rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de...

16
Energia para o Século XXI: Sociedade e Desenvolvimento 12 a 15 de agosto de 2012 Curitiba - PR Análise do padrão de consumo de energia elétrica e do indicador de intensidade energética em comunidades de baixo poder aquisitivo do Rio de Janeiro Claude Cohen 1 Vanderlei Martins 2 Mariana Weiss 3 1 Professora adjunta do Departamento de Economia e do Programa de Pós Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense - PPGE da UFF, Professora colaboradora do Programa de Planejamento Energético da Coordenação de Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - PPE/COPPE/UFRJ e Jovem Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ, e-mail: [email protected]. 2 Graduando e bolsista PIBIC pelo Departamento de Economia da UFF, e-mail: [email protected]. 3 Graduanda e bolsista PIBIC pelo Departamento de Economia da UFF, e-mail: [email protected] 1

Transcript of rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de...

Page 1: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

Energia para o Século XXI: Sociedade e Desenvolvimento12 a 15 de agosto de 2012

Curitiba - PR

Análise do padrão de consumo de energia elétrica e do indicador de intensidade energética em comunidades de baixo poder aquisitivo do Rio de Janeiro

Claude Cohen1

Vanderlei Martins2

Mariana Weiss3

1 Professora adjunta do Departamento de Economia e do Programa de Pós Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense - PPGE da UFF, Professora colaboradora do Programa de Planejamento Energético da Coordenação de Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - PPE/COPPE/UFRJ e Jovem Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ, e-mail: [email protected] Graduando e bolsista PIBIC pelo Departamento de Economia da UFF, e-mail: [email protected] Graduanda e bolsista PIBIC pelo Departamento de Economia da UFF, e-mail: [email protected]

1

Page 2: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados do projeto desenvolvido em parceria entre a LIGHT, a COPPE/UFRJ, a PUC-RJ e a UFF, e que serviu de base para quantificar o potencial de conservação de energia elétrica e o consumo da mesma em dez comunidades de baixo poder aquisitivo do Rio de Janeiro: Caju, Dois Irmãos, Jardim Ocidental, Lixão, Mangueira, Maré, Mata Machado, Vidigal, Vila Brasil e Vila Moretti. Neste artigo serão apresentados o perfil das comunidades pesquisadas quanto ao uso e a posse do equipamento de condicionamento de ar, ao número de domicílios que não possuem medidores e a análise do indicador de intensidade energética entre as comunidades para averiguar as principais localidades com desperdícios.

Palavras-chave: Eficiência, Furto, Pobreza Energética, Desperdício.

ABSTRACT

This article represent the results of the project developed in partnership between LIGHT, COPPE / UFRJ, PUC-RJ and UFF, that was the basis for quantifying the potential for electricity conservation and consumption of the same in ten low-income communities of Rio de Janeiro: Caju, Dois Irmãos, Jardim Ocidental, Lixão, Mangueira, Maré, Mata Machado, Vidigal, Vila Brasil e Vila Moretti. This paper will be presented the profile of the communities surveyed regarding the use and possession of air conditioning equipment, the number of households that do not have energy meters and analysis of energy intensity indicator between the communities to determine the major wastes.

Keywords: Efficiency, Theft, Energy Poverty, Waste.

2

Page 3: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

1. INTRODUÇÃO

A região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de

habitantes, distribuídos em 20 municípios e estima-se que somente na municipalidade do

Rio de Janeiro haja 513 comunidades de baixo poder aquisitivo, com uma população total

de 1.092.953 e uma taxa de crescimento de 11% entre 1991 e 2000 (IBGE, 2003). Isso

significa que aproximadamente 20% da população moram em comunidades de baixo poder

aquisitivo. Segundo COUTINHO e ALMEIDA (2001), o Estado do Rio de Janeiro possui

cerca de 1000 comunidades, das quais 300 situam-se somente na Baixada Fluminense. Os

espaços ocupados pelas comunidades são muito heterogêneos do ponto de vista

econômico, histórico e infraestrutural, o que dificulta que se estabeleça uma definição clara

das mesmas.

