REDONDI, Pietro. Galileu Herético.
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~)L~,:;~Mob m i (;lloj~.:J;\
ati:.
:> r .
;;~.: O
OOI'.DV,.c'
P/ETRO REDOND/
G LILEU HERTICO
Traduo:
JLJA MAINARDI
~~
CUMPANH IA
DA S
LETIZ,\S
~ O14 . ~
~~: ;-,~i
~
-
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Dados de Catalogao na Publicuof CfP) Internacional
C;1I11araHra~iltoir,: du Livro. SP, Brasil)
Redoudi. Pictro. [l)::-(j
(~alilcll hcrvuco , Pictro Redor-di tr.lih~?t Julia
Mnina rdi.
'i.'\,.
i',wl,.: Compauh a d,,~ Letras.
jJ.
I.
I Ci~nl'la- l-ilovoia - Hrstutia 2. Cincia renuscvn-
h~a
l-ilo-
,Iftil
.1. Calih:i, Galih:o ISb4-lb-12 I. I ituio.
NDICE
'110320
CUL'SO J.2
501.
ndices para catlogo sis temnco:
1. Cincia : Filo,oria : Histria SOl
2. Cientistas: Biografia e obra ~.2
3. Eilosofia c cincia: Histria SOl
- ' o
Renascena: Cinciar : H i: o tr i, da~ id'~~~SUl
Introduo .
O olhar do inquisidor,
7.
Questes e intenes, 11.
.0 1. Substituio de teoria r,.
: 1 - ' ~ ' ~ ' . ' ~ ~ . .r.: .:.:
~'.:~~.... . 1S
A matria da luz, 15.
Minimi quanti
e tomos sem quan-
tidade, 20. Hypotheses non fingo , 27.
Copyright 1%3, 1988 . Giulio Einaudi Editare s.p.a .. Torino
2. Cometas: pressgios de desventura . ;~::,':I:.,~/..
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l'xt'gticas. 17
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e. em primeiro plano. um singular reflexo da colunata da praa nos
escuros vitr ai s da sala das Audincias Gerais.
No interior do aposento havia. por outro lado, um reflexo
oe
tons prpura: um ~:..o. Era um retrato cie dimenses notveis,
ele so ~9~erto Bcllarmino, por tanto tempo cardeal inquisidor entre
- . .. _
aquelas paredes. Nuiricerto sentido. era como .;:e o dono (L casa
tivesse aparecido para receber-me (figura 16).
A pequena figura do cardeal era ali repre.ientada de p, as
mos juntas sobre um volume aberto em cima de uma escrivaninha
atulhada de livros abertos e fechados. conxtelar.os de sinais - a
imagem da fabulosa erudio de Bellarmino.
'. Retrato;do cardeal Bel lannTno 'existem muitos. e clebres.
Aquele que eu tinha diante de mim, no entanto, era praticamente
desconhecido. Produzia uma estranha sensao perceptiva. O qua-
dro parecia.
COI11
efeito. conter uma imagem escondida: um outro
retrato. id ntico a este e impresso em minha memria. mas dissi-
rnulado por qualquer coisa que
:1:.::
impedia de reconhec-to
pri-
mei ra vist a.
A luz da aurola que coroava a cabea do cardeal serviu para
es c l ar ec er tal s ens a~i o.
Aquela aurola declarava. de modo no menos vistoso
l/UC
um
anncio em non, que o quadro era uma obra m.rito recente. Uma
cpia. Remontava provavelmente aos anos 20, poca em que ikllar-
mino fur:~ rumorosarnente beatificado, em 1923, (~ep;Jis de um pro-
cesso sem precedentes pela durao, adiamentos, importncia dos
reCUrSI)S e polmicas.
Lu me lembrava da fotografia do original do qual se fizera
aquela cpia. Qualquer um por.e encontr-Ia Ia-ilmente, pois ela
.lusrr.:
anip.ll Roherto Hcilarmu,o da clebre Enc.clopedia italiana,
\ Iegc'nda
clu quela fOIO
diz: de u.n
quadro de F'ietro
d.. Corrona.
i:Ollla.
Cri:l
; er a
da Com p a n h i.t ele JeSIs .. t ( Iigrra 17)
No me perguntem mais nada porque. at onde sei. tudo o que
cxisu. do rct ra
to
original
aq uela foto e a sibili
.ia
legenda que a
acompanha. Todo o resto um en igma, que fico ':lem feliz em con-
liar aos cllegas histori.rdorcx de arte.:
l'.,de'.'>l' )K1S,;r ',;r
urna
''.I:JlJiii') deruasi.ido gcncnsa, de
,ida t;;lVC ao uo de C.Ul: um Be'Iarmino muito velho, como aquele
reprouuzido I:a oto (k retrato original, teria sid um ObJU privi-
kgiad,) rar a 11m Pictro da Cort. -n a em incio de carreira na corte
rorn ana , Ou t a l vez pruque ,
C0l110
em outras obras
juvenis
(1:-Pictro
':a Cortona, (; il11bm este quadro
parece.
pela foto. -er '1 1 \1 iL l rinro.
.,
, , '
.,
A
R
, ' 1
I
t
como se diria no sculo XVI I , ou seja. com uma predominncia
de reas escuras. Ou at porque,
'.'0 11 10
os outros raro s retratos de
Pietr o da Cortona, tambm este parece bastante
verdadeiro.
Como se disse, aquele retratado um Bellarmino muito velho,
que chegou, atravessando doenas e penitncias, ao respeitvel li-
miar dos oitenta anos. Mal': ainda do que o branco dos cabelos e da
barba, so as dimenses f.elrnente desproporcionais do nariz e da
orelha os sinais reve.adores de uma idade muito avanada.
No muito diferente disso o cardeal devia parecer a ~~~ ....
na manh de 26 de fevereiro de 1616, quando o cientista foi convo-
cado s salas do Paraso no palcio do Vaticano - residncia oficial
de Bellarmino -
para
receber o comunicado da condenao de/
Coprnico,
CA-')'1e'Y~t.~ . , .
-X'~teno excepcional daquela audincia privada era uma
prova da profundaCi;lererr~d() .
( Um o lha r digno de um grande cardeaL ~ass~lodas
1
as congrch;lc~ fOl 1.ills.--.; ,C_Jiln...i. l~
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Em sntese, aque le do ret rato original um olhar impressio-
nante, digno do grande homem de Estado : do gr-.nde inquisidor
que Bellarmino foi em seu tempo. u~ma p allela~ (I)
O
olhar do careal IkJ;'trmno mudou porque mudou o olhar
.
. ._ _
.---- ..
__
..- -- - _ _ . .. --- _ . . .
de guem o retrata .
. --- '-~\'~;te
d~'~1 l
copista pode, por uma virtude secreta, chegar a
imitar exatamente um desenho original. Esta cpia, ao contrrio,
exibe um empenho e um fascnio diversos
e
m enos secretos.
A
inten-
o era provavelmente
reproduzir
o original para
camufl-Io,
para
obte r assim um resul tado ao mesmo tempo
idntico
e irreconhecvel.
No se sabe quem encomendou a cpia, mas perfeitamente
verossmil que tenha sido movido pelas mesmas razes celebratrias
e propagandsticas de toda ., r.quissima oleogra lia bellarminiana
que floresceu nos
unos 20 e :1 0. Depois
da
feliz concluso do
contro-
ver tido processo de beatific ico patrocinado pela Companhia de
Jesus durante t rs sculos,
Belarmino
aparecia obviamente sob uma
nova luz, a
da aurola
que o CCT0a\a.
A campanha
de propaganda visava a
rpida consolidao
da-
quele sucesso por meio de uma brilhante carreira de Bellarrnino, de
beato a santo e a doutor da Igreja, no espao de poucos aIlOS_O que
compensava seus s.pologistas das frustraes
I:
das recusas polticas
e intelectua is encontradas r.o passado, mas tambm de algumas
observaes formuladas acercr, do hero smo das vi rtudes teo logai s
de Bellarrnino.
A propaganda foi assi
ITI
cen t rada na imagem de Bellarrnino
doutor imaculado . evidente, porm, que, para impor aquela
imagem e obter um efeito convincente de i r .contestvel beatitude
10
i
nutrida de mansido e ascese. no era suficiente colocar uma au-
rola nurr- retrato f iel:'
Para fazer transparecer vis ivelmente a9. l. el- .p~tit lJde, agora
oficialmente re;onhec~J~ ..ovi:se-mrrquira:r~queles olhos ou pinta r
naquele olhar um daqueles-l'ngs-monlt~nis'de~tse 'que '- no
:;:: .dlWOs-pri tf i6iosngigrfos - tinglarn sempre mais freqente-
, mente o ancio estadista, em seus ltimos tempos, com uma mode-
I'iad ~~~i
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1
SUBS'J7TUIO DE TEORIA
rl,
Ai/d
rI 'W
philosophy calls ali
in
doubt,
Tl:e e lement of fire is quite put OUI:
The SUIi is IUSI , an d th 'earth, and no mQII 'swit
Can well direct him where to look fo r it .
And freely men confess that this world J ' spent,
Wi/efl
in lhe
planets
and
lhe firmament
They seek so muny
new;
they see that this
Is crumbl d out again to his atomies.
John Dorme. An anatomy of the world. The
ji rslanniversury( I611), 20512 .
:i
.4
MATRIA DA LUZ
Inicialmente, minha pesquisa tivera como ponto de partida o
problema das id ia s de Gali leu sobre a natureza da luz . Na verdade,
Galileujamais formulou uma teoria geral a respeito desse fenmeno
fundamental, e sobre cal problema escreveu ou publicou apenas
breves declaraes. Entretanto, ele havia apresentado oficialmente,
no fina l de sua viagem d Roma na primavera de 1611, uma memo-
rvel exper incia cientf ica de tica f s ica que impress ionara profun-
dameute
S\::JS
imerlocurores aristotlicos .
(*)
E r.ova filosofia pe tudo em dvida, O e lemen to do fogo e st c omplet a-
mente extinto.v' O sol est perdido, e a terr a, e nenhuma inteligncia Humana/ Pode
ind icar- lhe onde o procura r. / E li vremente os homens conf essam que este mundo
est morto, Quando nos p lane tas e no firmamento/ Eles procuram tan tas novidades;
Doise les vem que este/ S e f ragmenta d e novoem s eu s tomos .
15
I
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Ga lileu levara a Roma, alri
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.
.
.
conc luses natu rais de que anteriormente o sentido mani festo ou as
demonst raes necess rias nos tenham tom ado certos e seguros .
