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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E CIRCUITOS ESPACIAIS DA PRODUÇÃO DE COCO NO CEARÁ
Leandro Vieira Cavalcante Universidade Estadual do Ceará – UECE
Resumo Diversos sistemas técnicos, advindos com o desenvolvimento da tecnologia, da ciência e da informação, vêm sendo apontados como os principais responsáveis por reestruturar a produção agrícola brasileira. Entre os produtos agrícolas atingidos por essa reestruturação podemos destacar o coco, onde assistimos significativas transformações em seu processo produtivo. Em nossa pesquisa buscamos compreender como se organizam os circuitos espaciais e os círculos de cooperação da produção de coco no Estado do Ceará. Para isso, procuramos analisar e estabelecer relações entre as distintas etapas da produção de coco, abarcando variados processos relacionados com sua produção agrícola, seu processamento industrial, a comercialização e a distribuição dos produtos e, por fim, o consumo dos mesmos. Palavras-chave: Coco. Reestruturação produtiva. Circuitos espaciais da produção. Círculos de cooperação. Ceará. Introdução Em nossa pesquisa buscamos compreender como se dá o processo produtivo do coco no
Estado do Ceará e tomamos, para tal, as categorias circuitos espaciais da produção e os
círculos de cooperação (SANTOS, 1986, 1994, 1996). Dessa forma, procuramos
analisar e observar as relações entre as distintas etapas da produção do fruto, abarcando
processos oriundos com a produção agrícola, a transformação industrial, a
comercialização e a distribuição dos produtos e, por fim, o consumo dos mesmos. Essas
categorias de análise são fundamentais para nos auxiliar a melhor compreender e
apreender o espaço geográfico cearense, já que levam em conta as relações entre todas
as instâncias produtivas, uma vez que interligam os espaços da produção, da circulação,
da distribuição e do consumo (SANTOS, 1985), geograficamente dispersos.
A respeito dos circuitos da produção, Santos (1985) nos assegura que como eles se dão
no espaço, de forma desagregada, embora não desarticulada, a importância que as
etapas da produção têm a cada momento histórico e para cada caso particular ajuda,
sobremaneira, na compreensão da organização do espaço. Ainda de acordo com Santos
(1999, 2008b), todo o ato de produção é obrigatoriamente um ato de produção do
espaço, e “como produzir e produzir espaço são sinônimos, a cada novo modo de
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produção (ou a cada novo momento do mesmo modo de produção) mudam a estrutura e
o funcionamento do espaço” (SANTOS, 1999, p. 6).
Ao considerarmos os circuitos espaciais da produção e os círculos de cooperação
estaremos revelando as especificidades de cada lugar e as ligações desse com os outros
lugares inseridos na rede de produção de coco, nos mostrando o uso diferenciado de
cada território por parte das empresas, das instituições, dos produtores etc., permitindo
compreender a hierarquia dos lugares desde a escala regional até a escala mundial
(SANTOS; SILVEIRA, 2003).
Reforçamos que, de acordo com Castillo e Frederico (2010, p. 464-465), Os circuitos espaciais de produção pressupõem a circulação de matéria (fluxos materiais) no encadeamento das instâncias geograficamente separadas da produção, distribuição, troca e consumo, de um determinado produto, num movimento permanente; os círculos de cooperação no espaço, por sua vez, tratam da comunicação, consubstanciada na transferência de capitais, ordens, informação (fluxos imateriais), garantindo os níveis de organização necessários para articular lugares e agentes dispersos geograficamente, isto é, unificando, através de comandos centralizados, as diversas etapas, espacialmente segmentadas, da produção.
Nossa metodologia baseou-se em algumas importantes atividades inerentes à pesquisa
científica, tais como o levantamento bibliográfico acerca de vários temas, processos,
categorias e conceitos importantes para a pesquisa, tais como sobre a reestruturação
econômica e as novas relações campo-cidade. Outra atividade foi o levantamento e a
organização de séries estatísticas relacionadas, principalmente, às formas de uso e
ocupação do espaço agrário cearense e às características da sua produção de coco. A
organização de uma hemeroteca sobre os temas diretamente associados à pesquisa,
especialmente através da consulta nos principais jornais diários do Ceará, foi também
uma atividade importante.