Segundo a ANEEL (2011) em 2010, na média do consumo de energia elétrica nacional, 13%

do total não é faturado pelas concessionárias e gera um prejuízo de R$ 7 bilhões ao ano. O

Rio de Janeiro é o estado da federação que possui o nível mais elevado de perdas não

técnicas da região Sudeste, no patamar de 13,8%, enquanto para São Paulo e Minas Gerais

a taxa é de 3,3% e 2,3%, respectivamente.

De acordo com Cohen(2002), a população de baixa renda precisa ter acesso adequado à

energia elétrica para poder exercer o direito ao chamado conforto adquirível através da

posse de equipamentos. Uma pequena parcela da população brasileira, concentradora da

renda, consome uma quantidade de energia comparável a países da Amérida do Norte e

Europa, enquanto os moradores de comunidades muitas vezes estão na informalidade do

consumo de energia elétrica pela falta de condições de atender as suas necessidades mais

essenciais.

O acesso físico à rede, embora condição necessária, não garante que o indivíduo tenha

acesso integral e efetivo aos serviços energéticos, uma vez que isto dependerá também de

sua capacidade de pagamento, consequentemente das tarifas de energia, da eficiência dos

equipamentos e das características das residências (COSTA, SCHAEFFER e COHEN

(2007); PACHAURI e SPRENG (2003); FUGIMOTO (2002)).

Nesse sentido, políticas de incentivo a eficiência energética, com o objetivo de diminuir o

consumo de energia primária necessária na produção de determinado serviço poderiam

minimizar o impacto das perdas comerciais das concessionárias e manter determinado nível

de bem-estar social em domicílios com capacidade de pagamento reduzida. Ademais,

segundo SCHAEFFER (2011), nenhuma fonte de energia sendo totalmente limpa, a

eficiência energética pode ser considerada uma maneira barata de se reduzir o uso de

3

Page 4: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

energias mais poluentes, embora difícil de ser aplicada, uma vez que envolve modificação

dos padrões de consumo e uso da sociedade.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, 2009), as políticas de incentivo à

produção eficiente de energia correspondem por quase 80% das emissões evitadas de

dióxido de carbono no mundo. O uso mais eficiente da energia elétrica para iluminação,

condicionamento de ar e em motores industriais permite evitar aproximadamente 30% das

emissões que colaboram para o efeito estufa.

Sendo assim, a base de dados do artigo constitui-se de uma pesquisa de campo em 10

comunidades selecionadas antes do período de pacificação (Caju, Dois Irmãos, Jardim

Ocidental, Lixão, Mangueira, Maré, Mata Machado, Vidigal, Vila Brasil e Vila Moretti), com

um total de 1.778 domicílios distribuídos por 7 faixas de salários mínimos. No presente

artigo, foram elaborados os seguintes indicadores: consumo energético em kWh, renda

média em R$, número de pessoas por domicílio e o seu impacto sobre o consumo e renda,

consumo do aparelho de ar condicionado em kWh e gasto com energia por domicílio.

A partir destes indicadores, propõe-se a adaptação de um indicador conhecido na literatura

como intensidade energética para mensuração da sobreutilização de determinado

equipamento em relação à renda domiciliar (razão entre o consumo do equipamento

selecionado e a renda domiciliar), com o objetivo de verificar a probabilidade da incidência

de furto de energia.

2. PERFIL SOCIAL DAS COMUNIDADES

As comunidades apresentam semelhante perfil socioeconômico, no qual 59% das famílias

possuem rendimentos de até 2 salários mínimos (s.m.), aspecto diferenciado em relação ao

Estado do Rio de Janeiro e à Região Metropolitana que de acordo com o IBGE há elevado

número de domicílios na classe média. Entre as comunidades, destaca-se que Jardim

Ocidental e Lixão são as que concentram mais domicílios na faixa de até 2 s.m e em

oposição, Mangueira e Mata Machado com as menores participações na respectiva

categoria.

