998, p. 225).

Podemos inferir que, na perspectiva deste referencial curricular, cincia e cultura formam a matriz impulsionadora da integrao horizontal e vertical do currculo do ensino fundamental, numa relao intrnseca entre educao e sociedade. Assim, o fundamento que d unidade a este currculo a concepo de que a humanizao do ser humano o princpio e o fim da sociedade, produzida historicamente. A produo de uma sociedade humanizada depende, entre outras coisas, da democratizao do acesso ao conhecimento. Segundo Figueira (1995), o homem produz conhecimento medida que tem necessidade dele como um instrumento de utilidade real para resolver as suas problemticas da vida em sociedade, e para Marx (1988), o conhecimento instrumentaliza o homem a entrar em relao com os outros e com a natureza, modificando-a e a si mesmo. No interior dessa dialtica o conhecimento entendido como a objetivao das idias. O que significam idias objetivadas? Significa afirmar que no so produzidas fora das relaes sociais. So objetivadas porque as caractersticas quantitativas e qualitativas da mente so determinadas pela atividade prtica dos homens (PALANGANA e HOFF, 1993, p. 21). Assim, no a conscincia que determina as atividades prticas dos homens, mas so as suas necessidades materiais e espirituais que lhe determinam a conscincia, pois o homem um ser social, como esclarece Pires (2007, p. 02):[...] antes de mais nada, um ser corpreo, real e objetivo; um ser que tem existncia material e que tem uma atividade vital que no se reduz conscincia, embora a envolva. [...] Os mesmos homens que estabelecem as relaes sociais de acordo com a sua produtividade material, produzem, tambm, os princpios, as idias e as categorias de acordo com suas relaes sociais. Assim, estas idias, estas categorias so to pouco eternas quanto s relaes que exprimem. So produtos histricos e transitrios.

Por isso, o desenvolvimento das idias no plano individual nada mais do que a apropriao e a transformao do que j est posto no mundo social. Transpondo essa

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concepo para a escola a pergunta que se faz : como os professores e os alunos podem sistematizar o conhecimento numa intrnseca relao entre teoria e prtica? Sabemos que existe um pensamento acadmico preconizado afirmando que no nvel da educao bsica impossvel fazer cincia nos moldes como concebida culturalmente. Se a funo da escola socializar e sistematizar o conhecimento e, tambm ensinar a pensar e a aprender, ela pode e deve ser uma escola criadora e desenvolver com seus alunos aprendizagens sustentadas por ensaios cientficos. Nessa direo a proposta de se desenvolverem atividades de itinerrios cientficos e culturais no ensino fundamental rompe a crena de que nesse nvel de ensino o aluno no capaz de pensar com lgica, de articular alguns ensaios de pensamento formalizado acerca do mundo que o cerca, uma vez que acreditamos que as crianas e jovens envolvidos nesse nvel de ensino, na sociedade contempornea, trazem conhecimentos advindos de informaes intercambiadas nos mais diversos e avanados sistemas (tecnolgicos) de comunicao. Sendo assim, acreditamos na possibilidade de desenvolver um trabalho didtico revolucionrio, no na cincia de ponta, mas em termos de ensaios cientficos e culturais, que propiciam a integrao da iniciao cientfica no estudo dos contedos do ensino bsico desde o nvel fundamental. Desenvolver ensaio cientfico possvel, na medida em que se valoriza a riqueza dos conhecimentos vivenciados por crianas e jovens, em suas comunidades que ao se relacionar como o universo do saber sobre o conjunto da sociedade que eles acessam, seja pela escola, seja pelos meios de comunicao. Segundo Alves (2003), a escola precisa acreditar na relao entre conhecimento singular e universal, a fim de fazer as crianas e jovens avanarem do conhecimento sincrtico para o pensamento lgico. No surpresa para ningum que as crianas ao ingressarem na escola, no tm, ainda, o conhecimento formal necessrio produo da cincia. Contudo, nada impede que essas crianas sejam capazes de, partindo de temticas sociais propostas, ler e estudar textos diversos, discutir com os professores e colegas determinados fundamentos, levantar, interpretar e sistematizar dados, conforme o seu nvel de aprendizagem; a partir de temticas sociais, estabelecer relaes entre um fenmeno e outro, comparar um fato singular com seus determinantes universais, diferenar um fato do outro, com a mediao do professor que, um pesquisador por natureza. Assim, o que se prope na escola com a temtica itinerrios cientficos e culturais que os primeiros ensaios de produo de cincias realizados pelas crianas e jovens do

