Redacao - 1 Serie - EM

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1 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO RECUPERAÇÃO REDAÇÃO Professora Raquel Solange Pinto Conteúdo da recuperação: tipo narrativo - relato pessoal, lenda urbana, livro “Memórias de um sargento de Milícias “ (Manuel Antônio de Almeida). O RELATO PESSOAL Trabalhando o gênero Em 28 de fevereiro de 1955, noticiou-se que oito tripulantes de um navio da Marinha de Guerra da Colômbia que viajava de Móbile, Estados Unidos, para o porto colombiano de Cartagena, haviam caído no mar e desaparecido por causa de uma tormenta no mar do Caribe. A busca dos náufragos iniciou-se assim que o navio chegou a seu destino, duas horas depois do acidente. Após quatro dias, a busca foi dada por encerrada e os marinheiros desaparecidos declarados mortos. Dez dias depois, o marinheiro Luís Alexandre Velasco, de 20 anos, apareceu moribundo numa praia deserta do norte da Colômbia. O livro Relato de um náufrago é a reconstituição jornalística do qu Luís contou ao autor Gabriel García Márquez, na época jornalista do El Espectador, um jornal de Bogotá. Observe a trajetória do navio da Marinha de Guerra da Colômbia e a trajetória da balsa do marinheiro Luís Alexandre Velasco, que chegou a Uraba, mar do Caribe, dez das depois do naufrágio. O texto que segue é um fragmento desse livro. Leia-o e, a seguir, responda às questões propostas. Eu era um morto Não me lembro do amanhecer do sexto dia. Tenho uma ideia nebulosa de que, durante toda a manhã, fiquei prostrado no fundo da balsa, entre a vida e a morte. Nesses momentos, pensava em minha família e a via tal como me contaram agora que esteve durante os dias do meu desaparecimento. Não fiquei surpreso com a notícia de que tinham me prestado homenagens fúnebres. Naquela sexta manhã de solidão no mar, pensei que tudo isso estava acontecendo. Sabia que haviam comunicado à minha família o meu desaparecimento. Como os aviões não voltaram, sabia que tinha desistido da busca e que haviam me declarado morto.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – RECUPERAÇÃO

REDAÇÃO Professora Raquel Solange Pinto

Conteúdo da recuperação: tipo narrativo - relato pessoal, lenda urbana, livro “Memórias de um sargento de Milícias “ (Manuel Antônio de Almeida).

O RELATO PESSOAL

Trabalhando o gênero

Em 28 de fevereiro de 1955, noticiou-se que oito tripulantes de um navio da Marinha de Guerra da Colômbia que viajava de Móbile, Estados Unidos, para o porto colombiano de Cartagena, haviam caído no mar e desaparecido por causa de uma tormenta no mar do Caribe. A busca dos náufragos iniciou-se assim que o navio chegou a seu destino, duas horas depois do acidente. Após quatro dias, a busca foi dada por encerrada e os marinheiros desaparecidos declarados mortos. Dez dias depois, o marinheiro Luís Alexandre Velasco, de 20 anos, apareceu moribundo numa praia deserta do norte da Colômbia. O livro Relato de um náufrago é a reconstituição jornalística do qu Luís contou ao autor Gabriel García Márquez, na época jornalista do El Espectador, um jornal de Bogotá.

Observe a trajetória do navio da Marinha de Guerra da Colômbia e a trajetória da balsa do marinheiro Luís Alexandre Velasco, que chegou a Uraba, mar do Caribe, dez das depois do naufrágio.

O texto que segue é um fragmento desse livro. Leia-o e, a seguir, responda às questões propostas.

Eu era um morto Não me lembro do amanhecer do sexto dia. Tenho uma ideia nebulosa de que, durante toda a manhã, fiquei prostrado no fundo da balsa, entre a vida e a morte. Nesses momentos, pensava em minha família e a via tal como me contaram agora que esteve durante os dias do meu desaparecimento. Não fiquei surpreso com a notícia de que tinham me prestado homenagens fúnebres. Naquela sexta manhã de solidão no mar, pensei que tudo isso estava acontecendo. Sabia que haviam comunicado à minha família o meu desaparecimento. Como os aviões não voltaram, sabia que tinha desistido da busca e que haviam me declarado morto.