Destacamos, ainda, a realização de trabalhos de campo nos principais municípios
produtores, quando pudemos visitar fazendas de empresas agrícolas, agroindústrias,
centros de pesquisa e assistência agropecuária, secretarias de agricultura, sindicatos de
trabalhadores rurais, além do contato direto com diferentes sujeitos sociais. A pesquisa
que ora apresentamos é fruto de atividades realizadas durante a consecução de trabalho de
conclusão de curso de graduação, podendo ser consultado na íntegra em Cavalcante
(2012).
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A reestruturação da produção de coco A produção agrícola brasileira vem passando por uma significativa reestruturação
produtiva (ELIAS, 2002ab, 2003, 2006ac, 2007), onde a agricultura passa a receber
influência direta da tecnologia, da ciência e da informação, signos do atual período
histórico, chamado por Santos (1996, 2003, 2008a, 2009) de técnico-científico-
informacional. De acordo com Elias (2002a), a mudança da base técnica da produção
agrícola é um dos vetores dessa reestruturação, afetando radicalmente as forças
produtivas do setor e inaugurando novas formas de produzir no campo, dando origem a
“um novo uso do tempo e um novo uso da terra” (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 118).
Com isso, diversos sistemas técnicos (SANTOS, 1996) vêm sendo responsáveis por
reestruturar a produção de vários gêneros agrícolas alterando, dessa forma, os
tradicionais sistemas de produção, ocasionando um aumento da produtividade e uma
redução dos custos. Entre esses gêneros agrícolas podemos destacar o coco. O segmento
produtivo desse fruto vem sendo reestruturado no Brasil há aproximadamente duas
décadas, com o desenvolvimento de novos sistemas de produção, novos subprodutos,
novas formas de processamento industrial etc.
A produção de coco no Brasil vem aumentando consideravelmente desde 1990, como
demonstra a tabela 01, bem como a área plantada com coco e a produtividade dos
coqueiros. De 1990 a 2010 a área plantada e a quantidade produzida tiveram aumentos
expressivos de 28,27%, 157,58% respectivamente. Atualmente, de acordo com dados da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil é o
quarto maior produtor de coco do mundo, atrás somente da Indonésia, Filipinas e Índia.
TABELA 01 – Brasil. Produção de Coco. Área plantada (hectares), quantidade produzida (mil frutos) e produtividade (mil frutos/ha). 1990-2000-2010.
1990 2000 2010 Área plantada 215.652 266.577 276.616 Quantidade produzida 734.418 1.301.411 1.891.687 Produtividade 3,41 4,88 6,84
Fonte: IBGE – PAM. Organizada pelo autor.
Esse aumento na produção é justificado por vários fatores. Um deles está centrado no
aumento do consumo de água de coco, que cresce a cada dia, principalmente na Região
Sudeste, o maior mercado consumidor do país. Em cima desse subproduto foi criado
todo um ideário mercadológico que está vinculado com a busca por corpos perfeitos e
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com o consumo de produtos ditos saudáveis, que não engordam e ainda por cima
ajudam a emagrecer.
Se a demanda por água de coco cresce, a produção do fruto, obrigatoriamente, também
cresce1. As variedades de coqueiro que mais vêm sendo cultivadas no Brasil são as de
coqueiro anão e as de coqueiro híbrido, justamente aquelas que são usadas para a
produção de coco verde. Essas duas variedades estão em plena expansão no país e
passaram a ocupar áreas não tradicionais de cultivo de coco.
Outro fator responsável pelo aumento da produção de coco no Brasil trata-se de uma
medida de salvaguarda2 sancionada pelo Governo Federal em 2002 e com prazo para
terminar em 2012. Tal medida limitou as importações de coco seco no país, fazendo
com que os produtores nacionais investissem no cultivo de coqueiro gigante visando
aumentar a produção de coco seco. Antes da salvaguarda, as agroindústrias brasileiras
preferiam importar coco seco de outros países, como da Indonésia e das Filipinas, ao
invés de comprar dos produtores locais, já que o preço cobrado por esses produtores era
muito maior do que o preço dos importados.