4

Page 5: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. MÉDIA

COMUNIDADECAJU 2,7 2,9 3,8 5,3 - - - 3,0DOIS IRMÃOS 3,5 4,4 3,8 - - - - 3,8JARDIM OCIDENTAL 4,2 4,5 4,0 5,0 - - - 4,3LIXÃO 3,5 3,8 3,9 - - - - 3,6MANGUEIRA 3,3 4,3 4,4 4,5 4,0 5,5 - 4,0MARÉ 3,6 4,0 5,4 6,0 - - - 3,8MATA MACHADO 3,7 3,8 3,7 2,3 5,0 4,0 - 3,7VIDIGAL 3,1 3,2 4,2 4,8 - - - 3,4VILA BRASIL 3,2 4,1 4,4 3,0 - - - 3,6VILA MORETTI 3,6 4,1 5,1 5,5 - - - 3,9

MÉDIA 3,5 3,9 4,2 4,5 4,5 5,0 - 3,7Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

TABELA 1 – Percentual médio de domicílios em cada faixa de renda e em relação ao

número total de domicílios por comunidade.

No que diz respeito às comunidades, o número de pessoas por domicílio aumenta na

mesma direção que a renda. Esse fenômeno pode ser explicado, pois quanto maior for a

concentração de pessoas por domicílio, maior a contribuição para a acumulação da renda.

Por outro lado, há aumento dos gastos e queda da renda per capita. Em geral, famílias

situadas na primeira faixa de rendimento, até 2 s.m., possuem uma média de 3,5 pessoas e

na última faixa de rendimento, de 15 a 25 s.m. verifica-se 5 pessoas em média.

TABELA 2 – Média de concentração de pessoas por domicílio, distribuídos por faixa de

renda e comunidades.

Na Tabela 3 abaixo, observa-se que o rendimento médio das 10 comunidades alcançou o

patamar de R$ 763,00, enquanto o resultado para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro

(R$ 4.334,00) e Brasil (R$ 2.419,00) foram bastante superiores. Além disso, verifica-se que

algumas comunidades possuem rendas elevadas, destaque para Mangueira (R$ 992,00) e

Mata Machado (R$ 975,00), por outro lado algumas possuem rendas menores, como visto

no Jardim Ocidental (R$ 507,00) e Lixão (R$ 602,00).

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. MÉDIA

COMUNIDADE

CAJU 44% 40% 14% 2% - - - 9%DOIS IRMÃOS 71% 23% 7% 0% - - - 11%JARDIM OCIDENTAL 85% 13% 1% 1% - - - 8%LIXÃO 75% 17% 8% - - - - 9%MANGUEIRA 35% 45% 16% 2% 0,5% 1,0% - 11%MARÉ 71% 22% 7% 0% - - - 12%MATA MACHADO 44% 28% 24% 2% 0,6% 0,6% - 9%VIDIGAL 55% 22% 20% 3% - - - 13%VILA BRASIL 56% 28% 15% 1% - - - 10%VILA MORETTI 55% 39% 5% 1% - - - 8%

MÉDIA 59% 28% 12% 1% 0,1% 0,2% - 100%Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

5

Page 6: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. MÉDIA

COMUNIDADE

CAJU 501,7 950,0 1.468,2 2.707,5 - - - 864,5DOIS IRMÃOS 445,1 950,0 1.476,2 - - - - 629,0JARDIM OCIDENTAL 402,7 950,0 1.710,0 2.470,0 - - - 507,3LIXÃO 428,9 950,0 1.488,3 - - - - 601,6MANGUEIRA 386,4 950,0 1.650,6 2.802,5 4.750,0 8.075,0 - 992,4MARÉ 431,9 950,0 1.583,3 2.470,0 - - - 634,5MATA MACHADO 458,4 950,0 1.580,0 2.596,7 4.750,0 6.650,0 - 975,1VIDIGAL 478,3 950,0 1.556,4 2.850,0 - - - 872,3VILA BRASIL 454,9 950,0 1.476,2 3.135,0 - - - 779,5VILA MORETTI 370,2 950,0 1.710,0 2.470,0 - - - 693,9MÉDIA 436,6 950,0 1.556,2 2.751,2 4.750,0 7.600,0 - 763,3RIO DE JANEIRO (Mun.) 502,9 950,3 1.641,8 2.841,9 4.451,5 7.130,0 16.135,2 4.334,1RIO DE JANEIRO (RMRJ) 528,9 930,9 1.604,5 2.869,0 4.474,4 7.002,8 15.814,5 3.282,6BRASIL 494,8 937,9 1.600,0 2.836,1 4.435,2 6.875,4 14.836,9 2.418,8Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

