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Reencarnação Consciente A aventura das vidas Registro Biblioteca Nacional Nº007702-V03 17/08/2007 Antonio Luiz Canelhas Junior Lenivaldo Vignoli de Melo Revisor do texto 2007

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Reencarnação Consciente A aventura das vidas

Registro Biblioteca Nacional Nº007702-V03

17/08/2007

Antonio Luiz Canelhas Junior

Lenivaldo Vignoli de Melo Revisor do texto

2007

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REENCARNAÇÃO CONSCIENTE – A Aventura das vidas Antonio Luiz Canelhas Junior

Muitos caminhos o levaram à sabedoria... O autoconhecimento lhe garantiu a

força necessária... Mas você também é capaz... Realize a louca, arrebatadora e eterna “aventura

das vidas”. ... O conceito de família ganhou seu sentido mais amplo. Jorge apenas teorizava a respeito. Na verdade nunca soube os motivos reais,

concretos, que conduziram sua família durante aquela metamorfose, tamanha mudança não ocorreria por simples acaso.

Jorge pensava em registrar essa experiência... Esse seria o pensamento embrião de nosso convívio, o que nos levou a trabalharmos nesse projeto durante dois anos. Foi quando tive noticias de tão incrível jornada! Quando soube da existência do projeto “reencarnados em vida”, se assim posso chamá-los. Um desafio para a credulidade de qualquer um.

Estudamos nesses dois anos, um meio de manter o reencarnado em segurança. A finalidade era apenas mostrar como mudanças são promovidas, utilizando muito amor, a força de um exemplo e, principalmente, o vigor emanado de nossos pensamentos.

Nossas irradiações mentais... Essas incríveis forças invisíveis, que utilizamos ao acaso, sem direcionamento, desperdiçando esse maravilhoso poder, do qual pouco se sabe. Muitos especulam a esse respeito, dizem que se usássemos 60% de nossa capacidade mental sequer pisaríamos no chão para nos deslocarmos... Quem conhece as verdades quânticas?

Com esse intuito, conhecer mais a respeito de nossos pensamentos, tentamos simular os desdobramentos possíveis, como mudanças no pensar poderiam afetar o mais comum dos seres humanos. Como eu, por exemplo! Quais seriam as reações, as atitudes, a conduta, enfim, os resultados de uma aventura desta natureza?

Com o auxílio do “grande plano”, para mim, hoje, uma inegável realidade, foram traçadas as linhas mestras deste relato, agora colocado em suas mãos.

Entre realidade e ficção, inacreditável e lógico, comum e fantástico, cada um se embrenhando no próprio espírito, realizando a jornada... Através das “épocas”, espaços mentais onde se alojam as nossas versões e sensações vindas de experiências pessoais, guardadas na forma de pensamentos... Revivê-las... Reescrevê-las... Sem medo de se descobrir!

Repensando suas vivências... Tentando penetrar nas teias do tempo. Realizando as mudanças cabíveis no roteiro da vida. Antevendo os desdobramentos resultantes, para cada movimento realizado. Sem poder voltar uma segunda vez... Como se a tinta e o papel fossem uma nova vida e quem a desenha fosse um “deus” observando sua própria criação!

Você também pode realizar essa aventura... Uma das mais incríveis jornadas a que todo ser humano é destinado. A evolução humana... Única razão de nossas existências!

Uma aventura para os que possuem coragem, experiência para os que não temem encarar seus próprios fantasmas. Lutar com os monstros que se alimentam de nossas fraquezas!

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A Partida Estava parado diante de seu mestre. Lutava com seus medos. As mãos

molhadas, cabelos da espinha eriçados... Estranhas sensações o cortavam! De todos os lados brotavam energias, que só em teoria conhecia. O início de sua aventura... Uma que nenhum ser humano havia realizado antes: “A reencarnação em vida”.

Seu mestre realizava os preparativos para a “aceleração molecular” do espírito. Aceleração que permitiria a “parte” de seu ser voltar no tempo, reintegrando o “espírito do futuro” ao “espírito do passado”, mesclando o homem ao menino. Habitando a partir daquele momento seu próprio corpo, bem conhecido de Jorge, mas esquecido através das décadas, seu corpo de menino, com apenas 12 anos de nascido.

Existia uma diferença fundamental agora, um espírito mais velho, com maior nível de consciência, um homem, passando dos 40, viveria no corpo ainda jovem, uma nova vida pra viver, com a experiência da antiga vida. Situação repleta de possibilidades, o garoto carregaria as lembranças do homem, seus feitos, sucessos e fracassos, revividos sob nova batuta.

Reviver? O que poderia ser mudado? Doenças... Meses perdidos em cima de uma cama? Acidentes... Grande desperdício de tempo, recursos e saúde. Morte, esse mistério da vida... Seria possível alterar os eventos que levaram à morte prematura de seu pai?

Numerosas, intensas e magníficas dúvidas atravessavam a mente. A única coisa certa era a viajem ao passado. O que havia retido na memória representava um grande perigo, possivelmente para toda a humanidade, dependendo da projeção obtida através dos conhecimentos carregados. Sair do século XXI e entrar nos anos setenta, século XX, levando dúvidas, medos, certezas e expectativas, uma mistura psicológica altamente explosiva!

Acredito ser óbvia a intenção do “grande plano”, não tinham o propósito de interferir na linha do tempo de forma agressiva. O passado já havia sido escrito pelos homens, essa responsabilidade não seria alterada, os caminhos trilhados pelas nações e planetas, nos milhares de sistemas espalhados pelo cosmo, não seriam questionados por agora, cada grupo assumindo a própria jornada. O grande plano apenas supervisiona o trabalho diário, não altera o contínuo espaço-tempo por motivos banais, os ignorantes o intitulam “Deus”, muitos o chamam “O Pai”. Seguem criando condições favoráveis visando ao desenvolvimento dos seres humanos, ou não humanos, nas diversas moradas deste Universo. Entre catástrofes e anos de calmaria alguns “enviados” habitam nesses planetas, de tempos em tempos convivem entre os seres comuns na tentativa de mostrar o melhor caminho. Idéias luminosas em mentes abençoadas. Este é um dos recursos do grande plano. O experimento realizado através de Jorge seria mais uma tentativa, criar um novo recurso... Apenas isto!

Jorge pensava em seus pais. Será que ele os reconheceriam? Por maior que fosse o esforço, mesmo rebuscando os meandros da memória, não conseguia ter certeza das personalidades que encontraria.

O tempo promove mudanças, assim é esperado, um mero indício de haver-se vivido o decorrer das épocas. Os pais é que normalmente tomam conta de seus filhos. Em nosso planeta os filhos não estão preocupados em compreender a personalidade de seus antepassados, é da natureza humana, crianças são extremamente egocêntricas. Esta é uma característica indicadora do nível de maturidade dos seres. Os verdadeiramente adultos não acreditam ser o centro do universo, são exemplos de sobriedade, retidão no caráter e sempre com intenções definidas em relação ao próximo. Os seres assim agindo não provocam aflições nos companheiros de jornada,

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mostram suas intenções de início, colocam o bem estar da coletividade como meta. A vida não é apenas um jogo, ganhar ou perder dinheiro, prestígio ou poder, isso é secundário, uma mera conseqüência, a vida é algo muito mais precioso do que estas mesquinharias, esta pouca coisa que alguns teimam em realizar durante décadas, afetando a qualidade de vida dos que deles se acercam.

Esses seres, não satisfeitos, até ensinam outros como tornar a vida um amontoado de tristezas, torturas e sofrimentos. O pior é que a maioria já aprende isto na escola ao entrar em contato com a coletividade. A incompetência para viver feliz é inegável! A culpa não recai sobre os jovens, é crime praticado por todos, mesmo conhecedores da dor provocada pelo sistema, insistem em deixar os jovens abandonados à própria sorte. Desleixo para com as mentes em desenvolvimento... “Quem semeia ventos colhe tempestades!”

Assim pregava um dos enviados do grande plano: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificado sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre montes de areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína”.

Ele também ensinou: “Ouvistes o que foi dito: amareis o vosso próximo e odiareis o vosso inimigo. Eu então, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuva sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os cobradores de rendimentos públicos o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os estrangeiros também o mesmo? Portanto, SEDE PERFEITOS COMO É VOSSO PAI CELESTE”.Esta é a meta que deveria balizar as nossas vidas: o amor ao próximo!

Jorge pensava nestas palavras do mestre de Nazareth, tentando atingir o significado de sua experiência. Quantos entenderão tal significado? O Nazareno andou entre nós e até hoje ninguém segue seu exemplo! Que comportamento assumir diante de pessoas tão amadas e, no entanto, tão desconhecidas?

Sua mãe ainda era viva, seu pai morrera quando tinha somente 22 anos de idade. As lembranças de seus irmãos se faziam mais presentes. Como seriam eles naquela época? Como iriam reagir diante do menino transformado? Dormiria um menino, pensando como um menino, e acordaria pensando como um homem. Deveria tomar cuidado, qualquer passo em falso poderia representar uma internação numa instituição para pessoas especiais, ser tido como louco ou superdotado. Mas assim não era, se tratava de um homem comum, como outro qualquer... Como seria considerado?! Ser internado numa clínica era um de seus maiores temores.

A perda da liberdade também o deixava muito nervoso e angustiado. Novamente sofrer com as diligências que o julgo alheio acarreta. Outros ditando o que comer, vestir, aonde ir, quase tudo enfim... Ser um menino aos olhos do mundo! Como seria? Estar preso em um corpo de criança. Sem álcool, sem sexo, sem expressão de juízos! Preso... Preso... Simplesmente preso!

Como se não bastasse tudo isso, teria que voltar à escola. Seria o pior, ou quem sabe, o melhor a ser vivido naqueles dias. Não tinha idéia de como seria esta nova chance de aprender, ou melhor, reaprender. Se possível ampliar os conhecimentos,

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dedicar-se a pesquisas, somar sabedoria, principalmente quando são conhecidos os múltiplos usos do saber.

Mas a lembrança dos professores era algo apavorante! Determinados professores o faziam tremer. Era terrível... Não se tratava de um convívio entre adultos, seria novamente uma criança, um pré-adolescente. Seria colocado em contato com os de sua idade. É o que fatalmente aconteceria. O pensamento corrente força os relacionamentos... Crianças... Conviver com liberdade relativa somente ao lado de crianças! Assim seria obrigado. Quem é que leva a sério uma criança de 12 anos? Ele se sentia angustiado com as perspectivas delineadas à sua frente. Jorge nunca quisera ser pai! Às vezes, por mais que seu mestre soprasse em seu ouvido os segredos da mente, o medo tornava-se pavor... Quase insuportável!

Ele era o primeiro, aquele que pediu a Deus para ser a cobaia. Foi-lhe permitido tentar a “reencarnação em vida”, agora não podia fugir. Seu orgulho e seu espírito de aventura não iriam permitir uma saída fácil. Esta era uma jornada inadiável, temida, mas desejada com fervor, o valor atribuído ao experimento ficava claro. Tinha uma inabalável confiança no grande plano, agora testaria os limites desta confiança. Uma jornada planejada nos Céus!

Chegado o dia da partida, chovia por vezes forte por vezes mais fraco, um daqueles dias em que chove o dia todo, e ainda, para o espanto de todos, em pleno verão. Estava mais frio do que de costume, em torno de 19 graus Celsius. O vento soprava de sudoeste, frio, úmido, acentuando ainda mais a desconfortante situação.

O viajante, voltado para o sudoeste, sentindo a chuva em seu rosto, olhava com coragem para seu mestre, de pé à sua frente sentindo a chuva castigar suas costas, fato que não lhe causava muito incômodo, acostumado aos ventos da montanha. A partida se deu em uma cidade comum, seus moradores não estão acostumados a ver tais cenas. Dois homens seminus, um fitando o outro, na chuva, executando movimentos lentos, como uma dança... Dançando no alto de um monte! Uma atitude muito incomum para quem estava ao lado da igreja local, igreja de Nossa Senhora de Nazareth, em frente ao mar, ponto estratégico daquele promontório, ao lado do qual a cidade se desenvolveu através dos tempos.

Eram cinco horas e quinze minutos do dia dois de janeiro. Não havia, ali, pessoas atentas a essa hora da manhã, nem tão pouco a observar a lateral voltada para o mar. Os pescadores não costumam jogar suas redes daquele ponto. Com a chuva, o número de possíveis expectadores era menor ainda. Praticamente ninguém viu um homem desaparecer em pleno ar e um “outro homem” dirigir-se apressado para o cemitério, nos fundos daquela igreja.

Vestindo camiseta, bermuda, chinelo de dedo e uma capa de chuva, seu mestre foi de encontro a um novo Jorge, encontrando-o na entrada do cemitério. Seu mestre reencontrava o mesmo homem!

Depois de um longo abraço... Saíram felizes, com lágrimas nos olhos, em direção ao sopé do monte. Entraram em um automóvel e partiram, como se nada tivesse acontecido naquele dia, no planeta Terra, com toda a humanidade que vive nesta parte do cosmo!

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O Sonho Jorge estava dentro de um castelo... Um Castelo? Assim parecia, algo lhe dizia

que estava no interior de um castelo. Um salão com muita gente, pé direito alto, muito alto, paredes rústicas, uma pintura estranha para nossa época, com certeza era uma edificação muito antiga. Pessoas vestidas de maneira nada homogênea. Vários estilos de época, alguns pareciam chineses, outros europeus, também negros de tribos africanas, hindus... Gente de todo canto do planeta, de tempos remotos e de épocas, assim lhe parecia, de épocas futuras, vindas de todo espaço-tempo! Passado, presente e futuro se misturando de uma forma ruidosa.

Parecia uma grande festa, uma festa de loucos. As roupas de Jorge eram “normais”, vestia trajes característicos do início do século XXI, um típico carioca. Ele se sentia em um filme, misto de terror e ficção científica. Ali, ficou assistindo àquela loucura dos homens. Seres que estavam bem à sua frente, comendo, bebendo, fazendo sexo, gritando, correndo, todos sem o menor constrangimento por estarem fazendo aquelas coisas, sem o menor pudor! Com assombrosa naturalidade sexos, bocas, corpos, de tudo ou de todos, viam-se viscosas gotas pingando, escorrendo, provenientes dos excessos executados por seus corpos. Era o fruto de mentes insaciáveis, que tentam mitigar os desejos da carne. Não percebiam a impossibilidade de tal aspiração! Os prazeres corporais são sempre de natureza impermanente, fugazes, são ávidos por uma próxima oportunidade, procriam vícios. Com sua prática zelosa provoca vícios. Com o exercício conseguem escravizar a alma do ser humano. Um espetáculo repugnante para alguns, um deleite para uma boa parte dos seres que vivem em nosso planeta. Quantos não desejariam mergulhar, deslizar, se lambuzar, com fartura, ser parte daqueles seres, sentir com eles, despudoradamente se unir aos participantes daquela festa?

Os vícios têm a capacidade de arregimentar legiões, verdadeiras hordas. Algo comum dentre os habitantes, encarnados ou não, de nosso planeta!

Jorge permaneceu estático, assustado com o que presenciava, jamais vira algo parecido, principalmente quando começou a sentir as vibrações que emanavam daqueles seres! Seus olhos começaram a ver mais do que a matéria comum, começou a enxergar suas almas, algumas com formas animalescas, outras se assemelhavam a vermes com cabeças humanas, alguns eram dois! O segundo parecia um animal com aspectos humanos, fundido ao primeiro. O primeiro não se dava conta do papel que desempenhava, servindo de instrumento, meio do não corpóreo atingir a matéria mais densa. Uma cena em particular deixou Jorge atônito. Seres, não corpóreos, buscavam sem sucesso beber o sangue de um animal recém estripado, lançado sobre uma espécie de mesa de forma característica, como uma enorme bacia feita de prato coletivo, onde alguns se fartavam de carne fresca e sangue quente... Jorge estava aterrorizado!

Em meio a sua confusão mental surge à sua frente um garoto, de uns treze anos de idade, cujo semblante era totalmente diferente dos demais. Aliviando assim o desespero no qual Jorge se encontrava. Foi o único a entabular uma comunicação com ele. Inesperadamente o menino fala de uma viagem, viagem no tempo, esperava pela explicação, entender o que era aquilo tudo, onde estava, qual a razão de ter sido trazido para aquele lugar. Que espécie de “festa” era aquela?!

– Será que estou no inferno? - Perguntou Jorge com a voz trêmula.

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Ele esperava que o menino... Um menino! Que o menino esclarecesse algumas das questões surgidas durante a observação daquela cena. Sua mente fervilhava com tantas duvidas. Nada disso! O menino queria conversar sobre viagens no tempo. Um dos assuntos prediletos de Jorge, sempre se sentiu atraído pelo assunto, mesmo sem saber bem seus próprios motivos. Para Jorge não parecia haver nenhuma relação entre aquele lugar e as tais viagens no tempo.

Conversar sobre ficção científica naquele lugar? Que lógica teria? Parecia que todos ali estavam tentando satisfazer seus desejos mais loucos. Viajar no tempo era, para Jorge, uma das mais fascinantes aventuras que um ser poderia empreender em sua vida. Um de seus maiores sonhos... Viajar no tempo! Na mente de Jorge veio apenas uma idéia... Este é um dos umbrais da vida humana, aquele lugar onde muitos ficam séculos a vagar. Outros passam por aqui e caem mais adiante, ficam presos nos oceanos da prata e do ouro, sequiosos pelo lucro brilhante da riqueza material. Umbrais... Somente isso... As várias moradas da casa do Pai.

– Necessitamos de energia, muita energia. – falou o garoto – devemos procurar

o ponto e o momento certos para conseguirmos energia suficiente para a nossa viagem. É a única maneira de escaparmos destes umbrais, ou melhor, vamos colocar assim, levá-lo para outro espaço-tempo diferente. Não tema, você não é daqui, foi só uma maneira de chamar a sua atenção... Você gosta de sexo e ainda é atravessado pelos sentimentos ligados ao ódio!

O garoto estendeu sua mão a ele, foi então que outras pessoas acercaram-se

deles. De algum lugar saíram dois elefantes “empalhados”, ornamentados como se usa na Índia, bastante exóticos! Os elefantes deslizavam à sua frente, como se estivessem em cima duma passarela móvel ou possuíssem rodas. O garoto lançou, com presteza, uma das mãos em direção a um dos elefantes e outra segurou firme a mão de Jorge. Segurou firmemente em uma argola que pendia daquela espécie de sela que ornava os elefantes. Neste momento foram puxados a uma velocidade estupenda, instantaneamente já se encontravam em outro local, outra sala, outro mundo... Os sons desapareceram, um silêncio balsâmico tomou conta de seus ouvidos.

Passados uns poucos minutos, como que voltando de um transe, algumas daquelas pessoas, puxadas juntamente com ele, em sua maioria mulheres, começaram a procurar... Receosas, apreensivas, olhando ao redor, buscando com os olhos, querendo encontrar outros seres... Jorge interpretou os sentimentos que emanavam daquelas pessoas, sentiu. Elas procuravam seus perseguidores, inimigos, monstros, algo ou alguém que desejasse o mal daquela gente. Ele não conseguia entender tudo que sentia... Literalmente podia sentir os outros seres! Seus medos, desejos, todos os pensamentos brotando dentro de sua mente. Ele percebia a essência dos que estavam ao seu redor. Bastava focar a mente em um daqueles seres que o cercavam e imediatamente começava a ouvir seus pensamentos, como se estivesse dentro de suas mentes. Foi quando Jorge olhou para o garoto novamente... Nada... O menino não era transparente para Jorge!

– Eles foram ficando através dos anos, cumprindo seus destinos...

Conseqüência direta de seus atos. Destinos que remontam aos resultados das interações com as Leis Universais. O efeito oriundo da causa. Inexoravelmente sempre iremos nos sujeitar às Leis, sempre serão obedecidas, gostemos ou não delas... Elas são Leis Universais! – falou o garoto com autoridade.

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– Você pode fazer com que todos nós viajemos no tempo? – Jorge insistia em penetrar a mente do menino.

– Sempre que for necessário. Sempre que algo de verdadeiramente bom possa acontecer em função da viagem. – respondeu com firmeza, porém, com uma expressão de felicidade.

Jorge olhou surpreso... As pessoas ao seu redor estavam desaparecendo, as

paredes desapareceram, tudo havia desaparecido. Uma pergunta atravessou a mente de Jorge.

– Quem ou o que era esse menino? Encontrava-se do lado de fora, em pé, naquelas pequenas calçadas que cercam

as casas térreas, que separam a casa do terreno in natura. Seus pés sentiram respingos, repentinamente começou a chover, chover forte, muita chuva mesmo! Em um virar de cabeça a chuva já tinha ido embora, desaparecido por completo. Ficando uma sensação estranha de, ainda haver uma forte chuva em algum lugar, escondida, em outra dimensão. Olhou novamente para o terreno da casa e, espantado, notou que ele estava totalmente alagado, com cerca de uns cinqüenta centímetros de profundidade, estranhamente a casa não se encontrava submersa naquela água, a casa se tornara uma ilha dentro do terreno. Naquela água havia um peixe, diferente, nada de anormal. Jorge não sabia nada a respeito de peixes, apesar de viver à beira mar. O problema foi quando começou a emanarem sentimentos daquele peixe, muito fortes... Sentia vontade de chorar, rir... Os olhos do peixe eram algo indescritível... Ah! Que olhos... Era puro sentimento. Nobres e belos sentimentos. Era amor?!

– Caso você tenha coragem... Estamos décadas no passado de seu espaço-

tempo, dentro de seu século XX – Falou o garoto com uma voz angelical, com uma espécie de eco, sua voz reverberava.

Jorge já havia esquecido do menino, o peixe havia tomado conta de seus

pensamentos, sentia a vida de uma forma totalmente desconhecida pra ele. O peixe deixava-o fascinado.

– Basta você ter coragem e ir em frente – Tornou a falar o garoto, apontando para a rua em frente àquela casa – Entre na correnteza e experimente a sua força.

O peixe havia feito uma limpeza na alma de Jorge, sua mente estava apaziguada

com o mundo. Foi então que ele olhou para o menino, notou que ele apontava para a rua em frente da casa. Ele conhecia aquela rua, era familiar, fazia parte de sua infância. Por instantes o viço das tenras idades atravessou o sistema sensível dele. Lembrava de como era ser criança, não de acontecimentos da infância, antes de qualquer coisa, uma recordação sensorial. Vontade de rir e brincar. Olhando para a rua que se encontrava totalmente alagada, como um rio, reconheceu um homem que passava. Parecia impossível, mas era real... Real? O homem estava exatamente como há anos atrás! Como seria possível? O homem estava bem, jovem, cheio de saúde. Mais incrível ainda era o fato dele caminhar em meio aquele rio... Rua?! Rua em forma de rio... O fato era que o homem caminhava tranqüilamente no meio daquelas águas. Parecia desconhecer o que se passava ao seu redor. A rua inundada, por um rio caudaloso, com forte correnteza. Seria impossível ficar de pé naquelas águas. Jorge olhava para a rua... Para o menino... Para o peixe... Onde estava o Peixe? Um

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desespero tomou conta de Jorge, sentiu suas pernas amolecerem, sentiu que iria desmaiar...

Abanou a cabeça com vigor com medo de cair... Que susto! Viu-se em sua cama, no seu quarto, ao lado de sua atual esposa. Ele estava vivendo o seu terceiro casamento. Em sua mente gravitava um pensamento único, viajar no tempo, não como de vezes anteriores, não desejava viajar a esmo pelo tempo descobrindo a verdade dos acontecimentos históricos, desvendando o que nos reserva o futuro, o futuro da raça humana. Era uma idéia insólita, uma viagem muito estranha, viajar para a época em que tinha apenas uma década de nascido. Por que viajar para onde já se conhecem os fatos? Que tolice! Que desperdício de oportunidades! A carne havia tomado conta dele novamente. Passou dias sem conseguir pensar direito em nada que fazia. A todo momento vinha a idéia da viagem, a imagem daquela rua e daquela casa. Só tinha um jeito.

– Vou até aquela rua e procurar aquela casa. Jorge ainda estava longe de ser “um homem acima de qualquer suspeita”,

humano exemplar, exemplo de sobriedade, sempre reto no agir. Muitas transformações e reformas deveriam ser promovidas em seu espírito, muitos eram os problemas que se encontravam enraizados na mente dele. Sujeiras, marcas psíquicas de uma vida. A ira era um se seus piores pesadelos, uma manifestação que trazia conturbações, alteravam o andamento de sua vida. Quando a ira se pronunciava, as alterações se faziam notar. Sob sua regência coisas banais se transformavam em problemas insolúveis, sempre deixando seqüelas, proliferando conturbações mentais e uma série de situações não resolvidas. Muito por limpar. A ira era um trabalho constante, levando-o a uma atitude indiferente em determinadas ocasiões, o medo de despertá-la estava sempre presente, conhecia os resultados, quando tomava conta as conseqüências podiam ser desastrosas. Em casos mais raros ela havia solucionado alguns problemas que em outras condições a solução imediata seria, no mínimo, trabalhosa, mesmo assim a ira deixa suas seqüelas indeléveis. Ficava patente que a vida sem ira seria mais confortável. Viver sem usar o lado instintivo, a força animal, é possível, embora não seja algo muito fácil de realizar... O medo é muito útil nos momentos certos. Viver sem a estupidez, a irracionalidade da ira era algo muito importante para Jorge, acabando por fazer dele um homem solitário. Estava, por vezes, em meio a uma multidão e, mesmo assim, estava só. Divertir-se, rir, brincar, ser espirituoso e estar, sempre, completamente só. Não se sentia parte integrante da humanidade, sofria muito, não entendia a maioria dos motivos apresentados, justificando o apego a essa vida que todos tanto querem, enfim, a vida era algo desejado, mas ao mesmo tempo sem sentido! Casar, ter filhos, os melhores motivos, verdadeiros alicerces pra muitos, nada representava para Jorge... Poder, fortuna, fama, família, isto tudo parecia uma enorme tolice. Jorge buscava entender essa grande porção da humanidade que governa nosso planeta.

Ele alegava ter seus motivos. Incrivelmente as pessoas comuns sequer se questionam em relação a tais fatos. Jorge se considerava indigno de ser pai, acreditava não ser capaz de gerar um outro humano completamente são. Não o aspecto físico incomodava, isso sim, o lado emocional do ser humano, que nascendo e se criando a seu lado, convivendo e absorvendo características psíquicas suas... Isso o enchia de dúvidas. Sentia-se mau só de pensar em gerar mais um psicopata social, mais um ser devotado a “avidez e podridão”, como ele costuma dizer.

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Com a expressão “avidez e podridão” ele designa os seres que pensando apenas em seus interesses, família, bens, prestígio, poder, destroem o planeta sem o menor remorso. Para sua plena satisfação, os seres da “avidez e podridão”, fazem qualquer tipo de acordo. Visando seus interesses mais imediatos o futuro para esses seres é algo incompreensível. Sabe-se que, no máximo, eles consideram o futuro da própria prole. Caminham para a morte amando somente seus interesses, não se importam com os outros seres, humanos ou não. Jorge se perguntava:

– Qual será o percentual de seres humanos que realmente se importam com o

futuro de nosso planeta? Será que os governantes desse planeta não enxergam que sem a erradicação da miséria o planeta não tem futuro? Para que tantos bilhões guardados no banco? Não seria melhor viver em um planeta sem tanta diferença social, doenças, fome e guerras? Como estas pessoas podem viver bem, sem culpa, não sentir o peso de suas responsabilidades? Onde estão os sentimentos desses seres? Eles estão destruindo um belo lugar. Vendendo nosso planeta por “ouro”! Ninguém necessita de tanto para viver, é certo que não! Eles não conseguem absorver o tanto de prazer carnal que o dinheiro proporcionaria, morreriam se tentassem. Estamos morrendo nesse processo, junto com eles, para dar mais “ouro” para essa gente. Conseguiríamos absorver a felicidade, uma sensação duradoura, advinda do prazer de viver em um planeta habitado por seres humanos felizes, capazes de gerir suas vidas em plenitude? Seria isso um exagero, uma espécie de doença, querer ver e viver num planeta assim?