Atrelado ao aumento da quantidade produzida está a incorporação de novos sistemas de
produção ao cultivo do coco no país, que vem sendo responsável por elevar a
produtividade dos coqueiros. Entendemos que esse aumento na quantidade produzida,
determinado pelo aumento no consumo de coco verde e pela salvaguarda do coco seco,
é também consequência direta da reestruturação da produção de coco no Brasil, iniciada
por volta da década de 1990. Desde esse período observamos que a produção começa a
crescer de forma considerável e começaram a aparecer as primeiras grandes inovações
técnicas associadas ao cultivo de coco.
Essa reestruturação da produção de coco pode ser caracterizada por várias inovações,
dentre elas pela incorporação de novas tecnologias ao processo produtivo, com a
utilização de novos e modernos insumos na produção. Há uma propagação de novos
métodos de irrigação, como as práticas de irrigação localizada, totalmente automatizada,
representada pelos microaspersores, onde cada coqueiro é irrigado individualmente e
recebe uma quantidade exata de água.
Além disso, há uma difusão no uso de técnicas de adubação que garantem uma maior
precisão e uma maior produtividade dos coqueiros, sendo a mais comum dessas a
técnica de fertirrigação, onde cada coqueiro vai receber uma quantidade pré-
determinada de fertilizantes diluídos junto com a água e aplicada pelos microaspersores.
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Somam-se a essas inovações na produção agrícola as inovações no processamento
industrial do coco e na conservação de seus subprodutos.
Outra característica da reestruturação produtiva do coco no Brasil é a dispersão
geográfica da produção, com um avanço da fronteira agrícola do fruto em direção ao
semiárido nordestino e em direção às demais regiões do país, sobretudo Norte e
Sudeste, desconcentrando o cultivo de coco historicamente concentrado no litoral da
região Nordeste. Mas mesmo com essa dispersão da produção por outras regiões o
Nordeste continua sendo o maior produtor de coco do Brasil, concentrando atualmente
mais de 68% da quantidade produzida e mais de 81% da área cultivada (gráfico 01).
GRÁFICO 01 – Regiões do Brasil. Produção de Coco. Quantidade produzida (mil frutos) e área plantada (hectares). 2010.
Fonte: IBGE – PAM. Organizado pelo autor. Em 2010, os maiores produtores nacionais de coco foram, respectivamente, os Estados
da Bahia, maior produtora isolada do fruto, seguida de Ceará, Sergipe e Pará, que
representam juntos mais de 66% da produção do país e 68% da área plantada (gráfico
02). Os outros Estados que também se destacam na produção de coco são: Espírito
Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba.
GRÁFICO 02 – Unidades da Federação. Produção de Coco. Quantidade produzida (mil frutos) e Área plantada (hectares). 2010.
Fonte: IBGE – PAM. Organizado pelo autor.
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Os circuitos espaciais da produção de coco no Ceará e seus consequentes círculos de cooperação - A produção agrícola O Ceará se configura como um dos maiores produtores de coco de todo o Brasil,
possuindo um destaque nacional na produção do fruto. Em 2010, o Estado foi o segundo
maior produtor de coco do país, concentrando 14% da produção nacional e 16% da área
plantada, como visto no gráfico anterior.
Levando em consideração apenas os dados de área plantada, o coco é a terceira fruta
mais importante do Estado, ficando atrás somente da castanha de caju e da banana
(IBGE/PAM – 2010). A área plantada com coco e a quantidade produzida pelo Estado
obtiveram um crescimento respectivamente de 24,45% e 96,96% entre os anos de 1990
e 2010, demonstrando um importante aumento no cultivo do fruto.
TABELA 02 – Ceará. Produção de Coco. Área plantada (hectares). Variação Absoluta e Relativa (%). 1990 – 2000 – 2010.
Área plantada 1990 2000 2010 35.431 37.316 44.093
Variação Absoluta 1990 - 2000 2000 - 2010 1990 - 2010 1.885 6.777 8.662
Variação Relativa 1990 - 2000 2000 - 2010 1990 - 2010 5,32% 18,16% 24,45%
Fonte: IBGE – PAM. Organizada pelo autor.