6
A carta ao padre Castelli teve um grande eco. No incio de
115 ela ocasiona uma denncia de Gal il eu endereada ao cardeal
Sfondra ti, supervisor da Congregao do Index, por parte do domi-
nicano florentino padre Lorini, Este julgava que a nova exegese pro-
posta por Gali leu equival ia a 'quere r explica r ar;Santas Escritu ras a
seu modo e contra a expl ic . o habitual dada pelos Santos Padres . 7
Ser ..tg recordar como, depois do Concl io de Trento, o res-
peito ao princpio de autoridade da tradico teolgica e exegtica
~ra para Roma um ponto estabelecido, Se Gali leu e Caste ll i se insp i-
ravam no De Genesi ad l it tcram , de santo Agostinho, o padre Lorini
inspirava suas lamrias nos Loci theologici do grande telogo triden-
tino, o dominicano Melchior Cano. Por outro lado, tambm inter-
locutores cient fi cos favorveis a Galil eu, ccrno o padre Cri stoforo
Grienberger , matemtico do Colgio Romano e sucessor de Clavius ,
haviam expressado algumas reservas, dado que nenhuma experin-
cia ou demonstrao permitia tornar certa e segura a verdade
copernicana. Se as coisas estavam nesse pon to, como se podia pre-
tender que a exegese catlica oficial se curvas se concordncia entre
a Escr itura e a f ilosof ia natural reivindicada por Galileu?
Galileu entra ento em campo com um ensaio sobre essa con-
cordncia que valorizava sua nova filosofia do ponto de vista reli-
gioso: a carta muito conhecida a rnonsenho: Pietro Dini, telogo e
referendriu apostlico em Roma.
Galil eu falava como cient ista , mas um cienti st a inspirado, e se
propunha a um papel explcito de exegeta e
:W
de expositor de uma
teologia msti ca : um mist ici smo especula tivo que evocava acentos
agostinianos e recorria explici tamente ao neoplatonismo de so Dio-
n sio Areopagita , uma fonte que a nova teolog ia de so
JO0
da Cruz
tornava atual.
Gali leu no fornecia verdade iramente as demonstraes ne-
cessrias do heliocentrismo, mas defendia a metafsica do Sol colo-
cado no cent ro do universo de que Coprnico fa la ra no primei ro l ivro
do De revolutionibus, Celebrava assim um verdadeiro triunfo da
lL1Z , com refe rnc ias textua :s criao descri ta no livro da Gnese,
aos salmos e aos profetas: ' Deus colocou no Sol o seu tabernculo
l...I
Ele , tal qua l o esposo
cuc~
sai do prprio tlamo, sa ltou como
um gigante para escapar . (]al il eu,. ~ob a escol ta de Bionsio Areo-
pagita, mostrava a sugestiva concordrn;ia entre eSSes.JNt:.ti~ ver-
SO:'i.
do Salmo
XV II
e as id':ias sobre a emanas..o da luz cel~~ ~~e
ts
terrestre q:le a pedra
c , . :
Bolonha , a cinti lao das estr elas e as man-
ha~ares lhe h~ugerido como alternativa fsica aristot-
lica da luz' sugeriria , prope Galileu, que isto dito do Sol irra-
diante, ou seja. da luz e do j mencionado esprito que aquece e
fecunda todas
LS
substncias corpreas, o qual partindo do
c 0 1 J ? P
solarpropaga-se com enorme velocidade pelo mundo inteiro .
- O que podia harmonizar-se melhor c~~lvina &.L-.alumi- (
nador da razo dei que esta luz, esprito do mundo, s\ hs1.ncia
. espi ritual ssima . sut il ssima e velocssima que difundindo-se ~ * '
t i'nive rso pene tra tudo sem resistnc ia, aquece, vivi fica e torna fe-
'cundas todas as 'ria tura~ vhreutes ? 8
. .
- valor hermenuticop~_a~~critura~.e_Q. misticism_~~~ol-
gico associados por Gali leu f si ca substancia li st a da luzeram ape-
i-~~ma ju stiicativadefensiva de ocasio, ou este fundamentalis.mo
bblico era uma arma para difundir e para impor a Roma as novas
raies de U.I l1af ilosfiaarifiar is totlica? Eram arnbes as c(\ jsas:u~
r>
~ Slor o de le itima . uma filosofia ort vo
r
J ed~s~' ~
espu:ltuals, cori mplti~os. ,. ~.~ .
De fato, 9..}e rdade lro destinatrio daque la cartaaberta a mon- ., ,:~. ~
- . . .
senhor Dini era o ambiente teolgico
e
ec lesisti co romano, que
r~~~rd-a-vafavoravelmeit-a-bertura d~ ~~ltura eclesi~tica do papa
Clemente
VIII,
no final do sculo, quando Francesco Patrizi, com
sua fi losofia hermt ica, neoplatnica, ant ia ristotli ca e copernicana '
entrara na Sapienza e fizera com que se considerasse a luz como
um corpo imaterial, de que o mundo participava e pelo qual era
fecundado ,
O herrnetismo neoplatnico de Patrizi fora condenado. Paulo V
no era Clemen .e Vl
l. Mas a filosofia da luz tambm no estava /
mais no mesmo ponto: ~lileu .dispunha agora
.ce
experincias e l
o~~
Q,
p~~ara u~a. fisia ~:u?stancialista ~luz ed.o.ca ~r, capaz de ~, ,\ .
*
opor-se a meta fsica trad icional das.qual idades aristotl icas e de su-
(k/Y'vtC, .~ .
. -_0 .-
s: I / .. v t ' o - v
Q.erar_~m~Jafsicas hermticas.
P l J ' ' / Y Y : - : ~ .
I A~~e~,eI(~)~,an~n ~loso~ia e~ nome da concgi l~g,.S~ algu- Y~I '
I
mas passagens d.a Escrjtura e no calor de um arrebatamento con-
. ~prat~() d~pertava, sob uma nova l~z, a exignci~ ~e um na~u.ra- ~
,mlsmo cristo como aquele do humamsmo neoplatomco de
~~g, ~
'
-
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I
eori;:s
ele Coprni:o e a
ll:lV;1
Iilosoii., da
luz
para
It.zcr
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li
li
li
li
~
~
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I
I
v
,~
, 't'
I ~ .
. .
diferenciados para cada elemento natural
f
a de
pzrticulas
de uma
matria-prima homogneo C11 f estar iam m..is prximas da hiptese
atmica tradicional.
Galileu
na real idade, adota a rribas as id ias:
o calor, por exemplo, explicado como o movimento dos corps-
culos de uma substncia agitados pelo movimento de tomos de fogo
homogneos e p
c
nctrando tudo.
O Saggint:lre
anunciava
de maneira ..:.l}ician
1 : . J . lJ e
_-'liU95.Q.fi,a_
est escrita no livro ~2 .u..E1.iY
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. . .
1
1
. . .
. . . .
. . .
. . .
N:IO
lhes escapava, todavia, uma certa oreocupaco e algumas
incoerncias
tra das por uma
srie
( 1 < ; obscuras
osc ilaes de pensa-
mcnto.
que
pro.vorcionaram
ao ajornismo de
G;..
me; uma dura-
doura fama de confuso. '--.-.- .
S mais recentemente os especialistas e ,T I Galileu sublinharam
que, na real idade, a lguma coisa de SUbSt:Uicial havia mudado na-
quele quadro ap .renternente idntico. Um detalhe da teoria anter ior
fora substitudo por
um
outro, 1l1
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o professor Licet i t inha uma cul tura inigu alrivcl em LOdosos
campos da medicina, erudio em literatura e an.ueologia e tambm
em astronomia e f ilosof ia natural . Conhecia pelo menos 22 hipteses
sobre os cometas e todas as teorias dos comentar is tas de Aris tteles
sobre a na tureza da luz.
23
N~--' l~~ : syunos~eIl1pre, -)10Yle~m~ss3Pt~A discusso
entre
Galileu
e Liceti~e
foia
ltima interveno ientJicJuolca
/.l , ./ . .-/ - -~-----, -.------_____-. -- --.- --.-.-- --
y~Gali1eu,. t inha como obje to prec isamente o. [enmeno da pedra
, 91;;i~~S~t:il1e d~~()IOllh(l,QJ ~~~ Q.~ ~p()ntO:~~~~a-
O nrotessor Liceti havia publicado. em 16'10, dois l ivros sobre
a
Li;
um de carter geral. c outro especialmente consagrado ao
lU'.U f,:lICl111l:11U revelado trinta anos
antes
por Ga
lileu
c, d,' Iuto ,
inurulado
Litheosphorus sive de lapide bononier.si,
Liceti tivera
su-
cesso na tarefa de adaptar o fenmeno h teoria aristotiica da luz,
e entre os muitos argumentos acumulados em sua obra havia tam-
bm aquele relativo luz lunar secundria que i.umina a parte obs-
cura do planeta, durante os quartos da Lua.
Liceti
pensava que
podia tratar-se de um fenmeno de luminescnc.a como o da pedra
de Bolonha e no do efeito da luz solar refletida pela Terra, como
Gali leu havia sustentado desde o Sidereus
Nunc
'us, em 1610, favo-
recendo a teoria heliocntrica d Coprnico.
O livro do professor Licet : re lembrava tambm as clebres su-
gestes corpusculares galileana-
sobre
a naturezr
d luz, divulgadas
no rela trio da memorvel experincia da pedra urninesce me rea li-
zaria em Roma, como sabernos.F' O autor envicu um exenplar da
obra a Galileu.
Mal acabou de pereci r-l
.i,
Gahleu di tou __seu a luno Viviani
uma carta que tinha
0
inesperado sabor de um ,iesmenlldLJ preven-
t ivo. d issociando-se de modo
enftico
de qual quer
in te rpre tao
materialista da luz, e at do calor, que lhe pudesse outrora ter sido
atribuda,
A
carta, de 23 de junho de 1640, proclamava que Galileu
estiv~;; sI11i;i=enas trevas /sobre a questo d, essncia da luz
e que se alguma vez tivesse sido capaz de ter unta idia sobre q .1C
coisas fossem o fogo e a luz teria podido entender fenmenos de
admirvel fora e velocidade como a exploso da plvora ern um
disparo, um fenmeno ci tado como problema nos Discorsi.
A esse gnero de audc ia especulat iva ele havia preferido < :
verdade do fato e o exame-da exper inc ia que , em todos os efe i-
tos da natu reza [ ... ], assegura-me do ar;sit, mas nao me
- e r a > '
nada
sobre o
quo modo .
Galil
j
u declarava, em outras
;);11a\(
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16/234
Convm acrescentar neste ponto que aquela correspondncia
com Liceti destinava-se a ser
divulgada e
discutida
na Llia e
que,
antes de desmentir
asimputaes filosficas
de L
.et i, Galileu rnani-
Iestara sua preocupao e sua desconfiana.
Desconfiana em relao a, seu interlocuto. que ten: sempre
adornado meu nome com t tulos especiosos, mas em segi.id., rem ao
contrrio tornado obscuros meus pensamento' e
preocupao
quanto experincia, trgica ta .vez, com disputas cientficas an-
teriores em que as censuras feitas s proposies e s opinies da
parte em causa, procurando demonstrar sua falsidade e erro, no
so das menos graves e dolorosas .
.14
'-. Quanto gravidade destas ltimas conseoncias. devemos
recordar que G~_ se enco_ntrava na condio .e condenado no
_.~,lUrcrizad~)
a falar, de modo algum, sobre os motivos da sua con-
~den.o,
- Sob esses diversos ponu.s de vista, a virtude da prudncia e da
dissi-nulno
podia
sei
mais
que
admirvel.