O turbilhão mental acossava a mente de Jorge. Por vezes se perguntava se seria

possível desligar a mente por umas horas. Quando era jovem usou drogas, maconha, cocaína, LSD, álcool, buscou onde nada se encontra, mas queria alívio! Com isso acabou conhecendo o lado podre da vida. Fez algumas incursões num dos lados criados pela política dos seres da “avidez e podridão”. Lutou contra as dependências geradas pelo atual sistema econômico, principalmente nos que estão iniciando sua vida. Graças a seu esforço solitário, muita determinação, estudando filosofia e várias “doutrinas”, buscou meios de combater no campo mental, não somente seus inimigos químicos, mas principalmente os grilhões psíquicos. Já há alguns anos não utilizava nenhum tipo de droga entorpecente ilegal. Recriminava-se quando usava doce (sacarose, que é uma droga maléfica e legalizada, ministrada em crianças) e sal, sonhava em viver apenas de frutas e verduras cruas. Jogar fora o fogão, no lixo mesmo. Ser um naturista. Alimentava o desejo de ser completamente sóbrio, no sentido mais amplo da palavra. Viver em um ambiente de seres moderados, parcos, frugais, dotados de simplicidade no viver, logicamente aliado à sabedoria. Saber trilhar o caminho do meio, conhecer a verdade que conduz à extinção do sofrimento. Reconhecer conscientemente as dificuldades enfrentadas ao tentar entrar no caminho que conduz à suprema felicidade. Ele não cansava de repetir que a paz é fruto de muitas batalhas, lutas travadas no íntimo de cada ser humano. Ser sóbrio e sábio era a meta, suas únicas ambições. Sóbrio e sábio ainda são suas duas palavras prediletas.

Ele perseguia um sonho muito simples, viver em paz. Desde que decidiu viver em paz, passou a notar como o mundo dos homens não foi feito para os homens da paz. Os homens não querem o simples. Os homens não querem viver com pouco. Não gostam dos homens que tentam viver em paz. Assim, para se obter a paz faz-se necessária a luta por um espaço onde a paz relativa seja possível. É lamentável que esse direito não tenha sido incluído na lista de prioridades dos governantes deste

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planeta, seria o melhor para todos nós. Poder viver em paz é tão importante quanto uma boa alimentação. Afinal, somos ou não animais racionais?

Por vezes Jorge sentava num canto de casa e chorava, choro da alma, solitário, quase perdeu as esperanças. Dizia-se um homem sem sonhos, não ter mais o que sonhar, sabendo que nada do que desejasse para toda a humanidade se realizaria. Perdia o significado da palavra sonho.

Havia convivido intimamente com três mulheres, sem nunca ter certeza dos seus sentimentos em relação a elas. Não queria ser o pilar mestre de um lar, detestava a idéia de ser obrigado a gerar recursos financeiros para sustentar quem quer que fosse. Por vezes não tinha muita vontade de gerar os necessários recursos para si mesmo.

Ele dizia que para viver em paz nesse mundo dos homens, é necessário renunciar a muitas coisas. Certa ocasião me falou de um dia em especial, ao contemplar sua esposa dormindo no sofá repousando tranqüilamente. Enquanto assistia à cena sua mente trabalhava... Orava, pedia a Deus o direito de poder viver em paz com aquela mulher, se possível ter forças para viver no mundo dos homens e gerar recursos para sustentá-la. Ele chorou baixinho para não acordá-la. Três casamentos... Tinha medo do futuro, medo de ser impossível ser um homem da paz e fazer coisas simples como manter uma família.

Esse era o homem que viajaria no tempo, desencadearia uma revolução sistêmica... Ou não?! Tudo dependendo dos resultados dessa primeira jornada temporal... Um novo sistema divino... Outra entre tantas tentativas do “grande plano”, visando acelerar o processo de evolução humana... A tentativa realmente aconteceria?! Um homem ao repassar pela própria vida, conhecendo um pouco de suas possibilidades, tentaria dentro de uma “nova” vida construir um futuro diferente? Onde os sonhos voltassem a ter um significado? Um futuro onde poderia mostrar as pessoas que tudo pode ser mudado. Efetuando em nossas mentes uma revisão de valores, uma reforma íntima, a verdadeira reconstrução espiritual. Capaz de ser realizada por qualquer ser inteligente, de coração limpo, propondo-se a mudar a qualidade de seus pensamentos, sentimentos, enfim, serem novos seres humanos.

Ele teria umas poucas décadas para revisar os seus valores, matar fantasmas que o assombravam, sem criar novos problemas para a mente, novas cicatrizes em sua psique. Até mesmo seus mestres não tinham idéia do que seria ou não possível alterar durante a viajem. Viajar no tempo-espaço, dentro de sua própria alma... Quantas possibilidades podem ser geradas? Tudo depende do viajante.

Desceu do “324” e respirou fundo. Seus pensamentos fluíam com muita

velocidade, coração batendo forte. Aquele lugar trazia uma série de recordações da sua infância e adolescência. Repentinamente uma sensação de perda invadiu seu coração. Muitas recordações contundentes seriam encontradas caso ali permanecesse, pior, situações não resolvidas, sequer equacionadas, uma pessoa que era “ligada” a ele, seu único filho morava naquele bairro, possivelmente o menino não existiria mais depois da jornada, uma pessoa desconhecida até aquele momento. Ele buscava sonhos novos em meio a sonhos perdidos. Ele decidira-se, para bem do filho, assim ele acreditava, seguir os ditames de sua primeira esposa, manter-se afastado do filho. Eles na verdade, desde o episódio da gravidez de Irene, nunca mais conseguiram falar a mesma língua. Mesmo quando tentaram se aproximar, a pedido do menino, a coisa não funcionou, misturaram os sentimentos e o menino ficou novamente sem ver o pai. Ele sabe o quanto tinha errado no processo, mas sabe que a situação era totalmente insolúvel, os códigos de valores eram muito diferentes. Ele um maluco, ela uma pessoa

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comum, um tentando sonhar em mudar a sociedade e outro querendo ingresso de camarote no mundo dos homens. Aquele misto de sentimentos estava causando uma profunda dor, a alma chorava diante das contradições de uma vida. O passado desfilava dentro de sua mente, as condições entre os diversos mundos que coabitam a mente de um humano faziam daquele momento uma tortura. Os mundos de Jorge estavam à sua frente, alguns deles, mas a jornada, o possível nascimento de um novo mundo, melhor e mais bem acabado começava a chamar a atenção dele. Seria possível consertar tantos erros? Criar uma vida totalmente nova? Casar com outras pessoas? Realmente criar uma vida totalmente diferente!

O Sol iluminava aquela praça mostrando a beleza das cores de seu jardim... – Preciso acalmar-me – pensou – caso contrário não terei condições de seguir

adiante. Já é muita loucura estar aqui correndo atrás de sonhos. Será que fiquei maluco?

Jorge foi interrompido por uma pessoa que passava e parou para cumprimentá-lo.

Era uma antiga conhecida do bairro, querendo saber por onde ele andava, o que tinha feito nesses anos, tagarelava com entusiasmo! Com pouco interesse foi respondendo as questões propostas pela antiga vizinha, subitamente pensou em perguntar pelo que veio procurar. Ela se recordou de imediato do antigo senhor que morava na tal rua. Para o completo espanto dele a pessoa que ele procurava, o homem do sonho, era o tio, já falecido, daquela jovem senhora. Notou que Luana havia perdido o semblante alegre e fitava-o, enigmática! Ela acabara de lembrar-se dos últimos dois dias de vida de seu tio. Antes de morrer seu tio contou ter sonhado com um garotinho da rua, e agora, só naquele instante ele associou a descrição do garoto ao nome real dele. O menino chamava-se Jorge. O menino do sonho de seu tio estava bem diante de seus olhos... Perguntando pelo seu tio?

– Você se lembra do Tiago da pipa? – diante de sua expressão de interrogação

ela acrescentou – Tiago da pipa, aquele que você ajudou a fazer aquela pipa enorme, uma bandeira do Brasil. Com ela vocês ganharam o concurso do bairro... Lembra?

– Tiago... É claro que me lembro... Que loucura! Jorge acabava de se dar conta que o Tiago em questão era filho do “homem que

andava no meio das águas”. Isso fez com que Jorge começasse a andar vagarosamente até um banco da praça e sentar-se... Assombrado, com o coração aos pulos, pálido, sem saber o que pensar. Luana acompanhou primeiro com os olhos depois foi juntar-se a ele, sentando ao seu lado. Seus olhares se cruzaram e automaticamente se abraçaram... Um abraço estranho pra eles, sentimentos nada comuns começaram a passar pelo coração de ambos.

Ele segurou-a pelos ombros e pediu-lhe que ouvisse seu sonho sem dizer ou perguntar nada. Apenas ouvir, como um desabafo... Assim foi. Luana apenas manteve uma expressão de assombro diante do relato, da descrição da casa de seu tio. Sim, ela tinha certeza, a casa do sonho era a casa de seu primo Tiago, filho do tal que andava na rua cheia de água do sonho do sempre maluquinho Jorge. Nem bem acabava de narrar-lhe o sonho e ela o pegou pela mão...

– Vamos... Eu te levo a casa do seu sonho. É a casa do Tiago da pipa, meu

primo. Venha... Eu vou até lá com você. Não posso deixar de ir lá com você.

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Não te falei nada ainda, mas meu tio sonhou com você dois dias antes de morrer, amanheceu perguntando se alguém sabia onde você morava...

Jorge estava perplexo com os acontecimentos à sua volta, começava a intuir que

a tal “correnteza”, citada “pelo garoto”, se referia aos acontecimentos. Já estava ali, bem debaixo de seus pés, invisível, porém atuando com força. Um rio farto pelas chuvas, levando tudo que encontrava pelo caminho, querendo ou não, a correnteza nos carrega com sua força imaterial. Forças desconhecidas ali já atuavam. Para muitos, uma realidade intuída, atuando junto a nós em nosso dia a dia, uma força viva da mãe natureza.

Estava olhando aquela casa como se fosse uma miragem. Os fatos se

desenrolavam com uma velocidade assustadora, em menos de três horas já estava olhando a tal casa, elemento integrante de um sonho, um marco que serviria de gancho entre várias vidas, uma das marcas deixadas pelos que por ali passaram, alinhavando destinos, algo tão surpreendente que soava inacreditável. Jorge sabia que era bem real. Muito real mesmo... A casa estava ali a despeito de tudo que ouvira de seus amigos e parentes, só restava uma coisa a ser feita.

– Podemos entrar Luana? Gostaria de ver o quintal. Existe algum lago no quintal

da casa? – ele parecia muito mais animado agora, tinha encontrado o que julgava ser o fim de sua aventura.

– Temos que esperar um pouco. A casa fica fechada, o Tiago já deve estar chegando... Você parece mais calmo.

– Espero que esse sonho saia da minha cabeça agora que encontrei a casa. Isto já estava passando dos limites, eu estava começando a me sentir um idiota... Pensei que estava ficando pirado.

Novamente ele sentia uma sensação estranha no ar, algo que já havia sentido

antes. Algo voltava a dar sinal, sentimentos conhecidos, intuídos, algo que vinha do interior de sua mente. Novamente o ambíguo, a dualidade surgia com força. Mundos “desconhecidos” nascem e crescem enterrados no intimo de cada um... Seu rosto já deixava transparecer alguma coisa.

– Está se sentindo bem? – perguntou Luana, presenciando uma mudança

radical na expressão facial dele. – Você está sentindo alguma coisa Luana? É o peixe, seu olhar... Aquele olhar

esta dentro da minha cabeça. Posso sentir... Olha ali... Quem é aquele cara? – É um amigo do Tiago. Às vezes ele vem visitar meu primo. Faz pouco tempo

que está aqui no Brasil. Nasceu em Minas, acho que é isso, foi o que Tiago disse. Faz um tempão que esse cara vive viajando pelo mundo afora. O Tiago disse que ele... Será? – Luana acabava de chegar a uma conclusão lógica.

– É ele... Eu sinto nele a presença do peixe... Eu sinto! – Jorge falava com medo.

Quando o mineiro chegou perto deles, Jorge já não falava, só olhava para os

olhos dele, eram diferentes, mas transmitia algo semelhante ao “peixe”, muito sentimento... Amor!

– Luana... Amigo... – cumprimentou os dois com calma e mansidão.

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Luana, mais que depressa, pôs-se a narrar os acontecimentos das últimas horas. Estranhamente, pensava Jorge, o tal mineiro não demonstrava nenhuma surpresa, como se tudo fosse extremamente normal, comum. O mineiro escutava tudo atentamente, não fazia perguntas nem comentários, apenas escutava tudo com o olhar perdido no horizonte. Ela foi até o ponto que havia chegado antes...

– Você não estava esperando, procurando, sei lá, alguém guiado por sonhos? –

perguntou Luana sem dar descanso às cordas vocais, estava muito excitada para se permitir pausas.

O mineiro olhou para Luana, depois para Jorge, que praticamente estava

mumificado. Sentimentos, razões, instintos, tudo dando voltas na mente do sonhador, deixando-o meio zonzo, o estômago dava sinais... Não dizia uma palavra nesse tempo todo. O mineiro colocou sua mão sobre a calva de Jorge. Nesse momento ele começou a ver uma criança flutuando bem à sua frente... A criança foi envelhecendo, transformando-se em ossos, virou pó... Jorge gemeu rouca e sofregamente... Viu uma “caverna”, começou a ver um “animal”, não... Não era um animal qualquer... Era um feto humano... Luz, muita luz, uma criança acabara de nascer... Ele estava sentindo o processo do tempo em seu espírito... Agora tinha a própria imagem diante de si.

– Meu mestre! É o senhor nesta carne? – Jorge começou a chorar. Fez uma série de movimentos, gestos, que aparentemente nem ele mesmo conhecia.

– Seu treinamento deve iniciar-se o mais breve possível. A data para a aceleração molecular, a inversão do espaço-tempo, está muito próxima. Como você já sabe devemos procurar o ponto ótimo das energias. Vamos. Temos muito que fazer até a data de sua partida – falava com autoridade.

Luana só ficou observando a cena. Durante a regressão de Jorge ela também

sentiu os olhos do “peixe”. Seu espírito estava cheio de sentimentos indescritíveis, permitindo a ela “entender tudo” que se passava à sua frente. Uma verdadeira comunhão de mentes acabara de ocorrer naquele local, existindo uma cumplicidade total entre os três, nenhuma palavra era necessária... Sentimentos irradiados pelo mestre.

Quando, já refeito, Jorge se levantou, deu um longo abraço em Luana, sabia que ela também havia sentido aquela energia, beijou-a na testa, olhou dentro de seus olhos e chorou um pouco em seu ombro.

– Sei que você sentiu... Sei que você sabe que é parte disso também. Não

esqueça de dizer a Tiago que estive aqui. Vou voltar. Muito obrigado por fazer parte de meu destino, ele não seria tão lindo sem você no meu caminho, você fez muito por mim hoje! – a mente de Jorge reagia de maneira diferente, ele ainda não se dava conta do alcance dos últimos acontecimentos.

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Antes da “Aceleração” A data da partida já havia sido fixada. Seu mestre já havia feito todos os cálculos.

A aceleração molecular se daria no local e horário pré-estabelecidos. Todo o trabalho agora seria feito pelo viajante, sua auto-preparação não era um

mero capricho do mestre, muito iria depender das opções escolhidas após a regressão. Não eram simples desejos, tudo estava amarrado, planos foram feitos, ele foi escolhido dentre uma humanidade de “voluntários”, foi escolhido, em parte, pelas suas deficiências. Era agora um “iniciado” nas viagens do tempo-espaço. Ele deveria pôr o experimento em andamento.

A missão já estava em curso. Aquele que, entre uma vida e outra havia pedido por esta oportunidade, já penetrava nas malhas de sua própria mente. Sua evolução espiritual entrara em campo desconhecido. O grande plano também estava vivendo uma nova experiência, sabem os resultados desse tipo de trabalho, das possibilidades infinitas, só o tempo irá mostrar o resultado.

Ele sabia ser sua viagem uma realidade, mesmo assim, as dúvidas corroíam suas entranhas, afinal ele era apenas um ser humano como outro qualquer. Ficava totalmente confuso, perdido, entre os conceitos de fé e realidade. É fácil dizer-se possuidor de uma fé inabalável. A materialização da fé cobra muito mais do ser humano, devemos possuir uma verdadeira consciência do que somos capazes de abarcar em nossas mentes, conhecer a concepção que nos cabe, até onde podemos chegar na concepção de Deus, onde não existam crenças, somente convicções, vindas da experimentação pessoal. Crenças não cabem neste ponto, nesses momentos ficamos frente a frente com a realidade do grande plano, somente são aceitos o sentir e o saber consciente, onde não existem dúvidas a respeito da existência de um sistema inteligente trabalhando no cosmo. Jorge realizaria uma missão experimental traçada pelo grande plano.

Vários experimentos estavam sendo realizados por todo o cosmo, visando o desenvolvimento do “grande plano”, fornecendo informações para os que trabalham diretamente com os dirigentes. As análises sempre são feitas em suas mentes, com total consciência das realizações dos “pequeninos embriões” da humanidade. Esses pequeninos normalmente criam uma série de mitos, lendas, em torno desses seres tão incompreendidos. Um quadro lastimável... Fruto do pouco conhecimento a respeito das legiões que labutam incansavelmente na realização do grande plano... A realização de uma humanidade cósmica. “Existem muitas moradas na casa do Pai”1.

Os homens criam filosofias, religiões, chegam ao extremo, deixam vazar “o caldo” que brota de suas mentes pouco utilizadas. Esses seres matam em nome de Deus... Matam em nome do amor! Possuem conhecimento ilustrado, muitos dados pelas universidades, defendem seus conhecimentos como se fossem provenientes de fonte superior. Pura insensatez! Aqueles que são desprezados por não pertencerem ao meio “dito culto”, fala incorreta (?), desconhecimento científico (?), conhecimentos tidos de excelência que poderão vir a ser a tolice do amanhã, os “sem cultura” sim, muitas vezes são infinitamente superiores em sua conduta e sentir... Estes são sempre os que fazem o “grande plano” não morrer e provocam o júbilo dos dirigentes. Aos outros, principalmente aos ilustrados, resta a pergunta: Como se tornar digno de carregar algum conhecimento transcendente de alta monta? Também já foi dito e repetido: “A quem mais é dado mais será cobrado”2. Quando a lei do amor será colocada em prática? Essa é a Lei primeira deixada pelo grande plano, a Lei maior para os pequeninos. Esse é um planeta embrionário na escala evolucionária do cosmo.

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Quando entenderemos isso? Será que a simplicidade desse pensamento ainda continuará um grande mistério para a maioria dos Terráqueos?

A missão seria um experimento visando às futuras gerações daquele planeta. Dependendo dos resultados, todo o planeta se transformaria em um grande laboratório. Será que não o é, o próprio cosmo, um inimaginável laboratório? No entanto tudo dependia daquela experiência em particular, um novo processo de evolução, a Reencarnação em Vida.

Levando toda sua experiência, tudo que estava gravado em sua memória, para o corpo do menino Jorge, com apenas 12 anos de idade. Seriam analisadas as alterações em seu comportamento. Talvez, mesmo com pouco desenvolvimento espiritual, ele pudesse suportar a carga de seu passado recente, pequena em relação à consciência que temos quando desencarnado e amparado pelo grande plano. Conviver com os erros, não se perder na nova oportunidade, essas eram as bases da proposta. Pesquisar a “confiabilidade” do conhecimento retido, primeiramente revivendo-o, tentando um salto na forma como são planejadas as reencarnações humanas, no futuro poderiam ser liberados tais conhecimentos, dependendo do grau de compreensão do ser, conhecer seu passado, as experiências das vidas anteriores. Dessa pequena amostragem, uma reencarnação em vida, seria executada às extrapolações. Até que ponto um ser utilizaria com acerto a “carga do passado?” Como agiria em face às vicissitudes da vida? Será que tentaria alterar vidas com o intuito de suprir suas necessidades físicas e mentais? Será que respeitaria a grande Lei? Amor! Amor...

Aquele planeta sofria num poço de males advindos da própria atitude humana, principalmente daqueles que decidem os destinos do planeta. A sede dos poderosos já havia extirpado a austeridade moral dentre os governantes. É triste o exemplo dado aos homens “comuns” pelos que assumem cargos políticos, esses seres assumem posições de comando, não têm a mínima capacidade de desempenhá-las com dignidade, é uma realidade vergonhosa!

Quando do nascimento do projeto do grande plano, “reencarnação em vida”, já tínhamos consciência das necessidades humanas, dentre os ilustrados é plenamente conhecido, embora pouco se pratique tal conhecimento, principalmente quando devemos aplicá-los a nós mesmos. Jorge, de acordo com seu mestre, já gravitava no planeta Terra há mais de quatro mil anos. Seu mestre reafirmaria pontos negligenciados, aqueles que a juventude nos faz esquecer, que reaparecem na velhice do corpo físico, ao reencarnado em vida tal direito não seria dado, deveria controlar-se mediante a energia da juventude. O mestre sabia que o momento chegara, bastava dar o impulso inicial, todo o resto correria por conta do reencarnado, sentir o peso da oportunidade que estava sendo dada, reescrever seu destino. Quantos não acalentam tal desejo?

Não havia alternativa no momento. Os Dirigentes haviam sido categóricos: Apenas um de cada vez até ser ajustado o processo.

Puro sentimento... Puro sentimento! – Não estou aqui pra te dar muito – seu mestre falava com firmeza –

basicamente realizarei sua passagem, seus conhecimentos devem aflorar durante suas meditações. Você deve buscar a parte mais pura da criação. Lembre-se dos momentos em que seus sentimentos afloram. Estes são os momentos da vida e da morte. Cuidado com os seus instintos. Nos momentos cruciais da vida, eles nos mostram vários caminhos, eles podem nos dar a

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chave do sucesso ou precipitar-nos na ruína. Nunca esqueça que a sua ruína representará o sofrimento de muitos, o sofrimento daqueles que são como eu e você, dos que já galgaram alguns degraus dentro do grande plano. Todos dependem desta sua jornada. Caso não sejam satisfatórios os resultados, todos nós iremos nos arrastar por mais tempo, dentro do sofrimento de nosso planeta. Você pode dar início a uma nova época!

O mineiro não podia falar mais nada. Jorge deveria continuar dentro de certos

limites, saber demais seria prejudicial, fugiria dos objetivos. Muitos seriam beneficiados com sua experiência caso obtivesse resultados favoráveis, esperados pelo grande plano, poderiam retirar vários seres deste planeta, bastando desenvolver um sistema que fornecesse a evolução dos seres com requisitos mínimos, assim é a exigência dos Dirigentes.

O Mineiro deveria calar-se. O silêncio agora deveria falar mais que todas as palavras.

Jorge deveria, durante aquele mês de dezembro, trabalhar suas dúvidas. Com os olhos do entendimento, ir buscando elementos do passado, encontrar os pontos de risco. Analisar com a razão, principalmente com muita sensibilidade, buscando os mais profundos sentimentos vividos na primeira passagem. Os transtornos experimentados pelo coração assumiriam crucial importância naquela jornada. Ele estaria mergulhado numa realidade incomum já no primeiro segundo de sua curiosa viagem. Mesmo para os que não alcançam o incrível desta jornada, creio eu, os perigos de tal aventura são evidentes.

Não deveria externar suas emoções quando lá chegasse. As mudanças nele ocorridas, se possível, deveriam aparecer lentamente, gradualmente, não levantar suspeitas, evitando chamar atenção sobre si, provocando o menor número de conflitos possível. Ele dormiria com doze e acordaria com uma mente de mais de quarenta. Para todos os observadores ele seria apenas o menino de sempre, dormiria falando, gesticulando, pensando como uma criança, acordando como um homem preso num corpo de menino. Talvez gestos calmos e lentos, respostas curtas e monossilábicas fossem a melhor maneira de atuar. Realmente... Durante dias sua vida seria uma experiência teatral, viveria o papel de um menino.

Grande preocupação representavam seus pais, suas lembranças não possuíam a exatidão desejada. Apenas lembranças da infância e adolescência. A forte impressão exercida pela vivência dos acontecimentos dos últimos anos o deixava preocupado. Sua mãe sofrera muitas alterações na psique, a morte do marido marcava o fim de uma época. Tudo se modificara em suas vidas, mudanças nas finanças e em seus comportamentos. O nível de liberdade sofrera profundas mudanças, limites não eram conhecidos. Algumas loucuras foram executadas com um requinte todo especial. Dinheiro, liberdade e falta de maturidade são reconhecidamente uma das mais explosivas misturas do planeta. Desde tempos imemoriais esta combinação está acabando com a vida de muitos seres humanos, matando, literalmente, alguns e deixando cicatrizes indeléveis em outros. Quantos não estão aleijados e quantos não vão morrer ainda por isso? Quantas guerras começaram assim? As conturbações vividas, durante as inevitáveis adaptações da mãe viúva, tinham alterado suas impressões, partes da infância e adolescência desapareceram da mente, sua mãe não cansava de dizer que ele só guardara na lembrança as coisas ruins do convívio familiar.

Seu mestre o advertira a respeito da tentação das argüições, provocando possíveis suspeitas nos envolvidos. Dentro do que foi traçado pelo grande plano, o

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retorno deveria realizar-se com a memória comum, aquilo que retiramos da vida, se pesquisas fossem feitas, impressões alheias se somariam às lembranças do reencarnado. Nada além do comum, assim deveriam as mudanças ser realizadas a partir do comportamento do indivíduo. Fazia-se necessário gastar um mínimo de tempo no preparo da viagem, não dando chance ao reencarnado de sofrer alterações advindas desse estágio.

O exemplo seria a grande arma do reencarnado, a base de sua conduta deveria ser construída na confiança depositada no grande plano e na Lei do Amor. O viajante deveria usar suas armas da melhor maneira possível. O grande plano esperava resultados mais animadores desta vez. Os grandes exemplos enviados por eles não geraram os resultados esperados... Até hoje! Aqueles seres, os humanos da Terra, ainda mantinham milhões de seus semelhantes cativos. Homens feitos escravos em nome de Deus. Homens escravos de homens... Em nome de Deus!

Seu pai foi um homem trabalhador, construíra uma vida através do sacrifício

próprio, imigrante europeu, sofrera na infância e adolescência. Aos dez anos de idade carregava carvão nas costas para ajudar na renda familiar. Filho de um quitandeiro em Ramos, nos subúrbios do Rio de Janeiro, trabalhou duro por toda a vida... Morreu sem viver a aposentadoria! Conseguiu colar grau quando já casado e com um filho. A batalha por uma digna qualidade de vida no Brasil nunca foi matéria fácil para um trabalhador, nesse país os que acreditam no trabalho ainda sofrem muito. As condições financeiras e culturais de seu avô e seu pai não eram privilegiadas, contribuindo negativamente para a formação de seu quadro psíquico. Aquele cidadão, pai, seguia as regras, amava as frases feitas, os ditos populares, homem de pouco conhecimento filosófico acadêmico, sempre caminhando pelas trilhas conhecidas e populares. Vencia os limites somente quando acossado pelas circunstâncias financeiras ou pelos apelos de sua família, desempenhava seu papel de homem e chefe de família, com certeza um de seus maiores orgulhos. A família era tudo pra ele. Homem muito religioso, na concepção mais comum desta expressão, “coroinha” na infância e “cacique de mesa” depois, espírita fervoroso, dirigente de reuniões Kardecistas, pessoa que beirava o fanatismo. Um homem que buscava a salvação em detrimento da evolução. Quando analisadas suas várias facetas, empresário, homem religioso, pai de família, surgiam grandes paradoxos, seus atos contradiziam seus discursos, coisa comum dentre os que buscam a salvação e não a evolução.