TABELA 03 – Ceará. Produção de Coco. Quantidade produzida (mil frutos). Variação Absoluta e Relativa (%). 1990 – 2000 – 2010.
Quantidade Produzida
1990 2000 2010 133.880 193.729 263.684
Variação Absoluta 1990 - 2000 2000 - 2010 1990 - 2010 59.849 69.955 129.804
Variação Relativa 1990 - 2000 2000 - 2010 1990 - 2010 44,70% 36,11% 96,96%
Fonte: IBGE – PAM. Organizada pelo autor. A produção de coco no Ceará é espacialmente concentrada, sobretudo, em sua região
litorânea e nos vales de alguns grandes rios, como o Acaraú e o Curu, sendo notável a
especialização territorial produtiva (SANTOS; SILVEIRA, 2003) de coco. Segundo
Santos (1985), essa especialização cada vez maior das regiões produtivas está ligada a
uma necessidade também cada vez maior de rentabilidade do capital, e tal
especialização “se deve mais às condições técnicas e sociais que aos recursos naturais”
(SANTOS, 2009, p. 241).
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No Ceará, bem como no Brasil, observamos a existência de inúmeros territórios
produtivos do coco, lugares onde a produção do fruto se sobressai, além de ser
determinante para o desenvolvimento de outras atividades econômicas, industriais,
comerciais e de serviços. Entre os territórios produtivos do coco do Ceará podemos citar
a região do Médio Curu, do Alto Acaraú, do Litoral Leste e do Litoral Oeste. Em tais
territórios produtivos os circuitos espaciais da produção de coco e seus respectivos
círculos de cooperação assumem maior relevância e se dão de forma mais intensa.
Os municípios que mais se destacam na produção de coco no Ceará são,
respectivamente, Trairi, Acaraú, Itarema, Paraipaba, Itapipoca, Beberibe, Pentecoste,
Amontada, Camocim e Cascavel, que juntos somam, em 2010, mais de 64% da
produção total do Estado e mais de 71% da área plantada com coco. Na tabela abaixo
podemos observar a participação desses municípios no total produzido pelo Ceará em
2010.
TABELA 04 – Participação dos 10 maiores municípios produtores de coco em relação ao total produzido no Ceará (em %). Área plantada (hectares) e Quantidade produzida (mil frutos). 2010.
Área Plantada Quantidade Produzida Acaraú 11,36 8,68 Amontada 5,07 5,03 Beberibe 5,33 5,47 Camocim 3,13 4,00 Cascavel 3,73 3,99 Itapipoca 8,33 5,64 Itarema 12,46 8,31 Paraipaba 3,09 6,37 Pentecoste 2,93 5,06 Trairi 16,17 12,16 Total 71,61 64,70
Fonte: IBGE – PAM. Organizada pelo autor.
No cartograma a seguir podemos observar a espacialização da produção de coco no
Estado do Ceará no ano de 2010, ao identificar os maiores produtores do fruto no
Estado. Devemos atentar para o fato de que 170 dos 184 municípios cearenses
produzem coco (IBGE/PAM – 2010), sobretudo a variedade de coqueiro anão, em
ampla expansão.
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CARTOGRAMA 01 – Ceará. Produção de coco, segundo municípios. 2010
Fonte: IBGE/PAM – 2010. Adaptado pelo autor. A reestruturação da produção de coco gerou a necessidade da aquisição de insumos que
anteriormente eram inexistentes e que agora se tornaram indispensáveis, onde seu uso
influi de maneira substancial na produtividade dos coqueirais. A produção de coco
demanda uma quantidade muito grande de insumos materiais, como maquinário
agrícola, adubos, defensivos e equipamentos para irrigação, fazendo, dessa forma, com
que o consumo produtivo agrícola (ELIAS, 2006a) também se faça presente na
produção do fruto.