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Nada disso era errado, até certo ponto. Em todos os momentos, tratei de me defender. Encontrei sempre um meio de sobreviver, um ponto de apoio, por insignificante que fosse, para continuar esperando. No sexto dia, porém, já não esperava mais nada. Eu era um morto na balsa. À tarde, pensando que logo seriam cinco horas e os tubarões voltariam, fiz um desesperado esforço pra me levantar e me amarrar à borda. Em Cartagena, há dois anos, vi na praia os restos de um homem destroçado por tubarão. Não queria morrer assim. Não queria ser repartido em pedaços entre um montão de animais insaciáveis. Eram quase cinco horas. Pontuais, os tubarões estavam ali, rondando a balsa. Levantei-me penosamente para desatar os cabos do estrado. A tarde era fresca. O mar, tranqüilo. Senti-me ligeiramente fortalecido. Subitamente, vi outra vez as sete gaivotas do dia anterior e essa visão infundiu em mim renovados desejos de viver. Nesse instante teria comido qualquer coisa. A fome me incomodava. Mas o pior era a garganta e a dor nas mandíbulas, endurecidas pela falta de exercício. Precisava mastigar qualquer coisa. Tentei arrancar tiras de borracha dos sapatos, mas não tinha com que cortá-las. Foi então que me lembrei dos cartões da loja de Móbile. Estavam num dos bolsos da calça, quase completamente desfeitos pela umidade. Rasguei-os, levei-os à boca e comecei a mastigar. Foi um milagre: a garganta se aliviou um pouco e a boca se encheu de saliva. Lentamente continuei mastigando, como se aquilo fosse chiclete. [...] Pensava continuar mastigando os cartões indefinidamente para aliviar a dor das mandíbulas e até achei que seria desperdício jogá-los no mar. Senti descer até o estômago a minúscula papa de papelão moído e desde esse instante tive a sensação de que me salvaria, de que não seria destroçado pelos tubarões [...] Afinal, amanheceu o meu sétimo dia no mar. Não sei por que estava certo de que esse não seria o último. O mar estava tranqüilo e nublado, e quando o sol saiu, mais ou menos às oito da manhã, eu me sentia reconfortado pelo bom sono da noite. Contra o céu cinza e baixo passaram sobre a balsa as sete gaivotas. Dois dias antes eu sentira uma grande alegria vendo as sete gaivotas. Mas quando as vi pela terceira vez, depois de tê-las visto durante dois dias consecutivos, senti o terror renascer. “São sete gaivotas perdidas”, pensei, com desespero. Todo marinheiro sabe que, às vezes, um bando de gaivotas se perde no mar e voa sem direção do porto, durante vários dias, até encontrar a seguir um barco que lhes indique a direção do porto. Talvez aquelas gaivotas que vira durante três dias fossem as mesmas todos os dias, perdidas no mar. Isso significa que eu me distanciava cada mais da terra.

(Gabriel García Márquez. Relato de um náufrago. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 1970, 1970, p. 70-73)

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

1. Nesse fragmento, o marinheiro relata como foram os dias que, como

náufrago, passou numa balsa à deriva no mar.

a) A quais dos dias de permanência no mar o relato se refere?

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b) Duas coisas particularmente atormentavam o marinheiro: os tubarões e a

fome. Apesar de não esperar mais nada, o que ele fez?

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2. A visão das sete gaivotas infundiu no narrador um desejo intenso de viver.

a) Por que, na sua opinião, as gaivotas lhe deram esperanças de vida?

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b) No sétima dia, entretanto, já era a terceira vez que ele as via. Por que esse

fato levou o narrador a sentir-se novamente aterrorizado?