Dessa forma, pretende-se atrair o foco para a questão da restrição orçamentária para o

consumo energético nessas comunidades, como o elevado número de famílias baixa rendas

associado ao desejo de consumo, sem políticas públicas de equidade social, levam a

elevados índices de furto de energia.

TABELA 3 – Média de concentração de pessoas por domicílio, distribuídos por faixa de

renda e comunidades.

3.

PADRÃO DE USO E CONSUMO DA ENERGIA ELÉTRICA

O padrão de uso e consumo dos equipamentos, bem como o número de pessoas na

residência influencia diretamente o consumo de energia elétrica nessas comunidades. A

posse de equipamentos está relacionada com o crescimento da demanda brasileira, no

contexto de aumento do rendimento do trabalhador, controle da inflação, facilidade de

acesso ao crédito e mercado de trabalho com taxas mínimas de desemprego.

Além desse fato, as inovações tecnológicas permitiram a entrada no mercado de aparelhos

mais eficientes no consumo de energia, entre eles destacam-se os que fazem parte do

Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) e do selo Procel. Soma-se a isso, a idade

avançada de alguns dos aparelhos existentes nas comunidades de baixa renda, pois alguns

são doações de terceiros e outros que já foram comprados há bastante tempo e não há

interesse em trocá-los rapidamente.

TABELA 4 – Posse média de equipamentos por comunidade.

6

Page 7: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

COMUNIDADES REFRIGERADOR FREEZER ARCONDICIONADO CHUVEIRO ILUMINAÇÃO (A)* (B)*

CAJU 1,0 0,3 0,2 0,7 4,4 3,3 1,1DOIS IRMÃOS 1,0 0,1 0,0 0,2 4,6 3,8 0,8JARDIM OCIDENTAL 1,0 0,3 0,3 0,4 5,2 4,6 0,6LIXÃO 1,1 0,3 0,3 0,7 5,4 4,7 0,7MANGUEIRA 1,0 0,1 0,2 0,4 4,0 1,5 2,5MARÉ 1,0 0,2 0,0 1,0 4,7 2,3 2,4MATA MACHADO 1,0 0,1 0,1 0,5 4,3 3,3 1,0VIDIGAL 1,1 0,3 0,2 0,8 6,4 4,6 1,7VILA BRASIL 1,1 0,3 0,2 0,7 4,6 3,8 0,8VILA MORETTI 1,0 0,2 0,2 0,6 5,3 4,9 0,5

MÉDIA 1,0 0,2 0,2 0,6 4,9 3,7 1,2* (A) Posse Média de Lâmpadas do tipo Incandescente.* (B) Posse Média de Lâmpadas do tipo Flourescente.Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

TABELA 5 – Participação dos equipamentos no consumo de energia elétrica kWh.

Como pode ser observado na Tabela 4, o refrigerador tem posse média igual a 1, ou seja,

cada domicílio possui em média 1 geladeira. Por outro lado, o chuveiro elétrico ainda não é

exclusivo de todos os domicílios pelo seu alto consumo energético, somente a comunidade

da Maré que não segue essa regra.

Na categoria Freezer, supõe-se um decréscimo na sua posse média ao longo do tempo,

tendo em vista que era muito utilizado diante de uma economia brasileira instável, marcada

por forte inflação de alimentos e bebidas, assim com a estabilidade financeira foi reduzida a

necessidade de estoque doméstico.