A busca por insumos imateriais também é significativa nas áreas onde observamos a
reestruturação da produção de coco. Destacamos aqui a busca por esses insumos
imateriais relacionados especialmente com a pesquisa científica agrícola, que se tornou
uma força produtiva direta, onde observamos “um aumento da importância do homem –
isto é, de seu saber – no processo produtivo” (SANTOS, 1994, p. 20). Com a pesquisa
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agrícola foi possível reestruturar o conjunto de elementos técnicos empregados no
processo produtivo do coco.
Percebemos que em diversas etapas do circuito espacial da produção de coco a pesquisa
científica se faz presente, onde é visível a crescente inserção da tecnologia, ciência e
informação ao processo produtivo do fruto. Várias são as pesquisas que estão sendo
realizadas, estudos esses que abordam questões como melhoramento genético das
sementes, análises de composição do solo, medições para se determinar a quantidade de
água e nutrientes que cada coqueiro necessita, desenvolvimento de novos mecanismos
para controle de pragas, experimentos para expandir o tempo de conserva da água de
coco, desenvolvimento de mecanismos que propiciem um melhor aproveitamento da
casca do coco, entre muitas outras.
Essas pesquisas estão sendo realizadas sobretudo sob coordenação da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Uma das unidades da Embrapa
especializadas em pesquisas com coco é a Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizada em
Aracaju (SE) e em funcionamento desde 1993, originada a partir do Centro Nacional de
Pesquisa de Coco, criado em 1985 e que coordenava até então toda a pesquisa
relacionada com o cultivo de coco no Brasil.
Outra unidade da Embrapa que realiza pesquisas com o coco é a Embrapa Agroindústria
Tropical, localizada em Fortaleza (CE) e que funciona também desde 1993. Essa
unidade é a que tem uma atuação direta na produção de coco no Ceará, já que possui um
campo experimental localizado em Paraipaba, um dos maiores municípios produtores de
coco verde no Estado.
Além dos estudos realizados na Embrapa, encontramos no Ceará empresas privadas
especializadas na pesquisa com o coco. A maior dessas empresas é a Cohibra,
localizada no município de Amontada, pioneira e especializada no desenvolvimento de
tecnologias para a fabricação de sementes e mudas de coqueiros híbridos3, que visam
sobretudo abastecer o crescente mercado nacional interessado em investir no cultivo
dessa variedade de coqueiro.
- Comercialização e destino da produção de coco in natura Depois de realizada a produção e a colheita do coco, os frutos são comercializados e
destinados a diversas outras regiões. Esses frutos in natura que passam por uma
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primeira comercialização podem ser o coco verde, destinado ao consumo de água de
coco, ou o coco seco, destinado à produção de leite de coco, coco ralado e derivados.
De um modo geral, e de acordo com Rebello, Reale Filho e Figueiredo (2003), os
agentes envolvidos na comercialização do coco in natura são: o produtor, responsável
pelas decisões de o que e como produzir; o intermediário, primeiro elo entre o produtor
e os outros agentes da comercialização; o atacadista, concentrando a produção de vários
produtores e intermediários; o varejista, responsável pela comercialização do produto
em pequenas quantidades; e o consumidor, último elo da comercialização do coco.
Entre todos esses agentes responsáveis pela comercialização do coco um dos mais
importantes é o intermediário, conhecido também como atravessador, desempenhando
uma função fundamental no circuito espacial da produção do fruto. Esses intermediários
agem “como um elo entre a demanda e a oferta, que não coincidem no tempo, nem em
qualidade nem quantidade. Isso lhe dá um papel privilegiado e uma posição estratégica
no abastecimento” (SANTOS, 2008c, p. 226).
O intermediário é um dos principais agentes responsáveis pela comercialização do coco
no Ceará justamente por controlar a quantidade de coco que é produzida e o valor que é
pago por essa produção. Desse modo, é válido considerar os intermediários como os
maiores indutores de relações oligopsônicas do circuito espacial da produção do fruto
no Estado, já que são eles que controlam os preços que serão pagos aos produtores pelos
frutos comercializados. Além disso, eles são os responsáveis por decidir para onde a
produção será encaminhada, assim como a maneira que se dará o escoamento.