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3. Observe os verbos e os pronomes empregados no relato.

a) Em que pessoa os fatos são relatados?

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b) Conclua: o narrador é protagonista ou observador?

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c) Em que tempo e modo está a maioria dos verbos?

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4. No relato, normalmente se emprega a variedade padrão da língua, que pode

ser formal ou informal, dependendo de quem é o narrador-protagonista e seu

ouvinte ou leitor. No relato em estudo, que variedade lingüística foi

empregada?

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5. Conclua: quais são as características do relato pessoal?

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PROPOSTAS DE REDAÇÃO

1.

Suponha que você seja parente de um dos 33 mineiros presos no interior de uma mina no

norte do Chile, acidente que ocorreu no dia 5 de agosto de 2010 na jazida de cobre e ouro de

San José, cujo acesso foi bloqueado por um desmoronamento de terra. Imagine em que isso

alterou seu dia-a-dia, desde o cotidiano familiar até o trabalho, sua vida social, seus planos de

futuro. Escreva um depoimento (um parágrafo de 15 linhas) narrando como você soube do

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desastre, os primeiros 17 dias antes de se saber que os mineiros estavam vivos e presos a 700

metros de profundidade.

2.

Leia o texto abaixo:

MANUAL GUIA DO SOBREVIVENTE

COMO CRIAR UMA LENDA URBANA EFICAZ

INGREDIENTES

Invente uma história factível. “Mas sem deixar de

colocar o pé no absurdo”, diz Heloisa Prieto, autora

de Rotas Fantásticas, livro sobre lendas nacionais.

Se não for impressionante, ninguém vai querer

espalhar a lorota. Para chegar lá, persista nestas 3

máximas:

1. Rechear a história de detalhes.

2. Basear-se em fatos do presente.

3. Mexer com o oculto ou com o desconhecido.

Lenda: Depois da história com as minhocas, o McDonald’s

foi acusado de modificar geneticamente seus bois para fazer

os animais renderem mais carne. O conto dizia que bovinos

sem ossos eram alimentados por tubos. Ao atingir o tamanho

ideal, iam para o matadouro e, de lá, direto para o seu Big Mac. Veja as dicas aplicadas:

TEMPERE A GOSTO Tenha certeza de que a lenda, por mais absurda

que pareça, seja quase impossível de ser

comprovada. “O gosto de muito bom pra ser

verdade deve acompanhar um fato difícil de ser

checado”, afirma o especialista em lendas urbanas

Jan Harold Brunvand.

Lenda: Se rodadas ao

contrário, músicas de

um dos discos da

apresentadora Xuxa

trazem mensagens

ocultas e de apologia ao

demônio. A música

Ilariê oculta a palavra

“sangue”.

Use a tecnologia a seu favor. A maioria das

lendas atuais surgiu pela troca de e-mails. As

vantagens são duas: o uso da imagem e a

repetição. Nada melhor do que a internet para

ela circular rapidinho.

Lenda: Mapas dos livros

infantis americanos registram

a região amazônica como

território internacional (veja a

ilustração no e-mail

anexado).

Seu herói não precisa fazer nada além de

sobreviver. Passar pela experiência, qualquer

que seja, é o suficiente para dar credibilidade

a uma lenda. Afinal, se ele morreu, como

pôde contar a história?

Lenda: Um cara vai para

uma festa, apaga e acorda no

dia seguinte dentro de uma

banheira com gelo. Um de

seus rins foi retirado. Mas

ele passa bem.

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REQUENTE Você nunca ouviu uma lenda parecida com uma história que você mesmo contou tempos

atrás? Contos sobre objetos domésticos que matam seus donos, por exemplo, são sucesso no mundo todo. Por

isso, alguns aspectos da narrativa mudam, mas sem alterar a fórmula. Veja abaixo:

Versão inventada X Versão reciclada

O liquidificador ficou descontrolado e picotou a

mão da dona de casa.