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ensino fundamental no sejam desvinculados da cultura singular/universal, mas integrados e articulados ao processo de resgate histrico e valorizao da cultura que lhes pertinente, como conhecimentos civilizatrios da natureza humana. Sem dvida, essa uma funo social, entre tantas outras, que a escola pblica deve desenvolver. Para tanto necessrio que se repense a organizao do trabalho didtico, no se limitando apenas ao espao escolar, mas ao contexto social. A idia do trabalho com dos itinerrios cientficos e culturais configura-se na necessidade de atribuir ao ensino o aspecto da formao total das crianas e dos jovens. Quando o professor aborda a questo da reciclagem do lixo deve perguntar a si mesmo e s pessoas que o cercam que est contido nesse trabalho pedaggico em termos de cincia e cultura? O que fazer, por exemplo, com as baterias de celulares que no tm mais validade? Quais so as necessidades e os impactos sociais que causam na sua fase de produo e utilizao? No que se refere cincia contempornea, a idia de transformao da matria orgnica retirada da natureza para uma determinada utilidade social que, tendo atingido o objetivo do sistema capitalista, que produzir mais capital, chegou ao seu fim, uma vez que no funciona mais. Investigar essas questes fazer ensaio de cincia, por outro lado, quando o professor discute com seus alunos a cultura do uso do celular, a mudana de comportamento de quem o usa, seja para a economia de tempo e fadiga no acesso e socializao da informao e interlocuo com outras pessoas, seja para o entendimento do processo de produo e circulao da mercadoria, est discutindo a cultura local e global; a organizao do trabalho e do processo produtivo; comportamento, que, na sociedade contempornea, determinado pelos ditames da produo e reproduo do capital. Realizar um trabalho didtico dessa natureza primar pela formao do cidado na sua totalidade, no que confere quele assunto trabalhado. A fim de atender s exigncias da sociedade vigente, a escola deve ser um espao que propicie o intercmbio cientfico e cultural baseado na interao e civilidade humana. Para isso, precisa oportunizar condies e ambientes diferenciados de aprendizagem que ultrapassa as quatro paredes da sala de aula e o livro didtico. Na perspectiva da organizao do trabalho didtico com os itinerrios cientficos e culturais, a educao processada dentro da instituio escolar dever estar relacionada com o estudo e discusso de temticas sociais que atendam s necessidades das crianas e dos jovens. Por isso, uma das funes da escola produzir meios para que as crianas e jovens do ensino fundamental compreendam o funcionamento poltico, social e econmico da sociedade em que vivem. Isso pode ser feito por meio da apreenso dos conhecimentos historicamente

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construdos e socialmente disponibilizados e, principalmente, por meio da releitura crtica desses conhecimentos, ou seja, ler as obras clssicas1, reinventar o conhecimento, escrever os seus prprios textos de forma que possam transformar a si mesmos e a sociedade na qual esto inseridos. A concepo desenvolvida por Ribeiro (2001) e reafirmada por Souza (2007) sustenta a importncia dos itinerrios cientficos e culturais, no trabalho didtico da escola, como possibilidade de desenvolver a formao humana sua totalidade. Segundo Martins (2007), a escola precisa ser reinventada, revolucionar o seu trabalho pedaggico, trabalhar componentes curriculares que envolvam a cincia e transformem a cultura do cidado, numa perspectiva de totalidade.[...] outro componente revolucionrio da educao: a cultura, no seu amplo e fundamental sentido. Uma revoluo na educao pressupe o currculo revolucionado pelos mecanismos de acesso grande cultura, j na escola elementar: o teatro, a msica, a literatura, a cincia, a pintura, a escultura, a fotografia e, sobretudo, a poesia. Porque sem poesia, a escola fenece e a educao sucumbe (O Estado de SP, 2007).