Muitos domicílios ainda utilizam bastante como equipamento para iluminação as lâmpadas

do tipo incandescentes. Como pode ser observada na Tabela 4, a posse média desse tipo

de lâmpada é bastante superior a fluorescente, indicativo que ainda há potencial de

7

Page 8: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. MÉDIA

COMUNIDADE

MANGUEIRA 90 462 176 440 155 192 - 301LIXÃO 139 193 214 - - - - 163VILA MORETTI 113 120 158 156 - - - 128VILA BRASIL 100 69 107 - - - - 94JARDIM OCIDENTAL 0 92 0 0 - - - 92CAJU 79 78 65 73 - - - 75VIDIGAL 44 55 75 214 - - - 74MATA MACHADO 0 0 29 2 - - - 24MARÉ 14 23 32 47 - - - 21DOIS IRMÃOS 28 0 33 - - - - 20

MÉDIA 84 186 110 196 155 192 - 133Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

economia e como visto na Tabela 5, iluminação corresponde por 25% do uso final de

energia elétrica nas comunidades.

TABELA 6 – Consumo médio de energia elétrica em kWh/mês distribuído por faixa de renda

De acordo com a Tabela 6, as comunidades com o maior consumo de energia elétrica são

Mangueira, Lixão, Vila Brasil e Vila Moretti, todas as quatro com média superior ao

Município e Estado do Rio de Janeiro. Na abertura por faixa salarial, na categoria até 2

salários mínimos (s.m.), Lixão que apresenta a segunda menor renda média, possui o maior

gasto energético mensal. No comparativo com as demais comunidades, Lixão está acima da

média de posse de equipamentos e as maiores para ar condicionado, refrigerador e freezer.

TABELA 7 – Consumo médio do aparelho de ar condicionado em kWh/mês.

Sobre o consumo do ar condicionado, novamente os maiores consumidores são Mangueira,

Lixão, Vila Moretti e Vila Brasil. Esse fato explica porque essas comunidades possuem o

consumo de energia elétrica total superior às demais, tendo em vista que o ar condicionado

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. MÉDIA

COMUNIDADE

MANGUEIRA 148,8 318,4 337,0 572,9 557,8 435,4 - 269,2LIXÃO 217,8 288,9 355,3 - - - - 240,8VILA BRASIL 141,6 206,1 343,9 188,2 - - - 191,0VILA MORETTI 137,1 207,5 355,3 598,2 - - - 182,1MATA MACHADO 154,2 189,5 202,4 169,9 184,4 281,1 - 177,2VIDIGAL 145,7 174,0 229,4 367,4 - - - 175,7CAJU 129,3 170,5 249,8 412,0 - - - 168,9MARÉ 97,5 139,9 189,0 269,7 - - - 113,9DOIS IRMÃOS 100,4 123,4 185,2 - - - - 111,4JARDIM OCIDENTAL 97,7 133,3 148,0 50,8 - - - 102,7MÉDIA 133,8 205,3 262,1 371,3 371,1 384,0 - 173,1RIO DE JANEIRO (Mun.) 193,8RIO DE JANEIRO (UF) 156,0Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

8

Page 9: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. MÉDIA

COMUNIDADE

LIXÃO 0,51 0,30 0,24 - - - - 0,40MANGUEIRA 0,39 0,34 0,20 0,20 0,12 0,05 - 0,27VILA MORETTI 0,37 0,22 0,21 0,24 - - - 0,26VILA BRASIL 0,31 0,22 0,23 0,06 - - - 0,24JARDIM OCIDENTAL 0,24 0,14 0,09 0,02 - - - 0,20VIDIGAL 0,30 0,18 0,15 0,13 - - - 0,20CAJU 0,26 0,18 0,17 0,15 - - - 0,20MATA MACHADO 0,34 0,20 0,13 0,07 0,04 0,04 - 0,18MARÉ 0,23 0,15 0,12 0,11 - - - 0,18DOIS IRMÃOS 0,23 0,13 0,13 - - - - 0,18

MÉDIA 0,31 0,22 0,17 0,13 0,08 0,05 - 0,23Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

é um dos equipamentos que mais contribui para o gasto energético. Além disso, pode ser

visto na Tabela 5 que nas comunidades corresponde por 15% do consumo total, enquanto

para a Região Sudeste fica em 11%.

4. ANÁLISE DO FURTO E DESPERDÍCIO DE ENERGIA COM O INDICADOR DE INTENSIDADE ENERGÉTICA.

Na literatura econômica, o indicador de intensidade energética (IE) tem como objetivo

mensurar a eficiência no consumo de energia final sobre o PIB de um determinado país.