A mãe de Jorge havia feito um casamento para fugir do pai. Saiu do jugo de um para cair sob o jugo de outro. Tinha problemas com toda a sua família. Não compreendia os valores dos pais e irmãos. Não encontrava seus próprios valores. Amava e odiava ao mesmo tempo, tudo era vivido com muita intensidade, por vezes intenso demais pra ela mesma, vivendo um eterno vulcão sentimental, tendo seu emocional em constante convulsão, totalmente imprevisível. Defendia seus filhos como uma leoa. As brigas com o marido eram quase inevitáveis. O fenômeno que mais contrastava em sua personalidade era sua mediunidade, podia concentrar energias com facilidade, realizar curas, trabalhar com os menos favorecidos, alimentando e educando crianças órfãs, trabalhando sempre o externo. Criou várias instituições ao longo da vida, tratamento e abrigo de idosos abandonados, orfanatos, tratamento de doenças mentais, uma espécie de hospital psiquiátrico para pessoas com problemas espirituais. O mundo dos machos era mais um novelo sentimental para essa filha de imigrantes italianos, muitas de suas realizações foram atribuídas ao seu marido, o mesmo já ocorrera com seu pai, em menor número é bom que se diga, seu pai era um

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italiano inventivo, industrial metalúrgico. Mulher de múltiplas habilidades: pintava, fazia uma série de peças artesanais com diferentes técnicas, sempre em busca da realização pessoal, costurava, trabalhava com modelagem industrial, queria ser reconhecida profissionalmente no mundo dos homens. Talvez ela não concorde com o aqui exposto, nunca teve isso tão bem definido assim em sua mente. Uma mãe por excelência, feminista de carteirinha. Música sempre foi uma paixão, criada no cinema, outra de suas paixões, amava a arte de uma forma geral, algo realmente visceral, sua formação cultural suplantava em muito a formação acadêmica do marido. Seu problema residia nas paixões incontroláveis, seu emocional incontrolável, não conseguia controlar a mente, infelizmente não se preocupava com a evolução. Aqui a conta a ser paga, mais uma vez, ficava, em parte, ao encargo de Allan Kardec. Mais um que aponta o alvo, mas não indica o caminho, como chegar lá, os métodos. Acredito que ele seja apenas mais uma das vítimas das legiões de fanáticos, criou uma ciência que foi transformada em religião. Isso também se deve à tendência preconceituosa dos seres humanos desse planeta. Quantas formulações levaram séculos para serem levadas a sério e reconhecidas como verdade irrefutável? Creio que isso um dia acontecerá com Allan Kardec também. A mãe de Jorge nasceu, criou-se e vivia dentro das filosofias Kardecistas. Na época da inversão sua mãe, por influência dele, estava lendo o Dharma, livros sobre psicanálise e assuntos afins. Uma artista plástica e uma mulher com muito amor no coração... Como todos, com muito por fazer a respeito das práticas mentais.

Durante as meditações o futuro reencarnado em vida ficava petrificado, imaginando as circunstâncias que o iriam cercar na chegada ao passado: Não terminaria por ser uma vítima de si mesmo, terminando internado naquele hospital psiquiátrico fundado por seus pais? Lembrava das “reuniões de mesa branca”, promovidas pelo grupo de seu pai, onde “os mortos” eram tratados e encaminhados. Muitos dos que ali eram socorridos, tirando “o encosto”, devido ao deleite de suas mentes e/ou interações entre aqueles que possuem o mal gravado no fundo de seus corações: – Que mal tem isso? Todo mundo é assim! – Comentário comum nas bocas do mundo. Quem poderia garantir que ao interpretar o comportamento de Jorge, depois da inversão, não seria ele tomado como uma espécie de possuído, um menino com problemas espirituais? Fanáticos são verdadeiros problemas numa hora dessas: – O menino está obsedado! – Todo cuidado seria pouco! Quem serão os verdadeiros obcecados?

Ao pensar na mãe sua mente via-se repleta de dúvidas, não seria uma missão simples e fácil ajudá-la pela segunda vez. Sentia-se capaz, mas deveria ser forte, manter sua linha de comportamento na esperança de influenciá-la positivamente, tentando levar sua mãe pela mão até um futuro mais seguro. Eles sempre foram muito unidos, principalmente na época em que Jorge estava prestes a mergulhar nessa experiência. O receio maior, em relação a ela, era não conduzir o experimento de forma adequada. Ele sempre a amou muito! Adequado seria promover uma reforma total na lida com suas emoções, ajudando os dois a lidarem com as relações familiares, canalizando energias, promovendo o autoconhecimento, criando assim um irreversível processo evolutivo, consciente, de dentro pra fora, libertando-os, deixando as ferramentas ao alcance de todos. Para sua mãe seria uma forma de livre acesso aos “seus poderes”, sem medos ou culpas. Uma mulher liberta e feliz, pessoa que alcançou sua redenção e seu passe livre para outras esferas cósmicas.

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Quando pensava em seu irmão mais velho nada o incomodava. Conhecia o futuro

dele, sabia que ele tinha uma maneira toda própria de ver as coisas. Seu futuro seria brilhante, aos trinta e cinco anos seria um dos melhores do planeta em seu ramo de atividades, gerenciando projetos de bilhões de dólares, atuando em todo o planeta. Ele comentava por vezes de maneira jocosa: – Meu irmão é como aqueles camaradas que aparecem em propagandas de cartão de credito internacional! – Em relação a ele o problema seria inverso, mudá-lo não seria uma opção, não comprometer seu futuro seria a meta. As mudanças espirituais de Alex já estavam programadas no futuro, na época da inversão seu irmão estava cuidando disso, sempre através do academicismo bem é verdade, mas ele estava estudando, fazendo cursos universitários de teologia e assuntos ligados à espiritualidade humana. Alex sempre foi um ser auto-suficiente, estudou teologia demonstrando ao pai que conhecia melhor aquilo, que o pai, pensava saber, grande engenheiro, aprendeu a sobreviver dentre os homens do poder, sabia ver e pronunciar-se quando a palavra cabia. Jorge encontraria Alex já perto de sua maior idade, estaria com os alicerces de sua personalidade formados, bastaria não incomodar, deixar seu caminho seguir como antes. Terminando a universidade em quatro anos e meio, sendo um dos melhores de toda a universidade, empregado antes mesmo de concluir o curso, casando logo em seguida. Ele ficaria pouco tempo nessa primeira grande empresa que lhe acolheu no início de carreira, entraria para uma multinacional, estabeleceria residência na Europa, lá se tornaria o homem de negócios que é hoje. Jorge talvez devesse aprender mais com Alex, absorvendo alguns elementos de sua mente. A falta de determinação causou muitos problemas profissionais na vida de Jorge, aprendeu que excesso de sentimentos não combina muito com engenharia, sua primeira formação. Sentimento sem direcionamento acaba deixando a pessoa sem saber aonde ir. Tudo nessa vida deve ser coordenado e direcionado.

Já quando pensava em sua irmã mais nova a preocupação novamente se instalava. Dentro do futuro vindouro muitos eram os pontos de sofrimento e lágrimas, embora ela tivesse a capacidade de esquecer esses momentos, ele desejava um futuro melhor para ela. Não completou seu ensino médio, nunca se capacitou profissionalmente... Bom... Sua profissão era ser mãe, como muitas mulheres brasileiras. Não era uma dona de casa dita exemplar, mas também seu marido era um cidadão que deixava muito a desejar como marido e pai. Como amante... Jorge nunca ousou perguntar. Certo era que todo final de mês seus filhos tinham que comer o que tinha, ela pedia dinheiro a Jorge e à mãe, únicos a lhe ajudarem a criar seus filhos. Já havia se casado antes com um homem de melhor poder aquisitivo, amigo de Jorge, mas que também tinha suas manias estranhas, bizarras. Esse primeiro casamento terminou em parte por desinteresse, em parte por querer viver em paz. Tanto sacrifício e luta por nada. O segundo bateu nela várias vezes, alcoólatra, sem formação moral básica, para Jorge ele não passava de um aproveitador. A maior virtude de sua irmã era a vontade, o desejo profundo de lutar por uma vida simples e em paz. Clarice parecia não dar valor ao mundo material, pouco lhe bastava para viver, os filhos e que demandavam um gasto financeiro que, ingenuamente, foi desconsiderado, por ela, no momento de colocá-los no mundo. Tendo um teto, comida na mesa, um homem de bom humor para compartilhar a cama, ficava plenamente satisfeita, sua vida era uma grande aventura feliz. Jorge às vezes ficava admirando Clarice brincando com os filhos no quintal da casa, ela parecia uma criança, todos se divertiam como se não houvesse um amanhã. Quem sabe se o mundo não é só isso mesmo? “Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam... “3. Ela também não estava

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preocupada com a evolução, mas também não estava preocupada com a salvação. Ele por sua vez desejava um futuro melhor para Clarice, sem fome, sem tantos atropelos financeiros, não queria mudar a maneira de ser de sua irmã, nada disso, apenas queria que ela fosse capaz de gerir seu próprio sustento, sem mudar sua maneira de ser, simples e feliz. Será que isso seria possível? No fundo ele sabia que sua irmã, a seu modo, sempre viveu com mais arte de que ele. Lembrava dos desamores de Clarice, sentimentos de dor, sem ter com quem conversar em família, nas condições psicológicas em que ela se encontrava quando nasceu seu primeiro filho, caminhos trilhados por ela dentro de uma sociedade que nunca amou as mães solteiras, caminhos estes muito questionáveis, envolvendo o mistério da paternidade... Quem não conhece uma história dessas? Tantas pequenas coisas que poderiam ser de outra maneira... Assim são os fatos que envolvem os filhos que são gerados dentro de um ambiente de brigas e desconfianças. Isso tudo acontecendo logo após a morte do pai. Restava uma pergunta: Será que não foram esses descaminhos que a levaram ao encontro da paz interior? Jorge tomava consciência do que não deveria ser mudado. Ela só necessitava de apoio, mais um pouco do lado material, pouco que somado ao pouco que tinha, fazendo-a viver melhor, mas não perdendo a paz conquistada. No fundo, sem saber, ela praticava o grande conhecimento, viver com o mínimo necessário, uma Lei básica do grande plano, a Lei do Equilíbrio.

Jorge, como sua mãe, era um “emocional”, muito já havia ocorrido sem a mínima

necessidade, criando apenas muita instabilidade. Quando tinha trinta e sete anos de idade ainda não sabia o dia de amanhã, com mais de quarenta, na época da inversão seu amanhã não era promissor, todo dia que nascia guardava sua dose nefasta de insegurança. Também se formara engenheiro, verdade seja dita, estudou sem saber bem o motivo daquilo tudo, achava que a vida deveria ser algo mais simples, o curso foi feito por imposição de seu pai, nunca foi um desejo dele. Depois da morte do pai foi estudar música, tocando profissionalmente na noite, dando aulas de seu instrumento. Pela música largou todo o resto, queimara seus navios como diziam os amigos. A música foi uma vontade sua, mas já era tarde para ele começar uma carreira sólida num meio tão difícil. Iniciou seus estudos musicais aos vinte e cinco anos de idade. Alguns conseguem superar as dificuldades de iniciar-se tão tarde na música, mas esse não foi o caso de Jorge, ele já se preocupava muito com o vil metal, foi negligente com a arte em si. Aos trinta, sua maior preocupação na vida era o dinheiro, essa tônica iria persegui-lo até o dia da inversão. Foi cozinheiro, garson, “vagabundo”, dono de restaurante, desocupado... Bom é que sempre tentou e nunca parou de aprender. Aos quarenta, voltou para a faculdade para fazer licenciatura em física, complementação feita em cima do curso de engenharia. Aos quarenta e poucos, prestou concurso e tornou-se funcionário público do Estado do Rio de Janeiro. Importante é que sempre procurou a evolução e o autoconhecimento. Toda vez que tentava exercer a profissão de engenheiro descobria-se mais “manso” do que deveria, não podendo sonhar em ser um engenheiro de verdade. Ele tinha muito mais semelhanças com sua irmã do que com seu irmão. A busca do seu modo de viver em paz é que passou a balizar sua vida. Descobriu isso sim, que ensinar era uma das suas maiores vocações, assim manteve-se dentro da área educacional a partir do momento em que conseguiu sua primeira colocação como professor numa cidade do interior do estado.

Na ocasião em que teve o sonho e o conseqüente encontro com seu mestre, já estava no caminho da paz, não havia encontrado uma vida estável, mas já não

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acalentava em seu ser a “loucura do dinheiro”, sabia da necessidade de tê-lo, mas se necessário saberia esperar as oportunidades.

Agora teria essa loucura, viagem, aventura, nem sabia como dizer, mas teria que enfrentá-la. Mais uma vez enfrentava uma oportunidade desequilibrante, tudo mudaria mais uma vez, só que desta vez teria a chance de alterar, pelo menos, o seu futuro. Não fazer aquilo que com certeza era desastroso. Ao mudar determinados acontecimentos em sua vida entraria por caminhos totalmente desconhecidos, ficando novamente às cegas, dependendo das experiências passadas para tomar as novas decisões. Sem ter conhecimento prévio dos acontecimentos ao seu redor, seria uma nova e dura caminhada, como todas as que realizamos em nossas vidas, novos acertos e erros para viver. Será que viver tanto seria bom? Um novo Jorge o esperava, entre os dias de hoje e o momento onde mergulharia no passado.

Jorge aos doze anos era um sonhador... Um garoto que gostava de brincar no quintal, com seus carrinhos, plantas, animais, insetos, gostava de ficar sozinho, não gostava de muitas regras, vivendo em um mundo todo particular, onde as aventuras se passavam numa tremenda certeza dos acontecimentos futuros, ele era o próprio deus. Estava crescendo, vivendo sua infância nos anos sessenta. Dava asas a sua necessidade de criar, trabalhando em histórias para seus atores, formigas, borboletas, cães... Grandes aventuras eram vividas nos quintais das casas onde morou. Quando saia de bicicleta sempre ia muito longe, sonhando com o dia de sumir, realizando a maior de todas as aventuras... Ir em frente sem jamais voltar. Na praia gostava de pegar um pedaço de madeira qualquer, um bastão, imaginava-se com o cajado de Moisés e tentava atravessar o deserto.

Agora seria Jorginho novamente, não para sonhar e sim para realizar um experimento, com força e sobriedade, evoluir ao máximo dentro de uma nova oportunidade, uma cobaia do grande plano. Com o pleno sucesso viria a liberdade de sair desse planeta, mergulhar num novo futuro após a vida física. As etapas eram claras... Jorge... Jorginho... Jorge novamente... Um velho monge, cansado, triste em ver tanta vida perdida. Quem sabe, por fim, desprovido de sua teimosia e disposto a se submeter às hierarquias celestes? Muito amor!

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A Chegada

Jorge contemplou o horizonte, o mar, as ondas, as pedras, a grama, seus pés e por fim os olhos de seu mestre... Aquela seria a última imagem vista pelo primeiro Jorge. Olhos cerrados, assumida a posição as imagens começaram a vir, inicialmente um redemoinho violeta, girando... Girando... Girando até tomar conta de tudo. Como num tanque de tinta onde caem gotas de outras cores, foi-se formando a imagem de um vale, onde o capim das montanhas era verde e dourado. Como se houvesse um vento, aquela exótica vegetação oscilava, dando a impressão de ser um mar ondulado. No céu violáceo sentia-se o crepúsculo de uma estrela azul... Muito lindo e incrivelmente reconfortante! A sensação era de um abraço angelical, braços de um verdadeiro anjo, aconchegado, protegido... Será?

Quando a impressão inicial já estava assimilada ele sentiu o movimento, algo como um vôo suave, com mansidão... Deslocando-se nu... Naquele céu de beleza nunca imaginada pelos encarnados. Como?

Foi durante o vôo que ele percebeu que sua aparência inicia uma metamorfose, seu literalmente foi se modificando. Sua pele, cabelos, corpo, tudo mudando no eterno correr do tempo, porém agora no sentido inverso. Jorge sentiu o pânico tomando conta de sua mente, mas uma voz doce soprou em seus ouvidos:

– Não se alarme... É só um processo espiritual, estamos lentamente alterando

seu “envoltório espiritual”, assim não causará nenhum dano a você no momento da reintegração corporal, a fusão energética se dará sem maiores riscos. Isto é necessário, pois você não sabe controlar as suas energias, poderia dissipar-se, a velocidade de vibração das suas moléculas encontra-se muito próxima à velocidade da luz. Não tenha medo... Deleite-se com o passeio. Escolhemos esse “caminho” para que você viva a passagem com muita tranqüilidade. Pense amor... Puro sentimento... Você chegará muito bem.

Neste momento ele experimentou uma contração, ele realmente estava sofrendo

um processo de redução da “massa corpórea”. Seus cabelos balançavam ao vento, não sentia isto há anos, estava calvo no início desta viajem. Enquanto os cabelos da cabeça reapareciam, os do resto do corpo desapareciam. Ele sofria uma verdadeira transformação.

Simultaneamente as energias pareciam brotar do interior de seu “corpo”... Ele experimentou várias ereções durante o processo. Dava gargalhadas, sentia “calores” acompanhados de um sentimento de fúria. Sentia todo tipo de sensações, acompanhadas de uma infinidade de emoções.

Lentamente o processo chegava ao fim. Tanto as mudanças quanto à velocidade de vôo diminuíam, até o repouso ser conseguido.

Jorge não acreditava... Novamente menino... Ao tomar consciência de sua “nova” condição, falou emocionado.

– Não temos a menor idéia da energia que possuímos quando jovens! – Este é um dos perigos que você irá enfrentar mais uma vez... Faz bom uso

desta vez! – falou a voz angelical. Ele pensou em dialogar com aquela voz, mas não deu tempo. Aquela imagem à

sua frente terminou se dissipando. Tudo sendo pintado por uma explosão violeta.

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Aquilo foi um susto terrível. Estava se sentindo pesado... Com um pouco de dor de cabeça... Aquela leveza que experimentava há pouco havia sumido por completo...

Notou que estava escuro, não conseguia ver absolutamente nada. Entrou em pânico mais uma vez. Começou a pensar que o tinham abandonado em “algum lugar” estranho, ridiculamente pensou:

– Estou morto! – recuperando a sanidade falou. – A h r! Onde estou? Espantado com o som da própria voz, abriu os olhos. Seu coração batia forte e

muito rápido, pensou que teria um ataque cardíaco. Olhou para o teto e reconheceu a luminária... Percebeu com assombro que se achava deitado numa cama. Neste momento o resto de seus sentidos “acordaram”... Veio a audição, o olfato, tudo em fim, num explodir de sensações físicas.

– Estou vivo! Graças a Deus! – falou aliviado. – Fica quieto aí.. Ainda é muito cedo. Vê se dorme. – ouviu uma voz masculina.

Ela soava num tom totalmente diferente da voz que o acompanhara durante a viagem, era outra voz, tinha certeza, era outra entidade falando. Quem seria?

Com muita coragem foi virando lentamente a cabeça até reconhecer a cama ao

seu lado. É... Tinha outra cama além da sua naquele quarto. Havia um rapaz deitado nela!

Em um gesto rápido voltou seu rosto novamente para o teto. Tinha que tomar coragem e investigar o resto daquele cômodo. Lentamente foi sentando na cama, conforme se movia a cama estalava, fazendo um barulho terrível, uma verdadeira sinfonia de ruídos, tudo que ele não queria. Pretendia levantar sem acordar a pessoa que estava na outra cama.

Já sentado, iniciou a investigação do cômodo, buscando a confirmação de suas suspeitas. Estava em um quarto residencial, com grande armário, uma mesa e duas camas. Havia uma única janela e um aparelho de ar condicionado abaixo dela. Não sabia o que pensar... Alívio por conhecer o cenário ou pânico pelo mesmo fato. Quando olhou para suas mãos, seus braços, seus pés... Que loucura, ele estava, realmente, preso num corpo de menino.

– Se este é o lugar que estou pensando... – tinha que concluir seus

pensamentos -... Então este aí na cama é meu irmão, este é meu quarto e eu estou... Estou em casa! – aquele “em casa” lhe confortou muito, mas seu coração disparou novamente – Então a viagem teve sucesso, estou dentro do meu passado, voltei no tempo, não é mentira, aconteceu mesmo, isso não é um sonho... Ou será um daqueles sonhos loucos que costumo ter? É isso mesmo, isto tudo é um tremendo pesadelo. É um sonho muito louco... É... Só pode ser!

Saiu daquele devaneio quando Alex pegou-o pelo braço e... – Que isso, sonhando acordado? Deita de novo... Vê se dorme. – Não, não! Não estou sonhando. – Jorge falou e só aí caiu realmente em si,

havia iniciado um diálogo no passado. Totalmente diferente do planejado, nada reticente, nem um pouco monossilábico, totalmente fora do que havia ensaiado em sua mente. – estou apenas assustado com tudo isso. O susto foi

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bem maior do que imaginei. – falou com todas as letras, pausadamente. Seu irmão não estava acostumado com esse modo de agir e falar, ele era um pré-adolescente de classe média.

Levantou os olhos e deu de cara com seu irmão fitando-o como quem analisa um

objeto desconhecido. – Você está bem? Tudo legal? – Perguntou Alex com uma calma medida. – É sonho... Foi um sonho... Vou ao banheiro. – em um ato de coragem e

confiando em sua memória, iniciou a sua jornada propriamente dita... Levantou-se, deu a volta na cama, foi até a porta do quarto, abriu e saiu fechando a porta atrás de si.

Naqueles primeiros dias a vida foi repleta de sustos, surpresas e grandes

descobertas. A cada momento um encontro com os “desconhecidos” e em cada reencontro o espanto aumentava. Na verdade as coisas começavam a fazer sentido, muitos de seus problemas psicológicos desfilavam à sua frente, as origens de muitos de seus hábitos não recomendáveis estavam surgindo como por encanto, todos os alarmes mentais estavam soando.

Naquela casa não existia o hábito de se cumprimentarem ao longo do dia, os atos cordiais não foram desenvolvidos dentro do grupo familiar. Pais passando por seus filhos sem se comunicarem afetuosamente, apenas com monossilábicos ou grunhidos. A casa, ao acordar, demonstrava uma falta de intimidade entre aquela gente, como se fossem menos que conhecidos, era nítida a impressão de que seria melhor deixarem de ter aquele encontro matinal, ficariam mais à vontade. Não se viam beijos, abraços, sorrisos, carícias, nada... Era, à primeira vista, uma família totalmente desprovida de amizade e amor, um ambiente de convívio complicado.

Pela manhã as primeiras vozes se faziam presentes, emanando de uma antiga discussão. Eram as vozes dos que detêm o poder e lutam pela distribuição das riquezas, palavras duras trocadas entre marido e mulher, lutando pelo destino dos rendimentos familiares. Um som desagradável aos ouvidos de qualquer um, principalmente para um homem que já se casara várias vezes e não tolerava aquela discussão dentro de sua própria casa. Um dos motivos de discórdia nos casamentos de Jorge. Pior ainda eram as lembranças sufocadas que começavam a brotar daqueles eventos, lembranças daquela época em que ele estava mergulhado. Sua memória nunca tinha dado pistas de como eram aborrecidas aquelas manhãs. Dois adultos lutando pelos proventos da família... Como podiam ser tão grosseiros um com o outro? Será que existe necessidade de viver assim? O pior é que essa cena se repete por muitos lares nesse planeta de Deus!

Ali impressionava também a infelicidade geral do grupo. Não se mantinha um relacionamento amável entre os “companheiros de jornada”. Ficava difícil entender o que mantinha aquele grupo unido. Qualquer observador, com um mínimo de inteligência, concluiria que o fim do grupo parecia iminente. Dificilmente eles se tornariam uma família em sua concepção mais ampla.

Nos momentos em que Jorge conseguia ficar só, sem perigo de ser observado por um familiar ou empregado da casa, chorava muito. Aquela era uma válvula de escape, único alívio de suas tensões, um choro da alma! Jorge se sentia preso, sem nada poder fazer, somente se lamentar diante daquele quadro. Um horror,

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principalmente quando se sabe o quanto tudo aquilo é desnecessário à vida. “Olhai para os lírios do campo... 3”.

Nesses momentos ele lembrava das experiências narradas nos livros espiritualistas, quando “enviados” tentavam ajudar um grupo irmão... Ficavam desesperados diante das dificuldades que sentem ao tentar cumprir suas missões de auxilio. Como ajudar quem aparentemente demonstra prazer em sofrer? Por que não se tratam com cordialidade e educação? Talvez um grupo de desconhecidos se comportasse melhor... Infelizmente por pouco tempo... A intimidade, entre os humanos, é algo que gera alguns paradoxos!

O viajante das épocas sentiu que deveria cuidar de sua mente com muito carinho, caso contrário não iria manter-se são durante muito tempo, se é que ele tinha uma sanidade “melhor” que sua própria família. A situação provocava desequilíbrio em quem já procurava a paz. Ele estava acostumado a passar fins de semana inteiros sem sair de casa, lendo, deitado na rede, observando a vegetação e os pássaros, abençoando aqueles momentos de tranqüilidade... Estar perdido no meio daquelas pessoas era um desconforto mental imenso. Como será que Jesus de Nazareth se sentia no meio daqueles bárbaros?

Gradativamente ele foi identificando os horários e os momentos que a paz, naquele lugar, dava o ar de sua graça. Nestes momentos ele se abastecia de energias, tão vitais estes momentos que passaram a estar envoltos num campo de força divino. Sob a influência deste campo ele foi se reeducando espiritualmente, foi aprendendo a sentir a força, energias que emanam do grande-plano, força esta que só encontramos quando abrimos nosso coração para o amor divino, quando corpo e mente se ligam diretamente às linhas energéticas do cosmo, as linhas de puro sentimento... Puro amor!

Sem perceber estava utilizando aquelas férias de verão, janeiro de 1972, para mudar o comportamento de Jorginho. As transformações estavam sendo percebidas pelos demais familiares, mas como eram as férias colegiais, tudo estava solto naquela casa. Tempo necessário às crianças de viverem e evoluir... Brincando e experimentando seu entorno, com tempo para refletir sobre o tempo livre que a vida nos fornece. As mudanças que Jorginho estava sofrendo em seu início de adolescência foram aceitas de grado por todos. O menino estava ficando mais compenetrado, mais calmo, não causava problemas e às vezes contribuía para o bom andamento do dia-a-dia da casa. Quando Jorge percebeu o que estava acontecendo intuiu a verdade.

– O grande-plano sabe melhor do que nós o que nos convém, é inacreditável a

sua sabedoria – pensou ele no momento que ouviu um comentário de seu pai a seu respeito...

– O Jorge anda bem mais tranqüilo, não é? Graças a Deus não tem me preocupado tanto – falou seu pai ao entrar no automóvel pela manhã, saindo para o trabalho.

– É... Percebi também – respondeu sua mãe, fechando a porta da garagem. Aquela revelação era mais que uma coincidência, aquele era um dos sinais, que

normalmente passam despercebidos, pela maioria de nós, um sinal que corretamente interpretado, nos dá o devido sentido de nossas vidas. Quando estamos cheios de idéias preconcebidas, nos achando senhores da verdade perdemos o poder da simplicidade, não conseguimos enxergar os sinais que a vida nos dá todos os dias, vindos de todos os cantos, inclusive do próprio ser. Insatisfações... Angustias... Alegrias... Desejos indefinidos... Fazer uma leitura constante dos nossos sentimentos, buscando os sinais que nos dão a devida grandeza da influência de nossa interação

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com o mundo, tanto o mundo externo quanto o mundo interno. Seja na vitória ou na derrota, os sinais estão lá... Prontos para serem colhidos e analisados. Os sinais são sempre precisos... Nós é que não os interpretamos corretamente e a tempo hábil.

Jorge não deixou escapar muito de si para o ambiente, mesmo assim as mudanças não passavam despercebidas, agora sabia que certo equilíbrio estava se estabelecendo. Não deveria entusiasmar-se com os resultados, forçar poderia ser perigoso par todos. “O caminho do meio” era uma ótima opção de conduta. Seus desejos internos fervilhavam, deveria suportar por mais tempo, muito tempo ainda, sua mente e os amigos do grande plano seriam suas únicas companhias.

Quando Jorge pensava em sua mulher... Quase enlouquecia, lembrava de seu cheiro, seus beijos, dormir sentindo seu calor... Fazer carinho, receber suas carícias, chegar ao orgasmo simultaneamente com a mulher amada... Sexo com amor, com muito amor e intimidade é bom demais! Ele sabia quem havia sido a cúmplice no extermínio de sua virgindade... Será que teria coragem de repetir a façanha? Seu corpo era virgem, mas sua mente não! A energia era de um garoto de 12 anos, mas a racionalização do ato era de um homem de mais de 40 anos de idade. Ele sabia que a mulher, da primeira relação, não era a pessoa ideal para este fim, pensando como homem e não como menino não iria repetir aquele ato. A lembrança de sua esposa estava muito viva em sua mente... O sentimento ainda era de traição!

– Trair a minha gata com qualquer uma... Acho que não vou sentir tesão...

Minha linda é tão gostosa... – pensava ele, angustiado com aquela situação, dentro de um corpo cheio de energia, uma mente apaixonada por uma mulher que tinha apenas 7 anos naquela época, pior, estava muito distante da localidade onde ele se encontrava. Era uma situação insólita!

O viajante das épocas sentia que não deveria deixar aqueles desejos tomarem

conta de sua mente, havia outras coisas para se ocupar, assuntos de maior relevância. Em poucos dias começaria o período escolar. Aulas, escola, novas interações com o mundo adolescente iriam se iniciar, relacionamentos com os seres de “sua faixa etária”, uma experiência que não trazia boas recordações. Da primeira vez ele havia sido rechaçado pelos grupos ligados aos modismos, ele era um menino muito sentimental naquela primeira época, com o tempo havia aprendido a dominar-se. Agora deveria controlar o adulto que carregava dentro de si, apenas proteger-se, não podia agredir aqueles seres de forma alguma, entretanto estes seres estavam no ápice da cultura da crueldade, eles eram simplesmente adolescentes.