Nesse contexto, os itinerrios cientficos culturais, no ensino fundamental, surgem como um princpio metodolgico, como afirma Gramsci (1988), que pode auxiliar os professores, as crianas e os jovens do ensino fundamental a sistematizar os conhecimentos apreendidos e reformulados historicamente. As temticas que o Ministrio de Educao e Cultura (MEC) convencionou chamar de temas transversais, nos Parmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1996), no existem concomitantemente ao currculo, uma vez que a substncia do prprio currculo. Toda sada da sala de aula deve ter objetivo a prtica de ensaios cientficos e a ampliao da cultura das crianas e jovens. O professor deve partir de eixos temticos, cujos temas sociais, expressam a necessidade real do grupo que busca reelaborar conceitos, valores, para sistematiz-los conforme o seu nvel de entendimento e aprendizagem. Nesse sentido, seu papel de pesquisador capaz de observar e planejar situaes diferenciadas, para atender s necessidades de aprendizagem da sala de aula.

Clssicas so aquelas obras de literatura, de filosofia, de poltica, etc., que permaneceram no tempo e continuam sendo buscadas como fontes do conhecimento. E continuaro desempenhando essas funes pelo fato de terem registrado com riqueza de mincias e muita inspirao, as contradies histricas de seu tempo. Elas so produes ideolgicas, pois estreitamente ligadas s classes sociais e aos interesses que delas emanam, mas so tambm meios privilegiados e indispensveis para que o homem reconstitua a trajetria humana e descubra o carter histrico de todas as coisas que produz. (ALVES, Gilberto Luiz. As funes da escola pblica de educao geral sob o imperialismo. Revista Novos Rumos, So Paulo, v. 16, p. 112, 1999).

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Essa ao deve ser intencionalmente organizada pelo professor, pela equipe tcnicapedaggica da escola e discutida com as crianas e jovens. Estes podero participar de alguns momentos do planejamento como forma de conhecer o processo desde os primeiros passos da elaborao dos eventos cientficos e culturais a serem realizados, at o seu ponto de chegada que o conhecimento sistematizado e socializado, por isso. a importncia de leitura dos clssicos da pesquisa mais elaborada na biblioteca, em museus, em arquivos pblicos, na Internet, entre outros locais de busca do conhecimento e informao historicamente produzidos. Dessa forma, o professor estar contribuindo para desenvolver nas crianas e nos jovens do ensino fundamental um perfil social e cultural mais elaborado.

3. PERFIL DO PROFESSORAnalice Teresinha Talgatti Silva Rosa Maria Dalpiaz Dias Snia dos Santos Boiarenco Amorin

Teus ombros suportam o mundo e ele No pesa mais que a mo de uma criana. (Carlos Drummond de Andrade)

A educao passa por uma fase de transio em sua histria e enfrenta desafios sendo, talvez, o principal deles um paradoxo de nosso tempo: a busca da harmonizao entre quantidade e qualidade. A sociedade contempornea impe s prticas educacionais muitas responsabilidades que exigem dos educadores constantes reflexes sobre a compreenso e organizao de seu trabalho didtico. Essa exigncia, que global, pode ser constatada no trecho do Relatrio da UNESCO:Pede-se muito aos professores, demasiado at. Espera-se que remediem as falhas de outras instituies, tambm elas com responsabilidades no campo da educao e formao de jovens. Pede-se-lhes muito, agora que o mundo exterior invade cada vez mais a escola, principalmente atravs de novos meios de informao e de comunicao. De fato, os professores tm a sua frente jovens cada vez menos enquadrados pelas famlias ou pelos movimentos religiosos, mas cada vez mais informados, tero de ter em conta este novo contexto, se quiserem fazer-se ouvir e compreender pelos jovens, transmitir-lhes o gosto de aprender, explicar-lhes que informao no conhecimento e que este exige esforo, ateno, rigor, vontade (DELORS, 1999, p. 26 ).

O texto desse relatrio convoca o professor a realizar novas reflexes sobre a histria das pedagogias mais difundidas, seus mtodos e o seu papel no interior de cada uma delas.