Em 1904, houve um boato de que a vacinação

obrigatória contra a varíola, era na verdade, um

plano para dizimar a população pobre do Rio de

Janeiro. A lenda teve uma conseqüência a Revolta

da Vacina.

Uma gangue distribuía, nas portas das escolas,

tatuagens adesivas impregnadas de LSD para

viciar criancinhas.

Ventilador de teto assassino se desprega e degola uma

criança.

Noventa e cinco anos depois, o governo lança uma

campanha de vacinação de idosos contra a gripe. Dessa

vez, as vacinas seriam usadas para matar os velhinhos por

causa do déficit da Previdência Social.

Quase na mesma época, mas em bairros diferentes, um

pipoqueiro sacana salgava a sua mercadoria com cocaína

com o mesmo intuito.

(PASES – Triênio 2007-2009) Seguindo as orientações propostas pelo “Supermanual – Guia

do Sobrevivente” da revista Superinteressante, produza um texto narrativo, entre 20 e 25

linhas, criando “uma lenda urbana eficaz”.

QUESTÕES – MÚLTIPLA ESCOLHA

1. (FUVEST) Indique a alternativa que se refere corretamente ao protagonista de

Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida:

a) Nele, como também em personagens menores, há o contínuo e divertido esforço

de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa

sorte.

b) Este herói de folhetim se dá a conhecer sobretudo nos diálogos, nos quais revela

ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca

ocultar.

c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu fundo lírico,

genuinamente puro, a ilustrar a tese da "bondade natural", adotada pelo autor.

d) Enquanto cínico, calcula friamente o carreirismo matrimonial; mas o sujeito moral

sempre emerge, condenado o prõprio cinismo ao inferno da culpa, do remorso e da

expiação.

e) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que o prazer e o medo vão

mostrando os caminhos a seguir, até sua transformação final em símbolo sublimado.

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2. (UFRS-RS) Leia o texto abaixo, extraído do romance Memórias de um Sargento

de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

“Desta vez porém Luizinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço, como este

último tinha querido quando foram para o Campo, foram mais adiante do que isso,

vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. E ingenuamente não

sabemos se se poderá aplicar com razão ao Leonardo.”

Considere as afirmações abaixo sobre o comentário feito em relação à palavra

ingenuamente na última frase do texto:

I. O narrador aponta para a ingenuidade da personagem frente à vida e às

experiências desconhecidas do primeiro amor.

II. O narrador, por saber quem é Leonardo, põe em dúvida o caráter da personagem

e as suas intenções.

III. O narrador acentua o tom irônico que caracteriza o romance.

Quais estão corretas?

a) Apenas I

b) Apenas II

c) Apenas III

d) Apenas II e III

e) I, II e III

3. (FUVEST) Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em

Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui

chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos

empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com

ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira

das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe

justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era

maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo

fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma

valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se

como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando

beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo

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os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se

a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco

mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares,

que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um

sargento de milícias)

Glossário:

1algibebe: mascate, vendedor ambulante.

2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.

3maganão: brincalhão, jovial, divertido.

Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre

Leonardo e Maria

a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos

portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.

b) revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes

populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.

c) reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os

ditames do Naturalismo.

d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas,

dominante do Romantismo.

e) evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial

escravista.

4. (UNESP) Os leitores estarão lembrados do que o compadre dissera quando

estava a fazer castelos no ar a respeito do afilhado, e pensando em dar-lhe o

mesmo ofício que exercia, isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação prometemos

dar. Vamos agora cumprir a promessa.

Se alguém perguntasse ao compadre por seus pais, por seus parentes, por seu

nascimento, nada saberia responder, porque nada sabia a respeito. Tudo de que se

recordava de sua história reduzia-se a bem pouco. Quando chegara à idade de dar

acordo da vida achou-se em casa de um barbeiro que dele cuidava, porém que

nunca lhe disse se era ou não seu pai ou seu parente, nem tampouco o motivo por

que tratava da sua pessoa. Também nunca isso lhe dera cuidado, nem lhe veio a

curiosidade de indagá-lo.