Além de seus colegas de cruz, estariam lá os professores, inspetores, coordenadores, diretores, uma porção de adultos com o poder de determinar “o melhor caminho a ser seguido”.

– Mais pessoas mandando em minha vida! Se tiverem reações tipo meus pais...

Acho que vão representar o menor de meus problemas. É só fazer o serviço bem feito... Ser profissional... – Ele deu uma gostosa gargalhada e pensou – É só ser um profissional melhor do que eles!

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Os Primeiros Contatos

Lá estava ele... Uniformizado, em forma, cantando o hino nacional. Preparando-se para iniciar mais um ano letivo. Todos os cadernos eram novos, os livros intactos, tudo era virgem... Horário das aulas na mão! Estranhamente ou pelo menos inesperadamente sentiu um bem estar enorme, não podia conter o sorriso, sua mente estava feliz, sentia-se satisfeito, muito satisfeito, alegre mesmo! Em sua mente vieram as palavras proféticas...

– Isso vai ser uma moleza, uma tremenda terapia ocupacional. Enquanto eu me

preparo para as decisões mais importantes do futuro. Isso vai ser a minha melhor distração, vai ocupar o meu tempo de uma forma construtiva e acredito que vai ser muito divertido...

Realmente a escola se transformou em um grande palco para suas atuações, um

grande laboratório para suas experiências. Aprendendo a conviver com os seres humanos de uma forma diferente, tentando entender mais do que ser entendido, somando elementos de raciocínio, assistindo seus colegas em seus dramas existenciais, dando força aos que tinham uma menor capacidade de entendimento, explicando os “pra quê(s)” da vida. Aprendendo mais do que poderia imaginar, superando todas as expectativas, uma verdadeira experiência de vida!

Com este comportamento ele afastou todas as intenções maldosas de seus colegas, muito pelo contrário, era procurado para explicações, não só em relação ao conhecimento ministrado pelo meio acadêmico, mas também em relação aos problemas de consciência que surgiam dos conflitos vividos na juventude. Sempre assumindo um comportamento amigo, a priori, porém medido, os que dele não gostavam mantinham-se à distância, não era bom ser inimigo de um cara tão popular e bem conceituado com os adultos.

Durante dois anos a escola foi um passeio, no entanto já havia ocorrido a primeira mudança em seu “destino”. Na primeira vez ele havia feito a 7ª série do ensino fundamental em uma escola e a 8ª série em outra. Isto ocorrera por solicitação sua. Na primeira época ele buscava mudar de escola para mudar de companhias, dizia não suportar mais aquela escola e seus alunos. Só se deu conta disto quando já iniciava o segundo ano letivo da segunda época, o ano letivo de 1973. Não iria conhecer uma série de pessoas, ou melhor, as pessoas é que não iriam conhecê-lo, na verdade ele já as conhecia, sabia muito de suas personalidades, embora para elas ele tenha se tornado, agora, um total desconhecido.

Não sentiu medo algum! A finalidade da reencarnação em vida era proporcionar uma nova oportunidade ao viajante, uma nova vida. Isto já estava ocorrendo, desde os primeiros minutos da segunda época. Ele de maneira nenhuma havia interferido negativamente na vida de ninguém, o melhor era a interferência positiva gerada em sua alma.

Mas o destino profissional de seu pai continuava inalterado e os primeiros sinais de que o futuro dele passaria pelos mesmos caminhos não tardariam a aparecer.

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Devido à fusão de duas grandes empresas, seu pai, um dos homens de confiança de uma delas, ligado particularmente a um grande acionista, exatamente o que entregara suas ações, teve sua posição desestabilizada, tornando-a insustentável dentro do grupo, levando-o a pedir seu afastamento da empresa recém formada. Sabotagens, tentativas de denegrir a imagem de profissionais, coisas que os detentores do poder sabem fazer com maestria. Como ocorre, infelizmente com grande freqüência, os justos pagam pelos duvidosos, esse foi o caso de seu pai.

Dentro de casa foram meses de alta tensão. Embora já fosse conhecido o desfecho de tudo aquilo, foi esta a inesperada ocasião para a consolidação de uma grande amizade. Jorge iria se tornar um grande amigo de seu pai!

Com muito cuidado Jorge aproximou-se de seu pai, com carinho, com palavras de compreensão, dando-lhe ânimo, dizendo ao pai o que era amplamente conhecido, afirmando que ele era um dos grandes em seu ramo. Poucas vezes se ouve isso de um filho, um garoto de 13 anos. Mesmo usando uma linguagem bem simples o impacto da situação foi natural... Uma criança dando forças a um profissional tarimbado. Jorge recebeu o primeiro abraço significativo de seu pai, para ele um abraço de épocas, nunca recebido antes, um abraço de mútua compaixão! Diante daquele abraço toda a família sentiu-se solidária a seu pai, a situação durante aqueles instantes pareceu não ser tão grave!

Como já era esperado pelo viajante, seu pai foi admitido em uma empresa do mesmo ramo, o transtorno seria a transferência para outro estado. A primeira grande mudança em suas vidas já estava em curso.

Um dos membros da família iria ficar distante dos demais, seu irmão, que estava cursando seu primeiro semestre na faculdade, não participando desta etapa da vida familiar. Ao final de 1973 todos se mudariam para uma nova cidade em um novo estado. Seu irmão trilharia seu caminho solo pela primeira vez.

Na verdade Jorge estava voltando pra casa, pra conhecer melhor a cidade onde nascera. Descobrir as características de uma época, tendo a grata visão de suas lembranças, encontrando pessoas conhecidas. Somente o viajante as conhecia nessa nova vida, já sabia de antemão quem era um possível amigo ou não. Conhecia muito sobre pessoas e lugares que reencontraria, poderia conhecer ainda mais e melhor sua cidade natal.

Para Clarice é que tudo seria novidade, uma grande oportunidade de observar a adaptabilidade do ser humano. Sua irmã iria conhecer aquela cidade pela primeira vez, agora teria idade suficiente para reter suas experiências.

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A ruptura com o Futuro Passado Janeiro de 1974, novamente estava no período de férias escolares. Desta vez

num novo bairro, um daqueles planejados, com casas iguais em ruas numeradas, surgindo pelas capitais do país naquelas dias.

As pessoas que estavam se mudando para o bairro novo não sabiam, mas Jorge já conhecia algumas delas. Sabia quem iria experimentar drogas, o primeiro relacionamento amoroso de alguns adolescentes, os adultos que participavam de “sociedades privadas”, uma série de segredos da vida íntima dos seus vizinhos. Era portador de informações úteis nesses primeiros contatos com seus novos vizinhos e colegas de escola. Literalmente sabia quem passaria, ou não, pela lama sem se sujar. Até desejos secretos de alguns ele conhecia, coisas que jamais aquelas pessoas teriam coragem de fazer... Somente desejavam! Sabia de coisas que a maioria esconde até de si mesma!

O primeiro grande amor de sua primeira época também morava naquele bairro! Em sua primeira época a primeira namorada já havia passado por ele, desta vez

ele não havia sequer beijado uma menina. Em sua nova existência a primeira namorada ainda estava por acontecer. Com a outra primeira as coisas foram complicadas, havia sido uma experiência traumatizante, o primeiro beijo era algo a ser esquecido, mas isso era coisa do passado de um homem, o menino queria coisas melhores. Não havia motivos para repetir o que não deu certo. Nesta oportunidade ele queria fazer de sua primeira vez uma experiência de amor e sabedoria.

Bianca iria estudar no mesmo colégio. A mãe dela era professora de Educação Física da escola. As mães, de Jorge e Bianca, iriam se revezar para levá-los à escola, criando assim um agradável clima familiar e um contínuo convívio entre os dois jovens. Convites para festas, visitas familiares, uma integração, fornecida pela menina, com os jovens adolescentes daquele bairro.

Já se passaram mais de dois anos sem ter uma relação íntima com uma mulher... Sabia que nada de muito extraordinário havia acontecido na primeira época, apenas muitos beijos, muitos abraços, muito “amasso”. Já não se sentia muito ligado a sua esposa, sabia onde estava, a mais de 600 km de onde a conhecera, ela era só uma garotinha ainda. Ele já estava quase completando 15 anos, na verdade, cinqüenta anos de “vidas”.

Ele havia nutrido uma grande paixão por Bianca no passado distante, nesse futuro insólito que vivia, a perspectiva de se apaixonar estava seduzindo o seu coração solitário, queira muito se apaixonar... A coisa estava se repetindo com ela, sem ao menos ela saber de sua existência, era como se apaixonar por alguém que não existe! Era uma paixão adolescente na primeira época é bem verdade, mas havia marcado sua vida. Nessa nova paixão seria agradável reviver algumas emoções. Porque não deixar acontecer novamente? Era a pergunta que cortava sua mente. Quanto mais próximo o momento de ser reapresentado, a sua futura namorada, mais e mais as dúvidas atormentavam sua mente e seu coração.

– Serei apenas mais um adolescente. Não posso ficar sozinho o resto de minha

vida, eu também posso aprender com ela, com novas experiências... Puxa! Nada tem sido da mesma maneira! Por que não?

A única coisa que lembrava com nitidez era o sabor de seus beijos... A sapeca

havia lhe ensinado muito bem a arte de beijar.

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Aquele novo período de vida guardava não só momentos de prazer. Momentos perigosos também estavam por vir, conseqüentemente seria fundamental uma grande mudança para evitar esses perigos. Na primeira época o viajante havia adquirido uma doença renal grave, devido a microorganismos que se alojaram em suas amídalas, fruto de uma série de eventos climáticos, ou seja, resfriados mal curados, falta de cuidados com seu sistema imunológico. Aquela era uma cidade com uma baixa qualidade do ar, já naquela época, na verdade acabou virando um problema crônico do lugar.

Ele deveria utilizar antigos, porém eficientes métodos de fortalecimento do corpo humano, a chamada medicina alternativa. Métodos que só são chamados de alternativos por aqueles que teimam em não conhecer a maior arma que possuímos contra as doenças, a mãe natureza! Como um automóvel movido a gasolina não funciona bem com óleo diesel, um ser humano não deve ser “abastecido” com o combustível inapropriado. O ser humano até que consegue funcionar muito tempo com os combustíveis alternativos que o forçamos a consumir.

Jorge iria mudar sua alimentação, dar preferência a frutas, consumir saladas em profusão. Adotar a técnica do choque térmico, tomando sempre uma ducha fria após o banho quente, uma série de cuidados que são conhecidos da raça humana, mas infelizmente a medicina oficial ainda economiza em conhecimento pra que gastemos mais na farmácia. Basta procurar esses conhecimentos, quem sente a força da mãe natureza não esquece jamais. Com isso iria desenvolver uma maior resistência ao frio, às mudanças de temperatura, ter uma pele mais bonita, ficar mais magro, desenvolver uma boa resistência orgânica. Somando alguns exercícios diários no clube do bairro, ele iria eliminar o fantasma de sua doença, que o assombrava há tantos anos. Assim ele iria ficar perto da vida, de braços dados com a saúde, em comunhão com a natureza!

Não sentia a mínima necessidade de passar por tudo aquilo novamente. Havia perdido sete meses de sua vida, ficando encalacrado numa cama. Gastando um bom bocado dos recursos financeiros da família, causando um desgaste emocional irreparável em sua mãe. Deixando a família toda apreensiva com seu problema. Seria um desperdício dentro de sua nova chance, um grande exemplo de negligência para consigo mesmo, conseqüentemente para com Deus!

O melhor disso tudo seria o exemplo que ele daria a seu pai. Quem sabe a vida dele também não ficaria livre de algumas mazelas que o acossavam esses anos todos, livrando-se de alguns males da vida sedentária característica dos executivos. Quem sabe salvando a vida de seu pai? Jorge conhecia o futuro, havia feito uma viagem que nenhum homem deste planeta, nem ao menos em sonhos, ousaria fazer, voltando ao passado com as responsabilidades que assumiu perante o grande-plano. Não era uma tarefa tão agradável como muitos podem pensar, posturas haviam sido impostas, não seria apropriado quebrar regras, ao quebrá-las enfrentaria as inevitáveis conseqüências nefastas. Basta seguir firme na proposta, mesmo assim desdobramentos sempre surgem.

O viajante havia esquecido que seu pai, por influência de seu irmão, o havia matriculado numa das melhores escolas da cidade, inclusive acionando, para tanto, pessoas de seu relacionamento profissional. Jorge teria que estudar para valer, não seria nada fácil tirar boas notas naquela escola, agora deveria cuidar um pouco mais de sua vida. Em seu novo futuro, infelizmente, por hora não teria tanto tempo para se dedicar aos seus semelhantes. Ele sabia que os próximos três anos seriam fundamentais para sua nova vida, se preparando para o ingresso na universidade. O colégio era muito bem conceituado, exatamente por dar condições a seus alunos de

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escolherem onde queriam estudar no futuro, ficando preparados para se colocar entre os primeiros de qualquer concurso ou prova de acesso às universidades, desde que assumissem um compromisso com os estudos e com seus professores. Sendo preparados para seguir a careira escolhida. O colégio, visando a uma preparação específica, separava logo na primeira série do ensino médio as suas turmas por áreas do conhecimento humano, objetivando as diferentes carreiras escolhidas por seus alunos. “Exatas” para os que iriam cursar engenharia, física, matemática e áreas correlatas. “Humanas” para os que iriam cursar advocacia, pedagogia, letras... “Biomédica” para os que iriam cursar medicina, biologia, odontologia... Assim se organizavam os alunos e a grade curricular desde o início do ensino médio, privilegiando as futuras necessidades do aluno quando dentro da universidade.

Naquela escola Jorge iria mudar o “seu destino”, deveria alterar os acontecimentos, da primeira vez graduara-se em engenharia, desta vez iria direcionar seus esforços noutra direção, iria buscar o primeiro desejo, que fora abandonado. Muitas vezes erramos por não seguir os impulsos iniciais e passamos o resto da vida se justificando pela opção que foi feita no passado. Jorge iria para a área biomédica. Novamente não iria conhecer muitas pessoas que eram seus antigos parceiros de estripulias escolares, essas pessoas que eram conhecidas de Jorge talvez nunca viessem a conhecê-lo, as mudanças estavam se acentuando a cada quinzena...

A primeira grande ruptura, em relação ao passado vivido, iria ocorrer no momento de sua nova escolha. Dali em diante seu futuro guardaria pouquíssimas relações com o futuro conhecido, o passado começava a se desmanchar diante de sua nova escolha, o futuro tornando-se desconhecido novamente, pelo menos uma boa parte dele!

Deveria passar a estudar muito, preparar-se para uma nova carreira, tão nova que todos os olhos do mundo invisível se voltariam para ele, o grande-plano estava atento às suas opções, espreitando e antevendo os desdobramentos de seus atos. Interferindo se assim se fizesse necessário! O viajante havia sido informado a esse respeito, o mais importante seria sempre a lei do amor... “Amai-vos uns aos outros como o Pai vos amou 4”. Fica claro que não seria exigida a perfeição por parte do viajante, ela só pertence ao “Pai”. O mundo que constitui o Pai estaria atento, visando o sucesso do experimento.

– Jorge, gostaria de te apresentar a Bianca. Bianca... Jorge... Ele veio do Rio,

vai estudar lá no colégio. Eu e a mãe dele vamos fazer um esquema de revezamento pra levar vocês dois e Jasão para a escola. Entenderam? Um dia ela, outro eu, assim não vamos ficar presas, quero muito o respeito de todos, tanto comigo como com a mãe dele. – Assim falou D. Maira com seu ar professoral!

– Muito prazer... Eu não me lembrava direito de você! Quer dizer... Eu tinha te visto... Quer dizer... Acho que já nos esbarramos na padaria... É né! – Foi o que ele pôde bolar ali na hora... Com toda a confusão que estava para fazer – Você é muito mais bonita de perto, se me permite o comentário – ela ruborizou com o comentário de Jorge.

– Você é muito galante! Gostei como terminou sua trapa... Confusão. Acho que vocês se darão muito bem. – Assim D. Maira interrompeu qualquer resposta que Bianca pudesse ter construído em sua mente, ou salvá-la de um enorme e constrangedor silêncio – Soube que você é um rapaz muito estudioso, pretende fazer medicina... Tem que estudar muito! – D. Maira parecia endossar as mais internas intenções de Jorge. Creio que não seria assim se

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ela soubesse o que se passava em sua mente. O futuro é sempre um cosmo de possibilidades! É pura física quântica... Um mundo quântico de possibilidades.

– Nossa! Vai tentar pra medicina? Eu ainda não sei. Estou na turma de Humanas – Falou a menina estendendo a mão para o menino, timidamente, que por sua vez a apertou com muito carinho, olhando-a fixamente nos olhos, depois dando uma olhada de cima a baixo nela.

– Será um grande prazer estarmos juntos nessa tarefa de iniciar um novo futuro! – Nossa mãe, ele fala meio engraçado! – Foi mal... É que parece que já te conheço há muitos anos. Tenho assim um

carinho especial por esse nosso convívio. – Na mente dele veio logo um: “pára”, você tá dando muita bandeira!

– Vamos entrando no carro, já estamos nos atrasando com essa conversa toda. Eu trago lá pelas 6 ou 7 horas, dependendo do trânsito.

A mãe dele ficou estupefata com os modos de seu filho. Não acreditava no que

havia visto. Via seu filho meio como uma caixinha de surpresas. Nenhum de seus filhos, inclusive o próprio Jorge, havia se comportado tão elegantemente diante das situações desconhecidas. No Rio de Janeiro ele ia pra escola a pé se fosse de seu interesse, nunca foi imposto a ele esse convívio com estranhos! Sua mãe apenas ficou abanando a cabeça afirmativamente e no final deu dois beijinhos em D. Maira a acenou pras crianças.

O viajante primeiramente tratou de manter um bom diálogo com D. Maira. Conseguindo as graças da mãe espera abrir caminho par os braços da filha. Era meio ridículo aquilo tudo... Da primeira vez ele não fez nada, ela tinha feito tudo sozinha, mas ele sabia que naquele instante a menina tinha outro pretendente em sua mente, a primeira vez já havia fornecido este dado, não devia ir com muita sede ao pote ou poria tudo a perder. Alem do mais tudo era diferente da última vez, ele nas Exatas, onde predominava o sexo masculino, desta vez haveria outras pessoas para conhecer, novas experiências, quem sabe os planos poderiam ser totalmente transmutados!

Com duas semanas de escola e as dificuldades acadêmicas se iniciando, a proximidade entre eles foi natural. O que um dominava melhor era o ponto fraco do outro. O que aproximava os dois um pouco mais, era o fato de Jorge dominar muito bem, tanto física como matemática. Coisa que não era muito natural dentre os estudantes das áreas humanas e biológicas. Além disto, a proximidade de suas residências foi fato decisivo, em caso de necessidade ele era pra ela uma opção segura. Ela sentia sua determinação em ajudá-la, um aluno empenhado nos estudos, como ficou claro nas vezes em que ele havia lhe procurado para estudar língua portuguesa. Ela poderia contar com sua ajuda nas áreas que não tinha domínio.

Estava parecendo que determinados relacionamentos estão escritos no Céu. Jorge por vezes esquecia-se totalmente de quem ele era, sua sensibilidade aflorava, aquela menina parecia uma bela mulher, conversava com desenvoltura, era maravilhoso... Nada disso esteve presente na primeira vez! Nestes últimos anos não havia conseguido conversar assim com nenhuma pessoa de sua idade aparente, todos eram crianças, crianças vivendo suas vidas dentro da normalidade, dentro de suas mentalidades naturais é bem verdade, ele é que estava fora de sincronia. Ele havia sofrido muito com sua irremediável condição de solitário, não podia revelar nada, condição básica a ele imposta pelo grande-plano. Sentia-se pela primeira vez, nesta viagem, como se fosse um integrante daquele tempo-espaço, coisa que nunca dera valor, em vidas, até então. Com os de sua idade aparente normalmente se sentia como

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um peixe fora d’água, acabando ser considerado, por vezes, um tremendo esquisito, uma criança fora dos padrões. Aquele relacionamento, aparentemente, tinha uma tendência a acalmar seu coração, sentir-se um ser humano como outro qualquer. Pela primeira vez em vidas soava agradável a expressão “normal”, estranhamente esse sentimento ecoava agradavelmente em sua mente. O surpreendente disto é que jamais tais colocações foram um incômodo. Ser diferente era motivo de orgulho, adorando ser tachado de louco, extraterrestre e coisas desse gênero. Aquilo tudo estava mexendo com sua maneira de ver o mundo. Aquela menina o deixava encantado... Por vezes pensou ser um canalha. Isto vinha à tona quando sua verdadeira idade gravitava em sua mente!

– Deus que me perdoe... Por fora só tenho quatorze anos, estou quase fazendo

quinze, que diferença também... Meu Deus! Um sinal, por favor! Estou embarcando no potencial deste meu novo corpo... – Ele pensava com pureza d’alma, angustiado pela lembrança dos momentos de solidão, com o coração confuso... Confusão feita de lembranças de sua vida anterior... Que falta fazia um carinho, um aconchego, um beijo... Sexo... Tormentos que se alojam em suas bases religiosas, tormentos que são uma afronta aos desejos e instintos do ser natural.

– Serei escravo dos meus pensamentos mundanos novamente? – Ele

continuava a se martirizar – Será que meus sentimentos nada significam? Quando o clamor vem da alma ele não vale mais do que os pobres conceitos religiosos? Até quando seremos oprimidos pelos pobres de espírito? – com seu questionamento iria responder todas as questões que propunha, cada pergunta soava como resposta de uma questão anterior. Sabia que muitos pensamentos foram criados para colocar entraves na mente dos mais sequiosos pelo mundo da avidez e podridão, feitos para pessoas de pouco entendimento. Creio que o Nazareno é quem pode avaliar com clareza o que significam as guerras feitas em seu nome. Quem pode entender a razão de seguidores de uma filosofia criada e pregada para o amor, poder ter gerado guerras entre os seus seguidores, homens que seguem tal doutrina matando-se uns aos outros, destruindo a natureza por dinheiro, provocando a ruína do planeta onde seus iguais, inexoravelmente, terão que sobreviver! Meu Deus! O que pensar de uma guerra entre Católicos e Protestantes? A base não é a mesma? Seria isto o que “Ele” pregou aqui na terra? E se Deus cobrar essa conta dos criadores destas doutrinas? Será que Jesus de Nazareth terá que saldar as dividas geradas em função dessas mortes, por todos os atos desatinados cometidos em seu nome? – a mente do viajante não conseguia abarcar muito do que sua experiência estava por começar a resolver... Duro seria descobrir o que e quem já fomos, saber quais as filosofias que já defendemos, quanta besteira já fizemos no decorrer dos séculos de nossa evolução. Descobrir que já fomos um dos que matam em nome de Deus... Ser mais um dos estultos... Infelizmente é só mais uma etapa de nossa evolução!

Em suas meditações algo de novo também acontecia, sentia-se em paz, uma paz

abrangente, pois agora, reinava em seu coração o amor por Deus e a faísca do amor que Deus nutre pela humanidade. Não sentia o coração seco como antes, aquele amor menino parecia renovar sua alma. Por vezes sentia medo, pois, sabia que no ano seguinte não teria Bianca por perto, ela iria fazer uma viagem ao exterior, intercâmbio

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cultural, estaria fora pelo menos durante um ano. Jorge sabia que quando chegasse o momento deveria dar-lhe forças para realizar essa viagem, fazia parte de sua formação profissional, destino, aquela viagem seria importante para seu futuro como lingüista. Lá, se tudo se repetisse, iria conhecer outro jovem, viveria um novo e intenso amor, infelizmente acompanhado de uma grande desilusão também, os costumes brasileiros são bem distintos dos Americanos. Nada é perfeito... Este é um mundo de imperfeição! Ele não deveria demovê-la da viagem, muito ao contrário, devia dar-lhe apoio, com amor e forças emocionais, aumentando sua autoconfiança, sua auto-estima, fazendo com que pudesse enfrentar suas experiências futuras. Em tudo o grande-plano havia sido claro: “só com teu exemplo é que deves promover mudanças”. Jorge temia ficar apaixonado demais pela menina de seu passado... Bianca era um risco a ser corrido!

Na terceira semana Jorge pergunta-lhe se não nutria algum interesse por outro rapaz da escola ou do bairro. Ela ficou meio engastada com a pergunta, tentou dissimular, mas acabou confessando...

– Eu estava de asa arriada pelo Jasão, mas agora não sei... Estou começando a

pensar em outra pessoa, uma que conheci há pouco tempo, não sei... – Bianca falava com doçura, não o olhava nos olhos, usando um charme que só as mulheres sabem usar.

– Olha o que eu escrevi pra você... Sei que não é nenhuma obra prima, é uma poesia que fiz pensando em nós dois. – ele usava o seu dom de escrever para abrir o jogo em definitivo.

... A paz em meu coração se escreve com o som de teu nome,

Eu sinto a força do amor inundando meu coração. Estou amando... Amando você...

Bianca eu te amo! Jorge Neves

– assim ele assinava seu poema – Ele esperava todo tipo de reação daquela menina, a que veio não foi tão

esperada assim, mas veio de encontro aos seus desejos. Ela abriu o caderno, retirou uma folha de papel, nela havia o desenho de um coração, dentro estava escrito o nome dele, ao redor várias marcas, impressas por seus lábios, feitas com batom. Ela já o beijara em seus pensamentos... Quando ambos tiraram os olhos do papel... O beijo, agora bem real, foi inevitável, foi natural, fruto de um desejo mútuo... Um beijo apaixonado... Ela não imaginava... Como poderia? Ele estava matando as saudades que há muito o maltratava, saudades de seus lábios... Já haviam se passado 36 anos desde aquele inesquecível primeiro beijo que dera em Bianca... Só ele estava revivendo a grande paixão!

A vida ficou bastante agradável, a escola realmente proporcionava uma boa

carga de trabalho, sendo realizados com uma alegria desconhecida. Saber que poderia se preparar em três anos, ao invés de um ano apenas como todos os jovens fazem. Alegria de estar com Bianca, ter tempo pra voltar a se sentir vivo, nas nuvens... A vida nunca havia sido tão agradável. Como é que não aprendemos a aproveitar os momentos? O viajante estava sentindo como é importante aproveitar os momentos de

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paz. Só estudar... Quem tinha que trabalhar era seu pai, nada de contas, solicitações de outras pessoas, um verdadeiro paraíso na terra. O silêncio de uma tarde... O canto dos pássaros... O pôr do sol... O simples passar das nuvens... Como perdemos tanta coisa enquanto estamos ensimesmados com nossos problemas? Perda de tempo e energia!

Ao ouvir uma conversa entre seus pais deu-se conta dos problemas que surgem quando é mudado o nosso passado. Os futuros se entrelaçam como fios de um tecido, são as famosas linhas do tempo. Cada mudança ocasiona desdobramentos que sequer podemos intuir. Quando cuidava de prevenir-se, não deixando as doenças destruírem aquela parte de sua vida, tocou na linha do tempo de seu irmão, colocou em perigo todo o desenrolar da vida dele. Caso o viajante não fosse hábil em seus entendimentos com seus pais, o tal futuro brilhante de seu irmão, talvez, não se concretizaria. Trocar o futuro conhecido pela incerteza do desconhecido poderia ser uma opção para o viajante, mas o que será que diria seu irmão se conhecesse as possibilidades? Será que iria querer arriscar-se? Jorge não se sentia no direito de mudar a vida de quem quer que fosse, embora de certa maneira ele já viesse fazendo isso, ao se afastar de muitos e ao se aproximar de outros. Ele tinha medo de contribuir para uma mudança dessa ordem na vida de Alex.

Alex entrará numa linha temporal que o levaria a um futuro único, como todos o são, graças a um de seus professores, grande responsável pelo surgimento do primeiro trabalho de relevância, desempenhado com destaque, abrindo portas para Alex. A empresa responsável, uma das maiores de seu ramo, levou-o pra trabalhar em sua sede na Europa. Assim realizou uma série de intercâmbios, sendo treinado, preparado para atuar mundialmente, realizando serviços altamente especializados, atuando em desenvolvimento e implantação de tecnologia de ponta. Devido a isso Alex tornou-se um dos maiores desse planeta em sua área de atuação, atuando em projetos da NASA.