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Para tanto, os textos de Saviani (1995), sobre essa temtica so esclarecedores. Segundo esse autor, na Pedagogia Tradicional, a educao era direito de todos e dever do Estado, pois este lema era defendido pela burguesia do sculo XIX devido necessidade de sua consolidao no poder. A pessoa que ficasse margem desse processo era ignorante. A escola tinha como objetivo difundir a instruo, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. O conhecimento, por sua vez, era centrado no professor, que transmitia o acervo cultural aos alunos que o assimilava. Sobre a Pedagogia Nova, Saviani (1995) afirma que esta mantinha a crena no poder da escola, capaz de promover a funo de equalizao social, num momento histrico (anos 30 e 40 do sculo XX) em que a desigualdade social tornou-se exacerbada no Brasil quem estivesse margem do processo era o rejeitado. A Pedagogia Nova tinha como preocupao os anormais. A partir das experincias levadas a efeito por Maria Montessori com crianas anormais que se pretendeu generalizar procedimentos pedaggicos para o conjunto do sistema escolar. Saviani (1995, p. 19) afirma que essa Pedagogia Nova promoveu [...] uma espcie de biopsicologizao da sociedade, da educao e da escola. Para a Pedagogia escolanovista os homens so essencialmente diferentes, no se repetem, cada individuo nico. Segundo o autor, a Escola Nova acredita que[...] a marginalidade no pode ser explicada pelas diferenas entre os homens, quaisquer que elas sejam: no apenas diferenas de cor, de raa, de credo ou de classe, o que j era defendido pela pedagogia tradicional; mas tambm diferenas no domnio do conhecimento, na participao do saber, no desempenho cognitivo (Saviani, p. 20).

A educao, nessa pedagogia, tinha como funo ajustar, adaptar os indivduos sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitao dos demais e pelos demais, inclusive a aceitao do modelo de sociedade na qual eles viviam. Na primeira metade do sculo XX, toma fora, na educao brasileira, a pedagogia tecnicista, na qual o processo educativo passa a ser objetivo e operacional, igualado ao trabalho fabril. Segundo Saviani (1995, p. 24):[...] o elemento principal passa a ser a organizao racional dos meios, ocupando professor e aluno posio secundria, relegados que so condio de executores de um processo cuja concepo, planejamento, coordenao e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. A organizao do processo converte-se na garantia da eficincia, compensando e corrigindo as deficincias do professor e maximizando os efeitos de sua interveno.

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Na Pedagogia Tecnicista, quem est margem desse processo o incompetente, o ineficiente, o improdutivo. A educao tem como funo proporcionar um efetivo treinamento para execuo das mltiplas tarefas demandadas continuamente pelo sistema social. Na trajetria da histria da educao brasileira os professores, ao reproduzirem essas pedagogias, sem que se dessem conta, alm de provocar uma descontinuidade, uma heterogeneidade e uma fragmentao do trabalho didtico, agravaram o processo de marginalidade e aprimoraram a qualidade do ensino destinado s elites. O exposto acima evidencia que na sociedade contempornea existem grandes desafios a serem superados pelo professor, tais como: desenvolver habilidades para contextualizar e integrar conhecimentos, para compreender qualquer informao em seu contexto, para expor e trabalhar os problemas, para ser mais tolerante com colegas de trabalho, com alunos-pares e poderem enfrentar situaes complexas, solucionando-as. Tardif (2005, p. 35) observa o seguinte:A docncia um trabalho cujo objeto no constitudo de matria inerte ou de smbolos, mas de relaes humanas com pessoas capazes de iniciativa e dotadas de uma certa capacidade de resistir ou de participar da ao dos professores.

Diante do exposto, faz-se necessrio uma reflexo, pois de acordo com o mesmo autor, [...] ensinar trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos e para seres humanos (TARDIF, 2005, p. 31). Nesse contexto, temos como concepo de ser humano, um ser histrico que constri o seu meio e se constri diante de um universo em constante transformao. Na atualidade, as exigncias impostas pela educao ao professor mudam sua funo pois, ao mesmo tempo em que tem que formar seres humanos capazes de se situarem corretamente no mundo, modificando a sociedade e a si mesmos, precisa atender como (e para que) a economia neoliberal vem pensando a educao. Nessa perspectiva, a educao passa a ser concebida como mercadoria. A educao entendida como mercadoria reproduz e amplia as desigualdades, sem extirpar as mazelas da ignorncia. educao apenas para a produo setorial, para formao de mo-de-obra especializada para o trabalho, cujo fim uma educao apenas consumista, que no produz a formao humanstica-cientfica necessria para o homem enfrentar as problemticas da sociedade contempornea, que se tornou extremamente complexa. Na perspectiva de uma educao humanstica-cientfica, o professor seria menos um formador e mais um mediador entre o aluno, o conhecimento e sua relao com as prticas