O
que pode surpreen-
der-nos que Gaiileu no aplicasse aque la vi rtude tambm em re la-
o a outras convices antigas, Nessa correspondnc ia e em outras
c.artas sucessivas, Galileu podia permitir-se defender com menor
escrpulo e at os limites das mais elementares regras de prudncia
o sistema de Coprnico, mesmo que sua condenao se devesse
quela defesa. Com o mnimo de dissimulao necessrio, no to-
~e.deliCa.d.ssimprobell1a, Gali leu mantivera-se fiel a suas
'antigas convices. No
acon
tecera
o
mesmo em fsica. As antigas
convicesd., fsica galileana
haviam sido abandonadas sem expl i-
cac-s. mesmo cientficas.
Ainda hoje, o abandoru. silencioso da fsica corpuscular, que
Saggictore esboara e que parece aos historiadores to promissora
de
antecipaes mecarucistas
fecundas, um problema crt ico com-
plexo.
como se
limites
e
obstculos
se tivessem oposto quela con-
fiante fi losofia natural impregnada de idias atomistas, a ponto de
convencer Galile ., a dissociar-se dela mais tarde com uma alterna-
tiva radical, uma
teoria
puramente matemtica da estrutura e da
matria,
t
com uir.a escolha metodolgica de prudente fenomenismo
materr ti.:o.
,)s
historiadores
que ~;
ocuparum
com esse
problema
chega-
ram, por nu.io d, um cx amc mcrumeute interno das idias e das
obras de Galileu, 1ust.ficauv.is rigorosas e convincentes dessa con-
verso
episte rn o lg ica . ru as n : s , )
reconstruo exata de suas etapas
consciente'; e necessrias, uma vez que estas no so documentadas.
Por
c.ue essa mudana ver.iadcirarnente
surpreendente, como
pergur..a um
dos mais I
eccute..
estudos sobre
o
atomismo do comeo
do
sculo
XV ?
JS
TO(ll
mundo
reccihece
:gora nas contradies de uma fsica
atornis.ic., corno a
00
Scggiaio. e, a oportunidade
implcita
de aban-
don-h, Mas essa constatao razovel no consegue sozinha elimi-
nar do silncio de Galileu sobre a questo todo o seu problemtico
ascnic.
Na realidade, a substituio de teoria e de significado de seus
, , - - - i ,
(ermos9Cci'ITrterizaaTngu~g~~'~t~~ista 'da fsica de Galileu
~:;>->
t;'e dos historiadores rcertesOilerentes interpretaes. Alguns se
limitaram a constatar :'; profundas modificaes daquela histria
primir a doutrina e propaiar
.ninha igno inc i.: ,
mas
co rivm -r .ie
engol ir os escrnios, as mordacidades e as injr ia-: .:'.1
Era um exerccio de subedori a e de picda c ~ aquela re ticricia
imposta pelas calnias, as fraudes.
llS
cvtrat agc mus e
os
::nganos
qu. s()h urna
simulada
mvcar ,'c religio n s
o
tinham arrui-
n.:o.
l1:1~:
continua-nente o
:1
.sediavn m . No
ipcrias
o
Dialogo;
con.cnado
pela sentena de
16:;3,
era proibido,
mas tambm todas
as outras
obras impressas
j
11 ; 1
muitos anos
eram
obscuramente
condenadas.
ordem tendo sido dr.da a todos os
Inquisidores
de
no
admi t i r a reimpresso de nenhuma de minhas obras .
lcito
pensar que para
muitos contemporneos
de
Gnlleu,
que no tinham nossos
refinados
instrumentos de identificao epis-
tcrnolgica. aquela profisso d-: l pcripattica. qJC hoje se pode
,'l :lma:-
Ienomcmxmo
mu tcrn
ticr devia
parecer :IITI
de;',oik'crtul\te
:lrt,ciiJ
da virtude intelectual de dissimular
cons.go
mesmo
e
com
os
outros, Que Galileu quisesse dissimular, quando desmentia que lhe
pudessem
,,;1
atribuic as as opinics publica das ~)b
(l
nome ~k Gui-
ducci. deixa, porm. .nesmo a nossos olhos bem pouca muruem para
d .idas
Renegar ter
av..nado, privadarnente e em pblico,
hipteses
r~orpusculares sobre a luz e o calor, ter oposto unia metafsca mate-
: rialista metafsica aristotlica,
ocultar o passado com ':Ie:a:'aes
de matcmatismo e
de
experirnentadsmo destituid ,s de qualquer sus-
:lei
t: J de vontade
cogr.it iva
sobre
a constituio r,'
ai dos
kE(H,jenn~
lId
\sn devia,
compreensivelmente,
parecer um desmenti-to 'urna
s nru.lncin tanto dissimulada QLUli.1 silr-nciosa sobre SlUS
prprias
raz:~)cs.
33
-
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~
-
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longas e
cativantes
dibresses e citaes literr ias que de. iciavam os
hun ian istas e
os
re t r i ros
das academias literria,
Seguramente,
o
livro reunia todos os
requisi tos necessrios
para ser lido e para merecer a aclamao do tino de pblico que
pode
fazer de
um livro um acontecimento
l iterrir e intelectual .
:\S:-;lll l
foi. e o
:,Yaggiatore ;.:nfOOU
a cabea de Gal.Ie u com a
.ru rco a da ap rovac o elo pblico culto. elos curivso-. . dos virtuo-
sos e dos inovadores , e, ainda mais importante.
C(\lTl I.)
favor
oficial das mais altas autor idades ecles ist icas, Nern mesmo ;)~mais
ardentes e ot imistas promotores romanos da publ icao do Suggi,,-
tor
haviam inicialmente ousado prever um triunfe, dessas dimenses,
Gali)(;ldDi a Roma pouco depois para
coh-Io
e encontrou
.oda
;t
solidariedade, I) estimulo e
O
prestgio que e1':1pcssive: dar-
lh e,
Foi o
ponto mais alto na parbola de Galileu
COIi,O
homem
pblico e
j)
momento
deter
minr.n te de seu destilo,
foi
de
fa to
na
onda desse
t riunfo sobre os adversrios
e
c 0_cOI~~.22ilie2uido
junto
aos vrti ces da hiera rquia eclesist ica ~._c;al ileu Ju lgou, cal -
e~ influeuciudo
posi tiv.uncn tc demais.
que ser ia
IJossvd
:',';lbnr SU:l
' ; lJ i1~1ZIj]haestratgica no front copernicano.
Escreveu-se muito sobre o
Saggiatorc .
51:
ore
Sli,,:;
pginas
mai
clebres foram,
inclusive,
vertidos rios
de
ti:
ta episteruologica.
Mas
os hist9Iia ores est'ldararn sol(.ret:-ld~_s~.u~l. fieten~ ~
eJa,:J
1
ll , a mais cificil nol'l1'.a en2;Jjilda..nur~1~'L.-
A
nu:;-
.r
: . - . -.
- , F - - . . . . . .- / , '- / '- /
~_>-., ._ ., -,.
_~y ~_ > , . . / \ - ~
:;Ul'l:cuva sua - COl\tGt)L.t?~ireGr,assl,
Jesulta~J:ll lenWllU)
do
Lu
I
,,,--
rr '- ~ U~- ~l .
7,
d
cg.l Q~~lLl,
ma p.i ermca
scbrC IT
natureza e
'.'S
movuncutos us
.,;~:;~., ljLl' o
r::gf:iaiUrC
C(l;1r:\ ::. vito r io sam ent . 1'1:1:> ::l1 c? , mais
por sua vcrve literria. sua ironia sem, jogos de p lavras
.q1flferll\.
plll'Sl:i de suas alegorias , . ,ua iniin it a paixo intelecrual
(I -.jlh:
pela
\rl::t iirr.',;i~;l\t_~1 de arglln1l' 1tu I
t{.'i{)~las_
Ma x o
reSU1\:1
tO , ra (1
:~e'~: I. ,..
L . .
d
? I\ .I~
M ~ I' d .
,,,;:;ta;[1I1
a t~~r. l'l(J-.~ta:1to, a ustora o
SL SS
-
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~
~
-
-
~
~
~
t
i ,')\ f\) de
Pisa
desacredi. .ulo
por
Kepler
por seus erros
astron-
IIlIl'P\,
c citado impruden.ernerue por Galileu nu .sugRllore, em
1>tlIdicip ( I < . :
sua pr pr ia Cln() descartou outras
e xp lic a e s tr ad iciona is,
P , ~,:J~. ~ J '\.~M.J ~ .; ,' ~N,,,-;.i>S)..)f~_.~:,~.;.;~.-.J~)~
'_ ...,
;'V' ''
Uma vez que a falta de ph.j~~e era o mais forte argumento' ,r' (
p..ra colocar os cometas a uma gr iide al tura nos cus, al iJ._~- ,,,I' f ': .
ginou umaproposi~,j gen~l. J.>rogs negara re.liQadJ;:jsi.c~a dos
* - \ : . '~ : '~1.t->9 ,
~C::'1leras?ste~j.,~ram5
-
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A p a ralaxe tem valor '4
U
.m do ~,e
t
ra ta de obje tos lu minosos
reais e
permanentes ,
como a Lua, que
aparece prxuna
do hori-
zonte vista de um lugar, .nas ,~,', znite vista de outro. Mas a faixa
cintilante que se estende
s' '-,re o
mar ao
crepsculo no
parece
sempre dir ig ida para o Sol, orvdr quer que se e.rcontre o observador,
com o efeito de anular a paralaxe?
O
prob'erna estava quando muito
na cauda, dado que a do cometa aparecia invaiavelmente oposta ao
50 . Galileu propunha explicar sua natureza como uma reflexo
luminosa sobre evaporaes atmosfricas, elevando-se alm do cone
da sombra terrestre como uma aurora borea.
A diminuio da grandeza e da velocidade do fenmeno tor-
navam-se plausveis se se admitia que estes v.ipores deslocavam-sc
corn UIll
movimento rctilineo. numa direo radial em rcla o ,\
superfcie da Terra: uma soluo idntica quela j proposta por
Galilcu para a estrela nova de 1604.
Convencido de que o cometa estava mui t: baixo, e ure.xupado
cm mant- o distncia do -:('U de Coprnico. Galileu propunha
.' assim uma teoria co rnet ria que no> era mais ioq-e 'J I:1 a variante
(,::ca da explicao dada por
Ans,0teIe'~-;{~-Wt'I~
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mente com o remorso de Viv.ani, r..as ele no ofe rec ia provas e os
autores jesutas podiam justamente denuncia I em Montucla uma
reforrnulao iluminista das
odiosas
insinua
es con
tra seus ir-
mos do sculo X V I
I.lIJ
A denncia de Montuc la , assim como o re-
morso de V i vi an i, h av ia m sido esquecidos pelos historiadores de Ga-
ileu. Colocados lado a lado propunham um en.grna completamente
irrcsolvido a propsito do
Saggiatore ,
com uma srie de re fu taes. A polmica arrasta-se, mas no tem
hixtori a, Observe-se que ta.. to os detr atores como o defensor de Ga-
lileu ccncorc.a:n
qi..e
pc rfeitarnente admissvel aproximar suas
id ias das de Demcri to .