O pai de Jorge queria transferir Alex para uma universidade mais próxima de casa. Da primeira vez isso também ocorrera, mas devido aos problemas de saúde de Jorge os planos foram alterados. Os médicos haviam recomendado, quando possível, uma mudança de clima, pois, Jorge não se adaptava ao clima frio e úmido daquela cidade em sua primeira vida. Este fato havia selado o destino de Alex. A transferência dele ficou sem sentido, tendo em mente que se buscava para Jorge uma Cidade com as características daquela onde Alex morava. Deveriam enviar Jorge para lá, assim a família é que iria buscar uma maneira de se transferir para onde os varões se encontravam. Este desenrolar dos acontecimentos é que garantiu a Alex seu futuro conhecido.

Seu pai, naquela época, mudara de empresa, mudara de ramo. A empresa em que trabalhava não queria dar-lhe a transferência. Os médicos não sabiam explicar ao certo o problema de Jorge, um deles chegando a proferir a sentença da não solução, afirmando ser crônica a doença que afligia aquele rapaz. Dizendo que levaria a vida como se tivesse oitenta anos de idade. Mas Jorge só tinha quinze anos de idade... Como poderiam aceitar isso? Incrível, a consulta com tal sumidade havia custado o dobro da despesa para manter Alex na universidade. Esse médico, grande especialista, mantinha um consultório que era um luxo, carpetes com pelagem de cinco centímetros de espessura, poltronas em couro, decorado com o que há de mais caro. Serviam do bom e do melhor para os parentes “da vítima”, um total absurdo, principalmente levando-se em conta o nível sócio-econômico da população brasileira e a eficiência do médico... Não sei os motivos que levam as pessoas em teimarem com tal designação, chamando-os de doutores.

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Assim sendo, seu pai acionou um “patrício”, grande amigo, o qual também trabalhava com as ciências médicas. Ato contínuo, seu amigo, pediu para enviar seu filho para o Rio de Janeiro, assim poderia levá-lo até a presença de alguns estudiosos da medicina que não clinicavam por dinheiro, médicos que trabalhavam na Escola de Medicina e Cirurgia do Estado do Rio de Janeiro. Foi lá, através de um médico considerado doido, especializado na Alemanha, que se recusava em trabalhar sob certas condições, sem consultório de luxo, realizando suas consultas em uma sala de aula, que as soluções começaram a aparecer. A princípio parecia mesmo que Jorge estava realizando uma prova, entregou a ele um questionário com 174 perguntas, traçando um histórico da vida do paciente. Enquanto o paciente respondia as questões, o médico se debruçava sobre o histórico médico trazido, estudando tudo que fora feito até o momento. Somente depois de analisar todas as informações é que o “médico doido” proferiu um parecer. Foram pedidos três exames apenas, um dos quais, depois de perambular por todos os maiores laboratórios de análises clínicas do Rio de Janeiro não houve como fazer. O próprio médico forneceu uma lista de materiais a serem comprados para que ele mesmo fizesse o exame. Assim foi... No dia marcado Jorge compareceu à escola para realizar o tal exame, que para ele consistiu em urinar num recipiente de vidro. O tal médico excêntrico realizou a análise do material, executando um procedimento químico que os outros diziam desconhecer.

Depois de solucionado o mistério veio a sentença: – Você não tem mais nenhuma atividade infecciosa. Basta eliminar o foco e tudo

voltará ao normal, este exame laboratorial que realizei confirma tudo. É só você operar a garganta e guardar repouso por uns 15 dias, depois volte a viver uma vida normal. Depois disto me procure e vou lhe apresentar minha conta... Quando você estiver restabelecido vou cobrar pelos meus serviços.

Foi o que foi feito, 15 dias após a cirurgia os exames confirmavam, não havia

mais nada de errado com os rins de Jorge, ele estava totalmente curado. O sentimento de haver perdido um ano de sua vida, devido à incompetência médica, não o abandonava, aquilo era muito doloroso. O sentimento de gratidão pelo homem que até agora estava esperando seu pagamento era profundo.

– Aqui estão os resultados dos exames, tudo voltou ao normal! – falou Alex

entregando a papelada ao “excêntrico”. – Por que o espanto? Eu tinha certeza que seria assim. – Mas por que os outros fizeram a minha vida virar um inferno? Por que não

disseram que não podiam resolver o problema? Pra que mentir? – Jorge não conseguia esconder sua fúria juvenil.

– Não posso responder pelos outros, cada um tem sua consciência pra carregar. Quando voltei para o Brasil quase enlouqueci, fiquei um tempo em uma clínica de repouso para me restabelecer. Não consegui trabalhar nas condições em que meus colegas atuam. Fui colocado para trabalhar em atendimento de pronto socorro, você, meu jovem, tem idéia do que é trabalhar dentro de um pronto socorro sem ter condições para realizar os procedimentos que sabemos que devem ser feitos? É pedra lascada e barro fofo! Mas tudo isso é passado, vamos falar do futuro. Ainda não lhe disse como você vai pagar pelos meus serviços!

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Naquele momento os irmãos ficaram apreensivos, esperando o tamanho da cifra que inevitavelmente o médico iria pronunciar. Alex já sacava do bolso o bloquinho de anotações e uma caneta, pronto para os dados bancários do “excêntrico” e a, no mínimo, vultosa cifra a ser paga. Jorge ficou perdido entre o ódio pela classe médica e o sentimento de gratidão que nutria pelo homem que estava à sua frente. Foram segundos de eternidade.

– Anote este horário. É o horário das minhas aulas. Durante uma semana você

vai passar suas manhãs trabalhando comigo, para quem sabe num futuro outros não passem pelo que você passou. É assim que você vai pagar sua conta. Você vai ser objeto de minhas aulas, vai ficar cansado de contar sua história. Se você quiser, eu peço as alunas para examinarem você, fazendo um corpo a corpo. – o “excêntrico” deu uma gostosa gargalhada. – Então quando podemos fazer isso?

– Na semana que vem eu trago ele, doutor. – Falou Alex. – Muito obrigado doutor, muito obrigado mesmo. – Jorge quase chorou,

agradecendo humildemente, perante um ser humano de verdade. – Vocês vão me dar licença, mas tenho muito o que fazer. Segunda logo cedo.

Tudo bem rapazinho? – Sim doutor... Certo doutor. – Não fique magoado com a vida, você vai aprender que nada é aquilo que

aparentemente nós pensamos que é! Tchau... Tchau. Jorge estava angustiado com toda a situação que se desenrolava em sua mente.

A doença dele havia proporcionado vários desdobramentos no passado. Para seu pai era mais fácil, e por que não dizer, mais econômico, transferir o filho mais velho e seguir carreira dentro da empresa. Como manter parte do passado inalterado, principalmente se ele já havia iniciado movimentos temporais expressivos? Não poderia voltar novamente para mudar tudo outra vez! Mesmo que pudesse, quem em sã consciência voltaria para sofrer, ainda mais sabendo que aquilo não era necessário?

O viajante tinha grande responsabilidade sobre seus ombros, não seria bom falhar. Novamente os conhecimentos do passado viriam socorrê-lo no novo futuro. Conhecia as ambições de seus pais, sabia o que era considerado por eles certo ou errado, deveria tentar trabalhar com sua única arma, os pensamentos. Deveria cuidadosamente disseminar idéias dentro se suas mentes. Iniciar o trabalho junto à sua mãe e posteriormente com seu pai, este parecia ser o caminho mais viável.

Aproveitando a aversão de sua mãe à perda de tempo, ela não quereria ver os filhos prejudicados no progresso escolar. Jorge procurou saber como a tal transferência seria processada. Era inevitável a perda de pelo menos um semestre, sendo que Alex deveria entrar na nova escola através de um novo vestibular. Ele teria que se dedicar tanto aos estudos da universidade como também ao curso pré-vestibular. Assim Alex estudando na PUC do Rio de Janeiro e estudando para um dos mais procurados vestibulares do país, tinha grandes chances de ter problemas nas duas tarefas. O curso onde ele estava era forte e exigia muito dos alunos, não é curso onde se possa ser negligente com os estudos. Este era mais que um argumento para ser usado por Jorge, e ainda por cima, para Alex, agradava e muito, a idéia de continuar no Rio de Janeiro.

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Assim Jorge iniciou a argumentação com sua mãe, colocava em sua mente o combustível necessário para que a preocupação com a “perda de tempo” ficasse com o volume indispensável!

Para acalmar o amor de mãe, argumentava sobre a experiência benéfica proporcionada pela estada fora de casa, sendo muito bom para seu futuro “como homem”. Era importante desenvolver o senso de responsabilidade de um ser humano, opiniões cuidadosamente apoiadas em revistas, psicólogos, entrevistas dadas à mídia por grandes personalidades da “atualidade”... O importante era chamar a atenção! O assunto deveria ser tema dentro das conversas familiares, um tema de debate diário, devidamente alimentado pelo rapaz que viajava entre as épocas.

Paralelamente ao problema de seu irmão começou a criar mais um, dizia que queria estudar em faculdade federal, argumentava a respeito do curso de medicina. Mostrava a seu pai as relações candidato vaga, comparando as do Rio de Janeiro com as de São Paulo, ficando claro que as chances de entrar em uma escola pública no Rio eram muito superiores às de São Paulo.

A argumentação era homeopática, como se as situações não guardassem nenhuma relação entre si. Seus pais na verdade começaram a ver que possivelmente em três anos no máximo, principalmente levando em conta a dedicação de Jorge aos estudos, estariam com dois filhos morando no Rio de Janeiro. Eles já estavam se acostumando à maneira de ser de seu filho do meio, o rapazinho falava cheio de convicção, tinha uma argumentação muito consistente.

– A universidade é o início da vida profissional de uma pessoa, não se pode

brincar com isso. Que garantias nós temos que num futuro próximo a própria empresa de papai não promova sua transferência? Até para outra região do país! Quantas vezes já mudamos de cidade nos últimos anos? Quantas vezes fomos para o Rio e voltamos para São Paulo? Assim vamos terminar com cada um de nós em um lugar diferente do país. Além do mais a sede da empresa onde papai trabalha não é no Rio? Possivelmente ele vá pra lá também! – empolgado em seu discurso Jorge, sem premeditar, atingiu um ponto que realmente mexia com suas mente, tocou nas ambições de seu pai, a partir desse dia os ânimos começaram a mudar.

Essa foi a argumentação que realmente surtiu efeito. O escritório central da

empresa de seu pai também ficava no Rio de Janeiro, a maior filial da empresa também era lá. Tudo levava a crer que, possivelmente, antes do que se pensava seu pai já teria resolvido os problemas da filial São Paulo. Gerenciar a maior e mais problemática filial seria seu caminho natural. No passado seu pai havia falecido quando ocupava o cargo de Diretor Comercial Brasil, dentro da empresa que trabalhava no momento. Seu pai saíra para poder ir para o Rio de Janeiro, depois voltou como gerente da filial Rio.

Jorge apostava que desta vez o caminho para a diretoria seria mais rápido, pois, seu pai havia se tornado uma lenda dentro de seu ramo. Anos após sua morte, ele e sua mãe, ainda encontravam pessoas do ramo que respeitavam o seu nome, portas ainda eram abertas para quem carregasse seu sobrenome, o qual sempre foi seu “nome de guerra”. Tudo levava a crer que a permanência dele na mesma empresa o faria diretor novamente... Quem sabe até antes do que havia sido no passado?

Seu pai conseguiu um quarto na casa de um amigo, onde Alex iria morar com conforto e segurança. Aquela família já era conhecida de todos. Passamos vários domingos à beira da piscina, todos juntos como uma só e grande família. O fato de

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Alex já ter um porto seguro, visitar-nos quinzenalmente para passar os finais de semana, passar férias conosco, dava indícios de estar resolvido o problema. O futuro de seu irmão estava novamente em suas próprias mãos. Jorge confiava no caráter de seu irmão, esperava que a ausência de sua família não fosse gerar nenhum dano ao seu futuro.

O “grande plano” havia sido claro sobre as mudanças, a “força do exemplo”, isto é que deixava Jorge bastante apreensivo. Tinha muitas dúvidas sobre sua atuação no caso de Alex. Até que ponto tinha quebrado as regras estabelecidas? Será que não estava abusando das informações que carregava? Até que ponto aquela manobra havia garantido o futuro de todos? Mas... Afinal de contas as mudanças eram inevitáveis! Sua vida já estava mudando, nada iria ficar como antes, o futuro iria tornar-se desconhecido novamente e isto era inevitável...

O Alex que Jorge conhecia era uma pessoa autoritária, dono das regras, pedante em relação aos seus familiares, sempre possuidor da verdade absoluta, um tolo que não conhecia sua mãe, seu irmão, sua irmã, seus avós, alguém que desconhecia o trato familiar. Jamais se imaginou que ele iria tornar-se aquele tipo de pessoa, alguém que abusa do respeito que os demais lhe concedem.

Quem sabe um novo futuro estava sendo arquitetado para ele. O “grande plano” saberia dar um novo destino para ele, caso ele fosse merecedor de uma nova oportunidade. Esta nova chance deveria ser construída agora e não após a conclusão da mutação. O “grande plano” detinha conhecimentos suficientes para avaliar uma nova trajetória possível, caso os resultados previstos fossem similares... Seria triste saber que ele irremediavelmente se tornaria “o senhor da verdade”!

O melhor a fazer era esperar os resultados, os amigos invisíveis jamais o abandonariam.

Jorge disse a seus pais que estava estudando meditação transcendental. Eles

ficaram bastante curiosos e até mesmo desconfiados, mas esta foi a maneira que ele encontrou de buscar alguma confirmação, ou quem sabe, uma orientação vinda dos dirigentes do “experimento”. Com ajuda de sua mãe montou um templo em seu quarto, ali seria o local ideal para dar início a seu treinamento. Abertamente fazendo, sem sobressaltos, o que era realizado às escondidas até então.

Durante três semanas ele concentrou-se e colocou-se como receptor, esperando uma orientação do “grande plano”, até que numa manhã de terça-feira...

– Tu sabes que não podemos te ajudar. Se interferirmos, diretamente, em tuas

decisões a experiência perdem a validade. Tem em mente todas as informações de que necessitas. Sabes que em tudo o amor traspassa. Toma tuas decisões com muito amor no coração, não o amor doente da posse, usa a força do amor divino, desprendendo-te de todo amor próprio. Não esquece que o Pai tudo vê, tudo sabe... Cura tuas feridas, cuida de teu coração, quanto mais amor ele contiver mais acertadas serão tuas decisões. O “grande plano” deposita uma grande fé em ti, tu andas envolto em boas energias, grandes quantidades de bons fluidos estão a teu dispor. Esqueceste como era o convívio em tua casa da primeira vez? Tuas energizações têm sido bem acolhidas e retribuídas. Continue distribuindo forças e cada vez receberá mais em troca... Muitos dependem de teu sucesso... Nós te amamos. Nunca te esqueças disto!

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Subitamente ele foi interrompido por sua mãe que entrou no quarto com os olhos

cheios d’água. Fitava-o de uma maneira diferente, entre o espanto e o júbilo. – Eu vi você... Um grupo de pessoas à sua volta... Um deles conversava com

você! O que ele estava dizendo? Existe um senhor a seu lado! Não entendo... Nunca vi algo assim!

– Calma... A senhora deve se sentar aqui a meu lado e acalmar-se, quem sabe suas respostas virão. Calma! Calma... Pense amor, puro amor, puro sentimento... Sente-se e faça isso, por favor.

Sem entender muito bem o motivo, sua mãe sentou-se a seu lado. Ela era

treinada em ambiente Kardecista, aceitava algumas das realidades secretas. Ela havia visto a realidade, vislumbrara o corpo de Jorginho unido a sua projeção mental, sua real situação cronológica. A princípio ela pensou que seu filho estivesse possuído por aquela entidade, aquele senhor, mas seu coração não lhe dizia isto, ela sentia ser uma coisa só, aqueles dois eram um! Ali sentada ela também foi tocada pelos amigos do “grande plano”.

– Não fique apavorada, você já viu tanta coisa, já sabe distinguir o bem do mal,

não vá confundindo tudo agora só porque você não entendeu o que viu. Cuide dele, mas não se preocupe com ele, este serviço é nosso... Cuide de seu coração, você anda se esquecendo dele, você também necessita amar e ser amada... Ele pode ajudar muito... Cada um tem sua missão, você bem sabe, não abandonamos a ninguém neste mundo... Quem se afasta o faz por vontade própria... Procure não pensar muito no dia de hoje, guarda segredo do que viu e ouviu nesta manhã... É segredo mesmo... Não comente com as pessoas, pensando confiar nelas... Não esqueça que se a palavra é de prata o silêncio é de ouro.

Aquela era a voz que havia embalado Jorge em sua viagem de volta. A voz de

um anjo... Como se esperava a mente do viajante ficou em estado de alerta a partir daquele dia. Ele correria um grande perigo, caso sua mãe não mantivesse em segredo o que tinha visto. Até hoje ele não sabe o que manteve sua mãe em silêncio, apenas pode intuir seus motivos.

Fato é que sua mãe se mantinha por perto, espreitando, acompanhava seus passos a curta distância, às vezes vinha pedir-lhe conselhos sobre assuntos diversos. Ele sentia-se sendo posto à prova constantemente. Isto acabou aproximando-o muito daquela senhora, criando uma amizade verdadeira entre eles.

Apesar de tudo ele não podia comentar nada com ela nem com qualquer outro humano encarnado. A confidente que tanto desejava estava esperando por ele no futuro, não tão distante assim. Certo mesmo, para ele naqueles dias, era o encontro com seu mestre, com quem poderia falar abertamente de tudo, falar do que agora estava vivendo e sentindo. Este encontro, ele sabia, tinha sua data fixada, local combinado. O encontro se daria em frente ao cemitério, às 5 h e 30 minutos do dia 2 de janeiro de... Só então poderia falar sem medo de tudo o que vivera, teria inclusive que procurar alguém para divulgar sua história, fazer com que mais pessoas tomassem consciência desta incrível jornada.

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Os estudos corriam às mil maravilhas. Muito bem mesmo, ele e Bianca estavam

estudando pra valer, a pior média do primeiro bimestre foi um 7,5 em geografia. Os pais deles estavam satisfeitos com os resultados daquele namoro... Somente no que tange aos estudos. Existia um problema!

Aquele rapaz alimentava-se de uma maneira nada convencional. Recusava-se a ingerir determinados alimentos, não comia nenhum alimento de procedência animal, quando muito queijo não temperado, até o leite nosso de todo dia se recusava a beber dizendo:

– O homem é o único animal que continua a mamar depois de crescido... Vou

continuar mamando até que idade? – isso causava alguns problemas para o relacionamento social do rapaz – A nossa sociedade é totalmente vendida para a indústria alimentícia e farmacêutica, prefere comprar na farmácia aquilo que a natureza lhe fornece grátis, sem nenhum ônus para a saúde. O homem é o único que, estando livre na natureza, necessita de manual para saber o que comer. O ser humano começou a adoecer quando começou a cozinhar seus alimentos, com isto subverteu todos os valores da vida saudável que tanto persegue nos dias de hoje. Todos sabem o que significa a palavra doença... Quantos sabem o significado da palavra saúde? Mesmo assim quando vêem um ser humano sem doenças, vivendo plenamente sua vida, mente e corpo em perfeita harmonia, a maioria tenta atacá-lo... Ele esta bem demais para quem não segue os caminhos ditos “normais”. O mais incrível ainda é o que acontece depois que ele está irremediavelmente doente, somente neste ponto é que eles proíbem o ser de alimentar-se com os venenos criados para sustentar essa indústria do erro. Não seria mais simples nunca experimentarmos tais drogas? Seria pelo menos mais humano. Não é uma crueldade arrancar o doce da boca de uma criança? Existe crueldade maior do que fazer a mesma coisa com um adulto, que está completamente viciado nos tais produtos? A justificativa: Tudo isto fez muito mal a você, não faça mais nada disso, faça uma alimentação mais leve, evite açúcar, chocolate, frituras, comidas gordurosas, coloque pouco sal nos alimentos, se conseguir troque uma das refeições por frutas da época, coma-as maduras e sem levá-las ao fogo, nada de colocar açúcar no mamão, ele já contém açúcar natural, ele contém frutose, que é um açúcar que não faz mal, é natural... Por ai vai! Façam caminhadas de uma hora de duração, todos os dias se for possível, pela manhã beba apenas suco de frutas antes de caminhar... Então vem a cantilena dos exercícios físicos! É muita falta de vergonha na cara. Depois de desgraçar a vida do Cidadão é que vão avisar que tudo o que é ensinado estava completamente errado. O coitado vai sofrer horrores para se ver livre de todos os seus vícios químicos... Vícios que foram cuidadosamente implantados em sua corrente sangüínea... Disseminados desde a tenra idade de seu cérebro... Como resistir? Só resta mesmo esperarmos pela morte! Talvez venha mais cedo, antes da velhice, das proibições, das inevitáveis bicheiras que farão de nossa última etapa de vida um grande tormento, não só com dores físicas, mas também um tormento psíquico incalculável... Esse é o futuro que o meio de “vida civilizado” reserva para todos... Tomar seu dinheiro a vida toda e no final arrancar, dentro do hospital, tudo que você economizou durante a vida. É um dos quadros mais belos que a modernidade pintou! Ou será que seria melhor outro retrato? – Assim ele falava, esquecendo-se, por

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vezes sua condição de adolescente. Às vezes menos... Por vezes muito mais, dependia do espaço que ele encontrava na mente dos ouvintes... Eu mesmo tive que ouvir isso tudo!

Apesar de sua atitude em relação ao sistema de vida da família de Bianca, ele

podia chegar à casa dela sem o menor constrangimento. Sr Pedro, pai da menina, o recebia de braços abertos, como quem recebe um filho, sabia que o rapaz tinha boas razões quando falava aquelas coisas, conhecia muito bem os problemas de saúde que nos acossam na “terceira idade”. Alguns de seus entes queridos, inclusive sua mãe, havia passado por situações similares a descrita por Jorge. Ele já havia sofrido muito devido aos enganos do mundo moderno. Sr. Pedro tinha uma admiração enrustida pelo jovem, lá no fundo gostaria de ter coragem para mudar de vida, achava que não daria conta de vencer os vícios de uma vida... Eles já haviam tido uma conversa fervorosa sobre as mudanças!

Pedro não sabia o quanto Jorge sofreu dentro de seu “novo” corpo. O antigo gostava de uma cervejinha com um bom tira-gosto. Coisas que a um garoto de 12 anos são vetadas... Sentar em um banco de botequim, pedir uma gelada e uma porção de salaminho, puxar conversa com alguém, ver o mulherio passar na calçada e depois de algumas horas de “saudável” distração, ir para casa ligeiramente embriagado.

O viajante sabia usar a consideração que Pedro lhe dedicava, sem abusos, jamais tomando liberdades indevidas, mantinha a devida distância do “mundo adulto”, ali ele era apenas um jovem cheio de idéias. Era chamado de menino, tratado como tal, não necessitava opinar a respeito das questões intimas da casa, era apenas o namorado da filha mais velha. Isto o fascinava, não tinha comprometimento com as soluções, a intimidade da família não lhe cabia, era apenas um menino para todos naquela casa... Na verdade ele era o mais velho daquele núcleo familiar! Em relação àqueles seres humanos ele deveria assistir ao filme sem querer trocar de canal, apenas aprendendo mais sobre o relacionamento humano, a escola da vida em ação... Existe melhor?

O namoro com Bianca estava tudo muito bem, continuava como da primeira vez, até aquela tarde de sábado. Seus pais haviam saído, com eles levaram sua irmã, estava só, férias escolares, um friozinho danado, aqueles dias bons para se ficar em casa e namorar, daqueles que só se quer ficar na cama embaixo das cobertas. Não havia combinado nada com ninguém, só iria sair de casa quando seus pais chegassem, caso chegassem cedo, combinaram que voltariam lá pelas 18h... Eram 13h30min quando a campainha tocou...

– Bia! O que você está fazendo aqui? ...Entre logo, tá muito frio na rua, o vento

tá castigando. Vamos entre logo! – Falou esfregando as mãos. – O pessoal lá de casa foi visitar meu tio, irmão de mamãe, ele voltou pra casa

hoje, tava trabalhando no Sul... Trabalha com moda masculina, veste muita gente famosa.

– Por que você não foi com eles, menina? Teu tio vai ficar chateado com você! – Não! Eu telefonei! Disse que tinha um compromisso marcado com meu

coração, disse que ia na casa de uma amiga – nesse momento ela deixou escapar aqueles risinhos de menina, característicos de quem quer fazer alguma estripulia – mesmo assim acho que ele entendeu tudo, ele é um cara maneiro.

– Essa história está toda complicada – ele abraçou-a, deu-lhe um longo beijo e olhou dentro de seus olhos, então Bianca iniciou sua narrativa.

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– Ninguém tinha dito nada sobre meu tio, quando me chamaram para ir fazer uma visita para ele eu não quis ir. Inventei que já tinha marcado com a Márcia, para sua mãe, a da Márcia, poder sair sozinha com o namorado novo, eles vão ao cinema hoje. Márcia me disse que ia ficar sozinha em casa hoje. – ele percebeu que Bianca estava bastante nervosa – Isso é verdade... A mãe dela sabe que foi armação, vai dar cobertura, qualquer coisa a Márcia liga pra mim, não tem problema nenhum, eu já liguei pro Tio, falei com ele... Ninguém vai saber que vim aqui. – Jorge apenas fitava-a com ternura, começava a entender o que ela estava fazendo ali, nervosa, arfante, ansiosa... – Eu sabia que você ia ficar sozinho a tarde toda, eu queria ficar com você, sem ninguém por perto. Entende?

– Muito mais do que você imagina. Só não gostei desse montão de gente envolvida nessa história. Bia será que você está querendo o que penso que está querendo?

– Não sei... Eu só sei que tou querendo você! Foram se beijando e andando, instintivamente caminhando para o quarto de

Jorge. Quando deram de cara com o templo pararam, sem dizer uma palavra se olharam e foram para a sala de TV. Jorge deu um beijo ardente nela e saiu... Voltou rapidamente com dois colchonetes. Saiu novamente, voltando com lençóis, travesseiros e uma manta. Ele mais que depressa arrumou uma cama no chão da sala, ligou a TV e trancou os acessos do cômodo, então parou, abraçou-a novamente e olhando em seus olhos foi ajoelhando-se em cima da cama.

– Você quer só ficar a sós comigo ou imaginou ir mais além? – Ele perguntou

com calma e muita doçura na voz. – Meu coração está disparado... Coloque a mão aqui. – Ela conduziu sua mão

para um ponto onde se sentia não somente o ritmo de seu coração, mas também o bico de seu seio duro, furando a blusa – Tá sentindo, parece que vou morrer... Tô sentindo um calor danado – tirou a blusa de lã, exibindo os bicos duros de seus seios por baixo daquela fina blusa de malha, colada no corpo. Agora ele podia sentir e ver aqueles seios apontados para ele.

– Pense bem na velocidade que você está indo. Não tenho certeza se você deseja isto mais do que eu... Depois não tem volta. Você sabe o que está fazendo? Eu te amo... Mas você... – ela colocou a mão sobre sua boca impedindo-o de continuar aquela frase.

– Eu quero você, quero ser sua, mesmo que você não queira, eu vou ser só sua hoje... Eu te quero tanto, não fale mais nada, só me faça sua, me leve pro céu com você... Pode fazer o que você quiser, eu fiz as contas e tudo mais... Hoje é meu dia... Hoje eu posso ser mulher sem problemas, sem nenhum grilo...

Diante daquele apelo todo ele não teve mais resistências. Levantou-se e diante

dos olhos atônitos dela despiu-se por inteiro, seu membro rijo mostrava-se seduzido por ela... Ela... Que permanecia de joelhos à sua frente. Seu membro apontava para o rosto da menina... Mesmo assim ela não recuou, levantou os olhos e encarou Jorge, que então fez sinal para que ela ficasse calada e ajoelhou-se novamente à sua frente.

Foi retirando as roupas dela com mansidão, beijando cada parte daquele corpo, cada pedacinho de carne que desnudava, descobrindo toda beleza daquele corpo. Voltava... Beijava seus lábios, cheirava seu pescoço e partia para uma nova descoberta, mais uma peça de seu vestuário era retirada. Beijou-lhe o seio,

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carinhosamente, uma escultura... Arrancando roucos gemidos de sua amada... Sapatos, calças... Ela estava apenas de calcinhas e meias!

– Quer que eu continue? – Por favor, não pare agora! – era uma súplica. – Eu vou beijar cada pedacinho deste teu corpo... Será que você agüenta? – Só você e eu é que vamos saber disto, não é? – Só nós dois... Só eu você e a eternidade... Só nós dois, pra sempre... Eu nem

bem sei o motivo, mas estou te amando com todas as forças do meu ser nesse momento!

– Então me deixa louca... Me beija... Beija tudo... Me faz desmaiar de tanto ser beijada!