Todo o coco in natura que é produzido no Ceará possui basicamente quatro destinos
principais: as agroindústrias localizadas no próprio Estado, a cidade de Fortaleza, o
mercado nacional interno e o mercado externo. As agroindústrias cearenses consomem
uma grande quantidade de frutos diariamente, que são utilizados para a produção de
variados subprodutos, principalmente coco ralado, água e leite de coco. Já na cidade de
Fortaleza existem diversas centrais de abastecimento e distribuição responsáveis por
escoar a produção de coco cearense. Além disso, nesta cidade está localizado o maior
mercado consumidor de coco do Estado, principalmente de água de coco.
No Brasil, o principal destino do coco produzido no Ceará é majoritariamente o Estado
de São Paulo, seguido do Piauí e do Maranhão, que aparecem também como os
principais destinos. A produção que segue do Ceará para os outros Estados brasileiros é
organizada pelos varejistas que firmam contratos prévios com os produtores e ou com
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os intermediários. Já o principal destino internacional do coco cearense (tanto o coco in
natura, como também, e sobretudo, a água de coco) são os Estados Unidos, seguido de
Reino Unido, Alemanha, Canadá, Áustria, Portugal, entre outros.
- A produção industrial Além de ser um dos maiores produtores de coco do Brasil, o Ceará também se destaca
pela quantidade de agroindústrias processadoras de subprodutos do fruto, especialmente
coco ralado, leite e água de coco. O Estado possui a segunda mais importante
agroindústria do coco do país, a Ducoco, que fica atrás somente da empresa alagoana
Sococo. Além da Ducoco há várias outras agroindústrias especializadas na produção e
comercialização de subprodutos do fruto.
Entre essas outras agroindústrias, que são as maiores empresas do ramo do coco do
Ceará juntamente com a Ducoco, podemos citar a Paragro, maior exportadora de água
de coco do Estado, a Adel Coco, a Dicoco, a Monteiro Cocos, a BM, a EdCoco, a Natu
Coco e a Moreninha. Há ainda dezenas de outras empresas que fazem o envase da água
de coco e que comercializam coco ralado, que se caracterizam por serem empresas
familiares e apresentarem um porte muito pequeno.
Todas as grandes empresas, com exceção da Ducoco, criada em 1982, foram fundadas
durante a última década, e isso se associa ao incremento do cultivo de coco no Ceará,
que passou a despertar a atenção de diversas agroindústrias especializadas na produção
de subprodutos originados do coco, principalmente a água de coco e o coco ralado.
Além disso, a grande maioria dessas agroindústrias não possui nenhum coqueiro
plantado, adquirindo os frutos via produtores e ou principalmente via intermediários,
controlando assim grande parte da produção de coco do Estado.
De todas as agroindústrias citadas, destacamos a Ducoco, uma empresa multifuncional e
multilocalizada (CORRÊA, 1992). Atualmente, a Ducoco se espacializa por várias
partes do território nacional, atribuindo usos aos lugares de acordo com suas
necessidades. Além de possuir sete fazendas localizadas em Itapipoca, Itarema e
Camocim, municípios cearenses, possui duas agroindústrias já instaladas, uma em
Itapipoca e outra em Linhares (ES), e já está previsto a inauguração de uma nova
unidade industrial em Juazeiro (BA). A Ducoco possui também três centros de
distribuição localizados em Itapipoca, Linhares e Barueri (SP), que distribuem os
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produtos de suas indústrias às diversas partes do país. E apesar da Ducoco ser uma
empresa cearense, sua sede administrativa localiza-se na cidade de São Paulo (SP).
Inicialmente, o objetivo da Ducoco Alimentos S/A quando fora criada era
exclusivamente produzir e processar coco ralado, vendendo-o para outras indústrias de
alimentos. Porém, passados alguns anos a empresa resolveu criar sua própria marca em
1985, a Ducoco, e lançar seus produtos diretamente no mercado. Além da Ducoco, a
empresa é detentora de outras duas marcas, a Menina, principal concorrente cearense
adquirida em 1997, e a Frutop, lançada em 1998.