12
1613. A Academia dos Lincei - que desde 1611 vangloria-se
de ter Galileu como scio e prestigioso porta-bandeira - publica em
Roma a Istoria e
dimostrazioni
matematiche interno alie macchie
solari . A academia, uma instituio privada e laica, assume assim
inteira responsabilidade por um livro no qual Galileu entra pela pri-
meira vez em polmica direta com um respeitvel cientista jesuta,
o padre Cristopher Scheiner. A controvrsia, originada por uma
questo
de prioridade na descoberta das manchas solares, amplia-se
sob a pena de Galileu e a gide dos Lincei at atingir os altos tons de
urn a polmica cultural. Galileu, na terceira carta, lana um grande
desafio: N as ciuc. 1S a a LItoridade baseada na opinio de mil vale
menos do que LIma centelha da razo de um s .1 .1 Aquela CI telha
alimenta -se no
an.or do Divino Artfice [ ... ] fonte de luz e de
verdade' ,
Galileu denuncia a fsica aristotlica, tachando-a de puro . r
nominalisrno. e apropria-se pela primeira vez do slogan livro da
natureza , contraposto ao; livros de Aristteles e de seus comenta-
dures, corno se cs,c gruudc livro do mundo no fosse escrito pela
natureza
para ser
Ido
por
outro s que no Arist teles
.14
Os textos
dto Aristteles eram descri-os como um crcere da razo. As hostili-
dades para com a filosofia oficial jesutica tiveram assim incio.
O
que assinala este incio no justamente aquele provoca-
trio chamamento j leitura direta do livro da natureza? Aquela ex-
presso
f igurada, c.ue
aos nossos ouvidos modernos soa como uma
potica m etfo ra, t i.iha de fato um som menos inocente aos ouvidos
i OmaI,OS habituados a colier os ecos vindos do lado de l dos Alpes.
Aquei , chamr meu } no era por acaso uma bofetada na tradio
c'i~~li, a :scoli\stic;J e um: m o e-stendida aos hereges que haviam
feito (:a lci tur.. dircta daLJ'l\:k livr o , avxim corno da Bblia, um de
seus
precei tos? A
nuiurc za
est
diante ele nossos olhos corno um
belo l.vro nu lj,Jal rodas i~ COlo as criadas so como cartas, mos-
trundo
o
P
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podia haver o risco de que esta reforma se estendesse tambm a
outros - mais fundamentais - pontos de f e de interpretao
tradicional.
1616, 3 de maro. Com decreto da Congregao do ndex,
controlada pelo cardeal Bellarmino, rat if ica-se (sem comprometer
ofic ialmen te o Santo Ofc io com uma sentena) o parecer unnime
dos telogos qualificadores. de 24 de fevereiro. O De revolutionibus,
de Coprnico, e o comentrio do livro de J do telogo Diego de
Zuiga so suspensos
espera de urna correo de todas as refe-
rncias ao carter real tabsolute) da doutrina condenada. O livro do
telogo Foscarini e todos os textos exegticos
idem docentes
[ensi-
nando a mesma coisa] so por sua vez condenados.
Levada pela onda das mais recentes exigncias ela controvr-
sia, Roma optou assim ela defesa a todo o transe da cosmologia
aristotl ico-escolst ica e do significado literal da Bblia, reservando
sua interpre tao tradio teolgica autoriz .ada. So assim desa-
provadas as solicitaes agostinianas favorveis noo de senso
figurado na exegese bblica. Quantas heresias no foram com efeito
praticadas em nome de santo Agostinho?
1616, setembro. Uma filosof ia nova, concorde com a filosof ia
dos santos, a introduz ir-se nas esco las cri st s. em lugar da autori-
dade da seita peripattica e dos f ilsofos pagos. o que repica o
fre i Tommaso Campane lla , no incio do manuscri to da Apologia pro
Galileo que circula agora nos ambientes do Cxsi, desafiando intern -
pestivamente - depois da batalha - as decises romanas, com suas
propostas de renovao herrnenutica das Escrituras e suas teses
agostinianas sobre a natureza-livro de Deus, correspondente .].B-
blia. A nova filosofia aquela s.ntiqissima de Pitgoras, de origem
hebraica: uma astronomia e uma fsica mosaicus, mais ortodoxas do
que as do pago Aristteles.
Campanella est em priso p.~1_~a, .irn hertico pluricon-
denadopor--suasweiS leIesraiias~ atomistas, antiaristotl icas . Ga-
f .. ' >
lileu no podia ganhar um patrocinador mais inconveniente e com-
prometedor. Tanto que nem naquele momento nem depois Galileu
querer comprometer-se, respondendo s generosas e catastrficas
iniciativas de Campanella em sua defesa. Mas, em 1622, quando a
Apologia se r publicada em Frankfu rt pelo luierano Tobias Adami ,
e os nomes de-Gaiileu,' do cardea l Cusano, de Foscar'ii1r,-deBruno,
,
de Kepler,
dePatrizi,
Telesio e Hill sero reunidos pelo autor do
prefcio, sob a luz irenista de uma nova filosofia, que no c?nhece
8
fronteiras religiosas, ento Galileu estar verdadeiramente, publica-
-mente comprometld. ----''
-- 1618, 23de-maio. A defenestrao de Praga o sinal claro de
uma guerra europia que queimar os lt imos sonhos de pacif icao
cri st e pro jetara no estado de nimo dos ca tl icos mi li tantes as ima-
gens de urna sanguinolenta cruzada redentora e de um renovado
fervor de ortodoxia tridentina.
Mas s a sucessiva, apavorante apario no de um mas de
trs cometas nos cus obscuros da Europa far e loqentemen te pres-
sagiarem todo o seu horror a bestial crueldade e a durao bblica
daquela Guerra dos Trinta Anos.
1619, maro.
A
Companh ia de Jesus publica, annima, a con-
ferncia sobre os cornetas surgidos durante o inverno. O autor era o
padre Orazio Grassi, de Savona, ento com 36 'anos, professor de
matemtica no Colgio Romano.
A
publicao, intitulada De tribus
cometis anniMDCXVIl/ disputatio astronomica habita in Collegio
romano,
merece o aval da grande universidade da Companhia de
Jesus porque um documento com a qualidade cientfica da astro-
nomia de observao praticada pela ordem. Grassi baseia-se nas
modernas idias de Tycho Brahe tornadas mais precisas pela nova
coleta de observaes sobre os cometas reali zadas pe los observa t-
rios da Companhia de Jesus espa lhados por toda a Europa.
assim que o padre Grassi pode comunicar de forma bri-
lhante a confirmao da ausncia de uma paralaxe estimvel do co-
rneta. No mesmo dia.
10 de
dezembro, em Roma e em
Colf iia,
observa-se com efeito uma ocultao estelar idntica por pr ,,: do
astro errante.
A exigidade
d
a pnralaxe ,
o movimento constante de tipo pla-
netrio, a ausncia de ampliao ao telescpio induzem o padre
Qrassi a situar o corneta em urna posio compreendida entre a Lua
e o Sol:\l..m_~ory~_(;~l_e_stem movimento sobre um crculo mximo,
brilhante por refleti r nluzsc lar, diversamente do que pensava Aris:
itelcs: Mais urna vez, a .astronomia. jesut ica .d
ao
.Colgio
R O - \ - .
nlan. como-'qtland 'r~c~~heera ofic ia lmente as descobertas do
Si- \
d e - r e s
Nuncius e das manch as solares, um exemplo de sua despre- _
conceituos,,1bc-~Jaeepe-sg~is~. ,
'-'-:~W:Junho:CY-,~;-nco'~meta que Galileu observara em toda a
sua vida remontava s recordaes da adolescncia quando, aos
treze anos, viu em Florena o cometa de 1577.
21
Mas, solicitado por
diversos lados a pronunciar-se-' e preocupado com a ameaadora
autoridade das teses ofic ialmente adotadas pelo Colgio Romano ,
49
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IL
diam deixar escapar cer tos aspectos f ilosficos ou teolgicos mui to
comprometedores pata sua iniciativa conjunta. Com grande antece-
dncia sobre a impresso, monsenhor Ciampoli e Vrginio Cesarini
manobraram para que a autorizao ecler.istica fosse confiada a
um jovem professor de teologia da Minerva, o padre dominicano
Nicco l
Riccardi, genovs .. galileano destin ado a faze. uma rpida
carrei ra no Santo
Ofcio.
A ordem do padre Riccardi, que se con-
frontara com a Companhia de Jesus em uma grave polmica teol-
gica muito recente e apaixonada, no podia pedir nada melhor do
que conceder uma licena favorvel a um livro que denegria aber-
tamente a autoridade do Colgio Romano.
A licena traz a data de 3 de fevereiro. O padre Riccardi, na
realidade, no r.avia concedido ao Saggiatore uma autorizao no
costumeiro est ilo requerido pela burocracia inquisitorial, mas dedi-
ca ra-lhe um elogio diti rmbico, uma espcie de public idade edito-
rial ante
litterarn ,
escandalosamente favor ',vel e atraente, O padre
Riccardi, em vez de limitar-se a dizer que a obra no era contrria
religio, como era seu dever estri to, proclamava a ortodoxia do l ivro
e dava-lhe um reconhecimento no solici tado. Louvava tambm
indevidamente as tantas belas consideraes concernentes nossa
filosofia [sic] e os muitos segredos da r.atureza anunciados ao
sculo graas sutil e f irme especulao do autor , em cuja poca
o revisor teolgico se declarava feliz de ter nascido. A autorizao
para o imprimatur chega mesmo a uma piscadela de cumplicidade
com a ironia eficaz do ttulo do livro, imitando o verso com que
Galileu colocava a
Libra
rr.er c de sua prpria verve.
47
A assinatura de um Lri lhan te telogo domincano. embaixo de
um imprimatur to elogicso, consagrava .) sucesso do Saggiatore
antes mesmo que fosse publicado.
1623, fim de julho- 6 de agosto. Golpe de cenu: a Cadeira de
Roma e s t vaga . No Vaticuno, g randes manobras de Ciampoli antes
e do cardeal pr ..francs prncipe Maurizio :Ie Savia durante o con-
clave.
O
duque Cesarini faz sua parte na praa Navona, junto ao
embaixador da ~:;:spanhae junto aos cardeais pr-espanhis. O resul-
tado desejado
a eleio do cardeal Maffeo ~~d?~ni. que em 6 de
agosto, depois cie~tenu-a-nstral:tVas-i.(lturnas .cntre os cardeais
eleitores, torna-se Urbano VIII. ~
. . J < ~
A praa de
JI SUS,
os vrtices da companhia, tradicionalmente
a linhados com a Espanha, avaliam com ateno as incgnitas da
eleio do ex-nncio em Paris e de uma imprudente ambio de
subtrair a poltica papal ncgernonia espanhola. No so exata-
54
mente as petulantes e
n
dosas manifes taes de jbilo dos liter ~s
inovadores e dos aristocratas progress istas rffii s, galvanizadas
pela eleio de
Ur:l
pap~--a-m1g~~e-Ga}} ~_e_~teleci~ jifin-ad~~-que
procupam os jemtas. ~as uma linha~< r-Ld.(t-e 'h.lrl .cl,11t\lr. 1 e
liol t ica imr,1 '0vis\ ldaL-~~9~~itos so contrr ios linha de reno-
viledeMa dilirej.t contra:refQrm[sfa~li~id >.eJo i ~de
Tr~Comp~nhia de Jesus, que o instrumento mais eficiente
dessa linha de conduta, no uma vtima da estreita e provinciana
viso romana dos problemas, que condiciona muitos de seus ini-
migos na cria. O front princ ipal da luta contra -reformista no so
os corredores da cria nem os sa les das academias, mas as planuras
c as cidades da Hungria e da Bomia, onde os padres da compa-
nhia , que seguem os reg imentos de iVfantaria imperi l.i s, vencem:
eles reconquistam para Roma as igrejas profanadas pelo- .tos pro-
testantes, iam a sua bande ira decorada com o smbolo eucarst ico
nos rnonastrios de decadentes e corrompidas ordens re ligiosas. e os
confiscam, para transform-Ios em colgios e centros de reeducao
religiosa, sem incomodar-se com as reclamaes romanas dos frades.