Aquela foi a mais romântica e mais bela de todas as vezes... A inocência dela e

seu amor por ela tornaram aquele momento irresistivelmente encantador. Não foi naquela tarde que eles perderam a virgindade... Bia deveria aprender ainda que perdê-la não significava tanto como dizem. Ela experimentou delicias que só os beijos de amor provocam. A penetração veio com o tempo, lenta e gradualmente a sua virgindade foi-se esvaindo. Somente no terceiro encontro intimo é que ela deixou de ser uma menina, tornando-se a “mulher” que tanto almejava ser. A menina era um vulcão de proporções até então desconhecidas, foi uma erupção lenta, porém, devastadora!

Aquele dia iria marcar para sempre suas vidas. A vida nova dele também estava sendo remarcada. Sua intuição não anunciava nenhum problema pela frente, sentia que tudo estava dentro dos limites impostos. Assim queria acreditar... O amor dele explodia, deixava marcas no plano astral. Assim deveria ser para todos os seres humanos, em todos os relacionamentos, deveria ser desta forma a primeira vez de todos, com muito carinho, extremo desejo, consciência, um verdadeiro ato de amor. Um acontecimento sem pressa de atingir seu desfecho, por etapas, num crescendo de desejos e uma firme consciência do ato a ser consumado. Muito amor... Muito sentimento...

Afinal de contas para ele era a segunda “primeira vez”! A primeira havia sido mórbida, desprovida de sentimentos nobres, sem amor, um verdadeiro ato animal, puro instinto. Desta vez tudo era diferente... Quem sabe os céus não estavam de acordo com aquele relacionamento? Como reencarnado em vida tinha maiores responsabilidades sobre seus atos, de seu sucesso muitos dependiam, primordial era viver em paz, com a consciência limpa. Sexo com amor é muito lindo. Sexo também é uma interação entre dois seres que se amam, não somente reprodução animal. Embora o ser humano seja um animal, é especial, raciocina, sente e também possui instintos, consegue equilibrar tudo isso dentro de sua mente! Sexo somente pelo sexo é desprovido de toque interior, é puro deleite físico, mas não imprime mensagem na alma do ser. Sexo para ter filhos unicamente é uma grande armadilha. Lembre-se que o casamento monogâmico foi criado pelos abastados com o único intuito de manter suas fortunas sob controle, dentro de suas famílias, tudo muito limpo, com total apoio religioso, sob o aval de “Deus”... Então foi dado como correto! Assim caminha a humanidade há milênios, essa é a história das civilizações!

“Amai-vos uns aos outros – ama a teu próximo como a ti mesmo – esta é toda a Lei e todos os profetas – quem tem ouvidos que ouça “5 – assim falou um dos grandes sábios que passou por este planeta... Quem é que segue seus ensinamentos? Quem? Tanto tempo já se passou e nada! Absolutamente nada! É triste...

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Jorge procurava o seu número e o de Bianca na lista dos aprovados e como era

de se esperar lá estavam eles, vinham listados em ordem decrescente de rendimento, eles estavam quase no topo da lista, ambos passaram com médias acima de oito. Excelente colocação para quem vinha de escolas de nível inferior. Aquela era uma das melhores instituições de ensino do país.

O ano de 1975 prometia ser melhor ainda, um futuro folgado, pelo menos academicamente, era o que começava a se desenhar à sua frente. A pior fase já tinha sido enfrentada, a adaptação à escola e aos colegas fora processada com êxito, agora era só dar continuidade.

O viajante estava muito satisfeito. Na primeira vez havia sido apenas um aluno mediano, conseguindo destaque apenas já na universidade, isto graças às dicas de Alex. Agora se orgulhava do desempenho alcançado não só por ele, mas também por sua amada.

Nesse dia de tantas felicidades D. Maira detonou uma “bomba”... Jorge havia esquecido por completo as pretensões da mãe de sua amada... D. Maira queria mandar Bianca para os EEUU por um ano. De certa forma demonstrou carinho com o menino, guardou a notícia até saírem os resultados do ano letivo, não afetando a desempenho das crianças... Óbvio que protegeu sua filha!

Jorge não sabia, mas Maira já havia descoberto tudo sobre o relacionamento entre os amantes, encontrara o calendário onde Bianca fazia os “cálculos”, seus períodos de fertilidade estavam cuidadosamente assinalados. Maira havia encontrado o livro de obstetrícia, comprado por sua filha, com partes marcadas, destacando doenças transmissíveis pelo sexo, gravidez, etc. É bom lembrar que naquele tempo a AIDS não era uma preocupação, nada se falava até então, somente o viajante conhecia o transtorno guardado, encubado e pronto para aflorar no futuro. Maira também encontrou anotações, de próprio punho, sobre a famosa “tabelinha”, anticoncepcionais, prós e contras do coito interrompido.

Os dois ficaram sabendo simultaneamente deste fato. Quando entraram no carro, voltando da escola, Maira iniciou o embate, comunicando a confirmação da viajem aos EEUU, com os detalhes a respeito da família que acolheria sua filha. Os dois amantes ficaram gelados, o viajante havia deletado por um tempo aquela curva do destino. Começou a doer, a separação estava começando a pesar, mais do que era esperado. Ele sempre soube que isso poderia acontecer. Nesse instante vieram em sua mente as palavras do anjo, vieram com muita força: “... Não o amor doente, não o amor da posse, use a força do amor divino...”. Perdeu os detalhes de quando e onde se daria a partida de sua amada, estivera internado dentro de sua alma por longos segundos ou talvez minutos.

Quando Maira terminou sua exposição inicial fez uma pausa estudada. Bianca tinha lágrimas nos olhos, não dizia nada a respeito dos fatos colocados por sua mãe. Tinha esquecido seu desejo antigo, a viajem já não tinha sentido, algo que havia pedido aos doze anos, obtendo apoio e incentivo de seus pais.

Muitos adolescentes fizeram este tipo de acerto para passar uma temporada em outro país, muito comum na época. No caso de Bianca seria um ótimo curso de inglês, bastante eficiente, sem contar a oportunidade de convívio com outra cultura, dentro de uma sociedade bem diferente da brasileira. Seria importante para o crescimento da menina, responsabilidade, liberdade, independência, criando indivíduos, até certo ponto, mais hábeis no manejo social. É um “curso” de risco também, verdade seja dita, muitos voltaram viciados em drogas, comportamento rebelde, desamor por sua terra

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natal, tornando-se um problema para suas famílias, um verdadeiro teste para o núcleo familiar... Fruto de quê? Não são todas as mentes que suportam o conflito entre os vários modos viventes... Não havia nenhuma garantia que Bianca voltaria com seus objetivos cumpridos, mas também não existiam garantias se ficasse por aqui, coisas semelhantes poderiam se suceder. Os anos 70 foram bem conturbados para nossos jovens, não existe manual para viver, aquele onde possamos ler como proceder, passo a passo. Se assim fosse como seria fácil e entediante a vida. Como seria mais tranqüilo ser bons pais! Cada vida guarda seus próprios desdobramentos, nem mesmo a alma dos que nos amam podem antever.

Mas quem mordeu a isca de Maira foi Jorge... – D. Maira eu sei que seria bom pra ela essa viajem, mas ela está sofrendo

muito com isso. A senhora bem que podia conversar com ela primeiro. – Eu estava esperando que fosse ela a primeira a protestar. Concordo com você

que a viajem vai ser muito boa pra ela, vai ser bom pra ela e pra você também.

– Por que a senhora diz isto D. Maira? – ele perguntou com calma. – Vocês estão indo muito fundo nesse namoro... Não pense que ainda não sei o

quanto vocês já andaram fazendo juntos. É... Eu sei! Até certo ponto gostei da maneira responsável como trataram a sexualidade de vocês, mas acho que não é o momento de uma ligação tão forte assim. Seria prejudicial pra ela e pra você também. Aposto que ninguém em sua casa sabe disso tudo! Você e ela ainda precisam descobrir muita coisa sobre a vida, conhecer outras pessoas, viver outras experiências... Você tem idéia do quanto ela gosta de você?

– Acho que sim D. Maira... Eu gosto muito dela também, tenho feito tudo pra ela ser a menina mais amada do mundo, mas creio entender o que a senhora está dizendo.

– Se você não fosse um rapazinho tão centrado eu já tinha me indisposto com você. Não acho que você saiba muito bem do que está falando, mas você tem sido uma boa influência pra minha filha.

– Se o nosso amor for verdadeiro ele não morrerá em um ano. – falou a menina pela primeira vez.

– É isto mesmo. – emendou a mãe – Espero que você se lembre do quanto eu e seu pai temos nos empenhado para arranjar tudo para esta viajem. Você, agora, não pode esquecer quem mais quis essa viajem... Quem pediu foi você!

– Só que eu não esperava que acontecesse tudo isso na minha vida, não espera encontrar o Jorge! – a menina deixando as lágrimas correrem – Foi com ele que eu me fiz mulher! Sei que devo ter abalado sua confiança, mas eu queimava por dentro... Eu amo ele demais!

– Muito bonito Bianca... Muito bonito! Só que você virou mulher no sentido figurado, no sentido vulgar da palavra. – Maira já estava perdendo o tom maternal que imprimia no início da conversa – Você é apenas uma menina. Mal saiu das fraldas, uma menina inexperiente, teve sorte de ter uma boa educação, caso contrário poderia ter engravidado e posto sua vida no lixo... Perdendo todas as suas chances, jogando fora toda uma vida! Sem falar das complicações pra esse menino, sem contar que eu não sou uma mãe bitolada, uma mãe radical. Você tem idéia do quanto chorei quando descobri que você já tinha mantido relações sexuais com alguém?

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– Se sua mãe fosse igual ao meu pai... Nossa! Não sei o que poderia acontecer! – Jorge deixou escapulir sua fala. – Cale a boca! Ela sabe muito bem o que pode acontecer se o pai dela souber

de toda essa história. Na visão dele ela é apenas uma menininha crescida, acho que até agora ele não se deu conta de que sua filha usa sutiã. Imagina o que ele acharia se soubesse que ela tem feito sexo por aí. Você fala às vezes como gente grande, mas não passa de um moleque metido... Um pirralho precoce... Às vezes até irritante, um chato! Ela vai fazer a viagem e pronto. Esse assunto de sexo morre aqui, não se fala mais nisso... Entenderam? Eu toquei nesse ponto só pra vocês saberem que eu sei... Sei até o quanto vai doer essa separação, não sou uma mulher sem coração... Vocês têm 15 dias pra se despedirem e se acostumarem com a idéia. A única coisa é que só se encontrarão dentro da minha casa, não quero que vocês tenham nenhuma idéia de jerico.

No resto do caminho ninguém falou mais nada. Jorge sentiu-se muito mal, pela

primeira vez nesta segunda vez era personagem de uma briga. Não se perdoava pela má atuação naquela história toda, principalmente nessa conversa. Durante dois dias ficou ensimesmado, esqueceu-se de ligar para sua amada por 48 horas. No terceiro dia a campainha de sua casa tocou...

– D. Maira! Boa tarde. É com a senhora mesmo que eu queria falar – ela olhava

para ele apreensiva – gostaria de saber como posso ajudar a senhora, gostaria que a Bia viajasse em paz, não quero que nada de mal aconteça com ela. Peço mil perdões à senhora, por tudo que fiz a senhora passar esse tempo todo. Espero que me perdoe se fiz algum mal para a sua família. O nosso sofrimento não vai ajudar em nada... Peço perdão... Não quero ser irritante. Perdoe-me! Poço ajudar em alguma coisa?

– Você é mesmo irritante! Mas você também é surpreendente! – ela olhou-o bem nos olhos e disse uma coisa que o deixou estupefato – se você fosse mais velho e eu não fosse casada... Quem namoraria você seria eu mesma – deu uma sonora gargalhada – Bianca... Bianca, eu não disse que ele sobreviveria a nossa conversa.

Bia veio em disparada e atirou-se em seus braços, beijando-o apaixonadamente.

Ela esqueceu-se que sua mãe estava ali, de pé, assistindo àquela cena, não com raiva ou com desprezo. Maira entendia o amor de sua filha.

Naqueles últimos dias eles se curtiram muito. Jorge concordava com tudo, não criava polêmicas, fazia aquilo que lhe era pedido, um menino cordato, manso. Elas só se preocupavam com a viagem, ele assistia à nova versão da linha do tempo, muito parecida com a anterior nesse ponto. Já sabia que o maior sofrimento agora seria o dele, retomando à vida de solidão... Só conseguia lembrar como era a vida antes desse relacionamento, estava muito triste... Voltar à vida de recordações, agora com uma nova recordação. A nostalgia tomava conta de seu coração. Não sabia bem porque, mas naqueles dias voltou a enxergá-la novamente como menina. Aquela mulher, aquela amante fogosa, tudo sumira, o vulcão adormecera... Aquela paixão toda havia deixado-o totalmente cego! O amor é que perduraria pra sempre... Aquela história ainda não estava terminada.

Quando ela lá chegasse, se enturmando com os jovens norte-americanos, os desejos voltassem a acossá-la... Quem sabe o vulcão entraria em erupção novamente!

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Na primeira vez foi assim, ela é que não sabia disso. Talvez uma boa parte do que ocorreu na primeira vez voltasse a acontecer, afinal de contas somente ele é que era um reencarnado em vida, para ela tudo era absolutamente desconhecido. Não havia comparações a serem feitas. Ela viveria tudo com muita intensidade, faria a moda dos adolescentes, pois, adolescente é o que realmente Bianca era... Uma adolescente experimentando a vida.

Para cada opção existe um futuro Janeiro de 1975, agora tudo era diferente. Da primeira vez ele estaria de volta ao

Rio de Janeiro cuidando de sua saúde, fazendo exames e mais exames, se preparando para uma cirurgia... Agora não. Estava no clube do bairro pegando uma cor, desfrutando de refrescantes mergulhos na piscina, jogando basquete à tarde, curtindo um verão bem diferente desta vez.

As saudades vinham mesclando o passado recente ao passado distante. Esses momentos de mergulho no interior de suas memórias tornavam-se um grande problema. Lembranças de amigos nos confins do tempo, na eternidade das épocas! Como pode um ser humano ter tantas informações em seu cérebro? Para que isso tudo? Em seu caso todas essas recordações castigavam a mente. Pessoas de vários lugares, muitas não mais o reconheceriam caso fosse procurá-las, de fato não o conheciam. Essa nova vida não havia permitido que seus caminhos se entrelaçassem. Será que seria agradável reencontrá-las? A nossa memória não é muito fiel no que tange a sentimentos passados, principalmente quando essas recordações estão ligadas a sentimentos adquiridos no convívio humano. É importante lembrar que não sentimos da mesma maneira uma situação revivida ao longo do tempo, as experiências operam transformações, a nossa maturidade não nos permite sentir novamente as mesmas emoções. Depois do primeiro beijo nunca mais sentimos outra emoção exatamente igual. Depois que beijamos uma determinada pessoa, com ela, nenhum beijo será como o primeiro. A vida caminha entre seus pontos de máximo e mínimo, nunca se repete com exatidão, nada é idêntico, cada sentimento é único dentro de seu tempo. Cada momento da vida é único! Conhecer uma pessoa já conhecida poderia destruir uma boa recordação. Talvez não valesse a pena correr o risco. Esses pensamentos, por vezes, tornavam-se um verdadeiro inferno pessoal para o viajante.

Ele ainda sofria com a recente separação, achava verdadeiramente incrível a intensidade de todo o processo. Começava a sentir os apelos do corpo, considerações a respeito de sua idade física vinham à tona, pensava nos apelos da vitalidade. Homem e rapaz entrando em conflito! O mais experiente havia degustado os prazeres da vida com força, saúde, mas com o vigor de um adolescente foi bem diferente. O rapaz, por sua vez, usando sua constituição física privilegiada, usava a consciência de um homem maduro. A situação não deixava claras as conclusões possíveis. Talvez tudo na vida esteja envolto em uma névoa de confusão psíquica!

– Acho que vou arrumar um limão... Quem sabe com uma namorada nova,

totalmente desconhecida, sem vínculos com o passado, tão desconhecido quanto o que estou vivendo agora? Quem sabe? Não vejo motivo para ficar vivendo uma vida fora do comum, minha vida nunca será comum, como a de qualquer um, mas não é necessário ser um estranho no ninho, disso eu posso

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me livrar! Levar uma vida mais normal pode ser uma solução. Dar uns beijos na boca não fará tão mal assim. Evitar o sexo só pelo sexo vá lá que seja. Tudo bem! Namorar não faz mal a ninguém, não quero viver no abandono. Não gosto disso, nunca gostei! Completamente só... Esse tipo de vida é muito dolorido a meu ver, sempre foi assim pra mim. Vou voltar ao mercado, vou ficar em disponibilidade total! Tentar pelo menos... Responsabilidades sempre existem.

Aquele pensamento acalmou seu coração, o importante seria encarar a escola,

desta vez, sozinho. Com afinco, isso iria lhe dar bastante trabalho mental. Como nos velhos tempos, tinha que estar preparado emocionalmente para a luta.

Ele já começava a planejar melhor o seu futuro, queria estudar medicina, logo em seguida estudar nutrição e depois botânica. Alguma coisa fervilhava em sua cabeça, afinal de contas ele conhecia alguns aspectos do futuro planetário.

O ano de 1975 foi enfadonho, suave e tranqüilo, muito estudo e alguns namoricos nas horas de folga. As notícias vindas da América do Norte confirmavam o futuro pela segunda vez. O que de certa maneira deixava-o aliviado, assim ficava claro que o futuro de Bia continuava dentro das mesmas características, ao menos estava dentro do conhecido pelo viajante. Até o nome do rapaz com que ela se envolvera por lá era o mesmo. Na carta que recebeu, como da primeira vez, o novo namorado de Bia era Robert. Aparentemente sua vida em nada tinha se alterado, o relacionamento mais intenso com Jorge não mostrava frutos negativos. Ao viajante parecia morto um futuro qualquer entre eles. Como da primeira vez! Restava-lhe mesmo seguir com fé rumo ao seu novo futuro.

Seu irmão continuava seus estudos com brilhantismo, tudo corria dentro do previsto. Seu pai dava sinais de que as coisas corriam bem na empresa. Como era de se esperar as conversas sobre a possível transferência para o Rio de Janeiro surgiram novamente. Desta vez era seu pai quem iria protelar, em função dos planos de seu filho do meio. Talvez seu pai voltasse para o Rio em 1977, gerenciando a filial Rio, voltando de mala e cuia, não podia ser melhor!

Sua irmã também apresentava mudanças em seu comportamento escolar, Jorge não deixava a menina entregue à sua própria sorte, ele dava um tremendo incentivo a ela, conversava muito com Clarice. Neste ano sua maior atenção foi dedicada a ela, pôde contar com a ajuda de um irmão participante, ativo, apoiando-a, ajudando nos estudos, dando conselhos, falando sobre as coisas da vida, respondendo questões existenciais, enfim, fornecendo uma série de elementos de juízo. Indicando livros para sua leitura diária e posteriormente promovendo debates com a menina. Podia acompanhar sua evolução, provando, mais uma vez, que a maneira de educar é que faz toda a diferença, é de criança que se começa a desenvolver a arte do raciocínio.

Esse auxílio dado a Clarice não era perda de tempo. Muitos pais alegam não terem tempo para seus filhos... É triste ter certeza que muitos de nossos jovens terminam em situações deploráveis devido à inabilidade de seus pais em administrar melhor o seu tempo, ou melhor, a incapacidade de administrar suas mentes. Quantos perdem um tempo enorme em vãs discussões? Não seria melhor estarem conversando com seus filhos? Quantos gastam mais tempo com os “amigos”, os vícios, a TV e relacionamentos extraconjugais, do que com seus entes queridos, seus próprios filhos? Alguns até acham que é perda de tempo conversar com os filhos! Muita gente, por aí, deveria comprar máquinas de entretenimento e não ter filhos. Crianças não são brinquedos, não podemos desligá-los e guardar na garagem quando estamos sem vontade de conviver com elas! As máquinas já vêm com manual, caso não seja lido e

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dê defeito o dono será acusado de má utilização. Basta jogar fora, trocá-la... Muitos nunca deveriam ter tido filhos!

Janeiro de 1976, aquelas eram férias bem merecidas, seu coeficiente de

rendimento atingiu 9,3 na escola, ele era um dos melhores entre os melhores. Deveria descansar bem durante suas férias de verão, este era o ano da arrancada para a universidade. A relação candidato vaga para medicina era bem alta, a maior dentre todas. Ao terminar este ano deveria estar bem preparado. Definitivamente seu plano era estudar na UFRJ, não pretendia ficar naquela cidade, ele conhecia o futuro, tinha outros planos em mente.

Quando realizava suas meditações sentia que este era o caminho esperado desde a primeira vez. Jorge é que havia se afastado dele, algo já o esperava há décadas, seu caminhar como médico era esperado dentro do grande plano. Sentia uma forte intuição a respeito da nutrição, deveria fazer esse curso sem protelações desta vez, se fosse humanamente possível realizá-lo concomitantemente com o de medicina. Algo dizia que era imperioso não perder tempo, muito deveria ser feito, o caminho traçado estava lá esperando há algum tempo, décadas... Décadas perdidas entre vidas a espera de um futuro ainda desconhecido por todos... Encarnados ou não!

Em uma manhã, já no final de janeiro, após um bate bola na quadra do clube, quando se encaminhava para o chuveiro da piscina, viu um corpo conhecido na ducha a sua frente.

– Será que é você? Voltou e não disse nada! Quando chegou mais perto a olhou bem nos olhos. Sentiu que ela não era mais a

mesma, agora tinha um olhar mais felino, muito mais mulher. Havia malícia naquele olhar, ele não queria acreditar no que sentia...

– Você não mandou mais nenhuma carta. Não avisou que estava de volta. Poderíamos ter feito uma festa na sua chegada, uma festa de boas vindas. Desculpe-me... Que cabeça a minha... Oi, como vai você?

– Estou bem e você? – Do mesmo modo. Estudando muito, montando meus planos para o próximo

ano. Você só pode fazer planos para o futuro até certo ponto, dali em diante tem que esperar as reações desencadeadas pelos atos anteriores. Pela sorte, se preferir! Eu tenho uma visão muito própria a esse respeito.

– É... Eu vou voltar lá pra escola, meu pai conseguiu a rematrícula. Agora já sei o que quero, vou fazer jornalismo, gostei dos contatos que fiz nessa viajem. Quem sabe consigo trabalhar por lá? Faço o curso básico aqui, depois faço uma especialização por lá, indo como estudante. Se reconhecerem meu valor eu fico por lá. Não é uma boa?

– Parece que voltou mudada... Eu acredito que primeiro temos que ter valor, depois é que alguém pode reconhecê-lo, sabendo a utilidade dele é claro. Por esse caminho as coisas andam com segurança. Eu quero saber se está tudo bem com você, de verdade, como foi tudo por lá... Você não escreveu mais nada! Aconteceram coisas significativas por lá?

Sentaram-se à beira da piscina e continuaram a conversa. – Pode se abrir comigo, até hoje tudo que vivemos ficou entre nós dois... É... E

sua mãe! A verdade é que guardei com muito carinho todas as nossas

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experiências, tudo guardado dentro do coração, teve épocas em que fiquei cego de tanto que gostava de você. Pelo menos um grande amigo você tem nesta vida.

– Márcia me manteve informada a seu respeito... Mesmo antes de terminar o verão você já estava se esfregando em outras garotas. – Ela falou com a mesma meiguice que costumava usar na voz, parecia, por um instante, a mesma menina que tanto o enfeitiçara há um ano.

– Mas não fiz sexo com mais ninguém, só busquei um equilíbrio emocional, um limão... Você sabe como é isso, né? Não deixar o sentimento de perda tomar conta de mim. Você tem idéia do que é ficar com alguém que não se consegue conversar? Não amei mais ninguém, não fiz sexo com mais ninguém. Você pode dizer o mesmo?

– É... Não sei por que estou com vergonha... – Não fique constrangida, isso que fiz foi uma opção minha. Não queria fazer

sexo sem amor, gostei tanto do que você me deu que achei que só daquela maneira valeria a pena. – Ela o abraçou com carinho e despejou algumas lágrimas em seu ombro. Com muito carinho ele enxugou seu rosto beijou-lhe a testa e tornou a abraçá-la, respirando o aroma de seu pescoço. – Não precisa falar mais nada, já entendi... Não fique chateada, é normal, você é uma menina muito adorável, com muita vontade de viver. Espero que tenha vivido intensamente, desfrutado bons momentos, nesses meses que passou por lá, não interessa de quem gostou ou deixou de gostar, não interessa quem gostou de você ou deixou de gostar, só seus sentimentos é que contam. Se foi uma vida vivida de verdade já valeu a pena, tudo já se torna válido. Espero que você não tenha se machucado... Só isso. – ela começou a chorar novamente... Ele aninhou seu rosto em seu peito e acariciou seus cabelos.

– Não se desmanche assim menina... Vamos sair daqui, vamos lá pra baixo. Aqui estamos chamando a atenção, não por mim, depois você vai ficar chateada com o que os outros vão falar por aí.

– Tá legal. – Foram para uma espécie de praça que existia na parte mais afastada da piscina, na área dos quiosques. Jorge comprou um refrigerante para ela e sua tradicional água mineral gasosa, trouxe também um pacotinho de biscoitos wafer para ela. – Você não esqueceu! – Ela adorava biscoitos wafer.

– Vamos deixar o passado pra lá, vamos deixar o passado para os mortos, nós estamos vivos!

– Eu só queria que você soubesse que sempre te amei. Fiz o que fiz de raiva... Quando recebi a carta da Márcia fiquei muito danada da vida. Queria te matar. Eu sei que foi uma grande bobagem o que fiz, você tem razão, com amor tudo é tão gostoso... Eu não sabia disso.

– Tudo bem. Você não precisa ficar assim. Temos que sentar em lugar tranqüilo e conversar muito sobre tudo isso. Daqui a pouco eu tenho que ir pra casa, meus pais vão passar o fim de semana no Rio, visitar minha avó e meu irmão, parece que ela está com algum tipo de problema legal. Meu pai tem que dar uma orientação a ela. Você podia passar o sábado lá em casa, agente faz umas comidinhas, escuta um som e conversamos à vontade.

– Você agora está parecendo com eles... Só pensam em sexo! – Não... Não sou americano... Sou brasileiro e é com muita tristeza que vejo que

você não saiu inteira de sua experiência por lá – Falou com certa rispidez – Desculpe-me Bia. Eu estou convidando você sem compromisso algum. Você é

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quem sabe o que quer fazer. Tenho muita coisa para lhe contar também, tenho os meus planos para o futuro... Você não precisa ficar na defensiva comigo.

– Olha Jorge, eu vou pensar nisso tudo que você me disse... Não pense que estou tão frágil assim!

– O meu telefone continua o mesmo... É só ligar. Agora eu tenho que ir embora, fiquei de dar uma força a minha mãe. Me liga... Nós temos que conversar com calma, desarmados, caso contrário não valerá de nada essa conversa... Você sabe disso.

– É... Vou pensar. Não sei por que estou te sentindo diferente. – Quem sabe você começa a enxergar mais longe... Me ver um pouco mais. – Não sei se é isso não... Minha mãe sempre disse que você parecia um velho...

Muito cheio de razão! – Se você quiser é só ligar que conversamos a vontade. Falou? Tenho que ir...

É melhor eu ir embora! Tchau... Tchau! Jorge deu as costas e saiu andando, sem olhar pra trás. Ele tinha ficado intrigado

com as reações dela, ela mudara em sua essência, não restava a menor dúvida. Aquela frase: - “minha mãe sempre disse que você parecia um velho” – ficou em sua mente, batia dentro de seu crânio como uma bala que ricocheteia dentro de uma esfera de aço. Ele não sabia que tinha sido tão eficiente assim em sua atuação, só ali, conversando com Bianca é que começou a ter idéia dos perigos aos quais havia se exposto. Certamente, em sua maioria, as opiniões a seu respeito deveriam ser parecidas, no mínimo, com as da mãe dela... Mas nem todos haviam convivido desse modo com ele. Chegando em casa trancou-se no quarto e chorou... Até hoje não sabe ao certo o motivo daquele choro. Um misto de sentimentos, perda e angústia... Um peixe fora d’água. Sentiu-se como uma espécie de aberração, um monstro.

Realmente eles se encontraram naquele fim de semana. Ela só ligou no sábado, no início da tarde. Duas horas depois ela já tocava a campainha de sua casa. Desta vez não precisou insistir para que ela entrasse, ela foi logo passando do hall para a sala, colocando sua jaqueta sobre o braço da poltrona, ato contínuo indo sentar-se na sala de TV.