O portfólio da Ducoco Alimentos S/A conta com quase cem produtos distribuídos em
suas três marcas, como leite de coco, coco ralado e água de coco, além de sobremesas
em geral, como gelatinas, pudins, manjares e quindins, produzindo também alguns tipos
de chás, demonstrando que sua produção vai muito além de produtos oriundos do coco.
A Ducoco dominava, em 2007, 40% do mercado de produtos derivados do coco, 20%
do mercado de água de coco e 23% do mercado de sobremesas semiprontas do Brasil4.
Há na Ducoco uma especialização produtiva entre suas unidades fabris, onde a
agroindústria de Itapipoca fabrica somente produtos da marca Ducoco, enquanto que a
agroindústria de Linhares produz das três marcas citadas. Além disso, a fabricação dos
produtos é segmentada. A unidade de Itapipoca produz apenas água de coco e leite de
coco em caixinha, além de processar todo o coco ralado, que somente depois é
encaminhado para a unidade de Linhares para dar origem aos outros produtos. Contudo,
destacamos que “as fases ou momentos do processo produtivo podem desenvolver-se
em lugares diferentes, mas haverá sempre uma unidade do movimento” ARROYO
(2003, p. 439).
A Ducoco além de ser uns dos agentes mais importantes do circuito espacial da
produção de coco no Ceará, desempenhando uma papel fundamental na organização
espacial da produção do fruto no Estado, age também como um agente modelador e
produtor do espaço geográfico nas áreas onde está inserida, já que produz seu próprio
território e o usa como recurso (SANTOS, 1997), de acordo com seus interesses, de
forma seletiva e corporativa (SANTOS; SILVEIRA, 2003).
De todas as agroindústrias do coco existentes no Ceará, a que tem o maior poder de
alienação territorial (SANTOS, 2003) é a Ducoco, não apenas por se tratar da maior
empresa em atuação, mas por ter a capacidade de embolsar grandes investimentos do
Estado e de instituições financeiras, de fazer com que o Estado instale infraestruturas
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que lhe beneficiem, de movimentar grandes quantidades de matérias-primas, de
empregar centenas de funcionários, de gerir unidades produtivas geograficamente
dispersas, de controlar a produção de diversos produtores, de movimentar a economia
urbana de Itapipoca, de provocar fluxos diários de trabalhadores para as fazendas e para
a indústria, etc.
Ao executar simultaneamente todas essas atividades a Ducoco influi de maneira crucial
na organização espacial e na regulação territorial. Além disso, a Ducoco é responsável
por gerar impactos dos mais diversos, como conflitos socioterritoriais. Entre os casos
mais elucidativos desses conflitos socioterritoriais poderíamos citar o embate já bastante
antigo entre a Ducoco e o povo indígena dos Tremembés de Almofala, município de
Itarema, que acusam essa empresa de ter invadido suas terras e de ter comandado uma
série de represálias contra os mesmos.
- Circulação, distribuição e consumo de coco Depois de produzidas as mercadorias é imprescindível escoar essa produção e
encaminhá-la aos centros de distribuição e aos consumidores, já que não basta produzir,
é preciso fazer essa produção circular, ou seja, “é indispensável transformar as massas
produzidas em fluxos” (SANTOS, 1985, p. 62). E para isso é necessário que as áreas
produtoras de coco estejam dotados de alguns fixos que lhe garantam uma fluidez
territorial (ARROYO, 2003) apropriada para escoar a produção em tempo hábil,
permitindo assim expandir a área de abrangência dos circuitos espaciais produtivos do
coco para todos os lugares, dos mais próximos aos mais distantes.
Aqui a circulação aparece como um dado essencial da acumulação do capital, capaz de
propiciar a dispersão espacial da produção (ELIAS, 2003). No Ceará, toda a produção
agrícola e industrial de coco é escoada em direção aos centros de distribuição e de
comercialização e aos consumidores via rodovias, portos e ou aeroportos. As
mercadorias que visam abastecer o mercado nacional interno são escoadas pelas
diversas rodovias, federais ou estaduais, existentes nas principais regiões produtoras, já
as mercadorias destinadas ao mercado externo são transportadas via rodovias até
chegarem ao Aeroporto Pinto Martins e aos portos do Pecém e do Mucuripe, todos
localizados na Região Metropolitana de Fortaleza, fixos que funcionam como
importantes sistemas de engenharia por onde a produção cearense é exportada.