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dos homens em sociedade, cujo valor est na utilidade. Segundo Saviani (1995, p. 79) esse docente buscar mtodos que:[...] estimularo a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mo, porm, da iniciativa do professor; favorecero o dilogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o dilogo com a cultura acumulada historicamente; levaro em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicolgico mas sem perder de vista a sistematizao lgica dos conhecimentos, sua ordenao e gradao para efeitos do processo de transmisso-assimilao dos contedos cognitivos; [...] que mantm continuamente presente a vinculao entre educao e sociedade.

O perfil do professor comea a ser apresentado a partir de um trabalho fortemente contextualizado, concreto, posicionado, marcado pela pesquisa. Segundo Demo (1998, p. 8) [...] manter a proposta de que a base da educao escolar a pesquisa, no a aula, ou o ambiente de socializao, ou a ambincia fsica, ou o mero contato entre professor e aluno. O professor que trabalha a educao com base em pesquisas prope um ensino pelo questionamento, constri e reconstri o conhecimento junto com seu aluno e desenvolve competncia humana. Para Luckesi (1994 p. 115-116):[...] o educador deve possuir algumas qualidades, tais como: compreenso da realidade com o qual trabalha, comprometimento poltico, competncia no campo terico do conhecimento em que atua e competncia tcnico-profissional. [...] Torna-se, alm da competncia terica, tcnica e poltica, uma paixo pelo que faz. [...] O processo educativo exige envolvimento afetivo. Da vem a arte de ensinar.

Hoje se exige dos professores o desempenho de uma ampla tarefa: a de produzir uma nova instituio educacional pblica. Nesse sentido, Alves (2001, p. 271) faz a seguinte abordagem:A esperana a de que os educadores, colocando-se na perspectiva da transformao social, fujam ao peso das rotinas seculares e ao corporativismo e enfrentam os problemas da escola pblica contempornea e faam avanar tanto a organizao do trabalho didtico quanto a incorporao das novas funes sociais da instituio, exigindo o zelo de todos pela oferta de servios eficazes.

Contudo, os professores freqentemente falam sobre as dificuldades que enfrentam para produzir uma nova escola. Reclamam das dificuldades de aprendizagem das crianas e jovens, da desmotivao para o estudo, para a leitura e para a discusso de temas mais complexos. A esse respeito, Malaguti (2005, p. 01) oferece as seguintes consideraes:

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[...] os alunos atuais foram colocados nessa situao. uma gerao cujos poderes de crtica e questionamento foram enfraquecidos ou mesmo anulados. Estes jovens aprenderam que o individualismo, o egosmo, o esforo isolado e a desconfiana em relao aos outros conduzem ao sucesso na vida profissional. De forma aparentemente paradoxal, tambm foram conduzidos a incorporar a mesmice e a aceitao passiva como ideais positivos e fatores de integrao econmica. Sucumbiram, ainda, ao conhecimento fcil divulgado via internet, aos caminhos do sucesso apontados pelos gurus do auto-conhecimento ou do como vencer na vida em sete etapas.

Para Malaguti (2005), o modo de ser das crianas e dos jovens de hoje um produto histrico, portanto, social e, como tal, precisa ser enxergado. Nessa perspectiva, o professor no pode ver o aluno apenas com o foco na educao, mas preciso enxerg-lo com uma lupa que foca a sociedade como um todo, pois ele fruto dessa sociedade contempornea que requer do educador uma nova leitura de mundo. As crianas e os jovens dessa sociedade reivindicam outras necessidades de formao, diferentes das de outros tempos e para atender a essa demanda, o professor precisa ser, antes de tudo, um pesquisador. Esse o desafio que se impe a ele.