O sucesso oos jesu tas impressionan te, no principal t eat ro da
guerra de re ligio: nos terri trios apenas arrancados aos protestan-
tes, populaes ir teiras so reconvert idas em massa ao catolicismo,
por todos os meios, a qua lquer custo, mesmo que se ja prec iso pagar
em dinheiro, como intel igentemente suger ira o cardeal Bellarmino.
Forta lecida por essas vitrias e pe la conscincia pol ti ca e rel i-
giosa de suas dimenses mundiais, a Companhia de Jesus sabe que a
fide lidade ao Imprio a melhor garant ia para a Cont ra-Reforma.
Ela desconfia das temerrias aberturas diplomticas do novo pont -
fice dirigidas a um aventureiro sem escrpulos como Richelieu, o
novo ast ro nascente da
poltica
europia. Para os jesutas um mo-
mento delicado: arriscam ser isolados pelo novo regime e ser obri-
gados a ceder
SU~i
tradicional influnc ia no Vat icano, nas questes
poli ricas e culturais, a um novo entourage intelectual.
1623, agJs1o. H muito temptl e -Igreje-nc .tnha um papa to
~R
etOli~e~~~s. O papa Barberini florentino,
:. ->
poeta, esportivo. Suas cavalgadas nos jardins do Vaticano e seu s-
...---------~ quito de artistas florentinos excitam os aristocratas esnobes e os inte-
~ lectuais inovadores romanos. Os lit eratos inovadores esto em evi-
i dncia . Seu vate, Giamhat ti st a Marino, deixa Paris, once publicou
f com enorme esc ndalo
(I
Adone, para ir render homenagem com sua
\ presena ar
.'lOVO
regime de Roma. As academias rese rvam- lhe uma
l
f acolhida triunfal.
t
i
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(
;f
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55
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Adone e um outro livro recentemente impresso, tambm ele hete-
rodoxo, e que se vende bem na nova atmosfera romana: o Hoggid,
do padre oliveta-o Second-: l.ancillotti. Como o Saggiatore, tambm
esse ensaio de poltica, his rrria c moral desacredita o culto da tra-
dio. Tambm ele, come o Saggiatore, dedicado ao papa Bar-
berini.
1624, 11 de abril. Morre Virginio Cesi.rini, um dos artfices do
sucesso .do novo livro de Galileu. Funerais oficiais no Capitlio,
l24 23 de ab~il. A Roma, onde se sucedem as chegadas de
artistas e intelectuais ilustres, como o poeta classicista Gabriele
Chiabrera, o cavaleiro Marino e Nicolas Poussin, chega tambm Ga-
lileu, o mais ilustre cientista da Europa. Ele fora precedido de Mar io
Guiducci, tambm protagonista, se bem que com menor participa-
o, da vitoriosa polmica sobre os cornetas que fora a causa de seu
triunfo . No dia seguin te , 1 ) . - P J l P . , a Barberin i recebe Galileu em au-
~vada. o pr imeiro de ~srie-ae ell-ontr~s muito afe-
tuosos entreos dois florentinos, Foram ainda mais calorosos os en-
contros com o cardeal -sobrinho. Galileu S2ooreia novamente o su-
cesso de 1611, ainda que desta vez os jesutas do COlgio Romano se
afastem do coro de aplausos com um embaraado silncio oficial.
1624, maio . Galileu aprovei ta as festas e os convites para entrar
em contato com vrios cardeais, a fim de sondar as reais possib il i-
dades de poder recomear a falar de Coprnico, como sugerem al-
gumas vozes na cr.a. Nenhum desmentido oficial da condenao
de Coprnico, mas muitas afirmaes benevnlentes.'?
.U>24,--8-G--jtH 'l-ho . Com muito encoraiarnento .e felicitaes. a
promessa de uma penso para si e para se.l filho, presentes e bn-
os, Galileu retoma a Florena, com a cabea no novo Trattato dei
flusso e dei riflusso . Leva a Fernando II de Mediei um elogioso breve
do papa (escrito pelo amigo Ciampoli). Um reconhecimento of icial:
G~UJ~.l.l
ali defj.llido~~~@~? dileto'
56
c?papa Barberini.
Galileu parte, mas, desconfiando 'da: .. vagasgarantias recebi-
das e do rumor dos festejos. deixa em Rorra ~\o1ar:,oGuiducci, seu
aluno e amigo devotado. A sombra de Gulileu, Guiducci j est
introduzido nos ambientes romanos que contam. Com quarenta
anos, advogado c l itera to , cavalhei resco , de.sernbaraado. Guiducci
um homem de mundo: sabe falar e sabe cultivar relaes sociais.
Galileu conf ia-lhe. por isso, dois encargos delicados. Em pr i-
meiro lugar, ele dever receber e fazer circular discretamente em
Roma, no outono, registra lC:J as reaes, um manuscr ito um pouco
delicado. depois que os amigos Lincei o t iverem revisado palavra por
51 i
i
t
I
,
/ I.
I
(
I
II
. / 1 ..
I
I
palavra. Ser a resposta a monsenhor Ingoli, uma apologia coper-
nicana em tom comedido, para tatear os verdadeiros sentimentos
romanos.
O segundo encargo confiado a Guiducci por Galileu era in-
Iorm-Io. em tempo h'bi l e regularmente, sobrelOoo gue sucedia
~ma em torno do S i l i g i a t - ~ r . - T r - t . ~ ~ - ~ e ' ~ ; b r e t u d ode-~sPi~n;'r
s reaes dos j f,mi ts~prt icularmente as do padre Gr: si, para
saber em que bases ele estava preparando secretamente a sua res-
~osta que, como \erernos, e le havia imediatamente planejado.
Espiona-
hoje
urna
profisso comum, paga pelas instituies
competentes. No sculo XVII, em Roma, onde tudo era .~eg~e.do a
espionagem er uma arte sem preo:
u~a~. ~_9-llt~[.,p.ara.ss-
c : o r t r - - s e m
ser descoberto as intenes di~si~~ta
-
7/26/2019 REDONDI, Pietro. Galileu Hertico.
30/234
Pouss in e de Lorruin abrian- para o mundo todos os ser.tidos. A per-
cepo sensorial do calor ,
:10 ,
cheiros, das cores, do tato e~aum
pr61emu queaavacesso
irue
diuto u um
det
ue
de
fsivn.
Na Libra, Sarsi conduzira todo c seu discurso para a fsica
do ca lor, a fim de demonst r-ar contra Galilet. que, ainda que os co-
metas no fossem evaporaes inflamadas pelo atrito de seu movi-
mento contra as esferas celes tes, a explicao aristotlica do calor
era exata.
Para desacreditar seu adversrio , Gali leu, como era costume
fazer, conduzia seu ataque para o flanco da fsica e da filosofia.
A natureza - diziam os professores aristotl icos de f ilosof ia
- falou pela boca de Aristteles, Qual era a gramtica dessa lin-
, . , A - ~
guagem? p~~Y. .J ~~~t~~< j::..sk.a.J ....l~Ji.cia.da.naju-
F\ ')
L . )reza , era o estudl' das mudanas
e
dos movimentos das coisas ma-
I \ f. . . \ ,)TL'iCLi
U\ teriais.
O
mundo terrestr-{telt(le-n:i~tri~. 'O~da(j:osdo~ sertidos
,i,s~ prirnerrosqueSe
pod.m
conhecer e os mais
dignos
de
f
para
'''penet rar a rea lidade do mundo que est diante de ns.
A
real idade apresenta aos sent idos diferenas in finit as de cor,
calor , odor, fluidez, dureza. No entanto, todas as coisas tm em
comum entre si pelo menos algumas qualidades ou formas funda,
mentais: as coisas so quentes ou frias, secas ou midas, por exem-
plo. Para a c incia
aristorlica
h quatro ele
.11(,11
tos
fundamentais:
tcrra:a. , Toguegua , q~~ se comperndeuma mesma matria
c -POdc;l;convi te ;:, -sceciprocamente eru UII;,:o
da
U .I
daquelas
qualidades.
A natureza ~ara um aris totlico estav. escrita e:n termos de
qualid~2~.?~ ?:~v~i~ ~- io daSessas-quala.d;:s: o c',,:o:. ;:.- dureza,
,tCf. o cheiro er.:
Ii1
incren te~;a urna subst uc ia, eram qualidades
reais ou formas substancia is ~) um milagre f. oderia Iazer uma qua-
y'
lici~i e sl Q.sisti :separada da
; ; 0 p r D l - s d 1 m 1 C ~ T . . .. . .
'-- Tambm q~'anao os ,;lcrnentas seccmbinarr. para formar
substncias mais complexas, as qualidades que os acompanham
combinam-se par formar a. qual idades dos .:orr.postos resultantes.
A
matria era concebic a corno uma maneira de ser e a gram-
t ica da linguagem cient fica ':
uc
descrevia
Cl
a uma corupiexa com-
binao de nomes
de
q
L :.U
lidr..lc s
reais.
As regras d- ssa
grum .it ca
eram
as
da 19?ica de Aristteles:
uma linguagem formada unicamente de nomes ligad(;s '~afiveis
conceituais, Enuncia r um a vemonst rao
cientfica ..
n. i linguagem
_a~i~lotlic_aJ.nsistT--;mpi:c
, . s ,
u-l:na-i;r:Jp;;si(:i~(:,;r ;l ~ ';;lsujeito
~ss~ciadoa_~rjlp~i~i.g_() '-P')fli~e
o
mu-r;,J e~taves:;ri,,; ~m cante-
/ J . . . . . .
~
teres qualitativos, c-ada um desses sinais era redutvel a um con-
ceito
qualitativo.
Assim. um corpo
em
movimento rpido aquecia-se
porque, movcn
do-st-,
recebia do ar
quente e mido a qualidade
de ser quente.
J por si mesrr.a esta gramtica das formas substanciais e das
qual idades rea is era muito complexa. No sculo XVII foi-lhe acres-
centada a inda lima srie de novas qualidades ocultas, como a atra-
o magn tica, a viscosidade, a afinidade qumica, que as pesquisas
de alquimia e de f sica haviam int roduzido na l inguagem cient fica.