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No Ceará, grande parte da produção é encaminhada aos espaços da distribuição
relacionados à comercialização de coco localizados em Fortaleza. Entre esses espaços
destacamos o Mercado São Sebastião e a Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa).
Essas duas centrais de abastecimento desempenham um importante papel na
centralização da produção de coco e no direcionamento dessa produção aos espaços do
consumo e aos pontos de venda de coco espalhados pelo Estado.
Finalmente, depois de realizada toda a comercialização, o coco se encontra com o
último elo do circuito espacial da produção, ou seja, o consumidor final. Ao adquirir o
coco, bem como seus subprodutos, o consumidor está encerrando um circuito que
passou por diversas etapas e processos e envolveu uma série de agentes e relações das
mais diversas. Aqui, os “circuitos da distribuição e do consumo desenham-se no
território para garantir que as produções agrícolas e industriais estejam presentes num
território unificado pelo mercado” (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 148).
Considerações finais Apresentamos os circuitos espaciais da produção de coco no Ceará, mediados por seus
respectivos círculos de cooperação, em separado, mas destacamos que todas as etapas
de todas as atividades estão intrinsecamente interligadas, uma vez que o espaço, como
realidade, é uno e total (SANTOS, 1985). Ressaltamos que os circuitos espaciais da
produção e círculos de cooperação são indissociáveis, pois nenhuma etapa da produção
se faz isoladamente.
Cabe ainda destacarmos que o circuito espacial da produção de coco influencia
sobremaneira a organização do espaço e a regulação do território nas áreas onde seu
cultivo é mais significativo, ao ponto de impor novas solidariedades organizacionais
(SANTOS, 2009) entre produtores agrícolas, centros de pesquisa e assistência rural,
comerciantes, atravessadores, agroindústrias, distribuidores, atacadistas, consumidores
etc. Tudo isso vai resultar na criação de novas dinâmicas socioespaciais e ocasionar uma
série de modificações na maneira como se organizará a produção de coco.
Destacamos também que com a reestruturação da produção de coco, saberes
historicamente construídos vem sendo muitas vezes substituídos por novos modos de
produzir o fruto, e nem todos os produtores são inseridos nessa nova lógica de produzir
coco para o mercado, fato que vem alterando significativamente toda a vida de relações
(SANTOS, 2008b) desses produtores, sobretudo os pequenos e que praticam uma
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agricultura de base familiar. Esses pequenos produtores são os mais prejudicados com
as novas imposições do mercado, tendo que submeter toda sua produção às exigências
dos atravessadores e das agroindústrias, por exemplo, e tendo que concorrer com os
sistemas técnicos agrícolas (RAMOS, 2003, 2006) cada vez mais modernos e de posse
somente dos grandes produtores.
Notas 1 Cavalcanti, Mota e Silva (2006, p. 138) apontam que a “expectativa do crescimento do mercado de água de coco tem animado os produtores a expandir suas áreas com espécies precoces, monitorar para tal todas as fases da produção para garantir a qualidade e produtos just in time”. 2 As medidas de salvaguarda têm como objetivo aumentar, temporariamente, a proteção à indústria nacional que esteja sofrendo prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave decorrente do aumento, em quantidade, das importações, em termos absolutos ou em relação à produção nacional, com o intuito de que durante o período de vigência de tais medidas a indústria doméstica se ajuste, aumentando a sua competitividade. Fonte: < http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=231>
3 De acordo com Elias (2003, p. 89), “um dos avanços técnicos mais importantes conseguidos com a biotecnologia foi a produção de híbridos. O híbrido é uma semente melhorada, gerada em laboratório com a utilização da engenharia genética, constituindo-se um dos principais signos da modernização da agricultura e um dos insumos industrializados mais utilizados no processo de mudança da sua base técnica”. 4 Fonte: <http://www.opovo.com.br/www/opovo/economia/731438.html> (Acesso em 28/08/11).
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