4. A FUNO MEDIADORA DA ESCOLAMaria de Lourdes Alencar Lima

A escola contempornea uma instituio cujo papel consiste na socializao do saber sistematizado (SAVIANI, 2003). funo primeira e especfica da escola, a apropriao e a socializao do conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, a fim de que as crianas e os jovens, ao entrarem em contato com esse conhecimento possam reelabor-lo e coloc-lo a servio de suas necessidades sociais. Portanto, a escola existe para disponibilizar o acesso e a permanncia das novas geraes ao saber sistematizado, cultura erudita, cultura letrada. Assim, a escola, ao realizar as aes pedaggicas propicia aos alunos um salto qualitativo no acrscimo do conhecimento, valorizando, no processo pedaggico, o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos respeitando ritmo, nvel de envolvimento bem como os limites de cada aluno. Todavia, importante lembrar que, na contemporaneidade, a escola. como instituio no deve limitar suas funes sociais apenas em proporcionar as crianas e aos jovens o acesso ao conhecimento cientfico e cultura singular e universal, mas organizar para se tornar um espao que concretiza esse conhecimento. Em funo da crise do capital que atinge,

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em particular, as camadas mdias e pobres da sociedade, as demandas sociais para a escola contempornea se multiplicaram, como afirma Alves (2001, p. 213)[...] a escola pblica, ao ser chamada a atender demandas da sociedade capitalista que, at ento, lhe eram estranhas, foi assaltada pelas mais dspares motivaes, provenientes tanto do Estado como da famlia. As novas funes sociais da escola emergiram com fora torrencial e contriburam, tambm, para relegar a finalidade maior da instituio a um segundo plano. [...]

O autor chama a ateno sobre a necessidade da escola olhar para alm de seu interior e analisar as contradies inerentes ao movimento de produo da vida na sociedade capitalista da qual fazem parte seus alunos. A exacerbao da pobreza, o desemprego e a necessidade dos pais trabalharem horas a fio fora de casa tem exigido da escola de ensino fundamental educar e cuidar do ser humano, em todos os aspectos que ele necessita para crescer com sade, com educao e com condies de civilizar-se. As escolas da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, possuem, em sua estrutura, espaos adequados e formas de organizao do trabalho didtico que permitem concretizar a educao com a participao de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

5. PERFIL DO ALUNOAna Olria Ferreira Alves Maria de Lourdes Alencar Lima

A formao das crianas e dos jovens a preocupao da escola na sociedade contempornea. Conhecer quem freqenta essa instituio nos impe a fazer algumas indagaes relevantes, tais como: quem o aluno da REME? Que cidado pretende formar? Qual ser a atuao desse cidado no mercado de trabalho? Como aproveitam o tempo para ampliar o conhecimento sistematizado pela escola? Cada vez mais precisamos refletir sobre essas questes, pois permeiam todo o trabalho didtico. O trabalho didtico est a servio das crianas e dos jovens, portanto pertinente que se conhea quem freqenta as escolas. Para conhec-los, mister aprender que todos que a freqentam so diferentes em gneros, etnias, classe social, idades, mas possuem uma mesma especificidade no sentido de que esto ali para aprender. O olhar para a diversidade contida na escola faz com que tracemos o perfil das crianas e dos jovens que queremos formar.

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Nesse olhar poderemos descobrir a bagagem que traz a infncia, e a adolescncia pois, cada tempo histrico produz determinadas necessidades formao humana. A partir dessa aproximao podemos perceber as necessidades reais das crianas e dos jovens no contexto atual. As crianas e os jovens que freqentam a escola hoje, possuem caractersticas diferentes daqueles em que s ouviam passivamente sobre o que lhes era transmitido na escola. Apresentam e ideais que precisam ser levados em considerao, pois ouvi-los uma forma de valoriz-los. Segundo Arroyo:[...] H muitas formas dos alunos(as) falarem de suas vidas, de suas trajetrias humanas e escolares. Dando voz queles que por tempo foram silenciados, suas auto-imagens podem destruir tantas imagens estereotipadas que pesam sobre eles. Suas falas podem ser menos preconceituosas do que tantos discursos da mdia, da poltica e at da pedagogia. Nada melhor para rever nosso olhar sobre a infncia, adolescncia e juventude do que confront-lo com seu prprio olhar. (ARROYO, 2004, p.81).