Ele não ficou tão surpreso como aparentemente ela pretendia, ela até ficou meio sem jeito, meio desanimada com a atitude de naturalidade de Jorge. O importante é que ela estava linda, com uma roupinha da moda, ainda cheirando a loja... Um convite ao pecado!

Ele sentou-se ao seu lado e sem dizer palavra foi se servindo dela. Porque não dizer que ela também! Foi ela quem entrou com a atitude diferenciada, como quem veio para conquistar, derrubar todas as resistências. Ele somente entrou no jogo, sem escrúpulos, sem medo, com muita vontade de degustar aquilo que lhe foi imposto. Uma mulher decidida, madura, sem medos, experiente... Será que ela poderia arcar com o peso de suas atitudes?

Fizeram sexo rasgado, carinhosamente, educado, mas um sexo de gente grande. Aquilo era carne pura, não havia amor, era apenas a arte de fazer sexo, uma disputa de performances. Ela fazia coisas que nem sequer ousava experimentar tempos atrás. Agora fazia com desenvoltura, foi, é bem verdade, um dos melhores momentos sexuais de sua vida até então, isso contando as duas vidas! Era de certa maneira maravilhoso, mas não era nada ingênuo.

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Durante o ano todo eles repetiram aquelas seções de sexo, até que outro rapaz, mais velho, aos olhos dela, um que tinha automóvel, podia sair à noite, ir a lugares da moda... Depois que ele entrou na história... É, a conduta deveria ser outra.

Jorge que vinha dos tempos em que uma doença aterrorizava a muitos, uma doença sexualmente transmissível, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a famigerada AIDS, foi o primeiro a pedir para sair desse triângulo sexual estabelecido por Bianca. Ele sabia que aquele comportamento era uma fase passageira, assim era esperado, a realidade dos costumes de nosso país iria tocá-la em breve. Certo é que da primeira vez ele não tinha vivido nada disso, não estava mais por ali para poder pertencer a tal relação, não tinha nenhuma informação a respeito da vida daquela mocinha depois da viagem aos EUA. Nesta época ele estava longe daquele lugar, vivendo outros relacionamentos, passando por situações bem diferentes. Na verdade fazendo um monte de besteiras de adolescente, como fumar maconha, arriscando a vida de muitos ao andar como um louco nos “pegas” da vida, verdadeiro comportamento desmiolado, usando o automóvel de sua mãe para disputar “corridas” pelas ruas do bairro onde morava, metendo-se em brigas, bebendo até cair... Destruindo a saúde não só de seu corpo, mas também da mente. Acho que desta vez até que estava melhor com as seções de sexo... Mas não em forma de triângulo.

Para Jorge o ano era de muito estudo, para Bianca era ano de descobertas, bares, noite, casas de show, drogas, sexo e todo tipo de sensações passíveis de comercialização. Ela queria “experimentar o mundo”... “Comer o mundo”. Uma fase em que muitos adquirem as mazelas do mundo moderno, alguns chegam a falecer em nome da experimentação do que “todos fazem”. Os que saem fisicamente inteiros desse mergulho, caso não restem traumas psicológicos em demasia, podem ser considerados sobreviventes. Cheios de histórias pra contar! Histórias de caçadas realizadas em florestas de concreto, fumaça de óleo diesel e asfalto. Florestas que muitas vezes matam mais que as mais perigosas florestas do planeta. Caçadas mais perigosas que as realizadas na Índia quando os ingleses corriam atrás dos tigres, simplesmente pelo prazer de matar, exibindo sua pele ou somente a cabeça como um troféu, um símbolo da masculinidade, honra e nobreza. Outro absurdo humano! A diferença é que nas cidades são seres humanos caçando e sendo caçados pelos seus iguais, uma caçada muito mais inescrupulosa ainda. É verdade... Todos nós sabemos da existência desses comportamentos e não fazemos muito para mudá-lo, apenas rezamos pedindo aos céus que nos protejam dos nossos iguais... Mas nem sempre os jovens sabem rezar!

D. Maira teve uma série de dores de cabeça, aborrecimentos e noites sem dormir, todo esse sofrimento em função dos desejos de uma filha. Algumas vezes D. Maira ao encontrar Jorge na escola lhe dava um abraço fraternal, comportamento totalmente diferente dos anos anteriores. Sabe-se lá quais os sentimentos que estavam por trás daquele comportamento. Talvez a fala de Jorge anos antes agora estivesse fazendo mais sentido! Ela era uma mulher bonita, corpo escultural, digno de uma professora de educação física. Uma mulher que se exercitava todos os dias, com apenas 36 anos, inteligente, mulher de garra... Tinha muita fibra mesmo!

Todos que a conheciam tinham fé que ela encontraria uma maneira de auxiliar sua filha naquela época de transição. Ela não merecia aquele tormento.

Em setembro a notícia que Jorge tanto esperava chegou, seu pai iria trabalhar no

Rio de Janeiro já a partir de novembro. Como era de se esperar as coisas iriam ficar mais parecidas com a primeira vez novamente, mas apenas parecidas. Ele voltaria já

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nas vésperas do vestibular e com certeza em 1977 estaria cursando medicina na UFRJ. Estudando em uma universidade de bom nível, e melhor ainda, se localizava a poucos quilômetros de sua casa.

Na escola seu rendimento havia caído um pouco, o coeficiente de rendimento daquele último ano foi apenas 8,9. Mesmo assim estava dentro de um excelente nível para as exigências do concurso no qual a universidade estava inserida. Além do conteúdo específico da terceira série, naquele ano, tudo foi revisto, foi feita uma revisão geral dos conteúdos das três últimas séries. Somente os melhores obtinham coeficientes acima de 9,0. Ele sabia estar acima da média, foram apenas umas conturbações emocionais que haviam lhe atrapalhado, agora estaria com a mente focada, pensando no caminho à sua frente, estava tranqüilo quanto ao resultado de suas provas. Ele não era um rapaz assustado, ele já tinha 52 anos de idade, um engenheiro que iria prestar vestibular para medicina, mudar seu caminho mais uma vez, perder finalmente o vínculo com o antigo futuro!

Janeiro de 1977, ele esperava ansioso pelo resultado do vestibular, o “listão”

deveria sair a qualquer momento. Por mais que estivesse confiante, só com a consumação do fato é que ele ficaria satisfeito. A corrida só termina na bandeirada. – dizia ele constantemente parafraseando o ainda desconhecido campeão Airton Senna.

Lá estava seu número, décimo quinto lugar na escola de medicina da UFRJ. Tudo corria dentro do previsto. Foi naquele final de janeiro que se deu conta de uma nova alteração do futuro. Aquela mudança só foi percebida quando se lembrou da casa de veraneio que possuíam da primeira vez. A casa não existia mais, seu pai havia construído a dita casa em 1975, desta vez ele não estava no estado do Rio. As pessoas cuja influência levou seu pai àquela cidade do interior se encontravam noutro espaço-tempo diferentes.

Era chegado o momento de montar um novo futuro para todos, caso contrário seu pai iria morrer de câncer em poucos anos... Isso deveria terminar assim? Sua irmã havia conhecido o homem com o qual vivia em 1997 naquela cidade de veraneio e morava com ele na casa que não mais existia no novo futuro. Agora ela era uma menina mais culta, não tinha perdido tanto tempo como anteriormente, tinha outros sonhos, não era tão pacífica como antes, era uma pessoa diferente.

A grande preocupação de Jorge era seu pai, sua irmã iria encontrar novos caminhos naturalmente. Agora era tempo de trabalhar a mente do velho, mudar hábitos, novamente criar um modelo a ser seguido.

De quanto tempo disporia ainda? Por onde começar? O que seria permitido dizer? A máxima era o exemplo, como utilizá-lo para salvar seu pai? Jorge deveria meditar sobre todos os aspectos que a situação envolvia. Ter clareza de pensamentos era tremendamente difícil, muitos pontos onde focar a mente visto o ritmo dos estudos, a escola de medicina impunha uma carga de afazeres bastante pesada. Mudou uma vez mais a alimentação, pediu a sua mãe que comprasse uma série de livros, todos tendo autores médicos, como seria um dia, médicos esses que por razões distintas deixaram a “medicina tradicional” de lado para dedicarem-se à chamada “medicina alternativa”.

Aqueles livros já eram conhecidos pelo reencarnado, tinha estudado muito nestes mesmos livros no passado primeiro. Pretendia criar uma isca, formar uma tendência comportamental dentro de casa. Caso seu pai mordesse a isca seria salvo, sem jamais saber o destino que havia evitado. Se tudo desse certo, a partir do dia 07 de setembro

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de 1981 seu pai seria uma espécie de morto vivo, alguém não estava mais lá no passando antigo, mas agora seria salvo pela boca... É... Realmente o homem cava sua cova com os próprios dentes.

Logo no início sua mãe se interessou pelos livros, pois tinha problemas com a sacarose, um vício difícil de abandonar, para muitos na realidade. Mesmo com reservas não demorou muito para começarem a seguir o exemplo do “médico” da família, inclusive seu irmão que voltava ao convívio familiar. Todos gradativamente entendiam a importância de mudarem seus hábitos alimentares, sentindo os benefícios de uma alimentação saudável. Por exemplo, o açúcar branco refinado foi reduzido a níveis aceitáveis, isso alterou a saúde de sua mãe completamente, contribuindo decisivamente no desfecho daquele complô familiar. Através dos filhos, mostrando o quanto tudo aquilo fazia bem à célula máter, que o plano de unir todos em torno de uma filosofia de vida começou a dar seus frutos, assim teve início a grande mudança daquele grupamento humano.

O consumo de carnes havia caído muito, saladas passavam a figurar como prato indispensável nas refeições, como resultado direto seu pai foi forçado a consumir folhas verdes cruas. Neste ponto o plano começou a surtir efeito. Seu pai confidenciou, durante as conversas familiares, que seu problema crônico, aquele o afligia durante anos, estava desaparecendo, cada vez menos recorrendo a “remédios”, laxantes, a eterna prisão de ventre estava sendo vencida pelo consumo de frutas e verduras cruas. Jorge não pensou duas vezes, deu de presente a seu pai um livro que descrevia todos os desdobramentos do mal que possuía. O livro descrevia em detalhes o processo desencadeado pelo constante mau funcionamento do intestino, levando a criatura a uma morte prematura. O autor argumentava a respeito da impotência da medicina tradicional em salvar os que sofriam desse mal, salvá-los de uma morte dolorosa e inevitável, podendo ser salvo pela simples mudança da quantidade de fibras ingeridas nas refeições diárias. O livro foi o golpe que faltava ser desferido. A luta começava a pender para o lado do “jovem” médico da família. O problema crônico de seu pai começava a sumir definitivamente. Seu pai agora sabia, através dos livros, que havia se livrado de um possível câncer no intestino!

Agora só faltavam as campanhas contra o fumo, redução do consumo de cafeína, uma refeição de frutas todos os dias, café da manhã à base de suco de frutas cítricas e tantos outros expedientes que se fizessem necessários, visando ao cultivo da boa saúde de todos os seus entes queridos.

Convidando seu pai, sempre que possível, a fazerem longas caminhadas, sentiu que teria um pai por muito tempo ainda, desta vez iria poder vê-lo envelhecer junto a sua mãe, caso Deus assim o desejasse. Durante as caminhadas conversava sobre a possibilidade de vender a casa de São Paulo e comprar um sítio em uma cidade serrana do estado do Rio. Onde poderiam passar os fins de semana, curtir o clima ameno no verão, um chá perto da lareira no inverno, cultivar uma horta sem agrotóxicos, fazer caminhadas ecológicas, viver uma vida mais pacífica, com harmonia. A idéia logo arregimentou devotos. Sua mãe era por Petrópolis, seu pai tinha amigos em Teresópolis, seu irmão também aprovava a idéia, independentemente do local escolhido, o que interessava era a saúde, a irmã iria para onde o vento soprasse. O reencarnado em vida pensando no futuro propôs um lugar em especial, a estrada que fazia a ligação entre Friburgo e Teresópolis. Aquela foi uma sugestão surpreendente para os familiares, especialmente após uma visita ao local, praticamente não existia nada por lá. A segunda sugestão dele animou mais a sua mãe, um bairro de colonos alemães, com lindas casas, chalés e casas coloniais, um bairro muito bonito mesmo,

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dentro da cidade que o reencarnado acreditava ser indicada para o projeto futuro, ainda não divulgado para o resto da família.

Pensando em morar lá e trabalhar no Rio seu pai inclinava-se por Petrópolis, que obtinha forte apoio de sua mãe. Jorge pedia que estudassem bem o local do sítio, deveriam estudar os possíveis crescimentos populacionais, preservando o fruto de uma vida de trabalho, a calma era fundamental para se fazer um bom investimento.

Neste ponto o reencarnado sentiu-se à vontade para abrir o jogo com seus pais... – Eu pretendo, logo que possível, montar uma clínica médica na cidade que

vocês escolherem agora, onde vocês irão morar quando se aposentarem. Acredito que meu pai possa ser um grande administrador em qualquer área, se possível montar um hotel fazenda, tratando das doenças através da medicina alternativa, usando o conhecimento espiritual dos dois para ajudar no tratamento mental dos enfermos, quero criar também um centro de emagrecimento e tratamento de beleza para os mais abastados, com isso poder financiar o tratamento daqueles que não tenham recursos, não todos, mas apenas os escolhidos... Eu sei que vocês estão me entendendo! O senhor seria de grande auxílio na administração desse complexo, utilizar os conhecimentos adquiridos nas reuniões esotéricas feitas em São Paulo, tratando tanto com auxílio da realidade invisível como também da medicina... De uma forma ampla, sem preconceitos. Vocês me entendem?

Esta declaração foi feita em agosto de 1979, a partir daquele dia, seus pais

passaram a procurar o local para a construção da dita clínica, a família como um todo se integrou ao projeto. As forças do grande plano ali entraram com muita abundância. Seu pai estava definitivamente livre de morrer do maldito câncer que o acometera no passado, não havia porque temer os próximos dois anos que viriam.

Com tantas mudanças de comportamento era natural um novo acomodamento

das coisas. Clarice estava completamente mudada, nunca se sabe o que ela teria escolhido se tivesse essa oportunidade, não se pode ter certeza dos desdobramentos das escolhas feitas, isto às vezes incomodava muito o reencarnado. Será que Clarice iria preferir seu antigo futuro? Com certeza essa nova menina, com mais conhecimentos, razoavelmente bem sucedida, em pleno uso de sua capacidade mental, não tão ligada às coisas do lar, sonhando com o sucesso, não gostaria da vida que levava no antigo futuro. Ela estava indo muito bem em seus estudos, gostava de biologia e química, não tinha dificuldades com matemática, dominava a língua inglesa... Aquela Clarice não guardava muitas semelhanças comportamentais com a primeira. Discutia os problemas com desenvoltura, sem a antiga timidez, conversava com os familiares sobre suas dúvidas existenciais, um comportamento avesso à menina do futuro passado!

Tantas mudanças, aos olhos de Jorge, eram frutos de uma harmonia familiar que nunca houve da primeira vez. Com constantes diálogos, mantidos entre pais e filhos, a segurança que nos é transmitida através do apoio familiar ficou estabelecida, a certeza de que não estamos sós nesse mundo de Deus provoca mudanças em nossa alma. A unidade familiar é básica quando se busca paz de espírito!

Na verdade o que mudara, e muito, era toda a estrutura daquele grupo. O convívio naquela casa era harmonioso, todos prestavam auxílio uns aos outros, ninguém se sentia abandonado, não se viam brigas diárias, tão comuns nos

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grupamentos humanos. Todos aprenderam a arte da ponderação, pensar bem antes de falar, não ofender gratuitamente os mais chegados. Havia muito amor entre eles, todos entendiam a força da unidade, o ponto de apoio de todos, podendo aprender com os conhecimentos trazidos por cada um do grupo, dentro da unidade crescente, assim o sentido da família ganhou um sentido mais amplo.

Jorge apenas teorizava a respeito, na verdade nunca soube os motivos reais, concretos, que conduziram sua família durante aquela metamorfose. Tamanha mudança não ocorreria por simples acaso. Ele queria registrar essa experiência, assim nascia o pensamento embrião que levaria o reencarnado a buscar o nosso convívio, a causa primeira, foi o que nos levou a trabalhar juntos por dois anos. Foi assim que fiquei sabendo de tão incrível jornada, da existência do projeto “reencarnados em vida”, se assim posso dizer. Uma viagem que desafia a credulidade de qualquer um! Estudamos nesses dois anos um meio de manter o reencarnado em segurança, o relato tinha por finalidade dar uma idéia de como mudanças se promovem utilizando apenas a Lei do Amor, a força de um exemplo e principalmente a força emanada de nossos pensamentos... Sim... Nossas irradiações mentais! Pensamento, essa incrível força invisível utilizada ao acaso, não direcionado, um poder maravilhoso desperdiçado todos os dias pela maioria dos humanos, a centelha divina jogada a esmo através da ignorância humana!

Com esse intuito tentamos imaginar como seria caso uma pessoa qualquer, como eu, por exemplo, reagiria numa aventura dessas. Com o auxílio do reencarnado e do “grande plano”, para mim, hoje, uma inegável realidade, traçamos as linhas mestras desse relato. Entre realidades e ficção, eventos inacreditáveis e lógica pura, o comum e o fantástico construindo um novo porvir para cada um que queira experimentar tal jornada... Cada um embrenhado em seu próprio espírito, realizando uma incrível aventura, através das épocas guardadas em suas mentes, sem medo das descobertas. Pensar... Pensar, com muito amor no coração, a respeito de suas próprias experiências de vida, tentando penetrar nas teias do tempo, realizando mudanças no roteiro escrito através de nossos cotidianos... Antevendo os desdobramentos resultantes, as possíveis mudanças. Sem poder voltar uma segunda vez, como se a tinta e o papel fossem uma nova vida e quem a desenha fosse uma espécie de “deus”, observando sua própria criação! Pondo em prática, no papel ao menos, já que não podemos fazer como ele, uma das mais incríveis jornadas que um ser humano pode realizar... A reencarnação consciente.

Alex já trabalhava no devido lugar. Sua atitude, porém, era diferente daquela

assumida no primeiro futuro, as mudanças se faziam notar. Já não tinha tanta pressa de ir embora de seu país, a família não o incomodava como no futuro passado. No final do primeiro 1979 ele já estava casado, desta vez nem falava nessa possibilidade. Somente após suas primeiras viagens à Europa é que demonstrou a vontade de assumir o papel de homem casado, ter uma companheira. Realmente ele também foi afetado pelo processo... Compreendia melhor as idiossincrasias dos que o cercavam. Gradualmente, com muito vagar mesmo, as mudanças eram por ele aceitas. Jorge sabia, entendia, até certo ponto, o processo pelo qual seu irmão estava passando. Alex foi o que mais conviveu com a antiga família, não participou das mudanças, esteve ausente durante três anos. Na verdade ele via as mudanças com um olhar céptico. O reencarnado ainda lembrava muito bem do passado, um que não reviveu nessa

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segunda oportunidade. Alex vivenciou horrores no trato diário daquela família, o que menos se beneficiou com as mudanças promovidas com a chegada do reencarnado.

O apoio encontrado por Alex fazia uma grande diferença, principalmente quando tomava suas decisões. Agora não estava sozinho, tinha amigos dentro de casa, conversava com todos sobre suas dúvidas. Da primeira vez nunca pediu a opinião de Jorge para nada. Naquele tempo, a distância entre eles só foi crescendo com o decorrer dos anos. Alex sequer tolerava a maneira de Jorge ver o mundo, não nutriu nenhum respeito por seu irmão, considerava-o um incapaz, no mínimo um louco, com certeza o antigo Jorge não era lá muito ligado à forma corriqueira de viver. Alex nunca soube ver as diferentes manifestações da paz. Agora era diferente, ele podia contar com todos, não sentia aquela necessidade de livrar-se de seus familiares.

As mudanças de Alex acabaram se refletindo no relacionamento que mantinha com a antiga futura esposa. A influência exercida pela família daquela mulher não encontrou terra fértil desta vez. Queria viver mais antes de assumir um compromisso definitivo com uma mulher, gozar os proventos de sua privilegiada situação profissional, mas ao mesmo tempo sentia-se muito solitário quando viajava para a Europa. Essa maior liberdade acabou por levá-lo a conhecer outras mulheres, conseqüentemente houve uma ruptura no vínculo mantido com a antiga futura esposa.

Definitivamente o apoio familiar é algo de vital importância na vida de um ser humano civilizado. Apoio este que deve vir antes dos acontecimentos, nunca após os fatos já estarem consumados. A amizade convivida cotidianamente tem uma força esmagadora. A confiança na retaguarda nos garante uma ousadia decisiva em alguns momentos. O amor penetra em tudo, vence obstáculos intransponíveis, confere alegria constante, contamina o nosso entorno, sentido até pelos que não nos querem muito bem. O amor acaba por nos libertar, fornecendo coragem nos momentos de escolha. Isto aconteceu com Alex.

Jorge a princípio ficou apreensivo. Desta vez foi seu irmão quem desfez as nuvens que pairavam sobre a cabeça do reencarnado. Eles agora eram amigos, o irmão mais velho sentia-se orgulhoso do irmão médico, vivia dizendo que o tempo elimina todas as diferenças. Conversavam muito nos momentos de folga, ambos extremamente ocupados, viviam para o trabalho e os estudos. Em uma dessas conversas Alex desabafou... Tinha medo de casar-se muito novo, deixar de realizar uma série de sonhos nutridos desde a adolescência, sentia um desconforto por isso, no entanto sabia ser possível realizá-los. Na verdade eram sonhos sem muita importância, sonhos de consumo, iguais aos de muitos jovens daquela época. Outros nem tanto assim, eram sonhos que envolviam a compra de bens, mas com maior relevância, comprar seu apartamento, fazer investimentos de futuro. Sonhos conflitantes no tocante ao lado financeiro, ficando entre gastar com “bobagens” e economizar para o futuro, garantir um futuro folgado ou cair na gandaia. A verdade é que o reencarnado não podia falar demais, correndo o risco de expor sua condição. Jorge frisou com veemência um fato que não devemos jamais esquecer.

– Alex você não pode esquecer que cada sonho tem seu preço. Você vai pagar o preço justo por cada um deles, conhecendo ou não o justo valor de cada um deles. Pondere entre suas opções. Você pode ficar por aqui e viver a incerteza deste país ou pode cavar um lugar na Europa, onde vai adquirir conhecimentos que nenhuma escola no Brasil poderá te dar, você sabe que é verdade! Vive falando das experiências de aprendizado que cada um vive por lá. Não sei como é sentir na pele todas as situações que incomodam um brasileiro na Europa... Torno a afirmar, isso sim, que você goste ou não cada

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caminho tem dores e alegrias, fixadas por alguma força quântica... Cada sonho tem seu preço. Não tire isso da cabeça... Força... Coragem meu irmão.

Alex casou-se com uma linda geóloga francesa. Alegando ter que resolver

problemas de ordem familiar da esposa desligou-se da empresa, não sem antes fechar um acordo com a empresa européia que financiaria seus estudos por lá. Esses acontecimentos foram considerados um “golpe baixo”, pois ele deveria render os frutos do investimento nacional. Com muita diplomacia saiu do Brasil, sem fechar as portas tão duramente abertas, sendo muito úteis no caminhar futuro. Muitos acontecimentos transformaram-se em sucessos devido a sua capacidade de negociação. O mundo sempre de olhos atentos aos detalhes, pequenos eventos que se tornam chaves do sucesso, a diferença entre ser bem sucedido ou se tornar um fracasso... Alex conhece isso muito bem.

Na verdade Jorge não se assustava tanto com as mudanças provocadas em sua “segunda chance”, já sentia que a compaixão é uma força transformadora, fornece vigor ao universo humano. O que é a matéria, as civilizações, nosso pequeno planeta, diante da poderosa força do cosmo?

Compaixão... Energia moral que atinge os confins galácticos, transformando homens em verdadeiros Deuses. Com o amor podemos sentir nossa insignificância em relação ao físico e à imensidão dos poderes da mente. Essa é a energia que devemos buscar sempre, tentando materializá-la em nosso cotidiano. Com disciplina mental doutrinar a mente, lutando contra desejos dolorosos, vícios, sendo realmente um integrante de uma raça superior, cumprindo o papel dos humanos na evolução cósmica. Todos nós conhecemos como é difícil o caminho da iluminação! Assim já dizia o mestre milênios atrás...

“No inicio do caminho da iluminação, há vinte dificuldades que devemos sobrepujar neste mundo, tais como: 1. É difícil a um pobre ser generoso. 2. É difícil a um orgulhoso aprender o Caminho da Iluminação. 3. É difícil procurar, à custa do próprio sacrifício, a iluminação. 4. É difícil nascer no mundo da iluminação. 5. É difícil atender ao ensinamento que conduz à iluminação. 6. É difícil manter a mente pura, diante dos instintos do corpo. 7. É difícil não desejar as coisas que são belas e atraentes. 8. É difícil a um forte não usar suas forças para satisfazer seus desejos. 9. É difícil não se irar quando se é insultado. 10. É difícil permanecer inocente, quando se é tentado pelas circunstâncias repentinas. 11. É difícil dedicar-se inteira e intensamente aos estudos. 12. É difícil não desprezar um inexperiente. 13. É difícil manter-se humilde. 14. É difícil encontrar bons amigos. 15. É difícil suportar a disciplina que leva à iluminação. 16. É difícil não ser perturbado pelas condições e circunstâncias externas. 17. É difícil ensinar os outros, conhecendo-se suas naturezas. 18. É difícil manter a mente tranqüila. 19. É difícil não opinar sobre o certo e o errado. 20. É difícil encontrar e aprender um bom método 6“.

Como vemos não é tarefa para os desinteressados. Na verdade é uma árdua e gratificante jornada, a ser vivida por cada um de nós nesse planeta.

Lembrem-se do que foi dito por outro grande mestre. “Ouviste o que foi dito aos antigos: Não jurareis falso, mas cumprireis para com o Senhor os vossos juramentos. Eu porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; nem jureis pela vossa cabeça, porque não podeis tornar um só cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; pois o que passa daí, vem do maligno 7”.

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E Ele continua: “Ouvistes o que foi dito: amareis ao vosso próximo, e odiareis ao vosso inimigo. Eu, porém, vos digo: amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os Publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os Gentios também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai Celestial. Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.”

É... Só posso dizer sim, sim... Somente isso... Sim, sim... Não, não...

A companheira Aos 69 anos de “vidas” ele ainda não havia encontrado uma mulher que fosse

capaz de aninhar-se em seus pensamentos... Complementar-se... Uma união sem restrições. A pessoa que buscasse a paz acima de tudo.

Sua vida já não guardava a mais remota ligação com o “passado distante”, tudo era absolutamente novo. Sentia-se cansado dos relacionamentos superficiais oferecidos pelas “mulheres do mundo”, preocupadas com os “mistérios gozosos do imponderável”... Caçadoras da volúpia... Ocupadas com seu grandioso “lugar comum”!

Na verdade essa é uma condição humana. A maioria dos jovens, de ambos os sexos, agem dessa forma, querem engolir o mundo de uma só vez! Desconhecem ou não admitem ser impossível esta proposta. Perdem alguns anos de suas vidas, perdem parte de sua “saúde”, em busca de algo desconhecido. Nunca se sabe exatamente o que se busca... Quem foi que disse que satisfazer os cinco sentidos é o melhor a se buscar? Realmente... Sobram, no máximo, muitas histórias pra contar, isso quando a morte não lhe toma nos braços numa destas loucas e indefinidas buscas pela eterna satisfação do corpo... Da mente?!? Só insatisfação!

Será que não existem outros meios para aplacar este vulcão de inquietudes? Será que iremos sempre pelo mesmo caminho? Não somos, todos nós, por opção, omissos? Assim sendo, não nos tornamos responsáveis diretos pelos atos destes jovens?

Pensamentos são cuidadosamente inseridos nas mentes de nossos jovens. Contaminados desde tenra idade com falidas concepções de vida. Ficando em total abandono mental, sem ter com quem contar! Podemos esperar maravilhas neste processo? Realmente os parâmetros condicionantes são de uma eficácia inegável! Quem se importa?

As mulheres que o reencarnado em vida encontrava pelo caminho não estavam fora do processo, ele é que estava fora do sincronismo moderno. Vivia dentro de parâmetros discordantes dos vigentes, uma mente alienígena aos homens de sua aparente idade. As mais maduras entravam em sintonia com suas idéias, mas as de sua idade física queriam “viver a vida”. Ele ouviu várias vezes:

– Quando vou curtir a vida? Depois que estiver velha e acabada? O momento é agora! Depois já era...