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Esse homem ensinara-lhe o ofício, e por inaudito milagre também a ler e a escrever.

Enquanto foi aprendiz passou em casa do seu... mestre, em falta de outro nome,

uma vida que por um lado se parecia com a do fâmulo*, por outro com a do filho, por

outro com a do agregado, e que afinal não era senão vida de enjeitado, que o leitor

sem dúvida já adivinhou que ele o era. A troco disso dava-lhe o mestre sustento e

morada, e pagava-se do que por ele tinha já feito.

_____________________

(*) fâmulo: empregado, criado

(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)

Neste excerto, mostra-se que o compadre provinha de uma situação de família

irregular e ambígua. No contexto do livro, as situações desse tipo:

a) caracterizam os costumes dos brasileiros, por oposição aos dos imigrantes

portugueses.

b) são apresentadas como conseqüência da intensa mestiçagem racial, própria da

colonização.

c) contrastam com os rígidos padrões morais dominantes no Rio de Janeiro

oitocentista.

d) ocorrem com freqüência no grupo social mais amplamente representado.

e) começam a ser corrigidas pela doutrina e pelos exemplos do clero católico.

5. (PUC) Das alternativas abaixo, indique a que contraria as características mais

significativas do romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio

de Almeida:

a) Romance de costumes que descreve a vida da coletividade urbana do Rio de

Janeiro, na época de D. João VI.

b) Narrativa de malandragem, já que Leonardo, personagem principal, encarna o

tipo do malandro amoral que vive o presente, sem qualquer preocupação com o

futuro.

c) Livro que se liga aos romances de aventura, marcado por intenção crítica contra a

hipocrisia, a venalidade, a injustiça e a corrupção social.

d) Obra considerada de transição para um novo estilo de época, ou seja, o

Realismo/Naturalismo.

e) Romance histórico que pretende narrar fatos de tonalidade heróica da vida

brasileira, como os vividos pelo Major Vidigal, ambientados no tempo do rei.

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6. FUVEST) O enterro saiu acompanhado pela gente da amizade: os escravos da

casa fizeram uma algazarra tremenda. A vizinhança pôs-se toda à janela, e tudo foi

analisado, desde as argolas e galões do caixão, até o número e qualidade dos

convidados; e sobre cada um dos pontos apareceram três ou quatro opiniões

diversas. (Manuel Antônio de Almeida – Memórias de um sargento de milícias)

O trecho acima exemplifica uma das características fundamentais do romance que

é:

a) o retrato fiel dos usos e costumes do Rio de Janeiro no segundo reinado.

b) o caráter mórbido dos personagens sempre envolvidos com a morte.

c) sentimentalismo comum aos romances escritos durante o Romantismo.

d) o destino comum do personagem picaresco: o seu encontro com a morte.

e) a descrição de fatos relacionados à cultura e ao comportamento popular.

7. (FUVEST) Memórias de um Sargento de Milícias não apresenta a idealização e

sentimentalismo comuns ao Romantismo. É uma obra excêntrica, bastante diferente

das narrativas dessa escola literária.

Assinale a alternativa em que se evidencia o anti-sentimentalismo, o distanciamento

do lugar-comum romântico. a) "Isto tudo vem para dizermos que Maria Regalada

tinha um verdadeiro amor ao major Vidigal."

b) "Não é também pequena desventura o cairmos nas mãos de uma mulher a quem

deu na veneta querer-nos bem deveras."

c) "O Leonardo estremeceu por dentro, e pediu ao céu que a lua fosse eterna;

virando o rosto, viu sobre seus ombros aquela cabeça de menina iluminada."

d) "Sem saber como, unia-se ao Leonardo, firmava-se com as mãos sobre os seus

ombros para se poder sustentar mais tempo nas pontas dos pés, falava-lhe e

comunicava-lhe a sua admiração."

e) "Leonardo ficou também por sua vez extasiado; pareceu-lhe então o rosto mais

lindo que jamais vira."