Refletir sobre as caractersticas dessas crianas e jovens imprescindvel para a construo da formao humana, pois dependendo da forma como so tratados tambm ser a maneira pela qual entendemos a educao. Se olharmos a educao pelo prisma da passividade, ser a de transmisso do conhecimento, mas se a olharmos como forma de construo ativa, ento, ela poder ser um instrumento da construo da autonomia do ser humano. Estamos caminhando para o real sentido em relao aprendizagem, reivindicado pela sociedade contempornea. Temos no interior das escolas da REME crianas e jovens com histrias prprias e reais, que na sua trajetria de vida trazem marcas que precisam ser consideradas. A trajetria de vida das crianas e dos jovens podem ser cheias de luzes e sombras, por isso a importncia de fazer da escola um lugar que oportunize a eles construir uma experincia digna da formao humana. Nesse sentido, no podemos separar as trajetrias escolares das trajetrias humanas, pois, o que se aprende na escola precisa fazer relao com a vida. A educao um direito de todos, mas no pode estar desarticulada da realidade social. Talvez seja nesse sentido que enfrentamos os maiores problemas em relao aprendizagem das crianas e dos jovens, que se mostram s vezes desestimulados para freqentar a escola, por no ver nela a relao com sua trajetria de vida. A Diviso de Coordenao de Aes Educacionais, realizou no ms de julho de 2007, uma pesquisa por amostragem com aproximadamente 400 alunos, do 6 ao 9 ano do

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Ensino Fundamental, com o objetivo de conhecer a realidade da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, aponta o seguinte perfil dos alunos que freqentam as escolas municipais: os alunos da REME, moram prximo da escola; em sua maioria, moram com os pais, embora muitos moram com outros (av, tia); 30% dos alunos fazem aula no projeto que funciona nos Centros Comunitrios dos bairros, o restante fica em casa para cuidar dos irmos e dos afazeres domsticos; cerca de 90% das famlias possuem uma religio. O nosso aluno vem de toda parte do Brasil, cidades vizinhas e de pases vizinhos como Paraguai, Bolvia e at do Japo. Conforme a pesquisa apontou, o nosso alunado gosta da escola, dos professores, gosta muito das aulas de educao fsica e das atividades comemorativas; gosta do lanche e da hora do recreio. Na opinio da maioria, as escolas deveriam construir mais quadras e espaos para o lazer. Segundo eles, a escola deveria ser mais alegre, com cores e pinturas artsticas. Outro item abordado com muita freqncia diz respeito ao comportamento dos alunos, que precisam ser mais educados e disciplinados, segundo eles prprios sugerem. A maioria dos alunos disse que a escola est boa, mas precisa melhorar sempre. Os dados acima permitem concluir que a escola fundamental na vida do aluno, mais que uma extenso da prpria famlia, todavia a escola pblica precisa melhorar as suas condies de atendimento s reais necessidades dos alunos. Elucidativo deste apelo dos alunos o contedo das duas redaes que se seguem: Apresentamos uma viso ampla dos que freqentam as escolas, porm isso no generalizado. Muitas crianas e jovens gostam e acreditam nela. Estar na escola privilgio de poucos, no entanto somente nela que sistematizam conhecimentos que no so vistos no cotidiano. Explicitamos que o perfil das crianas e dos jovens nos tempos atuais requer uma escola com caractersticas diferenciadas, tanto ao que se refere ao espao fsico, quanto formao docente. Apenas apresentar a eles uma escola com espaos agradveis de aprendizagem no se caracteriza como motivadora do sucesso. Estar atento a indagaes sobre qual escola querem as crianas e jovens o ponto de partida para a democratizao da escola. Nas redaes a seguir possvel fazer uma anlise sobre esse perfil e a escola que eles esperam.

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Redao 1 Escola Municipal Nerone Maiolino Aluno: Wanderlan da Silva Moreira Jnior 7 ano D vespertino Novembro de 2007

Concurso de redao: A escola que queremos

A ESCOLA QUE QUEREMOS

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Escola Municipal Professora Ione Catarina Gianotti Igydio Aluna: Letcia Barbosa Lopes 6 ano C vespertino Professora: Lcia Maria Oliveira Novembro de 2007

Concurso de redao: A escola que queremos

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6. PERFIL DA EQUIPE TCNICA PEDAGGICA DA ESCOLAEvanir Bordim Sandim Precisamos conhecer o que fomos, para compreender o que somos e decidir sobre o que seremos. Paulo Freire (1993, p. 33).

A escola, como local privilegiado de acesso educao, propicia a produo do conhecimento, a interao social e a construo histrica do sujeito. O processo de construo dos Referenciais Curriculares para