O problema, ou a solução, é que ele já tinha muita história pra contar. Os momentos de folga eram um tormento de lembranças. Tantos amores na

primeira vez, já na segunda... Tão poucos! Somente Bianca e uma colega da universidade tiveram algum significado. Mas este segundo amor tinha uma postura radicalmente oposta a sua. Acreditava na medicina dos fármacos, não gostava de suas idéias. Afirmava que sua linha de abordagem era um amontoado de sonhos e

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devaneios. O que ela não poderia saber é que ele conhecia o futuro da medicina. Incompatibilizaram-se profissionalmente, a paz entre eles andava na corda bamba. Ficavam impraticáveis os diálogos sobre seus projetos futuros, a sonhada clínica se tornou um estorvo. Pior, a clínica já estava surgindo no plano físico... Terreno, projetos... Não podia viver esses conflitos dentro de seu coração.

A ele faltava experiência, seria necessário trabalhar alguns anos dentro dos parâmetros convencionais, enfrentamentos com a saúde pública, hospitais de grande porte, clínicas privadas, atendimento de emergência, essas vivências seriam de suma importância na construção de seu futuro profissional, diversificar experiências era fundamental. Para tanto contou com a ajuda de amigos de seu pai, possuidores de uma privilegiada posição dentro da comunidade médica, indicando, sempre que possível, o “caminho das pedras”.

A realidade dentro das instituições de saúde mostrava-se desalentadora, andava bem feia, e iria ficar ainda pior. As condições gerais da saúde pública no Brasil e em muitos países em desenvolvimento, principalmente em determinadas épocas, são deploráveis, um quadro capaz de provocar vômito, basta apenas não ser cego. Mudar tão deprimente realidade não é trabalho para um só homem, é trabalho político, utilizando programas governamentais e a determinação da sociedade em cobrar e fiscalizar o processo de mudança. Infelizmente a saúde é negligenciada por muitos dos que “lá” fazem fortunas. Jorge conhecia o futuro de seu país, sabia que a situação se agravaria nas próximas décadas, tinha visto o caos da saúde no Estado do Rio de Janeiro... Ele esperava estar fora deste circuito no máximo em 10 anos, podendo clinicar com uma bagagem apresentável e ainda com sua psique saudável. Não sendo inexperiente seria tratado de forma mais digna. Ali ele seria necessário durante algum tempo, ajudando aqueles que necessitam do Sistema de Saúde Pública, não privilegiados pelo sistema econômico... O que mais resta a esta gente?

Foi numa aventura de férias que veio a conhecer a pessoa que... Era uma noite

fria, o céu estava coalhado de estrelas, o guia sugeriu que fosse até o centro das ruínas para contemplar a galáxia.

– Quem sabe alguma mensagem dos Céus chegue até você, aqui acontecem coisas mágicas.

– Minha vida já está repleta de magia. É... Uma mágica a mais não faz mal. Quem realmente conhece todos os desígnios de Deus? – Jorge sorriu, vestiu seu casaco e pôs-se a caminho.

– Não vá se perder por ai... Ele sentou-se em posição, recostando em um muro de pedras, uma contenção. O

frio era intenso, o vento acentuava a baixa temperatura local. Somente alguém que domina as técnicas do controle mental suportaria permanecer naquele local. Ao invés de contemplar estrelas entrou num profundo transe. Iniciou uma viagem astral, voando poucos metros acima do solo, em baixa velocidade navegava entre as ruínas. Sentindo um magnífico bem estar, naturalmente aumentou a altura de vôo, uma leveza incrível abarcou sua alma... Um lago? Ele vislumbrou um lago, um pequenino lago, perto de sua margem havia um poço, ao seu lado uma pessoa que permanecia imóvel. Vagarosamente pousou ao lado daquele enigmático ser, vestido com pesada túnica, escondendo a cabeça dentro do capuz volumoso. Aquela figura permanecia contemplando o solo, somente quando ele pousou a seu lado a entidade se movimentou, passando a mirar-se nas águas daquele poço. Neste momento Jorge

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sentiu, percebeu, que o poço estava quase transbordando. Águas como um espelho... Ao olhar o reflexo daquela entidade vislumbrou um rosto de mulher!

Aquela enigmática figura encapuzada sacou de suas vestes uma pequena concha de ouro, mergulhou-a nas águas daquele poço e oferecendo-a para ele fazia gestos com a outra mão, indicando que aquela porção de água deveria ser sorvida...

Ele sentiu que não havia riscos naquela situação, alguma energia poderosa estava presente, algo desconhecido por ele. Sentida na mente e, estranhamente, refletida na parte baixa de seu corpo, causando formigamento entre seu ânus e seu escroto. Com certeza uma força primária, animal, intensa... Podia senti-la dentro de seu corpo. O temor não era uma opção, esse sentimento não apareceu naquele momento. Deveria fazer exatamente o que a misteriosa figura solicitava... É... Falava dentro de sua mente!

Ao beber daquela água, bebida de um só gole, se viu sendo puxado para dentro do poço... Literalmente mergulhando naquelas águas. Sobrenatural circunstância... Viu-se como um poderoso guerreiro, voltando da batalha, vitorioso, sedento, o corpo gritando, exigindo que suas vontades fossem satisfeitas. Uma forte ereção tomou conta de seu membro... Viu-se entrando num grande salão, repleto de mulheres. Ao ser notado foi sugado por violento campo energético, magnífica atração exercida pelos corpos femininos ao seu redor, inevitavelmente, mesmo sem tocá-las, ejaculou em abundância. Quando elas tocaram seu corpo sentiu uma onda de orgasmos muito fortes... Tão completos... Indefinível... Todos os poros de seu corpo experimentaram uma sensação de gozo... O desmaio foi natural.

Abriu os olhos assustado... Tudo bem! Não sabia se havia sonhado ou realmente vivido uma fantástica experiência. Uma aventura no plano astral.

Sentindo um pouco de cansaço, aquele bizarro acontecimento consumiu alguma energia, decidiu voltar para o alojamento. Pôs-se a caminhar, não tinha percebido o quanto estava distante dos alojamentos. Quando olhou para esquerda avistou uma figura caminhando por outra trilha, uma mulher, assim parecia. Com cabelos compridos, gorro na cabeça e bem agasalhada, ela caminhava apressadamente. Como as trilhas se uniam um pouco mais à frente, o encontro seria inevitável. Propositadamente coordenou o passo, chegando ao ponto de união das trilhas junto com aquela mulher. Naturalmente eles pararam e se entreolharam... Sua expressão de assombro prendeu a atenção dela. Ficou parado, completamente estático com os olhos cravados em seu rosto. Ela deu alguns passos, parou e voltando até ele, ainda paralisado...

– Não fique aí parado, parece que viu um fantasma. Por um acaso tenho cara

de assombração. – ela falava num “carioquês” fluente, notadamente tinha vivido algum tempo no Rio de Janeiro. – Vamos cara! Você tá doidão? Tá um frio danado... Reaja homem!

– Desculpe-me, é que tive uma experiência diferente, estranha, um treco fora do comum. Peço perdão, não tem nada de errado com você, não, pode acreditar.

– Claro que não. Só que você não escapa sem me contar que experiência foi essa. Onde você vai dormir?

– Você é bem direta, né? Tudo bem... Desculpe. Vou dormir na cabana que o guia me arrumou.

– Com esse frio não dá pra ficar aqui parada. – ela riu. – Então vamos até lá dizer a ele que você vai passar essa noite comigo. – fez uma carinha de menina safada e riu gostosamente.

– Que isso? Por que eu faria isso?

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– Vamos andando... Tu é complicado, é? Você vai me contar essa tal experiência! Já estou aqui há 30 dias e ninguém que conheci disse ter vivido alguma coisa fora do comum. É pra isso que a maioria vem até aqui... Ou não? Além do mais estou viajando há algum tempo e estou com saudades do Rio... Você é do Rio, não é?

– Sou sim... Você tem razão! Dizem que quem não corre riscos não degusta a vida. Tudo bem! Vamos nessa! Alem do mais passar a noite conversando é muito gostoso, não é?

– Não vai se animando muito não... Ela balançou a cabeça e foram caminhando. Já chegando em sua cabana a

primeira coisa que ela fez foi acender a lareira. Em poucos minutos o ambiente estava agradavelmente aquecido. Mas foi quando ela tirou o gorro e aquela vestimenta pesada é que ele pode vislumbrar o esplendor daquela mulher. Realmente uma bela fêmea... Branca como as nuvens, com lindos cabelos castanhos, cacheados, lábios bem desenhados e carnudos, bochechas rosadas, nariz de boneca, olhos cor de mel, 1,70m de mulher, esbelta, de movimentos leves e suaves... Nossa! Um sonho de mulher!

Agora ele já não a achava tão parecida com o reflexo que vira nas águas do poço astral. Seu brilho pessoal tinha tomado conta da mente de Jorge. Ao lembrar-se do reflexo nas águas do poço um pensamento tomou conta de sua mente... Era mais que um pensamento, uma imposição astral, sentia as forças emanadas dos mestres, eles estavam ali, presentes, participando de todos os eventos...

– Vamos fazer uma meditação antes de começarmos a conversar. Só assim

poderei sentir se posso lhe contar a minha experiência. – Tudo bem! Então vamos tomar um gole da minha água energizada. Ela abre

os olhos para o mundo invisível. Ao falar na água ele ficou apreensivo novamente. Ela o pegou pelo braço, levou-o

a um canto do cômodo e abrindo uma espécie de oratório mostrou a miniatura de um poço cheio de um líquido incolor. Ao lado do poço jazia uma pequenina concha dourada, assemelhada àquela utilizada pela misteriosa entidade... A experiência parecia estar se repetindo! Ela mergulhou a conchinha no poço e bebeu o líquido, repetindo a operação ofereceu a ele a concha com o tal líquido. Ele bebeu a misteriosa água magnetizada... Seria possível tudo ser só coincidência? Seria uma premonição? Seria mais um movimento dos mestres, jogando o incansável xadrez da eternidade?

– Vamos lá. Assuma sua posição. – ele falou com autoridade. – Tudo bem! Você é quem manda. Segundos depois eles já estavam fora de seus corpos. Para ele aquilo era

comum, natural. Ela já não estava tão familiarizada com tais acontecimentos, principalmente ao ver a aparência dele, bem diferente de sua atual condição. Era outra pessoa perante aos seus olhos! Ele no plano astral apresenta a aparência que tinha antes de viagem, seu corpo astral estava assim há anos, como que esperando o corpo atingir a mesma condição, a idade exata do início da incrível jornada. Ao ver aquilo ela ficou assustada.

– Você percebe a diferença? – ela apenas balançou a cabeça positivamente. – Acalme-se, vamos voltar. Caso você fique apavorada não conseguirá lembrar-se de nada, as imagens irão se misturar e talvez acabe tendo uma terrível dor de cabeça.

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Ele foi baixando, retornando a seu corpo. Ela, ato contínuo, sentiu-se puxada de volta ao seu. Ao abrir os olhos ela levantou-se rapidamente e ficou olhando-o com uma expressão de assombro...

– Quem é você? Que loucura é essa? Sempre tentei fazer essas coisas e só tinha conseguido as tais dores de cabeça. Eu também tenho outra imagem quando saio do corpo? Que cara tenho? Nunca ouvi dizer nada sobre isso! É muito louco! Quem é você?!

– Você não queria saber qual a experiência que vivi horas atrás? Já que você conseguiu me ver claramente no plano astral, acho que posso te contar.

Ele contou em detalhes a sua experiência. Ela acompanhava com os olhos arregalados a narrativa. Agora se dava conta que tinha convidado um estranho para passar a noite em sua cabana, não entendia o motivo de ter feito aquilo. Era incrível demais, no mínimo perigoso, o tal cara era muito louco, talvez um psicopata perigoso. Ela estava à beira de um ataque de nervos.

– Você entende, agora, o motivo que me levou a ficar te olhando com tanto espanto?

Ela permanecia calada... Ele ainda em posição... Fechou os olhos como que dando uma opção a ela. Podia agredi-lo, fugir, enfim, fazer aquilo que sentisse ser melhor... Nesses segundos, enquanto ela pensava no que fazer ele ouviu um antigo amigo sussurrando em seu ouvido... Depois de tanto tempo em silêncio!

– Você não veio passar esse tempo aqui sem motivo algum. Não questione...

Apenas aceite o que vou te dizer. Ela é a cúmplice que tanto procuras, ajuda-a, ela será uma grande companheira, a opção é sempre sua, não é a primeira vez que vocês se encontram no labirinto das épocas. Trate-a muito bem, jamais revele a ela... Este será o único segredo que terás de guardar dela... Ela será uma das beneficiadas com tua experiência. Caso você tenha sucesso, ela fará uma viagem como a tua... Não nessa vida... Em sua próxima reencarnação. Já te disse... Trate-a com carinho... Nós a amamos muito... Tanto quanto te amamos. Amamos muito! A todos vocês “viajantes internos”. Vocês não possuem a real consciência do valor disto tudo que estão vivendo... Assim deve ser... Em pequenos movimentos, como em um cântico de amor... Pequenos movimentos, até ajustar todos os pontos, até atingir o alinhamento perfeito... Perfeito... Como é tudo no Universo! Que o amor divino reine em vossos corações.

Ela olhava para seu inusitado visitante e seu espanto aumentava, sentia “alguma coisa no ar”. Via as lágrimas começando a brotar de seus olhos. Alguma coisa estava acontecendo...

Ele abriu os olhos... Fitou-a... Sentiu que estava mais calma e pediu com doçura...

- Sente-se novamente em posição, bem perto de mim, gostaria de lhe dar um pouco de energia, um pouco de paz. Não tenha medo, nunca farei mal a você.

Quando as mãos deles se tocaram, um sentado em frente ao outro, sentiram a força da “teia das épocas”. Ambos sentiram o amor que os envolvia há séculos. Ela entendeu porque o tinha tratado com tanta intimidade, porque tinha convidado aquele homem a passar uma noite em sua cabana. Ele não era um estranho e sim um de seus mais antigos afetos. Ele entendeu porque as águas daquela mulher tinham sugado o seu ser, levando-o a misturar-se em sua alma... Sentia seus lábios... Como que beijando o próprio espírito daquela mulher... Sentimentos maravilhosos, puros, fortes e ao mesmo tempo ingênuos.

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Ele beijou sua testa com o carinho eterno, suavemente... Transmitindo calma. Pediu que tivesse paciência com ele. Contou como andava aflito, necessitando de alguém com quem pudesse dividir suas “loucas” experiências.

Jorge passou a noite inteira explicando o que ele fazia... Seus planos... Ela achava tudo uma grande loucura, mas não podia negar o que viu, um outro Jorge astral, um homem mais velho, um monge! Ela não sabia que estava olhando para o primeiro “Reencarnado em Vida”.

– Quando você vai pra casa? – perguntou Helena. – Agora que te encontrei... Gostaria de ir só quando você fosse também. – Não! Você tem que me dar um tempo... Preciso me acostumar com tudo isso! – Eu vou embora amanhã mesmo, ou melhor, hoje. Não tenho mais nada o que

fazer aqui. Este lugar é realmente mágico... Minha vida é repleta de eventos mágicos, mas a mágica que deveria acontecer aqui já aconteceu... Você é a grande mágica que vim buscar. Não quero exercer nenhuma influência em suas decisões. Repetindo o que meu mestre sempre fala... A decisão é sempre sua... Se você quiser me procurar é só me ligar. – ele sacou um cartão de sua carteira, desenhou a letra Tau maiúscula e entregou-o a Helena. – Gostaria que você me procurasse, gostaria muito mesmo... Eu já estou te esperando.

Ele lhe abraçou, beijou seu rosto, sua testa e... Um beijo incrível, de subir a temperatura, aqueles eram os lábios divinos que ele esperava... Um beijo cheio, apertado, quente, vivo... Línguas em fogo... Procurando dar o máximo de carinho um a outra... Um grande torpor tomou conta dele, quase um desmaio!

O dia já estava clareando quando ele havia saído correndo da cabana, iria embora à primeira oportunidade. Ele deveria esperar por ela... Esperar sua decisão.

Ele freqüentava congressos, feiras e muitos outros eventos que tratavam de

temas ligados à religião, esoterismo, medicina alternativa e, obviamente, à “medicina tradicional”. Ele nunca entendeu o porquê de o mais antigo ser alternativo e o mais novo ser tradicional, enfim, era assim que as coisas eram tratadas... O dinheiro, sempre o tal do dinheiro, é sempre ele que dita as regras do jogo. Alguns se limitam a dizer: A vida é assim mesmo!

Em tudo buscando conhecimento, mas a solidão ainda continuava a corroer sua alma. Esse era um sentimento que ele ainda não dominava. Um sentimento? Vários na verdade, um misto deles, muitos até então desconhecidos, alguns ainda sem sequer uma palavra para designá-los.

Já haviam se passados seis meses desde que havia tido aquele encontro inesquecível, seis meses esperando, pensando em Helena. Algo nele já cobrava uma atitude... Esquecê-la? Desistir daquela esperança. Tinha se convencido de sua inabilidade, certeza de que algum erro havia sido cometido. Foi tudo muito rápido, repetia para si mesmo, ela certamente não queria mais ver um maluco como ele. O pior é que ele não sabia mais nada a respeito dela, apenas conhecia seu primeiro nome. Nada além de seu primeiro nome... Sem um telefone, um endereço, um referencial qualquer, nada. Não detinha nenhuma informação a respeito da única pessoa a quem poderia, quem sabe, contar, dividir sua experiência única.

Naquele fim de semana enquanto conversava com um colega, tomando uma água mineral, entre uma palestra e outra, ouviu uma voz que lhe chamou a atenção.

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Vagarosamente... O coração iniciando uma louca disparada... Ele iniciou um giro de 180 graus... Aquela voz detonou um mundo de reações em seu corpo, estava prestes a provocar seu desfalecimento. O giro estava durando uma eternidade.

Os olhos de Helena se arregalaram... Sempre falante estancou em sua exposição, parou de andar, ficou estática ao ver aquele homem novamente. Não sabia definir o que estava sentindo, lembrava distintamente de duas coisas: o beijo inesquecível e cheio de paixão... Arrepios corriam por sua espinha todas as vezes que se lembrava daquele beijo; o homem que se dizia cheio de momentos mágicos. Uma lembrança que vinha acompanhada de experiências místicas. Para ela a mais significativa de sua vida. Aquele homem representava os seus maiores medos e os maiores desejos. Permaneceu estática, olhando firmemente para os dele...

– Vai ficar aí parada mulher? ... É você mesmo, não é? Helena... Não é uma

visão, é? ... – Jorge arrancou aquelas palavras. Tentando não mostrar sua condição. Vagarosamente dirigiu-se até ela que ainda tinha dúvidas se deveria falar com ele. – Helena, por favor, diga alguma coisa, você quer que eu vá embora? – baixou a cabeça e já ia começar a virar-se...

– Não, por favor, não... Eu quero você! – Ela não sabia bem porque havia dito aquilo... Saiu sem querer.

Ele voltou seu olhar para seu esplendor, seu rosto... O beijo foi inevitável, mais profundo e arrasador do que o primeiro, um beijo sonhado durante meses, ambos haviam desejado aquele segundo beijo, durante todo esse tempo, jamais haviam se perdoado, não poderia ter sido somente um, cada um a seu modo tinha se arrependido por não seguir os impulsos da carne.

Ninguém saberia dizer o tempo que a cena durou, os dois só lembram o quão bom foi aquele reencontro, o quanto representou para cada um.

– É ele, só pode ser ele! Helena, tá todo mundo olhando! – sua amiga provocou o fim daquele transe.

Quando eles olharam havia várias pessoas sorrindo, cúmplices daquele momento, um beijo contagiante. Exalando paixão e verdade... Amor.

Abraçaram-se e ficaram assim durante minutos. Se cheirando, se acariciando, guardando sentidos, coletando emoções, tornando aqueles momentos eternos... Um registro na aventura humana.

Ele tinha lágrimas em seus olhos... Ela parecia um anjo... O amor brotou com força. Eles não se lembravam de haverem sentido algo parecido em suas vidas. Algo espiritual, não somente uma coisa da carne. Ele há muitos anos já vivia repetindo ser impossível “dois viverem vida de um”. A fusão era mental, homogênea, totalmente indescritível.

– Eu joguei fora aquele cartão. Fiquei arrependida depois, já estava longe

demais pra voltar e procurar por ele. Nunca te esqueci, pensei que nunca mais ia te ver. Você me deu o cartão e saiu correndo...

– Você não vai me apresentar? – Carmem já conhecia parte da história. – Já ouvi falar muito de você. É ele, não é?

– Não precisa se preocupar. – Helena captou a apreensão nos olhos de Jorge. – Qual seu nome? – perguntou Jorge. – Carmem Lúcia, trabalho no jornal junto com Helena, só que escrevo sobre

outros assuntos, quem trata destas coisas de maluco é ela. – Carmem, ele nem sabe onde trabalho. – Eu só sei o seu primeiro nome, mais nada... Mais nada!

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– Nossa Senhora! Isso parece novela. Não dá nem pra acreditar. – Você não sabe de nada. – Helena soltou uma gostosa gargalhada e olhando

para Jorge acrescentou – Ele sabe meu nome, ótimo! Agora eu pergunto: qual seu nome? Como é que eu iria te apresentar a ele se nem do nome dele eu me lembro?

– Meu nome é Jorge, sou médico, nutricionista, homeopata e cirurgião... Gastroenterologista. Tenho que me manter aberto aos tratamentos ditos alternativos, o antigo vem se tornando moderno à medida que a medicina tradicional falha. – acenando com a mão, pedindo que seu colega se aproximasse – É meu colega Carlos... Helena... Carmem... Te abandonei, me desculpe.

– Que isso, deu pra sentir que você tem uns assuntos pendentes com a Helena. – Carmem não fica chateada comigo, mas eu vou roubar sua amiga por uns

momentos. Carlos é um cara bacana. Por que você e a Carmem não tomam aquele café que tanto queria. Você aceita um cafezinho Carmem? O Carlos adoraria pagar um café pra você.

– É né! Depois desta dispensada é bom mesmo tomar esse cafezinho pra subir o moral... Vamos Carlos, seu amigo é bem direto.

– Que isso! Eu só... Na verdade você compreende, tenho certeza disso. – Claro que sim! Tava brincando com vocês, dando uma valorizada. Vai lá, vai.

Eu sei que vocês querem muito conversar. Vê se dessa vez não vão esquecer de, pelo menos, escrever o nome um do outro num pedacinho de papel, pelo menos isso!

– Jorge você vai assistir à próxima palestra? É daqui a uma hora. – perguntou Carlos.

– Sei lá irmão... Sei lá. Eles se dirigiram a um local arborizado, sentaram-se num banco e ficaram uns

minutos se olhando. Pareciam se comunicar por telepatia. Sintonizados um na mente do outro.

– Você entende... Um dia você vai saber toda a minha história, é tudo uma questão de tempo, com o convívio nos conheceremos melhor. Tomei um susto... Só por um segundo, mas pensei que você tivesse contado todos os detalhes de nosso primeiro encontro, aquilo tudo que lhe contei, não saberia como agir... Tudo bem... Acho que estou só há muito tempo.

– Jorge... Tenho que me acostumar a te chamar de Jorge... Já tinha te dado tantos nomes. Na verdade eu não entendi muito bem nada do que você me contou, o que me manteve ligado em você foi aquele beijo... E esse agora... Nossa! Aquela história eu não contei pra ninguém porque toda vez que pensava em contar alguma coisa pra alguém... A boca travava... Não conseguia falar... Ficava com a cabeça embaralhada, sei lá... Passei a não tentar mais, não queria contar aquilo pra mais ninguém... Entendeu? Não tenho nenhum mérito nisso, tentei contá-la várias vezes, apenas não consegui! Muito estranho... Muito louco isso, né? Uma jornalista não conseguir contar uma história. Você não acha?

– Você quer falar sobre isso agora? – Na verdade eu preferia deixar aquilo tudo pra lá. Deixa isso quieto mais um

tempo, tá? – Tá legal. Esquece isso, quando você quiser conversar sobre esse assunto é

só pedir, fique à vontade... – ele já foi segurando a sua mão e fazendo pequenas carícias.

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Nunca mais Jorge e Helena se sentiriam sós. Aquele amor estava nas linhas do

tempo, caminho ditado pelos destinos do próprio cosmo. Nunca tentaram ser um, pelo contrário, cada um passou a viver sua vida mais intensamente, sabendo ter um repouso certo para seus corações, a sensação de solidão havia sido dizimada. Nunca mais estar só... Mesmo estando na Antártida. Amar é jamais estar só.

Reencontrando o Passado

Chegou um pouco antes da hora marcada, com uma enorme curiosidade, por que

não dizer, com muita necessidade de confirmar a veracidade dessa aventura! Subia aquele morro não com os olhos na igreja, subia buscando a cena que

pairava em sua memória... Dois homens seminus um de frente para o outro, na chuva, executando movimentos lentos, uma situação muito estranha... Em frente ao mar, no alto de um monte, ponto estratégico daquela cidade...

Quando se deparou com ele mesmo, nossa! Seu passado... O coração disparou... Ficou desnorteado... Esgueirou-se tentando ficar escondido daquele outro ele. Quando aquela cena atingiu seu ápice seu outro eu, o “dia da partida”, desapareceu em pleno ar... Por alguns milésimos de segundo pensou ter sentido seu antigo eu presente. Saiu correndo... Quando se deu conta estava quase no local combinado, não sabia bem por que pôde ver aquela cena do passado... Não entendia... O choro foi saindo sem controle, convulsivo.

Depois de controlar um pouco seu estado emocional, foi posicionar-se no local combinado “dias antes”... Dias antes?! Agora já contava com 83 anos de vidas naquele receptáculo. Olhou o relógio... Eram 5h e 45min, dia 2 de janeiro de 2007, uma manhã que marcaria o destino da humanidade, a porção dela que vive naquele planeta, desejando a evolução da espécie, um infinitésimo do cosmo... Naquele ponto minúsculo da galáxia, mas que naquele momento, tão pequeno planeta, entrou para a história dos seres sencientes do universo. Mais um passo havia sido dado, uma vez mais foi fundido o passado e o futuro na luta eterna pela evolução. A própria eternidade necessita evoluir.

– Mestre! – Por que o espanto querido? – Eu vi... – Você tinha dúvidas... O grande plano foi, mais uma vez, generoso com você.

Apenas uma abertura no espaço-tempo... Fui orientado para isso. – Sinto-me envergonhado mestre. – Não fique assim... Você foi o primeiro. – Venha Mestre... Venha conhecer uma pessoa, minha amada companheira. -

Abraçou seu antigo mestre emocionado, sentindo-se aconchegado mais uma vez... Novamente com seu amigo.

– Não é necessário chamar-me de mestre! Agora você é o Mestre rapaz... Nós é que teremos que aprender com você. Devemos procurar registrar tudo o que você viveu... Assim outros poderão tentar também se reformar... Mesmo sem terem feito a “inversão” que você realizou.

– O tempo é algo que só existe para os que não abarcaram a concepção da eternidade, não conhecem as realidades quânticas do universo.

– Você... É... Você tem muito para ensinar. – Mas mesmo assim sinto mais conforto chamando o senhor de mestre.

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– Acho que o caminho, a pessoa certa para nos ajudar nesses registros está muito próxima! O grande plano sabe como tecer a rede dos destinos.

– Vamos... Vamos então encontrar o próximo a ser envolvido nessa aventura. – Temos todo tempo do mundo... Calma... Tudo há seu tempo. – Venha Mestre... Eles se abraçaram mais uma vez, Jorge limpou o rosto com o lenço. A segunda

etapa de aventura estava apenas começando... A eternidade começava a se descortinar à sua frente mais uma vez. Uma infinidade de conhecimentos a serem degustados. O caminho do conhecimento... Sempre ele!

Referências

1 A Bíblia Sagrada – João Capítulo 14, Versículo 02. 2 A Bíblia Sagrada – Lucas Capítulo 12, Versículo 48. 3 A Bíblia Sagrada – Mateus Capítulo 06, Versículos 25 a 34. 4 A Bíblia Sagrada – João Capítulo 15, Versículo 12. 5 A Bíblia Sagrada – Mateus Capítulo 22, Versículos 36 a 40. 6 A Doutrina de Buda – Dharma; O Caminho da Purificação; A Boa Conduta - item 10 – 1966 Bukkyo Dendo Kyokai. 7 A Bíblia Sagrada – Mateus Capítulo 05, Versículos 33 a 37.