,A
m atria lida
empregando-se essa gramtica de nomes ou
lgica de nomes no era jamais a lgo independente em relao a suas
propriedades. Era constantemente uma maneira de ser: ser quente
ou fria, cheirosa ou colorida. Por sua vez. tambm o calor. os chei-
ros ou u >cores r esult avarn de maneiras reais de ser .
No difcil ver que essa linguagem de qualidades reais era
um iogo de acobana conceitual que permanecia, porm, sempre
ligado a uma experincia sensvel . Sua van tagem consisti a na possi-
bi liuade de evi .ar a recorrncia a imaginrias estruturas inv isvei s,
para
explicar os fenmenos e as propriedades dos corpos. De resto,
a idia de
Den .c r i to
de que podiam existi r elementos invi svei s de
~m-i1sTtIic:-poi(i'irsC(5rpos,-como o
i/ . .
t ;nlpO, o ~;-~;on-iOvimcnteram formas-da cont inuidade poten-
ci;-;neltesusclivelS
d e
linl;':'diviso ao infinito. - . . .
- ----F:~itTmen(e absurdo e r a pretender estudar as mudanas natu-
rais
com
um mtodo
quantitativo.
pois. embora a matemtica pu-
desse
Servir para
descrever abstratamente
alguns dados da
expe-
rin.iia.
como na
gec-mc tr ia
ou
na harmonia musical . no conseguia
alcanar as
causas do s Icnrncnos observveis,
Como Campanella, como Cesi, tambm Galileu adotava con-
tra .: gramtica de Aristte ies o slogan do livro da natureza aberto
diante de 110SS0.; olhc-..
Todos podiam
ler
err: torno de si as pginas desse livro fasci-
nante.
Ma; que
cdigo permitia
l-Io? A
originalidade do Saggiatore
consistia na proposta de
decifrao
dos sina is desse liv ro que , reu-
nidos, formavam seu:
vocbulos.
S~-,.:. ~_~a,l;.? '.~J().'.'I~L.Pi.l l_d_~(;~frarsse_s_inais necessrio
~I
v~r..l~ell>sJigura.s g~r,mtri(J.s: tringulos crculos e out ras
igu- Q;~1,,~:'
ra~ge~ll:tric s~f.;.m.inlenndioda .s quais impossvel compreen- ~ ',[..
-
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31/234
li
I'
I
,. ,''''''''1;111
r .
i'i'. ou Ir.t gr,lIlde
sugesto
ir..electual:
evocatria
de
'1111.' r , 111.1,. IlIl('diat;1 conquis ta para os leitores.
1 '.1.11111':.111)l'l'1I10X'lIl:, o sculo de ouro da cauala, da exe-
,.,., d ..
iu.u-, -,
lsticados sistemas de cifr: ..
s
para ocultar sob for-
1I1I'11I ('II\VISas mais c elicadas mens-.gens diplomticas. To-
.1., 1I,1-e-matrTa~7:pri;-d,;-~;j-;'-era
',.1111,I\''''iad;\ ,c cmisso ue partes muito suis de substncia.
02
A hiptese ~a puramente reonca. Galileu no dispunha de
nenhuma observao sobre a perda de massa de um corpo aquecido
pio
atrito. Para ilustrar sua idia, ele usara no Discorso, de Mario
Guiducci, argumentos de observao improvisados que a Libra no
tinha nenhuma dificuldade em descartar. O autor da Libra podia
comentar-se em
re u t-k -s
no plano experimental , mas no foi assim.
:::ars. mobilizava .e fato contra os frge is exemplos ga lil eanos obti -
dos por observao, o arpumen to da autoridade que era reconhecida
aos autores c lssicos.
Era o argumento forte da cul tura of icial e seus ra ios no eram
reservados apenas aos deba tes cient ficos, mas eram lanados regu-
J
larmente contra os inovadores na poesia, na msica, no teatro. O . r .: ,.( .~.
mtodo de debate que
fazia
escola , de apela r-se ao princ pio de auto- ~\
V \A .f ' '' ' ' '
ridade dos autores, era obviamente o Sio de argumentao das
i'~',G..{'c,
\, .o
i
_ . _. . f 0 ,; . -
l, ,
grandes controvrsias que formam o pano de fundo de toda a cul-
~::'A,,,7>i'j{i,
tura do sculo
X V)J.
O princ pio da autoridade dos autores e ra to indiscutvel aos
olhos do autor da Libra que o fazia esquecer mesmo a mais mnima
prudncia crtica na citao ind ifcrenciada de suas fontes em apoio
a suas idias em f sica. Mas aquilo que para ele era um poderoso
argumento, mais
autorr.ado
do que suas prprias consideraes
ernpiricas, era, ao contrrio, aos olhos de Galileu, o lado fraco do
r.dversric, o mais vulnervel s armas da polmica intelectual e da
ironia litercrra.
Galileu nesse momento devia pensar em Maquiavel, que ensi-
fi ara que os inimigos ou se afaga ou se elimina. Ele decide ento
.. ~---.. ,. r
enr runar seu auversano, descarregando com o Saggiatore a arma
n.ais infalvel e dettrutiva para a honorabi lidade cient fica da mais ~_
ilustre instituio
clturrl
da Companhia de Jesus: a arma do rid-
culo, apontadu p..ru lidevoo
ao princpio da autoridade da tra-
d.o.
Ora, para o' jesutas esse princpio era mais sagrado do que
uma citao ;:ritic.i.vei.
Era um
va lor de carter rel igioso e um ponto
undamentat da luta contra a heresia. O modelo de autoridade era
a~ueie da tradio da Igreja docente.
Quando Gal ileu criti cava o recurso auto ridade de uma massa '
de autores, ob.~f\'_
-
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-
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.
definida pelas propriedades materiais universalmente cognoscveis,
Obje tos fsicos so ento fenmenos puramente indiv idua is como as
sensaes
diretas das coisas.
sensaes
que c.e nenhum modo eram
suscetveis de serem medidas . Objetos f s icos so propriedades mate-
mticas e mecn::as indicadas por palavras como figura, nmero.
dis tncia, movimento, choque e ass im por diante.
Quando essas propriedades no so d .re ta ruente observvei s .
o fsico deve procur-Ias sol n aparncias macroscpicas que as es-
condem,
lmagim.o especulat iva?
No. d(:mQDstrac;5es sesuras .
O Saggiatore propunha definitlvame;t substituir a fsica aris-
rotl ica
traduzindo suas proposies predic .itivas que diziam res-
peito a experincias de qualidades para urr.a nova linguagem: o
fogo ~1S: para 0k.~~l2 d~'l:l..?r~,
A ~dur no era
sem
importncia. porque- ~ pas,sava de )
uma l inguagem c..lkada sorre o S~~~,1l de .LOdosos dias ~
L~ma,
linguagem
:llalS
eluboradu
C
,malit~c:,1. mais
rica, e
r:i89ro~a.-,
l1avia
'de t,ildis riiveisde
vobula's;-s
nomes ,
ou seja,
palavras como quente, vermelho, doce, que j,~mvalor pela sensao
individua l, mas no pelo conhecimento c ier r'Ifi co. Havia depois as
propriedades
materiais.
palavras como
figura,
movimentos e assim
por diante, que eram universal 'e matematicamente cognoscveis.
Muitas so as maneiras de narrar o livre, d a. natureza - a poe-
sia, a pintura, a
msica -
onde os sentidos do privilegiados. Mas
se queremos ler esse
l ivro
com
J
est ilo da f s ica devemos usar apenas
aquelas palavras.
Faltava, porm,
explicar
com proposies Iormadas com aque-
las palavras c com aquele contedo mater ia l
il
que um sensao de
calor transmitia.
INTUIES AT:JMSnC
,Li
Para demonstrar que a: qualidades at istotl icas so apenas
est mulos sens veis erroneamente atr ibudos ao mundo objet ivo, Ga-
lil eu ut il izava metfo ras, Uma delas eram as
cegas
produzidas por
uma pena passada sob as na. i.vas
DU
nas p lantas dos
ps.
As ccegas
so uma sensao. A pena Ikem em si mesma essa propriedade,
que ela produz s na proximidade de um
rgo
particularmente sen-
svel. Conferir
cor de um objeto uma realidade fsica
n o
ser ia to
absurdo quanto tribuir uma virtude estimulante intrnseca e real
a uma pena?
66
Como u-d
IS
as metforas que extas iavam os literatos naqueles
anos, tambm essa era na verdade um argumento retrico que no
se preocupava muito com os d irei tos da razo e da verossimilhana .
Entre uma sensao ttil corno as ccegas e uma percepo visvel
no existiam analogias evidentes,
Do ponto de vista retrico, ao contrrio, a imagem era suges-
tiva. Eliminados os narizes, as mos e os outros rgos da sensibi-
l idade. tornava-se convincen te a possibil idade de que as sensaes
fossem devidas ao movimento de p~ia,
minima
pequenssimas e mveis dotadas de forma ( minima quanti ) que
il1lE.ressionaY;tIDJ)S:,entidos .
- - - a s c i n co
sentidos (tato, paladar, olfato, audio, viso) so
a tiyados pe la pene trao nos poros e meatos dos rgos respec tivos
de partculas em movimento mais ou menos rpido dos elementos
materiais (te rra, gua, fogo. ar, luz ),
Ainda uma vez, Gali leu fazia avanos sob a aparnc ia concei -
tual de tradio hermtica. Uma id ia t radicional do hermet ismo da
Renascena era a da correspondncia entre microcosmo humano e
macrocosmo, que muito recen temente fora -retomado por um ilustre
mdTcounivers itr io de Pisa. o portugus Estvo Rodrigo de Castro
no De meteor is microcosmi, publicado em 1621, em Florena.?'
Tradicional tambm a idia de manter os quatro elementos aristo-
t i icos.
A novidade estava no esquema mecnico dessa correspon-
~ 'dncia que
formulava,
ou melhor, antec ipava uma fisiologia da per-;
cepo
baseada no movimento da matr ia.
;\ . t eoria corp.i scular da ao t rmica era mais e laborada tam-
bm em
rel auo s ui rmues
galileanas de dez anos antes. O calor
procuzido pela dissoluuo de um corpo em partes finssimas. No
c .so de sua percepo sensvel no se trata de uma modificao de
propriedade ou de estado, mas da penetrao da carne com maior
ou menor intensidade. Mas so os elementos mnimos de fogo ,
distintos dos elernertos microscpicos dos diferentes corpos quentes,
que dissolvem um -orpo. O Saggiatore no esclarece de que modo
esses e lemen tos de fogo dissolvem os corpos, nem como residem nos
corpos, quando estes esto em repouso. Trata-se, em todo o caso,
de partes microscj ; icas di :urna mat ria -prima, universa lmente di -
fu::dicta,
.n~,
tr : ; .1w(,, ' tJ
'Fi-' I ' M / ' ~
67
)~
..
/
-
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34/234
ceito de dimenso inf iniir mente pequena ;: de ,.'t:lvL'ld'l.k infinita-
mente grande apenas para as partculas bJI1 I
incsas
partculas infini-
tcximais de urn, matcria :LSCO'li:1U:'. caraz de pcne;;'ar a vista.