Quanto menor for à intensidade energética, maior é a eficiência de uma economia.

Sabendo da eficácia desse método, ele pode ser replicado para diversos setores, dentre

eles o residencial.

Para observar a incidência de furto de energia nas comunidades e, consequentemente,

as localidades com maior desperdício, construiu-se o indicador de intensidade

energética de forma adaptada. Ademais, verificar quais comunidades possui intensidade

energética mais elevada de acordo com sua renda e identificar onde há necessidade de

políticas voltadas para uso racional de energia.

Na Tabela 8, encontra-se o resultado do indicador tendo como base o consumo de

energia elétrica de cada comunidade em relação a sua respectiva renda média.

TABELA 8 – Indicador de Intensidade Energética por faixa de renda em cada comunidade.

As comunidades que apresentaram resultados acima da média são Lixão, Mangueira,

Vila Moretti e Vila Brasil. A primeira delas apresenta a maior intensidade energética, o

segundo maior consumo energético e a segunda menor renda média. Logo, com esse

9

Page 10: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

FAIXAS DE RENDA Até 2 s.m. > 2 a 3 s.m.

> 3 a 6 s.m.

> 6 a 10 s.m.

> 10 a 15 s.m.

> 15 a 25 s.m. > 25 s.m. TOTAL

COMUNIDADE

MANGUEIRA 39 39 11 1 0 1 - 91LIXÃO 46 11 8 - - - - 65VILA MORETTI 25 9 2 0 - - - 36DOIS IRMÃOS 15 2 1 - - - - 18JARDIM OCIDENTAL 18 0 0 0 - - - 18VIDIGAL 1 0 1 0 - - - 2VILA BRASIL 2 0 0 0 - - - 2MARÉ 1 0 0 0 - - - 1CAJU 0 0 0 0 - - - 0MATA MACHADO 0 0 0 0 0 0 - 0

TOTAL 147 61 23 1 0 1 - 233Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

COMUNIDADES INTENSIDADEENERGÉTICA (β)

LIXÃO 0,40 45,2%MANGUEIRA 0,27 32,8%VILA MORETTI 0,26 16,0%VILA BRASIL 0,24 2,6%JARDIM OCIDENTAL 0,20 0%VIDIGAL 0,20 0%CAJU 0,20 0%MATA MACHADO 0,18 0%MARÉ 0,18 0%DOIS IRMÃOS 0,18 0%

MÉDIA 0,23 15,3%Elaboração própria a partir dos dados PPE/COPPE/UFRJ/UFF/PUC-Rio e IBGE.

resultado, pode-se suspeitar da incidência de furto de energia e desperdício em parte

dos domicílios dessas quatro regiões.

TABELA 9 – Número de domicílios sem medidor por faixa de renda em cada comunidade.

Na Tabela 8, pode-se verificar o número de domicílios sem medidor de energia elétrica, a

maior concentração deles está na faixa até 2 salários mínimos. Além disso, 13,1% do total

de domicílios nessas 10 comunidades estão sem medidor.

TABELA 10 – Identificação do furto de energia dada à relação entre Intensidade Energética e a Variável (β) por comunidade.

10

Page 11: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

A variável (β) é o percentual de domicílios que possuem consumo de ar condicionado e não

tem medidor no domicílio simultaneamente. Dessa forma, pode-se observar que as

comunidadades com as IE mais elevadas são as que possuem posse e uso do ar

condicionado associado à falta de medidor, ou seja, há confirmação do furto de energia,

principalmente pelo falta de consciência no uso do ar condicionado.

5. CONCLUSÃO

As 10 comunidades estão situadas em zonas urbanas violentas e marcadas pela

informalidade no consumo, um dos fatores é a baixa capacidade de pagamento. De acordo

com ANEEL (2011), 13,8% da energia do Estado do Rio de Janeiro é não faturada pelas

concessionárias e na pesquisa de campo, foi identificado que 13,1% do total de domicílios

dessas comunidades não possuem medidor. Observa-se que caso seja verificado a fundo

em todas as localidades de baixa renda, ainda há muitas perdas não técnicas e energia

sendo desperdiçada pela falta de consciência no uso racional dos recursos energéticos.