8. (FUVEST) Assinale a alternativa em que aparece fragmento que se refere ao

protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias.

a) "Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria;aborrecera-se porém do negócio e

viera ao Brasil.Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o

emprego de que o vemos empossado."

b) "Era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de

administração: era o juiz que julgava e distribuía a pena."

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c) "Quando passou de menino a rapaz, e chegou a saber barbear e sangrar

sofrivelmente, foi obrigado a manter-se à sua custa."

d) "Era este um homem todo em proporções infinitesimais, baixinho, magrinho, de

carinha estreita e chupada, excessivamente calvo, tinha pretensões de latinista."

e) "Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu

aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança."

9. (UNIBAN) Sobre Memórias de um Sargento de Milícias, só não se pode afirmar

que:

a) A obra tem como protagonista um anti-herói de características picarescas, o que

afasta o livro dos padrões de idealização românticos.

b) À parte a dimensão fantasiosa de que se revestem as peripécias de Leonardo, o

livro pode ser considerado realista devido à análise crítica dos costumes da corte.

c) O final do protagonista é bem sucedido, visto que ele se curva ao universo da

ordem e das regras sociais.

d) O livro não apresenta perspectiva moralista, pois o “herói malandro“ não é

castigado, mas premiado, e o narrador não emite juízos de valor sobre o que narra.

e) A ausência de polarização maniqueísta entre o que é considerado correto ou

incorreto, moral ou imoral, pode ser verificada na caracterização dos personagens,

em que redomina o humor sobre a idealização.

10. (UNIBAN) Leia a seguinte afirmação crítica a respeito de Memórias de um

Sargento de Milícias:

“Diversamente de todos os romances brasileiros do século XIX, mesmo os que

formam a pequena minoria dos romances cômicos, as Memórias de um Sargento de

Milícias criam um universo que parece liberto do peso do erro e do pecado.“

Assinale a alternativa que não apresenta um fato relacionado ao universo

mencionado na afirmação acima:

a) Luisinha prometera casamento a Leonardo, o que não a impede de trair o

juramento sem remorsos, casando-se com José Manuel.

b) A comadre forja uma calúnia para afastar do caminho José Manuel, antagonista

de Leonardo, visando à felicidade do afilhado.

c) O mestre-de-reza vale-se de sua intimidade junto à casa de D. Maria para reverter

a maledicência criada para denegrir José Manuel.

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d) O patrimônio do compadre, que viria a servir de amparo ao afilhado abandonado,

origina-se de um juramento rompido desonestamente.

e) Leonardo Pataca expulsa de casa o próprio filho, para depois dar-lhe abrigo,

afastando-o da vida desregrada.

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QUESTÕES DISCURSIVAS – RESPOSTAS ESPERADAS

1.

a) O relato se refere ao sexto e ao sétimo dia.

b) O marinheiro amarrou-se à borda da balsa, mastigou cartões de uma loja e os

engoliu.

2.

a) As gaivotas lhe deram esperança porque elas significam a proximidade da terra.

b) O narrador voltou a sentir-se aterrorizado porque um bando de gaivotas pode se

perder no mar e voar dias até encontrar um barco que lhe indique a direção do porto.

3.

a) Os fatos são relatados na 1ª pessoa.

b) O narrador é protagonista.

c) A maioria dos verbos estão no pretérito perfeito.

4. No relato foi empregada a variedade padrão.

5. É um texto que narra episódios marcantes na vida de uma pessoa. O narrador é

protagonista. Os verbos são empregados predominantemente na 1ª pessoa e

predomina o tempo passado. A linguagem empregada é compatível com os

interlocutores, sendo normalmente a variedade padrão da língua.

QUESTÕES FECHADAS – GABARITO

QUESTÕES GABARITO

01 A

02 B

03 D

04 D

05 E

06 E

07 B

08 E

09 B

10 A