Essas pg: nas de. Sa:{g:afOre, nu s q ua S
l: averuad: '1ma
teoria
pr-rnccanicista das scnsuces, assim como
1S
urcccdentes, tm sido
longa e variadarnente interpretadas pelos historiadores .; pelos fil-
sof os da cincia. Infalivdll:ente,'i um certo ponto surge da rena dos
comentadores um nome p::ra explic-Ias: Lr.cke.
Mas] ohn Lockc, corno todo mundo sabe, s formulou idias
mais ou menos anlogas meio sculo depois do
Saggiatore .
diicil para ns, hojc , c.iptur plenamente o cxlot o e a novi-
dade daquelas pginas: par.i isso, deveria mos esquecer Lockc c vol
tal' :;0 realismo do senso coruurn. Devcriarr.os ainda juntar-lhe uma
slida tradio de cultura cscolstica, de saoer Iilosfico e teolgico,
e conseguir submeter-nos :10 grande poder ~ autoridade que aquela
tradio representava.
Se nos
cifcil,
se
no
impossvel,
ccnpreender por
ns
mes-
mos a novidade daquelas afirmaes, -no: igualmente dif cil, mas
talvez menos inr.cessivel , nnugiuar as reaues que :1 Icit u ra do'{,f:'
giatore
devia privccar nos
leitores de
sua r o C lC : : .
. '(Era a recusa de uma filosofia. E'esta estava iic.issoluvelmente
ligada religio e
mentalidade. Era tr mbrn
:l
valorizao de
idias marginais. condenadas e rejeitadas.
-- A~f~~,~~~~/~~ima.',cc.mt)
vin~~s,
ou
s.
Hoje perceber.ros com facilidade todas as diferenas entre a
filosofia de Br rno ,~ < de Galileu e no vale nem mesmo a pena
reccrd -lus.
Mas aos ':lll1lln;wri'.'eu;: que liam o
Saggiatore
aqueles carac-
teres
g,ficc~;
da
r,:;
tu n'z;; recordavam a
geometria proposta por
Brullo .: tambcm pu;' Fruncesco Pa trizi para uma Iisica do descon-
ti nu de estilo pit agric e violentamente antiaristotlico. Para uma
fs:t..l V)JlO a do SakilJlOre, na qual os problemas do infinito fsico-
ge,C:'1l;'l'll'O eram apenas n.encionados , aquela geometria bastava.
Outu
..oisa
eram as idias
de
Bruno sobre o infinito. totalmente ina-
dequacias do ponto de vi st a matemtico.
Naturulrnenre. llor trs do S gRiafore, e alm de Cio' lano
Bruno. reconheciam se durante a leitura do livro de Galileu : ueias
de Dcmcrito citadr.s 110 De elcmentis, ele Galeno: a cor e o sabor
eram opinies, os .uomos e () vaz io , verdades . A mesma verdade
aparecia imediatamente tambm da pena de Galileu.
O
De elrmenti.:
era lima obra entre as mais lidas
e
mais estu-
dadas. Bastava ter l' do U:11 manual do cursus filosfico para ter na
69
-
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-
~
~
~
~
~
-
-
-
h ~ ~ _
ponta da lngua
J
ncn:e de Derncrito, diar.te de uma teoria como
aquela do calor, odor, sabor que Gali leu propunha .
Outra
obra
rnuitissirno citada na
universidade,
e muitssimo
lida fora dela,
e .iuvia mui .o
ternoo, era o
DI'
rerum nuura,
de Lu-
crcio. Ora, quando Galileu int imava o lei te ~a pensar na rea lidade
da cor, por exemplo, quem no recordava imediatamente a mesma
crt ica de
Lucrc.o?
De qualquer cor que selam impregnadosc.s corpos, no creias que
os elementos
de sua substncia sejam ting. Jos dessa cor [... J . Alm
disso, se os tomos so (o'.1Imcnte incolores, se eles so dotados de
formas diversas que lhes errnirem produzir todas as t in tas e vari-Ias
ao infinito, pelo jogo de cornb inacs de s.uas respectivas posies,
dos movimentos que ela s~ imprimem reciprocamente, ser -te- fcil
explicar por que aquilo que era negro pode subi tamente tornar-se de
uma brancur a ma rm re a, I.
corno o
mar
que
muda do
negro
para o branco ao aproximar-se
uma tempestade.
O Suggiatn:e, porm, l..ivia dito que em .losofia da natureza
no era
t il servir-se de in a, ens po ticas corno essa de Lucrc io.
De fato, a teoria a tornstic.i de Galileu era tambm precedida de
uma pgina de slida lgica, para poder refu .ar o valor objet ivo das
qualidades sensveis. Galileu
nau
Queria tentar a essncia com
\jma ontologia metafsica
un iv er sa l
(:omo a dos fi~)SvTSioirios
da Renascen;Calileu er;-~m matem.ti cQ nQ sc:nente 'um f :
*
Queri; , portanto, distinguir aquilo que se podia conh;;e r ob je-
t iva e quanti tat ivamente daqui lo que no pc.dia ser dito cienti fica -
mente . Mas essa vigi lncia metodolgica , que nos faz cit ar Locke,
devia igua lmente lembrar a seus contemporneos as indicaes
sobre os cri trios de evidncia inteligvel qu Epicuro emitira' Se
recusas as sensaes e no clis.ingues o que
t;
suposto do que evi-
dente com base
r.as sensae ,
e
nas afeie-i,
e isto
a
cada ato de
ateno da mente, perturbars tambm as
OUI
ras sensaces com tua
tola opinio e recusars assim iodo critrio .
c:
Com os critrios que havia indicado, o :~afgiut(,re pod ia ten-
tar a essncia fisicamente cognoscivel dos tomos Ele interpre-
tava, com efei to, a doutrina ristotlica do movimento causa do
calor , segundo os movimentos dos e lemento'; mnimos de fogo e da
emisso de partici.las de substncia .
Essa exegese tambm fazia vir imedia.amente cabea um
livro com ttulo s'milar ao de : ucrcio, o De
rerum
.iatura iuxta
'()
propria principia, de Telesio. Tambm Telesio, com efe ito, propu-
nha a mesma exegese da doutrina do movimento causa de calor:
emisso de partculas de ioga e de outros elementos, tanto no cu
como na terra.
(,7
Um leitor qu e t ivcs- :e a sua disposio uma biblioteca rica e
atualizada e que tivesse tiJo a possibilidade de conhecer, por meio
dos catlogos do mercado de livros de Frankfurt, aquilo que se im-
primia do outro lado dos Alpes, poderia colocar o Saggiatore na
mesma pra teleira -rn
que
mantinha agora, junto aos velhos mas
insuperveis Scaliger e Zabarella.? tambm o De rerum sensu et
magia, de Campanella, e a cativante Philosophia naturalis adversus
Aris totelem , que o mdico francs Sebastien Basson havia publicado
recentemente, em )621, em Genebra. Se t ivesse perdido a primeira
edio do divertido manual de aforismos atornsticos e ant iaristot-
licos
ue
Nicholas H ill , o Philosophia epicurea, democritiana, pode-
ria encontrar
ainda
a segunda edio publicada em Genebra, em
1620. Remontavam ao mesmo ano, 1620, tambm as m tis srias
Exercitationes philosophicae
atomst icas, de David Gorlaeus, publi-
cadas em Leiden.
Mas no era necess r io i r assim to longe para dispor de obras
cheias
de
refe rnc ias apropriadas para entender as aluses do Sag-_
giai~;eilOs corpsculos. Bas1ava ter comprado ou ter pedido em-
prestado
o recente livro publ icado em Florena, em
1621, pelo
pro-
torndico
e tsot c da Universidade de Pisa, o portugus Estvo-,,,, ~~yyJV);
Rodrigo de Cast ro int itul ado como dissemos De meteori s micro- \ r> ,,~
cosmi l ibri quattuor ,
certamente conhecido at por um le itor rnode- ' \ ~.;
. l ; _ p ~ Y - : -
rado como Gali leu, um livro importante e injustamente negligen- \ '1 '
\-:t.Nj~
c iado pelos h irtoriadores. \ iI;~
(~_>tjv-
: I ,
~Jivro._d_e_._(~as5ro es_t~vam todas as referncias necessrias
~~~J~,J_'.
p
ra situar e ,')aggi (ore: ;; teoria dos tomos - elementos grficos
~ Cov.~
~liTef:'-s-
se,t:;~nd0 a teologia de Ccero. Est~vam tQdas.as citaes / .> c + ~ . v ,
teis
de Lucrcio para entender como no existem qualidades sem
~:
tomos. Explicava-se
a
direrena
entre os tomos e os elementos /
rninimos
aristotlicc
s, a
idia
de que o calor
substncia e no qua-
lid.ide e as correspondncias entre macrocosmo e microcosmo.
Tudo, naturalmente, para demonstrar que Aristteles e Galeno ha-
viamv atacado mas de me.do nenhum vencido a teoria atomstica
de Demcrito.
Mesmo para
JD1
leitor menos atualizado, e que tivesse feito
apenas os estudos f ilosf icos univers itr ios normais sem continuar
acompanhando os debates da nova moda atomstica, bastava , se ele
t
t
7
t
-
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.\;.~or'L vintc ano\ dcpoi. (b condenao de Br.ino .
,')'uggiUlOr('
[t'nl,)\';l d-lc novamente.
~ Dcmcri:o, Fpicuro. Luci cio, OCt::lIT, ,el,:SIO, Bruno, Caru-
. pa nclla, -Coprnico: a filosor:a da natureza (., ..lggi([.,re evocava
urnu
galeria
de auu .
res
bem pouco recomendveis. O~ .l\:e
entre
eles
eram catlicos erari ainda nu-r-os recomendveis e
cit v.iis
em urna
obra publicada em Roma, p,.,i~ todos haviam :,ido condenados pela
Igreja,
Numa poca em que c.r d.t obra de Iil o s.ii, esfo ra va-se com
maior
Oll
menor sucesso para ler como defensores oficiais autores
l'at(,licos, o SlIggia/orc exibia, ao contrrio. sob forma dissimu-
l.ul.r mas bem visivcl aos olhos exegticos c deciradores dos contem-
'
ma casa de
Bellosguardo, talvez
j
pensando
em seu
livi
o
DeI fiusso e de ri-
flusso , escrev ia ao prncipe Cesi: vagueiam P' r ruinh. .mente coisas
de alguma importncia para a repblica Iiter i.ria, pa va as quais -
se elas no se efetuarem nesta maravilhosa ccnjuntura ...- no ser
possvel, pelo menus no que 1'1i' diz respeito, cacontrar i.ur.ais ou trc
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semelhante. ; :,~..u/I ) .hV~\ l:L(~/\v.
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1.v\ V~ '.0...)> , 1 .;'
Sem ci lar nome-s. ;'(lI1HI ::mprc ness.is ocasies oficiais, o ora-
dor cvocav.i de modo cv.dcn tc ,-,ara seus ouvintes o carter venenoso
das reaes dos jesuita., do C rlgio Romano contra o
Saggiatore .
Galileu de fato louvado :ogu -lepois, como de costume com a com-
parao com Cri.a v Colcunbo. E junto com Galileu celebrado,
sem ser nomeado, um famoso alquimista calabrs que devia ser
Campanella.