Algumas medidas podem ser adotadas para aumentar a renda das famílias, capacidade de

pagamento e gerar economia de energia, entre elas o fortalecimento do programa de tarifa

social, criar programas de reciclagem para dar desconto na conta de luz, instalação de

placas de aquecimento solar para os chuveiros, estruturar cursos técnicos nas

comunidades, educação nas escolas sobre a importância dos programas de eficiência

energética e ensinar hábitos que podem ajudar a diminuir o consumo.

Além desses fatores, ainda há espaço para trocar os equipamentos ineficientes pelos

modelos mais econômicos, melhorar a questão da construção civil de forma que os

cômodos das residências fiquem mais claras e adaptáveis ao clima de cada comunidade,

dependendo menos do ar condicionado.

11

Page 12: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, A. C. J. de. Consumidor residencial de energia elétrica: uma análise quanto ao perfil, às mudanças comportamentais e ao potencial de conservação de energia elétrica. 2006. 0 f. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal Fluminense. Orientador: Claude Cohen.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. “Combate as perdas comerciais e combate ao furto e fraude de energia elétrica: as consequências para a sociedade”. Rio de Janeiro, 2006.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. “Quanto custa o furto de energia?”. Rio de Janeiro, 2011.

BANCO MUNDIAL. “Estudo de Baixo Carbono para o Brasil”. Relatório de Síntese Técnica, Washington, EUA, 2010.

BARDELIN, Cesar Endrigo Alves. “Os efeitos do racionamento de Energia Elétrica ocorrido no Brasil em 2001 e 2002 com ênfase no consumo de energia elétrica”. 2004. 112 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3143/tde-23062005-084739/pt-br.php>. Acessado em 24 de janeiro de 2012.

COSTA, M., M., SCHAEFFER, R., COHEN, C., Energy and Social Issues IN: Brazil: A Country Profile on Sustainable Energy Development, AIEA-UN, Viena, Áustria, 2007.

ELETROBRAS/PROCEL, Programa Nacional de Conservação da Energia Elétrica. “Resultados do Procel”.Ano base 2010, Rio de Janeiro, 2011.

EPE - Empresa de Pesquisa Energética. “Avaliação da Eficiência Energética na Indústria e nas Residências no horizonte decenal (2010-2019)”. Nota técnica DEA 14/10, Rio de Janeiro, Julho, 2010.

EPE - Empresa de Pesquisa Energética. “Consumo Final e Conservação de Energia Elétrica (1970 – 2005)”. Nota técnica, Rio de Janeiro, Julho, 2006.

FUGIMOTO, S. K., A universalização do serviço de energia elétrica – acesso e uso contínuo, Dissertação de Mestrado, Dpto. de Eng. de Energia e Automação Elétricas, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ed. rev., São Paulo, 2005.

GELLER, H. S. “Revolução Energética – Políticas para um Futuro Sustentável”. Ed. Relemu Dumará, 1ª Edição, Rio de Janeiro, 2003, 299 p.

SCHAEFFER, Roberto. “Belo Monte: perguntas e respostas sobre a obra mais polêmica do país”. Rio de Janeiro, Jornal O Globo, 01 dez. 2011. Entrevista a Agostinho Vieira. Disponível em: <http://www.abrace.org.br/port/noticias/setor.asp?id=150#noticia23003>. Acessado em 24 de janeiro de 2012.

PANESI, André R. Quinteros. “Fundamentos de Eficiência Energética: Industrial, Comercial e Residencial.” Editora Ensino Profissional, São Paulo, 2006.

12

Page 13: rededepesquisasemfavelas.files.wordpress.com€¦  · Web viewA região metropolitana do Rio de Janeiro possui atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, distribuídos em 20

PINTO JR, Helder Queiroz (Org) e et al. “Economia da Energia – Fundamentos Econômicos, Evolução Histórica e Organização Industrial.” Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2007.

13