Nesse ponto. G iu liano F abr ici lanava um ataque temerrio
contra
Ar ist tel cs:
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Filosofia devcriu d
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considerar. kgitillla,nCIlIC
ah. s que aque la-. I,hr;,> crun:
grande-
f ~
reveludor dos :r';ll:d s ;,l :10\' saber desejados pelu Academia dos
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mente ll'nlrria, a ..~riSI\ltd, ..
C.;:;i conxidcro.i-sc a\'isa'.,o e 11;-\0 ,eI1WU insi-ur no prnjllo de
puhlicuc: a obra ciemificu e
I'il.,s'lflca
de Pcrxi
c.in u r.oava inc.rita
na b iblioteca do palcio Cesi. f';tas, como o cat'og fora nublicado.
tod'h sabiam que prcsriuioso centro de pesquisa em
IW,':. i
losofia
cr..
ag\lla
aquela biblioteca da Vi.i Maschcra dOro
lkqualquer modo, Ior.. um fracasso. Fcderico
e c : :
desejara
puhlicar Persio para revolver ;,s aguas romana:
CO,l1
urua operao
1iL' dcslaxuc Illlfrul/l da cultura oficial e reduzir a presso sutocante
do conformismo aristorlico. fi, idias de Galileu seriam beneficia-
d;IS por a qucla dcsoprc-c.o. Mas o Santo Ofcio c as instituie-,
oficiai~ haviam dito no. mesmo ao poderoso prncipe Ccsi. diante
ILtquck dcsufio it cu.una ;,ri,t tlil'a.
Dal.{uclc t n
o
nu-n t o cem d iun t e , ,'lllllll
vcrrmos Ilui,
tn rdc ,
a
Bib lioteca Ccx i fu i co locada na ala de ruiru das nstituiccs da C L l r . -
tr.i-Reformu romana COi1\,' um per igoso arsenal de ULlS suspeitas.
6 :111ll cra l o l Z: Copcruico SI ser condenado quatro ',iIlOS mais
tarde.
A I.',VCICL()}J(1JIA IJF
FI-,Di'/(/CO
CLSI
1\ 1:;s (l priuci;: h:dericlI Ccx i agentou ir rr.c. Axxu rniu pes-
,\;;[r:1l'Tlil.. \'
dc~t:II\\iVt.U
\1
pr\.\.iclU de publicar
c iI:
Irl:t l
mu it
in a i-, or.:'lili,':\ c
siSlt'I1l:\ti,',I,
u m a fioxofiu da rat u rcv.a N l undu,
I) fr:ll'assll n o Ioru ,, : to gra\e assim: pr ovav elmernc os inditos de
Pe rsio dcvi.uu cs ta r ;: indu a iulhudos de obscuras
noes I~S, ;uL tSI
icas.
Podia-se revisar e melhorar aquele projeto editcral e prepara com a
colaborao dos
1l0\'pS
recrutas da academia um.i obra i.itcirumente
nova.
Escolheu-se um t tu lo de sabor rerascenti: 'a: 'lh
eatru ni nutu-
rale
C0l110
o Thtrc de lu nut ure que Bodin nublicara . .m 1597.
COIllO
a edio de P.
rsio :
que deveria ter come ;'a(; o com
0
Ira lado
fil os fico De recte ,,)llil0.\f)phUlU;i, tambm este rovo pro .e t.: ei.ciclo-
pdico continha na abertura um tratado Iilosfi-.o em forma de dis-
curso pre liminar int iiulado Spcc'u um rationis, s .bre :J. a rt.. c. olhar
e do raciocnio na experincia c.en ti fica, Este :
.i
se urso preliminar
continha por outro lado um quadro
sinpt ico
preciso das
matrias
tratadas. No era ainda lima rvore do saber, er.; antes um catlogo
lgico por matrias da biblioteca do palc io C esi. Um espelho
(i6
I
I
I
t
I
f
~
t
1
I
Lincci.
Conheo.mos c~~;'.'projl'lo': o discurso preliminar da enciclop-
dia Cesi porque
Ulll
mn nu xcri
t..
de Cesi contendo o quadro das ma-
trias e aquele discurso terminou, no se sabe como, na Biblioteca
aciona de Npoles. \.;
Na enciclopdia C:'si deviam figurar diversos aspectos do livro
da natureza, correspondentes as vrias sees t Frontespcia ): a
f i -
s.cu iPhysico-rnut.esis), a cos.nologia (Coelispiciufll), a meteoro-
logia (De 'uere
1'1
Thuun.atombas),
a
biologia (De mediis naturis in
universo
e
De
plantis imperfectis), todo coligado
a
um tratado de
bibliografia e de bibliou.cnia t Hibliologia) e a um programa de edi-
es acadnucas i
Lsnveografo),
t possvel da lar eiS\.' prourama em torno de 1615, depois da
lrus
ua da
tcn
tu tivu de
Iazer imprimir as
obras de Persio e depois da
entusiasrnante
v isita de
Galileu
a
Roma.
A Pliysico-mathesis
CO 1-
tinha sob seu feliz neologismo as polmicas idias e os fascinantes
programas exper imenta is que haviam caracterizado o fulgurante in-
gresso de Galileu na filo- oiu da natureza c na Academia dos Lincei:
idias atornistas sobre o calor, sugestes sobre a luz e o magnetismo
sob
o ponto
de vista da
teoria
ccrpuscular.
AlOl110S
o titulo de um artigo-chave da nucrofisica que
deveria ser descnvr.ivido na enciclopdia de Cesi. mediante Ul11:' se-
co especial imitula du J)(' ('orr'urihus invisibilibus que compreen-
dia 11 ai', as f(ll'I;a~ niagllli,'as, ., fora muscular e os odores.
Ou t rox tr.ll,:oS da tvvis da influncia de Gulileu sobre IIgrande
projeto: o estudo corpuscular
d e >
calor. da luz quente e da luz fria
da I;eti;.l lu.ninesccnrc d .. Iumo.a experincia romana de 1611.
Sobre todos esses Paruuoxos fsicos que nos parecem com-
pl euunernc contrrios aos dogmas admitidos, ns estabeleceremos
raciocinios c cxperj,:n , :;:' u.n programu certamente muito am-
bicioso
[1., resto, ;\
ei .c ic lopdi a '.'~
Cesi queria s,~r uma obra de rup-
tura do saber institue. -,m::l ,; a,s i ias atornistas eram as nicas capa-
le~ de p;>r .un quext, l.Jda
;l
UHlstr:i\'J,ll da lilosofi natural e da
medic ina pcr ipatti
::,1.
Um
prcgrum.t :~'.il~ant e muito difcil para um grupo de
cstudicsos 'luase IOd'.'s .lc Iortrao literria e filosfica: estudar
com ex)eri;' : i;\S d,' alqu.mia, metalur gia. medicina uma teoria cor-
puscular q, e ;:( aquele mornc.rto estivera ligada ao misticismo do
Corpus hermcucu m, s idia s qualitativas e ocultistas de todo o
ti
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; 1 . ,
.., hlcmu da imortalidade da a'rna. Urn prograrr.a ce pesquisa atua l em
filosofia, de erudio e de polmica contra o uteismoe o naturalismo
categorias aristotlice.s, durante as longas discusses entre Cesarini,
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que sc inf il trara at nos sales dos palcios ro.nanos. Aos olhos pers-
picazcs do cardeal Bellarrr.iuo aquele tem . adaptava-se perfeita-
mcutu intensa e melanclica sensibilidade desse Jovem crente
intelectual.
O duque Cesarini aplicara-se com o empenho que dele era
esperado a recolher as informaes para esse trabalho, mas as espe-
ranas que nele haviam sido deposi tadas em to alto grau acabaram
~ sendo completamente deludidas.
Em 1616 Galileu, como sabemos, dirigira-se a Roma. Fede-
rico Cesi organiza ciclos de conferncias c de debates a favor da nova
' f ilosof ia em vrios palcios romanos. Um destes era o belo palcio
rcnascentista dos duques Cesarini. onde Federico Cesi apresentou
Galileu a seu jovem primo prodgio.
Galileu sabia fascinar com a palavra e corri experincias. Um
jovem que no tivesse um prestgio acadmicc a defender no conse-
guiria fugir fac ilmente ao encanto i rresistivel das argumentaes
.. daquele crebro mquie to que Gal ileu era e de seu talento natu-
. ral
Q~
fazer d~..::~~.l.~ra~~s ciTiCc)isas mnimas, f~ise'pten-
tes e com outras mais difceis e ocultas , como
r eco rda r
o Saggia-
tore a propsito dos emocionantes experimentos de fsica fe itos na
casa Cesarini.
. F~J.:am~o..b. .etud_~,~~SJ inller.irrt~I1J.9_sque.....
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liano um texto de Fsica natural , Da alm r , Da luz~' D as artes
definidas segundo a na tureza . Havia preenchido vrios cadernos
com matrias de mecnica, sobre a resistncia das cordas, as bom-
Em Roma, o prestgio intelectua l e soc ial do Colgio Romano
dos jesutas havia tempo tinha colocado na sombra a antiga univer-
sidade romana da Sapienza , desertada pelos filhos da aristocracia
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bas e os planos inclinados.
Giovanni Ciampoli mantinha relae , de. carter cientfico,
bem antes de 1629, com o matemtico galileano padre Donaventura
Cavaliere, da Ordem dos Jesuatos. Provavelnente devemos tambm
a esse relacionamento uma srie de ttulos de manuscritos matem-
ticos, seja sobre a geometria dos slidos sej a Sobre a quantidade
e sobre o infinito .
No mesmo perodo, Ciampoli mantinha em Roma uma rela-
o direta com o padre Castelli, estudioso de mecnica e de fsica,
autor de estudos sobre o calor e as manchas solares. A marca desse
perodo de fe rvor cientfico em comum permanece ta lvez no ttulo de
um dilogo em italiano de Ciarnpoli: Sobre o Sol c sobre o fogo ,
que as idias corpusculares de Castelli sobre a emisso da luz e a
absoro trmica e luminosa podiam ter inspirado.
Os delicados encargos na cria, em respeito aos quais no
podia provavelmente comprometer-se demais com sua nova filo-
sofia , desviavam, porm, Giovanni Ciampoli de levar a termo epu-
blicar as pesquisas cientficas j realizadas ou em estado de projeto.
Por ora, aqueles apontamentos e projetos manuscr itos permaneciam
- junto com a correspondncia cientfica e pessoa com Galileu e
com os escritos de Virginio Cesarini - na volumosa massa dos ma-
nuscr itos da biblioteca de Giovanni Ciampoli.
CORRIDAS ACADMICAS E TROPEOS DIPLOMTICOS
Esprito pragmtico e poltico, monsenhor Cianmcli preocu-
pava-se agora sobretudo em transformar a admirvel conjuntura
intelectual e poltica criada pe lo novo pontificado e pelo sucesso do
Saggiatore num autntico renovamento cultura l em Roma, Toma-se
o mecenas~lo~..Jta.Jjl~a.I1os
em Roma
e explora suas erivi legfadas
reiaes com o novo poder, realizando um hbil trabalho d e - a m -
paO do consenso e cte-lgit imao ins titucional e un